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7/21/2019 Publico http://slidepdf.com/reader/full/publico-56e02b7145d6e 1/48 fc6a01ec-5aad-4db9-ace8-b8147a9907d4 Comissão Europeia está a exigir ao Govern déce abaixo de 2,8% O Governo está a negociar as linhas gerais do Orçamento do Estad para 2016 e Bruxelas está a exigir a Mário Centeno um corte no dé para um valor abaixo dos abaixo de 2,8% previstos pelo Governo P Último debate ent candidatos do Par Democrata mostr Hillary mais agres O PS entrou ontem na campanha, ao Nóvoa. Maria de B o tom do discurso O novo software  transforma magens de ressonâncias magnéticas em modelos 3D do cérebro humano p28/29  A ministra da Saúde francesa considerou não haver razões para parar os ensaios clínicos p12 CMVM suspendeu vendas a descoberto e administração diz desconhecer razões para a desvalorização p20/21 O Constitucional c a lei que fazia dep subvenção vitalíc condição de recur Hillary Clinto travar o fenó Bernie Sande Maria de Belé PS que não po discriminada Português criou um Google Maps para o cérebro Ensaios da Bial continuam apesar de morte em França Mota-Engil perdeu um quinto do valor em cinco horas Subvenções vitalícias dev a ex-políticos PORTO CASA MANOEL DE OLIVEIRA VAI SER A SEDE DA FUNDAÇÃO SINDIKA DOKOLO NA EUROPA Local, 17 PAULO PIMENTA Escolas deixam de definir critérios para contratar professores TER 19 JAN 2016 EDIÇÃO PORTO Ano XXVI | n.º 9408 | 1,20€ | Directora: Bárbara Reis | Adjuntos: Nuno Pacheco, Pedro Sousa Carvalho, Áurea Sampaio | Directora Internacional e de Parcerias: Simone Duarte | Directora Criativ difício criado por Eduardo Souto de Moura foi vendido por 1,58 milhões de euros a empresa ligada à angolana Isabel dos Santos DESPORTO CASOS DE MANIPULAÇÃ DE RESULTAD APOSTAS ILE CHEGAM AO T Destaque, 2/3  3

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  • fc6a01ec-5aad-4db9-ace8-b8147a9907d4

    Comisso Europeia est a exigir ao Governo dfi ce abaixo de 2,8%O Governo est a negociar as linhas gerais do Oramento do Estado para 2016 e Bruxelas est a exigir a Mrio Centeno um corte no dfi ce para um valor abaixo dos abaixo de 2,8% previstos pelo Governo Portugal, 4

    ltimo debate entre os candidatos do Partido Democrata mostrou uma Hillary mais agressiva p24/25

    O PS entrou ontem em fora na campanha, ao lado de Nvoa. Maria de Belm sobe o tom do discurso p8 a 11

    O novo software transforma imagens de ressonncias magnticas em modelos 3D do crebro humano p28/29

    A ministra da Sade francesa considerou no haver razes para parar os ensaios clnicos p12

    CMVM suspendeu vendas a descoberto e administrao diz desconhecer razes para a desvalorizao p20/21

    O Constitucional chumbou a lei que fazia depender a subveno vitalcia de uma condio de recursos p18

    Hillary Clinton tenta travar o fenmeno Bernie Sanders

    Maria de Belm avisa PS que no pode ser discriminada

    Portugus criou um Google Maps para o crebro

    Ensaios da Bial continuam apesar de morte em Frana

    Mota-Engil perdeu um quinto do valor em cinco horas

    Subvenes vitalcias devolvidas a ex-polticos

    PORTOCASA MANOEL DE OLIVEIRA VAI SER A SEDE DA FUNDAO SINDIKA DOKOLO NA EUROPALocal, 17

    PAULO PIMENTA

    Escolas deixam de definir critrios para contratar professores p13TER 19 JAN 2016EDIO PORTO

    Ano XXVI | n. 9408 | 1,20 | Directora: Brbara Reis | Adjuntos: Nuno Pacheco, Pedro Sousa Carvalho, urea Sampaio | Directora Internacional e de Parcerias: Simone Duarte | Directora Criativa: Snia Matos

    ISNN:0872-1556

    Edifcio criado por Eduardo Souto de Moura foi vendido por 1,58 milhes de euros a empresa ligada angolana Isabel dos Santos

    DESPORTO CASOS DE MANIPULAO DE RESULTADOS E APOSTAS ILEGAIS CHEGAM AO TNISDestaque, 2/3

    M AO TNIS/3

  • 2 | DESTAQUE | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    APOSTAS ILEGAIS

    A ndoa da corrupo alastra ao tnis

    A ndoa da corrupo no desporto alastrou ao tnis no dia em que a emissora britnica BBC e o portal norte-americano BuzzFeed tornaram pblica a inaco

    das autoridades da modalidade face s suspeitas de manipulao de resultados. Depois do futebol, com a FIFA a viver em 2015 um pesadelo que precipitou a queda de Joseph Blatter, e do atletismo, cuja cpula est minada por esquemas de corrupo para encobrir casos de doping, o tnis v-se confrontado com indcios de manipulao de resultados e apostas ilegais. A investigao conclui que um grupo de tenistas de topo, no qual se incluem vencedores de torneios do Grand Slam, ter colaborado com redes de apostadores russos e italianos para adulterar resultados.

    Os documentos obtidos pela BBC e BuzzFeed apontam para o envolvi-mento de um ncleo de 16 tenistas numa srie de encontros suspeitos

    ao longo da ltima dcada. Estes atletas, cujos nomes no foram re-velados, fariam parte do top 50 mundial e nunca chegaram a ser punidos pelos organismos respon-sveis. Entre eles estaro vrios ven-cedores de ttulos no Grand Slam. Alguns j terminaram a carreira, mas outros continuam em activi-dade e mais de metade participar no Open da Austrlia, que viu on-tem arrancarem os jogos do quadro principal.

    A notcia foi recebida em Melbour-ne com surpresa, mas tambm com reservas. O srvio Novak Djokovic, nmero 1 do ranking mundial e que em 2015 conquistou trs dos qua-tro Grand Slams, reconheceu que a manipulao de resultados um problema no tnis e lembrou que em 2007 lhe ofereceram 200 mil dlares para perder um encontro no torneio de So Petersburgo, em que acabou por no participar. No fui abordado directamente. Algum falou com uma pessoa que na altura trabalhava comigo. Como bvio, rejeitmos imediatamente. Para al-gumas pessoas, este tipo de ofertas

    pode ser visto como uma oportuni-dade. Para mim, um acto de falta de desportivismo, um crime contra o desporto, vincou.

    No sei exactamente o que h de novo. Pelo que vejo, trata-se de nomes antigos. Esse caso foi trata-do, sublinhou um cptico Roger Federer, acrescentando: Gostaria de conhecer os nomes. Ento ser algo de concreto, que podemos de-bater. Foram os prprios tenistas? Ou a sua equipa? Foi antes do en-contro? Foi um jogador de pares ou de singulares? [um assunto] super-srio e superimportante manter a integridade do tnis.

    As revelaes da BBC e BuzzFe-ed assentam na investigao feita a um encontro de 2007 entre o russo Nikolay Davydenko (ento nmero 4 do mundo) e o argentino Martn Vassallo Argello (83.) no torneio de Sopot, na Polnia. Davydenko venceu o primeiro set por 6-2, per-deu o segundo por 3-6 e abandonou o encontro por leso quando perdia o terceiro parcial por 2-1. O resul-tado foi surpreendente e motivou o alerta: a Associao de Tenistas

    Investigao da BBC e BuzzFeed expe indcios de manipulao de resultados. Tenistas de topo, alguns dos quais estaro a competir actualmente no Open da Austrlia, envolvidos

    Tiago Pimentel Combate limitado

    As autoridades do tnis investiram, segundo o presidente da Associao de Tenistas Profissionais,

    Chris Kermode, 14 milhes de dlares no combate manipulao de resultados. Mas os efeitos foram limitados. Ponta-de-lana dessa estratgia, a Unidade de Integridade do Tnis nasceu em Setembro de 2008 do envolvimento da Federao internacional da modalidade, das entidades responsveis pelos circuitos profissionais masculino e feminino e das organizaes dos quatro Grand Slams. Tem o objectivo de aplicar uma poltica de tolerncia zero, mas com uma equipa de apenas cinco elementos a tempo inteiro aplicou 18 sanes, incluindo seis suspenses vitalcias.

    Pro ssionais (ATP) pediu ajuda aos investigadores da autoridade brit-nica para as corridas de cavalos, cuja unidade de integridade desportiva era considerada a elite mundial.

    Essa equipa passou quase um ano a analisar padres de apostas suspeitos em 26 mil encontros de tnis e detectou o envolvimento de vrios grupos de apostadores rus-sos e italianos na manipulao de resultados. Em quase 20 anos de trabalho na indstria das apostas, nunca tinha visto um encontro ou uma corrida com cotaes to irre-alistas, a rmou Mark Phillips, um dos elementos da equipa que anali-sou o encontro Davydenko/Argello. As concluses da investigao foram entregues ATP e, apesar das provas reunidas, os dois tenistas no foram punidos por qualquer infraco.

    O trabalho no teve sequncia com a criao da Unidade de Inte-gridade do Tnis (TIU), em 2008. As provas eram muito fortes, frisou Mark Phillips, recordando os cinco dossiers entregues recm-criada es-trutura. Tnhamos passado meses a reuni-las e achvamos que a TIU ia -

  • PBLICO, TER 19 JAN 2016 | DESTAQUE | 3

    car entusiasmada. Mas rapidamente se tornou claro que no queriam os nossos conselhos, lamentou. Des-de 2008, foram aplicadas 18 sanes por manipulao de resultados e seis tenistas foram suspensos vitalicia-mente nenhum dos quais ocupava lugares cimeiros no ranking.

    O presidente da ATP, Chris Ker-mode, rejeitou em Melbourne que as autoridades do tnis mundial te-nham suprimido ou deixado por investigar provas de manipulao de resultados. A nossa abordagem de tolerncia zero para com todas as formas de corrupo. No temos uma postura de complacncia, mas de vigilncia, acrescentou o mesmo responsvel. Em comunicado, o l-der da TIU, Nigel Willerton, esclare-ceu que o programa anticorrupo institudo em 2009 no podia ser aplicado retroactivamente. Portan-to, no foram abertas novas investi-gaes aos tenistas mencionados no relatrio de 2008, indicou.

    O tnis representa 20 a 25% do mercado mundial de apostas des-portivas online. Durante uma tem-porada, segundo a agncia AFP, so

    gerados 200 mil milhes de euros em apostas, mas apenas 15% desse valor atravs do mercado legal. Pe-la sua especi cidade, a modalidade est exposta manipulao basta um tenista para corromper um re-sultado, e a maioria dos tenistas no ganha extraordinariamente. S em prmios desportivos, Djokovic arre-cadou em 2015 21,6 milhes de d-lares, mas o nmero 150 do ranking encaixou apenas 200 mil dlares, dos quais h ainda a descontar im-postos e despesas (viagens, aloja-mento, alimentao, treinador...)

    At h cinco anos, este tipo de fenmeno restringia-se essencial-mente a pequenos torneios, mas assistimos cada vez mais a actos de corrupo em encontros mais importantes, disse AFP o analis-ta e ex-responsvel da autoridade francesa de apostas Franaise des Jeux, Christian Kalb, acrescentando: Se um grupo criminoso pretender branquear vrias centenas de mi-lhares de euros atravs de apostas, facilmente pode colocar 50 mil ou 100 mil euros na mesa para corrom-per um tenista.

    ISSEI KATO/REUTERSMais de metade dos envolvidos estar a participar no Open da Austrlia

    FutebolItlia no topo da pirmideForam duas as vagas que atingiram em fora o futebol italiano nas ltimas dcadas. Em 1980, eclodiu o escndalo apelidado de Totonero, quando a Guardia di Finanza descobriu que vrios jogadores, da Srie A e da Srie B, tinham feito apostas nos jogos em que participaram. Resultado: o AC Milan e a Lazio desceram de escalo e a estrela da seleco, o avanado Paolo Rossi, tornou-se no rosto mais meditico do processo, ao ser punido com dois anos de suspenso.J em 2012, sob o nome de Calcioscommesse, foi denunciada uma teia de influncias que envolvia jogadores, treinadores e organizaes mafiosas que aproveitavam as apostas desportivas para a lavagem de dinheiro. Atletas como Domenico Criscito e tcnicos como Antonio Conte, entre outros, foram castigados.

    BasquetebolDonaghy, o rbitro apostadorEm 2008, as investigaes levadas a cabo pelo FBI levaram Tim Donaghy, rbitro que apitava na NBA h 13 pocas, a admitir ter apostado em jogos que ele prprio dirigira. Suspeito de ter agido em parceria com representantes da mfia, o norte-americano de 46 anos foi condenado a 15 meses de priso efectiva.

    PugilismoO mergulho de Sonny ListonPoucos combates tero sido to eficazes a levantar o vu sobre a viciao de resultados desportivos como o que ops Sonny Liston a Cassius Clay (mais tarde Muhammad Ali), a 25 de Maio de 1965. Ainda no primeiro assalto, na sequncia daquele que ficou conhecido como soco-fantasma, Liston caiu no tapete e j no se levantou em tempo til. Ganhavam fora as suspeitas de que o norte-americano nascido no Arkansas era h muito controlado pela mfia.

    Mas j havia precedentes, em ambos os casos envolvendo o empresrio com ligaes ao submundo Jim Norris, que ter sido responsvel por combinar o desfecho, entre outros, dos combates que opuseram Harry Thomas a Max Schmeling (1937) e Jake Lamotta a Billy Fox (1946). BeisebolPete Rose e os Cincinnati RedsA 3 de Abril de 1989, a revista Sports Illustrated denunciava que o antigo jogador e treinador dos Cincinnati Reds, Pete Rose, fizera apostas nos resultados da sua prpria equipa sem que se tenha determinado se a favor ou contra ao longo dessa temporada. A investigao que se seguiu apurou 52 jogos dos reds a envolverem apostas do tcnico, que teria investido pelo menos 10.000 dlares por dia. Rose, que sempre negou as acusaes, acabou por ser banido da Major League Baseball e tornou-se inelegvel para o Hall of Fame.

    CrqueteCorrupo no PaquistoUm vdeo de uma transaco a envolver Salman Bett, Mohammad Asif e Mohammad Amir, trs jogadores da seleco de crquete do Paquisto, fez disparar o escndalo de corrupo que abalou a modalidade em 2010. Num test match frente a Inglaterra, o trio foi acusado de ter falhado deliberadamente em determinadas aces do jogo, por ordem de um grupo de apostadores, acabando por ser banido durante um perodo entre os cinco e os dez anos.

    Corridas de cavalosFavoritos, mas poucoEm 2011, a autoridade britnica que regula as apostas em corridas de cavalos denunciou um escndalo que remontava a 2009. Nesse ano, vrios proprietrios de cavalos e alguns jockeys manipularam provas em que partiam como favoritos nos livros de apostas. Os autores receberiam pelo menos 6000 libras por corrida.

    Outros escndalos de apostas no desporto

    Uma boa porcaria de incio de poca foi como a ex-nmero um mundial Caroline Wozniacki resumiu o encontro que disputou em Melbourne

    Park e ditou a sua eliminao do Open da Austrlia. Uma sensao que pode ser partilhada por vrias outras jogadoras bem cotadas, que no conseguiram ultrapassar a ronda inaugural do primeiro torneio do Grand Slam do ano. No total, foram sete as cabeas de srie eliminadas na primeira jornada do quadro feminino, com destaque para Wozniacki (16.), a ex-top 10 Sara Errani (17.) e a semi nalista de 2013 Sloane Stephens (24.).

    Actual 18. do ranking, Wozniacki obteve o seu melhor resultado no Open da Austrlia em 2011, quando atingiu as meias- nais. Desde ento, as prestaes foram piorando: quar-tos-de- nal (2012), oitavos-de- nal (2013), terceira ronda (2014), segunda ronda (2015) at derrota na estreia nesta edio, diante da cazaque de 21 anos Yulia Putintseva (76.), por 1-6, 7-6 (7/3) e 6-4, em pouco mais de trs horas. Andrea Petkovic, Sa-mantha Stosur, Anastasia Pavlyu-chenkova e Anna Karolina Schmie-dlova juntaram-se lista de vtimas.

    J Serena Williams no mostrou si-nais de ferrugem por no competir desde Setembro e derrotou, por 6-4, 7-5, a italiana Camila Giorgi, que fez jus ao estatuto de recordista de du-plas faltas em 2015 no WTA Tour e so-mou mais 12. Agnieszka Radwanska, Maria Sharapova, Petra Kvitova, Carla Surez Navarro, Roberta Vinci, Sve-tlana Kuznetsova, Belinda Bencic, Kristina Mladenovic e Eugenie Bou-chard tambm seguiram em frente.

    A prova masculina cou sem Ivo Karlovic (cabea de srie n.22), le-sionado, e sem Benot Paire (17.), surpreendido pela determinao do desconhecido Noah Rubin (328.). O norte-americano de 19 anos recebeu o wild-card destinado sua federao e eliminou o irregular Paire, em trs tie-breaks: 7/4, 8/6 e 7/5.

    Novak Djokovic, Roger Federer, Tomas Berdych, Jo-Wilfried Tsonga, Marin Cilic, Grigor Dimitrov e Nick Kyrgios venceram. Pedro Keul

    Sete cabeas rolaram em Melbourne

  • 4 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    MIGUEL MANSO

    Comisso Europeia exige dfi ce nominal abaixo de 2,8%

    O Governo de Antnio Costa est em negociaes com Bruxelas

    A Comisso Europeia est a exigir ao Governo portugus que o draft do Oramento do Estado para 2016, que ser entregue esta semana em Bruxe-las, aponte para um d ce nominal abaixo de 2,8% a meta de nida pe-lo Governo para este ano , de mo-do a permitir que o d ce estrutural do ano baixe 0,5%, para compensar o facto de em 2015 ter sido superior ao previsto.

    Esta exigncia tem sido imposta ao ministro das Finanas, Mrio Cente-no, e o Governo est a negociar de forma a conseguir satisfazer as exi-gncias da Comisso Europeia, mas tambm satisfazer oramentalmente as promessas eleitorais que tm sido aprovadas e tm de ser cumpridas.

    O PBLICO soube por um mem-bro do Governo que o executivo tem estado em dilogo com a Comisso Europeia de forma a que se esclarea a proposta de OE 2016 que vai ser apresentada e que esta possa aco-lher as exigncias de Bruxelas, mas que esta proposta de Oramento seja tambm aceite acomodando da me-lhor forma possvel a reorientao da poltica e a reverso das medidas do anterior Governo. O mesmo mem-bro do Governo reconheceu ao P-BLICO que este exerccio implica ginsticas para que as contas batam certas, mas a expectativa que a tarefa seja cumprida com xito.

    J em relao ao d ce de 2015, est assente que ele atingir a me-ta excessiva de 4,2%, por causa da operao de compensao que per-mitiu a venda do Banif. Ainda que o primeiro-ministro tenha deixado no Parlamento a ideia de que ainda acre-ditava que o pas pudesse fugir ao d ce excessivo. Mas o que facto que, segundo o mesmo governante, o pas j tinha entrado em incumpri-mento dos 3% de d ce, pelo que a Comisso Europeia no pode fechar os olhos a esta nova derrapagem.

    O Governo mostra-se, por outro lado, con ante, mas expectante em relao s consequncias das medi-das do Banco de Portugal sobre as obrigaes sniores do Novo Banco. O membro do Governo ouvido pelo PBLICO admite que este percalo no venha a ter consequncias sobre a venda de dvida pblica nos merca-

    dos. Avanou mesmo com o exemplo de que, na ltima venda de dvida, o spread manteve-se, no [se] mexeu.

    Sade e prises graduaisO regresso das 35 horas de trabalho semanal funo pblica ser para todos os funcionrios do Estado, in-cluindo os trabalhadores com contra-to de trabalho individual. A questo est em conseguir compaginar esta medida que o Governo prometeu e agora quer levar prtica com os compromissos oramentais para 2016. Isto impor que o executivo leve a cabo uma negociao laboral forte com os representantes sindicais dos trabalhadores em dois sectores espec cos: a Sade e os guardas prisionais. O Governo defende que nestes dois sectores preciso garan-tir a reposio quer do horrio de 35 horas, quer do pagamento de horas extraordinrias. Em causa est o fac-to de as exigncias oramentais de cada sector no permitirem, neste dois casos, que a reposio do hor-rio seja feita de imediato, pois esta medida no pode pr em causa o cumprimento dos objectivos destes sectores, ou seja, no pode pr em causa o tratamento dos doentes nem a segurana do servio prisional.

    Quanto progresso das carrei-ras na funo pblica, ela voltar em 2018. Em 2016 e 2017 o Gover-no ir repor os vencimentos. De acordo com as informaes dadas ao PBLICO, o executivo tem cons-cincia de que h muitas pessoas que descon am, que tm medo de que o Governo no consiga atingir o m da austeridade nem manter o equilbrio da governao e nas con-tas pblicas.

    Tanto mais que houve uma quanti-dade de medidas aprovadas em cas-cata pela Assembleia da Repblica, devido s contingncias oramentais e aproximao do m do ano, mui-tas das quais propostas pelo PCP e pelo BE e no apenas pelo Governo do PS. Um contra-relgio que decor-re do facto de Antnio Costa s ter to-mado posse como primeiro-ministro em 26 de Novembro de 2015.

    Essa descon ana da populao preocupa o Governo, sobretudo pela presso da opinio publicada e dos comentadores polticos que tm de-fendido que o Governo apenas tem como programa poltico a reposio das medidas de austeridade.

    O executivo de Antnio Costa est a negociar draft do Oramento do Estado para 2016 com Bruxelas. Mas a exigncia que dfi ce estrutural baixe 0,5%. Portugal mantm-se no procedimento por dfi ce excessivo

    Governo So Jos Almeida

  • 6 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    Simplex quer arrumar portais online e agregar declaraes e certides

    MARCO DUARTE

    As Lojas do Cidado vo actualizar-se, tambm com vista desmaterializao dos actos

    A criao de um portal nico e or-ganizado por servios, a introduo da declarao nica e a integrao entre servios para facilitar os pro-cedimentos s empresas e cidados so algumas das medidas do novo Simplex que o Governo pretende apresentar em Maio. A ministra da Presidncia e da Modernizao Ad-ministrativa, Maria Manuel Leito Marques, arrancou ontem, em Viseu, com o primeiro encontro da ronda a fazer nos prximos trs meses.

    O objectivo identi car os proble-mas que os utentes enfrentam com a administrao pblica. No encon-tro com empresrios, autarcas e cidados, a ministra cou com um dossier de sugestes e a saber que os problemas so transversais ao territrio, s pessoas e empresas.

    A reformulao dos portais on-line um ponto que vai merecer ateno. O objectivo acabar com a necessidade do empresrio ou do cidado aceder a vrias plataformas, para passar a ter um nico ponto de contacto.

    Existem diversas pginas elec-trnicas que tm de ser consultadas para o utilizador obter informaes ou proceder a actos. Com um s por-tal, a entrada s uma e a o utiliza-dor tem resposta para tudo. Ter um portal, por exemplo, organizado por servios, esclareceu ao PBLICO Graa Fonseca, secretria de Esta-do da Modernizao Administrativa, que tambm participou no encontro de Viseu e vai liderar os prximos j agendados.

    Paralelamente, adiantou a secret-ria de Estado, tem de se caminhar para uma agregao, o mais possvel, de certides e declaraes para um documento nico, por forma a evi-tar que um cidado ou empresrio tenha de percorrer vrios servios para o mesmo m. O mesmo cami-nho deve ser dado desmaterializa-o de documentos ou certides que ainda so passados pelas juntas de freguesia, exempli cou.

    Por outro lado e esta foi outra das sugestes deixadas pelos partici-pantes em Viseu , a modernizao administrativa deve caminhar para uma maior integrao entre servi-os para menores deslocaes.

    importante que tenham num nico ponto tudo o que precisam para re-solver um evento de vida e que tanto pode ser casar como arranjar empre-go, criar ou licenciar uma empresa, salientou, por seu lado, a ministra da Presidncia.

    Maria Manuel Leito Marques passou a manh com autarcas e empresrios e um dos pedidos ou-vidos foi o da agilizao dos licencia-mentos industriais para que deixem de demorar anos. A exemplo do que existe com a Empresa na Hora, os empresrios pediram para que fosse criado o licenciamento em meses.

    A ministra, que foi responsvel pelo lanamento do Simplex h dez anos e que, entre outras me-didas lanou o Carto do Cidado, frisou que o programa de moder-nizao est de volta e com uma marca mais forte que a marca da participao.

    muito importante reorganizar os servios pblicos, tendo em conta o que eles signi cam para as empre-sas e para o cidado e no o modo co-mo a administrao est organizada. Vamos trabalhar em conjunto com toda a administrao pblica, cons-tituindo uma rede Simplex e sempre que possvel trabalharemos com a administrao local, para oferecer-mos uma resposta mais conveniente para o cidado, esclareceu.

    Maria Manuel Leito Marques dei-xou o apelo a que a participao seja feita tambm atravs do portal: Os cidados devem deixar as suas su-gestes para medidas que derivam do seu contacto com qualquer ponto da administrao central e local.

    Em Viseu, a ministra chegou ao local do encontro num Smart iden-ti cado com o logtipo do progra-ma, acompanhada pela secretria de Estado Adjunta, que ia ao volante. At aqui estamos a simpli car, dis-se Maria Manuel chegada.

    Queremos que este Simplex se-ja mais participado e mais simples tambm. Hoje, estamos aqui para ouvir empresas e cidados e a partir daquilo que nos disserem e de quais so os seus pontos de maior di cul-dade no seu contacto com a admi-nistrao pblica, vamos construir o Simplex de 2016 e de nir as nossas prioridades. Se de nssemos os pi-lares do Simplex, ouvir seria mera formalidade, disse.

    Ministra arrancou em Viseu com encontro entre cidados, autarcas e empresrios para refl ectir o novo programa da modernizao administrativa e ouviu sugestes de menos declaraes e mais integrao

    Administrao pblicaSandra Rodrigues

    3 PERGUNTAS A MARIA MANUEL LEITO MARQUES

    H j problemas identificados ao nvel da administrao pblica que podem ser objecto de novas medidas?O licenciamento industrial um problema que se arrasta e que importante resolver. um problema que j foi revisitado na lei vrias vezes, eu prpria j o revisitei, mas em que a simplificao continua a no chegar aos destinatrios. uma questo levantada tanto pelos empresrios como pelos autarcas e que tem de ser revista com toda a ateno. Temos de seguir com detalhe qual o percurso que um projecto faz e ver em que procedimentos est o problema. Outra coisa a melhorar a simplificao no acesso aos portais online da administrao pblica e a criao de um balco nico electrnico. As queixas so

    de que, para determinado procedimento, necessrio aceder a vrias pginas, cada qual com a sua senha de entrada. A morosidade na Justia outro constrangimento a que preciso dar uma soluo. Obviamente que h no programa do Governo algumas prioridades, desde logo resolver o problema da carta de conduo e tambm levar os espaos do cidado aos consulados porque os nossos emigrantes tambm precisam de servios de proximidade.O programa lanado em 2006 foi descontinuado na anterior legislatura?Alm de um conjunto de medidas que ficaram pelo caminho, perdeu-se, sobretudo, a cultura que esteve na gnese do programa. O Simplex , principalmente, o inverso de paradigma da administrao

    pblica para uma cultura mais amiga do cidado. Uma cultura que no se faz por decreto, mas sim pela persistncia e continuidade. Sem a continuidade, a cultura antiga tendeu a instalar-se. O ideal seria o programa ir para alm de uma legislatura.A reorganizao pode levar ao encerramento de servios?O que ns queremos garantir que qualquer cidado, onde quer que esteja, tenha os mesmos servios pblicos e com a mesma proximidade e qualidade que, por exemplo, o cidado de Lisboa. Esse foi o projecto das lojas de segunda gerao e agora queremos ir ainda mais longe. Estamos a falar na oferta de servios mais integrados e mais concentrados num s ponto, mas que vo ao encontro do cidado. S.R.

    Simplificao na administrao pblica no se faz por decreto, diz

  • 8 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    Maria de Belm sobe o tom e avisa PS que no pode ser discriminada

    ADRIANO MIRANDA

    Em Bragana, Maria de Belm endureceu o discurso em relao ao comportamento do seu partido

    Dois dias depois de o presidente do PS, Carlos Csar, ter dado o seu apoio a Sampaio da Nvoa, Maria de Belm abriu as hostilidades e avisou a di-reco nacional do partido que no aceita ser discriminada e que no pode ser considerada como menos digna do apoio dos socialistas.

    Ao nono dia de campanha eleito-ral, a antecessora de Carlos Csar na presidncia do PS radicalizou o discurso: Era o que faltava que fosse mais importante apoiar inde-pendentes do que socialistas e que os socialistas tivessem de car para trs sem haver nenhuma razo para que isso acontea.

    Em Bragana, onde teve um almo-o-comcio, Maria de Belm apelou directamente ao voto na sua candi-datura, puxando do seu currculo e da sua sensibilidade, serenidade e sensatez, para dizer que capaz de ir buscar mais votos a um espec-tro mais alargado do que os outros candidatos, designadamente aqueles que se situam em reas prximas, mas que no tm este desempenho nunca o tiveram. E no sabemos como que vo desempenhar o pa-pel, por muitas promessas que pos-sam fazer em campanha eleitoral, acrescentou.

    Muito claramente digo que o vo-to til na minha candidatura, para quem considera que o nico candi-dato que vem da direita no satisfaz as exigncias para desempenhar o papel de Presidente da Repblica, disse Maria de Belm. Um dia antes frisara, em Arcos de Valdevez, que a candidata da rea do PS: Socialis-ta candidata sou eu! O recado era, uma vez mais, para a direco do partido.

    O endurecimento do discurso de Maria de Belm vem no seguimento de intervenes, dirigidas direco do PS, protagonizadas pelo in uente Jorge Coelho e por Manuel Alegre, que protestou contra aquilo que considera batota uma aluso ao apoio que v o partido a dar a Ant-nio Sampaio da Nvoa, que disputa o mesmo eleitorado. Isto, apesar de a direco do PS ter decidido que o partido no apoiaria ningum na pri-meira volta das presidenciais. Vera Jardim, porta-voz da candidatura de

    Belm, tambm agitou o fantasma da batota nesta campanha eleitoral.

    E mostrando que tem um discurso e uma postura diferentes em relao aos restantes candidatos, declarou: Eu podia no estar aqui. H pou-cas pessoas e poucos votos, mas h princpios mais importantes do que o mero interesse eleitoralista de caar votos. E sublinhou que o Presidente da Repblica tem de se preocupar com a coeso territorial e dar visi-bilidade a estes enormes esforos, sob pena de muito car escondido e insu cientemente valorizado.

    Mais tarde, na Guarda, onde visi-tou a Cerci local (Cooperativa para a Educao e Reabilitao de Cida-dos Inadaptados), a candidata seria confrontada com o tom que intro-duziu na campanha, respondendo no haver motivo para crispao. Mas frisou: H todas as razes para falar verdade e aquilo que aqui-lo que deve ser e eu neste momen-to estou a dizer aquilo que . Eu falo do que sei e sei do que falo e acho que isso ca completamente

    demonstrado com a campanha que tenho estado a fazer e com estes contactos que temos es-tado a estabelecer, declarou.

    Em Bragana, onde almoou com apoiantes, a candidata disse que til o voto na sua candidatura e defendeu que o seu partido no pode discriminar os militantes tratando melhor os independentes

    Presidenciais Margarida Gomes

    Sobre o debate de hoje entre todos os candidatos presidenciais Maria de Belm pouco disse. No sabe se vai servir para uma clari cao, mas es-clareceu que, pela sua parte, far o possvel por tentar elucidar quais as linhas gerais do seu programa. Sem revelar qual vai ser a sua estratgia, a candidata disse: As pessoas tm assistido a reportagens, quilo que fazem e dizem os candidatos, mas, independentemente do que se faz e do que se diz, preciso olhar para o candidato mais atrs, saber o que que ele fez ao longo da vida, com o que que se comprometeu, a que causas aderiu, onde estava quando houve os problemas, onde que es-tava quando era necessrio fazer al-guma coisa e actuar e isso tem de ser tudo avaliado. Quanto na si, subli-nha que no passa pelas coisas: Eu estou nas coisas e analiso-as.

    A seis dias das eleies, Maria de Belm continua a fazer campanha sozinha, sem o PS, e isso voltou a ser visvel. O dia foi passado em Bragana e na Guarda. Visitou uma fbrica de enchidos tradicionais, a Cerci e reuniu-se com as direces dos institutos politcnicos das duas cidades.

    Eu podia no estar aqui [no interior]. H poucas pessoas e poucos votos, mas h princpios mais importantes do que o mero interesse eleitoralista de caar votosVera JardimPorta-voz da candidatura de Maria de Belm

    O candidato presidencial Cndido Ferreira, que j foi deputado municipal e presidente da distrital de Leiria do PS, considera que os candidatos da ala socialista esto desorientados e sem garantias de conseguirem uma segunda volta.

    O PS, que est sem nenhuma referncia, est desorientado e est com dois candidatos altamente fragilizados, sem que nenhum deles consiga vencer a segunda volta, se houver segunda volta, afirmou aos jornalistas. De visita Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche, Cndido Ferreira mostrou-se convencido de conseguir essa tarefa, se tivesse contado com o apoio de um partido.

    O candidato apontou tambm falta de apoio meditico como factor prejudicial sua campanha. Estive sete meses e meio a fazer comunicados e aces de rua e a minha prpria famlia pensava que eu tinha desistido da candidatura, porque nada via, disse, acrescentando que s comeou a ser projectado pela comunicao social trs ou quatro dias antes da sondagem efectuada.

    Apesar disso, fez um balano positivo da primeira semana de campanha, pois est a ser conhecido e, mesmo assim, tem encontrado na rua pessoas que lhe dizem que o candidato de que estavam espera. Por isso, prometeu ser detonador de projectos e posicionar-se j a pensar numas prximas eleies. Os votos que depositarem em mim para integrar em causas cvicas, movimentos de cidadania e no para defender qualquer formao partidria, disse. Lusa

    Candidatos do PS desorientados

  • 10 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    Marisa critica Cavaco e troika

    Marisa Matias considera que a Cavaco Silva faltou-lhe apenas ser Presidente da

    Repblica. Em declaraes aos

    jornalistas, margem de uma visita a uma escola em Vila Nova de Gaia, a candidata apoiada pelo BE criticou aquele a quem pretende suceder e foi peremptria: Ao actual Presidente da Repblica faltou-lhe apenas ser Presidente da Repblica na cincia, na cultura, na educao, na sade, [...] em tudo o que eram reas essenciais e consagradas pelos direitos sociais, reiterou.

    A candidata do BE tinha estado no Centro de Investigao - i3S, no Porto, tendo lamentado um massacre na rea da cincia e da investigao com o ltimo Governo. Falamos de um sistema em que Portugal avanou muito durante alguns anos e nos ltimos quatro anos sofreu cortes enormes. Um sistema que, alm do mais, um dos pilares fundamentais da democracia, disse, realando que se trata de um dos centros de excelncia do mundo inteiro, no apenas de Portugal, com reas de investigao absolutamente inovadoras.

    Marisa Matias reuniu-se com investigadores do centro e aos jornalistas alertou para a falta de vnculos laborais e para a precariedade a que estes esto sujeitos.

    Antes, em Vila Nova de Gaia, a candidata disse acreditar que a recomendao da troika relativa ao mercado laboral esbarre na porta, porque no h mais por onde flexibilizar. No esse o caminho, disse, defendendo antes que h que recuperar os direitos laborais que foram retirados, recuperar os direitos de contratao colectiva.

    Qualquer dia, muito provavelmente, o que vo pedir que as pessoas paguem para ser despedidas, vincou. Lusa

    PS entra em fora na campanha ao lado de Sampaio da Nvoa

    Desde sexta-feira tem sido assim: um ministro por dia, a falar nos com-cios de Antnio Sampaio da Nvoa. Augusto Santos Silva, na sexta-feira, Vieira da Silva, no sbado, Campos Fernandes, no domingo e o presi-dente do partido, Carlos Csar, noi-te, no mesmo dia , Eduardo Cabrita ontem. Esta recta nal est, at, a intensi car a presena de dirigentes socialistas junto do antigo reitor.

    Na manh de ontem, nos Aores, recebeu o apoio do presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro. noite, num comcio em Setbal, que encheu o antigo cinema Char-lot, teve a seu lado a nmero dois do partido, Ana Catarina Mendes, secretria-geral adjunta de Antnio Costa no Largo do Rato.

    Victor Ramalho, que presidiu federao distrital de Setbal do PS durante anos e um dos mais pr-ximos colaboradores de Mrio Soa-res, o mandatrio da candidatura de Nvoa na regio. E o ministro-Adjunto de Antnio Costa, Eduardo Cabrita, fechou a lista de oradores do comcio.

    Toda esta contabilidade ganha al-gum sentido depois de instalada, nos ltimos dias, uma querela, lanada pela candidatura de Maria de Belm: A nal quem o candidato socialista nestas eleies?

    Nvoa comeou o seu discurso de Setbal por a. Eu no vim para dividir. Eu venho para unir esforos para que se construa um Portugal mais justo, solidrio. No fao esta campanha contra ningum. No fa-o esse favor ao candidato apoiado pelos partidos da direita. Recuso-me a perder tempo em ataques fratri-cidas.

    Antes, j Vtor Ramalho se tinha referido, ainda que de forma indi-recta esta minha camarada s crticas de Maria de Belm. Mas os

    Paulo PenaNUNO FERREIRA SANTOS

    Sampaio da Nvoa quer que, na segunda volta, se saia desta campanha ligeira

    de muitas reas, e tambm da rea socialista. Fui suscitando o apoio de muita gente, e de muita gente da rea socialista, o que uma coisa de que me orgulho, porque revela que h uma convergncia. E isso uma coisa que me honra, como me honra o apoio de muita gente que no socialista.

    O candidato assume-se como a alternativa a Marcelo, aquele que vai passar segunda volta. No entanto, rea rma que dar o seu apoio a qualquer um dos candidatos de esquerda que passe segunda volta, no caso de no o conseguir. Seja qual for o candidato que pas-se segunda volta, seja Edgar Sil-va, seja Marisa Matias, seja Maria de Belm, contaro sempre com o meu apoio.

    Para Sampaio da Nvoa, o impor-tante ganhar ao candidato que representa valores diferentes dos seus. E o objectivo fazer com que na segunda volta se discuta, a srio, sair um pouco desta campanha li-geira que acusa Marcelo de estar a fazer.

    Em Setbal, o candidato esteve acompanhado pelos dois adjuntos de Antnio Costa, no partido e no Governo

    trs oradores do PS que antecede-ram Nvoa traziam um discurso ar-ticulado e o alvo Marcelo Rebelo de Sousa. Para Ramalho, se fosse eleito, Marcelo nem concluiria o mandato, porque a intrigalhada seria tanta no Palcio....

    E por falar em palcio... Eduardo Cabrita quer eleger Nvoa porque s assim evitar ter receios de qual-quer golpe palaciano. O ministro-Adjunto garante que esta eleio est em aberto: Ningum decidiu pela televiso, nem pela popularidade.

    Tambm Ana Catarina Mendes fez um apelo aos socialistas: Derro-tem o candidato da direita. Marce-lo est a fazer uma campanha para nos convencer que quem no . Mas ele mesmo o que . O candi-dato do PSD e CDS. uma candida-tura de gato escondido com rabo de fora, avaliou a secretria-geral adjunta do PS.

    Desta vez, Nvoa subiu ao palco sem um discurso escrito. Falando de improviso, quali cou a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, de fast-food - ironizando com os malefcios

    e o risco que a comida instantnea, e popular, traz sade.

    O meu pas o da igualdade, de-fendeu, mais uma vez, ao a rmar que defende uma Repblica soberana e social. O Estado social a matriz da nossa democracia, a rmou.

    Vamos celebrar o regresso da Constituio Presidncia da Rep-blica, a rmou, vamos conseguir vencer, cada dia mais certo.

    tarde, em So Pedro de Sintra, sada de uma visita ao quartel de bombeiros local, Nvoa abriu o espectro da sua candidatura, pro-curando fugir, uma vez mais, po-lmica lanada pelos apoiantes de Maria de Belm. Sou o candidato

    Ao actual Presidente da Repblica faltou-lhe apenas ser PresidenteMarisa Matias

    Eu no vim para dividir. Venho para unir esforos para que se construa um Portugal mais justo

  • PBLICO, TER 19 JAN 2016 | PORTUGAL | 11

    A j tradicional feijoada da caravana comunista e dos trabalhadores da Cmara Municipal de Palmela ficou marcada ontem pelo combate direita.

    O candidato presidencial apoiado pelo PCP discursou aps o repasto de cerca de 200 pessoas na Sociedade Filarmnica Humanitria de Palmela, acusando a direita de, na ltima reviso constitucional, at querer acabar com a figura das comisses de trabalhadores. Eles no descansaro enquanto no mutilarem a Constituio naqueles que so os direitos fundamentais dos trabalhadores e das trabalhadoras, afirmou.

    Edgar Silva recordou que o seu partido e aqueles trabalhadores partilharam do po de muitas jornadas, de muitos sonhos, de vontade de compromisso, muito desejo de transformao e viragem desta histria que tem sido seguida em Portugal, sendo essa a base da camaradagem, essa cumplicidade, as causas comuns, pedindo licena para tratar os presentes por camaradas.

    Mais tarde, a comitiva de Edgar Silva deslocou-se porta das Oficinas Gerais de Manuteno Aeronutica (OGMA), em Alverca, para voltar a defender os direitos laborais junto da empresa entretanto privatizada, com 1600 funcionrios, mas que tem em curso uma reestruturao que implica a resciso de contrato com cerca de 200, segundo o sindicalista Hlio Martins.

    Reagindo s 18 medidas defendidas pela troika, Edgar prometeu vetar tudo quanto procure vulnerabilizar vnculos de trabalho e atente contra direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e das trabalhadoras.

    O candidato acrescentou que j chega de toda uma narrativa de roubo de direitos e de assalto a salrios. Lusa

    Edgar Silva vetar recuos lei laboral

    A campanha de Marcelo Rebelo de Sousa estreou-se nos temas econ-micos. E no foi para defender um modelo econmico prximo do proposto pela sua rea poltica. Pe-lo contrrio, o candidato avisou que no se pode esquecer o estmulo ao consumo interno, que a base das propostas do PS.

    O alerta foi deixado ontem num al-moo com comerciantes, num dia de campanha que fez uma pausa duran-te a tarde para a prova de doutora-mento a que o candidato, na pele de professor catedrtico na Faculdade de Direito, no quis faltar.

    O modelo econmico defendido por Marcelo foi de equilbrio entre a aposta nas exportaes e a procura interna. No momento em que h carncias bsicas, h risco de de a-o, no momento em que preciso fazer crescer emprego, uma coisa no apostar de forma exclusiva do consumo interno, outra coisa es-quecer a realidade do consumo in-terno, a rmou o candidato, num almoo, em Lisboa, promovido pela Unio de Associaes de Comrcio e Servios (UACS) em conjunto da Con-federao de Comrcios e Servios de Portugal (CCP).

    Uma posio contrria proposta pela coligao PSD-CDS e defendida fortemente por Passos Coelho nos ltimos anos. Uma coisa olhar-se o pas a partir de esquemas feitos no gabinete, outra olhar para o pas re-al. Andar pelas ruas, ver o que abre e fecha, referiu Marcelo, defendendo que no equilbrio entre os dois que deve residir a procura de um modelo realista para a economia.

    Mais tarde, numa outra iniciativa do dia, o candidato haveria de corrigir um pouco a sua declarao, ao avisar que estmulo ao consumo interno, sim, mas preciso ter cuidado por causa do aumento da dvida pblica.

    sada da crise e em que Marcelo diz que o chefe de Estado se deve empe-nhar na gura de um moderado e no noutros papis que j foram seus: O Presidente no um analis-ta, no um comentador, um pro-tagonista cimeiro da vida poltica.

    Outro papel que j desempenhou foi o de director de um jornal, o Ex-presso, quando saiu o primeiro n-mero, com a manchete de uma son-dagem: 63% dos portugueses nunca votaram. Um jovem perguntou-lhe se essa percentagem no poder ser em breve sobre a absteno e no em resultado de uma limitao do sis-tema. Marcelo j estava na segunda iniciativa do dia, uma sesso com jo-

    Sofia RodriguesMIGUEL MANSO

    Ao almoo com empresrios ou conversa com jovens, Marcelo defendeu a inverso do empobrecimento

    vens, promovida pela plataforma Re-set (que se assumiu como uma orga-nizao apartidria) e pela Conexo Lusfona, outra associao ligada aos pases de lngua portuguesa.

    Espero bem que no. Seria um grande fracasso da parte dos prota-gonistas polticos, econmicos e so-ciais, respondeu. Seria muito mau para a democracia, disse. Fez de-pender essa situao do crescimento econmico: Ou invertemos o empo-brecimento, ou no h como evitar as tenses sociais, os radicalismos polticos e as frustraes.

    Depois de enfatizar a importncia da participao dos jovens na vida poltica preciso meter o p na porta e ir forando , o candidato foi confrontado com queixas de um estudante que queria exercer o voto antecipado e no conseguiu por ques-tes administrativas. J tinha recebi-do essas queixas. Isso burocracia. Signi ca que muitos estudantes des-locados no vo poder votar. Lamen-to vivamente, disse, reconhecen-do que o contrrio de incentivar essa participao na vida poltica.

    Candidato ouve queixa de estudante que no consegue votar antecipadamente por razes administrativas

    Perante algumas dezenas de comer-ciantes, o candidato ele prprio ne-to de comerciante trazia um dis-curso com preocupaes econmicas. cabea a disponibilizao dos fun-dos comunitrios, que precisa de ser mais rpida. Olhando para os fundos europeus, h sempre arranque lento. Uma coisa quando a economia est estabilizada, outra sair da crise. No indiferente haver disponibilidade de fundos em 2016 ou haver em 2017, sustentou. O candidato referiu ainda a preocupao com a estabilidade em termos scais e a importncia do reforo do sistema nanceiro.

    A mensagem da necessidade de consensos de regime e da estabilida-de governativa, que hbito constar das suas intervenes, foi ali repeti-da. O Governo tem o desa o de man-ter a solidez da sua base de apoio, a oposio tem de refazer-se.

    Aos consensos de regime, Marcelo sublinhou a importncia da Concerta-o Social de que a CCP faz parte , um frum em que todos os parcei-ros so relevantes e no apenas al-guns. Pressupostos para uma boa

    Ou invertemos o empobrecimento ou no h como evitar as tenses sociais, os radicalismos

    Eu sei como que fi z quando enfrentei o eleitorado em 2006 e 2011Cavaco Silva

    Marcelo aproxima-se de Antnio Costa no estmulo ao consumo interno

  • 12 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    DAMIEN MEYER/AFP

    Ensaios clnicos da Bial continuam depois de morte de participante

    Centro Hospitalar de Rennes confirmou melhoria do estado de sade dos cinco participantes

    Apesar da morte de um dos partici-pantes, a ministra da Sade francesa, Marisol Touraine, considerou no ha-ver razo para parar os ensaios clni-cos de uma nova molcula da farma-cutica portuguesa Bial em Frana. Precisamos de saber o que aconte-ceu, mas no h nenhuma razo para se interromperem os ensaios clni-cos, disse ontem numa entrevista rdio RTL, depois de na vspera ter sido declarado o bito do volunt-rio dos ensaios que estava em morte cerebral desde a semana passada.

    A ministra descreveu uma situa-o indita em Frana e sugeriu ter sido tardiamente informada. Um alerta mais rpido teria sido aprecia-do, disse Marisol Touraine, avisada para a situao na quinta-feira, que envolveu tambm riscos noutros cinco voluntrios hospitalizados na semana passada. Perante um acon-tecimento to grave, espervamos do laboratrio que se manifestasse mais rapidamente junto das autoridades de sade.

    Jos Cunha e Vaz, professor em-rito de Oftalmologia da Universidade de Coimbra, entende a deciso da ministra de no interromper os en-saios, porque atribui o acidente a um erro, e no ao ensaio em si. O facto de esta ser uma rea muito regulada e de nada ter acontecido aos 108 volun-trios envolvidos nestes testes inicia-dos em Junho uma das razes que levam o acadmico a acreditar nisso.

    Nem compreendo que seja ou-tra coisa, disse ao PBLICO. Esta uma das reas mais reguladas no mundo. uma rea que tem de ga-rantir, acima de tudo, a salvaguarda do paciente e do voluntrio, acres-centou o acadmico e presidente do conselho de administrao da Aibili, uma instituio de investigao clni-ca ligada aos Hospitais Universitrios de Coimbra e Fundao Champalli-maud em Lisboa, com uma longa ex-perincia em ensaios clnicos das fa-ses II, III e IV, que envolvem doentes.

    A Fase I envolve voluntrios saud-veis. de longe a mais arriscada, explica. Era nesta fase de ensaio clni-co para a Bial, que testava uma nova molcula com actuao no sistema nervoso central, que participavam

    os seis voluntrios, entre os 28 e os 49 anos, que foram hospitalizados na semana passada.

    a fase de veri cao de toxicida-de, que se segue fase pr-clnica, e que apenas avana depois de vrias experincias em animais e s depois de haver provas de que no txico, explica Jos Cunha e Vaz.

    Se os 108 voluntrios j foram expostos a este medicamento e no tiveram nada que os obrigasse a pa-rar, no compreendo que possa ter acontecido outra coisa a no ser uma falha humana, comenta. E nesse contexto, acrescenta o mdico, que o anncio da ministra francesa Marisol Touraine, de no interromper os en-saios clnicos, deve ser entendido.

    O estado de sade dos outros cinco participantes entretanto melhorou e um deles j est em condies de vol-tar para casa, anunciou tambm on-tem Gilles Brassier, presidente da Co-misso Mdica do Centro Hospitalar Universitrio (CHU) de Rennes. Trs deles vo passar a ser seguidos em servios de neurologia de unidades de sade prximas dos seus domic-lios, acrescentou Gilles Brasier, cita-do pelo jornal Ouest France. O seu acompanhamento mdico ser orga-nizado pelo servio de neurologia do CHU. O ltimo paciente continua em observao neste servio, l-se na nota com o terceiro balano clnico efectuado pela unidade de sade.

    Desde que soubemos do efeito adverso veri cado, a toma da me-dicao foi de imediato suspensa, garante a Bial, em resposta ao P-BLICO. E esclarece: Num ensaio, a responsabilidade de noti cao dos efeitos adversos s autoridades do promotor do ensaio [Bial], mas pode ser delegada unidade de en-saios contratada [a empresa Biotrial, que conduziu os ensaios a pedido da Bial]. As duas entidades acordaram tempos de comunicao s autorida-des, dentro do prazo legal.

    A equipa da Bial actualmente em Rennes est a revezar-se entre tc-nicos da rea da investigao, repre-sentantes do departamento legal e um administrador, acrescenta a far-macutica. Enquanto isso, decorrem os trs inquritos em Frana: um est a ser conduzido pelo Ministrio P-blico; outro pela Inspeco-Geral dos Assuntos Sociais, sob a tutela do Mi-nistrio da Sade; e um terceiro pela agncia francesa do medicamento.

    Melhorou o estado de sade das outras cinco pessoas que participam nos ensaios de uma nova molcula que actua sobre o sistema nervoso central da farmacutica portuguesa Bial

    SadeAna Dias Cordeiro e Alexandra Campos

    As fases de um ensaio clnico

    Fonte: PBLICO

    *Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Sade (no caso francs a ANSM - Agence Nationale de Scurit du Mdicament et des Produits de Sant)

    FASE I

    20 a 80voluntrios(saudveis)

    Primeiros testes em pessoas saudveis. Observao e avaliao dos efeitos txicos a curto prazo

    Segurana-tolernciaFASE II

    100 a 300voluntrios(doentes)

    Determinar a dose mnima eficaz (a dose adequada) da substncia

    Estudo-pilotoFASE III

    De vrias centenas a vrios milhares de voluntrios (doentes)

    Avaliar a substncia em comparao com um placebo(etapa final antes da autorizao de entrada no mercado)

    Depois da comercializao do medicamento, monitorizao a longo prazo dos efeitos secundrios ou complicaes

    Prova de eficciaFASE IVFarmacovigilncia

    Aps testes em animaisLaboratrio

    farmacuticoCentro de

    investigaoInfarmed*Vigilncia

  • PBLICO, TER 19 JAN 2016 | PORTUGAL | 13

    Portugal tem a maior taxa de cuida-dos continuados e paliativos presta-dos por pessoas sem preparao nem quali cao para tal normalmente familiares ou amigos que tratam das pessoas em situao de dependncia sem remunerao e uma das mais baixas taxas de cobertura de cuida-dos a cargo de pro ssionais, em toda a Europa, revela um estudo elabo-rado pela Entidade Reguladora da Sade (ERS). Intitulado Acesso, Qua-lidade e Concorrncia nos Cuidados Continuados e Paliativos, o estudo indica ainda que Portugal , num conjunto de pases da OCDE, aque-le cujos cidados mais pagam do seu bolso este tipo de cuidados.

    Outro indicador que deixa Portu-gal mal posicionado prende-se com a cobertura de cuidados no domicili-rios. Portugal tem a maior taxa de cuidados domicilirios informais da Europa, a menor taxa de prestao de cuidados no domicilirios e uma das menores taxas de cobertura de cuidados formais, principalmente em funo da escassez de trabalha-dores formais, que, segundo o In-ternational Labour O ce, con gura uma limitao ao acesso a cuidados continuados de qualidade, conclui a ERS.

    Os cuidados informais so pres-tados por algum que reside com o doente em situao de dependncia, normalmente um familiar ou uma pessoa amiga, que faz esse trabalho por altrusmo, sem remunerao.

    Por outro lado, tendo em consi-derao um conjunto de pases da OCDE [Organizao de Cooperao e Desenvolvimento Econmico], Portugal o pas com a maior par-cela de nanciamento out-of-pocket [gastos suportados directamente pe-los utentes nos casos em que nem o servio pblico nem o seguro priva-do cobrem a totalidade] de cuidados continuados (45%), sendo certo que a maior parte do nanciamento total resulta de contribuies da Seguran-a Social (51%).

    Apesar de as estruturas de siste-mas de cobertura universal de cui-dados continuados terem comeado a ser promovidas em alguns pases europeus desde os anos 1940, em

    Portugueses so dos que mais pagam do seu bolso por cuidados continuados

    meados da dcada de 1990 a infra-estrutura de cuidados continuados em Portugal ainda era escassa, com a maior parte dos cuidados a serem domicilirios e informais, prestados por um residente na mesma habita-o, sublinha a ERS.

    O estudo revela tambm que a des-pesa pblica em percentagem do PIB relativa aos cuidados continuados em Portugal est abaixo da mdia dos pases europeus. No entanto, as despesas pblicas nesses cuidados tm vindo a crescer a uma taxa supe-rior das despesas pblicas totais em sade, acrescenta o regulador.

    Das projeces realizadas acerca da evoluo da populao idosa, perspectiva-se que a procura por cuidados continuados e paliativos aumente nos prximos anos em todos os pases europeus, mas es-pecialmente em Portugal, porque a populao idosa dever crescer a uma taxa mais elevada do que a do total da Unio Europeia, devendo a proporo de idosos chegar perto de 25%, at 2025, em Portugal.

    O estudo permite ainda perceber que mais de 90% da populao por-tuguesa tem um acesso reduzido s unidades de internamento da rede nacional de cuidados continuados e as situaes mais graves esto no Norte e na Grande Lisboa. O nmero de camas para satisfazer as necessi-

    dades de cuidados continuados e pa-liativos deveria ser de 14.640, mas nem metade desta meta foi atingida, sendo o caso dos cuidados de conva-lescena o mais gritante, com 95% dos portugueses a terem di culdade de acesso.

    A investigao identi cou um acesso baixo, de 93% da populao, a todas as unidades de internamento da rede. So consideradas as unida-des de cuidados paliativos, de baixo acesso para 81% dos portugueses, as de convalescena, praticamente inacessveis para 95%, alm das de mdia durao e de longa durao. Ainda assim, a ERS destaca que, em 2015, se veri cou um aumento de 19% no nmero de unidades de in-ternamento, por comparao com 2013. Nessa altura, o regulador iden-ti cou maior insu cincia nos cuida-dos paliativos. PBLICO/Lusa

    Relatrio

    Cuidados continuados e paliativos ficam a cargo sobretudo de familiares e amigos, que fazem esse trabalho por altrusmo

    NELSON GARRIDO

    Negociaes com os sindicatos arrancam esta semana

    O Ministrio da Educao (ME) vai retirar s escolas a possibilidade de de nirem critrios prprios para a contratao de professores. Num projecto de diploma com vista alte-rao da legislao sobre os concur-sos de docentes, que foi entregue aos sindicatos na semana passada, o ME consagra o m da Bolsa de Contrata-o de Escola (BCE), e substitui este mecanismo pela chamada Reserva de Recrutamento, na qual a seleco de professores feita a partir de uma lista nacional organizada segundo critrios comuns, como a nota nal da formao no ensino superior e o tempo anterior de servio (gradua-o pro ssional), con rmaram ao PBLICO os lderes da Federao Nacional de Professores (Fenprof ), Mrio Nogueira, e da Federao Na-cional de Educao (FNE), Joo Dias da Silva.

    Na contratao de professores atravs da BCE, destinada aos cerca de 300 agrupamentos e escolas com contratos de autonomia ou inseridas nos Territrios Educativos de Inter-veno Prioritrio (TEIP), a gradu-ao pro ssional tinha apenas um peso de 50%. Logo no primeiro ano da sua implementao, em 2014, um erro na aplicao informtica que ge-ria este mecanismo levou a atrasos na colocao de centenas de profes-sores. Atrasos que se prolongaram at ao nal do 1. perodo.

    Em 2015, a situao melhorou, mas o tempo de colocao de professores atravs da BCE continuou a ser mais demorado do que pelo concurso na-cional, j que os docentes podiam candidatar-se a centenas de escolas. A morosidade foi precisamente o ar-gumento evocado pelo novo ministro da Educao, Tiago Brando Rodri-gues, para defender, no incio deste ms, o m da BCE. Lembrando que a mdia de espera para a contrata-o de um professor de 21 dias, Brando Rodrigues a rmou que necessrio encontrar um modelo mais e caz, mas na altura no deu pormenores sobre as alteraes que pretendia introduzir.

    O projecto de diploma do ME res-ponde s principais crticas dos sin-

    Escolas deixam de poder definir critrios para contratar professores

    dicatos em relao BCE, mas no salvaguarda as posies defendidas pelas associaes de directores sobre a necessidade de preservar a autono-mia das escolas na contratao de parte do seu corpo docente. O m da Bolsa de Contratao de Escola, tal como est, uma boa notcia, por-que esta no resolveu nenhum pro-blema das escolas, mas voltar apenas lista nacional, para efeitos de colo-cao, um passo atrs, comentou o presidente da Associao Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Ma-nuel Pereira, que tambm director de um agrupamento TEIP.

    Este dirigente lembra que as esco-las com contratos de autonomia ou inseridas nos TEIP contratualizaram com o ministrio metas que devem atingir, tendo este assumido o com-promisso de lhes garantir recursos para o efeito, o que tambm pas-sava por critrios de recrutamento prprios. Frisando que, em mdia, a contratao pelas escolas abrange actualmente menos de 10% do seu corpo docente, Manuel Pereira de-fende que necessrio con ar na escolas e garantir-lhes alguma au-tonomia para poderem contratarem os professores de que necessitam pa-ra lugares espec cos.

    O responsvel da ANDE considera, no entanto, que melhor ter a lista nacional do que a BCE como estava a ser aplicada, por se ter revelado um instrumento burocrtico e mui-to moroso, que s penalizou as esco-las a que se destinava, mas espera que o novo ministro tambm oua a posio das escolas a este respeito e no s a dos sindicatos.

    um excelente ponto de parti-da, porque re ecte muito do que os professores defenderam sobre a BCE, a rmou, por seu lado, Mrio

    Nogueira, que na sexta-feira ter a primeira reunio com o ministrio sobre o projecto de diploma que al-tera os concursos. Tambm o lder da FNE, Joo Dias da Silva, frisa que as alteraes propostas, nomeada-mente o m das contrataes de escola, respondem ao que sempre defenderam.

    Em resposta ao PBLICO, o gabi-nete de comunicao do ME con r-mou que foi desencadeado um pro-cesso negocial que desaguar numa iniciativa legislativa que v no senti-do do cumprimento do programa do Governo no que se refere valoriza-o da funo docente e fomento de estabilidade nas escolas.

    Norma-travoTanto a Fenprof como a FNE vo pro-por que se altere tambm, desde j, o modelo de aplicao da chamada norma-travo, criada por Nuno Crato no ltimo concurso de profes-sores, realizado em 2015, estipulando a entrada nos quadros dos docentes que tenham pelo menos cinco con-tratos sucessivos, anuais e completos no mesmo grupo de recrutamento. Houve cerca de 1500 contratados abrangidos por esta clusula, que mantida no projecto entregue pelo ME, mas cuja reviso defendida por Joo Dias da Silva com vista a aplicar a legislao em vigor, que determina a entrada nos quadros ao m de trs anos de contratos.

    Mrio Nogueira a rma apenas que pretendem discutir um modelo de vinculao que evite as injustias criadas, como as que permitiram a entrada nos quadros de professo-res contratados com seis anos de servio, quando outros com mais de 20 anos de carreira caram de fora, indicou.

    EducaoClara VianaSindicatos de professores satisfeitos com proposta do Ministrio da Educao, mas directores tambm querem ser ouvidos

    Envelhecimento da populao, sobretudo em Portugal, refora importncia dos cuidados continuados

  • 14 | PORTUGAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    Debate pblico sobre desenvolvimento sustentvel comea amanh

    BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

    So 17 os objectivos, que se desdobram em 169 metas, a perseguir no plano nacional e global

    uma das questes que se impem no incio deste ano: como pode Por-tugal levar prtica as novas utopias da humanidade os 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentvel? A consulta pblica comea amanh. A ideia criar um plano nacional da sociedade civil ou, pelo menos, um conjunto de recomendaes que possam vir a in uenciar um plano o cial, operacional e multis-sectorial.

    A agenda global 2030, aprovada pela Assembleia Geral das Naes Unidos em Setembro ltimo, no se destina apenas aos pases em desen-volvimento, como os Objectivos do Desenvolvimento do Milnio, que estiveram em vigor entre 2000 e 2015. Cada pas ter de cumprir objectivos sua escala, tendo em conta as suas caractersticas, o seu estdio de desenvolvimento. Como ento sintetizou o secretrio-geral, Ban Ki-moon, o verdadeiro teste ser sua implementao.

    A agenda 2030 no caiu de pra-quedas, como os Objectivos do De-senvolvimento do Milnio, deline-ados nos gabinetes da Organizao das Naes Unidas (ONU). A sua criao foi participada, recorda Pedro Krupenski, presidente da Plataforma das Organizaes No Governamentais para o Desenvolvi-mento (ONGD). Cerca de dois anos de debate pblico antecedem os 17 Objectivos do Desenvolvimen-to Sustentvel, que se desdobram em 169 metas rumo a um mundo sem fome, sem pobreza, com sade e educao de qualidade, igualda-de de gnero, acesso a gua pot-vel, saneamento, energias renov-veis, trabalho digno e crescimento econmico; indstria, inovao, infra-estruturas; reduo de desi-gualdades; comunidades, cidades, consumo e produo sustentveis; aco climtica, proteco da vida marinha e da vida terrestre, paz, justia e parceria.

    Durante a preparao, em Portu-gal uma comisso organizou meia dzia de o cinas (duas em Lisboa e as outras no Porto, em vora, Coimbra e Funchal), uma consulta na Internet, um seminrio, e emi-tiu recomendaes, que enviou ao

    Governo, Unio Europeia e ONU. A mesma comisso volta a entrar em aco.

    O que est em cima da mesa, ex-plicou Pedro Krupenski, a repeti-o do mtodo: seis o cinas, infor-mao e consulta via Internet, tendo por alvo municpios, as comunida-des intermunicipais, as juntas de freguesia, as empresas, as associa-es empresariais, os sindicatos, as organizaes no governamentais, as instituies particulares de solida-riedade social e outras organizaes do terceiro sector.

    Segundo o lder da Plataforma das ONGD, o que se pretende envol-ver a sociedade civil na de nio de uma estratgia nacional transecto-rial, integrada, participativa; reco-lher ideias para delinear um plano nacional ou, pelo menos, linhas orientadoras muito claras que per-mitam in uenciar o plano o cial.

    No limite, a comisso integrada pela Animar, o Conselho Nacional da Juventude, o Cames Instituto da Cooperao e da Lngua, a Mi-nha Terra, a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres e a Plataforma Portuguesa das ONGD ambiciona que as partes assumam o compromisso de cumprir o plano da sociedade civil. E que esse compro-misso inclua o acompanhamento da agenda 2030.

    Aco internaPedro Krupenski ainda no sabe quem dever ser o interlocutor no Governo. O assunto tem estado com o Ministrio dos Negcios Estran-geiros, mais precisamente com o Cames Instituto da Cooperao e da Lngua. Mas esta agenda global, ao contrrio da anterior, no se es-gota na ajuda pblica ao desenvol-vimento de pases terceiros. Incide no desenvolvimento interno. O que tem sentido, defende, desenhar um plano nacional, transversal, multissectorial.

    A consulta pblica lanada ama-nh, na Culturgest, em Lisboa, altu-ra em que tambm apresentada a Aliana Objectivos do Desenvol-vimento Sustentvel (ver caixa). L para o Vero ser apresentado o resultado nal da consulta. Nessa mesma altura, as ONGD e demais entidades interessadas devero as-sinar o compromisso comum pelo desenvolvimento sustentvel.

    Sociedade civil portuguesa quer assumir um compromisso e infl uenciar um plano ofi cial, operacional e multissectorial, a desenvolver escala nacional

    ObjectivosAna Cristina Pereira

    Aliana empresarial quer emprego digno e bem distribudo

    O sector empresarial portugus promete no ficar de fora da Agenda Global 2030. A Global Compact Network-Portugal lana tambm amanh a Aliana para os Objectivos do Desenvolvimento Sustentvel, plataforma destinada a promover parcerias, projectos e aces.

    Mrio Parra da Silva, representante da Global Compact Network-Portugal e presidente da Associao Portuguesa da tica Empresarial, lembra que o ltimo dos 17 objectivos aprovados pela ONU sobre criar parcerias para os alcanar. a que enquadra a Aliana, que apresentar na Culturgest, em Lisboa.

    Primeiro parntesis: a Global Compact foi criada pelas Naes Unidas em 2000, era Kofi Annan secretrio-geral. Funciona atravs de redes que se organizam a nvel nacional.

    Delas fazem parte empresas que se comprometem a guiar a sua actuao por dez princpios ticos, como, por exemplo, respeitar os direitos humanos, apoiar a liberdade de associao, abolir todas as formas de trabalho forado, obrigatrio ou infantil, eliminar a discriminao no emprego, promover a responsabilidade ambiental, combater a corrupo.

    Segundo parntesis: os Objectivos do Desenvolvimento Sustentvel no so um exclusivo do sector pblico e do terceiro sector, tambm dizem respeito ao sector empresarial. Podem ser vistos como uma obrigao de resolver problemas, mas tambm como uma oportunidade de negcio, diz Mrio Parra da Silva.

    O Conselho Superior de Honra integra 20 personalidades portuguesas ligadas s Naes Unidas ao

    desenvolvimento sustentvel. A Aliana uma forma das organizaes empresariais e outras se coordenarem para concretizar os 17 objectivos do desenvolvimento sustentvel, explica Parra. uma entidade que vai nascer a 20 de Janeiro de 2016 e que vai viver at ao final de 2030 para ligar o sector empresarial a outras partes interessadas [na agenda global], contrariando a tradicional falta de dilogo com as organizaes no governamentais e demais entidades que fazem parte do chamado terceiro sector.

    A nvel nacional, o grande desafio parece-lhe ser a existncia de emprego digno e bem distribudo pelo territrio nacional. H uma fixao de emprego no Litoral que muito contribui para o despovoamento do interior e, por arrasto, para outros problemas que afectam a sociedade portuguesa.

  • PBLICO, TER 19 JAN 2016 | PORTUGAL | 15

    MIGUEL MADEIRA

    Mais de 87% dos inquiridos no se sentem recompensados

    Sentir pouca realizao pessoal no que se faz e um cansao extremo. Experimentar um aumento do ci-nismo na relao com os colegas, uma espcie de desligamento afec-tivo-emocional em relao s tarefas e ao trabalho. Acumular stress h muito tempo. Tudo isto caracteriza o burnout expresso usada pelos especialistas para falar de esgota-mento. E o nmero de trabalha-dores que apresentam sintomas de esgotamento, tal como ele aqui de nido, subiu em 2014/2015 para 17,3%, segundo um estudo.

    Mas so muito mais os que esto em risco. Quase metade de quase 5000 trabalhadores inquiridos (48%) esto submetidos a situaes com elevado potencial de desenvolver burnout, diz Joo Paulo Pereira, presidente da direco da Associa-o Portuguesa de Psicologia da Sa-de Ocupacional.

    Em 2014, o coordenador do Bar-metro de Riscos Psicossociais, que

    Esgotados e pouco realizados: mais trabalhadores com sintomas de burnout

    Cerca de 45% das entrevistas fo-ram feitas na rua e 55% em insti-tuies que foram contactadas ou que solicitaram a avaliao, explica o tambm consultor da Mastering Jobs & People, grupo especializado em Comportamento Humano e Or-ganizacional, detentor dos direitos do barmetro.

    Os resultados mostram uma evo-luo negativa na exposio aos fac-tores de risco factores estes que vo da percepo do reconhecimen-to nanceiro e social pelo trabalho, sobrecarga de tarefas, para dar dois exemplos. Alguns dados: h mais situaes de stress. Em 2013, eram relatadas por 62% dos inquiri-dos. Neste momento temos 86,1%, continua.

    O sentimento de no reconheci-mento tambm ganhou espao. Em 2013, aproximadamente 73% dos in-quiridos no se sentiam recompen-sados, agora estamos nos 87,41%.

    Esta rea, do reconhecimento -nanceiro e social que se recebe pela contribuio que se tem no trabalho, comporta a remunerao propria-mente dita, os prmios de produti-vidade, o reconhecimento de perfor-mance por parte das che as, colegas e outros que sejam importantes na vida do trabalhador, explica Joo Paulo Pereira. Que nota que um sis-tema de remunerao signi cativo, e que cumpra de forma integrativa

    visa fazer o reconhecimento sobre a evoluo dos riscos psicolgicos, fsicos e de e cincia das organiza-es, levou o seu primeiro Relatrio de Avaliao de Per l de Risco Psicos-social A Gesto de Pessoas e Organi-zaes Saudveis a vrias comisses parlamentares. Para explicar aos deputados que se estava a observar uma degradao assustadora dos indicadores de bem-estar no mundo laboral.

    Esse estudo, ento noticiado, baseava-se em inquritos a 38.719 trabalhadores portugueses, feitos entre 2008 e 2013, e mostrava, por exemplo, que a percentagem dos que se encontravam num estado de burnout/esgotamento passara de 9%, em 2008, para 15%, em 2013.

    Agora, a taxa superou os 17%. At que ponto grave? A distribuio tida como normal seria 7% a 9% de trabalhadores naquela situao, diz ao PBLICO, por escrito, o coorde-nador.

    Stress e reconhecimentoEntre 2014 e 2015, foram inquiridas 4729 pessoas, tendo em considera-o trs reas: Sade, Educao e Servios, com percentagens de in-quiridos idnticas, 33,3%, para cada rea, tanto no sector pblico como no privado. Menos pessoas do que no estudo anterior, mas perguntas idnticas.

    EstudoAndreia SanchesInqurito a 5000 trabalhadores: h mais a relatarem stress e a sentirem que no so devidamente compensados

    Mais de 2000 polcias que deviam progredir na carreira com o novo estatuto viram esta deciso adiada por nota informativa da direco nacional da PSP, situao que est a ser contestada pelos sindicatos, que ameaam recorrer aos tribunais.

    Segundo o estatuto pro ssional da PSP, que entrou em vigor a 1 de De-zembro de 2015, os subcomissrios e agentes h mais de um ano na fase experimental transitam, automati-camente, para a segunda posio re-muneratria da carreira e categoria em que se encontram.

    Numa nota informativa, divulgada atravs do Portal Social a 15 de Janei-ro, a direco nacional da PSP infor-ma que os subcomissrios e agentes nestas condies seriam colocados na segunda posio remuneratria em Fevereiro. No entanto, uma no-va nota informativa, emitida no dia seguinte, veio substituir quaisquer outras que tenham sido difundidas sobre o processamento de salrios e no faz qualquer referncia pro-gresso na carreira destes subcomis-srios e agentes.

    O presidente do Sindicato Nacio-nal dos O ciais de Polcia (SNOP), Henrique Figueiredo, disse Lusa que, com a entrada em vigor do novo estatuto, os subcomissrios e agentes deviam ser automaticamente repo-sicionados e que estes esperavam que tal acontecesse a 1 de Dezembro. Acrescentou que o SNOP, que admi-te avanar para os tribunais, pediu esclarecimentos direco nacional da PSP, que ter alegado estar a ten-tar encontrar uma soluo legal no mbito do quadro vigente.

    Tambm o Sindicato Nacional da Polcia (Sinapol) disponibilizou os seus servios jurdicos para os polcias interessados em levarem a situao a tribunal. O presiden-te do Sinapol, Armando Ferreira, adiantou Lusa que o sindicato pediu esclarecimentos direco nacional da PSP e pediu ao Minis-trio da Administrao Interna que intervenha na resoluo da situao.

    A Lusa contactou a direco na-cional da PSP para obter esclareci-mentos, mas no obteve resposta. PBLICO/Lusa

    Mais de 2000 polcias com aumentos adiados

    PSP

    Sindicatos admitem recorrer aos tribunais. Dizem que no foi cumprido o novo estatuto da Polcia de Segurana Pblica

    e abrangente o que foi enumerado, contribui para o desempenho e pro-porciona indicaes claras de quais so os valores da organizao.

    Os autores avaliaram mais as-pectos: qual a capacidade do tra-balhador de se sentir envolvido na instituio e com as tarefas que nela desenvolve? Com que energia ca-da colaborador se sente para conse-guir ter disponibilidade e fora pa-ra o desempenho das tarefas? H, aos olhos do trabalhador, justia na sua empresa? A justia comunica respeito para com os membros de organizao. Partilha ele dos va-lores da organizao? Sendo os valores um aspecto importante para o sucesso organizacional e dos seus membros, urge que se descubram as congruncias entre eles, de forma a que o sentimento de identi cao das pessoas com as organizaes, e o consequente desenvolvimento de engagement, satisfao e reduo de riscos, possam ser uma realidade.

    Apostar na prevenoPorque piorou o bem-estar dos tra-balhadores? Por um lado, a realida-de scio-econmica das pessoas e famlias portuguesas no sofreu melhorias consideradas por elas como signi cativas, diz. Depois, a realidade do mercado de traba-lho, seja no sector pblico, seja no sector privado, no teve, de forma clara, um processo que fosse visto como algo que pudesse sustentar uma evoluo positiva no futuro. Para alm disso, pouco foi feito ao nvel da preveno e minimizao destes riscos, ao contrrio do que tinha sido recomendado no estudo de 2014 e o consultor faz questo de sublinhar que, havendo vontade das empresas e do regulador, uma interveno junto dos trabalhadores tem resultados.

    tambm preciso que a lei se cumpra, nota, para assim preve-nir a exposio dos trabalhadores queles que so considerados os fac-tores de potencial desenvolvimento de risco. E as organizaes devem ter planos de aco e desenvolver aces formativas e de interven-o nas reas da Sade Segurana e Higiene no trabalho, na vertente comportamental e na de desenvolvi-mento de competncias espec cas funo.

    Para j, os dados apurados dizem isto: 72% do total dos funcionrios pblicos e 69% dos do sector privado apresentam uma exposio elevada aos factores de risco considerados neste barmetro.

  • 16 | LOCAL | PBLICO, TER 19 JAN 2016SRGIO AZENHA

    A Cmara de Coimbra espera que obras no Terreiro levem reabilitao dos edifcios ali existentes

    Uma das vrias zonas degradadas da Baixa de Coimbra vai ser requa-lificada, mas o projecto arranca sob crticas da oposio que receia atrasos na obra, uma vez que esta uma zona onde existem vestgios arqueolgicos. A Cmara Municipal (CMC) anunciou ontem o arranque das obras no Terreiro da Erva, loca-lizado numa rea de proteco da zona classi cada como Patrimnio da Humanidade, numa reabilitao orada em 520 mil euros. O prazo dado para a execuo foi de 240 dias, mas a sensibilidade da rea levou o autarca de Coimbra, Manuel Macha-do, a introduzir uma ressalva, se a requali cao no estiver concluda ao m dos oito meses previstos.

    Do Terreiro da Erva, espao que actualmente serve sobretudo como estacionamento, vo desaparecer os automveis e o alcatro, dando lugar a outro tipo de piso, a mobilirio ur-bano e a rvores. Sobre a interven-o em que est tambm prevista a remodelao da iluminao pblica

    Coimbra investe meio milho para recuperar Terreiro da Erva

    Manuel Machado diz que desej-vel que os prazos sejam cumpridos, prevendo desde j os trabalhos im-previstos que vo surgir de certeza absoluta.

    Apesar de todos os estudos, s no terreno que se consegue veri car exactamente o que preciso fazer, disse o presidente do executivo ca-marrio, numa aluso aos vestgios arqueolgicos que se podem encon-trar no subsolo em vrias zonas de Coimbra. O Terreiro da Erva uma delas. no centro daquela praa que se poder ver partes das runas da Igreja de Santa Justa-a-Velha, uma construo cujo primeiro registo data do sculo X e que foi sendo so-terrada medida que as cheias do Mondego foram adicionando estra-tos ao solo. Um arco do altar poder ainda ser visto no interior de uma loja de electrodomsticos que j en-cerrou, num edifcio privado no cen-tro do Terreiro. Apenas a interveno poder revelar o que ainda resta da antiga igreja.

    Por isso, a forma como esto pre-vistas as obras tem vindo a ser con-testada pelo movimento Cidados por Coimbra (CpC), que nas ltimas legislativas elegeu um vereador. De uma sesso pblica promovida pelo movimento em Novembro de 2014 resultou a defesa da realizao de uma escavao arqueolgica prvia que permitisse dar mais qualidade interveno e faz-la de uma forma

    diferenciada, recorda ao PBLICO o vereador Jos Ferreira da Silva.

    Na apresentao da empreitada, o autarca socialista referiu-se a estas crticas como um incidente margi-nal e absolutamente ignorante so-bre a matria, assegurando que a obra est a decorrer de acordo com os procedimentos obrigatrios que tm de ser desenvolvidos. Para ga-rantir que a interveno decorra de forma correcta foram feitas inspec-es arqueolgicas complementa-res, explica Manuel Machado, di-zendo que foram seguidas as regras estabelecidas pelas entidades que intervm no mbito da conservao do patrimnio.

    Ainda sobre o prazo de execuo o presidente da autarquia diz estar consciente que, se na operao se encontrar um achado arqueolgico relevante ou com valor patrimonial relevante, por direito, o prazo de exe-cuo da empreitada interrompi-do. Jos Ferreira da Silva lamenta a falta de transparncia da infor-mao sobre os vestgios arqueol-gicos e garante que o movimento estar atento e exigir responsabi-lidades.

    Para alm da recuperao do Ter-reiro da Erva, onde nascer uma praa com esplanadas vocaciona-da para o lazer e fruio dos cida-dos, a CMC espera que estas obras levem reabilitao dos imveis que a rodeiam.

    RequalificaoCamilo SoldadoOposio critica falta de transparncia na informao sobre runas no subsolo, numa zona onde h vestgios arqueolgicos

    Jos Pina est de sada da direco do Centro Cultural de lhavo (CCI) e pode estar a caminho da autarquia vizinha, Aveiro, para gerir os equipa-mentos culturais da capital de distri-to. O programador cultural encerra, assim, um ciclo de oito anos frente das salas de espectculos ilhavenses em 2010, o CCI passou a funcionar em rede com o Centro Cultural da Gafanha da Nazar, depois de este ter sido alvo de obras de ampliao e requali cao.

    A con rmao da sada de Jos Pina feita pelo prprio presidente da Cmara de lhavo, Fernando Ca-oilo, que, no entanto, se escusa a revelar os motivos que estiveram na origem desta deciso. O importan-te que vamos passar a ter quatro equipamentos culturais que tm de ser interligados entre si, declarou o autarca ao PBLICO, lembrando que, alm dos dois centros culturais, o municpio acaba de ganhar um edi-fcio sociocultural na praia da Costa Nova e est prestes a reabrir o Teatro da Vista Alegre.

    Segundo declarou ainda Fernan-do Caoilo, a autarquia ilhavense j anda no mercado procura de um novo gestor cultural. Estamos a fazer um caminho e s estamos espera de o concretizar, assegurou, ao mesmo tempo que prometia no-vidades para breve.

    J no que concerne a Jos Pina,

    Director do Centro Cultural de lhavo est de sada e pode mudar-se para Aveiro

    apesar das vrias tentativas do P-BLICO, durante o dia de ontem, foi impossvel obter quaisquer escla-recimentos em relao aos motivos da sua sada, bem como no que diz respeito ao seu futuro pro ssional e hiptese de poder estar pres-tes a mudar-se para Aveiro. Ribau Esteves, presidente da Cmara de Aveiro, tambm se remeteu ao si-lncio, recusando comentar esta possibilidade. Contudo, a verdade que a transferncia de Jos Pina para a capital de distrito j dada como quase certa importa lem-brar que a mais emblemtica sala de espectculos de Aveiro, o Teatro Aveirense, est sem director artsti-co h j vrios anos.

    Jos Pina assumiu a direco do CCI em Janeiro 2008, a convite de Ribau Esteves, na altura presidente da Cmara de lhavo. Depois de de-sempenhar funes como director de animao cultural da empresa municipal Feira Viva, de Santa Ma-ria da Feira, o programador cultu-ral chegava a lhavo ainda antes de a sala de espectculos ilhavense abrir portas o CCI s foi inaugurado em Maro desse ano e, cerca de dois anos depois, passava a assumir tam-bm a gesto do Centro Cultural da Gafanha da Nazar.

    O actual presidente da autarquia ilhavense agradece o trabalho reali-zado, ao longo dos ltimos anos, por Jos Pina, destacando a programa-o de qualidade conseguida nos dois centros culturais. Uma das prin-cipais marcas deixadas pelo progra-mador cultural passa pela criao do Festival Rdio Faneca, evento que tem levado cada vez mais pblico ao centro histrico de lhavo e que aposta num forte envolvimento da comunidade local.

    CulturaMaria Jos SantanaPresidente da Cmara de lhavo j anunciou estar procura de um novo programador cultural

    PAULO RICCA

    O Teatro Aveirense est sem director artstico h j vrios anos

  • PBLICO, TER 19 JAN 2016 | LOCAL | 17

    A Casa Manoel de Oliveira, no Porto, vai ser a sede na Europa da Fundao Sindika Dokolo. O edifcio construdo por Eduardo Souto de Moura para o cineasta, mas que nunca foi usado, foi vendido ontem por 1,58 milhes de euros a uma empresa denomina-da Supreme Treasures, Ld., ligada empresria angolana Isabel dos Santos, casada com Sindika Dokolo. Em comunicado, o empresrio diz que o edifcio ser um espao de re exo e aprendizagem para jovens artistas.

    No ano passado, a Fundao Sin-dika Dokolo apresentou no Porto a exposio You love me, you love me not, e no momento do balano foi revelado que a fundao pretendia instalar na cidade a sua nova antena mundial. Na altura, a Casa Manoel de Oliveira era apontada como uma das possibilidades para a instalao desse brao da estrutura cultural de Sindika Dokolo, a par do Palacete Pinto Leite ou o Palcio das Artes da Fundao da Juventude. Agora, o empresrio con rma que a escolha recaiu sobre a casa que Manoel de Oliveira nunca usou.

    Ao estabelecermo-nos num edif-cio como a Casa Manoel de Oliveira, em plena Foz portuense, estamos a a rmar a nossa inteno em contri-buir para tornar o Porto ainda mais cosmopolita e mais cultural. Neste espao vamos promover redes de re exo artstica e fortalecer laos entre Portugal e Angola, a Europa e frica, numa ode arte enquanto elemento uni cador de povos e pa-ses, referiu Sindika Dokolo, num comunicado enviado ao PBLICO.

    Na hasta pblica, que decorreu on-tem nos Paos do Concelho, a Supre-me Treasures esteve representada pelo advogado Diogo Duarte Cam-pos, que, segundo a Lusa, no quis prestar quaisquer esclarecimentos sobre os rostos por trs da empresa, invocando o dever de sigilo pro s-sional. Contudo, de acordo com os registos o ciais, a empresa, consti-tuda em Setembro do ano passado, com o escasso capital de mil euros, tem como gerente Mrio Filipe Mo-reira Leite da Silva, que representa

    Casa Manoel de Oliveira vai ser a sede da Fundao Sindika Dokolo no Porto

    os interesses de Isabel dos Santos nos negcios europeus.

    Ao longo do dia, a Cmara do Porto garantiu sempre desconhecer quem comprara a casa e qual o uso que lhe seria dado e, depois da con rmao de Sindika Dokolo de que o edifcio seria a sede da sua fundao na Eu-ropa, o presidente da autarquia, Rui Moreira, no esteve disponvel para comentar, por se encontrar numa reunio de trabalho sobre o futuro da STCP. Contudo, de manh, ques-tionado pelos jornalistas sada dos Paos do Concelho, Rui Moreira disse que gostaria que a casa tivesse uma componente cultural, mostrando--se aliviado por se resolver o proble-ma do abandono do edifcio.

    uma casa da autoria de Souto de Moura, portanto tem desde logo um impacto relevante na cidade do pon-to de vista arquitectnico e era um

    PatrimnioPatrcia CarvalhoEdifcio criado por Eduardo Souto de Moura foi vendido por 1,58 milhes de euros a empresa ligada angolana Isabel dos Santos

    Edifcio dos paos do concelho vai ter elevador para deficientes

    A Cmara de Gaia dever anunciar, em Fevereiro, a criao de uma pro-vedoria dos muncipes. Na reunio de cmara de ontem, o executivo foi desa ado, por um cidado com paralisia, a de nir a sua posio so-bre a necessidade de criar um cargo semelhante para pessoas com de ci-ncia, mas o vice-presidente Patroc-nio de Azevedo admitiu que essa hi-ptese no est neste momento em cima da mesa, embora seja possvel que o provedor venha a dar mais ateno a quem tem mobilidade reduzida e a outros problemas que requeiram maior ateno.

    A presena do cidado Jos Mar-ques na reunio de cmara deixou a nu um outro problema. O edifcio dos paos do concelho, na Avenida da Repblica, no tem um elevador que permita o acesso de pessoas com mobilidade reduzida ao Salo Nobre, onde habitualmente se rea-lizam as sesses.

    Por esse motivo, a reunio decor-reu no edifcio prximo onde de-correm as assembleias municipais e, na resposta ao muncipe, o vice-presidente, que conduziu os traba-lhos na ausncia de Eduardo Vtor Rodrigues, explicou que a obra do elevador est para ser lanada.

    Patrocnio de Azevedo adiantou ainda que a cmara, com o apoio de uma entidade externa, est a ava-liar as necessidades de interveno noutros espaos municipais mais concorridos, como os equipamen-tos culturais, exempli cou, para re-

    Cmara de Gaia admite instituir um provedor do muncipe

    solver as situaes que impeam a respectiva fruio pela generalidade dos cidados.

    Outro muncipe, Jaime Miranda, levantou o problema da utilizao de uma rea perto do prdio onde vive e do hospital de Gaia, a pou-cos metros da cmara, por skaters que, garante, vandalizam o espao pblico e no respeitam as neces-sidades de descanso da populao. O vice-presidente prometeu tomar medidas imediatas, com cartazes e rondas da polcia municipal, pa-ra dissuadir os jovens de fazerem skate naquele local, e anunciou, ao mesmo tempo, que o munic-pio est a tentar criar dois parques prprios para esta actividade, um beira-mar e um outro no centro da cidade, de modo a no incomodar moradores.

    Nesta reunio, o executivo apro-vou a reestruturao da dvida de curto, mdio e longo prazo da em-presa municipal guas de Gaia, transformando um conjunto de crditos devidos a vrios bancos num nico emprstimo de longo prazo no valor de 49 milhes de euros a um sindicato bancrio lide-rado pelo BPI. Desta forma, todos os emprstimos anteriores so liqui-dados e a empresa passa a pagar o novo crdito em 58 prestaes, ao longo de 15 anos, com um spread de 2,5%, que lhe permite alguma poupana.

    Foi tambm aprovado um contra-to-programa entre o municpio e a guas de Gaia, que vai receber 300 mil euros, este ano, para garantir que consegue cumprir este novo compromisso. Alis, uma das clu-sulas do contrato do novo crdito implica que, seja por via das tarifas, seja por subsdios como este, a cmara assegure os meios para que este emprstimo seja pago nos pra-zos e condies previstas.

    FERNANDO VELUDO/NFACTOS

    Cidadania Abel CoentroPaos do concelho ainda no tem condies para acesso de deficientes s reunies de cmara

    activo que estava perdido, porque o uso para que foi concebido nunca foi concretizado e no foi com certe-za por culpa da cmara municipal, disse.

    A Casa Manoel de Oliveira, com-posta por duas fraces, foi cons-truda h quase duas dcadas com o objectivo de ser a casa do cineasta e tambm um espao de exposio do seu esplio. Porm, o projecto avanou sem um acordo prvio entre a autarquia e o realizador de Aniki-Bob, quanto s condies de uso do imvel, e desde a sua concluso, em 2003, que o edifcio permanece devoluto.

    Em 2007, Manoel de Oliveira acu-sou o executivo de Rui Rio do fracas-so da constituio da casa-museu e, j em 2013, a Fundao de Serralves e a sua famlia assinaram um protocolo para instalar o esplio do cineasta num edifcio que ser idealizado pelo arquitecto lvaro Siza para o Parque de Serralves. Em 2014, a Cmara do Porto, j sob a presidncia de Rui Mo-reira, tentou vender o imvel pela primeira vez, mas a hasta pblica caria deserta.

    Agora, o edifcio ir receber a se-de da fundao criada em 2003 na capital angolana, Luanda, com o ob-jectivo de promover a arte. Com um esplio de cerca de trs mil obras, da autoria de 90 artistas de 25 pases, a fundao foca-se, sobretudo, na arte contempornea e j esteve presente em certames como a Arco (Madrid), a Bienal de Veneza (Itlia) ou o Espao Oca, em So Paulo (Brasil).

    Em Maro de 2015, antes de apresentar no Porto a exposio You love me, you love me not, Sin-dika Dokolo recebeu da cmara a medalha municipal de Mrito, Grau Ouro. com S.C.A.

    PAULO PIMENTA

    A casa nunca teve uso e est a degradar-se h anos

    Ao estabelecermo--nos num edifcio como a Casa Manoel de Oliveira, em plena Foz portuense, estamos a afi rmar a nossa inteno em contribuir para tornar o Porto ainda mais cosmopolita e mais cultural, referiu Sindika Dokolo

  • 18 | ECONOMIA | PBLICO, TER 19 JAN 2016

    RUI GAUDNCIO

    Deciso do TC obriga Estado a devolver subvenes a ex-polticos

    ltimos dados apontam para a existncia de 341 subvenes vitalcias em 2014

    O Estado vai ter de devolver aos an-tigos deputados ou ex-membros do Governo as subvenes que cortou ou eliminou durante o ano passado. Esta a principal consequncia da deciso do Tribunal Constitucional (TC), que chumbou a norma do Or-amento do Estado (OE) para 2015 que fazia depender as subvenes vitalcias dos rendimentos dos bene- cirios (condio de recursos).

    A interveno do TC foi pedida por um grupo de deputados As-sembleia da Repblica, que no so identi cados no acrdo. Mas o socialista Vitalino Canas, um dos subscritores do pedido, con rmou ao PBLICO que tambm deputados do PSD se juntaram ao PS na contes-tao da norma.

    Em causa est o artigo 80. da Lei do OE que prev a suspenso da atri-buio da subveno aos antigos po-lticos com rendimentos superiores a dois mil euros (excluindo a subven-o). E, nas restantes situaes, limi-tou a prestao diferena entre os dois mil euros e o rendimento total (excluindo a subveno). Segundo o TC, a norma viola o princpio da proteco da con ana dos bene- cirios das subvenes e por isso declarou-a inconstitucional.

    Como o acrdo no restringe os efeitos da deciso, o Estado ter de repor os valores que no foram pa-gos durante o ano de 2015. A deciso, explica o professor de Direito Cons-titucional na Universidade Catlica Jorge Pereira da Silva, destri todos os efeitos produzidos pela norma no passado e a Administrao ca com a obrigao de, cumprindo o acrdo, pagar o que no pagou.

    Opinio semelhante tem o especia-lista em direito administrativo Paulo Veiga e Moura: Se o Tribunal Consti-tucional no limitou os efeitos para o passado, a n