6
TESTE DE DIAGNÓSTICO Grupo I A Texto A Lê atentamente o seguinte texto. Quem salta do inferno cai no teto do céu 5 10 15 20 25 O meu avô dizia-me muitas vezes que um homem sem amigos não é nada. Pode ter tudo na vida, garantia ele, dinheiro, casas, mulher, filhos, saúde (e continuava a lista) mas se não tiver amigos é um infeliz. Eu olhava o meu avô sem acreditar porque as pessoas crescidas são tão ignorantes e com tanta falta de sentido das coisas essenciais […]. Mesmo que não tivesse mais ninguém tinha Flash Gordon, Mandrake, Tintim, Batman, que me pareciam muito melhores que os sujeitos que com ele privavam […] e quase todos com a mesma pergunta – Que idade tens tu já? impressionados, com um suspiro de inveja, pelos meus oito anos, de que se esqueciam logo a seguir […]. Além disso os amigos do meu avô casaram com senhoras que cheiravam imenso a perfume, me enchiam as bochechas de baton peganhento e se queixavam das costas. E, cúmulo dos cúmulos, achavam-me amoroso, adjetivo que não me passaria pela cabeça aplicar a Batman. […] Queria que me admirassem, não queria ser beijobicado […]. Haviam de admirar-me 30 35 40 45 50 – O pequeno é extraordinário e o meu parecer tornar-se decisivo acerca do problema fundamental da abolição da sopa e da troca da açorda por arroz-doce, […] pataniscas de bacalhau com arroz-doce é de certeza melhor que pataniscas de baca- lhau com açorda […]: a revolução social vai de par com o progresso culinário. […] Meu Deus como a existência de um miúdo é um inferno de incompreensão por parte da famí- lia. Daí pensar que saltando desse inferno, num pulo de Homem-Aranha, caía no teto do céu, repleto de chocolates de leite com amêndoas […], sem cópias, sem ditados, sem afluentes da margem esquerda do Tejo e outros conhecimentos inúteis […]. Nasci para voos e perseguições, não para responder a perguntas distraídas – Que idade tens tu já? […] – É uma sorte não os evaporar da pol- trona com um estalinho dos dedos/passar de Mandrake a Tarzan e percorrer o corredor de liana a liana, com uma macaca no ombro, a fim de rapar o tacho de doce de coco com o indicador vagaroso, se não fosse, ai de mim, ter tanto medo do escuro. António Lobo Antunes, Visão, 22 de janeiro de 2009. 1. Apresenta três traços caracterizadores da personagem principal do texto, justificando a tua resposta com elementos textuais. 2. Explicita a ligação entre essa personagem e os heróis que menciona. 3. Relaciona a última frase («[…] se não fosse, ai de mim, ter tanto medo do escuro», ll. 51-52) com o conteúdo global do texto. 1

Quem salta do inferno cai no teto do céu - nlstore.leya.comnlstore.leya.com/texto/newsletters/2016/email_texto16/images/... · TESTE DE DIAGNÓSTICO Grupo I . A . Texto A . Lê atentamente

Embed Size (px)

Citation preview

TESTE DE DIAGNÓSTICO

Grupo I

A

Texto A

Lê atentamente o seguinte texto.

Quem salta do inferno cai no teto do céu

5

10

15

20

25

O meu avô dizia-me muitas vezes que um homem sem amigos não é nada. Pode ter tudo na vida, garantia ele, dinheiro, casas, mulher, filhos, saúde

(e continuava a lista) mas se não tiver amigos é um infeliz. Eu

olhava o meu avô sem acreditar porque as pessoas crescidas são tão ignorantes e com tanta falta de sentido das coisas essenciais […]. Mesmo que não tivesse mais ninguém tinha Flash Gordon, Mandrake, Tintim, Batman, que me pareciam muito melhores que os sujeitos que com ele privavam […] e quase todos com a mesma pergunta

– Que idade tens tu já? impressionados, com um suspiro de inveja,

pelos meus oito anos, de que se esqueciam logo a seguir […]. Além disso os amigos do meu avô casaram com senhoras que cheiravam imenso a perfume, me enchiam as bochechas de baton peganhento e se queixavam das costas. E, cúmulo dos cúmulos, achavam-me amoroso, adjetivo que não me passaria pela cabeça aplicar a Batman. […] Queria que me admirassem, não queria ser beijobicado […]. Haviam de admirar-me

30

35

40

45

50

– O pequeno é extraordinário e o meu parecer tornar-se decisivo acerca

do problema fundamental da abolição da sopa e da troca da açorda por arroz-doce, […] pataniscas de bacalhau com arroz-doce é de certeza melhor que pataniscas de baca-lhau com açorda […]: a revolução social vai de par com o progresso culinário. […] Meu Deus como a existência de um miúdo é um inferno de incompreensão por parte da famí-lia. Daí pensar que saltando desse inferno, num pulo de Homem-Aranha, caía no teto do céu, repleto de chocolates de leite com amêndoas […], sem cópias, sem ditados, sem afluentes da margem esquerda do Tejo e outros conhecimentos inúteis […].

Nasci para voos e perseguições, não para responder a perguntas distraídas

– Que idade tens tu já? […] – É uma sorte não os evaporar da pol-

trona com um estalinho dos dedos/passar de Mandrake a Tarzan e percorrer o corredor de liana a liana, com uma macaca no ombro, a fim de rapar o tacho de doce de coco com o indicador vagaroso, se não fosse, ai de mim, ter tanto medo do escuro.

António Lobo Antunes, Visão, 22 de janeiro de 2009.

1. Apresenta três traços caracterizadores da personagem principal do texto, justificando a tua resposta com elementos textuais.

2. Explicita a ligação entre essa personagem e os heróis que menciona.

3. Relaciona a última frase («[…] se não fosse, ai de mim, ter tanto medo do escuro», ll. 51-52) com o conteúdo global do texto.

1

TESTE DE DIAGNÓSTICO

Texto A

Lê atentamente o seguinte texto.

Ser ou não ser ator

5

10

15

20

25

30

Com Birdman, o cinema volta a apostar na exploração das formas de coexistência e contaminação entre a vida e a representação (teatral) – o filme de Alejandro González Iñárritu centra-se numa notável inter-pretação de Michael Keaton.

Não são muitos os filmes que, ao longo da história do cinema, apostaram em construir uma ação cuja duração coincida com o tempo de projeção do próprio filme – obviamente, A Corda (1948), de Alfred Hitch-cock, surge de imediato como um notável exemplo. No caso de Birdman, de Alejandro González Iñárritu, passa-se algo de seme-lhante – assistimos às atribulações de um grupo teatral, liderado pelo ator inter-pretado por Michael Keaton, preparando a estreia de uma peça baseada num texto de Raymond Carver.

Só que, desta vez, a duração não é linear como era no filme de Hitchcock (em que os cerca de 80 minutos de projeção correspon-diam a uma ação dos mesmos 80 minutos). Agora, é verdade que seguimos Keaton numa odisseia que é também um estranho e perturbante processo de revelação e, no limite, de autodescoberta. Mas acontece também que a transparência da ação se encontra, por assim dizer, «interrompida» pela emergência de fatores mais ou menos fantásticos ou oníricos.

Não há, de facto, muitas experiências que, hoje em dia, utilizem os recursos mais

35

40

45

50

55

60

sofisticados do cinema para criar uma ambiência deste género: por um lado, Iñárritu parte, como é óbvio, de um misto de paixão e admiração pelo trabalho especí-fico dos atores; por outro lado, o que está em jogo é o modo como esse trabalho funciona como mistura insólita do «viver» e do «representar» – sem esquecer, claro, que o Birdman que assom-bra a personagem central (um super-herói que o ator inter-pretou em tempos mais gloriosos da sua carreira) faz lembrar o facto de o próprio Keaton ter sido Batman, sob a direção de Tim Burton (em 1989 e 1992, respetiva-mente em Batman e Batman Regressa).

Birdman consegue uma envolvência muito especial com o espectador porque, em última instância, se trata de um filme primorosamente representado. Para além de Keaton, as participações de Emma Stone, Naomi Watts, Zach Galifianakis e Edward Norton são brilhantes, (re)afirmando as possi-bilidades de um cinema que, sem qualquer preconceito em relação às suas componentes técnicas, apresenta como valor fundamental a complexidade de cada personagem. Dito de outro modo: a sua humanidade.

João Lopes, 12 de janeiro de 2015 (disponível em www.rtp.pt/cinemax,

consultado em maio de 2015).

4. Identifica o género do texto que acabaste de ler, fundamentando a tua opção com três marcas características desse discurso.

5. Relaciona o título e a imagem do cartaz do filme com o conteúdo do texto.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro

González Iñárritu, 2014.

2

TESTE DE DIAGNÓSTICO

Grupo II

A

Um fantasma, numa cidade em festa

Cartaz do 35.º Festival Internacional de Cinema do Porto, 2015.

5

10

15

20

A European Consumers Choice consi-derou, de novo, a cidade do Porto uma belíssima cidade barroca, capital do norte de Portugal, o «Melhor Destino Turístico da Europa», que recebe há 36 anos um dos festivais de cinema mais prestigiados a nível europeu, senão mundial. São dez dias de festa para o mundo do cinema, em que produtores, realizadores, atores, atrizes, dis-tribuidores e (muito) público se fundem num programa multifacetado, com uma tónica de género, o Fantástico. Não é surpreendente que a par de um filme de terror seja exibido um drama intimista, um documentário, um filme de autor ou até uma obra experimental. […] Cerca de 50 países por ano estão repre-sentados, num total de 200 a 250 entre curtas e longas-metragens e todos eles inéditos em Portugal. Conferências, debates, Questions & Answers, um congresso dedi-cado ao cinema nas escolas e à criação do gosto cultural, bem como apresentações de livros e exposições de artes plásticas, várias artes estão assim presentes neste evento

25

30

35

40

45

multifacetado. Nomes grandes do cinema têm passado pelo Porto. São anualmente cerca de 200 convidados e para referir alguns desses nomes podemos falar de Max von Sydow, Guillermo del Toro, Wim Wenders, John Hurt, Rosana Arquette, Danny Boyle, Bem Kingsley, Paul Schrader – têm vindo ao Porto apresentar os seus filmes, alguns deles mesmo em antestreia mundial. A programação, que incorpora sempre produções em antestreia mundial e europeia, faz vir ao Porto dezenas de jornalistas e distribuidores estrangeiros, desejosos de aí poderem ver em «primeira mão» os filmes que ainda vão entrar no circuito comercial. Em paralelo, realiza-se também um míni mercado do filme, as industry screenings, que são um meio de ligação à indústria do cinema.

O Festival Internacional de Cinema do Porto, vulgo Fantasporto, foi fundado em 1981. O Porto tem os braços abertos para si. Seja bem-vindo ao mundo das artes, ao mundo do cinema.

Disponível em www.fantasporto.com (consultado em junho de 2015).

3

TESTE DE DIAGNÓSTICO

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que te permite obter uma afirmação correta.

1.1 Na frase «A European Consumers Choice considerou, de novo, a cidade do Porto […] o “Melhor Destino Turístico da Europa”» (ll. 1-5), o elemento destacado desempenha a função sintática de

(A) complemento direto. (B) complemento oblíquo. (C) predicativo do complemento direto. (D) complemento agente da passiva.

1.2 Na frase «Não é surpreendente que a par de um filme de terror seja exibido um drama intimista» (ll. 12-14), o elemento destacado desempenha a função sintática de

(A) complemento do nome. (B) modificador restritivo do nome. (C) modificador apositivo do nome. (D) complemento do adjetivo.

1.3 Os elementos destacados no segmento «apresentações de livros e exposições de artes plásticas» (ll. 22-23) desempenham a função sintática de

(A) modificador apositivo do nome. (B) modificador restritivo do nome. (C) complemento do nome. (D) complemento do adjetivo.

1.4 Na frase «aí poderem ver em “primeira mão” os filmes que ainda vão entrar no circuito comercial» (ll. 38-40), a oração destacada é uma

(A) subordinada adjetiva relativa restritiva. (B) subordinada adjetiva relativa explicativa. (C) subordinada substantiva completiva. (D) subordinada adverbial temporal.

1.5 Na frase «as industry screenings, que são um meio de ligação à indústria do cinema» (ll. 41-43), a oração destacada é uma oração

(A) subordinada adjetiva relativa restritiva. (B) subordinada adjetiva relativa explicativa. (C) subordinada substantiva completiva. (D) subordinada adverbial causal.

2. Reescreve a seguinte frase, pronominalizando a expressão destacada.

«[…] têm vindo ao Porto apresentar os seus filmes […].» (ll. 32-33)

3. Classifica, quanto à subclasse, o verbo destacado na seguinte frase.

«Seja bem-vindo ao mundo das artes, ao mundo do cinema.» (ll. 47-48)

4. Constrói um campo lexical, apresentando dois vocábulos do domínio de «artes».

4

TESTE DE DIAGNÓSTICO

http://lusofonia.oseculo.pt (consultado em junho de 2015).

Grupo III

Atenta nas palavras de Manoel de Oliveira sobre cinema.

«Nenhuma arte simula a vida como o cinema. Todavia, não é uma vida. Também não é propriamente uma arte. Porque é uma acumulação, uma síntese de todas as artes. O cinema não existia sem a pintura, sem a literatura, sem a dança, sem a música, sem o som, sem a imagem, tudo isto é um conjunto de todas as artes, de todas sem exceção.»

Manoel de Oliveira, em entrevista a Ana Sousa Dias, revista Linha, encarte do semanário Expresso, Lisboa, 23 de maio de 2004, p. 68.

Num texto expositivo, de cento e vinte a cento e cinquenta palavras, reflete sobre esta definição de cinema. Segue a planificação apresentada.

Introdução: Definição de cinema apresentada por Manoel de Oliveira;

Desenvolvimento: Importância dos contributos de várias áreas para a sétima arte, com os respetivos exemplos;

Conclusão: Apresentação do teu ponto de vista, fundamentando-o.

No final, faz a revisão do teu texto. Verifica a construção das frases, a clareza do discurso, as repetições desnecessárias e a utilização dos conectores.

Grupo IV

Lê o seguinte pensamento:

«A minha pátria é a língua portuguesa.»*

Bernardo Soares, Livro do Desassossego.

Observa a imagem à direita. Elabora uma apresentação oral (cinco a sete minutos) em que exponhas o teu ponto de vista sobre a afirmação de Bernardo Soares, tendo em conta a imagem sobre o mundo lusófono. Os seguintes tópicos podem ajudar-te:

• interpretação da frase de Bernardo Soares;

• importância do português na atualidade;

• políticas de promoção da língua portuguesa;

• relação entre a frase do poeta e a imagem da lusofonia.

* Bernardo Soares, Livro do Desas-sossego (edição de Richard Zenith), 7.a edição, Porto, Assírio & Alvim, 2014, p. 229.

5

TESTE DE DIAGNÓSTICO

Grupo V

Escuta atentamente a canção «Às vezes», do grupo musical D.A.M.A, em versão «Escuto e observo erros de português», de Vasco Palmeirim para a Rádio Comercial (2015). Seleciona, para cada uma das questões abaixo apresentadas, a resposta que considerares mais correta, de acordo com o sentido da letra.

1. O «Dia da Língua Portuguesa» (A) celebra-se nesse dia. (C) celebrar-se-á no dia seguinte. (B) celebrou-se na véspera. (D) celebra-se todos os dias.

2. A presença do grupo musical D.A.M.A deve-se (A) à língua portuguesa ser a «dama» de Vasco Palmeirim. (B) a Vasco Palmeirim ser o cavaleiro dos D.A.M.A. (C) à edição de um novo trabalho do grupo. (D) ao Português andar a ser maltratado.

3. Considerando os erros apontados na canção, não se menciona o uso errado de (A) vírgula entre sujeito e predicado. (B) «estives-te» por «estiveste». (C) casos de hifenização. (D) vírgula entre predicado e complementos.

4. Considerando as dificuldades apontadas na canção, aquela que não é mencionada é (A) o uso de «quaisqueres» em vez de «quaisquer». (B) a dificuldade em distinguir «à» de «há». (C) o uso de «há des» em vez de «hás de». (D) a indistinção entre «por que» e «porque».

5. O refrão serve o propósito de (A) sublinhar o tratamento dado à língua portuguesa. (B) enfatizar o estado de espírito dos portugueses em relação ao erro. (C) desculpar os erros de gramática. (D) alertar as mães para os problemas de gramática.

D.A.M.A, com Vasco Palmeirim, no estúdio da Rádio Comercial, 2015.

6