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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS QUALIDADE DE VIDA ORGANIZACIONAL – UMA PREOCUPAÇÃO DO MUNDO MODERNO Simone Lima Duarte Rosa Menezes

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

QUALIDADE DE VIDA ORGANIZACIONAL – UMA PREOCUPAÇÃO DO MUNDO MODERNO

Simone Lima Duarte Rosa Menezes

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SIMONE LIMA DUARTE ROSA MENEZES

QUALIDADE DE VIDA ORGANIZACIONAL – UMA PREOCUPAÇÃO DO MUNDO MODERNO

Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção de pós graduação em Gestão de RH

Orientadora: Profa. Ana Paula A. Ribeiro

Rio de Janeiro – RJ 2009

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Agradeço aos meus pais Jayme e Suely, Meu irmão Fabio, Aos meus amigos de curso e Aos meus professores

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Dedico este trabalho ao meu marido por seu companheirismo e amor.

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“Os grandes sábios são úteis à ciência na primeira metade de suas vidas, nocivos

na segunda”.

Bchelard

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RESUMO

No atual mundo moderno onde o foco é a propalada globalização, a Qualidade de Vida (QV) se constitui em um assunto relevante no mundo por ser o produto da interação entre as expectativas e realizações de uma pessoa, podendo somente ser descrita e medida em termos individuais, portanto numa análise subjetiva. Sem duvidas, é um assunto em evidência, utilizado como contexto de pesquisa, servindo como elo entre as áreas especializadas do conhecimento como sociologia, medicina, enfermagem, psicologia, economia, geografia, história social, filosofia dentre outras, sendo, portanto, um tema interdisciplinar. É possivel observar que tratar sobre o tema qualidade de vida, vai além das ciências humanas e biológicas, ampliando medidas que não sejam apenas controle de sintomas e sim diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida.

Palavras-chave: Qualidade de vida – cultura - organização – responsabilidade social

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8 CAPITULO I QVT - QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 10 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO 12 1.2 CONCEITO E DIMENSÕES 14

CAPITULO II A QUALIDADE VIDA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL 17 2.1 VANTAGEM COMPETITIVA 20 CAPITULO III A IMPORTANCIA DA QVT – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 22 3.1 ELEMENTOS-CHAVE DA QVT 24 3.2 SOLUÇÕES PARA IMPLANTAÇÃO DE QVT 27 3.3 BARREIRAS À QUALIDADE DE VIDA 28 3.4 MODELOS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 29 3.4.1 Modelos de QVT de Nadler e Lawler 30 3.4.2 Modelos de QVT de Hackman de Oldhan 30 3.4.3 Modelos de QVT de Walton 31 3.5 VANTAGENS DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 32 3.6 QVT E SUAS DIMENSÕES 34 CONCLUSÃO 37 REFERENCIAS 38

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INTRODUÇÃO

No chamado mundo moderno, QV – Qualidade de Vida se constitui

como o destaque entre os temas do século. Ao nos referirmos a final de século,

estamos trazendo a tona algo que está muito próximo de nós. Na visão de alguns

a frase é: Esse mundo está mudando e quantas vezes falamos isso para os

nossos filhos, assim como nossos pais falaram para nós? O mundo sempre

esteve mudando, não há novidade nenhuma nisso. A novidade não é a mudança

do mundo. A novidade é a velocidade da mudança. Nunca o mundo mudou tão

velozmente quanto muda hoje. A tal ponto que acabamos nos perdendo dentro

das relações.

A Qualidade de Vida (QV) se transformou em assunto relevante no

mundo moderno Eem virtude de ser o produto da interação entre as expectativas

e realizações de uma pessoa, podendo somente ser descrita e medida em termos

individuais, portanto numa análise subjetiva. Em um mercado cada vez mais

competitivo, empresas de todos os portes e ramos de atividade, têm buscado

maneiras de aumentar sua produtividade. Porém, na grande maioria das

instituições, este crescimento nem sempre está vinculado à qualidade do

ambiente de trabalho ou à saúde do trabalhador. Além disso, o mundo moderno

trouxe o sedentarismo que, cada vez mais presente, vem ocasionando enormes

prejuízos à saúde.

Levando em consideração que grande parte de nosso tempo é

dedicado dentro do ambiente de trabalho, este local pode oferecer oportunidade

para uma melhor qualidade de vida da população, gerando também empregados

mais satisfeitos, saudáveis e dispostos a alavancar o sucesso das organizações

em que trabalham. O sucesso dos Programas de Qualidade de Vida pode ser

comprovado por diversas matérias e divulgações no Brasil e no mundo. A

literatura científica tem demonstrado a importância destes programas,

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comprovando, através de estudos, não só a melhoria na saúde dos trabalhadores,

mas também o retorno financeiro obtido pelas empresas que investem em seus

funcionários.

É correto e inteiramente justificável que os gerenciadores

organizacionais tenham a preocupação e se ocupem com os elementos

vinculados aos resultados que a empresa pode auferir, medidos sob qualquer

instrumento utilizável, desde a simples produtividade, até o lucro vinculado à

quantidade e à dos bens produzidos ou dos serviços oferecidos. Mas existem

outros aspectos a serem considerados. Aqui, entra aqui a reflexão sobre o que

significa para o trabalhador o trabalho que ele desenvolve, não apenas os atos

intrínsecos que sua atividade envolve, a satisfação que ele encontra em sua

realização, mas o ambiente em que ele trabalha. Não se trata apenas de

ambiente físico, mas também de ambiente humano representado pelo grupo, pela

comunidade em que se insere.

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CAPITULO I

QVT - QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Diversos pesquisadores contribuíram para o estudo sobre a satisfação

do indivíduo no trabalho no século XX. Entre eles destacamos Helton Mayo, cujas

pesquisas, conforme Ferreira, Reis e Pereira (1999),1 Hampton (1991) 2 e

Rodrigues (1999), são altamente relevantes para o estudo do comportamento

humano, da motivação dos indivíduos para a obtenção das metas organizacionais

e da Qualidade de Vida do Trabalhador, principalmente a partir das pesquisas e

estudos efetuados na Western Eletric Company (Hawthorne, Chicago) no início

dos anos 20, que culminaram com a escola de Relações Humanas. Crédito igual

merece o trabalho de Abrahan H. Maslow, que concebeu a hierarquia das

necessidades, composta de cinco necessidades fundamentais: fisiológicas,

segurança, amor, estima e auto-realização.

“O problema começou quando transformamos o tempo em uma mercadoria, quando compramos o tempo das pessoas em nossas empresas em vez de comprar a produção. Quanto mais tempo você vende, nessas condições, mais dinheiro fará. Então, há uma troca inevitável entre o tempo e o dinheiro. As empresas, por sua vez, tornam-se exigentes. Querem menos tempo das pessoas que eles pagam por hora, porém mais das pessoas que pagam por ano, porque, no último caso, cada hora extra durante o ano é gratuita.” (HANDY, 1995 p. 25)

A expressão QV tem sido indiscriminadamente utilizada, quer seja

objetivando programas sociais, estilo de vida, educação, empresas (produtos e

1 FERREIRA, A. Antonio, REIS, Ana C. F. e PEREIRA, Maria I. Gestão Empresarial: de Taylor aos nossos dias. Evolução e Tendências da Moderna Administração de Empresas. São Paulo: Editora Pioneira, 1999 2 HAMPTON, David R. Administração: processos administrativos. São Paulo: Editora McGran-Hill Ltda., 1991.

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serviços), e em tudo mais que possa ou não ser mensurado através de

indicadores de qualidade.

De acordo com Rodrigues (1999),3 a qualidade de vida sempre foi

objeto de preocupação da raça humana, com outros títulos e em outros contextos,

mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador

na execução de suas tarefas. Historicamente exemplificando, os ensinamentos de

Euclides (300 a.C.) de Alexandria sobre os princípios da geometria serviram de

inspiração para a melhoraria do método de trabalho dos agricultores à margem do

Nilo, assim como a Lei das Alavancas, de Arquimedes, formulada em 287 a.C.,

veio a diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores.

Conforme Ferreira, Reis e Pereira (1999), Douglas McGregor, autor da

Teoria X, por sua vez, considerava, entre outras coisas, que o compromisso com

os objetivos depende das recompensas à sua consecução, e que o ser humano

não só aprende a aceitar as responsabilidades, como passa a procurá-las. Essa

teoria, aliás, na sua essência, busca a integração entre os objetivos individuais e

os organizacionais.

Conforme Rodrigues (1999), diversas das dimensões destacadas por

McGregor são analisadas e consideradas em programas de QVT. É importante

destacar que o desafio imaginado pelos seus idealizadores persiste, isto é, tornar

o QVT uma ferramenta gerencial efetiva e não apenas mais um modismo, como

tantos outros que vêm e vão. E esse desafio se torna mais estimulante neste

momento em que nos vemos envolvidos com uma rotina diária cada vez mais

desgastante e massacrante. Quando se pensava que os seres humanos

poderiam finalmente desfrutar do rápido progresso alcançado em várias ciências,

paradoxalmente o que temos visto é o trabalho como um fim em si mesmo.

Alicerçado nessa realidade, Handy (1995),4 afirmou que:

3 RODRIGUES, Marcus V. C. Qualidade de Vida no Trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Petrópolis: Editora Vozes, 1999 4 HANDY, Charles. A era do paradoxo. Dando um sentido para o futuro. São Paulo: Makron Books, 1995.

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1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO

Corfone define Betti (2002, p.25) cada um dos aspectos positivos de

uma coisa e que a faz corresponder ao que melhor se espera dela”. Tal definição

associada à vida seria de forma simplificada o modo viver com qualidade, ou

ainda viver bem. A QV diante da sua complexidade tem a necessidade de ser

vista com uma interpretação interdisciplinar.

Segundo Tubino (2002, p.263),5 mesmo se levarmos em consideração

a abordagem complexa da Qualidade de Vida coletiva, precedente, e uma

Qualidade de Vida individual, integradas numa relação de interdependência, tal

relação será sempre muito difícil na direção da conquista da qualidade de vida

individual, caso não esteja inserida numa conjuntura ou contexto favorável de

qualidade de vida coletiva.

Observemos que não é possível desassociar a qualidade de vida

individual da coletiva, sendo impossível qualquer análise da individual sem a

devida contextualização com a coletiva. Um novo período histórico, denominado

pelo pensador francês Edgar Morin de era da complexidade (TUBINO, 2002,

p.263) este período início na década de 1970 aproximadamente e rompe com os

valores cartesianos, que prega o homem dividido em partes. A partir dessa nova

visão holística, onde o ser humano é visto como um todo integrado,

biopsicossocial, onde toda manifestação é complexa e interligada, composto por

interfaces, biológica, psicológica e social que reagem simultaneamente aos

estímulos recebidos.

A esfera biológica refere-se a características físicas, como metabolismo

ou vulnerabilidade dos órgãos herdadas ou adquiridas no decorrer da vida. A

esfera psicológica envolve as características que formam a personalidade de

cada indivíduo. Incluem-se nessa categoria todos os processos afetivos,

emocionais e de raciocínio. A esfera social relaciona os aspectos culturais da

pessoa, com seus valores, suas crenças e os papéis no trabalho e na família.

5 TUBINO, Manoel. A Qualidade de Vida e a sua Complexidade. In: Esporte como Fator de Qualidade de Vida. Piracicaba: Unimep, 2002

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Através da tabela a seguir pode-se visualizar claramente os valores

das três interfaces que propõe está visão holística.

Tabela 1. Enfoque biopsicossocial

Esfera biológica

• Sono – alimentação – atividade física • Intervenções clinicam • Medicação – vitaminas • Técnicas de distensão e repouso • Adequação do estilo de vida as necessidades individuais

Esfera psicológica

• Autoconhecimento • Métodos: terapêuticos – espirituais e filosóficos • Busca de convivência menos conflituosa com pares e grupos • Compensação de frustrações com atividades de auto realização • Compreensão dos símbolos e das necessidades dos pares

Esfera social

• Melhoria das condições de vida pessoal e familiar • Desenvolvimento profissional e cultural • Interação individuo e meio ambiente • Revisão e redimensionamento das formas de organização de trabalho • Investimento na autogestão da carreira e do sucesso profissional e pessoal

Fonte: Adaptado de Ana Cristina Limongi-França e Gustavo Zaima (2002, p.407).6

A motivação é um fator determinante para o entendimento da

Qualidade de Vida, pois é o que move e impulsiona as pessoas a buscarem algo.

Por definição seria um motivo mais uma ação, decorrentes não somente das

necessidades básicas a serem satisfeitas, mas também com um olhar para o

futuro, onde a realização é vislumbrada. Existe uma dificuldade de consenso

diante do tema, devido a sua amplitude, onde o termo pode ser empregado e

entendido de várias formas.

6 LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina e ZAIMA, Gustavo.Gestão de Qualidade de Vida no Trabalho – GQVT. In: Manual de Gestão de pessoas e equipes: estratégias e tendências.São Paulo: Gente, 2002.

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Variações são destacadas por Moreira (2002, p.41).7 Uma certa

panacéia se vem fazendo em torno do assunto, confundindo-o com acréscimo de

experiências relevantes depois que as necessidades básicas estão satisfeitas,

oportunidade de práticas de atividades físicas regulares, visando à saúde e ao

combate ao estresse, estabelecimento de conhecimento necessário ao consumo

de produtos e serviços culturais, construção de um novo estilo de vida, em que

vivências interiores significativas constituem-se em fator de satisfação e

felicidade.

De acordo com afirmativa de Bittencourt (2009),8 o termo Qualidade de

Vida é uma expressão que transcende seu conceito, é enxergar o cenário em que

você habita com olhos perscrutadores, é ter visão crítica voltada para a

objetividade, é perceber cores onde as nuanças nem sempre são claras.

1.2 CONCEITO E DIMENSÕES

No conceito de França (1997),9 a qualidade de vida no trabalho é o

conjunto das ações de uma organização que envolve a implantação de melhorias

e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da

qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a

empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque

biopsicossocial. O posicionamento biopsicossocial representa o fator diferencial

para a realização de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação

de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante

o trabalho na organização.

Conforme expõem Souza e Guimarães (1999),10 cientistas sociais,

filósofos e políticos foram aqueles que primeiro partilharam e se interessaram por

7 MOREIRA, Wagner Wey. Qualidade de Vida: Complexidade e educação. Campinas: Papirus, 2001 8 BITTENCOURT, Francisco. Qualidade de Vida e Organização do Trabalho. http:/www.institutomvc.com.br - Acesso em julho 2009 9 FRANÇA, A C. Limongi. Qualidade de vida no trabalho: conceitos, abordagens, inovações e desafios nas empresas brasileiras, Revista Brasileira de Medicina Psicossomática. Rio de Janeiro, vol. 1, n.º 2, p. 79-83, abr./mai./jun. 1997 10 SOUZA, J. C.; GUIMARÃES, L. A. M. Insônia e qualidade de vida. Campo. Grande: UCDB, 1999.

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conceitos como padrão de vida e qualidade de vida. Podemos observar que tratar

sobre o tema qualidade de vida, vai além das ciências humanas e biológicas,

ampliando medidas que não sejam apenas controle de sintomas e sim diminuição

da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida.

Para fazer abordagens sobre de Qualidade de Vida, Matos (1996),11 é

categórico ao afirmar que não se pode deixar de enfocar o campo da motivação

humana, buscando com isso, identificar as necessidades para sua realização.

Spilker (1996) citado por Souza & Guimarães (1999), destaca que o

conceito de QV apresenta três níveis:

1. avaliação total do bem-estar,

2. domínio global (físico, psicológico, econômico, espiritual e social) e

3. componentes de cada domínio.

Sendo este conceito posicionado em forma de pirâmide, em sua base

estariam os componentes de cada domínio acima mencionados, no meio da

pirâmide estariam os domínios globais; e, no seu topo, estaria localizada a

avaliação geral de bem-estar do indivíduo. No concernente ao nível mais alto,

este pode ser descrito como a satisfação geral e o sentimento de bem-estar

pessoal do indivíduo com sua vida. Para Spilker todos estes componentes podem

ser avaliados por testes e escalas em conjunto ou isoladamente.

A QV é entendida por Ramos (1995), 12 como um conjunto harmonioso

e equilibrado de realização em todos os níveis, como: saúde, trabalho, lazer,

sexo, família e desenvolvimento espiritual. Portanto, alicerçado nas abordagens

efetuadas, podemos avaliar a Qualidade de Vida, então, sob dois aspectos:

objetivo e subjetivo. O aspecto objetivo é possível de ser aferido, através das

condições de saúde física, remuneração, habitação, e também, por meio

daqueles indicadores observáveis e mensuráveis. Já a subjetividade da qualidade

11 MATOS, Francisco G. Empresa feliz. São Paulo: Makron Books, 1996. 12 RAMOS, W. M.A qualidade de vida no trabalho de médicos e enfermeiros: um estudo de casos em hospital público de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG, 1995. (Tese de Mestrado – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG).

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de vida busca os sentimentos humanos, as percepções qualitativas das

experiências vividas.

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CAPITULO II

A QUALIDADE VIDA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL

O final do século XX tem trazido mudanças muito rápidas para a

humanidade como um todo. Estas mudanças têm colocado a sociedade em um

desequilíbrio sensível. A crença cada vez maior na materialidade, o ganhar e o

acumular, o explorar e deixar-se ser explorado, o stress, as somatizações e o não

se importar mais com a desigualdade social, tornou-se um movimento tão natural

quanto beber um copo d’água. O conjunto de crenças aceito e valorizado por

uma sociedade é chamado de “Paradigma”. Assim se a sociedade passa a

considerar normais essas exceções, podemos chamar isto de paradigma.

Segundo afirmativa de Morin (1990),13

“Um paradigma é um tipo de relação muito forte, podendo ser de disjunção ou conjunção, possuindo uma logicidade entre conjunto de conceitos-mestres”. (MORIN, 1990 p. 16)

Este tipo de relação vista pelo autor como dominadora, determina o

curso de todas as teorias e todos os discursos. Depreende-se daí que as crenças

apontadas acima podem ser consideradas paradigma.

Conforme mostra Capra (1982, p.14),14 a visão atual de mundo e seus

sistemas de valores estão na base de nossa cultura, sendo formulados nos

séculos XVI e XVIII, e denomina tais crenças como Paradigma

Newtoniano/Cartesiano. O paradigma atual, embora com uma proposição inicial

13 MORIN, Edgard. Introdução Ao Pensamento Complexo. 2ª ed. Tradução por Dulce Matos. Lisboa: Inst.Piaget,1990. 14 CAPRA, Fritjof. O Ponto De Mutação. Tradução por Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1982.

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de melhorar as condições do ser humano, não conseguiu resolver o problema do

homem no planeta e pode-se dizer que esta é uma situação de desequilíbrio

significativo.

Segundo entende Oliveira (2003),15 o modelo capitalista, após a queda

do comunismo, também vem passando por transformações e que está em

processo à implantação de uma nova ordem social. Nessa nova ordem, a

sociedade surge como detentora de um novo papel, ou talvez o seu verdadeiro

papel que é o de não só reivindicar, mas principalmente realizar as ações que o

estado nesse novo modelo não mais realiza. Sob essa nova ótica, colocando-se

também como setor econômico, logo após a indústria e o comércio e serviços,

chamados até então de primeiro e segundo setores, surge o terceiro setor,

composto por movimentos sociais diversos, por instituições que já existiam à

margem do movimento econômico e que agora tomam força e as Organizações

Não Governamentais, denominadas ONG’s, que assumem em definitivo uma

parte do papel que antes era feito pelo governo, inclusive cobrando deste, ações

que o mesmo deixa de executar, funcionando como uma espécie de fiscal da

sociedade na qual estão inseridas.

As empresas do primeiro e segundo setores, como geradoras de

riqueza, neste novo modelo percebem que a elas também cumpre um papel

fundamental, o de auxiliar a sociedade em geral a estar em harmonia.

Segundo Oliveira (2003),

“... o bem-estar comum depende cada vez mais de uma ação cooperativa e integrada de todos os setores da economia” Atendendo a esses anseios, as empresas desenvolvem então o que se chama hoje de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), cujo objetivo, segundo ainda Oliveira (idem) “é comprometer a empresa com a adoção de um padrão ético de comportamento que contribua com o desenvolvimento econômico”. (OLIVEIRA, 2003 p. 5)

15 OLIVEIRA, Marco Antonio L. de. AS8000: o modelo ISO 9000 aplicado à responsabilidade social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.

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Segundo Furtado (2003),16 que a chama de Responsabilidade

Socioambiental pela dificuldade que se tem em separar o social do ambiental:

“O dever ou obrigação da organização para responder perante todas as partes interessadas pelas conseqüências ou impactos sociais e ambientais causados por seus produtos, serviços e atividades introduzidos no ambiente público.” (Furtado, 2003)

Para Holliday (2002),17 o WBCSD - Conselho Empresarial Mundial

para o Desenvolvimento Sustentável, o compromisso das empresas de contribuir

para o desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando com os empregados,

com as famílias, com a comunidade local e com a sociedade em geral para

melhorar a qualidade de vida.

Este movimento que surge lentamente na década de 70 espalha-se por

todos os continentes e tem se tornado tão forte, que em nível mundial foi criado o

Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, (WBCSD),

que define a atuação das empresas como um compromisso de contribuição com o

desenvolvimento sustentável, assumindo ainda o compromisso de melhorar a

qualidade de vida da sociedade, dos trabalhadores e de suas famílias. Outro

órgão importante a nível mundial, sediado em Nova York é a SAI – Social

Accountability International, que desenvolveu a SA8000, norma internacional para

aplicação do modelo de responsabilidade social pelas empresas, baseada na

norma ISO 9000.

No Brasil, o Instituto Ethos assume o papel de dirigente da classe

empresarial na divulgação desses conceitos, criando inclusive uma premiação

para as empresas que mais se destacam na prática da RSE.

16 FURTADO, João Salvador. Gestão com responsabilidade sócio ambiental. São Paulo: março 2003 – http//www.teclin.ufba.br/jsfurtado – acesso em julho 2009 17 HOLLIDAY, Charles, et All. Cumprindo o prometido: Casos de sucesso de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

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2.1 VANTAGEM COMPETITIVA

Não nos permitimos ser tão ingênuo a ponto de se achar que as

empresas não vão tirar nenhuma vantagem das suas atuações junto à sociedade.

A RSE vem se transformando cada vez mais em vantagem competitiva, pois as

pessoas comuns ao perceberem que uma empresa está comprometida com a

responsabilidade social ou um programa social, passam a dar preferência à

compra de produtos dessa empresa.

Segundo afirma Oliveira (2003), cerca de 11 bilhões de dólares são

destinados a causas que nada tem a ver com os negócios da organização e que

nos EUA e Europa, 50% dos consumidores pagariam mais por produtos de

empresas responsáveis e comprometidas socialmente.

Entre os pontos importantes da norma acima citada, estão o

comprometimento com o meio ambiente, a exclusão do trabalho infantil, liberdade

de associação, discriminação, trabalho forçado, a preocupação com a saúde e

segurança do trabalhador. Deborah Leipziger (2003, p. vii), prefaciando o livro de

Oliveira afirma que a diferença entre a norma SA8000 e as outras são o seu

sistema de gestão... que tem o potencial de transformar a globalização numa

força menos feroz. De um modo geral, podemos perceber que algumas empresas

entram no modismo da responsabilidade social para exclusivamente tirar

vantagens, porém sente-se que a maioria delas está preocupada com o fazer algo

para a sociedade em que se insere.

Borger (2001, p. 36),18 assídua pesquisadora da responsabilidade

social, mostra que o conceito de RSE alcança um universo mais amplo do que só

os sócios e acionistas, de acordo com Borger, muitas das decisões e atividades

do negócio tem conseqüência para a comunidade local, para o meio ambiente e

para muitos outros aspectos da sociedade. Um ponto importante a se entender é

18 BORGER, Fernanda Gabriela. Responsabilidade Social: Efeitos de atuação social na dinâmica empresarial. 2001. 254 p. TESE (Doutorado em Administração) Faculdade de Economia, administração e Contabilidade, departamento de Administração Universidade de São Paulo , São Paulo.

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o de que a responsabilidade social, não deve ser confundida com filantropia,

embora algumas ações das empresas possam passar por este caminho.

No Brasil, O Instituto Ethos no Brasil, apresenta o seguinte modelo

para a RSE: A responsabilidade social é uma forma de conduzir os negócios da

empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo

desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela quem

possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,

funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade,

governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas

atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas

ou proprietários.19

19 INSTITUTO ETHOS. http://www.ethos.org.br/docs/institucional/perguntas.shtml – acesso julho 2009

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CAPITULO III

A IMPORTANCIA DA QVT – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

O cenário empresarial brasileiro nas últimas décadas tem sido

caracterizado como palco de profundas transformações, reflexo dos cenários

mundiais de economia globalizada, tecnologias arrojadas, exigindo cada vez mais

a busca da qualidade, produtividade e satisfação do cliente. Com isso, o

relacionamento entre empresas e seus colaboradores mudou. Antes, os

funcionários eram vistos como recursos, hoje como talentos.

Desde a década de 90, a Gestão de Pessoas vem ganhando

importância e passando por um processo de transformação. Hoje, não significa

controle, padronização e rotina, mas sim estímulo, desenvolvimento e

comprometimento. Palavras como capacitação e valorização da equipe fazem

parte da estratégia das organizações que querem ser competitivas.

Para Chelotti (2007),20 presidente da Associação Brasileira de

Recursos Humanos (ABRH), o sistema focado em cargos e remuneração é cada

vez mais ineficiente. Hoje, as empresas valorizam seu capital intelectual. O

executivo acredita que o principal desafio é ter lideres competentes, que gostem

das pessoas e conheçam os fatores que motivam o comprometimento com a

organização. O sistema utilizado até a década de 90, focado em cargos e

remuneração, não é capaz de atender às novas demandas de um mercado

globalizado e exigente. Hoje, as organizações valorizam seu capital intelectual. A

Qualidade de Vida está na cultura da empresa, que se preocupa em proporcionar

um ambiente de trabalho adequado e agradável. Isso acontece não apenas nas

grandes organizações, mas também nas de pequeno e médio porte. Ainda

20 CHELOTTI, Ralph – FNQ - Fundação Nacional da Qualidade - em revista, http://www.fnq.org.br. - Acesso em julho 2009

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23

segundo Chelotti (2007), a Gestão de Pessoas se baseia no fato de que o

desempenho de uma organização depende da contribuição de quem nela trabalha

e da forma como a equipe se organiza, é estimulada e capacitada.

Conforme Orlinkas (1998),21 a maioria das empresas bem-sucedidas já

compreendeu que a qualidade na gestão de seus profissionais e a qualidade de

seus produtos ou serviços é o melhor meio de que dispõe para enfrentar os

constantes desafios propostos pela concorrência, mais acentuada ainda pela

globalização da economia. A estratégia de gerenciamento deve ser pautada por

um processo de aprendizado contínuo. É preciso desenvolver práticas de Gestão

de Pessoas que tornem o ambiente agradável, façam com que todos sejam

tratados da mesma forma, com liberdade, companheirismo, respeito,

transparência e ética. Assim, o colaborador se sente valorizado, o que auxilia na

melhora da produtividade das instituições. Enfim, a empresa precisa ter a visão de

que o capital humano é seu grande diferencial. Ele deve ser considerado um

sinônimo de crescimento e vantagem competitiva.

Não se pode falar em sucesso sem que sejam adotadas políticas e

práticas avançadas. É preciso inovar sempre. A satisfação dos clientes é

conseqüência da qualidade dos produtos e serviços de uma empresa. E essa

qualidade só pode ser alcançada se os colaboradores estiverem motivados e não

pressionados pelo ambiente corporativo. Esta demanda tem gerado, como

conseqüência nas empresas, uma necessidade de aperfeiçoar a gestão de RH.

Isto deve ser feito desde o Planejamento Estratégico, sob o risco de termos

programas individuais de curto prazo, atingindo apenas alguns setores da

organização, e não ela como um todo.

Segundo Oliveira (1993),22 o Planejamento Estratégico consiste em um

processo gerencial que possibilita ao executivo estabelecer o rumo a ser seguido

pela empresa, com vistas a obter um nível de otimização na relação da empresa

com o seu ambiente. Tal definição nos leva a algumas características do

21 ORLINKAS, E. - Consultoria Interna de Recursos Humanos - Makron Books, São Paulo, 1998. 22 OLIVEIRA, D.P.R. - Planejamento Estratégico:Conceitos, Metodologia a Práticas - Atlas, São Paulo, l993.

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24

Planejamento Estratégico: ser de longo prazo, de grande abrangência, uma vez

que considera a empresa como um todo; leva em conta os cenários como

variáveis do ambiente externo da mesma forma que as variáveis do ambiente

interno. É relacionado às atividades-fins e meios da empresa. A figura 1

demonstra como a Gestão de Pessoas deve estar posicionada dentro do

Planejamento Estratégico, contida na política de uma organização, alinhada com

sua missão, balizada por sua cultura e a economia.

Figura 1 – Gerenciamento estratégico e as pressões do ambiente

Política

Missão e estratégia

ORGANIZAÇÃO

estrutura e organização gestão de RH

ECONOMIA CULTURA

Fonte: Devanna, Frombu e Tichy - Strategic Human Resource Management.23

3.1 ELEMENTOS-CHAVE DA QVT

A meta principal do programa de QVT é melhorar a

satisfação do trabalhador dando o devido valor a seu colaborador, incentivando-o

no seu trabalho. A QVT envolve toda a empresa e, principalmente, a qualidade de

vida, pois o que mais se deseja na vida é a felicidade, constituindo-se em uma

23 FOMBRUN, C. TICHY, N.M. e DEVANNA, M.A. - Strategic Human Resource Management - Cap. 3, John Wiley & Sons, New York - EUA, 1984.

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busca antiga do homem. Porém, para ser feliz, é necessário ter saúde, satisfação

consigo próprio e com seu trabalho, e tudo isso compreende a qualidade de vida.

Todavia, conforme Rodrigues (1999),24 muito se tem falado sobre

qualidade de vida no trabalho. Mas a satisfação no trabalho não pode estar

isolada da vida do indivíduo como um todo. Os colaboradores que possuem uma

vida familiar insatisfatória têm no trabalho como o único ou maior meio para obter

a satisfação de muitas de suas necessidades, principalmente, as sociais. Assim,

o trabalho assume dimensões enormes na vida do homem, pois a qualidade de

vida tem sido usada com crescente freqüência para descrever certos valores

ambientais e humanos, descuidados pelas sociedades industriais em favor do

avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico.

Contudo, dizer às pessoas que se espera que elas façam o melhor

significa que estas são consideradas capazes de alcançar altos padrões e,

segundo Davis e Newstron (1991, p. 28),25

“... o resultado de um sistema eficaz de comportamento organizacional é a motivação, que quando combinada com as habilidades e capacidades do empregado, resulta na produtividade humana”.

Segundo Rodrigues (1997, p. 14),

“... quando o trabalho é compartilhado, os resultados aparecem mais facilmente, os erros podem ser minimizados, reduzidos e até mesmo eliminados”.

Desta forma, para que o sujeito tenha boa saúde física ou mental, deve

haver um clima adequado propiciado pela organização, que por sua vez resultará

numa boa qualidade de vida no trabalho, favorecendo a formação e a

manutenção de indivíduos mais criativos, serenos, responsáveis e com

capacidade para demonstrar ou desenvolver novas habilidades, gerando, assim,

um melhor retorno para a própria empresa.

24 RODRIGUES, Marcus Vinicius Carvalho. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Fortaleza: UNIFOR, 1999. 25 DAVIS, K. e NEWSTROM, J. W. Comportamento humano no trabalho – Uma abordagem psicológica. São Paulo: Pioneira, 1992

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26

Para Werther (1983),26 além do desafio de proverem oportunidade de

emprego, os departamentos de pessoal também procuram melhorar a qualidade

de vida no trabalho. Os esforços para melhorar a qualidade de vida no trabalho

procuram tornar os cargos produtivos e satisfatórios. Embora sejam usadas

muitas técnicas diferentes sob o título qualidade de vida no trabalho, a maioria

dos métodos acarreta à reformulação de cargos com a participação dos

trabalhadores afetados.

De acordo com Matos 1997),27 não existe Qualidade de Vida no

Trabalho sem Qualidade Total, ou seja, sem a empresa seja boa. Não confundir

QVT com política de benefícios, nem com atividades festivas de congraçamento,

embora essas sejam importantes em uma estratégia global. A qualidade tem a ver

essencialmente com a cultura organizacional. São fundamentalmente os valores,

a filosofia da empresa, sua missão, o clima participativo, o gosto por pertencer a

elas e as perspectivas concretas de desenvolvimento pessoal que criam a

identificação empresa-empregado. O ser humano fazendo a concepção da

empresa e em suas estratégias.

Segundo Werther (1983, p.47),

“... a qualidade de vida no trabalho é afetada por muitos fatores: supervisão, condição de trabalho, pagamento, benefícios e projetos do cargo. Porém, é a natureza do cargo que envolve mais intimamente o trabalhador”.

Werther (1983), verifica que o trabalho em equipe é também algo

complicado, pois compor um grupo de trabalho significa colocar em cena, para

atuação produtiva, conjunta, diferentes personalidades, história de vida,

experiências, competências, visões de mundo e graus de conhecimentos.

O trabalho é importante para que os departamentos possam responder

antecipadamente aos desafios organizacional, ambiental e comportamental e as

26 WERTHER JR, W; DAVIS, K. Administração de pessoal e recursos humanos. São Paulo: McGraw Hill, 1983. 27 MATOS, Francisco G. Empresa Feliz. São Paulo: Makron Book, 1997.

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mudanças, em quaisquer destes fatores, podem afetar a qualidade de vida no

trabalho.

Se o impacto destas mudanças puder ser previsto, os departamentos

estarão mais aptos a responder. Entretanto, pode-se incentivar o trabalhador,

proporcionando um ambiente de participação, de integração com supervisores,

com colegas, de acordo com as necessidades dos empregados, cabendo às

empresas criar um ambiente em que as pessoas se sintam bem e os gerentes

demonstrando que as pessoas têm um papel importante dentro da organização.

3.2 SOLUÇÕES PARA IMPLANTAÇÃO DE QVT

Hoje, os colaboradores são mais instruídos e têm menos probabilidade

de aceitar autoridade sem questionar, como resultado, há um maior interesse pela

qualidade de vida no trabalho e a gestão com as pessoas é uma das áreas que

melhor viabiliza as ações de preparação e desenvolvimento da gestão de

Qualidade de Vida no Trabalho.

Mas o treinamento e o desenvolvimento podem ser considerados

parceiros e instrumentadores das metas de bem-estar no trabalho, ressaltando

que o treinamento é potencial, criatividade, força de trabalho, inovação,

compromisso, interação, capacitando as pessoas no ambiente organizacional

através das situações planejadas e monitoradas para obtenção de mudanças

pessoais, grupais e organizacionais.

Segundo afirmativas de Hackman (1997),28 o desempenho de cargos e

o clima organizacional representam fatores importantes na determinação da QVT.

Se esta for pobre, conduzirá à alienação do empregado e à insatisfação, à má

vontade, ao declínio da produtividade, e a comportamentos contra producentes.

Se for rica, conduzirá a um clima de confiança e respeito mútuo, no qual o

indivíduo tenderá a aumentar suas oportunidades de êxito psicológicas e atenderá

a reduzir o mecanismo rígido de controle social.

28 HACKMAM, J. Richard e J.L. Suttle.improving Life at Work: Bechavioral SCIENCE Approaches to Organizacional Change. Santa Monica: 1977.

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Todavia, Werther (1983, p.72) destaca que

“... os esforços para melhorar a QVT procuram tornar os cargos mais produtivos e satisfatórios, sendo a QVT afetada por muitos fatores: supervisão, condições de trabalho, pagamento, benefícios e projeto de cargo”.

Neste caso, Werther (1983), verifica que a natureza do cargo é que

envolve mais intimamente o trabalhador. Desta forma, talvez a necessidade mais

importante para compreender como o projeto de cargo afeta a qualidade de vida

no trabalho seja que os encargos são o elo entre as pessoas e a organização.

3.3 BARREIRAS À QUALIDADE DE VIDA

Como ocorre com muitos programas de departamento pessoal, a

barreira à implantação pode erudir o sucesso de qualquer programa para

colaboradores, porque tanto a administração como os sindicatos, usualmente,

temem o efeito de uma mudança desconhecida, mesmo quando o processo e os

resultados da mudança são explicados, pois para eles, os incentivos para esta

podem ser insuficientes.

De acordo com Werther (1983), para sobrepujar estas barreiras,

normalmente o departamento de pessoal precisa explicar a necessidade da

mudança, os resultados esperados e quaisquer garantias que possa proporcionar.

Às vezes, os empregados e os sindicatos ficam desconfiados porque julgam que

qualquer programa vantajoso para a administração provavelmente não os

beneficie. Amiúde, a administração reside à mudança porque dúvida que os seus

benefícios justifiquem a perturbação potencial da produção ou serviço.

Entretanto, a qualidade de vida no trabalho representa uma outra

camada de desafios à administração de pessoas, podendo encontrar melhores

maneiras de projetar e reformular os cargos. Do contrário, o propósito desse

departamento, na melhor das hipóteses, permanece apenas parcialmente

cumprido. Mas, tão importante como o desafio de melhorar a qualidade de vida no

trabalho possa ser, ele representa apenas um em uma longa linha de desafios

que os departamentos de pessoas enfrentam.

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29

Estes outros desafios precisam ser enfrentados para que a

administração de pessoas contribua para o sucesso da organização, o que,

segundo Werther (183, p. 86):

“... embora a qualidade de vida no trabalho seja importante, os especialistas de pessoal não podem deixar de levar em conta os desafios de cumprir os propósitos, objetivos e atividades atribuídas ao departamento de pessoas”.

Um dos fatores que mais preocupam os gestores de qualquer

organização é a presença de estresse, que pode ser definido por Chiavenato

(1999),29 como um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma

pessoa a estímulos ou estressores no ambiente, prejudicando o bom

desempenho do colaborador dentro da organização. Pode-se dizer que o

trabalho, além de possibilitar crescimento, transformações, reconhecimento e

independência pessoal e profissional, também causa problemas de insatisfação,

desinteresse, apatia e, também, muita irritação.

Segundo França (1997),30 o termo estresse vem da física, e neste

campo do conhecimento tem o sentido de grau de deformidade que uma estrutura

sofre quando é submetida a um esforço.

3.4 MODELOS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

O desempenho no cargo e o clima organizacional representam fatores

na determinação da QVT. Se não houver uma boa qualidade de trabalho, logo

haverá a alienação do empregado, a insatisfação e a má vontade, chegando ao

declínio da produtividade. Quando a qualidade do trabalho é boa, tudo muda e

fica diferente, conduzindo-se a um clima de confiança e respeito mútuo, no qual o

indivíduo tenderá a aumentar as suas contribuições. (CHIAVENATO, 1999).

29 CHIAVENATO, Idalberto. Desempenho humano nas empresas: como desempenhar cargos e avaliar o desempenho. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998. 30 FRANÇA, A. C. Limong. Qualidade de vida no trabalho: conceitos, abordagens, inovações e desafios nas empresas brasileiras. Vol. 1. Rio de Janeiro: 1997.

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30

3.4.1 Modelos de QVT de Nadler e Lawler

Para Nadler e Lawler (apud CHIAVENATO, 1999), a QVT está

fundamentada em quatro aspectos:

1. Participação dos funcionários nas decisões;

2. Reestruturação do trabalho através do enriquecimento de tarefas e de

grupos autônomos de trabalho;

3. Inovação no sistema de recompensas para influenciar o clima

organizacional

4. Melhoria no ambiente de trabalho quanto às condições físicas e

psicológicas, horário de trabalho.

Na medida em que esses quatro aspectos são incrementados, haverá

uma melhoria na QVT.

3.4.2 Modelos de QVT de Hackman de Oldhan

Hackman e Oldhan (apud CHIAVENATO, 1999) apresentam um

modelo de QVT no qual as dimensões do cargo produzem estados psicológicos

críticos que conduzem a resultados pessoais de trabalho que afetam a QVT. As

dimensões do cargo são:

1. Variedades: o cargo deve requerer varias e diferentes habilidades,

conhecimentos e competência da pessoa;

2. Identidade da tarefa: o trabalho deve ser realizado do inicio ate o fim para

que a pessoa possa perceber que produz um resultado palpável;

3. Significado da tarefa: a pessoa deve ter uma clara percepção de como o

seu trabalho produz conseqüências o impacto sobre o trabalho das outras;

4. Autonomia: a pessoa deve ter responsabilidade pessoal para planejar e

executar as tarefas, autonomia e independência para desempenhá-las;

5. Retroação do próprio trabalho: a tarefa de proporcionar informação de

retorno á pessoa para que ela própria possa auto-avaliar seu desempenho;

6. Retroação extrínseca: deve haver o retorno proporcionado pelos superiores

hierárquicos ou clientes a respeito do desempenho na tarefa e

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31

7. Inter - relacionamento: a tarefa deve possibilitar contato interpessoal do

ocupante com outras pessoas ou clientes internos e externos.

Tais fatores são refletidos dentro da organização de maneira em que

as pessoas passam a desenvolver suas atribuições de forma diferenciada, a fim

de contribuir com a QVT e ainda assegurar-se de um trabalho satisfatório e bem

elaborado.

3.4.3 Modelos de QVT de Walton

Para Walton (apud CHIAVENATO, 1999), existem oito fatores que

afetam a QVT, a saber:

1. Compensação justa e adequada: a justiça distributiva de compensação

depende da adequação da remuneração ao trabalho que a pessoa realiza,

da equidade interna (equilibro entre remuneração dentro da organização) e

da eqüidade externa (equilíbrio com as remunerações do mercado de

trabalho);

2. Condição de segurança e saúde no trabalho: envolvendo as dimensões

jornada de trabalho e ambiente físico adequado a saúde e bem-estar da

pessoa;

3. Utilização e desenvolvimento de capacidades: proporcionar oportunidades

de satisfazer as necessidades de utilização de habilidades e

conhecimentos do trabalhador, desenvolver sua autonomia, autocontrole e

obter informações sobre o processo total do trabalho, bem como retro

informação quanto ao seu desempenho;

4. Oportunidade de crescimento contínua e segurança: no sentido de

proporcionar possibilidades de carreira na organização, crescimento e

desenvolvimento pessoal e segurança no emprego de forma duradoura;

5. Integração social na organização, eliminação de barreiras hierárquicas

marcantes, apoio mútuo, franqueza interpessoal e ausência de

preconceito;

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6. Constitucionalismo: refere-se ao estabelecimento de normas e regras da

organização, direita e deveres do trabalhador, recursos contra decisões

arbitrárias e um clima democrático dentro da organização;

7. Trabalho e espaço total de vida: o trabalho não deve absolver todo o tempo

e energia de trabalhador em detrimento de sua vida familiar ou particular,

de seu lazer e atividades comunitárias e

8. Relevância social da vida no trabalho: o trabalho deve ser uma atividade

social que traga orgulho para as pessoas em participar de uma

organização. A organização deve ter uma atuação e uma imagem perante

a sociedade, responsabilidade social, responsabilidade pelos produtos e

serviços oferecidos, pratica de emprego, regras bem definida de

funcionamento e de administração eficiente.

A relação feita por Chiavenato convém a todo e qualquer funcionário

que visa crescer e se satisfazer em seu ambiente de trabalho, porém na prática

não é bem assim, empresários buscam a todo custo implantar o QVT em suas

empresas, mais o modelo implantado nem sempre corresponde a todas as

expectativas dos seus colaboradores, que necessariamente sempre acabam por

acatar a falta de cumprimento das propostas ofertadas para o emprego.

3.5 VANTAGENS DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

A empresa ganha muito implantando os programas de qualidade de

vida no trabalho, pois os empregados se sentem motivados a trabalhar, vestindo a

camisa da organização, encontrando-se dispostos a crescer junto com a empresa.

Conforme Albuquerque e Limongi (1998),31 a Qualidade Vida no

Trabalho é um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e

implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais

dentro e fora do ambiente de trabalho, visando a propiciar condições plenas de

desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho. Podem-se

31 ALBUQUERQUE, L. G; LIMONGI-FRANÇA, A.C. Estratégias de Gestão de Pessoas e gestão da qualidade de vida no trabalho: o stress e a expansão do conceito de qualidade total. Revista de Administração, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 40-51, Abr./Jun. 1998

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envolver os colaboradores em programas de QVT por meio do enriquecimento de

cargo, que significa a reorganização e ampliação de cargos para proporcionar

adequação ao ocupante no sentido de aumentar a satisfação intrínseca através

do crescimento de variedades, autonomia, significado das tarefas, identidade com

as atarefas e retroação.

Segundo Herzberg (apud CHIAVENATO, 2002), o enriquecimento de

cargos constitui a maneira de obter satisfação intrínseca através do cargo.

Segundo o autor mencionado, o enriquecimento de cargos, ou ampliação de

cargo, torna-se a maneira prática e viável para a adequação permanente do cargo

ao crescimento profissional do ocupante, oferecendo elevada motivação

intrínseca do trabalho; desempenho de alta qualidade no trabalho; elevada

satisfação com o trabalho e redução de faltas e desligamentos.

Desta forma, o enriquecimento de cargos serve para provocar a

motivação do colaborador dentro da organização, dando oportunidade para o seu

crescimento. Mas, para uma pessoa se sentir motivada dentro de uma empresa,

ela tem que se sentir como uma parte fundamental do processo, mostrando que

ela tem importância dentro da organização e que outras pessoas precisam dela.

Segundo Maximiano (1995, p. 318),32

“... motivação, é o conjunto de razões ou motivos que explicam, induzem, incentivam, estimulam ou provocam algum tipo de ação de comportamento”.

No entendimento de Weiss (1991),33 as pessoas trabalham por

recompensas. Essas não precisam ser tangíveis, como dinheiro. Pode ser

intangíveis, como no caso de deixar um funcionário ser líder de um grupo.

Quando as pessoas sabem que vão ganhar alguma gratificação pelo serviço

prestado, elas trabalham com mais disposição e mostram interesse pelo trabalho.

32 MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria geral de administração: da escola cientifica à competitividade na economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 33 WEISS, D. Motivação e resultados: como obter de sua equipe. São Paulo: Nobel, 1991

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Dizer às pessoas que se espera que elas façam melhor, significa que

estas são consideradas capazes de alcançar altos padrões, os quais concordam.

No entender de Davis & Newstron (1992, p. 28),34 o resultado de um sistema

eficaz de comportamento organizacional é a motivação, que combinada com as

habilidades e capacidades do empregado, resulta na produtividade humana.

3.6 QVT E SUAS DIMENSÕES

Albuquerque & França (1997),35 consideram que a sociedade vive

novos paradigmas de modos de vida dentro e fora da empresa, gerando, em

conseqüência, novos valores e demandas de Qualidade de Vida no Trabalho.

Para os referidos autores, outras ciências têm dado sua contribuição ao estudo do

QVT, tais como:

• Saúde – nessa área, a ciência tem buscado preservar a integridade física,

mental e social do ser humano e não apenas atuar sobre o controle de

doenças, gerando avanços biomédicos e maior expectativa de vida.

• Ecologia – vê o homem como parte integrante e responsável pela

preservação do sistema dos seres vivos e dos insumos da natureza.

• Ergonomia – estuda as condições de trabalho ligadas à pessoa.

Fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na tecnologia

industrial, visando ao conforto na operação.

• Psicologia – juntamente com a filosofia, demonstra a influência das atitudes

internas e perspectivas de vida de cada pessoa em seu trabalho e a

importância do significado intrínseco das necessidades individuais para seu

envolvimento com o trabalho.

• Sociologia – resgata a dimensão simbólica do que é compartilhado e

construído socialmente, demonstrando suas implicações nos diversos

contextos culturais e antropológicos da empresa.

34 DAVIS, K.; NEWSTROM, J.W. Comportamento humano no trabalho: uma abordagem psicológica. São Paulo: Pioneira, 1992. 35 ALBUQUERQUE, L. G. e FRANÇA, A.C.L. Estratégias de recursos humanos e gestão da qualidade de vida no trabalho: o stress e a expansão do conceito de qualidade total. Revista de Administração. São Paulo, abr./jun. 1998, vol. 33, n.º 2, p. 40-51.

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• Economia – enfatiza a consciência de que os bens são finitos e que a

distribuição de bens, recursos e serviços deve envolver de forma

equilibrada a responsabilidade e os direitos da sociedade.

• Administração – procura aumentar a capacidade de mobilizar recursos

para atingir resultados, em ambiente cada vez mais complexo, mutável e

competitivo.

• Engenharia – elabora formas de produção voltadas para a flexibilização da

manufatura, armazenamento de materiais, uso da tecnologia, organização

do trabalho e controle de processos.

Walton apud Rodrigues (1999),36 considera que a expressão Qualidade

de Vida tem sido usada com crescente freqüência para descrever certos valores

ambientais e humanos, neglicenciados pelas sociedades industriais em favor do

avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico.

Ainda Walton, apud Fernandes (1996),37 propõe oito categorias

conceituais, incluindo critérios de QVT.

1. Compensação Justa e Adequada busca-se a obtenção de remuneração

adequada pelo trabalho realizado, assim como o respeito à eqüidade

interna (comparação com outros colegas) e à eqüidade externa (mercado

de trabalho).

2. Condições de Trabalho mede-se as condições prevalecentes no ambiente

de trabalho. Envolve a jornada e carga de Trabalho, materiais e

equipamentos disponibilizados para a execução das tarefas e ambiente

saudável (preservação da saúde do trabalhador). Ou seja, esse tópico

analisa as condições reais oferecidas ao empregado para a consecução

das suas tarefas.

3. Fator Uso e Desenvolvimento de Capacidades implica o aproveitamento do

talento humano, ou capital intelectual, como está em voga atualmente. É

36 RODRIGUES, Marcus V. C. Qualidade de Vida no Trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. 37 FERNANDES, Eda. Qualidade de Vida no Trabalho: como medir para melhorar. Salvador: Casa da Qualidade Editora Ltda., 1996.

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forçoso, portanto, reconhecer a necessidade de concessão de autonomia

(empowerment), incentivo à utilização da capacidade plena de cada

indivíduo no desempenho de suas funções e feedbacks constantes acerca

dos resultados obtidos no trabalho e do processo como um todo.

4. Oportunidade de Crescimento e Segurança abarca as políticas da

instituição no que concerne ao desenvolvimento, crescimento e segurança

de seus empregados, ou seja, possibilidade de carreira, crescimento

pessoal e segurança no emprego. Neste fator pode-se observar, através

das ações implementadas pelas empresas, o quanto a prática empresarial

está de fato sintonizada com o respeito e a valorização dos empregados.

5. Integração Social na Organização essencialmente pode-se efetivamente

observar se há igualdade de oportunidades, independente da orientação

sexual, classe social, idade e outras formas de discriminação, bem como

se há o cultivo ao bom relacionamento.

6. O Constitucionalismo mede o grau em que os direitos do empregado são

cumpridos na instituição. Implica o respeito aos direitos trabalhistas, à

privacidade pessoal (praticamente inexistente no mundo empresarial

moderno), à liberdade de expressão (altamente em cheque, tendo-se em

vista as enormes dificuldades de trabalho com registro em carteira).

7. No fator Trabalho e o Espaço Total da Vida deveríamos encontrar o

equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.

8. Relevância do Trabalho na Vida investiga-se a percepção do empregado

em relação à imagem da empresa, à responsabilidade social da instituição

na comunidade, à qualidade dos produtos e à prestação dos serviços.

Felizmente, esses aspectos vêm tendo significativos avanços no campo

empresarial.

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CONCLUSÃO

A busca pela qualidade total antes voltada apenas para o aspecto

organizacional, já volta sua atenção para a qualidade de vida no trabalho,

buscando uma participação maior por parte dos funcionários; descentralização de

decisões; ambiente físico seguro e confortável; oportunidade de crescimento e

desenvolvimento pessoal.

É possível motivar o trabalhador, criando um ambiente de participação,

de integração com superiores, com colegas de trabalho, partindo sempre da

compreensão das necessidades dos empregados. A gerência ou o líder mais

próximo tem a responsabilidade de criar um ambiente onde às pessoas possam

se sentir bem. Elas também precisam saber o que a administração espera que

eles produzam e de que maneira. A gerência ou líder mais próximo precisa estar

sempre demonstrando que as pessoas têm um papel importante na organização e

que outras pessoas contam com elas

A literatura aponta que a valorização das pessoas é o ingrediente

principal para tornar as empresas mais humanizadas e propiciar condições para

uma melhor QV do ser humano, buscando o aperfeiçoamento, compreendendo

mais o outro, enfim realmente realizar um trabalho em equipe.

Priorizar o viver com qualidade e ter consciência da rapidez com que a

vida passa são atitudes que nos estimulam a buscar, a cada dia, mecanismos

para a melhor convivência no trabalho, estabelecimento de novas relações de

poder, centradas não apenas na hierarquia, mas no poder pessoal de criar,

contribuir, somar, compartilhar, cooperar e poder ver que a QVT é uma

articulação plenamente possível através de modelos de gestão voltada para as

pessoas.

Se for nas organizações que passamos a maior parte de nossas vidas,

natural seria que as transformássemos em lugares mais aprazíveis e saudáveis

para a execução do nosso trabalho. Locais onde pudéssemos, de fato, passar

algumas horas vivendo, criando e realizando plenamente – com qualidade de

vida, satisfação e alegria.

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REFERENCIAS

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