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Questões Dissertativas de Introdução à Filosofia Aula 01 01) Que diferenciação podemos fazer do uso popular do termo “filosofia” da atividade filosófica? Resposta: Deve-se diferenciar a filosofia, enquanto atividade intelectual do pensamento, do uso corriqueiro que se faz do termo como visão de mundo, isto é, “filosofia de vida”. Ter uma “filosofia de vida” de maneira alguma se equipara a fazer filosofia. Este tipo de percepção está ligada à tendência atual de perceber a filosofia como uma espécie de auto-ajuda sofisticada, que é uma percepção equivocada sobre o que seja a filosofia. (p. 02) 02) Por que um problema filosófico não é empírico? Resposta: Os problemas da filosofia são problemas perenes e não há possibilidade de confirmação ou refutação observacional das possíveis respostas. Quando um problema se mostra empírico, ele se mostra como um problema científico, não filosófico. (p. 02) 03) Onde reside a importância do estudo da história da filosofia para sua própria compreensão? Resposta: O estudo da história da filosofia possibilita a percepção da grande variedade de abordagens e perspectivas desenvolvidas pelos inúmeros pensadores através dos tempos, assim como as várias definições por eles dadas à filosofia. (p. 02) 04) O que há de comum às diversas abordagens históricas dos problemas filosóficos?

Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

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Page 1: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Questões Dissertativas de Introdução à Filosofia

Aula 01

01) Que diferenciação podemos fazer do uso popular do termo

“filosofia” da atividade filosófica?

Resposta: Deve-se diferenciar a filosofia, enquanto atividade

intelectual do pensamento, do uso corriqueiro que se faz do termo

como visão de mundo, isto é, “filosofia de vida”. Ter uma “filosofia de

vida” de maneira alguma se equipara a fazer filosofia. Este tipo de

percepção está ligada à tendência atual de perceber a filosofia como

uma espécie de auto-ajuda sofisticada, que é uma percepção

equivocada sobre o que seja a filosofia. (p. 02)

02) Por que um problema filosófico não é empírico?

Resposta: Os problemas da filosofia são problemas perenes e não há

possibilidade de confirmação ou refutação observacional das possíveis

respostas. Quando um problema se mostra empírico, ele se mostra

como um problema científico, não filosófico. (p. 02)

03) Onde reside a importância do estudo da história da filosofia para

sua própria compreensão?

Resposta: O estudo da história da filosofia possibilita a percepção da

grande variedade de abordagens e perspectivas desenvolvidas pelos

inúmeros pensadores através dos tempos, assim como as várias

definições por eles dadas à filosofia. (p. 02)

04) O que há de comum às diversas abordagens históricas dos

problemas filosóficos?

Page 2: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: O diálogo constante, mesmo que com enorme distância

temporal; a argumentação, desenvolvida por meio das regras lógicas

do pensamento; a coerência, que foge da contradição com os fatos e

entre as idéias; o questionamento constante sobre tudo; e os

problemas, que permanecem os mesmos com respostas diferentes e

contraditórias ao longo do tempo. (p. 02)

Aula 02

01) O que significa dizermos que os primeiros filósofos tinham uma

“preocupação cosmológica”?

Resposta: A filosofia ocidental nasceu na Grécia, entre os séculos VII

e VI a.C., com uma preocupação eminentemente cosmológica. Os

primeiros pensadores gregos estavam tomados pela preocupação em

responder à questão da ordem do universo (cosmos). (p. 01)

02) Quais os mal-entendidos acerca da passagem do mito ao logos?

Resposta: Dentre os mal-entendidos comuns, pode-se destacar a

suposição de que a passagem do “mito” ao “logos” se deu de maneira

definitiva, com o abandono total de referências sobrenaturais, assim

como achar que a explicação filosófica é dotada de razão, ao passo

que o mito seria destituído dela. (p. 01)

03) Como a obra dos poetas gregos Homero e Hesíodo mostram as

características mutantes da sociedade grega durante o período de

passagem do mito ao logos?

Resposta: Na obra de Homero se evidencia a hierarquia dos deuses

gregos e percebe-se que, por mais que a vontade divina submeta o

curso da vida humana, esse processo de interferência não é

misterioso. Dada a grande preocupação com o arbítrio dos deuses, os

Page 3: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

gregos antigos procuravam utilizar todos os processos naturais a seu

dispor para obter algum controle sobre a ação divina. Na Teogonia de

Hesíodo, tem-se a apresentação da árvore genealógica da mitologia

grega, desde os primeiros deuses até o apogeu e comando final de

Zeus. Expressas mitologicamente em termos de procriação e

consangüinidade, as idéias lógicas de implicação, dedução e

associação permeiam todo o texto do poeta. Assim, até mesmo os

deuses passam a fazer parte da mesma “natureza”, na qual, os

homens se encontram e começam a ser percebidos como submetidos

aos mesmos princípios.

Tanto na Ilíada quanto na Odisséia, Homero apresenta uma

concepção de virtude (areté) como um traço distintivo da origem por

nascimento do indivíduo; o aristoi é o nobre, e ele o é, porque possui

areté (virtude). Temos a expressão de uma sociedade aristocrata,

onde a virtude é de alguns em função do nascimento e isto os torna

superiores. Em Hesíodo, especificamente no poema Os trabalhos e os

dias, a virtude é resultado do esforço, do trabalho empreendido pelo

indivíduo; não é mais uma questão de sangue. Nesta sociedade,

qualquer homem pode ser virtuoso, contanto que se esforce para

isso. Homero é a voz de um mundo aristocrático e Hesíodo fala de um

mundo onde a experiência com os princípios democráticos começa a

acontecer.

A democracia supõe a igualdade entre indivíduos, isto é, estão no

mesmo nível quanto aos direitos políticos. A palavra, a opinião e o

voto dos iguais têm o mesmo valor dentro do grupo democrático. Mas

o mais importante é que uma vez que o voto iguala os homens, é

necessário convencer o outro de suas idéias. Mais do que nunca,

torna-se necessário desenvolver a argumentação, a lógica e a

retórica, que serão não somente instrumentos da prática política, mas

o instrumento do desenvolvimento intelectual (p. 01-02)

Page 4: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

04) Em que a democracia grega era paradoxal em relação ao

entendimento que hoje temos de democracia?

Resposta: A democracia grega era restrita aos cidadãos adultos,

deixando de fora além dos escravos, jovens, mulheres e estrangeiros.

Quando existiu, a democracia grega foi acompanhada pela

escravidão. Para muitos gregos, a escravidão era uma condição

natural de alguns indivíduos. Assim, alguns indivíduos nunca estariam

no mesmo patamar que outros; como era o caso não só dos

escravos, mas também das crianças e mulheres. (p. 02)

05) Por que os filósofos pré-socráticos são também chamados

filósofos da natureza e são representantes do período de passagem

do mito à filosofia?

Resposta: A preocupação destes primeiros pensadores (physis) é

cosmológica, isto é, procuravam neste mundo um princípio que

explicasse sua existência e ordem, daí “filósofos da natureza”. De

alguns destes pensadores, pouco ou nada restou de seus escritos,

mas da leitura dos fragmentos que sobreviveram ao tempo, é

possível perceber como seu pensamento filosófico está permeado de

mito (religião), pois seus argumentos são apresentados como

verdade revelada pelos deuses. Em conjunto com um linguajar

poético, esta verdade revelada, ao mesmo tempo filosófica e

religiosa, é de difícil compreensão e exige uma hermenêutica

sofisticada. Mas suas explicações não fazem mais referência aos

deuses como sendo a causa única dos acontecimentos deste mundo.

(p. 04)

Aula 03

01) Qual a importância dos sofistas na história da filosofia?

Page 5: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Modificaram a perspectiva do pensamento que até então

se centrava na questão sobre a natureza, a chamada questão

cosmológica, e se deslocou para a questão antropológica, a questão

sobre o homem e tudo que o envolve. Os sofistas além de serem

responsáveis por essa virada na percepção do pensamento, foram

responsáveis por: desenvolver a idéia de difusão do ensino (eram

professores remunerados) para todos e não só para alguns;

estabelecer com seu nomadismo (viajavam de cidade a cidade) uma

perspectiva cultural ampla; consolidar um espírito de liberdade de

pensamento; despertar o interesse pela linguagem, revalorizando a

retórica e a lógica. (p. 01)

02) Qual a razão da conotação negativa que o termo “sofista”

adquiriu?

Resposta: Foram mal aceitos pela sociedade ateniense, que não via

com bons olhos estrangeiros que vendiam o conhecimento,

apresentavam novos e diferentes costumes e que, em geral, não

acreditavam na verdade e na possibilidade de se atingir um

conhecimento certo. Estas posições levaram pensadores como

Sócrates, Platão e Aristóteles a realizar uma crítica das idéias dos

sofistas. Aliado a isto, está a ligação do nome aos ensinamentos de

um grupo deles preocupados apenas com técnicas de convencimento

político e persuasão pessoal. (p. 01-02)

03) Qual a importância da alma para o pensamento de Sócrates?

Resposta: Para Sócrates, o homem se define em função de sua alma

(psyché) e não de seu corpo; a matéria corporal atrapalha o pleno

desenvolvimento da alma que é a fonte do que o homem tem de

característico, a razão. Acreditando na imortalidade da alma humana,

compreendia a filosofia como uma preparação para a morte, uma vez

que esta propiciava o aprimoramento do espírito, em detrimento da

Page 6: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

satisfação corporal. Preparada, a alma se livra do corpo e passa a

viver em um mundo livre da matéria. (p. 03-04)

04) O que caracterizava o método socrático de ensinar?

Resposta: Sócrates acreditava que todos possuíam já dentro de si a

verdade eterna e única e o conhecimento não era adquirido, e sim,

lembrado. Esse método socrático, denominado maiêutica, era

dialético e irônico, pois trabalhava para promover uma síntese a

partir de posições contrárias e com o uso do gracejo; Sócrates

procedia por meio de uma série de perguntas que desfaziam a ilusão

do conhecimento tradicional e impensado (refutação), e procuravam

construir, a partir do reconhecimento da ignorância, o conceito a ser

estudado. A dialética procedia de definições menos adequadas, ou de

exemplos particulares, até a definição universal. Ou seja, do

raciocínio particular para o universal. Neste sentido, a sabedoria

consiste em se reconhecer ignorante. (p. 04)

05) No que consiste o chamado “problema socrático”?

Resposta: Como nada escreveu, o pensamento de Sócrates deve ser

percebido dentro dos escritos de seus discípulos, que sobre ele

escreveram apresentando visões diversas e desenvolvendo escolas

filosóficas de inspiração socrática. O principal de seus discípulos foi

Platão, que escrevia diálogos nos quais Sócrates era sempre sua

personagem principal. Reside nessa situação a dificuldade de

diferenciar o que pensamento de Sócrates e o que é pensamento de

Platão colocado na boca da personagem Sócrates. Além dos

discípulos, Aristófanes, comediógrafo grego contemporâneo de

Sócrates, escreveu As nuvens, onde ridiculariza Sócrates como um

sofista. (p. 04)

06) O que caracteriza a teoria das idéias de Platão?

Page 7: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Platão defendia a existência de um mundo das

idéias/formas. Esse mundo eterno, perfeito e imaterial é o modelo do

mundo material perecível em que vivemos e que é composto por

cópias imperfeitas das idéias (formas). Existe uma hierarquia no

mundo perfeito da idéias e, em função disso, inúmeras relações entre

elas podem ser traçadas. (p. 05)

07) Qual o reflexo da teoria das idéias para a concepção de

conhecimento no pensamento de Platão?

Resposta: Platão distingue a episteme (conhecimento) da doxa

(opinião). Na episteme se tem o conhecimento verdadeiro e confiável,

em contrapartida, na doxa, o mutável e inconsistente. O objeto do

conhecimento deveria ser real e seguro, o que não podia ser

garantido pelas coisas que percebemos pelos sentidos, mutáveis.

Assim, o objeto do conhecimento não são as coisas físicas, mas as

Idéias imutáveis. Há em Platão a “reificação” dos objetos do

conhecimento, isto é, são coisas, mas o são de maneira diferente das

coisas materiais. Como Platão assume a posição socrática de

inferioridade da matéria - que é amorfa (sem forma) e só possui

determinação por que é limitada pelas formas/idéias -, a alma é o

elemento eterno e espiritual aprisionado no corpo, que teve sua

origem no mundo das idéias. As almas perceberam, então, as idéias

em sua perfeição e, após sua prisão em um corpo cujas janelas são

os sentidos, as almas conhecem por reminiscência (lembrança), pois

identificam as formas das coisas com as idéias eternas específicas.

Essa percepção ocorre com o uso da razão, já que os sentidos,

porque são materiais, falham constantemente e nos fornecem apenas

opinião (doxa) e não a ciência (episteme), fornecida somente pela

razão. (p. 05)

08) Qual a visão de sociedade perfeita defendida por Platão, em

especial em sua obra República?

Page 8: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Em sua interpretação do mundo social, Platão via com

desconfiança a democracia, uma vez que foi nesse sistema de

governo que Sócrates foi condenado à morte. A sociedade ideal de

Platão possuía três estratos: trabalhadores, guerreiros e magistrados,

cada um deles composto por indivíduos que já nasciam com um tipo

de alma com a predisposição a um dos tipos de atividade. As uniões

são permitidas e determinadas pelo Estado, que escolhe os cidadãos

com a beleza, inteligência e destreza suficientes para procriar. As

crianças são criadas e educadas em conjunto, em separado dos pais,

para que sejam formadas em hábitos saudáveis. Nessa sociedade, os

que se destacam em inteligência farão parte da classe dirigente, a

dos chamados "reis-filósofos". (p. 06)

09) Qual a diferença central do pensamento de Aristóteles do de seu

mestre Platão?

Resposta: Foi a crítica e recusa da existência do "mundo das idéias".

Para Aristóteles, as idéias não se encontram em um mundo em

separado; as idéias são produto da abstração que a mente faz do que

é percebido pelos sentidos. Só há este mundo material no qual

vivemos, e assim, os sentidos não são de todo enganadores, pelo

contrário: são a porta de entrada de qualquer conteúdo que a razão

trabalha. O que ocorre é que nossa razão passa, em um processo de

gradativa complexidade e abstração, daquilo que é material para

aquilo que não é. Desse modo, as idéias são resultado da apreensão

daquilo que há de essencial nos objetos do mundo, aquilo que os

define no que são. A idéia de "cadeira" é uma abstração daquilo que

faz de alguns objetos cadeiras. (p. 07)

10) No que o pensamento de Aristóteles é uma retomada do tema

cosmológico iniciado pelos pré-socráticos?

Page 9: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Aristóteles desenvolve a física e a metafísica iniciadas

pelos pré-socráticos. Determina a análise do mundo pelo que ele tem

de geral, desenvolvendo os conceitos de causa (material, formal,

eficiente, final), substância, acidentes, ato, potência, etc. Dentro de

sua perspectiva, o ser humano é definido como uma composição de

matéria e forma, onde seu corpo é a matéria e sua alma é sua forma.

A alma é princípio de vida e qualquer ser vivo possui um tipo de

alma. Só o ser humano tem alma intelectiva, responsável por sua

capacidade racional, além das almas vegetativa (permite a

alimentação) e locomotora (permite o movimento). Em algumas

partes da obra de Aristóteles, ele dá a entender a possibilidade de a

alma intelectiva ter existência desvinculada do corpo, mas em outras

fala da indissociabilidade entre corpo e alma. (p. 07)

11) O que caracteriza a ética aristotélica e como ela está ligada à

política?

Resposta: Considerando que o ser humano se distingue dos demais

animais por sua racionalidade, o fim do ser humano deve satisfazer

essa característica. Todos os indivíduos desejam a felicidade,

compreendida das mais diversas formas, mas apenas o

desenvolvimento do intelecto e das virtudes propicia a máxima

felicidade, o que não caracteriza um desprezo aos aspectos corporais,

pois, para Aristóteles, as necessidades materiais têm de ser

satisfeitas para atingirmos a contemplação. Só se atinge a felicidade

por meio da virtude que é uma disposição para agir prudentemente

entre posições extremadas. Segundo Aristóteles, a ação é imperfeita

por falta ou por excesso e a virtude está no meio. Ao mesmo tempo

em que o ser humano é um animal racional, também é um animal

político, social; o ser humano somente consegue sobreviver em grupo

e é nele que pode desenvolver sua potencialidade. A pólis (cidade) é

uma extensão natural do primeiro núcleo social, a família. Sendo

assim, o indivíduo tem na política, na arena social, o ambiente

Page 10: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

propício para o desenvolvimento das virtudes. A política é vista como

uma extensão da ética, pois o Estado existe para o bem-comum e é

necessário à felicidade. (p. 07-08)

Aula 04

01) O que caracteriza os estóicos, os epicuristas e os céticos (escolas

de filosofia do período helenístico)?

Resposta: Os estóicos defendiam a apatia, isto é a eliminação dos

desejos como caminho da felicidade; os epicuristas procuravam a

ataraxia, ausência de preocupações e perturbações, e um equilíbrio

dos prazeres; e os céticos desconfiavam não somente da

compreensão do que leva à felicidade, mas também duvidavam da

possibilidade de se atingir a verdade. (p. 01)

02) O que no Cristianismo foi responsável pela aversão primeira

causada nos pensadores gregos e romanos?

Resposta: O mundo greco-romano rejeitou o cristianismo por causa

de sua mensagem universal e monoteísta, sua nova idéia de amor

(caridade), sua concepção de virtude, a idéia da encarnação divina na

figura de Cristo, a importância da liberdade humana como fonte da

responsabilidade moral e o sentido exterior ao mundo da vida

humana. (p. 02)

03) Qual a razão do nome “patrística” dado à primeira filosofia

cristã?

Resposta: Os pensadores cristãos encontraram na filosofia o

instrumento para a defesa racional de sua fé. Os chamados Padres

Apologistas tinham como preocupação a defesa sistemática da fé

cristã frente aos ataques da filosofia pagã; em razão disso a filosofia

Page 11: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

dos primeiros séculos do cristianismo foi chamada Patrística

(pater=pai). (p. 02)

04) Como Agostinho tratou a questão do mal?

Resposta: Agostinho negou a existência do mal como uma

substância. O maniqueísmo defendia que o universo é regido pelos

princípios do bem e do mal, ambos com existência real. Segundo

Agostinho, o mal é privação do bem. Ele deslocou o mal do campo

cosmológico e da constituição do mundo, para o campo ético, o agir

humano. Foi grande defensor da idéia do livre arbítrio em

contraposição ao fatalismo do pensamento greco-romano. (p. 03)

05) Por qual razão a filosofia medieval posterior ao século XIII se

chamou “escolástica”?

Resposta: A partir do século XIII, dois tipos de corporações

existiam: a de estudantes, universitas scholarum (Bolonha), e a de

professores e alunos, universitas magistrirum et scholarum (Paris).

Era o aparecimento da universidade pela reunião das escolas. Os

títulos, até hoje existentes, são o resultado de privilégios

conquistados pelos cooperados, que na universidade já não se

diferenciavam mais pelo nascimento, mas pela capacidade

intelectual; formaram um grupo heterogêneo que se distinguia do

resto da sociedade. Nas escolas e universidades era produzida a

cultura de então; daí o nome da filosofia da época, Escolástica. (p.

04)

06) Como Tomás de Aquino tratou o problema das relações entre fé

e razão?

Resposta: Tomás de Aquino se preocupou em estabelecer as

relações entre fé e razão. Para ele, a razão e a fé são modos distintos

de se conhecer, mas não podem se contradizer. A razão é incapaz de

Page 12: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

compreender por si só os mistérios revelados, mas presta um serviço

inquestionável à fé, demonstrando, ilustrando e defendendo. (p.05)

Aula 05

01) Que condições históricas, sociais e culturais diferenciaram o

Período Moderno do Medievo?

Resposta: Inicia-se a constituição dos Estados nacionais europeus, o

que é a superação do sistema feudal, com seu poder político

desagregado. A filosofia desvincula-se da teologia, adquirindo

autonomia e tratando de uma quantidade maior de temas e

perspectivas. O período moderno se mostra fecundo de descobertas

científicas e técnicas observacionais que aumentam o campo de visão

da humanidade. As descobertas de novas terras - financiadas pela

burguesia que havia custeado também o aparecimento dos Estados -

ampliam a percepção cultural do homem moderno. A modificação do

sistema social estabelece cada vez mais as relações econômicas como

as principais dentro do grupo social; as relações pessoais são

relegadas a um plano secundário. As relações com Deus,

intermediadas pela Igreja, passam a ser contestadas. (p. 01)

02) Por que chama-se “dúvida metódica” a tentativa de Descartes

refundar a filosofia em novos termos?

Resposta: Descartes via na matemática o modelo que deveria ser

seguido pela filosofia. Os avanços que a astronomia e a física

obtiveram com a utilização da matemática instaram Descartes a

estabelecer uma filosofia baseada na razão e em princípios

incontestáveis. Em sua procura pelo ponto de partida que garantiria o

conhecimento correto, o pensador francês começa um processo de

dúvida que tinha como objetivo descartar qualquer coisa que pudesse

Page 13: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

ser objetável; é o que se convencionou chamar "dúvida metódica",

pois era apenas um caminho para a certeza, não uma desconfiança

quanto às possibilidades do conhecimento humano. (p. 03)

03) Qual o ponto de partida (a certeza absoluta) da filosofia

cartesiana?

Resposta: A certeza absoluta a que Descartes chega é a constatação

da própria existência como ser pensante (res cogitans), o que

traduziu em sua frase mais famosa: se duvido, é porque penso, e

se penso, existo (cogito ergo sum). A certeza da existência da alma

possibilitará a reconstrução do conhecimento humano. (p. 03)

04) Por que a filosofia de Descartes é dita dualista?

Resposta: Em sua filosofia, Descartes distingue duas substâncias no

mundo: a res cogitans, "a coisa pensante" (alma), e a res extensa, "a

coisa extensa" (matéria). O mundo, que é matéria, se rege por leis

mecanicistas, como as engrenagens de um relógio. A alma não é

regida por essas leis e, no pensamento de Descartes, as relações

entre corpo e alma são apenas ocasionais, pois não se influenciam

mutuamente. (p. 02)

05) Qual a relação, no pensamento de Hobbes, entre sua concepção

antropológica (de ser humano) e sua filosofia política?

Resposta: Hobbes defende que apenas existe a substância material,

ou seja, aquilo que pode ser percebido pela mente humana através

dos sentidos. Esse ser material, que é o homem, tem como traço

natural o egoísmo. Seu estado natural é o da "guerra de todos contra

todos", mas sua racionalidade faz ver que a existência da sociedade

lhe propiciaria uma vida mais longa e segura. Entrega, após um

contrato natural tácito, seus direitos naturais nas mãos de um poder

Page 14: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

soberano, que passa a exercê-los de maneira despótica para garantir

a existência da sociedade e a preservação de seus membros. (p. 04)

06) Por que a idéia de democracia representativa está ligada ao

pensamento de Locke?

Resposta: Locke é um contratualista, mas não acredita que em

estado natural a situação seja a de guerra de todos contra todos.

Locke argumenta que pela própria condição racional, as pessoas

decidem por estabelecer um pacto implícito para a constituição da

sociedade. Ao ceder parte de seus direitos para o governo, essa

cessão não é incondicional; se o governante não prestar contas de

suas obrigações para com aqueles de onde emana seu poder, então,

ele perde a representatividade, pode ser destituído e substituído. (p.

05)

07) O que caracteriza Hume como um filósofo empirista?

Resposta: Hume, como os demais empiristas, defendia que a única

fonte de idéias em nossa mente eram os sentidos. Aquelas

percepções mais próximas no tempo e no espaço formam as

impressões, que possuem mais força e vivacidade. Quando essas

impressões não possuem mais as percepções para lhes garantir a

força, se tornam idéias guardadas na memória, mais fracas e tênues.

(p. 06)

08) O que é a alma/mente para Hume?

Resposta: A mente humana liga idéias vindas da percepção e cria

seres imaginários. A alma humana é apenas o conjunto dessas

impressões e idéias e, uma vez que cessa a atividade dos sentidos,

cessa a alma. (p. 06)

09) Que crítica Hume faz à ideia tradicional de causalidade?

Page 15: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Na opinião de Hume, nossa mente tem por hábito criar

relações entre fenômenos observados, isto é, estabelece uma relação

que não está no fato em si, mas apenas na nossa disposição em vê-

los assim. A relação de causalidade - básica para a ciência - é uma

construção mental, não a apreensão da realidade. Todo conhecimento

é conjetural, uma interpretação que a mente humana realiza sobre os

fenômenos individuais que observa. (p. 06)

10) O que é o conhecimento para Kant?

Resposta: Segundo Kant, a intuição sensível nos fornece os

fenômenos indeterminados, o que por si mesmo não constitui

conhecimento, dado serem percepções específicas sem traços de

universalidade e necessidade. O conhecimento somente se constitui

pela organização dos dados da intuição sensível por um elemento a

priori que lhes dá forma e ordem. Esta estrutura racional ordenadora

é uma lógica do entendimento e é vazia em si mesma, sem conteúdo.

Sua função é objetivar o dado sensorial fornecendo a síntese (união)

entre o particular sensorial e a universalidade da estrutura a priori

que permite a própria constituição do conhecimento. Tanto espaço e

tempo – formas a priori da intuição sensível que ordenam os

fenômenos percebidos – quanto as categorias – conceitos puros que

permitem a ligação dos fenômenos – constituem, ao mesmo tempo, o

modo próprio daquele que conhece e o objeto conhecido. (p. 07)

11) Que posição Kant toma em relação à existência de Deus?

Resposta: Deus não pode ser conhecido pela razão, pois está além

de seus limites. Entretanto, Kant argumenta que a razão, quando se

refere ao agir, deve pressupor a existência da liberdade, da alma e de

Deus, sob pena de não possuir critérios para determinar o

comportamento, a responsabilidade e a punição. (p. 08)

Page 16: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Aula 06

01) Que críticas Hegel fazia ao pensamento de Kant?

Resposta: Hegel criticava a idéia de Kant segundo a qual temos

acesso ao fenômeno, mas não temos acesso ao númeno, a coisa em

si. Para Hegel, não podemos nem mesmo afirmar a existência da

coisa em si; nosso conhecimento se resume às idéias em nossa

mente, em nossa consciência. Na filosofia de Hegel tudo que é

racional é real e tudo que é real é racional, isto é, não há separação,

como em Kant, das esferas teórica e prática. (p. 02)

02) O que é a dialética hegeliana?

Resposta: Em Hegel, há uma identidade entre o pensamento e a

realidade; as regras do pensar são também as regras do mundo.

Essas regras são regidas pelo princípio de contradição, que afirma

que nada é idêntico a si mesmo e tudo se subordina à afirmação e à

negação; é a dialética hegeliana que se mostra como princípio de

ordenação do mundo material, da história da humanidade e,

principalmente, como processo pelo qual o Espírito (Deus) se

desenvolve e se mostra. Assim, Hegel vê sua época - em todos os

seus aspectos econômicos, políticos, religiosos, artísticos, científicos e

filosóficos - como o momento de culminância do processo dialético de

desenvolvimento do Espírito; dessa posição, Hegel advogava o "fim

da história", no sentido de que a partir de então, nada mais haveria

de relevante a ser revelado. (p. 02-03)

03) Por que se afirma como existencialista o pensamento de

Kierkegaard?

Resposta: O que é primário para todo ser é sua existência e é nela

que o indivíduo de define. A existência, Kierkegaard a define como a

subjetividade derivada da escolha. Assim, no pensamento do

Page 17: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

dinamarquês é correto se referir aos existentes com suas existências

deliberativas, e não à “existência” em si mesma. Não há essência do

ser humano; ela é construção existencial de cada indivíduo, que faz a

si mesmo durante sua vida. Percebendo o quanto a posição única da

existência do indivíduo causa angústia e desespero, Kierkegaard

indicava como solução o salto no absurdo da fé, que possui princípios

incompreensíveis à razão. (p. 03)

04) Qual a crítica de Nietzsche à visão da religião (em especial, o

cristianismo) e o que ele advoga em seu lugar?

Resposta: Os homens fracos e incapazes se defendem frente

àqueles que são superiores por meio de duas armas poderosas: a

moral e a religião. Assim como todas as grandes religiões, o

Cristianismo prega uma moral de cordeiros onde os medíocres - a

maioria das pessoas - oprimem aos superiores; os pobres, fracos e

humildes merecem tudo e aos fortes, orgulhosos e aristocráticos é

reservada a condenação. Nietzsche prega o advento do super-

homem, aquele que é senhor de sua própria vontade, criador de sua

própria moral. Uma vez que "Deus está morto", somente aquele que

é superior aos demais tem a capacidade de assumir sua vontade, até

então aprisionada. Esse homem está "além do bem e do mal", porque

não é mais a sociedade que lhe impõe o certo e o errado, mas é ele

que cria as virtudes necessárias a sua vida. (p. 03-04)

05) O que caracteriza o positivismo de Comte?

Resposta: Para Comte somente a observação é fonte de

conhecimento científico e todos os demais conhecimentos não

passam de ilusão, são “metafísica”. O termo "metafísica" adquire uma

conotação pejorativa dentro do positivismo, fruto da crítica ao

conhecimento humano nascida com a modernidade. O positivismo

defendia a idéia de progresso contínuo e irreversível da humanidade

Page 18: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

(as civilizações passam por três fases de desenvolvimento), cuja face

mais visível era o desenvolvimento da ciência e da técnica. Assim

como a física tinha a função de explicar o mundo físico, uma

disciplina própria deveria cuidar do mundo social, que deveria ser

explicado por leis similares às das ciências naturais. Era a física

social, dividida em estática social e dinâmica social. A primeira

tratava da ordem social e a outra do progresso social. (p. 04)

06) Qual a relação que o pensamento de Marx mantém com o

pensamento de Hegel?

Resposta: Ao mesmo tempo que nega o hegelianismo - afirmando

que não há o Espírito, somente a matéria -, mantém do pensamento

de Hegel o esquema dialético de desenvolvimento da matéria e da

humanidade. A luta de classes, na filosofia de Marx, desempenha o

papel visível de contraposição dos contrários que resulta em uma

situação síntese que conterá dentro de si mesma sua contradição. A

filosofia dentro da perspectiva marxista possui a função de incitar a

mudança; não basta entender o mundo, é necessário modificá-lo. (p.

05)

07) Qual a mecânica de transformação da realidade material e social

defendida por Marx?

Resposta: Em consonância com o positivismo, Marx assume a crença

no progresso inevitável da humanidade. As leis dialéticas são leis da

matéria e por isso mesmo, determinantes de uma mudança contínua.

A situação do modo de produção capitalista produz as condições para

superação desse mesmo sistema, pois o capitalista maximiza os

lucros através da exploração do trabalho do proletariado, mas isso

tem um limite na capacidade física do trabalhador. O capitalismo

aumenta a produção e os lucros maximizando a técnica, que exige

cada vez menos trabalho assalariado, aumentando a produtividade.

Page 19: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Ao mesmo tempo, desemprega uma massa de trabalhadores que não

terá renda para consumir, o que leva a crises sucessivas de excesso

de produção. Nesse momento, o proletariado assume o poder,

preparando o caminho para a sociedade comunista, onde cada um

receberia conforme suas necessidades e contribuiria conforme suas

capacidades. (p. 06)

08) O que caracteriza o pragmatismo?

Resposta: O princípio básico é de que a verdade se define pelo

critério da ação bem sucedida; o que dá resultados determina a

aceitação como verdadeiro. O pragmatismo afirma de maneira clara

que o método pragmático consiste no estudo de várias doutrinas do

ponto de vista de suas conseqüências práticas e seus resultados. (p.

06)

09) O que é o “critério de demarcação” defendido pelos

neopositivistas (positivismo lógico)?

Resposta: Esse critério estabelece que somente proposições

(sentenças) que possam ser reduzidas ao que é observacional

possuem significado. Se uma proposição não se verifica por

observação, ela é destituída de sentido; sentenças não verificáveis

são sentenças metafísicas. Segundo os positivistas lógicos, somente

são consideradas ciências aquelas áreas de conhecimento, cujas

sentenças são verificáveis. (p. 08)

10) O que é a filosofia para os neopositivistas?

Resposta: Os positivistas lógicos chamavam a atenção para o fato

de que a linguagem comum não seria adequada para o conhecimento

científico; defendiam, então, que somente uma linguagem artificial

lógica e simbólica poderia tratar do conhecimento. O trabalho da

filosofia estaria resumido à análise da linguagem das ciências por

Page 20: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

meio da lógica simbólica. Era essa linguagem que propiciaria a

unificação das ciências, um ideal dos neopositivistas. (p. 08)

11) O que é o falsificacionismo defendido por Karl Popper contra o

critério de demarcação dos neopositivistas?

Resposta: Popper defendeu um novo critério de demarcação, que

segundo ele, não estaria na verificação, mas no caráter falsificável de

uma teoria. Somente uma teoria que se coloca à prova - dizendo

exatamente o que admite ou não e como isso pode ser testado - é

tida como científica. Teorias que nunca podem ser falsificadas são

teorias metafísicas. Mas, ao contrário dos positivistas lógicos, Popper

não dizia que teorias metafísicas não possuíam sentido; eram plenas

de sentido e muitas vezes fonte de teorias científicas. (p. 09)

12) O que é a filosofia para Wittgenstein em sua segunda fase?

Resposta: Wittgenstein defende a idéia de que o trabalho da filosofia

é o de análise da linguagem comum; somos assombrados por

fantasmas que nossa linguagem cria e a filosofia deve exorcizá-los,

isto é, a filosofia é terapia lingüística que revela os significados. Nós

estamos inseridos em diversos jogos de linguagem e somente por

meio do contexto podemos apreender os significados. (p. 09)

Aula 07

01) O que Aristóteles entendia por “filosofia primeira”?

Resposta: A "filosofia primeira", ou metafísica, seria a área da

filosofia que abordaria as causas primeiras de toda a existência, o ser

em si mesmo, que Aristóteles identificava com Deus. Em sua

perspectiva, a metafísica equivalia a uma teodiceia, uma ciência de

Deus, a primeira causa incausada de toda existência. (p. 02)

Page 21: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

02) Que tipos de problemas são próprios da metafísica?

Resposta: De maneira introdutória pode-se dizer que a metafísica

trata dos problemas do ser e da existência. O que existe? O que

define a existência específica de algo e do todo? Que tipo de

existência pode-se advogar da essência das coisas? Existem causas e

quais? O que é necessário e o que é contingente? Todas estas são

questões metafísicas. (p. 02)

03) Como a morte está relacionada ao problema metafísico do

sentido da vida?

Resposta: A razão da existência pessoal e da existência é um

problema metafísico e com reflexos imediatos para o nosso viver

cotidiano, como por exemplo, os objetivos que você traça em sua

vida e as ações que realiza para alcançá-los. Em especial este

problema se coloca quando o homem se defronta com condição

mortal. A morte apressa as questões acerca do significado da vida,

além da definição de que é algo bom ou ruim. Procurar sentido no

que fazemos pode estar nos desejos pessoais, nas preocupações

sociais, ou em algo fora desse mundo. Alguns filósofos argumentam

que não há sentido na existência pessoal, que se daria pelo acaso e

demandaria a produção livre e pessoal de um significado, sob pena

de se admitir até mesmo o suicídio como resposta à falta de

significado da existência. (p. 03)

04) O que dizem aqueles que advogam a subjetividade do sentido da

vida?

Resposta: Mesmo que se produza significado, este é apenas

subjetivo, pois o universo demonstra uma indiferença constante à

existência e ao que o ser humano produz, já que tudo será

consumido pelo tempo e desaparecerá para sempre, mesmo as

lembranças que tenham de nós e de nossas ações. Talvez o ser

Page 22: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

humano não devesse se preocupar tanto com sua existência como

um ser único, achando que ele é especial. (p. 03)

05) O que é a epistemologia e do que trata?

Resposta: A epistemologia, ou teoria do conhecimento, trata de

todas as questões acerca do conhecimento humano: como procede;

de onde parte; seus limites; seus tipos. Ao procurar conhecimento,

pretende-se encontrar crenças verdadeiras justificadas. Dentro desta

definição encontram-se dois conceitos que devem ser clarificados:

verdade e justificação. (p. 04)

06) Sobre o problema epistemológico da verdade (o que é?), quais

são as teorias expostas no texto?

Resposta: Existem diversas "teorias da verdade", em outras

palavras, teorias que definem o que é a verdade. Dentre elas temos a

mais comum, que podemos chamar de "teoria da correspondência"

ou "teoria especular". O termo "especular" se refere a espelho, pois

supõe que os conhecimentos que cada pessoa possui se espelham a

realidade ou correspondem ao mundo como ele é. Assim, verdadeira

é a crença que reproduz a estrutura do mundo e falsa é a crença que

não reflete esta estrutura. Uma outra teoria é a pragmatista.

Segundo esta teoria, a verdade é uma característica provisória das

crenças, ou seja, enquanto estas produzem o resultado esperado em

termos de finalidades práticas, elas sustentam o status de

verdadeiras. Esta posição está freqüentemente ligada ao

instrumentalismo em ciência, que percebe as teorias científicas como

instrumentos de manipulação da realidade que podem ser

substituídos. (p. 04)

07) Quais são as exigências epistemológicas de uma afirmação

justificada?

Page 23: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: Quanto à justificação, sua definição está ligada ao tipo de

conhecimento que se pretende advogar, o procedimento necessário

para atingi-lo e as evidências relevantes. A justificativa deverá

possuir não só uma argumentação logicamente correta, mas também

apresentar fatos plausíveis e não contraditórios em defesa do que se

pretende afirmar como verdade. A plausibilidade dos fatos aventados

e das crenças deve obedecer também ao critério de coerência. A

exigência de coerência é a necessidade de que o conjunto de nossas

crenças não inclua crenças contraditórias. (p .05)

08) Por quais razões a filosofia da ciência se tornou área importante

da epistemologia (teoria do conhecimento)?

Resposta: O conhecimento científico, em especial o das ciências

naturais, se desenvolveu enormemente a partir do início da

modernidade com a Revolução Científica e a Revolução Industrial,

tributária da primeira. A ciência se tornou, durante o século XIX e

ainda hoje para alguns, o conhecimento privilegiado. A ciência tem

uma enorme importância na sociedade de hoje, o que pode ser

apreciado ao notar o grande interesse e dependência que se possui

das questões científicas e tecnológicas. Aos filósofos interessam

indagar o que caracteriza o conhecimento científico, seu método ou

métodos, suas teorias e a realidade da qual pretende falar. (p. 06)

09) O que o ceticismo advoga?

Resposta: O ceticismo chama atenção para o fato de que

constantemente o ser humano erra: nosso raciocínio se mostra

errado, somos enganados pelos sentidos, confundimos sonho e

realidade, e nossas teorias estão permanentemente se mostrando

falhas. Em suma, não podemos dar crédito às nossas percepções e

crenças, pois não possuímos garantia alguma da correção delas; no

Page 24: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

máximo podemos afirmar que temos opiniões acerca do mundo,

nunca conhecimento de como ele realmente é. (p. 07)

10) O que é a ética e quais os problemas de que trata?

Resposta: As questões éticas são relativas ao agir humano. O que é

certo fazer? O que não devemos fazer? Qual ou quais são as fontes

da moralidade? Há alguma relação entre o certo e o útil? A felicidade

pessoal é a justificativa final das ações humanas? Além das questões

éticas de cunho geral referidas acima, existem as questões mais

específicas, relativas à época em que se vive, em especial aquelas

que dizem respeito à vida. (p. 07)

11) O que são o relativismo e o subjetivismo moral?

Resposta: O relativismo moral. A percepção de que existem variadas

concepções morais que variam com o tempo, o lugar e os grupos é a

base do relativismo moral. Ao se prestar atenção à história da

humanidade percebe-se como os diferentes povos e civilizações

possuíam concepções contraditórias acerca do certo e do errado;

quando se observa as sociedades hoje existentes, pode-se notar que

a percepção do bem e do mal também varia muito. A conclusão

destas observações para o relativista moral é a de que a norma moral

depende da sociedade em que se vive; o que é certo é aquele tipo de

ação que a sociedade procura incentivar ou toma como normal, e o

que é errado é a ação que aquela sociedade tenta coibir. Deste modo,

para o relativista moral não podemos condenar moralmente as ações

de determinado povo, pois este está simplesmente fazendo aquilo

que pensa estar certo. Qualquer tipo de repreensão moral seria

derivada de uma atitude etnocêntrica. A posição chamada

"subjetivismo moral" é uma derivação do relativismo, pois defende

que o certo e o errado são relativos ao sujeito, isto é, é aquilo que o

indivíduo toma como o melhor e o pior para ele. (p. 08)

Page 25: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

12) No que as mais variadas críticas ao relativismo moral coincidem?

Resposta: Há uma coincidência nas diversas respostas dadas ao

relativismo moral, mesmo quando estas respostas não derivam

teorias éticas comuns. Platão, Aristóteles, os filósofos cristãos da

Idade Média, os racionalistas modernos, os empiristas, os

utilitaristas, Kant e diversos outros pensadores não coincidiram em

suas propostas de uma teoria ética definidora do certo e do errado no

agir humano, mas todos eles coincidiram em suas críticas ao

relativismo e na possibilidade de chegarmos racionalmente ao que

usualmente chamamos de "regra áurea", uma norma moral universal.

Nisto estão ao lado das maiores tradições religiosas da história da

humanidade. As críticas ao relativismo e ao subjetivismo estão

centradas na idéia da impossibilidade de crítica moral, de educação

moral e reforma social ao admitirmos a posição relativista. Segundo

os críticos do relativismo, basta que você se pergunte quais seriam as

razões para condenar um ato em um grupo social diferente do seu ou

em um subgrupo social da sociedade em que se está inserido. (p. 08-

09)

13) Qual o problema com o subjetivismo moral?

Resposta: Imagine você se o certo e o errado fossem os objetos do

desejo dos indivíduos. A responsabilidade moral, assim como a

imputação de culpa, não poderiam ocorrer dentro da sociedade.

Novamente, como pais e educadores agem? Dizem a seus filhos e

alunos "façam o que desejam"? A idéia de educação moral está

justamente baseada no controle dos desejos subjetivos. (p. 09)

14) Qual a tentativa kantiana para controlar o subjetivismo moral?

Resposta: Há uma tentativa, com base no pensamento de Kant, de

controlar o subjetivismo. Esta teoria faz referência ao conceito de

"observador ideal". Um dos principais pensadores contemporâneos

Page 26: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

que advoga esta posição teórica foi o filósofo americano John Rawls

em seu livro "Uma teoria da Justiça". Ao decidir sobre a ação, o

indivíduo deve se colocar na posição de um observador ideal que

procuraria ter o máximo conhecimento possível sobre a ação a ser

realizada – inclusive as possíveis conseqüências – e procurar agir

com total imparcialidade nas ações, isto é, levando os interesses de

todas as pessoas – incluso ele próprio – igualmente em consideração.

Uma das críticas a esta posição está ligada à exigência de total

imparcialidade. Imagine. Você levaria igualmente em consideração os

interesses de seus familiares e de um desconhecido? (p. 09)

15) Como a questão do livre-arbítrio está ligada à ética, em especial,

em sua relação com a noção de responsabilidade?

Resposta: Toda nossa ação cotidiana e tomada em sociedade está

baseada na crença que se possui no livre-arbítrio. Ao chamar atenção

para ações humanas que estariam certas ou erradas; louva-se ou

condena-se as próprias as ações e a dos outros; recompensa-se ou

pune os atos realizados. A liberdade humana deve ter como

característica básica a autonomia na escolha. Em algum momento

nossa capacidade de decisão ou nossa vontade devem poder escolher

sem nenhum constrangimento, sem nada que as determine.

Diversos autores defenderam o determinismo como a posição teórica

mais apropriada ao nosso conhecimento sobre o mundo e sobre o ser

humano. Como o próprio nome já indica, o determinismo defende

que todas as ações no mundo estão determinadas por causas

anteriores a elas, incluso as ações humanas. Quando o ser humano

age, estaria sujeito às habilidades biológicas inatas, aos valores

instruídos pela família, aos preceitos e noções sociais em nós

inseridos pelo grupo, às condições econômicas impostas pelos modos

de produção e até mesmo aos inúmeros e desconhecidos fatores

inconscientes que possuímos. (p. 10)

Page 27: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

16) Que paradoxo o determinismo traz à ética, e que resposta ele dá

a este paradoxo?

Resposta: Se o ser humano é livre, ao condenar alguém por fazer

algo errado, o que se esta fazendo é dizer que se você estivesse em

sua posição não faria o mesmo. Se o indivíduo é livre para agir, então

tem responsabilidade por suas ações. Mas se o indivíduo não é livre,

como defende o determinismo, então ele não possui responsabilidade

moral sobre o que faz. Como poderia justificar uma punição por seus

atos? Como poderia premiar e enaltecer suas ações, já que ele

simplesmente fez o que fez determinado por causas anteriores? Este

seria um resultado socialmente perverso do determinismo e alguns

diriam que é motivo racional suficiente para se recusar o

determinismo e admitir o livre-arbítrio. A resposta de alguns

deterministas torna o problema mais complexo e perturbador.

Segundo eles pode-se continuar premiando e punindo as pessoas,

não porque elas tenham algum tipo de responsabilidade moral pelo

que fazem, mas porque o prêmio e a punição servirão como mais um

fator causal para que elas e as outras que vêem o fato o realizem ou

não o cometam de novo. Em outras palavras, punir e louvar serve

para condicionar as pessoas a determinados comportamentos. (p. 11)

17) Qual a importância do conceito “virtude” para algumas

concepções éticas, como a de Aristóteles?

Resposta: O conceito de "virtude" será básico para inúmeras teorias

éticas ao longo do tempo e por isso mesmo variará dentro de cada

uma. A principal teoria ética das virtudes é a de Aristóteles , que via

a ética como uma ciência prática. Como ciência prática ela não possui

a precisão do conhecimento que se obtêm da natureza, mas é um

indicativo e uma disciplina norteadora da ação humana. Para

Aristóteles, a virtude é uma ação entre ações extremadas pela falta

e pelo exagero; a virtude é uma ação entre dois extremos, como por

Page 28: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

exemplo, a coragem é a ação virtuosa entre aquela que erra pela

falta – a covardia, que tudo receia – e a que erra pelo excesso – a

temeridade, que nada teme. Para cada indivíduo envolvido, em cada

ação específica e a cada objetivo almejado, a ação virtuosa variará. A

teoria de Aristóteles influenciou a maior parte das teorias éticas

cristãs a partir da apropriação da noção de virtude, que difere na

abordagem grega e na abordagem cristã. Atualmente, o filósofo

escocês Alasdair MacIntyre é o principal responsável pelo

desenvolvimento de uma teoria ética das virtudes. (p. 11-12)

18) Qual a importância da noção de “dever” para a ética de Kant?

Resposta: Kant é responsável por uma das mais influentes

elaborações éticas da filosofia. A pretensão kantiana foi a de

estabelecer uma regra moral de aplicação universal que permitiria a

determinação da correção de qualquer ação humana. Esta regra se

configurou no chamado "imperativo categórico": age de tal maneira

que seja seu desejo que todos ajam da mesma forma. Aplicada tal

regra, o agente se defrontará com uma ação que é boa em si mesma,

despreocupada de suas conseqüências. Independente dos resultados

da ação, o que é categórico é bom e o é sem relação aos desejos

pessoais e aos resultados efetivos para aquele que age e para

aqueles relacionados à ação. A ética de Kant é extremamente rígida

e vinculada à noção do "dever"; se você faz o que é certo, mas o faz

almejando algo mais além de fazer o que é certo, então a ação foi

viciada. (p. 12)

Aula 08

01) Do que trata a filosofia política e quais as contraposições

clássicas dentro da disciplina?

Page 29: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

Resposta: A filosofia política é o questionamento filosófico acerca da

estrutura política, dos sistemas de governo e da justiça. Os filósofos

sempre se interessaram pela justificação das formas de governo, pela

definição do que é a justiça e sua distribuição, pelas relações entre a

política e a ética, pelos processos evolutivos e revolucionários dentro

das estruturas políticas, pela liberdade e opressão políticas.

Há dois tipos de contraposições teóricas clássicas na filosofia política

que são exemplares na compreensão desta disciplina filosófica. A

primeira diz respeito à origem da sociedade e está dividida entre

naturalistas e contratualistas. A segunda fala das relações entre ética

e política que apresenta aqueles que defendem uma regulação ética

da política e aqueles que defendem uma regulação exclusivamente

política. (p. 01)

02) O que defendem os naturalistas?

Resposta: Os naturalistas são pensadores que afirmam o aspecto

natural e evolutivo do aparecimento e desenvolvimento das

sociedades. O pensador naturalista por excelência foi Aristóteles que

definia o ser humano como um animal político. Para este filósofo

grego, o Estado é apenas o ápice do desenvolvimento social e

gregário da natureza humana. O ser humano não é um ser solitário;

pelo contrário, é um animal político, que vive, se define e aprimora

somente dentro da sociedade. O núcleo social básico é a família, e

dela vêm as demais organizações sociais, a tribo, a aldeia e o Estado,

que para o grego antigo era a cidade. Esta progressão é natural e

evolutiva, pois o homem não é uma besta que vive solitária, nem um

deus que não precisa dos outros para existir. (p. 01)

03) O que defendem os contratualistas?

Resposta: Os contratualistas afirmam que qualquer sociedade surge

em função de um pacto implícito entre os indivíduos que a comporão.

Page 30: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

As pessoas possuiriam diversos direitos que são naturais e por meio

de uma decisão racional decidem por viver em grupo, abdicando de

todos ou de alguns direitos naturais. A noção de "contrato", implícita

no contratualismo, é abordada para mostrar o aspecto de tomada

racional de decisão ao se formar o grupo social. A mesma noção

serve para que percebamos que existem obrigações e direitos

inerentes à participação de uma pessoa em uma sociedade. Como

nos demais contratos, para que a associação continue existindo é

necessário que o pacto social tácito que determina a coexistência

dentro do grupo seja respeitado. (p. 02)

04) Por que Aristóteles se mostra defensor das relações intrínsecas

entre ética e política?

Resposta: Para Aristóteles, a pólis (cidade em grego) é não só a

sociedade formada, mas a própria estrutura organizacional de poder

constituído, qualquer que seja. Aristóteles analisou as diversas

estruturas de poder existentes em sua época e percebeu a grande

variedade de formas de organização. Estas formas são boas ou más

conforme as características do povo que as adota e a justiça que

tragam para esse povo. Para Aristóteles, a política é a continuação

da ética. Um ser humano somente se define em sociedade, pois é

nela que deve se esforçar por adquirir hábitos virtuosos. A virtude

não é inata, deve ser fruto do esforço individual em relação ao grupo.

A virtude e a justiça existem apenas em sociedade, e a compreensão

de Aristóteles a respeito da política inclui qualquer relação social.

Como a pólis é o máximo desenvolvimento da natureza social do

homem, seria no aplicar-se às coisas do Estado o topo do progresso

humano. Não há aqui a idéia ingênua de que aqueles que participam

da política são pessoas virtuosas, mas há a normatização ética dos

procedimentos políticos. Assim, existe em Aristóteles a

recomendação de certas formas de governo que promovem a virtude

e a justiça, e a condenação daquelas que não o fazem. (p. 02)

Page 31: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

05) Por que Maquiavel é o principal defensor da separação entre

ética e política?

Resposta: Para Maquiavel, a política possui regras próprias e o agir

político deve ser definido pelos seus fins inerentes, que para ele são a

manutenção do poder e da ordem na sociedade. Maquiavel

estabelece uma diferença entre o que hoje chamamos "razão de

Estado" e as razões pessoais do governante. O fim da ação política

não deve se confundir com os desejos do governante; aquilo que

individualmente para uma pessoa seria o correto fazer, não é

necessariamente certo para um governante. Se necessário aos fins

específicos do Estado, o governante deve agir na sua dependência,

mesmo que pessoalmente em sua vida particular não o fizesse. O

lema "os fins justificam os meios" é a expressão da desvinculação

entre os preceitos éticos pessoais e os preceitos políticos públicos. (p.

03)

06) Qual a posição de John Rawls sobre a justiça distributiva e sua

relação com o papel do Estado?

Resposta: Rawls defendeu – em uma sofisticada teoria de bases

kantianas – a importância do Estado como o elaborador e realizador

de mecanismos sociais e econômicos que produzam justiça social.

Caberia ao Estado diminuir as distâncias das diferenças entre as

condições materiais dos indivíduos que compõem uma sociedade.

Defendendo a idéia de que somente o aparato estatal deveria e

poderia tratar os interesses individuais de todos de igual maneira,

Rawls afirmava a necessidade da máxima diminuição das

desigualdades não-naturais – aquelas que não são derivadas das

aptidões biológicas de nascimento – por meio do deslocamento de

bens e serviços daqueles que mais têm para os que menos têm. Com

o dinheiro advindo de impostos e prestação de serviços estatais de

saúde e educação, a sociedade seria mais justa. (p. 03)

Page 32: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

07) Em que Robert Nozick se opunha à teoria de Rawls?

Resposta: Nozick era frontalmente contra qualquer tipo de ação que

interferisse nos direitos naturais de uma pessoa. Qualquer

intervenção estatal seria uma ação espúria e para ele o Estado seria

apenas uma agência de segurança que teria como responsabilidade

aplicar a força para a manutenção dos contratos e proteger os

cidadãos de violência gratuita. A idéia de Nozick – de inspiração

anárquica – seria a de que ninguém pode interferir em direitos

naturais ou adquiridos por meio de contratos legalmente

estabelecidos. A ação dos indivíduos dentro da sociedade deve ser

livre de qualquer constrangimento, conquanto não procure atingir

direitos pessoais. O pensamento de Nozick se liga à percepção de

que apenas um Estado mínimo se justifica e que nenhuma justiça

distributiva pode ser realizada, pois não há maneira de que algum

mecanismo distributivo possa ser defendido. (p. 03)

08) O que é a estética e quais seu problemas?

Resposta: A estética é a área da filosofia que trata da beleza e da

arte. A apreciação estética é parte do nosso cotidiano. Pode-se dizer

que certas composições musicais são belas; aprecia-se o quão bonita

é uma paisagem; fala-se sobre a beleza de algumas pessoas;

encanta-se com os quadros e as esculturas como belas. A beleza é

uma referência normal em nossas percepções e em nosso discurso

diários. Mas o que há de comum em uma paisagem, uma música,

uma pessoa e um quadro quando dizem que todos são belos? (p. 04)

09) Quais as diferenças de julgamento da arte como imitação feitas

por Platão e Aristóteles?

Resposta: A mais usual perspectiva estética é a da imitação. Em

Platão, todo o mundo físico é imitação do mundo das idéias, o que

percebemos através da nossa capacidade racional que ultrapassa o

Page 33: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

sensorial e apreende a idéia imaterial e eterna do belo, a beleza em si

mesma. Essa percepção levou Platão a condenar todo e qualquer

tipo de arte imitativa; já que mundo físico é cópia do mundo das

idéias, então a arte imitativa copia o que já é imperfeito, afastando

mais ainda o homem da contemplação pura da beleza e do bem.

A perspectiva de Aristóteles se diferenciou da de Platão, pois para

ele a arte é por definição arte imitativa. Quanto mais perfeita a

imitação realizada, mais a arte permite o aprimoramento humano,

pois possibilita a percepção e a vivência de experiências múltiplas. A

arte é necessária por elevar – por meio de sua imitação da realidade

– o homem à condição de vivenciador de papéis múltiplos. (p. 05)

10) Qual a principal crítica que se faz à perspectiva da arte como

imitação?

Resposta: A perspectiva imitativa padece da critica de que muito do

que é majoritariamente reconhecido como arte não ser imitação ou

representação de nada. O que uma sinfonia representa ou copia? A

arte abstrata se constitui na negação da representação do mundo e

diversas de suas obras são usualmente tidas como belas. (p. 05)

11) Qual a proposta da teoria emotivista da arte e seus problemas?

Resposta: Alguns outros teóricos se concentraram na emoção, tanto

a que o artista pretenderia expressar, quanto aquela que ocorre em

quem aprecia. Mas os problemas logo aparecem. Como posso ter

certeza da apreensão correta da emoção do artista? Não poderia

dizer que algo é belo ou arte, mesmo que não tenha mínima idéia da

emoção do artista ao realizá-la? Um artista deve necessariamente

estar imbuído de alguma emoção específica ao realizar seu trabalho?

Se não existe autor para expressar emoções em paisagens naturais,

com a exceção do tempo e das condições climáticas e geológicas,

então não poderíamos dizer que aquela é bela? Quanto à emoção

Page 34: Questoes Dissertativas de Introducao a Filosofia[1]

produzida naquele que percebe a situação não é menos problemática.

Se a emoção estética produzida por algo é diferente em duas pessoas

é porque aquilo é falho? Não posso admitir que algo seja arte sem

que aquilo produza em mim algum tipo de emoção? (p. 05)

12) O que propõe a teoria sociológica e histórica da arte?

Resposta: Um outro tipo de posição em estética advoga uma posição

sociológica e histórica. Esta concepção afirma que a beleza e a arte

são definidas em função das condições psicológicas e sociais

existentes em determinados períodos e locais. Arte é aquilo que foi

estabelecido como arte pelos manuais de história, pelos artistas,

pelos marchands e pelos críticos. O mesmo ocorreria com a

concepção de beleza. Dentro desta perspectiva há uma coincidência

com o relativismo moral em ética e com o ceticismo em

epistemologia. (p. 06)

13) O que dizem certos evolucionistas sobre a arte e a percepção da

beleza?

Resposta: Existem teóricos mais recentes que procuram a

objetividade da beleza nas noções de "harmonia" e "simetria". A

abordagem é biológica e evolucionista. Para os representantes dessa

análise de psicologia evolucionista existe uma constância na

percepção de padrões harmônicos e simétricos como relacionados

com a beleza em todas as diferentes culturas analisadas. Este padrão

de identificação do que é belo estaria ligado ao fato de

evolutivamente as espécies reconhecerem a relação entre saúde e

organismos de corpos simétricos. Esta hipótese explicativa é fruto de

uma aliança nem sempre aceita entre estética e biologia

evolucionista. (p. 06)