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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO ESTADO DE SÃO PAULO. RUI GOETHE DA COSTA FALCÃO, brasileiro, casado, advogado, inscrito no RG/SSP-SP sob o n° 3.171.369-X e no CPF/MF sob n° 614.646.868-15, residente e domiciliado na Rua Virgilio de Carvalho Pinto, nº 557 - Apto. 201, CEP 05415-030, no município de São Paulo, Estado de São Paulo, por seus advogados que esta subscrevem (procuração em anexo), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor QUEIXA-CRIME , com fulcro nos artigos 138 e 139 do Código Penal, contra AMAURY MARTINS RIBEIRO JÚNIOR, brasileiro, separado judicialmente, jornalista, inscrito no RG/SSP-MG sob o nº 7.976.320, com endereço profissional na Rua do Bosque, nº 1393, CEP 01136-001, no município de São Paulo, Estado de São Paulo, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

Queixa Crime de Rui Falcão contra Amaury Ribeiro Junior

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Page 1: Queixa Crime de Rui Falcão contra Amaury Ribeiro Junior

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO –

ESTADO DE SÃO PAULO.

RUI GOETHE DA COSTA FALCÃO, brasileiro,

casado, advogado, inscrito no RG/SSP-SP sob o n° 3.171.369-X e no CPF/MF sob

n° 614.646.868-15, residente e domiciliado na Rua Virgilio de Carvalho Pinto, nº

557 - Apto. 201, CEP 05415-030, no município de São Paulo, Estado de São Paulo,

por seus advogados que esta subscrevem (procuração em anexo), vem,

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor QUEIXA-CRIME , com

fulcro nos artigos 138 e 139 do Código Penal, contra AMAURY MARTINS

RIBEIRO JÚNIOR, brasileiro, separado judicialmente, jornalista, inscrito no

RG/SSP-MG sob o nº 7.976.320, com endereço profissional na Rua do Bosque, nº

1393, CEP 01136-001, no município de São Paulo, Estado de São Paulo, pelos

motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

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I – DOS FATOS.

O Querelante, vice-presidente nacional do Partido dos

Trabalhadores, foi reeleito Deputado Estadual no Estado de São Paulo pelo Partido

dos Trabalhadores foi um dos principais coordenadores da campanha presidencial

da então candidata Dilma Rousseff.

Consoante notoriamente apresentado pela grande mídia

brasileira, o Autor foi citado em diversas matérias jornalísticas, as quais

destacavam o depoimento do jornalista Amaury Martins Ribeiro Júnior, ora

Querelado, cujo trecho apontava o nome do Autor como responsável pela

violação de dados existente no seu notebook, mais especificamente dados fiscais

sigilosos de pessoas ligadas a um partido adversário, conforme documentos anexos.

Nesse sentido urge transcrever o referido trecho do

depoimento pessoal prestado pelo Querelado em 15 de outubro de 2010 e constante

às fls. 650 dos autos do Inquérito Policial nº 839/2010 SR/DPF/DF (doc. 10):

(...)

“Que: o declarante deseja registrar que nunca entregou tal

material a qualquer pessoa e acredita, com veemência, que o mesmo foi copiado de seu notebook,

quando ocupava um apartamento do hotel – apart hotel Meliá Brasilia, de propriedade de Jorge,

cujo sobrenome se recorda, mas esclarece ser o responsável pela administração dos gastos da casa do

Lago Sul e da campanha de Dilma Roussef; Que: afirma ter certeza que tal material foi copiado

por Rui Falcão, pois somente ele tinha a chave do citado apartamento, pois já havia residido no

mesmo, tendo o declarante verificado que o nome de Rui Falcão constava da portaria do hotel

com sendo o ocupante daquela unidade” (...)

Neste desiderato, insta observar que a maioria dos

veículos de comunicação em massa tiveram acesso aos dados tidos como sigilosos

extraídos do Inquérito Policial nº ILP 839/2010 SR/DPF/DF (docs. 10, 11 e 12),

sendo que a mesma oportunidade não foi conferida ao Autor, quando este tentou,

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de modo infrutífero, consultar os autos, por meio, inclusive, de ingresso de

Mandado Segurança no qual não lhe foi conferido o direito de vista dos autos.

Aliás, o Querelante somente teve acesso ao depoimento

do Querelado através do site “Folha.com” (doc. 9), o qual estranhamente obteve na

íntegra o referido depoimento que constava no citado inquérito policial

supostamente sigiloso.

Pois bem.

Ocorre que o Querelado ao afirmar em seu depoimento

que tem “certeza” que o Autor copiou dados do seu notebook sem a devida

autorização, violando-lhe o sigilo de dados e do apartamento em que se hospedava,

e lastreado apenas em meras suposições solitárias de qualquer prova documental ou

testemunhal que pudesse comprová-las, pratica o ato delituoso previsto no artigo

138 do Código Penal, haja vista imputar-lhe falsamente a prática de fatos definidos

como criminosos.

Em outras palavras, nota-se que o Querelado com o seu

depoimento calunia e difama a pessoa particular e pública do Autor, consoante os

tipos penais dispostos nos artigos 138, caput, e 139, caput, ambos do Código Penal:

“Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato

definido como crime: (...)”

“Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua

reputação: (...)”

Aliás, o Querelado afirma a prática de conduta

criminosa pelo Querelante simplesmente justificando-a pelo fato do Autor

supostamente ter residido em ocasião pretérita no apartamento ocupado à época

pelo Querelado, o que não restou comprovado. Também, justifica o Querelado suas

acusações levianas afirmando que hipoteticamente teria o Autor a chave do

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apartamento pelo fato dele supostamente ter residido no apartamento em ocasião

pretérita, mas não prova o alegado e, tampouco, discrimina o período em que o

Autor teria ocupado o aludido apartamento.

Aliás, cumpre notar que o Querelado, ao acusar o

Querelante de entrar no quarto do hotel em que estava hospedado sem a devida

autorização, também lhe imputa o crime de violação de domicílio, previsto no artigo

150 do Código Penal.

Sobre o tema, cumpre observar a anotação do Prof.

Nelson Nery Junior a seguir transcrita1:

“XI: 19. Inviolabilidade de domicílio. O direito fundamental da

inviolabilidade de domicílio tem titular tanto a pessoa física do

brasileiro ou estrangeiro residente no País...como a pessoa

jurídica..., porque as garantias fundamentais estendem-se também

para as pessoas jurídicas. Ao mencionar casa, ao invés de

domicílio ou edifício, a norma constitucional ampliou o objeto da

proteção, que atinge o lugar onde a pessoa física ou jurídica se

encontra, habite ou instale...., cuja intimidade e privacidade devem

ser respeitadas. Assim são objeto de proteção: a casa física; a casa

móvel (trailer, barco etc.); a casa de campo, de veraneio, de caça,

de inverno; o lugar de trabalho; o quarto de hotel onde encontra

hospedada a pessoa. A proibição de violação de domicílio dirige-

se às autoridades públicas e também aos particulares....Aquele que

invade domicílio de outrem sem autorização pode cometer o

crime de violação de domicílio (CP 150)”

Como se não fosse suficiente, afirmou o Querelado em

seu depoimento que supostamente constaria na portaria do hotel o nome do Autor

como ocupante pretérito do apartamento, mas não discrimina as datas e períodos de

ocupação.

1 NERY JUNIOR, Nelson. Constituição Federal comentada e legislação constitucional. 2ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. Pág. 176.

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De qualquer forma, urge sublinhar que o Querelante,

em função do importante papel que exerce no cenário político atual e pelo fato de

ter sido um dos principais coordenadores da campanha presidencial da então

candidata Dilma Roussef, teve que ir diversas vezes para Brasília, assim como

fizeram e fazem outros membros do comitê político e de outros partidos.

Para exemplificar o alegado urge destacar a manchete

publicada pelo site de notícias Jogo do Poder, intitulada “CONTRATADO

PARA ESPIONAR: AMAURY JR DIZ QUE RUI FALCÃO,

COORDENADOR DE CAMPANHA DA DILMA, FOI QUEM FURTOU

DADOS DO LAPTOP” (doc.), bem como notícia publicada pelo periódico o

Estado de S.Paulo, na qual se destaca o seguinte trecho: Jornalista acusa

coordenador de Dilma – Em depoimento à Polícia Federal, Amaury Ribeiro

Jr. afirmou que Rui Falcão ‘copiou’ o conteúdo de sua investigação contra os

tucanos, então armazenado num computador pessoal que estava um flat

pago pelo próprio PT para ele se hospedar em Brasília.

Cumpre notar que o Querelado em nenhum momento

procurou os meios de comunicação em massa para se retratar perante o Querelante

e a opinião pública ou sequer desmentir as manchetes que acusaram o Autor da

prática do crime de furto, o que deixa claro o dolo do Querelado em caluniar e

difamar a pessoa pública e privada do Autor ao imputar-lhe a prática de crimes sem

qualquer prova que pudesse lastrear suas acusações.

Não obstante, o Querelado exerce a profissão de

jornalista e certamente detém conhecimento dos danos que uma reportagem

mentirosa e com nítido caráter calunioso e difamatório causam à honorabilidade de

qualquer indivíduo, principalmente se exerce cargo público e possui longa carreira

política, como é o caso do Querelante.

Assim, figura-se totalmente cabível e necessário o

ajuizamento da presente queixa-crime, para que ocorra o seguimento da persecução

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penal, com a devida condenação do Querelado, nas penas incursas nos artigos 138 e

139 combinados com a causa de aumento de pena prevista no inciso III do artigo

141, todos do Código Penal.

Cumpre frisar, que a legitimidade ativa resta

amplamente verificada no presente caso, tendo em vista que o depoimento do

Querelado em comento faz alusão ofensiva direta à pessoa do Autor, sendo que

as reportagens publicadas na grande mídia impressa e eletrônica relacionam

diretamente a imagem do Querelante à acusação fantasiosa e não comprovada

de cópia ilegal de dados fiscais existentes no notebook do Querelado através

violação do quarto do hotel em que se hospedava, induzindo, de pronto, o

receptor da mensagem a interligar lógica e dedutivamente a prática de atos

criminosos à pessoa do Autor, mais especificamente, os crimes de furto de dado

com a violação de dados e de domicílio do Querelado.

É importante frisar, desde logo, que o fato do Autor ser

pessoa pública, em razão do cargo que ocupa, não lhe subtrai, em absoluto, a

legitimidade para postular a condenação criminal sobre os danos ocasionados pela

divulgação do depoimento pessoal em comento feito pelo Querelado, no qual acusa

o Autor da prática de fato criminoso.

Quanto à legitimidade passiva, essa resta evidente

diante do depoimento prestado pelo Querelado nos autos do Inquérito Policial nº

839/2010 SR/DPF/DF ao afirmar que tem “certeza” que o Autor violou o sigilo

de dados do seu notebook ao copiar dados fiscais sem a devida autorização e de forma

escusa.

Ante o exposto, por estar o Querelado incurso nas

penas previstas no artigo 138 do Código Penal, por apontar o Querelante como

autor do delito de furto art. 155 do Código Penal e violação de domicílio 150 do

Código Penal e o delito de difamação previsto no artigo 139 do Código Penal ao

apontar o Querelante como responsável pelo vazamento de dados sigilosos

referente a um dossiê confeccionado contra o candidato José Serra, ambos

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combinados com o inciso III e IV do artigo 141 do Código Penal, uma vez que os

fatos caluniosos foram divulgados pela imprensa escrita, digital e televisiva e o

Querelante constava à época dos fatos com 67 (sessenta e sete anos completos).

Em face do exposto é proposta a presente Queixa-

crime, requerendo-se a Vossa Excelência a adoção do rito e as providências

previstas nos artigos 519 e seguintes do Código de Processo Penal, seguindo a

citação do Querelado para responder aos termos da Ação Penal, marcando o

competente interrogatório e dando prosseguimento no feito, a qual deverá ser

julgada procedente, condenando-o nas penas previstas nos dispositivos legais em

debate.

Requer-se a produção de todas as provas em direito

admitidas, especialmente a inquirição das testemunhas cujo rol segue anexo, as quais

deverão ser devidamente intimadas; a juntada de novos documentos e, caso

necessário, a realização de prova pericial.

Requer-se a intimação do sodalício ministerial, em

consonância com o disposto no artigo 45 do CPP.

Rol de testemunha:

1) Marco Antonio Costenaro Fogazza de Almeida,

brasileiro, divorciado, funcionário público, portador

da cédula de identidade RG n.º 15584652-8,

residente e domiciliado na Alameda Barro, 186, AP

1302, São Paulo – SP, CEP: 01232-000;

2) Ivo Gonçalves de Carvalho, brasileiro, solteiro,

funcionário público, portador da cédula de

identidade RG n.º 8216087-9, residente e

domiciliado na Rua Eugênio Bettarello, n.º 55 ap

193-A, São Paulo – SP, CEP: 05616-090;

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3) Rosangela da Silva Lima, brasileira, solteira,

arquiteta, portadora da cédula de identidade RG n.º

16.117.723-2, residente e domiciliada na Rua Vilela,

n.º 805, apto 38, São Paulo – SP, CEP: 03314-000.

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, 7 de abril de 2011.

Antonio Carlos Alves Pinto Serrano

OAB/SP – 191.481