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3 0 Número ANO VII BIBLIOTECA ESCOLAR RAINHA EM FOLHA ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. AMÉLIA SEGUNDO PERÍODO Ano letivo 2015-2016 EDIÇÃO Anabela Caldeira Filipa Barreto Francisco Agostinho TU TERESA ALMEIDA 12ºD SOFIA SEQUEIRA , 12ºC2 TERESA ALMEIDA 12ºD Mark Rothko página 1/2 FA Dentro de casa, paredes frias, janelas fechadas, vidros embaciados, gotas de chuva persistente. Junto à lareira, manta e chá quente, tempo protegido, o calor resistente das memórias, segredos, palavras e histórias do inverno. Apeteceu-me escrever um texto de amor. As palavras amorosas: Escudo-me da impotência e da desgraça em ti. Nem há guerra no teu peito, nem há, em teu rosto, injustiça. Os argumentos que tento implodem de vergonha ao som dos teus, esboços – desvaneço em nada. Nunca te ocorre vitória. (As premissas iniciais do amor). Os olhos são verdes porque são verdes e porque acreditam na bondade produtiva. És otimista crédulo, porém, és inteligente. Por isso me fazes bem. A tua esperança não é tontice de idiota nem refúgio de miserável. Bálsamo do meu pessimismo, também crédulo, contigo, quase creio na possibilidade. Depois deixo-te, vais, e cai o mundo. Só se fosses sempre a meu lado. No entanto, não és meu, antes da realidade. Duvido que a consigas socorrer. Ainda assim, os teus olhos só veem esperança. Tens um caleidoscópio e sorte de quantos sejam contigo, capazes de notar as bordas da tua mente abençoada. Sapiente, culto, interessado, sensível. Os teus olhos verdes. (Curas, constatações, obsessões, de amor e olhos brilhantes). Leva-me neles a viver o novo ano e o novo Inverno. Sobre a neve, sobre a cinza, sobre a desolação. São metáfora da esperança. O mundo que imagino salvo pela cultura. (A ilusão dos olhos verdes). Hoje dói-me conhecer-te. É ideia triste, esta que me ocorre sobre tudo – a de ser melhor desconhecer a luz porque sempre há de vir uma nuvem roubá-la. O pessimismo. Sou Reis, sim, mas só no que de mais triste e de mais solitário há em Reis. Não consigo o estoicismo que me recomendaste, dócil. Eis- me só redoma. O meu pessimismo. (Confissões introspetivamente tristes; conselhos desinteressados de quem é generoso e não ama). E, neste abismo que engole, teus olhos verdes brilhando no escuro. Um dia serei grata por ter sabido de ti. Um dia aceitarei a honra e não pedirei mais. Alegrar-me-ei nas, por ora parcas, recordações. Porém, hoje, desejo retroativamente a não concretização do nosso encontro casual e a não mazela de ingenuidade, resquício luminoso e estranho, constante em mim. Apeteceu-me escrever um texto de amor. (Certezas racionais de provir que nada sufocam quanto do presente é presente) Podia assinar com nome de guerra, todavia sou eu. Sócrates, Faulkner, Huckleberry, Scott, quimono, Garcia Márquez, Clitemnestra, Nikita, gorro. Sou eu e o desejo e a ideia de ti. Não tu. (Assinatura revivalista)

Rainha em Folha Nº 30 (Inverno)

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Folha com textos de alunos de diferentes anos da ESRDA organizada tematicamente.

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3 0Número

ANO VII

BIBLIOTECA ESCOLAR

RAINHA EM FOLHAESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. AMÉLIA

SEGUNDO PERÍODO

Ano letivo 2015-2016

EDIÇÃO Anabela Caldeira

Filipa BarretoFrancisco Agostinho

TU

TERESA ALMEIDA 12ºD

SOFIA SEQUEIRA , 12ºC2

TERESA ALMEIDA 12ºD

Mark Rothko

página 1/2

FA

Dentro de casa, paredes frias, janelas fechadas, vidrosembaciados, gotas de chuva persistente. Junto à lareira, mantae chá quente, tempo protegido, o calor resistente das memórias,segredos, palavras e histórias do inverno.

Apeteceu-me escrever um texto de amor.As palavras amorosas:

Escudo-me da impotência e da desgraça emti. Nem há guerra no teu peito, nem há, emteu rosto, injustiça. Os argumentos que tentoimplodem de vergonha ao som dos teus,esboços – desvaneço em nada. Nunca teocorre vitória. (As premissas iniciais doamor).

Os olhos são verdes porque são verdes eporque acreditam na bondade produtiva. Ésotimista crédulo, porém, és inteligente. Porisso me fazes bem. A tua esperança não étontice de idiota nem refúgio de miserável.Bálsamo do meu pessimismo, tambémcrédulo, contigo, quase creio napossibilidade. Depois deixo-te, vais, e cai omundo. Só se fosses sempre a meu lado. Noentanto, não és meu, antes da realidade.Duvido que a consigas socorrer. Ainda assim,os teus olhos só veem esperança. Tens umcaleidoscópio e sorte de quantos sejamcontigo, capazes de notar as bordas da tuamente abençoada. Sapiente, culto,interessado, sensível. Os teus olhos verdes.(Curas, constatações, obsessões, de amor eolhos brilhantes).

Leva-me neles a viver o novo ano e o novoInverno. Sobre a neve, sobre a cinza, sobrea desolação. São metáfora da esperança. Omundo que imagino salvo pela cultura. (Ailusão dos olhos verdes).

Hoje dói-me conhecer-te. É ideia triste, estaque me ocorre sobre tudo – a de ser melhordesconhecer a luz porque sempre há de viruma nuvem roubá-la. O pessimismo. SouReis, sim, mas só no que de mais triste e demais solitário há em Reis. Não consigo oestoicismo que me recomendaste, dócil. Eis-me só redoma. O meu pessimismo.(Confissões introspetivamente tristes;conselhos desinteressados de quem égeneroso e não ama).

E, neste abismo que engole, teus olhosverdes brilhando no escuro. Um dia sereigrata por ter sabido de ti. Um dia aceitareia honra e não pedirei mais. Alegrar-me-einas, por ora parcas, recordações. Porém,hoje, desejo retroativamente a nãoconcretização do nosso encontro casual e anão mazela de ingenuidade, resquícioluminoso e estranho, constante em mim.Apeteceu-me escrever um texto de amor.(Certezas racionais de provir que nadasufocam quanto do presente é presente)

Podia assinar com nome de guerra, todaviasou eu. Sócrates, Faulkner, Huckleberry,Scott , quimono, Garcia Márquez,Clitemnestra, Nikita, gorro. Sou eu e o desejoe a ideia de ti. Não tu. (Assinatura revivalista)

MADALENA QUINTELA , 12ºH1

página 2/2HENRIQUE CLAUDINO, 12º H1

CAMILA PERFEITO 12ºD

INVERNO

página 2/2

Talvez a lareira ainda se acenda para alguns.

Sei que tu gostavas de ter a lareira acesa

Víamos o sol de noite, as estrelas demadrugada

A paixão ardia!

Infindável ternura. Estúpida Loucura.

Seremos assim tão ingénuos?

Puros?

Pelo menos o cobertor envolve-me o corpo

O cheiro a café avoluma-me os sentidos

Para poder não te sentir novamente

Para poder magoar-me mais vezes nestearame farpado

Chamas a isto saudade?

Mas isto não é amor!

Não… Isto é dezembro

E isto é mentira!

Cala-te!

Sou eu.

Não serei talvez

Mas hoje rezo a novos

Deuses.

DE REPENTE

Acordo uma manhã, tenho frio, puxo ocobertor, não me quero levantar, não queroir para a escola, chegou o inverno.

Aquela luz que espreitava sempre pela janelaàs 7 da manhã desaparece, troco as t-shirtspelas camisolas, as tardes nas esplanadaspelo calor da lareira, o ice-tea pelo chocolatequente.

Abro os olhos, nem senti o outono passarpor mim, realizo que o verão já lá vai longe,e agora? Olá, Inverno, já de volta? Como éque passou tão depressa!? Pergunto-me oque terás guardado para mim este ano...

MARIA TAVARES , 12ºH1

Fogo. A única palavra que me ocorre, quandopenso no inverno.

Reconfortante e solidário fogo. Presença doquente coração. Connosco. Ambientefamiliar, o riso, o choro, o frio à luz do fogo.À lareira, o quentinho, as chamas, aslabaredas, a alma, o inverno requer fogo.

Fogo. Família, amigos, amor. Fogo, inverno,acredito em abraços, reconforto.

Um ciclo vicioso. Um desejo.

MADALENA CUNHA , 10ºH1

QUANDO PENSO O INVERNO

Inverno, pinheiros cobertos de neve, umalareira luminosa, um chocolate quente e umavontade irreprimível de ficar fechada emcasa. Um velho de cabelo e barba abundantescor da neve dos pinheiros, a sua expressãoquente como a lareira e o chocolate. Ele estásozinho, ao frio no bosque despido. Magro,pálido na sua túnica azul mar, parececongelar. Nunca perde a sua expressão,dirige-se a mim, só a mim. É urgente sair decasa, ir lá buscá-lo. Aquele é o meu inverno.

O VELHO INVERNO

Daniel Curval

Piet Mondrian