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Quem é o jovem da Classe C e como ele mudará a forma de consumir Projeto Riologia lança pesquisa “CDFs – Construtores do Futuro” e traça o perfil de pessoas que trocaram o consumo imediato por bens duráveis e não- duráveis por educação Por Isa Sousa, do Mundo do Marketing | 19/07/2012 [email protected] A evolução de consumo da Classe C despertou sonhos antes impossíveis. A principal mudança no padrão de comportamento está no perfil do jovem brasileiro: se antes o sonho era o tênis ou a roupa da moda, hoje a educação é vista como uma moeda capaz de bancar o desejo de um futuro melhor. Diferenciando-se da massa que forma a nova classe média, os jovens começaram a revolucionar as formas de consumir e devem mudá-las ainda mais. O perfil desse novo consumidor foi traçado por meio do projeto Riologia, no estudo “CDFs – Construtores do Futuro”, coordenado pela Agência Quê e pela Casa 7 Núcleo de Pesquisa, que juntas estão traçando personalidades do carioca. Representada por 54% da população brasileira, no Rio de Janeiro, a Classe C possui 79% de jovens entre 24 e 38 anos engajados em mudar o futuro. Enquanto boa parte dessa classe se preocupa com o consumo de bens duráveis e não-duráveis, e nesse ponto encontram marcas prontas para atenderem suas vontades, o jovem se compromete a gastar pensando no futuro. “É como se a massa estivesse olhando para o presente e os CDFs para o amanhã. Eles têm menos propensão para o endividamento e as decisões são mais precisas. A maneira como constroem a relação de compra também é diferente”, afirma Adriana Hack, Diretora Geral da Casa 7 Núcleo de Pesquisa, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Quem é o jovem da Classe C e

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Quem é o jovem da Classe C e como ele mudará a forma de consumirProjeto Riologia lança pesquisa “CDFs – Construtores do Futuro” e traça o perfil de pessoas que trocaram o consumo imediato por bens duráveis e não-duráveis por educação

Por Isa Sousa, do Mundo do Marketing | 19/07/[email protected]

A evolução de consumo da Classe C despertou sonhos antes impossíveis. A principal mudança no padrão de comportamento está no perfil do jovem brasileiro: se antes o sonho era o tênis ou a roupa da moda, hoje a educação é vista como uma moeda capaz de bancar o desejo de um futuro melhor. Diferenciando-se da massa que forma a nova classe média, os jovens começaram a revolucionar as formas de consumir e devem mudá-las ainda mais. O perfil desse novo consumidor foi traçado por meio do projeto Riologia, no estudo “CDFs – Construtores do Futuro”, coordenado pela Agência Quê e pela Casa 7 Núcleo de Pesquisa, que juntas estão traçando personalidades do carioca. Representada por 54% da população brasileira, no Rio de Janeiro, a Classe C possui 79% de jovens entre 24 e 38 anos engajados em mudar o futuro. Enquanto boa parte dessa classe se preocupa com o consumo de bens duráveis e não-duráveis, e nesse ponto encontram marcas prontas para atenderem suas vontades, o jovem se compromete a gastar pensando no futuro. “É como se a massa estivesse olhando para o presente e os CDFs para o amanhã. Eles têm menos propensão para o endividamento e as decisões são mais precisas. A maneira como constroem a relação de compra também é diferente”, afirma Adriana Hack, Diretora Geral da Casa 7 Núcleo de Pesquisa, em entrevista ao Mundo do Marketing. 

Educação como saídaUm dos fatores responsáveis pela mudança no perfil e engajamento dos jovens está relacionado à banda larga. De acordo com a pesquisa, a possibilidade de acesso à internet e,

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por consequência, às redes sociais gerou oportunidades de informação e comunicação. Ao se atualizarem, eles descobriram que outro mundo é possível e só pode ser construído agora. Diferente da maior parte da Classe C, o jovem CDF tem a consciência de que a formação universitária é uma facilitadora para a entrada no mercado de trabalho e um fator de incentivo para aprimorar o conhecimento, seja por meio de cursos de pós-graduação ou de extensão. Hoje, 17% deles fazem faculdade e 49% desejam cursar alguma nos próximos anos. Além disso, 93% acreditam que o esforço feito no dia a dia garantirá um futuro melhor. “Essas pessoas se destacam com uma possibilidade enorme de programar o futuro. Obstinados, disciplinados, focados, batalhadores e ocupados eles têm características muito diferentes da outra parte da Classe C. Eles usam todas as possibilidades que têm para investir neles mesmos”, avalia Tatiana Soter, Diretora de Planejamento e Atendimento da Agência Quê, em entrevista ao portal. Outro ponto que determina os pés no chão é a escolha racional e prática da faculdade: 44% valorizam a proximidade geográfica, 43% o valor da mensalidade e 39% o curso oferecido. Na hora de escolherem o que estudar, 75% definem a carreira não pela vocação, mas pelas oportunidades no futuro. Para 30% a área que escolhem é a que já estão trabalhando e o curso mais em voga é Administração, com índice de 14%. 

Futuro sustentávelAinda que a definição do novo jovem da Classe C seja específica, o futuro dos CDFs mudará o consumo do brasileiro de forma geral. Segundo o estudo Riologia, a capacidade de transformação ajuda na compreensão das relações que têm sido criadas. “Eles são o arquétipo do guerreiro brasileiro, a prova de que a condição social pode ser modificada e isso refletirá em todos nós”, afirma Adriana. A rotina extenuante de aliar trabalho, criação dos filhos e estudo faz com que esse jovem não seja estimulado para comprar por impulso. Pouco endividados, a base da pirâmide de consumo deles é formada prioritariamente por educação. A massa, por sua vez, prioriza gastos com eletrodomésticos e artigos para casa, justamente itens que são ofertados a cada olhada na TV ou caminhada pelas ruas. A longo prazo, a solidez na maneira de consumir encontrará lugar ao lado dos jovens. Ao assumirem compromissos, eles agem de forma mais segura e sustentável, querendo garantir que terão uma vida melhor que a de seus pais. Tanto é que grande parte dessas pessoas são as primeiras da família a entrarem em uma faculdade.

“A princípio rejeitados por alcançarem um posto nunca antes visto entre os familiares, logo eles se tornam mais admirados e exemplos a seguir. Em breve, os CDFs cruzarão as fronteiras da classe média e vão consumir bastante, mas de forma muito particular. Eles consumirão o que tem a ver com eles, com seu estilo, valorizando o que é essencial para sua língua. Certamente são passos a serem refletidos e seguidos”, pontua Tatiana.

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 De repente a chamada classe média tornou-se fruto da atenção de todos. Como aquela vizinha nova que acaba de se mudar, que pouco sabe-se a seu respeito, mas que muitos desejam.

   Uma reportagem interessante saiu no caderno Ilustríssima, no jornal folha de São Paulo neste domingo, intitulada: A menina dos olhos. A reportagem buscou traçar alguns aspectos dessa classe cada vez mais ascendente e influente no nosso país, correspondendo hoje a cerca de 54% da população.

   A questão é que pouco se sabe sobre essa classe e os dados que aliam o aumento do poder de ganho pode trazer algumas armadilhas. Nesse ponto Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), acredita que "definir a classe média a partir da renda é uma deturpação dos conceitos sociológicos". O setor de serviços é o grande contratador e a maioria dos empregados ganham em média um salário e meio. Para Pochmann, uma classe média pode ser definida quando "as pessoas estão em carreiras em que o aumento da escolaridade aumenta também a renda".

    A preocupação é que o  aumento do consumo ocorre, em minha opinião, com o crescente endividamento da população. Isso porque o volume de vendas acontece quando o crédito facilitado por bancos, empresas de cartões de créditos e financiadoras de empréstimos.

     A exemplo do que está acontecendo na Europa e nos E.U.A, a pergunta que fica é: quando é que essa bolha vai estourar?

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Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar

Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.

Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.

Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.

(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)

A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.

A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.

Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.

As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.

De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.

E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.

Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?

E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.

Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)

O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.

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Leandro Machado