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Questões da avaliação 3 de direito do trabalho 3, pós-graduação puc minas direito do trabalho
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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Instituto de Educação Continuada
Especialização lato sensu em Direito do Trabalho
Direito do Trabalho II –
Questões para resolução em sala
Valor: 100 pontos
1. Direitos sociais na CF/88 e cláusulas pétreas: é possível uma relação?
Os direitos sociais, por sua relevância no contexto constitucional, compõem matéria que
está protegida contra a intervenção do poder constituinte derivado, haja vista a
interpretação da Constituição Federal, na qual a dignidade da pessoa humana é um dos
fundamentos do Estado Democrático Brasileiro.
Entende-se, portanto, que os direitos sociais enquanto direito constitucional estão
previstos no artigo 60, § 4o inciso IV, devendo a expressão direitos e garantias
individuais ser interpretada em sentido lato, abrangendo todos os direitos fundamentais
descritos no Título II, e, em outros expressos na Constituição Federal.
Aguarda-se que a PEC 313/2004, que trata da substituição da palavra individuais por
fundamentais, descrita no art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, coloque fim à
controvérsia doutrinária do referido inciso, consolidando, expressamente, os direitos
sociais como cláusulas pétreas. Daí, em diante, o que restará é a continuidade da luta
pela melhoria das condições relacionadas aos direitos sociais.
Portanto, apesar das discussões há uma relação direta entre os direitos sociais e a
clausula pétrea descrita no art. 60, § 4º, IV.
No entanto, para que se garanta estes direitos sociais, é fundamental que todas as demais
também sejam cumpridas. As cláusulas pétreas são limites materiais ao poder de
reforma constitucional, o qual se consubstancia no mais elevado processo político-
deliberativo disciplinado pelo direito positivo. Assim, tais cláusulas só podem ser
abolidas pelas vias de fato de uma nova manifestação do poder constituinte originário,
sendo vedada a supressão do seu núcleo essencial por emenda constitucional. Com isto,
será muito difícil um retrocesso nos direitos sociais.
A seguir, é apresentada uma análise mais detalhada entre a Clausula pétrea do inciso IV
e os direitos sociais:
As cláusulas pétreas são aquelas cláusulas insuscetíveis de mudanças. Elas expõem a
abrangência em relação aos direitos fundamentais de segunda dimensão, ou seja, os
direitos sociais.
No que se refere aos direitos sociais, o preâmbulo da Constituição de 1988 estabelece
que esta categoria de direitos constitui o núcleo do Estado Democrático.
Os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais humanos são entendidos
como prestações positivas estatais, enunciadas em normas constitucionais, que
possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar
a igualdade de situações sociais desiguais. São também direitos que se ligam ao direito
de igualdade. São pressupostos para a fruição dos direitos individuais pois criam
condições mais propícias para o alcance da igualdade real e do exercício efetivo da
liberdade.1
Os direitos sociais são endereçados ao Estado, para o qual surgem, na maioria das
vezes, certos deveres de prestações positivas visando à melhoria das condições de vida.
Com base nos Arts. 6º a 11º . da Constituição, José Afonso da Silva agrupou os direitos
sociais, sem a preocupação com uma classificação rígida, em cinco classes:
a) direitos sociais relativos ao trabalhador;
b) direitos sociais relativos à seguridade, compreendendo os direitos à saúde, à
previdência e à assistência social;
c) direitos sociais relativos à educação e à cultura;
d) direitos sociais relativos à família, criança, adolescente e idoso;
e) direitos sociais relativos ao meio ambiente.
A Carta de 1988, em seu artigo 6º disciplinou o direito à educação, à saúde, ao
trabalho, ao lazer, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à
assistência aos desamparados.
Acrescentado pela Emenda Constitucional nº. 26 de 14/02/2000, o direito à moradia
passou a fazer parte do rol dos direitos sociais consagrados no artigo 6º.
No artigo 7º, declinou direitos especificamente em favor dos trabalhadores, entre outros,
o seguro-desemprego, o fundo de garantia por tempo de serviço, o piso salarial, o
décimo terceiro salário, a participação nos lucros, repouso semanal remunerado, o
reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho.
Além dos direitos sociais previstos no Capítulo II do Título I, outros direitos sociais
encontram-se disciplinados também no Título VIII - Da Ordem Social.
Cláusula pétrea, também chamada de “cláusula de eternidade” e “cláusula de
inamovibilidade”, em sentido constitucional exprime a ideia de que existe alguma
norma que não pode ser modificada, tornando-se irreformável, ou seja, torna
insuscetível de mudança um dispositivo determinado pelo Poder Originário.
Traduz, na verdade, um esforço do constituinte para assegurar a integridade da
Constituição, obstando que eventuais reformas provoquem a destruição, o
enfraquecimento ou, ainda, impliquem em profundas mudanças.
São, portanto, limites fixados ao conteúdo de uma reforma constitucional e que operam
como verdadeiras limitações ao exercício do Poder Constituinte reformador.
Em nossa Constituição, embora não nomeados, os incisos do art. 60, § 4º são chamados
de cláusulas pétreas.
Firmou-se a ideia de que, por não haver a possibilidade de mudanças, os incisos do art.
60, § 4º seriam considerados cláusulas pétreas. A proteção de alguns artigos
denominados cláusulas pétreas é uma qualidade que os distingue das demais normas
constitucionais pela sua imutabilidade.
A questão dos direitos sociais como categoria dos direitos fundamentais da pessoa
humana ainda levanta muita polêmica. Entretanto, a doutrina majoritária entende a
expressão direitos fundamentais da pessoa humana em um sentido abrangente dos
direitos sociais e, portanto, não apenas como matéria constitucional, mas como matéria
constitucional qualificada pelo valor transcendente da dignidade da pessoa humana.
Assim, o fato de constar no art. 60, § 4º, inciso IV a expressão direitos e garantias
individuais traz à baila dúvidas e discussões concernentes à inclusão dos demais direitos
fundamentais (sociais, econômicos), no rol das denominadas cláusulas pétreas.
A Constituição Federal de 1988 manteve a tradição histórica e enumerou, como
cláusulas pétreas, os quatro incisos do artigo 60, § 4o , dispondo que não poderia ser
objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
- I - a forma federativa de Estado;
- II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
- III - a separação dos poderes e
- IV - os direitos e garantias individuais
Este último inciso, o quarto, trata dos direitos fundamentais. Expressamente descrito
“direitos e garantias individuais”, esse inciso trouxe várias discussões sobre a
exclusividade ou não dos direitos individuais como cláusulas pétreas.
Sustentam alguns doutrinadores que, baseados literalmente no art. 60, § 4º , inciso IV,
apenas os direitos e garantias individuais do art. 5º da Constituição Federal estariam
incluídos no rol das cláusulas pétreas. A viabilidade desta concepção esbarra na difícil
tarefa de traçar as distinções entre individuais e os não individuais, afirma Ingo
Wolfgang Sarlet.
Paulo Bonavides destaca que, in verbis:
“Em obediência aos princípios fundamentais que emergem do Título
II da Lei Maior, faz-se mister, em boa doutrina, interpretar a garantia
dos direitos sociais, como cláusulas pétreas e matéria que requer, ao
mesmo passo, um entendimento adequado dos direitos e garantias
individuais do art. 60
(...)
os direitos sociais recebem em nosso direito constitucional positivo
uma garantia tão elevada e reforçada que lhes faz legítima a inserção
no mesmo âmbito conceitual da expressão direitos e garantias
individuais do art. 60.
Fruem, por conseguinte, uma intangibilidade que os coloca
inteiramente além do alcance do poder constituinte ordinário”
A “PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO No . 313, de 2004, que está
arquivada, pretende alterar o inciso IV do § 4º . do art. 60 da Lei Fundamental,
substituindo, na parte final do dispositivo, a expressão “individuais” por
“fundamentais”.
Sua primeira subscritora, Deputada Laura Carneiro, esclarece que:
‘a iniciativa desfaz a controvérsia doutrinária alimentada pela
imprecisão terminológica do inciso IV do § 4º . do art. 60.
Por causa do termo individuais, adotado pelo constituinte, alguns
intérpretes sustentam que somente os direitos catalogados no Capítulo
I do Título II da Constituição, ou deles decorrentes, estariam tutelados
pela regra da imutabilidade do 198 Ibidem, p. 642-643. 98 preceito em
causa. Os demais, ainda que rotulados como fundamentais,
escapariam ao seu alcance. Mesmo os direitos sociais, cuja supressão
inviabilizaria o próprio princípio da dignidade da pessoa humana,
entronizado como um dos fundamentos da República, estariam
desamparados, sujeitos a restrições e revogações pelo legislador
ordinário’.
Como se observa acima, essa PEC, se promulgada, irá dissipar qualquer controvérsia
com relação à proteção dos direitos sociais diante das reformas que possam ocorrer em
nossa Lei Maior, pois aqueles estarão protegidos pelas cláusulas pétreas.
Como bem lembra Luís Roberto Barroso, mediante o reconhecimento de uma proibição
de retrocesso, se está impedindo a frustração da efetividade constitucional já que, na
hipótese de ser revogado o ato que tornou viável o exercício de um direito, estaria
acarretando um retorno à situação de omissão anterior.
Trata-se, enfim, de proteger os fundamentais sociais em face do princípio da proibição
de retrocesso, os quais já se incorporaram ao patrimônio jurídico da cidadania e não
deverão ser suprimidos. O princípio do Estado democrático e social de Direito impõe
um mínimo de segurança jurídica, que abrange, necessariamente, a segurança contra
medidas retroativas. Nesse caso, não há falar em supressão total ou parcial sem atingir a
segurança jurídica.
Bibliorafia:
RESENDE , VERA LÚCIA PEREIRA, OS DIREITOS SOCIAIS COMO
CLÁUSULAS PÉTREAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, disponível em
http://www.unifieo.br/files/download/site
/mestradodireito/bibliotecadigital/dissertacoes2006/dissertacao_vera.pdf
Rodrigo Brandão , SÃO OS DIREITOS SOCIAIS CLÁUSULAS PÉTREAS? EM QUE
MEDIDA?, disponível em
http://www.prrj.mpf.mp.br/custoslegis/revista_2010/2010/aprovados/2010a_
Dir_Pub_Brandao.pdf
2. No séc. XIX, o francês Henri Dominique Lacordaire escrevia que “entre o forte
e o fraco, entre o rico e o pobre, é a liberdade que oprime, é a lei que liberta.”
Disserte sobre:
A) a atualidade do pensamento de Lacordaire, valendo-se, para tanto, das
funções do Direito do Trabalho.
Esta assertiva de Lacordaire, dita no Séc. XIX analisava, analisava não somente as
relações trabalhistas de subordinação necessária dos homens, mas a sociedade como um
todo em relação com a lei. Assim, vem a lei libertar aquilo que é predeterminado pela
naturalidade humana, a legalidade a ser elencada como contraponto do fluxo humano é a
hegemonia progressista.
A liberdade humana quando solta das algemas legalistas do Estado fica entregue aos
instintos rudimentares de sua essência e perfaz suas aspirações de acordo com sua vontade
momentânea. Assim não há como restringir o homem a favor de uma moral inexistente,
porquanto este fará de seu próximo sua satisfação.
O Direito, assim, além de restringir o instinto humano de satisfação dos egos, vem
perfazer a definição da moral. Vem apoiado na consciência hegemônica da época, a fim,
de civilizar o ‘’contra senso’’ humano.
É evidente a sua aplicação para o ramo trabalhista, visto que esta é literalmente
interpretada às relações de subordinação de homens perante outros, que detém maiores
meios de critérios, determinados, ‘’superiores’’.
Assim, na esfera trabalhista, tanto no tempo de Lacordaire como contemporaneamente, a
frase continua representando o papel do Direito nas sociedades atuais e de maneira
específica no Direito do Trabalho.
Como ramo socialista, o Direito do Trabalho é de fundamental importância para a
efetivação do princípio da igualdade nos dias de hoje, que vem elencado implicitamente
nos fundamentos Republicanos da Constituição.
b) o princípio que baliza a eficácia da lei trabalhista, inclusive de modo a
permitir que ela concretize esse ideal de libertação do trabalhador em
face das opressões.
Advindo de uma evolução laboriosa e histórica, o Direito Trabalhista vem limitar os, mais
do que definidos, opressores moldes capitalistas da atualidade.
Iguala-se a desvantagem do proletário perante os empregadores.
Os empregados têm direitos vigentes e que devem ser cumpridos, se não pela liberdade,
que seja pela legalidade.
A liberdade oprime, a lei liberta, e, se não liberta factualmente, aproxima os ‘’meios’’ de
libertação.
Conclui-se, aqui, a função do Direito do Trabalho evidentemente digno de caráter
Constitucional, por ser fato de atenção pública, livrando o trabalhador das opressões dos
empregadores.
c) o direito trabalhista significa uma libertação plena do trabalhador em
relação à exploração capitalista?
Justifique, também, com base nas funções do Direito do Trabalho.
Não. O direito trabalhista não significa uma libertação plena do trabalhador em
relação à exploração capitalista.
No entanto, ele significa uma maior vigilância, uma luta constante contra a exploração.
Significa que o Estado possui instrumento, que espera-se evoluam continuamente, para
identificar e punir os exploradores.
3. “No xadrez liberal, os peões não valem nada” (CUNHA, Paulo Ferreira da. História
do direito: do
direito romano à constituição europeia)
“Primeiro veio o Direito do Trabalho. Muito tempo depois, o do Consumidor.
Nem um, nem outro, querem acabar com a dependência de contratar, pois ela é da
essência do sistema ao qual
pertencem. Mas pelo menos tentam equilibrar o conteúdo dos contratos,
compensando a falta de liberdade com um pouco de igualdade.” (VIANA, Márcio
Túlio. As relações de trabalho sem vínculo de emprego)”
Tendo em vista a assimetria de poderes e de condições socioeconômicas entre as
partes que compõem a relação empregatícia, a ordem jurídica confere um
balizamento diferenciado ao contrato de trabalho, a partir do assentado protetivo.
Sobre o contrato de trabalho, responda:
3.1- O princípio da exceptio non adimpleti contractus é compatível com o contrato
individual de trabalho?
A expressão exceptio non adimpleti contractus significa exceção de contrato não
cumprido. Logo, tal princípio reza o entendimento de que é o meio de defesa para um dos
contratantes que ainda não cumpriu com sua obrigação unicamente porque a outra parte
pactuante também não o fez.
Este princípio é uma defesa contratual que surgiu e se difundiu no âmbito do Direito
Privado, sendo inclusive positivada no Código Civil nos seu sart. 476 e 477:
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes
diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação
pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que
aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la
Portanto, é um instrumento, através do qual, um dos polos do contrato se escusa de
adimplir sua obrigação enquanto o outro não executar a que lhe cabe.
Sua natureza jurídica fundamenta-se no ato da vontade das partes, onde estas buscam
basear-se na equidade, no justo equilíbrio dos contratantes no cumprimento das
prestações.
A exceptio non adimpleti contractus também pode ser invocada nos contratos de
execução continuada, em que após a extinção de uma prestação surge outra, de forma
sucessiva, até a extinção do contrato.
O contrato de trabalho, a exemplo dos demais pactos de trato sucessivo e oneroso, traz
em seu bojo a exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus) e
a admissão do inadimplemento contratual como condição resolutiva, em face da dicção
da letra ‘ d ’ do artigo 483 da Consolidação.
Assim, por exemplo, o não cumprimento de obrigação contratual de forma reiterada,
como no caso de ausência habitual de pagamento da contraprestação ao trabalhador,
gera insegurança ao empregado e aniquila a confiança recíproca que deve reinar na
relação de emprego, autorizando a rescisão indireta do pacto.
O princípio do “exceptio non adimpleti contractus” aplicado no direito do trabalho, está
amplamente previsto na CLT como por exemplo, nos artigos 457, 459 e 483 da CLT:
Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais,
além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do
serviço, as gorjetas que receber.
Art. 459 - O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade do trabalho, não deve
ser estipulado por período superior a 1 (um) mês, salvo no que concerne a comissões,
percentagens e gratificações.
§ 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser efetuado, o mais
tardar, até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido.
Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida
indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos
bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família,
ato lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a
afetar sensivelmente a importância dos salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o
contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a
continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é
facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de
seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou
não no serviço até final decisão do processo.
O não cumprimento de obrigação contratual de forma reiterada, como no caso de ausência
habitual de pagamento da contraprestação ao trabalhador, gera insegurança ao empregado
e aniquila a confiança recíproca que deve reinar na relação de emprego, autorizando a
rescisão indireta do pacto, conforme inteligência do artigo 483, ‘d’ da CLT.
3.2- O princípio do Pacta sunt servanda é compatível com o contrato individual de
trabalho?
Esta expressão significa “os pactos devem ser cumpridos” e de forma direta, tal princípio
aponta que os contratos firmados devem ser respeitados e cumpridos, onde obrigam as
partes nos limites da lei, vinculando-as.
Cláusulas e pactos contidos nestes contratos são um direito entre as partes, e o não
cumprimento das respectivas obrigações implica a quebra do que foi contratado.
Logo, tal obrigação de cumprir de forma correta o pactuado também se estende às relações
empregatícias.
O contrato faz lei entre as partes.
As condições de trabalho configuram-se como obrigações contratuais, como tal só
alteráveis bilateralmente por acordo entre as partes e, tendo em vista o sentido protetor
do direito do trabalho, ainda assim desde que não resultem prejuízos ao trabalhador,
situação esta que não é absoluta, mas é uma regra inicial a ser observada.
Se o acordo previsto no contrato de trabalho, em regra, é bilateral, logicamente, qualquer
alteração em suas cláusulas há de resultar, também, de mútuo acordo.
Portanto, o contrato individual de trabalho se inicia sob a égide dessa premissa.
3.3- O princípio do Rebus sic stantibus é compatível com o contrato individual de
trabalho?
Numa tradução livre, “rebus sic stantibus” significa "retornar as coisas como eram antes".
Tal cláusula é empregada para designar a Teoria da Imprevisão, uma exceção ao princípio
do pacta sunt servanda.
Segunda tal teoria a ocorrência de fato imprevisto e imprevisível posterior à celebração
do contrato diferido ou de cumprimento sucessivo possibilita alteração, sempre que as
circunstâncias que envolveram a sua formação não forem as mesmas no momento da
execução da obrigação contratual, de modo a prejudicar uma parte em benefício da outra.
A força obrigatória dos contratos de trabalho não pode ser entendida em termos absolutos.
O caso fortuito ou força maior, verificados após a contratação, exigirá ajuste na avença.
A teoria da imprevisão é a ínsita cláusula rebus sic stantibus que constitui a relativização
do princípio pacta sunt servanda.
Portanto, pode haver a aplicação da regra “rebus sic stantibus” nos contratos de trabalho,
admitindo a sua revisão em determinadas condições legais.
Exemplo:
CLT, Art. 503 - É lícita, em caso de força maior ou prejuízos devidamente comprovados,
a redução geral dos salários dos empregados da empresa, proporcionalmente aos salários
de cada um, não podendo, entretanto, ser superior a 25% (vinte e cinco por cento),
respeitado, em qualquer caso, o salário mínimo da região.
ou
Inciso VI, do artigo 7º da CF,1988:
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
No entanto, a teoria da imprevisão não está para o Direito do Trabalho como está para o
Direito Civil, na medida em que é ilegítima, em termos jurídicos, a transferência do risco
da atividade econômica ao empregado, pois vigora na relação de emprego o princípio da
alteridade.
Como regra, torna-se descabida a invocação da tese de onerosidade excessiva na tentativa
de justificar o não cumprimento tempestivo pelo empregador de suas obrigações
trabalhistas.
As hipóteses de aplicação da teoria da imprevisão, no Direito do Trabalho, devem ser
tratadas como exceção e observando o princípio numerus clausus.
A configuração da "força maior" trabalhista, adotou a teoria subjetivista do Direito Civil,
ou seja, exige os seguintes requisitos:
CLT, 501 caput:
Irresistibilidade
Imprevisibilidade
inexistência de concurso direto ou indireto do empregador
CLT, 501 § 2°:
a afetação do equilíbrio econômico financeiro do empregador
A aplicação direta, pelo empregador do art. 503 da CLT não mais é admitida em face da
garantia de intangibilidade dos salários prevista no art. 7° inciso VI da Constituição
Federal.
3.2- O princípio da boa-fé subjetiva é compatível com o contrato individual de trabalho?
A boa-fé é um dos mais importantes princípios jurídicos, que serve como base para a
mantença do ato viciado por alguma irregularidade.
A boa-fé é um pressuposto externo ao ato realizado, encontrando-se no pensamento do
agente, na sua intenção ou vontade com a qual ele fez ou deixou de fazer alguma coisa.
O que se pode realmente dizer é que, na prática, é impossível definir o pensamento, mas
é possível verificar a boa ou má-fé, pelas as mais variadas circunstâncias do caso
concreto.
Nas relações de trabalho, empregado e empregador mantém um relacionamento
profissional constante e intenso, desempenhando seus deveres pactuados, agindo sempre
de fincados neste princípio, visando única e exclusivamente o bom resultado combinado
no contrato de trabalho vigente entre ambos. Logo, a boa-fé deve imperar em todos os
contratos, inclusive aqueles decorrentes da relação de emprego, exercendo em todos os
atos jurídicos, funções e efeitos de suprimento de incapacidade, além de sanear atos nulos
os anuláveis, além de proteger os interesses legítimos e direitos de terceiros.
A boa-fé, enfim, é corolário dessa atuação das partes, na medida em que determina certos
deveres, certas formas de agir, que, caso não seguidas, terão conseqüências variadas
conforme o caso concreto.
Nos casos concretos e a aplicação dos preceitos da boa-fé objetiva viabilizam a limitação
do exercício de direitos. A aplicação dessas teorias na prática deverá, segundo o caso
tratado, considerar os parâmetros de lealdade, honestidade, cooperação – expressões
características da boa-fé objetiva.
7. Empregados rural e urbano
7.1- Quais as diferenças legais entre empregado rural e urbano?
TRABALHO NOTURNO
A. Adicional:
Rural: 25%.
Urbano: 20%.
B. horário:
Rural: 21h às 5h na lavoura, e 20h às 4h na pecuária.
Urbano: 22h às 5h.
Nota: No trabalho rural é proibido o trabalho do menor de 18 anos. No trabalho urbano
é proibido, para o menor de 18 anos, o trabalho noturno, perigoso ou insalubre, e
qualquer trabalho do menor de 14 anos, salvo na condição de menor aprendiz.
- ALIMENTAÇÃO
Rural: depende dos usos e costumes da região.
Urbano: de 1 a 2 horas.
- AVISO PRÉVIO
Rural: um dia livre por semana durante 30 dias do aviso.
Urbano: 2 horas por dia durante os 30 dias do aviso, ou por 7 dias corridos.
- MENOR
O salário mínimo do menor rural aos 16 anos foi abolido pela Constituição/88, ficando
igual ao do empregado urbano.
- PRESCRIÇÃO DA AÇÃO
Rural: somente a partir de dois anos após a rescisão do contrato.
Urbano: cinco anos, até o limite de dois anos após a extinção do contrato
(Constituição/88, art. 7º, XXIX)
- HORA NOTURNA
Rural: 60 minutos
Urbano: 52min30s.
- FUNDO DE GARANTIA - FGTS
Direitos estendidos aos rurais a partir de 05.10.88 (data da promulgação da
Constituição).
- DESCONTOS NO SALÁRIO
Rural: só a título de moradia e alimentação, na base de 20% (aluguel) e 25%
(alimentação) sobre o salário mínimo.
Urbano: percentuais que variam conforme tabela do Decreto 94.062/87 sobre o
salário mínimo, a título de alimentação, habitação, vestuário, higiene, transporte,
saúde, educação, lazer e desconto para Previdência Social.
- CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
Rural: 1/30 do salário mínimo.
Urbano: 1/30 do salário normal do mês de março de cada ano.
- JUSTA CAUSA
Rural: a incapacidade total e permanente do trabalhador rural, resultante de
idade avançada, enfermidade ou lesão orgânica, comprovada mediante perícia
médica a cargo da DRT, constitui justa causa para a rescisão do contrato de
trabalho.
Urbano: Inexiste.
Repouso semanal remunerado,
Urbano: Pelo menos 1 vez a cada 3 semanas deve coincidir com o domingo.
Rural: Deve ser concedido preferencialmente aos domingos.
7.2- Qual seria o enquadramento sindical de motorista que presta serviço em âmbito rural?
Segundo entendimento do TST, o motorista que presta serviço rural deve ser considerado
como empregado rural.
Processo: RR 1484002019985150054 148400-20.1998.5.15.0054
Relator(a): José Antônio Pancotti
Julgamento: 07/12/2004
Órgão Julgador: 4ª Turma,
Publicação: DJ 11/02/2005.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ENQUADRAMENTO
SINDICAL. EMPREGADO RURAL OU CATEGORIA DIFERENCIADA DE
MOTORISTA. VIOLAÇÃO AO ART. 2º DA LEI 5.889/73. VERIFICADA.
Segundo a exegese desse diploma normativo, dois são os requisitos para que o
empregado seja considerado rurícula: (a) prestação de serviços para empregador
rural e (b) prestação de serviços em estabelecimento rural. Preenchendo o
reclamante tais requisitos, é irrelevante para o enquadramento, ao contrário do que
entendeu o Regional, o fato do mesmo ter sido motorista, bem como a peculiariedade
do reclamado ter aplicado normas coletivas da categoria dos motoristas ao autor.
Importante mesmo é que o trabalho do obreiro foi prestado em benefício de
empreendimento rural e em âmbito rural, sendo que tais requisitos, repita-se,
restaram presentes. Outrossim, diante da OJ 315 da SDI-I, o motorista de empresa
cuja atividade seja eminentemente rural é enquadrado como trabalhador rural.
Dessa forma, averiguado que o reclamante era trabalhador rural, inexiste
prescrição a ser declarada, pois o pacto de trabalho cessou antes da EC 28/00.
Agravo de instrumento e Recurso de revista providos.
(TST , Relator: José Antônio Pancotti, Data de Julgamento: 07/12/2004, 4ª Turma,)
7.3- A igualdade de direitos trabalhistas entre empregado rural e urbano é plena?
Conforme mostrado no item 7.1, há muitas diferenças entre estes dois tipos de
trabalhadores, apesar do art. 7º, da Constituição Federal determinar a igualdade de direitos
entre os trabalhadores urbanos e rurais,
O que se vê é que está prevalecendo, ainda assim, algumas diferenciações tendo em vista
o contraste existente entre os campos de trabalho dos dois laboradore
8. É comum que emissoras de televisão, teatros e produtoras de cinema contem com
o trabalho artístico de crianças menores de quatorze anos.
a) À luz das normas constitucionais que regulam a proibição do trabalho em
determinadas faixas etárias, analise a licitude de uma emissora poder
contratar uma atriz de dez anos de idade para atuar como apresentadora
de programa infantil.
Para o presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos
(FidDH), Hélio Bicudo[1], este tipo de trabalho é uma exploração:
Trata-se de exploração do trabalho infantil.
Sem dúvida, pois a Constituição Federal, em seu artigo 227, parágrafo 3°, I, dispõe que
o direito a essa proteção especial abrangerá dentre outros, os seguintes aspectos: “idade
mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho”, e tão somente na qualidade de
aprendiz (artigo 7°, inciso XXIII).
Diante de textos tão claros (interpretatio cessat in claris) e da sua regulamentação no
Estatuto da Criança e do Adolescente, não há realmente, o que discutir, cabendo ao juízo
competente a interdição imediata do programa, com conseqüente apuração das
responsabilidades legais não só da emissora, como também dos pais da criança.
A CLT, em seu artigo 403, proíbe qualquer trabalho aos menores de dezesseis anos de
idade, em conformidade com o artigo 7º, XXXIII da Constituição Federal.
Por outro lado, o trabalho do artista empregado é regulamentado pela Lei nº 6.533/1978,
esta lei é omissa, pois não aborda a prática ou trabalho artístico realizado por crianças e
adolescentes.
Referido diploma legal, em seu artigo 2º traz a conceituação de artista:
Art . 2º - Para os efeitos desta lei, é considerado:
I - Artista, o profissional que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de
qualquer natureza, para efeito de exibição ou divulgação pública, através de meios de
comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de diversão pública;
II - Técnico em Espetáculos de Diversões, o profissional que, mesmo em caráter
auxiliar, participa, individualmente ou em grupo, de atividade profissional ligada
diretamente à elaboração, registro, apresentação ou conservação de programas,
espetáculos e produções.
Já o Estatuto da Criança e do Adolescente dispõem, em seu artigo 149, II, sobre a
possibilidade de crianças e adolescentes participarem de atividades artísticas.
Ainda, a Convenção 138 da OIT, da qual o Brasil é signatário, em seu artigo 8º, regula a
possibilidade de permissões individuais para a participação de atividades artísticas.
Contudo, referida convenção não fixa idade mínima para esta participação, apenas
normas quanto às condições das atividades e sua duração
Rachel Vita] afirma que o assunto é polêmico e divide especialistas. Ela traz diversas
opiniões em sua reportagem, como o da secretária executiva do Fórum Nacional de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), Isa de Oliveira, senão
vejamos:
(...) as consequências são inevitáveis para os pequenos quando submetidos ao trabalho
precoce, como é o caso da apresentadora mirim Maisa, do SBT, no programa Sábado
Animado, que vai ao ar das 7h às 12h44. Com cinco anos, ela disputa audiência com o
programa da Xuxa, da Rede Globo. Maisa já virou alvo de deboches em paródias
veiculadas no YouTube, site de vídeos na internet.
Segundo a Viver Brasil[15], “o Ministério Público do Trabalho fez um estudo no ano
passado e detectou que a participação infantil em novelas, por exemplo, não poderia ser
permitida, uma vez que a OIT deixa claro que o trabalho artístico exercido por crianças
não pode ser contínuo. Por esse estudo foram levantados vários casos de ex-atores mirins
psicologicamente afetados. Para Marília Makaaroun, os problemas costumam acontecer
quando eles descobrem que só valem enquanto são fontes de dinheiro, de influência.”
b) Suponha que esta apresentadora seja contratada aos dez anos de idade, e
que ao completar 16 anos passe a frequentar curso do ensino médio,
recebendo remuneração que lhe assegura economia própria.
À luz das normas constitucionais e infraconstitucionais incidentes, pergunta-se: é
aplicável a ela vedação constitucional relativa ao trabalho noturno, perigoso ou insalubre?
Justifique.
O trabalho noturno é proibido para quem ainda não completou 18 (dezoito) anos.
É considerado noturno o trabalho compreendido entre 22h de um dia e 5h do outro na
zona urbana.
Também quem ainda não tem 18 (dezoito) anos não pode realizar trabalhos insalubre,
perigoso ou penoso.
Também é vedado o trabalho que seja prejudicial à formação do adolescente, ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam
a frequência à escola. A Lista TIP do Decreto 6.481 de 2008 traz relacionada as
proibições.
Com relação à insalubridade, vale destacar o conceito exposto no artigo 189 da CLT, que
determina: “Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua
natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos
à saúde (...)”.
Do mesmo modo que a vedação anterior, a CLT (artigo 405, I) 30 e o Estatuto (artigo
67, II) 31 , proíbem o trabalho insalubre aos menores de dezoito anos, provando mais uma
vez a intenção do legislador de proteger o indivíduo em formação, resguardando sua
integridade e saúde.
Ressalta-se que a Organização Internacional do Trabalho preocupada com o trabalho
infantil corrobora com a proibição do trabalho em todas as condições explanadas acima.
Por esse motivo várias convenções e recomendações foram editadas advertindo sobre o
assunto.