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Raimundo Wall Ferraz: o político e o intelectual
Francisco Alcides do Nascimento 1 ⃰
Conheci o sujeito desta pesquisa quando eu ainda era aluno da Graduação em História,
curso realizado na Universidade Federal do Piauí, no período compreendido entre 1976 e 1980.
No final da primeira década de 1970, Raimundo Wall Ferraz deixava a Prefeitura Municipal de
Teresina, por haver sido convidado pelo governador indicado Dirceu Mendes Arcoverde (1975-
1979). Entretanto, o biografado havia sido secretário da Educação no período compreendido
entre 1971-1974; na ocasião, os militares tinham indicado, para governar o Piauí, o Sr. Alberto
Tavares Silva, filiado ao partido da Aliança Renovadora Nacional (ARENA).
Minha aproximação com o professor Wall Ferraz deu-se quando este se desentendeu com
as lideranças do partido, e teve que voltar ao batente da sala de aula. A disciplina que permitiu
ao estudante compartilhar com o professor ideias sobre o Brasil de determinado período foi
História do Brasil III, que tratava do período republicano. Antes de iniciar a disciplina, o
Departamento de Geografia e História ofereceu uma monitoria e me candidatei e fiquei com a
vaga. Este acontecimento ajudou na minha simpatia pelo Brasil República, e os meus estudos
na Pós-Graduação foram verticalizados no período.
Há sempre a tentativa de transformar homens comuns em semideuses, com a vida sem
nenhum tipo de tropeços; contudo, são muitas as manifestações a favor de Raimundo Wall
Ferraz. Parecia ser muito cuidadoso quando tratava com pessoas humildes, mesmo tendo a fama
de ser “zangado”. José Emanoel Rocha Maciel foi convidado por Dirceu Mendes Arcoverde
para dirigir a Empresa de Processamento de Dados do Piauí (PROCED), em 1975, e foi nessa
condição que assistiu a um fato que, ao seu olhar, representou um ato de humildade. Wall
Ferraz, então prefeito de Teresina, foi barrado pelo segurança que trabalhava na portaria da
PROCED, dizendo-lhe que ele precisava apresentar um documento de identificação. O prefeito
não conduzia nenhum tipo de documento, mas disse ao porteiro que ia buscá-lo no carro. Nesse
momento, passava pela portaria uma funcionária que conhecia Wall Ferraz, e “imediatamente
se comunicou comigo, quando me desloquei à portaria, pedi-lhe desculpas e o conduzi ao
interior do prédio” (MACIEL, 1995, p. 148).
1 Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento/Departamento de História e Programa de Pós – Graduação em
História do Brasil da Universidade Federal do Piauí.
2
Raimundo Wall Ferraz formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Piauí. Manoel
Paulo Nunes testemunha a passagem de ambos por aquela instituição, relatando: “ali começaria
ele, menino pobre que era, a lutar pela vida, trabalhando em modesto emprego; e ali faria o seu
curso de Direito; depois conviveríamos no magistério secundário e posteriormente no superior,
da Faculdade Católica de Filosofia do Piauí” (NUNES, 1995, p. 77)). Paulo Nunes ainda faria,
no mesmo período, com Wall Ferraz, curso de preparação de preparação de professores,
oferecido pela Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, popularizada
com a sigla CADES:
A implantação do golpe civil militar encontrou Raimundo Wall Ferraz como portador de
uma bagagem substantiva em relação à educação, havia sido professor do ensino secundário e
superior, além de ter se preparado para implementar uma forma diferente de ajudar ao Piauí por
meio do planejamento da educação. Contudo, o golpe encontrou Wall Ferraz atuando na política
partidária. Naquele período, era vereador eleito pela União Democrática Nacional (UDN), e
ocupava também a Presidência da Câmara Municipal de Teresina.
Raimundo Wall Ferraz conquista o seu primeiro mandato em 1955, quando foi eleito
vereador de Teresina, tinha 23 anos de idade. Ainda não é possível saber se permaneceu na
Câmara de Vereadores de forma ininterrupta até o golpe civil-militar de 1964, que, como já foi
registrado, o alcançou na Presidência do Legislativo Municipal. Ali viveu momentos de tensão,
uma vez que um dos parlamentares teve o seu mandato cassado. Mas o protagonista desta
proposta trata de forma superficial esta questão. Afirma que:
[...] quando se deu o golpe militar de 1964, a repressão e a caça às bruxas não foram
tão amplas no Piauí. Na verdade ocorreram cassações de mandatos, como dos
deputados Deusdeth Ribeiro – líder mais avançado da esquerda no Piauí, - Paes
Landim, Themístocles Sampaio, Ubiratan Carvalho, José Alexandre e Celso Barros,
enquanto no plano municipal o alvo foi o vereador Jesualdo Cavalcanti, de Teresina.
Aconteceu também a prisão de algumas lideranças notória, mas que não tinham muita
significação na vida pública e política do Estado (FERRAZ, 1992, p. 121).
Apesar de minimizar as ações dos agentes locais da ditadura civil-militar no Piauí, registra
que foram presas pessoas ligadas à Igreja, como Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira e o
engenheiro marxista Cícero de Sousa Martins; e acrescenta: “mas todos foram soltos pouco
tempo depois, após comprovado que não tinham eles qualquer plano para afetar a ordem
revolucionária. Falava-se ainda no Grupo dos Onze, que, na verdade não passava de um
3
movimento de jovens que fazia pregação nos bairros da Capital, também sem qualquer projeto
revolucionário” (FERRAZ, 1992, p. 121).
É possível que Wall não tenha percebido ou optou por silenciar sobre o processo de
cassação do mandato de Jesualdo Cavalcanti, que teve de comandar, uma vez que era o
presidente da Câmara dos Vereadores de Teresina. No entanto, relata que o Exército invadiu a
Casa que liderava “em busca de documentos subversivos dos vereadores Jesualdo Cavalcanti e
Paulo Rubens Fontinele, mas resultou em nada. Logo depois dos primeiros dias do golpe, Wall
Ferraz esteve com o comandante da guarnição militar, o coronel Mascarenhas Façanha” e disse
ter ouvido deste: “as minhas maiores preocupações no momento, meu maior trabalho, tem sido
esfriar a ânsia de alguns oficiais piauienses que querem, a todo custo, derrubar o governo e
liquidar com a classe política” (FERRAZ, 1992, p. 122).
Jesualdo Cavalcanti foi eleito vereador de Teresina pelo Partido Trabalhista Brasileiro;
tomou posse no dia 31 de janeiro de 1963. Foi alçado ao posto de líder da bancada do PTB; na
verdade, a bancada era constituída de três parlamentares: Jesualdo, Paulo Rubens e Álvaro
Lebre. Consumado o golpe civil-militar, Jesualdo Cavalcanti foi preso no dia 4 de abril, sendo
levado para a 26ª Circunscrição do Serviço Militar, por ordem do Comando da Guarnição
Federal. Na tarde do mesmo dia foi encaminhado para o Dops, onde pernoitou. Na tarde do dia
seguinte, foi protagonizado o primeiro espetáculo de truculência da nova ordem estabelecida:
À tarde do dia 5 [...] seria levado para o 25º Batalhão de Caçadores na carroceria de
um caminhão aberto, sob forte escolta militar, armada de fuzis e metralhadoras. O
caminhão, ao atravessar a diagonal da Praça Pedro II, diminuiu a marcha, de modo
que as pessoas que formavam longas filas para o filme das 15 horas pudessem
contemplar a cena. E havia muita gente, pois era domingo. No 25º BC, jogaram-me
numa fétida e exígua solitária que mal me cabia deitado e onde penetrava uma pífia
réstia de luz, e lá permaneci por 48 horas. Dispunha apenas de uma lata de manteiga
para urinar, sempre prestigiado pela companhia de formigas e baratas (BARROS,
2006, p. 186).
Vejam que, para aqueles que foram considerados perigosos e subversivos, a vida não se
tornou fácil, embora não se possa dizer que as práticas dos novos donos do poder tenham sido
realizadas com a mesma intensidade que no Rio de Janeiro ou São Paulo. Entretanto foram
presos nos primeiros dias do golpe sessenta pessoas. Em Teresina, o clima era tenso. A exemplo
do que ocorria no restante do País, movia-se com absoluto êxito a máquina de caça às bruxas.
4
Invadiam-se “sindicatos, residências e locais de trabalho a qualquer hora do dia ou da noite”
(BARROS, 2006, p. 192).
No dia 11 de abril, os vereadores se reuniram para dar início ao processo de cassação do
mandato do jovem vereador, eleito pelos votos dos estudantes. A Câmara recebera um ofício
do Comando da Guarnição Federal de Teresina, subscrito pelo coronel Francisco Mascarenhas
Façanha, “comunicando que o vereador Jesualdo Cavalcanti de Barros foi preso por ordem
deste Comando de Guarnição, em virtude de estar comprometido com movimento de caráter
subversivo que visava a queda do regime democrático (sic)” (BARROS, 2001, p. 203). Jesualdo
Cavalcanti acusa Raimundo Wall Ferraz de agir de comum acordo com os militares, tendo
realizado reuniões secretas com os vereadores, que tinham por finalidade cassar o seu mandato.
Por fim, Jesualdo Cavalcanti transcreve um trecho da ata que registrou a cassação seu
mandato, destacando que o presidente convocou uma sessão extraordinária:
Tendo em vista notícias veiculadas nesta cidade que havia propósito dos senhores
vereadores e da presidência de se omitirem ante a situação existente, notadamente em
relação ao vereador Jesualdo Cavalcanti. Achando a presidência ser necessário no
momento uma definição dos senhores vereadores a fim de evitar interpretações
maliciosas prejudiciais não só à presidência como aos senhores vereadores e de que a
hora exige uma definição por parte do Plenário desta Casa (sic) (BARROS, 2001, p.
213).
Sete vereadores votaram pela cassação, um absteve-se e outro justificou a ausência por
estar na zona rural de Teresina. Cavalcanti tornou-se o primeiro preso político no Piauí que teve
o mandato cassado após a vitória do movimento militar, deflagrado em 31 de março de 1964.
A participação de Wall Ferraz no evento narrado tornou-se moeda de campanhas eleitorais
durante nas contendas políticas nas décadas de 1980 e 1990.
O golpe civil-militar através do Ato Institucional n. 5 extinguiu o pluripartidarismo e
criou o bipartidarismo: Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). Como denuncia Wall Ferraz com o pluripartidarismo, “a quase totalidade
dos políticos bandeou-se para o lado do governo, como se isso fosse uma forma de
sobrevivência. Em consequência, como não souberam buscar outro caminho, foram jogados
para dentro de um saco de gatos que era a ARENA [...] (FERRAZ, 1992, p. 129). Naquele “saco
de gatos” comportava políticos oriundos do PSD, UDN e até do PTB “foram amarrados dentro
de um saco e passaram a se estraçalhar uns aos outros. Mas o que importava mesmo para eles
5
era estar dentro do partido que apoiava os governos estadual e federal” (FERRAZ, 1992, p.
129).
Por ser um dos políticos jogados, não contra a sua vontade, do “saco de gatos”, no início
da década de 1970, foi indicado para a Secretaria de Educação do Estado. Durante o lapso de
tempo entre o golpe e o início da década, há pouco mencionada, Wall Ferraz fazia parte de um
corpo de técnicos que atuavam da Comissão de Desenvolvimento Econômico do Piauí
(CODESE), depois transformada em Secretaria de Planejamento. Herculano de Moraes, um dos
técnicos, colega de trabalho, destaca a inquietação de Wall Ferraz: “já era uma característica do
seu estilo apressado, como se fosse preciso correr para não perder o trem da história”
(MORAES, 1995, p. 65).
Foi ali que o governador Alberto Tavares Silva, indicado pelos militares e apoiado pela
família Távora e Cesar Carls, políticos que atuavam no vizinho estado do Ceará, encontrou
Raimundo Wall Ferraz. Herculano Moraes destaca a escolha:
Pois foi ali que a luneta mágica de Alberto Silva foi buscar aquele que era considerado
o maior conhecedor dos problemas piauienses, notadamente na área da Educação.
Creio que indicado por A. Tito Filho, pois havia a ideia de trazer de fora do Estado
um técnico para a Secretaria da Educação, Wall Ferraz foi a Brasília em nome do
Governo que assumiria o poder. Voltou de lá urgido pela unanime opinião de técnicos
do MEC que não entendiam essa obsessão por alguém de fora, quando ali estava um
professor de mais elevada qualificação (MORAES, 1995, p. 65).
Sabia que não adiantava recuperar e criar novas escolas se não investisse no professor,
afinal ele tinha ocupado esse lugar antes de ser alçado à condição de secretário.
Foi aí que grandes conquistas do magistério aconteceram: Estatuto, Salário-
Móvel, qualificação de professores que lecionavam a título precário, através
de convênios com a Universidade Federal do Piauí e apoio à APEP para que
se instalasse e organizasse a categoria. (RIBEIRO, 1995, p. 144).
Kleber Montezuma, um auxiliar durante do político durante muitos anos, defende que
Raimundo Wall Ferraz:
Foi um intelectual e um agitador cultural. Entendia e mexia com tudo que se
relacionava com as artes e a literatura. Criou a pinacoteca da Prefeitura, bandas
escolares, corais infantis, orquestra de câmera da cidade, bale da cidade, Montou a
“Casa da Cultura”, onde instalou museus e a biblioteca “Carlos Castelo Branco”,
promoveu concursos literários e de cinema em vídeo, apoiava eventos de cantadores,
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violeiros e cordelistas e peças teatrais. Quando havia eventos culturais exigia que,
além dos convites emitidos pela Fundação Cultural “Monsenhor Chaves”, seu
Gabinete reforçasse os convites pelo telefone. Empenhava-se pessoalmente em
convidar e convocava amigos e assessores para todos os eventos promovidos pela
Fundação Cultural “Monsenhor Chaves. Assim, ele “matava dois coelhos de uma
cajadada só. Garantia “casa cheia” ao tempo que socializava o gosto pela cultura e a
arte, entre os seus amigos e colaboradores (MONTEZUMA, 1995, p. 86-87).
A citação é longa, mas é relevante, uma vez que, de alguma forma, sintetiza a atuação de
Wall Ferraz como intelectual e agitador cultural. Para arredondar o que a citação contém,
lembro-me do que escreveu Teresinha Queiroz quando do falecimento do Prof. Wall Ferraz:
Na convergência das sensibilidades do historiador e o político reside a convicção de
que a história é também um tecido leve e delicado onde se inscrevem os
acontecimentos numa fluidez e numa velocidade arrebatadora e onde se podem
registrar atos e eventos tanto sublime como vis. Nesse tempo curto, o homem, a
despeito de sua vontade, pode ser subjugado pelas forças densas, imponderáveis,
profundas e poderosas do Destino e é nessa impotência derradeira e fatal que ele se
interroga sobre sua trajetória. Submetido ao mistério do mundo, conduzido a brumas
espessas e densas, só lhe resta perguntar ansioso, já bafejado pelas asas leves do
esquecimento, acerca do seu labor, da justiça dos homens e da teia romântica e
perecível da memória (QUEIROZ, 1995, p. 101).
Em 1982, foi candidato a deputado federal, filiado ao PMDB, sendo eleito com 53.226
mil votos. José Olímpio Leite de Castro defende que, dentre os candidatos a deputado federal,
“nas eleições de 1982, seguramente Wall Ferraz foi o que menos investiu recursos”. Fazia seus
trabalhos a bordo de um fusquinha, que, na maioria das vezes, ele mesmo pilotava, e inaugurou
um novo estilo de fazer campanha, executando um trabalho de formiguinha, “entrando de casa
em casa nos bairros onde fazia comícios” (CASTRO, 2009, p. 27). Na ocasião foi tido como
um fenômeno eleitoral “[...] não fez praticamente campanha pelo interior do Estado e emergiu
das urnas com mais de 53.226 mil votos, dos quais 43 mil somente em Teresina, elegendo-se
deputado federal mais votado na capital” (CASTRO, 2009, p. 29).
Em 15 de maio de 1985, a Emenda Constitucional n. 25 alterou dispositivos da
Constituição Federal, restabelecendo as eleições diretas para “presidente e vice-presidente da
República, em dois turnos, eleições para senador e deputado federal do Distrito Federal e
eleições diretas para prefeitos das capitais e dos municípios considerados áreas de segurança
nacional e estâncias hidrominerais, além de revogar dispositivo que instituía o voto distrital e a
fidelidade partidária” (CASTRO, 2009, p. 51).
7
É neste contexto que forças ligadas ao PMDB e partidos como o PC do B se articularam
para lançar a candidatura de Wall Ferraz à Prefeitura de Teresina. A indicação da candidatura
não foi aceita de forma pacífica por todos os vereadores do PMDB, mas através de Osmar Júnior
(vereador do PMDB), integrante do Comitê do PC do B, o candidato se aproxima de Manoel
Domingos Neto, ideólogo do PC do B no Piauí, ganha o reforço desse partido na sua campanha.
“Os comunistas tinham uma militância muito forte em Teresina, eram competentes na
propaganda e seriam muito úteis ao candidato do PMDB, nesse particular” (CASTRO, 2009, p.
53).
A eleição, apesar do clima tenso no decorrer da campanha, ocorreu sem registros de
grande monta. “Abertas as urnas, Wall Ferraz (PMDB) obteve 78.252 mil votos contra 60.649
mil votos recebidos por Átila Lira (PFL), registrando-se uma maioria de 18.603 mil para o
candidatos do PMDB. No discurso de posse Wall Ferraz declarou:
[...] Grandes edificações são necessárias. Asfalto também. Praças e jardins são
imprescindíveis. Tudo será inútil, porém, se ao lado dos suntuosos edifícios vivem
famílias no maior grau de miséria. De nada valerá o asfalto se ao longo dele se
amontoam casebres abrigando a mais extremada pobreza. As praças e jardins não
terão sentido se os usuários, corroídos pelas mais crônicas carências, não sabem como
utilizá-los convenientemente. Consequência da minha opção pelo social, saneamento
básico, habitação, transporte, educação, alimentação, saúde, são itens que merecerão
atenção máxima do meu governo (CASTRO, 2009, p. 78).
Nesta parte inicial, aponto alguns caminhos percorridos pelo biografado; tenho a
convicção, por outro lado, de que outros tantos não foram alcançados e provavelmente nunca o
serão. Tenho a convicção também de que foram narrados até aqui percursos visíveis, deixados
de forma que fossem alcançados com certa facilidade. Apoiando-me em Sabina Loriga (2011),
diria que, esta proposta, até o momento, foi para recolher pensamentos para povoar passado.
Anotei informações registradas por terceiros que foram amigos, aliados políticos, adversários,
colegas de trabalho, alunos do professor Raimundo Wall Ferraz.
Devo acrescentar, entretanto, que a pesquisa realizada até o momento é de caráter
exploratório, realizada para a construção destas propostas. As leituras sobre biografia dão conta,
como acabei de registrar, de que ela é chamada de um gênero de escritura particularmente
volúvel; parece-me mais fecundo meditar sobre essa fronteira fluida que separa a biografia da
história e da literatura, e analisar as proibições, os abalos, as incursões recíprocas que transpõem
(LORIGA, 2011, p. 19). Reflexões como esta motivaram a proposição desta pesquisa.
8
Keith Jenkins defende que o historiador tem de ler/interpretar seus documentos, o que faz
parte de uma metodologia predefinida, para, com base em leituras (intertexto), construir sua
narrativa (JENKINS, 2001, p. 26). Este trabalho será norteado por alguns procedimentos de
pesquisa. O primeiro deles diz respeito ao levantamento, leitura e fichamento da produção mais
importante, referente ao tema, visando à maior aproximação do objeto de estudo. O passo
seguinte será a pesquisa hemerográfica, realizada no Arquivo Público do Piauí – Casa Anísio
Brito. Na sequência, serão construídos roteiros de entrevistas e as entrevistas propriamente
ditas.
Com o fim da ditadura, as práticas jornalísticas não mudaram de forma significativa. Os
governantes (governador, prefeito) do Poder Executivo e (deputados e vereadores) Poder
Legislativo continuaram enviando releases para as editorias dos jornais, sendo tais peças
publicadas sem resistências, pelo menos de forma que os leitores pudessem perceber. Jornalistas
continuaram a fazer parte da folha de pagamentos dos poderes mencionados, além do Judiciário.
Mas tais práticas não impedem que essas “enciclopédias do cotidiano” não sejam empregadas
como fontes de pesquisa
A leitura dos discursos impressos nos periódicos permitirá que os pesquisadores avaliem
o movimento das ideias que circularam à época, permitindo, dessa forma, entender a
complexidade da luta social, como, por exemplo, a maneira de aproximação e distanciamento
de grupos sociais, conforme as conveniências do momento. Os conflitos desencadeados para a
efetivação dos diferentes projetos se inserem em uma luta mais ampla, que atravessa a
sociedade por inteiro. E assim, atravessa o homem, o político, o educador e o agitador cultural
Raimundo Wall Ferraz.
A pesquisa hemerográfica será de fundamental importância para a apreensão e
compreensão do “real”, assim como para a montagem do roteiro geral de entrevistas. Ao propor
a análise das representações construídas sobre Wall Ferraz, fica claro o desafio de trabalhar
com discursos que moldam e transmitem imagens do biografado. Por outro lado, as entrevistas
coletadas por meio da Metodologia da História Oral oferecerão outras leituras sobre o
biografado, e, desta forma, poderão ajudar a trazer à tona informações dos bastidores que não
foram publicadas.
A Metodologia da História Oral, assim, pode e deve reconstruir práticas do administrador
em relação às demandas sociais dos moradores que chegavam ao gabinete do prefeito, pode
9
ajudar na compreensão das estratégias empregadas pelos auxiliares do prefeito para resolver os
problemas de toda ordem que afetavam a cidade administrada por Raimundo Wall Ferraz. As
entrevistas serão realizadas com pessoas que compuseram as equipes de trabalho do biografado,
sejam secretários, chefes de sessões, diretores de departamentos e também com moradores da
cidade que, por meio de suas manifestações, constituíam a opinião pública. Para Halbwachs,
“[...] Nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo
que se trate de acontecimentos em que só nós estivemos envolvidos e com objetos que só nós
vimos. Porque, em realidade, nunca estamos sós” (HALBWACHS, 1990, p. 26). Como se
pretende que os atores sociais atingidos narrem as suas experiências de vida, o formato de
entrevista escolhido é o da trajetória de vida, o qual é intermediário entre a história de vida e a
entrevista temática. Esse formato se caracteriza por uma entrevista não tão longa quanto a
entrevista de história de vida nem marcada por um único tema, como na entrevista temática.
Todavia esta definição a priori pode ser modificada e a entrevista temática pode também ser
empregada.
As fontes oficiais não serão preteridas. As mensagens, os relatórios também serão
utilizados. Nelas podem ser encontrados os projetos que não foram executados. Afinal de contas
constituem prestações de conta do Poder Executivo Municipal para o Legislativo.
Entre 1975 e 1979 Raimundo Wall Ferraz ocupou pela primeira vez, a Prefeitura de
Teresina, convidado pelo governador Dirceu Mendes Arcoverde, indicado pelos militares e
apoiado pelos arenistas do Piauí, dentre os quais se destacava Petrônio Portella Nunes, naquela
oportunidade, ministro da Justiça do Brasil. Fez uma administração avaliada como boa.
Terminou o seu mandato, mas saiu brigando com as lideranças da ARENA. Este fato provocou
a volta de Raimundo Wall Ferraz para a Universidade Federal do Piauí, Departamento de
Geografia e História. Ali, de imediato a sua volta, ministrou a disciplina Brasil República III,
disciplina cursada por mim, quando também fui monitor.
Em sala de aula, discutia de forma aberta a situação brasileira e da população de Teresina.
Pari passo às suas atividades acadêmicas, mantinha-se articulado com as forças políticas mais
à esquerda. Como foi registrado pela história política brasileira, em dezembro de 1979, a
ARENA e MDB foram extintos. Formaram-se o Partido Democrático Social (PDS), composto
por ex-integrantes da ARENA, e o PMDB (PMDB) Partido do Movimento Democrático
10
Brasileiro, englobando a maioria da oposição. Os trabalhistas dividiram-se no Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) e no Partido Democrático Trabalhista (PDT). Surgiu ainda no
mesmo período, o Partido Popular (PP), composto por militantes conservadores da oposição.
Formou-se também o Partido dos Trabalhadores (PT), liderando pelo sindicalista Luís Inácio
“Lula” da Silva (FERREIRA, 2013, p. 216).
É neste contexto que a maioria dos vereadores do PMDB e partidos como o PC do B se
articularam para lançar a candidatura de Wall Ferraz à Prefeitura de Teresina. A indicação não
foi aceita de forma pacífica por todos os vereadores do PMDB. Osmar Júnior (vereador do
PMDB, integrante do Comitê do PC do B), ler em plenário documento lançando a candidatura.
Ainda no começo da campanha, o candidato, por intermédio de Osmar Júnior, se aproxima de
Manoel Domingos Neto, ideólogo do PC do B no Piauí e ganha como reforço a militância desse
partido em sua campanha. “Os comunistas tinham uma militância muito forte em Teresina,
eram competentes na propaganda e seriam muito úteis ao candidato do PMDB, nesse Particular”
(CASTRO, 2009, p. 53).
No discurso de posse Wall Ferraz declarou:
[...] Grandes edificações são necessárias. Asfalto também. Praças e jardins são
imprescindíveis. Tudo será inútil, porém, se ao lado dos suntuosos edifícios vivem
famílias no maior grau de miséria. De nada valerá o asfalto se ao longo dele se
amontoam casebres abrigando a mais extremada pobreza. As praças e jardins não
terão sentido se os usuários, corroídos pelas mais crônicas carências, não sabem como
utilizá-los convenientemente. Consequência da minha opção pelo social, saneamento
básico, habitação, transporte, educação, alimentação, saúde, são itens que merecerão
atenção máxima do meu governo (CASTRO, 2009, p. 78).
É possível narrar uma vida? A resposta imediata é não. O leitor perceberá que a proposta
registra algumas das práticas mais visíveis da trajetória de Raimundo Wall Ferraz: foi um
político de sucesso, muito especialmente quando comandou o Executivo municipal. Ocupando
este lugar de poder, foi considerado um agitador cultural, pois criou instrumentos que
permitiram a publicação de livros e revistas, criou também condições para que o teatro, o
cinema, a dança, a pintura, a fotografia ganhassem espaço nas mídias e em casas de exposições
como é o caso da Casa da Cultura de Teresina, o Teatro do Boi, a Fundação Cultural de
Monsenhor Chaves, a Escola de Dança, a Escola de Música.
Raimundo Wall Ferraz ganhou a simpatia da população de Teresina, inclusive a minha.
A Fundação criada por ele publicou os meus primeiros artigos, resultado de pesquisas realizadas
11
no Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais (Fundação CEPRO), do mesmo modo, publicou
a dissertação de mestrado e a tese de doutorado. Cito-me como exemplo, entretanto sua
administração instituiu o Concurso Novos autores, permitindo, desta forma, que jovens
pesquisadores tivessem os resultados de suas pesquisas conhecidos pelo público de fora dos
muros das universidades. Por tudo que foi apontado aqui, creio que a pesquisa, que deve resultar
na publicação da biografia de Wall Ferraz, é relevante.
Raimundo Wall Ferraz como todos os homens é um ser múltiplo. Saiu de um partido
considerado de direita e golpista, como é o caso da UDN indo fazer parte da ARENA, partido
com características assemelhadas, isso entre meados da década de 1950 e o final da década de
1970. Filiou-se ao PMDB, que, naquele momento, recebeu em suas linhas quase todos
adversários da ditadura civil-militar. Militantes dos partidos de esquerda, dentre os quais
destaco o Partido Comunista Brasileiro e o Partido Comunista do Brasil, abrigaram-se na sigla.
Em Teresina/Piauí, posso citar, como exemplo, o vereador Osmar Junior que fazia parte da
Diretoria do PC do B, mas era filiado ao PMDB. Com a criação do PSDB, Wall Ferraz filiou-
se a este partido, onde permaneceu até sua morte em 1995. Como se pode constatar, do ponto
de vista político/ideológico, andou de um partido de direita em direção a um partido de centro.
Nas campanhas para deputado federal, em 1982, e para prefeito de Teresina em 1985, recebeu
o apoio do Partido Comunista do Brasil. Depois de ter vencido esta eleição, criou a Secretaria
de Assuntos Sociais, colocando como secretária uma militante do PC do B.
A proposta põe em destaque a trajetória política de Wall Ferraz, como o fez Benito Bisso
Schmidt quando defende que o “contexto deve ser pensado como campo de possibilidades
historicamente delimitado, onde os indivíduos, a cada momento de suas vidas, têm diante de si
um futuro incerto e indeterminado, diante do que fazem escolhas, seguem alguns caminhos e
não outros” (SCHMIDT, 2004, p. 133).
Tenho a convicção de que não darei nós em todos os fios da vida de Raimundo Wall
Ferraz, mas isso não pode servir de empecilho para que eu construa sua biografia. Sei que o
modo como é feita no tempo presente, imputa ao historiador a preocupação de aproximar-se o
máximo possível dos fios que ligam o indivíduo a seu contexto. “Sendo, portanto, uma das
tarefas fundamentais do gênero biográfico na atualidade recuperar a tensão, e não a oposição,
entre o individual e o social” (SCHMIDT, 2004, p. 133).
12
Giovanni Levi em artigo publicado no livro Usos e abusos da história oral, publicado em
1996, depois de dialogar com Arnaldo Momigliano, historiador italiano, “registra que a
biografia constitui na verdade o canal privilegiado através do qual os questionamentos e as
técnicas peculiares da Literatura se transmitem à História”. A discussão sobre a relação História
e Literatura ainda é carregada de tensão, pelo menos para uma parcela dos historiadores, dentre
os quais me incluo. Alguns pontos relevantes da relação mencionada focam a questão da ficção
nas duas disciplinas. Talvez o grande problema, se ele existe para nós aprendizes de
historiadores, resida no fato de que, por muito tempo, tentamos ignorar ou fazer tábula rasa da
necessidade de aprofundamento teórico e das questões filosóficas relevantes que envolvem a
relação entre as duas disciplinas
Vou trabalhar com a narrativa e me aproximar da Literatura? A resposta é sim. E por quê?
Desde a segunda metade do século XX, a história aproximou-se de disciplinas como a
Sociologia, a Antropologia a Linguística, a Literatura para citar as mais destacadas. Como
resultado desta aproximação desenvolveu um campo mais sensível de possibilidades de
interpretação de conceitos e noções sofisticadas, que contribuíram para o trabalho de
interpretação, portanto, compreensão do historiador. É impossível negar que a Clio trabalha
com a noção de cultura de forma mais complexa, em razão do caráter polissêmico desta
expressão. As noções de escalas espaciais e temporais ajudaram na criação da micro-história e
história do tempo presente. Além do debate que envolve o discurso, a narrativa, a ficção e os
recursos da linguagem, aspectos relacionados diretamente com a proposta.
Um dos sujeitos desta pesquisa foi considerado um “agitador cultural” e, deste modo, esta
expressão nos leva à noção de intelectual, não de forma automática, certamente. Os estudos
sobre os intelectuais voltaram a ganhar visibilidade, mesmo que ainda de forma acanhada nos
anos 1960 e 1970, mas segundo Jean-François Sirinelli, em Os intelectuais, “[...] na verdade,
era muito mais uma questão de ausência do olhar do que de descrédito – será, portanto,
necessário apresentar em seguida uma história nascente, mais que renascente” (SIRINELLI
apud RÉMOND, 2003, p. 232). Logo em seguida, acrescenta: “a história dos intelectuais
tornou-se assim, em poucos anos, um campo histórico autônomo que, longe de se fechar sobre
si mesmo, é um campo aberto, situado no cruzamento das histórias política, social e cultural”
(SIRINELLI apud RÉMOND, 2003, p. 232).
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A história dos intelectuais e a atualização da biografia tem relação direta com a
ressignificação e o adensamento semântico da história política, como argumenta Sirinelli: “aqui
também as causas do fenômeno são múltiplas, algumas delas, novamente, ligadas unicamente
à história dos intelectuais, outras relacionadas mais amplamente à evolução do status da história
política e da história recente” (SIRINELLI apud RÉMOND, 2003, p. 237). Acrescenta que, “a
esse renascimento gratificante da história do político, somou-se a nova respeitabilidade da
história recente, da história das últimas décadas” (SIRINELLI apud RÉMOND, 2003, p. 238).
Ao que Sirinelli chamou de “história recente” vou nomear de História do Tempo Presente, uma
vez que a proposta de construção da biografia de Wall Ferraz faz parte desta tendência
historiográfica.
Creio ainda que seja necessário apontar a categoria de análise intelectual como um
conceito polissêmico e de contornos fluidos. Enquanto ator político, individual ou coletivo,
ocupou um lugar central no século XX. “De acordo com Sirinelli (2003), uma necessária
definição que permita a constituição dos intelectuais como objeto de estudo da história deve
partir de um entendimento mais largo, pelo qual os intelectuais são definidos como produtores
de bens simbólicos de grande valor político (GOMES, 2002, p. 45).
A biografia de Wall Ferraz, por fim, será construída por meio de abordagens e recortes
vários: Pôr em evidência projetos e bens simbólicos, produtores/criadores e, em especial,
mediações e mediadores, entre os quais se destacam editores, professores e
divulgadores, por exemplo. A todos estes intelectuais e práticas foram e são atribuídos
graus, tipos de autoridade e legitimidade, conforme as diferentes instâncias de
reconhecimento em questão: público, organizações profissionais, “pares”,
associações, academias, mídias (GOMES, 2002, p. 45).
Apontei, em dado momento desta proposta, com quais fontes vou construir a biografia de
Wall Ferraz. As dificuldades com a documentação têm sido motivo de impossibilidade na
construção da biografia, muito especialmente por causa da aproximação desta com a narrativa.
Levi defende que a “biografia constitui, na verdade, o canal privilegiado, por meio do qual os
questionamentos e as técnicas peculiares da literatura se transmitem à historiografia” (LEVI
apud FERREIRA, 1996, p.168). Sei das dificuldades que terei de enfrentar, à procura das
fontes, por exemplo, “dos atos e dos pensamentos da vida cotidiana, das dúvidas e das
incertezas, do caráter fragmentário e dinâmico da identidade e dos momentos contraditórios de
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sua constituição” (LEVI apud FERREIRA, 1996, p. 169). Tenho consciência dos desafios, mas
estes devem ser tomadas como estímulo e não como impedimento para a execução do projeto.
Tenho a convicção de que o sujeito desta pesquisa não pode ser visto como detentor de um
modelo de racionalidade linear, de uma “personalidade coerente e estável”, que tomava todas
as suas decisões sem incertezas. Entretanto, devo lembrar o que registrou Pierre Bourdieu no
artigo “A ilusão biográfica” quando trata do relato de uma vida.
[...] o relato de vida, tanto em sua forma quanto em seu conteúdo, segundo a qualidade
social do mercado no qual é oferecido – a própria situação da investigação contribui
inevitavelmente para determinar o discurso coligido. Mas o objeto deste discurso, isto
é, a apresentação pública e, logo, a oficialização de uma representação privada de sua
própria vida, pública ou privada, implica um aumento de coações e de censuras
específicas (das quais as sanções jurídicas contra as usurpações de identidade ou o
porte ilegal de condecorações representam o limite) (BOURDIEU apud FERREIRA,
1996, p. 189).
Tenho consciência de que poderá haver dificuldades com os familiares e ex-auxiliares
quando forem sondados para que concedam entrevistas sobre o sujeito da pesquisa, mas o
historiador deve “andar” na pesquisa de acordo com as fontes que consegue “descobrir” e
construir. Por outro lado, sendo um pesquisador relativamente conhecido, inclusive pela
maioria daqueles que conviveram com Wall Ferraz, e de certa proximidade deste comigo, os
caminhos podem ser menos tortuosos e as pedras existentes não deverão ser pontiagudas a ponto
de ferir o pesquisador, impedindo-o de concretizar o projeto.
As alegações contrárias ao modelo em tela devem ser consideradas como alerta ao
pesquisador, uma vez que o contexto no qual atuou o biografado não é extático, não é coerente e
não será empregado apenas como cenário onde se desenvolveu a trama de uma vida, a de Wall
Ferraz. Não tenho ainda argumentos para registrar que a atuação do biografado não modificou
contexto, embora não possa duvidar que “as trajetórias individuais estão arraigadas em um contexto
[...]” (LEVI apud FERREIRA, 1996, p. 175-176). De outro modo, não tenho a pretensão de dar
conta de todos os “eus” de Wall Ferraz, até porque não sei de quantos “eus” ele se constitui.
A proposta é construir uma biografia. Os caminhos que devo seguir foram apontados,
mesmo que em alguns deles ainda não os tenha pisado; todavia sei que existem sinais, rastros,
pistas deixadas pelo biografado que devem ser seguidos ou não. Será o andar conduzido pelas
leituras e pelas vivências na escola de Clio que o orientarão.
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