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TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Co-produtos agroindustriais para suplementos
Ubiara Henrique Gomes Teixeira¹, Tiago Adriano Simioni¹*, Claudio
Jonasson Mousquer2, Fagner Junior Gomes¹, Diego Cordeiro de Paula1,
Leonardo Antonio Botini¹, Wanderson José Rodrigues de Castro2, Ana Carolina
Dalmaso2
¹Mestrandos em Zootecnia, PPGZ/UFMT/ICAA – Sinop, Mato Grosso, Brasil 2Mestrandos em Ciência Animal, PPGCA/UFMT/FAMEVZ – Cuiabá, Mato Grosso,
Brasil. *E-mail: [email protected]
Resumo
No sistema de criação a pasto ainda predominante no Brasil o período seco
apresenta baixo potencial de ganho de peso devido à escassez de chuvas que
comprometem a qualidade e quantidade forrageira limitando a produção. A
utilização de co-produtos pode levar o barateamento do custo de produção de
ruminantes, principalmente na utilização de suplementos fornecido no período
seco do ano. Co-produto pode ser obtido através do processamento de frutas
de indústrias de suco e da indústria do biodiesel que utiliza culturas
oleaginosas para a extração do óleo. Pesquisas recentes vêm apresentando
resultados que mostram um melhor desempenho quando se trabalha com
estratégias de manejo do pastejo e também de suplementação concentrada na
produção de bovinos de corte a pasto.
Palavras-chave: bovinos de corte, desempenho, nutrição animal.
TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
Agroindustrial co-product for supplements
Abstract
In creating a pasture system still prevalent in Brazil during the dry season has
low potential for weight gain due to lack of rainfall which affect the quality and
quantity forage limiting. The use of co-products can take the cheaper the cost
of producing ruminants, especially the use of supplements provided in the dry
season. Co-product can be obtained by processing fruit juice industries and the
biodiesel industry that uses oilseed crops for oil extraction. Recent research
has shown one results show a better performance when working with grazing
management strategies and also concentrate supplementation on the
production of beef cattle on pasture.
Keywords: beef cattle performance, animal nutrition.
INTRODUÇÃO
No sistema de criação a pasto ainda predominante no Brasil o período seco
apresenta baixo potencial de ganho de peso devido à escassez de chuvas que
comprometem a qualidade e quantidade forrageira limitando a produção (Reis
et al., 2009). Uma estratégia usada para corrigir o problema é a
suplementação visando corrigir as deficiências forrageiras utilizando cereais
que, no entanto oneram o custo de produção visto que a alimentação pode
representar até 70% dos custos da atividade.
O modelo de produção da pecuária nas últimas décadas mudou
sensivelmente, e passou a priorizar tecnologias mais intensivas de capital, que
geraram significativos ganhos na produtividade da terra e, conseqüentemente
um expressivo efeito “poupa terra”, além de avanços na qualidade do produto
(Zervoudakis et al., 2011).
A utilização de co-produtos pode levar o barateamento do custo de
produção de ruminantes, co-produto pode ser obtido através do
processamento de frutas de indústrias de suco (Rogério et. al., 2009) e da
TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
indústria do biodiesel que utiliza culturas oleaginosas para a extração do óleo
(Abdalla et al., 2008).
Com o crescimento de 85,5% na produtividade agrícola nos últimos
quatorzes anos, o agronegócio brasileiro vem crescendo, e atualmente
representa, aproximadamente, 33% do Produto Interno Bruto (PIB) e 37% dos
empregos gerados no Brasil (IBGE, 2008). Apesar do crescimento do
agronegócio e sua importância para economia do Brasil, existe uma
preocupação com a quantidade e a diversidade de co-produtos agroindustriais
conseqüente da colheita e do processamento dos produtos agrícolas,
respectivamente.
Afonso Neto (1984) estimou que pelo menos 130 milhões de toneladas de
co-produtos eram produzidas anualmente pelas diferentes atividades agrícolas.
A América Latina produz mais de 500 milhões de toneladas de co-produtos,
sendo o Brasil responsável por mais da metade desta produção (Souza &
Santos, 2002). Nesse contexto a categoria de co-produtos, abriu-se um novo
seguimento na produção e que está voltado para a avaliação desses alimentos
economicamente interessantes e tecnicamente viáveis, tornando-se necessário
o conhecimento de sua composição bromatológica, potenciais e limites de sua
utilização para maximização do desempenho animal (Galati, 2011).
Os animais ruminantes com expressiva atividade fermentativa pré-
gástrica possuem um grande potencial para utilização, de forma eficiente, de
co-produtos agroindustriais, uma vez que, os mesmo são capazes converter
alimentos com elevados teores de fibra (celulose, hemicelulose e pectina) em
produtos de excelente qualidade para o consumo humano, como leite, carne e
seus derivados (Valadares Filho & Pina, 2006). Esse potencial de utilização de
co-produtos agroindustriais, por parte, dos animais ruminantes, já é uma
característica ambiental e economicamente importante para a região a medida
que diminui o impacto ambiental, o qual pode ser causado pelo
armazenamento desses co-produtos em locais inadequados, representado um
sério problema de contaminação ambiental, principalmente dos recursos
hídricos e do solo (Pereira et al. 2000).
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REVISÃO DE LITERATURA
A bovinocultura de corte no Brasil evoluiu com a expansão da fronteira
agropecuária e um grande aumento do rebanho, porém nos dias atuais surgem
iniciativas que visam melhorar a capacidade produtiva dos sistemas e da
unidade de produção, baseada em modelos produtivos compatíveis com a
realidade do local ou da região. Esse sistema encontra-se em constante
evolução (Paixão et al., 2006).
Atualmente, a suplementação alimentar dos rebanhos bovinos se encontra
em amplo crescimento, tendo em vista a necessidade da pecuária se tornar
mais competitiva, tanto na questão zootécnica quanto do ponto de vista
econômico. Segundo Valadares Filho et al. (2002) uma das grandes aplicações
do conhecimento de nutrição de ruminantes no Brasil foi a implantação da
suplementação a pasto.
Estratégias de suplementação que visam o fornecimento de ingredientes
volumosos para bovinos em situações restritas de pastejo, têm efeito positivo
em termos de manejo dos animais, uma vez que o fornecimento desses
suplementos possibilita que a massa de forragem pré-pastejo seja utilizada por
um maior número de animais, ou seja, a taxa de lotação da pastagem pode ser
aumentada em função da indução do efeito substitutivo da suplementação
(Paulino et al., 2004). Contudo, de forma geral tais estratégias de
suplementação devem ser avaliadas quanto à sua duração, número de animais
a serem suplementados e custos da suplementação, uma vez que se considera
que o adequado manejo e disponibilização de gramíneas forrageiras em
quantidade e qualidade mínimas são premissas básicas para estratégias de
suplementação de bovinos a pasto.
Segundo a Instrução Normativa nº 15, de 26.05.2009 do MAPA,
Suplemento: é a mistura composta por ingredientes ou aditivos, podendo
conter veículo ou excipiente, que deve ser fornecida diretamente aos animais
ou ser indicada para diluição, para melhorar o balanço nutricional.
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A utilização de suplementação tem por objetivo atender as exigências
nutricionais dos animais, complementando o valor nutritivo da forragem, a fim
de se alcançar o desempenho desejado, podendo alcançar melhores índices de
produção (Euclides & Medeiros, 2005).
Lana (2002) diz que as principais vantagens de suplementar, são: suprir
os nutrientes para os animais, utilizar as pastagens de modo mais adequado,
evitar a subnutrição, melhorar a eficiência alimentar, auxiliar na desmama
precoce, reduzir a idade do primeiro parto, reduzir o intervalo entre partos,
diminuir a idade de abate, aumentar a taxa de lotação das pastagens e auxiliar
na terminação de animais de descarte.
A necessidade de se suplementar os animais e as quantidades utilizadas
depende do objetivo esperado no sistema, o desafio é prenunciar com
eficiência o impacto que a suplementação terá no desempenho animal. Deste
modo uma estratégia de suplementação eficiente será aquela destinada a
maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível na pastagem
(Reis et al., 1997).
Para que a prática da suplementação seja iniciada deve haver um
conhecimento geral de todos os aspectos relacionados às pastagens e às
exigências nutricionais dos animais. Tais exigências podem ser afetadas pela
idade, tamanho do corpo do animal, taxa de crescimento, gestação e lactação,
atividade muscular, relação com outros nutrientes e fatores do meio ambiente,
tais como: temperatura, umidade, intensidade solar e velocidade do vento
(NRC, 1981).
CO-PRODUTOS
No beneficiamento de matérias-primas vegetais para a obtenção de um
produto principal, geralmente são obtidos outros materiais secundários os
quais, até pouco tempo atrás, eram denominados de subprodutos (produtos
com menos importância em relação ao faturamento) e resíduos (produtos sem
mercado definido).
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No entanto, vários estudos têm demonstrado que estes produtos
secundários podem ser usados como matéria-prima para extração e inter-
conversão em outros produtos de maior valor agregado. Nesse sentido,
atualmente o conceito de co-produto tem ganhado força, uma vez que estes
produtos podem ser tão importantes industrial e comercialmente, como o
produto principal objetivado no processamento (Retore, 2009).
Os co-produtos podem ser originados após a extração do óleo de
sementes de oleaginosas (tortas e farelos) e após o processo de conversão de
triglicerídeos em biodiesel por meio de transesterificação (glicerina bruta), os
quais, em conjunto, representam mais de 50% da massa inicial de sementes
utilizada na cadeia agroindustrial. Segundo Abdalla et al. 2008 o Brasil possui
varias culturas oleaginosas com características e potencial para produção de
biodiesel (Tabela 1) que gera co-produtos para alimentação animal como soja
(Glycine max), o girassol (Helianthus annuus), a mamona (Ricinus communis),
o dendê (Elaeis guineensis), o pinhão-manso (Jatropha curcas), o nabo
forrageiro (Raphanus sativus), o algodão (Gossypium spp. L.), o amendoim
(Arachis hypogaea), a canola (Brassica napus), o gergelim (Sesamum
arientale), o babaçu (Orrbignya speciosa) e a macaúba (Acrocomia aculeata).
De acordo com Pereira et al. (2009) o Brasil também possui uma grande
variedade de frutas que através do seu processamento nas agroindústrias gera
grandes quantidade de co-produtos (Tabela 2) como: abacaxi (Anamas
comosus), acerola (Malpighia glaba), caju (Anacardium occidentalis L.), goiaba
(Psidium guajava L.), graviola (Annoma muricata), jaca (Artocarpus
heterofhyllus Lamb.), laranja (Citrus sinensis), maçã (Pyrus malus), manga
(Manguifera edulis F.), Maracujá (Passiflora ligularis), melão (Cucumis melo
L.), pêssego (Prumus persica), pitanga (Eugenia uniflora L.), tamarindo
(Tamarindus indica L.), umbu (Spondias tuberosa Arruda), uva (Vitis vinifera
L.).
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Tabela 1. Teor de óleo (%), produtividade (Kg/ha/ano) e produção de óleo (Kg/ha/ano) de algumas oleaginosas com potencial para produção de biodiesel no Brasil. Espécie Teor de óleo (%) Produtividade
(kg/ha/ano)
Produção de óleo
(kg/ha/ano)
Amendoim 49 1800 882
Babaçu 4 15000 600
Canola 38 1800 684
Caroço de algodão 15 1800 270
Dendê/Palma 20 10000 2000
Gergelim 39 1000 390
Girassol 43 1600 672
Mamona 44 1500 660
Nabo forrageiro 29 500 145
Pinhão-manso 40 8000 3200
Soja 19 2200 418
Adaptado de: Abdalla et al.,2008.
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Tabela 2. Total de co-produtos provenientes do beneficiamento industrial e/ou processamento secundário de produtos agrícolas. Fruta Total de co-produto
abacaxi (Anamas comosus) 40 a 50 %
acerola (Malpighia glaba) 27 a 41 %
caju (Anacardium occidentalis L.) 40%
goiaba (Psidium guajava L.) 13 a 20 %
graviola (Annoma muricata) 35%
jaca (Artocarpus heterofhyllus Lamb.) 70 %
laranja (Citrus sinensis) 42 a 50 %
maçã (Pyrus malus) 25 a 35%
manga (Manguifera edulis F.) 60 a 70 %
Maracujá (Passiflora ligularis) 54 a 70 %
melão (Cucumis melo L.) 45 %
pêssego (Prumus persica) 25 a 30 %
pitanga (Eugenia uniflora L.) 70 %
tamarindo (Tamarindus indica L.) 50 a 60 %
umbu (Spondias tuberosa Arruda) 45 %
uva (Vitis vinifera L.) 20 a 30 %
Adaptado de: Pereira et al. (2009).
CO-PRODUTO DO ALGODÃO (CAROÇO E FARELO)
O caroço de algodão compreende o grão e as cascas. Nele ficam ainda as
fibras curtas presas ao grão denominadas línter, cujo teor pode variar de 4% a
8% no caroço, que também servem como fonte de fibra facilmente digestível
para os ruminantes, além de ser efetiva, com real capacidade de estimular o
rúmen (Fernandes et al., 2002). Embora grande parte do caroço seja
prensada para produção de óleo, é bastante expressivo o seu uso na
alimentação de ruminantes na forma integral.
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Apresentando um fator antinutricional denominado de gossipol, o qual
confere ao caroço de algodão um determinado grau de resistência às pragas e
às doenças fúngicas (Carvalho, 1996).
O teor de gossipol total presente no caroço de algodão varia entre 0,59%
a 2,35%, não sendo considerado tóxico ao ruminante em conseqüência da
ligação do gossipol a proteínas solúveis no rúmen, que previne a absorção do
gossipol no intestino delgado, entretanto este poderá interferir na consumo de
MS total das dietas (Zeoula, 2002).
Paulino et al. (2002) relataram que o caroço de algodão pode ser
fornecido como ingrediente de suplementos múltiplos concentrados (misturas
múltiplas), como suplemento único ou misturado a dietas completas. Estes
autores ao fornecerem suplementos múltiplos constituídos por soja grão e
caroço de algodão inteiros em relação a suplemento padrão de milho mais
farelo de soja para 12 novilhos mestiços Holandês-Zebu de 361 kg terminados
a pasto de Brachiaria decumbens, durante a época seca, consumindo 4
kg/animal/dia de suplemento, verificaram que o emprego de grão de soja ou
caroço de algodão em suplementos balanceados para 20% de PB na matéria
natural propiciou desempenho animal semelhante ao obtido com o uso do
farelo de soja, considerando ganho médio diário de peso, rendimento de
carcaça e peso de carcaça quente.
O caroço de algodão é uma fonte de gordura muito utilizada em fazendas
especializadas na produção de leite e de carne como ingrediente da dieta de
bovinos, pois este apresenta valores de 82% de nutrientes digestíveis totais
(NDT), 23% de proteína bruta (PB), 44% de fibra em detergente neutro (FDN)
e 19% de extrato etéreo (Valadares Filho et al., 2006).
Zeoula et al., 2004 avaliarão a degradabilidade in situ da matéria seca e
proteína bruta de três concentrados diferentes, os concentrados continham
alto teor de amido (AMI) foi utilizado o milho como fonte de amido; contendo
alto teor de óleo (OLE) onde utilizou-se caroço de algodão e um composto
contendo amido e óleo (A+O) que foi constituído pela mistura dos
concentrados AMI e OLE.
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Os autores observaram (Tabela 3) maior degradabilidade potencial (DP)
para o concentrado AMI seguido pelos concentrados A+O e OLE. Quanto à
degradabilidade efetiva (DE), o mesmo comportamento se repete. Para as três
taxas de passagem (2%, 5% e 8%/h), o concentrado AMI foi superior aos
demais, o OLE inferior e A+O intermediário. Para a proteína bruta observa-se
que a DP, quando o fator tempo não é limitante, foi semelhante para todos os
concentrados, porém, a DE da PB, para as taxas de passagem 2 e 5%/h do
concentrado AMI, foi superior ao concentrado A+O, não diferindo do
concentrado OLE, que apresentou DE da PB intermediária, não diferindo das
demais. Para uma maior ingestão, isto é, para uma taxa de passagem de
sólidos de 8%/h a DE da proteína do concentrado AMI foi superior a OLE e
A+O, as quais não diferiram entre si.
Tabela 3. Degradabilidade potencial (DP) e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) e da proteína bruta (PB) dos concentrados para taxas de passagem de 2%, 5% e 8%/h.
Concentrado DP da MS DE(%) MS
2%/h 5%/h 8%/h
AMI 94,76 A 80,88 a 69,17 a 62,30 a
OLE 77,63 C 63,45 c 52,99 c 47,36 b
A+O 84,38 B 72,03 b 61,15 b 54,56 b
DP da PB DE(%) PB
AMI 94,89 a 86,98 a 79,42 a 74,55 a
OLE 93,31 a 82,83 ab 73,59,ab 67,50 b
A+O 92,24 a 80,24 b 69,41 b 62,71 b
AMI: Concentrado rico em amido, OLE: Concentrado rico em óleo, A+O: Concentrado de amido+óleo. Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna são diferentes pelo teste Tukey (p<0,01). Adaptado de Zeoula et al. (2004).
Moraes et al. (2006) avaliaram diferentes fontes protéicas (GS – grão de
soja ou CA - caroço de algodão inteiros) e energéticas (FT - farelo de trigo ou
FA - farelo de arroz) em suplementos múltiplos sobre o desempenho de 20
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novilhos mestiços Holandês x Zebu na fase de recria em pastagem de
Brachiaria brizantha, no período da seca, consumindo diariamente suplemento
na proporção de 0,75% do peso corporal, não verificaram diferenças no ganho
médio diário, no peso vivo final e no ganho de peso total. Diante disso,
concluíram que a opção por uma das fontes protéicas ou energéticas estudadas
depende, principalmente, do preço e da disponibilidade no mercado pelo fato
de não ter verificado diferenças no desempenho dos animais que receberam
suplementação.
Júnior et al. (2008) relataram que grande parte da proteína do algodão é
degradada no rúmen (77%), o que é uma característica interessante do ponto
de vista nutricional, considerando a disponibilidade do nitrogênio desse
alimento para síntese de proteína microbiana. Alem disso, 80% da proteína
não degradada no rúmen desse alimento é aproveitada pelo animal.
Costa (2009) objetivando avaliar o efeito da inclusão de diferentes níveis
(0; 14,35; 27,51 e 34,09%) de caroço de algodão na terminação em
confinamento de bovinos Nelore não castrados, sobre a composição
centesimal, maciez, cor e oxidação lipídica da carne de no vilhos Nelore,
verificou que o aumento nos níveis de caroço de algodão na alimentação de
novilhos Nelore não modificou a concentração de ácido linoléico conjugado, dos
ácidos graxos saturados e dos insaturados totais. Contudo, o aroma e sabor da
carne são alterados negativamente pela inclusão de caroço de algodão acima
de 14,35 e 27,51% da dieta, respectivamente.
Zanin (2009) avaliou níveis de substituição da proteína oriunda do farelo
de soja pela proteína do farelo de algodão de alta energia em suplementos
múltiplos (2,0 kg/animal/dia - 0,5% PC) para novilhos da raça Nelore em
pastejo no período seco do ano, sobre os ganhos de peso total (GP Total),
GMD e viabilidade econômica. Na Tabela 4 tem-se a composição percentual
dos suplementos com base na matéria natural. Verifica-se através dos
resultados apresentados na Tabela 5 que o desempenho animal foi influenciado
positivamente pelo aporte protéico ofertado aos animais via suplementação.
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Tabela 4. Composição percentual do suplemento controle (SAL) e dos suplementos com diferentes níveis de inclusão do farelo de algodão de alta energia: (0FA; 25FA; 50FA) expressa com base na matéria natural.
Ingredientes
Suplementos
MM 0FA2 25FA3 50FA4
Casquinha de soja - 49,0 42,7 36,5
Farelo de Soja - 42,0 31,5 21,0
Farelo de Algodão de alta energia - - 16,5 33,0
Uréia/Sulfato de Amônia 9:1 - 4,0 4,3 4,5
Sal mineral 1 100,0 5,0 5,0 5,0 1Mistura mineral comercial; 20% da proteína do farelo de soja pelo farelo de algodão de alta energia; 325% da proteína do farelo de soja pelo farelo de algodão de alta energia; 450% da proteína do farelo de soja pelo farelo de algodão de alta energia. Fonte: Adaptado de Zanin (2009).
Tabela 5. Peso corporal inicial, peso corporal final, valores médios para ganho de peso total e ganho médio diário em função do grupo controle (SAL) e dos níveis de inclusão do farelo de algodão de alta energia substituindo farelo de soja nos suplementos.
Variaveis
Suplementos
MM 0FA 25FA 50FA
Peso corporal inicial kg 354,20 349,8 350,8 350,20
Peso corporal final kg 352,60 394,00 423,80 400,40
Ganho de peso total kg -1,60 44,20 63,00 50,20
Ganho médio diário kg/animal/dia -0,02c 0,53b 0,75a 0,60b
Valores seguidos de letras iguais na linha, não diferem entre si pelo teste SNK a 10% de significância. Fonte: Adaptado de Zanin (2009).
Outro fator favorável a utilização de com-produtos de algodão, disrespeito
ao farelo de algodão que pode ser utilizado como fonte de proteína verdadeira
em suplementos múltiplos, pois proporciona desempenhos condizentes com
aqueles preconizados para bovinocultura de ciclo curto em pastagem em
condições de seca, esse fato tem grande importância por ocasião da decisão de
quais ingredientes serão utilizados na composição dos suplementos múltiplos,
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a suplementação com farelo de algodão pode reduzir a digestibilidade total da
FDN e dos carboidratos totais, possivelmente devido aos maiores níveis de
componentes fibrosos desse suplemento (Machado et al., 2011).
Paula et al. (2010) avaliando desempenho econômico de freqüência de
suplementação e fontes de proteína para recria de bovinos em pastejo no
período seco, perceberam que o farelo de algodão, aliado à suplementação 3
vezes/semana proporcionou os melhores resultados, as variações no custo da
suplementação atribuídas às fontes protéicas e à freqüência de fornecimento
constituíram-se o grande diferencial na remuneração do capital investido,
tornando então o farelo de algodão uma fonte viável para a suplementação.
O farelo do algodão é o coproduto resultante da extração, em duas
etapas, do óleo contido no grão, que primeiramente é esmagado dando origem
à chamada torta, e depois submetida à extração com solventes, moagem e
peletização. Em função do tipo da extração, podem-se produzir dois tipos de
produtos: a torta gorda (5% de óleo residual) mais energética, proveniente
apenas da prensagem mecânica, porém com menor teor de proteína; torta
magra (menos de 2% de óleo residual) oriunda da extração por solventes, que
apresenta concentração relativamente maior de proteína.
No Brasil são comercializados dois diferentes tipos de farelos com teores
de proteína bruta de 28 ou 38%, porém ambos possuem níveis nutricionais
inferiores aos encontrados no farelo de soja especialmente no que se refere ao
farelo de algodão com 28% de PB. Isto provavelmente se deve a incorporação
de maior proporção de cascas do caroço aos farelos de algodão. A utilização do
farelo de algodão de alta energia em suplementos múltiplos em substituição ao
farelo de soja é satisfatória, principalmente do ponto de vista econômico.
CASCA DE SOJA
A substituição de grãos de cereais, em especial o milho, por outras fontes
de energia na alimentação de ruminantes torna-se de grande importância uma
vez que se possa baratear o custo de produção animal e evitando utilização de
alimentos usada na alimentação humana. Entre as possibilidades, a casca de
TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
soja (CS) constitui alternativa interessante para substituir, em parte, o milho
em grão em dietas para ruminantes, esse co-produto é composto
principalmente de fibras, que tem pouco valor na alimentação humana e no
uso industrial. No entanto, suas características físico-químicas, a facilidade de
aquisição em algumas regiões e seu preço competitivo torna a CS um
ingrediente atrativo para uso em rações para ruminantes (Pedroso et al.,
2007).
Ao avaliarem o desempenho de ovinos com níveis crescente (0, 4, 8, 12 e
16%) da casca proteinada de soja Peripolli et al. (2011) perceberam que o
níveis de inclusão não afetaram o ganho médio diário e a conversão alimentar
dos animais (Tabela 6), segundo os autores a casca proteinada de soja é
ingrediente alternativo ao farelo de soja, pois não altera o consumo de matéria
seca, ganho de peso e conversão alimentar dos animais.
Tabela 6. Desempenho de ovinos alimentados com níveis crescentes de casca proteinada de soja na dieta.
Variável Nível de casca proteinada de soja (%)
Média CV (%) 0 4 8 12 16
Consumo de MS (g dia -1) 0,93 0,82 0,82 0,83 0,89 0,85 10,74
Ganho de peso (kg) 9,37 8,31 7,57 5,85 6,22 7,46 20,10
Ganho médio (g dia -1) 0,16 0,15 0,13 0,10 0,11 0,13 20,07
Conversão alimentar 7,99 7,92 9,32 11,19 11,22 9,53 26,31
CV: coeficiente de variação. Fonte: Peripolli et al. (2011).
Paris et al. (2005) trabalharam com suplementação de bovinos em
pastagem de Coastcross no período das águas, foram utilizados duas fontes de
energia para formulação do suplemento que foi a casca de soja (CS) e o grão
de aveia (AV), foi feito quatro tratamentos. Ao avaliarem o ganho médio diário
(GMD) dos animais (Tabela 7) viram que as fontes de energia utilizadas na
formulação dos suplementos não influenciaram no desempenho dos animais, já
o ganho de peso vivo por há-1 foi diminuindo com o avanço dos períodos
experimental, os autores concluíram que o desempenho animal em pastagem
de Coastcross durante o período das águas está diretamente relacionado com
TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
a massa de forragem, assim como com a massa de lâminas foliares, já que a
suplementação com grãos de aveia preta ou casca de soja, não refletiu
melhoria no ganho médio diário e ganho de peso vivo por hectare.
Tabela 7. Ganho de peso vivo médio diário (GMD) e ganho de peso vivo por área (GPV/ha) dos animais que receberam suplementos energéticos em pastagem de Coastcross durante o período das águas. Tratamentos CV (%)
SS CS AV CSAV Média
GMD (kg) 0,667 0,840 0,838 0,833 0,795 14,60
GMD P1 0,838 1,005 1,042 1,185 1,017 a
GMD P2 0,804 1,103 0,875 0,777 0,890 a
GMD P3 0,746 0,681 0,879 0,815 0,780 a
GMD P4 0,282 0,574 0,556 0,556 0,492 b
GPV/ha (kg) 159,1 207,8 214,8 212,0 198,4 14,33
GPV/ha P1 187,7 225,1 233,4 265,4 227,9 a
GPV/ha P2 180,1 278,0 220,5 195,8 218,6 a
GPV/ha P3 192,5 188,6 254,9 236,4 218,1 a
GPV/ha P4 76,1 139,5 150,1 150,1 129,0 b
(Períodos: 1- 24/11 a 21/12; 2- 21/12 a 18/01; 3- 18/01 a 16/02; 4- 16/02 a 15/03); SS: sem suplementação; CS: casca de soja à 0,6%PV; AV: aveia preta 0,6%PV; AVCS: aveia + casca de soja à 0,6%PV. Médias com letras diferentes na mesma linha ou coluna apresentam diferenças significativas pelo teste Tukey (P<0,05). Fonte: Paris et al. 2005.
TORTA DE GIRASSOL
A torta de girassol é o resultado do processo de prensagem a frio dos
grãos de girassol, por meio de prensas mecânicas (Figura 1). O outro produto
resultante é o óleo de girassol bruto ou virgem. A torta é obtida apenas por
meio da prensagem a frio. O farelo, pela prensagem e pelo uso de calor e de
solventes químicos. Dessa forma, a torta contém certa quantidade de óleo, ao
passo que o farelo possui apenas de 0,5 a 5% de óleo. A composição
bromatológica da torta pode variar, dependendo do tipo de prensa, bem como
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da sua regulagem. Por exemplo, prensas que extraem mais óleo dão tortas
com menos gordura, mas com teor maior de proteína (Oliveira et al., 2003).
Figura 1. Fluxograma de extração da torta de girassol em pequena escala, e em prensagem a frio utilizando-se semi prensa. Adaptado de Oliveira et al. (2003).
Segundo Leite et al. (2007), em média, para cada tonelada de grão, são
produzidos 400 kg de óleo, 250 kg de casca e 350 kg de torta, com 45 a 50%
de proteína bruta (dependendo do processo de extração) sendo este co-
produto, basicamente, aproveitado na produção de ração, em misturas com
outras fontes de proteína. O valor nutricional da torta de girassol é dependente
do seu processo de extração, podendo o mesmo apresentar valores de
proteína bruta inferiores, porém elevados teores de extrato etéreo.
Oliveira (2010) avaliando a produção de leite (PL) de 16 vacas em
lactação mestiças holandês/zebu relata que a inclusão da TG provocou redução
linear na produção de leite. Entretanto, deve ter havido aumento na proporção
de gordura, pois se admitindo a correção para 3,5% não foi observada
diferença significativa na produção de leite com a inclusão de até 72% da TG
(Tabela 8).
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Tabela 8. Produção de leite (Kg/dia) e produção de leite corrigida para 3,5% de gordura (Kg/dia) de vacas recebendo torta de girassol em diferentes níveis de inclusão na ração concentrada. Variável Tratamentos 1
Média CV2 P3
T0 T24 T48 T72 L Q
PL (kg/dia) 17,4a 17,6ª 16,2ab 14,8b 16,5 5,4 <0,0001** ns
LCG 3,5%
(kg/dia)
17,5a 17,3a 16,5a 16,0a 16,8 5,6 Ns ns
Médias seguidas de letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). PL=produção de leite; LCG 3,5%=Produção de leite corrigida para 3,5% de gordura. ¹T0=Tratamento controle; T24, T48 e T72, inclusão de 24, 48 e 72 da TG na MS dos concentrados. ²CV=coeficiente de variação. ³P=probabilidade dos contrastes ortogonais (linear e quadrático). Fonte: Oliveira (2010).
Porem Cerilo (2010), trabalhando com torta de girassol em substituição ao
farelo de soja em suplementos para novilhas nelores terminadas a pasto
durante a estação seca mostra (Tabela 9) que a utilização de concentrados
contendo torta de girassol aumentou o ganho médio diário das novilhas em
pastejo. A condição corporal (CC) dos animais também melhorou com a
substituição do farelo de soja pela torta de girassol, onde os animais
suplementados com torta de girassol apresentaram a melhor CC final (4,0, 4,0
e 3,7) para os níveis de substituição de 20, 40e 60%, respectivamente. Os
animais suplementados com milho e soja apresentaram CC final 3,6.
CONCLUSÕES
Existem diversos co-bprodutos da indústria do biodiesel com potencial
muito significativo e rentável para serem utilizados em suplementos para
bovinos. Desde que haja disponibilidade na região e conhecimento desses
subprodutos eles podem beneficiar as indústrias, que visam dar destino a
esses produtos sem causar impacto ambiental, e produtores que buscam
alternativas para diminuir o custo de produção.
TEIXEIRA, U.H.G. et al. Co-produtos agroindustriais para suplementos. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 14, Ed. 263, Art. 1749, Julho, 2014.
Tabela 9. Valores médios para peso vivo inicial (PVI) e final (PVF), ganho de peso diário (GDP), condição corporal inicial (CCI), condição corporal final (CCF), consumo de matéria seca do suplemento (CSUPL), forragem (CMSF) e total (CMST) dos animais.
Item
Substituição de farelo de soja Média CV(%)
00 20 40 60
PVI (kg)ns 318,6 313,8 305,2 308 311,4±23,35 7,9
PVF (kg)ns 344 357 351,4 341,4 348,5±30,07 9,2
GPD (kg/dia)*** 0,242b 0,411a 0,440a 0,320a 0,350±0,14 36,4
CCIns 2,1 2,2 2,5 2,2 2,3±0,34 14,9
CCF** 3,6b 4,0a 4,4a 3,7ab 3,8±0,29 6,5
CSUPL (kg/dia) 2,65 2,68 2,63 2,60 - -
CMSF (kgMS/dia)ns 8,30 10,90 9,47 3,07 7,9±28,9 44,6
CMST (kgMS/dia)ns 10,9 13,6 12,1 5,7 10,5±28,9 68,3
CMST (%PV) 3,3 4,0 3,6 1,75 - -
*** Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 10% de probabilidade. ** Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. ns=não significativo (P>0,10). Fonte: Cerilo (2010).
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