Rascunho diagnóstico - reflexão teórica.pdf

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  • FUNDAO GETLIO VARGAS (FGV)

    CLARA EPERLEIN

    DANIELA KRAUSZ

    MARIA BEATRIZ GALVO

    RENAN SIMES

    RENATA LEAL

    O COMRCIO AMBULANTE DE ALIMENTO EM SO PAULO:

    Anlise terica, identificao de problemas e propostas de soluo

    So Paulo

    2015

  • SUMRIO

    1. Introduo

    2. Metodologia

    3. Reflexo terica

    3.1

    A importncia de se discutir o assunto

    3.1.1. Impactos na gerao de renda e incremento do PIB

    3.1.2. Impactos no nvel de emprego

    Experincias internacionais

    3.1.3. Caso A

    3.1.4. Caso B

    A racionalizao de processos

    3.1.5. Importncia para a melhoria dos servios pblicos

    3.1.5.1. O exemplo do PoupaTempo

    3.1.6. Possveis medidas para aprimorar o processo de formalizao dos

    ambulantes, em So Paulo

    4. Cenrio atual

    A caracterizao do comrcio ambulante de alimento da cidade de So Paulo (2009)

    Caminhos atuais para a formalizao

    4.1.1. Atribuies governamentais: MEI (microempreendedor individual);

    TPU (Termo de Permisso de Uso)

    4.1.2. SEBRAE: adequao de normas tcnicas

    4.1.3. Sequncia de procedimentos

    Metas da gesto Fernando Haddad (PT; 2013-16) relacionadas ao tema

    5. Pesquisa de campo

    Os relatos sobre as dificuldades:

    5.1.1. Do trabalho informal

    5.1.2. Para formalizao

    6. Concluso

    7. Referncias Bibliogrficas e Webgrafia

  • PERGUNTA DE PESQUISA:

    Como possvel formular uma alternativa de regulamentao do comrcio informal

    de alimentos na subprefeitura da S que contemple as questes relativas sade pblica,

    formalizao e gerao de renda para os ambulantes, bem como contribua para o

    desenvolvimento econmico do municpio?

    3. Reflexo terica

    3.1 A importncia de se discutir o assunto

    O processo de urbanizao impulsionou um fluxo migratrio da populao rural em

    direo ao meio urbano, que, incentivada pelo desenvolvimento econmico, principalmente

    nas metrpoles, busca oportunidades de trabalho. Esse fluxo gerou nas ltimas dcadas o

    surgimento do setor informal, principalmente nos pases de industrializao tardia, na medida

    em que essa populao, em sua maioria sem qualificao profissional, encontra nesse setor a

    nica forma de acesso ao mercado de trabalho.

    Para entender a complexidade desse setor necessrio defin-lo. Por mais que haja

    controvrsia na acadmia a respeito de sua definio, o presente trabalho aborda-o como o

    conjunto de atividades produtivas que esto margem da lei, desse modo, trata-se da

    economia no registrada ou declarada que se encontra na ilegalidade. Como o foco do

    trabalho est no setor informal de alimentos, abrange, portanto, as atividades da cadeia

    alimentcia que variam entre produo de alimentos, o processamento, o fornecimento e o

    transporte de refeies e venda de produtos alimentcios.

    O setor da economia informal de alimentos contribui para a segurana alimentar da

    populao, na medida em que fornece alimentos a preos acessveis, gerando emprego e

    renda, alm de subsidiar o setor formal da economia por disponibilizar alimentos baratos aos

    trabalhadores com baixos salrios e por agir como uma reserva de mo-de-obra excedente.

    Cria, assim, o que Santos (1997) caraterizava como a articulao dos dois setores da

    economia, gerando inter-dependncia1.

    Conforme o relatrio da FAO - Organizao das Naes Unidas para Alimentao e a

    Agricultura - a respeito das promessas e desafios do setor informal de alimentos em pases

    1 Santos, M. 1977. Spatial dialectics: the two circuits of urban economy in underdeveloped

    countries. Antipode 9 (3), 49- 60.

  • em desenvolvimento (2011)2, a poltica de combate a esse setor em diversos pases tem sido

    equivocada, pois "a comida de rua e importante para os pobres por razoes nutricionais,

    economicas e socio-culturais.(...) Na maioria das cidades grandes, ela e uma importante fonte

    de nutrientes e de renda para uma grande porcentagem da populacao"3.

    Todavia, existe um problema de higiene e segurana desses alimentos para o

    consumidor, que, por conta das condies de venda e a qualidade nutricional, podem ser

    prejudiciais a sade. Outro questo diz respeito segurana do prprio vendedor que se

    encontra em uma situao ilegal. Assim, a FAO sugere a regularizao do setor de forma a

    incentiv-lo.

    4. Cenrio Atual em So Paulo acerca do comrcio informal de alimentos

    4.1. J existem meios para formalizar o comrcio informal em SP?

    Percebe-se que essa uma questo que, de certa forma, j est sob o radar da

    prefeitura e de outras instituies. de modo que existem algumas iniciativas que

    objetivam a regularizao do grande contingente de comrcio informal. O prefeito

    Fernando Haddad, inclusive, props algumas medidas durante as eleies que

    visavam a facilitao dos processos burocrticos e maior abertura para a legalizao

    dos comerciantes ambulantes.

    Alm disso, constata-se a existncia de processos a serem realizados por trabalhadores

    informais - incluindo os do ramo alimentcio, aqui estudados - no sentido de promover

    sua efetiva regularizao. Percebe-se, no entanto, que tais processos so de difcil

    acesso e entendimento, assim como de difcil efetivao. Dentre os identificados,

    possvel citar atribuies e processos de responsabilidade da prefeitura - como a

    formalizao que se d a partir do momento que o indivduo se transforma em um

    Micro Empreendedor Individual (MEI) ou forma uma Micro Empresa (ME), assim

    como a aquisio do Termo de Permisso de Uso (TPU) - e processos referentes ao

    Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que, junto a

    ABNT, auxiliam no processo de normalizao do trabalhador j classificado como

    Microempreendedor.

    2 Promessas e desafios do setor informal de alimentos em pases em desenvolvimento .2011.

    34 pginas. Uma pinlicao da Diviso de Infraestrutura rural e Agroindstria do

    Departamento de proteo ao consumidor da FAO 3 FAO. 1996. Estrategias para el mejoramiento de la calidad de los alimentos callejeros en

    America Latina y el Caribe. Alimentos de Ventas Callejeras. Roma. (Disponvel em www.fao.org/ documents/show_cdr.asp?url_file=/DOCREP/W3699T/ w3699t00.htm).

  • 4.1.2 Caminhos para a formalizao - Governo: MEI e TPU.

    O caminho j existente para a formalizao de comrcios de comida de rua na cidade

    de So Paulo segue as seguintes etapas:

    1. Formalizao da atividade como MEI (Micro empreendedor individual), Micro

    Empresa, Empresa de Pequeno Porte, entre outros. No caso do comrcio alimentcio

    de rua, a configurao mais comum a formalizao como MEI (micro empreendedor

    individual), que deve atender a pr requisitos como um faturamento de no mximo

    R$60.000,00 por ano e no possuir sociedade ou participao em nenhuma outra

    empresa. O processo de cadastramento para obter a licena de microempreendedor

    individual de fcil realizao e pode ser feito por meio do site Portal do

    Empreendedor (http://www.portaldoempreendedor.gov.br/).

    2. Aps a aprovao do cadastro em uma das categorias citadas no item acima, para o

    comrcio de rua ser legalmente ativado, necessrio a obteno de um TPU (Termo

    de permisso de uso) na praa de atendimento da subprefeitura em que a atividade

    ocorrer. Deve-se ressaltar que sem o TPU o MEI descumpre as normas municipais e,

    consequentemente, ser impedido de exercer atividades nas vias pblicas, podendo ter

    seu registro como MEI cancelado ou cassado. A concesso de TPUs feita pelas

    subprefeituras e demanda uma solicitao formal do comerciante sem a certeza de que

    obter tal licena.

    3. Depois da solicitao de TPU feita, a subprefeitura analisar o pedido levando em

    conta a existencia de espaco fsico adequado; equipamento adequado quanto as

    normas sanitarias e de seguranca do alimento; a qualidade tecnica da proposta (o

    equipamento tem que ser adequado para o que vai ser servido); equipamento

    adequado ao local pretendido, levando em consideracao as normas de transito, o fluxo

    seguro de pedestres e automoveis, as regras de uso e ocupacao do solo; o numero de

    permissoes (TPU) ja expedidas para o local e perodo pretendidos; os eventuais

    incomodos gerados pela atividade pretendida; a qualidade do servico prestado, no

    caso de quem pleiteia novo Termo de Permissao de Uso para o mesmo ponto.

    4. Se o TPU for aceito pela subprefeitura, o comerciante ter um prazo de 90 dias para a

    instalao no local, alm da realizao de uma inspeo no equipamento junto

    COVISA e comprovao da regularidade nas alteraes do veculo (se o comrcio

    acontecer em veculo adaptado).

  • 4.2. SEBRAE

    Dentre os processos que visam a regulamentarizao de trabalhadores informais, a

    atuacao do SEBRAE busca auxiliar a chamada normalizacao - que, no entanto, s

    dirigida aos que j se tornaram MEI ou ME. Segundo o site da entidade, a normalizao e o

    processo de adequar o empreendimento s normas tcnicas exigidas para o servio ou

    produto que a empresa comercializa ou confecciona.. O caminho para tal se inicia a partir

    do conhecimento das normas estabelecidas pela Associao Brasileira de Normas e Tcnicas

    (ABNT). No caso delineado, que diz respeito ao ramo alimentcio, deve-se verificar a norma

    ABNT NBR 15635:2015, que apresenta Requisitos de boas praticas higinico-sanitrias e

    controles operacionais essenciais para servicos de alimentacao. O acesso a essas normas, no

    entanto, exige um pagamento que, devido a parceria da ABNT com o SEBRAE, se reduz a

    um tero do original para os pequenos negcios (com lucro anual inferior a R$3.600.00,00).

    Aps o entendimento das normas tcnicas, inicia-se um processo de adequao dos

    servios a elas, que pode ser inclusive orientado por um agente do SEBRAE. Posteriormente,

    h auditao para avaliao de procedimentos e produtos por parte de algum organismo de

    certificao como, por exemplo, o Inmetro, para ento obter-se a certificao de adequao s

    normas e, consequentemente, ser considerado um empreendimento normalizado.

  • 5. Cenrio atual

    5.1. A caracterizao do comrcio ambulante de alimento da cidade de So Paulo

    (2009)

    De acordo com pesquisa de PAMPLONA4, havia, em So Paulo, no ano de 2009,

    1,7% da populao ocupada trabalhando no comrcio de rua, o que representava, em valores

    totais, aproximadamente 100 mil pessoas. A despeito das diversas crticas formuladas a esse

    tipo de trabalho, ha de se reconhecer a sua funcao absorvedora de choques no mercado de

    trabalho formal. Isto , em perodos de maior dificuldade no acesso ao mercado de trabalho

    formal, esse segmento facilita a obteno de renda por parte de indivduos que tenderiam ao

    desemprego. Alem disso, o autor destaca a importancia dessa atividade na cadeia de

    distribuio e comercializao de produtos para a populao de baixa renda das cidades, ao

    oferecer mercadorias a preos mais baixos e de fcil acesso. (2013:226).

    O grafico abaixo, produzido por PAMPLONA (2013:236) permite afirmar que, ao

    final da primeira dcada do novo milnio, o que se verificou nas ruas da cidade de So Paulo

    foi a diminuio do comrcio de rua. [...] O que se tem de fato uma tendncia de aumento

    do comrcio de rua em So Paulo na primeira metade da dcada (2000 a 2004), seguida de

    uma inverso na segunda metade (2005 a 2009). Depois de 2004, o comrcio de rua em So

    Paulo apresentou clara contrao, o que significou aproximadamente 33 mil comerciantes de

    rua a menos trabalhando na cidade. interessante ainda notar, no Grfico 2, como a trajetria

    do comrcio de rua assemelha-se do desemprego na cidade, durante a dcada de 2000.

    Ambos descrevem trajetrias lineares decrescentes, especialmente aps 2004. A melhora

    expressiva do mercado de trabalho metropolitano depois desse ano o fator a ser destacado

    como responsavel pela reducao do comercio de rua na cidade de Sao Paulo.

    4 PAMPLONA, Joo Batista. Mercado de trabalho, informalidade e comrcio ambulante em So

    Paulo, 2013. Disponvel em: http://www.rebep.org.br/index.php/revista/article/view/23/pdf_19.

  • Fonte: PAMPLONA (2013:236).