Raul Ventura-Compra e Venda1

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    Doutrina

    o CONTRATO DECOMPRA E VENDANO OODIGO CIVIL

    EFEITOS ESSENCIAIS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA:A TRANSMISSAO DA PROPRIEDADE DA COIBA

    OU DA TITULARIDADE DO DIRElTO; A OBRIGAC;AODE ENTRE GAR A COlSA

    Pelo Prof. Doutor Raul Ventura

    SUMARIO

    I - A TRANSMISSAO DA PROPRIEDADE DA COIBAOU DA TITULARIDADE DO DIREITO

    1. Compra e venda real e compra e venda obrlgac1onal.Generalldades.~. 0 caraeter real ou obrlgac1onalda compra e venda no dlre1toportu-gu&s.3. Transmissao da proprledade na venda de coisa determlnada.4. Transmissao da proprledade na venda de cotsa indeterm1nada.5. Venda com reserva de proprledade.

    II - A OBRIGAC;AO DE ENTREGAR A COISA6. Efe1tos essenciais e elementos essencia1sdo contrato de compra e

    venda.7. Afastamento convenc1onalda obr1g~A.ode entregar 'a coisa,8. Justiflca~ da obrlga~A.ode entregar a cotsa,9. Modosde entrega da coisa.

    10. Natureza juridlca da entrega da coisa.1L Estado da coJsa. a entregar.

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    12. ExtensAo da obrig~Ao de entregar a colsa.13. Lugar e tempo da pres~ de entrega da colsa.U. Falta de cumpnmento da obrig~ de entrega da colsa,16. A obri~ de entre gar a colsa na venda comercial.

    I-A transmissllo da propriedade da caisa au da titularidadedo direito1. ~ tradicional distinguir dois tipos de venda: a venda

    obrigatoria e a venda real (vide Galvao Teles, Venda obriga-t6ria e venda real, na Rev. Fac. Dir. Lisboa, ano V, pags, 76e segs.; Oontratos Oivis, no BMJ, vol. 83). Deixando agora 0direito romano, no qual a emptio venditio creava uma obriga-~ao do vendedor, nos direitos modernos, costuma apresentar-secomo prot6tipo da venda obrigat6ria a venda regulada peloCOdigo Civil alemao (e aceite noutros direitos, como 0espanhole 0brasileiro).

    No direito alemao, a compra e venda e um contrato bila-teral pelo qual uma das partes se obriga a prestaeao duma coisaou de um direito e a outra a uma contraprestacao em dinheiro.Do contrato nascem, pois, duas obrigacoes a cargo de cada uma

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    o OONTRATO DE OOMPRA E VENDA NO OODlGO CIVIL 589da prova do pagamento, como cumprimento duma obri~io,continuar a caber ao compra.dor.

    A doutrina italiana organizou uma classifica~o de contra-toe, num dos termos da qual consegue juntar 88 chamadas com-pra e venda real e compra e venda obrigacional. Distingue elacontroto transZativos e oontratOB meramente obrigaci0nai8.Os contratos translativos transferem um direito (real. ou deoutra natureza) ou constituem um direito real. limitado; osefeitos dos contratos meramente obrigatOrios sio constituidossempre e somente por obriga~Oes. Os contratos translativoscomportam uma sub-divisio em oontroto reai8 e controsoobrigatori08; nos primeiros a transmissao do direito ou a cons-titui~ao do direito reallimitado produzem-se por simples efeitodo consenso manifestado no contrato; nos segundos, a trans-missao do direito exige 0previo cumprimento duma obriga~ionascida do contrato, Permitir a existencia dos termos da clas-sifi~ao principal e estabelecer a ordem de import8.ncia- regra e excep~ao - dos dois termos da divisao, e fun~ao decada sistema juridico.

    Usamos acima uma frase ambigua, rela.tivamente aos con-tratos translativos obrigaeionais: a transmissao do direitoexige 0 previo cumprimento duma obriga~ao na:scida do con-trato, quando parecia mais simples dizer 0 direito transmite--Be por urn acto de cumprimento duma obrig~ao nascida docontrato. Para se compreender 0 meoanismo do que hoje eechama evenda obrigatoria e necessario penetrar urn poucomais no pensamento da doutrina italiana.

    No dominio do anterior Codigo Civil, algumas vozes iso-ladas sustentavam a natureza obrigat6ria do contrato de com-pra e venda, aJfastando sempre a sua natureza real. Fe-Io, porexemplo, Gorla, La compravendita, passim, para quem sionitidamente separados 0 acto transZativo - que e 0 acto de dis-posi~o do direito, quer mediante transmissio quer medianteonera~io, conforme a sueessao for translativa ou constitutiva- e 0contrato - negocio obrigatorio sinalagmatico, concei-tualmente distinto daquele acto. Nio interessam agora os fun-damentos desta opiniio, salvo lembrar que 0CCde 1865 definia

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    a compra e venda como um contrato pelo qual um Be obrigoua edares uma coisa e outro a pagar um preeo,No actual C6digo Civil italiano, 0art. 1470. define a venda.como eo contrato que tem par objecto a transferencia da pro-priedade duma coisa ou a transferencia de um outro direitomediante a contrapartida de um p~ e 0art. 1476. enumeraentre sa obri~ do vendedor equella de fargli acqtrlstare la

    proprieta della COIBa0 ildiritto, Be I'acquisto non e effetto imme-diato del eontrattos. A aquisi~io da propriedade da coiaa ou dodireito pode ser efeito imediato do eontrato nos termos doart. 1376.: eNos contratas que tem por objecto a transferenciada propriedade de uma coise, determinada, a coDSti.tui~ ou atransferencia dum direito real ou a transferencia de um outrodireito, a proprieda.de e 0 direito transmitem-se e adquirem-sepor efeito do consenso daa partes legitimamente manifestado.Pera.nte estes textos, a doutrina moderna ita.1ia.nareconheceem regra a natureza real da venda, In88 admite a existenciaexeepcional de casas de venda obrigat6ria. A difieuldade resideem saber precisamente em que consiste neste caso 0 ca.r8.eterobrigat6rio da eompra e isso depende em grande parte da inter-preta~io da citada alinea do art. 1476..Passando a vista pelos casos que em Italta sio qualifiea-veis como evendas obrigatorias e apreeiando quanto a cadaurn deles 0 facto detenninante da transferencia da proprie-dade sobre a coisa, verifiea-se que eles podem ser aetas dovendedor, actos de outras pessoas, simples faetos. Isto bastapara demonstrar que nas vendas obrigat6rias nem sempre atransmissio do direito e operada por urn acto di8positivo dovendedor - vejam-se os aetas de outras pessoas e os simplesfaetos - e faz presumir que, nos casas em que intervem umacto do vendedor, este nio tem car8.eter dispoeitivo do direito.Atingido este ponto, surgem naturalmente duas questOes:o papel relativo do contrato e do subsequente acto ou facto e 0eonteudo da obri~io do vendedor nas chamadas vendas obri-pelonais.Haveri. que comeear por duas observ~Oes previas: A pri-mein. respeita 808 oontratos de venda sob condi~ suspensivae consiste em notar que eats. nio e venda obrigacional; a con-

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    di~o suspensiva incide sobre todo 0 contrato, suspende 08 seusefeitos (ressalvados OS ehamados efeitos pr0dr6micos), masnao altern a natureza do contrato, que continua a ser de vendareal ou de venda obrigacional conforme as estipul~5es daspartes, a que a condi~aosuspensiva aeresce. A segunda incidesobre 0 cari.cter completo do contrato de venda obrigacional,pelo menos em regra. Pode suceder que urn contrato de vendaobrigacional- por ex., contrato de venda de coisa futura-seja urn contrato incomplete, por the faltar urn elemento; agoraobserva-se que 0 facto de a venda ser obrigaoional nio pres-sup5e que 0 contrato seja incompleto, pois existem todos osseus elementosno momento da eelebraeao e a especialtdade res-peita apenas aos efeitos estipulados.

    Ora essa especialidade consiste em ser criada, pelo con-trato, uma fase intermedia entre a celebracdo daquele e 0mo-mento em que a transmissio do direito se opera, fase essa. denatureza obrigaeional. Nio de natureza meramente obrigat6ria,na classifica~ao de contratos aeima referida, mas de naturezaobrigat6ria compativel com a atribui~io do efeito translativoao pr6prio contrato; nas palavras de urn autor, por isso tam-bernagora (Isto e , na venda obrigacional), 0trespasse do direitoe efeito unicamente do contrato, somente agora nio basta. 0simples consenso, mas e necessario tambem que em seguida saverifique urn ulterior facto.

    Admitida a fase intermedia., de natureza obrigaclonal,passa essa doutrina a determinar 0conteUdoda obriga~io assu-mida pelovendedor.Numa dae formma~Oes,essa obriga~io podeter urn conteiidoduplo; nuns casas,mas nio sempre, 0vendedorassume a obri'~io de praticar 0acto que tornara 0 compradorproprietario da coisa ou do direito vendido; sempre tern essa.obriga~ao como eontetido fazar 0 comprador adquirir 0 direitoou a. coisa.no estado de consistEmcia juridica e material em quese eneontrava no momento do contrato, contetido est:e empartenegativo - abtsten~io pelo comprador dos actos que contra-riem esse dever - e, confonne (JS casos, pode ter tambem urnconteiido positivo: defesa aetiva contra eventos que possamlesa.r a referida consist&lcia..

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    2. 0 nosso antigo C6digo Civil definia., no art. 1544., acompra e venda como 0contrato em que urn dos oontraentesse obriga a entregar eerta coosa, e 0 outro Be obriga a pagarpor e la certo Pl 'e9O em dinheiro. Inspirara-se no art. 1582. doC6digo Civil franC& e, assim como este sofria, da parte dealguns comentadoree, pressOes para Be aproximar melhor deuma venda obrigacional (Planlol, Traite, vol. X, pag. 2), 0artigo portugues era ecorrigtdos por alguns para ser lido comocO contrato em que um dos contraentes transfere a propriedadede uma coisa ao outro contraentes (Cunha Goncalves, Tratado,Vol. VIII, pig. 328).

    Apesar da letra do art. 1544., era solida a opiniio gene-ralizada, no sentido de, pelo menos em regra, a compra e vendaser um contrato de natureza real quoad ejectum. Para istoeram deeisivos 06 arts. 715. e 1549.; 0 primeiro dispunha queenas alien~Oes de eoisas certas e determinadas, a t ra .n.srerenciada propriedade opera-se entre 06 contraentes, por mero efeitodo contrato, gem dependencia de tradi

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    de entregar a eoisas ; 0art. 1476. men.ciona tres obrigaQOes dovendedor, sendo a prdmeira a de entregar a coisa ao compradore a segunda a de cfargli aoquistare a propriedade da ooisa ouo direito, se a aquisi~ao nao for efeito imediaJto do eoatrato,o art. 408., n.O1, nao e claro em v8.rios aspectos. Em pri-meiro lugar, exige que 0interprete supra a omialio do legis-lador quanto a . espeoie de contrato a que sa refere. Como inver-teu a ordem de redac~ao do art. 1376. itaLiano, ccontratoaparece sem qualquer outra qualifica~ao, mas tern de Be enten-der tratar-ee de contratos cujo objecto consists. na constitui~aoou transferencia de direitos reais sobre colsa determinada.

    Em segundo lugar, 0 adjective mero , que por sua vezinfluencia 0 entendimento da ressa.lva final. Se tomarmos 0adjective cmero como urn simples reforeativo, teremos que aconstituieao ou transfereneia de direitos rests da-se par efeitodo contrato e as exoepeoes ressalvadas saoaqueles casas emque a constituicao ou transferencia niio se d6 por efeito do con-trato, ou seja, que urn contrato cujo objectivo consista na cons-titui~ao ou transferencia de direito real sobre coisa determi-nada pode nao produzir, como seu efeito, tal constituiQao outransferencia, easos esses em que logicamente sera necessariourn outro acto constitutivo ou translative (hipotese, por exem-plo, da venda obrigacional, no seu estricto sentido).

    Se, pelo contrario, tentarmos dar ao adjectivo emerosalgum significado util, ele servira para V'inca:r que nos contra-too com 0 referido objecto, a regra e a constdtui~ao ou trans-ferencia do direito unicamente por efeito do contrato, de modoque as exce~Oes podem consistir em 0 referido efeito ser pro-duzido pelo contrato mas niio s6 par ele, isto e , nao sera efeitomero do eontrato, mas sera efeito do contrato, aeompanhadopor algum outro acto ou facto.o adjectivo emero ja vem do art. 715. do antigo COdigo,ma.is a1 contrapunha-se a . dependeneia de tradiQio ou de posse,que era afastada; mero efeito do contra to porque a transferen-cia. da propniedade nio estava dependente de ~io ou deposse. Mantida a palavra emero no art. 408., n.O 1, mas desa-parecida a referencia it tra.dd~io ou posse, ou aeeitamos que elaBe manteve com a antiga fun~o, apesar de a necessidade de

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    tradi~io au posse ja nio acorrer ao espirito de ninguem, OIllhe damos uma fun~o actual consistente em liga-Ia com 0n.0 2do mesmo artigo, 0qual especifica os momentos de transferen-cia de coisas de caracteristicas especiais. Como no n.O 2 haviade dizer quando, nessas hip6teses especiais, Be verifica a trans-ferincia, 0 n.O 1introduz essas excepcoes, em que necess8rioe algo mais do que 0 contrato. E note-se que 0 n.O 2 tern 0cuidado de evita.r a lig~io genetica da transferencia aos factosnele previstos; quando a coisa for adquirida ou determinada eno 11Wmento da colheita ou separa~io sio express5es tempo-rais, nio impeditivas de que a eriaeao do efeito Be report.e aocontrato.

    Pera.n.te os citados textos do actual C6digo Civil justifica-sea convic~io com que a moderna doutrina afirma a naturezareal do contrato de compra e venda.

    Designadamente a eategoriea afirm~io do art. 879.0 nosenti do de a transmissio da propriedade da coisa OIl da titu-laridade do direito constituir efeito esseneial da compra e vendaacarreta, em primeiro lugar, nio eerem qualifica.veis como com-pra e venda '08 contratos em que tal transmissio nio constituaobjecto da vontade contratualmente manifestada; em segundolugar mostra que a. tra.nsmissio da propriedade da coisa ou datitularidade do direito e urn efeito do contrato.

    Importa, eontudo, verificar sa realmente essa regra sa con-firma naqueles C8S()S que a doutrina italians. qualmca comovendas obrigatOrias, pelos motavos acima indicados.

    Na venda da coisa futura, pode aceitar-se que a tnmsmis-sio da propriedade para 0 eomprador e efeito do proprio con-trato, pols e1a ocorre quando a eoisa for adquirida pelo alie-nante (art. 408.0, n.O 2) eo vendedor apenas es t&. obrigado aexercer as diligfuu~ias necese8.rias para que 0 comprador adquiraos bens vendidos (art. 880., n.O1).

    Na venda de coisa indet:erminada, a determin~o da coisasearreta a tnmsmdssio da propriedade (art. 408.0, n.O2) e essa.determi~ pode ear feita porurn acto do vendiedor (art. 539.0),mas basta ver a p

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    lativa dos outros modos de conoen~io. Mutati8 mutanai8,para as vendas em alterna.tiva.

    Na venda de hens alheios, logo que 0vended.or adquirapor algum modo a propriedade da coisa ou 0 direito vendido,o contrato torna-se valido e a dita propriedade transfe:re-se parao comprador (art. 895.). 0 vendedor pode estar obrigado asanar a nulida.d.e da venda, adquirindoa propried.ade da coisa.ou 0 direito vendido (art. 897.), mas mesmo nesse caso elenio tem a obri~io de transmitrr eo comprador adquire comoefeito do contrato.Na venda com reserva da propriedade (art. 409.), a trans-missao pode estar dependente dum acto do comprador (0 paga-mento do preeo) mas nio de acto do vendedor e 56 0 contraJtopode ter tido por efei.to a dita tmnsmissio.

    Reafirmada a transmiesao da propriedade da coisa ou datitularidade do direito vendido por efedto do oonteato, emboranem sempre no momento do contrato, pode perguntar-se sa temcabimento falar, entre nos, em casos de venda. obrigat6ria. Isto,em primeiro lugar, leva a inquirir se e ou nio possivel, em Por-tugal, criar, por vonta.d.e das partes, uma venda obrigat6ria.propriamente dita e a resposta deve ser negativa. Tal blip6teeenio se enquadra na parte final do art. 408., n.O1, porque estase refere a excepcoes previstas na lei e nio excepg5es criadaspelos contraentes.

    Um contrato que tome translative da proprieda.de umactodispositivo do vended.or nio pode ser qualifieado como comprae venda, porque 0 esquema desse contrato seria: 0 vendedorobriga-se a praticar um acto euja inten~io e efeito seri a trans-missao da propriedade da coisa. e desde que 0acordo eonstitu-tivo dessa obrigagio nio transmite a propriedade, falta 0efei.toessencial da compra e venda refer.ido no art. 879., alinea a).

    Em segundo lugar, deve-se investigar se, no nosso direito,existe alguma obrigagao com 0conteudo igual ou semelhantea.o da obrigagio de fazer adquirfr a propriedade, estabelecida.no direito Italiano. Ja vimos que 0art. 879. nao refere comoefeito essencial do contrato (nem 0 COdigo enumera obrigag6esdo vendedor) a obrdgagao de fa.zer adquirir a propriedade peloeomprador, salvo quando essa aqWsigio Be prooesse por efeito

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    imediaOO do contrato e, portanto, esta obri~ nio est&.expressa.mente esta.belecida pela. lei. Isto nio signtifica., todavia,que na.lguns C8SOS nio na~ do oontra.to especiais obri~do vmdedor, como a de ex.ercer 88 diligencias n.ecess8.rias paraque 0vendedor adquin. a ooisa. vendida como futum, a de con-oretiza.r coisas vendidas como indeterminadas, a de adquirir,DOS C8808 de venda de ooisa. alhei.a. a comprador de boa. fe, a pro-priedade da ooisa. ou 0 direito vendido. E e evidente que estasobri~ do vendedor tendem ao mesmo fim: torna.r passive!a aquisi~io da ooi.sa. pelo oomprador. Par outro lado, nio podemear pura e simplesmente esquecidas as ~Oes de cari.ctermais geral, de eonteudo negativo e de contetido positivo, refe-lidos pela doutriDa itali8lD8., embora seja duvidoso se estas niosio complemento cia obri~io de entrega ou ate nio sio absor-mos por est&.

    De tudo quanto .fica dito pode coneluie-se que no noesodireito nio h a vantagem alguma em separar casas de venda.real e casos de venda obrigat6ria. Alam dos perigos de confusiocom a venda obrigat6ria em sentido estricto, 0 realce dado a sobri~Oes assumidas pelo vendedor em certos cases nio ecoeren.te com 88 indica~Oes .fornecidas pelo COOigo quanto &OSefeitos essenci&is da eompra e venda,

    3. Ja aeima fioou interpretado, sob v8rlos aspectos, 0art. 408., n.0 1 do OcSdigoCivil, na parle aplic8.vela transferin-cia da propriedade de coisa. det.erminada. vendida.Resta. olhar a frase final sa.lva.s as exce~ previstasna lebo 0 art. 1376. Codice Civile Italiano, no qual 0 nOElSOartigo Be inspirou, nio refere excep~ mas nio a de condenaro CUtidado do legislador portugues, alertando logo 0interpretepara a passivel emdncia de excep~ J.egais.

    Assim, 8.0 cul idado do legdslador deve 0interprete corres-pon.der com a. investi~io das excepQOes previstas na lei, tra-balho a. que nio nOB dedicaremos por agora.

    Malis DOS mtereesa . now que, ahrindo ao principio cia trans-fer6ncia por mero erato do oontraoo as exce~ previstas nalei, 0 k!g.islador proibe as exceNOes previstas 008 eontratoe,donc1e Be poderi.a. eoncluir - apressa.da.men. - que a vontade

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    o CONTRATO DE COMPRA E VBNDA NO cODIOO CIVIL S97das partes nenhuma re levA.ncia rem para afastar aquele prin-cfpio.

    Tambem j8 . ae im a. vU nos alguns lim!ites de. autonomia can-tratual nesta materia. Agora., queremos apenaa nota.r que, ba.r-rando farmalmente as excep~ coo.tratuais a regra estabe-lecida no art. 408., n. 1, 0 C6digo vem indirectamente aab:rir-Ihes generosa porta no art. 409., n.O 1.

    Considerada Ucita, nos contratos de alien~io, a reservade propriedade de. ooi8a ate 8K) cumprimento total ou pa.roialdas obriga~6es da ou1:lra parte ou ate a verificao de qualqueroutro evento, es t8 . aberta a regra do art. 408.0, n.O 1, uma e:ccep-g a o legal e atraves dela. penetra. a vontade das partes a.te ondelho permlitir alin~io da palavm eevento (vtide adiant.e,Venda com reserva deproprieda.de).

    No COdigo Civil dtaliano, 80 artigo 1376.0 correspondent.eao nosso art. 408.0, segue-se um artigo ded!ica.do a t ransfer&ncia.de uma massa de eoisas - art. 1377: cQuando objecto da. trans-f e r e n c ia . e uma determinada. massa de coisas, ainda que homo-geneas, apliea-ee a disposi~io do artigo preoodente, embora,para. determinados efeiros, as ooisas devam ser contadas, pesa-

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    : m mdente que em eerto mame.nto da ~ juridica. dooontrato de compra. e venda, 0 sen objecto material dave eardeterminaao. Alen de princlpi()8 gerais do neg6c i .o juridico,sem a ~ da eoiaa falharia a aa1.1S& - fun ~ da com-pra. e venda, a qual consiste na tnmsmiABio (mediante umpreco) dB . propried&de duma ooisa. ou de (t:i.tularidade de) umdireito, pais a prop:riedade r e m . de ter um objecto especi1li.coe 0direito deve ser especlfico. Pode, oontudo, sueeder que essade~io n80 eeteja operada no momento da oonclusao dooontrato, mae como e mdispeos&vel uma ~ futura,indispens8.vel e tambem que DO momento do contmto estejamf i ixados os meios de determm~io futura. Costuma dizer-ee que,no memento do contra to nio e necess8.rio que a coisa. estejadeterminada, bastando que seja determinavel. A determi~iopressup5e a fix.a!:8.0 dos meios de det~io, os qUSJispodemsimplesmente estar previstos na lei, mas, sa nio 0esbi.verem,deverio ser estlpulados pelos interessados.

    TamMm resulta da causa-fun!:io da compra e venda. que 0lnteresse pritioo, juridicamente relevante, de oomprador e ven-dedor s6 e satisfeito se hoover um minimo de determiI l&!: i- ou talvez melhor, um minimo de interesse concreto no objectodo oontrato rn.anifestado pelos 1intereasa.

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    o CONTRATO DE COIIPRA E VENDA NO cOOIOO CIVIL S99bip6teses academicas, com as quads nio vaie a pena pardei'tempo, mas que, em noeso entmlder, nem sempre serlam i8entasde interesse juridico relevante,

    A outro prop6Bito - venda de coisas defe\tuosas - pro-cun.renros precisa.r 0ooooeito de c g e n e r o : . . Agora faremos ape-nas algumas ~ importantes para 0aspecto de que nosoeupamoe,

    A primeLra . respeita 80 complemento da d~ dog e n e r o pela de~ da quantid.&de. Salvo no C8SO de vendade todas as coisas de um genero iimlitaOO, do basta, pan. sacbega.r a ~ final da coisa vendida, a inicial deter-mi.na~ao do seu genero; logicam.ente e indispens8.vel defliniruma quantidade dentro do g e n e r o . Contudo, quanto a quanti-dade, sO e indispens8.vel desde 0mici.o (celeb~ao do contr&to)a pressuposi~ de que haveri. uma quantidade a determin&r eo m elio pam a. ~ (par e x., ccom pro 0r ig &JrgeD. t inoque puder ser carregado p e w navio X, quando ele aportar aBuenos Aires:.).A s egund : a . observ~io refere.se a duas classificaoOes decoisa.s, que eostumam aparecer na dOlltrina e, por VezE!S, D8Sleis: ooisas especlficas e coisas generioas; coisas fungiveis eooisas :infungiveis.o nosso COdigo Civil nio faz uma classifi~io de ooisasem especlficas e gen&d.cas, mas !D O art. 207. define como cfun-giveis 88 coisas que se determinam pelo seu genero, ql1alidadee quantlidade, quando oonstituam objecto de re~ juridicas.Coisas fungiveis e termi.nologia de um jurista medieval,Zazius - outms termmologiaB: ooisas :representaveis, coisassubstituiveis, ooisas subrogaveis, ooisas de genero, ooisas dequantidade - com base num teao do ~ D. 1.2.2., onde,pan. eara.cterizar 0contrato de mutui datio (emprest:imo paraCOD8UlI lO) , Be diz que dave incidi1" sobre coisas que Be determi-nam pelo peso, iIl6.mero au medida. (quGBe f J O ' I 'I I lH r e , numm'O,metI8Um COMtant), pais estas no sen g e n e r o a.dmitem substl-tui~ pan. a l'EBtitui~ que 8&Jim nio d e v e r a ser fett&. em~e (quGBe in genere 8UO ~ reoipiunt). Tratava-ee,pois, de uma categoria. de ooisas def:inida oojectivamente; anatureza. da. coisa define-lhe a ~ e 0g e n e . r o a que ela per-

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    tenee. Dai sa segue que, sendo objecto de um eontratD uma . certaqua.ntida.de deIBuJ eoisas, e ifl4ijerente a coiaa com que conare-tamente Be cumpre 0 contra to.

    B e ae mantiver esta ~ daB coisas fungiveis,elas Bio, quando objecto de neg6eios juridioos, C

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    o CONTRATO DE COIIPRA E VENDA NO c6DlGO CIVIL 601crMito, a.c.:rescido da nspectiva especie. Pan. alem diaIo, asmen.~ necesa8ries dependem do tipo de d:irei.to vendido; tra.-tando-se de c:limto real, teri. que ser indioada a. coisa sobre queincide; trata.udo-ee de dimito de crOOi to, meneionar-se-io 08sujeitos e, conforme os casos, 0mads que for neoess8rio: 0factoconstIi.tutivo (e as respectivas circunstincias, como daIta e lugar),o objecto ma:terial, 0 conteUdo..

    A transfer&1cia nio :respei.ta a ccoiaa. indeterminada:. ape-nas quando 0neg6cio incide sobre ooisa. generics., mas tambemquando 0objecto e altema.tivo. Na venda de uma ooisa. au outracoisa, ha. uma iindet~io e tem de haver uma . determin.a.bi-bilidade, surgindo tambem nessa. bip6tese 0 problema do mo-mento da tmnsmissio da propriedade sobre a ooisa vendida. .Talvez por isso 0 art. 408., n .O 2, fala em ccoisas indetermi-nadass e niio, como 0seu pa.ra. le lo titaJiano em cooisas determi.-nadas sO no genero , embora seja est.mnho, no easo de estasupoeiGio ISler eerta, que, 00 seguimento, seja ressalvado 0

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    Reflectindo eobre estes problemas chega.-se a . conclusiode que, doe con.tra.tos de compra e venda e doe outnJs cantratosde oompra e venda. e

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    o CONTRATO DE OOKPRA E VENDA NO cOOIGO CIVIL 603:retiratr-ee-ia do papel atribuido a . vontade &ls cantraentes emmateria de obrig~ genericas e em alternativa.o moonvenliante reside na. iooer:tJeza quanto ao momento datransfErinci.a da proprleda.de. Sendo absurdo exigir conheci-mento simu1t8neo pelas duas partes, aquela transfErincia. ficari.dependente do Ultimo conhecimento, 0 qual podera. Bel" desco-nheeido de quem primeiro conheceu.o i.nconveniente amplia-se palo fa.cto de nio ser prescritanem origem nem forma do conhecimento. 0 art. 542. tambembaseia a. efi.c8.cia do. eseolha pelo credor ou pOl' terceiro noconhecimento pelo devedor ou por ambas as part:es, mas exligeuma declar(J(}oo. No art. 408., n.o2, b a s t a r a . 0 conhecimentoiortuuo.

    Duvidoso e tambem ee 0conhecimento reed apena.s sobre facto do. eseolha ou tambem solme 0objecto desta. Nio s e r B .de exigir um conhecimento sensorial da coisa. determ. iDada. , mastambem n a o bastari saber que fdi. feita uma d~;sera indispensavel que, de entre todas as ooisas do mesmogenero, 0oomprador f,ique habiJJitado a reoonhecer aquelas quelhe pertencem e vendedor aquelas que deixa.ra.m de !he per-teneer,

    A determina~8.0 deve ser certa, no eentido de que deve pro-porcionar uma perfeita se~ao de eeetaa coisas, relativa.-mente a todas aquelas abrangidas peLo mesmo gfulero. Issonada tem a ver com a manuten~ da sep~io material dacoisa ja determinad:a. Se fortuitamente ou pOl' facto imput8.vela alguem, a coisa determinada vol1:ara confundir-se com outrasdo mesmogenero, nem par Iisso deix.ou de ser determinada; porexemplo, 0terceiro que Be tenha obrigado a efectuar a esoolha,cumpriu a sua obri~iio. . A J : J consequenetae dessa. confusiioapuraram-se por regras situadas noutros campos, que nio nocampo agora considerado.

    A determin~ e dejinitival no sentido de que, uma vezfeita, nem pode Bel" dada como nao efectuada nem.pode Sell' subs-tituida. por outra, U-se correntemente que, pela ~da coisa, a. o~ gen.erica se tornou ~ especlficaou que a venda. de ooiaa generica. Be converteu em venda. decoisa especifi~ mas esta 1lerminologia linduz em erro. A vendaROA-2

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    contratada como generica nio muds. de natureza ap6s a deter-min~io cia coisa; apenas sucedeu que, par ter havido deter-~ da coia, 88 especia. l ldades resultarntes do cari.ctergenerico da 00isa vend ida . t.enninamm e dai para mente niDha d ife re o.g :as - OIl nio 88 hi e s s enc i'8 Jis - :rela.tivamente a um avenda. de coisa especifica.

    ! 1 i ; , no entanto, precisamente sobre este ponto que incidem88 duvidas. Ha, na verd.a.de, quem afirme que, ape8M' da deter-m1n~io, a cdisa continua a ear fungivel e isto teria. repercus-sOes quanto a substitulibilid:ade da. ooisa, em det.erminadas cir-cunstAnoias, como a. emrt&.cia de defeitos na coisa. determinadaou 0perecimento desta par culpa do vendedor.

    Em contr8.rio, tem sido observado que a d~io ciaooisa operon a :transmissio do direito sobre ela e dai paradliante 0vendedor nio tem legitimidade para a substituir poroutra, a. nio ear que isso lhe seja permi.1 l i .do a luz de outrasi'egras, que nio as da d~ da ooisa. vendid&. Emboraeeta eegunda. oorren.te nos ~ mais COITeC1:a, a. primeira con-teIn um eJ.emeDJto que pode ear importa.nte.

    A cLrcunstAncia de a. venda. ter sido contratada. como g e n e . .rica pode ser :relevante mesmo depois de a coisa ter sioo deter-minada.; veja.-se 0art. 918.que, na venda da ooisa. defeituosa.indetermtnada de certo genero manda 81pLicar as regras rela-tivas &0 nio cumprimento das Obri~ em vez do regimegeral de anulabilidade do con.trato. Tambfun a fungibilidade dacoisa vendida pode facilitalr a solu~ de problemas, situa.dosno campo do cumprimento ou falts. de cumpr imenJto de obriga-gOes , onde seja relevante 8. falta de interesse do credor quanto aindiividualidade da ooisa.. Isso nio significa., porem, que a deter-minagio da ooisa, pelo menos depoi.s de eficaz, nio seja defini-tive. e outn. ~o posse. ser efectuada pelos :mest:OOB OIldiferentes proceasoe.

    5. Ao contririo do que sucedeu noutras legisl~ em quea reserva de dominio on propriedade e tra.tada. a prop6sito davenda-C6digo Civil italiano, a.r.ts. 1523.e segs.; anteprojectobraeileiro, e.rta.513.o e aep. - a resena de propriedade apa-

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    o CONTRATO DE COMPBA. E VENDA NO cODIGO CIVIL 60Srece, no actual C6digo Ow, situada no Titulo que ae ocupadas O~ em Gera1.

    Segundo 0 art. 409., n.0 1, nos contra.toe de aliena.gio elicito so alienan.te reservar para. si a propriedade cia ooisa ateao eumprimento total ou parcial daa o~ da outra. parteou a.te a . verifi~ de qualquer outro evenJto.Na ~ dedi-eada a . oompra e venda, a reserva de dorninio aparece referidaapenae como uma das modalidadee cia venda a pres~Oes, noart. 934.

    A reserva. de propriedade tem de Sell" oonven.ciOll8da.entreo comprador e ven.dedor, constitumdo objecto de uma clausulado contrato. 0 art. 409., n.O1, quando diz que ce licito ao &lie-nante :reserva.r pam si ... exprime apeD8S a pessoa a quem a.reserva. interessa e lIlio autori.za uma dmposiQio unilateral, peloald.ena.nte, da reserva. de propried.a.d.e .

    A clausula de reserva. de dominio, como parte do oontrato,est8. sujei.ta a . forma legal do eoatrato e em principio e dispen-sa.da de exigencias de fOl'lll& quando 0 mesmo sueeda para. 0contrato. Ao contr8.rio do arlo 514. do Anteprojecto brasileiro,que exige sempre forma. escrita para a. cl8.usula de reserva.. depropriedade, 0nosso COOigoadmite a tiberdade de forma daclausula..

    Dizendo que a clausula de reserva. da propriedade faz partein1:egtrainte do oontrato de venda excluimaJ que essa clausulaseja uma OOIlven~Oou contrato a.cess6rio a um contrato prin-cipal, mas nio resolvemos 0problema de saber sa a estipula-~ da clausula dave ser contempori.ne& da celeb~ do con-trato. Em principio, e Ucito as partes modificar 0 conte11dodeum contrato, inserindo nele uma nova estip~; pode, p o r e m ,sueeder que 0desenvolvimento do proprio contrato :torne ina-portuna a. ~ de nova clausula.

    o obst8.culo a . 4lnserQio da. clausula da !l"E!Sel"V8. de proprie-dade em .contrato de venda ja existente consiste no efeito realdo oontrato; Be este ja transferiu a propriedade para 0com-prador, n a o pode ter efeitos uma sua modif~ no sentidode a propriedade ser mantida temporariamente no vendedor.A ob~o nio Wnge, contudo, os casos em que a transferin-cia de. proprieda.de nio ae operou no momento do contrato e,

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    portanto, &er i . ma.is oorrecto dizer que a modifi~ e inopor-tuna quando feita depois de, nos termos do contrato e da lei,a propriedade ter sido tra.nsferida.

    Sendo logica.mente inddspens8.vel que a proprriedade per-ten~ ao vendedDr no momento em que ela fica reservada paraele, a introdu~io da referida. clausum ja foi a.naJ.isada no estran-geiro como um neg6cio de ret:.ransmissio da proprieda.de 80 van-dedor, pan. que este a reserve, e, toma.da a .proprti.ed.ade aovendedor, na.da. obsta.ri .a. a reserva.. Na.da impede (em teori&, poisna pratica pode haver mULtlplos inconvenientes) que 0 com-prador retransmita a propriedade da ooisa. so vendedor e emseguida seja celebrado um novo contrato de venda, com reservade propriedade. litdJiferente, porem, a hip6tese de modifi~iodo contra to. Mesmo que nio seja ousado supor u .ma .inten~de retransmi.ssio de propriedade no referido acordo modifica-tivo do contrato, essa retransmissio nio permite que a coisaseja vendida, peZo mesmo contrato; este esgotou 0 seu efeitotransmitindo a coisapara 0 oompra.dor; readquirida a . proprie-dade, sO um novo contrato podera vender a coisa com ou semreserva de propriedade.

    A clausula pode IreSpeitar tanto a . venda de coisas imoveiscomo a . venda de cdisas moveis, como se v e pelo art. 409., n. 2,que refere as dues especles de coisas, 0 Anteprojecto brasil.eiro,que sO admite a elausula, para coisas moveis, dispae 00art. 5-5.que nio pode ser objecto de venda com reserva de dominio &coisa msusoeptivel de caracteri~ perfeita, para es trem.8.- lade outre.e congeneres; na duvtida, decide-se a . favor do terceiroadquirente de boa f a . 0preceito a ra.zo8.vel como pro~o deterceiros, que seriam prejudicados pela passive! confusio entreooisas semeJ.hantes, um& livre de reserva e outra sujeita a ela.A prOpria n~o de reserva da propried&de impede que elaseja estipulad& para. vendas de coisas destin&das 8.0 consumo,quer no sentido usual desta expressio, quer como perda daindividuaiidade da coisa, por in~o noutra, 8. nio ser queexpressamente Be estipule a inconsumibilidade ate ao paga.-mento do p~ QUi ocorrencia doutro evento que determine atr&nsm;_o da propriedade.

    Confrontando 0art. 408., n. 1, com 0art. 409., n.. 1,

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    o CONTRATO DE COKPRA E VENDA NO OODIOO CIVIL 607verifica-ee que 0segundo fala 8.pEm88 em proprdedade da ooisa.enquanto 0primeiro se refere 8. oonstitui~ ou ~Ciade direitos Ire&is sobre a coisa (determ.inada). Daf a dUvid:ade saber Be a reseI'V'8. e poIBivel quando objecto do oontrato eejaa constitui~o ou transfer@noia de um direito diferente do depropriedade. Em ltaIia. sustenta-se a in~ :restrita com.fundamento na pri:tica e em que a figure. 86 sa justlifica quandoest8. em causa 0pleno gozo de. ooisa oonferido pelo d.ireLto depropriedade.

    A reserva. de propriedade oonstirtui normedmente wn:a cau-tela do vendedor, Nao pode dizer-se que tem sempre uma fUlIl~iode gaxantia. do vendedor quanto ao pagamento do p~ - aocontrario do que sa aiiirma no direito italiano - porque areserva de propriedade, no IWSSO direito, tanto pode ser esti-pulada em fun~io do pagamento do PreQO, como em fun~io deoutros eventos,

    No direito italiano, a reserva de propriedade supOe 0he-eionamento do preeo em ~Oes e termina com 0pagamentode. ultima p~io; art. 1523.: cNa venda a p~ comreserva de proprliedade, 0compra.dor adquire a propriedade dacoisa com 0 pagamento da ultima ~io do ~o, masassume os riscos desde 0 momento da entrega. 0 noesoart. 409., n.O 1, e muito mais liberal, permitindo subordinv a.transmissio da propriedade cate ao cumprimento total au pae-dial das obrig~Oes da outra parte ou ate a veri.fi~io de qual-quer outro eventos. Nio s6 a reeerva pode ser ligada 8JO paga.-mento do 'Pre~o em presta~Oes, comopode ser ligada 80 pa.ga.-mento total do preco ou ainda a qualquer outro evento, samoonexio com 0 cumprimento de obri~ do compra.dar (011,em gera.l, da outra parte).

    Em ItaIia, nao e/)a reser\1'8. da proprieda.de apareee a pro-p6sirto da venda a p~Oes, como os ads. 1523. a 1526. oon-tern, para a venda 8. ~Oes, uma reguJamenta.f;io maisdesenvolvida do que a esta.belecida. nos i I lOSBOS sris. 934.0 a. 936.

    Como, porem, a m d a e ma.is eseasso 0contet'ido do art. 409.,interessa saber se 0 disposto paea a venda. a presta.gOes eaplicavel a todas as vendas com reserva de propriedade, quandoseja. determ.inado pela especialida.de do pagameoto do prego.

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    Nio e duvid(l8() que, oa venda a ~ com ft!ISel"Va deproprieda.de, 0 dWpoeto nos aris. 934. 8. 936. Be aplica compriorid:ade sobre qualquer outroposslvel reg:ime, mas, al6mdisso, 0tratamento que IIS98eS preceitos for dado a . reserva depropried.ade deveri. ser estendido a todos 08 contratos em quetal reserva seja. estipu:lada. se nio se desoobrir l~io oeces-a6.ria com 0fraccionamento do prec;o. Nio s6 a venda a pres-~ e 0 C880 em que maJis correntemen~ a reserva. de proprtie-dade e estipulada, como tambem falta. Indieio de vontade legis-la.tiva de ~ de dois regimes diferentes de :reserva de pro-prieda.de.

    A cI8.usula. de reserva de propriedade e imed4atamente eft-caz entre os contraentes. Relatlivamell~ a teroeiros, 0art. 409.,n .O 2, regula a oponibilidade da clausula de reserva de proprie-dade: tra.tando-se de coisa im6vel ou de caisa m6vel sujeita aregisto, s6 a clausula constante do registo e oponivel a tercei-ro8; e uma simples apli~ do princlpio geral, que nio sus-etta duV' idas. Trata.ndo-se de coisa m6vel nio sujeita a. registo,deduz..ee a contrario, que a c la u s u la e oponlvel 8. teroeiros inde-pendentemen~ de qua.lquer f01'IIl8lidade. 0 projecto de GaIvioTeles omitia (a:r:t. 63.) a venda de coisa.s sujeitas a regdsto- e 'llaturalmente cobertas pelo referido princlpio geral- eregulava a oponibillldade quaoto a coisas nio eujeitas a registo:n'8. venda de beDs do sujeitos a. reglst:o, a reeerv8. de proprie-dade e6 e oponfvel a tefl 'ceiros de boa. fe quando canste de docu-mento com data certa, anterior 8. transm.:issio ou on~ emfavor desses Wrcei.roe, (adoptava, portanto, 0 sistema criadopelo art. 1524. !italiano, pan. a opombilidade &OS credoree: docomprador). Eliminando este artJigo do projecto, fica oonsa.-grads. aoponibilidade, como acentuam. ()S comen.tadores (Varela,Obrig~, pig. 24:2) acentuando que a. solu~io Be justificapar entre n6s nio vigorar 0 princlpio posa6 1Ja le titulo e, parembora. possa lesa.r compreensive.is expect:a.tivas de credoresdo comprador e de subadq1lli .rentJes, assim Be facilit&r 0creditoao aidquirente, al6m de que um comprador eauteloso teri. pas-sibi ld.dade de conhecer a real si~ das oo1sas .

    Em.bora esta. vgumen~ nos ~ bastante fri.gil - 0que ati.8s sucede quanto a todas as outras solu~ a:lternativas,

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    o CONTRATO DE COKPRA E VENDA NO cODIGO CIVIL 609

    pois em todas elas alguem e poesivelmente sa.crificado - de ""ocm.mtuto a solu~ e a a.cima apontada.P.ormenorizem.os os efeitos da venda com reserva. de domi -

    nio, descreven .do as situa~ juridicas do vendedor e do com-prador.

    Desde que Be afaste uma teoria. segundo a qual nests. modaIidade de venda. 0compradar adquire imediatamente a proprie-dade da coisa e 0 vendedor apenas e titular de um especialdireito de garan& (vide adiante), a propriedade da colsa eoa-tinua a perteneer ao vendedor. Ha, porem, que oonjugar esteprincipio com a oponibllidade a terceiros e dest:a. distinguir-ee-aa oponibilidade do contratoe 'a opOOJibilidadeda clausula dereserv&.

    Tra.tando-se de coisa m6vel niosujeita a registo, siD oponi-veisa terceiros tanto .0 oontrato como a reserva. , sam ma.is far-ma.lidades. ' I1 r8 l tando-se de coisa im6vel ou de coisa m6vel 81l je i taa reglist.o, a oponihilidade depende do registo, tanto do oontratocomo da reserva; natural e que, sendo a reserva uma clausulado eontrato, 0 registo seja unitarlo e a oponIibilidade sejasimultAnea. 0 O6digo do Registo Predial, art. 2., a.linea h),declara sujeitas a regtstoas c.onven~Oes de reserva de proprie-dade e no art. 186.0 indica que estasconven~Oes seriD regis-tadas, por !i~, no extra.cto da inseri~io do facto principala que respeitam e do qual siD consideradas parte integr&nte.No entanto, eoneebe-se que a claasula de r eserve . seja estJi,pulada em . instnunento separado do (restaDte) cootra.to de venda.e, portanto, que fie efectue .0 regiBto do con.tmto sam ser regis-tada . a conven~io de reserva. Terem08, a.ssim, as seguintes hip6.teses: requisito do contrato, inclulindo a clAusuJa. de rreserva- .oponibiUdade total a tereeiros; registo do contrato semregisto da. cl8.usula de reserva - inoponlibilidade da c1ausula;falta de registo do contra.to e oonsequen:temente (ni.o podecolocar-se a hip6tese do regist.o da clausula sem registo do eon-trato) do registo da clausula - inoponibilida.de total a tercelroe .Assim ju;lgou bern (no aspecto do direito de propriedade)o ac6rdi.o da Rela~.o de LisbOia de 9-6-67, que decidiu ser donodb veicu:l.o 0vendedor do mesmo com reservade proprledadeate que sa veriiquem os requisitos oontratu&'is da t l ransferAncia

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    da. respectiva propriedade para 0comprador, sendo assim. trre-levante que este, a partir da ce~o do contralto, entre napo.e e utiJizagio do veiculo.

    Faltando 80 compnulor 0 direito de propriedede, ele niopode praticar aetos que pressu.ponham a. titularidade de taldireito. Quanto a contratos de venda, s a o admissiveis os que,IlO8 ternws gerais, apreeent.em a coisa. como futurra.; fora. desta.hip6teee, o oomprador vende coisa de ou1:lrem.

    Pode o co.mprador a.dquirir a. posse da coisa vendida, pelaentrega que 0vendedor lhe f~. tm uma posse em nome proprio,que 0 oomprador pode defender contra o vendedor e conJbra.teroeirros, nos termos geraJis, e manifestamente e uma possede boa f e .

    Os cred.ores do comprador nao podem penhorar a ooisaeomprada com reserva de proprieda.de para 0vendedor.Os efeit08 do contrato nio se esgotam, porem, na atribui-~io de posse da ooisa ao comprador, a qual, alias pode naomsmr no easo concreto. 0comprador e investido pelo contmtonuma situ&~io juridlica., composts. por v8rlos direiwa, doe quaispotencialmente lhe rresultari a aquisi~ioda propriedade. Essesdireitos sao penhori.veis pelos seus cred.ores.o art. 1523.0 C6d. Civil italiano, para. a venda. a prest:a-~, faz 08 riscos de pereclmento ou deterioI"8A}8.0 da. coisa. recaJirsobre 0comprador 8. parlilr do momento da entrega. Nao existeno na:JSO COdigo disposi~io semelhante, designadamente 0a.Tt. 796.0, n.O 1, s6 faz 0adquirente suportar 0risco depois deo domimo sobre a c.oisa ter sido tmnsferida par efei.to do con-trato. No entanto, a nossa. doutrina. tem entendido que, reser-vado 0 dominio pan. 0 vendedor, 0 risco e suportado pelo com-prador 8. partir da entrega, tal como no diireito i tal i .&n.o. Comofundamento m e . J i s plausivel para. esta. conclusio pode mrvooar-sea disponibilidade das regtl'88 contidas no art. 796.0; 0vendedoraoede 80 pagamento do ~o em p~Oes e por cautelareeerv.a. 0 domfnio, mas nio quer manter 0 risco da coi.saenquanto 0 comprador est8. a gozar a ooisa e em . ainda a pro-pr . ied&de lhe ter sido tmnsm!itida eo comprador, que beneficiadog.ozo da. ooisa. antes de ter pa.go totalmente 0p~ a.ceitaeaae riaco.

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    o CONTRATO DE COKPRA E VENDA NO C6DIGO CIV1L 611

    o vendedDr, ao vender com reserva de propriedade, assumepara com 0comprador um. dever de nio vender ou par outremodo alienar a coisa.. Nio Be tra.ta '8peIl:8S do dever genU denada fazer que im~ a produ~ do efeito do contra:to, masantes, em IIlOSSO entender, de uma conven~io de ind.i.spoaibili-dade da coisa implioita na reserva de propriedade, como neces-s8:ria. salveguaeda do oomprador, oposta a salvaguard.a obtidapelo vendedor por meio da reserva (conven~io que, alias, podeser expressa no contra.to).

    Como, porem, segundo a doutelna corrente, as proibi~de alienaeao apenas produzem efeitos entre 08 pactua.ntes, hique determinar 0 valor juridico para com tereeiros das ven.dasefectuadas pe10 vendedor, apesar da reserva, Deve assentar-seem que, mantendo 0vendedor a propriedade, tern, em princlpio,o poder de alienaeao da coisa; assim, nos casos em que nem.o contrato nem a reserva sejam oponiveis a terceiros, a vendaa urn terceiro nao sofre de vioio invocavel contra. 0 terceiroadquirente. Se tanto 0contrato como a reserva sao oponiveisa terceiros, nos termos acima referidos, a nova venda estisubordinada a esse facto; 0contrato ainda nao produziu a trans-missao da propriedade, mas se esta vier a 0C0ITer, s e r a . oponivela terceiros, designadamente aqueles cujos eontratos de compratenham sido registados posteriormenrte, ou nao sendo sujeita aregisto a primeira venda, aque les cujos contratos se jampos1 l&-riores. Na verdade, a clausula de reserva de propriedade naosignifica apenas que a propriedade nao foi transmitida nomomento do contrato, mas tambem que a propriedade s e r atransferida em eerto momento previsto no contrato.

    Chegado 0memento em que a transmdssio da propriedadedevia. ser efectuada, iIl08 termos do contrato e lIlio tendo ooor-rido 0evento a que a transmiss8.o estava eubordinada, as situ8.-~Oe s de vendedor e de comprador mao Be alteram aUJtomatica-mente.o art. 943., para 0easo de venda a.~, com reservade propriedade, mostra. que a falta decumprimento da obriga.-~ao do comprador d B . lugar a ireSOlu~ao do cootraro; emboraa inten~io do preceito seja marcar 0lUni.te de mcumprimentopelo c.ompra.dor que desencadeia a possibilidade de mudanga

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    de eituag6ee, e bem claro quanto a o o n & e q u e n c ia do incumprt-menlo: resol~ do contralo. Estamos, pais, pera.nte um casode M8OI1ug io fundada D1L lei, previsto no art. 432.0

    PelaJ motivoe BCima indicad08, este regime seri. aplicavela todos oe C880S de reserva . de propriedade.

    Nioexiistindo preceitos especiais quanto a esta. resolugio,serio 8iplicaveis os arts. 433.0 e 436.0 0 n.O 1 deste Ultimo ariigodispOe que a resoluCio do contrato pods fazer-se mediante deela-racio a outre. parte e, portanto, tambem no easo agora. eonsi-derado, nio haveri. resoJuCio enquanto vendedor nio usar dafaculdade conferida par este artigo.o contra.ente pode, porem, ter interesse em nao resolvero con.traJto e em vez d1sso exigir 0 cumprtimento dele. Nadae:xIiste que, para 0caso de venda com reserva de rpropriedade,retire ao vendedor essa fa.culdade, desi.gnadamente nao podesupor-ee que, porter sido estipulada a reserva de prop:ri.edadecomo processo de garantia. do vendedor, este s e r a forCado areecin.dir 0eontrato: pode existir esse intuito de garantia., masdai nao Be segue necessa.ri.a.mente - sem embargo de estipu-lagio expreesa. neese sentido - que 0vendedor deve fazer ter-mill8ll', pela. resoluC8.0 do eontrato, 8. situacio em que volunta-riamente Be colocou. Ele pode ilnsistir no cumprimento da obri-gaci.o do comprador, por ter ma.is l interesse nels. do que nalibert:a.cao doe vfncu:l08 C

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    o OONTRATO DE OOlllPRA E VENDA NO OODIGO CIVIL 613prietAriG pode exigir judicialmente de qualquer poasuidor oudetentor da coisa '0 reconhecimento do seu direitG de proprie-dade (art. 1311.) e quanto a t a . : l reeonhecimento nao se vA 00.t8.cu1o; pode t a .mbem eJdgir a eonsequen. t e restitui~io do quelhe peetenee, mas havendo reconhecimmto do direito de pro-priedade a restitui~ s6 pode ser recusada nos C8808 previstosna lei (idem, n.DS1 e 2). 0 comprador, n:as circunstA.ncias agora.previstaB, e , porem, urn possuidor legitimo que 8 . reivind.i~aGpode opor a sua posse, baseada no contrato, '0 qual Be ma.nt6mem vigor enquanto naG for resolvido, Nem pode '0 vendedoraJrgUme.at:ar com '0 incumprimento do contrato pelo compra-dor - ee for esse '0 evento previsto - pdis, este eh por si, naGresolveu o oontrato.o art. 1515. do COO. Civil itaJianG determina. que, Be '0comprador nio cumpre a Gbrig~aG de pagar '0 preeo , '0 ven -dedor pode fazer vender aero demora a coisa, por conta e a .custa dele; diseute-se a aplieabilidade deste preceito quando '0preco nio e pago pelo eomprador, com reserva de dominio para'0 vendedor. NaG temos preceito semelhante nGCMigG Civil,mas temo-lo no COd. Comercial, art. 474. Se tanto '0 preceitoitalialIlG como '0 portugues tiverem CGmpressupostoaproprie-dade do comprador sobre a coisa eomprada, e aconsequentefaculdade de disposi~aG do vendedor sobre OOisa que naG lhepertence, mas hi neles cabimento para a venda com reserva depropriedsda para. '0 vendedor. ~ muito artifdclosa uma constru-~G, que para permrtte a revenda efectuada pelo vendedor,eomeeasse par admitir uma renuncia. do vendedora reserva depropriedade. 0vendedor que pretendesse executar 0seu direitoao preeo par meio da execu~io coacdva permi.tida por aquelesartigos ehocae-se-la com a. propriedade da eoisa, a ele perten-cente; ele nio faria revender, de conta do comprador, a coisa.vendida e a este pertencente; ele estaria a vender a. outremque 1 I l 8 . 0 '0 comprador uma coisa. que the pertenoe. A renUncia acliuSll'la. de reserva de propriedade - se pudesse ser subenten-dids. no pedido de execu~ o oa.ctiva. - naG constttui um meioid6neo para a transmiElsio da propriedade; areserva da pro-priedade pode tel' sioo estipulada em beneficiG do vendedor,mas fol. estipulada. contratu a/:m ente - nio '0 podia. ter sido de

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    outra forma - e, por outro lado, ela nio constitui um. direitoa que 0 vendedor poesa renunciar, mas sim 0diferimento con-tratual de um efeito do oontmto. Por for9&- do oontrato, 0direito de propriedade mantem-se no vendedor, mas ele niotem um. direito a esse direito, susceptivel - aquele - de reIlUn-cia; nem a cren(mcia.~ ao proprio dkeito de propriedade e meioadequado para transmitir este a alguem.Autares franceses fazem distin~ entre duas especies decls.usulas destinada.s a conseguir a reserva de dominio: 0ver-dadeiro epaetum reservati dominlii donee pretium. solvetur~, emque a venda e perfeita e apenas a transferencia da propriedadee retardada (retaJrdamento geralmente qualificado como umacondi!';io suspensiva da trans/erencia da propriedade) e a vendasob condi!';io suspeasiva do pagamento do preeo, em que todaa fonn&!,;io do oontrato estA sujeitaa. verifi~io da condi!';io,que neste caso e 0 pagamento lintegral do preco, de modo quea tra.nsferencia da proprliedade est8. suspensa apenas como con-sequencia da condi!';io geraJ.. Sobre a oonstru!';io :tecnica da pri-meira destas modalidades, dir-se-a adiante, A segunda moda-lidade suscita duvidas, nio quanto a. poeslbilidade de um con-trato de venda ear sujeito a uma condi!';io suspensiva - 0queevidentemente e possivel, nos termos gerais - mas quanto a.licitude d .a condi!,;io considerada nesse caso, 0 pagamento linte-gral do preeo, a qual parece ser logicamente impossivel. Estandotodo 0 contrato sujeito a condi!';io suspensiva, a obrig~ deo comprador pagar 0preeo eatS. tambem suspensa; nio Be com-preende, portanto, como pode 0comprador ir cumprindo essaobriga!';io pelo pagamento de pr~Oes, nem como 0 paga-mento total do preeo - duma s6 vez ou pela ultJima presta-!'iio- cuja obrig&!';io ests. suspensa., pode constituir condi~iopara. tamar ef.ioaz essa mesma obriga!';80 e 0restan.te conteUdodo ccmtra.to.

    Passando a oonsiderar apenas 0pactum re8ervati dominii,antes do actual C6digo Civ'il discutiu-ee sa ele tinha efeito sus-pensivo da transferencia (~lamos por enquanto em cefeito:.e nio em ccondi!';io para tornar este problema separado deoutro que consiste em saber Be, suspensivo ou l"!f!SOlutivodopacto, ele constitui tecnica.tnenJte uma coondi!';io). 0 efeito

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    o CONTRATO DE COMPRA E VENDA NO c6DlGO CIVIL 615suspensivo es t&. hoje nitid&mente marcado no art. 409.0 n.O 1c... e licito ao aIienante reservar para si a propriedade da eoisaate ao cumprimento ... A propriedade da eoisa mantem-seno vendedar ate ao cumprimento pelo eomprador da obri~iode pagar 0 preco e, portanto, suspende-ee a.te esse momento atransferencia da proprieda.de. ! : 8 ; licito &OS cootraentes estabe-lecer um regime resolutivo em vez de suspenSivo e a pri.ticamostra a elclstencia de tais clausulas: por exemplo, a jurispru.-dencia francesa., quando tenta determinar as hip6teses em queas clausulas relativas a . proprieda.de daooisa vendida sio ounio oponiveis a . massa falida do comprador, considers. geral-mente oponiveis as clausulas detipo resolutivo. TaJis clausulasnao constituem, porem, um paeto de reserva de propriedade,tal como 0 art. 409.0 0 contempla,

    :It corrente considerar-se a venda com reserva de domimodonee pretium solvetur comouma venda em que a tr8.lIlSlIlissioda propriedade ou do direito vendido fica sujeita a . coodi~iosuspensiva do pagamento do preco, Aseim faz, por exemplo,Galvao Teles, BMJ, 83, pag. 138, que nio se impressiona como facto de se tratar de uma oondi~ao suspensiva que afecta ape-nag um elemento do contrato e nao todo ele; descrevendo 0 fun-cionamento da elausula, diz que, cce1ebrado 0 acordo, logo 0comprador fica adstrito a essa divlida e 0 vendedor tambem a .entrega do objecto, se nao se estipulou 0 cootririo. 86 0 efeitoreal se nio produz, condicionado ao cumprimento par partedo comprador, E'Bt:e cumpre: preenche-se a coodi~io e fica pro-prietario, Nao cumpre: fa:"llS1rad.a a ecmditio, nio podendo 0contrato atingil' a sua. fin:aJ.idade eoon6mica e juridica, torna.-seintegralmente meficaz e di.o-se par nao veri.lfficadas as conse-quencias juridicas produzidas.

    A teoria da coodi~ suspensiva limitada a . transferinciada propriedade ocorre naturalmente, dada a esti~o de umfacto futuro e incerto de que fica. dependente um eerto efeitocontratual. A semelhanea 56 n a o existiria sa, como ja se sus-tentou entre nOs, ni.o houvesse nesse caso um facio futuro emcerto; na realidade, porem, este existe na estip~o, polsnao pode confundir-ee a obrig~ de pagar 0preeo, que e certa,e 0efecttivo paga.men.to, que e incerto. A latitude da reaerva de

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    propriedade permitida peW art. 409., n.0 1, afssta a poBBibil i -dade de CODd i~ suspensiva quando 0evento de que a 1raDs-mj-o da propriedade depeDde nio for incerto, como e 0paga-meDto do prego, mas sim oerto, como por exemplo, um simplesprazo. Com. efato, nada. impede na pritica que os OOD:traentesqueiram nl8e1'V8.1' a. propriedade ate um evento certo e niopatreOe que as palavras da lei devam set' interpretadas restriti-vamentJe .Tanto entre nbs antes do actual C6digo Civil como em I t&-lia perante 0C6digo Civil V I i g e D i t e , a teoria. da. condi~ sus-pensiva. tern aido oposta. uma . outra que, 8Ifastando a ideia de~ suspensiva., no fundo se Limita a oonsiderar a vendacom reserva de propried.ade como uma modalida.de de venda,criavel por estip~io das partes, Nas duas teorias reconhece-sea neoessidade de estip~ contrwtual da cl&usula de reservade dom. inio , mas enquanto a primeira a integra nas condigi5essuspensivas, com as respectivas consequenciae, a . segunda naoleva mali.s longe as qualiIfli~Oes e deduz da propria estipulagioas 81188 oonsequencias juridicas, sem passar pelo filitro da econ-digio suspensiva e nalguns pontos a.te em contradi~o com 0regime que desta resu.lta.ria.

    Olhando 0risco suportado pelo comprador, os poderes degozo desta sabre a coisa e ainda outros aspectos, apa.receu emItMia uma teoria segundo a. qual 0dli.reLto de propriedade per-tence a.o comprador, com as limi~ e apenas essas - cone-xas com a ga.ra.ntia. atribuida a.o vendedor. Reflexa.mente, 0ven-dedor seria. apenas ,titu:lar de um direito real de ga.raotia., a que,a falta. de melhor, pede ser dado 0nome de cdominio l l "ege1"Vado.Cons ide r a . gOes de termlinologia seriam irreleva.ntes; a lei fala. dereserva. de propriedade, mas quando se &pura a verda.deira situa-~o juridica do vendedor, verifica.-se nio lhe per.tencerem ospoderes C84"8JCterist:ioose essen.ciais do direi.to de propriedade;ao vendedor nio ftl8tam mads poderes do que os neceEll8rios paragarantia. do &ell cridito do ~.

    NioBe nos afigun. que a terminologia. lega:1 deixe de cor-n!SpODder a ll8Itureza do fen6meno, nem que 0dizeLto de garan-tie. cdomfDio ~ cubra. todas as mp6teses de resenade proprieda.de no '1D.QiI i IO dii-eito: hip6teees em que a posse da

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    coisa nio e transferida para .0 oomprador, antes dB . tr&nsmi_.od& propriedade e hi.p6teses em que a propriedade e reaervadaate a verif~ de um evento diverse> do pag&mento total OIlpaeeial do prego.

    Repanndo-se no conjunto das disposi~Oes cootidas nosarts. 408., n.0 1 e 409. enos v8ri.o s momen .to s em que, segundoessas disposi~ a transmissio da. pr.oprieda.de se efectua,ocorre so espirito a regra. do direito ingles, segundo a qual,tratando-ee de ooisas especificas OIl determi.nadas, a propri&dade e transferida no memento em que as parlJes do contr&toquerem que ela seja transferi..da. Itcerto que, enunciada. a regrapor essa forma, a sua apli~o concreta. defender&. doe termosdo proprio contra to, da conduta das partee e das circunst8nciasdo caso (embora, para auxilia.r a a.pli~ da regea, a. lei esta-beleea algumas presun~ ilidiveis, entre as quais a de que,se as coisas se encontram em estad.o de serem entregues, pre-sume-se que a proprieda.de e transferida quando .0 eontrato ecelebrado), mas pareoe que ela contem, mesmc pua .0 nossodireito, uma grande dose de verdade.

    Farma.lmente, o art. 408., n.0 1, esta.bel.ece uma regra, aque 0art. 409. abre e.x:~ao, mas, afastado o veu da forma,a subst8..n.cia reside na coZoc~ao voZuntt.ina do momento ciatransferencia da proprieda.de sobre ooisa. determinada.. A reservada propriedade e , como vimoe, uma exce~ preWsta. na. lei:.(art. 408., n.0 1, parte final), mas uma exce~ amplissima,pois d a relevancia a vontade das partes na ~ de qualquerevento (art. 409., n.0 1, parte final). Na realidade, os con-traentes podem situar livremente a. transmissio d& propriedadee sO quando .0 naQ lf~ se ap1ioari .0 disposto - a.fina.l, a.titulo supletiv.o- no art. 408.0, n.0 1.

    R.i.garo;Ia.mente, nem deveri. dizer..se que nos C8808 dereserva de propriedade h a um di/erimento cia tr&nsmissio dapropriedade, linguagem essa . que sO Be compreende tamandocomo poeto fixo 0 oontrato e p.ressupondo que a. tmnsmWsioBe deveria apurar nesse momento. Do modo como entendemosa lei, a tnmsmtissiQ nio e cU/erida, mas sim colocada em certomom.ento .

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    Este entendimento nio afecta. a natureza. real da oomprae venda, no sentido acima enunciado; a transrniss8.0 opera-sesempre par eleito do contrato, mas nero sempre no momentodo contrato.

    II-A obrigat;iio de entregar a coisa6. 0 art. 879. aponta como efeitos essenciais da compra

    e venda a) A transmissao da propriedade da coisa ou da titu-laridade do direito; b) a obrig~ao de entregar a coisa; c) aobrigaeao de pagar 0 preco,

    Comparando esse artigo com o art. 874., onde est8. con-tidaa n~80 de compra e venda, verifiea-se razoavel ooinci-dencia entre ctransmissao da propriedade duma eoisa ou deoutro direito e etransmissao da propriedade da coisa ou datitularidads do direito, bem como entre mediante urn preeoe obriga~ao de pagar 0preco, 0 art. 874. nao menciona,contudo, a obrigacao de entregar a coisa.Pelo menos a primeira vista, pode parecer estranho queurn efeito essencial nao aeja simultaneamente urn elementoessencial, bern como pode estranhar-se que, depois de 0art. 874.fazer uma enumeraeao dos elementos essenciais do contrato,venha outro preeeito indicae os efeitos essenciais.

    Para nenhum outro contrato usou 0 legislador do 06digoCivil sistema identieo. Na regulamentaeao dos outros eontratosespecificou separadamente as obriga~Oes de cada uma das par-tes (videIocaeao, mandato, dep6sito), mas nao deelarou seremtodas essas obrigaeoes ou algumas delas eefeitos essenciais docontrato. E desta veza inspi~ao 'Para a novidade nao the veiodo C6digo Civil italiano, cujo art. 1476. enumera as obrig~Oesprincipais do vendedor, colocarndoa eabeea a obrig~ao de entre-gar a. coisa ao comprador.

    Este artigo titali8lIloindica como uma das obriga~Oes prin-cipais do vendedor fazar 0 comprador adquirir a propriedadeda coisa. ou 0 direito, sea aquisigao :Ilao e efeito imediato docontrato, 0que admite a compra. e venda real mas simultanea-mente aoeita a existencia de modalidades meramente obriga-cionais de compra e venda. 0 nosso legislador imbuido do pre-

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    o CONTRATO DE COMPRA E VENDA NO C6DIGO CIVIL 619conceito contra a. compra e venda obrigacional (vide, eompra evenda real e compra e venda obrigacional), nao quis admitir,em hip6tese alguma, que do contrato nascesae a obrigaeao detransmitir a propriedade e por isso colocou a propria transmis-sao da propriedade (nao a obriga~io de a transmitir) comoefeito essencial do contrato.

    A transmissio da propriedade da coisa ou da titularidadedo direito e a obrig~ao de pagar 0preeo constituem elementosessenciais tipicos do contrato de compra e venda e, portanto,sao tambem efeitos esseneiais do contrato: as partes queremque a propriedade seja transmitida e que 0 preco seja pago e,porque manifestam essa vontade, criam um contrato que produzos dois efeitos queridos. Mas esses elementos sao conteudo davontade das partes e a sua indicaejio como efeitos essenciaisnada adianta, Se 0 art. 879.0 apenas confirma - e nao Be veque mais possa fazer - que a lei consagra a vontade das partesmanifestada com 0 conteudo do previsto no art. 874., nao Belhe pode reconhecer vantagem alguma,Nos efeitos essenciais do art. 879. esta, porem, enumeradaa obrigacao de entregar a ccisa, que nao consta da n~ao dadapelo art. 874.0 Uma primeira hipotese de harmonizacao dos doispreceitos consistiria em aditar a n~ao dada pelo art. 874.aquele efeito essencial do art. 879. que daquela nao consta;por exemplo a compra e venda e 0contrato pelo qual se trans-mite a propriedade de uma coisa, que uma das partes se obrigaa entregar a outra, mediante um precos, Tal aditamento e ,porem, duvidoso, uma vez que, a ser admissivel para 0 legis-lador, bem poderia ter sido logo feito por este,

    Segundo e talvez preferivel proeesso de harmonizaeao con-siste em entender que, apesar de formal mente reunidos noart. 879., os tres efeitos essenciais nao tem a mesma importan-cia relativa, Enquanto os das alineas a) e c) constituem tam-bem . elementos essenciais tfpicos do contrato de compra e venda,o da alinea b) e sO ejeito essencial; a. diferenea entre essas duassitua~Oes reside em que, para 0 requisite da alinea b) nao eneoessario que sobre ele meida a vontade das partes, apare-cendo ele como um ejeito legal ou conteudo legalmente obrigat6-rio do contrato de compra e venda.ROA-3

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    7. A qua.lifi~ da obri~io de entregar a coisa. comoum efeito essencial da compra e venda leva a supor que, a.fas..tada CODBCientee volunta.ria.mente pelas partes tal obri~,haveri. um vicio do contrato, capaz de infirma.r todo este ou pelomenos a respeotiva clausula, Suponha-se 0 C8SOexremo de 08contraentes estipularem que a eoisa comum nunca sera entre-gue ao comprador (0comprador nio tern obri~io de entregara coisa e ao vendedor e negada a possibilidade juridica de tomar,s6 por si, posse da eoisa), A transmissio da propriedade sempossibilidade de 0comprador utilizar a coisa nio pode ser con-siderada transmiss8.0 de propriedade e, portanto, deverS. enten-der-se que falta. um elemento essencial tipico do contrato. We-rente desta clausula sera uma clausula segundo a qual 0 ven-dedor nio r t : . e r 8 . obri~io de entrega:r a coisa, ou estipulando-seprecisamente essas palavras, aero qualquer esclarecimento ouaditamento, ou explicando as condicoes justifica.tivas da elau-sula, Os contraentes estipulam, nessa hip6tese, que 0compradornio tera a obrig~io de proceder a entrega da coisa, mas nioexcluem, antes pressupoem, que 0 comprador tern a faculdadede, por si, tomar posse da coisa; por exemplo, tendo uma coisasido furtada ao seu proprietario, ou perdida por ele, este vende-acom a expressa. estipu~io de que nio assume a obrig~io deentregar a coisa, oabendo ao comprador procedera todas asdiligenciae para que a coisa venha a sua posse; ou estipula-seque 0 vendedor nio s e r a obrigado 1 8 . entregar a coisa, podendoo comprador tomar posse dela, no Iugar onde Be encontra(subentenda-se que em tais hip6teses nio ha mandate do ven-dedor ao eomprador para este actuar junto de terceiros e muitomenos para 0comprador actuar junto do vendedor).

    A aprecia~io destas e semelhantes hip6teses depende simul-tanea.mente da. resposta dada 1 8 . duas series de quest5es: 0exactoconteudo da obri~io de entrega;a exacta. medida da. essen-cialidade da obrlga.~o de entrega. Na verdade, se a obrig~iode entrega puder ser entendida tambem uma obrigaeao de pati,~icario cobertos 08 cases em que nio seja exigida qualquer acti-vidade &0 ven.dedor mas este deva suportar a actividade do ven-cedor, E, Be a obri~o de entrega da coisa. nio for essencialquando por f~ da lei ou da. proprias natureza das ooisas 0

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    o CONTRATO DE COMPRA E VENDA NO C6DIGO CIVIL 621cornprador fique colocado na sL~ em que fica.ria um com-prador sa a obri~o de entrega existisse e ficasse cumprida,estario par esse caminho resolvidas v8.ri.as dificuldades.

    8. A obri~8.0 de entrega.r a eoisa nao se confunde com aobrig~ de tra.:nsmitir a propriedade da coisa ou a titularl-dade do direito (quanto tal obri~8.0 exist:a) e muito menoscom a propria transmissio do direito, quando esta transmissaoe efeito real do proprio eontrato, isto e , aero que exista umaobrigaeao intermedia de transmitir. Precisamente porque atransmissio da propriedade pode ser operada como efeLtodirectodo proprio contrato ou, numa segunda hip6tese, como cumpri-mento de uma obrig~ao de transmitir a propriedade, podeparecer que a obrigaf;ao de entregar a coisa e superflua. Desig-nadamente, pode pareoer que, colocado 0comprador na situa-f;8.0de proprietario da coisa au de titular do direito por simplesefeito do contrato, eabem-lhe as aCf;Oesreais, por exemplo, aacf;ao de vindiC8.f;8.obaseada no direito de propriedade e utili-zando estas podera zeceber a coisa, quer ela esteja na possedo vendedor quer esteja na posse de tereeiro: 0 problema s6 sepora quando 0 comprador encontre dificuldade em tomar posseda coisa, por exemplo porque 0 vendedor nao lha entrega e, por-tanto, desde que 0comprador tem de recorrer a juizo,afigura-seque the s e r a . indiferente basear a suaacf;ao no direito de pro-priedade ou na obrigaf;ao de entrega da coisa, direito e obriga-f;ao resultantes do mesmo contrato.

    Ao criar a obrigar de entregar a coisa, a lei mostra que naosa contenta com a atribuif;8.o do direito de propriedade ou datitularidade do direito, independentemente da situ&f;8.0em quea coisa se encontre e da disposif;8.0do vendedor de entregar ounao a coisa. vendida.; a lei pretende que 0 vendedor realizeaquilo que for neeessario para 0 comprador poder exeroer efec-tivamente 0direito que adquiriu pelo contrato. Nem ! > O I " isgodeixa, contudo, de existir a coneorreneia de a~ acima citada,sendo licito ao comprador escolher aquela que melhor lhe con-vier e podendo tambem exercer uma quando ja nao tenha. poe-sibilidade de exercer a. outra, par caducidade ou prescrif;ao.Designadamente, 0vendedor nio podera defender-se nUIDa das

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    acc;Oesinvoca.ndo a possibilidade de 0 comprador propor a outraacc;io (mas, segundo alguns autores, 0 vendedor poderi defen-der-se invocando 0facto de ja ter sido proposta a outra, por setratar de urn concurso alternative de a~Oes).

    Alias, apesar de concorrentes, eases dois meios juridicospodem servir interesses diversos. No plano subjectivo, a a~iobaseada no direito de propriedade pode ser dirigida contra qual-quer pessoa, enquanto a acc;ao baseada na obrigac;ao de 0 ven-dedor entregar a coisatem este necessariamente como unicosujeito passive, No plano objectivo, a reivindicac;io procedentelevara a entrega da coisa mas deix.ari. intacto 0 contrato,enquanto a acc;ao baseada na falta de curnprimento da obriga-c;ao de entregar a coisa pode conduzir a condenaeao do reu aentre gar e a execucao da entrega da coisa, mas tambem podeservir para obter indemnizaeao por mora ou impossibilidadede cumprimento do contrato ou ent8.0 a falta de curnprimentodessa obrigaeao pode, por sua vez, influir, em eertos termos,no curnprimento das obrigac;oes do comprador.

    9. Seguindo, em parte, 0sistema do C6digo Civil frances,arts. 1604.0 e seguintes, 0 nosso C6digo de 1867 dispunha noart. 1569. que a entrega das coisas m6veis efectua-se pela trans-ferencia delas para 0 poder do comprador, ou pelo facto deserem postas a sua disposieao, e 0art. 1571. dizia que a entregados bens im6veis e dos direitos reputa-se feita, logo que 0 ven-dedor entrega ao comprador 0respectivo titulo abandonando-lheo gozo da coisa ou do direito, nio havendo estipulac;io em con-trario,o actual C6digo omite preceitos semelhantes, deixando,portanto, ao Interpreta a determinacao do que seja a entregada coisa, salvo quanto a normal ex:tensio do objecto da entregareferida no art. 882., n.O 2.

    Le-se na doutrina portuguesa e estrangeira que, pelaentrega, 0 vendedor deve investir 0 comprador na posse efec-tiva (ou seja na posse e detenc;io), ou que a entrega consistena atribuic;io da concreta disponibilidade da coisa, isto e , noconferimento da detenc;ao, ou que 0 vendedor deve colocar 0comprador na posse imediata corporea, : G l , portanto, ideia gene-

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    ralizada que 0vendedor deve nio s6 transferir a posse da coisaau direito mas ainda colocar 0 comprador numa situa!;io quelhe permita 0 gozo normal do direito adquirido.

    Por outro lado, a doutrina, ao estudar as formas que aentrega pode revestir, acentua que podem ser utilizadas con-forme as circunstAncias do caso, as vartas formas de transmis-s a o da posse, mcluindo 0 constituto p0ssess6rio, ou manifestaduvidas quanto ao enquadramento desta ultlma hip6tese.

    Antes de mais, deve notar-se que no actual C6digo Civil,dete1 l fOO tem 0 significado restricto dado no art. 1253.0; deten-C ; 8 . 0 e sin6nimo de posse precaria e existe quanto aqueles queexercem 0poder de facto sem intenc;ao de agir como beneficia-rios do direito, aqueles que simplesmente Be aproveitam datoleraneia do titular do direito; aos representantes ou manda-t8.rios do possuidor e, de um modo geral, todos os que possuamem nome de outrem. Mantendo este sentido de detenfao, naopode entre n6s dizer-se que a entrega a fazer pelo vendedorcompreende tanto a posse como a detencao,

    Tambem convira verificar, perante cada autor, se 0 largoconteudo atribuido a . entrega nas respectivas definic;5es Bereporta a . situac;io em que 0 comprador deve ser colocado quantoa . coisa vendida e apenas quanto a esta, ou se e tida em contaa extensao da obriga~ao de entregar a coisa, na medida emque excede esta e abrange outras coisas, como acess6rios, per-tencas, documentos, aspeeto que, por natureza, e distinto doque vinhamos considerando.

    Temos como essencial da entregaa aquisi~ao da possepelo comprador. Transmitir a propriedade de uma coisa ou atitularidade de um direito retirando ao adquirente a possibili-dade de exercer 0direito de propriedade ou outro, nao e efecti-vamente transmitir 0direito, 0qual existe para poder ser exer-cido. Mas nao deixa de haver entrega e aquisic;a.oda posse pelocomprador quando se mantem uma detencao anterior por ter-ceiro, designadamente quando quem possuia em nome do ven-dedor passa. a possuir em nome do comprador, assim como haentrega quando 0 vendedor que possuia em nome pr6prio passaa poesuir em nome do comprador.

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    Nas duas hip6teses reunidas no art. 1264. como de consti-tuto possess6rio, a posse considera-se transferida para 0 com-prador e, portanto, a coisa vendida. considera.-se entregue aeste.

    Consid.erar-ee a coisa entregue ao comprador nio significanecessa.riamente que tenha havido da parte do vendedor 0cum-primento de uma sua obrigaQio de entrega; nos referidos casesde constituto poesess6rio s6 par descabida fi~o poderia eneon-trar-se uma actividade do vended or que pudesse qualificar-secomo um acto de entrega em cumprimento de um.a obrigaQio.Ao lado dessas eoloeamos tambem algumas das hip6tesesque 0 art. 1569. do antigo C6digo descrevia como co facto deserem postas 8 . sua (do comprador) disposi!;io:. e alguns doscasos cobertos pelo art. 1571., tambem do antigo C6digo,quando ineluia na entrega de bens im6veis e de direitos, 0aban-dono do gozo da coisa ou do direito (entrega do titulo e umaforma de tradi!;io mas 0 simples abandono do gozo do direito,quando nio haja titulo deste que possa. ser entregue, e , s6 porsi, uma entrega).

    Ainda hoje haver&. que considera.r entregue a coisa quandoocorram esses factos, mas alguns aspectos devem ser esclareei-dos. 0 primeiro e que uma actividade preparat6ria da entreganio efectua a entrega, aspecto que parece superfluo acentuar,mas que pode ter interesse para a boa compreensio de van.aship6teses possiveis; assim, quando 0 vendedor prepara a coisavendida para que esta possa ficar colocada 8 . disposi!;io do com-prador, nio est8. a efectuar a entrega, a qual 56 existe quandoa coisa eoloeada 8 . disposi!;io do comprador e tomada por este.

    Segundo aspecto a ter em conta e que a eolocacao 8 . dispo-sigio do comprador e forma de entrega mas a sua utilizagaono easo concreto depende de estipula!;io das partes (ou, paraquem inclua nesta ccolocagao todas as hip6teses que possamser abra.ngidas pela chamada ctradigio consensual, dependeda conexio com outros neg6cios jurldicos). Queremos por estaforma aceTl,tuar que nio e lfcito ao vendedor abster-se da(outra) actividade de entrega, limttando-se, semacordo com 0comprador, a colocar a coisa. 8 . disposigio deste.

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    o CONTRATO DE COMPRA E VENDA NO c6DIGO orvn, 625Finelm.ente, hi que apreciar Be nessas hip6teses hi cumpri-

    Mento de um.a obrigaC;io de entrega ou hi entrega sem chegara haver uma obrigac;io que por essa. forma seja cumpride, ounem sequer hi entrega. Antes de mais, nessas hip6teses afi-gura-se-nos irreal dizer que 0 vendedor procedeu a entrega,pois nio efectuou qualquer actividade e a mera passividade emque a sua conduta consistiu nio corresponde ao sentido - pelomenos a.o sentido normal - de entregar a coisa, Portanto, ouBe entende que a obrigac;io de entregar a coisa tern urn conteudovariavel ou Be entende que nio hi nestes casos obrigac;io deentrega. De qualquer das formas sai-se,pelo menos em parte,do sentido normal de entrega e obrigG,fao de entrega.

    Se atentarmos na fin ali dade do eefeito essencial da cha-mada obrigacao de entregar a coisa, ja aeima referida, v e n f i -eamos que a essencialidade nioresid.e no comportamento elcl-gido ao vendedor, mas na situac;io pretendida pela lei para 0comprador; aquele e urn meio - urn dos meios - para esta.situaC;io ser alcancada. A lei pretende que, pela exeeueao docontrato de compra e venda, 0comprador possa exercer plena-mente os seus poderes sobre a coisa e e isso que exprime porentrega ao comprador, atendendo a que normalmente e indis-pensavel uma actividade do vendedor, objecto possivel eade-quado de uma obrigac;ao deste. Na realidade, porem, essencia.le 0efeito que a entrega normal produz, mas a. produeao de talefeito supOe, conforme os casas, atitudes diversas do vendedor:ou essa atitude e indiferente porque da conjugac;io de preceitoslegals e de neg6cios juridicos anteriores resulta 0efeito - casode constituto possess6rio; ou essa atitude consiste em nao impe-dir que 0comprador tome para si a coisa posta it sua disp08iC;io(a actividade para colocar it disposic;ao nio e entrega, mas aimpreparativo da entrega); ou setrata de 0vendedor proceder a .entrega, no sentido estricto de haver uma actividade do ven-dedor que efectua a transmissao da posse.

    Rigorosamente, portanto, a chamada cobrigac;io de entre-gar a coisa nio tern urn eonteudo unico nem sequer a mesmanatureza. juridica. Constante e essencial e a.penas - para.fra-seando a. terminologia legal- que a eoisa fique entregue a.o

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    comprador. Variaveis sio OS meios pelas quais a coisa ficaentreque:10. A doutrina costuma colocar 0 problema da natureza

    jurldica da entrega. A correcta colocaeao do problema pressu-pOe urn conceito restrieto de entrega, como acto do vendedortendente ao cumprimento do. obriga

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    sentido, uma vez que Be se distinga:m as actividades prepara-t6rias, que podem ser meramente materiais e a entrega em. simesma, que fundamentalmente consiste na vontade de colocara coisa na disponibilidade do comprador.

    11. 0 C6digo contem um s6 artlgo, 0 art. 882., sabre aentrega da coisa, 0 seu n.O1 traduz quasi literal mente 01.tr. do art. 1477. Italiano; 0n." 2 inspira-se, com modifica~Oes,nos 2. e 3. tr. desse preceito Italiano; 0 n .s 3 foi acrescentadopara resolver um problema de pouca monta.Determina 0n.1ue a coisa deve ser entregue no estadoem que se encontrava ao tempo de venda. Pretende 0 preceitoresolver um problema natural sempre que a entrega seja dife-rida: podendo 0 estado da coisa variar entre 0 tempo da vendae 0 tempo da entrega, e neeessario decidir qual deles deve pre-valecer e a lei manifesta-se pelo primeiro.

    Para que a coisa possaser entregue no estado em que seencontrava ao tempo da venda, e obviamente necessario 0conhecimento do estado da coisa a esse tempo e, portanto, 0preceito s6 pode aplicar-se it venda de coisas existentes e espe-cificas (ou em bloco ou massa). Se a venda e de coisa futuraou de coisa indeterminada, e impossivel determinar 0 estadoda coisa ao tempo da venda e, portanto, havera que escolheroutro momento para este efeito, 0 qual tambem pode ser umde dois: 0 momento em que a coisa e especificada (ou em quecomeca a existir, no caso de venda de coisa futura) ou 0 mo-mento da entrega, Pareoe preferivel 0 primeiro, uma vez queo legislador afastou, como regra, 0tempo da entrega e, a par-tir da especificaeao ou existencia, e possivel determinar 0estadoda coisa.

    A obrig~ao de entregar a coisa no estado em que se encon-trava ao tempo da venda solieita do vendedor duas espeelesde conduta.s: uma negativa, consistente em nada fazer queimpeea a entrega da coisa no estado em que se en:contrava &0tempo da venda (nao deve arrancar arvores do predio rUsticovendido, retirar 0 telhado do predio urbano, separar as rodasdo autom6vel); outra positiva, consistente em fazer aquilo que

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    for necessario para que a coisa se conserve no estado em queBe encontrava ao tempo da venda.

    Esta segunda oonduta tem sido autonomizada como umaactividade de cust6dia ou guarda da coisa e enquad.rad.a peladoutrina. por duas formas difenmtes: ou como objecto de umaobri~io ou como objecto de um onus. Segundo a primeiracorrente, 0 vendedor tem uma obrigaeao de custodia da coisaate a entrega, obriga~io essa que nio e autimoma, mas simiillstrumental; nio subsiste por si mesma mas existe em fun~oda obriga!;io de entregar, da qual constitui um dos aspectos;nio se confunde com a pura obrig~io de entrega, ate porquesio separadas no tempo: a obriga~io de custodia comeca afuncionar logo que 0 contrato e celebrado e a obrig~io deentrega .propriamente dilts. s6 Be torna actual mala tarde, quandofor exigivel segundo a lei ou 0 contrato.

    Para a segunda corrente, a custodia da coisa forma umO O U S , subespecie do 6nus mais amplo de preparar (e preparara tempo) a entrega. 0 vendedor tem obrigaeio de entregar acoisa e paraisso deve realizar uma actividade preparatoria(por exemplo, transportar a coisa para 0 lugar onde deve serentregue) , em que Be inclui a guarda ou custodia da eoisa, poisde outro modo nio pode entrega-la, mas quando entrega a coisaeumpre a obrig(J(}tio de entregar e nio uma obrig~io de con-servaTa ecdss, assim como, quando nio entrega a coisa (ounio a entrega nos term os devidos) deixa de cumprir a obriga-!;io de entregar e nio a obri~io de eonservar a coisa. Assim,antes da entrega, 0 comprador nio pode exigir 0 cumprimentoda obri~io de eonservar, mas pode requerer um procedlmentoeautelar, para que a coisa possa. vk a ser entregue. Pelos mes-mos motives, cabe em regra ao vendedor suportar as despesasde guarda e conservacao da coisa ate ao momento da entrega.

    Afigura-se-nos que as duas teorias complicam inutilmenteuma realidade simples: dizer que 0 vendedor tem obriga!;io deguardar e conservar a coisa e 0 mesmo que dizer que 0 ven-dedor tem obriga!;iQ de entregar a coisa no estado em . que seencootrava ao tempo da venda e, portanto, a obriga!;io de con-servar a coisa e a obrig&.!;io de entregar a coisa no esiado emque Beencontrooa ao tempo da venda. Suponha-se que, estabe-

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    lecida poe lei a obri~o de 0vendedor entregar a coisa, nadaBe preserevia sobre 0 esta.do da coisa a entregar; discu1:iNJe.ianecessariamente Be a entrega devia fazer-se no estado em quea coisa Be encontrava ao tempo da venda ou ao tempo da entrega00 se 0 vendedor tinha ou !Daoa ~ao de custodia da coisaate a entrega. Suponha-se que a lei prescrevia que 0vendedortern obrigac;ao de entregar a coisa etem obriga~ao de a con-servar e guardar ate a entrega; isso equivaleria a dizer que 0vendedor tern obrig~ao de entregar a ooisa no estado em . queela Be encontrava ao tempo da venda, visto que a conserva~aoe a guarda supoem um termo de referencia, que s6 pode ser 0estado da coisa ao tempo de venda.

    Assim, portanto, tambem quando 0 legislador resolve 0pro-blema referido, fixando 0 estado da coisa ao tempo da venda,nada mais faz que impor ao vendedor a obriga~ao de conservare guardar a coisa. 0 vendedor nao tem obrigacjio de conservare guardar a coisa porque tem obriga~ao de entregar a coisa noestado em que Be encontrava ao tempo da venda, aendo aquelaobrigaeao instrumental relativamente a esta; 0 vendedor ternobriga~io de entregar a coisa no estado em que se encontravaao tempo da venda 00, por outras palavras, tem obri.g~ao deguardar, conservar e entregar a coisa.

    Recaindo sobre 0 vendedor a obriga~io de entregar a eoieano estado em que se encontrava ao tempo da venda (00 de con-servar e guardar a coisa ate it entrega) sio por ele suportadasas despesas necessarias para esse efeito, 0que na pratica signi-fica que normalmente 0 comprador vera 0preeo aumentado emfun~io dessas despesas.o art. 882.0, n.0 1 deve ser coordenado com 0 art. 918.0, napart:e em que este determina que se a ooisa, diepdis de vendida eantes de entregue, se deterlorar, adquirindo vicios ou perdendoqualidades, sio aplicaveis as regras relativas ao do cumpri-mento das obri~. Se a coisa Be deteriora, depois de ven-dida e antes de entregue, 0vendedor nio procede it entrega daooisa. no estado em que ela Be encontrava ao tempo da V I e ! I l . d a .Trataremos desta ooorden~ a prop6sito do cumprim.enlto daobri~ de entrega.

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    12. Por f~ do art. 882., n.O 2 a obri~ de entregaabrange, salvo estipul~o em oontririo, as partes integrantese os frutos pendentes, Parte integrante e definida no art. 204.,n.O2 como ctoda a eoisa m6velligada materialmente ao prediocom car&.cter de permanencla: frutos pendentes sao todosaqueles que ainda nio foram separados da coisa produtora.

    A inspi~ao direeta para este preeeito deve ter vindo doart. 1477., 2. tr. do Codigo Civil Italiano - Salvo diversavolonta delle parti, la cosa deve essere consegnata insieme comgli accessori, Ie pertinenze e ifrutti dal giorno della venditas.

    !it, oontudo, logo de notar uma diferenca de redaceao entreoe dois preoeitos. 0 art. 882. inclui na obrig~ao de entregada coisa - cA obrigaeao de entrega abrange ... - as partesintegrantes, os frutos pendentes e os documentos, isto e a obri-~ao de entrega tern um objecto complexo: a coisa propria-mente dita, as suas partes integrantes, os frutos pendentes,os documentos; no preceito italiano pareee haver uma obrigaeaoprincipal - a de entregar a coisa - aeompanhada por obriga-~oesacess6rias e coneomitantes de entrega dos aeessorios, per-ten~as e frutos.

    Nao e claro 0 aleance do disposto no art. 882., n.O 2,podendo-ee hesitar entre urn de dois: definir a extensao da obri-ga~ao de entrega reportada ao tempo da venda, em harmoniacom 0 n.1o mesmo artigo (0 vendedor e obrigado a entregaras partes integrantes e os frutos pendentes ao tempo da venda);reportar a entrega das partes integrantes e dos frutos penden-tes ao momento da entrega em excep

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    o CONTRATO DE COMPRA E VENDA NO roDIGO CIVIL 631da venda, 0 que alias constituiu urn simples esclarecimento doque ja. teria de Be entender uma vez que tanto as partes inte-grantes como 08 frutos pendentes fazem parte da coisa.

    Daqui nio pode, todavia, concluir-se a contrario 8en8U queas partes integrantes e os frutos posteriores a . venda pertencemao vendedor.

    Se 0 vendedor une, depois da venda, uma coisa ao predio,de tal modo que ela se tome parte integrante deste, ha. queverificar se sao ou nao aplicaveis as regras da acessio indus-trial mobiliaria ; nao 0 sendo, a parte integrante pode ser reti-rada pelo vendedor antes da entrega.

    Quanto aos frutos, hi!. 'a considerar certo mimero de hipo-teses. Frutos penden.tes 800 tempo da venda e ainda tambem 800tempo da entrega nio causam problemas. Frntos pendentes 800tempo da venda mas separados antes da entrega nao podemser entregues como frutos pendentes, que ja. nao sao, mas per-tencem ao comprador, pois este tem direito aos frutos a partirdo momento em que Be tornou proprietario (art. 213., n.O 1).o mesmo se aplica aos frutos produzidos depois da venda, querestejam pendentes ou separados 800 tempo da entrega.

    Acentuamos que, pela interpretaeao dada 800 art. 882.,n. 2, Be 0 vendedor nio entrega as partes integrantes ou 08frutos a que 0comrprador tern direito, mas que nao sao objectoda obrigacao de entregar por nao se reportarem 800 tempo davenda, essa falta de entrega em nada afecta 0contrato de com-pra e venda, pois 0 dever violado tem fonte diversa desse con-trato.o art. 210. do nosso Codigo distingue das partes integran-tes as coisas acessorias ou pertencas, Assim, enquanto peloart. 882., n.O2 as partes integrantes sao abrangidas pela obri-g~ao de entrega, salvo eonvencao em conJtri!.rio, as coisas aces-s6rias sao excluidas do neg6cio de venda, salva decl~io emoontr8.rio (art. 210., n. 2).

    Para quem entenda que 08 frutos civis tambem podem estarpendentes, nio hi!. motivo para nao lhes aplicar a regra doart. 882., n.O 2, tal como ficou interpretada, 0que alias coin-cide com a apli~ao do art. 213., 0. 2. Quem tenha opiniiodiversa aplica.ri. apenas e directamente esse art. 213., n.0 2 e,

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    portanto, pertencerio ao veodedor 08 readiroentoe, dia a dia,a.te ao tempo da venda, passando os segui.ntes a pertencer aocomprador.As palavraa fina.is do art. 882., n.O2 ee 08docum.entos rela-tiV08 a eoisa. ou direito condensam 0 terceiro trecho doart. 1477. c6d civ. italiano: cO vendedor deve, contudo, entre-gar 08 titukle e 08 documeotos relativ08 a propriedade e ao usoda coisa vendldas.Os textos portugues e italiano diferem. antes de mais emque, no primeiro, a obrig~o legal de entregar 08 documentose expressamente derrogavel: a frase esalvo estipul~o em con-trario a.ntep5e-se tanto a entrega das partes inte