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Quilombo do Alto do Tororó: Memória e Permanência de Quilombolas no subúrbio de Salvador 1 Autora: Laura Gomes Nascimento. Resumo: A comunidade do Alto do Tororó encontra-se no recôncavo baiano e é banhada pelas águas da Bahia de Todos os Santos. Está fixada, mais especificamente no subúrbio ferroviário de Salvador, próximo à Base Naval de Aratu em São Tomé de Paripe. O grupo quilombola aí residente é constituído de aproximadamente de 400 famílias que moram em 200 casas, alguns moradores trabalham informalmente na região metropolitana de Salvador, mas a maioria obtém seu sustento das atividades de pesca e mariscagem. A questão antropológica da pesquisa que me proponho a responder se refere às condições particulares que permitiram a permanência do grupo no Alto do Tororó, tomando como fonte principal de informação a memória coletiva do grupo. Palavras-chave: Territorialidade, memória coletiva, processo de territorialização. Introdução e o conflito com a Marinha do Brasil: Este trabalho tem como tema central a análise dos processos de produção e reprodução das territorialidades da coletividade do Alto do Tororó, a qual se encontra em pleno processo de territorialização, já que, dentre outros fatores, possui processo aberto junto ao INCRA desde fevereiro de 2011, temos como foco também a relação entre estes processos, de territorialização e de produção de territorialidades, sendo estes apreendidos e compreendidos através da memória coletiva do grupo. O grupo se encontra em situação conflituosa com algumas empresas localizadas nos arredores do território e organizações, dentre elas, a Marinha do Brasil. A falta de regularização fundiária é um problema que afeta diretamente a vida dos moradores do Tororó, sobretudo quanto ao conflito com a Marinha. Tais limitações os têm impedido de cultivar roçados e em, alguma medida, reduzido a área destinada às atividades de pesca e mariscagem, fundamental para a reprodução dos modos de vida e sobrevivência do grupo. Outras comunidades quilombolas no Brasil enfrentam problemas com as forças armadas, exemplo disto pode ser dado pela comunidade quilombola localizada na 1 Trabalho apresentado na 28º Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de 2012 em São Paulo, S.P. Brasil.

Quilombo do Alto do Tororó: Memória e … da Marambaia, no Estado do Rio de Janeiro. Também devemos mencionar o Território de Alcântara2, disputado por uma base de lançamento

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Quilombo do Alto do Tororó:

Memória e Permanência de Quilombolas no subúrbio de Salvador1

Autora: Laura Gomes Nascimento. Resumo: A comunidade do Alto do Tororó

encontra-se no recôncavo baiano e é banhada pelas águas da Bahia de Todos os Santos.

Está fixada, mais especificamente no subúrbio ferroviário de Salvador, próximo à Base

Naval de Aratu em São Tomé de Paripe. O grupo quilombola aí residente é constituído

de aproximadamente de 400 famílias que moram em 200 casas, alguns moradores

trabalham informalmente na região metropolitana de Salvador, mas a maioria obtém seu

sustento das atividades de pesca e mariscagem. A questão antropológica da pesquisa

que me proponho a responder se refere às condições particulares que permitiram a

permanência do grupo no Alto do Tororó, tomando como fonte principal de informação

a memória coletiva do grupo.

Palavras-chave: Territorialidade, memória coletiva, processo de territorialização.

Introdução e o conflito com a Marinha do Brasil:

Este trabalho tem como tema central a análise dos processos de produção e

reprodução das territorialidades da coletividade do Alto do Tororó, a qual se encontra

em pleno processo de territorialização, já que, dentre outros fatores, possui processo

aberto junto ao INCRA desde fevereiro de 2011, temos como foco também a relação

entre estes processos, de territorialização e de produção de territorialidades, sendo estes

apreendidos e compreendidos através da memória coletiva do grupo. O grupo se

encontra em situação conflituosa com algumas empresas localizadas nos arredores do

território e organizações, dentre elas, a Marinha do Brasil. A falta de regularização

fundiária é um problema que afeta diretamente a vida dos moradores do Tororó,

sobretudo quanto ao conflito com a Marinha. Tais limitações os têm impedido de

cultivar roçados e em, alguma medida, reduzido a área destinada às atividades de pesca

e mariscagem, fundamental para a reprodução dos modos de vida e sobrevivência do

grupo.

Outras comunidades quilombolas no Brasil enfrentam problemas com as forças

armadas, exemplo disto pode ser dado pela comunidade quilombola localizada na

1 Trabalho apresentado na 28º Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de

julho de 2012 em São Paulo, S.P. Brasil.

Restinga da Marambaia, no Estado do Rio de Janeiro. Também devemos mencionar o

Território de Alcântara2, disputado por uma base de lançamento de foguetes e a

comunidade de Rio dos Macaco, localizada numa região limítrofe entre Salvador e o

município de Simões Filho, e que também se encontra em situação conflituosa com a

Marinha. Desta forma o problema enfrentado pela comunidade do Alto do Tororó se

repete no país.

As três comunidades supracitadas em conflito com a Marinha, Alto do Tororó,

Marambaia e Rio dos Macaco, foram alvos de diferentes formas de expropriações ao

longo de suas histórias de contato com a referida Organização. José Maurício Arruti em

artigo publicado no Caderno de Debates do projeto Nova Cartografia Social apresenta

as estratégias militares de expropriação das famílias quilombolas na comunidade da Ilha

da Marambaia, sendo a principal delas a própria negação do território como quilombola.

O autor apresenta três dispositivos de precarização da vida na comunidade os quais ele

classifica propriamente como estratégias e outras três ações que ele situa no domínio da

tática. Dos dispositivos de precarização identificados por Arruti na Ilha da Marambaia,

pelo menos dois parecem ocorrer no quilombo do Alto do Tororó.

Segundo Arruti a primeira estratégia se refere ao “dispositivo de precarização da

ilha, que incide sobre o direito à moradia” (ARRUTI, 2010 pag. 111). No caso da

Marambaia, os moradores não têm direito a fazer quaisquer reformas em suas casas, a

maioria feita de taipa, e que precisam ser reformadas esporadicamente, ficando os

moradores em situação de extrema precariedade. Assim como na Marambaia, no Alto

do Tororó os limites do território sofreram significativas expropriações sendo “reduzido

ao espaço da habitação” (ARRUTI, 2010 pag. 111), nas palavras da liderança local do

Alto do Tororó: “foram cercados como bois no pasto”. No Alto do Tororó também

ocorre a interdição, por parte da marinha, de reformas de construções em espaços de uso

comum dos moradores, um exemplo é a “escada do fundo” que liga o “alto do porto” ao

“portinho” (ver croqui e fotos abaixo), local onde ficam as canoas dos pescadores e de

onde os moradores saem para pescar e mariscar. Esta interdição, além de ser um

dispositivo de precarização que incide sobre o direto à moradia, também afeta o direito

lesado pelo “segundo dispositivo de precarização” identificado por Arruti, que é o

2 O Laudo Antropológico do território étnico de Alcântara foi elaborado por Alfredo Wagner Berno de

Almeida. Antropólogo. Coordenador do PNSCA (Projeto Nova Cartografia Social)e do NSCA-CESTU-UEA, pesquisador CNPq e Professor Permanente do PPGA (UFBA).

direito à subsistência, já que a escada é a principal via de acesso às atividades de pesca e

mariscagem, prática fundamental para garantia da subsistência do grupo.

“Escada do fundo” que dá acesso ao Portinho e que a Marinha impede que seja

reformada.

Pescadores do Alto do Tororó no Portinho (localidade onde permanecem as canoas).

Desta forma, a segunda estratégia identificada por Arruti e que também se aplica

a comunidade do Alto do Tororó é o “dispositivo de precarização que incide sobre o

direito à subsistência”. No Alto do Tororó, como na Ilha da Marambaia, áreas antes

destinadas ao plantio de árvores frutíferas foram cercadas e expropriadas

arbitrariamente pela marinha do Brasil assim como também foram impedidos de

cultivar roçados, prática tradicional e fundamental para a complementação da

capacidade de subsistência dos grupos e reprodução do modo de vida dos mesmos.

Apresento na seqüência o perfil geral da comunidade e algumas de suas

características organizacionais. As informações têm como fonte principal o trabalho

preliminar de observação participante e uma entrevista feita com uma liderança política

e comunitária local no dia 12 de março de 2012.

Perfil geral e características organizacionais da comunidade do Alto do Tororó:

A comunidade do Alto do Tororó, certificada pela Fundação Cultural Palmares

como quilombola em 27 de setembro de 2010, situa-se em Salvador e encontra-se no

Recôncavo Baiano sendo banhada pelas águas da Baía de Todos os Santos. Está

localizada, mais especificamente, no subúrbio ferroviário, próximo a Base Naval de

Aratu, em São Tomé de Paripe. A comunidade é composta de 126 famílias, que somam

um total de 426 habitantes. O número de homens e mulheres é proporcionalmente

equilibrado. Sendo que na comunidade existem mais crianças e jovens de até 25 anos do

que adultos e idosos [censo realizado pela liderança comunitária em 19 de novembro de

2011].

O principal tipo de moradia é de bloco de cimento. Até aproximadamente

quarenta anos atrás as casas eram de taipa as quais foram, aos poucos, sendo

substituídas por casas de bloco. Ainda hoje existe na comunidade uma última casa de

taipa que já está parcialmente demolida (foto abaixo). A maioria das casas possui rede

geral de esgoto sanitário instalado pela prefeitura, entretanto a rede de esgoto é

deficiente, já que não se estende a todas as casas. As casas do “alto do porto”, por

exemplo, não possuem esgoto, que é despejado no mato por um tubo. A coleta de lixo

na comunidade existe a cinco anos, na freqüência de duas vezes por semana. Nos dias

em que não há coleta de lixo, o mesmo é depositado em um container, localizado bem

na entrada da comunidade. Antes disso, o lixo era queimado no mato dos quintais de

cada casa.

Última casa de taipa

Os principais problemas de saúde que afetam a comunidade são dengue,

leptospirose (pelo menos três pessoas morreram da doença) e hepatite (houve dois

casos). Antigamente, quando as casas eram de taipa houve muitos casos da doença de

chagas na coletividade do Tororó já que o barbeiro transmissor se esconde

freqüentemente em casas deste material. O posto de saúde utilizado pelos moradores do

Tororó encontra-se na localidade “dos ponte”3. Existem agentes de saúde que atuam na

comunidade semanalmente, eles vão às casas, marcam consultas e medem pressão. O

hospital que atende a comunidade é o Hospital do Subúrbio.

Dentro da comunidade existe uma escolinha de alfabetização para crianças de

até cinco anos de idade que funciona na casa onde é a sede da Associação Comunitária

do Alto do Tororó (ACAT). As aulas acontecem na parte da manhã, mas atualmente os

moradores estão decidindo quem será a professora, pois alguns pais não estão satisfeitos

com a atual que é oriunda da localidade do “corredor” 4. Outro problema enfrentado, é

que as paredes da sede estão rachadas correndo inclusive o risco de desabamento. Os

jovens da comunidade estudam em duas escolas principais: Escola Estadual Marcílio

Dias que é na localidade “dos ponte” e na escola estadual João Caribé. Ambas são

escolas que atendem também à ilha de Maré e são de ensino fundamental e médio. A

líder política e comunitária considera o ensino destas escolas muito ruim e a prefeitura

não fornece transporte escolar.

As principais organizações atuantes na comunidade são a CPP (Comissão

Pastoral da Pesca) que representou um papel importante para obtenção da certidão

emitida pela Fundação Palmares. Três ONGs atuam na comunidade: Estive Biko, Casa

de Taipa e Espaço Quilombo, sendo que as três organizações trabalham em conjunto.

Através da ONG Casa de Taipa a comunidade teve acesso ao “Programa Vida Melhor”,

do governo da Bahia, onde conseguiram embarcações a motor com material de

segurança incluindo coletes salva-vida, bóias e extintores. Ao todo foram entregues três

embarcações com redes e equipamentos de segurança para as marisqueiras e oito

embarcações de barco a motor para os pescadores, também com redes e equipamentos

de segurança. Apesar de todo este material, a maior parte não atende às necessidades

dos pescadores e marisqueiras do Tororó: as redes e os motores vieram incorretos. A

comunidade pediu mil metros de redes de camarão, mil metros de rede de tainheira e

3 Assim como o Alto do Tororó, “os ponte” é uma localidade pertencente ao bairro de São Tomé de Paripe, com o diferencial de estar situada na praia. 4 Outra localidade do bairro São Tomé de Paripe situada próxima à ladeira que vai para a igreja de São Tomé de Paripe.

mil e duzentos metros de rede de bagueira, contudo, foi entregue apenas um tipo de rede

que, segundo os pescadores: “só serve para criança pescar na beira da praia”, os motores

entregues também são inadequados. Através do “Programa Vida Melhor” as

marisqueiras do Tororó planejam organizar uma cooperativa. As mulheres vão receber

uma cozinha comunitária toda montada, aonde produzirão quentinhas e outros produtos

alimentícios para venda. Em relação às políticas públicas a comunidade é atendida pelo

programa “Bolsa Família”, e recentemente pelo referido “Programa Vida Melhor”. O

território do Alto do Tororó também se encontra, como foi dito, em processo de

regularização fundiária, com processo aberto junto ao INCRA desde fevereiro de 2011.

No que se refere às suas próprias organizações a comunidade dispõe, no momento,

apenas da ACAT – Associação Comunitária do Alto do Tororó. Existem também planos

futuros para fundação da Associação de Pescadoras e Pescadores Quilombolas.

Nas atividades produtivas existe uma divisão de trabalho por gênero, enquanto

os homens parecem permanecer a maior parte do tempo dentro da comunidade,

praticando atividades relacionadas à pesca, e desenvolvendo trabalhos na construção

civil como a realização de constantes reformas e ampliações em suas próprias casas, ou

em outras casas da comunidade, muitas mulheres vão trabalhar fora do território do

Tororó, na maioria das vezes, em casas de família dos funcionários da Base Naval de

Aratu. Ocasionalmente, os homens também são contratados por empresas para

trabalharem em reformas de navios, sendo este um trabalho temporário.

Muitos trabalham informalmente na região metropolitana de Salvador em hotéis,

lanchonetes e lojas de calçados e roupas, enquanto uma pequena minoria trabalha de

carteira assinada, por exemplo, na MDias Branco5. Em torno de 40 moradores da

comunidade trabalham na M.Dias Branco, nas funções de limpeza e empacotamento.

Segundo uma liderança local só uma pessoa trabalha como chefe de turma. Alguns

moradores trabalham como ambulantes na praia vendendo produtos alimentícios como

caldo de sururu, peixe frito, carne do sol, acarajé e cerveja.

Antigamente na comunidade havia artesanato de balaios que era realizado pelos

homens, atualmente as mulheres trabalham artesanalmente com rala-côco, que é a casca

de um marisco. Outro produto artesanal é o azeite de dendê, ele é ainda produzido por

5 Empresa instalada próxima à comunidade há, aproximadamente, treze anos e que trouxe muitos

problemas para os moradores, principalmente devido ao grande impacto ambiental causado por sua

instalação e permanência próxima ao território do Alto do Tororó. Como veremos, a instalação da MDias

Branco, conhecida na comunidade como “Moinho” está relacionada aos muitos processos sociais vividos

pela coletividade.

algumas mulheres da comunidade, como uma prática tradicional que perdura até os dias

atuais também devido à abundância de pés de dendê existentes na parte do território

apropriado pela Marinha. Para complementar a renda muitas mulheres também

produzem licores de jenipapo, cajá, acerola e caju, os quais vendem transportados por

carrinhos de mão nas casas e na praia. Algumas frutas como jaca, manga e açaí também

são coletadas para vender nos arredores do quilombo do Tororó. As mulheres, neste

momento, também estão empenhadas no projeto de iniciar a fabricação de diferentes

produtos alimentícios para venda através da cooperativa que estão organizando e da

cozinha comunitária que receberão do “Programa Vida Melhor”.

Resumindo, nas palavras de Fátima: “quando pinta um emprego de carteira

assinada o pessoal vai trabalhar, ou no inverno quando o pessoal sofre muito pra

trabalhar devido ao frio. Quando se desemprega, volta pra maré, é igual uma onda, vai e

vem, então quando perde o trabalho, volta pro mar. Ninguém nunca deixa de vez o

mar6”.

As crianças participam das atividades produtivas mariscando, vendendo frutas e

ocasionalmente caçando guiamum7 para vender, entretanto, é muito pouco o que se

ganha no total com as atividades produtivas, muitas vezes não sendo suficiente para o

sustento de todas as famílias.

Informações preliminares sobre o histórico de ocupação do território baseado na

memória coletiva construída pelos moradores:

Até o momento, entrevistas exploratórias que realizei com pessoas mais idosas

da comunidade permitiram identificar que algumas famílias vieram, ao longo das

décadas de 40/50, para o Alto do Tororó com a intenção de trabalhar nas fazendas que o

grupo interpreta como pertencentes a Oscar Magalhães e Benjamim de Souza. Segundo

narrativas locais, o terreno onde hoje se localiza a comunidade pertenceria ao fazendeiro

Benjamim de Souza. Além desta área, também fazia parte do território do grupo a

localidade conhecida como praia de Inema, onde hoje se encontra instalada a Base

Naval de Aratu. Esta área, onde também existia uma fazenda, pertenceria a Oscar

Magalhães.

6 Fátima, liderança local, em entrevista cedida no dia 12 de março de 2012. 7 Caranguejo de grande porte também conhecido como caranguejo-da-terra.

Conforme contam os mais velhos8, depois que Benjamim de Souza morreu, uma

mulher chamada Izolina assumiu a administração do terreno e passou a cobrar uma taxa

de trinta réis por mês, por cada casa, que nesta época, eram de taipa. Com sua morte,

foi-lhes informado que o terreno era do Estado e que os moradores não precisariam mais

pagar a taxa.

As informações obtidas entre os quilombolas permitiram identificar que havia no

passado do grupo também uma divisão de trabalho por gênero. A grande maioria das

mulheres trabalhava como lavadeiras de roupas para pessoas que viviam em Paripe 9,

tais mulheres buscavam e levavam as roupas, na maioria das vezes a pé, pois não havia

transporte e nem estradas. As roupas eram lavadas nas fontes de água existentes dentro

do território do Alto do Tororó.

Cada uma dessas fontes, meio de sustento para toda a família, recebeu um nome

dado pela coletividade local, pelo qual são conhecidas até hoje, prática que caracteriza

tanto uma forma específica de apropriação do espaço quanto a existência de formas de

sociabilidade próprias entre as mulheres que usufruíam do local. As fontes mais

conhecidas eram: “fonte do Mariango”, “fonte do Quebra”, “fonte do Dendê” e “fonte

da Mangueira”. Na “fonte do Quebra” contam que haviam muitas pedras, havendo

risco de se escorregar e quebrar o pé, a “fonte do Dendê” recebeu este nome pois havia

ao lado da fonte um grande palmeira de dendê e a “fonte da Mangueira”, porque havia

um pé de manga.

O uso comum destas fontes, dentre outros elementos, caracteriza o grupo como

um grupo étnico no sentido organizacional como veremos adiante no marco teórico.

Segundo Alfredo Wagner de Almeida as “terras de preto” são uma variante das “terras

de uso comum” e são organizadas segundo normas específicas em que há um consenso

coletivo da forma de utilização dos recursos naturais disponíveis (ALMEIDA, 2008).

A grande maioria das mulheres também praticava a mariscagem, prática que

perdura até os dias atuais. Capturavam grande variedade de mariscos como sururu,

ostra, sapiro, rala-côco, camarão, tapu, piguari e lambreta. Atualmente a mariscagem

ainda é uma atividade bastante praticada, entretanto devido aos impactos ambientais de

grandes empreendimentos industriais que circundam o território, a quantidade e a

8 Na faixa etária de 70 a 90 anos. 9Depois das facilidades de transporte proporcionadas pela rede ferroviária, a comarca de Paripe, que antes era um julgado, deixou de existir e o local passou a pertencer ao subúrbio de salvador.

qualidade dos mariscos e peixes reduziram drasticamente, o que dificulta ainda mais a

reprodução dos modos de vida da coletividade do Tororó.

As primeiras entrevistas também permitiram identificar que os parentes

ascendentes de algumas matriarcas do Tororó: Dona Tomázia, Dona Zinha, Dona Maria

das Candeias e dona Gustinha têm em comum a mesma região de origem, a saber, o

município de Candeias.

No município de Candeias10

se localizavam, dentre outras localidades, as terras

conhecidas como Matoim e Cabôto (de onde vieram os parentes ascendentes,

respectivamente, de Dona Zinha e Dona Maria das Candeias). Este dado nos permite

preliminarmente supor que os ancestrais de algumas famílias do Alto do Tororó seriam

oriundos deste local. Esta suposição aponta para a necessidade de identificação do

processo de como se deu a “ampliação” da comunidade, ou seja, como e porque os que

chegaram posteriormente se inseriram na comunidade, assim como identificar e

diferenciar as famílias mais antigas das mais recentes e suas relações de parentesco.

Como iniciou o processo de territorialização no Alto do Tororó

A conjuntura dos fatos que marcou o tiro de partida do processo de

territorialização da comunidade do Tororó pode ser representada como o próprio mito

fundador da comunidade sob a identificação de grupo quilombola. Neste sentido,

apropriando-nos de uma idéia de Arruti, o mito de origem da comunidade seria um

conjunto articulado de eventos catalisadores de significados em que a cronologia

perderia o sentido. Assim como em muitas outras coletividades tradicionais, no Tororó

a identidade quilombola foi acionada em um momento de déficit de direitos causado por

uma combinação de eventos ocorridos concomitantemente que funcionaram como

catalisadores do processo de territorialização.

A instalação da Base Naval de Aratu, em 1970, foi um marco no histórico da

comunidade do Tororó, tendo sido responsável pelo desencadeamento de vários

processos relacionados a questões que abrangem quase que a totalidade das esferas

simbólicas e materiais do grupo como relações de trabalho, territorialidade, parentesco,

10 O município marcou o florescimento da economia açucareira no recôncavo.

relações com a natureza e mobilização política do grupo. A profundidade do impacto

causado foi significativa porque além do que representou a instalação da própria base, a

marinha ainda concedeu “Cessão de Uso” de várias áreas que tradicionalmente compõe

a territorialidade do grupo para exploração das grandes empresas. Um exemplo dessas

localidades é a “ponta do Fernandinho” onde os moradores sempre pescaram e

mariscaram, porém foram impedidos, após a instalação da empresa no local de

realizarem tais atividades, fundamentais para reprodução dos modos de vida do grupo, o

local, curiosamente, foi denominado pela empresa MFX do Brasil - Equipamentos de

Petróleo LTDA (Equipetrol) e pela Base Naval de Aratu como “ponta do criminoso”.

Registrei algumas considerações sobre a relação conflituosa da comunidade do

Tororó com a Marinha do Brasil em tópico específico. Por ora faço referência a apenas

uma parte do desdobramento dessa relação, ocorrido no final da década de 70, quando

um projeto de grande impacto ameaça a retirada dos moradores do território do Alto do

Tororó. Com a construção irresponsável da estrada que liga a Base Naval de Aratu (BA

528) ao estaleiro da Equipetrol, em que, segundo Salvador, antigo morador local e neto

de personagem marcante na história de São Tomé de Paripe, “não foram construídas

alvenarias no talude para evitar o deslizamento de terra”. Com a trepidação de veículos

pesados, já que constantemente transitavam tratores e máquinas na pista, a terra

começou a deslizar, pois como informa Salvador, “o solo é composto de massapé e com

qualquer infiltração de água no solo, surge a possibilidade de ocorrência de

escorregamento de terra”.

Após sucessivos episódios de escorregamento de terra a Prefeitura de Salvador

moveu uma ação que pretendia transferir os moradores do Alto do Tororó para o bairro

“Nova Constituinte”, bairro do subúrbio próximo à Peri-peri. Para Salvador esta foi uma

estratégia dos poderes públicos, articulados com a marinha, para remover os moradores

do território. Mediante alegação da Prefeitura de Salvador de que a comunidade iria

desmoronar, alguns moradores deixaram a comunidade indo morar no bairro Nova

Constituinte, segundo Salvador muitos se arrependeram posteriormente, mas não

puderam retornar pois já não havia mais espaço. Neste contexto de ameaça de remoção

do território, Salvador convidou a Comissão de Justiça e Paz da Pastoral da Pesca que

começou a realizar reuniões semanais com a comunidade, em que as participantes mais

assíduas eram as mulheres do Tororó. A partir desta mobilização foi possível sustar a

remoção. Salvador revela que a partir deste ocorrido os moradores perceberam a

importância e a necessidade da fundação de uma organização que atendesse às

demandas e os interesses da comunidade.

Conjugado ao que foi descrito acima, outra iniciativa, que desta vez teve como

motivação a busca por capital simbólico cultural e artístico, também gerou frutos para a

organização comunitária do Tororó. Há muitos anos um membro da comunidade,

Ariomar, alimentou o sonho de fundar uma biblioteca comunitária na comunidade, em

2001 ele externalizou esta idéia e juntamente com Salvador, começaram a buscar

formas de tornar este sonho real. Foi quando conheceram um casal de belgas que já

haviam fundado quatro bibliotecas na região do subúrbio através de uma ONG chamada

“Espaço Sofia”, eles informaram que seria necessário que eles fundassem uma

associação comunitária de moradores. Foi quando fundaram a ACAT (Associação

Comunitária do Alto do Tororó). Nesta mesma época Salvador, que afirma já ter

consciência da condição de mocambo da comunidade, teve acesso a informações sobre

outros grupos sociais que reivindicavam o reconhecimento como quilombolas como a

Família Silva do Rio Grande do Sul. Simultaneamente Salvador teve contato com

lideranças de moradores das comunidades quilombolas de “Bananeiras”, localizada na

Ilha de Maré, e de Praia Grande, os quais, segundo ele, “já tinham consciência de sua

condição de remanescentes de quilombo”, ou seja, da possibilidade de acionamento

desta identidade.

Diante da possibilidade e necessidade de reivindicarem o auto-reconhecimento e

a garantia de seus direitos, somado ao sonho da construção da biblioteca comunitária, a

comunidade, sob a liderança de Ariomar e Salvador, se mobilizou e buscou contato com

a Assistente Social da Pastoral da Pesca, Maria José que, segundo Salvador tinha

referências sobre a Fundação Cultural Palmares, pois estabelecia relação de amizade

com a assessora da superintendente da referida Organização. Desta forma eles teriam

obtido a certidão em menor tempo que o demandando pelo procedimento habitual,

tendo sido a comunidade auto-reconhecida como Comunidade Quilombola em 27 de

dezembro de 2010. A partir disso solicitaram a abertura de processo junto ao INCRA

em 27 de fevereiro de 2011.

Esta combinação de fatos, o sonho de fundação da biblioteca comunitária em um

momento de déficit de direitos funcionou como catalisador para o acionamento da

identidade quilombola, podendo ser representado como o mito fundador da comunidade

enquanto sujeito de direito frente aos poderes locais em que, como observa Arruti, o

quilombo aparece como uma gramática moral, ou seja, como a possibilidade de se falar

no plural para estas pessoas (ARRUTI, 2001).

Referencial Teórico

A perspectiva teórica de definição de grupo quilombola utilizada neste trabalho

se baseia na caracterização proposta por Alfredo Wagner, e aceita pela corrente

antropológica mais recente, e que inclusive “têm sustentado a interpretação dominante

da expressão constitucional remanescente de quilombo” (Fábio Reis, 2010), das terras

de quilombos como uma categoria similar às “terras de preto”, sendo esta uma versão

das “terras de uso comum”. Nesta perspectiva os grupos fazem uso dos recursos

naturais disponíveis através de normas específicas de apropriação dos recursos que se

situam além do “direito oficial” instituído pelo Estado. É um direito, para usar um

conceito de Weber, extra-estatal (WEBER, 2002). Neste sentido, como veremos

adiante, o grupo étnico é compreendido como um tipo organizacional que se apropria do

território de uma forma coletiva.

Nos anos 80 se deu a “virada teórica dos estudos sobre etnicidade, inaugurada

com a crítica feita por Frederick Barth (1976) ao conceito estático de cultura” (LEITE

2000, p. 340). É nesta época que se começa a pensar na “territorialização étnica”, ainda

pouco trabalhada no contexto da “formação social brasileira” (LEITE, 2000). Barth

(1998) entende os grupos étnicos, primeiramente, como tipos de organização social,

deste modo, a característica fundamental que define um grupo étnico é a auto-atribuição

ou a atribuição por outros a uma categoria étnica: “na medida em que os atores usam

identidades étnicas para categorizar a si mesmos e outros, com objetivos de interação,

eles formam grupos étnicos nesse sentido organizacional” (BARTH, 1998:194).

A teoria de Barth produziu grande impacto positivo nas discussões acerca do

conceito de quilombo, o que abriu caminho para uma interpretação mais adequada do

termo do ponto de vista antropológico, pois são os atores sociais e sujeitos do direito,

por vivenciarem a reprodução dos modos de vida e as dinâmicas internas dos grupos, os

mais indicados para se autodenominarem remanescentes de quilombos. Foi realizado

um esforço interpretativo, por parte de antropólogos, militantes e nativos, que

possibilitou a chamada “ressemantização do termo quilombo”. O ponto de partida para

essa nova conceituação do termo está na aplicação da concepção hoje vigente de grupo

étnico, à luz das idéias de Barth, ou seja, que tomemos como ponto central o caráter

político-organizativo do quilombo, que tem como finalidade essencial a garantia da terra

e a afirmação de uma identidade própria.

A ressemantização do conceito de quilombo está completamente imbricada com

os processos de territorialização, reprodução e produção de territorialidades, os quais ao

produzirem efeitos reflexivos entre si produzem e transformam a própria territorialidade

das coletividades ao acionarem a categoria quilombola como forma de reivindicação de

seus direitos e a busca pela cidadania plena.

O processo de territorialização é um processo estranho e exterior ao grupo, assim

como os próprios conceitos de quilombo, e de território, que são categorias situadas no

âmbito da academia e das instâncias jurídicas e não no universo ou no cotidiano nativo.

O processo de territorialização se dá através da ação do Estado sobre estes grupos como

forma de execução das políticas públicas determinadas na letra da lei. Ao acionarem a

identidade quilombola como forma de acesso a políticas públicas e democratização dos

direitos, os quilombolas são coagidos a internalizarem e traduzirem estas categorias para

eles mesmos, coletivamente, o que gera efeitos específicos para toda a coletividade,

tanto no sentido interacional quanto estrutural. A adesão a tais categorias requer que

sejam pensadas, repensadas e discutidas coletivamente seus significados e implicações,

o que altera e transforma as relações já existentes dentro do próprio grupo, por exemplo,

entre as lideranças comunitárias ou políticas e os demais componentes do grupo, entre

homens e mulheres, jovens e idosos e todas as outras dimensões e clivagens do grupo.

Um dos principais efeitos da ação do Estado sobre a territorialidade do grupo é a

exigência da definição de um território fixo e congelado, caracterizado por todos os

“ins” que definem um território quilombola no sentido legal, ou seja, um território

inalienável, imprescritível, indiviso, impenhorável e coletivo. Tais determinações

impostas operam transformações nas relações do grupo, tanto com o próprio território,

incluindo os recursos naturais disponíveis e suas localidades, quanto nas relações

internas dos atores sociais que compõe o grupo, assim como nas relações que ocorrem

entre os demais atores externos que interagem com o grupo. O que anteriormente a tal

imposição operava de acordo com uma lógica, específica e local, de uso e permanência

no território, é transformado em nova relação ainda específica ao grupo, porém diferente

da anterior, mas que conserva a forma com que as coisas se transformam, o que para

Sahlins (1997) é denominado “tradição”. Conforme destaca Paul Little, “Aqui o

conceito de tradicional (de comunidade tradicional) tem mais afinidades com o uso

recente dado por Sahlins (1997) quando mostra que as tradições culturais se mantêm e

se atualizam mediante uma dinâmica de constante transformação”. (LITTLE, 2002:23).

Desta forma o processo de territorialização é um processo que ocorre de “fora

para dentro”, ou seja, por determinação da relação com a esfera Estatal. Sendo uma via

de mão dupla, impulsionados por este processo, ocorrem também os efeitos provocados

pelo grupo sobre o território, sobre o próprio processo de territorialização e sobre a

própria territorialidade do grupo. Segundo Almeida (2006), “o processo de

territorialização é resultante de uma conjunção de fatores, que envolvem a capacidade

mobilizatória, em torno de uma política de identidade, e certo jogo de forças em que os

agentes sociais, através de suas expressões organizadas, travam lutas e reivindicam

direitos face ao Estado”. (ALMEIDA, 2006: 88).

Contudo é importante não confundirmos processo de territorialização com

territorialidade, enquanto o primeiro, conforme exposto, tem um caráter mais

institucional que se dá de fora para dentro, o segundo, que é o que tenho como ponto

principal e recebe maior ênfase neste trabalho, não sendo possível, contudo, realizar

uma análise desvinculada do primeiro processo, é a perspectiva interna, o que temos de

“mais nativo” na relação entre os moradores e o território ocupado por eles, é o que está

construído na memória coletiva do grupo, pois como nos elucida Halbwachs (1950), o

pensamento coletivo não considera as leis, abstrações feitas das condições locais onde

elas se aplicam, ele se prende anteriormente a estas condições. A territorialidade

apresenta-se nas relações existentes que independem de qualquer contato ou

determinação das instancias estatais ou jurídicas, mas que evidentemente não são

impermeáveis aos efeitos do processo de territorialização, sofrendo importantes

impactos e transformações.

Referências

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