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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS MIGUEL BALLOUSSIER RATTON PROPOSTA DE UM PROCESSO COLABORATIVO NA PLATAFORMA MOODLE PARA A APRENDIZAGEM DE TÉCNICAS DE SÍNTESE SONORA CURITIBA 2017

RATTON, Miguel B - Proposta de um Processo … · O conceito de aprender ... Pads”.....105 QUADRO 9 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa / Filtro

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

MIGUEL BALLOUSSIER RATTON

PROPOSTA DE UM PROCESSO COLABORATIVO

NA PLATAFORMA MOODLE PARA A APRENDIZAGEM DE TÉCNICAS DE

SÍNTESE SONORA

CURITIBA

2017

MIGUEL BALLOUSSIER RATTON

PROPOSTA DE UM PROCESSO COLABORATIVO

NA PLATAFORMA MOODLE PARA A APRENDIZAGEM DE TÉCNICAS DE

SÍNTESE SONORA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação –Mestrado Profissional em Educação e NovasTecnologias – do Centro Universitário InternacionalUNINTER, como requisito parcial para obtençãodo Título de “Mestre Profissional” em Educação eNovas Tecnologias.

Orientador: Prof. Dr. Mário Sérgio CunhaAlencastro

CURITIBA

2017

AGRADECIMENTOS

Aos meus filhos, Sérgio e Pedro, que são a maior motivação para que eu

procure fazer o melhor possível em tudo.

À Mariangela, que sempre me incentivou e me apoiou em todas as minhas

empreitadas durante todos esses anos.

A meus pais, Hostilio (in memorian) e Therezinha, por todo o esforço que

fizeram pela educação dos seus filhos.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Mário Alencastro, por dar um rumo às minhas

ideias e colaborar com valiosas sugestões.

Aos colegas e professores do curso de Mestrado Profissional em Educação e

Novas Tecnologias da Uninter, pelo convívio agradável e pela oportunidade de

compartilhar ideias e conhecimentos.

Ao amigo Christian Bretas, por ceder os recursos do servidor do Moodle da

Yellow para a realização desta pesquisa.

Enfim, a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para a

realização desta jornada.

RESUMO

Com o uso cada vez mais intenso e abrangente das tecnologias de informação ecomunicação, sobretudo com a interligação de computadores e dispositivosmóveis em redes de alta velocidade, tem sido crescente a busca por soluçõesbaseadas nessas tecnologias modernas para promover o aprimoramento dosprocessos e a renovação de métodos na área da educação, tanto no ensino adistância, como nas atividades de ensino presencial. Nesse sentido, o presentetrabalho propõe um método de aprendizagem cujo principal ponto de apoio é ateoria das comunidades de prática, desenvolvida por Etienne Wenger. Dentrodesse conceito, por meio de um processo colaborativo, os participantes de umacomunidade virtual podem compartilhar e produzir conhecimentos sobreconceitos e técnicas de síntese sonora, uma área de atuação profissional quevem crescendo tanto na produção de música eletrônica como nas atividades deapoio para vídeo, cinema e publicidade, mas que no Brasil ainda carece deopções para a sua aprendizagem. Para implementar tal processo dentro daperspectiva de uma comunidade de prática, foi criado o Grupo de Estudos deSíntese Sonora, um ambiente virtual de aprendizagem usando a plataformaMoodle, onde são promovidas diferentes atividades colaborativas entre osmembros do grupo. O processo foi idealizado para ampliar o alcance e aintensidade de aprendizagem nesse segmento técnico/artístico profissional, de talmaneira que todos os participantes possam colaborar apresentando suasdiferentes experiências pessoais, discutindo técnicas, propondo soluções,testando procedimentos e, dessa forma, produzir um conhecimento compartilhadoe acumulativo, que esteja acessível a todos. Diferentemente dos métodostradicionais, centrados na transmissão unidirecional de conhecimentos através deuma rota de estudo predeterminada, nesse processo de aprendizagem não existeefetivamente um currículo ou roteiro prévio a ser seguido, e a aprendizagem sedesenvolve por meio da interação dos seus participantes. O conceito de aprenderatravés da colaboração, que fundamenta o presente trabalho, se apoia naperspectiva sociocultural, na qual o individual interage com o meio social,conforme os princípios da teoria proposta por Vygotsky, que preconiza aimportância da participação nas práticas sociais para a criação de conhecimento.A metodologia desta pesquisa adota a coleta de dados por meio de questionáriosaplicados aos participantes da comunidade e também através da observação dodo processo e da análise de conteúdo dos fóruns, usando o método proposto porGarrison e seus colaboradores, baseado em indicadores que avaliam odesenvolvimento sociocognitivo em mensagens de comunicação assíncrona.

Palavras-chave: Aprendizagem Colaborativa; Comunidade de Prática; Moodle;Síntese Sonora.

ABSTRACT

With the increasing use of information and communication technologies,especially with the interconnection of computers and mobile devices in high-speednetworks, the search for solutions based on these modern technologies isincreasing to promote the improvement of the processes and the renewal ofmethods in the area of education, both in distance learning and in-class teachingactivities. In this way, the present work proposes a method of learning whose mainpoint of support is the theory of communities of practice, developed by EtienneWenger. Following this concept, through a collaborative process the participantsof a virtual community can share and produce knowledge on concepts andtechniques of sound synthesis, an area of professional performance that isgrowing both in the production of electronic music and in support activities forvideo, cinema and advertising, although in Brazil there are few options forlearning. To implement such a process in a perspective of a community ofpractice, it was created the Grupo de Estudos de Síntese Sonora, a virtuallearning environment using the Moodle platform, where different collaborativeactivities are promoted among its members. The process was designed in such away to increase the scope and the intensity of learning in this technical/artisticprofessional segment, so all participants can collaborate by presenting theirdifferent personal experiences, discussing techniques, proposing solutions, testingprocedures and, thus, building a shared and cumulative knowledge that isavailable to all. Unlike traditional methods, which are centered on theunidirectional transmission of knowledge through a predetermined study route, inthis learning process there is effectively no previous curriculum or script to follow,and learning is developed through the interaction of the participants. The conceptof collaborative learning, which underlies the present work, is based on thesociocultural perspective, in which the individual interacts with the socialenvironment, according to the principles of the theory proposed by Vygotsky,which advocates the importance of the social practices on the creation ofknowledge. The research methodology adopts data collection by questionnairesapplied to the community participants and also through the observation of theprocess and the content analysis of the discussion forums, using the methodproposed by Garrison and collaborators, based on indicators that evaluate thesociocognitive development in assynchronous communication messages.

Keywords: Collaborative Learning; Community of Practice; Moodle; SoundSynthesis.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Exemplo de painel de sintetizador analógico (sintetizador Minimoog)....17FIGURA 2 – Exemplo de painel de sintetizador digital (sintetizador Korg M1)..........17FIGURA 3 – Exemplo de painel de sintetizador virtual (sintetizador Steinberg Halion). 18FIGURA 4 – Zona de Desenvolvimento Proximal.......................................................35FIGURA 5 – As três dimensões das comunidades de prática....................................45FIGURA 6 – E-learning x CoP.....................................................................................50FIGURA 7 – Evolução de uma comunidade de prática..............................................52FIGURA 8 – Página inicial dos cursos a distância da Yellow DJ................................66FIGURA 9 – Tela de entrada dos fóruns de discussão...............................................68FIGURA 10 – Exemplo de conteúdo dos livros virtuais disponíveis na Sala de

Estudos...................................................................................................................70FIGURA 11 – Simulador de sintetizador analógico modular disponível no Laboratório

.................................................................................................................................71FIGURA 12 – Atividade colaborativa: Glossário..........................................................72FIGURA 13 – Exemplo de um dos itens de acervo do Museu...................................74FIGURA 14 – Questionário 1 – Questão 1.1...............................................................92FIGURA 15 – Questionário 1 – Questão 1.2...............................................................92FIGURA 16 – Questionário 1 – Questão 1.3...............................................................93FIGURA 17 – Questionário 1 – Questão 2.1...............................................................93FIGURA 18 – Questionário 1 – Questão 2.2...............................................................93FIGURA 19 – Questionário 1 – Questão 2.3...............................................................94FIGURA 20 – Questionário 1 – Questão 2.4...............................................................94FIGURA 21 – Questionário 2 – Questão 1..................................................................96FIGURA 22 – Questionário 2 – Questão 2..................................................................96FIGURA 23 – Questionário 2 – Questão 3..................................................................97FIGURA 24 – Questionário 2 – Questão 4..................................................................97FIGURA 25 – Questionário 2 – Questão 5..................................................................98FIGURA 26 – Questionário 2 – Questão 6..................................................................99FIGURA 27 – Questionário 2 – Questão 7..................................................................99FIGURA 28 – Questionário 2 – Questão 8................................................................100FIGURA 29 – Questionário 2 – Questão 9................................................................101FIGURA 30 – Questionário 2 – Questão 10..............................................................101FIGURA 31 – Inscrições no grupo.............................................................................111FIGURA 32 – Visualização dos fóruns......................................................................112FIGURA 33 – Postagens nos fóruns.........................................................................112FIGURA 34 – Visualização do livro...........................................................................113FIGURA 35 – Visualização dos simuladores.............................................................113

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Escalas de Likert utilizada nas perguntas fechadas do questionário. .83QUADRO 2 – Seções do questionário 1.....................................................................84QUADRO 3 – Seções do questionário 2.....................................................................86QUADRO 4 – Categorias para avaliação da presença cognitiva...............................89QUADRO 5 – Resumo da avaliação das respostas ao questionário 1......................95QUADRO 6 – Resumo da avaliação das respostas ao questionário 2....................104QUADRO 7 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa /

Informações Básicas”............................................................................................105QUADRO 8 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa /

Pads”.....................................................................................................................105QUADRO 9 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa /

Filtro”.....................................................................................................................106QUADRO 10 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Desenvolvimento de

Sintetizadores / Sintetizador híbrido - feito aqui”..................................................107QUADRO 11 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “MIDI Avançado”. . .108QUADRO 12 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Estética Sonora –

Nomes de Timbres”...............................................................................................109

LISTA DE SIGLAS

BBS Bulletin Board SystemCoP Community of PracticeDJ Disk JockeyEDM Electronic Dance Music GESSo Grupo de Estudos de Síntese SonoraGNU General Public LicenseMoodle Modular Object-Oriented Dynamic Learning EnvironmentTIC Tecnologias de Informação e Comunicação ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................11.1 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO................................................................................51.2 OBJETIVOS DO ESTUDO......................................................................................71.3 AMPLITUDE DA PESQUISA...................................................................................82 O CONTEXTO INVESTIGADO..................................................................................92.1 MÚSICA E TECNOLOGIA.......................................................................................92.2 O QUE É SÍNTESE SONORA..............................................................................132.3 APLICAÇÕES E MERCADO DE TRABALHO......................................................192.4 COMO SE PODE APRENDER SÍNTESE SONORA............................................213 REFERENCIAIS TEÓRICOS...................................................................................243.1 NOVOS TEMPOS, NOVAS TECNOLOGIAS, NOVOS MÉTODOS.....................273.2 O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL NO AMBIENTE SOCIAL.........................323.3 COLABORANDO PARA APRENDER...................................................................373.4 COMUNIDADES DE PRÁTICA.............................................................................444 METODOLOGIA......................................................................................................544.1 O AMBIENTE DA PESQUISA...............................................................................54

4.1.1 Formatos e meios para disponibilizar conteúdo............................................574.1.2 Requisitos para a criação da comunidade de prática....................................604.1.3 Implementação da comunidade de prática....................................................65

4.2 ETAPAS DA PESQUISA........................................................................................754.2.1 Etapa 1 – Preparação....................................................................................754.2.2 Etapa 2 – Implantação...................................................................................774.2.3 Etapa 2 – Operação e avaliação....................................................................78

4.3 ASPECTOS METODOLÓGICOS..........................................................................804.4 AMOSTRAGEM.....................................................................................................824.5 COLETA DE DADOS.............................................................................................83

4.5.1 Questionários.................................................................................................834.5.2 Participação nos fóruns..................................................................................864.5.3 Relatórios de atividades.................................................................................90

5 ANÁLISE DOS DADOS...........................................................................................915.1 RESPOSTAS AOS QUESTIONÁRIOS.................................................................91

5.1.1 Respostas ao questionário 1.........................................................................915.1.2 Respostas ao questionário 2.........................................................................95

5.2 MENSAGENS NOS FÓRUNS............................................................................1045.3 RELATÓRIOS DO MOODLE...............................................................................1105.4 INFORMAÇÕES ADICIONAIS............................................................................1146 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................1166.1 OBJETIVOS E RESULTADOS............................................................................1166.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO................1206.3 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS SOBRE O TEMA......................1227 REFERÊNCIAS......................................................................................................124APÊNDICE 1 – CURSOS COM DISCIPLINAS SOBRE SÍNTESE SONORA........133APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIOS...........................................................................134APÊNDICE 3 – PLANILHA COM OS DADOS DOS RELATÓRIOS DO MOODLE 139

1

1 INTRODUÇÃO

O som é a matéria-prima da música. Entender suas características, saber

como produzi-lo e como controlá-lo são condições fundamentais para que se possa

fazer música. Nesse sentido, um bom pianista precisa conhecer muito bem as

particularidades do seu instrumento, a maneira como ele reage à força dos dedos, à

aplicação dos pedais e à forma de tocar notas em sequência. Enfim, é preciso saber

os detalhes do comportamento daquela máquina e aprender as técnicas necessárias

para dominá-la a fim de poder obter os resultados desejados.

Os mesmos princípios valem para os sintetizadores, uma categoria de

instrumentos musicais não acústicos, que podem ser implementados na forma de

equipamentos eletrônicos ou em software. No sintetizador, o timbre não é

estabelecido por particularidades construtivas e nem o som é gerado pela vibração

de um determinado elemento. Em vez disso, o som é produzido a partir de um sinal

eletrônico, e é o próprio músico quem constrói as características sonoras do

instrumento, efetuando ajustes em uma variedade de parâmetros, por meio de

botões, chaves e outros controles. Dessa forma, conhecer os detalhes do complexo

processo de geração, modificação e manipulação do sinal sonoro, que ocorre dentro

dos circuitos ou nos algoritmos de simulação digital do sintetizador, é uma condição

fundamental para quem deseja obter sonoridades diferentes e produzir composições

musicais com expressividade e personalidade.

Para proporcionar uma maior clareza em relação a questões conceituais da

síntese sonora, o Capítulo 2 oferece uma visão mais ampla sobre os sintetizadores,

incluindo um resumo do desenvolvimento histórico dos instrumentos musicais

eletrônicos. No mesmo capítulo também são apresentados aspectos referentes às

atividades profissionais em que são utilizados os sintetizadores, referências sobre o

mercado de trabalho e algumas perspectivas para a utilização desses recursos

tecnológicos na produção de música.

A complexidade intrínseca do processo de síntese sonora pode ser uma

barreira para aqueles que desejam criar novas sonoridades, o que acaba impondo

limites ao processo criativo. Compreender efetivamente o funcionamento de um

sintetizador e aprender a usá-lo em todo o seu potencial não é uma tarefa elementar.

Os manuais de operação que acompanham os instrumentos geralmente contêm

2

descrições resumidas, basicamente indicando os controles associados a cada

função, o que é insuficiente para a maioria dos músicos. É possível encontrar na

internet alguns tutoriais em vídeo, no entanto a maioria proporciona apenas um

entendimento parcial, deixando uma visão relativamente fragmentada sobre o

assunto.

No Brasil, é rara a oferta de cursos ou outras modalidades de treinamento

especializado sobre síntese sonora. Alguns cursos de graduação em faculdades de

Música abordam o tema, mas quase sempre como parte de alguma disciplina, e não

como uma matéria específica no currículo. Alguns cursos livres sobre música

eletrônica incluem a síntese sonora, mas em geral apenas focando nos recursos de

determinado software para produção musical. Além disso, essas poucas opções de

aprendizagem praticamente se concentram nos grandes centros e são oferecidas na

forma presencial, o que impede muitas pessoas de terem acesso a esse tipo de

conhecimento.

Com formação em engenharia eletrônica e fortes vínculos com a área

musical, há vários anos desenvolvo trabalhos associados à aplicação de tecnologias

modernas na música, incluindo atividades de projetos de circuitos para sintetizadores

e treinamento sobre como utilizar esses instrumentos. Dessa forma, tenho a

oportunidade de acompanhar de perto as dificuldades que muitos músicos têm para

entender os processos de síntese sonora para que possam obter o máximo de seus

equipamentos. Em face disso, procuro experimentar formas diferentes de atender a

essa demanda.

Dentre as minhas experiências nesse sentido destaco o período em que

mantive um BBS1 especializado em tecnologia musical, no início da década de 1990,

antes da internet chegar ao Brasil. No BBS havia bastante informação em formato de

texto sobre configuração e operação de sintetizadores, conteúdo do tipo “perguntas e

respostas”, e ainda fóruns de discussão, não só sobre instrumentos musicais

eletrônicos, mas também sobre equipamentos de áudio e outros assuntos afins.

Apesar das limitações das tecnologias de computação e comunicação da época, a

iniciativa foi bem sucedida, proporcionando uma significativa troca de informações

1 BBS (Bulletin Board System) é um servidor (computador) que pode ser acessado por conexãodigital através da linha telefônica, utilizando um modem, com uma taxa de transferência de dadosbem inferior à banda larga disponível atualmente na internet. Um BBS pode conter arquivos detexto, de áudio (com baixa qualidade) e imagens, e também pode oferecer recursos de chat efóruns de discussão.

3

entre os assinantes daquele serviço, situados em diferentes localidades do país. Com

a chegada da internet, oferecendo maior abrangência e alcance, e com uma

velocidade de transferência bem mais alta, os serviços de BBS foram sendo

gradualmente desativados.

Mais recentemente, com a expansão das redes sociais na internet, passei

a usar o Facebook para hospedar grupos fechados de alguns cursos que leciono.

Na Yellow DJ, uma escola de Curitiba especializada em música eletrônica, temos

um grupo específico que reúne mais de uma centena de alunos das turmas de

Produção de Música Eletrônica. Esse grupo, embora funcionando de maneira

informal, é muito utilizado para compartilhamento de informações e novidades

sobre sintetizadores, equipamentos e software, e mantém um fluxo relativamente

intenso de compartilhamento de experiências e ideias musicais. Já no curso de

pós-graduação em Tecnologias Sonoro-Musicais da Escola de Comunicação e

Artes da PUC-PR, também em Curitiba, temos um grupo que atua como plataforma

de apoio, pelo qual são passadas informações complementares e algumas

atividades para os alunos. Também serve de canal para a troca de opiniões e

informações. É relevante observar que, como não fazem parte da infraestrutura

oficial dos cursos, o funcionamento desses grupos não se baseia em um método

pedagógico específico, mas ainda assim é possível perceber que produzem efeitos

positivos no processo de aprendizagem dos alunos.

Embora essa forma de uso do Facebook não tenha sido avaliada dentro de

uma metodologia de pesquisa, a percepção é de que o grupo on-line ajuda no

desempenho das aulas presenciais, pois é utilizado tanto para apresentar os

assuntos antes das aulas, quanto para disponibilizar material complementar após as

aulas. Além disso, o grupo on-line também parece estabelecer um maior vínculo da

turma, ampliando o convívio além dos encontros presenciais. A partir dessas

experiências, ainda que não avaliadas segundo preceitos metodológicos, é possível

observar evidências de que, se aprimorado, o mesmo conceito de grupo virtual pode

ser aproveitado com sucesso em um processo de aprendizagem a distância.

Essas experiências com o BBS e o Facebook, embora ocorridas em

momentos diferentes e baseadas em tecnologias razoavelmente distintas, contêm,

de certa maneira, algumas similaridades. Ambas oferecem um ponto de encontro

virtual onde pessoas com iguais interesses em determinados assuntos podem

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buscar informações úteis, discutir opiniões e apresentar experiências, mesmo

estando fisicamente distantes.

Minha intenção de desenvolver um método que possa promover a

aquisição de conhecimentos sobre o funcionamento e a operação dos

sintetizadores, usando para isso recursos on-line, foi amadurecendo durante as

aulas do curso de Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias. A

partir do estudo de conceitos pedagógicos e de pesquisas acadêmicas

semelhantes, foi possível assentar as ideias em uma base consistente e coerente

com meu objetivo inicial de implementar um processo de aprendizagem

participativa.

O presente trabalho, portanto, trata do aprendizado das técnicas de produção,

modificação e processamento do som nos sintetizadores modernos e propõe um

método de aprendizagem baseado na colaboração entre as pessoas. O principal

ponto de apoio para a conceituação pedagógica desse método é a teoria das

comunidades de prática (CoP), desenvolvida por Etienne Wenger. Dentro dessa

proposta, os estudantes compõem uma comunidade virtual onde, através de um

processo colaborativo, adquirem e compartilham seus conhecimentos sobre os

conceitos e as técnicas de síntese sonora.

A fim de sistematizar um processo de aprendizagem baseado na

colaboração entre as pessoas, Wenger (1998, p. 5) identificou elementos e

características fundamentais para caracterizar a participação social como um

processo de aprendizagem, dando origem ao conceito de “comunidade de prática”.

Apesar dessa conceituação ser relativamente recente, as comunidades de prática

existem há muitos séculos, nas ações conjuntas produzidas por grupos e

corporações, formais e informais. Conforme definido por Wenger (2010, p. 1), esse

conceito faz parte de uma abordagem mais ampla sobre a dimensão social da

aprendizagem, dentro de uma perspectiva em que ela não está dentro da mente e

nem fora dela, mas na relação entre a pessoa e o mundo, de maneira que o social

e o individual se constituem um ao outro. As bases teóricas que serviram de

referência para a elaboração do método de aprendizagem focado nesta pesquisa

são apresentadas no Capítulo 3.

A adoção do conceito de comunidade de prática no processo de

aprendizagem tratado na presente pesquisa levou em consideração três

5

características principais do modelo proposto por Wenger (2015, p. 2). A primeira é a

existência de um mesmo objetivo entre os participantes, isto é, um interesse comum

em desenvolver capacidades e compartilhar conhecimentos sobre um assunto que

tem uma importância relevante para todos. A segunda é a ação participativa em um

grupo destinado especificamente para a realização do objetivo comum; uma

comunidade onde se realizam trocas de ideias e experiências, por um processo de

colaboração, e onde a participação de cada um é valorizada. A terceira é a prática

em si, considerando que os participantes são, fundamentalmente, usuários de

sintetizadores e que as experiências que compartilham podem solucionar muitos de

seus problemas e ampliar o grau de domínio de cada um em relação ao assunto.

Considerando as enormes facilidades oferecidas atualmente pelas

tecnologias de informação, sobretudo a comunicação e a interação em rede através

da internet, a ideia, então, foi criar uma comunidade virtual que possa reunir pessoas

interessadas em aprender, desenvolver competências e, sobretudo, compartilhar

suas experiências para promover uma ampla disseminação de conhecimentos sobre

sintetizadores no Brasil.

Para implementar uma comunidade de prática orientada para esse fim, foi

criado um ambiente virtual de aprendizagem usando a plataforma Moodle, que é

um sistema integrado para gerenciamento de cursos on-line. A escolha dessa

plataforma se deu, principalmente, porque ela oferece os recursos essenciais para

interação, comunicação, apresentação de conteúdo, avaliação e gerenciamento,

porque é bastante conhecida e difundida no meio acadêmico, porque existem

muitas referências para auxiliar o design e a configuração, e, também, porque está

disponível gratuitamente na forma “open source”. O Capítulo 4 mostra os detalhes

da implementação do método de aprendizagem na plataforma Moodle.

1.1 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Ainda que sejam produzidas regularmente no Brasil pesquisas acadêmicas

sobre métodos de aprendizagem colaborativa na área musical, são poucas as que

abordam as técnicas de execução de instrumentos, e praticamente nenhuma delas

trata especificamente de aprendizagem de síntese sonora ou de técnicas de

operação e da manipulação dos recursos disponíveis nos sintetizadores.

6

Apesar de não ser um instrumento comum em todos os gêneros musicais,

o sintetizador é muito utilizado na música pop e no rock, e é a peça fundamental na

produção de música eletrônica e de seus inúmeros subgêneros, um segmento que

vem ampliando bastante o número de ouvintes nos últimos anos (RMC, 2015, p.

67). Há também uma forte demanda para sonoridades sintéticas nas produções de

vídeo e cinema, assim como em campanhas publicitárias. Além disso, a enorme

gama de novas sonoridades produzidas pelo sintetizador acaba proporcionando

novas ideias e abrindo novos rumos para o processo criativo.

Essa interação da música e da tecnologia é destacada por Iazzetta (2009, p.

211), ao afirmar que a articulação entre ambas faz com que apareçam novas formas

de expressão, dando origem a novos gêneros musicais. A confluência desses novos

gêneros ajuda a remover barreiras e promover a fusão de ideias, reduzindo as

distâncias que separam diferentes concepções, como, por exemplo o erudito e o

popular, além de igualmente aproximar produções comerciais, artísticas e de

entretenimento. Nesse sentido, técnicas e tecnologias idealizadas originalmente para

a composição eletrônica e eletroacústica vão sendo incorporadas a novos segmentos

culturais, tais como os jogos eletrônicos, na área de entretenimento, o sound design,

na área do cinema, e o audio branding, na área da propaganda, dentre outros. Esses

novos campos de aplicação de música acabam gerando ferramentas e procedimentos

específicos que, por sua vez, também influenciam os agentes no meio musical.

Para um músico, portanto, dominar as técnicas de síntese sonora significa

ampliar sua capacidade de criação e de performance ao vivo e, consequentemente,

proporcionar um aprimoramento da sua produção artística e da sua atuação

profissional, agregando-lhe mais competências técnicas para que possa conquistar

novas oportunidades de trabalho, inclusive fora do país.

Embora o Brasil seja sempre citado como um país repleto de musicalidade e

criatividade, quase sempre as inovações tecnológicas no setor musical vêm do

exterior, e, por causa disso, há um atraso permanente para a obtenção de

instrumentos musicais mais modernos, assim como para se dispor das informações

necessárias para utilizá-los em toda a sua potencialidade. Portanto, aumentar a

difusão de conhecimentos nessa área não só produz benefícios bastante

significativos para a arte musical do país como também ajuda, em grande escala, a

ampliação de mercado de trabalho para os artistas brasileiros, aqui e no exterior.

7

O processo idealizado neste trabalho busca ampliar o alcance e a

intensidade de aprendizagem nesse segmento através de uma comunidade

virtual, na qual todos os participantes podem colaborar apresentando suas

diferentes experiências pessoais, discutindo técnicas, propondo soluções,

testando procedimentos, e assim produzir um conhecimento compartilhado e

acumulativo, que esteja acessível a todos. Dentro desse ambiente virtual, os

alunos também podem pesquisar e compartilhar informações e subsídios

adicionais que vão auxiliar o entendimento do assunto. Esse processo, em que os

alunos trabalham em conjunto, permite que eles alcancem níveis mais altos de

compreensão e de avaliação crítica do conteúdo que está sendo estudado

(PALLOF e PRATT, 2007, p. 120).

A implementação de uma comunidade de prática para esse tipo de

aplicação é, provavelmente, a primeira no Brasil. Por isto, apesar de estar

apoiada em uma base teórica consistente, e de usar como referência pesquisas

com alguma afinidade, não é possível ter plena certeza quanto ao sucesso da sua

aplicabilidade. E por causa disso, os resultados do presente estudo poderão

oferecer subsídios importantes para outras pesquisas futuras nessa área.

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

É possível que a plataforma Moodle seja a mais utilizada atualmente para a

implementação de ambientes de aprendizagem on-line. No entanto, este trabalho

está dirigido para uma aplicação, senão inédita, bastante peculiar. Nesse sentido, os

objetivos da pesquisa visam, principalmente, verificar a eficácia de um processo

colaborativo para a aprendizagem de síntese sonora, assim como a viabilidade da

utilização da plataforma Moodle para esse tipo de atividade.

O objetivo principal da pesquisa é investigar a aplicabilidade de um método

de aprendizagem a distância baseado em processo colaborativo, dentro das

perspectivas de uma comunidade de prática, para a aquisição e compartilhamento

de conhecimentos sobre conceitos e técnicas de síntese sonora entre usuários de

instrumentos musicais eletrônicos e softwares de produção musical.

A pesquisa também pretende atingir alguns objetivos secundários, a saber:

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• Avaliar a viabilidade do uso da plataforma de aprendizagem Moodle

como estrutura virtual para uma comunidade de prática orientada para a

aprendizagem de técnicas de síntese sonora.

• Analisar a eficácia de um método baseado em abordagem colaborativa

on-line para a aprendizagem de conceitos e o desenvolvimento de

competências técnicas nos processos de síntese sonora;

• Verificar o nível de satisfação dos participantes em relação ao processo

colaborativo na aprendizagem de técnicas de síntese sonora;

• Contribuir para o desenvolvimento de abordagens inovadoras de

aprendizagem na área de tecnologia musical.

1.3 AMPLITUDE DA PESQUISA

Esta pesquisa envolve a criação de um ambiente virtual para produzir um

processo de aprendizagem moldado dentro dos conceitos de uma comunidade de

prática, onde os participantes atuam de forma colaborativa. O ambiente de

aprendizagem na plataforma Moodle, oferece diferentes recursos para ação e

interação dos participantes, tais como fórum de discussões, área para prática com

sintetizadores on-line, vídeos e textos explicativos e ainda uma seção com

informações históricas.

A implementação da comunidade de prática no ambiente virtual pretende

estabelecer um modelo de aprendizagem que, se comprovado eficaz, possa ser

adotado futuramente para outros temas, além da síntese sonora.

Trata-se de uma pesquisa aplicada, com uma finalidade prática, e que

procura resolver um problema concreto do cotidiano. As coletas de dados da

pesquisa foram obtidas a partir de questionários de avaliação, do conteúdo das

mensagens dos fóruns e da observação das atividades realizadas pelos

participantes do grupo, que serviram para avaliar a viabilidade e a eficácia de

diversas aspectos do processo de aprendizagem proposto, tanto nas questões

pedagógicas quanto nas operacionais. As características metodológicas da pesquisa

e a maneira como foi aplicada e avaliada estão descritas no Capítulo 4.

9

2 O CONTEXTO INVESTIGADO

Estando esta pesquisa associada à aprendizagem das técnicas de síntese

sonora, cabe esclarecer do que trata este tema, eventualmente desconhecido por

muitas pessoas por ser uma atividade bastante específica. Não cabe aqui uma

descrição detalhada sobre o assunto, mas é oportuno, pelo menos, uma

apresentação resumida dos seus fundamentos, a sua evolução ao longo da história

e o estado atual de desenvolvimento e de utilização.

2.1 MÚSICA E TECNOLOGIA

A tecnologia está presente na música desde o surgimento dos instrumentos

mais primitivos, que, como observou Andrade (1953, p. 18), muito provavelmente

eram de percussão. Acompanhando a evolução tecnológica da humanidade, foram

surgindo inúmeras maneiras de se produzir e controlar o som, praticamente a partir

de tudo o que podia vibrar e ser ouvido. Usando tubos, cordas, membranas e caixas

de ressonância, os recursos foram se tornando cada vez mais complexos. Também

foram se sofisticando as técnicas utilizadas na construção dos instrumentos, a partir

da apropriação dos crescentes conhecimentos da matemática, da física e da ciência

dos materiais, proporcionando melhor qualidade sonora, mais expressividade, maior

durabilidade e constante adequação ergonômica para um uso mais conveniente.

À medida que os instrumentos musicais foram evoluindo e ficando mais

expressivos, também foram se aprimorando as técnicas para se obter um melhor

resultado com eles. Por exemplo, para que se possa conseguir o melhor

desempenho de um violino, obviamente é preciso saber tocá-lo, porém, muito mais

do que isto, é preciso saber tocá-lo muito bem. A competência técnica para a

execução perfeita do instrumento requer um pleno conhecimento do seu

comportamento, além da habilidade e da destreza para dominá-lo.

Cada um dos instrumentos musicais convencionais tem suas

particularidades em termos de timbre, dinâmica, controlabilidade e

expressividade. De uma maneira geral, essas características estão diretamente

associadas a aspectos construtivos do instrumento e características específicas

dos materiais com os quais ele é construído. É isso que diferencia um oboé de

10

uma flauta, por exemplo. E são esses mesmos fatores que também estabelecem

limitações a cada um dos instrumentos acústicos convencionais. Por exemplo, no

violino o músico pode ficar tocando uma nota indefinidamente, o que no piano,

por sua vez, é impossível.

A busca por novos timbres e por outros meios de expressividade na música

é algo que acontece desde sempre, e é por isso que existe uma grande variedade

de instrumentos acústicos, resultado de uma evolução constante ao longo da

história, sempre apoiada nos desenvolvimentos técnicos e científicos.

Gohn (2009, p. 41) destaca a forte relação que existe entre música e

tecnologia no decorrer da história, de tal maneira que, assim como as inovações

tecnológicas proporcionam o desencadeamento de novas formas de manifestação

artística, também a tecnologia aplicada à música vai se ajustando aos novos

padrões artísticos de cada época.

As grandes transformações da humanidade ocorridas na segunda metade do

século XIX, com a expansão industrial e a proliferação das máquinas e seus ruídos,

suscitaram ideias inovadoras também na música. Um exemplo destacado por

Emmerson (2007, p. 149) são as obras de Luigi Russolo, do movimento futurista

italiano no início do século XX, que utilizava os intonarumore, instrumentos acústicos

que produziam diferentes tipos de ruídos. Ao mesmo tempo, também a música

executada em instrumentos convencionais ganhava novos rumos, com artistas de

vanguarda rejeitando as regras universais de melodia, harmonia e ritmo (HOLMES,

2002, p. 29).

Com o surgimento da eletrônica, no começo do século XX, começaram a ser

desenvolvidos instrumentos musicais inovadores, marcando o início de uma nova

era em que o som não precisa mais ser gerado a partir da vibração de elementos

mecânicos. Começava a ser definido um novo conceito de instrumento musical, cuja

resposta à ação do músico se dá de forma bem diferente do convencional nos

instrumentos acústicos. Um exemplo bastante simbólico disto é o theremin, um

aparelho desenvolvido em 1920 pelo russo Lev Termen, e que não requer contato

físico para produzir sons, mas apenas aproximar ou afastar as mãos de suas

antenas (FRITSCH, 2013, p. 26).

Nas primeiras décadas do século XX, houve algumas iniciativas para o

desenvolvimento de novos tipos de instrumentos musicais, porém foram poucas as

11

que de fato deram certo, como é o caso do órgão elétrico, aperfeiçoado pelo norte-

americano Laurens Hammond, na década de 1930.

Segundo Pinch e Trocco (2002, p. 13), o surgimento do transistor e o

enorme excedente de componentes eletrônicos após a 2a Guerra Mundial

proporcionaram uma expansão sem precedentes da indústria eletrônica. A nova era

de relativa paz e crescente prosperidade no mundo ocidental também foi o palco

para o nascimento de formas igualmente novas de manifestações artísticas, dentre

elas uma vertente musical nascida, principalmente, em estúdios experimentais na

França (Musique Concrète) e na Alemanha (Elektronische Musik), que foi a base

para a “Música Eletroacústica” e todos os demais subgêneros de música eletrônica

que existem atualmente. Os recursos eletrônicos utilizados para a produção

daquela modalidade de música não se caracterizavam exatamente como

instrumentos musicais. O processo envolvia o uso de microfones, osciladores,

moduladores e outros tipos de circuitos, e o material sonoro era registrado em fita

magnética.

Nas décadas de 1950 e 1960, as pesquisas para produção sonora por

processos eletrônicos também ganharam muita força nos EUA, a ponto de a RCA,

um grande conglomerado industrial e comercial nas áreas de entretenimento da

época, investir mais de duzentos mil dólares na construção de um enorme

laboratório para o desenvolvimento de composição por processos eletrônicos

(DARTER, 1984, p. 49). Surgia, então, a conceituação do que hoje se chama

“sintetizador”, e as principais perspectivas para essa nova classe de instrumento

eram a produção sonora para televisão e cinema, sobretudo para aplicações em

sonoplastia e efeitos especiais.

Naquela época, no entanto, o sintetizador estava mais caracterizado

como um equipamento de laboratório do que propriamente um instrumento. Sem

uma conotação próxima com os instrumentos convencionais, a operação de um

sintetizador era bastante complicada, e requeria a interconexão de cabos entre

diversos módulos de circuitos. Além disso, de acordo com Darter (1984, p. 51), a

estrutura complexa e particular de cada estúdio tornava difícil o aproveitamento

da experiência de um sistema para outro. Era um trabalho para engenheiros e

que não despertava o interesse da maioria dos artistas do meio musical, a não

ser de alguns compositores de vanguarda com vocação mais técnica. A

12

popularização do sintetizador começou a acontecer depois do lançamento do

álbum “Switched-On Bach”, em 1968, no qual o músico e físico norte-americano

Walter Carlos interpretou várias obras de Johann Sebastian Bach em um

sintetizador modular Moog.

A partir daí, houve um crescente interesse dos músicos pelos sintetizadores, o

que desencadeou o surgimento de várias empresas, oferecendo equipamentos mais

simples e design mais adequado para o uso ao vivo, com a adoção do teclado como

padrão de controle. A década de 1970 foi marcada pela proliferação de sintetizadores

nos EUA, Europa e Japão, produzidos tanto pelos tradicionais fabricantes de

instrumentos musicais como por empresas emergentes neste segmento.

Nos anos 1980, a guinada tecnológica para os circuitos digitais também

chegou à indústria musical, primeiro com instrumentos híbridos, que combinavam

a geração analógica com o controle digital, e em seguida com sintetizadores

totalmente implementados com microprocessadores. Com o uso da tecnologia

digital passou a ser possível memorizar diferentes programações de timbres no

instrumento, permitindo mudar completamente a sonoridade com um simples

toque de botão. Apesar das facilidades oferecidas pela nova tecnologia, essa era

também foi marcada por uma grande simplificação (técnica) do design dos

instrumentos. Com um mercado cada vez mais competitivo, para reduzir custos a

maioria dos fabricantes passou a oferecer sintetizadores com um painel contendo

apenas um display LCD e poucas teclas para a edição dos parâmetros. Isso

dificultou muito a manipulação do som pelos músicos, e fez com que a maioria

deles, desestimulados para criar seus próprios timbres, passasse a usar as

sonoridades prontas, que já vinham memorizadas nos instrumentos. Para Jacobs

e Georghiades (1991, p.154), essa é uma das causas para que a música pop da

década de 1980 tenha ficado bastante datada pelo uso intenso dos mesmos

timbres dos sintetizadores, que já vinham pré-programados de fábrica.

A dificuldade de programação por parte dos artistas, por outro lado, fez com

que surgisse uma nova categoria de profissionais especializados em programação

de sintetizadores, que produzem e comercializam pacotes de dados com centenas

de timbres para serem carregados nos instrumentos.

Com a capacidade cada vez maior de armazenamento na memória interna

dos sintetizadores e uma grande disponibilidade de timbres prontos, ocorreu uma

13

mudança no perfil do usuário de sintetizador. O músico, que no passado desenvolvia

as habilidades técnicas em síntese sonora e criava suas próprias sonoridades,

passou a utilizar o sintetizador para a reprodução de timbres prontos. Ganhava-se

na produtividade, mas perdia-se na criatividade.

A tecnologia digital migrou para os computadores e, no final da década de

1990, começaram a ser oferecidos “sintetizadores virtuais”, isto é, aplicativos que

executam o processo de síntese totalmente por software, dentro do computador.

Esses aplicativos atualmente funcionam como plug-ins, integrados dentro dos

principais softwares de gravação e produção musical. Desde então, com dezenas de

novos modelos a cada ano, o acesso aos sintetizadores ficou bastante

democratizado, já que os plug-ins têm preços mais acessíveis do que os

instrumentos “reais”, e também porque existem muitas opções gratuitas disponíveis

na internet, várias delas com qualidade sonora muito boa.

Os aplicativos plug-ins causaram uma grande mudança no processo de

produção musical porque são relativamente mais baratos do que os equipamentos

físicos e porque estão disponíveis em uma grande variedade de modelos, com

empresas especializadas desenvolvendo diferentes opções que possibilitam criar

novas alternativas de sonoridades (PERSSON, 2016, p. 18).

A ampla popularização dos sintetizadores virtuais na virada do século XXI

não só proporcionou uma intensificação da produção de música eletrônica como

também trouxe de volta o interesse pelas técnicas de síntese sonora, num

processo de influência mútua entre a tecnologia e a arte. Curiosamente, ao

mesmo tempo que se intensificou o uso dos sintetizadores virtuais dentro do

computador, também passou a haver um retorno às sonoridades eletrônicas

clássicas, o que desencadeou uma enorme procura pelos antigos sintetizadores

analógicos.

2.2 O QUE É SÍNTESE SONORA

A síntese sonora pode ser definida como um processo que utiliza recursos

tecnológicos eletrônicos e/ou digitais para a produção de sonoridades. Em geral,

mas não necessariamente, o objetivo é obter sons diferentes daqueles produzidos

pelos instrumentos musicais convencionais.

14

Os recursos tecnológicos usados para isso são diversos, mas quase sempre

estão integrados na forma de um “sintetizador”, que na definição de Moog (1988, p. 7),

“é um instrumento musical eletrônico que oferece ao músico controle direto sobre as

propriedades básicas do som”. O sintetizador pode ser um equipamento físico, dotado

de teclado e painel com diversos controles, ou então um software, cujos controles

geralmente são representados metaforicamente por imagens de botões na tela do

computador, e que é chamado de “sintetizador virtual”.

Além da sonoridade em si, na maioria das vezes o processo de síntese

sonora também envolve vários aspectos relativos à operacionalidade e ao

controle dos sons produzidos pelo sintetizador. Isso porque determinadas

articulações sonoras só podem ser conseguidas a partir de técnicas habilidosas

de manipulação de parâmetros. Por outro lado, dependendo do caso, o processo

de geração sonora no sintetizador, e o seu controle pelo músico, pode assumir

uma alta complexidade, conforme a quantidade de parâmetros envolvidos. Além

disso, no sintetizador não há necessariamente uma relação direta e imediata

entre a intensidade da ação do músico e o resultado sonoro, como em geral

acontece nos instrumentos acústicos. Dessa forma, a execução musical no

sintetizador nem sempre segue um padrão relativamente intuitivo.

Assim como acontece em outras áreas, também na música é possível

observar a influência histórica e bidirecional entre a tecnologia e a arte, uma atuando

sobre a outra. O uso dos sintetizadores e outros equipamentos eletrônicos permitiu

uma grande expansão no material sonoro empregado na composição musical,

sobretudo a partir de meados do século XX. Como destaca Iazzetta (1996, p. 58), o

desenvolvimento histórico dos instrumentos musicais tem uma ligação muito estreita

com o desenvolvimento da linguagem musical, onde a evolução tecnológica

acompanha as necessidades requeridas para a produção de música em cada época,

proporcionando sempre o aprimoramento da qualidade sonora e o aperfeiçoamento

dos processos de controle do som. A utilização de sintetizadores, gravadores e

outros aparelhos para a geração e processamento do som ampliou o universo de

possibilidades “com a produção de sonoridades inusitadas e a reabilitação do ruído

como material musical” (IAZZETTA, 2009, p. 23).

A crescente dependência do processo de composição musical com as

sofisticadas técnicas de manipulação dos recursos eletrônicos obrigou ao artista

15

contemporâneo ter um entendimento cada vez mais profundo da complexidade dos

instrumentos modernos, conforme observou Robert Moog, um dos pioneiros na

construção de sintetizadores:

Quando um músico produz música eletrônica, ele é capaz deconfigurar o seu instrumento para soar e responder da maneiraconforme ele deseja. Esse recurso, que só a eletrônica oferece,inseriu os músicos na tecnologia, e passou a produzir uma músicamais baseada em programação e design do que na manipulaçãovirtuosa. Os recursos do músico não são mais um conjunto deelementos mecânicos que respondem aos movimentos das mãos,mas sistemas complexos que podem ser organizados com amesma complexidade e o mesmo cuidado que Beethoven usavaao escrever no papel. A distinção entre composição e execuçãoestá ficando menos clara; a arte e a tecnologia estão cada vezmais entrelaçadas (MOOG, 1984, p. iv; tradução nossa).

Existem diferentes processos de síntese sonora, cada um deles

caracterizado pela maneira como o sinal sonoro é manipulado, seja por circuitos

eletrônicos ou por software. Alguns são originalmente implementados por

circuitos de tecnologia analógica, mas podem ser simulados com bastante

fidelidade por processamentos sofisticados em software; outros, por causa de sua

natureza específica, só podem ser realizados no domínio digital, para depois

serem convertidos em sinal analógico, que é o formato reproduzido nos alto-

falantes. No entanto, independentemente do processo, todos atuam sobre os

parâmetros fundamentais do som, que são: a frequência, a composição

harmônica e a intensidade. Além da geração e da manipulação do som, o

trabalho com síntese sonora também envolve o uso de técnicas de

processamento de sinais, como é o caso de efeitos de ambiência, tais como a

reverberação e o eco, e ainda outros tipos de modificação do som.

Dentre os vários processos de síntese sonora que existem, os mais

utilizados atualmente são os seguintes:

• Síntese subtrativa: o som inicial gerado por um oscilador é modificado

através da filtragem e do realce (ressonância) de harmônicos. É um

dos processos mais antigos e foi utilizado em larga escala nos

primeiros sintetizadores analógicos nas décadas de 1960/70. É o

processo mais comum e também o mais intuitivo e mais fácil de se

16

manipular. Nos sintetizadores modernos é implementado por

simulação digital.

• Síntese aditiva: o som é criado pela soma dos sinais de diversos

osciladores, cada um gerando um harmônico. É um processo antigo, mas

a produção de timbres complexos é muito trabalhosa e difícil de se

manipular. Também é implementado digitalmente em sintetizadores

modernos.

• Síntese por modulação de frequência (FM – frequency modulation):

consegue gerar timbres bastante complexos a partir de um sinal simples

modificado por outro sinal também simples. Na maioria dos casos é

implementado digitalmente. Por não ser um processo intuitivo, é

relativamente difícil de ser manipulado.

• Síntese por modelagem física: produz um timbre a partir da

parametrização de elementos que determinam as características

sonoras. É implementado totalmente com recursos digitais.

O procedimento efetuado pelo músico para produzir uma nova sonoridade

no sintetizador geralmente é chamado de “programação”. Dessa forma, cada

sonoridade diferente obtida no sintetizador é denominada por “programa”, o que na

nomenclatura estrangeira tem sido designado por diferentes termos, tais como

program, patch e preset. A maneira de se manipular os parâmetros no processo de

síntese sonora depende do tipo de sintetizador e, principalmente, da tecnologia

que este emprega.

Nos sintetizadores analógicos, constituídos de circuitos eletrônicos, o músico

altera o timbre ajustando botões (potenciômetros) e comutando teclas (chaves) no

painel, que estão diretamente ligadas aos componentes eletrônicos internos por

onde passa o próprio sinal. A interligação de módulos de circuitos pode estar

predeterminada internamente no aparelho ou pode ser efetuada externamente, por

meio de cabos (patchcords), o que possibilita uma flexibilidade maior na

programação. Como a maioria dos sintetizadores analógicos não tem recurso de

memorização, para se programar um novo timbre é preciso “desprogramar” (perder)

o som atual.

17

FIGURA 1 – Exemplo de painel de sintetizador analógico (sintetizador Minimoog)Fonte: EDM Tunes

Nos sintetizadores digitais, o músico altera o timbre pressionando teclas e

ajustando botões que estão associados a parâmetros apresentados em uma tela

(LCD) no painel do instrumento. Nesses instrumentos, a geração do sinal sonoro

é produzida pela manipulação de códigos numéricos realizada por um ou mais

microprocessadores, utilizando algoritmos computacionais, e não por meio de

circuitos analógicos. A programação de um determinado timbre, portanto, é um

conjunto de dados binários, e pode ser armazenada na memória interna do

sintetizador. Isso possibilita ao músico escolher imediatamente uma dentre as

várias sonoridades contidas no equipamento.

FIGURA 2 – Exemplo de painel de sintetizador digital (sintetizador Korg M1)Fonte: Music Radar

18

Nos sintetizadores virtuais ou plug-ins, que são softwares que operam no

computador, o processo é bastante parecido com o dos sintetizadores digitais,

citado acima, com a diferença de que as chaves, teclas e botões são

representados por imagens na tela, que o músico manipula por meio do mouse ou

do teclado do computador, ou ainda por meio de um aparelho específico para

controle, conectado ao computador. Nesses sintetizadores também é possível

memorizar as programações de timbres, salvando-as no disco rígido ou em outros

dispositivos de armazenamento disponíveis no computador.

FIGURA 3 – Exemplo de painel de sintetizador virtual (sintetizador Steinberg Halion) Fonte: Sound On Sound

Nos sintetizadores que permitem a memorização dos timbres, os dados

digitais que contêm os códigos das programações podem ser transferidos de um

equipamento para outro igual, possibilitando ao músico usar timbres idênticos aos

que foram programados por outras pessoas. Por outro lado, nos sintetizadores

analógicos para se copiar uma programação é necessário anotar manualmente a

posição dos controles (botões, chaves, etc) do painel, e ainda assim não se pode

garantir que a reprodução de determinada situação em um instrumento irá gerar o

mesmo resultado.

19

A programação de timbres nos sintetizadores não é uma tarefa fácil. Nos

sintetizadores analógicos, pelo fato de todos os controles estarem disponíveis para

acesso imediato no painel, o músico consegue atuar mais rapidamente. Já na maioria

dos sintetizadores digitais acontece o contrário. Em ambos os casos, no entanto, para

que se possa obter resultados efetivos é preciso conhecer bem a arquitetura do

instrumento, isto é, de que forma os elementos geradores e modificadores de som

estão interligados, e quais são as funções de cada botão e chave.

Para muitos artistas, conhecer como se processa a geração sonora é mais

do que uma atitude de curiosidade, mas uma verdadeira necessidade. Na opinião

de Iazzetta (2009, p. 209), compreender como funcionam os instrumentos musicais

eletrônicos, e o que é possível fazer com os modernos recursos de produção e

processamento sonoro e seus diversos acessórios, proporciona ao compositor um

domínio mais amplo da execução do seu trabalho musical.

2.3 APLICAÇÕES E MERCADO DE TRABALHO

Os sintetizadores são bastante empregados em diversos gêneros musicais

contemporâneos, tais como pop, rock, reggae, jazz, funk e MPB. Mas seu uso mais

intenso ocorre no segmento chamado de “música eletrônica”, que engloba inúmeros

subgêneros, desde música específica para dançar (EDM – electronic dance music)

até composições para audição sem a performance de músicos (música acusmática).

Existe também um terceiro segmento, frequentemente chamado de sound design,

que envolve a sonoplastia e os elementos sonoros que criam “ambiência” em filmes

e vídeos, e também a “música incidental”, produzida em larga escala por músicos

associados aos estúdios de Hollywood e outras produtoras cinematográficas

(FRITSCH, 2013, p. 114). Há ainda uma ampla aplicação dos sintetizadores nas

produções sonoras para jogos eletrônicos (games), assim como para as áreas de

propaganda e publicidade, tais como vinhetas, spots, audio branding, etc.

Obviamente, os profissionais que atuam nessas atividades devem dispor de uma

qualificação que lhes permita um amplo domínio das modernas ferramentas de

síntese sonora e processamento de efeitos.

Embora o Brasil esteja atravessando um período de baixa atividade

econômica nos últimos dois anos, nos anos anteriores o mercado de música vinha

20

crescendo seguidamente. Da mesma forma, as vendas de instrumentos musicais,

incluindo sintetizadores, também vinham apresentando forte crescimento naquele

período. Em 2013, o faturamento do segmento de áudio e instrumentos musicais no

Brasil foi da ordem de R$ 700 milhões, com acréscimo de 12% em relação aos

resultados do ano anterior, quando já tinha crescido significativamente

(ABEMÚSICA, 2013). Por outro lado, de acordo com reportagem divulgada pelo

programa Fantástico (G1.GLOBO, 2015), em 2014 a música eletrônica era o gênero

preferido por cerca de 28 milhões de brasileiros, sendo que as atividades ligadas a

esse segmento movimentaram mais de R$ 3 bilhões no país.

Além disso, nas últimas décadas também houve um grande crescimento

nas produções de cinema e vídeo, que são áreas que demandam mão de obra

especializada em música e sound design. De acordo com o Estudo sobre Valor

Adicionado pelo Setor Audiovisual Brasileiro (ANCINE, 2015, p. 9), entre 2007 e

2013 esse setor apresentou uma expansão contínua de 8,8% ao ano, um índice

superior à média de todos os demais setores da economia.

Outro setor em que ocorre um amplo uso de sintetizadores e que tem

crescido bastante no Brasil é o de jogos eletrônicos (games). Segundo informações

divulgadas pela AES Brasil Section (AES BRASIL, 2016), em 2015 o mercado de

games movimentou no Brasil aproximadamente US$ 1 bilhão, sendo o 11o mais

rentável do mundo e o 3o em taxa de crescimento, atingindo incríveis 780% em 5

anos. Grande parte desse capital vem de empresas estrangeiras que buscam

empresas produtoras brasileiras para o desenvolvimento de novos produtos, sendo

que um dos principais critérios para a escolha é a existência de trilha sonora original

e a qualidade da produção em sound design.

Pelo exposto, ainda que o Brasil não seja um país central na produção de

música eletrônica mundial, é possível perceber que as perspectivas de mercado

para quem trabalha aqui com síntese sonora são relativamente animadoras. No

entanto, essas atividades requerem uma contínua criatividade e, por isso, é

fundamental que o artista tenha um domínio suficiente das ferramentas que

permitem desenvolver novas sonoridades personalizadas e inusitadas. É

importante observar, também, que, ao dominar seu instrumento, o artista

consegue aproveitá-lo ao máximo, prolongando a vida útil do equipamento e,

consequentemente, valorizando o seu investimento.

21

2.4 COMO SE PODE APRENDER SÍNTESE SONORA

No Brasil, não são muitas as opções para quem deseja aprender técnicas de

síntese sonora, e em geral o assunto não é abordado de forma individualizada, mas

como parte de algum curso ou disciplina mais abrangente.

Na maioria dos cursos superiores de graduação e de pós-graduação em

música das universidades brasileiras não existe uma disciplina específica que

apresente os conceitos e as práticas de programação e operação de sintetizadores. O

tema, quando aparece nas ementas, nem sempre é tratado com muita profundidade e

geralmente ocupa apenas uma parcela dentro da carga horária. O Apêndice 1

apresenta um resumo dos cursos de graduação e pós-graduação na área de Música

que contemplam, de alguma maneira, o assunto de síntese sonora.

Por outro lado, existem alguns cursos livres, em geral orientados para a

produção de música eletrônica, que abordam aspectos da síntese sonora.

Entretanto, como a maioria desses cursos está direcionada para determinado tipo de

software que é utilizado em produção musical, os sintetizadores são apresentados

como parte do processo geral da produção musical, não havendo espaço suficiente

para um estudo mais aprofundado.

Esses cursos são presenciais e, praticamente todos eles, tanto os de

graduação quanto os cursos livres, são oferecidos nas capitais, o que restringe

bastante o acesso de muitas pessoas interessadas que residem nas cidades

menores, sobretudo as localizadas no interior do país.

As alternativas não são melhores na modalidade de ensino a distância, já que

também é muito baixa a oferta no Brasil de cursos on-line sobre esse assunto, e os

que existem adotam o formato convencional, com o conteúdo em vídeo e/ou texto.

Nesses casos também ocorrem as mesmas limitações já citadas, quanto à

profundidade da apresentação do assunto, mas com o agravante da dificuldade, ou

mesmo impossibilidade, de se realizarem atividades práticas e interativas entre alunos

e instrutores. Existe uma boa variedade de cursos on-line estrangeiros, sendo a

maioria deles na língua inglesa. Alguns desses cursos têm uma ementa bem

estruturada, no entanto, embora alguns disponham de fóruns de discussão, a maioria

adota o formato convencional, baseado principalmente em vídeo e texto, sem

recursos de interação.

22

É possível ainda encontrar na internet uma grande quantidade de material

gratuito em vídeo, mas a maneira como o assunto é apresentado varia bastante,

havendo tutoriais mais didáticos, demonstrações de técnicas de execução,

análises de recursos de equipamentos, dentre outros. Como muitos desses

vídeos são produzidos individualmente e sem uma abordagem pedagógica, a

apresentação do assunto acaba ficando por demais fragmentada e incompleta.

Além disso, como ocorre em grande parte do material disponível gratuitamente na

internet, o nível de conhecimento de quem produz os vídeos nem sempre é bom,

comprometendo a aprendizagem correta do assunto. Outro problema é que a

maioria desse material é produzida fora do Brasil, geralmente no idioma inglês,

dificultando ainda mais o seu aproveitamento por músicos brasileiros.

Não se pode deixar de mencionar a enorme variedade de fóruns e grupos de

discussão na internet que congregam usuários de equipamentos e softwares musicais.

Embora muitas dessas comunidades virtuais tenham sido criadas especificamente para

tratar de sintetizadores e processos de síntese sonora, seu funcionamento não segue

um método sistematizado de aprendizagem, de maneira que os assuntos são

abordados de forma absolutamente livre, sem qualquer mediação ou orientação

pedagógica. Portanto, ainda que os participantes possam obter ganhos efetivos de

conhecimento sobre os temas do seu interesse, os resultados provavelmente seriam

mais significativos se houvesse uma coordenação adequada.

Há ainda a possibilidade de se estudar o assunto em livros e revistas

especializadas. Existem diversas publicações que tratam sobre o uso de

sintetizadores e dos processos de síntese sonora, porém, mais uma vez, quase

tudo escrito em inglês. A abordagem varia desde guias rápidos para a

compreensão do mínimo necessário para usar os recursos básicos dos

instrumentos até obras completas sobre síntese sonora e as tecnologias

empregadas, inclusive textos bastante técnicos apresentando diagramas de

circuitos eletrônicos e exemplos de programação em software.

Pelo que foi apresentado, pode-se perceber que o artista brasileiro que

esteja interessado em aprender com profundidade os conceitos e as técnicas de

síntese sonora encontra grande dificuldade para realizar esse tipo de estudo.

A partir desse panorama, e assumindo uma abordagem de aprendizagem

colaborativa baseada na teoria sociointeracionista de Vygotsky e nos conceitos de

23

comunidade de prática de Wenger, descritos a seguir, foi então concebido um

processo de aprendizagem que possa promover nos participantes, de forma

compartilhada, a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e o

aperfeiçoamento das técnicas de síntese sonora.

A opção pela modalidade a distância se deu quase que naturalmente,

tendo em vista não apenas os poderosos recursos disponíveis atualmente para a

implementação de processos de aprendizagem através da internet, mas,

sobretudo, o enorme potencial de abrangência que essa modalidade possibilita.

Como observa Gohn (2009, p. 162), a educação a distância na área musical

permite ultrapassar os limites geográficos de algumas cidades, dando a

oportunidade de estudo a muito mais pessoas. Além disso, esse tipo de

abordagem, sem rigidez de horário, também viabiliza o estudo daqueles que

trabalham e não têm disponibilidade de tempo para participar de um curso

presencial.

24

3 REFERENCIAIS TEÓRICOS

Quando se fala em ensinar e aprender, a primeira imagem que nos vem à

mente é aquela do professor à frente dos seus alunos, todos sentados e esperando

um novo assunto a ser ensinado. Esse tipo de concepção que temos em relação ao

modelo de aprender se explica porque, mesmo nos dias atuais, o processo mais

usual para isto ainda é o método tradicional e secular no qual os alunos são agentes

praticamente passivos que esperam que o professor lhes passe aquilo que eles

ainda não sabem. Nesse modelo, que é orientado principalmente no ensino e na

ação do professor como um transmissor do saber, não existe grande preocupação

com o aluno, seu contexto, suas experiências e suas perspectivas.

Esse formato conservador, na opinião de Behrens (1999, p. 386), se baseia

em uma prática pedagógica focada principalmente na reprodução do conhecimento,

com forte influência do modelo da ciência newtoniana-cartesiana, em que a ação do

professor se dá de forma fragmentada e baseada na memorização, na cópia e na

reprodução. Essa fragmentação, que nas universidades pode ser constatada pela

divisão em departamentos e centros, tende a contribuir para o isolamento de cada

área de conhecimento, o que, consequentemente, acaba produzindo uma perda da

consciência global e da complexidade da realidade.

A tônica da educação é preponderantemente esta – narrar, semprenarrar. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, comoo seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é "encher” os educandosdos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos darealidade, desconectados da totalidade em que se engendram e emcuja visão ganhariam significação. […] nesta destorcida visão daeducação, não há criatividade, não há transformação, não há saber(FREIRE, 1987, p. 37)

Freire (1987, p. 37) definiu metaforicamente esse tipo de concepção de

educação como “bancária”, por ser ela “um ato de depositar, em que os educandos

são os depositários e o educador o depositante”.

Na opinião de Ellmore et al (1995, p. 12), o conceito tradicional de educação

é um modelo “industrial”, uma fábrica, onde os alunos passam a maior parte do

tempo como expectadores passivos, com pouca participação e quase nenhuma

interação. Para esses autores, em uma sociedade cada vez mais dinâmica, em que

25

as mudanças estão ocorrendo, em todos os segmentos, de maneira cada vez mais

rápida, os alunos acabam aprendendo competências que não mais existirão na

época em que saírem da escola. Tal formato não faz mais sentido em uma

sociedade pós-industrial, que requer um formato de educação igualmente pós-

industrial.

Para Wenger (1998, p. 3), as instituições de ensino, com raras exceções,

em geral assumem que a aprendizagem é efetivamente uma consequência da

ação de ensinar, um processo individual que tem começo e fim, está desassociado

das demais atividades das pessoas. Lèvy (1999, p. 170) foi ainda mais ousado ao

afirmar que o paradigma atual da educação deve ser a “navegação”, em oposição

ao "curso”, e que esse novo modelo deve se desenvolver nas buscas de

informações e na aprendizagem cooperativa. Para ele, os indivíduos toleram cada

vez menos seguir cursos uniformes e rígidos que não correspondem às suas

necessidades reais e à especificidade de seu trajeto de vida.

A grande maioria dos professores foi treinada para ensinar através de

aulas expositivas, principalmente por ter sido esta a maneira como aprenderam.

Prensky (2010, p. 31), no entanto, afirma que esse método de ensino não tem

mais relevância, uma vez que os alunos hoje não estão mais dispostos a apenas

ouvir, o que faz com que esse processo convencional vá se tornando cada vez

menos eficiente. Em uma nova realidade, com tantas diferenças de tempo e de

necessidades, o professor não pode mais apenas transmitir ao aluno o mesmo

conhecimento que adquiriu.

A despeito de tantas críticas que se somam durante muitos anos, sobretudo

a partir da segunda metade do século XX, essa prática pedagógica tradicional

continua sendo o formato vigente na grande maioria das instituições de ensino,

formais e informais, públicas e privadas, em todos os níveis de escolaridade. No

âmbito acadêmico têm sido discutidas diferentes propostas que visam mudar esse

paradigma, levando em conta as profundas transformações que vêm acontecendo

nas relações sociais e de trabalho, nos meios de comunicação e de informação.

Segundo Behrens (1999, p. 386), as mudanças ocorridas no final do século XX, com

o surgimento da sociedade do conhecimento e da revolução da informação,

afetaram de maneira significativa os profissionais de todas as áreas do

conhecimento, exigindo uma nova concepção de suas funções.

26

Hoje, a maioria dos estudantes é composta de “nativos digitais”, totalmente

integrados aos meios tecnológicos e aos recursos da internet. Eles fazem uso

sistemático e intenso das redes sociais, e têm preferência por conteúdos em vídeo,

imagens e sons, em comparação com textos. Na opinião de Tapscott (2009, p.

134), por estarem imersos em tecnologia, os nativos digitais são mais propensos a

experimentar novidades, e em geral agem de maneira mais rápida. Para eles, a

escola tem que ser agradável e interessante, para que os alunos possam desfrutar

o prazer de descobrir as coisas por conta própria. Os jovens têm uma grande

habilidade para compreender e utilizar múltiplas informações simultâneas. Murray

(2008, p. 42) destaca que o estudante da era da informação é capaz de acessar

objetivamente a informação a partir de diversas fontes, analisá-la e avaliá-la, para

então integrá-la de maneira a construir uma base de conhecimento de onde pode

tomar as decisões adequadas. Para fomentar essas capacidades, os educadores

devem reavaliar suas escolhas e estratégias de ensino.

De acordo com Tapscott e Williams (2007, p. 68), estudos acadêmicos

realizados nas últimas décadas demonstraram uma forte queda no interesse e no

entusiasmo dos jovens pela atividade escolar. Os estudantes da geração mais

nova, que estão sempre conectados à internet para se comunicar, interagir e

jogar, têm outras expectativas na sala de aula. No entanto, os currículos das

escolas continuam oferecendo poucas atividades com características de

interatividade.

O grande desafio da escola contemporânea, segundo Tori (2009, p. 121), é

compreender o aluno que vive nessa nova realidade, com suas necessidades e

especificidades, para então poder atendê-lo e formá-lo de maneira mais adequada.

Não se pode ignorar as novas linguagens, culturas e hábitos dos jovens, para quem

é cada vez mais difícil a separação entre o virtual e o real.

Nesse sentido, o professor deve assumir, principalmente, a função de

articulador e mediador entre o conhecimento elaborado e o conhecimento a ser

produzido, fazendo com que os alunos sejam capazes de construir conhecimentos

novos a partir daquilo que lhes é apresentado. O papel do educador, portanto, é

levar o aluno até a informação, de maneira que ele seja capaz de avaliar as

informações disponíveis para poder diferenciar o que é realmente necessário e o

que é apenas acessório.

27

No entanto, não são poucos os obstáculos às mudanças nos métodos

pedagógicos. Moran (2013, p. 90) é categórico ao afirmar que a escola é uma

instituição mais tradicional do que inovadora, com imensa resistência às mudanças.

Apesar das diversas propostas que vêm sendo apresentadas para mudar o foco do

ensino para a aprendizagem, continuam prevalecendo os modelos que se baseiam

na ação predominante do professor. As inovações têm sido muito lentas e, mesmo

em processos que incorporam novos recursos tecnológicos, o conceito vigente é,

ainda, o modelo tradicional, centrado no professor.

Com relação às mudanças necessárias ao processo de aprendizagem,

Siemens (2008, p. 8) observa que, com o enorme crescimento da internet, as

pessoas passaram a ter diferentes formas de interação entre si, através de redes

sociais, por exemplo, e com as informações em geral, por meio de blogs, revistas

on-line, wikis, etc. Para ele, a dificuldade por parte dos educadores é usar as

ferramentas modernas e implementar um diálogo mais conveniente com os

alunos, e ao mesmo tempo desenvolver neles novas habilidades, que vão além

do simples tratamento de informações e incluem a formação de redes e a

colaboração. Estudos e pesquisas mostraram que é necessária uma nova

concepção em relação às ferramentas e aos métodos que têm sido adotados na

educação formal, de maneira que se possa aumentar a sua relevância na

sociedade e que também se possa alcançar um nível maior de engajamento do

estudante (SIEMENS, 2008, p. 6).

Dentre as teorias pedagógicas apresentadas como alternativas ao método

tradicional de aprendizagem referido acima, existem algumas que propõem um tipo

de abordagem baseado na ação colaborativa entre os alunos, na qual o professor

atua como um mediador do processo de construção conjunta do conhecimento.

Esse é o conceito que orienta as bases desta pesquisa.

3.1 NOVOS TEMPOS, NOVAS TECNOLOGIAS, NOVOS MÉTODOS

A expansão da internet, junto com o aumento da velocidade de transferência

de dados (banda larga) e a redução de preço dos computadores portáteis,

smartphones e tablets, proporcionou uma mudança de hábitos na sociedade que se

propaga de igual maneira no ambiente escolar. Estar conectado é hoje a situação

28

normal para a maioria das pessoas, inclusive estudantes. A internet é o canal

principal para as relações interpessoais, através das redes sociais, por exemplo, e é

também a fonte de informação e de referência para quase tudo. Ainda que a

qualidade de grande parte do conteúdo que está disponível no espaço virtual seja

questionável, e algumas vezes até reprovável, não há indícios de que esse costume

de estar conectado irá se modificar em um futuro próximo. Por causa disso, qualquer

proposta de estratégia de aprendizagem que se diga inovadora tem que levar em

consideração essa realidade.

Na visão de Siemens (2008, p. 3), os desenvolvimentos tecnológicos recentes

estão modificando significativamente a maneira como os alunos acessam as

informações e adquirem conhecimento, e também a forma como eles se comunicam

entre si e com os professores. Embora até bem pouco tempo estivessem sob controle

praticamente total dos professores, esses domínios – acesso e interação – passaram

a ser determinados pelos próprios alunos. Sobre essas questões, Okada et al (2013,

p. 47) observam que a maneira de se comunicar e de se aprender está sendo

modificada pelas redes sociais e pelos recursos tecnológicos da internet moderna,

fazendo com que as pessoas se mantenham sempre em contato ou, então, passíveis

de estar em contato.

As questões que vêm sendo discutidas por pesquisadores no campo da

educação nos últimos anos focam, basicamente, as mudanças que precisam ser

promovidas em relação às atividades do professor e ao planejamento do processo

de aprendizagem, para que possam se adequar às características do aluno do

século XXI. Como observa Massetto (2007, p. 144), é preciso modificar as

estratégias tanto em relação à motivação do aluno como em se buscar as formas

adequadas para que se possa reagir aos diferentes ritmos e modos de se aprender,

já que nem todos aprendem da mesma maneira e no mesmo ritmo.

As inquestionáveis modificações de comportamento decorrentes dos

fenômenos tecnológicos da internet, das redes sociais e da computação móvel são

fatores que não podem, de forma alguma, ser desprezados ao se conceber um

processo moderno de educação. Além disso, a facilidade, a velocidade e a

abrangência da comunicação e da interação das pessoas trazem um novo conceito

em termos de relacionamento, que pode – e deve – ser bem explorado em uma

abordagem educacional que se queira considerar contemporânea. A ubiquidade e a

29

dinâmica alcançadas pela internet, portanto, são aspectos que proporcionam uma

enorme potencialidade para a proliferação de redes virtuais atuantes e eficientes para

fins educacionais.

Existem diferentes propostas pedagógicas para o uso dessas modernas

tecnologias de informação e comunicação (TIC) no processo de aprendizagem,

tais como a implementação de softwares educacionais que proporcionem ensino

personalizado e adaptativo, o uso de games, o aproveitamento dos smartphones

na sala de aula, dentre outros. Entretanto, essas tecnologias não serão capazes

de promover mudanças apenas por serem modernas e poderosas. Há que se

produzir todo um novo processo, que articule a tecnologia com o método, que

possa aproveitar todo o potencial dos recursos materiais e, ao mesmo tempo,

valorizar as relações interpessoais, a reorientação da atividade do professor, e,

sobretudo, a colaboração de todos para promover uma aquisição conjunta do

conhecimento.

Para Ferreira, Corrêa e Torres (2012, p. 3), as transformações sociais e

culturais ocorridas ultimamente em consequência do uso das tecnologias digitais

trazem à discussão as novas modalidades de processos educacionais, pois,

apesar da maior possibilidade de acesso às informações, tanto o ensino como a

aprendizagem não logram sucesso na mesma proporção. Ou seja, um processo

de aprendizagem moderno precisa equilibrar o estado da arte da tecnologia com

uma metodologia pedagógica adequada, de tal forma que possa dispor

corretamente deste potencial tecnológico para promover motivação e interesse no

aluno. Essa tem sido a grande dificuldade na implantação de recursos de

informática nas salas de aula. Simplesmente colocar o aluno à frente do

computador ou disponibilizar na internet material didático em arquivos de texto e

em tutoriais em vídeo não caracteriza uma inovação de aprendizagem.

Com relação a essa dificuldade de integração da tecnologia na educação,

Moran (2008, p. 89) afirma que, mesmo usando tecnologias avançadas, ainda

persistem deficiências de gerenciamento nos âmbitos pessoal e educacional,

dificultando o rápido aprendizado. Mais do que novos recursos tecnológicos, as

mudanças na educação dependem de educadores e gestores, assim como de

alunos com maturidade intelectual, emocional e ética. As pessoas precisam ser

curiosas, entusiasmadas, permeáveis e com motivação e disposição para o

30

diálogo. Nem todos os educadores conseguem juntar a teoria com a prática, isto

é, aproximar o pensar do viver.

Como observam Xin e Feenberg (2006, p. 17), há muitos anos vem se tentando

mudar o processo do ensino centrado no professor para uma aprendizagem focada no

aluno, e os recursos computacionais, se bem utilizados, podem ser as ferramentas

ideais para que isto efetivamente se realize. Entretanto, quando a ênfase do processo

de educação é direcionada para a aprendizagem, é necessário trabalhar com técnicas

que incentivam a participação dos alunos, a interação entre eles, a pesquisa, o debate e

o diálogo, para que seja possível promover verdadeiramente a produção de

conhecimento. Para que se possa dimensionar um novo paradigma é preciso “atender

às características de rede de produção do conhecimento, de trabalho coletivo e

compartilhado, de interconexão, de inter-relacionamento e de reaproximação das partes

do todo” (BEHRENS, 1999, p. 387).

Nesse sentido, as enormes facilidades das modernas tecnologias, que

encurtam as distâncias entre as pessoas e reduzem o tempo de propagação de

informações, promovem condições bastante favoráveis para a implementação de

redes e comunidades virtuais que incorporem processos de aprendizagem baseados

na colaboração entre os seus diversos participantes.

Embora o termo “rede” frequentemente seja utilizado para designar a

interação das pessoas por meio de aparatos de tecnologia digital, notadamente a

internet, o conceito de rede pode ser aplicado a processos muito mais antigos da

sociedade humana. Da transmissão oral de conhecimentos nas civilizações mais

antigas às trocas de correspondências por meio de cartas e documentos pelos

cientistas do século XIX, das publicações periódicas impressas às associações

profissionais e científicas, o mundo, na verdade, sempre esteve conectado “em

rede”. Podemos dizer que as grandes mudanças que ocorreram nas estruturas em

rede nas últimas décadas foram a ampliação do alcance e o aumento da

velocidade de transmissão das informações.

Siemens (2008, p. 9) destaca que as redes como modelos para educação e

aprendizagem também não são novidade, uma vez que o educador austríaco Ivan

Illich já havia proposto, na década de 1970, que os alunos pudessem dispor de

novas conexões com o mundo, em vez de canalizar todo o conteúdo educacional

através do professor.

31

Também Lèvy (1999, p. 171) já havia proposto uma mudança qualitativa

nos processos de aprendizagem e o estabelecimento de novos paradigmas de

aquisição de conhecimentos, afirmando que a direção mais promissora é a

aprendizagem cooperativa. Na sua concepção, a principal função do professor

deixa de ser a de simples difusor de conhecimentos para se tornar um incentivador

da aprendizagem e do pensamento, “um animador da inteligência coletiva dos

grupos que estão a seu encargo”. O crescente uso de tecnologias digitais e redes

de comunicação modifica profundamente as relações do ser humano com o

conhecimento e prolonga determinadas capacidades cognitivas humanas, tais

como a memória, a imaginação e a percepção (LÈVY, 1999, p. 172). Dessa

maneira, as possibilidades inovadoras de criação coletiva e de aprendizagem

colaborativa em rede, colocam em discussão os processos convencionais de

educação adotados nas escolas.

Para Ellmore, Olson e Smith (1996, p.13), para que haja uma educação

inovadora é preciso que se faça uma mudança de papéis, com os estudantes

assumindo as funções antes reservadas aos professores. Nos trabalhos em grupo,

alguns alunos atuam como pares-tutores dos demais, enquanto que os professores

deixam de ser os repositórios do conhecimento e passam a ser mentores que guiam

os alunos através da enorme variedade de informação disponibilizada pelos

recursos tecnológicos, avaliando e definindo a melhor maneira de apresentá-la.

A utilização dos modernos recursos digitais para a criação de

comunidades virtuais baseadas na colaboração entre os estudantes, ao invés de

processos centrados no professor, vem estimulando o debate sobre diversas

abordagens inovadoras nos processos de aprendizagem. Conforme observam

Okada e Leslie (2012, p. 1), o conceito da web 2.0, construído dentro dos

princípios dos recursos abertos e colaborativos e do compartilhamento de

informações em larga escala, permite que os usuários se tornem participantes

ativos e também coautores criativos.

Compartilhando do mesmo raciocínio, García e López-Pérez (2013, p. 127)

observam que a eclosão e o rápido desenvolvimento da web 2.0 alteraram a

estrutura de aprendizagem, permitindo que estudantes e professores disponham não

só de conteúdos multimídia mas também de inúmeros outros recursos com grande

potencial educativo, tais como ambientes para compartilhamento de arquivos,

32

plataformas para produção colaborativa, etc. Essas autoras ainda destacam que o

surgimento de tais aplicativos acontece de forma muito rápida, reagindo às

demandas cada vez mais específicas dos usuários da rede.

Pesquisas realizadas em áreas de educação bastante diferentes, tais como

sociologia, física, economia e tecnologia da informação, sugerem que as redes

modificam efetivamente a estrutura hierárquica das instituições tradicionais. Isso

acontece porque, quando qualquer membro de um grupo tem acesso aos recursos

necessários para obter e produzir as informações, ao se procurar “quem entende

do assunto” é possível haver diferentes caminhos e não um só, como ocorre nas

estruturas hierarquizadas (SIEMENS, 2008, p. 5).

Mas é preciso utilizar os recursos da rede de maneira adequada para que

ela não sirva apenas para reproduzir conteúdos meramente reformatados. Na

opinião de Ferreira et al (2012, p. 8), é preciso que o professor não permaneça

limitado ao usual, mas seja capaz de otimizar a rede para que possa estabelecer

uma aprendizagem colaborativa, uma forma de ensinar e aprender com objetivos

claros, metodologias e avaliações definidas e alinhadas de forma coerente à

proposta.

Processos pedagógicos baseados na teoria sociointeracionista e na abordagem

de aprendizagem ativa assumem que os alunos criam conhecimento e significado por

meio da experimentação e da exploração das ideias no mundo real. Ou seja, os alunos

interagem entre si, com o ambiente de aprendizagem e com o assunto aprendido. Para

Palloff e Pratt (2007, p. 16), a interação e o feedback com outras pessoas ajuda a

determinar a acurácia e a aplicação das ideias, de tal maneira que os objetivos comuns,

a colaboração e o trabalho conjunto forçam o processo de aprendizagem. Nesse tipo de

abordagem, o professor assume, principalmente, o papel de elemento facilitador dentro

do processo de aprendizagem.

3.2 O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL NO AMBIENTE SOCIAL

No estudo sobre o uso de redes virtuais com finalidades pedagógicas que foi

realizado para a elaboração da presente pesquisa, uma das primeiras etapas foi

compreender os diversos conceitos, métodos e estratégias de ensino, já

implementados ou não, para que então fosse possível focar nas propostas que se

33

mostrem mais apropriadas para um processo eficaz de aprendizagem através de um

ambiente virtual. Dentre esses conceitos está a teoria sociointeracionista postulada

por Vygotsky, que, em linhas gerais, considera a interação do indivíduo com o

ambiente social um aspecto fundamental para o desenvolvimento de seus

conhecimentos.

Como observou Oliveira (1993, p. 60) a respeito da teoria de Vygotsky, a

interferência de outras pessoas tem um efeito significativo na ação do indivíduo,

cujo desenvolvimento é ambientado socialmente. Na sociedade do século XXI, é

muito claro o processo interativo que existe entre as pessoas nas redes sociais,

ainda que isso não seja efetivamente orientado para o aprimoramento dos saberes.

Esse meio virtual de interação permite a troca de opiniões e também a

disseminação de informações comentadas, suscitando a discussão e o debate,

assim como os processos colaborativos para propostas em questões de cidadania

e outros assuntos práticos da vida cotidiana.

Nesse sentido, a primeira etapa de investigação desta pesquisa foi buscar

referências sobre as metodologias de aprendizagem colaborativa, e como elas se

articulam com os fundamentos da teoria de Vygotsky.

O bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) é considerado um

dos pesquisadores mais importantes no campo da psicologia e do

desenvolvimento humano, tendo deixado um enorme volume de produção

intelectual, apesar de ter morrido aos 37 anos de idade. Com formação em

direito, aprofundou seus estudos em história, literatura, filosofia, psicologia e

medicina, tendo realizado pesquisas sobre deficiência física e mental e,

principalmente, sobre o desenvolvimento psicológico da criança.

Para Oliveira (1993, p. 23), os estudos de Vygotsky são a base da teoria

sociointeracionista, uma abordagem que integra, dentro de uma mesma

perspectiva, o ser humano biológico, composto de corpo e mente, e também o ser

social participante de um processo histórico. Dessa forma, suas ideias se apoiam,

basicamente, em três pontos: as funções psicológicas têm um suporte biológico,

através da atividade cerebral; o funcionamento psicológico está fundamentado

nas relações entre o indivíduo e o mundo exterior e se desenvolve em um

processo histórico; e a relação entre o homem e o mundo se dá através da

mediação por instrumentos e sistemas simbólicos.

34

Na concepção de Vygotsky, o ser humano não pode ser analisado

isoladamente do grupo social ao qual ele pertence, pois é esse grupo que

proporciona os fundamentos para as atividades humanas, que são os

instrumentos e os signos de mediação. Nesse sentido, a inserção do indivíduo em

um determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria constituição

enquanto pessoa (OLIVEIRA, 1993, p. 79).

Portanto, o processo de construção e desenvolvimento do indivíduo, desde

criança, é fundamentado no aprendizado que, inevitavelmente, ocorre sob a

influência, direta ou indireta, dos outros indivíduos do grupo social.

O aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo dedesenvolvimento das funções psicológicas culturalmenteorganizadas e especificamente humanas. […] O aprendizadodesperta vários processos internos de desenvolvimento, que sãocapazes de operar somente quando a criança interage compessoas em seu ambiente e quando em operação com seuscompanheiros (VYGOTSKY, 1984, p. 101).

De acordo com a teoria de Vygotsky, o desenvolvimento do ser humano

segue um percurso que é determinado parcialmente pela maturação orgânica do

indivíduo, mas é o aprendizado que torna possível o surgimento dos processos

internos de desenvolvimento, que não se realizaria se não houvesse o contato do

indivíduo com seu ambiente cultural (OLIVEIRA, 1993, p. 56).

Ainda segundo Oliveira (1993, p. 37), a vida humana está impregnada de

significações e a influência do mundo social ocorre por meio de processos em

diversos níveis. Os grupos sociais em que os indivíduos nascem e se

desenvolvem produzem adultos que atuam psicologicamente de uma certa

maneira, conforme os modos culturalmente construídos de ordenar o real. A

relação entre as pessoas tem um papel fundamental na construção do ser

humano e, portanto, a interação social, que ocorre diretamente com outras

pessoas ou por meio dos diversos elementos da estrutura social, fornece as

bases para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. Assim, tomando como

ponto de partida a importância da interação social no processo de construção das

funções psicológicas humanas, Vygotsky desenvolve os aspectos fundamentais

da sua teoria. No entanto, é necessário observar que, para que seja possível

35

alterar o desempenho de um indivíduo a partir da interferência de outro, é preciso

que o indivíduo já tenha atingido um determinado estágio de desenvolvimento. Ou

seja, não é qualquer pessoa, em qualquer estágio de desenvolvimento, que pode

realizar qualquer tipo de atividade com a ajuda de outra. Em outras palavras, é

preciso que a pessoa já esteja em certo nível de desenvolvimento, com a

capacidade adequada para se beneficiar da colaboração de outra para executar

determinada tarefa.

Esse processo de desenvolvimento foi descrito por Vygotsky (1984, p. 97) a

partir de dois níveis. O primeiro, o nível de desenvolvimento real, é o estado em que

o indivíduo já tem a capacidade para realizar determinadas tarefas de forma

independente, e se refere às etapas já alcançadas, já conquistadas; é o resultado de

processos de desenvolvimento já completados e consolidados. O segundo, o nível

de desenvolvimento potencial, é a capacidade que o indivíduo tem de desempenhar

algumas tarefas com a ajuda de outros mais capazes. A distância entre esses dois

níveis é definida como zona de desenvolvimento proximal (ZDP). A Figura 4

apresenta uma ilustração deste processo.

FIGURA 4 – Zona de Desenvolvimento Proximal

Fonte: adaptado de Oliveira (1993, p. 58)

36

Em outro de seus estudos, Vygotsky (1994, p. 115) também observou que a

característica essencial da aprendizagem é que ela engendra o nível de

desenvolvimento potencial, ou seja, faz nascer, estimula e ativa no indivíduo uma

série de processos de desenvolvimento no âmbito das inter-relações com outros

que, em seguida, são capturados no processo de desenvolvimento e se transformam

em aquisições internas do indivíduo. Nessa linha de raciocínio, é possível afirmar

que é a aprendizagem que propicia o desenvolvimento.

Para Vygotsky a zona de desenvolvimento proximal representa um sistema

dinâmico, sempre em mudança. À medida que a criança aprende e se desenvolve, a

zona de desenvolvimento proximal se move, indicando o domínio de determinadas

tarefas (na parte inferior da zona), e assim as novas tarefas (na parte superior da

zona) podem ser realizadas com uma ajuda significativa. A colaboração de outras

pessoas, sejam adultos ou outras crianças mais capacitadas, leva ao

desenvolvimento da maneira apropriada culturalmente (DOOLITTLE, 1995, p. 6).

Compartilhando do entendimento de que a aprendizagem é um aspecto da

prática social, Lave e Wenger (1991, p. 53) descreveram o processo de aprender

como sendo não só ações por meio de determinadas atividades, mas também uma

relação com grupos sociais, envolvendo inteiramente as pessoas. Assim, as

atividades, tarefas e funções que compreendem o processo de aprendizagem são

apenas uma parte de um sistema mais amplo de relações, dentro das quais

aquelas atividades passam a ter efetivamente um significado. As pessoas são

definidas por essas relações, mas, ao mesmo tempo, também as definem, de tal

maneira que a aprendizagem implica em se tornar uma pessoa diferente a partir

das possibilidades que são criadas por esse sistema de relações. Nesse sentido, o

processo de aprendizagem envolve a construção de identidades, constituindo

assim uma interação mútua entre identidade, saber e participação social.

Fazendo uma transposição da teoria sociointeracionista para a era atual da

internet, Mello e Teixeira (2011, p. 136) afirmam que as redes dinâmicas modernas

também propiciam interações de pessoas e, como o indivíduo depende de outro

para existir como ser, ele, mais do que um mero elemento da rede, é capaz de

pensar, se comunicar, agir e colaborar nesse meio.

Dessa maneira, o processo de interação social, capaz de produzir

aprendizado, pode ser potencializado pela utilização de uma estrutura moderna de

37

rede, onde os indivíduos se aproximam e interagem conforme seus interesses

comuns, de maneira semelhante ao processo do “mundo real”.

3.3 COLABORANDO PARA APRENDER

Dentre as propostas pedagógicas que se apoiam nas redes e comunidades

virtuais, uma alternativa bastante promissora é o processo da aprendizagem

colaborativa, cuja eficiência tem sido objeto de muitos estudos no meio acadêmico,

tais como os de Torres (2002), da Silva (2010), Silva (2011) e Cernev (2015). Nesse

tipo de abordagem, baseada na produção de saber coletivo, cada participante

colabora com o conhecimento que detém sobre determinado assunto, e as

colaborações individuais são trabalhadas pelo grupo para se chegar a resultados

mais aprimorados sobre o tema, produzindo assim um conhecimento mais sólido e

disponível para todos.

Segundo Dillenbourg et al (1996, p. 190), a colaboração ocorre quando se

tem a interação de duas ou mais pessoas, em determinada estrutura social e dentro

de certas condições, produzindo um efeito positivo para elas. Isto requer um

engajamento mútuo, de maneira a gerar um esforço coordenado para a solução em

conjunto de um problema que seja de interesse comum.

Na opinião de Torres (2002, p. 42), um processo de aprendizagem

colaborativa é qualquer atividade que envolva pessoas com um interesse comum e

objetivando aquisições determinadas. Esse tipo de processo também tem como

característica o fato de não ter uma condução pedagógica hierárquica e unilateral, e,

ao mesmo tempo, possibilitar uma socialização através da aprendizagem.

A aprendizagem colaborativa é um processo que ocorre pela interação, com

os alunos agindo em conjunto para analisar alternativas, encontrar soluções e

chegar a um resultado de comum acordo. Os interesses comuns acabam produzindo

respeito mútuo, fazendo com que cada um valorize os conhecimentos dos demais.

A aprendizagem colaborativa opera dentro de uma perspectiva

sociocultural, na qual o indivíduo interage com o meio social, conforme os

princípios da teoria proposta por Vygotsky, que preconiza a importância da

participação nas práticas sociais para a criação de conhecimento. Segundo

Hakkarainen (2013, p. 58), a aprendizagem humana não se dá na mente dos

38

indivíduos, mas sim nas interações sociais, nas práticas culturais e na

reciprocidade das transformações pessoais e sociais. Em uma abordagem

sociocultural, o significado da linguagem ganha ênfase como base para a

compreensão das atividades humanas.

Adotando também a obra de Vygotsky como ponto de referência sobre a

influência do meio social no processo de aprendizagem, De Laat (2006, p. 17)

afirma que ao se reunirem pessoas, a própria condição de grupo pode exercer um

forte efeito de mediação nos processos individuais cognitivos e conceituais. Além

disso, de acordo com os estudos de Dillenbourg e Schneider (1995, p. 192),

pesquisas mostraram que, dentro de um grupo constituído para a aprendizagem de

determinado assunto, mesmo aqueles que já têm maior conhecimento acabam

aprendendo também com os demais.

Para Wenger (1998, p. 3), aprender é, em sua essência, um fenômeno

fundamentalmente social; a aprendizagem pode ser entendida como um processo

de realinhamento entre a competência definida socialmente e a experiência pessoal,

uma puxando a outra. Esse fenômeno também já havia sido resumido muito bem por

Freire (1970, p. 46), ao afirmar que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si

mesmo; os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Quando um grupo de pessoas se reúne com o objetivo de aprender algo,

abre-se a possibilidade para a promoção de ações interpessoais bastante

positivas. Além da aquisição do conhecimento, que é o objetivo principal, pode-se

destacar ainda outros aspectos relevantes que se desenvolvem dentro de um

processo de aprendizagem colaborativa, tais como a organização do processo

de colaboração, o desenvolvimento cognitivo, o aprimoramento das relações

interpessoais, dentre outros.

Goodyear (2004, p. 81) afirma que a colaboração pode beneficiar a

aprendizagem em pelo menos dois aspectos. Em primeiro lugar, é preciso que os

membros de um grupo que se dispõem a colaborar entre si exponham suas ideias.

Com isso, quando a pessoa apresenta uma opinião às outras, estas são motivadas a

examinar suas próprias ideias e também trazê-las aos demais. Por outro lado, o ato

de se participar de um processo colaborativo também ajuda a desenvolver em cada

um algumas habilidades pessoais relevantes, tais como a comunicação, a

coordenação e o autogerenciamento.

39

Para Ramos (2010, p. 89) a produção em conjunto, através da interação das

pessoas, permite obter soluções eficientes porque as respostas coletivas tendem a

agregar mais qualidade, a partir da adição e do aprimoramento das contribuições de

cada um. Em um processo de aprendizagem por colaboração, portanto, o

compartilhamento de experiências pode provocar debates e contribuições

significativas. O processo de colaboração não se limita a um auxílio ao colega na

realização de uma tarefa e nem na sugestão de onde buscar determinada informação.

Kenski (2003, p. 112) destaca que colaborar é realizar atividades de uma maneira

coletiva, de tal forma que a tarefa executada por um indivíduo é o complemento do

trabalho dos demais. Dessa maneira, dá-se uma dependência entre eles para a

realização das atividades, e essa interdependência promove aprendizados complexos

de interação permanente, incluindo o respeito ao pensamento alheio, a superação de

diferenças e a busca de resultados que, no final do processo, trarão benefícios a todos.

De acordo com Dillenbourg et al (1996, p. 196), a colaboração é uma

maneira de se construir e manter um conceito compartilhado de um determinado

problema. Enquanto outras estratégias assumem uma abordagem no âmbito

individual, a cognição compartilhada foca no plano social, de tal maneira que os

novos conceitos são analisados como um objeto coletivo. Dessa forma, debates e

explicações desenvolvidos dentro de um grupo colaborativo tendem a ampliar o

nível de conhecimento.

O processo colaborativo não dilui os participantes do grupo e nem os

torna iguais. Entretanto, a troca de informações e opiniões, as questões e as

soluções apresentadas aos membros do grupo propiciam a construção de

conhecimentos que podem ser compartilhados por todos os participantes. Ou

seja, o grupo como um todo se torna uma ferramenta, um instrumento a serviço

da construção coletiva do saber.

Em sua análise a respeito das teorias cognitivas adotadas em processos

de aprendizagem colaborativa, Dillenbourg et al (1996, p. 193) observaram que,

dentro de uma perspectiva sociointeracionista, quando um indivíduo participa da

solução conjunta de um problema ele passa a compreender a questão por um

mecanismo chamado de “apropriação”, que é um processo mútuo onde cada um

dos participantes dá sentido às ações dos demais, conforme a sua própria

estrutura conceitual.

40

Assumindo uma proposta de aprendizagem dentro do molde colaborativo, as

estratégias pedagógicas devem ser focadas na construção do conhecimento e na

cooperação mútua entre os participantes. Nesse processo, o sucesso das atividades

depende de um planejamento adequado, pois, enquanto no ensino tradicional a

autoridade, o controle e a estrutura do processo estão bem definidos e são

exercidos pelo professor, nas atividades colaborativas que ocorrem dentro de um

grupo a estrutura é bem diferente (TORRES et al, 2004, p. 140).

Pelo exposto até aqui, é possível destacar alguns aspectos que associam a

aprendizagem colaborativa com a teoria sociointeracionista. Primeiro, porque a

abordagem de Vygotsky se baseia no princípio de que o desenvolvimento do

indivíduo é dependente de interações com os outros. Nesse sentido, um grupo de

aprendizagem oferece efetivamente uma potencialidade para promover tal processo,

por meio das ações de apoio, influência, motivação e desafio que ocorrem entre os

participantes. Em segundo lugar, as eventuais diferenças de conhecimentos entre os

membros do grupo acabam produzindo ações mútuas sobre suas respectivas zonas

de desenvolvimento proximal, estimulando-os entre si e, dessa forma,

proporcionando um ganho coletivo e compartilhado de conhecimentos, o que

certamente também colabora para o desenvolvimento individual de cada um. Por

fim, a aquisição e a manipulação de habilidades interpessoais dentro do grupo,

assim como o desenvolvimento e o compartilhamento de métodos de cooperação e

planejamento, também estão associados às ideias de Vygotsky a respeito da

necessidade fundamental do uso de signos e instrumentos de mediação no

processo de interação social, tanto nas relações “externas” de cada indivíduo com

os demais participantes, quanto nas suas próprias operações psicológicas internas.

Um outro aspecto também importante para o processo colaborativo é a

motivação, que provavelmente é um dos requisitos mais relevantes para que

alguém possa aprender alguma coisa. Muitas vezes a maior motivação do aluno é

conseguir a aprovação e, por causa disso, boa parte do que se ensina acaba

sendo perdida. Nos dias atuais, com a fluidez das informações e a velocidade dos

acontecimentos, as pessoas geralmente desejam resultados imediatos,

interessando-se mais em saber fazer do que entender como se faz. A grande

dificuldade de quem ensina é encontrar um método que seja realmente motivador

dentro de um universo carregado de distrações. Usar os recursos tecnológicos

41

apenas porque são modernos não significa inovar, até porque os alunos

geralmente conhecem esses recursos muito melhor do que o professor. A questão

é como implementar métodos que, por meio dos recursos tecnológicos, consigam

promover motivação para obter sucesso na produção de conhecimento.

Existem fatores que podem tornar o processo de aprendizagem colaborativa

mais motivador para o aluno, tais como a integração de tarefas interessantes e

desafiadoras, o desenvolvimento da responsabilidade individual e também a

interdependência dos participantes. Além disso, trabalhar com outras pessoas pode

ajudar a promover um convívio harmonioso e, com isso, desenvolver novos objetivos

no aluno, o que ajuda a motivação (ROGAT et al, 2013 p. 251).

Conforme destacado por Kenski (2003, p. 113), a sensação de

pertencimento que o indivíduo tem em relação a um grupo que atua com interesses

comuns, pessoas com quem é possível compartilhar ideias, ensinar e aprender

sobre os temas que lhe são importantes, pode ser um fator de motivação que

propicia um processo significativo de aprendizagem. Participando com suas

colaborações e opiniões, compartilhando as ideias dos demais participantes,

reconhecendo e sendo reconhecida dentro do grupo, a pessoa é capaz de

desenvolver suas potencialidades e seus talentos. Também segundo a autora, a

pessoa consegue aprender até mais do que o foco inicial de seu interesse quando

se encontra integrada socialmente em um grupo e participa da troca de

conhecimentos com os outros.

Pallof e Pratt (2007, p. 232) destacam que a criação de uma comunidade

de aprendizagem estimula a aquisição de conhecimento e produz uma certa

empolgação nos participantes, de tal maneira que mantém sempre renovado o

interesse na exploração de novos assuntos. O processo colaborativo que se

desenvolve quando as pessoas se reúnem para aprender pode criar uma

atmosfera bastante positiva, proporcionando uma apropriação e um

compartilhamento de conhecimento muito mais amplo do que se poderia obter por

um estudo individual e independente.

Usando como exemplo a própria internet, boa parte das pesquisas que

levaram ao seu desenvolvimento se deu por produção cooperativa com recursos

compartilhados. Isaacson (2012, p. 497) afirma que a internet tornou possível a

colaboração em escala muito mais ampla, e apresenta alguns exemplos de recursos

42

tecnológicos que se desenvolveram graças a imensa facilidade proporcionada pela

interconexão em rede, tais como, a Wikipedia, o sistema operacional Linux, e os

softwares LibreOffice e Firefox.

Apesar dos diversos pontos positivos que foram apresentados até aqui em

relação ao processo de aprendizagem colaborativa, é importante observar que,

assim como em qualquer abordagem pedagógica, existem aspectos que precisam

ser observados com atenção, para que a adoção de um método baseado nesse tipo

de processo possa ser bem sucedida, sobretudo quando implementado para operar

a distância, através da internet.

Para Hartley e Collins-Brown (1999, p.24), pode não ser tão fácil obter todos

os benefícios em um grupo de aprendizagem colaborativa. Por exemplo, quando

uma pessoa tenta explicar a outra determinado assunto, para que o diálogo possa

ser bem sucedido é preciso levar em conta o nível de conhecimento da outra

pessoa, o que nem sempre é possível de se avaliar em uma conversação on-line.

Além disso, se os participantes não desenvolvem um sentido suficientemente forte

de comunidade, talvez não dediquem o empenho ou a responsabilidade suficientes

para colaborar com outras que não têm o mesmo grau de conhecimento.

Dentre os problemas apontados por Webb (2013, p. 22), estão a

tendência dos alunos em apresentarem suas ideias ao grupo sem elaborá-las da

maneira adequada, o receio que alguns deles têm em buscar ajuda e serem

julgados incompetentes, e por causa disso tornarem-se indesejáveis no grupo, e

até mesmo eventuais relações de hostilidade que acabam por alijar algumas

pessoas de uma participação efetiva no grupo.

Também Ramos (2010, p. 33) apresenta algumas dificuldades que podem

ocorrer em comunidades virtuais de aprendizagem. Elas estariam vinculadas a

diferenças de hábitos, comportamento e ritmo, criando dificuldades de interação,

com alguns participantes colaborando mais do que outros, e com diferentes níveis

de qualidade e consistência. Quando se usa a comunicação on-line por mensagens

assíncronas ou e-mail, por exemplo, é provável que se tenha uma irregularidade nos

tempos de resposta, o que pode vir a prejudicar o fluxo interativo. É preciso, ainda,

administrar divergências e minimizar conflitos para conseguir efetivamente a

construção de conhecimento. Também é fundamental promover a conscientização

das pessoas quanto à sua responsabilidade e ao seu compromisso de participação.

43

Os desafios apontados por Rogat et al (2013 p. 251) destacam aspectos

relacionados à motivação dos membros do grupo. Em primeiro lugar, devido aos

diferentes níveis de habilidade e conhecimento, os participantes que estão acima da

média podem achar que terão seu ritmo de aprendizagem reduzido ao trabalharem

junto com os menos capacitados. Um segundo aspecto está relacionado com a

dinâmica de participação de cada um, como, por exemplo, no caso em que alguns

membros têm menor atividade dentro do grupo e deixam o trabalho por conta dos

demais, reduzindo a motivação destes. E há ainda uma questão relacionada às

diferenças de perspectivas: apesar do objetivo comum, alguns participantes podem

se desmotivar ao perceberem que para trabalhar em grupo e produzir resultados

coletivos é preciso um grau maior de compromisso e de participação do que quando

se trabalha ou estuda sozinho.

Colocando de uma forma resumida as referências aqui apresentadas, é

possível entender que a implementação de um grupo com o objetivo de estudar e

aprender determinado assunto, usando para isso uma estratégia de colaboração

entre seus membros, pode trazer resultados bastante positivos não apenas no

assunto específico que é o objeto do estudo, mas também em outros aspectos

individuais e coletivos. Conforme a concepção da teoria sociointeracionista, de

que uma pessoa se desenvolve pela interação com os demais, quando os

participantes de um grupo colaboram entre si, apresentando suas ideias e

opiniões, compartilhando informações e propondo soluções, estimulando o

diálogo e o debate, então as diferenças de conhecimento entre eles podem

promover interações e produzir estímulos que levem a um ganho coletivo e

compartilhado dos conhecimentos obtidos, além de contribuírem para o

desenvolvimento individual de cada um. Dessa maneira, consegue-se

proporcionar a todos uma compreensão mais profunda do assunto, possibilitando

assim a construção de uma base sólida de conhecimento.

Além disso, a interdependência que é criada nos participantes dentro do

processo colaborativo também pode ajudar a desenvolver outros aspectos que, em

certa medida, agregam competência aos membros do grupo, tais como o respeito à

opinião dos outros, a superação de diferenças, a responsabilidade de cooperar no

desenvolvimento coletivo, dentre outros. Nesse contexto, cabe observar, ainda,

que a participação do professor passa de detentor e transmissor exclusivo do

44

conhecimento para mediador de debates e conflitos, e articulador entre o

conhecimento disponível e o conhecimento que está sendo desenvolvido no grupo.

Por fim, não se pode esperar que um processo novo esteja imune a

dificuldades. O sucesso na implementação de uma comunidade virtual de

aprendizagem colaborativa depende de uma boa coordenação para que os objetivos

não fiquem perdidos no meio de debates e conflitos, assim como depende de uma

manutenção efetiva e constante do nível de motivação de seus participantes.

3.4 COMUNIDADES DE PRÁTICA

A “comunidade de prática” (CoP) é uma das estratégias que utilizam redes

para implementar processos de aprendizagem colaborativa. As características

principais dessa abordagem incluem o engajamento dos participantes na

comunidade, a sua forte identificação com o objeto do estudo e, sobretudo, o

desenvolvimento de uma experiência ou prática que tenha verdadeiro significado

para eles. Nesse sentido, uma comunidade de prática não é simplesmente a reunião

de pessoas interessadas em determinado tema, mas um grupo que compartilha

suas experiências práticas sobre algum assunto específico, e que tem como objetivo

trabalhar em conjunto para o desenvolvimento de novos entendimentos a partir

dessas experiências.

Esse tipo de processo de aprendizagem existe desde as eras mais remotas

da história da humanidade, podendo-se citar como exemplo as comunidades de

artesãos e ferreiros da Grécia antiga. Entretanto, a sua conceituação como um

processo pedagógico só veio a ser tratada com profundidade e sistematização há

cerca de duas décadas, com estudos e pesquisas desenvolvidos por Etienne

Wenger, que então adotou essa denominação.

Na definição de Wenger (2015, p. 1), uma comunidade de prática é um

grupo de pessoas que compartilham um interesse pelo que fazem, e desejam

aprender a fazê-lo melhor a partir da interação que promovem no grupo. Dentro

desse contexto, a comunidade de prática pode ser entendida como um sistema de

aprendizagem social.

Talvez o termo “comunidade” dê uma conotação de algo pouco pretensioso

e desprovido de um foco específico. No entanto, diferentemente de um grupo de

45

amigos ou de alguns entusiastas de cinema, ou de qualquer outro assunto, que se

reúnem eventualmente, uma comunidade de prática é um grupo com uma

identidade muito bem definida a respeito de determinado domínio ou assunto de

interesse prático. Portanto, fazer parte desse tipo de comunidade implica um

comprometimento com o domínio compartilhado por todos, e é esse

compartilhamento que diferencia os participantes das outras pessoas.

Em sua conceituação original, onde são apresentados os fundamentos da sua

proposta para uma teoria social de aprendizagem, Wenger (1998, p. 72) propôs três

dimensões para a relação na qual a prática é a fonte de coerência na comunidade.

FIGURA 5 – As três dimensões das comunidades de prática Fonte: adaptado de Wenger (1998, p. 73)

O domínio é o objeto de interesse comum entre os participantes, porém,

segundo Wenger (1998, p.78), não é simplesmente uma meta estabelecida, mas

algo que cria entre os participantes relações mútuas de responsabilidade e

comprometimento, os quais se tornam partes da prática. Como a comunidade de

prática está bastante direcionada para um assunto de interesse comum, não é

apenas uma reunião de pessoas, uma rede qualquer. No caso da comunidade de

prática, o que difere os participantes das outras pessoas é que para fazer parte do

grupo é preciso ter um nível mínimo de conhecimento do objeto de interesse

(WENGER, 2001, p.2).

A comunidade, na definição de Wenger (1998, p. 75), é o modo como são

tratadas as configurações sociais nas quais as pessoas atribuem valores aos seus

empreendimentos e onde a sua participação é reconhecida como competência. A

46

comunidade aqui não tem o sentido de localidade ou vizinhança. Ela é construída a

partir do engajamento mútuo dos seus participantes, e envolve as competências, as

experiências, as contribuições e os conhecimentos de todos, os quais não precisam

ser necessariamente iguais. As interações são fundamentais para manter os

participantes em torno da comunidade. Concentrando e intensificando seus

interesses no domínio comum, os participantes acabam se envolvendo em

atividades coletivas, discutindo assuntos afins, ajudando-se mutuamente e

compartilhando informações (WENGER, 2001, p.2).

A prática, segundo Wenger (1998, p. 47), é o modo como são tratados os

recursos históricos e sociais, e as estruturas e perspectivas que podem sustentar

as ações de engajamento mútuo das pessoas, já que a prática é sempre social.

Embora geralmente essa palavra assuma um sentido de “fazer”, o conceito de

prática aqui inclui tanto o explícito quanto o tácito; o que foi dito e o que não foi

dito; o que está representado e o que foi assumido. A prática é, acima de tudo, o

processo que dá significado à experiência das pessoas e ao seu engajamento com

o mundo. Em uma comunidade de prática, as pessoas desenvolvem o que Wenger

(2001, p.2) chama de repertório de recursos, na forma de experiências e histórias,

ferramentas e métodos de solução de problemas, isto é, a prática compartilhada.

Wenger (1998, p. 227) destaca que o processo de aprender é

fundamentalmente experimental e social porque envolve as experiências próprias de

cada um, participando e produzindo novos significados para essas experiências, e

também porque trata das formas de competência que são definidas nas

comunidades. Nesse sentido, a aprendizagem é concebida como uma articulação

mútua entre a experiência e a competência, uma atuando sobre a outra.

Por competência entende-se aqui um conjunto de critérios e expectativas

que podem caracterizar a pessoa como membro da comunidade. A competência,

nesse caso, não se restringe apenas a ter habilidade para realizar determinadas

tarefas ou ter determinadas informações, mas envolve as habilidades de se engajar

com os demais participantes e interagir com suas ações, estabelecendo relações

que vão ajudar a determinar as bases de identidade do grupo. Envolve ainda a

capacidade de compreender a função da comunidade e assumir responsabilidade

em contribuir para o seu desenvolvimento, e também saber usar a experiência

prática e o acervo produzidos coletivamente (WENGER, 1998, p. 137).

47

Diferentemente do que ocorre na maioria das salas de aula, onde as

atividades envolvem um conhecimento abstrato que em geral está dissociado de

um contexto prático, o processo nas comunidades de prática se desenvolve na

forma de uma “aprendizagem situada”, isto é, de uma maneira natural e

incorporada à atividade, ao contexto e à cultura. Esse processo pode, inclusive, se

desenvolver de forma não intencional. Para Lave e Wenger (1991, p. 29), a

aprendizagem situada tem como característica principal o que eles designaram

como sendo uma “participação periférica legitimada”, um processo pelo qual os

novos participantes da comunidade de aprendizagem vão gradualmente

dominando as habilidades e competências, demonstrando-se aptos aos membros

mais experientes e, dessa maneira, legitimando a sua participação dentro da

comunidade. É através da participação na comunidade de prática que vão sendo

delineadas as identidades dos mais novos, dando-lhes um significado ao

conhecimento adquirido. Os membros novos e os mais experientes tornam-se

interdependentes, uns para aprender e os outros para levar a comunidade adiante.

O sucesso da comunidade reside na transição dos participantes novos em

membros experientes, sendo essa dinâmica um aspecto fundamental para o

processo de aprendizagem (LAVE, 1991, p. 74).

O que move a comunidade de prática é a necessidade individual de cada

participante em aprender um determinado assunto que é de interesse comum. Ao se

reunirem para isso, eles cooperam e se ajudam mutuamente, compartilham ideias e

informações e, dessa forma, acabam criando conhecimento coletivo. No decorrer de

todo esse processo vão desenvolvendo a percepção de pertencimento à

comunidade.

Além de ser um grupo que compartilha um assunto de interesse comum e

congrega pessoas que desejam alcançar metas tanto individuais quanto coletivas,

de acordo com Cambridge et al (2005, p. 1) a comunidade de prática tem como

foco o compartilhamento das melhores práticas e a criação de novos

conhecimentos, com o objetivo de avançar no domínio da prática profissional. Para

isso, a interação entre os participantes é considerada uma característica

fundamental.

Como observa Wenger (2010, p. 141), as comunidades de prática têm uma

estrutura relativamente des-hierarquizada e autogovernada, mas isso não significa

48

que as suas atividades se desenvolvam de maneira desorganizada. Ademais,

embora uma comunidade de prática possa reunir muitas pessoas sem uma

hierarquia formal, geralmente há um grupo principal, cujo interesse no assunto é

mais forte, que estimula os demais e que assume naturalmente a liderança.

No entanto, a interação dos participantes não é um fenômeno livre de

tensões. Wenger (2010, p. 2) afirma que, quando a aprendizagem ocorre em

sistemas sociais do tipo das comunidades de prática, o processo de definição de

responsabilidades e qualificação de competências implica em uma questão de

poder. Toda forma de aprendizagem resulta em uma competência, que pode ou não

funcionar, isto é, que pode ser legitimada pela comunidade ou pode mudar os

critérios de competência desenvolvidos na comunidade. Dentro dessa perspectiva, a

comunidade de prática funciona em equilíbrio instável no meio de um conjunto de

experiências, cada uma delas atuando sobre a conceituação de competência que

define a comunidade.

Em termos de aplicação, as comunidades de prática podem ter focos de

aprendizagem bastante diversos, sendo implementadas para atuar em diferentes

áreas, tais como educação, administração, indústria, saúde, dentre outras. São os

objetivos específicos de uma determinada comunidade que orientam quais as

atividades e quais as tecnologias mais adequadas a serem usadas para o seu

funcionamento.

No âmbito das corporações, as comunidades de prática podem direcionar

estratégias, gerar novas linhas de negócios, solucionar problemas, promover a

divulgação de boas práticas, desenvolver habilidades profissionais e até mesmo

ajudar empresas a recrutar e preservar talentos profissionais (WENGER e SNYDER,

2000, p. 139).

No âmbito da educação, as comunidades de prática têm tido um uso

crescente no desenvolvimento profissional, mas elas também apresentam uma

forte perspectiva nos processos de aprendizagem de uma forma geral. Além disso,

as possibilidades oferecidas por esta estratégia vêm estimulando o surgimento de

novas ideias na concepção de oportunidades de aprendizagem, e também

oferecendo mais subsídios para o debate sobre o papel das instituições de ensino.

Segundo Wenger (2010, p. 7), as novas tecnologias, sobretudo com o crescimento

das redes sociais, despertaram um enorme interesse nas comunidades de prática,

49

pois se ajustam de forma bastante adequada ao processo de aprendizagem

promovido pela interação das pessoas, que é uma característica típica das

comunidades de prática.

O domínio ou objeto de interesse coletivo tem uma importância fundamental

na implantação e no desenvolvimento da comunidade de prática. Em relação a esse

aspecto, Iazzetta menciona as comunidades virtuais que surgem na internet para

tratar de assuntos técnicos da área musical, e destaca que, embora os membros

dessas comunidades troquem opiniões sobre seus trabalhos e suas preferências

artísticas, o que os mantém no grupo é o modo como trabalham com os recursos

tecnológicos. Exemplos ilustrativos deste engajamento são as comunidades

focadas na plataforma Max2, que podem congregar vários profissionais de diversas

vertentes musicais, incluindo músicos de rock, técnicos de som, compositores

eletroacústicos e desenvolvedores de multimídia. Todos eles bastante identificados

com uso daquele recurso (IAZZETTA, 2009, p. 197).

As comunidades de prática podem ser baseadas em encontros presenciais

ou virtuais, sendo que nesse último caso a interação acontece por meio de recursos

colaborativos de comunicação pela internet. Collis (2005, p. 199) afirma que o uso

dos recursos de comunicação para o compartilhamento do conhecimento nas

comunidades de prática faz dessa estratégia uma modalidade muito mais rica para a

aprendizagem a distância. A ilustração da Figura 6 apresenta uma comparação das

diferentes estratégias de aprendizagem a distância.

Segundo Collis (2005, p. 200), as ferramentas de rede provêm às

comunidades de aprendizagem o acesso às informações a distância e em

profundidade, ao longo do tempo. Dependendo do tipo, a comunidade também pode

contribuir para a aprendizagem de pessoas não participantes do grupo, como, por

exemplo quando disponibiliza suas informações via Internet. Na comparação dos

processos de aprendizagem a distância na Figura 6 e tendo como referência as

dimensões de conteúdo e de comunicação, na base inferior da escala estão os

métodos mais simples de ensino a distância, que oferecem pouca comunicação e

um conteúdo relativamente limitado, enquanto que, por outro lado, as comunidades

de prática utilizam a comunicação para o compartilhamento e a construção coletiva

2 Max é uma plataforma de programação orientada para aplicações de música e multimídia. Com uma interface visual bastante amigável e com grande modularidade, permite a construção de aplicativos e plug-ins para processamentos de áudio, síntese de sons e outras aplicações.

50

do conhecimento, sendo, portanto, uma abordagem bem mais rica em termos de

processo de aprendizagem em redes virtuais.

FIGURA 6 – E-learning x CoP Fonte: adaptado de Collis (2005, p. 200)

O aprimoramento crescente das tecnologias de informação e

comunicação através da internet vem produzindo um aumento significativo das

relações interpessoais por meio de estruturas de comunidades virtuais e de redes

sociais. Essa realidade vem exercendo certa pressão também nos âmbitos

profissionais e educacionais, de tal maneira que há uma tendência progressiva

para uma interação cada vez maior das pessoas dentro desses segmentos.

Cerdà e Planas (2011, p. 198) apontam que o sucesso das instituições modernas

não se limita à capacidade criativa individual, uma vez que se desenvolve das

capacidades participativas e organizadas de grupos de profissionais e da geração

coletiva de conhecimento compartilhado. Ou seja, é praticamente impossível nos

dias de hoje conseguir um elevado nível de talento em uma única pessoa.

51

Quando as pessoas interagem, elas agregam novos conhecimentos aos

conhecimentos que já têm, de uma forma acumulativa. Para Isaacson (2012, p. 493), a

criatividade, em todas as áreas, é um processo colaborativo, e é mais provável que

surja uma inovação do trabalho em conjunto do que do insight de um gênio. Em

diversos episódios da evolução da humanidade, como na Revolução Científica, no

Iluminismo e na Revolução Industrial, o que ocorreu foi um trabalho em colaboração,

em processos exemplares de compartilhamento de ideias. Isso está bem claro na

célebre frase de Isaac Newton na carta que escreveu a seu colega cientista Robert

Hook, em fevereiro de 1675: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de

gigantes.” (BREWSTER, 1855, p. 142; tradução nossa).

Dessa forma, o funcionamento bem sucedido de uma comunidade de

prática está diretamente associado ao grau de participação e comprometimento

de cada um dos seus membros. Moser (2010, p. 240) observa que no caso de

uma comunidade de prática não basta fazer parte do grupo; é preciso que todos

contribuam para que possam desenvolver a aprendizagem daquilo que desejam.

Nesse sentido, nenhum participante deve ter receio de apresentar suas opiniões

e dúvidas para os demais.

Ainda com relação ao desenvolvimento de comunidades de prática, Sarruf

(2011, p. 50) também observa que, na formação profissional, uma grande parte

da aprendizagem se dá informalmente, através do compartilhamento de

experiências, conhecimentos e soluções de problemas. E com o advento da

internet e dos recursos modernos das ferramentas colaborativas que se tem hoje

nos ambientes virtuais, há uma tendência cada vez mais forte para a interação e

colaboração entre as pessoas.

A atuação de uma comunidade de prática se desenvolve em diferentes fases,

pois, de acordo com Wenger (2009, p. 23), as ações e interações dos participantes

afetam a natureza do ambiente da comunidade e os seus participantes, e ainda afetam

outras pessoas com quem esses participantes também interagem. Dessa forma, o

comportamento desenvolvido nesta aprendizagem pode ultrapassar os limites da

comunidade e afetar a capacidade de aprendizagem em um universo muito maior.

O desenvolvimento típico de uma comunidade de prática, conforme

descrito por Wenger et al (2002, p. 71-109), envolve cinco estágios, que estão

ilustrados no gráfico da Figura 7 e são descritos a seguir.

52

FIGURA 7 – Evolução de uma comunidade de prática Fonte: Wenger et al (2002, p. 69)

No primeiro estágio da evolução de uma comunidade de prática, definido

como “potencial”, a preocupação principal é fazer com que os participantes

percebam claramente o ponto em comum que existe entre eles e valorizem as

possibilidades de troca de informações, experiências e outras interações dentro da

comunidade. Nessa fase os participantes se empolgam ao descobrir que há outras

pessoas com forte interesse nos mesmos assuntos, que podem oferecer

informações, contribuir para soluções das questões comuns, um processo que todos

aprendem. Uma vez criada a comunidade, ela começa a atuar em um estágio

definido como “adesão”, quando então é fundamental introduzir atividades que

permitam estabelecer relações entre os participantes, para que eles comecem a

construir confiança mútua e configurar seus interesses e necessidades. O estágio

seguinte é chamado de “maturação”, quando os participantes passam da fase de

determinação de valor para uma fase em que o foco e o papel da comunidade vão

ficando mais claros, assim como seus limites. A partir das interações e atividades

coletivas, os participantes passam a ter um conhecimento do perfil dos demais e a

maneira como abordam as questões, seus pontos de interesse, sua vontade de

participar e suas perspectivas. É provável que os participantes mais experientes

53

desenvolvam algum tipo de tensão entre focar em seus próprios interesses e acolher

novos membros na comunidade. No quarto estágio, chamado de “atuação”, a

comunidade já consolidou conhecimentos e relacionamentos, e o maior problema é

manter sua atuação frente às mudanças naturais que surgem em relação à sua

prática, aos membros e à maneira como se relacionam. É nessa etapa que pode

ocorrer uma perda de energia e um declínio gradual da atividade. É comum haver

um conflito entre desenvolver métodos e abordagens próprias ou dar abertura para

novos membros com novas ideias. Por fim, a comunidade chega ao estágio da

“transformação”, quando ocorre uma abertura de limites e há o risco de perder o

foco original, na medida que os novos membros podem sentir menos vínculo com o

domínio, as práticas e os processos da comunidade. No entanto, se uma

comunidade se fecha, corre o risco de não mais evoluir. Na maioria dos casos, há

uma relativa instabilidade nos níveis de atividade nessa etapa; algumas se reativam

com a adesão de novos membros, algumas retrocedem para estágios anteriores e

outras simplesmente encerram suas atividades (WENGER et al, 2002, p. 71-109).

54

4 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a conceituação do trabalho e descreve a

implementação do processo de aprendizagem colaborativa no ambiente on-line.

Também descreve as etapas transcorridas na produção da pesquisa e a

metodologia empregada para a sua realização.

Na conceituação preliminar deste trabalho procurou-se enquadrá-lo aos

principais critérios estabelecidos para os estudos típicos de uma pesquisa de

Mestrado Profissional. Essa modalidade de pesquisa foi criada pelo Ministério da

Educação em 2009 e, conforme determina a regulamentação da CAPES –

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (MEC, 2009, p. 1),

tem como objetivo atender uma procura de profissionais altamente qualificados,

explorando as áreas que tenham uma demanda latente por formação de recursos

humanos com vistas ao desenvolvimento socioeconômico e cultural do país. Nesse

sentido, este trabalho busca possibilitar a incorporação da tecnologia na forma de

uma pesquisa orientada para a resolução de um problema específico, através do

desenvolvimento de um processo instrucional.

4.1 O AMBIENTE DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada no Grupo de Estudos de Síntese Sonora,

implementado no ambiente de aprendizagem Moodle disponível na estrutura de

ensino a distância da Yellow DJ, uma escola de Curitiba especializada em música

eletrônica, que oferece outros cursos a distância, porém baseados em métodos

convencionais com conteúdo em vídeo e texto.

O objeto da pesquisa é um processo de aprendizagem a distância que tem

como ponto de apoio o conceito de comunidade de prática. O foco da aprendizagem

é a síntese sonora, abrangendo desde as bases teóricas e os vários tipos de

tecnologias utilizados para produzir sons, até o funcionamento de diferentes

instrumentos e softwares sintetizadores e, principalmente, o desenvolvimento de

técnicas para produção de sonoridades orientadas a diversas aplicações, tais como,

composição para música eletrônica e demais gêneros musicais, criação de sound

design para vídeo, cinema e propaganda, dentre outros. Para isso, foi concebida

55

uma estrutura de aprendizagem implementada sobre a plataforma Moodle,

oferecendo diferentes tipos de recursos para os participantes. Para apoiar a escolha

e a definição desses recursos, primeiramente foram investigados artigos e pesquisas

acadêmicos que abordam experiências de aplicações semelhantes, sendo algumas

delas especificamente dentro da área de música. A concepção do processo de

aprendizagem foi idealizada para que pudesse ser realizado totalmente a distância,

inclusive as atividades práticas e os trabalhos de produção coletiva. No entanto, não

houve qualquer objeção à possibilidade dos participantes, ou parte deles,

eventualmente se encontrarem em eventos presenciais, o que, em princípio, é um

aspecto bastante positivo para ampliar o senso de pertencimento à comunidade.

Evitou-se chamar esse processo de “curso”, tendo em vista que o estudo

nele envolvido não segue uma rota de aprendizagem rígida e procura oferecer um

razoável grau de liberdade para os participantes em relação à escolha dos tópicos

específicos com os quais eles desejam se envolver para aprender. A característica

principal do processo é a colaboração e, dessa maneira, os participantes devem ser

encorajados a atuar ativamente, colocando dúvidas, opiniões e ideias para as

soluções dos problemas, trazendo sugestões de temas para debates, realizando

projetos em conjunto, de maneira a aprimorar e ampliar juntos suas respectivas

competências e, ao mesmo tempo, produzir uma base crescente de conhecimentos

coletivos.

A produção de saber coletivo a partir da colaboração das pessoas

envolvidas com o objeto de aprendizagem já havia sido destacada por Lèvy (1996,

p. 143): “A inteligência certamente não é uma coisa encerrada dentro do cérebro dos

indivíduos! Ela sempre foi social e coletiva no sentido de que sempre usou línguas,

sistemas de signos e, depois, também, suportes de comunicação e de registro".

Nesse sentido, o que se busca com essa proposta é estabelecer um método

colaborativo sistematizado que permita um maior compartilhamento de

conhecimentos e de práticas em uma área onde as informações ainda estão

relativamente fragmentadas.

A proposição de atividades participativas com alunos não é uma ideia

inovadora, no entanto pode trazer muitos pontos positivos para um processo de

aprendizagem, sobretudo com estudantes jovens, como é o caso da maioria do

público-alvo a que se destina esta proposta. Uma pesquisa realizada por

56

Freeman et al (2014, p. 2) mostrou que, em cursos de ciência, tecnologia,

engenharia e matemática, os alunos que participam de aulas em que há

intervenções ativas de aprendizagem, tais como grupos para solução de

problemas, oficinas práticas e outros tipos de atividades, obtêm melhor

desempenho nas avaliações.

É preciso, portanto, reforçar o processo colaborativo utilizando ações

proativas. Webb (2013, p. 27) observa que não basta solicitar aos participantes

que colaborem para que se desenvolva um verdadeiro engajamento. A fim de que

o processo colaborativo aconteça, é preciso promover uma série de atividades,

tais como pedir a opinião sobre determinado assunto para dar início a uma

discussão, criar grupos de trabalho para a solução de problemas específicos,

enfim, estabelecer linhas de ação que possam contribuir para o diálogo e o início

da interação dos membros do grupo.

Para poder contemplar os objetivos desejados conforme os conceitos que

foram apresentados neste trabalho, o processo de aprendizagem se desenvolveu

dentro de uma comunidade virtual, denominada Grupo de Estudos de Síntese

Sonora, e que compreende diferentes módulos de atividades, tais como, fóruns

para discussão e debates, área de estudos e consulta, área de colaboração,

laboratório e museu. Essas atividades e a forma como foram implementadas são

descritas com detalhes nos itens 4.1 e 4.2.

Apesar dos nomes aparentemente convencionais dados às atividades, a

forma de interação dos participantes com os recursos desses módulos não foi

idealizada para acontecer necessariamente de forma convencional. A área de

estudos, por exemplo, oferece uma coletânea de textos e vídeos, organizados por

assunto, similar a um minicurso; ela é o local virtual onde o participante vai

buscar, de forma espontânea e autônoma, informações sistematizadas sobre os

vários tópicos relacionados aos processos de síntese sonora. No entanto, embora

o conteúdo inicial dessa área tenha sido produzido e organizado por um

especialista mais experiente, que também atuou como tutor e mediador do grupo,

o objetivo era que, à medida que o grupo se desenvolvesse, fossem incorporados

a essa área novos conteúdos produzidos pelos próprios participantes, de maneira

a oferecer explicações alternativas para os mesmos assuntos, enriquecendo

assim o acervo e possibilitando a atualização constante dessas informações.

57

Esse procedimento se baseia fundamentalmente nos conceitos propostos

por Wenger, segundo os quais os membros de uma comunidade de prática

discutem ideias, compartilham informações, relatam suas experiências e objetivos,

proporcionam apoio mútuo na aprendizagem, sugerem atividades coletivas e,

principalmente, desenvolvem recursos e estruturas de suporte para suas práticas

que se tornam parte do conhecimento comum da comunidade. No decorrer do

tempo, essas interações e relações possibilitam a construção de um conjunto

agregado de conhecimentos e um significativo senso de identidade (DE LAAT,

2006, p. 22).

4.1.1 Formatos e meios para disponibilizar conteúdo

A criação de uma comunidade de prática na internet torna-se uma alternativa

bastante viável quando se consideram o grau de conectividade das pessoas e a

ampla gama de recursos tecnológicos que existem atualmente para se implementar

um processo de aprendizagem em uma rede virtual. As características das

tecnologias digitais em que se apoiam os protocolos, as linguagens e os aplicativos

que compõem a internet são bastante adequadas ao suporte de conteúdos em

multimídia e de processos interativos. Isso facilita a divulgação de material

audiovisual, animações gráficas e outros tipos de formatos que propiciam a

transmissão de informações e a construção de conhecimentos.

Existem atualmente diversos formatos digitais para se produzir e

disponibilizar conteúdo na internet, assim como existem diferentes alternativas

para possibilitar a interação a distância. Os principais recursos para isso são

descritos, resumidamente, a seguir, a partir das definições apresentadas por

Franco (2012, p. 116), Carvalho e Ivanoff (2010, p. 60-91), Ramos (2010, p. 61) e

Alves (2009, p.198).

• Texto: apesar de ser a forma mais simples para a transmissão de

informação, um texto armazenado na internet traz como vantagem a

possibilidade de ser encontrado pelos mecanismos de busca da rede,

assim como a facilidade de navegação e busca dentro do próprio texto.

• Hipertexto: amplia a capacidade do texto simples, oferecendo conexão

direta a outros textos sobre conceitos, temas e documentos citados. É

58

preciso atenção com relação ao uso de links para outros locais da

internet, pois o conteúdo apontado pode ser eliminados em sua origem

ou ter seu acesso bloqueado. Além disso, podem ficar desatualizados,

principalmente quando se trata de referência a equipamentos ou

softwares de alta tecnologia.

• Hipermídia: apresentação que integra, simultaneamente, várias mídias

diferentes, tais como imagens, gráficos, animações gráficas, sons e

vídeos. Permite a conexão direta com outros documentos e outras

fontes de referência, e também algum grau de interatividade com o

aluno. Cabe aqui a mesma observação feita no item anterior em

relação aos links.

• Áudio: material sonoro que pode ser reproduzido diretamente na página

de acesso ou ser transferido para o computador do aluno. É um recurso

poderoso para explicar fenômenos acústicos, referências musicais e

outras situações que demandam a audição. Também facilita a

compreensão de explicações apresentadas em animações gráficas e

vídeos, por meio de um narrador.

• Vídeo: imagens dinâmicas gravadas em locais verdadeiros ou produzidas

artificialmente. Permite compreender com muito mais facilidade

procedimentos manuais e ações físicas difíceis de se descrever

verbalmente. É muito usado em tutoriais e aulas virtuais.

• Animação gráfica: as mais simples constituem-se de formas geométricas,

setas e palavras em movimento. Os recursos sofisticados dos softwares

modernos de animação possibilitam gerar imagens bastante realistas. É

muito eficiente para facilitar a compreensão de assuntos abstratos.

Os principais recursos para promover interação são:

• Jogo: aplicativo produzido por meio de uma linguagem de programação,

como, por exemplo, Java, criando um processo de aprendizagem lúdico e

divertido. Produz grande motivação nos mais jovens.

• Fórum: reúne pessoas com interesses comuns e normalmente se destina

à discussão de temas. A comunicação é realizada de forma assíncrona,

isto é, não ocorre em tempo real, com os participantes deixando seus

comentários registrados cronologicamente.

59

• Listas de discussão: a interação é realizada por meio de mensagens de

e-mail que ficam registradas em uma página (site) da internet. Isto

permite acompanhar as interações tanto por e-mail como pela página

específica.

• Bate-papo (chat): é uma ferramenta para o encontro síncrono, isto é, no

mesmo tempo, e que possibilita que duas ou mais pessoas, em locais

diferentes, possam “conversar” por meio de troca de mensagens

escritas. Essa ferramenta permite um feedback imediato entre as

pessoas, tornando assim as discussões mais dinâmicas.

• Texto coletivo (wiki): essa ferramenta possibilita a produção coletiva de

textos, com a participação de todos, sem que haja apenas um autor.

• Videoconferência (videochat): permite que dois ou mais participantes

possam conversar à distância, visualizando um ao outro através de

câmeras digitais conectadas a seus computadores.

• Simulador: recria uma situação ou processo real, por meio de imagens,

animações e ações, e permite a intervenção do aluno, que pode alterar

variáveis e verificar resultados.

Todos esses tipos de conteúdo e de processos de interação podem ser

acessados e utilizados na internet por meio de diferentes abordagens:

• Página (site): provavelmente é o formato mais antigo de disponibilizar

conteúdo na internet. Sua complexidade pode variar desde um simples

texto a um portal repleto de alternativas de acesso com inúmeros

formatos diferentes de conteúdo.

• Blog: é uma coletânea de artigos, comentários ou opiniões em forma de

texto e organizados em ordem cronológica. Funciona quase como um

diário, podendo conter também imagens, arquivos sonoros e vídeos;

• Grupo e comunidade virtual: é um tipo de site que tem por característica a

interação de pessoas. É uma evolução dos antigos BBS (bulletin board

system), que operavam antes do surgimento da internet. Esses sites

podem permitir a criação de grupos com diferentes focos de interesse,

mas não existe necessariamente alguém com função de moderador. A

interação ocorre por chat ou mensagem, e é possível compartilhar

60

arquivos, vídeos, etc. Gradativamente têm sido substituídos por grupos

nas redes sociais.

• Rede social: é o processo de comunicação e interação que mais cresceu

nos últimos anos, destacando-se Facebook, Twitter e WhatsApp.

Permitem a divulgação de opiniões entre grupos de “amigos”, diálogos

privados, postagem de imagens, vídeos e links.

• Ambiente virtual de aprendizagem (AVA): é um sistema integrado norteado

por um plano pedagógico, contendo diferentes mídias (textos, vídeos, etc) e

material de apoio que podem ser acessados através da internet.

A escolha dos formatos a serem usados para disponibilizar conteúdo (texto,

áudio, vídeo, etc), o tipo de processo interativo (fórum, chat, etc) e o tipo de

ambiente onde eles estarão disponíveis (site, redes sociais, AVA), vão depender

não somente das características do próprio conteúdo, mas principalmente da

estratégia de aprendizagem e da viabilidade da sua implementação.

No caso específico desta pesquisa, existem dois aspectos importantes a

serem observados na escolha dos recursos. Em primeiro lugar, por se tratar de um

ambiente orientado para atividades colaborativas e compartilhamento de

experiências, era necessário oferecer as ferramentas essenciais para isso. Outro

aspecto a ser destacado é que, pelo fato do processo de aprendizagem proposto

aqui estar repleto de atividades de manipulação sonora e conceitos musicais, os

formatos e os recursos técnicos tinham que ser apropriados à reprodução de áudio

com um nível de qualidade suficiente para a perfeita avaliação de características

bastante peculiares e, muitas vezes, sutis. Portanto, foi fundamental estabelecer

requisitos essenciais e suficientes para que a comunidade de prática pudesse se

desenvolver e produzir os resultados desejados.

4.1.2 Requisitos para a criação da comunidade de prática

A fim de atender os objetivos da proposta de uma comunidade de prática, o

ambiente de aprendizagem tratado neste trabalho incorporou diferentes tipos de

recursos, adequando-se às capacidades oferecidas pela plataforma Moodle.

Apesar de disponibilizar uma quantidade significativa de material de

estudo organizado em tópicos, o ambiente de aprendizagem proposto, como já

61

mencionado antes, foi delineado principalmente para fomentar um processo

colaborativo, no qual o conhecimento se produz pela interação dos participantes,

e não apenas pelo estudo individual e autônomo. Como destacado por Wenger

(1998, p. 10), a informação explícita é apenas uma parte da fonte do

conhecimento, pois na verdade esse se desenvolve, sobretudo, por meio da

participação ativa em meios coletivos. Dessa forma, é fundamental que o

processo da comunidade de aprendizagem proporcione um ambiente que facilite

as interações dos participantes, envolvendo-os em ações, discussões e reflexões

que possibilitem a cada um perceber sua importância dentro do grupo.

A capacidade de aprendizagem da comunidade de prática está

fundamentada principalmente na percepção mútua dos participantes como

parceiros de um potencial da aprendizagem. Nesse sentido, com relação ao

delineamento da comunidade, Wenger (2010, p. 12) sugere algumas questões a

serem consideradas, tais como, a especificidade do tema ou foco de interesse, os

recursos que são disponibilizados para o desenvolvimento do processo, os efeitos

da participação efetiva das pessoas na dinâmica e na credibilidade do grupo, e,

principalmente, de que maneiras os participantes podem atuar juntos para

poderem efetivamente aprender e obter benefícios a partir dessa parceria.

Para Wenger et al (2002, p. 73), no planejamento de uma comunidade de

prática é mais relevante encontrar as formas de estimular sua evolução do que se

preocupar com um projeto completo de delineamento. A meta fundamental

durante o planejamento é fazer com que a comunidade se desenvolva em torno

daqueles três elementos principais – comunidade, domínio e prática. Ou seja,

definir o foco de atuação da comunidade, construir as relações entre os membros

e identificar atividades e projetos que eles tenham interesse em desenvolver.

Quanto aos tipos de estrutura e de atividades, essas dependem do

objetivo da comunidade. Uma comunidade cujo objetivo principal é oferecer

suporte técnico, por exemplo, precisa ser estruturada de maneira diferente de

uma comunidade orientada para o desenvolvimento de um conhecimento

específico. Se o objetivo principal da comunidade for bem definido, seu

desenvolvimento será mais natural e de melhor compreensão para seus

participantes. À medida que a comunidade vai evoluindo e amadurecendo, é

possível expandi-la para atuar em outras frentes (WENGER et al, 2002, p. 73).

62

O recurso principal idealizado aqui para promover a interação dos

participantes e a troca de experiências e ideias foi o fórum de discussão, que,

como destaca Alves (2009, p. 194), é um ótimo local para construção de

conceitos, e, pelo fato de ser assíncrono, isto é, a comunicação não ocorre em

tempo real, dá ao participante a possibilidade de ler e refletir sobre o tema em

discussão, antes de se manifestar. Dessa maneira, desde que o mediador não

assuma necessariamente a responsabilidade de ficar respondendo e explicando

todas as questões, o espaço acaba promovendo uma série de discussões

coletivas e integrando todos os participantes no processo de aprendizagem.

Esse tipo de interação também é observado por Webb (2013, p. 19), que

destaca que, ao longo do processo de colaboração, os participantes não apenas

têm oportunidade de apresentar aos outros as suas ideias e lhes transmitir

informações, mas, dentro deste esquema tanto aquele que apresenta a ideia

quanto os demais participantes que dela compartilham se envolvem em um

processo cognitivo interno, pelo qual ativam e reforçam a sua compreensão sobre

o que está sendo discutido, preenchendo lacunas de conhecimento, corrigindo

aspectos confusos, conectando informações que estavam previamente

fragmentadas. Assim, por meio de interações mútuas, os participantes

conseguem construir o seu conhecimento a partir de novas relações entre as

várias informações parciais de que já dispunham.

Uma questão que é colocada em um fórum pode gerar uma ampla

discussão e assim fazer com que os participantes realizem análises com uma

profundidade muito mais intensa do que o tema poderia despertar estando

apenas dentro de um conteúdo convencional, como em um texto, por exemplo.

Em sua pesquisa sobre curso de percussão a distância, Gohn (2009, p. 77)

descreve um exemplo bastante ilustrativo em que uma sugestão colocada no

fórum para que os alunos indicassem um vídeo de um tipo de percussão

interessante, gerou discussões sobre diversos outros aspectos dos instrumentos

de percussão, tais como sua construção, influências culturais e outros assuntos

que, de outra forma, não teriam oportunidade de ser abordados no grupo.

Com relação à eficiência nas discussões on-line, Xin e Feenberg (2006, p.

18) afirmam que, para que esse tipo de processo proporcione resultados, é preciso

que o mediador tenha uma percepção adequada da dinâmica com que as interações

63

acontecem, apresentando suas observações apenas nos momentos apropriados e,

sobretudo, procurando produzir as devidas conexões entre as contribuições dos

participantes. Na opinião de Pallof e Pratt (2007, p. 170), as possibilidades de

colaboração entre os participantes são ampliadas quando eles interagem mais entre

si e menos com o tutor ou mediador.

A partir dos resultados que foram obtidos em sua pesquisa, Silva (2011, p.

96) sugere algumas implicações pedagógicas com relação ao delineamento e ao

progresso das atividades dentro de um processo colaborativo on-line, tais como a

importância do acompanhamento do tutor durante o desenvolvimento do trabalho,

de maneira a procurar manter todos os participantes igualmente envolvidos,

levando em conta as suas diferenças de afinidades e de interesses. Também

recomenda que as atividades propostas sejam bastante claras para evitar

dificuldades na implementação e nos resultados.

Além de ser um recurso de extrema utilidade para discussões, debates,

soluções de casos e troca de informações de uma forma geral, uma das grandes

vantagens do fórum é que as discussões ficam registradas e organizadas,

permitindo que posteriormente sejam realizadas buscas por assunto ou palavra-

chave. Dessa forma, tal recurso amplia ainda mais o acervo de informações da

comunidade.

Igualmente orientadas para o compartilhamento do conhecimento são as

ferramentas do tipo wiki3, que permitem que várias pessoas participem

coletivamente da produção de um texto ou outro tipo de conteúdo para a internet.

O ambiente de aprendizagem proposto neste trabalho também contemplou

atividades de produção coletiva, desde um glossário de termos técnicos

associados à síntese sonora até um museu virtual, cujo conteúdo é “garimpado”

pelos participantes. Além disso, foram incluídos projetos colaborativos propondo o

desenvolvimento de programações de timbres para sintetizadores escolhidos

pelos participantes, com o objetivo de atender necessidades específicas de

membros do grupo ou então para oferecer a outras pessoas.

Em um processo compartilhado, enquanto a pessoa está participando da

produção coletiva, ela tem a oportunidade de agregar seus conhecimentos ao

3 “Wiki” é uma palavra havaiana que significa “muito rápido”. O termo é usado para designar arapidez com que páginas de texto são criadas e atualizadas usando as modernas tecnologias decolaboração da internet. (BOTTENTUIT JR e COUTINHO, 2009, p. 286).

64

conteúdo que está sendo construído coletivamente, e, ao mesmo tempo,

enriquecer sua compreensão sobre o tema, a partir da visão dos demais

participantes. Como observa Ramos (2010, p. 89), na produção coletiva é

fundamental a discussão coletiva, e a inter-relação dessas ações, quando

orientadas adequadamente e com um suporte dos recursos de colaboração,

possibilita a aproximação dos participantes. Na opinião de Alves (2009, p. 199),

trabalhar com esse tipo de ferramenta pode ser um grande desafio para os

participantes de um ambiente de aprendizagem, mas é preciso que o tutor fique

sempre atento para mediar a produção, incentivando e encorajando a

participação.

A produção coletiva de conteúdo, sob a supervisão de um tutor que

conheça bem o assunto, tem ainda outro aspecto positivo, porque ajuda a

aprimorar o acervo, mantendo-o atualizado e focado nos interesses principais da

comunidade. Como observa Gohn (2009, p.162), a flexibilidade para se atualizar

o conteúdo dos cursos, inclusive durante a sua realização, é uma das vantagens

dos ambientes virtuais de aprendizagem.

Tendo em mente que a prática constitui um dos pontos fundamentais na

teoria das comunidades de prática de Wenger, é conveniente proporcionar

recursos coletivos para que todos possam compartilhar de experiências

equivalentes em suas práticas. Dessa forma, também foram incluídos no

ambiente de aprendizagem simuladores virtuais de sintetizadores, de maneira

que qualquer um dos participantes pudesse praticar e experimentar utilizando a

mesma ferramenta de síntese sonora e assim fazer comparações com os

experimentos produzidos pelos demais. Embora esses simuladores não

apresentem todos os recursos que são encontrados em outros sintetizadores, a

ideia era que eles atuassem como pontos de referência para as discussões e

para os trabalhos desenvolvidos coletivamente. Para Bottentuit e Coutinho (2009,

p. 260), mesmo que não possam se comparar com a verdadeira experiência em

um instrumento real, os simuladores têm muitos aspectos positivos, tais como a

facilidade para a explicação de conceitos, a possibilidade de serem usados em

qualquer tempo e lugar, e também por poderem ser compartilhados por várias

pessoas.

65

4.1.3 Implementação da comunidade de prática

O ambiente de aprendizagem da comunidade virtual que é tratada nesta

pesquisa foi implementado no Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic

Learning Environment), uma plataforma de software que oferece diversos

recursos e funcionalidades para proporcionar um sistema integrado de

aprendizagem on-line, e que permite a criação de ambientes personalizados

conforme a necessidade da aplicação, podendo ser usado em diferentes tipos de

atividades de ensino e treinamento. A plataforma foi desenvolvida em 2001 por

Martin Dougiamas, e faz parte de um projeto coordenado pela empresa

australiana Moodle Pty Ltd, com financiamento de uma rede mundial com mais de

70 empresas parceiras. Com uma enorme base instalada, com mais de dez mil

ambientes de aprendizagem em todo o mundo, incluindo grandes universidades e

grupos corporativos, o Moodle já atende a mais de 90 milhões de usuários, sendo

a plataforma mais usada no mundo inteiro (MOODLE, 2016).

Desenvolvido dentro do conceito pedagógico socioconstrucionista, o

Moodle oferece um vasto conjunto de ferramentas direcionadas ao estudante e

também recursos adequados para um processo de aprendizagem colaborativa. O

design proporciona uma interface simples, com procedimentos de programação

efetuados por elementos visuais, possibilitando assim uma implementação

relativamente rápida e segura.

O Moodle é distribuído gratuitamente, dentro do conceito de software

open source, sob licença pública GNU (General Public License). Dessa forma,

qualquer pessoa pode adaptar, estender ou modificar o software, para projetos

comerciais ou não, sem ter que pagar qualquer taxa. Por ser um software livre,

existe uma enorme comunidade de desenvolvedores em todo o mundo,

fornecendo partes adicionais (plug-ins) para implementação de funções

específicas que não estão inclusas na versão nativa. Além disso, a comunidade

global também disponibiliza pacotes com traduções de todos os menus, frases e

outras expressões usadas no ambiente de aprendizagem, tornando a plataforma

verdadeiramente universal. Graças à grande flexibilidade de configuração do

ambiente de aprendizagem, o Moodle pode ser adaptado para diferentes tipos de

aplicação de aprendizagem, bastando habilitar ou desabilitar funções e recursos,

66

inclusive ferramentas para atividades colaborativas, tais como fóruns, wikis, chats

e blogs.

No caso específico do ambiente de aprendizagem abordado nesta

pesquisa, foram vários os motivos para optar-se pelo Moodle, mas principalmente

os aspectos relacionados a versatilidade, segurança, estabilidade e, obviamente,

custo. Além disso, foi de extrema valia a enorme disponibilidade de informações

na internet sobre procedimentos de configuração e operação do Moodle.

Para a implementação do Grupo de Estudos de Síntese Sonora (GESSo)

foi utilizada a plataforma Moodle na versão 2.9.2 que já estava instalada e

disponível no servidor que hospeda os cursos a distância oferecidos pela Yellow

DJ. A página principal dos cursos a distância dessa escola é mostrada na Figura

8, e pode ser acessada no endereço <http://www.ead.yellow.art.br>.

FIGURA 8 – Página inicial dos cursos a distância da Yellow DJ Fonte: imagem capturada pelo autor

O Grupo de Estudos de Síntese Sonora (GESSo) criado para esta

pesquisa é um ambiente virtual contendo diversas atividades voltadas para a

aprendizagem de conceitos e técnicas de síntese sonora, tendo como principal

fundamento a colaboração entre seus participantes. O processo de aprendizagem

67

não foi baseado em um método tradicional, centrado na transmissão unidirecional

de conhecimentos através de uma rota de estudo predeterminada. Portanto, não

houve efetivamente um currículo ou roteiro prévio a ser seguido. Para promover o

engajamento e dar um ponto de partida ao processo colaborativo, foram

propostas algumas atividades no início do funcionamento do grupo. No entanto,

essas atividades foram apenas sugestões para tarefas e projetos a serem

desenvolvidos de forma coletiva, que poderiam ser adaptadas de acordo com as

necessidades e metas do grupo. A ideia central era que a aprendizagem

acontecesse, principalmente, por meio da interação dos seus participantes.

Nesse sentido, a função do tutor se estabeleceu mais como um mediador do

processo, um facilitador de recursos e, eventualmente, um consultor naqueles

tópicos em que houvesse uma maior dificuldade de compreensão e, dessa

maneira, necessitasse de um nível de conhecimento e/ou experiência ainda não

disponível em nenhum dos participantes.

a) Fóruns

Para promover a interação dos participantes foram criados fóruns, cujos

títulos sugerem tópicos iniciais a serem discutidos dentro do grupo. No entanto,

admitiu-se que determinados temas pudessem assumir uma condição

“transversal”, de tal maneira que passassem a ser abordados em mais de um

fórum. Da mesma forma, também poderia acontecer que algum tópico, que

inicialmente tenha sido imaginado com uma determinada importância, viesse a se

dissipar e se transferir para outros, de maior relevância para o grupo. Por outro

lado, poderiam ser criados novos fóruns, à medida que fossem surgindo outros

tópicos de relativo interesse geral. De qualquer forma, a flexibilidade da

infraestrutura do ambiente do grupo de estudos possibilitaria razoavelmente esse

tipo de dinâmica.

68

FIGURA 9 – Tela de entrada dos fóruns de discussão Fonte: imagem capturada pelo autor

O formato e o funcionamento dos fóruns do grupo de estudos seguiu o

mesmo padrão típico dos demais fóruns existentes na internet. Assim, em cada um

dos fóruns seria possível criar diversas “linhas de discussão” para temas associados

ao tópico principal. Para evitar a centralização das questões em torno do tutor, sua

atuação se deu, basicamente, como mediador, procurando orientar o processo e

evitar assuntos não pertinentes aos temas ou eventualmente inadequados.

b) Sala de estudos

Embora o grupo de estudos, nos moldes de uma comunidade de prática,

estivesse focado principalmente na interação dos participantes e no

compartilhamento dos seus conhecimentos, procurou-se oferecer, dentro do

ambiente de aprendizagem, uma seção com uma coletânea de informações

relativas ao assunto objeto de estudo, que é a síntese sonora. Dessa forma, foi

incluído um espaço virtual para abrigar um acervo com textos, vídeos, gráficos e

outros formatos apropriados que possibilitem a consulta dos participantes. Ainda

que a finalidade dessa seção fosse disponibilizar aos participantes uma variedade

de conteúdos para estudo, e esses tenham sido organizados dentro de uma

69

determinada ordem, não houve uma pretensão de que tal espaço assumisse a

função de um curso delineado através de uma rota de leituras e atividades. A

intenção aqui foi prover um material de apoio com conteúdo consistente e de

qualidade.

Grande parte desse material já havia sido produzida na forma de artigos e

textos pelo autor da pesquisa, e requereu, basicamente, revisões, adaptações e

adição de alguns tópicos e de conteúdos em formato de áudio e de vídeo. Dentro da

abordagem da aprendizagem colaborativa e do compartilhamento de

conhecimentos, a ideia era que esse acervo fosse ampliado e enriquecido, com a

adição de material produzido coletivamente pela própria comunidade. O conteúdo

inicial da “sala de estudos” foi disponibilizado na forma de um “livro virtual”,

armazenado dentro do próprio ambiente de aprendizagem, e não com links para

outros locais, sendo, portanto, um material exclusivo do grupo de estudos. A

metáfora do livro permite organizar os conteúdos conforme os assuntos e também

pela forma de abordagem. Dessa maneira, um mesmo tema pode ser abordado em

um livro sob um aspecto mais conceitual e em outro sob um aspecto mais aplicativo

e prático.

Graças às capacidades de multimídia oferecidas no recurso do livro virtual

do Moodle, os temas podem ser apresentados usando diferentes formatos, tais

como textos, figuras, sons e vídeos, o que é uma grande vantagem no caso desse

grupo de estudos, que trabalha com sínteses sonora, isto é, a manipulação de sons.

Além disso, o uso de áudio e de vídeo também é bastante eficiente para facilitar as

demonstrações práticas de certos tópicos, cuja complexidade ficaria muito difícil

apenas através da leitura de um texto. Outra facilidade proporcionada pelo Moodle é

a possibilidade de vinculação dos textos dos livros virtuais ao Glossário, de tal

maneira que, se um termo que aparece no texto de um livro faz parte do Glossário, o

usuário pode clicar naquele termo e acessar imediatamente a sua definição.

70

FIGURA 10 – Exemplo de conteúdo dos livros virtuais disponíveis na Sala de Estudos Fonte: imagem capturada pelo autor

c) Laboratório

Para facilitar a experimentação prática de assuntos discutidos no âmbito do

grupo de estudos, o ambiente de aprendizagem implementado no Moodle incluiu um

“laboratório” dotado de simuladores de sintetizadores. Esses recursos, na verdade,

não estavam hospedados efetivamente no servidor do ambiente virtual, mas podiam

ser acessados por meio de links para páginas de terceiros na internet, que

disponibilizam livremente o seu uso. Com esses simuladores virtualmente

incorporados ao ambiente do grupo, qualquer participante podia testar

imediatamente algum tópico discutido nos fóruns, sem ter que usar um instrumento

externo e nem instalar um software específico para isso em seu computador. Por

outro lado, esse tipo de recurso também permitiu que todos os participantes

usassem os mesmos tipos de sintetizadores para analisar determinada questão, e

assim terem a mesma referência sonora e operacional para poderem avaliar os

resultados das suas experiências.

71

FIGURA 11 – Simulador de sintetizador analógico modular disponível no LaboratórioFonte: imagem capturada pelo autor

Para permitir a prática com diferentes técnicas de síntese sonora, foi

incluído o WebModular, disponível no site g200kg (www.g200kg.com), que simula

um sintetizador analógico modular baseado em processo de síntese subtrativa, e

mais dois simuladores oferecidos pelo site AudioSauna (www.audiosauna.com), um

que utiliza o processo convencional de síntese subtrativa e outro que utiliza

processo de síntese FM.

d) Atividades colaborativas

Uma das maneiras de engajar os participantes no processo colaborativo é

estimulando a produção coletiva de projetos e a solução conjunta de problemas de

interesse comum. Com esse objetivo, foi concebida a seção “Wiki”, onde podiam

ser desenvolvidas atividades que promovem a interação dos participantes.

A primeira atividade desse tipo que foi proposta é o Glossário, uma

coletânea de termos e definições de elementos associados à síntese sonora.

72

Inicialmente, foi oferecido um conteúdo com algumas dezenas de termos, para

que os participantes pudessem consultar e, ao mesmo tempo, serem motivados a

também adicionar novos termos. O objetivo era que essa seção servisse não só

como fonte de consulta, mas sobretudo como um estímulo para que os

participantes viessem a pesquisar conceitos e elementos relevantes para a sua

prática cotidiana com sintetizadores e demais atividades correlatas.

FIGURA 12 – Atividade colaborativa: GlossárioFonte: imagem capturada pelo autor

Além do glossário, também foram propostas outras atividades colaborativas

mais orientadas à prática da síntese sonora, na forma de projetos coletivos, como

os exemplos listados a seguir.

• programação de alguns timbres (presets) para o sintetizador Analog do

software Ableton Live para serem usados em diferentes estilos de

música eletrônica;

73

• pesquisa, classificação e catalogação de técnicas de execução

(performance) em sintetizadores;

• estudo para a criação de um critério/padrão que permita a classificação

de diferentes tipos de sonoridades;

• pesquisa de sonoridades fortemente associadas cronologicamente a

gêneros musicais para a criação de uma classificação “genealógica”

dos diversos gêneros de música eletrônica;

• pesquisa de elementos históricos para incorporação ao acervo da

seção Museu do grupo de estudos.

e) Museu

Além do material produzido exclusivamente para a Sala de Estudos da

comunidade e do conteúdo de produção coletiva do Glossário, o grupo de

estudos ainda contou com outros espaços para a compilação de informações de

origem externa, contendo, basicamente, links de acesso a conteúdo de terceiros.

Um deles é uma seção concebida para a divulgação de fatos e desenvolvimentos

históricos, e que por isso foi denominada como “Museu”.

O objetivo dessa seção foi permitir que os participantes tivessem uma

visão geral da evolução dos sintetizadores e dos instrumentos musicais

eletrônicos em geral, contextualizada com outros fatos históricos relativos aos

desenvolvimentos tecnológicos, culturais e econômicos.

Assim como no caso do Glossário, no início das atividades do grupo de

estudos foi disponibilizado um conteúdo inicial no Museu, com alguns itens de

acervo, para depois ser ampliado através da contribuição dos membros do grupo,

dentro das atividades de pesquisa coletiva.

74

FIGURA 13 – Exemplo de um dos itens de acervo do Museu Fonte: imagem capturada pelo autor

f) Atividades de avaliação

O grupo de estudos desta pesquisa foi concebido para ser uma

comunidade de prática, onde a aprendizagem se desenvolve por meio da

colaboração e da interação, não havendo um currículo de conteúdo e nem uma

rota de aprendizagem pré-determinados. Dessa maneira, seria difícil adotar um

processo convencional de avaliação, como um teste, por exemplo, que pudesse

verificar efetivamente o desempenho obtido pelos membros ao longo do tempo de

participação na comunidade, já que a profundidade da aprendizagem e o nível de

conhecimento em cada tema pode variar entre os participantes, conforme o foco

de maior interesse de cada um. No entanto, era desejável que se tivesse algum

recurso que pudesse não apenas mostrar o progresso do desenvolvimento

técnico de cada participante, mas também permitir uma avaliação da produção de

conhecimento dentro do grupo. Nesse sentido, foram adotadas diferentes

técnicas de avaliação, categorizadas a seguir, de acordo com as definições de

Suhr (2012, pp. 85-94).

75

• Observação: essa técnica é bastante útil quando se deseja conhecer

melhor a dinâmica dos participantes, avaliando suas dificuldades e os

avanços realizados. Com ela é possível perceber aspectos importantes

para direcionar a continuidade do trabalho do grupo. A observação

pode ser assistemática, sem planejamento nem critérios prévios, ou

sistemática, quando se estabelece previamente um determinado

aspecto a ser observado, sendo então a coleta da dados obtida de

forma intencional. É recomendável que essa técnica seja

complementada por outras formas de avaliação.

• Autoavaliação: nessa técnica são definidos alguns critérios de

avaliação para que o próprio participante possa fazer uma crítica sobre

a sua aprendizagem no decorrer de um período. Pela autoavaliação os

participantes podem conseguir analisar suas aptidões, pontos fortes e

tópicos em que necessitam de mais dedicação, etc. Basicamente, isso

pode ser obtido por meio de questionários.

4.2 ETAPAS DA PESQUISA

As atividades que foram realizadas para a produção desta pesquisa, desde

as primeiras conceituações até a análise final dos dados, podem ser divididas em

três etapas, que são descritas a seguir.

4.2.1 Etapa 1 – Preparação

A primeira etapa da pesquisa compreendeu a concepção preliminar do

trabalho, iniciando-se com a conceituação do tipo de processo idealizado para a

aprendizagem. Por conta disso, foi feita uma pesquisa bibliográfica a fim de

possibilitar o desenvolvimento do referencial teórico, buscando-se subsídios para

os principais temas envolvidos, tais como a teoria sociointeracionista, a

aprendizagem colaborativa e as comunidades de prática.

Ainda durante a pesquisa bibliográfica, além dos autores mais relevantes

sobre os temas principais, procurou-se também consultar trabalhos acadêmicos

referentes a pesquisas que já foram realizadas no Brasil abordando processos de

76

aprendizagem colaborativa e de comunidades de prática, principalmente na área

de educação musical. Embora não haja muitas pesquisas nesse sentido, foi

possível observar a experiência de alguns pesquisadores que já trabalharam com

esse tipo de abordagem.

Nessa etapa também foi realizada uma primeira análise com relação aos

requisitos necessários à plataforma de apoio para hospedar a comunidade virtual.

Foram determinadas algumas premissas, tais como recursos para interação dos

participantes, características mínimas da base de dados para registro das ações da

comunidade, os custos de implantação, dentre outros.

Para a implementação do ambiente de aprendizagem, optou-se pela

plataforma Moodle, por oferecer os recursos fundamentais para interação,

comunicação, apresentação de conteúdo, avaliação e gerenciamento. Além disso,

ela está disponível gratuitamente na forma open source e é uma plataforma

bastante conhecida e difundida no meio acadêmico, com muitas referências para

auxiliar o design e sua adequação à aplicações específicas.

A primeira ação do processo de implementação no Moodle foi a criação de

alguns fóruns de discussão, considerados os elementos principais para o

funcionamento da comunidade de prática, e onde os participantes poderiam

compartilhar dúvidas, ideias e conhecimentos. Em termos metodológicos, os fóruns

também servem como uma ferramenta suplementar de avaliação para a pesquisa,

oferecendo subsídios à interpretação dos dados obtidos por meio dos

questionários.

Além dos fóruns, também foi definida a existência de uma área dentro do

ambiente virtual para a disponibilização de material de apoio, na forma de texto,

vídeo ou outro formato apropriado, produzido especificamente para essa

comunidade virtual ou selecionado de artigos e outros conteúdos sobre o assunto

que já tinham sido elaborados anteriormente pelo pesquisador.

Para possibilitar um recurso prático de técnicas elementares de síntese

sonora a partir do próprio ambiente de aprendizagem, foi feita na internet uma busca

de simuladores de sintetizadores que pudessem ser incorporados sem grandes

dificuldades à plataforma Moodle, conseguindo-se para isto quatro modelos de

aplicativos, que os participantes poderiam acessar por meio de link direto, dentro do

ambiente de aprendizagem. Esses aplicativos operam on-line, não havendo a

77

necessidade do usuário copiá-lo nem instalá-lo. Eles estão disponíveis gratuitamente

na internet e seu uso não requer licença. Além disso, podem funcionar em

computadores comuns, com sistemas Windows ou OSX.

Ainda nessa etapa, também foi pensada a existência de um recurso

específico para a produção coletiva de conteúdo (do tipo wiki), recurso esse que já

faz parte da configuração padrão da versão atual da plataforma Moodle.

A partir dessas concepções e da determinação dos requisitos essenciais,

foi realizada então a adaptação e personalização da plataforma Moodle para

poder abrigar a infraestrutura mínima desejada. Para possibilitar uma operação

básica do processo a ser avaliado nesta pesquisa, a comunidade de prática foi

criada na forma de mais um “curso” dentro da instalação do Moodle que já estava

disponível no servidor que atende a escola Yellow DJ.

4.2.2 Etapa 2 – Implantação

A segunda etapa da pesquisa compreendeu a adaptação e implantação

do conteúdo de apoio aos participantes e a realização de algumas adequações

ao ambiente do Moodle.

Com o objetivo de oferecer um suporte conceitual in loco ao processo de

aprendizagem, foi criada uma seção no ambiente de aprendizagem, chamada de “sala

de estudos”, na qual foram disponibilizados uma coletânea de textos, complementados

com imagens e exemplos em formato de áudio, para auxiliar no entendimento dos

fundamentos da geração de som e tópicos conceituais a respeito dos processos de

síntese sonora. O conteúdo dessa seção foi organizado em temas, que foram

chamados de “livros”. Todo esse conteúdo foi elaborado exclusivamente pelo

pesquisador, constituindo-se tanto de material inédito como também de adaptações e

revisões de outros trabalhos que já haviam sido desenvolvidos para outras

oportunidades.

Ainda nessa etapa foram criadas as perguntas para os questionários de

avaliação, descritos adiante neste Capítulo e reproduzidos no Apêndice 2. Para

validar os questionários, as perguntas foram apresentadas a dois instrutores da

Yellow, que consideraram as perguntas pertinentes e de fácil interpretação.

Também foram realizados diversos testes operacionais e de desempenho do

78

ambiente virtual, simulando o uso do fórum, uso do material de apoio, interação

de participantes, participação em atividades colaborativas, acesso a links, e

outras funcionalidades.

4.2.3 Etapa 2 – Operação e avaliação

A terceira etapa da pesquisa compreendeu o período de funcionamento e

avaliação da comunidade de prática, que durou pouco mais de três meses, de 15 de

janeiro até 30 de abril de 2017.

Para participar do grupo de estudos, foram convidadas diversas pessoas que,

de alguma forma, já haviam manifestado interesse pelo uso de sintetizadores, tanto

por contato direto com o pesquisador em cursos, eventos e pela internet, como

indiretamente, através de outras pessoas. No item 4.4 são apresentados mais a

respeito dos participantes do grupo. Os convites para participação foram enviados

tanto por meio de mensagens de e-mail como por meio de mensagens via Facebook.

Em alguns poucos casos o convite foi feito pessoalmente e depois oficializado por

algum desses meios de mensagens. O texto do convite incluiu uma apresentação do

grupo, um resumo do ambiente da comunidade virtual e uma menção à pesquisa

acadêmica, conforme transcrito abaixo:

O Grupo de Estudos de Síntese Sonora é uma comunidade virtualque tem por objetivo promover e difundir conhecimentos sobresíntese sonora. O grupo procura reunir pessoas que tenham comointeresse comum os sintetizadores, em seus diversos aspectos,tais como técnicas de utilização (performance, programação),desenvolvimento tecnológico (concepção, construção deinstrumentos), abordagens sobre estéticas sonoras, evoluçãohistórica, dentre outros. Para isso, além dos fóruns de discussão,são propostas atividades coletivas a serem realizadas pelosparticipantes, que também têm liberdade para propor outrasatividades de interesse comum.

Não existe custo para você participar. O grupo não funciona comoum curso, assim como não estabelece uma rota de aprendizagempré-determinada e nem dispõe de um tutor – a participação é livre,dentro dos assuntos que sejam de interesse do grupo.

O ambiente virtual do grupo contém diversos fóruns de discussão,uma área de estudos com conteúdo técnico de apoio, uma área deinformações históricas (“museu”), um glossário de termos esimuladores on-line de sintetizadores para facilitar a práticaimediata.

79

Para participar, informe seu endereço de e-mail para sercadastrado e em seguida você receberá um e-mail com asinstruções para começar a acessar o grupo.

Ao acessar o grupo pela primeira vez, não se esqueça deresponder à pesquisa (as respostas ficarão registradas como"anônimas", isto é, você não será identificado).

O processo de aprendizagem colaborativa adotado no grupo éobjeto de estudo de uma pesquisa acadêmica focada no conceitode “comunidades de prática” e conduzida por Miguel Ratton noâmbito do Mestrado Profissional em Educação e NovasTecnologias da Uninter (Curitiba). O acompanhamento doprocesso servirá como subsídio para novas pesquisas na áreaeducacional. Mas é importante ressaltar que o grupo não estálimitado à citada pesquisa, de maneira que a seu funcionamentonão tem um prazo determinado, e depende somente do interessee do engajamento dos seus participantes.

Todas as inscrições no grupo foram efetuadas por processo manual pelo

pesquisador, à medida que os convidados iam confirmando o seu interesse em

participar e informando seus endereços de e-mail. Embora o Moodle disponha de

uma função específica para enviar uma notificação por e-mail ao participante

confirmando a sua inscrição, esse recurso acabou não funcionando perfeitamente

na implementação utilizada nesta pesquisa, e, por causa disso, alguns

participantes não receberam as mensagens de e-mail que continha as

orientações para o primeiro acesso ao site, isto é, para que confirmassem seus

dados no cadastro e alterassem a senha provisória. Infelizmente, o motivo para

tal falha não pôde ser detectado. Essa falha no envio da notificação automática

por e-mail, além de atrasar a entrada de alguns dos participantes, obrigou ao

pesquisador realizar uma checagem individual para que pudesse saber quais

deles não haviam recebido a notificação, e, consequentemente, reenviá-las.

Ainda nessa etapa inicial da operação, o pesquisador postou algumas

mensagens nos fóruns com o objetivo de motivar a interação dos participantes,

sugerindo determinados temas para discussão, tais como os principais problemas

encontrados na programação de timbres e a manipulação do filtro do sintetizador,

e também propôs algumas atividades para serem desenvolvidas coletivamente,

tais como a elaboração de um padrão de classificação de sonoridades sintéticas,

e a participação coletiva na concepção e no desenvolvimento de um sintetizador

implementado com circuitos eletrônicos digitais e analógicos.

80

Também nessa etapa foram experimentados os recursos dos relatórios de

atividades emitidos pelo Moodle, a fim de verificar quais os dados que poderiam

ser efetivamente aproveitados na avaliação do desenvolvimento das atividades

do grupo de estudos. Foi então criada uma planilha para conter um resumo dos

dados dos relatórios produzidos pelo Moodle.

4.3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Com relação ao propósito, o desenvolvimento do processo de

aprendizagem tratado neste trabalho pode ser classificado como uma pesquisa

aplicada, pois se direciona para uma finalidade prática e tem como motivação

principal a necessidade de resolver um problema concreto e atual, isto é, há uma

proposta de gerar conhecimentos para aplicações práticas voltadas à solução de

questões específicas (VERGARA, 2000, p. 47).

Além disso, conforme caracterizado por Moreira e Caleffe (2006, p. 79), o

presente trabalho também pode ser compreendido como uma pesquisa de

avaliação, uma vez que também procura avaliar a eficácia de um processo de

aprendizagem, obtendo dados a partir da observação sistemática do pesquisador

em relação à participação e à interação dos membros do grupo no decorrer do

desenvolvimento do processo.

Segundo a categorização apresentada por Severino (2007, p. 122) com

relação à natureza das fontes utilizadas para a abordagem e o tratamento do seu

objeto, este trabalho ainda inclui uma pesquisa bibliográfica, já que a sua

elaboração compreendeu a prospecção, o estudo e a análise de pesquisas

anteriores e de outros trabalhos já realizados e publicados, tais como livros,

artigos, periódicos e textos na internet.

A pesquisa objeto deste trabalho tem características qualitativas, pois, como

fundamentam Moreira e Caleffe (2006, p. 67), apesar de capturar informações dos

participantes por meio de questionários objetivos, há dados significativos obtidos a

partir das observações do pesquisador na atuação dos participantes no decorrer do

desenvolvimento do grupo. Para isso, é necessário não apenas uma análise

interpretativa dos eventos registrados nos relatórios disponibilizados pelos recursos

de gerenciamento do ambiente virtual Moodle, mas também uma análise contextual

81

das interações dos participantes nos fóruns de discussão. Dentro dessa perspectiva

interpretativa, Vergara (2000, p. 47) afirma que é possível em um mesmo estudo

usar a estatística (no caso, os dados dos relatórios) como ponto de apoio para uma

interpretação subjetiva (como os conteúdos dos fóruns). Portanto, na busca pela

resposta à principal questão apresentada pela pesquisa, são relevantes as

impressões capturadas pelo pesquisador ao longo do processo colaborativo, uma

vez que o pesquisador é o instrumento principal na obtenção dos dados pelo fato de

ser capaz de reconhecer, classificar e distinguir as sutilezas dos significados que

esses oferecerem (MOREIRA e CALEFFE, 2006, p. 65).

De acordo com Bauer, Gaskell e Allum (2013, p. 18), no decorrer do

processo de investigação da ação empírica é necessário observar os

acontecimentos de forma sistemática. Portanto, os dados coletados precisam ser

interpretados pelo pesquisador dentro do contexto em que foram produzidos, pois

eles não falam por si, mesmo quando são processados com cuidado e utilizando

sofisticados modelos estatísticos (BAUER e AARTS, 2013, p. 24).

Embora haja diversas formas de se obter dados para a avaliação de uma

pesquisa, conforme observam Diehl e Tatim (2004, p. 64), é preciso escolher e

aplicar aquelas que sejam mais adequadas ao contexto da pesquisa, já que todas

apresentam qualidades e limitações. No caso específico da presente pesquisa,

além dos dois questionários apresentados aos participantes, que fazem parte de

uma das técnicas mais utilizadas na obtenção de informações diretamente com

as pessoas envolvidas no processo, a coleta de dados também compreendeu a

análise de conteúdo das mensagens postadas nos fóruns, a fim de aferir o nível

de profundidade dos debates e a interação dos participantes. Como destaca

Bauer (2013, p.190), ainda que na maioria dos casos em que se efetuam análises

de conteúdo sejam produzidas descrições numéricas de características dos

textos investigados, existe uma preocupação considerável com os tipos e

qualidades do texto, de tal maneira que a análise estabelece uma ligação entre

as avaliações estatísticas e qualitativas do material investigado. Para isso, a

análise de conteúdo adotou o método proposto por Garrison, Anderson e Archer,

por meio do qual se procuram indicadores que demostrem a presença de

desenvolvimento do processo sociocognitivo em mensagens trocadas em

comunicação assíncrona (GARRISON, ANDERSON e ARCHER, 2001, p. 12).

82

Além disso, também foram obtidos dados a partir da análise dos relatórios

produzidos pelos registros de atividades que são disponibilizados pelo Moodle,

recurso esse que possibilitou descrever a cronologia das ações dos participantes

e, dessa maneira, auxiliar na identificação das etapas da evolução da

comunidade como um todo, no decorrer do tempo.

4.4 AMOSTRAGEM

Seguindo a perspectiva da teoria socioconstrutivista, que postula que uma

pessoa que tem uma compreensão melhor de um determinado assunto pode

colaborar para que outra menos competente consiga realizar uma tarefa que não

poderia fazer sozinha (WEBB, 2013, p. 21), para a composição do grupo de

participantes não houve uma preocupação de que todos estivessem num mesmo

nível de conhecimento. Também não foram considerados quaisquer aspectos

relativos a idade ou gênero dos participantes. O única condição considerada

relevante em relação aos participantes do grupo de estudos foi que possuíssem

interesse específico no uso de sintetizadores e demais recursos para a produção

e processamento de sons, de tal maneira que se pudesse caracterizar o grupo

como uma comunidade de prática orientada à síntese sonora.

Algumas das pessoas que foram convidadas a compor o grupo já tinham

participado de cursos presenciais ministrados pelo pesquisador em outras

oportunidades; outras haviam feito algum tipo de contato com o pesquisador a fim

de obter informações sobre o tema, tanto pessoalmente como através da internet;

e houve ainda outras que foram recomendadas pelas primeiras, por terem

igualmente interesse no assunto.

Primeiramente foram convidadas cerca de quinze pessoas, dentre

aquelas que já haviam tido contato anterior com o pesquisador. Alguns dias

depois, o convite foi estendido a mais dez pessoas que foram indicadas pelas

primeiras. Para ampliar o grupo, posteriormente foram convidadas mais dez

pessoas com afinidades nas áreas de instrumentos musicais e produção musical

em geral, incluindo nesse grupo alguns alunos de cursos de graduação em

música e artes. A participação de todas essas pessoas foi voluntária, sem

qualquer tipo de vínculo entre o grupo de estudos e outras atividades ou eventos.

83

Do total de trinta e duas pessoas efetivamente inscritas no grupo, vinte e uma

acessaram o ambiente virtual pelo menos uma vez.

4.5 COLETA DE DADOS

Como já mencionado anteriormente neste capítulo, a coleta de dados se

deu por meio de dois questionários, pelos registros das atividades do grupo

apresentados nos relatórios gerados pelo Moodle, e ainda pela a análise do

conteúdo das mensagens postadas nos fóruns de discussão do grupo. A seguir é

feita uma descrição dessas fontes de dados e os métodos adotados na sua

análise.

4.5.1 Questionários

Foram apresentados aos participantes dois questionários, em diferentes

momentos durante o processo. De uma forma geral, foram adotadas perguntas

fechadas, de múltipla escolha, mas em um dos questionários foi incluída uma pergunta

aberta, para que o participante pudesse dar uma resposta mais livre e apresentar sua

opinião. Nas opções de respostas às perguntas de múltipla escolha, foi adotado o

conceito da escala de Likert, descrevendo o nível de qualidade, importância, etc em

relação a cada um dos aspectos que são avaliados. Em todas as opções de respostas

a escala apresentava cinco valores ou graus, variando de forma decrescente, conforme

mostra o Quadro 1.

Valor Qualidade Concordância Importância Frequência

5 Ótimo Concordo fortemente Extremamente importante Quase sempre

4 Bom Concordo Muito importante Frequentemente

3 Regular Indiferente Importante Algumas vezes

2 Ruim Discordo Pouco importante Raramente

1 Péssimo Discordo fortemente Não é importante Nunca

QUADRO 1 – Escalas de Likert utilizada nas perguntas fechadas do questionárioFonte: o autor

84

O questionário 1 foi criado e disponibilizado dentro do próprio ambiente

virtual do grupo, usando o recurso de “Pesquisa” oferecido pelo Moodle. O

questionário foi colocado dentro do ambiente do grupo com o objetivo de que os

participantes o respondessem ao entrarem pela primeira vez. Mas o acesso às

demais atividades não ficou condicionado à conclusão desse questionário, isto é, o

participante não precisava completar o questionário para poder acessar as outras

seções do ambiente virtual.

Embora os participantes tenham sido informados sobre esse questionário

previamente, na mensagem de e-mail que notificava sua inclusão no grupo, o

acesso à seção do questionário não foi destacado em relação às demais seções

do ambiente da comunidade virtual. Portanto, a participação nesse questionário

foi totalmente voluntária.

O objetivo do questionário 1 foi obter de cada participante, logo ao

ingressar no grupo, informações quanto ao seu nível de conhecimento sobre o

objeto de estudo, assim como as suas expectativas iniciais em relação ao

processo de aprendizagem proposto ao grupo. As respostas a esse questionário

foram registradas de forma anônima, sem a identificação dos participantes.

O questionário 1 foi dividido em duas seções, com a intenção de obter

informações sobre o nível de conhecimento assumido pelo participante em

relação à síntese sonora, o grau de domínio sobre o assunto e o seu nível de

prática, e também conhecer sua expectativa com relação ao grupo de estudos

proposto, as suas demandas e os seus objetivos. As perguntas desse

questionário estão reproduzidas no Anexo 1.

Foco Objetivo

Nível de conhecimento

(seção 1)

Obter informações sobre o nível de conhecimento do participante

em relação à síntese sonora, seu grau de domínio sobre o

assunto e seu nível de prática

Expectativas

(seção 2)

Conhecer o nível de expectativa do participante com relação ao

grupo de estudos, suas demandas e objetivos

QUADRO 2 – Seções do questionário 1Fonte: o autor

85

O questionário 2 foi aplicado após um período de cerca de dez semanas

após o início das atividades, por ter sido considerado este um prazo suficiente

para que a maioria dos participantes já pudesse ter um conhecimento satisfatório

do ambiente virtual da comunidade e alguma perspectiva nas atividades coletivas.

Esse questionário foi implementado no aplicativo on-line do Google Forms, e o

respectivo endereço de acesso foi enviado aos participantes por e-mail, junto com

um texto que explicava a sua finalidade:

Gostaríamos de saber a sua opinião sobre o Grupo de Estudos deSíntese Sonora. Por favor, responda o questionário disponível no link aseguir (serão apenas 10 perguntas!): https://docs.google.com…

O processo de construção de conhecimento proposto no grupo deestudos é objeto de uma pesquisa acadêmica que estamos realizando noâmbito do Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias, noPrograma de Pós-Graduação da Uninter (Curitiba).

A pesquisa é focada na aprendizagem colaborativa, e oacompanhamento do processo desenvolvido no Grupo servirá comosubsídio para novas pesquisas na área educacional.

Importante: Todas as respostas aos questionários serão registradas sema identificação do participante, e serão utilizadas exclusivamente comodados para a pesquisa citada acima.

Esse segundo questionário procurou obter opiniões diretas dos participantes

sobre vários aspectos do processo de aprendizagem, tanto em relação à concepção

do processo como em relação à implementação efetiva no ambiente virtual.

A intenção na realização desse segundo questionário foi de complementar e

validar as observações realizadas a partir dos dados capturados nos relatórios de

atividades produzidos pelo Moodle.

Tomando como referência as recomendações apresentadas por Diehl e Tatim

(2004, p. 68), as perguntas do questionário 2 foram elaboradas de maneira a serem

pertinentes com os objetivos da pesquisa, isto é: investigar a aplicabilidade de um

método de aprendizagem a distância baseado em processo colaborativo, nos moldes

de uma comunidade de prática, para a aquisição de conhecimentos e o

desenvolvimento de técnicas de síntese sonora; avaliar a viabilidade do uso da

plataforma Moodle como estrutura virtual para uma comunidade de prática orientada

para a aprendizagem de técnicas de síntese sonora; verificar o nível de satisfação dos

participantes quanto ao processo colaborativo na aprendizagem de técnicas de síntese

sonora. As perguntas desse questionário também estão reproduzidas no Anexo 1.

86

Foco Objetivo

Aprendizagem colaborativa

(pergunta 1)

Investigar a aplicabilidade de um método de aprendizagem a

distância baseado em processo colaborativo, nos moldes de uma

comunidade de prática, para a aquisição de conhecimentos e o

desenvolvimento de técnicas de síntese sonora

Infraestrutura

(perguntas 2 a 7)

Avaliar a viabilidade do uso da plataforma Moodle como estrutura

virtual para uma comunidade de prática orientada para a

aprendizagem de técnicas de síntese sonora

Resultados

(perguntas (8 a 10)

Verificar o nível de satisfação dos participantes quanto ao

processo colaborativo na aprendizagem de técnicas de síntese

sonora

QUADRO 3 – Seções do questionário 2Fonte: o autor

4.5.2 Participação nos fóruns

Além das respostas aos dois questionários, a pesquisa também efetuou a

coleta de dados a partir dos fóruns de discussão do grupo, por meio da análise do

conteúdo das mensagens postadas pelos participantes. Para isso, foi adotado

como referência o método proposto por Donn R. Garrison e seus colaboradores,

por ter sido verificado na pesquisa bibliográfica que esse método foi utilizado com

eficácia por outros pesquisadores, tais como Araújo (2014), Coutinho (2013),

Moore (2005) e Vieira et al (2002). Em linhas gerais, esse método assume que a

interação é a base para o sucesso de um processo de aprendizagem dentro de

um ambiente virtual. Para tanto, são necessárias três condições fundamentais:

(a) que seja estabelecido um ambiente agradável entre os membros da

comunidade, propiciando o respeito mútuo e criando em cada participante a

percepção de pertencimento àquele espaço, a fim de produzir o que alguns

autores descrevem como “presença social”, que é primordial para a participação

ativa no processo; (b) que os temas em discussão sejam capazes de engajar os

participantes, e assim motivar efetivamente o pensamento crítico e a construção

de conhecimento; (c) que haja um apoio do moderador, oferecendo aos

participantes um feedback constante que estimule a participação e interação de

todos (COUTINHO, 2013, p. 27).

87

Segundo Garrison, Anderson e Archer (2001, p. 5), a aquisição e a

aplicação de conhecimento se manifestam na “presença cognitiva”, que pode ser

definida como a intensidade com que as pessoas conseguem construir e

consolidar significados dentro de uma comunidade que busca informações sobre

determinado assunto, e que se desenvolve, fundamentalmente, através da

interação dos participantes. Esses autores afirmam que o diálogo por meio de

mensagens escritas, como é o caso da comunicação assíncrona que ocorre em

fóruns de discussão, tem algumas vantagens inerentes em comparação com a

conversa oral entre pessoas que debatem um determinado tema, pois, ao

escrever uma opinião ou um argumento em uma mensagem, a pessoa está mais

propensa à reflexão do que quando fala em tempo real. Também Coutinho (2013,

p. 22) destaca que esse lapso de tempo que transcorre entre a mensagem

postada e as eventuais respostas recebidas contribui para o processamento da

informação e, por consequência, promove um aprofundamento da aprendizagem.

No entanto, ao se avaliar a presença cognitiva em conteúdos escritos

depara-se inevitavelmente com algumas dificuldades, já que essa avaliação

quase sempre se processa em cima das evidências visíveis, isto é, aquilo que os

participantes do grupo deixam aparecer no texto, tornando o processo

relativamente indutivo e, consequentemente, sujeito a erros por parte do

observador (GARRISON, ANDERSON e ARCHER, 2001, p. 11). Além disso,

segundo esses autores, para que se possa analisar o conteúdo nas mensagens

de processos de comunicação assíncrona, como é o caso dos fóruns de

discussão existentes no grupo de estudos desta pesquisa, é recomendável

efetuar uma organização do processo.

Para isso, o método desenvolvido por Garrison e seus colaboradores

estabelece quatro categorias ou fases fundamentais para que se possa descrever

e compreender a presença cognitiva dentro de um contexto de aprendizagem.

A primeira fase definida pelo método se refere à etapa inicial, o fator

gerador, em que ocorre a identificação e o reconhecimento de uma questão ou

um problema que pode surgir a partir de uma situação vivenciada por alguém do

grupo. A segunda fase é a exploração, em que os participantes tendem a se

deslocar entre suas posições de reflexão individual e a exploração coletiva de

ideias. A terceira fase é a integração, e se caracteriza basicamente pela

88

construção de significados a partir das ideias produzidas na fase anterior; é

quando os participantes começam a avaliar a aplicabilidade das ideias para

descrever o problema. É nessa etapa que a presença do moderador é mais

necessária, a fim de apresentar conceitos e esclarecer entendimentos incorretos,

para assegurar a continuidade do desenvolvimento cognitivo e promover

adequadamente o pensamento crítico. A quarta e última fase é quando acontece

a resolução da questão ou do problema apontado no início, culminando com uma

proposta de solução ou de uma confirmação prática das ideias apresentadas

(GARRISON, ANDERSON e ARCHER, 2001, p. 2).

Na análise do conteúdo das mensagens, são identificados os elementos

descritores, que são adjetivos que caracterizam o processo de cada uma das

quatro fases, e os elementos indicadores, que são os exemplos claros da

ocorrência dos processos sociocognitivos em cada fase. Para auxiliar na análise,

são também apresentadas explicações resumidas para exemplificar cada

indicador. O Quadro 4, a seguir, apresenta as quatro categorias e as respectivas

características que as identificam no conteúdo das mensagens.

89

Descritores Indicadores Processos Sociocognitivos

1. Fator gerador (Evocativo)

1.1. Reconhecimento do problemaApresentar uma informação sobre o tema, culminando com um questionamento.

1.2. Sensação de confusão ou perplexidade

Fazer questionamentos; emitir comentários que levem a discussão a novas direções.

2.Exploração (Inquisitivo)

2.1. Divergência dentro do grupoDiscordância de ideias, mas ainda sem sustentação teórica.

2.2. Divergência numa simples mensagem

Muitas ideias ou temas diferentes são apresentados na mesma mensagem

2.3. Troca de InformaçãoNarrativas/descrição/fatos pessoais (não usados como argumento para sustentar umposicionamento ou conclusão)

2.4. Sugestões para serem consideradas

Comentários que denotem alguma restriçãoou discordância de ideias. Ex: “Isso não parece correto”.

2.5. Discussões (brainstorms) Acrescenta novas ideias, mas não as defende teoricamente, e nem tampouco as desenvolve de forma sistematizada.

2.6. Conclusões Aponta sugestões e opiniões, mas não as fundamenta.

3. Integração (Provisório)

3.1. Convergência entre membros do grupo

Faz referência às contribuições dos colegas, concordando com suas ideias, mas também acrescenta novas ideias e novos significados.

3.2. Convergência na mesma mensagem

Tenta justificar, desenvolver e defender hipóteses.

3.3. Conexão de ideias, síntesesIntegra informações de várias fontes: livros,artigos, experiências pessoais, etc.

3.4. Criação de soluções Caracterização explícita de uma mensagemcomo uma solução pelo próprio participante

4. Resolução (Comprometido)

4.1. Aplicação no mundo realAplicação prática dos conhecimentos adquiridos.

4.2. Teste e defesa de soluções

Estabelecimento de relações com outros conhecimentos já existentes; aquisição de competência de análise e reflexão crítica; poder de argumentação para sustentar as ideias que defende sobre o desafio colocado.

QUADRO 4 – Categorias para avaliação da presença cognitivaFonte: adaptado de Garrison, Anderson e Archer (2001, p. 11) e Coutinho (2013, p. 28)

90

4.5.3 Relatórios de atividades

A fim de complementar os dados obtidos por meio dos dois questionários

e da análise do conteúdo das mensagens nos fóruns, foram também analisados

os dados estatísticos apresentados nos relatórios do Moodle, que forneceram

registros bastante úteis do histórico das ações e interações dos participantes do

grupo no ambiente da comunidade virtual. Os dados desses relatórios foram

inseridos em uma planilha, a partir da qual foram então gerados gráficos que

possibilitaram uma compreensão mais clara e facilitaram a análise dos

resultados.

91

5 ANÁLISE DOS DADOS

A avaliação dos resultados do processo de aprendizagem na comunidade

do grupo de estudos foi baseada nos dados obtidos nas respostas dos

participantes a dois questionários e na análise do conteúdo das mensagens

postadas nos fóruns. Também foram consideradas as interações dos participantes

observadas nos fóruns e demais seções do ambiente virtual, assim como os

registros gerados pelos relatórios do Moodle.

5.1 RESPOSTAS AOS QUESTIONÁRIOS

O questionário 1, que foi apresentado aos participantes dentro do ambiente

virtual, foi respondido por onze pessoas (52,4%) de um total de 21 que acessaram o

ambiente virtual. Já o questionário 2, encaminhado aos participantes por e-mail, foi

respondido por seis pessoas (28,6% dos participantes). Todas as respostas aos

questionários foram registradas sem a identificação dos participantes.

5.1.1 Respostas ao questionário 1

Não foi possível determinar as datas exatas em que os participantes

responderam o questionário 1, pois o Moodle não registra esse tipo de

informação para a atividade de “Pesquisa”. As respostas a esse questionário são

apresentadas a seguir, reproduzindo a representação gráfica criada pela própria

atividade de “Pesquisa” do Moodle.

A primeira seção do questionário buscou obter informações sobre o nível de

conhecimento do participante em relação à síntese sonora, o seu grau de domínio

sobre o assunto e o seu nível de prática.

A questão 1.1 (Figura 14) procurou saber como os participantes avaliavam

seu nível de conhecimento em relação aos parâmetros e recursos do

sintetizadores. Cerca de 18% dos participantes que responderam o questionário

assumiram ter um conhecimento “ruim” sobre esse assunto; os demais

consideraram seu nível de conhecimento “regular” (45,5%) e “bom” (36,7%). Isso

indica que a maioria (63,6%) dos participantes que opinaram assumiram um nível

92

de conhecimento mediano, não havendo quem se considere especialista e nem

totalmente ignorante sobre o tema. Portanto, a partir da opinião dos próprios

participantes, o nível parece ser relativamente homogêneo.

FIGURA 14 – Questionário 1 – Questão 1.1Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 1.2 (Figura 15) procurou saber o domínio dos participantes em

relação à programação e edição de timbres no sintetizador. Quase a metade

(45,5%) deles afirmaram que na maioria das vezes sabem qual parâmetro do

sintetizador devem ajustar; a maioria (54,5%) consegue fazer isso apenas em

algumas ocasiões. Em certa medida, estas respostas estão coerentes com as

respostas da questão anterior.

FIGURA 15 – Questionário 1 – Questão 1.2Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 1.3 (Figura 16) procurou avaliar a experiência prática na criação de

timbres nos sintetizadores. As respostas demonstraram uma pequena heterogeneidade

do grupo em relação à prática de criar timbres próprios no sintetizador, havendo alguns

que têm o costume de programar seus próprios timbres, enquanto outros que

raramente ou nunca o fazem. No entanto, pela distribuição das respostas, pode-se

perceber que o grupo mantém uma média em termos dessa capacidade, com 45,5%

assumindo que criam seus próprios timbres apenas eventualmente.

93

FIGURA 16 – Questionário 1 – Questão 1.3Fonte: imagem capturada pelo autor

A segunda seção do questionário buscou conhecer o nível de expectativa do

participante com relação ao grupo de estudos, suas demandas e seus objetivos.

A questão 2.1 (Figura 17) procurou saber do participante qual a importância

que ele dá à capacidade de programar seus próprios timbres no sintetizador. A

grande maioria (81,8%) demonstrou que isso é extremamente importante.

FIGURA 17 – Questionário 1 – Questão 2.1Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 2.2 (Figura 18) procurou saber sobre a capacidade dos

participantes em aprender por conta própria. Pode-se perceber que apenas uma

pequena parcela (menos de 20%) dos participantes assumiu não ser capaz de

aprender a programar seus sintetizadores sem contar com a ajuda de outra pessoa.

No entanto, quase metade dos participantes se disseram capazes de realizar essa

atividade sem ajuda.

FIGURA 18 – Questionário 1 – Questão 2.2Fonte: imagem capturada pelo autor

94

A questão 2.3 (Figura 19) procurou saber a opinião sobre a importância

de aprender com outras pessoas. Todos concordaram que podem aprender

melhor a programar seus sintetizadores se trabalharem em conjunto com outras

pessoas. É interessante analisar essa questão considerando as respostas da

questão anterior (2.2): apesar de praticamente metade dos participantes se achar

capaz de programar sem ajuda dos outros, todos concordaram que podem

aprender melhor com a ajuda dos outros.

FIGURA 19 – Questionário 1 – Questão 2.3Fonte: imagem capturada pelo autor

Na questão 2.4 (Figura 20) todos consideraram importante desenvolver

timbres em conjunto com outras pessoas, sendo que quase 20% consideraram isso

extremamente importante.

FIGURA 20 – Questionário 1 – Questão 2.4Fonte: imagem capturada pelo autor

A partir desses resultados, pode-se perceber que o grupo é composto por

pessoas que assumem ter um conhecimento razoável do assunto e consideram

importante esse conhecimento, sendo que a maioria possui alguma experiência

prática na produção de timbres no sintetizador. Além disso, apesar de se

considerarem capazes de aprender por conta própria, a maioria também

considera importante desenvolver a aprendizagem com outras pessoas. Essas

conclusões estão resumidas no Quadro 5.

95

Autoavaliação inicial

Nível de conhecimento sobre o assunto médio

Domínio prático dos recursos do sintetizador médio

Opinião sobre o processo de aprendizagem

Importância do conhecimento no assunto maioria

Capacidade de aprender sozinho maioria

Importância de aprender com outras pessoas maioria

QUADRO 5 – Resumo da avaliação das respostas ao questionário 1Fonte: o autor da pesquisa

5.1.2 Respostas ao questionário 2

O questionário 2 foi divulgado por e-mail, no dia 29/03/2017, cerca de três

meses após o início da atividade do grupo. Ele foi implementado no portal do

Google, utilizando o aplicativo “Formulários”, disponível gratuitamente. Esse recurso

tem como vantagens a facilidade de uso, a possibilidade de criar perguntas de

diversos tipos, e a apresentação das respostas em forma de planilha e de gráficos.

Além disso, permite configurar o formulário para que não registre os endereços de e-

mail dos participantes, mantendo assim o anonimato das respostas, como era a

intenção da pesquisa.

O aplicativo “Formulários” registra a data e a hora em que o participante

respondeu a pesquisa, de maneira que foi possível verificar que as respostas foram

colhidas entre os dias 29/03 e 03/04. Ou seja, os participantes responderam

prontamente a esse questionário após terem recebido o respectivo e-mail de

divulgação. Os dados desse questionário são apresentados a seguir, aproveitando a

representação gráfica produzida pelo próprio aplicativo de “Formulários” do Google.

As perguntas do questionário 2 procuraram avaliar, basicamente, três aspectos:

a opinião em relação ao tipo de proposta do grupo, isto é, o processo colaborativo de

aprendizagem; a viabilidade do uso do Moodle para implementar o ambiente de

aprendizagem, em termos de acesso, funcionalidade e praticidade; e por fim verificar o

nível de satisfação dos participantes quanto ao processo colaborativo.

A questão 1 (Figura 21) buscou saber a opinião dos participantes sobre a

proposta do grupo colaborativo. Todos concordaram que a proposta é de grande

96

importância, sendo que um terço considerou a proposta extremamente importante. As

respostas a essa questão estão em concordância com as expectativas manifestadas

pelos participantes que responderam o questionário 1 (nas questões 2.3 e 2.4), logo ao

entrar no grupo.

FIGURA 21 – Questionário 2 – Questão 1Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 2 (Figura 22) procurou saber sobre a facilidade de acesso ao site da

comunidade virtual. Pelas respostas, percebe-se que a forma de acesso não agradou a

todos. Apenas 16,7% dos participantes que responderam ao questionário consideraram

“ótima” a maneira de acessar o grupo, enquanto a maioria (66,7%) classificou como

“boa”, e outros 16,7% consideraram “regular”. Um dos participantes que responderam à

questão 10 deixou uma opinião importante em relação a esse quesito (veja adiante).

FIGURA 22 – Questionário 2 – Questão 2Fonte: imagem capturada pelo autor

97

A questão 3 (Figura 23) procurou avaliar a eficiência da estrutura do Moodle,

em termos de layout e navegação, na implementação do processo proposto. Nessa

questão, as respostas ficaram divididas igualmente entre “regular” e “bom”. Isso mostra

que a maneira como foi organizado o ambiente, nos aspectos visuais e funcionais, e

também na forma de se locomover nas seções, podem ter deixado a desejar.

FIGURA 23 – Questionário 2 – Questão 3Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 4 (Figura 24) procurou obter a opinião em relação às seções e

recursos oferecidos no ambiente virtual de aprendizagem. Ficou claro que esses

recursos agradaram, já que a metade dos participantes que responderam ao

questionário considerou-os “ótimos” e a outra metade considerou-os “bons”.

FIGURA 24 – Questionário 2 – Questão 4Fonte: imagem capturada pelo autor

98

A questão 5 (Figura 25) teve como objetivo saber o que os participantes

acharam das atividades coletivas propostas nos fóruns. Pelas respostas, percebe-se

que todos aprovaram as proposições. No entanto, essa questão merece uma

reflexão mais atenta, pois, apesar de todos terem manifestado a importância das

atividades propostas, na prática não houve interesse em participar das atividades

propostas, apesar dos fóruns terem sido bastante visitados, como veremos na

análise dos dados estatísticos do quadro de observações. Essa questão será

discutida nas considerações finais, no Capítulo 6.

FIGURA 25 – Questionário 2 – Questão 5Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 6 (Figura 26) procurou saber a avaliação dos participantes em

relação ao conteúdo do material de apoio oferecido no ambiente virtual. Pelas

respostas pode-se perceber o grau de importância deste aspecto para os

participantes. Apesar de não ter havido muito tempo para produzir mais textos,

vídeos e exemplos com imagens e sons, todos os participantes consideraram de

grande importância o conteúdo disponibilizado para o grupo. Essa questão também

será novamente abordada nas considerações finais do Capítulo 6, junto com a

análise das mensagens que foram postadas nos fóruns e os dados estatísticos

registrados pelo Moodle.

99

FIGURA 26 – Questionário 2 – Questão 6Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 7 (Figura 27) é uma complementação da anterior, e procura avaliar

a importância de se dispor de simuladores dentro do ambiente do grupo. Como

veremos na análise dos dados estatísticos do quadro de observações, a seção dos

simuladores foi uma das que tiveram mais acesso.

FIGURA 27 – Questionário 2 – Questão 7Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 8 (Figura 28) teve como objetivo saber quais as seções e os

recursos mais interessantes do ambiente virtual, e permitia ao participante marcar

todas as opções que quisesse. Pelas respostas, pode-se perceber que o maior

interesse foi para o conteúdo sobre fundamentos de sintetizadores, que é o “livro”

on-line com texto e exemplos sonoros sobre síntese sonora (100% dos

100

participantes), para as referências para consulta na forma de links externos e vídeos

(83,3%), e para os simuladores de sintetizadores (66,7%). As seções do “museu”

(conteúdo histórico) e do glossário de termos técnicos interessaram a 33,3% dos

participantes. É curioso perceber que os fóruns de discussão só interessaram à

minoria (16,7%) dos participantes que responderam este questionário, o que, de

certa maneira, parece ser contraditório com as respostas obtidas na questão 5, que

trata das atividades propostas nos fóruns, assim como das expectativas

demonstradas pelos participantes na fase inicial do grupo (nas respostas às

questões 2.3 e 2.4 do questionário 1). Essa questão será abordada nas

considerações finais, no Capítulo 6.

FIGURA 28 – Questionário 2 – Questão 8Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 9 (Figura 29) procurou obter uma percepção em relação à

motivação em participar do grupo. As respostas demonstraram que a motivação

do grupo realmente não foi muito expressiva. Ainda que 50% dos participantes

tenham respondido que estavam “muito motivados”, 16,7% se assumiram “pouco

motivados” e outros 16,7% se declararam “desmotivados”. Essa falta parcial de

motivação de certa maneira pode ser a explicação para a participação

extremamente baixa nos fóruns de discussão do grupo. Tais questões também

são discutidas nas considerações finais, no Capítulo 6.

101

FIGURA 29 – Questionário 2 – Questão 9Fonte: imagem capturada pelo autor

A questão 10 (Figura 30) ofereceu uma oportunidade para que os

participantes deixassem seus comentários textualmente. Quatro dos seis

participantes (66,7%) que responderam ao questionário aproveitaram esse

espaço para opinar. Os comentários são analisados a seguir, e como as

respostas foram anônimas, os participantes foram identificados por letras, apenas

para ordenação.

FIGURA 30 – Questionário 2 – Questão 10Fonte: imagem capturada pelo autor

Participante A:

“Poderiam ser incluídas atividades que envolvessem a pesquisa ou a

produção de vídeos”.

102

Essa sugestão poderia ter sido feita dentro dos próprios fóruns de discussão,

que seriam os canais mais apropriados para isso. Se esse participante tivesse

apresentado suas ideias aos demais, talvez tivesse recebido apoio e, possivelmente,

poderia ter desencadeado uma participação coletiva nessa proposição. O fato de

não ter feito essa sugestão publicamente, pode significar algum receio de se

expressar publicamente no grupo.

Participante B

“No começo é difícil, até pra mim que sou participante, através de

engajamento ou talvez um encontro talvez motive mais os participantes. Entretanto o

tema é relevante e conheço pessoas que têm interesse em aprender esse tipo de

conhecimento e é super válido”.

Nesse comentário, o participante demonstra a dificuldade de se motivar e

se engajar no grupo, e sugere um encontro entre os membros para que permita

desencadear a interação. Assim como no caso do Participante A, sua sugestão

também poderia ter sido feita dentro dos fóruns de discussão. Parece também ter

a intenção de recomendar outras pessoas interessadas no assunto e elogiou a

iniciativa.

Participante C

“Seria interessante haver uma forma de notificação dos participantes

quando uma nova proposta de trabalho em grupo fosse lançada no site e quantos

membros estão presentes no grupo formado para a realização das atividades

conjuntas – pois não possuímos contato do número de pessoas que estão ativas

no grupo...”

Mas parabéns pelo grupo de estudos! É uma iniciativa muito generosa e

solidária!”

Esse comentário chama a atenção para um dos problemas observados na

configuração do Moodle, de não poder notificar os participantes por e-mail sempre

que houvesse uma postagem nos fóruns. Esse recurso, comum nas redes sociais,

seria muito útil para fazer com que os participantes ficassem ligados ao grupo,

mesmo que não acessem com frequência o ambiente virtual.

Participante D

“Não consegui acessar pelo smartphone. Ficou difícil acompanhar o grupo

(poderia ser parecido como um grupo do face). Mas a iniciativa é excelente.”

103

Esse comentário revela uma dificuldade observada no funcionamento do

ambiente virtual do grupo. Na verdade, o ambiente do Moodle foi configurado

para poder ser acessado via smartphone (ainda que com limitações de suas

funcionalidades), necessitando, no entanto, instalar no aparelho um aplicativo

específico que é disponibilizado gratuitamente. A informação sobre como fazer

isso foi incluída na seção “Notícias e Avisos” do grupo, mas possivelmente não foi

lida por todos. Esse participante destacou também a dificuldade de acompanhar o

grupo e ainda sugeriu que houvesse alguma similaridade com o Facebook, o que

é natural, por ser uma plataforma muito popular e cuja interface é bem conhecida.

Também elogiou a iniciativa, demonstrando a importância do grupo.

A partir das respostas ao questionário 2, pode-se perceber que os

participantes consideram bastante importante a proposta do grupo colaborativo.

Com relação ao funcionamento e à operação do ambiente virtual do grupo,

percebe-se que a forma de acesso talvez possa ser aperfeiçoada, assim como o

layout e a navegação dentro do site. As avaliações foram muito positivas com

referência à organização das seções e aos recursos disponibilizados, assim como

ao material de apoio à aprendizagem (conteúdo multimídia, simuladores e links de

referência).

Um aspecto em que as opiniões ficaram um pouco confusas foi com relação

aos fóruns de discussão. Apesar de praticamente todos terem considerados

importantes as propostas para atividades coletivas, os participantes não consideraram

os fóruns como recursos mais importantes, o que efetivamente foi confirmado na

análise das atividades ocorridas no grupo, com participação muito tímida.

O Quadro 6, a seguir, apresenta um resumo das avaliações obtidas a partir

das respostas ao questionário 2.

104

Processo de aprendizagem

Importância da proposta do grupo colaborativo Avaliação positiva pela maioria

Viabilidade do uso do Moodle

Forma de acesso; notificações Algumas ressalvas

Funcionalidade e operacionalidade; layout e

navegaçãoAlgumas ressalvas

Seções do ambiente de aprendizagem

Material de apoio (textos, áudio, exemplos) Avaliação positiva pela maioria

Simuladores de sintetizadores Avaliação positiva pela maioria

Fóruns de discussão

Apesar das propostas de atividades

coletivas serem importantes, os fóruns não

foram considerados relevantes

Links de referências Avaliação positiva pela maioria

Resultados primários

Nível de motivação

Apesar da importância da proposta do

grupo colaborativo, a motivação não foi

satisfatória

QUADRO 6 – Resumo da avaliação das respostas ao questionário 2Fonte: o autor da pesquisa

5.2 MENSAGENS NOS FÓRUNS

Os fóruns foram implementados para serem o núcleo do grupo de

estudos, para a colocação de questões e exposição de ideias. Curiosamente,

como já foi abordado na análise das respostas ao questionário 2, a participação

nos fóruns foi extremamente baixa, apesar da maioria dos participantes do grupo

ter se manifestado favorável às propostas de atividades coletivas.

Para a análise do conteúdo das mensagens postadas nos fóruns foi

adotado o método proposto por Garrison, Anderson e Archer (2001, p. 11),

apresentado no item 4.5.2. Essa análise está resumida nos quadros

apresentados a seguir. As mensagens estão ordenadas cronologicamente em

cada tópico dos fóruns; não foram reproduzidas aqui as mensagens de fóruns

onde não houve postagem de participantes exceto o moderador.

105

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

Moderador[vídeo] “Bob Moog explica o básico sobre síntese subtrativa no Minimoog”

1Fator gerador

1.1Reconhecimento

do problema

C.B.“Acho o layout do Moog fantástico justamente por mostrar a arquitetura da síntese subtrativa de umaforma simples de ser entendida ;)”

2Exploração

2.3Troca de

Informação

L.F.“Muito bom esse vídeo com o mestre. Apresentou com fácil entendimento a maneira como o envelope se comporta. Estou só de olho Oo”

2Exploração

2.6Conclusões

QUADRO 7 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa / Informações Básicas”Fonte: o autor da pesquisa

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

Moderador“Qual o segredo para conseguir um pad com tonalidade suave mas ao mesmo tempo envolvente?”

1Fator gerador

1.1Reconhecimento

do problema

R.L.“Equipamento de boa qualidade, habilidade técnica, discernimento e bom gosto no tratamento final do som.”

2Exploração

2.4Sugestões aconsiderar

Moderador

“A atuação do LPF depende da maneira como ele corta os harmônicos (12 dB/oitava, 24 dB/oitava, etc), da maneira como a se aplica a ressonância. Na execução, o uso de "tracking" ou "key follow" faz uma grande diferença, porque posiciona o filtroadequadamente conforme a nota que está sendo tocada. Vou criar alguns exemplos para analisarmos.”

3Integração

3.3Conexão de

ideias, sínteses

QUADRO 8 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa / Pads”Fonte: o autor da pesquisa

106

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

Moderador“O que de fato diferencia a atuação do filtro LP (low pass) de um synth de outro filtro LP de outro synth?”

1Fator gerador

1.1Reconhecimento

do problema

R.L.“Circuito de montagem e frequência de corte do mesmo.”

2Exploração

2.4Sugestões a

considerar

Moderador

“A atuação do LPF depende da maneira como ele corta os harmônicos (12 dB/oitava, 24 dB/oitava, etc), da maneira como a se aplica a ressonância. Na execução, o uso de "tracking" ou "key follow" faz uma grande diferença, porque posiciona o filtro adequadamente conforme a nota que está sendo tocada. Vou criar alguns exemplos para analisarmos.”

3Integração

3.3Conexão de

ideias, sínteses

Moderador

“Veja este exemplo da atuação do tracking:Usei o Moog Werkstat, que apesar de ser bastante limitado, tem circuitos analógicos muitobons. Ele é um equipamento projetado para hackear, fazer alterações, e é possível controlar vários parâmetros com sinais de tensão - mas não é exatamente modular.Neste primeiro exemplo, ajustei a frequência de corte do filtro e deixei um pouco de ressonância,mas sem usar qualquer recurso de tracking no filtro, de maneira que a frequência de corte fica sempre "estacionada" na mesma posição. O resultado é um som com uma certa característica de formante - mantém sempre o mesmo padrão de filtragem, não importa a altura da nota que está sendo filtrada.Já neste exemplo, usei a mesma tensão CV de controle do VCO (pitch) para ajustar a frequência de corte do filtro, de tal maneira que quando a altura da nota muda, a frequência de corte também muda, proporcionalmente. Isto só funcionou bem porque o filtro também possui característica de 1V/oitava, como o VCO.Aproveitei e já adicionei estes exemplos no texto do tutorial 'Características Básicas dos Sintetizadores'."

4Resolução

4.1Aplicação nomundo real;

teste e defesade soluções

QUADRO 9 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Síntese Subtrativa / Filtro”Fonte: o autor da pesquisa

107

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

Moderador

“Pessoal, estou desenvolvendo o projeto de um sintetizador híbrido, monofônico, dotado de 2 osciladores, filtro LP/HP com ressonância, 1 EG para o filtro e 1 EG para o AMP. Ondas dente-de-serra, pulso (com PWM) e senoidal. 1 LFO.A geração de notas e a afinação, o controle do portamento (glide) e recepção de MIDI é realizada por um microcontrolador.As formas de onda, filtro e amp são todos analógicos.Os primeiros testes com a parte digital estão dando resultados excelentes.Aceito sugestões em relação a recursos, tais como arpeggiator, etc.”

1Fator

gerador

1.1Reconhecimento

do problema

L.F.

“Legal achei muito bacana o projeto, mais existe algumas dúvidas em relação a isso. Você irá desenvolver todo o projeto eletrônico do sintetizador ou vai partir de um já existente? Aonde você consegue peças para desenvolver seu sintetizador do zero? e por fim existe um projeto do synth, tipo quantas peças vai precisar ou demanda de materiais e até os circuitos quecompõe esse synthAchei muito interessante e tenho disponibilidade para ajudar nesse projeto de forma voluntária.”

1Fator

gerador

1.1Reconhecimento

do problema

Moderador

“A plataforma digital é a minha placa ProtoMIDI, que usaum microcontrolador PIC. Ela faz toda a parte de entrada/saída de dados via MIDI e via USB, e também ageração das frequências dos osciladores OSC1 e OSC2, inclusive o controle do portamento (glide). No momento isso tudo está funcionando muito bem (em todos os testes de performance que fiz). A próxima etapa é implementar também a modulação de pitch via LFO "digital". Vai ter também um sub-oscilador.A partir das ondas quadradas geradas pelo PIC, circuitos analógicos criam onda dente de serra, triangular e pulso variável. O filtro também será implementado com circuitos analógicos, assim como o gerador de ruído e o LFO para modulação do filtro e do amp. O ajuste dos parâmetros poderá ser via MIDI (a parte dos osciladores já está funcionando), ou por botões no painel, com ou sem display LCD. O projeto é relativamente modular, podendo ser retirados ou adicionados recursos, conforme a proposta do produto final (preço, etc).”

2Exploração

2.3Troca de

Informação

Moderador

“O que vcs acham que deveria conter este sintetizador?Obviamente, existem limitações técnicas, mas podemosver o que é mais importante incluir.Algumas partes podem ser desenvolvidas por outras pessoas e incorporadas ao projeto.Boa parte dos circuitos dos osciladores já está em fase final.”

2Exploração

2.4Sugestões aconsiderar

QUADRO 10 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Desenvolvimento de Sintetizadores / Sintetizador híbrido - feito aqui”Fonte: o autor da pesquisa

108

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

N.F.

“Vou dividir em 2 partes dúvidas que tenho já há algumtempo e nunca fui buscar respostas.A primeira seria entender mais sobre SYSEX por alguns motivos específicos, sendo o principal deles a grande vontade de modificar algumas programações internas de instrumentos como o valor de CC de um Knob, Slider, Drawbar ou outros parâmetros.Lógico que em equipamentos que não venham com essa opção interna de edição ou via software como acontece em controladores dedicados. O meu interesse seria mudar os CCs em instrumentos que possam ser usados também como controllers. Não seinem se existe essa possibilidade de alteração na programação do sistema via SYSEX . Acredito que muitas coisas são gravadas na EPRON dos equipamentos , mas não sei se existem portas abertaspara essas alterações que não vem especificadas em manuais, lembro bem de teclados mais antigos que tinham atalhos para o sistema apertando teclas especificas , entravam em teste etc...A segunda seria sobre NPRN:Sei que a quantidade de informações nesse tipo de mensagem é muito maior que com CC, não sei até onde se estendem as possibilidades. Até então vejo como uma opção as mensagens CC, mas quais as vantagens de usá-lo e não o CC.”

1Fator gerador

1.1Reconhecimento

do problema

Moderador

“1) A categoria de mensagens SyxEx (System Exclusive Messages), como o nome sugere, foi idealizada para se configurar parâmetros específicos de equipamentos, isto é, parâmetros que não são comuns a todos os modelos/fabricantes. A estrutura desse tipo de mensagem foi concebida para poder transferir uma quantidade muito grande de bytes, de forma a permitir, por exemplo, substituir todo o conteúdo da memória interna de um equipamento. No entanto, alguns fabricantes adotam SysEx para reprogramar parâmetros individuais.No caso que você questionou, de reconfigurar botões para transmitirem outro tipo de comando, só vai ser possível se ele foi projetado para isso. (diferentementedos plug-ins, cujos botões geralmente podem ser mapeados à vontade dentro do software). [...]2) Quanto à segunda pergunta, as mensagens de RPN e NRPN foram idealizadas para complementar as mensagens de CC (na verdade elas usam como entrada os códigos de CC 64H/65H e 62H/63H) e ampliar mais a especificação original do MIDI. […]É complicado, mas com o tempo a gente vai aprendendo.....Todos esses detalhes estão documentados na MIDI Specification 1.0 e demais especificações, disponíveis no site da MIDI Association.”

3Integração

3.4Criação desoluções

QUADRO 11 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “MIDI Avançado”Fonte: o autor da pesquisa

109

Autor damensagem

Conteúdo Descritor Indicador

A.J.

“Olá pessoal.Realmente seria uma boa discussão tentar criar umacategorização que traga uma novidade. Em princípiocategorizo alguns timbres que crio de forma convencional, acho eu, utilizando como base um timbre de um hardware famoso como o Poly 800, Dx7 ou a partir de um filme como Star Wars e acrescento alguma característica de algum parâmetro que utilizo para construção como a frequência utilizada. Por exemplo: SW 300 ( Star Wars / 300 hertz, que seria a frequência de oscilação grave).”

1Fator gerador

1.1Reconhecimento

do problema

Moderador

“É uma possibilidade.Eu vejo também muitos fabricantes usarem uma classificação genérica, como lead, bass, pad, texture, piano-like, resonant, sweep, percussive, metalic, noisy, rhythmic, etcA minha ideia era ter uma identificação menos dependente do conhecimento prévio de outras sonoridades semelhantes. Um recurso que permitisse descrever a sonoridade, de maneira semelhante ao que faz uma partitura em relação a música.Estou pesquisando artigos sobre isso, mas ainda não achei nada que fosse prático e eficiente.”

2Exploração

2.4Sugestões aconsiderar

QUADRO 12 – Análise de conteúdo das mensagens do fórum “Estética Sonora – Nomes de Timbres”Fonte: o autor da pesquisa

Com exceção dos fóruns “MIDI Avançado” e “Estética Sonora”, todos os

demais temas para discussão foram iniciados pelo moderador. Além disso, em

todos os fóruns a última mensagem foi do moderador, não havendo depois mais

interação.

A partir da análise de conteúdo das mensagens postadas nos fóruns é

possível perceber que o processo de discussão foi interrompido praticamente

ainda na fase de exploração dos temas, não havendo nenhum que percorresse

todas as fases. Além disso, nos poucos tópicos em que a discussão ainda

avançou para outras fases, isso só aconteceu por causa da intervenção do

moderador, que procurou “empurrar” o assunto adiante, mas, ainda assim, não

conseguiu motivar a interação dos participantes a fim de prosseguirem no debate.

Mesmo nas discussões que não foram propostas pelo moderador, os próprios

participantes que haviam proposto aqueles temas não retornaram aos fóruns.

110

De acordo com Garrison, Anderson e Archer (2001, p. 8), o

desenvolvimento da fase de exploração significa interação, fazendo com que os

participantes se desloquem de seus domínios individuais para o coletivo, entre a

reflexão crítica e o discurso, de tal maneira que, ao final dessa fase, possam

começar a discriminar o que é de fato relevante para o problema em questão.

Nos poucos temas colocados em discussão nos fóruns, o grupo, ou melhor, uma

porção bastante reduzida dele, conseguiu alcançar muito timidamente essa

etapa, não chegando a atingir as fases de integração e de resolução. A

complementação dessa última é que caracterizaria, em termos educacionais, a

aquisição de um conhecimento significativo e o consequente deslocamento para

uma nova questão, em uma dimensão mais elevada (GARRISON, ANDERSON e

ARCHER, 2001, p. 8).

Retomando os conceitos postulados por Wenger et al (2002, p. 71-109) sobre o

desenvolvimento das comunidades de prática, já abordados no final do Capítulo 3

(Figura 7), também é possível perceber que o grupo de estudos objeto desta pesquisa

conseguiu completar apenas o primeiro estágio (“potencial”) e adentrar o estágio de

“adesão”. No entanto, apesar das várias atividades propostas e da participação do

moderador, não se conseguiu estabelecer relações significativas entre os participantes

para que pudessem configurar seus interesses e necessidades. Por causa disso, não

chegaram a ser atingidos os estágios seguintes – “maturação” (determinação de valor;

foco na comunidade) e “atuação” (consolidação de conhecimentos e relacionamentos) –

pois a comunidade acabou perdendo sua energia prematuramente.

5.3 RELATÓRIOS DO MOODLE

Os recursos de gerenciamento da plataforma Moodle permitem que o

administrador do curso ou da atividade de ensino visualize relatórios apresentando

as atividades que foram acessadas pelos participantes e quando esses acessos

ocorreram. Os relatórios podem ser gerados selecionando a data, a atividade e o

participante.

Esses relatórios foram bastante úteis porque possibilitaram saber quais os

recursos do grupo de estudos mais visitados pelos participantes, e assim avaliar

aqueles que despertaram maior interesse.

111

A partir desses relatórios, foi então elaborada uma planilha (reproduzida no

Apêndice 3) contendo as datas, as ações realizadas e a quantidade de participantes

em cada uma dessas ações. Com os dados organizados na planilha, foram então

gerados os gráficos utilizados para a análise, apresentados a seguir.

O período de observação considerado na geração dos relatórios

compreendeu pouco menos de 100 dias, desde 15 de janeiro de 2017 até 28 de

abril de 2017.

O gráfico “Inscrições no grupo” (Figura 31) mostra o fluxo de entrada dos

participantes no grupo, indicando a cronologia das inscrições, que foram

efetuadas manualmente pelo pesquisador a partir da manifestação positiva dos

convidados. Basicamente, houve dois períodos de inscrições: o primeiro, logo

após a divulgação do grupo a um conjunto de cerca de 25 pessoas, até o dia 15

de fevereiro de 2017. Em seguida, cerca de três semanas depois, foram inscritas

mais sete pessoas. É importante notar que, como já mencionado no Capítulo 4,

nem todas essas pessoas acessaram efetivamente o grupo, e por isto só houve

21 participantes.

FIGURA 31 – Inscrições no grupoFonte: O autor

O gráfico “Visualização dos fóruns” (Figura 32) mostra quantos dos

participantes acessaram os fóruns de discussão no decorrer do período de

observação da pesquisa. Percebe-se que os períodos de maior intensidade

ocorreram um pouco depois dos períodos de inscrição, indicando um razoável

interesse inicial nos assuntos.

112

FIGURA 32 – Visualização dos fórunsFonte: O autor

No último mês do período observado, praticamente não houve mais

visualizações dos fóruns. Esse declínio de motivação em participar das discussões

de certa maneira mostra uma coerência com algumas das avaliações obtidas a partir

das respostas ao questionário 2 (questões 8 e 9).

O gráfico “Postagens nos fóruns” (Figura 33) mostra a participação efetiva

dos membros do grupo nas discussões sobre temas relativos à síntese sonora. Os

momentos de maior participação coincidem com os períodos de inscrição de

participantes. Percebe-se que a atividade foi muito baixa, levando-se em

consideração que a característica principal de uma comunidade de prática é

justamente a troca de ideias, experiências e busca de soluções em conjunto.

É interessante observar, também, que atuação dos participantes postando

mensagens foi muito menor do que visualizando mensagens (gráfico da Figura 32).

Isso denota um interesse menor em uma participação ativa e uma maior

passividade, isto é, buscar as informações disponíveis e não provocar discussões. O

resultado desses dados também parece corroborar com as avaliações obtidas a

partir das respostas ao questionário 2 (questões 8 e 9).

FIGURA 33 – Postagens nos fórunsFonte: O autor

113

O gráfico “Visualização do livro” (Figura 34) mostra quantos participantes

acessaram o material de apoio contendo conceitos e informações sobre síntese

sonora, na forma de texto, imagens e exemplos sonoros. Aqui também se observa

que esses acessos ocorreram com maior intensidade logo após os períodos de

inscrição dos participantes no grupo.

Outro aspecto que se pode perceber é que houve maior interesse em buscar

informações nesse conteúdo pronto do que postando mensagens nos fóruns (gráfico

anterior, na Figura 33), reforçando a percepção de maior passividade e menor

interesse em participação ativa.

FIGURA 34 – Visualização do livroFonte: O autor

O gráfico “Visualização dos simuladores” (Figura 35) mostra quantos

participantes acessaram os aplicativos on-line de simulação de sintetizadores.

Aqui, mais uma vez, pode-se observar que os acessos ocorreram com maior

intensidade logo após os períodos de inscrição dos participantes no grupo. Esse

interesse, no entanto, provavelmente não aconteceu para testar questões

debatidas nos fóruns, que foram muito poucas, mas talvez meramente para

experimentar os aplicativos.

FIGURA 35 – Visualização dos simuladoresFonte: O autor

114

Enfim, os dados obtidos dos relatórios gerados pelo Moodle e representados

nos gráficos das Figuras 31 a 35 em certa medida corroboram com as respostas ao

questionário 2 e a análise do conteúdo das mensagens dos fóruns.

As postagens nos fóruns aconteceram muito timidamente, e os poucos

participantes que postaram mensagens o fizeram logo após entrarem no grupo, mas

não pareceram motivados a prosseguir. O comportamento passivo dos participantes

no grupo de estudos fica mais perceptível quando se compara as estatísticas de

acesso ao conteúdo do material de apoio com a troca de mensagens nos fóruns. O

que deixa transparecer é que as pessoas buscavam mais as informações prontas do

que o debate. Essa baixa atividade dos participantes nos fóruns vai exatamente no

sentido contrário ao conceito das comunidades de prática.

5.4 INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Além das análises apresentadas nos itens anteriores, referentes aos dados

obtidos nas respostas aos questionários, na análise de conteúdo das mensagens

dos fóruns e nos registros estatísticos dos relatórios do Moodle, é relevante incluir

alguns comentários que foram encaminhados pelos participantes diretamente ao

pesquisador, por e-mail e pelo messenger do Facebook. A relevância dessas

manifestações realizadas externamente aos canais principais de coletas de dados

(questionários e mensagens nos fóruns) é destacada por Bauer e Aarts (2013, p.

21), que afirmam que na pesquisa social há um interesse na maneira espontânea

como as pessoas se expressam e descrevem aquilo que julgam importantes, assim

como o que pensam sobre as ações delas e dos outros. Esses comentários

adicionais são apresentados e analisados a seguir.

Participante X:

“Tenho apenas uma dúvida a princípio: é avisado quando há alguma

atividade em grupo a ser feita?”

Participante Y:

“Irei me programar para estudar o conteúdo sempre em um determinado

horário, mas gostaria de ser notificada mesmo em outros dias também...ou eu devo

estar sempre acessando o site?”

115

Esses comentários reforçam a necessidade de se notificar os

participantes quando uma nova mensagem é postada nos fóruns, e parece ser

uma questão relevante para os participantes. No entanto, infelizmente não foi

possível configurar a versão do Moodle que foi usada na pesquisa para realizar

essa tarefa. É de se imaginar que se os participantes tivessem recebido algum

tipo de aviso a cada mensagem postada, a interação e a participação poderiam

ter sido maiores.

Participante Z:

“[...] por vezes fiquei perdido dentro do site; mas nas próximas

oportunidades tentarei de forma diferente abrindo a outras abas para pesquisa.[...]”

Esse comentário tem relação com a organização e/ou o layout do

ambiente virtual, e demonstra que houve algum tipo de dificuldade para acessar

as diferentes seções e os recursos disponibilizados no grupo.

116

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo apresenta os comentários finais sobre a pesquisa e os

resultados com ela obtidos, e aponta sugestões e recomendações que possam

servir de orientação a novos trabalhos que venham a ser realizados no futuro.

Para isso, primeiramente são resgatados aspectos iniciais dos objetivos da

pesquisa para que se possa ter uma avaliação mais clara desses resultados.

Também são feitas algumas considerações a respeito da análise dos resultados e

da implementação do processo de aprendizagem proposto.

6.1 OBJETIVOS E RESULTADOS

A pesquisa ocorreu em um grupo de estudos hospedado em um ambiente

virtual na internet, e teve como objetivo principal verificar a eficácia de um método

de aprendizagem de técnicas de síntese sonora, dentro de um processo

colaborativo a distância e com as características de uma comunidade de prática.

Paralelamente, também procurou-se saber se a plataforma Moodle é viável como

ambiente virtual de aprendizagem para este tipo específico de aplicação. O

público-alvo foram músicos, compositores e demais usuários de instrumentos

musicais eletrônicos e de softwares para produção musical.

O grupo de estudos criado para a realização da pesquisa não teve

qualquer vínculo com outras atividades, tais como cursos ou grupos de usuários.

Portanto, o desenvolvimento desse grupo foi absolutamente autônomo, isto é, os

participantes não tinham qualquer tipo de compromisso ou obrigação na

realização das tarefas propostas, além de seus próprios interesses.

Embora as expectativas demonstradas por alguns dos membros do grupo

tenham sido bastante positivas, como se pôde constatar pelas respostas ao

primeiro questionário, isso acabou não se confirmando no decorrer da pesquisa. A

participação efetiva foi muito baixa, de tal maneira que não se conseguiu

desencadear efetivamente qualquer atividade coletiva.

Tratando-se de uma comunidade de prática, e não de um curso on-line, o

moderador do grupo fez questão de não assumir uma função hierárquica, e

procurou apenas sugerir temas e atividades, evitando assim se caracterizar

117

efetivamente como tutor ou instrutor. Conforme observado por Wenger (2015, p.

4), esse realmente parece ser um dos maiores desafios para o desenvolvimento

de uma comunidade de prática que, apesar da proposta de compartilhamento de

conhecimento a partir da autonomia, da informalidade e da eliminação de limites,

pode esbarrar em conceitos hierárquicos assumidos previamente pelos

participantes. Para evitar a descaracterização da aprendizagem nos conceitos de

uma comunidade de prática, o mediador limitou-se a motivar os participantes

através dos fóruns, além de oferecer alguns subsídios técnicos.

O fato de não terem acontecido interações entre os participantes, a

despeito de suas boas expectativas em relação à proposta do grupo, deixa claro

que apenas propor as atividades parece não funcionar. Os participantes precisam

de mais estímulos, o que provavelmente não foi produzido de forma suficiente no

grupo pesquisado. De acordo com Wenger, McDermott e Snyder (2002, pp. 71-

109), na etapa inicial da comunidade de prática o grande problema é produzir a

energia que faça o grupo se agregar, sendo fundamental propor e iniciar

atividades que permitam aos membros construírem relacionamentos, confiança e

percepção de suas demandas e seus interesses em comum.

Um dos pontos-chave das comunidades de prática é a percepção dos

participantes como parceiros dentro do processo de aprendizagem,

reconhecendo-se mutuamente como verdadeiros praticantes do tema focado no

grupo. E também nesse aspecto não se concretizaram as expectativas

apresentadas pelos participantes no primeiro questionário, já que não houve

interações suficientes para se desenvolverem parcerias.

O processo colaborativo de aprendizagem subentende a participação de

todos, e por isso era de se esperar que as pessoas que concordaram em participar

do grupo de estudos desta pesquisa não se limitassem a acessar e observar o

ambiente, mas também contribuir para o processo acontecer, postando ideias ou até

mesmo tentando esclarecer dúvidas individuais.

Considerando os requisitos específicos para a implantação de uma

comunidade de prática, já abordados no item 4.1.2, na opinião de Xin e Feenberg

(2006, p. 18), para que as discussões on-line sejam eficientes e realmente

produzam resultados é preciso que o mediador perceba com que dinâmica

ocorrem as interações dos participantes, e coloque suas observações somente

118

quando elas de fato forem oportunas, se concentrando em criar as conexões

necessárias para as ações conjuntas dos membros do grupo. Conforme Pallof e

Pratt (2007, p. 170), as possibilidades de colaboração entre os participantes são

ampliadas quando eles interagem mais entre si e menos com o tutor ou mediador.

Considerando também o fato do grupo não estar vinculado a qualquer outra

atividade ou curso, seu desenvolvimento deveria ser espontâneo, autônomo, e

informal, o que, no entanto não ocorreu. O sucesso de uma comunidade de prática

em termos de produção de conhecimento está diretamente relacionado à interação

de seus membros. No caso desta pesquisa, pode-se especular que as ações

promovidas pelo moderador não tenham sido suficientes para produzir os

relacionamentos necessários para o desenvolvimento efetivo do processo.

Um fato que não pode ser descartado como uma das causas para a baixa

participação é que o grupo iniciou suas atividades em meados de janeiro, um

período em que geralmente muitas pessoas estão em férias e afastadas de suas

atividades e, portanto, menos propensas a se envolver com as questões do seu

cotidiano profissional. Essa situação também foi observada na pesquisa

desenvolvida por Méio (2014, p. 115).

É possível, também, que o material de apoio contendo informações

conceituais e exemplos, apesar de ter sido elogiado, não tenha sido suficiente –

em profundidade e/ou em amplitude – para criar um interesse maior em

frequentar o grupo. Talvez tivessem aflorado mais assuntos para debate se

houvesse uma variedade maior de informações disponibilizadas dentro do grupo.

A passividade dos participantes também pode ter sido provocada por

algum receio de se passar por menos conhecedor e menos competente frente

aos demais, sobretudo pelo fato do grupo ter sido criado por um especialista

experiente. Esse aspecto é destacado por Fiorio, Da Silva e Ribeiro (2011, p. 1),

que afirmam que quando a atenção é centralizada em determinados domínios ou

indivíduos, pode-se ter uma redução no poder de compartilhamento de

conhecimento, o que torna difícil a formação dinâmica da comunidade de

aprendizagem. No presente caso, poderia ter sido aplicada uma breve mudança

de estratégia para aguçar o interesse dos demais e, inclusive, estimular a

apresentação de questões individuais para que se desencadeassem debates e

soluções. Nesse sentido, talvez fosse necessário, ainda na fase inicial do grupo,

119

adotar algumas táticas genéricas de processos de aprendizagem a distância, com

o moderador assumindo uma postura mais proativa, e não apenas atuando de

forma reativa às manifestações dos participantes, já que ele, com um

conhecimento amplo e profundo da área de atuação, seria mais um recurso

educacional, tal qual o conteúdo de apoio que foi disponibilizado no ambiente de

aprendizagem (GOHN, 2009, p. 68).

Outra razão para a perda de interesse no grupo pode estar relacionada ao

teor das atividades propostas pelo moderador. Sendo esse grupo um processo de

aprendizagem baseado na abordagem sociointeracionista, seria recomendável que

as ações tivessem uma relação bastante forte com a experiência cotidiana dos seus

membros. Esse vínculo pode não ter sido estabelecido de maneira suficientemente

forte nas propostas. Para Pallof e Pratt (2007, p.168), o conteúdo do estudo deve

estar bem contextualizado com o dia a dia de cada um, de tal forma que quanto

maior for a conexão com a experiência real, tanto maior é a identificação e o

significado do processo do qual estão participando.

Uma questão a considerar é que todos os participantes foram informados

previamente de que estariam fazendo parte de uma pesquisa acadêmica. Talvez isso

possa ter influenciado no seu comportamento, criando-lhes ressalvas em participar e

se manifestar dentro do grupo. Entretanto, não foi possível confirmar essa situação.

Na opinião de Hartley e Collins-Brown (1999, p.30), existem ainda outras

possíveis razões para a relutância das pessoas em participar em fóruns de

discussão on-line, tais como falta de espontaneidade, falta de tempo, falta de

automotivação, dificuldade de se expressar por escrito, dentre outras.

No entanto, de uma forma geral, pode-se considerar que esta pesquisa foi

um ensaio significativo, por ser uma iniciativa aparentemente inédita para se

tentar avaliar a real eficácia de um método de aprendizagem baseado no conceito

de comunidade de prática no campo da síntese sonora, usando o Moodle como

ambiente virtual. As razões para a comunidade não ter se desenvolvido como

desejado podem ser diversas, conforme apresentado anteriormente neste

capítulo. O fato do grupo investigado na pesquisa não ter conseguido obter

sucesso como uma comunidade de prática pode não estar necessariamente

associado ao conceito teórico da aprendizagem colaborativa e nem ao objeto

central de estudo – a síntese sonora, mas possivelmente à forma como foi

120

conduzido o processo, assim como a alguns aspectos limitadores encontrados na

plataforma adotada para o ambiente virtual, como veremos no item 6.2. Portanto,

um dos ensinamentos que se pode obter a partir desta pesquisa é que os

aspectos fundamentais do processo de aprendizagem colaborativa precisam ser

muito bem delineados e melhor ainda implementados, sobretudo para

proporcionar a percepção de pertencimento ao grupo, a integração, o

engajamento e a motivação dos participantes para conduzirem juntos o processo.

Sem isso, realmente não parece ser possível atingir objetivos concretos e

relevantes.

6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO

As razões que levaram à escolha da plataforma Moodle para a

implementação do grupo de estudos analisado nesta pesquisa já foram elencadas

no Capítulo 1. No entanto, embora na época de idealização do projeto do grupo

tenham sido verificadas várias vantagens na adoção do Moodle, já na fase de

implantação do ambiente virtual foram observados alguns aspectos que

impuseram limitações à operação idealizada para o grupo.

No processo de inscrição dos participantes foi percebida uma pequena

falha que, embora não tenha prejudicado o funcionamento do grupo, acabou

acarretando um ligeiro atraso para o acesso de alguns membros. Quando se

inscreve um participante no Moodle, existe uma opção para “gerar uma senha e

notificar usuário”, que faz com que seja enviada automaticamente uma

mensagem de e-mail àquele usuário que acabou de ser inscrito, informando a ele

uma senha provisória. Entretanto, alguns participantes do grupo de estudos não

receberam essa mensagem, e só depois de um contato direto por e-mail do

pesquisador é que essas inscrições foram refeitas e confirmadas.

Um problema mais grave foi a impossibilidade de configurar o Moodle para

notificar os membros do grupo por e-mail sempre que fosse colocada uma nova

mensagem nos fóruns, de maneira a chamar a atenção dos participantes para a

continuidade da discussão. Esse aspecto, ainda que aparentemente não muito

relevante, pode ter colaborado para a desmotivação dos membros do grupo. Isso,

inclusive, foi destacado por dois comentários recebidos (vide item 5.4).

121

Quando o usuário digita uma mensagem no fórum, existe uma opção para

“enviar e-mail em seguida”, mas não foi possível saber porque esse recurso não

funcionou. Pode ter sido devido a algum problema na versão 2.9.2 do Moodle, na

instalação e/ou configuração do Moodle no servidor que foi utilizado para hospedar o

ambiente virtual, ou mesmo algum problema na configuração de envio de e-mail do

servidor. Apesar de terem sido tentadas diversas alternativas de configuração nesse

sentido, não houve sucesso.

Sempre que o usuário acessa o ambiente virtual, o Moodle lhe mostra que

há novas mensagens nos fóruns em que está inscrito. No entanto, isso obriga o

participante acessar constantemente o grupo para que não perca a continuidade das

atividades. O ideal seria que e os participantes recebessem notificações em uma

conta de e-mail que acessam frequentemente, ou, melhor ainda, se pudessem optar

para serem notificados em suas contas nas redes sociais mais usadas, tais como

Facebook e WhatsApp, por exemplo. Esse recurso talvez pudesse ser um fator

adicional para motivar a participação no grupo.

Outra característica observada no Moodle que eventualmente pode ter

desmotivado os usuários se refere à maneira como são apresentadas as postagens

nos fóruns. Embora sejam oferecidas quatro opções para a forma de listar as

postagens contidas em cada tema de discussão, a ordenação das postagens não

funcionou corretamente, e em alguns fóruns a listagem das mensagens não

apareceu na ordem cronológica, conforme configurado. Embora esse problema não

pareça ter contribuído para a pouca participação nos fóruns, pode se tornar um

complicador quando o fórum possui um número significativo de postagens.

A implementação do grupo de estudos no Moodle também pode não ter ficado

muito atraente, como deixam transparecer os comentários feitos pelos participantes “D”

(vide item 5.1.2) e “Z” (vide item 5.4). No entanto, essa é uma questão polêmica, porque

envolve diversos aspectos, desde preferências pessoais até limitações tecnológicas da

plataforma. Como muitas pessoas já estão acostumadas às interfaces gráficas e aos

projetos visuais das redes sociais e de outros ambientes virtuais mais populares, é

natural que também queiram encontrar essas mesmas características em outras

aplicações on-line. Dessa forma, é preciso considerar com relevância a apresentação

do conteúdo no ambiente virtual, assim como facilitar os procedimentos de navegação e

consulta dentro dele.

122

Dentro de uma perspectiva mais atual, é fundamental também considerar que

inúmeras pessoas vêm usando mais seus smartphones do que seus computadores

para acessar a internet e realizar tarefas cotidianas, inclusive aquelas relacionadas às

atividades profissionais e de aprendizagem. Existe um aplicativo do Moodle para

dispositivos móveis, que também é gratuito e está disponível para os sistemas Android

e iOS. No entanto, quando acessado dessa maneira, a apresentação do ambiente

virtual fica bastante comprometida, dificultando muito a visualização e a navegação.

Esse recurso foi informado aos participantes através da seção “Notícias e Avisos” do

grupo de estudos, mas não foi possível saber quantos de fato o utilizaram, pois apenas

um fez comentário específico sobre essa dificuldade.

6.3 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS SOBRE O TEMA

O desenvolvimento de uma pesquisa científica envolve inúmeros

aspectos, e, como observado por Severino (2007, p.219), se processa articulando

a teoria com a realidade, não se limitando apenas à coleta de dados sobre o

assunto sob estudo. Nesse sentido, este trabalho buscou avaliar os resultados

reais da aplicação de um processo de aprendizagem colaborativa em um

segmento de prática profissional que não havia ainda sido objeto de semelhante

estudo. O trabalho, portanto, oferece mais uma percepção para futuras pesquisas

relacionadas a esse tipo de processo de aprendizagem, sendo assim uma

contribuição bastante significativa para aqueles que desejarem se empreender

nesse tema.

A partir do que foi apresentado nos itens 6.1 e 6.2, pode-se constatar que,

nessa aplicação específica, o processo demanda um preparo mais meticuloso com

relação ao ambiente virtual e, também, um trabalho mais profundo na coordenação e

na condução do próprio processo, sendo necessário dedicar uma atenção contínua

nos interesses dos participantes e uma preocupação constante com relação à sua

motivação e ao seu engajamento como membros de uma comunidade de prática.

Para ganhar maior adesão seria aconselhável, por exemplo, que a

comunidade se iniciasse em uma época em que haja significativa atividade

profissional, evitando-se o período comum de férias, e assim obter maior interesse

dos participantes.

123

Para proporcionar características mais contemporâneas de ambientação e

de dinâmica, uma possibilidade a ser aventada no futuro é o uso de um processo

híbrido, que de alguma maneira consiga combinar os melhores recursos do

Moodle, tais como a integração e a organização dos conteúdos, com algumas das

facilidades oferecidas pelas redes sociais, sobretudo a rapidez de alcance e a

mobilidade. Isso permitiria o aproveitamento das vantagens de cada uma das

plataformas.

De uma forma geral, o ensinamento que se pode tirar desta experiência é

que a implementação do processo precisa ser muito bem concebida e elaborada.

Como destacado por Goodyear (2012, p. 16), na maioria dos casos, o suposto poder

da aprendizagem a distância depende muito da combinação adequada da tecnologia

com o processo pedagógico proposto, de maneira que se isso não for bem

articulado corre-se o risco de não se aproveitar todo o potencial imaginado e, até

mesmo, chegar-se a um resultado contraproducente. No caso do ambiente de

aprendizagem desta pesquisa, o fato de todo o processo ter sido desenvolvido

unicamente pelo próprio pesquisador pode também ter contribuído para algumas

falhas. Para um melhor desempenho, seria recomendável considerar a participação

de outros profissionais da área de ensino, de design e de programação, por

exemplo, para que se pudesse dar uma forma mais apropriada ao projeto.

124

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133

APÊNDICE 1 – CURSOS COM DISCIPLINAS SOBRE SÍNTESE SONORA

Resumo dos Cursos Superiores de Música no Brasil que oferecem

disciplinas contendo referências ou afinidades com síntese sonora.

UF Instituição Nível Disciplinas

DF UnB Graduação Tecnologia Musical Básica

MG UFMG Graduação Música e Tecnologia

MG UFMG Mestrado Processamento Digital de Sons e de Música

PR UFPR Graduação

Música Eletroacústica (opt)

Oficina de Música Eletroacústica (opt)

Síntese de Áudio (opt)

PR UFPR Mestrado A Linguagem da Música Eletroacústica

PR PUC-PRGraduação

Pós-graduação

Música e Tecnologia

Tecnologias na Produção Musical (pós)*

PRUNESPAR

FAP/EMBAPGraduação

Acústica musical

Novas técnicas e linguagens musicais*

RJ UFRJ Graduação

Tecnologia Musical

Música Eletroacústica (opt)

Composição de Música Eletroacústica (opt)

RJ UFRJ Mestrado Música Eletroacústica no Brasil

RJ Uni-Rio Graduação Composição Eletroacústica

RJ

Conservatório

Brasileiro de

Música

GraduaçãoIntrodução à Música e Tecnologia

Música e Tecnologia

RS UFSM GraduaçãoPráticas Musicais e Tecnologia

Composição Eletroacústica

RS UFRGSMestrado

DoutoradoMúsica e Tecnologia

SP USP Graduação Tecnologia e Acústica Musical

SP UNICAMP GraduaçãoIntrodução à Música Eletroacústica

Música e Tecnologia*

SP FATEC- Tatuí Graduação Software e Hardware III

Fonte: o autor, a partir das páginas das instituições na internet (acesso em: ago. 2016).

(*) Ementas com referências específicas sobre síntese sonora

134

APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIOS

QUESTIONÁRIO 1

135

136

QUESTIONÁRIO 2

137

138

139

APÊNDICE 3 – PLANILHA COM OS DADOS DOS RELATÓRIOS DO MOODLE

Esta planilha mostra a quantidade de ações ocorridas diariamente em cada

uma das atividades/recursos disponíveis no ambiente virtual do grupo de estudos.

Obs.: Só foram incluídos na planilha os dias em que houve alguma ação.

Dias

15/01/17 1 1 2 1 2 1 0 027/01/17 7 2 4 9 3 4 1 230/01/17 3 1 0 1 2 1 0 001/02/17 1 0 0 0 0 0 0 002/02/17 5 3 3 9 0 4 0 003/02/17 0 0 1 3 3 2 0 004/02/17 1 0 0 0 0 0 0 005/02/17 0 1 1 2 0 0 0 007/02/17 1 0 0 4 1 0 0 008/02/17 3 0 0 1 2 0 0 010/02/17 0 0 1 2 0 0 0 011/02/17 0 0 0 1 0 0 0 013/02/17 1 0 2 0 0 1 0 015/02/17 1 0 0 0 0 0 0 016/02/17 0 1 1 4 0 1 0 017/02/17 0 0 0 5 0 0 0 021/02/17 0 1 0 3 0 0 0 023/02/17 0 1 0 1 0 0 0 026/02/17 0 1 0 2 0 0 0 003/03/17 0 0 0 2 2 1 0 007/03/17 0 0 0 3 1 0 0 008/03/17 1 0 0 0 0 0 0 009/03/17 1 1 3 6 1 0 0 110/03/17 1 1 0 0 0 0 0 011/03/17 0 0 2 0 0 1 0 016/03/17 3 1 1 1 0 0 0 017/03/17 0 1 0 3 0 0 0 019/03/17 1 0 0 0 0 0 0 020/03/17 0 0 0 7 0 0 0 021/03/17 0 1 0 3 0 0 0 023/03/17 0 0 0 1 0 0 0 026/03/17 0 0 0 0 0 0 0 027/03/17 0 0 0 1 0 0 0 028/03/17 0 0 0 1 0 1 0 001/04/17 0 0 0 0 0 0 0 002/04/17 0 0 0 1 0 0 0 003/04/17 0 1 2 1 0 0 0 004/04/17 0 0 1 6 0 0 0 005/04/17 0 1 0 1 1 0 0 014/04/17 0 1 0 0 0 4 0 016/04/17 0 0 0 0 0 0 0 023/04/17 0 0 0 0 0 0 0 0

InscriçãoNo Grupo

Notíciase Avisos

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Visualização dos Fóruns

PostagemNos Fóruns

Visualização dos

Simuladores

Visualização do Glossário

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