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Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto das obras do Museu de Arte do Rio (MAR) Maiane Ramos da Silva Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientador: Profº. Eduardo Linhares Qualharini RIO DE JANEIRO Fevereiro de 2017

Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto ... · questões de sustentabilidade. Estabeleceu-se, assim, a reflexão sobre a complexidade dos projetos de reabilitação

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Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto das

obras do Museu de Arte do Rio (MAR)

Maiane Ramos da Silva

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro Civil.

Orientador: Profº. Eduardo Linhares Qualharini

RIO DE JANEIRO

Fevereiro de 2017

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Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto das

obras do Museu de Arte do Rio (MAR)

Maiane Ramos da Silva

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

______________________________________________

Prof. Eduardo Linhares Qualharini (orientador)

______________________________________________

Profª. Vania Maria Ducap

______________________________________________

Profª. Elaine Garrido Vazquez

RIO DE JANEIRO

Fevereiro de 2017

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Silva, Maiane Ramos.

Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto das obras do Museu de Arte do Rio (MAR) / Maiane Ramos da Silva – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2017.

IX, 71 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Eduardo Linhares Qualharini

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso de Engenharia Civil, 2017.

Referências bibliográficas: p. 65-70.

1. Introdução 2. Contextualização: Reabilitação de Edifícios 3. Contextualização: Sustentabilidade na Construção Civil 4. Exemplo de Aplicação: Museu de Arte do Rio 5. Considerações Finais

I. Qualharini, Eduardo Linhares. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto das obras do Museu de Arte do Rio (MAR)

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DEDICATÓRIA

A minha família, por ser minha referência em esforço, amor e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pelo suporte que me foi dado em todos os momentos da minha vida,

em especial aos meus pais, José Pedro da Silva e Severina dos Ramos da Silva, e às minhas

irmãs e também “mães”, Marcia Ramos da Silva Garcia e Michele dos Ramos da Silva. Sou

eternamente grata por todo amor, dedicação e por serem meus principais exemplos. Sem

esquecer também de meus sobrinhos: Julie da Silva Garcia, Michel da Silva Garcia e Luma

Ramos e Silva. Seus sorrisos, abraços e torcida são combustíveis para seguir em frente. Por

fim, aos meus cunhados Alex Pereira e Silva e Júlio César dos Santos Garcia que também

me ajudaram e apoiaram muito. Considero-me uma pessoa de extrema sorte por ter sido

abençoada com uma família como a que vocês representam para mim.

Agradeço também a Raquel da Silva Antunes e Felipe Santoro Pinheiro, por toda ajuda, força

e por acreditarem em mim e me colocarem para cima em todos os momentos que precisei e

pensei que não conseguiria. Sou grata também pelo companheirismo dos amigos que

conquistei ao longo da graduação, e estou certa de que, sem vocês, teria sido muito mais

difícil passar pelas disciplinas, trabalhos e avaliações, e menos prazeroso vencer cada etapa

que me conduziu até aqui. Estendo este agradecimento aos colegas e amigos do NPPG, pela

convivência diária e todo o incentivo que me foi dado nesta reta final.

Agradeço ao auxílio de todas as pessoas que contribuíram para que este trabalho fosse

possível, em especial à Rosane Gonçalves, do Departamento de Construção Civil da UFRJ;

à Shanna Honório, Gerente de Marketing e Comunicação Interna da empresa Concremat; à

Luisa Abreu, Bibliotecária do MAR; à Renata Kfuri, Gerente de Operações do MAR.

Agradeço por último, mas não menos importante, ao meu professor e orientador Eduardo

Linhares Qualharini, por todas as oportunidades que me foram ofertadas, por compartilhar

experiências e conhecimento e por aceitar orientar este trabalho.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Reabilitação de Edifícios e Sustentabilidade no contexto das

obras do Museu de Arte do Rio (MAR)

Maiane Ramos da Silva

Fevereiro/2017

Orientador: Eduardo Linhares Qualharini

Curso: Engenharia Civil

Resumo

Em duas construções de perfis diferentes e de grande importância histórica e cultural, o

“Palacete Dom João VI” e o prédio do “antigo terminal rodoviário”, ambos localizados na Praça

Mauá, ocorreram as intervenções que deram origem às instalações do Museu de Arte do Rio

(MAR). A reabilitação predial realizada, com critérios e estratégias estabelecidos pela

certificação LEED, foi uma das âncoras do projeto “Porto Maravilha”, proposto para recuperar

esta região histórica da cidade do Rio de Janeiro. Esta pesquisa apresenta uma revisão

bibliográfica, tendo como referencial teórico autores que tratam da reabilitação predial e da

sustentabilidade nas construções. Estas práticas de requalificação promovem a recuperação

e modernização das instalações e equipamentos de uma edificação e buscam, também,

aumentar o nível de qualidade de seus sistemas, devendo incorporar parâmetros sustentáveis

na intervenção, que possam contribuir para o aumento de vida útil da benfeitoria. O MAR é

apresentado como um exemplo de aplicação, onde é feito um descritivo das ações realizadas

e das práticas sustentáveis que permitiram obter a certificação LEED.

Palavras-chave: Reabilitação de edifícios; Sustentabilidade; Museu de Arte do Rio.

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Abstract of Monograph present to Poli/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for

degree of Civil Engineer.

Rehabilitation of Buildings and Sustainability within the context

of construction of the Art Museum of Rio (MAR)

Maiane Ramos da Silva

February/2017

Advisor: Eduardo Linhares Qualharini

Course: Civil Engineering

Abstract

In two different profiles constructions with great historical and cultural importance, the "Palace

Dom João VI" and the building of an "old bus terminal", both located in Mauá Square, occurred

the interventions that gave rise to the installations of the Rio Art Museum (MAR). The building

rehabilitation, with LEED certification criteria and strategies, was one of the anchors of the

project "Porto Maravilha", proposed to recover this historical region of the city of Rio de Janeiro.

This research presents a bibliographic review, in which it was used as theoretical reference

authors that have published regarding building rehabilitation and sustainability of

constructions. These requalification practices provide the recovery and modernization of the

installations and equipment of a building and also seek to improve the quality of its systems,

aiming to include sustainability measures into the intervention, which can contribute to increase

the building’s lifespan. The MAR is presented as an application example, where a description

of the actions is made and the sustainable practices that have led to LEED certification.

Keywords: Building Rehabilitation; Sustainability; Rio Art Museum.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................. 1

1.2 OBJETIVO ............................................................................................. 4

1.3 METODOLOGIA ..................................................................................... 4

1.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ......................................................... 5

2. CONTEXTUALIZAÇÃO: REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

2.1 CONCEITOS E TIPOS DE INTERVENÇÕES .......................................... 6

2.2 REABILITAÇÃO PREDIAL NO BRASIL E ÁREA DE APLICAÇÃO ........... 9

2.3 NÍVEIS DE INTERVENÇÃO .................................................................. 15

2.4 ETAPAS DA REABILITAÇÃO ............................................................... 18

2.5 RECOMENDAÇÕES E TÉCNICAS PARA A REABILITAÇÃO ................ 23

3. CONTEXTUALIZAÇÃO: SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1 BREVE HISTÓRICO DA SUSTENTABILIDADE..................................... 26

3.2 SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................. 28

3.3 CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES ................................................... 31

3.4 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSTRUÇÃO CIVIL .................. 33

3.5 CERTIFICAÇÃO LEED ......................................................................... 36

4. EXEMPLO DE APLICAÇÃO: MUSEU DE ARTE DO RIO

4.1 O PROJETO PORTO MARAVILHA ....................................................... 41

4.2 HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS ............................................................... 44

4.3 REABILITAÇÃO DO CONJUNTO ARQUITETÔNICO ............................ 46

4.4 SUSTENTABILIDADE APLICADA À REABILITAÇÃO ............................ 57

4.5 CONSIDERAÇÕES QUANTO AO USO E OPERAÇÃO ......................... 60

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 COMENTÁRIOS ................................................................................... 63

5.2 SUGESTÕES ....................................................................................... 64

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 65

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Número de imóveis prediais por faixa de idade na cidade do Rio de Janeiro. ........ 1

Figura 2 - Registros de edificações para Certificação LEED no Brasil. .................................. 3

Figura 3 – Reabilitação de edifícios no setor da construção civil e suas atividades. .............. 7

Figura 4 - Distribuição do mercado da Construção Civil em países europeus. ..................... 10

Figura 5 - Prédio durante as obras de reabilitação, para se tornar o Shopping. ................... 12

Figura 6 - Boxes para armazenagem de bens como resultado do retrofit. ........................... 13

Figura 7 - Sobrado completamente reconstruído, preservando a arquitetura original........... 14

Figura 8 - Agentes envolvidos na reabilitação de edifícios. .................................................. 14

Figura 9 - Etapas da reabilitação. ........................................................................................ 19

Figura 10 - Uso de sobre cobertura provisória para intervenções no telhado de uma igreja. 25

Figura 11 - Evolução dos eventos relacionados ao desenvolvimento sustentável. ............... 26

Figura 12: Três pilares da sustentabilidade. ......................................................................... 29

Figura 13 – Ciclo de vida das edificações ............................................................................ 32

Figura 14 – Níveis de certificação e suas respectivas pontuações – LEED v3. .................... 39

Figura 15 – Evolução da região portuária do Rio de Janeiro. ............................................... 41

Figura 16 - Delimitação da área de atuação do Projeto Porto Maravilha. ............................ 43

Figura 17 - Edifício da Antiga Inspetoria de Portos em 1920. ............................................... 44

Figura 18 - Palacete Dom João VI em 2009. ....................................................................... 45

Figura 19 - Terminal Rodoviário Mariano Procópio, antes das intervenções. ....................... 46

Figura 20 - Museu de Arte do Rio – Projeto. ........................................................................ 47

Figura 21 - Planta de cobertura e divisões em blocos de 5m x 5m. ..................................... 48

Figura 23 - Fluxo de Visitação do MAR. ............................................................................... 49

Figura 22 - Caracterização do novo espaço reabilitado. ...................................................... 49

Figura 24 - Canteiro de obras em junho de 2010 (esquerda) e após intervenções (direita).. 50

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Figura 25 – Passarela entre os dois prédios, vista externa (direita) e interna (esquerda). ... 51

Figura 26 - Sala de aula da Escola do Olhar - fachada voltada para a Praça Mauá. ............ 52

Figura 27 - Auditório da Escola do Olhar. ............................................................................ 52

Figura 28 - Torreão central antes das intervenções de recuperação. ................................... 53

Figura 29 - Fachada do Palacete após restauração. ............................................................ 54

Figura 30 – Projeto - primeiro pavimento do Palacete, após intervenções. .......................... 54

Figura 31 - Elevador e escada originais do Palacete, restaurados. ...................................... 55

Figura 32 - Área Expositiva após intervenções. ................................................................... 56

Figura 33 - Cobertura do Palacete, vista da Escola do Olhar. .............................................. 56

Figura 34 - Placa indicando o selo LEED, no acesso ao pavilhão de exposições. ............... 57

Figura 35 - Fachada da Escola do Olhar, em vidro Channel Glass. ..................................... 59

Figura 36 - Piso anterior e atual, da biblioteca da Escola do Olhar. ..................................... 61

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Semelhanças e diferenças entre obra tradicional e de reabilitação. ................... 21

Quadro 2 - Sistemas de Certificação Ambiental de Edificações. ......................................... 34

Quadro 3 - Dimensões da Certificação LEED a serem avaliadas nas edificações. .............. 37

Quadro 4 – Certificação em números. ................................................................................. 59

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O termo “reabilitação” é o mais utilizado internacionalmente no meio acadêmico para nomear

as intervenções que favorecem a recuperação global das funcionalidades do edifício,

alterando ou não seu uso original (MARQUES DE JESUS, 2008). Este tipo de ação se difere

da chamada construção tradicional, e deve responder a um crescente número de demandas,

expectativas e solicitações específicas. Além de defender a recuperação do patrimônio

construído, deve atribuir às benfeitorias a competência de atender às demandas da vida

contemporânea, as quais integram três pilares essenciais: os valores sociais, ambientais e

econômicos.

Neste contexto, dados do armazém do Instituto Pereira Passos (IPP) indicam que, ainda no

ano 2000, a distribuição do número de imóveis por idade em suas diferentes tipologias - casa,

apartamento, salas e lojas, industrial e outros - na cidade do Rio de Janeiro era dada pela

figura a seguir.

Qualharini e Ducap (2008) indicam que os edifícios da cidade do Rio de Janeiro foram

construídos prevendo uma vida útil média de 80 anos. De acordo com a figura 1, pode-se

inferir que uma grande parcela dos edifícios já se encontrava na metade deste tempo,

configurando um estoque de edificações passíveis a sofrer algum tipo de intervenção para

reabilitação.

Imóveis Prediais por Faixa de Idade

Figura 1 - Número de imóveis prediais por faixa de idade na cidade do Rio de Janeiro.

(Fonte: Armazém de Dados do IPP - Tabela 7.1.6 - Imóveis prediais e área construída, por faixa de idade, segundo suas tipologias nas Áreas de Planejamento e Regiões

Administrativas, 2000)

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Depois de 1992 na Rio-ECO 92, reabilitação de bens urbanos passou a ser vinculada às

questões de sustentabilidade. Estabeleceu-se, assim, a reflexão sobre a complexidade dos

projetos de reabilitação e a necessidade de equipes multidisciplinares de profissionais

atuando de forma integrada, visando o uso do bem edificado (QUALHARINI, 2012).

Essas questões passaram a não ser apenas consideradas na elaboração de projetos para

novos edifícios, mas, segundo Qualharini e Ducap (2008) “(...) tão importante quanto

considerar tais questões em novos projetos é discutir sobre o que fazer para reabilitar o

estoque existente para cumprir o restante de sua vida útil atendendo a estes novos parâmetros

(...)” (QUALHARINI e DUCAP, 2008, p.1).

Croitor (2008) destaca, ainda, os seguintes fatores que justificam a prática da reabilitação de

edifícios:

- Aproveitamento da infraestrutura existente no entorno e da sua localização;

- Impacto na paisagem urbana;

- Preservação do patrimônio histórico e cultural;

- Déficit habitacional e a sustentabilidade ambiental;

- Mais econômica e eficiente do que a demolição seguida de uma reconstrução.

A intervenção no ambiente construído, qual seja sua tipologia, mostra-se um campo de

atividade e de conhecimento que vem assumindo uma importância crescente, sobretudo

quando se discute sobre o futuro das cidades atrelado ao desenvolvimento sustentável e

ordenado do ambiente urbano.

Para Vale (2006), a busca pela reabilitação e requalificação das edificações deve incorporar

parâmetros para a sustentabilidade ecológica. As ações devem ser realizadas de modo a

encontrar uma sinergia com os valores ecológicos existentes na sociedade atual para que,

alinhadas à intervenção, possam contribuir para minimizar o impacto ambiental do meio

construído.

Esses parâmetros de sustentabilidade ecológica para a construção civil não almejam apenas

resguardar os direitos do ecossistema como um todo, mas buscam objetivamente a

construção de um edifício saudável, que propicie proteção, conforto e salubridade ao ser

humano e seus usuários (CIANCIARD et. al., 2004).

Por muitas vezes, a busca por uma construção mais sustentável está associada às

certificações ambientais. Um exemplo delas é a certificação LEED (Leadership in Energy and

Environmental Design), que avalia a edificação em 7 dimensões e confere créditos de acordo

com as estratégias adotadas em seu projeto e construção.

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A figura 2 mostra a evolução dos registros para certificação LEED no Brasil. No ano de 2016,

o número de registros acumulados chegou a 1.224, e a expectativa é que este crescimento

se perpetue. Segundo dados da Green Building Council Brasil, entidade que difunde as ideias

desta qualificação em nível nacional, o Rio de Janeiro figura em segundo lugar com 213

registros, atrás apenas de São Paulo.

O Museu de Arte do Rio enquadra-se nas motivações apresentadas e é o exemplo de

aplicação deste trabalho. Pertencendo a área contemplada pelas intervenções de

revitalização do projeto Porto Maravilha, na região portuária do Rio de Janeiro, o edifício

passou por uma reabilitação – conjugada nas formas de restauração e retrofit – entre os anos

de 2010 e 2013.

O Museu está instalado no Palacete Dom João VI, construído em 1916 e tombado no ano

2000 pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural, e no prédio de estilo

modernista ao lado, onde funcionavam o Hospital da Polícia Civil e o terminal rodoviário

Mariano Procópio. A realização do projeto foi uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro

e a Fundação Roberto Marinho. Sua reabilitação faz parte das intervenções realizadas na

Praça Mauá, também composta por outros edifícios notáveis como o Terminal Marítimo de

Passageiros do Touring Club, o edifício do jornal A Noite (1929), o 1º Distrito Naval da Marinha

do Brasil (1933) e o Museu do Amanhã (2015). Dessa forma, a Praça cria um contexto

paisagístico para apreciação do patrimônio histórico, artístico e cultural.

Registros – LEED Brasil

Figura 2 - Registros de edificações para Certificação LEED no Brasil. (Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/graficos-empreendimentos.php - Acesso em

janeiro/2017)

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A localização das obras, definição do produto a ser construído, o partido arquitetônico e a

especificação de materiais e componentes, entre outros fatores pertinentes às esferas de

projeto e de execução dos serviços, de acordo com Agopyan e John (2011), têm influência

direta no consumo de recursos naturais e energia, na otimização ou não da execução e no

efeito global no seu entorno, além de impactos estéticos e urbanísticos. Assim, houve também

a preocupação com os requisitos de sustentabilidade nesta intervenção: a concepção e todas

as etapas subsequentes do projeto tiveram como premissa a sustentabilidade, alinhados com

a busca da certificação LEED.

Em face ao exposto, a reabilitação predial e a conservação do patrimônio se configuram como

áreas estratégicas a serem exploradas pelo setor da construção civil brasileiro. Além disso,

as ações de sustentabilidade se mostram como uma tendência que já foi incorporada pelo

mercado e possui indícios de crescimento. Surge, assim, a importância das pesquisas no

âmbito da reabilitação predial, aliada à sustentabilidade das construções, também no sentido

de gerar um registro das intervenções realizadas que sirvam como referência no

estabelecimento e aperfeiçoamento das diretrizes deste setor.

1.2 OBJETIVO

Este trabalho tem o intuito de apresentar uma revisão da literatura sobre a

reabilitação de edifícios, através da definição de seus conceitos e campos de aplicação, além

de identificar os níveis e etapas envolvidas na reabilitação predial. Busca-se apresentar,

também, uma revisão bibliográfica sobre os conceitos da sustentabilidade na construção civil

e as certificações sustentáveis. O Museu de Arte do Rio é apresentado como um exemplo de

aplicação deste tipo de intervenção predial, onde será feito um descritivo das ações realizadas

e das práticas sustentáveis adotadas, pautadas nos critérios e estratégias estabelecidas pela

certificação LEED.

1.3 METODOLOGIA

A fim de alcançar os objetivos propostos foi realizada uma pesquisa documental, onde foram

consultados livros, revistas, artigos, monografias, dissertações, teses e sites referentes ao

tema abordado, sendo realizada uma pesquisa bibliográfica. Houve ainda pesquisa nos

principais meios de veiculação de notícias a respeito da reabilitação do conjunto arquitetônico

que deu origem às instalações do Museu de Arte do Rio, e a declarações e publicações feitas

pelas empresas que elaboraram o projeto arquitetônico, executaram a obra e a que prestou a

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consultoria de sustentabilidade. Além disso, foi feita consulta a documentos disponibilizados

pela gerência do Museu, após uma visita e entrevista com a gerente de operações do espaço.

A partir da abordagem descrita, foi possível chegar ao resultado final, organizado neste

documento e em uma apresentação para divulgação da pesquisa realizada.

1.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é composto de cinco capítulos desenvolvidos de forma a atender aos objetivos

propostos, conforme explicitado a seguir.

O primeiro capítulo trata da introdução do tema, onde são feitas as considerações iniciais, o

objetivo da escolha do tema, metodologia de pesquisa e estruturação do trabalho.

O segundo capítulo tem como objetivo conceituar a reabilitação, no seu nível urbano e do

edifício, além de dar destaque e definir as que são consideradas principais tipologias de

intervenção predial existentes. Também é mostrado um breve panorama da reabilitação

predial no Brasil e seus campos de aplicação, assim como os níveis de intervenção existentes,

principais etapas envolvidas e recomendações de técnicas para o processo.

O terceiro capítulo discorre sobre a sustentabilidade na construção civil, iniciando com um

breve histórico desta corrente, sua relação com a cadeia produtiva da construção e seus

impactos. Mostra-se, também, as etapas do ciclo de vida de uma edificação e as principais

certificações ambientais para construção, com destaque para a certificação LEED, mais

difundida no Brasil atualmente.

O quarto capítulo apresenta o exemplo de aplicação, onde realiza-se uma descrição do

contexto em que as obras do Museu de Arte do Rio se insere e expõe-se um breve histórico

dos edifícios envolvidos. São também descritas as principais intervenções de reabilitação

realizadas, a caracterização do novo espaço, as estratégias sustentáveis incorporadas e

considerações quanto ao uso e ocupação das novas instalações.

O quinto e último capítulo expõe as considerações finais do trabalho. É feita, portanto, uma

análise final do atendimento aos objetivos do trabalho e apresentando em seguida suas

referências bibliográficas e um anexo.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO: REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

2.1 CONCEITOS E TIPOS DE INTERVENÇÕES

Segundo Oliveira et. al. (2016), a reabilitação possui duas conotações: pode ser encarada

como uma ação no edifício em si, ou de uma maneira mais abrangente, envolvendo a

reestruturação urbana da região onde o edifício está inserido.

Do ponto de vista urbanístico, a Carta de Lisboa - Carta da Reabilitação Urbana Integrada,

elaborada no Primeiro Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana, em outubro de 1995,

conceitua reabilitação como:

(...) uma estratégia de gestão urbana que procura requalificar a cidade

existente através de intervenções múltiplas destinadas a valorizar as

potencialidades sociais, econômicas e funcionais a fim de melhorar a

qualidade de vida das populações residentes; isso exige o melhoramento das

condições físicas do parque construído pela sua reabilitação e instalação de

equipamentos, infra-estruturas, espaços públicos, mantendo a identidade e

as características da área da cidade a que dizem respeito. (...) (CARTA DE

LISBOA, 1995, p. 1)

As intervenções para reabilitação urbana implicam necessariamente em intervenções no

ambiente construído das cidades. Para Cianciardi et. al. (2004), quando as construções se

tornam obsoletas – isto é, quando não satisfazem de forma eficaz os objetivos para os quais

são projetadas – a tendência é que passem a ser subutilizadas ou simplesmente

abandonadas, ficando entregues ao tempo e sujeitas ao vandalismo depredatório - processo

que é comum aos centros urbanos.

No nível do edifício, a reabilitação pode ser entendida como o conjunto de operações que

objetivam aumentar o nível de qualidade dos sistemas de uma edificação, de modo que atinja

conformidade com padrões de exigência funcionais mais rigorosos do que para os quais foi

planejada (APPLETON, 2011). Segundo Maricato (2001 apud CLAPER, 2006), ela consiste

na busca de realização de intervenções mínimas indispensáveis para garantir o conforto

ambiental, a acessibilidade e a segurança estrutural das edificações.

Resumidamente, conforme esquematizado na figura 3, pode-se afirmar que a reabilitação

urbana está inserida no contexto da construção civil e que a reabilitação de edifícios se refere

a um leque amplo de ações que buscam recuperar a capacidade de uso de uma benfeitoria

(MARQUES DE JESUS, 2008).

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Figura 3 – Reabilitação de edifícios no setor da construção civil e suas atividades. (Fonte: Adaptado de Marques de Jesus, 2008)

Segundo Qualharini (2012), a prática de reabilitação possui múltiplos aspectos, dentre eles,

pode-se citar: o conhecimento da técnica construtiva empregada, a oferta dos materiais

utilizados na construção, o conhecimento da cultura construtiva local e a inserção do bem

edificado no patrimônio histórico. A partir de um estudo destes aspectos é que se conduz a

escolha da opção mais adequada de como se deve reabilitar.

Assim, o objetivo da reabilitação é possibilitar a readequação e reinserção do bem edificado

à estrutura da cidade, contribuindo para a maximização e otimização do espaço construído e

para a preservação dos valores arquitetônicos e paisagísticos das cidades (CIANCIARDI e

BRUNA, 2004).

A restauração, reforma, manutenção e o retrofit são os principais termos-chave que se referem

a reabilitação predial, e se encontram definidos nos tópicos a seguir.

2.1.1 RESTAURAÇÃO

A Carta de Veneza, que teve sua origem no II Congresso Internacional de Arquitetos e

técnicos de Monumentos Históricos, em maio de 1964, define que:

(...) restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por

objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento

e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos

autênticos. (...) A restauração será sempre precedida e acompanhada de um

estudo arqueológico e histórico do monumento (...) (CARTA DE VENEZA,

1964, p. 2-3).

Page 18: Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto ... · questões de sustentabilidade. Estabeleceu-se, assim, a reflexão sobre a complexidade dos projetos de reabilitação

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Ainda segundo a Carta de Veneza, a noção de monumento histórico transita na criação

arquitetônica isolada, bem como no sítio urbano ou rural que circunda uma civilização

particular, uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Esta definição não se

limita às grandes obras, mas também a outras benfeitorias que ganharam valor cultural com

o passar do tempo.

Já de acordo com Vale (2006), a restauração corresponde a um grupo de práticas

desenvolvidas para recuperar a concepção original - imagem - ou o momento áureo da história

da edificação em estudo.

Assim, esta prática pode ser resumida como uma atividade interdisciplinar composta por uma

análise histórica crítica ou arqueológica da obra e avaliação técnica de materiais que atuem

na nova situação, respeitando as contribuições de todas as épocas.

2.1.2 REFORMA

A NBR 16280 (2015, p. 8) define reforma de edificação como sendo “ (...) alteração nas

condições da edificação existente, com ou sem mudança de função, visando recuperar,

melhorar ou ampliar suas condições de habitabilidade, uso ou segurança e que não seja

manutenção (...)”.

Este termo, em suma, refere-se comumente na construção civil à modificação de uma

edificação ou à substituição de materiais nela empregados, sem acréscimo de área e sem

restrições quanto aos tipos de materiais ou técnicas construtivas adotadas. Uma peculiaridade

da reforma é que, na maioria das vezes, as obras são executadas com a edificação em

funcionamento.

2.1.3 MANUTENÇÃO

A NBR 15575 (2013, p. 8) dita que manutenção consiste no “(...) conjunto de atividades a

serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e seus

sistemas constituintes, a fim de atender às necessidades e segurança dos seus usuários (...)”.

Segundo Fonseca (2010), as atividades de manutenção podem ser classificadas de acordo

com a estratégia de intervenção em que se inserem, podendo ser corretivas, preventivas,

preditivas e detectivas, conforme resumido a seguir:

1. Manutenção corretiva: realizada após a ocorrência do problema, falha ou desempenho

insuficiente de componentes da edificação.

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2. Manutenção preventiva: executada antes da ocorrência de falha ou de desempenho

insuficiente dos componentes da edificação.

3. Manutenção preditiva: análise do sistema em uso para identificar eventuais anomalias

e direcionar a implantação de procedimentos preventivos.

4. Manutenção detectiva: atividade realizada para determinar as causas das falhas para

fornecer um “feedback” ao projeto e à própria manutenção, no intuito de aprimorá-la.

De acordo com Barrientos (2004), a manutenção impede o envelhecimento precoce das

edificações, sendo um dos mecanismos utilizados com o objetivo de aumentar o tempo de

vida das mesmas. Infelizmente, ainda segundo a autora, em geral a ação de manutenção

possui aspecto corretivo de caráter emergencial, o que não é o recomendável, pois os danos

à edificação, neste caso, são maiores do que aqueles detectáveis na manutenção preventiva.

2.1.4 RETROFIT

Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS, 2013), a concepção do

termo retrofit consiste na junção do termo “retro”, do latim, que significa movimentar-se para

trás e do termo “fit”, do inglês, que significa ajustar-se, resultando no conceito de

“reconversão”. Sob essa ótica, trata-se da renovação de um edifício, uma intervenção a um

patrimônio de modo que o antigo seja reformulado em novo.

Ademais, tal conceituação também trabalha com o conceito de sustentabilidade, na medida

em que busca preservar os elementos que caracterizam a edificação, ao invés de

simplesmente descartá-los, aliando-os à tecnologia. (QUALHARINI et.al., 2000).

Segundo Cianciardi e Bruna (2004), o retrofit busca a eficiência do edifício em sintonia com o

tempo presente, dentro das limitações físicas de sua antiga estrutura. Ainda, pode apresentar

a vantagem de reduzir do prazo de construção e a adequação geográfica do imóvel dentro do

contexto urbano.

Em resumo, esta intervenção busca incorporar melhorias e alterar o estado de utilidade do

edifício, através de atualização de seus elementos e incorporação de novas tecnologias,

visando a valorização do imóvel e aumento de sua eficiência operacional e energética.

2.2 REABILITAÇÃO PREDIAL NO BRASIL E ÁREA DE APLICAÇÃO

Quando a expansão das áreas urbanas se intensifica, seja de modo espontâneo ou planejado,

a noção de centro urbano se dissolve pelo surgimento de subcentros que passam a competir

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com o principal. Este processo, segundo Vargas e Castilho (2015), foi responsável pela

aceleração da degradação de centros urbanos que passaram a ser objeto de preocupação na

Europa e na América do Norte, desde 1950. Já no Brasil, esses processos passaram a ser

discutidos de modo mais intenso a partir de 1980.

A reabilitação de edifícios de áreas centrais é um processo recente no Brasil. Quando

comparado com os países do continente europeu, por exemplo, percebe-se que nestas

localidades os processos são mais consolidados e o setor apresenta uma maior participação

nas atividades ligadas à reabilitação e recuperação do que nas ações ligadas às construções

novas, conforme pode ser observado na figura 4. O processo de reabilitação também veio

sendo implementado nos Estados Unidos da América. O envolvimento de sua indústria da

construção civil é alto, e o setor de reabilitação de edifícios foi sistematizado a partir da criação

de códigos de obra específicos (REABILITA, 2007).

Figura 4 - Distribuição do mercado da Construção Civil em países europeus. (Fonte: Euroconstruct, 1997 apud Vale, 2006)

No final dos anos 80 e início dos anos 90, segundo Moreira (2003, apud CLAPER 2008),

baseada nas tendências dos Estados Unidos e de alguns países da Europa, e no âmbito do

paradigma do desenvolvimento sustentável, observa-se o uso de intervenções de

revitalização de áreas centrais de grandes cidades, refletindo a busca pelo renascimento dos

centros urbanos.

Vários projetos de revitalização urbana foram desenvolvidos pelas cidades brasileiras,

podendo-se citar: o Projeto de Revitalização de Centros Históricos, em Olinda, o Projeto Praia

Grande, em São Luís do Maranhão; o Corredor Cultural, no Rio de Janeiro; a Revitalização

do Pelourinho, em Salvador; o Plano de Revitalização do Bairro do Recife, em Recife e Feliz

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Lusitânia, Enseada das Rocas, Projeto Ver-o Peso, em Belém e a Associação Viva o Centro,

em São Paulo (MOREIRA, 2003 apud CLAPER 2008).

Ao longo do século XX, muitos encontros e ações foram realizados no âmbito da degradação

dos centros urbanos, gerando assim uma noção de consciência de preservação e da forma

que se deve intervir nestas áreas. Desta forma, observa-se um interesse cada vez maior dos

poderes públicos para a melhoria da imagem dos centros das cidades e recuperação de áreas

desvalorizadas. No contexto da cidade do Rio de Janeiro, o programa mais recente de

intervenções para recuperação do centro urbano carioca é o Porto Maravilha, que será

explorado mais a fundo no item 4.1 deste trabalho.

O desenvolvimento das cidades ocasionou diversas mudanças na situação do “mercado”

predial no Brasil. Ademais, a crescente preocupação com a defesa de áreas tombadas

fomentou a demanda para este tipo de solução, que pode ser dividida nas seguintes

situações-chave:

- Quando a recuperação reduz custo em comparação com uma construção nova (MAIA,

2000);

- No caso de uma edificação histórica, a qual cria condições para novas funções e facilita

seu uso (MAIA, 2000).

Segundo Croitor (2008), a reabilitação de edifícios não se restringe somente a edificações

consideradas antigas. O autor classifica as edificações passíveis de integrar o mercado de

reabilitações em quatro grandes grupos: edificações antigas e degradadas, edificações com

sistemas prediais ineficientes, edificações inacabadas e abandonadas e edificações cujo uso

será modificado.

Edificações são consideradas antigas, segundo Lanzinha (2013), quando possuem 50 anos

ou mais e se encontram no final de sua vida útil. A degradação dos edifícios se dá pelo

envelhecimento dos materiais aplicados, causados pela ação de agentes climáticos e pelo

próprio uso da edificação ao longo do tempo. A manutenção realizada de forma inadequada,

ou até mesmo a sua ausência, também contribui para este estado.

Múltiplas situações propiciam intervenções nas construções do século passado, como o

advento do uso da eletricidade na colocação de aparelhos de iluminação, climatização e de

ascensores nas edificações, equipamentos que até então não existiam em larga escala

(QUALHARINI, 2012). Em edificações mais recentes, sistemas de ar condicionado

ineficientes, instalações elétricas que não atendem à demanda e instalações hidrossanitárias

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que consomem acima do necessário são exemplos de sistemas que demandam atualização.

Esta busca de sistemas prediais mais eficientes ou melhor adequados para uma nova

necessidade é uma prática comumente associada ao retrofit (CROITOR, 2008).

Já os edifícios inacabados e abandonados, apesar de não terem sido oficialmente habilitados,

passam por intervenções de mesma natureza daquelas realizadas nos empreendimentos de

reabilitação (CROITOR, 2008).

Por fim, tem-se a reabilitação para mudança de uso da edificação, que promove a

possibilidade de a edificação servir aos usuários de uma maneira diferente da qual foi

projetada. Esta mudança pode ser motivada pela dinâmica da economia da região, mudanças

nas leis de zoneamento, programas de revitalização de edificações, localização da edificação

e modelo adotado para expansão urbanística da cidade em que se localiza (CROITOR, 2008).

Para ilustrar as situações apresentadas, pode-se citar o caso do Shopping Jardim Pamplona,

em São Paulo. O conjunto de mais de 40 mil m² foi implantado no local onde funcionava uma

loja de uma rede francesa de hipermercados (figura 5).

Figura 5 - Prédio durante as obras de reabilitação, para se tornar o Shopping. (Fonte: http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/234/artigo372565-1.aspx – Acesso em novembro/2016)

O antigo prédio, construído no começo da década de 1970, divide-se em subsolo, térreo e

mais quatro pavimentos, e passou por intervenções que tiveram início em janeiro de 2016.

Segundo a diretoria comercial da construtora responsável pela obra, a localização estratégica

do empreendimento, em uma região com concentração de população com alto poder

aquisitivo, justificava o investimento na requalificação do edifício.

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Outra intervenção realizada no centro de São Paulo converteu edifícios em estado de

abandono em depósitos de armazenamento (figura 6). A recuperação do edifício antigo

possibilitou, mais uma vez, a instalação do empreendimento em uma área estratégica da

cidade, tornando o investimento atrativo e atribuindo um novo uso ao bem antes deteriorado.

No ano de 2015, foram inauguradas três unidades em avenidas movimentadas, todas elas em

edifícios submetidos a retrofits.

Figura 6 - Boxes para armazenagem de bens como resultado do retrofit. (Fonte: http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/227/artigo367854-1.aspx – Acesso em novembro/2016)

Já para ilustrar a segunda situação-chave apresentada por Maia (2000), pode-se mencionar

o restauro aliado ao retrofit realizado nas casas da Villa Aymoré (figura 7), no Rio de Janeiro.

Os sobrados, construídos na primeira década do século XX, tombados pelo patrimônio

histórico municipal e incluídos na Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) da Glória e

do Catete desde 2005, encontravam-se em mau estado de conservação, e um deles havia

desabado. As casas foram recuperadas com o investimento de uma incorporadora, que

transformou o local em um empreendimento imobiliário com salas comerciais para aluguel.

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Figura 7 - Sobrado completamente reconstruído, preservando a arquitetura original.

(Fonte: http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/223/artigo365150-1.aspx – Acesso em novembro/2016)

Somado aos aspectos apresentados anteriormente, Qualharini (2012) indica que um alto grau

de intervenções se fizeram e ainda se fazem necessárias nas construções, visando adaptá-

las à proposta de novos materiais construtivos e equipamentos, o que evita o descarte de

edificações.

Os empreendimentos de reabilitação urbana influenciam a atividade industrial ligada à

construção civil e ao setor de projetos e serviços e, segundo Croitor (2008), os principais

agentes envolvidos na reabilitação estão apresentados na figura 8.

Figura 8 - Agentes envolvidos na reabilitação de edifícios. (Fonte: Croitor, 2008)

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Desta forma, estabelece-se um amplo campo de aplicação das intervenções de reabilitação

predial no Brasil, que engloba um grande e variado grupo de agentes interessados e que se

traduz em oportunidades de negócios para as empresas e profissionais do setor da

construção civil.

2.3 NÍVEIS DE INTERVENÇÃO

O nível de adequação e reparo necessário para que o imóvel atenda às necessidades

previamente estabelecidas influencia na forma de reabilitação a ser realizada, podendo ser

desde pequenos reparos até grandes obras. Isto é, pode-se refazer as instalações prediais

ou executar pequenos consertos, como substituição de parte do revestimento e pintura, ou

ainda, proceder grandes obras com recuperação e alteração estrutural ou mudança de layout,

vindo a gerar, em alguns casos, o deslocamento dos usuários durante a realização das obras

(REABILITA, 2007).

Para Barrientos (2004), a tentativa de estabelecer níveis é um tanto quanto superficial, já que,

muitas vezes, é difícil prever antecipadamente o grau de intervenção que será adotado ao

longo do desenvolvimento dos trabalhos. Por outro lado, essa graduação permite que se tenha

a ideia da magnitude dos trabalhos a serem desenvolvidos.

Aguiar et. al. (2002, apud Marques de Jesus, 2008) indica que a classificação de níveis de

intervenção permite ainda estabelecer critérios e criar instrumentos gerais de gestão técnica

e financeira que visam facilitar a tomada de decisões, possibilitando uma noção aproximada

quanto aos prováveis patamares de custo das operações.

Desta forma, além de identificar o tipo de intervenção, faz-se necessário caracterizar os

diversos níveis de intervenções possíveis de serem encontradas durante uma operação de

reabilitação de edifícios.

Paiva et. al. (2006) propõem em sua publicação quatro níveis de intervenção, sendo eles:

- Nível 1: Reabilitação ligeira

- Nível 2: Reabilitação média

- Nível 3: Reabilitação profunda

- Nível 4: Reabilitação excepcional

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2.3.1 REABILITAÇÃO LIGEIRA

O nível 1 compreende a execução de pequenas reparações e melhorias das instalações e

equipamentos já existentes.

Estas ações atuam sobre edifícios cujo estado geral de conservação pode ser considerado

satisfatório ou razoável. Em geral não são necessários reparos em elementos estruturais ou

substituição/transformação de soluções construtivas espaciais existentes. Também não se

obriga, normalmente, o realojamento provisório dos usuários durante a intervenção (PAIVA

et. al., 2006)

No âmbito dos pequenos reparos nas edificações, podem-se citar os seguintes casos

(REABILITA, 2007; PAIVA et. al., 2006):

- Recuperação dos sistemas prediais (elétrico, telefonia, gás e hidráulico);

- Recolocação de peças;

- Reaplicação de revestimentos;

- Melhoria das condições interiores de iluminação, ventilação e exaustão;

- Limpeza e a manutenção geral da cobertura;

- Substituição pontual de telhas;

- Reparação de elementos dos sistemas de condução de águas pluviais;

- Reparação de anomalias pontuais nos rebocos;

- Pintura do interior e do exterior dos edifícios;

- Reparação da caixilharia;

- Reparação ou a substituição de elementos metálicos afetados pela corrosão.

2.3.2 REABILITAÇÃO MÉDIA

O nível 2 corresponde a uma reforma parcial ou total da edificação, onde se incluem os

mesmos trabalhos do nível anterior. Pode vir a envolver mudança de layout interno com

geração de resíduos, mas mantendo o uso original do imóvel.

Assim como na reabilitação ligeira, na maior parte dos trabalhos envolvidos é possível manter

os moradores nas suas habitações, exceto em casos pontuais, em que se efetuem operações

que implicam maior grau de incomodidade ou risco. Nestes casos, é provável que haja a

necessidade de se providenciar o realojamento provisório dos usuários, por breves períodos

(REABILITA, 2007; PAIVA et. al., 2006).

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São exemplos da reabilitação média:

- Troca parcial de sistemas prediais;

- Recuperação e/ou alteração de fachadas ou de esquadrias;

- Substituição de revestimentos;

- Demolição e execução de vedações horizontais e/ou verticais;

- Reparação ou a substituição parcial de elementos de carpintaria (da caixilharia, das

escadas, ou de soalhos e tetos);

- Reparação e o eventual reforço de alguns elementos estruturais, geralmente dos

pavimentos e da cobertura;

- Reparação generalizada dos revestimentos nos paramentos interiores e exteriores de

paredes e tetos e na cobertura;

- Introdução de uma nova instalação eléctrica;

- Beneficiação das partes comuns do edifício;

- Realização de alterações superficiais na organização dos espaços existentes;

- Melhoria das condições funcionais e ambientais dos espaços em geral;

- Melhoria dos equipamentos existentes, por exemplo, reestruturando cozinhas e

instalações sanitárias existentes.

2.3.3 REABILITAÇÃO PROFUNDA

O nível 3 consiste numa obra de porte maior, com reconstrução ou restituição parcial,

seguindo parcialmente ou totalmente a concepção arquitetônica original (gabarito de altura,

volumetria, etc). A reabilitação profunda engloba os tipos de alterações citadas anteriormente

e outras de igual dimensão, que implicam em demolições e reconstruções significativas. Estas

ações podem ir desde pavimentos e paredes divisórias até a resolução de problemas

estruturais, e beneficiação e reestruturação das partes comuns, incluindo as comunicações

verticais e horizontais à substituição generalizada de elementos de carpintaria, e ainda, à

execução de novos revestimentos (REABILITA, 2007; PAIVA et. al., 2006).

Este tipo de intervenção obriga geralmente à desocupação dos edifícios para efetuar os

trabalhos necessários, o que provoca a necessidade de realojar os usuários por períodos de

tempo significativos. Além dos trabalhos descritos para os dois níveis anteriores, a reabilitação

profunda compreende, de uma forma geral (PAIVA et. al., 2006):

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- Introdução de significativas alterações na distribuição e na organização interior dos

espaços nos edifícios;

- Reparação de elementos construtivos deteriorados que possam colocar em risco a

segurança dos usuários (como por exemplo, escadas, paredes divisórias e elementos

da estrutura da cobertura);

- Introdução ou a adaptação de espaços nos alojamentos para criar instalações e

equipamentos em falta.

2.3.4 REABILITAÇÃO EXCEPCIONAL

Por fim, o nível 4 corresponde a uma intervenção de natureza excepcional, com um grau de

desenvolvimento muito profundo, que ultrapassa, nas obras de reparação e melhorias, os

exemplos anteriormente dados. Destarte, estas intervenções tem de ser muito bem

ponderadas em função do uso potencial do edifício e do seu valor patrimonial (PAIVA et. al.,

2006).

São exemplos de aplicação da reabilitação excepcional:

- Recurso pontual a técnicas de restauro para intervenções na envolvente do edifício,

ou mesmo em partes do seu interior;

- Substituição e/ou reforço dos elementos estruturais;

- Reabilitação dos edifícios para padrões elevados e superiores aos existentes.

Caso se verifique que o uso potencial e o valor patrimonial não são relevantes, deve-se

ponderar a possibilidade de substituição da construção antiga por uma nova, atendendo aos

valores culturais do lugar e do seu contexto (PAIVA et. al., 2006).

2.4 ETAPAS DA REABILITAÇÃO

Antes da tomada de decisão de ordem prática, é necessário obter uma ideia inicial da

qualidade e do estado de conservação da edificação. Em geral, esta fase – denominada pré-

diagnóstico – possui custo reduzido, engloba inspeção visual e alguns levantamentos

dimensionais superficiais que forneçam a informação mínima necessária para elaboração de

um anteprojeto. Devem ser realizadas investigações documentais assim como a observação

das plantas existentes, acompanhadas por uma avaliação no local (QUALHARINI e

BARRIENTOS, 2004).

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A partir destas análises preliminares, cabe ao profissional optar pela possibilidade que melhor

se adequa à situação. Assim, surgem as alternativas propostas a seguir:

- Demolir/reconstruir: quando os elementos estruturais apresentam um elevado grau de

degradação, representando perigo ou falta de estabilidade ao edifício. Esta solução só

deve ser adotada quando a reabilitação for técnica e economicamente inviável

(BARRIENTOS, 2004);

- Intervir/Reabilitar: quando se mostra viável recuperar, reaproveitar e/ou melhorar a

edificação, adaptando-a às novas exigências de utilização (BARRIENTOS, 2004).

Assim, levando em consideração que a reabilitação se efetiva, o projeto REABILITA (2007)

indica que os vários processos envolvidos podem se estruturar em quatro grandes etapas,

conforme a figura a seguir.

Figura 9 - Etapas da reabilitação. (Fonte: Autora, 2017)

A etapa inicial consiste na elaboração de um diagnóstico da situação física, legal e social do

empreendimento que passará pela reabilitação. Identifica-se o tipo de intervenção e as

possíveis alternativas viáveis financeiramente e funcionais, de acordo com o contexto físico e

social. O diagnóstico divide-se, por sua vez, em três partes (REABILITA, 2007):

- Identificação das características urbanas do imóvel: identificar a localização do imóvel

geograficamente e os aspectos gerais e específicos do entorno (equipamentos urbanos,

infraestrutura e condições de logística urbana). Permite apontar quais leis e

regulamentos se aplicam, facilitando ou dificultando o processo de reabilitação.

- Caracterização da propriedade: identificar o domínio da propriedade, condições da

posse e situação financeira, para que o processo tenha continuidade sem impedimentos

jurídicos.

- Identificação dos agentes envolvidos na reabilitação: definir claramente os diversos

agentes envolvidos na reabilitação e seus respectivos papéis no processo.

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Após o diagnóstico do imóvel, a primeira medida a ser adotada é a recuperação do projeto

original do edifício, a partir do qual se busca conhecimento das características arquitetônicas

e técnicas construtivas empregadas à época. Passa-se então à inspeção do imóvel,

comparando-os com os dados levantados no projeto, além de documentar anomalias

estruturais e construtivas presentes (REABILITA, 2007).

Já para Appleton (2011), ainda na etapa de diagnóstico deve-se apresentar uma avaliação do

estado de conservação dos elementos, componentes e instalações do edifício como um todo,

além das soluções construtivas e um registro sistemático de anomalias. As soluções

tecnológicas de intervenção no edifício apresentadas são essenciais para dar início a

elaboração do projeto de reabilitação.

A etapa de projeto ainda se subdivide em (REABILITA, 2007):

- Levantamento dos parâmetros e diretrizes para elaboração do projeto: pesquisa e

análise dos parâmetros legais e normas incidentes, como Plano Diretor, Código de

Edificações, Código Sanitário, entre outros. Além dos aspectos gerais, devem ser

observadas as especificações locais, por exemplo, se a edificação se encontra em

alguma área especial do planejamento urbano da cidade (REABILITA, 2007).

- Análise de viabilidade ao detalhamento do projeto: consiste na avaliação das

possibilidades de intervenção feita por técnicos e profissionais qualificados, segundo

diretrizes que guiam a elaboração do projeto de reabilitação. O resultado desta análise

é o Estudo Preliminar, documento que apresenta a concepção e representação gráfica

preliminar, que atende aos parâmetros e exigências estabelecidos, para permitir a

avaliação do partido arquitetônico (REABILITA, 2007 apud MELHADO, 2008). Com

base no estudo preliminar, passa-se à etapa de elaboração do Anteprojeto, e consiste

na representação preliminar da solução adotada, em forma gráfica e de especificações

técnicas, que inclui: tecnologia construtiva, pré-dimensionamento estrutural e de

fundações, concepção de sistemas de instalações prediais, com informações que

permitam avaliar a qualidade do projeto e o custo da obra. A partir do Anteprojeto,

elabora-se o Projeto Legal, que reúne informações técnicas suficientes para

apresentação aos órgãos competentes e de financiamento. Depois da aprovação final

do projeto e captação de recursos inerentes à sua execução, é iniciada a elaboração do

Projeto Executivo, com detalhamento específico de cada item a ser desenvolvido, na

forma gráfica (desenho de projeto) e nos respectivos cadernos de especificações

(memoriais descritivos e quantitativos) (REABILITA, 2007).

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- Aprovação do projeto junto aos órgãos competentes: com o projeto completo

elaborado, é necessária a aprovação dos órgãos competentes. É exigida sua

padronização conforme especificações dos órgãos municipais, estaduais e federais, no

devido número de vias e acompanhado das documentações necessárias. No caso de

pequenos reparos, não há necessidade de aprovação de projetos, muitas vezes

somente é exigido alvará e/ou autorização e pagamento de taxa de liberação dos

serviços (REABILITA, 2007).

A terceira fase consiste no planejamento e gestão da produção, envolvendo as seguintes

etapas (REABILITA, 2007):

- Planejamento da obra: inclui estudo das áreas disponíveis e do arranjo físico do

canteiro de obras, programação das atividades de obra, identificação de possíveis

fornecedores, estabelecer a forma de gestão e fluxo de materiais, dimensionamento das

equipes de produção e definição dos equipamentos e áreas de instalação. Este

planejamento, assim como nas obras novas, tem importância fundamental na redução

de erros ligados à previsão orçamentária e diminuição de imprevistos (REABILITA,

2007).

- Execução e acompanhamento: aponta-se a equipe técnica que se responsabilizará

pela direção da obra, controle da qualidade e prazo da execução, assim como das

condições de segurança e higiene de trabalho, controle do fluxo de resíduos e materiais

e o acesso à documentação da obra (REABILITA, 2007).

Vale ressaltar que o processo de reabilitação de um edifício segue uma lógica de construção

diferente daquela seguida por construções novas/tradicionais. Tratam-se de edifícios com

materiais e procedimentos construtivos específicos, que já sofreram diversas intervenções e

diferentes ocupações e usos (CLAPER e SALGADO, 2008). O Quadro 1 lista algumas

semelhanças e diferenças entre a construção tradicional e a reabilitação.

Quadro 1a - Semelhanças e diferenças entre obra tradicional e de reabilitação.

Aspectos da Construção Obra Tradicional Reabilitação Predial

Demolição Ocorre apenas quando há estruturas no terreno que precisam ser removidas.

É uma atividade muito comum, especialmente quando há

modificação de uso.

Terraplanagem Necessária para limpar e nivelar

o terreno antes de iniciar a construção.

Raramente acontece.

(Fonte: Adaptado de Nakamura, 2011)

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Quadro 1b - Semelhanças e diferenças entre obra tradicional e de reabilitação.

Aspectos da Construção Obra Tradicional Reabilitação Predial

Canteiro de Obras É montado antes do início das obras de acordo com o número

de trabalhadores envolvidos.

É mais limitado em função das construções existentes e da

eventual ocupação do edifício.

Fundações e Estrutura

São executadas a paritr do zero, seguindo orientações dos

projetos de fundações e de estrutura.

Pode ser necessário adaptá-las, principalmente quando há

mudança do uso da edificação.

Fechamentos Pode usar a tradicional alvenaria

ou painéis pré-fabricados de vedação.

Quando necessários, ocorrem da mesma forma que em uma obra

convencional.

Impermeabilização Necessária para assegurar a vida

útil da construção.

A intervenção pode ser um motivo adicional para se refazer a

impermeabilização. Assim evitam-se o retrabalho e gastos extras

com acabamento.

Acabamentos Pode utilizar materiais diferentes de acordo com padrão e tipo de

construção.

Uma das etapas cruciais. É fundamental para dar uma

aparência mais atual à construção e valorizar o imóvel.

Instalações Prediais

Instalações (água, esgoto, energia, ar condicionado, gás e comunicações) são executadas

para garantir o pleno funcionamento do edifício.

A modernização das instalações prediais é fundamental para

adaptar a construção às novas exigências dos usuários e às

normas técnicas e de segurança.

Fachada Varia de acordo com o padrão e

tipo da construção.

Pode prever a troca de revestimentos e a substituição de

esquadrias, por exemplo.

Tempo médio da obra Longo, de acordo com a complexidade da obra.

Pequenas reformas podem ser feitas em poucas semanas, mas

intervenções mais complexas tendem a demorar mais do que

construir um edifício novo.

Mão de obra

Quantidade e grau de especialização da mão de obra variam de acordo com o estágio

da obra.

Menos numerosa que em obras tradicionais, mas os trabalhadores

são mais especializados e treinados para trabalhar sob

condições adversas, como em edifícios ocupados.

(Fonte: Adaptado de Nakamura, 2011)

No contexto da atuação em edifícios com valor cultural e histórico, Claper e Salgado (2008,

p. 3) indicam que é habitual que os estágios de execução da obra envolvam mudanças

motivadas por adequações e detalhes construtivos, dentre outras. Ademais, as autoras

ressaltam que: “(...) a complexidade do processo que conta com diversos atores e

intervenientes faz com que o processo de construção necessite de correções constantes que

requerem a troca de informações entre os intervenientes (...)”. Desta forma, um ambiente tão

diverso de atuação requer um tratamento diferenciado por parte da equipe técnica e, nesse

sentido, adaptações e ajustes precisam ser realizados no processo de construção (CLAPER

e SALGADO, 2008).

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23

Devido a estes fatores, a comunicação entre os projetistas e fiscalização da obra deve ocorrer

constantemente. Recomenda-se, também, o acompanhamento contínuo das tarefas e

treinamento e orientação das equipes de trabalho para minimizar erros no andamento da

execução conforme o cronograma estabelecido (REABILITA, 2007).

- Conclusão e regulamentação: com a conclusão da obra, é necessário solicitar aos

órgãos responsáveis a aprovação para habitar o edifício, assim como o fornecimento de

serviços de telefonia, água, luz e gás (REABILITA, 2007).

Chega-se então à quarta e última parte, denominada gestão da ocupação. Nela é estabelecido

o modelo de gestão que será adotado para o funcionamento da edificação, baseado nas

características do imóvel e de seus usuários. Também são elaborados manuais de

recomendações de operação/manutenção e com as boas práticas de gestão das unidades

reabilitadas e seus equipamentos. Estes manuais têm como objetivo instruir proprietário e

usuários quanto a melhor forma de utilização das edificações contendo instruções para

limpeza, segurança e manutenção física da edificação. Consequentemente, contribuem para

reduzir problemas pertinentes à sua conservação (REABILITA, 2007).

2.5 RECOMENDAÇÕES E TÉCNICAS PARA A REABILITAÇÃO

A necessidade de se intervir no ambiente construído e a procura por empreendimentos que

satisfaçam as novas exigências do mercado geram a necessidade de estudos, por parte dos

profissionais envolvidos na área, sobre os métodos construtivos adotados nos processos de

reabilitação. Como já evidenciado no item anterior, a reabilitação de edifícios segue uma

lógica diferente das obras tradicionais. Entretanto, traz consigo a adaptação de técnicas

empregadas em obras novas para a realidade do bem já edificado e que demanda

intervenções, sejam elas pelo desejo de atualizar os sistemas ou por patologias identificadas.

Neste sentido, unindo referências do Caderno de Síntese Tecnológica – Reabilitação de

Edifícios (2015) e do projeto REABILITA (2007), apresentam-se algumas recomendações e

técnicas para reabilitação:

- Reforço Estrutural: optar por soluções sem acréscimo significativo de carga, e dar

preferência a técnicas e materiais similares ou compatíveis aos da estrutura original.

Deve-se privilegiar a reparação e reforço de elementos vulneráveis, em particular os

elementos verticais, como paredes e pilares. Buscar assegurar uma resposta global da

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edificação, com efeito eficiente de cintagem1 no nível dos pavimentos e melhorar

ligações dos pavimentos às paredes e ligações entre paredes. É recomendada a

elaboração de um laudo estrutural para verificar as condições da edificação.

- Coberturas: em edifícios antigos é comumente encontrada cobertura do tipo inclinada

com estrutura de madeira. Já em edifícios recentes, a maioria é em concreto armado ou

em elementos pré-fabricados de concreto e/ou metálicos, com revestimento superior em

telhas cerâmica ou concreto. Em lajes de cobertura é realizada a impermeabilização,

com manta asfáltica e posterior aplicação de concreto vassourado, entre outras muitas

soluções (REABILITA, 2007 e CADERNO DE SÍNTESE TECNOLÓGICA –

REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS, 2015).

- Paredes: podem possuir função estrutural e apresentar irregularidades geométricas e

cavidades/vazios interiores. São caracterizadas por grande heterogeneidade, que

resulta na diversidade nos materiais e técnicas construtivas. As principais técnicas, a

utilizar dependendo do caso, são o fechamento de juntas, rebocos armados,

confinamento transversal com uso de conectores ou pregos, injeção de caldas,

desmonte e reconstrução ou soluções mistas (REABILITA, 2007 e CADERNO DE

SÍNTESE TECNOLÓGICA – REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS, 2015).

- Fundações: reforço e manutenção das fundações existentes, utilizando técnicas

compatíveis com os condicionamentos de espaço e de acessos existentes,

considerando os resultados de um laudo estrutural.

- Vãos envidraçados: consistem no conjunto constituído pelas portas, janelas e

respectivos sistemas de proteção solar. A intervenção deve assegurar as características

básicas de desempenho como estanqueidade à água, redução de infiltrações de ar e

resistência mecânica. Podem ocorrer reparações ou substituição dos elementos.

- Pisos: recuperação de pisos quando há possibilidade de reaproveitamento de peças,

ou retirada e substituição. Recomenda-se a inspeção visual e avaliação das

características com uso de equipamentos auxiliares de diagnóstico.

- Instalações elétricas e de telecomunicações: em muitos edifícios construídos, a

infraestrutura de telecomunicações ou não existem ou não estão de acordo com as

normas vigentes, exigindo readequação. No caso de instalações elétricas, elas podem

se mostrar ineficientes ou até mesmo oferecer riscos para segurança dos usuários. São

utilizadas para substituição tubulações em PVC e fiações completamente novas.

1 Cintagem pode ser entendido como o efeito proveniente de confinamentos laterais nas estruturas, contrariando uma possível desarticulação.

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- Instalações hidráulicas e de esgoto: em caso de remodelação, deve ser comprovada

a suficiência da capacidade hidráulica das canalizações e eventuais instalações

complementares. Normalmente é feita a reabilitação integral dos sistemas, cujo

custo/benefício se mostra positivo. Tubulações em PVC completamente novas são

usualmente empregadas.

- Instalações mecânicas: pode ser feita a recuperação de elevadores existentes ou

substituição dos mesmos.

Adicionalmente ao item de coberturas citado no Reabilita e no caderno de síntese, quando o

estado de degradação da cobertura em telhado é muito elevado, é usual a construção de uma

sobre cobertura provisória (figura 10), que permita a remoção segura dos elementos, limpeza

e recomposição e a remontagem da cobertura, enquanto protege o bem edificado contra água

proveniente de chuvas.

Figura 10 - Uso de sobre cobertura provisória para intervenções no telhado de uma igreja. (Fonte: Construtora Biapó, 2015)

Nos processos de reabilitação, o uso de dutos (shafts) tem sido empregado para atender as

novas necessidades de instalações elétricas e hidráulicas. Ele pode ser instalado na fachada

ou nas laterais da edificação, fazendo uso de tratamento arquitetônico que não seja notado.

Considerações quanto ao canteiro de obras, fluxo de materiais e produção de resíduos

também são relevantes. A falta de planejamento adequado para estabelecer o layout do

canteiro de obras pode levar a dificuldades no abastecimento de suprimentos, que são ainda

mais agravadas pela limitação de espaço livre e disponível. As demolições também são muito

recorrentes e, uma solução para a grande produção de resíduos seria a reutilização destes

materiais em outros locais, ou ainda o reaproveitamento de revestimentos, a não retirada de

instalações prediais optando pelo uso de sistemas aparentes, entre outros (REABILITA,

2007).

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26

3. CONTEXTUALIZAÇÃO: SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1 BREVE HISTÓRICO DA SUSTENTABILIDADE

Os debates mundiais sobre meio ambiente e sustentabilidade iniciaram na década de 1960,

principalmente através da ONG Clube de Roma. O relatório denominado “Limites do

Crescimento”, elaborado entre 1968 e 1972 pelo Clube, alertou a sociedade mundial sobre a

necessidade de rever os modelos e projetos desenvolvimentistas da época, para evitar sérios

riscos no futuro do planeta. Hoje, 45 anos depois da obra publicada, é sabido que muitas

questões levantadas ali são legítimas e impactam a utilização dos recursos naturais.

Também em 1972, a Declaração de Estocolmo divulgou 26 princípios que inspiraram o

homem a preservar e melhorar o meio ambiente. Desde então, os debates sobre

desenvolvimento sustentável tornaram-se cada vez mais presentes na sociedade.

A figura 11 ilustra a evolução dos eventos relacionados ao desenvolvimento sustentável a

partir da Conferência de Estocolmo, não destacando a ação da ONG Clube de Roma em

1968.

Figura 11 - Evolução dos eventos relacionados ao desenvolvimento sustentável.

(Fonte: Adaptado de Coracini, 2011)

Nesta sequência de acontecimentos que marcaram a evolução da conscientização ambiental,

destacam-se dois eventos fundamentais: o Relatório Brundtland (1987) e a Conferência das

Nações Unidas sobre meio-ambiente e desenvolvimento - ECO-92.

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27

Em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU,

10 anos após a Conferência de Estocolmo. Esta comissão elaborou o Relatório Brundtland,

documento que definiu que “ (…) desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que

satisfaz as necessidades no presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras

em satisfazer suas próprias necessidades (...)” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,

1987, p. 41, tradução nossa). Neste contexto, o documento apontou algumas medidas para

melhorar a sustentabilidade, entre as quais destacam-se: necessidade de limitação do

crescimento populacional; utilização de fontes de energia renováveis; diminuição do consumo

de energia; controle da urbanização desordenada; aumento da produção industrial nos países

emergentes com uso de tecnologias ecologicamente corretas (ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS, 1987). As recomendações do documento, publicado com o título “Nosso

Futuro Comum”, levaram à realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em junho de 1992 no Rio de Janeiro - também

chamada de Cúpula da Terra, Rio-92 e ECO-92.

Considerado o evento mais importante do século XX, a Conferência reuniu mais de cem

chefes de Estado e representantes de cento e oitenta países, indicando a importância e

preocupação das nações com o desenvolvimento sustentável. Dentre os documentos oficiais

elaborados na Conferência, destaca-se a Agenda 21, assinada pelos 179 países participantes

do evento. Representa um importante instrumento para auxiliar as políticas de

desenvolvimento sustentável, funcionando como uma ferramenta de planejamento para

construção de sociedades sustentáveis, à nível global, que concilia métodos de proteção

ambiental, justiça social e eficiência econômica. Possui desmembramentos em nível nacional

e local:

- Agenda 21 Brasileira: instrumento de planejamento participativo para o

desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta consulta à população

brasileira. Foi coordenado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável

e Agenda 21 (CPDS), construído a partir das diretrizes da Agenda 21 Global e entregue

à sociedade, por fim, em 2002.

- Agenda 21 Local: processo de planejamento participativo de um determinado território

que envolve a implantação de um Fórum. O evento é composto por governo e sociedade

civil, e é responsável pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento

Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio de projetos e ações de curto,

médio e longo prazos. Também definidos os meios de implementação e as

Page 38: Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto ... · questões de sustentabilidade. Estabeleceu-se, assim, a reflexão sobre a complexidade dos projetos de reabilitação

28

responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na

implementação, acompanhamento e revisão desses projetos e ações.

Esse documento transformou em ações os conceitos de desenvolvimento sustentável.

Contribuiu também para a definição de um novo paradigma nos planejamentos empresariais,

principalmente no setor industrial, pois estimulou uma nova forma de pensar as relações com

o ambiente e com as próprias comunidades locais.

Em 2012, a Rio +20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,

teve como objetivo a renovação do engajamento político com o desenvolvimento sustentável,

através da análise dos progressos atingidos e das falhas na implementação das decisões

adotadas pelas principais cúpulas, contribuindo, assim para a definição da agenda do

desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. O evento, que marcou os vinte anos

da realização da Rio-92, teve dois temas principais: a estrutura institucional para o

desenvolvimento sustentável e a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável

e da erradicação da pobreza.

3.2 SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A cadeia produtiva da construção civil é responsável pela transformação do ambiente natural

no ambiente construído, conforme Agopyan e John (2011), e que precisa ser

permanentemente atualizado e mantido.

Todas as atividades humanas dependem de um ambiente construído, e sua dimensão não

pode ser miniaturizada, pois depende da escala humana e da quantidade de espaço

disponível. Seu tamanho, assim, implica em grandes impactos ambientais, incluindo o uso de

uma grande quantidade de materiais de construção, mão de obra, água, energia e a geração

de resíduos ocasionada. Agopyan e John (2011) indicam, de forma resumida, que:

(...) o impacto ambiental da Construção Civil depende de toda uma enorme

cadeia produtiva: extração de matérias-primas; produção e transporte de

materiais e componentes; concepção e projetos; execução (construção),

práticas de uso e manutenção e, ao final da vida útil, a

demolição/desmontagem, além da destinação de resíduos gerados ao longo

da vida útil. Este processo é influenciado por normas técnicas, códigos de

obra e planos diretores e ainda políticas públicas mais amplas, incluindo as

fiscais. Todas essas etapas envolvem recursos ambientais, econômicos e

têm impactos sociais que atingem a todos os cidadãos, empresas e órgãos

governamentais, e não apenas aos seus usuários diretos. (...) (AGOPYAN E

JOHN, 2011, p. 14)

Page 39: Reabilitação de edifícios e sustentabilidade no contexto ... · questões de sustentabilidade. Estabeleceu-se, assim, a reflexão sobre a complexidade dos projetos de reabilitação

29

A busca pela sustentabilidade na construção civil, desde a etapa do projeto, atividade da

construção, no uso, manutenção e finalmente na recuperação, e restauração das edificações,

se inseridas com eficiência, poluiria menos e melhoraria a qualidade de vida presente dos

usuários, sem comprometer o futuro (MORAES e QUELHAS, 2011). O aumento da

sustentabilidade no setor depende de soluções em todos os níveis, articuladas com os

conceitos dos três pilares da sustentabilidade: desenvolvimento econômico, equidade social

e proteção ambiental. Estes derivam diretamente do Relatório Brundtland (1987) e estão

ilustrados na figura a seguir.

Figura 12: Três pilares da sustentabilidade.

(Fonte: Qualharini, 2016)

Desta forma, a construção sustentável pode ser entendida como “(...) um processo holístico

que objetiva restaurar e manter a harmonia entre os ambientes natural e construído e criar

estabelecimentos que confirmem a dignidade humana e incentivem a igualdade econômica

(...)” (CIB, 2002, p.8, tradução nossa). Isto implica em uma visão sistêmica no que diz respeito

à construção e gestão da construção, durante todo o ciclo de vida do empreendimento. Não

se limita apenas aos novos projetos de construção orientados para o ambiente, mas também

aos procedimentos de operação e manutenção, e na escolha e produção dos materiais de

construção, que devem ser ambientalmente amigáveis (CIB, 2002).

De acordo com CIC (2008), a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – ASBEA,

o CBCS e outras instituições apresentam alguns princípios básicos para construção de

empreendimentos sustentáveis, dentre os quais se podem destacar:

- Aproveitamento de condições naturais locais;

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- Utilização mínima do terreno e a integração da construção com o meio ambiente;

- Implantação e a análise do entorno;

- Redução dos impactos no entorno, entre os quais paisagem, temperaturas,

concentração de calor e sensação de bem-estar;

- Preocupação com a qualidade ambiental interna e externa;

- Gestão sustentável da implantação da obra;

- Adaptação às necessidades atuais e futuras dos usuários;

- Uso de matérias-primas que contribuam com a eco eficiência do processo;

- Redução do consumo energético;

- Redução do consumo de água;

- Redução, a reutilização, a reciclagem e a disposição correta dos resíduos sólidos

gerados;

- Introdução de inovações tecnológicas sempre que possível e viável;

- Educação ambiental, que envolve a conscientização de todos os envolvidos no

processo.

Da mesma forma, segundo a CIC (2008), um empreendimento sustentável traz consigo uma

série de benefícios. A sustentabilidade estimula o desenvolvimento da economia local através

da geração de emprego e renda, gera benefícios através dos impostos pagos e promove a

integração dos usuários com a vizinhança, além da adequação arquitetônica do

empreendimento com seu entorno (CIC, 2008).

Observa-se também que a concepção de empreendimentos sustentáveis pode levar a uma

menor supressão de áreas de vegetação, promove a otimização no uso de materiais, menor

emissão de resíduos durante sua execução e um menor consumo de energia e água durante

sua fase de operação. São planejados para que sejam mais duráveis, flexíveis e passíveis de

requalificação e possam ser amplamente reaproveitados e reciclados no fim de seu ciclo de

vida (CIC, 2008).

Muitos dos benefícios ambientais se traduzem em ganhos econômicos, com a redução de

custos de construção, uso e operação e manutenção das edificações. Além desses fatores, o

aumento da eficiência no uso de recursos financeiros na construção e a indução de aumento

da produtividade de trabalhadores por encontrarem-se em um ambiente saudável e

confortável se mostram como benefícios (CIC, 2008).

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31

3.3 CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES

O ciclo de vida consiste em estágios sucessivos de um sistema de produto, desde a aquisição

da matéria prima ou geração de recursos naturais até a disposição final, conforme definição

da NBR ISO 14040 (2009).

Para o setor da construção civil (ao contrário de produtos que podem ter vida útil de semanas

ou meses), em geral, as obras de engenharia são caracterizadas por uma vida útil que se

estende por alguns anos, décadas ou mesmo séculos. Logo após a colocação em serviço, um

edifício e seus sistemas e componentes iniciam um processo gradual de perda de

desempenho, até o momento em que deixam de atender aos requisitos e exigências para os

quais foram feitos (CADERNO DE SÍNTESE TÉCNOLÓGICA – REABILITAÇÃO DE

EDIFÍCIOS, 2015). Sob esta ótica, a NBR 15575 (2013, p. 10) elucida que a vida útil é: “(...)

período de tempo em que um edifício e/ou seus sistemas se prestam às atividades para as

quais foram projetados e construídos, (...)”, e não equivale ao prazo de garantia legal ou

contratual da edificação. A vida útil pode ser dividida em três grupos, conforme Gaspar e Brito

(2009) apontam:

- Vida útil física (durabilidade): período de tempo durante o qual o edifício ou parte de

seus elementos ou sistemas se mantém de acordo com o nível requerido de adequação

às exigências que lhe são colocadas. Ou, ainda, que permita acolher e responder a

novos usos, sem sofrer desgaste físico irreversível para além de uma manutenção

corrente ou de investimentos equivalentes ao custo de reposição do elemento (GASPAR

e BRITO, 2009);

- Vida útil econômica: define-se como o período de tempo que decorre até que uma

construção seja substituída por outra ou por uma atividade mais rentável; ou enquanto

mantiver uma relação de custo benefício anual inferior às alternativas; ou, ainda até o

abandono da construção. Isto é, mesmo que um edifício mantenha a sua integridade

física - atendendo aos níveis mínimos de desempenho - por vezes torna-se

economicamente inviável a sua manutenção, seja pela insuficiência dos rendimentos

gerados, seja pela existência de alternativas mais rentáveis de ocupação do espaço

associado à construção (GASPAR e BRITO, 2009);

- Vida útil funcional: consiste no período de tempo durante o qual uma construção ou

partes dela suporta uma utilização, independentemente do fim para que foi concebida,

sem obrigar a grandes alterações. Pode estar diretamente ligada à noção de

obsolescência (do edifício ou das suas partes), entendida como “ (...) uma perda de

desempenho destes não por incapacidade de responderem às exigências para as quais

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foram originalmente concebidos, mas por não acompanharem a evolução das

exigências dos utentes (..)” (GASPAR e BRITO, 2009, p. 5).

Segundo Degani e Cardoso (2002), o ciclo de vida de uma edificação tem início no seu

planejamento. Nesta fase são realizados os estudos de viabilidade, além de serem elaborados

os projetos e o cronograma das atividades construtivas. O processo de construção da

edificação tem um ciclo que envolve estágios de desenvolvimento ilustrados conforme a figura

13.

Figura 13 – Ciclo de vida das edificações

Fonte: Tavares (2006)

A construção consiste na implantação propriamente dita da edificação. Na fase de uso e

manutenção, o empreendimento entra em operação e é ocupado pelos usuários. Nesta etapa

são realizadas as ações positivas de manutenção dos equipamentos e sistemas do edifício,

que são determinantes para a ampliação de sua vida útil.

Quando o bem construído é inutilizado, passa por um processo de desmonte, muitas vezes

para dar lugar a outro empreendimento e começar, então, outro ciclo de vida. É recomendável

que a etapa de demolição leve em consideração as práticas de reciclagem e reutilização, além

da disposição em locais apropriados para recebe-los.

Agopyan e John (2011) apontam em sua publicação os benefícios potenciais do aumento da

vida útil, em três aspectos: ambientais, econômicos e sociais.

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Na esfera ambiental destaca-se a redução de velocidade do fluxo de materiais, que resulta na

redução da demanda por matérias-primas, geração de resíduos e de todos os impactos

associados ao seu processamento e transporte (AGOPYAN e JOHN, 2011).

Entende-se, assim, que uma vida útil mais longa conduzirá à economia de extração de

matérias-primas da natureza para a fabricação de novos produtos utilizados na construção de

uma nova edificação.

O benefício econômico reside no fato de que qualquer produto, inclusive a construção, presta

um serviço. A durabilidade das partes substituíveis deve ser considerada na escolha dos

materiais e sistemas empregados na intervenção, pois afetará os custos de manutenção

envolvidos. A solução ótima do ponto de vista da economia precisa ser avaliada utilizando-se

o conceito de custo global, e não necessariamente consiste na mais barata ou com maior vida

útil (AGOPYAN e JOHN, 2011).

Por fim, é indiscutível a relação da vida útil das construções e seu significado social. Os

clientes (pessoas físicas, empresas ou órgãos estatais) não possuem, muitas vezes,

capacidade técnica de estimar a vida útil do bem adquirido. Caso a expectativa seja maior do

que a realidade, podem ocorrer prejuízos aos usuários tanto na forma de custos inesperados

e elevados de manutenção, como na forma de perda dos investimentos empregados na

construção ou recuperação do imóvel (AGOPYAN e JOHN, 2011).

Neste contexto, as intervenções nos edifícios existentes são executadas com o objetivo de

maximizar seu ciclo de vida, de forma a readequá-los às necessidades dos novos usuários,

tornando-os funcionais para o tempo presente (CIANCIARDI e BRUNA, 2004).

3.4 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

A necessidade de otimizar e gerir os recursos naturais para diminuição dos impactos no meio

ambiente estimulou a criação de conceitos e diretrizes a serem considerados em todas as

etapas do ciclo de vida do empreendimento, etapas estas apresentadas no item 3.3 deste

trabalho.

O desenvolvimento de iniciativas de avaliação, a nível internacional, focadas nas questões

energéticas foi motivado pela crise petrolífera dos anos 70. Desde o fim da década seguinte,

de forma sistemática, se faz a avaliação do impacto ambiental de uma parcela dos

empreendimentos de construção. Nestas avaliações, procura-se sistematizar medidas que

reduzam os impactos ambientais negativos e compensem os considerados “irreversíveis”, ao

passo que valorizem os impactos positivos (PINHEIRO, 2006).

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34

Para tanto, fez-se necessário o estabelecimento de parâmetros a serem adotados e medidos,

que conduzam a menores impactos e melhores performances dos sistemas e do edifício como

um todo. A criação de sistemas de avaliação de desempenho ambiental, conhecidos como

certificações, foram concebidas neste sentido (RODRIGUES et. al., 2010).

Apesar de não existir uma classificação formal por este ângulo, Rodrigues et. al. (2010)

indicam que os processos de avaliação ambiental podem ser divididos em duas categorias.

Uma delas consiste nos recursos de avaliação com ênfase no desenvolvimento de uma

metodologia abrangente e com fundamentação científica, que permita orientar o

desenvolvimento de novos sistemas. Por ser direcionada para pesquisa, sua utilização no

mercado torna-se dificultada.

Já na outra categoria, seu desenvolvimento se dá de modo que seja facilmente absorvida por

projetistas, atenda as demandas do mercado e se estabeleça como um indicativo do

reconhecimento do mercado sobre os esforços dispensados para melhorar a qualidade

ambiental de projetos, execução e gerenciamento operacional. Possui configuração mais

simples e prática, e está vinculada a algum tipo de certificação de desempenho (RODRIGUES

et. al., 2010).

Segundo Silva (2004 apud PINHEIRO, 2006), estas formas consideradas práticas para avaliar

e reconhecer a construção sustentável tornam-se cada vez mais presentes nos diferentes

países, destacando-se os sistemas de avaliação voluntários de mercado. O quadro a seguir

apresenta as principais certificações existentes e seus países de origem.

Quadro 2 - Sistemas de Certificação Ambiental de Edificações

(Fonte: Pinheiro, 2006)

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Neste sentido, o objetivo da certificação é promover a conscientização de todos os envolvidos

no processo, desde a fase de projeto, passando pela construção até o usuário final. Em todas

as etapas são incorporadas soluções que irão viabilizar uma redução no uso de recursos

naturais, promovendo conforto e qualidade para seus usuários. Podem estar associadas a um

maior investimento de início, porém acarretam em custos operacionais mais baixos,

valorizando o imóvel, sendo mais saudável para seus usuários, conservando água e energia

e reduzindo a emissão de gases (VALENTE, 2009).

As organizações que concedem a certificação fornecem uma série de normas e instruções

para que seja pautada a produção do empreendimento, e avaliam se as estratégias indicadas

foram seguidas. As certificações são um meio de valorização do empreendimento no

mercado, não existindo um padrão único de referência. O que pode ocorrer, é que um

determinado tipo de certificação pode não se adequar a todos os projetos devido ao seu

próprio conceito (VALENTE, 2009).

De forma geral, a certificação é um instrumento de comunicação (marketing) que informa ao

consumidor que determinado produto ou serviço atende aos requisitos mínimos de uma

especificação. Espera-se que, desta forma, o produto certificado atraia a preferência dos

consumidores influenciando na redução do mercado do produto que não atende a essa norma

de qualidade. É um instrumento para o consumidor, que garante que o bem adquirido atende

à especificação previamente acordada (AGOPYAN e JOHN, 2011).

Entretanto, ainda segundo Agopyan e John (2011), certificado não é sinônimo de ótimo. O

significado prático da utilidade de certificados e selos depende da abrangência e relevância

das regras com as quais foi analisado. Depende, também, do rigor da frequência e da isenção

do processo de verificação e de quem faz a inspeção.

No Brasil, destacam-se as seguintes certificações ambientais para construção: Aqua (Alta

qualidade Ambiental), PROCEL Edifica, Selo Casa Azul de Construção Sustentável e Leed

(Leadership in Energy and Environmental Design).

O processo Aqua, coordenado pela Fundação Vanzolini, é a versão brasileira adaptada da

metodologia HQE, da França. O processo visa garantir a qualidade ambiental de um

empreendimento novo de construção ou reabilitação, utilizando-se de auditorias presenciais

e independentes realizadas em três momentos: fase pré-projeto, fase de projeto e fase de

execução, após o fim das obras. Requer a implantação de um sistema de gestão do

empreendimento e também o atendimento de categorias pré-estabelecidas de qualidade

ambiental do empreendimento (QAE).

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36

O Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (PROCEL Edifica) foi instituído

pela Eletrobrás, e busca promover o uso racional da energia elétrica em edificações desde

sua fundação, com o objetivo de incentivar a conservação e o uso eficiente dos recursos

naturais (água, luz, ventilação, etc) nas edificações. Possui quatro categorias de avaliação

principais: envoltória, iluminação, condicionamento de ar e aquecimento de água, que são

ponderadas de acordo com regulamentos específicos, publicados pelo Inmetro, de forma a

comprovar o nível de eficiência alcançado pelo edifício. A eficiência pode variar de A (mais

eficiente) a E (menos eficiente), e a qualificação pode ser concedida a edifícios comerciais,

de serviços, públicos e residenciais.

O Selo Casa Azul é uma classificação socioambiental para projetos habitacionais financiados

pela Caixa, que busca reconhecer os empreendimentos que adotam soluções mais eficientes

aplicadas à construção, incentivando a melhoria da qualidade da habitação e de seu entorno.

Foi desenvolvido especificamente para o mercado residencial brasileiro, com o diferencial de

ser aplicável também a projetos habitacionais de baixa renda – situação na qual os títulos

importados dificilmente se adaptariam. Para receber o Selo, é necessário que sejam atendidos

19 critérios obrigatórios e, de acordo com o número de critérios opcionais seguidos, o projeto

ganha o selo nível bronze, prata ou ouro.

O sistema de certificação LEED, representado no Brasil pelo Green Building Council Brasil

(GBCB), é constituído por uma lista de verificação (checklist) que atribui créditos para o

atendimento de critérios pré-estabelecidos que permeiam as fases de projeto, construção ou

gerenciamento, contribuindo para reduzir os impactos ambientais de edifícios.

O exemplo de aplicação deste trabalho obteve a certificação LEED versão 3, e, por se tratar

da tipologia mais difundida e com maior número de adeptos no mercado brasileiro, serão

discutidos mais a fundo os parâmetros e etapas para sua implementação no tópico a seguir.

3.5 CERTIFICAÇÃO LEED

O desenvolvimento do LEED pelo USGBC (United States Green Building Council) nos

Estados Unidos aconteceu em meados da década de 1990. Seu objetivo inicial era o de

facilitar a assimilação dos conceitos de construção ambientalmente responsável por parte dos

profissionais e da indústria de construção americana, além de proporcionar reconhecimento

no mercado pelos esforços investidos para esta finalidade. Sua versão piloto – denominada

LEED 1.0 - foi lançada nos Estados Unidos em 1998 e testada em um grupo de edifícios

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37

selecionados. Foram certificados 20 edifícios, que atingiram uma classificação que

originalmente era platina, ouro, prata ou bronze (modificada posteriormente para “certificado”).

O LEED 2.0 foi lançado em 2000 como uma mudança drástica da LEED 1.0, e se ofereceu ao

mercado de construção como um sistema final e operacional mais amplo de avaliação. Duas

variações desta versão foram lançadas: em 2002, com o início do processo de avaliação para

um tipo específico de construção, e em 2005, e com a criação de uma plataforma online para

submissão de documentação (KIBERT, 2013).

Em 2007 foi criado o Green Building Council Brasil, órgão não governamental vinculado ao

USGBC. No mesmo ano, o primeiro certificado foi emitido para uma agência do Banco Real

na Granja Viana, em São Paulo, que alcançou 33 pontos de um ranking de 38 pontos, com a

versão 2.2 Silver. Dados da GBCB afirmam que, até o ano de 2016, 1.224 projetos foram

registrados, dos quais 393 já são certificados no Brasil (GBCB, 2016). O papel do GBCB é

disseminar a certificação LEED por meio de cursos e palestras, enquanto trabalha junto ao

USGBC para regionalizá-la e torná-la acessível com a determinação de créditos de prioridade

regional e formas complementares de atendimento aos créditos. Este órgão não concede a

certificação LEED, não presta consultoria nem realiza a intermediação da certificação

(SIQUEIRA, 2015).Em 2008, foi criado o Green Building Certification Institute (GBCI), ligado

ao USGBC, que passou a ser o responsável por todo o processo de certificação e pelos

exames de profissionais acreditados: os Leed Accredited Professionals (Leed APs) e Leed

Green Associates (SIQUEIRA, 2015). Em 2009 foi lançada a LEED v3, que possui como

grande diferença a incorporação das necessidades com cuidados nas instalações dos

canteiros, que não existia nas versões anteriores. Uma versão totalmente nova do LEED

Online também foi lançada para facilitar a comunicação entre as equipes de projeto e os

organismos de certificação (KIBERT, 2013).

O processo LEED abrange um guia e uma lista de verificação de projeto. Esta lista de

verificação divide-se em sete dimensões de avaliação que, por sua vez, se dividem num

conjunto de subitens pontuáveis. As dimensões a serem avaliadas são:

Quadro 3a - Dimensões da Certificação LEED a serem avaliadas nas edificações.

Sustainable sites (Espaço Sustentável)

Encoraja estratégias que minimizam o impacto no ecossistema durante a

implantação da edificação e aborda questões fundamentais de grandes centros urbanos,

como redução do uso do carro e das ilhas de calor.

(Fonte: GBC Brasil, 2016)

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Quadro 3b - Dimensões da Certificação LEED a serem avaliadas nas edificações.

Water efficiency (Eficiência do uso da água)

Promove inovações para o uso racional da água, com foco na redução do consumo de água potável e alternativas de tratamento e

reuso dos recursos.

Energy & atmosphere (Energia e Atmosfera)

Promove eficiência energética nas edificações por meio de estratégias simples e

inovadoras, como por exemplo simulações energéticas, medições, comissionamento de

sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes.

Materials & resources (Materiais e Recursos)

Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental (reciclados, regionais, recicláveis,

de reuso, etc.) e reduz a geração de resíduos, além de promover o descarte

consciente, desviando o volume de resíduos gerados dos aterros sanitários.

Indoor environmental quality

(Qualidade ambiental interna)

Promove a qualidade ambiental interna do ar, essencial para ambientes com alta

permanência de pessoas, com foco na escolha de materiais com baixa emissão de

compostos orgânicos voláteis, conforto térmico e priorização de espaços com vista

externa e luz natural.

Innovation in design or innovation in operations (Inovação e Processos)

Incentiva a busca de conhecimento sobre Green Buildings, assim como, a criação de

medidas projetuais não descritas nas categorias do LEED. Pontos de desempenho

exemplar estão habilitados para esta categoria.

Regional priority credits (Créditos de Prioridade

Regional)

Incentiva os créditos definidos como prioridade regional para cada país, de acordo

com as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada local. Quatro pontos estão disponíveis para esta categoria.

(Fonte: GBC Brasil, 2016)

Cada categoria apresentada possui créditos de caráter voluntário (livre escolha) e adaptáveis

dependendo da sua viabilidade em relação ao projeto. Também é necessário cumprir um

conjunto de critérios de desempenho de caráter obrigatório para elegibilidade da certificação.

Os diferentes níveis de pontuação ou créditos obtidos na avaliação podem conferir quatro

possibilidades de selos LEED, apresentados na figura 14.

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Figura 14 – Níveis de certificação e suas respectivas pontuações – LEED v3.

(Fonte: GBC Brasil, 2016)

As tipologias de certificação se distribuem em 4 grupos: LEED BD+C (Projeto e Construção -

Novas Construções ou Grandes Renovações), LEED ID+C (Design e Construção de

Interiores), LEED O+M (Edifícios Existentes) e LEED ND (Desenvolvimento de Bairro). Os

três primeiros podem ser aplicados a escolas, lojas de varejo, data centers, galpões/centros

de distribuição, locais de hospedagem, unidades de saúde ou a construções com outros usos,

e o último destina-se a planos e certificação de projetos com escala de bairros.

Para exemplificar, são apresentados os pré-requisitos da tipologia aplicada a Novas

Construções ou Grandes Renovações (USGBG, 2016):

- Prevenção da poluição na atividade da construção

- Redução do uso da água;

- Comissionamento básico dos sistemas de energia do edifício;

- Desempenho mínimo de energia;

- Gestão fundamental do refrigerante;

- Armazenamento e coleta de recicláveis;

- Desempenho mínimo da qualidade do ar interno;

- Controle ambiental da fumaça gerada pelo tabaco.

O processo de certificação acontece conforme etapas definidas, e é realizado por meio de

uma plataforma online do GBCI. Em um primeiro momento, é escolhida a tipologia a ser

seguida e é realizado um cadastro na plataforma, e através dele são fornecidos os templates

e dados gerais do empreendimento. A partir dos dados gerais é realizada a análise preliminar

determinando a viabilidade da construção sustentável (LEITE, 2011).

Platinum

80 a 110 pontos

Gold

60 a 79 pontos

Silver

50 a 59 pontos

Certified

40 a 49 pontos

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Posteriormente, a candidatura é efetivada e toda a documentação necessária que apresenta

os pré-requisitos e créditos de cada etapa da construção é enviada para análise, feita por uma

empresa auditora. Ao final das obras, estando a documentação em sua totalidade corrigida,

atualizada e inserida na plataforma, referentes às fases de projeto e de construção,

acontecerá a revisão final. É definido, por fim, se será ou não concebido o certificado ao

empreendimento (LEITE, 2011).

Recentemente foi lançada a versão 4, que passou a ser obrigatória em outubro de 2016.

Apesar da atualização, no que tange ao trabalho aqui apresentado, os conceitos empregados

não se modificaram de forma profunda. Todos os novos projetos que buscarem a certificação

LEED terão que usar essa versão, que sofreu alterações que aperfeiçoaram seu rigor técnico,

ampliando os setores de mercado capazes de usar LEED e melhorando a clareza e interface

dos sistemas de classificação (USGBC, 2016).

No capítulo seguinte, será apresentado o exemplo de aplicação deste trabalho. As práticas

executadas encontram-se baseadas no conceito LEED para edificações sustentáveis,

adaptadas à edificação em questão, à prática de reabilitação predial e ao uso que foi dado à

construção em sua fase de operação.

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4. EXEMPLO DE APLICAÇÃO: MUSEU DE ARTE DO RIO

4.1 O PROJETO PORTO MARAVILHA

No início do século XX o Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais decorrentes

de seu rápido e desordenado crescimento. Com estrutura ainda de cidade colonial, era

carente de transporte, abastecimento de água, rede de esgotos, programas de saúde e

segurança para atender aos, aproximadamente, um milhão de habitantes que possuía na

época. A reforma urbana de Pereira Passos, prefeito da cidade do Rio de Janeiro no período

de 1902 a 1906, visou o saneamento, o urbanismo e o embelezamento da cidade, conferindo

ao Rio de Janeiro ares de cidade moderna e cosmopolita (GOMES, 2014).

No contexto das reformas realizadas pelo Prefeito Pereira Passos no início do século XX, o

novo porto foi construído pelo Governo Federal entre 1903 e 1910 como parte importante da

intervenção física e urbanística que fora implementada. A característica marcante da proposta

do novo porto foi a faixa de solo criada com o aterro, destinada a construção do cais do porto

e que também foi utilizada para a implantação de edificações com atividades ligadas direta ou

indiretamente ao porto com uso mercantil e industrial. O aterro foi executado como projeto de

intervenção urbana, e definiu a tipologia de ocupação e das estruturas viárias e fundiárias

(GOMES, 2014).

Figura 15 – Evolução da região portuária do Rio de Janeiro. (Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2009)

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Ao longo do século XX, as atividades portuárias perderam expressão, o que contribuiu para

desvalorização e conduziu a região do Porto da cidade do Rio de Janeiro, durante muitas

décadas, a um estado de degradação urbana. Atualmente, toda a região passou por uma

transformação que promoveu a reestruturação local, por meio da ampliação, articulação e

requalificação dos seus espaços públicos, visando à melhoria da qualidade de vida de seus

atuais e futuros moradores e à sustentabilidade ambiental e socioeconômica local

(PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2015).

Esse cenário começou a mudar com a Lei Municipal nº 101/2009, que estabeleceu a

Operação Urbana Consorciada da Área de Especial Interesse Urbanístico da Região Portuária

do Rio de Janeiro. Desta forma, o Projeto Porto Maravilha estabeleceu-se como uma operação

urbana consorciada com o objetivo de revitalizar a região portuária do Rio de Janeiro e

reintegrá-la à cidade, tendo como metras a recuperação completa da infraestrutura urbana,

de transportes e meio ambiente da região de acordo com os novos usos do solo previstos,

melhoria das condições habitacionais da população existente e atração de novos moradores

para a região, criação de um novo Pólo Turístico para o Rio de Janeiro, com a recuperação

do patrimônio histórico e cultural já existente e a implantação de novos equipamentos culturais

e de entretenimento, atração de sedes de grandes empresas, empresas de tecnologia e

inovação, modernização e incremento da atividade portuária de carga e do turismo marítimo

(PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2009).

A ampla dimensão territorial do projeto (figura 12), uma área de cinco milhões de metros

quadrados, que tem como limites as avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves, Rio

Branco e Francisco Bicalho, demonstra a abrangência da transformação local que está sendo

empreendida. Também se impõe como um local estratégico, pois é a porta de entrada e saída

da cidade, assim como é o acesso aos aeroportos e pontos turísticos.

A reconfiguração dessa área foi feita com a parceria dos governos estadual e federal,

integrando diversas instâncias da administração pública. As iniciativas realizadas foram

coordenadas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de

Janeiro (CDURP), empresa de economia mista controlada pela Prefeitura. A CDURP tem

como principais funções implementar e gerir a concessão de obras e serviços públicos na

região, além de administrar os recursos patrimoniais e financeiros referentes ao projeto.

As obras da primeira fase do projeto, que incluíram a construção de novas redes de água,

esgoto e drenagem nas avenidas Barão de Tefé e Venezuela e a urbanização do Morro da

Conceição, além da restauração dos Jardins Suspensos do Valongo, já estavam finalizadas.

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43

Já em julho de 2012, a segunda fase das obras foi iniciada, promovendo a reurbanização

completa até 2016 (PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2015).

Figura 16 - Delimitação da área de atuação do Projeto Porto Maravilha. (Fonte: Prefeitura do Rio, 2015)

Além da criação de novas condições de trabalho, moradia, transporte, cultura e lazer para a

população, o desenvolvimento econômico da região é estimulado por meio dessa

transformação. Políticas públicas como coleta seletiva de lixo e iluminação pública eficiente e

econômica proporcionam uma melhor qualidade de vida para os moradores e está permitindo

que a região se desenvolva em harmonia com o meio ambiente. O novo planejamento urbano

portuário inclui também importantes mudanças viárias: a demolição do Elevado da Perimetral,

a criação de novas vias, como a Binário do Porto, a reurbanização de 70 quilômetros de vias

e a implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). O VLT inclui 28 quilômetros de vias,

com 42 paradas, das quais quatro permitem interligar locais-chave da cidade, como a

Rodoviária Novo Rio, o terminal ferroviário da Central do Brasil, as barcas da Praça XV e o

Aeroporto Santos Dumont. Estima-se que 250 mil pessoas usarão o VLT por dia, ao longo de

suas seis linhas, facilitando a mobilidade na região central.

As obras de transformação do Porto Maravilha também possibilitaram a redescoberta de

significativo patrimônio histórico pelos seus cidadãos, e o grande acervo de imóveis

carregados de história tornaram-se “invisíveis” e “esquecidos”, passaram por um processo de

restauração física e ganharam novas funções. Dentre os resultados obtidos, destaca-se o

Museu de Arte do Rio uma das âncoras culturais do e sua primeira entrega, em março de

2013 (SILVA, 2015).

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4.2 HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS

O Palacete Dom João VI e o edifício modernista conhecido por como Terminal Rodoviário

Mariano Procópio, formam o complexo arquitetônico do Museu de Arte do Rio. Os prédios

ocupados, em seus tempos áureos, tiveram grande importância na região.

O Palacete Dom João VI foi construído entre 1913 e 1916, logo após a conclusão da

expansão portuária ocorrida no Rio de Janeiro, que data de 1908. Situado na Praça Mauá

nº 10, foi erguido para sediar a Inspetoria de Portos, Rios e Canais, transformada em

Empresa Brasileira de Portos (Portobrás) na década de 70. O edifício, de estilo arquitetônico

eclético, era destinado a funções administrativas até a década de 80.

Figura 17 - Edifício da Antiga Inspetoria de Portos em 1920. (Fonte: http://robertoormond.blogspot.com.br/2010/12/praca-maua-impressoes-e-historias.html - Acesso em

janeiro/2017)

Em 1990, com a extinção do então denominado "Departamento Nacional de Portos e Vias

Navegáveis", o palacete passou a pertencer à Cia Portus Instituto de Seguridade Social,

proprietária à época de seu tombamento pela Secretaria de Patrimônio Cultural do Município,

através do Decreto nº 19002, de 5 de outubro de 2000. O tombamento foi atribuído aos

seguintes elementos:

(...) - exterior - volumetria, cobertura (morfologia e entelhamento), revestimento, balcões, gradis, cercaduras de vãos, esquadrias de madeira e ferro, escadas, vitrais, beirais, balaustradas, colunas, sobrevergas e demais elementos arquitetônicos e decorativos característicos da tipologia estilística das fachadas; - interior - escadas principais (revestimentos e corrimão) elevadores, luminárias, pisos e demais revestimentos e elementos; decorativos característicos da tipologia estilística. (...) (PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2000, p.2)

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No entanto, esta atribuição não foi suficiente para garantir sua preservação. Em 2004, o então

prefeito Cesar Maia foi procurado pelo banqueiro Edemar Cid Ferreira, que tinha a intenção

de comprar o prédio. Na ocasião, o imóvel passava por um processo de desapropriação pela

prefeitura, que foi cancelado. Entretanto, com a liquidação do Banco Santos e a prisão de

Edemar, a situação ficou submetida a um imbróglio judicial. Em 2005, o Fundo de Pensão

Portus e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciaram a

intenção de recuperar o prédio e instalar ali um centro cultural, mas o projeto também não se

consolidou. Com o seu abandono, o palácio sofreu com a ação do tempo, o vandalismo e a

ocupação irregular. Eram visíveis os sinais desta condição, como falta de esquadrias e danos

no telhado, como pode ser visto na figura a seguir.

Figura 18 - Palacete Dom João VI em 2009. (Fonte: http://www.panoramio.com/photo/17734201 - Acesso em janeiro/2017)

O Terminal Rodoviário Mariano Procópio, inaugurado em 1950, foi a primeira estação

rodoviária interestadual do Rio, e ocupava o andar térreo do recém-construído prédio da

Polícia Marítima. Sua instalação foi motivada pela falta de condições adequadas de conforto

e operação na Praça Mauá, que era ponto terminal de todas as linhas suburbanas e

interestaduais com destino ao centro do Rio de Janeiro.

O edifício modernista, cuja área com pilotis era ocupada pela bilheteria do Terminal

Rodoviário (figura 19), tem sua construção datada no início da década de 1940. Possuía

ainda outros seis andares e sua fachada era marcada por esquadrias que formavam grandes

panos envidraçados horizontais. Abrigava também o Hospital da Polícia Civil José da Costa

Moreira e algumas salas de escritórios.

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Figura 19 - Terminal Rodoviário Mariano Procópio, antes das intervenções. (Fonte: http://masaokamita.blogspot.com.br/2013_05_01_archive.html - Acesso em janeiro/2017)

Em 2004, o terminal foi incluído na Área de Proteção do Ambiente Cultural do entorno do

Mosteiro de São Bento, através do Decreto municipal nº 24420, de 21 de julho. Este

documento indicava que as edificações ali preservadas não poderiam ser demolidas, mas

seria permitido que sofressem intervenções para reciclagem ou adaptações. Após passar por

um incêndio, em 2010, o terminal continuou em funcionamento até a sua desapropriação para

a obra do Museu de Arte do Rio, em meados de 2011.

Como uma das âncoras do Projeto Porto Maravilha, a história das duas edificações ganhou

um novo capítulo. O empreendimento foi iniciado no final de 2009, a princípio para restaurar

apenas o palacete, transformando-o em uma pinacoteca. Entretanto, percebeu-se que o

projeto poderia ser muito maior, agregando o prédio vizinho, a fim de transformá-lo em uma

escola de arte. Desta forma, os edifícios de perfis heterogêneos foram interligados e passaram

a constituir as instalações do Museu. As intervenções realizadas se enquadram no nível

excepcional e seguiram recomendações de técnicas para a reabilitação. No próximo item,

serão descritas as ações realizadas principalmente nas etapas de projeto e gestão da

produção do empreendimento.

4.3 REABILITAÇÃO DO CONJUNTO ARQUITETÔNICO

Em 2010, como resultado de uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho e a Prefeitura

da Cidade do Rio de Janeiro, tiveram início as obras de restauração do palacete e retrofit do

conjunto, após a etapa de diagnóstico dos imóveis e estudos de projeto. A proposta para cada

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construção foi analisada considerando os diversos níveis de tombamento e preservação e,

com estilos arquitetônicos e histórias completamente diferentes, o primeiro desafio encontrado

foi o de criar uma identidade visual entre eles.

Uma das premissas de projeto era que o MAR apresentasse um símbolo, uma espécie de

marco arquitetônico, que mostrasse que a região portuária do Rio de Janeiro estava em

transformação (informação verbal)2.

Assim, surgiu a ideia de unir as duas edificações por meio de uma praça, uma passarela e

uma cobertura fluida - que é considerada o traço mais marcante do projeto – transformando-

as em um conjunto harmônico.

Figura 20 - Museu de Arte do Rio – Projeto. (Fonte: http://www.bernardesarq.com.br/pt-br/projeto/museu-de-arte-do-rio - Acesso em janeiro/2017)

A praça suspensa, na cobertura do prédio da antiga rodoviária, reúne todos os acessos do

prédio. A passarela, que possui 46 metros de comprimento e pesa cerca de 40 toneladas,

está instalada nos fundos das edificações. Executada em estrutura metálica, é por esta

passarela que se movimenta entre um prédio e o outro (FILHO,2013).

A tecnologia utilizada para as formas da cobertura envolvia as seguintes etapas: a planta da

cobertura foi impressa em tamanho real e dividida em uma malha quadriculada de 5m x 5m,

e colocada em um galpão (figura 21).

Cada quadrado dessa malha recebeu um bloco de isopor especial - tipo EPS - do mesmo

tamanho, que foi esculpido por profissionais com o auxílio de um topógrafo, de modo a seguir

as curvas de nível do projeto (FILHO, 2013 e NOBRE, 2013).

A escolha desse tipo de isopor foi justificada pelo fato de resistir a compressão de mais de 1

tonelada/m² e ser maleável, atendendo às especialidades técnicas do projeto. Para a

2 Informação fornecida por Bernardo Jacobsen, um dos arquitetos do então escritório Bernardes + Jacobsen Arquitetura, que elaborou os projetos arquitetônicos do Museu de Arte do Rio, em entrevista à “Galeria da Arquitetura” em julho de 2014.

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confecção, buscou-se a mão-de-obra nas escolas de samba do Rio de Janeiro, que possuem

escultores especializados em manusear este tipo de material.

Depois de um ano de estudos de viabilidade, a execução da cobertura mobilizou cerca de

noventa profissionais. Com a ordem de grandeza de 1.650 metros quadrados de área plana,

mais de 70 toneladas de aço, 320 metros cúbicos de volume de concreto e 1.800 metros

cúbicos de formas de isopor especialmente esculpidas para o projeto, a concretagem teve de

ser feita de uma só vez, em treze horas ininterruptas de trabalho (FILHO, 2013).

Os 15.000 metros quadrados de construção totalizaram um investimento de R$79,5 milhões,

e foram entregues a cidade do Rio de Janeiro em seu 448º aniversário, em 1 de março de

2013 (SOARES, 2015). Nos tópicos a seguir serão abordadas a caracterização do novo

espaço reabilitado, discriminadas as intervenções em cada um dos edifícios e apresentadas

considerações quanto ao seu uso e manutenção.

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO

O Palacete, em função de seus grandes pés-direitos e da planta livre de estrutura, abriga as

8 salas de exposição do Museu. Na Escola do Olhar ficam alocadas salas de exposição

multimídia, áreas de administração e de funcionários do complexo, um auditório e uma

biblioteca.

Os pilotis, antes utilizados como acesso para a rodoviária, se transformaram em um grande

foyer de todo o empreendimento, comportando também áreas de exposição de esculturas. O

acesso controlado se dá entre as duas construções, caracterizando este vazio como espaço

interno aberto e coberto. A marquise da Rodoviária, elemento tombado pelo patrimônio da

Cidade, foi utilizada como região de carga, descarga, depósitos e área técnica.

Figura 21 - Planta de cobertura e divisões em blocos de 5m x 5m. (Fonte: https://sergionobre.files.wordpress.com/2013/04/picture5.png?w=768&h=445 - Acesso em

janeiro/2017)

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Para que o Museu e a Escola funcionassem de forma integrada e eficiente, foi proposto o

seguinte fluxo: o acesso seria feito pelo térreo do edifício modernista, através de um elevador

que conduzisse os visitantes até a praça suspensa em sua cobertura. Desta forma, a visitação

ao pavilhão de exposições é feita de cima para baixo, conforme indica a figura 23.

Figura 23 - Fluxo de Visitação do MAR. (Fonte: https://sergionobre.files.wordpress.com/2013/04/picture2.png?w=768&h=397

- Acesso em janeiro/2017)

Escola do Olhar

Pavilhão de Exposições

Acesso ao público

Figura 22 - Caracterização do novo espaço reabilitado. (Fonte: http://www.bernardesarq.com.br/pt-br/projeto/museu-de-

arte-do-rio - Acesso em janeiro/2017)

MUSEU

TERRAÇO

RESTAURANTE

AUDITÓRIO

ESCOLA DO OLHAR

ADMINISTRAÇÃO

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As intervenções de reabilitação realizadas foram muito profundas e, portanto, se enquadram

no nível excepcional, como citado anteriormente. Além de englobarem técnicas de restauro e

reforço de elementos estruturais, conduziram os edifícios a padrões superiores aos existentes.

Segue abaixo uma breve descrição das intervenções e serviços executados em cada edifício,

assim como em seus ambientes.

4.3.2 INTERVENÇÕES NA ANTIGA RODOVIÁRIA

O prédio modernista ofereceu algumas dificuldades em sua execução. Segundo declaração da

arquiteta Claudia Coutinho3, em entrevista ao portal Grandes Construções em 2013, não havia

nenhuma informação técnica do edifício, não foi possível levantar sua documentação e todas as

questões de estruturas envolvidas nas intervenções eram desconhecidas. Para compensar essa

dificuldade, ainda segundo a arquiteta, foi necessário “(...) executar uma série de prospecções,

para entender as dimensões das lajes, por exemplo (...)” (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013, p.

1). Como resultado das investigações realizadas, foi constatado que o prédio possuía lajes duplas,

com 50 cm de espaço entre ambas. A estrutura de concreto, em bom estado e com pouca

degradação, exigiu apenas reparos pontuais, não sendo necessário fazer reforço estrutural em

todo o prédio.

As escadas e elevadores antigos foram demolidos, e foram refeitas novas escadas e caixas de

elevadores, em paredes de concreto. Esta estrutura atribuiu ao edifício um efeito de

contraventamento e reforço suficientes para sua nova utilização. Acima do quinto pavimento do

prédio modernista havia mais um andar, que foi suprimido para que o prédio ficasse com a mesma

altura do palacete (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013).

3 A arquiteta Claudia Continho, na época da entrevista, era Coordenadora de Projetos da Fundação Roberto Marinho e responsável pela supervisão das obras e do projeto do complexo do MAR.

Figura 24 - Canteiro de obras em junho de 2010 (esquerda) e após intervenções (direita).

(Fonte: Google Maps, 2010 e 2014)

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Para a construção do auditório, localizado no quinto andar, foi necessária a remoção de um grande

segmento de laje, bem como alguns pilares, o que ocasionou a execução de outros reforços

estruturais.

Também foi uma tarefa desafiadora a instalação da passarela metálica que interliga os dois

prédios (figura 25). Toda em estrutura metálica, produzida em três seções que foram soldadas no

local, a passarela sai de vigas protendidas na Escola do Olhar e é apoiada no Palacete Dom João

VI, em uma laje em balanço, que parte das novas escadas de concreto (GRANDES

CONSTRUÇÕES, 2013).

Figura 25 – Passarela entre os dois prédios, vista externa (direita) e interna (esquerda). (Fonte: http://www.bernardesarq.com.br/pt-br/projeto/museu-de-arte-do-rio - Acesso em janeiro/2017)

Segundo o “Manual do Proprietário – Escola do Olhar”, as fachadas do edifício receberam

painéis em vidro Channel-Glass duplo espaçado, a partir do 1º pavimento e até o 5º

pavimento. De modo geral, o layout até então existente foi alterado permanecendo apenas a

volumetria externa, com exceção do térreo.

Neste pavimento, foi adotada uma nova volumetria que inclui reserva técnica, uma loja/café,

bilheteria, área de técnica e uma grande praça, permanecendo apenas as estruturas e a laje

original. Todas as instalações – elétricas, hidráulicas, hidro sanitárias, de lógica e ar

condicionado – foram refeitas. Além disso, todos os andares do prédio possuem sanitários

adaptados para pessoas com necessidades especiais.

Ainda de acordo com o documento, são apresentados a seguir os principais materiais e

técnicas utilizados em alguns ambientes:

- Salas/circulação/biblioteca: piso autonivelante de poliuretano cor cinza claro, paredes

emassadas e pintadas com tinta acrílica e teto em placas de gesso acartonado

composto com forro acústico. As esquadrias internas são de 1 folha de abrir em madeira

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com revestimento laminado melamínico. As esquadrias instaladas na fachada voltada

para Praça Mauá, possuem 2 folhas de correr e uma fixa, com pintura eletrostática de

cor branca e vidros laminado transparentes com espessura de 10mm.

Figura 26 - Sala de aula da Escola do Olhar - fachada voltada para a Praça Mauá. (Fonte: https://jacobsenarquitetura.com/projetos/mar-museu-de-arte-do-rio/ - Acesso em janeiro/2017)

- Auditório/ hall e acessos do auditório: o ambiente recebeu piso de carpete, parede em

revestimento tipo “natura” (figura 27) com acabamento em madeira corupixá e teto com

forro acústico pintado com tinta esmalte sintético na cor preta.

Figura 27 - Auditório da Escola do Olhar. (Fonte: http://www.frm.org.br/acoes/museu-de-arte-do-rio/ - Acesso em janeiro/2017)

- Escada helicoidal: executada para dar acesso do público entre o quinto e sexto

pavimento, em estrutura metálica que recebeu pintura em tinta esmalte sintético e pisos

revestidos em madeira com acabamento acetinado.

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- Passarela acesso ao Palacete: estrutura metálica com vedações em chapas de

alumínio acústica dupla em pintura eletrostática branca. Internamente, o piso de chapas

metálicas foi revestido com réguas de madeira e o teto com placas de gesso acartonado,

ambas com mesmas características das utilizadas no interior do palacete, descritas no

item 4.3.3.

4.3.3 INTERVENÇÕES NO PALACETE

O prédio encontrava-se deteriorado e desqualificado do ponto de vista arquitetônico, de forma

que seu projeto teve que ser aprimorado conforme os trabalhos avançavam. Havia ambientes

pequenos, subdivididos, cujas paredes foram demolidas para dar lugar aos salões de

exposições (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013).

O projeto de restauração das fachadas e do telhado do palacete envolveram a elaboração de

levantamento cadastral, mapeamento de danos e um caderno de especificações para a

restauração dos planos rebocados, relevos e ornamentação aplicada, material pétreo,

esquadrias e grades fixas do térreo, entre outros elementos (VELATURA, 2010). O

tombamento do interior do espaço se referia especificamente ao seu corpo central, que foi

denominado “hall preservado” (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013).

Dentre as atividades de restauro desenvolvidas, pode-se citar: restauração dos rebocos,

tratamento de trincas e fissuras de revestimento, reconstituição das cimalhas, frisos,

cercaduras e ladrilhos hidráulicos, restauro da ornamentação aplicada, recuperação de

fissuras e microfissuras dos ornatos, pintura dos ornatos e catalogação das esquadrias que

foram retiradas, identificadas para restauração e pintura (GOMES, 2014). Foram mantidos os

caixonetes e as folhas das portas e janelas que eram reaproveitáveis, susbtituindo apenas as

que estavam irremediavelmente destruídas.

Figura 28 - Torreão central antes das intervenções de recuperação. (Fonte: Rio Cidade Olímpica, 2011)

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Telhados e calhas foram substituídos e, depois de detalhada pesquisa iconográfica, devolveu-

se ao palacete o torreão da fachada principal, feito de cobre, que não mais existia (FILHO,

2013).

Figura 29 - Fachada do Palacete após restauração.

(Fonte: Concremat, 2013)

Foram mantidas as estruturas originais da construção. O prédio, apesar de bem antigo, possui

colunas metálicas originais, com sistema de treliça e lajes bastante esbeltas. Estas tiveram

que ser recuperadas e reforçadas, e a única laje nova no palacete D. João VI é a da cobertura,

onde antes havia um telhado, que precisou ser retirado (GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013).

Segundo o “Manual do Proprietário – Palacete”, toda edificação recebeu reforço em concreto

armado e estrutura metálica para a adequação ao novo layout e para atender as cargas da

laje fluída. Além do reforço estrutural, uma escada em concreto com revestimento em

mármore foi construída, partindo do térreo até dar acesso à cobertura.

Figura 30 – Projeto - primeiro pavimento do Palacete, após intervenções. (Adaptado de: https://jacobsenarquitetura.com/projetos/mar-museu-de-arte-do-rio/ - Acesso em janeiro/2017)

Legenda:

1 - Área Expositiva

2 - Hall Preservado

3 - Área Técnica

4 - Hall Elevador

5 – Hall W.C.

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Toda a rede de utilidades – sistemas de iluminação, refrigeração, som, rede hidráulica,

incêndio, entre outras – foi instalada em dutos (shafts) localizados nas laterais do palacete,

de forma a ficarem ocultos, preservando sua estética. O sistema foi planejado para assegurar

o funcionamento autônomo de cada salão, permitindo que cada um pudesse ser usado

enquanto os demais estivessem em fase de montagem de uma exposição, por exemplo

(GRANDES CONSTRUÇÕES, 2013).

De modo geral, todo o layout interno foi alterado e mantido apenas o elevador, o hall de

entrada e escada de madeira, que foram restaurados (figura 31). Tanto o elevador quanto a

escada não são destinados ao uso do público, e se localizam no hall preservado.

Figura 31 - Elevador e escada originais do Palacete, restaurados.

(Fonte: Autora, 2017)

Resumidamente, são apresentados abaixo os principais materiais e técnicas utilizados no

Palacete, de acordo com o “Manual do Proprietário – Palacete”. Para o térreo e demais

pavimentos, temos:

- Circulação/Halls: assoalho em madeira cumarú com tábuas de 10cm e acabamento

em verniz acetinado. As paredes são de alvenaria estrutural, pintadas em tinta acrílica

cor branca com acabamento fosco. As esquadrias são portas corta fogo, pintadas em

tinta esmalte sintético cor branca acabamento acetinado. O teto foi revestido em placas

de gesso acartonado, pintado com tinta látex acrílico cor branco neve.

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Figura 32 - Área Expositiva após intervenções. (Fonte: https://jacobsenarquitetura.com/projetos/mar-museu-de-arte-do-rio/ - Acesso em janeiro/2017)

- Áreas Expositivas: são ambientes específicos para exposições e possuem as mesmas

características para o assoalho e paredes descritas no item anterior. Os painéis de

exposições, em todo perímetro das salas, são de estrutura metálica com revestimento

em MDF de 15mm, possuindo também função acústica. Os pilares estruturais são

metálicos com pintura intumescente na cor branca e acabamento fosco. Já o teto é

aparente, com pintura esmalte sintético com acabamento fosco.

- Hall Preservado: possui assoalho com as mesmas características dos itens anteriores.

As paredes foram pintadas seguindo especificações descobertas através de

prospecções pictóricas.

Figura 33 - Cobertura do Palacete, vista da Escola do Olhar. (Fonte: Autora, 2017)

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Já a cobertura, ainda de acordo com o documento, possui um terraço com piso revestido em

granito serrado e guarda corpo metálico com vergalhão soldado. Houve a construção de

alvenarias para abrigar as casas de máquinas, além de dois telhados em estrutura metálica

tratada, com revestimentos em telhas cerâmicas, em parte da cobertura.

4.4 SUSTENTABILIDADE APLICADA À REABILITAÇÃO

Conforme apresentado no item 3.5, a certificação LEED estabelece uma série de critérios que

devem ser cumpridos para que o edifício seja considerado elegível para receber a certificação.

Há de se considerar que, devido ao nível das intervenções realizadas, o Museu de Arte do

Rio enquadra-se na categoria de Novas Construções ou Grandes Renovações. Esta categoria

é focada no projeto e na construção do prédio, sendo a certificação obtida após a conclusão

da obra. Para um edifício que tenha passado por uma reabilitação predial, algumas práticas

adotadas para atingir a certificação LEED merecem destaque e serão apresentadas a seguir.

Em 2014, o MAR celebrou a conquista do certificado LEED Silver, acumulando 57 pontos de

um total de 59 nesta categoria. As considerações adotadas pelo projeto e obra foram

baseadas na versão 3.0 do LEED BD+C lançada em 2009 e ainda vigente à época de sua

execução. O quadro com a distribuição dos pontos encontra-se em anexo.

Figura 34 - Placa indicando o selo LEED, no acesso ao pavilhão de exposições. (Fonte: Autora, 2017)

Durante a obra foram tomadas precauções sustentáveis, conforme Filho (2013) cita: aspersão

de gotículas de água nos ambientes durante a fase de demolição para redução da poeira em

suspensão; instalação de proteção nos ralos boca de lobo para impedir que resíduos de obra

fossem levados para a rede coletora de águas pluviais; criação de locais para separação de

resíduos e controle da utilização de materiais tóxicos.

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Segundo Soares (2015), o projeto do MAR aproveitou 66,77% de toda a construção que

existia anteriormente, o que indica uma grande redução de recursos naturais que seriam

empregados, além da redução da geração de resíduos e do consumo de energia caso tivesse

sido realizada a demolição total.

A escolha dos materiais foi criteriosa para atender aos preceitos da certificação. Dos materiais

usados no edifício, 59% possuem conteúdo reciclado e 20,41% foram extraídos e

manufaturados a menos de 800 km de distância do empreendimento. Dentre os quais, pode-

se citar: piso com borracha reciclada, carpete, forro, aço e tijolo de concreto e bloco

intertravado e madeiras com certificação FSC, selo que reconhece o manejo sustentável em

sua origem e toda cadeia produtiva. Barras de aço CA-50 e perfis não estruturais, placas de

gesso acartonado, pastilhas, blocos de concreto, revestimentos de piso e materiais de

impermeabilização somente foram aplicados após a apresentação de certificado de

percentual de material reciclado na constituição do produto utilizado (FILHO, 2013 e SOARES,

2015).

Um plano de gestão de resíduos foi o balizador para a tomada de decisões quanto ao

descarte. A deposição de resíduos foi controlada através de manifestos de saída e destinação

final, em aterros autorizados ou encaminhados para reciclagem. O isopor utilizado nas formas

da cobertura fluida, por exemplo, foi dividido em dois grupos: pedaços grandes foram

reaproveitados pelas escolas de samba e, os menores, doados a fábricas de pufes (FILHO,

2013). Ao final da obra, apurou-se que mais de 90% de todo resíduo produzido pela

construção foi desviado de aterro, isto é, reaproveitado ou enviado para reciclagem, que são

fins considerados mais nobres do que aterrar (SOARES, 2015).

Uma característica importante do projeto é a fachada de vidro da Escola do Olhar (figura 34).

O perfil em vidro autoportante possui vidro reciclado em sua composição, e tem aplicação de

uma película que contribui para o conforto térmico das salas de aula, reduzindo as ilhas de

calor sem prejudicar a incidência de luz natural (SOARES, 2015).

O teto ondulado, uma das marcas visuais mais impactantes do Museu, contribui para a

redução da incidência solar. Outros diferenciais de sua construção são: qualidade do ar

interno, o aumento da eficiência energética e do conforto térmico, um processo bem

estabelecido de reciclagem por meio da coleta seletiva e a prática do reuso (SOARES, 2015).

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Figura 35 - Fachada da Escola do Olhar, em vidro Channel Glass. (Fonte: Concremat, 2013)

O projeto buscou especificação de louça sanitária com redução de consumo de água, como

torneiras com fechamento automático e redutores de vazão, mictório de baixo consumo, vasos

de duplo acionamento, que reduziram em 68% o consumo de água potável para esse fim,

quando comparado com a exigência do LEED (SOARES, 2015). Existe também um sistema

de captação e reaproveitamento de água pluvial na descarga dos banheiros, a fim de baixar

o consumo da água potável fornecida pela concessionária na edificação (FILHO, 2013). O

quadro a seguir lista as atribuições da certificação em números:

Quadro 4 – Certificação em números

(Fonte: Revista GBC Brasil, 2015)

O Museu também foi equipado com sensores de luminosidade e lâmpadas econômicas.

Segundo Anderson Benite4, em entrevista à revista GBC Brasil, “(...) estratégias de economia

de energia permitiram que o prédio seja 12,48% mais eficiente do que a base de referência

do LEED, que já é rigorosa (...)” (SOARES, 2015, p. 35). Estas ações contribuem para uma

economia efetiva nos gastos com energia do prédio.

4 Anderson Benite era consultor de sustentabilidade quando deu esta declaração à Revista GBC Brasil, em abril de 2015.

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O projeto não possui áreas de estacionamento, como incentivo ao uso de transporte

alternativo na região. A própria localização do Museu, próximo a pontos de ônibus bem

providos de linhas e do VLT, favorece esta prática. Também foi instalado um bicicletário, para

uso do público.

Ao frequentar o prédio, qualquer ocupante é capaz de enxergar as estratégias de

sustentabilidade, reforçadas por um trabalho de comunicação visual que é fruto de um

programa de educação ambiental específico para o Museu. Seguindo os preceitos da

construção verde, o MAR foi o primeiro museu da América Latina e do Brasil a receber a

certificação LEED (FILHO, 2013 e SOARES, 2015).

4.5 CONSIDERAÇÕES QUANTO AO USO E OPERAÇÃO

Neste item do trabalho, serão apresentadas algumas considerações quanto ao uso do espaço

reabilitado e sua operação por parte da administradora5. Como já dito anteriormente, a

Fundação Roberto Marinho assumiu a execução as obras, e com o edifício inaugurado, foi

responsável por montar as primeiras 4 exposições. Após isso, o Instituto Odeon – selecionado

por meio de edital - assumiu o Museu e é a instituição que hoje o gerencia. Existe um termo

de parceria entre a Fundação, o Instituto e a Prefeitura, de forma que a mesma ainda promove

um acompanhamento dos projetos de conteúdo do MAR.

A empresa construtora forneceu um Manual do Proprietário para cada edificação, bem como

esclarecimentos no que diz respeito ao seu uso correto, os prazos de garantia e as

manutenções a serem feitas na edificação. Este manual serve de balizador para as técnicas

de limpeza e manutenibilidade do espaço reabilitado, e instrui as equipes responsáveis por

estas ações.

A gerência de operações indica que existem duas formas de manutenção principais adotadas:

a preventiva e a corretiva. A primeira conta com uma equipe direta, que segue um cronograma

anual e pré-estabelecido com os sistemas, profissional responsável, natureza dos serviços e

periodicidade. Esta periodicidade varia de escalas semanais à anuais, dependendo do

serviço. A equipe interna do Museu atualmente conta com dois bombeiros hidráulicos, um

eletricista e um ajudante. Para serviços mais específicos e com periodicidade mais longa –

como manutenção do sistema de ar condicionado do pavilhão de exposições, por exemplo –

é contratada uma empresa que trabalhe com esta disciplina em especial, não sendo

necessário manter um profissional fixo e contratado. O segundo tipo de manutenção adotada,

5 As informações deste tópico foram obtidas através de uma visita e entrevista, realizada em fevereiro de 2017, com a gerente de operações do MAR, Roberta Kfuri.

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a corretiva, serve para atender a demandas de caráter emergencial ou a pequenos reparos.

Já os serviços de limpeza são executados por funcionários de uma empresa terceirizada.

Uma intervenção de caráter significativo, que ocorreu cerca de um ano após a inauguração

do Museu, foi a troca do revestimento do piso da biblioteca e salas da Escola do Olhar. O piso

em poliuretano apresentou danos causados pelo uso, que eram recorrentes mesmo após a

manutenção – o que acabou conduzindo ao fim de sua vida útil física. Houve um diálogo entre

o Instituto e a empresa construtora que executou a obra, para estabelecer qual seria a melhor

forma de recuperar. Desta forma, foi percebido que não era vantajoso continuar com os

reparos, e decidiu-se trocar todo o piso existente por um piso vinílico de cor mais escura. Este

material mostrou-se compatível e mais tolerante às consequências do uso. Este trabalho foi

realizado em períodos em que o Museu não estava em funcionamento, durante uma semana

de carnaval.

O custo de operação de um prédio no padrão das instalações do Museu é alto. Apesar da

adoção de equipamentos que consomem menos energia e a redução de gastos hídricos

devido ao sistema de reuso de águas pluviais, grande parte do resultado depende da

transferência da responsabilidade para o usuário.

Neste sentido, são adotadas estratégias tanto para conscientizar quanto para controlar o uso.

Faz parte da rotina da equipe de manutenção, por exemplo, desligar todos os aparelhos de ar

condicionado da Escola do Olhar, diretamente no quadro de luz e força. Isto é feito em horários

pré-estabelecidos diariamente, com exceção de dias em que haja o desenvolvimento de

atividades específicas.

Entretanto, por se tratar de um museu, existem complexidades relacionadas a sua atividade

fim: lâmpadas expositivas existentes não são tão econômicas, e não podem ser substituídas

pois não atenderiam a especificação e, além disso, existem regras de conservação artística

que orientam que a temperatura interna do pavilhão de exposições deve ficar entre 19 e 21

Piso anterior

Piso novo

Figura 36 - Piso anterior e atual, da biblioteca da Escola do Olhar. (Fonte: Autora, 2017)

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graus Celsius, não permitindo que se reduza o uso do ar condicionado. Assim, existem

parâmetros limitadores para a diminuição do consumo e melhora do desempenho energético

da edificação.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 COMENTÁRIOS

Tendo em vista a revisão bibliográfica apresentada, este trabalho procurou mostrar que

reabilitação predial é uma ferramenta que busca aproveitar elementos de uma edificação

antiga e dotá-la de características de desempenho atuais e, como consequência, amplia a

duração de seu ciclo de vida.

Também buscou-se mostrar que é benéfica a incorporação dos conceitos de sustentabilidade

na reabilitação, que podem conferir ao espaço reabilitado um melhor desempenho energético,

mais economia e um maior conforto aos seus usuários, ao mesmo tempo que contribui para

redução dos impactos ambientais causados pela cadeia produtiva da construção civil. Estes

benefícios podem ser aplicados na forma de uma certificação ambiental para a construção,

que, no caso do exemplo de aplicação apresentado, foi a certificação LEED.

Entretanto, percebe-se que os projetos de reabilitação encontram, principalmente, limitações

impostas pelo partido arquitetônico da edificação, pelo seu novo uso e pelos investimentos

disponíveis para serem empregados.

A complexidade dos empreendimentos de reabilitação, mesmo variando com o nível de

interferência que se pretende exercer, exige também gestão adequada às suas

características, que a diferem de uma construção tradicional. Foram apresentadas diversas

razões para que o mercado de reabilitação de edifícios no Brasil continue se desenvolvendo,

e nesse sentido, existem alguns aspectos que precisam ser aprimorados.

Desta forma, dentre os desafios para os profissionais que atuam nessa área, podem-se citar:

a adequação às exigências legais e às necessidades atuais; a disseminação das boas

práticas da intervenção no ambiente construído e o estímulo ao desenvolvimento de estudos

nesta área.

No que diz respeito a certificação LEED, existe ainda uma diferença na receptividade do

mercado à introdução deste tipo de metodologia, quando se compara seu país de origem e o

Brasil. Nos Estados Unidos, existe também um crescente número de edifícios certificados,

contudo, no Brasil, esta incorporação é feita de forma mais reduzida. Essa dificuldade reside

no fato de que, em alguns casos, se busca apenas a visibilidade causada quando da

divulgação e propaganda de empreendimentos certificados.

Por outro lado, o pioneirismo na obtenção da certificação pelo Museu de Arte do Rio serviu

de incentivo para outros empreendimentos buscassem o mesmo. Além da certificação,

recebeu o título de melhor construção de 2013, na categoria museu, pelo voto popular do

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maior prêmio internacional de arquitetura, o Architizer A+ Awards. Assim, o MAR provou que

é possível esse tipo de edifício – fruto da restauração de um palacete com quase um século

de idade e de um prédio modernista, que possuíam características completamente

heterogêneas – ter um bom desempenho, se tornando referência tanto nacional quanto

internacional.

5.2 SUGESTÕES

A partir da pesquisa realizada, como sugestão para trabalhos futuros pode-se propor um

estudo de caráter quantitativo sobre os benefícios da certificação LEED em projetos de

reabilitação predial, em comparação com projetos desta tipologia que não levem em

consideração parâmetros sustentáveis. A partir desse estudo, pode se estabelecer

indicadores que balizem diretrizes e boas práticas para este tipo de empreendimento.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO

ANEXO I – Quadro de Créditos obtidos na certificação LEED pelo Museu de Arte do Rio.