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QUESTÃO SOCIAL EM NOTÍCIA: a violência sob a ótica do jornal A Crítica, na cidade de Manaus-AM Waldriane Nascimento da Silva 1 Danielle da Silva Barbosa 2 RESUMO A finalidade deste trabalho é analisar a violência, como expressão da questão social, em Manaus a partir das publicações do Jornal A Crítica, principal e mais antigo periódico veiculado na cidade, verificando as faces mais eminentes dessa problemática, bem como as respostas dadas pelo poder público. O estudo aborda as diferentes expressões da violência discutindo-a como resultado das contradições entre capital e trabalho. Palavras-chave: Capitalismo. Questão Social. Violência. Jornal A Crítica ABSTRACT The purpose of this paper is to analyze the violence as an expression of the social question in Manaus from the publications of the Journal Criticism, main and oldest journal posted on the city, checking the most prominent faces of this problem and the answers given by the power public. The study addresses the different expressions of violence discussing it as a result of the contradictions between capital and labor. Keywords: Capitalism, Social Issues. Violence. The Journal Review 1 Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected] 2 Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

QUESTÃO SOCIAL EM NOTÍCIA - joinpp.ufma.br · Manaus-AM Waldriane Nascimento da Silva1 Danielle da Silva Barbosa2 RESUMO ... O capitalismo tem como base a propriedade privada dos

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QUESTÃO SOCIAL EM NOTÍCIA: a violência sob a ótica do jornal A Crítica, na cidade de

Manaus-AM

Waldriane Nascimento da Silva1 Danielle da Silva Barbosa2

RESUMO A finalidade deste trabalho é analisar a violência, como expressão da questão social, em Manaus a partir das publicações do Jornal A Crítica, principal e mais antigo periódico veiculado na cidade, verificando as faces mais eminentes dessa problemática, bem como as respostas dadas pelo poder público. O estudo aborda as diferentes expressões da violência discutindo-a como resultado das contradições entre capital e trabalho. Palavras-chave: Capitalismo. Questão Social. Violência. Jornal A Crítica ABSTRACT The purpose of this paper is to analyze the violence as an expression of the social question in Manaus from the publications of the Journal Criticism, main and oldest journal posted on the city, checking the most prominent faces of this problem and the answers given by the power public. The study addresses the different expressions of violence discussing it as a result of the contradictions between capital and labor. Keywords: Capitalism, Social Issues. Violence. The Journal Review

1 Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected] 2 Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

1. INTRODUÇÃO

Para a contextualização acerca da discussão sobre violência e suas múltiplas

expressões na contemporaneidade, verifica-se a necessidade de incitar o debate acerca da

sociedade capitalista, sua abundância e escassez retratando a face desigual de um sistema

que possui uma contradição fundamental: o trabalho é cada vez mais coletivo, social e a

apropriação privada dos frutos do trabalho. E isso está na origem do fato que o

desenvolvimento nesta sociedade redunda entre o progresso que traz no seu avesso à

escassez e a miséria. (IAMAMOTO, 2009).

Segundo Netto e Braz (2006. p. 95) “o modo de produção e reprodução

capitalista substituiu o modo de produção feudal e hoje se configura como um sistema de

produção mundializado”. O capitalismo tem como base a propriedade privada dos meios de

produção e a divisão social do trabalho, onde o trabalhador assalariado vende sua força de

trabalho em troca de um salário para manutenção de suas necessidades. Além disso, o

objetivo a ser perseguido na sociedade do capital é a obtenção de ganhos monetários, já

que visa à acumulação de bens e gera as contradições inerentes ao próprio sistema

capitalista, pois na sociedade do capital legitimasse a dominação de uma classe sobre a

outra, a exploração do homem pelo próprio homem.

Assevera-se que a violência caracteriza-se como um fenômeno social, tendo

múltiplas manifestações (física, social, simbólica, psicológica, etc) e implicações na

sociedade, seguindo modelos culturais, de acordo com determinados momentos históricos,

a prática da violência adquire características históricas, dependendo da época em questão,

uma atitude pode ser aceita ou não em determinada sociedade. (ARENDT, 1985).

Do exposto, é salutar destacar que a criminalidade e a violência se expandiram

concomitantemente ao ritmo do desenvolvimento da sociedade capitalista, sendo mais um,

entre inúmeros efeitos desse desenvolvimento que por vezes é predatório e excludente. Ela

acompanha as desigualdades oriundas do sistema econômico vigente, onde a distribuição

da riqueza socialmente construída limita-se a um determinado grupo. Assim, essa

apropriação da riqueza por uma minoria afeta a forma como os sujeitos se relacionam.

2. SERVIÇO SOCIAL, VIOLÊNCIA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A violência caracteriza-se pelo uso da força, do poder e de privilégios para

dominar, submeter e provocar danos a outros. Cada vez mais, configura-se como um

problema social, está presente em todas as camadas sociais nas suas variadas

manifestações (psicológica, física, simbólica, estrutural, institucional, ou a associação entre

elas) provocando impactos significativos no tecido social, alterando as relações sociais e de

poder, exigindo que o Estado interfira para sanar ou apaziguar os conflitos gerados.

Na cidade de Manaus, diariamente os jornais veiculam as diversas expressões

da questão social, dentre elas a violência que ganha destaque quer seja por ser uma

problemática social relevante, quer seja pelo apelo social e mercadológico que esse tipo de

informação possui.

Os jornais manauaras em suas publicações diárias noticiam diversas expressões

da questão social, no entanto, a análise das publicações dominicais do Jornal A Crítica do

ano de 2001 a 2010, nos mostrou que a violência expressa em homicídios, sequestros,

tráfico de drogas, roubos, furtos assaltos, crimes de trânsito dentre outros, foi a expressão

da questão social mais noticiada sendo, portanto, necessário pensar possibilidades de ação

diante desta problemática.

Entendemos que, essa problemática necessita ser analisada à luz de uma

vertente teórico-metodológica que se pauta na perspectiva da totalidade e que leve em

consideração a violência como fruto de relações sociais e de poder dentro dos âmbitos:

econômico, político, social, ambiental e cultural.

A Organização Mundial da Saúde (2002), caracteriza a violência como o uso

intencional da força física ou do poder, real ou ameaça, contra si próprio, contra outra

pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou tenha grande possibilidade de

resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.

A violência nas suas diferentes facetas (física, sexual, psicológica, estrutural,

institucional, social) está presente cotidianamente na vida social, nas diferentes classes

sociais, idades, etnias, religiões, culturas, cor, orientação sexual. Ela (a violência) se faz

presente nos diferentes espaços sociais urbanos desde menos favorecidos até os mais

abastados.

Apesar de muitas vezes mascarada, justificada (naturalizada) a violência existe e

necessita ser entendida como um produto social e histórico, mutável e multicausal que é

resultado das relações humanas – políticas, econômicas, culturais, sociais e de poder que

compõem o tecido social.

Nessa direção, Odalia (2004) afirma que a pobreza, o ato rotineiro de

desigualdade entre os homens, onde uns podem usufruir dos bens socialmente produzidos

muito mais que outros, a negação do direito de desfrute igualitário da riqueza social, é uma

violência.

A desigualdade social reproduzida em problemáticas de precariedade da saúde,

sucateamento da educação, falta de infraestrutura e saneamento, desemprego e tantos

outros problemas que são postos nos espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais

são formas de violência (violência social) e geram violência, já que geram lutas e conflitos

em busca de soluções.

O Serviço Social reconhece os processos pelos quais se gesta a dominação.

Sua prática se dá na tensão entre a produção da desigualdade, rebeldia e na resistência dos

trabalhadores. Por isso, Figueiredo (2009, p. 327), fala que “a reflexão sobre a comunicação

no exercício profissional do assistente social é um desafio”.

Tendo ciência de que, na contemporaneidade, os meios de comunicação são

parte das forças produtivas – atuando diretamente como meio de consolidação de

hegemonia da classe dominante – e que as informações jornalísticas têm grande influência

diante das relações, é necessário, então, esclarecer como a socialização das informações

pode atuar na emancipação ou alienação do sujeito.

A violência, como expressão da questão social, tem seu crescimento noticiado

diariamente nos meios de comunicação em geral, contudo, isso deve ser analisado a partir

de dois enfoques distintos: no primeiro, os jornais e meios de comunicação como

responsáveis por colocar em xeque as demandas sociais; o segundo, a partir da face

mercadológica dos meios comunicacionais já que esse tipo de é conteúdo tem muito apelo

social.

Nessa direção, Silva (2009) fala que a mídia, como testemunha macro e

privilegiada, é capaz de atribuir sentidos próprios aos atos de violência (quando seleciona e

classifica imagens e falas para explicá-la). Desse modo é que influencia diretamente a

formação de juízos sobre a notícia. Se a mídia é capaz de dar sentido próprio aos fatos que

são expostos por ela e influencia diretamente na formação da identidade pessoal e coletiva

dos cidadãos, logo ela pode influenciar ideologicamente para que os problemas sociais por

ela mostrados também adquiram outra conotação diferentemente daquela que a sua

verdadeira.

O assistente social, trabalhando diariamente com a questão social e conhecendo

o papel da ideologia na criação de consensos, precisa construir estratégias de ação que

possibilitem a realização de seu trabalho com vistas a emancipar socialmente os cidadãos.

A comunicação surge dentro dessa perspectiva como um mecanismo bastante apropriado,

pois se consolida como um espaço de disputas.

A informação, na modernidade, se configura como uma forma eficiente de

controle social. A partir da democratização da comunicação e da socialização das

informações é que as desigualdades sociais podem ser passadas para a esfera pública –

por meio de ações políticas dos sujeitos sociais – exigindo que o Estado se amplie,

incorporando respostas às necessidades sociais das maiorias.

3. A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL SOB A ÓTICA DO

JORNAL A CRÍTICA

A análise e a discussão da violência como uma expressão da questão social

deve perpassar a questão do acesso aos bens socialmente produzidos dentro de um

sistema de acumulação profundamente desigual, como é o capitalismo. Desse modo, é

necessário levar em consideração aspectos econômicos e sociais que são influenciadores

dessa problemática.

Sobre os aspectos influenciadores da violência, Baierl (2004, p. 52) afirma que

fatores como “as desigualdades sociais, a pobreza, o meio familiar e intrafamiliar e cultural

colocam os espoliados, os desempregados mais vulneráveis ao envolvimento com o mundo

da criminalidade”.

Para além da afirmação anterior, acreditamos que os sujeitos que sofrem com as

desigualdades não somente estão mais vulneráveis ao envolvimento com o crime, mas são

também os mais ameaçados e criminalizados pelo aparelho repressivo do Estado que os

responsabiliza pela violência.

A violência é um problema crescente na cidade de Manaus. Cada dia mais,

presenciamos notícias relacionadas a esses problemas nas publicações dos jornais da

cidade, são homicídios, assaltos, estupros, mortes no trânsito, rebeliões e muitas outras

facetas dessa expressão da questão social, que são denunciadas pelas matérias dos

jornais.

Com a finalidade de explicitar o quantitativo de notícias exibidas pelo Jornal A

Crítica nas suas publicações dominicais na década 2000 de forma detalhada –

demonstrando quais problemas dentro da categoria violência se destacam – elaboramos um

quadro onde estão presentes variadas facetas da violência exibidas nas matérias

jornalísticas que analisamos.

Quadro 1 – Quantitativo de publicações relacionadas ao problema da violência nas suas variadas facetas

presentes nas publicações dominicais do Jornal A Crítica na década 2000

Violência 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total %

Agressões pela PM

2 1 1 1 3 - - 1 - - 9 1,5%

Assaltos 4 5 4 3 3 21 7 3 - 12 62 10%

Assassinatos de policiais

1 2 - 3 1 2 2 - 2 2 15 2,5%

Assedio sexual - - - 1 - - - - - - 1 0,1%

Ataques de galeras

6 9 6 7 3 2 2 1 5 1 42 7%

Corrupção policial

- - 2 4 5 1 1 2 5 - 20 3%

Discriminação de deficientes

1 - - - - - - - - - 1 0,1%

Facilitação de fuga pela PM

- - 1 - - - - - - - 1 0,1%

Falta de estrutura e equipamentos para PM

- - - - 4 - - - - - 4 0,6%

Homicídios 12 16 19 10 25 48 12 21 12 22 197 32%

Homicídios relacionados ao tráfico

- 2 - - - 1 2 1 2 1 9 1,5%

Homicídios de adolescentes e crianças

5 4 2 - - - 1 - - - 12 2%

Homicídios passionais

3 2 1 1 - - - - 1 - 8 1,3%

Assassinatos de homoafetivos

- 1 - - - - - 1 - - 2 0,3%

Latrocínio - 2 1 - 1 1 1 - 3 1 10 1,6%

Mortes no trânsito

1 1 1 - 2 13 1 - 1 2 22 3,5%

Mortes pela polícia

4 3 2 1 1 1 - 2 1 - 15 2,5%

Pistolagem - 2 - - - - - 1 1 - 4 0,5

Rebelião 2 2 4 5 1 1 2 1 2 20 3%

Roubos e furtos 1 3 2 - - 3 3 4 1 - 17 2,8%

Sequestro - 1 - 2 2 3 1 - - 1 10 1,5%

Tentativas de homicídio

- 3 1 - 1 - - - - - 5 0,8%

Tráfico de drogas

8 16 8 2 1 3 - 2 2 3 45 7,5%

Tráfico na escola 1 1 - - - - - - - - 2 0,3%

Tráfico: envolvimento da PM

2 - - - - - - - -

- 2 0,3%

Vandalismo: danos ao patrimônio

- - - - 2 - - 1 2 - 5 0,8%

Violência na escola

- - 1 1 - - 1 - - - 3 0,4%

Violência entre polícias

1 - - - 1 - - - - - 2 0,3%

Violência sexual contra mulher

1 - - - 1 2 - 1 1 - 6 0,9%

Violência física 1 3 - - - - 1 - 2 1 8 1,3%

contra mulher

Violência sexual infantil

5 4 2 1 2 2 - 1 2 3 22 3,5%

Violência física infantil

2 2 3 2 2 1 - 1 13 2%

Violência psicológica infantil

3 - - - - - - - - - 3 0,4%

Violência física contra idoso

- - - - - 2 - 1 - - 3 0,4%

Violência dentro dos presídios

- 1 2 - - - - - - - 3 0,4%

FONTE: Pesquisa de campo, 2013.

Como pudemos verificar, as publicações dominicais do Jornal A Crítica nos

forneceram muitos dados durante toda a década que analisamos, mas alguns problemas

merecem destaque pela sua recorrente exibição. Dentre as facetas da questão social aquela

que mais se destacou, foram os homicídios com 272 notícias registradas. Nesse dado estão

inseridos os casos de pistolagem, homicídios por envolvimento com tráfico de drogas,

passionais, de homossexuais, latrocínios, homicídios de crianças e adolescentes e

homicídios praticados por policiais etc.

Quadro acima nos indica um nítido crescimento da violência na cidade, não

obstante, pensamos que para analisar a violência é necessário levar em consideração a

questão do acesso aos bens socialmente produzidos, bem como a existência de relações

antagônicas entre capital e trabalho.

As facetas da violência tais como assaltos, homicídios, tráfico de drogas,

violência entre jovens e muitas outras podem simbolizar uma luta pelo acesso aos bens

produzidos de modo coletivo, numa sociedade amplamente desigual, além disso, pensamos

que nos casos da violência juvenil isso pode estar ligado a questão do reconhecimento

social, uma luta contra sua invisibilização perante a sociedade.

No caso do tráfico de drogas, muitas vezes essa é única alternativa encontra

pelos sujeitos para proverem sua existência material. Pode-se inferir também que o

crescimento de atividades ilícitas deve-se a não oferta de empregos para todos, ao não

acesso à educação enfim a inacessibilidade da riqueza que é socialmente produzida, mas

que é usurpada por somente uma classe social.

A violência, segundo Baierl (2004, p. 206), “é um fenômeno multifacetado, que

exige ações integradas, se não para solucioná-lo, pelo menos para reduzir seus índices e

impactos na vida das pessoas, dos grupos e da sociedade”. Trata-se de um fenômeno

transversal que perpassa o conjunto das instituições e organizações sociais, políticas e

econômicas e, portanto, deve ser compreendido e explicado numa perspectiva de totalidade

para que haja um real enfrentamento dos problemas.

A divulgação da violência pelos jornais contribui para a criação de uma aura de

medo que altera profundamente a sociabilidade humana. Nessa direção Baierl (2004 p. 20)

afirma que o medo causado pelas publicações jornalísticas do crescimento da violência

“vem alterando profundamente o território e o tecido social e, consequentemente, a vida da

população. Todos se sentem afetados, ameaçados e correndo perigo”.

O medo social, segundo a autora, se instaura num contexto em que o Estado

não consegue assumir seu papel, não consegue gerenciar as problemáticas que se

apresentam. Baierl (2004, p. 136) expõe o exemplo do tráfico de drogas e acredita que ele

ocupa, de alguma forma, os espaços deixados pela ausência de políticas sociais públicas no campo da assistência social, educação, saúde, habitação, empregabilidade, segurança e lazer. Nessa direção, gera empregos no campo da ilegalidade, admitindo muitas crianças e adolescentes para mais variadas funções no mundo do tráfico. Assume o papel de garantir a “ordem e a segurança” nos lugares por ele ocupados apresentando características de uma parte de mercado de trabalho “ilegal e ilícito”, mas tolerado.

O crescimento da violência na cidade de Manaus é nítido, contudo temos

conhecimento da escassez de recursos para o enfrentamento desta problemática social, que

cada vez mais perde espaço para os investimentos na economia. Para compreender como

aconteceu o enfrentamento da violência na cidade de Manaus na década em estudo,

elaboramos um quadro a partir das publicações jornalísticas dominicais do Jornal A Crítica.

Quadro 2 – Quantitativo de notícias concernentes ao enfrentamento da violência na cidade de Manaus na

década 2000.

Enfrentamento da violência

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total %

Operações de combate ao tráfico de drogas

2 2 8 - 1 - 1 - 2 3 19 14,9%

Operações de combate à criminalidade

2 - 3 1 1 2 2 - - - 11 8,6%

Prisões por sequestro

- - - - - - 1 - - - 1 0,7%

Prisões por tráfico de drogas

5 14 - 1 - 2 - 1 1 1 25 19,6%

Prisões relacionadas à roubos e furtos

3 1 1 - - 2 1 - - - 8 6,2%

Prisões por assaltos

- 1 2 2 - 3 2 1 - 2 13 10,2%

Prisões por latrocínio

- - 1 - - - 1 - - - 2 1,5%

Prisões por tráfico humano

- - - - - - - - - 1 1 0,7%

Prisões por homicídio

- 2 5 1 - 2 1 1 2 1 15 11,8%

Delegacia coíbe invasão

- - - 1 - 1 - - - - 2 1,5%

Inauguração de delegacia

1 - - - - - - - - - 1 0,7%

Reforço no policiamento

2 - - 1 - - - - - - 3 2,3%

Investimento em segurança pública

- 1 - - - - - 2 1 - 4 3,1%

Esporte para combate à criminalidade juvenil

- - - 1 - - - - - - 1 0,7%

Desarticulação de quadrilhas

- 1 - - -

1 - - - - 2 1,5%

Campanhas antiviolência

- 1 - - - - - - - - 1 0,7%

Campanhas contra violência no trânsito

- 1 - - - - - - - - 1 0,7%

Ações contra ociosidade na prisão

3 2 - - - - - - - - 5 3,9%

Diminuição de índices de violência

- 1 - - - - - - - - 1 0,7%

Campanhas contra viol. Infanto-juvenil

- 1 1 - - 1 - - - - 3 2,3%

Parceria para combate à violência infantil

- - 1 - - - - - - - 1 0,7%

Ame a vida: programa de combate a violência contra mulher

- - - - - - - - - 2 2 1,5%

PM na escola 1 1 1 1 - 1 - - - - 5 3,9%

FONTE: Pesquisa de campo, 2013.

O quadro acima nos expõe as ações realizadas pelo poder público para o

enfrentamento da violência, a área que mais se destaca é aquela que se relaciona ao tráfico

de drogas com operações de combate e prisões por tráfico de drogas que somadas temos

44 notícias relacionando ações desse tipo. As operações de combate a criminalidade,

prisões por assaltos3, roubos4, furtos5 e homicídios também foram muito expressivas,

contudo, não suficientes para sanar tais problemas.

Tivemos também notícias sobre construção de delegacias, reforço no

policiamento, investimentos em segurança pública, campanhas antiviolência, parcerias para

3 Subtração de algo ou objeto de forma violenta, por meio de utilização de armas de fogo ou branca. 4 Subtração de algo ou objeto de forma violenta, imprimindo medo na ação. 5 Subtração de algo ou objeto sem imprimir na ação a violência, surrupiar.

o combate a violência infantil e muitas outras ações que são muito pertinentes como

estratégia de enfrentamento da violência como expressão da questão social.

Não obstante, pensamos o enfrentamento da violência deve ser feito com

medidas que possam ir além da repressão, da coibição dessas problemáticas, as ações de

enfrentamento dessa problemática devem estar imbricadas com ações de reconhecimento

social, de oferta de educação de qualidade, oportunidade de emprego formal e de mudança

de vida.

A violência, como já falamos, é multifacetada e suas causas são diversas. A

discussão dessa problemática deve levar em consideração as desigualdades engendradas

pelo capitalismo durante seu processo evolutivo ou de reestruturação.

Sobre as causas da violência, uma matéria do Jornal A Crítica de 19 de março

de 2006 constata que o envolvimento dos jovens nas chamadas galeras6 denuncia a

fragilidade das políticas governamentais implementadas com a finalidade de incluir esse

segmento da população em espaços nos quais pudessem estabelecer outra perspectiva de

vida.

Conforme a publicação do Jornal A Crítica (2006), estudos mostram que parcela

expressiva dos integrantes das galeras é formada de jovens ou adolescentes que

conheceram, desde muito cedo, o significado de ser colocado à margem, de ter direitos

básicos negados e de não encontrar respostas mais eficientes às suas carências e aos seus

sonhos.

A matéria nos indica que os jovens não são de fato vistos pelo poder público,

ficando em segundo plano. A ausência ou inoperância de politicas públicas direcionadas

para o público jovem nos explicita que eles não são uma urgência para o poder público e

não estão nas primeiras pautas dos governos.

Sobre a violência na juventude Sales (2009, p. 106) explana que “alguns jovens

premidos pela cultura fetichista e pela alienação do desejo a que são obrigados a se

submeter na sociedade do capital, resolvem muitas vezes esse tipo de impasse no cotidiano

de maneira individualista e violenta”.

Ainda sobre este assunto, a matéria do Jornal A Crítica relata que o não

investimento dos gestores em políticas direcionadas a essa parcela da população

representa um incentivo a sua participação nesses grupos que praticam ilicitudes, visto que

essa é uma possibilidade de afirmação diante da sociedade.

6 Galeras é o nome dado vulgarmente aos grupos compostos por jovens que praticam pequenos atos ilícitos.

A função que teria que ser exercida pelo Estado passa a ser reivindicada por

esses grupos que tentam se afirmar por via da violência generalizada, canalizando seus

potenciais para o culto à desordem. A marginalização das classes subalternas e a falta de

oportunidade muitas vezes são as principais causadoras da violência, já que esses sujeitos

sociais não reconhecem o diálogo como uma forma de resolução das problemáticas.

Um dado que gera bastante discussão (não desmerecendo os demais) trata das

situações de violência tanto praticadas quanto sofridas por crianças e adolescentes, o que

se percebe é que direitos não estão sendo resguardados, pelo menos em sua totalidade, a

violência crescente entre os jovens é um reflexo disso.

Pensamos que o agir violento dos jovens perpassa uma necessidade de

reconhecimento, de visibilidade perante a sociedade. O não acesso á direitos como

educação, saúde, segurança, lazer e muitos outros se inserem em um plano maior que traz

a discussão do acesso dos aos bens que são produzidos socialmente, que diga-se de

passagem são apropriados pela classe dominante.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fala que é dever da família, da

sociedade e do Estado prover direitos essenciais tais como, educação, alimentação, saúde,

lazer, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, resguardando os jovens de

situações de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão.

A análise dos dados obtidos nos provocou muitas reflexões a respeito de

diversas problemáticas, contudo, a questão da violência juvenil é algo preocupante do ponto

de vista de que falta de políticas públicas direcionadas para os jovens aliada a oferta de uma

educação sucateada tende a agravar cada vez mais essa problemática.

Pensamos que para o enfrentamento da violência são necessárias ações

combinadas envolvendo os diversos setores e organizações da esfera de poder (Legislativo,

Executivo e Judiciário) que devem estar articuladas à sociedade civil. Julgamos que a

educação seja um elemento central nesse processo de enfrentamento não somente dos

problemas relativos à violência, mas em todas as áreas que se fazem presentes facetas da

questão social.

4. CONCLUSÃO

Os meios de comunicação não apenas veiculam notícias; eles cumprem função

importante na construção e difusão de ideologias e consensos. Por essa razão, julgamos

pertinente estudar um jornal escrito, que existe há mais de 60 anos, e continua a se

destacar pela variedade de seus cadernos de notícia e por manter em arquivo digital as

edições de anos anteriores, que permitem a realização de pesquisas em seu acervo.

Dentre as notícias difundidas, percebemos nitidamente que diferentes

expressões da questão social são postas em destaque, em especial a violência, seja para

chamar o interesse dos leitores/compradores, seja porque incomodam a sociedade.

Contudo, o fato de gerarem transtornos à vida da sociedade, nem sempre faz com que tais

problemas mereçam atenção do poder público.

A análise dos jornais e a categorização das informações jornalísticas da década

em estudo nos permitiu constatar que os problemas sociais mais noticiados se referem à

violência como, por exemplo, tráfico de drogas, homicídios, violência urbana e violência

sexual infantil. São noticiados também outros tipos de problemas, mas não com tanta

frequência.

O crescimento da violência nas suas variadas expressões segundo as

publicações do Jornal A Crítica é real, contudo, o enfrentamento da problemática não

cresce, ou pelo menos não foi noticiado na mesma intensidade, o que se vê são ações

pontuais, por parte do poder público, ligadas principalmente à função punitiva do Estado.

A violência apresenta-se como um acontecimento multifacetado,

excepcionalmente material que revela as tramas desconhecidas da vida social, interferindo

na economia, na política e nas relações sócioculturais, dessa maneira, o assistente social

tem no seu trabalho uma grande responsabilidade, já que é incumbido de elaborar

estratégias que visem o seu enfrentamento.

No enfrentamento da violência, cabe ao assistente social pensar formas

interventivas e eficazes para dar respostas pratico-conscientes às demandas postas, buscar

e cobrar do poder público a elaboração e implementação de políticas públicas que tratem

essa problemática na sua essência e, ainda, contribuam para a ampliação da cidadania, das

oportunidades e dos direitos para todos.

Nessa direção, a análise das múltiplas expressões da violência na

contemporaneidade relacionando-as com as contradições presentes nas relações de capital

e trabalho faz-se extremamente necessária para que possamos construir alternativas

eficazes de intervenção profissional para o enfrentamento dessa problemática.

Tendo ciência de que as informações contidas nos jornais podem ser tomadas

como fontes bibliográficas, os assistentes sociais podem realizar pesquisas que auxiliem

suas reflexões sobre a violência como um fenômeno multifacetado e multicausal isso de

certo oferecerá subsídios para uma análise de conjuntura e, por conseguinte, ampliará a

possibilidade de uma melhor intervenção profissional.

5. REFERÊNCIAS

ARENDT, Hanna. Da violência. Trad. Maria Cláudia Drumond Trindade. Brasília: Editora da

Universidade de Brasília, 1985.

BAIERL, Maria de Fátima. Medo Social: da violência visível ao invisível da violência. São

Paulo: Cortez, 2004.

FIGUEIREDO, Kênia Augusta. O assistente social na era das comunicações. In: Sales,

Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. Cortez, 2009.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e

formação profissional. São Paulo: Cortez, 2009.

NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São

Paulo: Cortez, 2006.

ODALIA, Nilo. O que é Violência. São Paulo: Editora Brasiliense, 2004.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde.

Genebra, 2002.

SALES, Mione Apolinário. Mídia e questão social: o direito à informação como ética da

resistência. In: Sales, Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social.

Cortez, 2009.

SILVA, José Fernando Siqueira da. Violência e Serviço Social: notas críticas. Revista

Katálysis. Vol. 11, nº02, Jul/Dez, Florianópolis, 2008.

___________. Alguns apontamentos sobre a intervenção profissional do assistente

social na área da violência urbana. Revista V.