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cultura 34 QUINTA-FEIRA, 10 DEZEMBRO 1Ϧ , José Saramago criticará os poderosos do mundo no curto discurso perante os reis da Suécia A voz do comunista no momento real --------- MANUEL MOULUSA Da nossa enviada Alandra Lucas Coelho, em Estocolmo Os monarcas suecos sa- berão esta noite como o Nobel da teratura aponta o dedo aos po· derosos em menos de dois minutos. No ban- quete que se e à en- trega dos prémios, Sa- ramago usará o seu di- reito à palavra para re- cordar a Declarção dos Direitos do Homem. Π- lar fará flutuar na fim. bria do vestido uma "ase de amor" troca- - da entre Jesus e Maria Madalena, no "Evange- lho" escrito pelo Nobel. A tudo isto assistirá Sampaio, que ontem ch ou a Estocolmo. Q uando esta noite José Saram se levan פrante os is da Suia, no bquete de honra aos laureados פla Academia, será para critir os erosos r não cumprim o u d ver para m os cidadãos. O PUBLICO sabe que o curto que o Nobel da Litera- tura fará nesta rimónia le- ne -deis de, ao final da r- de, rber o prémio-, tomará mo pretexto os 50 os da De- clação Universal dos Direitos do Homem para denunciar as , injustis, as desigualdades e a miséria que Sarama nside- ra esntes. Numa página e u (45 li- nhas de texto, para rresn- der ao minuto e meio, dois, que o rigoroso horário do banquete nde a cada Nobel) o eritor rtuguês apontará o dedo aos vetes que fham os seus deveres e aפlá aos dadãos para que tomem a palavra. Será a intervenção de um homem que se confes desilu- dido e pessimista, ao não crer que o próξmo meio sélo seja melhor em matéria de Direitos do Homem, mas que se apre- senta, ainda assim, esפrança- do nas capacidades dos cida- dãos. José Saramago, o primei- ' ro laureado a falar (às 22h10 de Estolmo, uma hora antes em Lisboa), começará por se dirigir às Majesdes e tezas ais presentes no Salão Azul do Ci Hall de Estolmo e terminará com um aadecimento aos es- crires rtugueses e de la rtuguesa, do passado e de ho- je, que formam a sua herança. Deis do movente dis- curso perante a Academia Sue- ca (na pasda segunda-feira), a inteenção no banquete des noite será o gundo e último momento em que o laureado rtuguês tem o direito e a ortdade dever a sua marca na leria qua nte- nária dos Nol. Em directo pa- ra to o mundo. A ase no vestido de Pilar Mas, além das palavras que Saramago pferir, há outras (suas, mm) que entrarão seguramente para a memória des noite. Porque quando o Nobel da Literatura 1998 en- trar no Salão Azul para o ban- quete real, terá ao seu lado a mulher, Pilar del Rio, e na fün- bria do vestido de seda verme- lha de Pilar esrão bordadas estas palavras que o PÚBLICO antecipa: "Olharei a tua som- bra se não quiseres que te olhe a ti, Quero estar onde estiver a minha sombra, se lá é que esti- verem os teus olhos." Esta mesma ase de ser encontrada no diálogo final de Maria Madalena m Jesus Cristo (em "O Evangelho Se- gundo Jesus Cristo"), foi e- lhida r José Sago e Pilar del Rio mo uma "ase de amor" e bordada (em letras do manho da palma da mão, m- bém a vermelho) a ta a volta da saia rodada do vestido. Não rá do ar que Suas Majesdes nunca terão visto a mulher de um Nobel fazer flu- tuar assim, na lenidade do Sa- lão Azul, pavras ídas da obra que a ademia elheu. Para trás terájá ficado a ce- rimónia de entrega dos pré- mios, em que José Saramago será o penúltimo laureado a re- r a sua m de Nobel. O antimento (no Grande ditório da Sala de Conrtos de Estlmo) abre às 15h30- hora de Lisboa - com o hino real sueco e prossegue com o desfile dos premiados interca- lados por פças musicais. As- sim: Shubert antes dos três No- l da Física, Wagner antes dos três Nobel da Medicina, Sibe- lius antes do Nobel da Literatu- ra, e Bizet antes do Nobel da Enomia José Saramago receberá, rnto, a sua medalha entre Sibelius e Bizet. Tudo isto leva- rá uma hora, no fim da qual soa o hino nacional sueco. O Presidente com o Nobel Foi pa picipar nestes antimentos (rimónia de entrega dos prémios e banquete real) que Jor Sampaio ateou ontem em Estlmo, a meio da tarde Gá noite escura...), de ca- chol vermelho vivo ao peso (innte fonte de ssíveis equívs, tendo em n as nhecidas preferências clubísti- cas do chefe de Esdo rtu- guês). ''Venho como i ve- lho" elicou o Presidente, que já vai na sua gunda rimónia de entrega do Nobel a falantes de língua rtuguesa. Poucos minutos depois es- va a abrar Jo Saramago no hall do Grand Hotel, nto de encontro antes da partida · que envolvia a la, de "aleia", para a rão à munidade pferiu ele, , dizer, a rtugue, oferecida r Sam- "nde eia" de quem re- paio. Assim seguem os dois jun- nh quando enna, dos tos, o Nol teimando no ca que falam a mma lg "- alentejano, o Presidente já sem m da e falamos. Há cachel, três passos na neve e um ntido que eu n quero uma limusine em mum até ao chr de paiotismo, mas de Hotel Sheraton, onde os es פrten a al. De as vol- ram centenas de portugueses s que dermos nós פrtenmos radidos em Estlmo. àquela rra" A e a, não Alhidos por uma multi- a aer Es- dão mpacta, Saramago e pa, brendo o rao ao Sampaio atravm a custo o velho dido: "Pelos ventos não salão do hotel até um פqueno falo, mas de ment nho palco. Aí ficarão de pé ente a eriência.." um mar de figuras morenas em Avanu eno פla líti- traje de festa, de rostos latinos c que é matéria que, nele, vem com olhos brilhantes, a lebrar agarrada ao resto. Assim foi di- o que também lhes pertence, zendo, ao lado de Sampaio, que um Nobel rtuguês na pil "Portugal es ál", que "r- escandinava que tomaram co- remos o risco de deixarmos de mo casa. Nem o laureado (num ser aquilo que temos sido", que longo improviso), nem o Presi- "temos uma פleξdade mui- dente (em ucos minutos) se to nda que é não. sabermos esqueceram de os nomear. aonde vamos", e que "essa per- Amadeu Batel, o professor pleξdade sabem-na os grandes radicado em Estolmo, a quem do mundo, o que não querem é coube no pal o papel de por- coessá-lo". E, nisto, aproξ- voz da munidade, dera o mote: mou-se das palavras que esta "José Sarama tem dito que noite proferirá no banquete com este prémio cresmos dois real: a denúncia de "uma sie- ou três ntímetros. Pois aqui o dade sem nenhum sentido mo- nosso crescimento é muito suפ- ral que aceita que se mande pa- rior à estimativa O Nobel fez os ra Marte um aparelho para ver sues olharam-nos de outro como são as rhas e deixa mi- mo. Repararem em nós." lhs a moer à fome". Spaio rematou de forma Na desda-além dosvo- mais abrannte: "Agradece- tos de um Pai Nal ("o meu já mos tos muito o que este ami- apu...") e de "muit pré- go nos prorcionou. Esmos mios Nol para a língua r- de facto mais altos." E o mar de " (emra já iba que figs morenas no Sheraton de "nos próξmos anos não o vire- Estolmo romפu em palmas. mos a r...")-, Sar d Mas ene o profer e o joura t"uma vida lim". Presidente, falou o "ami", o A outra não aפlará revel פla aura de orgulho noite,ente a as Altezas. • O O programa I6h30* - Hino Real "Kungssangen". 16h! - "Marcha em Maior, KV 249", de hurt. 16h48 - Discurso de Ma Jonn e apreno d o mio Nobel da Física, Diel C. Tsui, Horst L. Stormer e bert B. ulin. 16h55 - Discurso de Bjõ Rꝏs e apresenção do P mio Nol da i, pf· sorJohnA Pople. 16h59 - Audição da a "Dich, teure Hale", Co de Elisabeth da Opera "T· nhãuser" de Richard W· ner, com a soprano Kan� Dalayman. 17h& - D de Sn Lindhal e apreno do Prémio Nol da Mic Robert F. Furchtt, u J. l e FeridMurad. 17h) - Audição da o "Flickan kom in sin . mõte", m ma de Ru- nerberg, "O Enntro Don· zela", m a mesma pro. 17h16 - Discurso de Kje Espmark e apreseno do Prémio Nobel da Litet Jo Saramago. I7h21-Audição,de "Fa· dole", da suite L' Arlésienne' de rs Bizet. 17h23 -Dirso de Erikson e apresentao do Prémio Nobel da Eno Aman. 17h25 -Hino nacional, " gamla, Du ia". I7h35-Audio de "AM cha Festiva da de · há", de Hu én, פlo Filarmóni Orques d e 'tlmo, dirida פlo Andrew Davis, m a p KaDalayman, emq to os nvidadabandomo Grande Auditório do kholm Conrt ll. 18h15 - Apreno do lauados e ouos nvi de honra aos reis da Su no Prin's Galle. 18h30 -Os nvidad m ao Blue Hall. 19h -Os nvidados de hon· ra enm em po a panhados de músi de ó e tromפs. 19h) - Pros de úde ao Rei פlo o noite, o profer n · muelsn, Prémio Nol Micina, de 1982. 19h10 - Ó Rei proe saúde em memória de Nobel. 19h15 - O primeiro p é servido ao som da Sko Sinfonietta, dirida r . lia dinr in. 20h55 -Divertimen m cal com a soprano t Dalayman, uran 15 n tos, logo após ser seda a breme, ao que em s de foto. 21h50 - Hora do fé, com os estudantes das univer· dades a ostentar os esr· tes, prestando homenem aos laureados. 22h10 - Discursos dos laureados. 5 - Sinal le das ms e inío do e lden Hall m The K det O No af liarl laꝏ • *hora de Estocol

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cultura 34 QUINTA-FEIRA, 10 DEZEMBRO 1998

, José Saramago criticará os poderosos do mundo no curto discurso perante os reis da Suécia

A voz do comunista no momento real --------- MANUEL MOURA/LUSA

Da nossa enviada

Alexandra Lucas Coelho, em Estocolmo

Os monarcas suecos sa­berão esta noite como o Nobel da literatura aponta o dedo aos po· derosos em menos de dois minutos. No ban­quete que se segue à en­trega dos prémios, Sa­ramago usará o seu di­reito à palavra para re­cordar a Declarção dos Direitos do Homem. Pi­lar fará flutuar na fim. bria do vestido uma "frase de amor" troca-

- da entre Jesus e Maria

Madalena, no "Evange­lho" escrito pelo Nobel.A tudo isto assistiráSampaio, que ontemchegou a Estocolmo.

Q uando esta noite José Saramago se levantar perante

os Reis da Suécia, no banquete de honra aos laureados pela Academia, será para criticar os poderosos por não cumprirem o seu d,!!ver para com os cidadãos. O PUBLICO sabe que o curto discurso que o Nobel da Litera­tura fará nesta cerimónia sole­ne -depois de, ao final da tar­de, receber o prémio-, tomará como pretexto os 50 anos da De­claração Universal dos Direitos do Homem para denunciar as

, injustiças, as desigualdades e a miséria que Saramago conside­ra crescentes.

Numa página e pouco ( 45 li­nhas de texto, para correspon­der ao minuto e meio, dois, que o rigoroso horário do banqueteconcede a cada Nobel) o escritorportuguês apontará o dedo aosgovernantes que falham os seusdeveres e apelará aos cidadãospara que tomem a palavra.

Será a intervenção de um homem que se confessa desilu­dido e pessimista, ao não crer que o próximo meio século seja melhor em matéria de Direitos do Homem, mas que se apre­senta, ainda assim, esperança­do nas capacidades dos cida­dãos. José Saramago, o primei-

' ro laureado a falar (às 22h10 de Estocolmo, uma hora antes em Lisboa), começará por se dirigir às Majestades e Altezas Reais presentes no Salão Azul do City Hall de Estocolmo e terminará com um agradecimento aos es­critores portugueses e de língua portuguesa, do passado e de ho­je, que formam a sua herança.

Depois do comovente dis­curso perante a Academia Sue­ca (na passada segunda-feira), a

intervenção no banquete desta noite será o segundo e último momento em que o laureado português tem o direito e a oportunidade deinscrever a sua marca na galeria quase cente­nária dos Nobel. Em directo pa­ra todo o mundo.

A frase no vestido de Pilar

Mas, além das palavras que Saramago proferir, há outras (suas, também) que entrarão seguramente para a memória desta noite. Porque quando o Nobel da Literatura 1998 en­trar no Salão Azul para o ban­quete real, terá ao seu lado a mulher, Pilar del Rio, e na fün­bria do vestido de seda verme­lha de Pilar estarão bordadas estas palavras que o PÚBLICO antecipa: "Olharei a tua som­bra se não quiseres que te olhe a ti, Quero estar onde estiver a minha sombra, se lá é que esti­verem os teus olhos."

Esta mesma frase pode ser encontrada no diálogo final de Maria Madalena com Jesus Cristo (em "O Evangelho Se­gundo Jesus Cristo"), foi esco­lhida por José Saramago e Pilar del Rio como uma "frase de amor" e bordada ( em letras do tamanho da palma da mão, tam­bém a vermelho) a toda a volta da saia rodada do vestido. Não será arriscado afirmar que Suas Majestades nunca terão visto a mulher de um Nobel fazer flu­tuar assim, na solenidade do Sa­lão Azul, palavras saídas da obra que a Academia escolheu.

Para trás terá já ficado a ce­rimónia de entrega dos pré­mios, em que José Saramago será o penúltimo laureado a re­ceber a sua medalha de Nobel. O acontecimento (no Grande Auditório da Sala de Concertos de Estocolmo) abre às 15h30-hora de Lisboa - com o hino real sueco e prossegue com o desfile dos premiados interca­lados por peças musicais. As­sim: Shubert antes dos três No­bel da Física, Wagner antes dos três Nobel da Medicina, Sibe­lius antes do Nobel da Literatu­ra, e Bizet antes do Nobel da Economia

José Saramago receberá, portanto, a sua medalha entre Sibelius e Bizet. Tudo isto leva­rá uma hora, no fim da qual soa o hino nacional sueco.

O Presidente com o Nobel

Foi para participar nestes acontecimentos (cerimónia de entrega dos prémios e banquete real) que Jorge Sampaio aterrou ontem em Estocolmo, a meio da tarde Gá noite escura ... ), de ca­checol vermelho vivo ao pescoço (inocente fonte de possíveis equívocos, tendo em conta asco­nhecidas preferências clubísti­cas do chefe de Estado portu­guês). ''Venho como amigo ve­lho" explicou o Presidente, que já vai na sua segunda cerimónia de entrega do Nobel a falantes de língua portuguesa.

Poucos minutos depois es­tava a abraçar José Saramago no hall do Grand Hotel, ponto

de encontro antes da partida · que envolvia a sala, de "alegria", para a recepção à comunidade preferiu ele, Saramago, dizer, a portuguesa, oferecida por Sam- "grande alegria" de quem se re­paio. Assim seguem os dois jun- conhece quando se encontra, dos tos, o Nobel teimando no capote que falam a mesma língua "So­alentejano, o Presidente já sem mos da língua que falamos. Há cachecol, três passos na neve e um sentido que eu não quero uma limusine em comum até ao chamar de patriotismo, mas de Hotel Sheraton, onde os espe- pertença a algo. Dermos as vol­ram centenas de portugueses tas que dermos nós pertencemos radicados em Estocolmo. àquela terra" A essa terra, não

Acolhidos por uma multi- resiste Saramago a agregar Es­dão compacta, Saramago e panha, sobrepondo o coração ao Sampaio atravessam a custo o velho ditado: "Pelos ventos não salão do hotel até um pequeno falo, mas de casamentos tenho palco. Aí ficarão de pé frente a experiência .. " um mar de figuras morenas em Avançou então pela políti­traje de festa, de rostos latinos ca, que é matéria que, nele, vem com olhos brilhantes, a celebrar agarrada ao resto. Assim foi di­o que também lhes pertence, zendo, ao lado de Sampaio, que um Nobel português na capital "Portugal está frágil", que "cor­escandinava que tomaram co- remos o risco de deixarmos de mo casa. Nem o laureado (num ser aquilo que temos sido", que longo improviso), nem o Presi- "temos uma perplexidade mui­dente (em poucos minutos) se to funda que é não. sabermos esqueceram de os nomear. aonde vamos", e que "essa per-

Amadeu Batel, o professor plexidade sabem-na os grandes radicado em Estocolmo, a quem do mundo, o que não querem é coube no palco o papel de porta- confessá-lo". E, nisto, aproxi­vozda comunidade, dera o mote: mou-se das palavras que esta "José Saramago tem dito que noite proferirá no banquete com este prémio crescemos dois real: a denúncia de "uma socie­ou três centímetros. Pois aqui o dade sem nenhum sentido mo­nosso crescimento é muito supe- ral que aceita que se mande pa­rior à estimativa O Nobel fez os ra Marte um aparelho para ver suecos olharam-nos de outro como são as rochas e deixa mi­modo. Repararem em nós." lhões a morrer à fome". Sampaio rematou de forma Nadespedida-além dosvo­mais abrangente: "Agradece- tos de um Pai Natal ("o meu já mos todos muito o que este ami- apareceu ... ") e de "muitos pré­go nos proporcionou. Estamos mios Nobel para a língua portu­de facto mais altos." E o mar de guesa" (embora já se saiba que figuras morenas no Sheraton de "nos próximos anos não o vire­Estocolmo rompeu em palmas. mos a ter ... ")-, Saramago dese-

Mas entre o professor e o jouparatodos"uma vida limpa". Presidente, falou o "amigo", o A outra coisa não apelará esta responsável pela aura de orgulho noite, frente a Suas Altezas. •

PÚBLICO

O programa • I6h30* - Hino Real

"Kungssangen".• 16h33 - "Marcha em Ré

Maior, KV 249", de FranzSchubert.

• 16h48 - Discurso de Mau,Jonson e apresentação do Pré­mio Nobel da Física, Daniel C.Tsui, Horst L. Stormer e Ro­bert B. Laughlin.

• 16h55 - Discurso de BjõrnRoos e apresentação do Pré­mio Nobel da Química, profes·sorJohnA Pople.

• 16h59 - Audição da ária"Dich, teure Hal;Ie", Cançãode Elisabeth da Opera "Tan·nhãuser" de Richard Wag·ner, com a soprano Katarin�Dalayman.

• 17h06 - Discurso de StenLindhal e apresentação doPrémio Nobel da Medicina,Robert F. Furchgott, Louis J.lgnarro e FeridMurad.

• 17h09 -Audição da canção"Flickan kom ifran sin ãlskJin.gs mõte", com poema de Ru­nerberg, "O Encontro da Don·zela", com a mesma soprano.

• 17h16 - Discurso de KjellEspmark e apresentação doPrémio Nobel da Literatura,José Saramago.

• I7h21-Audição,de "Faran·dole", da suite L' Arlésienne'de Georges Bizet.

• 17h23 -Discurso de RobertErikson e apresentação doPrémio Nobel da Economia,AmartyaSen.

• 17h25 -Hino nacional, "Dugamla, Du fria".

• I 7h35-Audição de "AMcha Festiva da Rainha de Sa·há", de Hugo Alfvén, pelo ReBIFilarmónica Orquestra de Tu'tocolmo, dirigida pelo maestroAndrew Davis, com a sopranoKatarina Dalayman, emquan­to os convidados abandonamoGrande Auditório do Strokholm Concert Hall.

• 18h15 - Apresentação d111laureados e outros convidadlllde honra aos reis da Suécia noPrince's Gallery.

• 18h30 -Os convidados che,gam ao Blue Hall.

• 19h -Os convidados de hon·ra entram em procissão acom­panhados de música de órgãllle trompetes.

• 19h09 - Proposta de umasaúde ao Rei pelo anfitrião danoite, o professor Bengt Sa·muelsson, Prémio Nobel deMedicina, de 1982.

• 19h10 -Ó Rei propõesaúde em memória de AlfrelNobel.

• 19h15 -O primeiro prato éservido ao som da StockolmSinfonietta, dirigida por (ro.lia Rydinger Alin.

• 20h55 -Divertimento mlJSi.cal com a soprano Kat.arinaDalayman, çlurant;e 15 minu­tos, logo após ser servida aso­bremesa, ao que se seguemsessões de fotografia.

• 21h50 - Hora do café, comos estudantes das universi·dades a ostentar os estandar·tes, prestando homenagemaos laureados.

• 22h10 - Discursos doslaureados.

• 22h25 - Sinal para levan!B!das mesas e início do baile noGolden Hall com The Kustban­det Orchestra No final, afamí­liareal recebe os laureadoo. •

*hora de EstocolnN

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carta de Estocolmo

Pilar del Rw *

As duas sombras de José Saramago SE EU não acabar esta carta, o responsável será Tore Zetter­berf. Tore Zetterberf e o tempo, que em Estocolmo, durante os dias do Nobel, é um bem tão precioso como escasso. O que acontece é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco dispõe de um funcionário perito em línguas para acompanhar cada laureado, e a sombra de Saramago é Tore. Sombra, avi­so e ameaça. Cada vez que ele aparece é porque é chegado o momento de cumprir outro compromisso e é implacável: os horários existem para serem cumpridos e dois minutos de atraso é mais que um drama, uma tragédia.

Não sei se todos os suecos são tão rígidos como Tore. Sei que são pontuais, austeros, co­medidos, simpáticos, mas se compartilham com Tore o seu sentido da responsabilidade es­te país, a Suécia, salvará o mun­do, pelo simples facto de o obri­gar a andar, hora após hora, na direcção certa e sem atrasos. Grande tarefa sem dúvida a que a Suécia tem por diante. Vejo Tore transpirar porque não consegue arrancar Saramago do grupo dos portugueses, por­que o escritor pára a conversar com quem o saúda, porque não respeita o programa, porque quer fazer uma pausa entre dois actos para manter um en-

contro, e isso é quase um delito: se não está na agenda, não é possível.

De qualquer forma tenho que dizer que Tore é simpático. Ri como as crianças, com um ri­so franco e aberto, como só se riem as pessoas que têm a cons­ciência tranquila, porque fize­ramo seu trabalho.

A outra sombra de Sara­mago é um português que vive na Suécia há mais de 30 anos. Chama-se António Afonso e é o motorista que leva o laurea­do de um sítio para outro, se­gundo o ritmo inumano daagenda do Nobel da Literatu­ra. António fornece a notatranquilizadora, diz que va­mos chegar a tempo, que co­nhece um atalho, que não háproblema. António levou ossapatos de Saramago para queum sapateiro, talvez tambémportuguês, pusesse umas solasde borracha por cima das decouro, para evitar uma quedasobre a neve gelada, "não váalguma coisa impedir-nos dereceber o Nobel". António rolapor Estocolmo, com o coraçãoradiante, porque será ele quevai levar Saramago a recebero Prémio Nobel. Agora deixo­os: Tore espera, e o seu olhar éum desafio.•*jornalista, mulher José Saramago,

escreve diariamente esta crónicapara o PÚBLICO

QUINTA-FEIRA, 10 DEZEMBRO 1998 35 cultura

Homenagem dos escritores lusófonos

Festa da língua portuguesa em Lisboa OS MOÇAMBICANOS José Craveirinha e Mia Couto, os angolanos Manuel Rui Mon­teiro e Pepetela e o cabo-ver­diano Germano de Almeida são alguns dos escritores que deverão estar presentes hoje à tarde na Aula Magna da Rei­toria, em Lisboa, para uma Festa da Língua Portuguesa em homenagem a José Sara­mago que também hoje pelas 15h30 recebe o Prémio Nobel da Literatura em Estocolmo. A cerimónia da entrega do prémio e o discurso de Sara­mago serão transmitidos em directo via satélite.

Do programa organizado pelo Ministério da Cultura e pela Reitoria da Universidade de Lisboa, consta ainda a exi­bição de tunas académicas, do coro da universidade e do Pro­jecto Sons da Fala.

As Tunas Académicas da universidade dão início ao pro­grama, animando a zona cir­cundante da Reitoria, a que se seguirá a exibição, às 14h30,

_ do coro da universidade que interpreta canções regionais portuguesas e brasileiras de Fernando Lopes Graça, bem como um poema de José Go­mes Ferreira, com música da­quele compositor.

De seguida, assistir-se-á às intervenções curtas do Reitor da Universidade de Lisboa, Jo-

sé Barata-Moura, e do minis­tro Manuel Maria Carrilho, para depois se ouvirem as ho­menagens de Manuel Gus­mão, poeta e professor da Uni­versidade de Lisboa, e dos es­critores Manuel Rui, Orlanda Amarilis (Cabo Verde), Antó­nio Lopes Júnior (Guiné-Bis­sau), Mia Couto, Inocêncio Mata (São Tomé e Príncipe) e Luís Cardoso (Timor Leste).

Como mote dos breves dis­cursos dos escritores lusófonos poderiam ser estas palavras de Sarauiago: "Os livros estão aqui, como uma galáxia pul­sante ... e as palavras dentro de­les, são outra poeira cósmica flutuando".

Pelas 15h30 é o momento solene do começo da cerimó­nia de entrega do Nobel ao autor de "Todos os Nomes", directamente do Stockolm Concert Hall. O programa da Festa da Língua Portuguesa encerra logo de seguida com um concerto do Projecto "Sons da Fala", que é inte­grado por nove cantores, Sérgio Godinho, Vitorino, Janita Salomé, Tito Paris (Cabo Verde), Filipe Mu­kemga (Angola), André Ca­baço (Moçambique), Guto Pi­res (Guiné-Bissau), Juka (S.Tomé e Príncipe) e Nill Luz (Brasil). A entrada para a festa é livre. • R.F.S.

erBLlCO

ecos de Estocolmo

o embargo furadoO DISCURSO que José Sara­mago fará hoje no banquete real (ver texto nestas pági­nas) foi cedido ontem a al­guns jornalistas com a condi­ção expressa de não serem feitas transcrições exactas antes da hora a que o Nobel começará a falar. Fica assim facilmente explicada a fúria de Saramago quando, à noite, a SIC furou este embargo, ci­tando as palavras do escritor e exibindo o documento pe­rante as câmaras.

"O meu pai niio é frio"

DOIS MESES depois desse dia em que o pai lhe telefo­nou e disse apenas "Violan­te .. '." antes de os dois desata­rem a chorar, a filha de José Saramago aterrou ontem em Estocolmo para assistir à en­trega desse prémio cujo anúncio os tinha deixado as­sim, sem palavras. À chega­da, Violante Saramago (que ainda não falara com o pai desde que ele está e.Jll Esto­colmo) contou ao PUBLICO como o discurso de segunda­feira, perante a Academia sueca, a surpreendeu: "Foi muito sentido. Não pensei que ele fosse chamar a este discurso os meus bisavós, não é muito o estilo dele, ex­por-se daquela maneira." Mas sublinha: "O meu pai não é uma pessoa fria, tem uma emotividade à flor da pele. Há certos_ gestos, certas

caretas que às vezes dão ou­_tra imagem dele, mas são apenas formas de distancia­mento, não correspondem se­não a uma desesperada defe­sa, para ele se aguentar."

Agora todos juntos

VIOLANTE SARAMAGO, o marido, e os dois filhos (Ana, 26 anos, e Tiago, 14) são qua­tro dos dez convidados pes­soais de José Saramago para as cerimónias de hoje. Com os familiares (incluindo o en­teado Juan, filho de Pilar del Rio) e amigos, chegaram os restantes convidados do No-'­bel da Literatura 1998: Eduardo Prado Coelho, Eduardo Lourenço, Baptista Bastos.

O'Saramago verdadeiro

ANTÓNIO FERNANDO Ca­nela Saramago apresentou-se ontem ao Saramago Nobel como sendo "o Saramago ver­dadeiro", na recepção à co­munidade portuguesa ofere­cida pelo Presidente da Repú-blica. Conhecida como já é a história da alcunha 'sarama­go' que ficou no registo por erro do notário, este cidadão radicado em Estocolmo, na­tural do Redondo, Alentejo, aproveitou o apelido verda­deiro, herdado da família, co­mo argumento para dois de­dos de conversa com o lau­reado, por entre a multidão reunida no salão de um hotél da capital sueca. • A.L.C.