Queremos Descobrir Por Que é Que o Tempo Está Sempre a Avançar e Nunca Recua

8/17/2019 Queremos Descobrir Por Que é Que o Tempo Está Sempre a Avançar e Nunca Recua

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“Queremos descobrir por que é que o

tempo está sempre a avançar e nunca

recua”

Ana Gerschenfeld

08/12/2014 - 08:30

A cosmóloga portuguesa Marina ort!s est" a tentar# em respecti$as cola%ora&'es comdois f(sicos de fama mundial# resol$er grandes pro%lemas da cosmologia e da f(sicafundamental) Mas tam%*m so%e montanhas alt(ssimas e salta de p"ra-+uedas)

Marina ort!s ,uno antos .erreira

m finais de etem%ro# foi pu%licado um artigo no conhecido repositório online de f(sicaari$)org) ,ele# os autores conclu(am +ue# se as ondas gra$itacionais primordiais os ecosda epanso do ni$erso logo após o ig ang# supostamente detectados em 2013 e desdeento postos em d5$ida # no forem apenas uma miragem 6o +ue * cada $e7 mais

pro$"$el# a sua eist!ncia iria le$antar outros pro%lemas teóricos igualmente delicados

so%re o nascimento do osmos) m dos tr!s autores desse teto# Marina ort!s# *in$estigadora do entro de Astronomia e Astrof(sica da ni$ersidade de 9is%oa e tra%alhaactualmente no eal ;%ser$atório de dim%urgo# no eino nido)

http://www.publico.pt/autor/ana-gerschenfeld

http://www.publico.pt/autor/ana-gerschenfeld



<uando tent"mos contactar com esta cientista acerca dos resultados +ue ela e os seuscolegas tinham aca%ado de pu%licar # rece%emos um singelo email de resposta autom"tica#+ue a+ui tradu7imos do ingl!s: =stou fora da >nternet 6a fa7er montanhismo no ?i%ete at*10 de ;utu%ro e# at* l"# no terei oportunidade de ler a sua mensagem) ,essa altura#responder-lhe-ei o mais depressa poss($el)@

omo a curiosidade só raramente mata o gato# fomos $er no Google +uem era Marina

ort!s e desco%rimos +ue# para mais# antes de se tornar astrof(sica e montanhista# tinhasido %ailarina cl"ssica profissional) .oi assim +ue# +uando passou por 9is%oa# de regressodos imalaias e a caminho de dim%urgo# fomos logo entre$ist"-la) om grande candura#falou-nos da sua $ida e do seu tra%alho)

O seu percurso de vida é bastante invulgar. Pode dar-nos alguns pormenores?

omecei aos de7 anos no onser$atório de dan&a e dancei profissionalmente at* aos 2B)Mas desde pe+uenina +ue tam%*m +ueria ser cientista) Gosta$a mais de ser %ailarina# mastam%*m sempre gostei de ci!ncia) studa$a no conser$atório# em 9is%oa# e# aos 1C anos#senti +ue precisa$a de um est(mulo um %ocadinho mais intelectual# para pensar)

; meu pai tinha em casa um li$ro# em +ue eu peguei por acaso# +ue era do arl agan e+ue se chama Contacto) eu# aos 1C anos# comecei a ler a+uilo e fi+uei mara$ilhada)

pensei: =e no puder ser %ailarina# $ou ser astrof(sica)@ Dri-seE .i+uei com este sonhosempre) Fepois desen$ol$i pro%lemas nos p*s# +ue me esta$am a o%rigar a faltar aespect"culos# e nessa altura# aos 2B# comecei a fa7er o curso de astronomia)

Mas como esta$a a dan&ar na olanda# ti$e de aprender holand!s Dri-seE) orreu tudo %em#gostei imenso do curso de f(sica) Adoro a minha "rea de tra%alho# gosto mesmo da "rea dacosmologia# do ni$erso primordial# da energia escura .i7 o doutoramento em usse#no eino nido# e um pós-doutoramento em erHeleI# na alifórnia)

Mas nessa altura# fi+uei um %ocadinho decepcionada) ?(nhamos muitos contactos com ogo$erno americano e eu fala$a muitas $e7es para pain*is de pol(ticos# a di7er +ue

precis"$amos de cinco milh'es de dólares para uma lente# para um telescópio Achei +uea ci!ncia# l"# era feita de forma muito desapaionada# muito ligada aos resultados e menosJ nature7a de fa7er in$estiga&o pelo pra7er)

Fa lembrar a !odie Foster" #ustamente no $ilme Contacto" quando tenta convencer o

governo para $inanciar o seu pro#ecto%

acto) ento# depois de aca%ar o pós-doutoramento# em 2012# decidi +ue ia tirar unsmeses fora) Kassei no$e meses na Lndia# a $iaar e a dar algumas palestras de di$ulga&ocient(fica) .oi nessa altura +ue conheci o ,epal e os imalaias) A(# decidi come&ar a fa7ermontanhismo mais fre+uentemente o +ue culminou agora na minha $iagem: su%i um picode 8000 metros# o ho-;Iu# no ?i%ete)

&ai tentar subir ao 'vereste?

om certe7a) N" estou a pensar em como * +ue $ou financiar a minha próima su%ida)

(a sua $am)lia" *á alguém que $omentou o seu gosto pela ci+ncia?

; meu pai * f(sico) Mas sinceramente# o mais importante * +ue tenho os melhores colegasdo mundo) ?ra%alho com 9ee molin Df(sico teórico do >nstituto Kerimeter# anad"E eAndreO 9iddle Dcosmólogo do ;%ser$atório de dim%urgo# scóciaE# em cuo la%oratório

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/provas-da-inflacao-inicial-do-universo-estao-por-um-fio-1670607





estou agora) ; AndreO * uma figura mundial da cosmologia) comecei a tra%alhar com o9ee numa "rea muito diferente# de f(sica fundamental) o duas pessoas +ue entendem# +ueapreciam o facto de eu procurar outras coisas para al*m da ci!ncia)

,ontinua a dançar?

ontinuo# sim) Mas para mim) .a&o-o por+ue o meu corpo pede# est" ha%ituado# gosta de

sentir os m5sculos a meer)

sua $ormaço de bailarina também a a#udou a subir aos /imalaias?

Acho +ue sim) ?enho pensado muito nsso) ;s %ailarinos precisam de ter muitaflei%ilidade# o +ue implica +ue temos tend'es maiores do +ue o resto das pessoas) +uando estou a su%ir# o meu tendo de A+uiles# +ue * o +ue d" mais for&a para o passoseguinte# fica completamente esticado e tenho ento toda a energia do p* para su%ir) Fefacto# para mim * mais f"cil su%ir um plano inclinado do +ue andar num terreno hori7ontal)A segunda coisa * +ue# como %ailarina# gosto muito de m5sica e respondo muito J m5sica) +uando estou a ou$ir m5sica# o meu corpo reage e mee-se muito rapidamente)

Ouve m0sica quando sobe uma montan*a?

im) Acho +ue como eu cresci sempre a meer-me ao som de m5sica# +uando oi&o m5sica#mesmo +ue estea arrasada# come&o a correr em cima da montanha Dri-seE) ;i&o algumasm5sicas mais agitadas para a su%ida# para descer uma m5sica mais calma Fepende) Ps$e7es m5sica cl"ssica# mas tam%*m gosto muito tam%*m de punH-rocH)))

Qual é a sua área de pesquisa?

Ah# esse * outro aspecto em +ue sou um %ocadinho diferente dos outros cientistas)?ra%alho em $"rias "reas o ni$erso primordial# a *poca de infla&o# o in(cio do igang e como gosto delas todas))) ;utra $ertente * a energia escura# +ue * a+uela energia+ue * respons"$el pela acelera&o da epanso do ni$erso) com o 9ee molin# estou atra%alhar numa "rea apaionante# +ue * entender o tempo)

Pode e1plicar de que se trata?

<ueremos desco%rir por +ue * +ue o tempo est" sempre a a$an&ar e nunca recua) Q uma pergunta muito ra7o"$el) ; ni$erso no seu conunto e$olui de uma forma +ue *irre$ers($el) ,unca ficamos mais no$os# ficamos sempre mais $elhosR as gal"ias giram

umas J $olta das outras e aca%am por entrar em colapso) ;u sea# h" uma direc&o dotempo em cosmologia e em todo o nosso dia-a-dia)

;ra# nenhuma das ci!ncias# ecepto a f(sica# ignora isso: na %iologia# as pessoas sa%em +ueos animais nascem e morremR na ecologia# h" uma direc&o da e$olu&o dos ecossistemas)A f(sica * a 5nica ci!ncia em +ue todas as leis funcionam tanto para a frente como paratr"s# por+ue as nossas e+ua&'es no incluem a direc&o do tempo)

a impresso +ue isso nos d" * a de +ue os f(sicos esto sentados J secret"ria# a olhar paraas e+ua&'es +ue escre$em# de costas completamente $oltadas para o +ue se passa fora doga%ineteS

s equaç2es tomam em conta o tempo" mas no a direcço do tempo?



actamente) Kodemos considerar tempos negati$os e a e+ua&o continua a fa7er sentido)Mas os f(sicos sa%em +ue no mundo as coisas no so assim e por isso# temos deartificialmente de eliminar metade das solu&'es# por+ue sa%emos +ue o tempo no anda

para tr"s)

Ou se#a" as equaç2es da $)sica t+m uma “$al*a”?

Kois) ssa * uma das ra7'es por +ue * to dif(cil desen$ol$er uma teoria da gra$idade+uTntica Duma teoria +ue descre$a a gra$idade em termos de f(sica +uTnticaE# +ue * o antoGraal da f(sica) " C0 anos +ue se tenta conciliar a relati$idade geral com a mecTnica+uTntica# e come&a-se a pensar +ue# para conseguir conugar estas duas teorias# ter" de sele$ar em conta +ue a e$olu&o do ni$erso no * sim*trica no tempo) ;u sea# o tempoirre$ers($el ter" de entrar nas e+ua&'es) Q o maior desafio +ue temos pela frente)

' #á está a trabal*ar nisso com 3ee 4molin?

N" temos alguns tra%alhos) A primeira coisa * $er se * poss($el mostrar +ue# a energiasmuito ele$adas# a irre$ersi%ilidade do tempo est" presente) +ue# a dada altura# +uando as

temperaturas %aiam# d"-se uma transi&o para uma fase de regularidade# sim*trica notempo um regime em +ue a f(sica " * a +ue nós conhecemos)

Parece muito comple1o.

Q muito compleo) Mas o pra7er +ue tiramos de nos darmos ao luo de pensar em profundidade so%re estas +uest'es * enorme) ; +ue me auda a conseguir pensar nestes pro%lemas *# em primeiro lugar# o facto de tra%alhar com o 9ee molin) A sua curiosidadeno tem limites) .a7 perguntas# +uestiona tudo# * um pensador muito profundo) tra%alharcom ele d"-me uma perspecti$a completamente diferente do +ue * fa7er ci!ncia) Q toauda7 nos temas +ue a%orda# no h" nada de +ue ele tenha medo ou +ue ache muitocomplicado ou ing*nuo)

Falemos da descoberta das ondas gravitacionais primordiais. Foi emocionante a n)vel

mundial.

.oi) .a&o cosmologia h" relati$amente pouco tempo# h" uns de7 anos) Mas mesmo as pessoas +ue " esto na "rea h" 20 ou mais anos no se lem%ram de um acontecimento toimportante) Karecia +ue era ,atal# +ue est"$amos a rece%er prendasS

,unca pensei +ue este sinal ti$esse sido desco%erto) Dom AndreO 9iddleE sou%emos do

resultado uns dias antes da confer!ncia de imprensa Dem +ue foi anunciadoE e eu esta$a toconfundida +ue ti$e de passar o fim-de-semana longe da >nternet# longe de tudo9e$amos estas coisas muito a peito e +uando de repente alguma coisa acontece +ue $aicontra o +ue esper"$amos# isso o%riga-nos a um tra%alho mental enorme)

5as depois surgiram d0vidas sobre a e1ist+ncia das ondas gravitacionais primordiais 6 e" recentemente" provas de que uma parte do sinal se deve a poeiras da nossa

pr7pria galá1ia.

Kois# a desiluso foi terr($el)

,omo surgiram as d0vidas?

;s cosmólogos esta$am todos to entusiasmados +ue hou$e um teórico de f(sica dascordas Dteoria +ue tenta dar conta de todas as part(culas su%atómicas e das for&as entre elas#



incluindo a gra$idadeE +ue resol$eu ir eaminar a eperi!ncia e $er eactamente como *+ue os autores Da e+uipa do telescópio >KE tinham o%tido os resultados) desco%riuum erro crasso na+uilo +ue eles tinham feito)

8m erro crasso?

im) A e+uipa do >K * muito pe+uena# so cinco ou seis) .a7em todos muitas coisas:

+uando falei com alguns deles# um esta$a a construir um instrumento e ao mesmo tempo afa7er o tratamento dos dados) ;ra# como no fa7iam ideia de +uantas poeiras ha$ia nanossa gal"ia# para o determinar foram J >nternet# tiraram uma figura de uma apresenta&ode outra e+uipa Da do sat*lite KlancH# cua misso * mapear essas poeirasE# digitali7aram-nae utili7aram-na)

' o que aconteceu?

A resolu&o da imagem * muito %oa e teria sido poss($el inferir o n($el de contamina&oDpelas poeirasE a partir dela) Mas o +ue eles no $iram * +ue a imagem $inha com umsu%t(tulo a di7er +ue o mapa inclu(a o contri%uto de uma coisa chamada > 6cosmological

infrared background e +ue essa componente teria de ser remo$ida antes de usarem omapa) como no repararam nisso# pensaram +ue a +uantidade de poeiras era muito mais

pe+uena do +ue * na realidade) .oi esse o erro: o facto de no terem $isto esse su%t(tulo achamar a aten&o para a cali%ra&o do mapa)

s equipas do 9:,'P e do Planc; esto agora a trabal*ar #untas. &ai restar alguma

coisa do sinal primordial quando subtra)rem o sinal devido <s poeiras galácticas?

>nfeli7mente# " no acredito +ue haa algum sinal primordial) usta-me muito a di7er# masacho +ue o sinal +ue o >K mediu no * primordial) Acreditar +ue o sea * muito dif(cilneste momento# por+ue a contamina&o Dpelas poeirasE * muito alta) Q dif(cil perder tudodepois de uma emo&o to grande) 9e$ou-nos muitas semanas a aceitar +ue afinal o sinalno estaria l")

&oltando <s suas diversas actividades" o paraquedismo também teve uma in$lu+nciamuito grande na sua vida? Quando começou?

m 2010) de facto# a+uilo muda um pouco a nossa $ida por+ue temos de ultrapassar omedo de saltar do a$io) Kensar +ue podemos morrer fa7-nos $islum%rar +ue# tal$e7#tam%*m possamos tornar a nossa $ida mais emocionante noutros aspectos) Q uma coisa toauda7 +ue isso perspassa um %ocadinho para o resto da nossa $ida e come&amos a ser mais

am%iciosos) A minha deciso de fa7er uma pausa# de $iaar na Lndia e fa7er montanhismo#foi em grande parte de$ida J disciplina e J coragem necess"rias para fa7er para+uedismo) ,esse sentido# o para+uedismo * muito importante para mim tal$e7 das coisas maisimportantes)

" dois anos# esti$e Da fa7er para+uedismoE em arcelona e $i$i uma situa&o J >ndianaNones: ia sendo atropelada por um a$io +uando esta$a a descer Dri-seE) Kor isso# este anodedi+uei-me ao montanhismo)

,on*ece o montan*ista portugu+s !oo =arcia?

onheci-o em meados de ;utu%ro# depois de su%ir ao ho-;Iu# na estalagem da 5ltima$ila antes do acampamento-%ase do $ereste# onde est"$amos a descansar) .oi na altura em+ue hou$e a+uela tempestade no Anapurna# mas l" onde nós est"$amos# o tempo esta$a

%om)



.oi muito engra&ado# por+ue ele entrou na+uela estalagem# a uns B000 metros de altitude# eeu olhei para ele e perce%i logo +ue era portugu!s)

=hamas-te NooU@# perguntei-lhe em portugu!s) ele: =im# sim) ?u *s portuguesaU Ah#nós $(nhamos J tua procura por+ue l" em %aio# +uando entr"mos no par+ue# disseram-me+ue esta$a c" uma portuguesa)@

sti$emos a discutir o uso de oig*nio# por+ue ele * uma das 1B pessoas no mundo +uesu%iram ao $ereste sem garrafa de oig*nio e eu tam%*m gostaria de o fa7er) Kerguntei-lhe se tinha algum conselho para me dar so%re como arranar patroc(nios para a próimasu%ida) ele respondeu: =Kara isso tens de fa7er um curso de marHeting e pu%licidadeS@

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