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REABILITAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE PAREDES DE EDIFÍCIOS ANTIGOS PROPOSTA DE METODOLOGIA DE APOIO AO PROJECTO Maria do Carmo Nevado Gonçalves de Carvalho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Construção e Reabilitação Orientadoras: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen Professora Doutora Maria Paulina Santos Forte de Faria Rodrigues Júri Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques Orientadora: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen Vogal: Professor Doutor José Maria da Cunha Rego Lobo de Carvalho Outubro de 2014

Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

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REABILITAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE PAREDES

DE EDIFÍCIOS ANTIGOS

PROPOSTA DE METODOLOGIA DE APOIO AO PROJECTO

Maria do Carmo Nevado Gonçalves de Carvalho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Construção e Reabilitação

Orientadoras: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen

Professora Doutora Maria Paulina Santos Forte de Faria Rodrigues

Júri

Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques

Orientadora: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen

Vogal: Professor Doutor José Maria da Cunha Rego Lobo de Carvalho

Outubro de 2014

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Agradecimentos

Gostaria de começar por referir que este trabalho de investigação contou com os valiosos e

indispensáveis contributos de inúmeras pessoas nas diversas fases do processo. As minhas palavras

de profundo e sentido agradecimento são dirigidas a todas estas pessoas que contribuíram para a

concretização da dissertação, sem as quais este trabalho não teria sido possível.

À Professora Doutora Inês Flores-Colen e à Professora Doutora Paulina Faria, orientadoras da

dissertação, muito agradeço o apoio e as importantes contribuições ao longo da elaboração do meu

trabalho, fundamentais para a conclusão desta dissertação.

O meu profundo agradecimento ainda a todos os intervenientes em reabilitação e conservação que,

com a disponibilidade e interesse demonstrados, colaboraram para o desenvolvimento da

investigação espelhada neste trabalho através da resposta ao inquérito sobre as melhores práticas e

as principais preocupações em torno desta temática em termos dos procedimentos por si aplicados.

Com a sua experiência, contribuíram amavelmente para o enriquecimento do estudo e para o

sucesso que espero deste trabalho, tanto na perspectiva académica como projectual e empresarial.

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Resumo

Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte

em alvenaria de pedra e argamassas de revestimento à base de cal aérea, o presente trabalho tem

como objectivos principais a apresentação de proposta de metodologia de apoio ao projecto de

reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e a sua aplicação.

Na investigação da autora é fundamental a definição dos principais tipos de intervenientes e aspectos

para reabilitação e conservação de edifícios antigos a integrar a proposta. A metodologia de

investigação consiste na realização de um inquérito a intervenientes diversos ao nível da reabilitação,

elaboração de uma proposta de metodologia e sua aplicação a um caso de estudo. A proposta visa

constituir um guia de apoio à decisão e projecto neste âmbito, consistindo numa sequência de

procedimentos relevantes de apoio, e ser testada mediante a sua aplicação ao edifício.

Nesta dissertação concluiu-se que na fase de concepção é essencial a avaliação do estado de

conservação do edifício e respectivos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede de

suporte, definição da intervenção, especificação de materiais a utilizar e requisitos de desempenho a

cumprir no revestimento e, ainda, previsão de planos de conservação e manutenção periódica.

Salienta-se a compatibilização de materiais e a complementaridade entre tipos de intervenientes em

reabilitação e conservação. A existência de uma metodologia de apoio ao projecto pode constituir

uma orientação particularmente para projectistas e melhorar o entendimento de intervenientes

directos em obra, contribuindo assim para a correcta execução da intervenção.

Palavras-chave: reabilitação, conservação, edifícios antigos, revestimentos de paredes, metodologia de apoio.

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Abstract

Based on the integrated understanding of rehabilitation intervention in an old building, with load-

bearing stone masonry and air-lime based renders, the present work has as main objectives a

proposal for a methodology to support the rehabilitation project of wall renders of old buildings and its

application.

The definition of the main types of participants and aspects for rehabilitation and conservation of old

buildings to integrate the proposal is essential in the author research. The research methodology

consists of an inquiry presented to professional participants in rehabilitation, the establishment of a

methodology proposal and its application to a case study. The proposal aims to provide a supporting

guide to decide and project in this context, consisting in a sequence of relevant supporting procedures,

also to be tested with its application to the building.

In this dissertation, it is concluded that, during project design, the assessment of the condition of the

building and external renderings, its diagnosis and of the supporting walls, the definition of intervention,

the specification of materials to be used and performance requirements to comply, and also plans for

conservation and periodic maintenance, are crucial. Compatibility between materials as well as

complementary roles of different types of participants in rehabilitation and conservation must be

highlighted. The existence of an integrated supporting methodology to the project can provide a proper

and useful guidance particularly for architects and engineers, and also improve the understanding of

direct participants on site, therefore contributing for the correct implementation of the intervention.

Keywords: rehabilitation, conservation, old buildings, renders, supporting methodology.

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Índice

Agradecimentos .........................................................................................................................................i

Resumo ................................................................................................................................................... iii

Abstract.....................................................................................................................................................v

Índice ...................................................................................................................................................... vii

Índice de figuras ...................................................................................................................................... ix

Índice de tabelas ..................................................................................................................................... xi

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1. Enquadramento geral e âmbito da investigação ..................................................................... 1

1.2. Objectivos da dissertação ....................................................................................................... 3

1.3. Metodologia de estudo ............................................................................................................ 4

1.4. Organização do documento .................................................................................................... 5

2. Conservação e reabilitação de revestimentos em edifícios antigos ............................................... 7

2.1. Enquadramento e princípios da reabilitação ........................................................................... 7

2.2. Diagnóstico e intervenção ....................................................................................................... 8

2.2.1. Reabilitação de edifícios antigos ..................................................................................... 8

2.2.2. Revestimentos de paredes ............................................................................................ 10

2.2.3. Patologia e diagnóstico ................................................................................................. 11

2.2.4. Estado de conservação e estratégias de intervenção................................................... 15

2.2.5. Conservação / Manutenção ........................................................................................... 16

2.3. Metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos................................... 18

2.4. Síntese do capítulo ................................................................................................................ 25

3. Caracterização construtiva de paredes e revestimentos de edifícios antigos .............................. 27

3.1. Paredes antigas de suporte ................................................................................................... 27

3.1.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 27

3.1.2. Alvenaria de pedra ........................................................................................................ 27

3.1.3. Funções da parede e contributo do revestimento ......................................................... 28

3.2. Argamassas de revestimento tradicionais/vernaculares ....................................................... 29

3.2.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 29

3.2.2. Argamassas ................................................................................................................... 29

3.2.3. Exigências funcionais e parâmetros de desempenho ................................................... 35

3.3. Argamassas de substituição .................................................................................................. 35

3.3.1. Considerações iniciais ................................................................................................... 35

3.3.2. Exigências funcionais dos revestimentos ...................................................................... 36

3.3.3. Compatibilidade ............................................................................................................. 36

3.3.4. Caracterização e requisitos de argamassas de substituição ........................................ 38

3.3.5. Método de selecção e formulação de argamassas de substituição .............................. 40

3.3.6. Utilização e tipos de argamassas de cal para reabilitação ........................................... 40

3.4. Documentação internacional e nacional ............................................................................... 41

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3.5. Síntese do capítulo ................................................................................................................ 41

4. Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos .................................................... 45

4.1. Considerações gerais ............................................................................................................ 45

4.2. Definição de aspectos para a reabilitação de revestimentos antigos ................................... 46

4.2.1. Identificação de principais tipos de intervenientes em reabilitação e selecção de

amostra ....................................................................................................................................... 46

4.2.2. Elaboração de ficha-tipo de inquérito e preenchimento conforme a amostra de

intervenientes .............................................................................................................................. 47

4.2.3. Análise de resultados .................................................................................................... 52

4.3. Síntese de conclusões do inquérito ...................................................................................... 71

5. Metodologia para reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos ........................ 75

5.1. Considerações gerais ............................................................................................................ 75

5.2. Proposta de metodologia de estudo e apoio à reabilitação de revestimentos antigos ......... 75

5.2.1. Objectivos da proposta de metodologia de avaliação e reabilitação ............................ 75

5.2.2. Compatibilidade dos elementos .................................................................................... 76

5.2.3. Procedimentos e critérios relevantes na fase de concepção ........................................ 76

5.2.4. Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de

paredes ....................................................................................................................................... 77

5.2.5. Considerações finais sobre a proposta de metodologia ............................................... 81

5.3. Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo .......................................................... 82

5.3.1. Considerações gerais .................................................................................................... 82

5.3.2. Enquadramento histórico e caracterização do caso de estudo .................................... 83

5.3.3. Caracterização estrutural e construtiva do edifício ....................................................... 85

5.3.4. Metodologia de trabalho ................................................................................................ 89

5.3.5. Estado de conservação e diagnóstico do edifício ......................................................... 90

5.3.6. Diagnóstico dos revestimentos de paredes .................................................................. 94

5.3.7. Definição da intervenção no revestimento de paredes ................................................. 96

5.3.8. Especificação dos revestimentos .................................................................................. 98

5.3.9. Considerações finais sobre o caso de estudo ............................................................. 102

5.4. Análise crítica da aplicação da metodologia de apoio proposta ......................................... 103

5.5. Considerações finais da metodologia ................................................................................. 108

6. Conclusões e desenvolvimentos futuros ..................................................................................... 109

6.1. Considerações finais ........................................................................................................... 109

6.2. Perspectivas de desenvolvimento futuro neste domínio ..................................................... 113

Referências bibliográficas ................................................................................................................... 115

Anexos

Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito .................................................. A1.I

Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos ................................. B1.I

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Índice de figuras

Figura 2.1 - Planeamento e execução descuidados comprometendo o acabamento final de uma obra

com intervenção ao nível do reboco ....................................................................................................... 9

Figura 2.2 - Revestimento antigo em várias camadas, séc. I ............................................................... 11

Figura 2.3 - Realização de corte estratigráfico in situ ........................................................................... 12

Figura 2.4 - Revestimento com perda de aderência generalizada ....................................................... 14

Figura 2.5 - Tipos de estratégias de intervenção .................................................................................. 14

Figura 2.6 - Fases de uma intervenção de reabilitação na construção ................................................ 19

Figura 2.7 - Excerto de ficha de verificação para a Certificação das Condições Mínimas de

Habitabilidade ........................................................................................................................................ 20

Figura 2.8 - Metodologia para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação ......... 21

Figura 2.9 - Relação entre os vários conteúdos do sistema Buildings Life .......................................... 21

Figura 2.10 - Metodologia de caracterização de argamassas antigas seguida no LNEC .................... 23

Figura 2.11 - Metodologia para determinação da composição de argamassas antigas empregue no

LNEC ..................................................................................................................................................... 24

Figura 2.12 - Metodologia de diagnóstico geral para revestimentos antigos ........................................ 25

Figura 3.1 - Pedreira em Alpalhão ........................................................................................................ 28

Figura 3.2 - Camada intermédia de reboco picada para aderência da seguinte .................................. 30

Figura 3.3 - Textura de um reboco tradicional caiado ........................................................................... 31

Figura 3.4 - Argamassa de cal bastante consistente pronta a aplicar .................................................. 33

Figura 3.5 - Painéis experimentais para avaliar o comportamento das argamassas de revestimento

em suportes finais de alvenaria de pedra ............................................................................................. 35

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes ......................................................................... 48

Figura 4.2 - Tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios correspondente à

amostra .................................................................................................................................................. 53

Figura 4.3 - Indicadores e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas 53

Figura 4.4 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes ........................ 54

Figura 4.5 - Preocupações com a patologia, diagnóstico da parede de suporte e definição da

intervenção ............................................................................................................................................ 55

Figura 4.6 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver ........ 56

Figura 4.7 - Técnicas de caracterização experimentais no diagnóstico do edifício .............................. 57

Figura 4.8 - Especificação de revestimentos de paredes exteriores .................................................... 58

Figura 4.9 - Desenhos e especificações no projecto ............................................................................ 58

Figura 4.10 - Opção pelo tipo de produtos ............................................................................................ 59

Figura 4.11 - Experimentação do produto escolhido ............................................................................ 60

Figura 4.12 - Especificação dos materiais e produtos a utilizar ............................................................ 60

Figura 4.13 - Ficha técnica do material na especificação ..................................................................... 61

Figura 4.14 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto .......................................... 61

Figura 4.15 - Especificação da composição da argamassa a utilizar ................................................... 62

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Figura 4.16 - Descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas ........................... 63

Figura 4.17 - Especificação ou execução de revestimento exterior ..................................................... 63

Figura 4.18 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada ........................................ 64

Figura 4.19 - Verificação e utilização das normas aplicáveis ............................................................... 65

Figura 4.20 - Especificação dos requisitos pretendidos para o revestimento exterior ......................... 66

Figura 4.21 - Critérios de compatibilidade dos revestimentos .............................................................. 66

Figura 4.22 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição ... 67

Figura 4.23 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco . 68

Figura 4.24 - Conservação do revestimento como opção mais correcta e favorável ........................... 69

Figura 4.25 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores . 70

Figura 5.1 - Processo para o desenvolvimento da proposta de metodologia de apoio ao projecto de

reabilitação ............................................................................................................................................ 75

Figura 5.2 - Base para a proposta de metodologia de apoio ao projecto ............................................. 77

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto ................................................................. 78

Figura 5.4 - Síntese da proposta de metodologia ................................................................................. 81

Figura 5.5 - Observatório Astronómico integrado no Jardim Botânico de Lisboa ................................. 83

Figura 5.6 - Equipamentos de observação no âmbito da Astronomia .................................................. 83

Figura 5.7 - Implantação do Observatório Astronómico no conjunto do Jardim Botânico de Lisboa ... 84

Figura 5.8 - Vista da implantação do Observatório Astronómico .......................................................... 85

Figura 5.9 - Fachadas do Observatório Astronómico - fachada principal ou vista Sudeste e fachada

lateral direita ou alçado Norte ............................................................................................................... 85

Figura 5.10 - Vistas do Observatório Astronómico - vista Sul e vista Norte ......................................... 86

Figura 5.11 - Desenhos do Observatório Astronómico - plantas e alçado principal ............................. 87

Figura 5.12 - Diversas vistas do Observatório Astronómico ................................................................. 87

Figura 5.13 - Diversas vistas da fachada principal do Observatório Astronómico................................ 88

Figura 5.14 - Vistas exteriores e interiores do Observatório Astronómico ............................................ 89

Figura 5.15 - Fachada posterior ou vista Noroeste do Observatório Astronómico ............................... 90

Figura 5.16 - Anomalias nas fachadas do Observatório Astronómico - vista Sudoeste e vista Este ... 91

Figura 5.17 - Anomalias no Observatório Astronómico ........................................................................ 92

Figura 5.18 - Observatório Astronómico em risco ................................................................................. 93

Figura 5.19 - Anomalias em revestimentos de fachadas ...................................................................... 95

Figura 5.20 - Anomalias associadas a elementos decorativos de fachadas ........................................ 95

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta ........................................... 104

Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao

caso de estudo .................................................................................................................................... 104

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Índice de tabelas

Tabela 2.1 - Fases da intervenção de reabilitação em que os métodos de inspecção e ensaio são

aplicáveis ............................................................................................................................................... 19

Tabela 2.2 - Níveis de degradação para rebocos exteriores ................................................................ 23

Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional ........................................................ 42

Tabela 4.1 - Lista de intervenientes ...................................................................................................... 46

Tabela 4.2 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes ....................... 54

Tabela 4.3 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver ....... 56

Tabela 4.4 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto ............................................ 62

Tabela 4.5 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada ......................................... 65

Tabela 4.6 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição ..... 68

Tabela 4.7 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco .. 69

Tabela 4.8 - Justificações para a conservação do revestimento .......................................................... 70

Tabela 4.9 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores .. 71

Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito………………….…………...……….…A1.I

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos

intervenientes…………………………………………………………………………………………………………….……..…...A1.IV

Tabela B1 - Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos……………….....………….B1.I

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1. Introdução

1.1. Enquadramento geral e âmbito da investigação

A reabilitação do património monumental e de edifícios antigos correntes assume uma importância

fundamental hoje em dia na Europa e em particular em Portugal, fruto de alterações nos tipos de

intervenções aos níveis da engenharia e da arquitectura ao longo do tempo em função da

necessidade de resposta aos problemas concretos da sociedade. De modo a conceber e concretizar

as soluções melhores e mais adequadas, o estudo neste âmbito exige a confluência de esforços de

um conjunto de especialistas de várias áreas científicas e um conhecimento multidisciplinar é também

exigido aos intervenientes no exercício complexo da conservação e reabilitação de edifícios (Freitas,

2012; Veiga, 2009).

A dissertação tem como objecto principal os revestimentos das paredes exteriores de edifícios

antigos, particularmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra e das argamassas de

revestimento à base de cal aérea e a compatibilidade entre ambas. A tecnologia, o desempenho e a

durabilidade de revestimentos na construção bem como, sobretudo, a compatibilização de materiais

constituem o enquadramento da dissertação, no âmbito da conservação e reabilitação do edificado.

Os revestimentos de paredes têm um papel relevante na conservação dos edifícios e protecção das

alvenarias, exercendo uma influência determinante nas suas principais propriedades e funcionalidade.

Também constituem um valor estético de grande ligação à arquitectura e têm um impacto

considerável na imagem das construções (Figueiredo, 2001; Rodrigues et al., 2011; Santos Silva e

Reis, 1999; Veiga, 2003b). As diferenças de textura dos revestimentos de cal, a não homogeneidade

das superfícies e a expressão cromática das tecnologias de pintura podem determinar um valor

perceptivo e estético fundamental ao resultarem num comportamento único face à luz (Aguiar, 1999).

Os revestimentos condicionam o aspecto final das construções, apresentando-se no entanto como

elementos sujeitos aos agentes de degradação (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 2003b; Veiga et al.,

2004).

Quando degradados, a opção pela conservação dos revestimentos antigos deve ter em conta alguns

factores como o seu valor histórico e arquitectónico, o estado de conservação, a autenticidade

histórica dos materiais existentes e a disponibilidade de recursos para a sua concretização,

relacionando-se assim com o âmbito da sustentabilidade, economia e durabilidade (Flores-Colen e

Brito, 2012; Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). O estudo dos revestimentos antigos possibilita também

o conhecimento acerca da história do edifício (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga et al., 2004). Por um

lado os materiais, técnicas, texturas e cores, por outro o bom funcionamento global das paredes

resultante da compatibilidade entre materiais e das soluções construtivas, não só fazem parte da

história e memória colectiva como inclusive constituem importantes objectos de estudo da história dos

materiais e tecnologias da construção, sendo valores a preservar (Aguiar, 2000; Flores-Colen et al.,

2006; Veiga, 2003b).

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Uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos exige um

bom domínio de determinados aspectos: (i) conhecimento dos revestimentos existentes, da sua

composição e estado de conservação, assim como dos suportes; (ii) conhecimento das estratégias de

intervenção possíveis, domínio das técnicas aplicáveis e apreensão de critérios que fundamentem a

opção; (iii) conhecimento de soluções de reparação adequadas, eficazes e duráveis e das regras

para aplicação; (iv) critérios de avaliação da compatibilidade, adequabilidade e durabilidade de

soluções de reparação; (v) planos de manutenção das soluções existentes (Veiga, 2009). As

intervenções em revestimentos de edifícios antigos devem ter por base o estudo das exigências

funcionais das paredes e ser o menos intrusivas possível, respeitando critérios definidos

cientificamente e seleccionando tanto as técnicas como os materiais de acordo com requisitos de

compatibilidade (Faria Rodrigues e Henriques, 2004; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Após a

identificação da composição da argamassa de revestimento original e suas propriedades mecânicas e

físicas, é importante projectar as características da argamassa de reparação ou substituição a aplicar

e proceder à análise da sua compatibilidade do ponto de vista mecânico, químico, físico, geométrico e

estético com o suporte (muitas vezes constituído por alvenaria de pedra argamassada), com vista a

manter níveis adequados de desempenho (Coelho et al., 2009; Flores-Colen e Brito, 2012; Hughes e

Válek, 2003; Válek et al., 2000; Veiga, 1998; Veiga e Carvalho, 2002; Veiga et al., 2004).

Neste âmbito, tornou-se importante a retoma das tecnologias tradicionais à base da cal aérea, sob

determinados pontos de vista, entre outros: (i) construtivo, pela natural compatibilidade com as

construções antigas e suas técnicas construtivas; (ii) estético, por assegurar de uma forma natural a

harmonia com o território e envolventes tradicionais; (iii) histórico, por inserir as intervenções numa

continuidade histórica e social (Aguiar, 2001).

A análise do estado das paredes, nomeadamente a nível de estabilidade, seguida de diagnóstico das

causas das anomalias identificadas e de avaliação do estado de conservação das argamassas,

facilitam o planeamento da intervenção de reparação dos revestimentos (Veiga, 2009). A

caracterização correcta do estado de conservação das argamassas, bem como do tipo e severidade

da degradação provocada, são da maior importância para uma decisão correcta relativamente ao tipo

de intervenção a realizar (Gaspar e Brito, 2005; Veiga, 2003b; Veiga e Aguiar, 2003).

A conservação e reabilitação de edifícios antigos exigem um bom conhecimento dos revestimentos

em argamassas de cal e também das suas alvenarias de suporte, de modo a avaliar correctamente o

seu estado de conservação, a evitar a progressão de situações patológicas e a planear intervenções

eficazes, com materiais de reparação ou substituição de características semelhantes, compatíveis

com a construção existente e com durabilidade adequada. Todo o processo deve ter por base um

projecto e as diferentes fases devem ser cuidadosamente planeadas e concretizadas, em

conformidade com regras que garantam a conservação das características construtivas, da

funcionalidade e da imagem do edifício (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). O projecto de reabilitação e

conservação, em particular ao nível dos revestimentos de paredes antigas, deve ter um papel

fundamental tanto no âmbito arquitectónico como de engenharia/tecnológico na medida em que exige

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um bom conhecimento da física das construções e das características dos materiais (Veiga et al.,

2004).

A presente dissertação é desenvolvida tendo em conta o contexto apresentado.

1.2. Objectivos da dissertação

Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo como um

todo, a dissertação tem como principais objectivos os seguintes:

Aferição dos aspectos relevantes para reabilitação de revestimentos de paredes antigas mediante

realização de inquérito a diversos grupos de intervenientes;

Apresentação de proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos

de paredes de edifícios antigos;

Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo.

Pretende-se clarificar os procedimentos e critérios relevantes que o projectista deve seguir na fase de

concepção, atendendo à compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas

argamassas de revestimento, elementos onde intervir em paredes de edifícios antigos.

A investigação centra-se na avaliação crítica da reabilitação de paredes antigas ao nível do seu

revestimento com argamassas tradicionais, particularmente na importância da compatibilização entre

materiais e destes sistemas de revestimento com a estrutura da parede, contribuindo para a

estabilidade e durabilidade. As diferentes vertentes da compatibilidade, ou seja, do ponto de vista

mecânico, químico, físico, geométrico e estético, são um aspecto crucial no âmbito da conservação e

reabilitação de revestimentos de paredes antigas e, portanto, do presente trabalho.

Pretende-se aprofundar e interrelacionar o conhecimento nesta área, de forma a melhor compreendê-

la e propor procedimentos de actuação relevantes, contribuindo para apoiar o problema global da

conservação e reabilitação de revestimentos de edifícios antigos. Face a um revestimento existente

deve-se decidir, com base em critérios científicos, qual a estratégia a adoptar: (i) conservação; (ii)

reparação pontual com recurso a novos materiais e tecnologias similares ao preexistente; (iii)

substituição exigindo a utilização de materiais e tecnologia compatíveis.

Os conhecimentos adquiridos e sistematizados ao longo do desenvolvimento do trabalho devem

permitir uma visão global do problema e uma proposta de metodologia adequada e aplicável. Os

aspectos considerados são relevantes para a abordagem metodológica de diversos intervenientes na

reabilitação de edifícios antigos e, como tal, são merecedores de estudo e reflexão, constituindo-se

como justificação da presente dissertação.

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1.3. Metodologia de estudo

De modo a concretizar os objectivos definidos para a sua elaboração, a dissertação tem uma

metodologia de investigação que se inicia com a recolha de informação bibliográfica no âmbito do

estudo. Segue-se o estudo teórico do estado dos conhecimentos a nível de conservação e

reabilitação de edifícios, o levantamento sobre metodologias existentes de apoio à reabilitação de

edifícios e respectivos constituintes e o estudo teórico do estado dos conhecimentos a nível de

paredes de edifícios antigos e seus revestimentos. De seguida, é relevante a definição de exigências

funcionais e parâmetros de desempenho dos revestimentos, a análise e definição dos critérios de

compatibilidade considerando o suporte, as funções a desempenhar pelas argamassas face ao

contexto externo, bem como ainda a recolha de documentação internacional e nacional no âmbito do

estudo que seja uma base para a elaboração da metodologia a propor.

Constituindo o corpo principal da presente dissertação e investigação da autora, é de referir a

identificação de aspectos relevantes para a reabilitação e conservação de edifício antigo, mediante

reconhecimento dos principais tipos de intervenientes e definição de pontos de vista e aspectos

pertinentes a integrar a proposta de metodologia de apoio ao projecto. A metodologia de investigação

neste campo consiste na realização de um inquérito a intervenientes diversos ao nível da reabilitação,

elaboração de uma proposta de metodologia e sua aplicação a um caso de estudo. Paralelamente à

elaboração de uma ficha-tipo de inquérito, faz-se a selecção dos principais intervenientes em

reabilitação a integrar a amostra para aplicação do estudo através de trabalho de campo, dadas as

suas competências e responsabilidades. O inquérito realizado neste trabalho aos intervenientes em

reabilitação e conservação que constituem a amostra criteriosamente seleccionada, tem por base a

definição de diversos aspectos como a compatibilidade dos elementos e a identificação de

procedimentos e critérios relevantes para a reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios

antigos. Todos estes aspectos podem ser validados no contacto com os intervenientes e

preenchimento da ficha-tipo de inquérito, mediante identificação dos pontos coincidentes e

divergentes entre os intervenientes e a sua análise crítica. Permitem ainda ordenar prioridades e,

desse modo, propor uma metodologia de apoio ao projecto.

Tendo por base o estudo do estado dos conhecimentos e a consequente investigação mediante o

contacto com intervenientes, a proposta de metodologia visa, assim, constituir um modelo prático ou

guia de apoio à decisão e projecto, que consiste numa sequência de trabalhos ou procedimentos

relevantes de apoio. Elabora-se, deste modo, uma proposta teórica de metodologia de avaliação e

apoio à reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos. Por fim, é importante a

selecção do edifício a constituir caso de estudo, de património monumental e com necessidades

urgentes de intervenção atendendo ao seu estado de conservação actual, a caracterização do edifício

e a aplicação da metodologia proposta, ao nível dos seus revestimentos de paredes exteriores.

Consequentemente, elabora-se a análise crítica da aplicação da metodologia proposta.

Portanto, em suma, inicialmente é desenvolvido o estudo teórico do estado da arte no âmbito da

conservação e reabilitação de edifícios bem como das paredes antigas e seus revestimentos. Após o

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estado dos conhecimentos, segue-se a reflexão e identificação dos pontos considerados importantes

para análise de edifício antigo e definição da intervenção a nível do revestimento de paredes, e

realizou-se um inquérito aos intervenientes para a sua validação. O trabalho inclui a proposta de

metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e a

consequente aplicação através do estudo de caso.

1.4. Organização do documento

Por forma a desenvolver a investigação no sentido pretendido, a dissertação é organizada em seis

capítulos, bibliografia e anexos, conforme organização dos conteúdos que se apresenta de seguida.

O primeiro capítulo da dissertação corresponde à introdução ao trabalho, em que se apresenta o

enquadramento geral e âmbito da investigação, objectivos da dissertação e metodologia de estudo,

bem como a presente organização do documento.

No segundo capítulo aborda-se genericamente a conservação e reabilitação de edifícios antigos e

particularmente no que respeita aos revestimentos de paredes, respectivo diagnóstico e definição da

intervenção. Referem-se exigências aplicáveis à reabilitação e considerações sobre a intervenção no

revestimento de paredes antigas, concluindo-se com um levantamento das metodologias existentes

de apoio à reabilitação de edifícios antigos e respectivos constituintes.

No terceiro capítulo desenvolve-se a análise construtiva a nível do revestimento, suporte e envolvente

de paredes de edifícios antigos a reabilitar. Aborda-se a caracterização de paredes antigas

inicialmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra, seguidamente das argamassas de

revestimento tradicionais e, por fim, das argamassas de substituição. Efectua-se a identificação de

exigências funcionais e parâmetros de desempenho aplicáveis aos revestimentos. Evidencia-se a

relevância da compatibilidade entre materiais e a caracterização e exigências de argamassas de

substituição em intervenção no contexto em causa compatibilizando argamassa e suporte. Definem-

se, assim, critérios de compatibilidade e conclui-se com a apresentação da documentação a nível

internacional e nacional.

Seguidamente, no quarto capítulo aborda-se o estado da prática de reabilitação de revestimentos

antigos. Fruto do estudo do estado dos conhecimentos e da experiência profissional da autora,

identificam-se os principais tipos de intervenientes em reabilitação e definem-se os aspectos e

procedimentos relevantes para a reabilitação de revestimentos antigos. Elabora-se uma ficha de

inquérito que se aplica aos principais tipos de intervenientes em reabilitação e esclarecem-se os

aspectos essenciais por estes considerados e aplicados na sua actividade profissional. Constitui-se,

assim, uma base para análise crítica com vista à metodologia a propor.

No quinto capítulo propõe-se uma metodologia para a reabilitação de revestimentos de paredes de

edifícios antigos e testa-se a sua aplicação. A proposta teórica de metodologia de apoio ao projecto

resulta da definição de objectivos, de aspectos considerando a compatibilidade dos elementos e,

ainda, de procedimentos e critérios relevantes para o projectista na fase de concepção. Após

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selecção e caracterização de um edifício antigo, faz-se a aplicação prática da metodologia proposta a

esse caso de estudo e realiza-se uma análise crítica à aplicação da metodologia de apoio

enunciando-se conclusões. Testa-se, assim, a aplicação da metodologia proposta.

Por último, no sexto capítulo apresentam-se as considerações finais da investigação realizada no

desenvolvimento da dissertação através de uma síntese das conclusões alcançadas, assim como as

linhas de orientação para desenvolvimentos futuros neste domínio.

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2. Conservação e reabilitação de revestimentos em edifícios antigos

2.1. Enquadramento e princípios da reabilitação

O presente capítulo aborda genericamente a conservação e reabilitação de edifícios antigos no que

respeita o revestimento de paredes, respectivo diagnóstico, definição da intervenção e levantamento

de metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos e respectivos constituintes.

A conservação e reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos, estes entendidos

como os edifícios anteriores à adopção da estrutura de betão armado, é uma temática cada vez mais

proeminente no contexto actual da reabilitação de edifícios. Muito mais do que simplesmente

monumentos e edifícios públicos de grande importância, no grupo de edifícios antigos inclui-se o

património monumental, o património edificado classificado e o património edificado corrente, com

materiais e tecnologias tradicionais recorrendo sobretudo à pedra, madeira, cal e vidro (Appleton,

2011; Freitas, 2012). Apesar de muito diversificados técnica e formalmente, os revestimentos que

protegeram as paredes ao longo dos séculos tinham aspectos importantes em comum e funções bem

definidas que presentemente lhes conferem grande relevância na conservação dos edifícios antigos.

Eram essencialmente baseados em rebocos de argamassas.

A reabilitação de edifícios pode ser entendida como acções de intervenção necessárias e suficientes

para as suas adequadas condições de segurança, funcionalidade e conforto, com respeito pela sua

arquitectura, tipologia e sistema construtivo (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012, Paiva et al.,

2006). As cartas e as recomendações internacionais que Portugal subscreveu são substancialmente

relevantes neste âmbito, desde a Carta de Atenas (1931) decorrente da Conferência Internacional

sobre o Restauro dos Monumentos e Carta de Veneza (1964) - Carta Internacional sobre a

Conservação e Restauro dos Monumentos e dos Sítios, até à Carta de Burra (1999) e Carta de

Cracóvia (2000) - Princípios para a Conservação e Restauro do Património Construído. Naquelas é

claro o reconhecimento do valor intrínseco ao sistema construtivo do edifício, a par do valor

arquitectónico, do valor histórico e do valor artístico, sendo importante uma boa prática de reabilitação

ou conservação e o necessário envolvimento de equipas multidisciplinares (Appleton, 2011; Cóias,

2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006). O edifício deve ser entendido como um todo e não como um

somatório de partes, umas a manter e outras a demolir. Grande parte da degradação dos edifícios

antigos não resulta de fraca qualidade construtiva ou dos materiais utilizados mas advém do

abandono e falta de manutenção adequada.

Um conjunto de acções deve ser realizado antecedendo a intervenção em edifícios antigos,

justificando a sua necessidade e dimensão através de um estudo de diagnóstico. Em qualquer

projecto de reabilitação, o conhecimento e o respeito pelo objecto da intervenção, pela sua história e

técnicas construtivas originais utilizadas na sua concepção são essenciais e devem ter influência na

decisão dos procedimentos e técnicas a adoptar. Neste âmbito, deve ser demonstrada a

indispensabilidade de uma acção antes de esta ser empreendida, aspecto que se integra no

pressuposto da intervenção mínima com garantia da segurança e durabilidade e que deve orientar o

projecto (Appleton, 2011; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga 2003b; Veiga et al., 2004).

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Associado ao conceito de reabilitação de uma construção está também o de autenticidade, na forma,

função, utilização anterior, superfície exposta, materiais e estrutura. Na linha das orientações contidas

nas cartas e convenções internacionais, certos critérios devem, assim, ser seguidos na salvaguarda

de um edifício, como a eficácia, compatibilidade, durabilidade, reversibilidade e também eficiência.

Numa intervenção pouco intrusiva nomeadamente em património arquitectónico, deve ser notória a

salvaguarda da autenticidade do edifício sobre o respeito pelas prescrições regulamentares de

segurança e conforto (Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).

A nível europeu, tanto o ritmo de crescimento da construção nova tem vindo a diminuir como em

paralelo tem-se incrementado cada vez mais a necessidade de conservar e reabilitar o edificado,

tendência que na sua origem tem razões ambientais, culturais, legais, económicas e de durabilidade

(Paiva et al., 2006; Veiga, 2009).

2.2. Diagnóstico e intervenção

2.2.1. Reabilitação de edifícios antigos

Na generalidade dos casos e em função do processo de tomada de decisão, é sensato equacionar

uma abordagem faseada da informação a obter. A avaliação da sua viabilidade antecede e é

indispensável à decisão de promover uma operação de reabilitação, ponderando-se os aspectos de

exequibilidade financeira e técnica, no tempo e no espaço. A escala das intervenções influencia a

viabilidade económica, pelo que a deficiência de estudo prévio ou de diagnóstico e também de

projecto de execução traduz-se em sobrecustos por trabalhos não previstos, interferindo na gestão da

própria obra. Na reabilitação de edifícios antigos tem-se não só uma valorização do imóvel mas

também um respeito pela preservação de valores a nível artístico, cultural ou histórico, podendo da

reabilitação advir um desenvolvimento sustentável, reutilizando o construído de forma a poupar

recursos (solo, materiais, incluindo água e energia) (Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al.,2004). A

dificuldade em assegurar algumas exigências actuais é maior nestes edifícios, sendo que a própria

legislação nacional no domínio da construção é principalmente orientada para a construção nova e

não revela grandes preocupações face às exigências específicas das intervenções de reabilitação,

podendo não definir claramente as disposições de referência (Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).

Actualmente e durante um período limitado, encontra-se em vigor legislação sobre o Regime

Excepcional de Reabilitação Urbana (RERU, 2014) que, pela primeira vez, e tal como o nome indica,

legisla sobre excepções que podem ser aplicadas a determinados edifícios antigos.

Em geral, a reabilitação de edifícios pressupõe a resolução das anomalias construtivas e a melhoria

do desempenho local ou geral do edifício. Consiste, portanto, no conjunto de operações com vista ao

aumento dos seus níveis de qualidade, de modo a corresponder a níveis de exigências funcionais

superiores àqueles para os quais foi concebido (Appleton, 2011). Com vista à garantia de uma

análise detalhada e clara da necessidade e âmbito da intervenção, é essencial que o estudo de

diagnóstico seja efectuado por técnicos experientes e familiarizados com as várias técnicas

tradicionais de construção a nível dos materiais e seu comportamento ao longo do tempo. Nesta fase

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de diagnóstico avalia-se o estado de conservação e as condições de segurança do edifício e da sua

estrutura sendo que, de forma a dar resposta ao programa estabelecido, é importante delinear a

estratégia a adoptar (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Pelo facto de o estudo de diagnóstico ser complexo e resultar da combinação de diversos factores de

análise, deve ser realizado por equipa multidisciplinar com qualificação e experiência a nível da

patologia e reabilitação de edifícios. A equipa projectista define procedimentos a incluir na inspecção

e diagnóstico, dependendo do grau de intervenção no edifício e do seu valor isolado e integrado num

conjunto mais vasto de edifícios (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga,

2009; Veiga et al., 2004). Logo desde a fase de análise e diagnóstico deve ser aplicada uma

metodologia para a garantia da qualidade numa intervenção de reabilitação. Esta permite realizar o

diagnóstico da situação e definir a intervenção, conceber soluções adequadas que dêem resposta

aos objectivos definidos e executar a sua correcta implementação (Paiva et al., 2006). É essencial o

planeamento adequado da qualidade da intervenção a nível dos diversos agentes, interfaces e

actividades desenvolvidas (figura 2.1). Urge promover-se e apoiar-se uma componente técnica

interdisciplinar e altamente especializada da qual dependem a conservação e reabilitação (Cóias,

2007; Paiva et al., 2006).

Figura 2.1 - Planeamento e execução descuidados comprometendo o acabamento final de uma obra com intervenção ao nível do reboco (fonte: Veiga et al., 2004)

Definida a estratégia de intervenção, deve então proceder-se à elaboração do projecto de execução.

O projecto de reabilitação deve consistir num processo de síntese que abrange uma grande

pluralidade de informações, reflecte o seu claro entendimento e implica a qualificação dos projectistas.

Aquele exige-lhes respeito pelos princípios da conservação, grande conhecimento do contexto,

materiais, interdependências e funções dos elementos construtivos, bem como ainda o cumprimento

dos condicionamentos aplicáveis, a nível urbano, normativo e regulamentar (Appleton, 2011; Freitas,

2012; Paiva et al., 2006). O projecto deve ser constituído por um conjunto de peças escritas e

desenhadas que descrevam detalhadamente os vários trabalhos necessários para a reabilitação do

edifício, sendo que o sucesso depende muito da qualidade e especificidade dos desenhos de

pormenor, de difícil elaboração (Freitas, 2012; Veiga, 2009). A fase de execução desenvolve-se após

a realização do projecto e o licenciamento da obra. Exigindo um acompanhamento activo por parte do

projectista, a execução da obra constitui o ponto culminante de todo o processo (Appleton, 2011;

Freitas, 2012; Paiva et al., 2006).

Uma metodologia que garanta a qualidade e o correcto desenvolvimento de uma intervenção de

reabilitação sobretudo de edifícios antigos deve, assim, englobar as fases de análise e diagnóstico,

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projecto e execução da obra. As actividades necessárias a uma operação de reabilitação são

inúmeras e têm especificidades, visando objectivos singulares, requerendo o envolvimento de um

conjunto abrangente e diverso de pessoas e organizações com perfis profissionais e experiências

distintos mas interdependentes (Freitas, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Na elaboração de

projectos de reabilitação e construção tradicional, a escolha de materiais e tecnologias de construção

antes era validada pela experiência, levando à elaboração de cadernos de encargos prescritivos

(Freitas, 2012; Veiga, 2009). Para garantia de desempenho que não ponha em causa a durabilidade

do preexistente, é necessária uma selecção exigencial dos elementos de construção dada a grande

diversidade de materiais e novas soluções disponíveis no mercado (Appleton, 2011; Freitas, 2012).

Dada a especificidade, muitas vezes os edifícios antigos não possibilitam aplicação directa dos

regulamentos existentes, muito direccionados para a construção nova. De grande relevância é não só

a adequabilidade da regulamentação nacional aos edifícios antigos mas também a sua aplicabilidade

(Appleton, 2011; Freitas, 2012; Paiva et al., 2006). Relativamente a exigências a satisfazer, a obra

deve ser concebida e realizada de modo a que não comprometa a saúde e segurança de pessoas e

bens, a qualidade de vida e o património ambiental. Neste sentido, comparativamente aos edifícios

em geral, os edifícios antigos têm particularidades a nível das principais exigências a satisfazer.

Muitas vezes identifica-se a legislação do sector da construção como obstáculo à reabilitação, muito

pensada para a construção nova e cuja interpretação revela incompatibilidades e não é consensual. A

legislação coloca dificuldades ao projecto de reabilitação de edifícios pelo que, enquanto não for

criada regulamentação específica para a reabilitação, os responsáveis pelos diversos projectos

devem cumprir as exigências regulamentares e também ter atenção às várias dispensas e

alternativas previstas (Freitas, 2012; Paiva et al., 2006; RERU, 2014).

2.2.2. Revestimentos de paredes

Para além de se constituir como crucial a vertente cultural e histórica a nível do património edificado

classificado, também as acções em edifícios fora da classificação devem ter presente a primazia da

preservação e reabilitação, devendo impor-se sempre que possível à substituição integral por novos

elementos, tanto pela poupança de recursos e sustentabilidade como pela memória e resultante valor

a preservar (Aguiar, 2000; Lobo de Carvalho, 2007; Veiga, 2009).

No âmbito da temática em estudo, os trabalhos de reabilitação de revestimentos em edifícios antigos

devem ser precedidos de uma análise quer do valor histórico ou artístico do imóvel a reabilitar quer

da profundidade da sua degradação. Tanto do ponto de vista da história como da ciência, é primordial

conhecer a composição dos revestimentos de edifícios antigos, tanto para estudo e registo da arte da

construção e sua evolução como para fundamentar a política de conservação a implementar e servir

de base às soluções de reparação ou de substituição a utilizar (Veiga, 2009; Veiga et al.,2004). As

distintas perspectivas do conhecimento dos revestimentos determinam diferentes metodologias de

análise com enfoque no objectivo definido, tanto a perspectiva da conservação como a arqueológica

ou a investigação de materiais (Elsen, 2006).

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Nas intervenções em edifícios antigos, os revestimentos que foram sendo sistematicamente retirados

deixaram muitas vezes alvenarias de pedra à vista ou levaram à execução de novos rebocos e

refechamentos de juntas com materiais não tradicionais. A prática mais recente tem demonstrado um

maior cuidado com os materiais a utilizar em obras de conservação e reabilitação, pelo que se tem

readquirido conhecimentos e procurado corresponder às necessidades actuais (Velosa, 2002). Os

revestimentos exteriores originais de paredes de edifícios antigos devem ser conservados o mais

possível, mediante recurso a operações de manutenção e, quando necessário, de consolidação e

reparação pontual. Este é não só o modo de respeitar a identidade histórica e material do edifício e

preservar técnicas construtivas raras, como ainda o método mais seguro de evitar incompatibilidades

entre materiais antigos e novos e o processo menos oneroso de garantir o bom estado de

conservação dos revestimentos e da totalidade do edifício. Na necessidade de renovação dos

revestimentos antigos devido ao seu estado de degradação, devem ser tomados todos os cuidados

de modo a minimizar os inconvenientes e os riscos da opção. O levantamento, identificação e registo

dos revestimentos antigos são da maior importância (figura 2.2) (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Figura 2.2 - Revestimento antigo em várias camadas, séc. I (fonte: Veiga, 2003b)

2.2.3. Patologia e diagnóstico

A avaliação do estado actual de edifícios existentes é indispensável no processo da sua reabilitação,

tornando possível propor soluções que possibilitem atingir o desempenho pretendido. Pelo facto de a

reabilitação dever ser adaptativa, é essencial um diagnóstico específico e fundamentado para cada

caso, permitindo proposta de metodologia técnica e economicamente adequada (Freitas, 2012).

Aquando de uma operação de reabilitação, é importante ter a noção que o revestimento de uma

alvenaria bastante irregular com argamassa em geral implica uma grande heterogeneidade de

espessuras, pelo que revela ser essencial uma prévia inspecção dos materiais originais (Coelho et al.,

2009). Para além do possível valor histórico implícito na utilização de técnicas e materiais originais,

torna-se crucial a compatibilidade entre materiais originais e os de substituição (Coelho et al., 2009;

Veiga, 1998; Veiga e Carvalho, 2002; Veiga et al., 2004). Perante diferentes comportamentos

mecânicos e físico-químicos surgem, a dado momento, situações de mau desempenho.

Particularmente materiais com diferenças de permeabilidade, módulo de elasticidade, nível de

aderência e nível de absorção de água geram o aparecimento de anomalias, pelo que dificilmente se

constituem como boa solução de reabilitação (Coelho et al., 2009).

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Para tomar correctamente uma decisão sobre o tipo de intervenção a realizar, é da maior importância

a caracterização correcta do estado de conservação e do tipo e gravidade da degradação provocada.

Para além dos instrumentos imprescindíveis a essa caracterização que consistem numa observação

cuidada, olhar treinado e espírito rigoroso, bem como conhecimento de base sobre os mecanismos

de degradação e respectivos sintomas, para obter uma informação mais detalhada e quantificada que

viabilize uma estratégia de reparação em geral é útil recorrer-se a outros meios de diagnóstico, se for

praticável (Veiga, 2003b). A caracterização de argamassas de edifícios antigos não dispensa, como

meio essencial auxiliar da inspecção visual, a avaliação in situ das propriedades físicas e mecânicas,

para a qual existem diversos ensaios que se diferenciam consoante o seu grau de intrusão, como

para o comportamento à água e comportamento mecânico (Flores-Colen e Brito, 2012; Flores-Colen

et al., 2006; Veiga, 2003b). Das técnicas in situ, primeiro devem ser aplicadas as não destrutivas,

seguindo-se as pouco destrutivas e, se necessário, as destrutivas; pode ser precisa a recolha de

amostras para ensaios de laboratório. Numa caracterização laboratorial de revestimentos de edifícios

antigos nomeadamente de valor patrimonial, a actuação pode passar por análises química,

mineralógica e microestrutural, seguindo-se por exemplo análise orgânica (Veiga, 2003b; Veiga et al.,

2004). A nível dos revestimentos de paredes, pelo ponto de vista da conservação a princípio é

necessário identificar o número de camadas e a espessura de cada uma, bem como obter por

observação cuidadosa das amostras a informação possível sobre a técnica de aplicação, recorrendo-

se sobretudo a análise estratigráfica. Esta pode ser realizada in situ mediante sondagens em

profundidade do revestimento (figura 2.3) ou em laboratório implicando extracção de amostras

através de corte transversal que abranja toda a espessura (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Após

identificação das diversas intervenções e camadas que compõem o revestimento, é necessário

estudar cada uma identificando a composição e características físicas (Elsen, 2006; Santos Silva e

Reis, 1999; Veiga et al., 2004).

Figura 2.3 - Realização de corte estratigráfico in situ (fonte: Veiga, 2009)

Embora o conhecimento da composição química e mineralógica das argamassas seja necessário à

execução de argamassas de reparação ou substituição idênticas, aquele é insuficiente pela existência

de factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física da argamassa, o seu comportamento

e a sua durabilidade, tais como o modo de preparação, a cura, a interacção com o suporte e a

evolução ao longo do tempo (Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Pode

considerar-se que o conhecimento da proporção da composição original das argamassas não é

imprescindível (Henriques e Faria, 2008). Revela-se, assim, ser importante a caracterização física

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sobretudo no que respeita à determinação da estrutura e do comportamento global da argamassa,

pelo que o volume e a estrutura dos vazios, diâmetros e formas constituem um aspecto importante

com influência decisiva no comportamento da argamassa tanto à água como mecânico. A porosidade

total, a distribuição da dimensão dos poros e a superfície específica são valores com relevância para

a descrição da estrutura porosa dos materiais. Esta condiciona as propriedades mais importantes das

argamassas de edifícios antigos constituindo um dos indicadores mais significativos do seu

comportamento e, como tal, das características a procurar em argamassas de reparação ou

substituição (Veiga, 2009).

Deve ser definida uma metodologia geral de diagnóstico fruto do cruzamento de resultados obtidos,

permitindo concluir relativamente aos mecanismos de degradação em curso, grau de degradação

atingido e previsão da evolução da situação. Podem ser analisadas, de seguida, as possibilidades de

conservação, por interrupção dos mecanismos de degradação, por protecções contra as acções

deteriorantes e, se necessário, acções de reparação do revestimento. Conforme os problemas

existentes e os objectivos definidos, a equipa projectista deve delinear as acções a desenvolver de

modo a identificar o número e tipo de camadas do revestimento para posterior caracterização destas,

bem como o conjunto de ensaios a realizar, o seu faseamento e os pontos de aplicação (Flores-Colen

e Brito, 2012; Veiga et al., 2004).

Podendo o termo patologia ser definido como o estudo sistemático de doenças com vista à

compreensão dos sintomas e causas bem como definição de tratamento, é aplicável ao estudo de

edifícios. Assim, a patologia da construção implica um conhecimento detalhado das características

arquitectónicas, construtivas e funcionais do objecto em estudo, a partir do qual é efectuado um

diagnóstico, prognóstico das anomalias detectadas e definição de recomendações de actuação (Watt,

1999). Os tipos de anomalias que revelam e o grau com que se manifestam podem caracterizar o

estado de conservação dos revestimentos existentes, surgindo o conceito de severidade da anomalia

que, juntamente com o consequente nível de degradação provocada, se relaciona com a percepção e

efeitos funcionais da anomalia bem como a viabilidade da sua reparação (Magalhães, 2002; Veiga,

2003b; Veiga e Aguiar, 2003). Pode-se estabelecer correlações com os factores de degradação

principais bem como definir e escalonar tratamentos, mediante o mapeamento das anomalias dos

edifícios antigos com o registo dos tipos, categorias e índices de degradação ou de susceptibilidade

(Veiga, 2009). É possível definir estratégias e metodologias de conservação mediante intervenções

fundamentalmente preventivas e de reparação através de intervenções correctivas, caso se justifique.

As anomalias principais mais correntes nos rebocos tradicionais, multicamadas, que consistem

geralmente em fendilhação, perda de aderência, eflorescências, colonização biológica, manchas de

humidade e sujidade, são provocadas sobretudo por curtos prazos de aplicação impostos pelo ritmo

das obras e ausência de cumprimento dos prazos de secagem das alvenarias e camadas, ou por

dosagem inadequada e aplicação incorrecta. Salienta-se também que o sistema de reboco aplicado,

seja tradicional, pré-doseado ou com pintura como acabamento, pode fazer variar o tipo ou incidência

das anomalias (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga, 2004). Das

principais anomalias detectadas em rebocos, a perda de aderência entre argamassa e parede é

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particularmente relevante e gravosa, manifestando-se através do destacamento da argamassa

relativamente ao suporte ou pela perda de coesão do material constituinte (figura 2.4). Esta anomalia

representa o final da vida útil do reboco, dado que este deixa de cumprir os requisitos de protecção

das alvenarias, segurança dos utentes e qualidade visual das superfícies das fachadas (Flores-Colen

e Brito, 2012; Paiva et al., 2006; Veiga, 2009). Em geral, os problemas de destacamento e perda de

coesão solucionam-se pela substituição, localizada ou geral, do reboco. O levantamento da condição

global de fachadas deve integrar essencialmente a informação relativa a anomalias do tipo fissuração

e manchas, bem como a identificação e descrição das anomalias por perda de aderência (Gaspar et

al., 2006, 2007).

Figura 2.4 - Revestimento com perda de aderência generalizada (fonte: Veiga, 2009)

Uma grande diversidade de formas sob as quais ocorrem as anomalias em revestimentos relaciona-

se com as partes do edifício, elementos funcionais e respectivas funções afectadas, com a natureza

dos materiais e técnicas de construção, bem como com a origem, causas e períodos de ocorrência

das anomalias (Paiva et al., 2006; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Aspectos responsáveis pelos mecanismos de degradação mais correntes a nível de revestimentos

antigos são a água, poluição, sais, reacções expansivas, biodeterioração e deformações estruturais

(Magalhães, 2002; Veiga, 2009). Apesar da diversidade das anomalias detectadas nos edifícios, a

maior parte tem origem directa ou indirecta na presença da água e consequente humedecimento dos

materiais, acompanhado ou potenciado pela modificação indesejável de propriedades físicas, o que

influencia as condições de habitabilidade e durabilidade. A fendilhação é a anomalia com maior

influência no comportamento dos rebocos exteriores, pelo facto de afectar a sua capacidade de

impermeabilização, prejudicar gravemente a aderência, permitir infiltrações de água ou outros

agentes e fixação de microrganismos e, consequentemente, reduzir a durabilidade do revestimento e

da própria parede (Gaspar et al., 2006; Magalhães, 2002). Com importância considerável é também o

envelhecimento e degradação de materiais como consequência da acção de agentes climáticos, do

tipo de ocupação dos edifícios e uso dos elementos construtivos, da desadequação ou inexistência

de trabalhos de manutenção, bem como de incompatibilidades entre materiais novos e velhos ou uso

de materiais de características desapropriadas (Paiva et al., 2006).

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2.2.4. Estado de conservação e estratégias de intervenção

Enquanto para edifícios de elevado valor é especialmente importante respeitar-se a autenticidade

devendo optar-se pela substituição das argamassas apenas se a sua conservação e reparação não

for possível, para edifícios antigos de menor valor este limite pode ser mais flexível e ter em conta a

disponibilidade de meios e os custos (Veiga, 2005a). Bem identificadas as anomalias, diagnosticadas

as causas e bem conhecidas as técnicas adequadas, ainda que as anomalias manifestadas atinjam

graus elevados de incidência, são passíveis de reparação e a sua progressão pode ser travada, como

são exemplo a fissuração, biodeterioração, manchas, sujidades e erosão. Já a falta de coesão e a

perda de aderência aos elementos circundantes ou entre camadas de um revestimento são de

reparação difícil (Gaspar et al., 2007; Veiga, 2005a).

A constituição e o modelo de funcionamento das paredes antigas diferiam das actuais, relacionando-

se com a protecção contra a humidade que é um aspecto particularmente importante. O modelo de

funcionamento das paredes antigas admitia a entrada de água para o interior da alvenaria por

ascensão capilar moderada através das fundações e da própria superfície da parede; no entanto

evitava uma permanência prolongada promovendo a sua expulsão por evaporação (Appleton, 2011;

Henriques, 2001; Veiga, 2005a). Pelo contrário, as paredes dos edifícios actuais são muitas vezes

construídas de forma a impedir a penetração da água do exterior, com cortes de capilaridade junto às

fundações, revestimentos impermeabilizantes, caixilharia preferencialmente estanque, coberturas e

remates cuidados (Veiga, 2005a). Em intervenções de conservação e reabilitação em edifícios

antigos, devem ser respeitados os modelos de funcionamento originais sendo primordial manter

materiais e soluções ou, quando necessário, substituí-los por outros compatíveis e preferencialmente

de características semelhantes. As argamassas, sobretudo como revestimentos exteriores de

paredes, são o objecto sobre o qual incide grande parte das intervenções em edifícios antigos

(Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 1998; Veiga et al., 2004). O desconhecimento da constituição e

tecnologia associada levam a que a opção comum para reparação seja a extracção de todo o

revestimento e sua substituição por uma solução actual, geralmente não adaptada ao funcionamento

da parede antiga o que gera desempenho e durabilidade inferiores aos originais (Veiga, 2003b).

Soluções inadequadas, descaracterizadoras do edifício e potenciadoras de anomalias originam um

tempo depois degradação generalizada constituída por fendilhação e perda de aderência do novo

reboco, associada geralmente a degradação da alvenaria de suporte por perda de coesão e

degradação de camadas junto à interface com o novo reboco que acaba por se destacar.

De primordial importância é a adequabilidade dos materiais de reparação, consolidação e substituição,

por forma a evitar o risco de acelerar a degradação (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho,

2002; Veiga et al., 2001). Neste contexto, um conjunto de conhecimentos torna-se essencial à

selecção da estratégia de conservação e planeamento das acções. Aquele abrange não só a parede,

revestimento antigo e respectivas tecnologias e materiais, mas também a patologia e avaliação do

estado de conservação, bem como os materiais e técnicas de reparação e execução compatíveis

com a construção existente e com durabilidade adequada (Veiga, 2009).

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A conservação é a opção mais correcta e também favorável a nível da durabilidade, funcionalidade e

economia (Veiga, 2003b). O valor do edifício antigo reside no aspecto formal da sua arquitectura e no

conjunto funcional, materiais e tecnologia utilizados, os quais constituem valores a preservar que,

juntamente com razões práticas e económicas, tornam essencial garantir a durabilidade do conjunto

(Aguiar, 2000; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). Os rebocos antigos são sistemas de multicamadas,

com camadas de regularização e protecção, constituídas por argamassas de cal e areia aos traços

volumétricos entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia, com adições minerais e orgânicas, tais como pó de

tijolo, pozolanas naturais, cal dolomítica, fibras naturais e adições diversas. Estas camadas foram

aplicadas em várias subcamadas, com granulometria decrescente bem como deformabilidade e

porosidade crescentes das camadas mais internas para as mais externas. As estratégias de

intervenção nos rebocos, perante a diversidade das suas características, devem assim incluir não só

o conhecimento dos rebocos existentes mediante diversas técnicas de diagnóstico disponíveis para

análise, como também a selecção da estratégia a adoptar tendo em conta o estado de conservação

do edifício, autenticidade histórica dos materiais existentes e disponibilidade de recursos para a

realização (Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2005a).

Os tipos de estratégias de intervenção podem ser sistematizados em conservação, reparação

localizada, consolidação e substituição parcial ou total, tal como é representado na figura 2.5.

1 Conservação

2

A primeira opção a considerar deve ser a conservação da argamassa original mediante operações

periódicas de manutençãoe reparação pontual.

Reparação localizadaNão se justificando esta opção, sendo inviável técnica ou economicamente, ou revelando-se

degradação superficial como frequentemente acontece, a reparação localizada com substituiçãoparcial em alguns paramentos ou zonas da parede com recurso a argamassas semelhantes ecompatíveiscom as antigas constitui a opção seguinte.

3 ConsolidaçãoNão sendo viável a conservação da argamassa original mediante operações de manutenção e

reparação pontual, e justificando-se por elevado valor histórico ou artístico do revestimento ou porraridade do material ou da técnica,pode optar-se por consolidaçãoda argamassaexistente.

4 Substituição parcial ou totalQuando não é possível conservar integralmente o reboco pela sua degradação ter atingido um nível

elevado, torna-se necessário substituí-lo, parcial ou totalmente, por um identicamente compatívelcom os elementos preexistentes com os quais irá interagir. Quando as anomalias são de severidadeelevada e houver valor reduzido do edifício e disponibilidade de meios insuficiente, pode então ser

preciso substituiro reboco impondo-se assimcomo última opção.

Figura 2.5 - Tipos de estratégias de intervenção (Veiga, 2003b; Veiga e Aguiar, 2003; Veiga et al., 2004)

2.2.5. Conservação / Manutenção

A manutenção trata da combinação de todas as acções técnicas e administrativas que permitem ao

edifício e seus elementos desempenharem, ao longo da sua vida útil, as funções para as quais foram

concebidos (Flores-Colen, 2006; Veiga, 2009). Segundo uma perspectiva simultaneamente histórica,

técnica e financeira, a manutenção pode ser entendida como uma atitude sustentável perante o

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património construído (Lobo de Carvalho, 2007). Sendo objectivo da conservação, se possível, a

preservação da identidade funcional, material e formal, não propriamente a continuação do

desempenho das mesmas funções, no caso de edifícios antigos o conceito tem que ser adaptado

nesse sentido (Veiga, 2009). Como apoio à decisão, é importante o enquadramento das exigências

aplicáveis e escalonamento das acções em função da prioridade assumida, como o estado de

degradação, efeito no funcionamento do edifício e implicações nos custos. A manutenção pró-activa,

periódica e atempada, constitui uma forma de controlar a degradação dos edifícios e impedir o

envelhecimento precoce dos seus elementos. O termo manutenção inclui actividades de inspecção,

manutenção e reparação nos elementos que tenham durabilidade inferior à vida útil do edifício, ou

seja, abrange as acções de manutenção preventiva e predictiva (Flores-Colen, 2009; Lobo de

Carvalho, 2007). Pelo facto de as inspecções serem realizadas durante a fase de utilização,

aumentam a capacidade de detectar a necessidade de intervenções, reduzem o número de

anomalias imprevistas e permitem o conhecimento do comportamento em serviço do reboco, da sua

vida útil expectável e de agentes de degradação prematura (Flores-Colen, 2009; Veiga, 2009).

Três fases principais caracterizam o comportamento em serviço de revestimentos de fachadas. A

primeira, inicial, inclui os primeiros anos após a construção e caracteriza-se pela eventual existência

de anomalias prematuras. A segunda, intermédia, apresenta um comportamento dependente dos

vários factores em serviço e da sua influência no envelhecimento natural dos rebocos aplicados. A

terceira, terminal, inclui os últimos anos do ciclo de vida nos quais existe uma maior probabilidade de

se atingir a rotura. Dado o contexto, no planeamento das acções em paredes rebocadas devem

incluir-se inspecções detalhadas nas fases iniciais e terminais bem como correntes ou detalhadas na

fase intermédia do ciclo de vida útil (Flores-Colen e Brito, 2012). Sem interferir com a funcionalidade

da própria parede, se forem feitas observações periódicas e trabalhos de conservação e limpeza

aumenta-se significativamente o tempo de vida útil da parede em geral e do revestimento em

particular. A aplicação da manutenção pró-activa a rebocos exteriores possibilita uma adequada

monitorização durante o tempo de vida útil, mediante determinadas acções principais (Appleton, 2011;

Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009).

Certos requisitos devem ser cumpridos na fachada e edifício de modo a manter os custos de

manutenção dentro de limites aceitáveis, tais como ser fácil de manter, haver acessibilidade para a

realização de acções periódicas de manutenção, ter elementos facilmente reparáveis ou substituíveis,

não podendo no entanto modificar o aspecto da superfície com efeitos indesejáveis como brilho ou

mudança de tonalidade. Quatro princípios de base podem subdividir as acções de manutenção em

fachadas rebocadas, sendo eles a monitorização do comportamento através de inspecções, a

alteração da superfície com limpezas e repinturas, a resistência mecânica e físico-química do reboco

através de reparações ou substituições pontuais e, por fim, a protecção a certos agentes sobretudo à

acção da água como a aplicação de hidrófugo por exemplo (Flores-Colen, 2009). No diagnóstico em

serviço a opção de reparação ou substituição do reboco aplicado deve ser equacionada, pelo que a

segurança e balanço entre custos e considerações práticas influencia a decisão final (Flores-Colen,

2009). Considera-se que um plano de inspecção e manutenção programada deve fazer parte do

próprio projecto, na estratégia a implementar como resultado desta dissertação.

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2.3. Metodologias existentes de apoio à reabilitação de edifícios antigos

O conhecimento do estado de degradação dos objectos em estudo está na base dos instrumentos de

apoio à reabilitação de edifícios, quer sejam de carácter estatístico, legislativo ou de investigação.

Inevitavelmente, ocorre o processo natural de degradação dos edifícios, pelo que os mecanismos de

deterioração são consequência da interacção de duas variáveis, o edifício como objecto físico e o

ambiente como fonte de agentes de degradação (Barrelas, 2012; Rodrigues et al., 2011). Anomalias

construtivas são as que constituem defeitos ou insuficiências que afectam o desempenho em serviço

do edifício face aos requisitos a que deve obedecer. A sua manifestação é consequência do processo

de envelhecimento, contudo um conjunto de factores influencia o seu desenvolvimento, como a

qualidade da construção, condições atmosféricas e falta de manutenção.

Para a aferição da necessidade de reabilitação e forma de intervenção é essencial o conhecimento

sobre o estado de degradação de edifícios, sendo que os procedimentos decorrentes entre inspecção

e reabilitação se desenvolvem em diversas etapas, incluindo a realização de ensaios com vista à

avaliação crítica de materiais, componentes da construção e anomalias nos elementos construtivos e

equipamentos bem como avaliação da sua gravidade. A sistematização desta análise possibilita a

definição do estado de conservação do conjunto dos elementos afectados ou da globalidade do

edifício e a verificação do nível de afectação das condições de utilização e habitabilidade (Barrelas,

2012; Vilhena, 2011). Dependendo do tipo e quantidade de edifícios em análise bem como da

objectividade dos métodos utilizados, pode tornar-se complexa a tarefa de gestão de dados

resultantes daqueles procedimentos. A concepção e a utilização de instrumentos informáticos na

investigação de desenvolvimentos patológicos facilitam os processos analíticos, possibilitam uma

melhor leitura e cruzamento dos parâmetros de avaliação e podem contribuir para o aumento da sua

eficácia. Consistindo num meio auxiliar do trabalho do inspector, não só viabilizam o armazenamento

de dados e facilitam a sua consulta e manipulação, como também reduzem a subjectividade das

decisões normalizando os procedimentos e permitem a aplicação de conhecimentos adquiridos a

casos semelhantes (Silvestre, 2005; Watt, 1999).

A reflexão sobre o ciclo completo das intervenções de conservação e reabilitação é relevante para a

compreensão da importância dos métodos de diagnóstico. Uma intervenção de reabilitação dá-se em

diversas fases, desde a detecção da necessidade de intervenção até à manutenção e monitorização

da construção no período após intervenção, pelo que o fluxograma da figura 2.5 o representa. Dada a

complexidade da caracterização de um edifício antigo com vista a avaliar o seu estado actual e prever

o seu comportamento futuro são requeridos intervenientes experientes, conhecedores da metodologia

de análise histórica e conservativa, estudos esses que devem ser combinados mediante o recurso às

ferramentas modernas de análise. O processo de reabilitação inclui certas fases em que podem ser

utilizados métodos não destrutivos de inspecção e ensaio, tanto na preparação de uma intervenção

como durante e após esta, sendo a tabela 2.1 representativa daquelas (Cóias, 2007).

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Figura 2.6 - Fases de uma intervenção de reabilitação na construção (fonte: Cóias, 2007)

Tabela 2.1 - Fases da intervenção de reabilitação em que os métodos de inspecção e ensaio são aplicáveis (fonte: Cóias, 2007)

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A Metodologia de Certificação das Condições Mínimas de Habitabilidade (MCH), desenvolvida no

LNEC, enquadra-se na proposta de revisão do Regime de Arrendamento Urbano planeada pelo XV

Governo Constitucional em 2003. Quando o Governo seguinte iniciou as suas funções em 2004, a

interrupção do estudo foi solicitada pelo Instituto Nacional de Habitação (actual Instituto da Habitação

e da Reabilitação Urbana - IHRU). O preenchimento de um documento tipo apoia a inspecção

realizada para a avaliação do imóvel, estando esta baseada no cumprimento ou não cumprimento de

requisitos referentes às anomalias em elementos construtivos e instalações técnicas, com vista às

exigências mínimas de segurança e saúde para moradores e público (figura 2.6) (Pedro et al., 2006).

Figura 2.7 - Excerto de ficha de verificação para a Certificação das Condições Mínimas de Habitabilidade (fonte: Pedro et al., 2006)

Na sequência da experiência acumulada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre

métodos de avaliação e em colaboração com o IHRU, em 2007 potencia-se o desenvolvimento do

projecto governamental “Bairros Críticos” visando a qualificação e reinserção urbana de bairros

problemáticos. O objectivo do Método de Avaliação das Necessidades de Reabilitação (MANR)

consiste na análise das condições de habitabilidade dos edifícios integrados no Bairro do Alto da

Cova da Moura com vista à sua reabilitação. Dada a especificidade do estudo, impõe-se a concepção

de uma nova ficha de avaliação com base nos modelos anteriores, incluindo a caracterização

construtiva dos edifícios e a avaliação tanto da gravidade das anomalias detectadas como da

complexidade e extensão da intervenção (Vilhena, 2011).

Uma metodologia existente para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação

assenta num sistema de base de dados em que é introduzida informação disponível relativamente a

anomalias, causas, estado de degradação de elementos construtivos e recomendações de actuação

(Leitão e Almeida, 2004). Mediante análise exaustiva das variáveis e estabelecimento de ligações

entre os dados registados nas várias bases de dados específicas, obtêm-se listagens de soluções de

intervenção, contribuindo como orientação do trabalho dos intervenientes em processos de

reabilitação, conforme representado no organograma da figura 2.7 (Barrelas, 2012).

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Figura 2.8 - Metodologia para a implementação de checklists em intervenções de reabilitação (fonte: Barrelas, 2012)

Uma plataforma multimédia designada por Buildings Life foi desenvolvida no âmbito de uma tese de

doutoramento no Instituto Superior Técnico (Paulo, 2009) em parceria com outras entidades e

consiste num sistema para o registo e organização da informação sobre a degradação de elementos

construtivos. Deste modo possibilita-se a introdução de dados gerais relativos a cada edifício em

análise, tais como características técnicas e construtivas, orientação solar das fachadas e peças

gráficas, bem como se viabiliza o registo de informação reunida em inspecções, tais como

quantificação e localização de anomalias, intervenções prévias, condições climatéricas e poluentes. A

figura 2.8 é representativa desta relação de conteúdos do sistema, o qual tem como objectivos

essenciais a classificação do estado de degradação dos elementos construtivos, a previsão da

probabilidade da sua deterioração ao longo da vida útil do edifício e o auxílio das entidades

intervenientes no processo de reabilitação relativamente à decisão de como e quando intervir, com

vista à durabilidade (Barrelas, 2012; Paulo et al., 2006).

Figura 2.9 - Relação entre os vários conteúdos do sistema Buildings Life (fonte: Barrelas, 2012)

O Grupo de Estudos da Patologia da Construção (PATORREB) com a participação de várias

universidades portuguesas criou um sistema que consiste num catálogo de fichas de anomalias. Em

função do elemento construtivo com a manifestação do problema, as fichas agrupam-se nesse

sentido e incluem identificação e descrição da anomalia, métodos de diagnóstico, causas e soluções

de reparação (Freitas et al., 2007).

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À semelhança do contexto português, alguns estudos desenvolvidos a nível do contexto internacional

consideram a avaliação do estado de degradação de edifícios e constituem instrumentos de apoio à

reabilitação.

O método apresentado no “Guide Socotec de la Maintenance et de la Réhabilitation” baseia-se na

determinação do nível de deterioração específico dos diversos componentes do edifício, conforme a

análise das deficiências que manifestam. A sua classificação varia numa escala de 0 (deficiência

máxima) a 20 (estado novo do componente), determinando o grau de degradação actual do elemento

e comparando-o com o seu estado novo, bem como a tomada de decisão quanto ao tipo de

intervenção a promover (Rodrigues, 2008).

Outro exemplo, este já no México, é o sistema para inventário e avaliação de edifícios habitacionais e

arruamentos (SIEV), desenvolvido para ser implementado em diversas das suas cidades e com base

na criação de uma base de dados informatizada. O sistema tem como objectivo possibilitar o

armazenamento da informação alcançada ao longo do tempo relativa a anomalias e respectiva

gravidade, causas e processo de deterioração, visando deste modo obter resultados que contribuam

para a optimização das acções de manutenção e reabilitação (Farrera et al., 2009).

Apoiada pela Comissão Europeia, a iniciativa “Sustainable Refurbishment Europe” (SUREURO)

considera a optimização de gastos energéticos e qualidade ambiental, bem como prevê deste modo a

concepção de metodologias e instrumentos para a gestão da reabilitação sustentável de edifícios e

zonas residenciais construídas após a II Guerra Mundial. Durante um período experimental, entre

1999 e 2004, a iniciativa foi implementada em vários países europeus (Dinamarca, França, Inglaterra,

Alemanha, Suécia, Finlândia, Holanda, Itália e República Checa). Incluindo checklists e bases de

dados sobretudo relativas a soluções técnicas, os instrumentos desenvolvidos com a iniciativa têm

por fim facilitar o processo de diagnóstico e o projecto de reabilitação (Dekker, 2004).

As técnicas a utilizar numa análise dependem das questões em cada caso e da disponibilidade de

cada laboratório quanto a equipamentos, conhecimentos de base e pessoal treinado (Veiga, 2009).

Um método para aferição do nível de degradação de um elemento construtivo foi desenvolvido no

âmbito de uma tese de doutoramento no Instituto Superior Técnico (Gaspar, 2009) para a avaliação

de rebocos exteriores em fachadas e com base na identificação e classificação de anomalias

conforme a sua severidade e na determinação de padrões de deterioração ao longo da vida útil do

revestimento. Para cada caso de estudo, regista-se numa ficha de levantamento individual a

informação reunida em trabalho de campo, sendo que o grau de deterioração das anomalias é

classificado segundo uma escala de cinco níveis, definidos na tabela 2.2 (Barrelas, 2012; Gaspar e

Brito, 2005). Produzindo-se gráficos probabilísticos que expressam o comportamento expectável do

revestimento, o estudo tem como objectivo constituir uma base técnica fundamentada de modo a

apoiar o processo projectual e contribuir para o aumento da durabilidade.

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Tabela 2.2 - Níveis de degradação para rebocos exteriores (fonte: Barrelas, 2012)

No âmbito dos revestimentos antigos, uma metodologia é proposta por Palomo et al. (2004). Numa

primeira fase é baseada na análise visual, microscopia óptica, identificação do agregado e estudo do

ligante. Numa segunda fase, segue uma metodologia que permite distinguir a cal aérea sem

pozolanas, ou seja uma matriz carbonatada sem indicadores de pozolanas, a cal aérea com

pozolanas, ou seja com fases mineralógicas típicas dos tufos vulcânicos que as constituem, e os

ligantes hidráulicos designadamente a cal hidráulica ou o cimento (Veiga, 2009).

A metodologia de trabalho que tem sido particularmente desenvolvida no LNEC para revestimentos

com base em cal inclui fundamentalmente: técnicas de análise química, por via húmida, cromatografia

iónica e espectrofotometria de absorção atómica; análise mineralógica por difractometria de raios X

(DRX); análise térmica por termogravimetria e análise térmica diferencial (TG-ATD); análise

microestrutural em microscopia óptica (lupa binocular) e microscopia electrónica de varrimento (MEV)

complementada com a microanálise de raios X por dispersão em energias (EDS); e pesquisa de

compostos orgânicos por espectrofotometria de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)

(Veiga et al., 2004). Uma representação esquemática desta metodologia está patente na figura 2.9.

Figura 2.10 - Metodologia de caracterização de argamassas antigas seguida no LNEC (fonte: Veiga et al., 2004)

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Baseada nas técnicas disponíveis, foi desenvolvida no LNEC uma metodologia própria que tem sido

complementada e actualizada, salientando-se o trabalho do investigador Santos Silva. A figura 2.10

apresenta um esquema da respectiva metodologia para determinação da composição de argamassas

antigas (Santos Silva, 2002). Os estudos realizados com as metodologias que têm sido difundidas e

complementadas, no LNEC e por vezes com colaboração de outros núcleos de investigação como

certas universidades, sobre argamassas de diversos períodos da História até início do século XX,

mostram os mesmos tipos de argamassas que na Europa em geral e encontram-se a par dos

avanços internacionais (Veiga, 2009). Resultado de estudos e trabalhos de investigação realizados e

baseado nas técnicas estudadas na área, o fluxograma da figura 2.11 representa uma metodologia

geral que pode ser considerada para diagnóstico de revestimentos de edifícios antigos.

Figura 2.11 - Metodologia para determinação da composição de argamassas antigas empregue no LNEC (fonte: Santos Silva, 2002)

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Figura 2.12 - Metodologia de diagnóstico geral para revestimentos antigos (fonte: Veiga, 2009)

2.4. Síntese do capítulo

Como síntese dos conhecimentos abordados neste capítulo, determinados aspectos são de referir. A

conservação e reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos é uma temática cada

vez mais relevante no contexto actual da reabilitação de edifícios. No grupo de edifícios antigos inclui-

se o património monumental, o património edificado classificado e o património edificado corrente,

com materiais e tecnologias tradicionais.

Apesar da sua grande diversidade técnica e formal, os revestimentos que protegeram as paredes ao

longo do tempo, essencialmente baseados em rebocos de argamassas, tinham aspectos importantes

em comum e funções bem definidas que presentemente lhes conferem grande relevância na

conservação dos edifícios antigos. A reabilitação de edifícios pode ser entendida como acções de

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intervenção necessárias às suas adequadas condições de segurança, funcionalidade e conforto, com

respeito pela sua arquitectura, tipologia e sistema construtivo. Grande parte da degradação dos

edifícios antigos não resulta de fraca qualidade construtiva ou dos materiais utilizados mas advém do

abandono e falta de manutenção adequada.

Antes da intervenção em edifícios antigos, um diagnóstico deve ser realizado justificando assim a sua

necessidade e dimensão. Num projecto de reabilitação são essenciais o conhecimento e o respeito

pelo objecto da intervenção, pela sua história e técnicas construtivas originais utilizadas na sua

concepção, devendo ter influência na decisão dos procedimentos e técnicas a adoptar. Enquadrados

nas orientações contidas nas cartas e convenções internacionais, certos critérios devem ser seguidos

na salvaguarda de um edifício, como a eficácia, compatibilidade, durabilidade, reversibilidade e

também eficiência. Em função do processo de tomada de decisão na generalidade das intervenções,

deve equacionar-se uma abordagem faseada da informação a obter.

A reabilitação de edifícios pressupõe, em geral, a resolução das anomalias construtivas e a melhoria

do desempenho local ou geral do edifício. Pelo facto de o estudo de diagnóstico ser complexo e

resultar da combinação de diversos factores de análise, deve ser realizado por uma equipa

multidisciplinar com qualificação e experiência a nível da patologia e reabilitação de edifícios. Uma

metodologia que garanta a qualidade e o correcto desenvolvimento de uma intervenção de

reabilitação sobretudo de edifícios antigos deve, assim, englobar as fases de análise e diagnóstico,

projecto e execução da obra.

Para tomar correctamente uma decisão sobre o tipo de intervenção a realizar, é da maior importância

a caracterização correcta do estado de conservação e do tipo e gravidade da degradação provocada.

As anomalias principais mais correntes nos rebocos tradicionais, multicamadas, consistem

geralmente em fendilhação, perda de aderência, eflorescências, colonização biológica, manchas de

humidade e sujidade.

A manutenção trata da combinação das acções que permitem ao edifício e seus elementos

desempenharem, ao longo da sua vida útil, as funções para as quais foram concebidos, pelo que um

plano de inspecção e manutenção programada deve fazer parte do próprio projecto.

O conhecimento do estado de degradação dos objectos em estudo está na base dos instrumentos de

apoio à reabilitação de edifícios. Existem determinadas metodologias de apoio à reabilitação de

edifícios antigos, sobretudo ao nível da avaliação das anomalias e mecanismos de degradação. Uma

intervenção de reabilitação dá-se em diversas fases, desde a detecção da necessidade de

intervenção até à manutenção e monitorização da construção no período após intervenção.

Particularmente ao nível dos revestimentos, existem metodologias de caracterização de argamassas

antigas e para diagnóstico de revestimentos de edifícios antigos.

Após ter sido genericamente abordada neste capítulo a conservação e reabilitação de edifícios

antigos e particularmente no que respeita aos revestimentos de paredes, respectivo diagnóstico e

definição da intervenção, no capítulo seguinte aborda-se construtivamente o revestimento, suporte e

envolvente de paredes antigas.

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27

3. Caracterização construtiva de paredes e revestimentos de edifícios antigos

3.1. Paredes antigas de suporte

3.1.1. Considerações iniciais

Após ter sido abordada genericamente no capítulo anterior a conservação e reabilitação dos edifícios

antigos e nomeadamente dos seus revestimentos de paredes, é fundamental estudar-se agora com

mais detalhe o revestimento e o suporte. Aborda-se, assim, a caracterização de paredes antigas

inicialmente ao nível do suporte em alvenaria de pedra, seguidamente das argamassas de

revestimento tradicionais e, por fim, das argamassas de substituição. Estudam-se as exigências

funcionais e parâmetros de desempenho aplicáveis aos revestimentos, e particularmente a

compatibilidade entre materiais. Apresenta-se, ainda, a documentação a nível internacional e nacional.

A protecção e a salvaguarda do património estão consideradas e enquadradas na Constituição da

República Portuguesa. Quer os edifícios antigos sejam monumentos, edifícios classificados ou

simplesmente edifícios correntes que contribuem para manter o carácter de um centro urbano ou

bairro histórico, a sua conservação e reparação exige uma grande diversidade de conhecimentos,

desde a ética da conservação às estruturas e materiais bem como aos vários mecanismos de

degradação de diversas origens, tratando-se de uma temática verdadeiramente multidisciplinar

(Freitas, 2012; Veiga, 2009). Nesse sentido, a conservação e reparação dos revestimentos de

paredes e a manutenção do seu desempenho e do seu aspecto são decisivas para a conservação do

património construído. Às paredes, que sofreram uma mudança significativa depois do advento e

adopção da estrutura de betão armado, foram retiradas funções resistentes que tinham anteriormente,

pelo que esta diferença de funções e a evolução dos materiais e soluções implicaram alterações na

concepção e constituição dos revestimentos e nos modelos de conservação a adoptar (Veiga, 2009).

3.1.2. Alvenaria de pedra

A construção antiga tradicional engloba um conjunto de procedimentos relativos a certas formas de

manuseamento de determinados materiais resultando em técnicas e sistemas de construção de

edifícios até às primeiras décadas do século XX, sendo que a partir deste período vão sendo

lentamente incorporados novos materiais e conhecimentos científicos. Abordada de forma mais

específica, este tipo de construção materializa-se nas diversas formas correspondentes aos contextos

geográficos e socioculturais, épocas e estilos (Freitas, 2012).

Uma parede resistente é entendida como o elemento vertical contínuo cuja constituição fá-la

apresentar capacidade de desempenho de funções estruturais, resistindo portanto a acções aplicadas.

Particularmente a nível de elementos de alvenaria de pedra, em geral estas estruturas apresentam

uma boa capacidade resistente sobretudo a acções de compressão e, quando em conjunto com

outros elementos, também a acções horizontais. Muitas vezes, as paredes resistentes principais,

entendidas como aquelas que recebem o vigamento de madeira dos pisos, correspondem a paredes

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laterais ou a paredes meeiras dos edifícios, pelo que as paredes de fachada funcionam como

elementos de travamento transversal e de apoio à cobertura (Appleton, 2011; Freitas, 2012). Para

além destas características gerais identificativas, diferentes tipos de paredes resistentes são definidos

em função do material e da sua estrutura interna, apresentando assim propriedades específicas.

Ao longo dos tempos, a pedra natural foi um dos principais materiais constituintes das construções

executadas pelo homem (figura 3.1) (Pinto et al., 2006; Nero, 2001c, 2001d). Actualmente, as novas

construções em alvenaria de pedra, à vista ou revestida, são raras devido não só à escassez e

elevado custo da pedra natural mas também à falta de mão-de-obra especializada neste tipo de

construção que remonta aos primórdios da história do ser humano.

Figura 3.1 - Pedreira em Alpalhão (fonte: Pinto et al., 2006)

No contexto das construções em alvenaria de pedra, importa esclarecer o próprio significado do

termo alvenaria, sendo esta uma palavra de origem árabe que significa o trabalho feito pelo pedreiro

ou alvanel como era designado antigamente (Branco, 1981). A alvenaria constitui-se por elementos

de pequenas dimensões entre os quais as pedras naturais ou artificiais, sobrepostos e arrumados,

ligados ou não por argamassa, pretendendo-se desta forma garantir à construção alguma resistência

a esforços de compressão. A designação alvenaria de pedra argamassada, tradicional/vernacular,

refere-se a paredes constituídas por pedras irregulares em forma e dimensão, sem faces aparelhadas

e ligadas por argamassa ordinária (Cóias, 2007; Freitas, 2012). Elevada espessura e diversidade de

materiais de constituição consistem em aspectos comuns das paredes resistentes em alvenaria de

pedra, gerando deste modo elementos rígidos e muito pesados com determinadas características

mecânicas importantes.

3.1.3. Funções da parede e contributo do revestimento

As paredes exteriores dos edifícios apresentaram uma grande variabilidade no tempo e no espaço,

nomeadamente na sua forma e constituição (Veiga, 2003b). Contudo, pelo menos a nível europeu

podem considerar-se importantes características comuns desde a antiguidade até ao advento do

betão armado em meados do século XX. Disso é exemplo o facto de que acumulavam a função

resistente com função de vedação e protecção face aos agentes climáticos, contaminação ambiental

e acções externas como choques mecânicos; os materiais constituintes eram mais porosos e

deformáveis que os usados actualmente (Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002). Anteriormente ao

advento do betão armado e à era dos polímeros, as paredes antigas eram constituídas por materiais

com porosidade muito maior e resistências mecânicas inferiores. Conseguiam-se as funções

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estrutural e de protecção à água nas paredes exteriores com espessuras elevadas, diversas camadas,

compatibilidade dos constituintes e conjugação das suas características e funções complementares,

fazendo as argamassas parte desse conjunto (Appleton, 2011; Veiga, 2005a). Muitas delas,

fundamentalmente constituídas por cal aérea e areia, mantiveram-se em óptimas condições de

conservação e com capacidade eficaz de desempenho das suas funções até à actualidade (Veiga,

2005a). Sendo que, em geral, as paredes antigas têm funções estruturais, é importante o facto de os

rebocos poderem reforçar significativamente a resistência mecânica de alvenarias fracas. No entanto,

os revestimentos são também dos elementos mais sujeitos à degradação pela grande exposição a

acções potencialmente destrutivas (Santos Silva e Reis, 1999; Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004).

3.2. Argamassas de revestimento tradicionais/vernaculares

3.2.1. Considerações iniciais

Os revestimentos de paredes de ligante mineral, habitualmente designados de forma simplificada por

rebocos, são de utilização muito antiga nomeadamente na Europa em geral e a sua qualidade é um

factor determinante para a salubridade, conforto, durabilidade e aspecto estético dos edifícios (Veiga,

1998). Durante séculos têm cumprido funções de regularização das alvenarias e impermeabilização

das fachadas de modo a contribuírem significativamente para a estanqueidade global da parede

exterior em lugar de constituírem revestimentos de estanqueidade por si sós. Também têm tido

funções de protecção das paredes contra acções externas e de acabamento e suporte de decoração,

adaptando-se continuamente à evolução da tecnologia e das correntes arquitectónicas e estéticas

bem como à mão-de-obra existente (Appleton, 2011; Flores-Colen e Brito, 2012; Veiga, 1998). No

passado, em Portugal, a evolução da utilização das argamassas e a sua investigação esteve muito

condicionada pelo que se passava em França. Em Portugal são conhecidos rebocos com centenas

ou milhares de anos, em boas condições de conservação e com capacidade funcional.

Com efeito, os revestimentos de ligante mineral, de modo a cumprirem as funções que lhes estão

destinadas no edifício, devem verificar determinadas exigências funcionais. Pela natureza e

comportamento geral das paredes antigas, muito distintas das actuais, os rebocos a aplicar em

paredes de edifícios antigos apresentam funções específicas (Veiga, 2005a). Adaptados a estas, têm

vindo a ser estabelecidos requisitos para garantir a compatibilidade com elementos preexistentes e,

assim, contribuir para o bom desempenho global e durabilidade do edifício. Sob pena de contribuírem

para a sua degradação, as argamassas a usar em paredes antigas devem ter características que

assegurem aqueles requisitos (Aguiar, 2000; Veiga, 2005b; Veiga et al., 2001).

3.2.2. Argamassas

Podem identificar-se funções bem definidas e importantes aspectos em comum nos revestimentos

que protegeram as paredes exteriores ao longo do tempo, muito diversificados técnica e formalmente.

Um correcto planeamento da intervenção nos revestimentos de um edifício exige um conhecimento

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detalhado da sua constituição, nomeadamente da geometria e cronologia das diversas camadas e da

composição de cada uma (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Genericamente, os revestimentos

exteriores de paredes antigas são constituídos por camadas de argamassas de cal aérea e areia e

são acabados com barramentos ou com pinturas de cal. Os revestimentos interiores apresentam uma

composição semelhante mas muitas vezes contêm camada à base de gesso. Quanto à composição

das argamassas antigas, estas são materiais compósitos complexos com uma enorme variedade de

constituintes orgânicos e inorgânicos; durante toda a sua vida útil, continuam a interagir entre si e

com o meio ambiente (Appleton, 2011; Veiga, 2006).

As camadas essenciais dos revestimentos, com funções distintas, eram as camadas de regularização

e protecção como emboço, reboco propriamente dito e esboço, bem como as camadas de protecção,

acabamento e decoração como barramento ou guarnecimento e pintura geralmente mineral, simples

ou de ornamentação. Por forma a facilitar a aderência dos materiais, os paramentos a revestir eram

deixados com superfície grosseira (figura 3.2). A composição do reboco variava com os materiais de

suporte e as diversas camadas eram executadas com diferentes traços e composições conforme as

características do suporte, a natureza dos materiais usados e o fim a que se destinavam (Appleton,

2011; Veiga, 2009). Cada camada principal subdividia-se em várias subcamadas, pelo que uma

capacidade de protecção melhor e durabilidade superior eram possibilitadas por camadas finas em

maior número para a mesma espessura total, sem afectar a importante propriedade de

permeabilidade ao vapor de água das argamassas antigas (Veiga, 2003b).

Figura 3.2 - Camada intermédia de reboco picada para aderência da seguinte (fonte: Veiga, 2009)

Procurava-se fabricar argamassas com características que as tornassem adequadas à base, pelo que

se salientam a baixa retracção, relativamente fraca resistência mecânica, elevada porosidade, boa

aderência à base e boa trabalhabilidade. Apesar de definidos empiricamente, os traços ou relações

volumétricas de cal:areia a usar nas argamassas de revestimento baseavam-se no princípio de

máxima compacidade, ou seja, pretendia-se que a quantidade de cal adicionada preenchesse o mais

possível os vazios dos grãos de areia. Como tal, o traço dependia da granulometria e da forma dos

grãos da areia usada (e do seu índice de vazios) e, ainda, da própria finura da cal (Appleton, 2011;

Veiga, 2009). Quanto aos rebocos originais, para além de execução cuidada e aplicação regrada,

tinham grande durabilidade e resistência, como o comprova o bom estado de conservação dos que

resistiram aos tempos. Tanto as texturas e cores características, materiais seleccionados e tecnologia

usada, como o bom funcionamento global das paredes proporcionado pela compatibilidade de

materiais e soluções construtivas, merecem preservação (figura 3.3) (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b).

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Figura 3.3 - Textura de um reboco tradicional caiado (fonte: Veiga et al., 2004)

O termo argamassa corresponde à mistura de um ou mais ligantes orgânicos ou inorgânicos,

agregados, cargas, adições e/ou adjuvantes, incluindo a adição de água. Consistindo em materiais

que intervêm na reacção de endurecimento da argamassa, os ligantes devem ser seleccionados e

doseados para minimizar a retracção e módulo de elasticidade do revestimento. Fundamentalmente

de natureza inorgânica, os ligantes utilizados em argamassas de revestimento são os ligantes aéreos

como cal aérea e gesso, ligantes hidráulicos como cal hidráulica, cimento e escória de alto-forno, bem

como outras adições como terras argilosas, pozolanas naturais e cinzas volantes (Nero, 2001a).

Neste último grupo integram-se materiais que não apresentam função ligante por si só, necessitando

da adição de outros componentes que reagem em presença da água e lhes propiciam tal propriedade

(Nero, 2001b). Enquanto um ligante apresenta comportamento hidráulico quando, após ter atingido

estágio de endurecimento, não o perde em contacto permanente com a água, por outro lado aquele

apresenta comportamento aéreo quando só atinge certo grau de endurecimento por contacto com o

dióxido de carbono do ar.

Os principais tipos de ligante utilizados actualmente nas argamassas dos rebocos são os cimentos

geralmente Portland composto (CEII) constituído por clínquer e cinzas volantes, escórias ou

pozolanas, as cais aéreas hidratadas e as cais com propriedades hidráulicas (em conformidade com

a NP EN 459:2011-Cal de construção-Parte 1: Definições, especificações e critérios de conformidade),

ambas usadas como ligantes em complemento do cimento (Faria Rodrigues, 1993; Flores-Colen,

2009). As argamassas dos rebocos tradicionais, para além dos ligantes constituem-se por outros

materiais como agregados (em conformidade com a NP EN 13139:2005), uso relativamente baixo de

adjuvantes exceptuando os hidrófugos, algum uso de adições, bem como ainda água sem impurezas.

Os agregados consistem em materiais granulares que geralmente não intervêm na reacção de

endurecimento da argamassa, são geralmente areias. Com o objectivo de modificar as propriedades

da argamassa fresca ou endurecida, os adjuvantes consistem em materiais orgânicos ou inorgânicos

adicionados em pequenas quantidades, sendo que a maior parte pode desempenhar várias funções

simultâneas pelo que é essencial haver um compromisso entre os diferentes adjuvantes a utilizar e

não devem prejudicar a resistência e durabilidade do reboco, a sua colocação e endurecimento (EN

13914-1:2005). Para as argamassas de revestimento destacam-se os promotores de aderência,

hidrófugos de massa, introdutores de ar, plastificantes, retentores de água e fungicidas. Materiais

inorgânicos finamente divididos, as adições podem ser utilizadas na mistura para obter ou melhorar

as propriedades específicas, sendo que para as argamassas de revestimento se salientam pigmentos,

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fibras, cargas leves, pozolanas naturais e artificiais (Faria Rodrigues, 1993; Veiga, 1998). Na

amassadura, a água a utilizar deve ser potável e não conter impurezas acima de certo limite, sendo

entendidas como materiais em suspensão, sais dissolvidos e matéria orgânica.

De acordo com a sua aplicação, as argamassas de construção dividem-se em argamassas de

assentamento de alvenaria, argamassas de revestimento, cimentos-cola, argamassas de juntas e,

ainda, argamassas de regularização de pavimentos. O presente trabalho aborda as argamassas de

revestimento, correntemente designadas por rebocos. As argamassas de revestimento constituem-se

pela mistura de um ou mais ligantes, agregados, eventualmente adições e/ou adjuvantes, para

revestimento de paredes exteriores ou interiores, podendo ser minerais ou orgânicas consoante a

natureza do ligante e sendo possível o revestimento com cerâmico ou tintas bem como uma

variedade de acabamentos. A classificação é possível ser diferenciada segundo a sua função, o tipo

de ligante, as propriedades e/ou utilização e, por fim, o local de produção (Flores-Colen e Brito, 2012).

Para argamassas de revestimento, a classificação correntemente utilizada em Portugal e adoptada

pelo LNEC incide sobre as suas funções essenciais, sendo que para revestimentos exteriores se

divide nas categorias de revestimentos de estanqueidade, revestimentos de impermeabilização,

revestimentos de isolamento térmico e, por fim, revestimentos de acabamento (Flores-Colen e Brito,

2012; Veiga,1998). Conforme esta classificação funcional, os rebocos tradicionais enquadram-se nos

revestimentos de impermeabilização. Por outro lado, para revestimentos interiores a classificação

reúne as categorias de revestimentos de regularização, revestimentos de acabamento, revestimentos

resistentes à água e revestimentos decorativos. Os rebocos tradicionais interiores classificam-se

como revestimentos de regularização por propiciarem sobretudo planeza, verticalidade e regularidade

superficial, em conformidade com a própria definição deste tipo (Flores-Colen e Brito, 2012). Dado o

facto de poderem ser usados diversos tipos de ligantes na produção de argamassas, estas são

também classificadas segundo o tipo de ligante, pelo que importa salientar as argamassas de cal

aérea, com elevada deformação na rotura, baixa retracção, estrutura friável, endurecimento muito

lento e grande utilização em construção antiga e, idealmente, em obras de reabilitação (Flores-Colen

e Brito, 2012). Constituem o objecto de estudo do presente trabalho.

Certos documentos normativos europeus utilizam classificações que incluem também notações

associadas a revestimentos distintos segundo as suas propriedades e utilização, em função do fim a

que se destinam. Por exemplo, a NP EN 998-1:2013 (Especificação de argamassas para alvenarias -

Parte1: Argamassas para rebocos interiores e exteriores) distingue argamassas de uso geral, leves,

coloridas, monocamadas, de isolamento térmico ou de renovação. Segundo o local de produção, a

classificação divide-as em argamassas industriais, argamassas industriais semi-acabadas e

argamassas feitas em obra ou tradicionais, sendo que as últimas têm constituintes primários,

doseados, misturados em obra.

Os rebocos tradicionais, entendidos como argamassas doseadas em obra e executadas com

aplicação geralmente manual e de acordo com procedimentos convencionais, devem ser aplicados

em duas ou três camadas, consoante a severidade das condições de exposição, conforme

recomendações técnicas e com funções distintas (Flores-Colen e Brito, 2012). A necessidade de

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execução destes revestimentos com mais que uma única camada advém não só de não serem

completamente conseguidas as características exigidas apenas com uma, de boa trabalhabilidade,

boa aderência ao suporte, boa compacidade e baixa tendência para a fendilhação por retracção,

como também advém da necessidade de existir um revestimento espesso para constituir barreira

eficaz contra a penetração da água. A descontinuidade existente em cada camada possibilita, ainda,

que uma eventual fissuração existente numa delas não ocorra na seguinte (Faria Rodrigues, 1993;

Flores-Colen e Brito, 2012). Conforme a EN 13914-1:2005 (Design, preparation and application of

external rendering and internal plastering - External rendering), pelo menos duas camadas devem

compor os rebocos e as camadas sucessivas devem ser mais fracas do que as anteriores. O número

de camadas depende do tipo de suporte, condições mais ou menos severas de exposição às

intempéries, grau de protecção requerido pelas paredes e tipo de acabamento pretendido. Em

fachadas correntes, as camadas constituintes dos rebocos tradicionais são o crespido, camada de

regularização, camada de acabamento e acabamento propriamente dito (Flores-Colen e Brito, 2012).

Recomendações técnicas ao nível dos materiais e procedimentos de execução estão patentes na

norma europeia EN 13914-1:2005 referida, que se aplica às argamassas de revestimento exterior,

tradicionais e industriais, diferenciando-se toda a tecnologia de fabrico e de aplicação. Nos rebocos

tradicionais, objecto deste trabalho, o fabrico é em obra, sendo doseados conforme prescrição dos

traços e recorrendo a maior parte das vezes a métodos empíricos para as quantidades dos materiais.

A preparação ou amassadura é realizada em obra, com preparação manual, betoneira ou misturador,

sendo que a amassadura mecânica melhora a homogeneidade da mistura e reduz a quantidade de

água (figura 3.4). A aplicação pode ser manual ou mecânica, com três camadas, respeitando a regra

da degressividade do teor de ligante para que as tensões transmitidas durante a retracção não

tendam a fendilhar a camada inferior e para que a susceptibilidade à fendilhação reduza cada vez

mais. Durante a aplicação, cada camada deve ser bem apertada para melhorar a sua compacidade e

os tempos de espera devem ser os suficientes para que a secagem se possa processar e a maior

parte da retracção se possa dar (Flores-Colen, 2009). Na fase da aplicação propriamente dita,

subsequente à preparação, nos rebocos tradicionais a sequência das operações inclui a aplicação do

crespido, execução de pontos e mestras, aplicação da camada de base, aplicação da camada de

acabamento e aplicação de revestimento final por pintura.

Figura 3.4 - Argamassa de cal bastante consistente pronta a aplicar (fonte: Veiga et al., 2004)

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Relativamente a tipos de acabamentos, em conformidade com a EN 13914-1:2005, os acabamentos

texturados são preferíveis aos lisos. Os acabamentos muito lisos têm grande susceptibilidade ao

aparecimento de linhas de escorrência de água e desenvolvimento de fendilhação, pelo que durante

a execução se torna difícil garantir a obtenção de aspecto final uniforme (Faria Rodrigues, 1993). Já

os acabamentos rugosos têm maior susceptibilidade de fixação de sujidade contudo resistem a

estabelecerem-se caminhos preferenciais de escorrência de água nas paredes e são menos

deterioráveis face a acções de choque e atrito. A cor natural do reboco depende em grande medida

do tipo de cal, agregados finos e teor de água de amassadura, pelo que pode ainda ser modificada

com a adição de pigmentos ou acabamento final com pintura. A sua maior absorção de calor origina a

maior tendência de fendilhação dos acabamentos coloridos, bem como a variação de cores neste tipo

de acabamento pode ser maior e, nomeadamente a formação de uma película de carbonato de cálcio

à superfície, pode provocar manchas brancas (Flores-Colen e Brito, 2012).

O recurso a rebocos tradicionais de boa qualidade, doseados em obra, apresenta exigências de

execução e, comparativamente aos rebocos não tradicionais, pré-doseados em fábrica, têm certos

condicionalismos. Entre os principais, pode referir-se a necessidade de uma mão-de-obra qualificada

que saiba seleccionar, utilizar e dosear os materiais apropriados e que realize convenientemente as

composições, bem como o facto de os rebocos pré-doseados estarem sujeitos a controlo interno de

qualidade que garante a sua manutenção mas também das características (figura 3.5). Outro

condicionalismo prende-se com o ritmo cada vez mais rápido exigido à construção e que gera o

desrespeito das regras de execução dos rebocos tradicionais, como pela sua execução em condições

climáticas desfavoráveis e desrespeito dos tempos de secagem e do número ou espessura das

camadas. Por outro lado, aplicados em três camadas, rebocos tradicionais podem desempenhar as

funções de rebocos não-tradicionais com uma única camada, são de execução e aplicação mais lenta,

bem como é comum a aplicação de pintura que pode ser dispensada nos não-tradicionais caso sejam

pigmentados na massa. Os rebocos tradicionais não são adequados a novos materiais de suporte

com características de resistência mecânica e estabilidade dimensional muito distintas. Outros

condicionalismos são os do estaleiro como o espaço necessário para este poder ser significativo, o

uso mais agressivo para o ambiente sobretudo pelos resíduos e valores inferiores de armazenagem

na preparação tradicional (Faria Rodrigues, 1993; Flores-Colen, 2009; Veiga, 1998).

Apesar das desvantagens referidas, os rebocos tradicionais têm também vantagens relativamente

aos não-tradicionais na medida em que estes apresentam um custo inicial do material superior,

implicam mão-de-obra especializada, planeamento de obra rigoroso e alvenarias bem desempenadas,

bem como requerem cuidados especiais após aplicação, designadamente a nível de programação

dos trabalhos, caso sejam coloridos na massa não levando, assim, pintura. Estes produtos podem

apresentar aspectos finais nem sempre enquadrados com a arquitectura envolvente dado o facto de

seguirem a tecnologia de outros países, pelo que existe uma menor experiência na sua utilização

face a rebocos tradicionais (Flores-Colen e Brito, 2012).

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Figura 3.5 - Painéis experimentais para avaliar o comportamento das argamassas de revestimento em suportes finais de alvenaria de pedra (fonte: Coelho et al., 2009)

3.2.3. Exigências funcionais e parâmetros de desempenho

Determinados aspectos gerais de concepção e execução são necessários nas argamassas de reboco

como adequabilidade do reboco ao projecto (EN 13914-1:2005), adequabilidade às condições locais

da obra, recepção de materiais ou de produtos pré-doseados, preparação do suporte e condições

atmosféricas no momento da aplicação (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012). Desta forma,

desenhos e especificações com pormenor suficiente devem ser incluídos no projecto tendo em conta

a natureza do suporte, condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento bem

como, por exemplo, influência de elementos metálicos embebidos e de pormenores arquitectónicos.

Nos projectos para intervenções de conservação, um caderno de encargos completo, bem elaborado

e ajustado à obra a realizar, constitui-se como instrumento-chave (Veiga et al., 2004).

Dado o enquadramento, a temática das argamassas de construção é, portanto, muito diversificada

particularmente pela possibilidade de estarem envolvidos diversos tipos de materiais constituintes e

com tecnologia específica. Actualmente, também por apresentarem diferentes utilizações, associadas

a tecnologias tradicionais ou competitivas, ou que integram actividades de manutenção e reabilitação

cada vez mais pertinentes e que urge serem desenvolvidas sobretudo no contexto nacional e europeu.

3.3. Argamassas de substituição

3.3.1. Considerações iniciais

Em substituição dos revestimentos originais de edifícios antigos foram sendo recomendados vários

tipos de argamassas, dos quais as soluções usadas geralmente se enquadram em argamassas de

cimento, de cal hidráulica natural, de cal hidráulica artificial, de cal aérea e cimento, de cal aérea, de

cal aérea aditivada, argamassas pré-doseadas e de ligantes especiais (Veiga, 2003a).

Na formulação de argamassas, o conhecimento do ligante utilizado é um ponto de partida importante

dado que as principais características das argamassas decorrem em grande parte da natureza

daquele (Sousa et al., 2005). O bom comportamento das argamassas depende do ligante utilizado e

sua composição, agregado, condições de cura, de execução e de exposição e utilização, incluindo o

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suporte. Estes parâmetros condicionam de forma acentuada a estrutura porosa que, por sua vez,

define o comportamento relativamente à água e acções externas na sua generalidade (Veiga, 2003b;

Veiga et al., 2004). Definidos os critérios orientadores, o tipo e nível de intervenção adequado à

situação, é essencial estabelecer requisitos para os materiais a utilizar e as condições e técnicas de

execução dos trabalhos. Aspectos particularmente importantes para o comportamento, durabilidade e

qualidade do revestimento são não só as características dos materiais mas também as técnicas de

preparação e aplicação, condições climáticas e de cura e preparação do suporte. Este contribui

significativamente para o desempenho do reboco em serviço (Veiga, 2009; Sousa et al., 2005).

3.3.2. Exigências funcionais dos revestimentos

Os rebocos com aplicação nos edifícios apresentam como exigências principais a protecção das

paredes contra as acções externas, climáticas e decorrentes da utilização normal do edifício, a

impermeabilização e resistência das paredes à água, o acabamento das paredes e a durabilidade

adequada tendo em conta a manutenção (Veiga, 2003b). O reboco deve garantir as funções durante

um período de tempo compatível designado de tempo de vida útil, com a dificuldade e custo

associados às acções de manutenção ao longo do tempo em serviço e, por conseguinte, os níveis

adequados de desempenho dependem grandemente da garantia da compatibilidade geométrica,

física e química entre reboco, suporte e acabamento final (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito,

2012; Hughes e Válek, 2003; Válek et al., 2000; Veiga, 2005b). Quando comparada com outros

elementos das paredes nomeadamente as alvenarias, a contribuição dos rebocos não é tão

significativa a nível de segurança em caso de incêndio, protecção contra o ruído e economia de

energia e retenção de calor (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012). Por fim, os rebocos têm

uma contribuição não negligenciável para o ambiente a nível de reciclagem e reutilização das

argamassas durante o ciclo de vida útil, particularmente pelos impactes ambientais destes materiais

aquando da sua produção, aplicação ou demolição (Flores-Colen e Brito, 2012).

A especificação dos rebocos tradicionais continua com maior ênfase na formulação prescritiva do que

na abordagem exigencial. Em conformidade com a EN 13914-1:2005, a escolha do tipo de reboco, a

sua dosagem e o número de camadas e respectivas espessuras dependem da aparência desejada,

requisitos, condições de exposição e natureza do suporte. Para uma monitorização periódica do

desempenho em serviço, apesar de fornecer informações relevantes a especificação prescritiva é

claramente insuficiente, pelo que a documentação técnica tem progressivamente passado de

prescritiva para exigencial, traduzindo-se as exigências funcionais em características de desempenho

quantificáveis (Flores-Colen, 2009; Flores-Colen e Brito, 2012).

3.3.3. Compatibilidade

A selecção e o desenho das soluções de revestimentos de substituição devem basear-se em critérios

de compatibilidade com os elementos preexistentes, de acordo com o conhecimento actual. Muitos

Page 51: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

37

investigadores têm discutido a definição de compatibilidade, pelo que ainda levanta polémica. Foram

por aqueles desenvolvidos determinados conceitos que têm vindo a ser discutidos pela comunidade

científica em vários eventos nomeadamente numa Comissão da RILEM (International Union of

Laboratories and Experts in Construction Materials, Systems and Structures) à qual grande parte

deles pertence, denominada RILEM TC RHM Repair mortars for Historic Masonry. De um modo geral,

os conceitos apresentados pelos vários autores têm vindo a convergir para ideias concordantes

embora não idênticas, pelo que o desafio da Comissão da RILEM prende-se com estabelecer

requisitos aceitáveis por todos e lançar as bases para regular o modo de avaliação desses requisitos

a nível prático e realista (Veiga, 2009).

A compatibilidade dos revestimentos de substituição deve ser garantida na medida em que só através

dela se evita a descaracterização do edifício e, sobretudo, o surgimento precoce de anomalias que

pode acelerar a degradação das próprias paredes (figura 3.6). As características que definem a

compatibilidade são numerosas e torna-se complexa a definição concreta dos requisitos a

estabelecer aos novos materiais, devendo ter por base o estudo dos preexistentes e em critérios

definidos cientificamente. Pela compatibilidade depender de vários factores, é difícil especificar

argamassas de substituição completamente compatíveis com os elementos preexistentes e também

com boas características de durabilidade (Veiga, 2009; Veiga et al., 2004). A melhor compatibilidade

com a alvenaria de pedra consegue-se com as argamassas de cal aérea, que constituem as mais

semelhantes aos materiais antigos. Tem-se confirmado como um caminho a seguir o uso de aditivos

que confiram alguma hidraulicidade à argamassa sem prejudicar a capacidade de secagem do

suporte. Por forma a obter características melhores e durabilidades mais elevadas daquelas,

determinados caminhos têm sido seguidos quer a nível nacional quer europeu (Veiga, 2003b).

Figura 3.6 - Incompatibilidade de materiais (fonte: Veiga et al., 2004)

Para edifícios antigos, a adequabilidade dos materiais e as exigências funcionais requeridas às

argamassas são evidentemente distintas daquelas para edifícios novos, pelo que é primordial o

respeito pelos critérios de compatibilidade, funcionais, de aspecto e comportamento futuro com os

elementos preexistentes, sob pena de contribuírem para a degradação das paredes em lugar da sua

protecção bem como o surgimento de fenómenos de envelhecimento diferencial entre revestimentos

novos e antigos (Aguiar, 2000; Veiga, 2003b).

Page 52: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

38

Após análise do estado de conservação do edifício, caso se conclua pela inviabilidade da reparação e

consequente necessidade de remoção parcial ou total dos rebocos antigos, para os rebocos de

substituição torna-se essencial escolher soluções que tenham em conta critérios de compatibilidade.

Relativamente a estes, Veiga procurou estabelecer uma definição de argamassas compatíveis, pelo

que genericamente os revestimentos de substituição devem respeitar determinados requisitos, como

não contribuir para degradar os elementos preexistentes sobretudo alvenarias, proteger as paredes,

não prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício, ser reversíveis bem como

reparáveis, ser duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto (Veiga, 2003b; Veiga et

al., 2004). O primeiro, relativo à ausência de degradação, versa o respeito pela autenticidade

mediante a preservação dos elementos mais antigos do edifício durante o máximo tempo possível.

Outros autores acrescem requisitos gerais como a satisfação das exigências funcionais

designadamente exteriores a nível de estanqueidade, isolamento térmico, condensações no interior,

protecção do suporte e aspecto estético, bem como interiores a nível de regularidade das paredes,

conforto higrotérmico, acústica, conforto dos utentes e aspecto estético também.

No que respeita os critérios e exigências de sustentabilidade a aplicar aos rebocos, relacionada com

a durabilidade está também a questão da economia (Sousa et al., 2005; Veiga e Aguiar, 2002). O

desrespeito pela exigência de compatibilidade entre materiais preexistentes e recentes resulta na

degradação dos mais antigos, devido à introdução de tensões excessivas num suporte fraco e com

deficiências de coesão, baixa permeabilidade ao vapor de água e introdução de sais solúveis nas

alvenarias e em argamassas recentes, por exemplo resultantes do cimento (Sousa et al., 2005; Veiga

e Aguiar, 2002). A importância da exigência de protecção do suporte prende-se com a rápida

degradação das paredes antigas em alvenaria quando expostas à acção directa dos diversos agentes

agressivos, pelo que se mantêm em bom estado quando devidamente protegidas. Não só requisitos

relativos à composição dos revestimentos mas também à tecnologia de aplicação, expressam o

necessário respeito pela autenticidade estética e histórica. Os primeiros preservam a textura e

características cromáticas próprias dos rebocos antigos, enquanto os segundos conferem uma

textura própria aos revestimentos e encerram um registo histórico de evolução dos efeitos (Veiga e

Aguiar, 2002).

3.3.4. Caracterização e requisitos de argamassas de substituição

Para além do seu desempenho a diversos níveis, a selecção do reboco deve atender também à

relação custo/durabilidade, que dá sentido às restantes exigências. A concepção com durabilidade de

argamassas de revestimento deve atender aos parâmetros de vida útil, resistência às condições de

exposição, necessidade e facilidade de realização de acções de manutenção (Flores-Colen e Brito,

2012; Sousa et al., 2005). A durabilidade torna-se essencial ao significado dos outros requisitos,

sendo que a degradação do revestimento origina, em geral, a degradação rápida da alvenaria. A

durabilidade implica não só uma boa resistência mecânica, boa coesão interna, boa aderência ao

suporte e entre camadas mas não em excesso e boa resistência química nomeadamente aos sais

presentes nas paredes antigas, como também um bom comportamento à água no que respeita

Page 53: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

39

absorção relativamente lenta e facilidade de secagem. Relacionada com a composição e também

com o comportamento à água pela probabilidade de fixação de fungos, a durabilidade implica ainda

resistência à colonização biológica (Sousa et al., 2005; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002).

Como tal, função dos requisitos e para a formulação das argamassas de substituição, de acordo com

Veiga (2003b) podem admitir-se os seguintes princípios básicos: as características mecânicas devem

ser semelhantes às das argamassas originais e inferiores às do suporte, pelo que o módulo de

elasticidade deve ser moderado; a aderência deve ser a adequada para que nunca haja rotura

coesiva pelo suporte; a tensão desenvolvida por retracção restringida deve ser inferior à resistência à

tracção do suporte; devem ter características físicas semelhantes às do suporte em alvenaria para

minimizar as tensões devidas a deformações diferenciais, sobretudo o módulo de elasticidade e o

coeficiente de dilatação térmica e higrométrica; a capilaridade, a permeabilidade ao vapor de água e

a facilidade de secagem devem ser similares às das argamassas originais e superiores às do suporte;

não podem conter sais solúveis em quantidades significativas; devem adequar-se ao papel funcional

e estético das argamassas que substituem; devem possuir durabilidade e envelhecimento de forma

semelhante e não devem originar alterações de cor ou halos em revestimentos adjacentes

preservados. Para além dos princípios básicos, os materiais para reparações localizadas ou de

preenchimento de lacunas têm requisitos mais rigorosos, como composições muito semelhantes às

dos preexistentes tanto a nível dos constituintes como da técnica de preparação e aplicação. Estas

são decisivas para o desempenho e durabilidade dos revestimentos, sobretudo o número e

espessura das camadas, quantidade de água de amassadura e condições de cura (Veiga, 2005a).

Os requisitos de compatibilidade fazem a diferença das exigências estabelecidas para os rebocos de

edifícios antigos face às exigências gerais dos rebocos. Da diversidade de aspectos a considerar e

analisar para os edifícios antigos, referem-se a resistência menor, deformabilidade maior, aderência

moderada de modo a permitir a reversibilidade, capilaridade e permeabilidade ao vapor de água mais

elevadas, teores de sais solúveis reduzidos. A relação entre suporte e revestimento é de grande

importância, pelo que o bom conhecimento da alvenaria é essencial sobretudo a nível da distribuição

porosimétrica. Caso não seja possível caracterizar as argamassas originais, há determinados valores

mínimos a respeitar pelas argamassas a aplicar, apresentados por alguns autores sobretudo no

âmbito de estudos do LNEC (Veiga, 2005a). O cumprimento dos requisitos expressos, em

revestimentos de substituição, é em grande parte função do respeito por duas condições

fundamentais, a de uma execução cuidada de acordo com as regras da boa arte e a compatibilidade

com os materiais preexistentes nos seus diversos níveis, como mecânico, físico e químico (Sousa et

al., 2005; Veiga e Carvalho, 2002). Duas das principais causas de anomalias e de desempenhos

menos satisfatórios de um reboco são os erros na execução e as agressões ocorridas nos seus

primeiros tempos de vida, pelo que se traduz a relevância extrema da primeira condição, um aspecto

que influencia decisivamente a qualidade dos revestimentos e o seu desempenho (Flores-Colen e

Brito, 2012; Sousa et al., 2005; Veiga e Carvalho, 2002). Quanto à verificação da condição relativa às

argamassas, é bastante complexa na medida em que a compatibilidade com os elementos

preexistentes tem que ser considerada sob diversos aspectos e é, ainda, necessário analisar as

características da argamassa que a condicionam e a garantem (Veiga e Carvalho, 2002).

Page 54: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

40

3.3.5. Método de selecção e formulação de argamassas de substituição

Para além da importante questão dos materiais, é fundamental a forma como é feita a mistura e

aplicação posterior da argamassa. Uma correcta operação de conservação requer a adequação dos

materiais usados e a execução em boas condições. A consistência de uma argamassa é importante

na sua aplicação e bom desempenho pelo que deve ser uma consistência seca, bem como por outro

lado a natureza do suporte influencia decisivamente o desempenho da argamassa.

O método de selecção de uma argamassa de substituição, para além de ter por base os requisitos

definidos, deve ter em conta a adequação das condições de aplicação, tecnologias a utilizar,

características do suporte e perícia do executante, devendo procurar-se soluções que permitam

atingir bons desempenhos e durabilidades com melhores rendibilidades possíveis (Veiga, 2003b). A

selecção constitui um processo iterativo, na medida em que se parte de hipóteses de formulações,

em geral apoiadas na semelhança constitutiva com o material original, e depois se verifica o desvio

relativamente às exigências estabelecidas, através de ensaios in situ e de laboratório. A importância

histórica e arquitectónica do edifício determina o grau de aproximação exigido e consequentemente o

número limite de iterações a realizar (Veiga, 2003b). As técnicas de preparação e aplicação dos

revestimentos influenciam significativamente o seu aspecto e comportamento finais, pelo que não

devem ser descuradas apesar das dificuldades sobretudo pela desqualificação da mão-de-obra

disponível. Havendo, portanto, uma influência tão relevante no desempenho tanto das tecnologias de

execução e aplicação das argamassas como da sua composição, deve acompanhar-se as

especificações relativas a esta com uma descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação

propostas. Deste modo, quem estiver envolvido na execução dos rebocos tem antes a formação e

treino adequados à tarefa (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004).

No caso de edifícios de menor interesse monumental e histórico, em alternativa a argamassa

doseada em obra pode utilizar-se argamassa pré-doseada de características conhecidas desde que

corresponda comprovadamente aos requisitos mínimos e seja esteticamente compatível. Deste modo,

o processo de selecção é, no limite, reduzido ao único passo de preparação de uma argamassa pré-

doseada de características bem conhecidas e adequadas. Com vista a definir campos de aplicação e

apontar caminhos a seguir, têm sido aplicadas as exigências a argamassas de diversos tipos como

soluções possíveis (Sousa et al.,2005; Veiga, 2003b; Veiga e Carvalho, 2002).

3.3.6. Utilização e tipos de argamassas de cal para reabilitação

No âmbito das argamassas de substituição à base de cal, depois de se identificar a composição da

argamassa de revestimento original bem como as suas propriedades físicas e mecânicas, necessita-

se de projectar as características da argamassa a aplicar e proceder à análise da compatibilidade

entre as duas (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Enquanto as argamassas à base de cimento têm

uma excessiva resistência mecânica e retracção, uma rotura demasiado frágil bem como uma baixa

permeabilidade à água e ao vapor de água, o que as determina pouco adequadas para paredes

Page 55: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

41

antigas, as tradicionais à base de cal aérea apresentam características como compatibilidade com os

materiais preexistentes em edifícios antigos e autenticidade (Sousa et al., 2005; Veiga, 2005a).

As argamassas tradicionais à base de cal aérea levantaram, contudo, algumas questões tanto de

durabilidade, resultantes da sua resistência mecânica reduzida ou aceitável aliada ao prolongado

tempo de cura, à excessiva porosidade e à influência dos agentes atmosféricos, como de execução

face à conjuntura actual da construção civil por exigir tempos de execução elevados, mão-de-obra

abundante e especializada. Independentemente da escolha quanto ao tipo de argamassa, na fase de

execução o tempo de cura é uma questão importante, pelo que deve ser cumprido o tempo

necessário em lugar de acelerar o processo e a obra, contrariamente à tendência que existe. A

aplicação das argamassas de cal aérea requer mão-de-obra especializada que escasseia pela perda

do saber relativo às técnicas antigas, adaptação aos novos materiais e rotatividade de pessoas na

área da construção dificultando uma formação adequada e completa (Cóias, 2007; Sousa et al., 2005;

Veiga, 2003b; Velosa, 2002). Neste contexto, têm-se desenvolvido produtos em que se associa à cal

aérea outros materiais, capazes de melhorar as propriedades das argamassas com base apenas na

cal aérea. Assim, foram também sendo consideradas e utilizadas as argamassas bastardas, com

pequenas dosagens de cimento, argamassas de cal aérea com pozolanas ou outros aditivos, que

lhes conferem hidraulicidade, e argamassas de cal hidráulica (Cóias, 2007; Sousa et al., 2005; Veiga,

2005a).

3.4. Documentação internacional e nacional

Nos últimos anos, uma multiplicidade de normas e documentos legais relativos a argamassas de

construção e de revestimento, rebocos tradicionais, revestimento de argamassas ou outros elementos

associados tem surgido por todo o mundo, em especial na Europa, dos quais os mais relevantes se

enumeram na presente secção (tabela 3.1). Note-se que, pelo carácter generalista das normas

europeias ao nível das especificações e recomendações, os países da União Europeia continuam a

usar documentos nacionais complementares, dado que fornecem muitas indicações relevantes para o

tipo de revestimento considerado e por vezes têm exigências ou recomendações mais numerosas e

restritas face às normas europeias. Veja-se por exemplo os casos de França ou Portugal, onde novas

normas ou documentos técnicos têm sido desenvolvidos para densificar ou completar a

regulamentação à volta destes produtos e materiais.

Vale a pena lembrar que, em Portugal, os documentos com requisitos adicionais são emitidos pelo

LNEC ou pelos organismos de certificação de produtos. A metodologia seguida no presente estudo

incluiu a elaboração e disponibilização de uma ficha-tipo ao conjunto de intervenientes-alvo do

inquérito sobre as melhores práticas ao nível dos procedimentos para reabilitação de revestimentos

de paredes de edifícios antigos onde foi questionado se estes seguiam as respectivas normas

aplicáveis. As respostas (capítulo 4) demonstram que nem todos os intervenientes o fazem com

regularidade, o que seria aconselhável, dado que contribuem para a especificação adequada dos

procedimentos, sendo um passo importante para a correcta implementação dos procedimentos para

a reabilitação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

Page 56: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

42

Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional

Âmbito

País /

região de

aplicação

Referência do documento

legal, norma ou

especificação

Ano de

implemen-

tação

Observações

Produtos da

Construção Europa

Regulamento Produtos de

Construção - RPC

(Regulamento (UE) 305/2011)

2011

Determina condições

harmonizadas para a

comercialização dos produtos de

construção. Desempenho relativo

às características essenciais e

utilização da marcação CE neles.

Substitui a Directiva Europeia dos

Produtos da Construção (Directiva

89/106/CEE).

Argamassas

de construção Europa Marcação CE 2004

Conformidade com os requisitos

criados em directivas comunitárias.

Revestimentos

de argamassa

à base de

ligantes

minerais

Europa

- Norma EN 13914-1:2005

(Design, preparation and

application of external

rendering and internal

plastering - External rendering)

- Norma EN 13914-2:2005

(Design, preparation and

application of external

rendering and internal

plastering - Design

considerations and essential

principles for internal

plastering)

2005

Recomendam aspectos referentes

à concepção, preparação e

aplicação de argamassas de

reboco.

Tintas e

vernizes,

materiais e

esquemas de

pintura para

rebocos

exteriores e

betão

Europa

EN ISO 7783:2011 (Paints and

varnishes - Determination of

water-vapour transmission

properties - Cup method)

2011

Substitui a NP EN ISO 7783-2:2001

- Tintas e vernizes, materiais e

esquemas de pintura para rebocos

exteriores e betão. Parte 2:

Determinação e classificação da

velocidade de transmissão de

vapor de água (permeabilidade).

Alvenarias e

elementos de

alvenaria

Europa

EN 1745:2012 (Masonry and

masonry products. Methods for

determining thermal properties)

2012

De salientar particularmente a

descrição de métodos para

determinação de valores térmicos

de cálculo.

Substitui a NP EN 1745:2005 -

Alvenarias e elementos de

alvenaria. Métodos para

determinação de valores térmicos

de cálculo.

Rebocos

tradicionais França

- DTU 26.1:2008 P1-1.

(Travaux de bâtiment. Travaux

d’enduits de mortiers. Partie 1-

1: Cahier des clauses

techniques)

- DTU 26.1:2008 P1-2.

(Travaux de bâtiment. Travaux

d’enduits de mortiers. Partie 1-

2:Critères généraux de choix

des matériaux)

Document Technique Unifié

2008

Define as condições técnicas

gerais e especiais para a

especificação, execução e

aplicação de rebocos tradicionais.

Page 57: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

43

Tabela 3.1 - Resumo da documentação internacional e nacional (cont.)

Âmbito

País /

região de

aplicação

Referência do documento

legal, norma ou

especificação

Ano de

implemen-

tação

Observações

Argamassas de

revestimento EUA

ACI 524R:2008

(Guide to Portland Cement-

Based Plaster)

2008

Guia para a especificação,

métodos de ensaios, concepção,

preparação e aplicação de

argamassas de revestimento.

Argamassas de

revestimento EUA

- ASTM E2136:2004 (Standard

Guide for Specifying and

Evaluating Performance of

Single Family Attached and

Detached Dwellings -

Durability)

- ASTM E1700:2005 (Standard

Classification for Serviceability

of an Office Facility for

Structure and Building

Envelope)

- ASTM E1671:2005 (Standard

Classification for Serviceability

of an Office Facility for

Cleanliness)

American Society for Testing

Materials

2004 e

2005

Avaliação do desempenho em

serviço e durabilidade destes

sistemas de revestimento.

Desempenho de materiais,

produtos, componentes,

subsistemas e sistemas duráveis.

Capacidade para atender a certos

requisitos possíveis para a

estrutura e envolvente construtiva,

bem como para a limpeza.

Argamassas

para alvenarias Portugal

NP EN 998-1:2013

(Especificação de argamassas

para alvenarias - Parte1:

Argamassas para rebocos

interiores e exteriores)

2013

Aplica a norma europeia EN 998-

1:2010 - Specification for mortar for

masonry - Part 1: Rendering and

plastering mortar, que designa os

requisitos regulamentares

necessários para a marcação CE

(substitui a EN 998-1:2003).

Cal de

construção Portugal

NP EN 459:2011 (Cal de

construção. Parte 1:

Definições, especificações e

critérios de conformidade)

2011

Dividida em três partes: definições,

especificações e critérios de

conformidade; métodos de ensaio;

avaliação da conformidade.

Aplica a norma europeia EN 459-

1:2010 - Building lime - Part 1:

Definitions, specifications and

conformity criteria (substitui a EN

459-1:2001).

Agregados

para

argamassas

Portugal NP EN 13139:2005

(Agregados para argamassas) 2005

Aplica a norma europeia EN

13139:2002 - Aggregates for

mortar.

3.5. Síntese do capítulo

Como síntese dos conhecimentos abordados no presente capítulo, salientam-se determinados

aspectos. A conservação e reparação dos revestimentos de paredes e a manutenção do seu

desempenho e do seu aspecto são decisivas para a conservação do património construído.

A mudança a nível das paredes, a diferença das suas funções e a evolução dos materiais e soluções

implicaram alterações na concepção e constituição dos revestimentos e nos modelos de conservação

Page 58: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

44

a adoptar. Apesar de os revestimentos serem dos elementos mais sujeitos à degradação pela grande

exposição a acções potencialmente destrutivas, a resistência mecânica de alvenarias fracas pode ser

significativamente reforçada pelos rebocos. Os revestimentos de paredes de ligante mineral têm

cumprido funções de regularização das alvenarias e impermeabilização das fachadas de modo a

contribuírem significativamente para a estanqueidade global da parede exterior, bem como funções

de protecção das paredes contra acções externas e de acabamento e suporte de decoração.

Os rebocos a aplicar em paredes de edifícios antigos devem verificar determinadas exigências

funcionais, pelo que têm vindo a ser estabelecidos requisitos para garantir a compatibilidade com

elementos preexistentes e, assim, contribuir para o bom desempenho global e durabilidade do edifício.

Definidos os critérios orientadores, o tipo e nível de intervenção adequado à situação, para a

formulação de argamassas de substituição é essencial estabelecer requisitos para os materiais a

utilizar e as condições e técnicas de execução dos trabalhos. Para uma monitorização periódica do

desempenho em serviço dos rebocos tradicionais, apesar de fornecer informações relevantes a

especificação prescritiva é insuficiente, pelo que a documentação técnica tem progressivamente

passado de prescritiva para exigencial, traduzindo-se as exigências funcionais em características de

desempenho quantificáveis. A compatibilidade dos revestimentos de substituição deve ser garantida

na medida em que só através dela se evita a descaracterização do edifício e, sobretudo, o surgimento

precoce de anomalias que pode acelerar a degradação das próprias paredes.

Documentação normativa e técnica existente neste âmbito tanto a nível internacional como nacional

contribui para a especificação adequada dos procedimentos, sendo um passo importante para a

correcta implementação dos procedimentos para a reabilitação dos revestimentos de paredes de

edifícios antigos.

Após o estudo dos conhecimentos no âmbito do trabalho, o capítulo seguinte aborda o estudo da

prática da actividade profissional dos principais tipos de intervenientes em reabilitação.

Page 59: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

45

4. Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos

4.1. Considerações gerais

Após o estudo do estado dos conhecimentos, desenvolvido ao longo dos capítulos 2 e 3, o presente

capítulo tem como objectivo principal o desenvolvimento de um inquérito a principais tipos de

intervenientes em reabilitação de forma a validar os aspectos, procedimentos e critérios que estes

utilizam na prática da sua actividade profissional. Tem-se em vista uma proposta de metodologia de

apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos, apresentada no

capítulo seguinte.

Para o projecto de conservação e reparação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e para

execução da intervenção, deve haver um conhecimento abrangente e sistemático dos revestimentos

antigos nacionais, materiais usados e técnicas empregues. A escolha da estratégia de intervenção a

adoptar deve ser fundamentada com base na avaliação criteriosa do estado de conservação do

revestimento antigo e da importância da técnica empregue (Veiga, 2009). Deve, portanto, decidir-se

nomeadamente sobre a viabilidade de manter o revestimento existente e decidir-se a metodologia de

reparação, materiais e técnicas a utilizar, atendendo ao suporte, ao revestimento e às características

a preservar. Optando-se pela remoção parcial ou total, devem seleccionar-se os revestimentos de

substituição tendo em conta critérios de compatibilidade funcional e estética bem como aspectos de

viabilidade de execução e durabilidade (Veiga, 2003b; Veiga et al., 2004). Para a eficiência do estudo

para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos é

essencial a visão global do problema e das possíveis soluções (Veiga, 2009).

Com vista a limitar-se a deterioração, prolongar-se a vida útil do revestimento e, por sua vez, do

edifício antigo, devem ser estabelecidos planos de conservação e de manutenção periódica (Flores-

Colen e Brito, 2012; Veiga, 2009). Para tal, têm sido e continuarão a ser desenvolvidos estudos

importantes, pelo que os resultados obtidos devem ser divulgados de forma acessível e completa no

meio técnico, fundamentalmente a nível dos projectistas arquitectos e engenheiros, dos promotores e

responsáveis por intervenções em edifícios antigos a nível local e nacional. Necessária é também a

consciencialização dos empreiteiros e fabricantes de materiais de construção, de modo a tornar

viáveis aquelas estratégias. Para a correcta execução das operações em revestimentos de edifícios

antigos, é de salientar a necessidade de uma mão-de-obra especializada, ou no mínimo sensibilizada

para os problemas da conservação, e bem dirigida por técnicos também com formação adequada à

especificidade das intervenções de conservação (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Veiga et al., 2004).

O enquadramento apresentado integra o âmbito e as principais relações entre o estado da arte

estudado e o desenvolvimento de inquérito a principais tipos de intervenientes em reabilitação,

correspondente ao presente capítulo.

Page 60: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

46

4.2. Definição de aspectos para a reabilitação de revestimentos antigos

4.2.1. Identificação de principais tipos de intervenientes em reabilitação e selecção de amostra

Dado o enquadramento, é pertinente não só a reflexão e identificação dos aspectos considerados

relevantes para análise de edifício antigo e definição da intervenção a nível do revestimento de

paredes mas também a identificação dos principais tipos de intervenientes em reabilitação, selecção

de amostra para o estudo e validação daqueles aspectos. Estes são pertinentes para a proposta de

metodologia de apoio ao projecto que se apresenta no capítulo seguinte.

Considera-se que os principais tipos de intervenientes em reabilitação, cruciais a integrar a amostra

para aplicação do estudo através de trabalho de campo pelas competências e responsabilidades que

apresentam, são considerados os seguintes:

• Projectistas arquitectos;

• Projectistas engenheiros;

• Gestores de projecto;

• Conservadores-restauradores;

• Consultores técnicos;

• Promotores e donos-de-obra;

• Directores de obra e empreiteiros;

• Fornecedores e fabricantes de materiais de construção.

Estes constituem, assim, o público-alvo do inquérito realizado.

O conjunto de intervenientes em reabilitação criteriosamente seleccionados para integrarem a

amostra para o inquérito abrangeu todos os tipos de intervenientes identificados. Aqueles pelos quais

foi efectivamente possível a resposta ao inquérito, e que constituem a amostra, bem como o

respectivo tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios são apresentados na

tabela 4.1.

Tabela 4.1 - Lista de intervenientes

Projectistas arquitectos:

Salgado Braz Arquitecto, Lda. - Miguel Salgado Braz

Appleton e Domingos - João Appleton

Projectistas arquitectos e gestores de projecto:

Soraya Genin, Arqª e Restauro, Lda. - Soraya Genin

Projectistas arquitectos e promotores e donos-de-obra:

Direcção-geral do Património Cultural (DGPC) - Maria da C. Lopes Aleixo Fernandes

Projectistas arquitectos, gestores de projecto e promotores e donos-de-obra:

Parques de Sintra, Monte da Lua - José Maria Lobo de Carvalho

Projectistas engenheiros e consultores técnicos:

A2P Consult, Lda. - João A. Silva Appleton

Page 61: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

47

Tabela 4.1 - Lista de intervenientes (cont.)

Gestores de projecto, consultores técnicos e directores de obra e empreiteiros:

SuperiorWork, Lda. - César Alho

Conservadores-restauradores:

Marta Frade

Conservadores-restauradores e consultores técnicos:

Martha Lins Tavares

Conservadores-restauradores e directores de obra e empreiteiros:

Nova Conservação, Lda. - Nuno Proença

Consultores técnicos:

Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - Maria do Rosário Veiga

Promotores e donos-de-obra, consultores técnicos e directores de obra e empreiteiros:

Cascais Próxima, E.M., S.A. - Nuno Almeida

Promotores e donos-de-obra e directores de obra e empreiteiros:

Genioreis, Lda. - Eugénio Reis

Directores de obra e empreiteiros:

António Santos

Monumenta, Lda. - Luís Mateus

Consultores técnicos e fornecedores e fabricantes de materiais de construção:

Fradical, Fábrica de Transformação de Cal, Lda. - Fernando Cartaxo

Fornecedores e fabricantes de materiais de construção:

Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas e ETICS (APFAC) - Carlos Duarte

Calcidrata, Indústrias de Cal, S.A. - Nuno Batista

Fassa Bortolo - Nuno Rodrigues

Matesica, S.A. - José Manuel Pereira

Saint-Gobain Weber Portugal, S.A. - Luís Silva

Secil Argamassas - Paulo Gonçalves

Sika Portugal, S.A. - Cláudia Gomes

Topeca, Lda. - Andreia Rodrigues

4.2.2. Elaboração de ficha-tipo de inquérito e preenchimento conforme a amostra de intervenientes

A definição de aspectos como a compatibilidade dos elementos e a identificação dos procedimentos e

critérios relevantes para a reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos possibilitaram

a elaboração da ficha-tipo de inquérito aos intervenientes em reabilitação e conservação apresentada

de seguida na figura 4.1. As respostas recebidas por parte destes intervenientes, que representam a

amostra seleccionada, são analisadas no subcapítulo seguinte.

Page 62: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

48

Inquérito sobre revestimentos de paredes de edifícios antigos

Empresa/Entidade: ______________________ Nome: _______________________________

1. Em que tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios se enquadra?

(seleccione as opções aplicáveis)

Projectistas arquitectos Projectistas engenheiros Gestores de projecto

Conservadores-restauradores Promotores e donos-de-obra Consultores técnicos

Directores de obra e empreiteiros Fornecedores e fabricantes de materiais de construção

2. Qual a importância que atribui aos seguintes aspectos e procedimentos para a intervenção

de conservação e reabilitação de revestimentos de paredes antigas?

Muito

importante Importante

Pouco

importante

Nada

importante

Não

aplicável

a) Valores e características a preservar nas

paredes e seus revestimentos

b) Avaliação do estado de conservação do

edifício e dos revestimentos de paredes

c) Disponibilidade de recursos, materiais,

técnicas e mão-de-obra

d) Especificação de materiais e sua

adequabilidade ao projecto e à obra

3. Quais os aspectos que considera relacionados com a caracterização do estado de

conservação dos revestimentos existentes? (seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)

Tipos de anomalias que revelam Grau com que se manifestam (severidade da anomalia)

Consequente nível de degradação provocada Viabilidade da sua reparação

Outro(s). Especifique: _____________________________________________________________

Não sei / não aplicável

4. Em termos de metodologia em edifícios existentes, tem preocupações a nível da patologia,

faz diagnóstico da parede de suporte e define a intervenção?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

5. Quais os aspectos que a equipa projectista deve identificar ao delinear as acções a

desenvolver? (seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)

Número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização

Conjunto de ensaios a realizar Faseamento dos ensaios Pontos de aplicação

Outro(s). Especifique: _____________________________________________________________

Não sei / não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes

Page 63: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

49

6. Para além da inspecção visual, aquando do diagnóstico do edifício, utiliza técnicas de

caracterização experimentais?

Sim Habitualmente Raramente Não Não

aplicável

a) Ensaios in situ sobre o revestimento antigo

Avaliação das propriedades físicas

Avaliação das propriedades mecânicas

b) Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas

Análise química

Análise mineralógica

Análise microestrutural

Análise orgânica

c) Outro(s) ensaio(s). Especifique:

___________________________________

7. Qual a importância que atribui a cada um dos seguintes factores físicos e mecânicos

para a especificação de revestimentos de paredes exteriores?

Muito

importante Importante

Pouco

importante

Nada

importante

Não

aplicável

a) Condições atmosféricas

b) Humidade do suporte

c) Deformações do suporte

d) Área superficial da parede

e) Outro. Especifique:

____________________________

8. No projecto inclui desenhos e especificações tendo em conta a natureza do suporte,

condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

9. Opta por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra?

Pré-doseados Doseados em obra Depende Não aplicável

10. Quando escolhe um produto, experimenta-o/avalia-o através de ensaio?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

11. Especifica os materiais e produtos a utilizar?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

Page 64: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

50

12. Inclui a ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia

da obra?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

13. Na especificação do material/produto, quais os critérios que utiliza? (seleccione todas as

opções que considerar aplicáveis)

Custo do produto Âmbito de aplicação do produto Traço da argamassa

Outro(s). Especifique: __________________________________________________________

Não sei / não aplicável

14. Especifica a composição da argamassa a utilizar?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

Exemplifique (traço em volume, proporções em massa): _________________________________

15. Acompanha as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição

técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

16. Na especificação/execução de revestimento exterior em argamassa, opta por uma única

camada (a) ou mais que uma (b)?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

a)

b)

17. Quais as razões/objectivos para a necessidade de mais que uma única camada?

(seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)

Boa trabalhabilidade Boa aderência ao suporte Boa compacidade

Baixa tendência para fendilhação por retracção Barreira eficaz contra penetração de água

Descontinuidade em cada camada evitando que uma fissuração numa delas ocorra na seguinte

Outra(s). Especifique: __________________________________________________________

Não sei / não aplicável

18. Verifica e utiliza as normas aplicáveis?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

19. Especifica os requisitos que pretende que o revestimento exterior cumpra?

Sim Habitualmente Raramente Não Não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

Page 65: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

51

20. Concorda com os seguintes critérios de compatibilidade dos revestimentos?

Sim Não Não aplicável

a) Não contribuir para degradar os elementos

preexistentes sobretudo alvenarias

b) Proteger as paredes

c) Não prejudicar a apresentação visual nem

descaracterizar o edifício

d) Ser duráveis bem como contribuir para a

durabilidade do conjunto

e) Outro(s). Especifique:

______________________________________

21. Para além de ter por base requisitos de compatibilidade, quais os factores que considera

que o método de selecção de uma argamassa de substituição deve ter em conta?

(seleccione todas as opções que considerar aplicáveis)

Adequação da mistura e das condições de aplicação Tecnologias a utilizar

Caraterísticas do suporte e perícia do executante

Soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível

Outro(s). Especifique: __________________________________________________________

Não sei / não aplicável

22. Quais os factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física do reboco de

argamassa, o seu comportamento e a sua durabilidade? (seleccione todas as opções que

considerar aplicáveis)

Modo de preparação Cura Interacção com o suporte Evolução ao longo do tempo

Outro(s). Especifique: __________________________________________________________

Não sei / não aplicável

23. Considera verdadeira a afirmação de que a conservação do revestimento é a opção mais

correcta e favorável a nível de durabilidade, funcionalidade e economia?

Sim Não Não aplicável

Justifique: ______________________________________________________________________

24. Onde costuma aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de

revestimentos de paredes exteriores com argamassas (seleccione todas as opções que

considerar aplicáveis)

Internet Congressos e palestras Revistas de especialidade

Manuais de aplicação de revestimentos Manuais de aplicação de fabricantes de argamassas

Normas e documentação técnica do LNEC

Outra(s). Especifique: __________________________________________________________

Não sei / não aplicável

Figura 4.1 - Ficha-tipo de inquérito aos intervenientes (cont.)

Page 66: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

52

Centrando-se o presente trabalho na temática da reabilitação de revestimentos de paredes de

edifícios antigos, concretamente de argamassas de revestimento à base de cal de paredes em

alvenaria de pedra, para este fim foi realizado um inquérito no qual se aplicou a ficha-tipo. Foi

especificamente desenvolvido para categorizar os procedimentos por parte de uma selecção de

intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios antigos neste campo. A identificação da

empresa, entidade ou pessoa em particular é de crucial importância para revestir o presente projecto

da credibilidade pretendida com a criteriosa e restrita selecção de intervenientes.

Os contactos com os intervenientes seleccionados consideraram-se ser essenciais ao estudo por

forma a validar os aspectos, procedimentos e critérios relevantes neste âmbito. A finalidade é validar

no contacto com aqueles os aspectos relevantes para reabilitação de revestimentos de paredes

antigas e constituir base para análise crítica com vista à metodologia a propor. A identificação dos

pontos coincidentes e divergentes bem como a sua análise crítica permite validar os aspectos

considerados, ordenar prioridades e, desse modo, propor uma metodologia de apoio ao projecto.

4.2.3. Análise de resultados

As respostas ao inquérito equivalem efectivamente a uma amostra de vinte e quatro intervenientes

em reabilitação (anexo A-tabela A1.1 para todas as questões). Corresponde a projectistas arquitectos

e engenheiros, gestores de projecto, conservadores-restauradores, consultores técnicos, promotores

ou donos-de-obra, directores de obra ou empreiteiros e fornecedores ou fabricantes de materiais de

construção.

No âmbito do tipo de intervenientes, a análise do gráfico da figura 4.2 correspondente à questão 1,

“Em que tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios se enquadra?”, permite

perceber a diversidade da amostra com a qual houve contacto e partilha do respectivo conhecimento.

Os fornecedores e fabricantes de materiais de construção correspondem a 38% (9) da amostra.

Quanto aos consultores técnicos bem como directores de obra e empreiteiros, equivalem a 25% (6)

cada grupo, enquanto os projectistas arquitectos a 21% (5) e os promotores e donos-de-obra a 17%

(4). Já os gestores de projecto bem como conservadores-restauradores correspondem a 13% cada

(3), sendo que os projectistas engenheiros apenas perfazem 4% (1). O número de intervenientes que

se disponibilizou a partilhar a sua experiência e que efectivamente respondeu ao inquérito realizado

corresponde sensivelmente à criteriosa e restrita selecção realizada aquando da definição da amostra,

salvo algumas excepções. A proporção entre os tipos de intervenientes deve-se genericamente à

maior ou menor disponibilidade por parte de alguns deles. Vários intervenientes inserem-se em mais

do que um grupo dos apresentados, o que demonstra a multidisciplinaridade e relação entre as

diversas partes, a complementaridade entre vertentes, pontos de vista e contributos para o sucesso

de uma intervenção de reabilitação a nível de revestimentos de paredes antigas. Conforme Freitas

(2012), o exercício complexo da reabilitação de edifícios exige a confluência de esforços de um

conjunto de especialistas de várias áreas científicas bem como um conhecimento multidisciplinar,

pelo que o levantamento do estado da prática o comprova.

Page 67: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

53

Nota: Os valores nas barras correspondem às unidades relativamente à amostra de 24 intervenientes.

5

1

3 3

6

4

6

9

Proj. Arq. Proj. Eng. Gest. Proj. Conserv.-Rest. Cons. Técn. Promot. e D. Obra Dir. Obra e Emp. Fornec. e Fabric.

Figura 4.2 - Tipo de intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios correspondente à amostra

Da análise das respostas atribuídas à questão 2, “Qual a importância que atribui aos seguintes

aspectos e procedimentos para a intervenção de conservação e reabilitação de revestimentos de

paredes antigas?” (figura 4.3), pode concluir-se que as quatro possibilidades apresentadas foram

consideradas ‘muito importantes’ ou ‘importantes’. Salienta-se a especificação de materiais e sua

adequabilidade ao projecto e à obra (21 respostas; 88%) bem como a avaliação do estado de

conservação do edifício e dos revestimentos de paredes (20; 83%), face aos valores e características

a preservar nas paredes e seus revestimentos (15; 63%). A disponibilidade de recursos, materiais,

técnicas e mão-de-obra foi o menos consensual (13; 54%), mas que ainda assim representa mais de

metade das respostas recolhidas. Este foi considerado ‘importante’ em lugar de ‘muito importante’

sobretudo por directores de obra e empreiteiros, ao contrário do que seria de esperar por estarem

directamente relacionados com a obra e pela importância também deste aspecto de acordo com

Veiga (2003b). Conclui-se que os dois primeiros aspectos acima referidos e considerados muito

importantes foram consensuais à maioria deles.

15

20

13

21

9

4

11

3

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Valores e características a preservar nas paredes e seus revestimentos

Avaliação do estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes

Disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e mão-de-obra

Especificação de materiais e sua adequabilidade ao projecto e à obra

Muito importante Importante Pouco importante Nada importante

Figura 4.3 - Indicadores e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas

No que respeita ao estado de conservação, a análise do gráfico da figura 4.4 correspondente à

questão 3, “Quais os aspectos que considera relacionados com a caracterização do estado de

conservação dos revestimentos existentes?”, possibilita concluir que os tipos de anomalias que

revelam foram o aspecto identificado pela totalidade da amostra (24 respostas), tendo sido portanto,

consensual. Esta caracterização é da maior importância para uma decisão correcta relativamente ao

Page 68: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

54

tipo de intervenção a realizar, de acordo com Veiga (2003b). Segue-se o grau com que as anomalias

se manifestam (18; 75%) e viabilidade da sua reparação (18 igualmente, ou 75% da amostra), bem

como ainda o consequente nível de degradação provocada (14; 58%) que apesar de ser o aspecto

identificado com menos frequência, é no entanto representativo de mais de metade do número total

de respostas recebidas. Aqueles que não referiram este aspecto correspondem a directores de obra e

empreiteiros bem como promotores e donos-de-obra.

Tipos de anomalias que revelam; 24

Grau com que as anomalias se manifestam; 18

Consequente nível de degradação provocada; 14

Viabilidade da reparação das anomalias; 18 0

5

10

15

20

25

Figura 4.4 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes

Para além dos aspectos questionados, outras alternativas foram especificadas por vários

intervenientes, sobretudo a identificação das causas das anomalias (2; 8%), mas também outros tais

como a autenticidade, valor técnico e decorativo, anomalias associadas a outros elementos, funções

do revestimento afectadas, caracterização do revestimento e viabilidade técnica (tabela 4.2; anexo A-

tabela A1.2).

Tabela 4.2 - Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes

Caracterização do estado de conservação dos revestimentos existentes Nº de respostas Amostra %

Tipos de anomalias que revelam 24 100%

Grau com as anomalias se manifestam 18 75%

Consequente nível de degradação provocada 14 58%

Viabilidade da reparação das anomalias 18 75%

74 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Informação sobre revestimentos decorativos a proteger 1 4%

Autenticidade 1 4%

Valor técnico e decorativo 1 4%

Identificação das causas das anomalias 2 8%

Anomalias associadas a outros elementos 1 4%

Funções do revestimento afectadas 1 4%

Caracterização do revestimento 1 4%

Viabilidade técnica 1 4%

9 24 100%

Page 69: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

55

Quanto à questão 4, “Em termos de metodologia em edifícios existentes, tem preocupações a nível

da patologia, faz diagnóstico da parede de suporte e define a intervenção?”, da análise do gráfico da

figura 4.5 conclui-se que todos os intervenientes aos quais era aplicável responderam

afirmativamente (62%) ou que habitualmente o fazem (38%), o que é positivo e demonstra haver

preocupações não só com a anomalia mas também com a sua análise e reparação. Verifica-se que o

grupo que deu todo ele a mesma resposta afirmativa, constitui o dos conservadores-restauradores e

também que, genericamente, os grupos dos directores de obra e empreiteiros bem como dos

fornecedores e fabricantes de materiais de construção correspondem aos que o fazem habitualmente.

Este aspecto é expectável pelo facto de serem os tipos de intervenientes menos relacionados com o

projecto em si. Conforme Veiga et al. (2004), o processo de reabilitação deve basear-se num projecto

e respectiva metodologia, pelo que devem planear-se e concretizar-se as diferentes fases envolvidas.

Sim62%

Habitualmente38%

Figura 4.5 - Preocupações com a patologia, diagnóstico da parede de suporte e definição da intervenção

Relativamente à questão 5, “Quais os aspectos que a equipa projectista deve identificar ao delinear

as acções a desenvolver?” (figura 4.6), dos quatro que foram questionados o que se salienta é o

número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização, referido quase

pela totalidade da amostra à qual a questão era aplicável (22; 96%), seguido do conjunto de ensaios

a realizar (19; 83%). Constata-se ainda que 57% (13) dos intervenientes também referiu pontos de

aplicação, sendo de notar que este se traduziu como o aspecto menos consensual, supondo-se que

por ser o mais específico, enquanto apenas 30% daqueles (7) referiu o faseamento dos ensaios,

sobretudo directores de obra e empreiteiros.

Para além dos aspectos questionados, também outros foram especificados por intervenientes, tais

como: (i) incompatibilidades e materiais diferenciados; (ii) tipo de anomalias; (iii) registo das áreas

afectadas e nível de degradação de cada uma delas; (iv) decisões a tomar face aos resultados

obtidos nos ensaios; (v) necessidade de intervenção de outros técnicos; (vi) outras acções a

desenvolver a montante; (vii) prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior

aplicação; (viii) histórico da obra (possíveis intervenções anteriores) (tabela 4.3; anexo A-tabela A1.2).

Page 70: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

56

Nº, tipo e espessura de camadas do revestimento para

posterior caracterização; 22

Conjunto de ensaios a realizar; 19

Faseamento dos ensaios; 7

Pontos de aplicação; 130

5

10

15

20

25

Figura 4.6 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver

Tabela 4.3 - Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver

Aspectos a identificar pela equipa projectista ao delinear as acções a desenvolver Nº de respostas Amostra %

Nº, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização 22 96%

Conjunto de ensaios a realizar 19 83%

Faseamento dos ensaios 7 30%

Pontos de aplicação 13 57%

61 23 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Incompatibilidades e materiais diferenciados 1 4%

Tipo de anomalias 1 4%

Registo das áreas afectadas e nível de degradação de cada uma delas 1 4%

Decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios 1 4%

Necessidade de intervenção de outros técnicos 1 4%

Outras acções a desenvolver a montante 1 4%

Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação 1 4%

Histórico da obra - possíveis intervenções anteriores 1 4%

8 23 100%

Já no que respeita a questão 6, “Para além da inspecção visual, aquando do diagnóstico do edifício,

utiliza técnicas de caracterização experimentais?” (figura 4.7), houve maior variação nas respostas.

Em relação a ensaios in situ sobre o revestimento antigo, quando analisadas as suas respostas de

forma global, os intervenientes aos quais se aplica esta questão afirmam proceder sempre ou pelo

menos habitualmente à avaliação das propriedades mecânicas (13; 65%) e físicas (12; 60%). No

entanto, a diferença é pequena e ambas se revelam importantes. Analisa-se que os tipos de

intervenientes que mais a fazem equivalem aos consultores técnicos, directores de obra e

empreiteiros e, ainda, conservadores-restauradores. Por outro lado, nos ensaios de laboratório sobre

amostras extraídas em obra, a análise química (5; 26%) destaca-se como sendo a mais realizada,

seguindo-se as análises mineralógica e microestrutural (4; 21%) e, por fim, a análise orgânica (3;

Page 71: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

57

16%). Nos ensaios em laboratório observa-se que os intervenientes que afirmaram fazê-la

correspondem a consultores técnicos. Analisa-se, portanto, o facto de serem muito mais comuns os

ensaios in situ face aos ensaios de laboratório. Outros ensaios foram igualmente especificados por

alguns intervenientes, tais como análise estratigráfica, ensaios físicos e mecânicos em laboratório e

ensaios realizados por equipas de conservação e restauro (anexo A-tabela A1.2).

5

4

2

2

1

2

7

9

3

2

3

1

1

1

1

6

4

11

10

10

10

2

3

3

5

5

6

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Avaliação das propriedades físicas

Avaliação das propriedades mecânicas

Análise química

Análise mineralógica

Análise microestrutural

Análise orgânica

Análise estratigráfica

Ensaios físicos e mecânicos em laboratório

Ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

Sim Habitualmente Raramente Não

Figura 4.7 - Técnicas de caracterização experimentais no diagnóstico do edifício

Em relação à questão 7, “Qual a importância que atribui a cada um dos seguintes factores físicos e

mecânicos para a especificação de revestimentos de paredes exteriores?” (figura 4.8), os factores

apresentados foram genericamente considerados ‘muito importantes’ ou ‘importantes’, à excepção de

terem sido consideradas ‘pouco importantes’ as deformações do suporte por 8% (2) das respostas e

a área superficial da parede (7; 29%). No entanto, à humidade do suporte e às suas deformações foi

atribuída muita importância, respectivamente, por 79% (19) e 75% (18) da amostra. Seguem-se as

condições atmosféricas (6; 25%) sobretudo consideradas importantes e, por fim, a área superficial da

parede (2; 8%). Este último factor foi maioritariamente considerado importante mas alguns

intervenientes atribuíram-lhe pouca importância, equivalendo a fornecedores e fabricantes de

materiais de construção. Outros aspectos foram ainda referidos por intervenientes como muito

importantes, tais como: (i) valor cultural do edifício e do revestimento; (ii) verificação se as anomalias

do suporte estão ou não estabilizadas; (iii) compatibilidade com o existente; (iv) natureza do suporte e

do revestimento; (v) tipo de suporte; (vi) resistências mecânicas. A função do espaço e envolvente de

áreas anexas foram referidas como importantes (anexo A-tabela A1.2).

Page 72: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

58

6

19

18

2

1

1

1

1

1

1

18

5

4

15

1

1

1

2

7

0 5 10 15 20 25

Condições atmosféricas

Humidade do suporte

Deformações do suporte

Área superficial da parede

Valor cultural do edifício e do revestimento

Verificar se as anomalias do suporte estão ou não estabilizadas

Compatibilidade com existente

Função do espaço

Envolvente áreas anexas

Natureza do suporte e do revestimento

Tipo de suporte

Resistências mecânicas

Muito importante Importante Pouco importante Nada importante

Figura 4.8 - Especificação de revestimentos de paredes exteriores

Na questão 8, “No projecto inclui desenhos e especificações tendo em conta a natureza do suporte,

condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento?”, de acordo com Veiga et al.

(2004), da análise do gráfico da figura 4.9 conclui-se que os intervenientes aos quais era aplicável

responderam afirmativamente (60%) ou que habitualmente (27%) ou mesmo raramente o fazem

(13%), não tendo havido qualquer resposta negativa. Apesar da última representar uma percentagem

considerável, verifica-se que foi maioritariamente respondida por fornecedores e fabricantes de

materiais de construção, o que faz reflectir sobre a não aplicabilidade da questão a estes. Os

intervenientes que responderam afirmativamente a esta questão englobam projectistas arquitectos,

projectistas engenheiros e consultores técnicos, o que se encontra em linha com o esperado uma vez

que é expectável que estes desenvolvam um melhor entendimento no processo e uma melhor

garantia de qualidade da posterior execução da intervenção pelos intervenientes directos em obra.

Sim60%

Habitualmente27%

Raramente13%

Figura 4.9 - Desenhos e especificações no projecto

Page 73: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

59

Quanto à questão 9, “Opta por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra?”

(figura 4.10), praticamente metade dos intervenientes afirmou preferir produtos doseados em obra

(48%) sendo que 22% respondeu que utiliza produtos pré-doseados. Para 30% dos intervenientes, a

escolha não é clara, tendo escolhido pela opção ‘depende’. A análise das respostas permite concluir

que a opção por produtos tradicionais doseados em obra se destaca, no entanto os pré-doseados

têm um peso considerável, bem como a percentagem de quem faça depender a sua escolha da

especificidade da situação e da intervenção em causa. A opção por produtos tradicionais doseados

em obra equivale a projectistas arquitectos, consultores técnicos, conservadores-restauradores e,

ainda, promotores e donos-de-obra, o que pode demonstrar as suas preocupações e preferências

pelo que é tradicional, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou

consideradas adequadas. Ao invés, relativamente a produtos pré-doseados, estes correspondem

quase na totalidade a fornecedores e fabricantes de materiais de construção. Este aspecto é

expectável atendendo sobretudo aos curtos tempos de execução das obras presentemente e

facilidade de aplicação, sendo em função disso que optam, desenvolvem, fornecem ou fabricam os

seus materiais ou produtos, e por serem apenas esses os projectos e obras que acompanham estes

fabricantes de argamassas pré-doseadas. De notar, portanto, que quem especifica ainda não está

sensibilizado para este tipo de produtos produzidos por este grupo de intervenientes.

Sobre estes materiais e produtos, apresenta-se no anexo B (tabela B1) uma síntese do estudo de

mercado de materiais e produtos tradicionais doseados em obra ou pré-doseados, incluindo a

identificação dos seus produtores e marcas presentes no mercado nacional bem como a descrição

das respectivas constituições, propriedades e campos de aplicação, de acordo com informação do

respectivo fabricante. No capítulo 5, na aplicação da metodologia proposta no início desse capítulo ao

caso de estudo, especificam-se materiais e produtos também com base no estudo de mercado.

Pré-doseados22%

Doseados em obra48%

Depende30%

Figura 4.10 - Opção pelo tipo de produtos

Em relação à questão 10, “Quando escolhe um produto, experimenta-o/avalia-o através de ensaio?”,

a análise do gráfico da figura 4.11 permite observar que 48% da amostra aplicável o faz, 38% fá-lo

habitualmente enquanto 14% o faz apenas raramente, esta última fracção correspondente a

projectistas arquitectos e projectistas engenheiros. No entanto, a maior percentagem de respostas

afirmativas também equivale a projectistas arquitectos bem como a consultores técnicos e a

conservadores-restauradores. Como tal, depreende-se que não haja uniformidade a nível dos

projectistas na existência ou não deste procedimento de experimentação do produto escolhido.

Page 74: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

60

Constata-se ainda que os directores de obra e empreiteiros responderam todos sobretudo que o

fazem ou habitualmente, o que constitui um aspecto de grande importância antes da aplicação do

produto por parte dos intervenientes directos em obra.

Sim48%

Habitualmente38%

Raramente14%

Figura 4.11 - Experimentação do produto escolhido

No que respeita a questão 11, “Especifica os materiais e produtos a utilizar?”, dos intervenientes que

aplicam materiais e produtos grande parte afirmou que os especifica (81%) e os restantes fazem-no

habitualmente (19%), como pode ser observado no gráfico da figura 4.12. Constata-se que a

percentagem que habitualmente o faz corresponde a directores de obra e empreiteiros bem como a

fornecedores e fabricantes de materiais de construção. Todos os restantes tipos de intervenientes

especificam os materiais e produtos a utilizar, sendo importante que não tenha havido respostas

negativas relativamente a essa especificação, com vista a um projecto adequado e execução correcta

das intervenções. No entanto, tal situação revela especificação prescritiva e não exigencial, que

estaria mais directamente ligada com o desempenho em serviço (responsabilizando mais os técnicos

directamente intervenientes na obra, a partir de requisitos previamente definidos pelos projectistas)

que com as características técnicas típicas dos materiais de per se. De acordo com Flores-Colen

(2009), a especificação dos rebocos tradicionais continua com maior ênfase na formulação prescritiva

do que na abordagem exigencial.

Sim81%

Habitualmente19%

Figura 4.12 - Especificação dos materiais e produtos a utilizar

Quanto à questão 12, “Inclui a ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e

garantia da obra?” (figura 4.13), da mesma amostra aplicável de intervenientes que as duas questões

anteriores mais de metade inclui-a (67%), 19% fá-lo habitualmente, 9% raramente e 5% afirmou não

a incluir, as últimas duas correspondendo sobretudo a consultores técnicos. Verifica-se que houve

uma maior variação nas respostas inclusive referentes ao mesmo tipo de intervenientes, o que pode

Page 75: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

61

levar a pensar que a utilidade e importância dadas a este elemento não são consensuais entre os

inquiridos. Este aspecto é visível a nível de consultores técnicos, promotores e donos-de-obra bem

como directores de obra e empreiteiros.

Sim67%

Habitualmente19%

Raramente9%

Não5%

Figura 4.13 - Ficha técnica do material na especificação

Relativamente à questão 13, “Na especificação do material/produto, quais os critérios que utiliza?”, da

análise do gráfico da figura 4.14 conclui-se que a quase totalidade dos intervenientes que especificam

os materiais e produtos utiliza o critério de âmbito de aplicação do produto (23; 96%), bem como 67%

(16) o traço da argamassa. Já o custo do produto é apenas utilizado por 25% (6). Constata-se que

não só é genericamente consensual o critério de âmbito de aplicação entre os intervenientes, como o

inverso quanto ao custo do produto. Tal como é expectável dado o seu âmbito de trabalho e actuação,

este critério foi referido essencialmente por fornecedores e fabricantes de materiais de construção

mas também por promotores e donos-de-obra. Quanto ao traço, os intervenientes que não o referiram

correspondem sobretudo a fornecedores e fabricantes de materiais bem como a directores de obra e

empreiteiros. De referir que a prescrição por traço é muito limitativa, contrária à prescrição exigencial

pretendida, à especificação de requisitos de desempenho, por exemplo segundo a NP EN 998-1:2013.

Custo do produto; 6

Âmbito de aplicação do produto; 23

Traço da argamassa; 16

0

5

10

15

20

25

Figura 4.14 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto

Foram também referidos outros critérios por diversos intervenientes, sendo que se destaca a

compatibilidade com as preexistências (quando haja) que foi identificada por 8% dos inquiridos (2).

Os restantes critérios mencionados foram o cumprimento dos requisitos de compatibilidade e

desempenho especificados, preparação do suporte, modo de execução, bem como especificidades

da obra, suporte e revestimento, e marcação CE (quando aplicável) (tabela 4.4; anexo A-tabela A1.2).

Page 76: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

62

Tabela 4.4 - Critérios utilizados na especificação do material ou produto

Critérios utilizados na especificação do material ou produto Nº de respostas Amostra %

Custo do produto 6 25%

Âmbito de aplicação do produto 23 96%

Traço da argamassa 16 67%

45 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Compatibilidade com as preexistências (quando haja) 2 8%

Cumprimento dos requisitos de compatibilidade e desempenho especificados 1 4%

Preparação do suporte 1 4%

Modo de execução 1 4%

Especificidades da obra, do suporte e do revestimento 1 4%

Marcação CE (quando aplicável) 1 4%

7 24 100%

Na questão 14, “Especifica a composição da argamassa a utilizar?”, o gráfico da figura 4.15 permite

concluir que a maior parte dos intervenientes a especifica pelo menos habitualmente, sendo que 61%

da amostra aplicável respondeu afirmativamente e 22% habitualmente. Por outro lado, apenas 4%

raramente o faz e 13% respondeu negativamente em particular fornecedores e fabricantes de

materiais de construção. Observa-se que também alguns do mesmo grupo bem como directores de

obra e empreiteiros responderam que habitualmente especificam a composição. Tal como na questão

12, constata-se, assim, que houve uma maior variação nas respostas face a outras inclusive

referentes ao mesmo tipo de intervenientes, relativamente a fornecedores e fabricantes de materiais

bem como directores de obra e empreiteiros. No que respeita à exemplificação, tendo sido dados os

exemplos de traço em volume e proporções em massa, dos intervenientes que habitualmente o

fazem um referiu traço em volume quando não pré-doseados e outro especificou 1:4. Dos

intervenientes que efectivamente especificam a composição da argamassa, a maior parte dos que

exemplificaram (65%) referiu traço em volume (56%) sendo que um deles afirmou que o faz quando

não especifica argamassas pré-doseadas, outros acrescentaram ainda o tipo de areias, as

características dos constituintes e relação água/ligante. Dois intervenientes indicaram inclusivamente

exemplos específicos, 3:1 e 1:3. Conclui-se, portanto, que genericamente se especifica traço em

volume no caso de argamassas doseadas em obra. Do estudo dos rebocos antigos sabe-se que a

constituição das suas camadas de regularização e protecção corresponde a argamassas de cal e

areia ao traço entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia, de acordo com Flores-Colen e Brito (2012). No

entanto, fica a questão de onde se baseiam os intervenientes para a recomendação do traço.

Sim61%Habitualmente

22%

Raramente4%

Não13%

Figura 4.15 - Especificação da composição da argamassa a utilizar

Page 77: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

63

Quanto à questão 15, “Acompanha as especificações relativas à composição da argamassa com uma

descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas?” (figura 4.16), dos

intervenientes que afirmaram especificar a argamassa a utilizar todos fazem acompanhar as

especificações de uma descrição técnica das tecnologias de aplicação (61% da amostra aplicável),

sendo ainda notório que 31% habitualmente o faz. Os restantes (8%), fornecedores e fabricantes de

materiais de construção raramente o fazem (4%), enquanto directores de obra e empreiteiros

referiram especificamente não o fazerem habitualmente (4%). Naturalmente por esta questão se

relacionar com a anterior, também se verifica uma grande dispersão de respostas entre quem

acompanha as especificações com uma descrição técnica das tecnologias e quem habitualmente o

faz, abrangendo a generalidade dos tipos de intervenientes.

Sim61%

Habitualmente31%

Raramente4%

Não4%

Figura 4.16 - Descrição técnica detalhada das tecnologias de aplicação propostas

No que respeita a questão 16, “Na especificação/execução de revestimento exterior em argamassa,

opta por uma única camada (a) ou mais que uma (b)?”, da análise do gráfico da figura 4.17 conclui-se

que, dos intervenientes que especificam o revestimento, a maioria opta por mais que uma camada

sendo que 57% (13 inquiridos) respondeu afirmativamente, 30% (7) habitualmente e 9% (2)

raramente, esta última equivalente a fornecedores e fabricantes de materiais de construção.

Constata-se que os consultores técnicos, directores de obra e empreiteiros, fornecedores e

fabricantes, perfazem a percentagem dos que habitualmente o fazem, sendo que foram sobretudo os

restantes grupos que deram respostas afirmativas. Um só interveniente (dos grupos de projectistas

arquitectos bem como promotores e donos-de-obra) apenas respondeu que opta por uma única

camada. Quanto a esta opção, à qual alguns dos intervenientes que optam por mais que uma

camada (48%) também responderam, 13% (3) da amostra aplicável respondeu afirmativamente ou

habitualmente, ambas correspondendo tanto a fornecedores e fabricantes de materiais de construção

como a promotores e donos-de-obra, 13% (3) raramente e 9% (2) não o faz. Conclui-se, assim, que é

dada maior importância à opção por mais que uma camada relativamente a uma única, cujas razões

são analisadas na questão seguinte, que corresponde à maior opção por produtos doseados em obra.

3

13

3

7

3

2

2

0 5 10 15 20 25

Uma única camada

Mais que uma camada

Sim Habitualmente Raramente Não

Figura 4.17 - Especificação ou execução de revestimento exterior

Page 78: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

64

A questão 17, “Quais as razões/objectivos para a necessidade de mais que uma única camada?”

(figura 4.18), de acordo com Faria Rodrigues (1993) e Flores-Colen e Brito (2012), possibilitou uma

maior dispersão nas respostas sendo de salientar que 71% (17) da amostra identificou baixa

tendência para fendilhação por retracção, à excepção de fornecedores e fabricantes de materiais.

Boa aderência ao suporte ou descontinuidade em cada camada evitando fissuração na seguinte,

receberam ambas a preferência de 54% (13) dos inquiridos, constituindo deste modo as razões

menos consensuais. Traduzem-se, assim, as principais razões pelas quais os intervenientes optam

maioritariamente por mais que uma camada, como se concluiu na questão anterior. Já 33% (8)

assinalou boa compacidade e também barreira eficaz contra penetração de água, enquanto 25% (6)

referiu uma boa trabalhabilidade.

Boa trabalhabilidade; 6

Boa aderência ao suporte; 13

Boa compacidade; 8

Baixa tendência para fendilhação por retracção; 17

Barreira eficaz contra penetração de água; 8

Descontinuidade em cada camada evitando fissuração na seguinte; 13

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Figura 4.18 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada

Foram também identificadas pelos intervenientes outras razões, tais como: (i) boa carbonatação; (ii)

bom aspecto; (iii) possibilidade de eventuais correcções de imperfeições ou irregularidades do

suporte; (iv) compatibilidade mecânica com os suportes; (v) espessura do revestimento; (vi) evitar

fissuração devida ao peso excessivo de uma camada espessa; (vii) diversidade de acabamentos; (viii)

granulometria da argamassa; (ix) especificidades do produto (tabela 4.5; anexo A-tabela A1.2).

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65

Tabela 4.5 - Razões para a necessidade de mais que uma única camada

Razões para a necessidade de mais que uma única camada Nº de respostas Amostra %

Boa trabalhabilidade 6 25%

Boa aderência ao suporte 13 54%

Boa compacidade 8 33%

Baixa tendência para fendilhação por retracção 17 71%

Barreira eficaz contra penetração de água 8 33%

Descontinuidade em cada camada evitando fissuração na seguinte 13 54%

65 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Boa carbonatação 1 4%

Bom aspecto 1 4%

Possibilidade de eventuais correcções de imperfeições ou irregularidades do suporte 1 4%

Compatibilidade mecânica com os suportes 1 4%

Espessura do revestimento 1 4%

Evitar fissuração devida ao peso excessivo de uma camada espessa 1 4%

Diversidade de acabamentos 1 4%

Granulometria da argamassa 1 4%

Especificidades do produto 1 4%

9 24 100%

Quanto à questão 18, “Verifica e utiliza as normas aplicáveis?”, a análise do gráfico da figura 4.19

permite concluir que, da amostra aplicável, 68% o faz e 18% apenas habitualmente, sendo que 14%

raramente verifica e utiliza as normas aplicáveis, o que, não sendo percentagens satisfatórias,

revelam essa preocupação pela maior parte dos intervenientes. Um aspecto relevante a analisar é

que os intervenientes que responderam que raramente verificam e utilizam normas correspondem

sobretudo ao grupo de projectistas arquitectos, também aos de gestores de projecto e de directores

de obra e empreiteiros. Traduz-se, assim, num ponto a corrigir sobretudo a nível do projecto e da

execução das intervenções em edifícios antigos, sendo que é um procedimento a ser integrado na

metodologia de apoio ao projecto proposta no capítulo seguinte, a adoptar pelos projectistas na

concepção.

Sim68%

Habitualmente18%

Raramente14%

Figura 4.19 - Verificação e utilização das normas aplicáveis

Em relação à questão 19 representada no gráfico da figura 4.20, “Especifica os requisitos que

pretende que o revestimento exterior cumpra?”, 65% da amostra aplicável afirmou especificar

enquanto 25% apenas habitualmente (equivalendo esta sobretudo a consultores técnicos bem como

directores de obra e empreiteiros), 5% fá-lo raramente e 5% não especifica. Estas duas últimas

correspondem, respectivamente, a fornecedores e fabricantes ou projectistas arquitectos, o que

constitui um aspecto negativo por dever partir sobretudo destes últimos a definição e especificação

Page 80: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

66

dos requisitos pretendidos para o revestimento, por forma a assegurar que é sobretudo compatível

com o desempenho pretendido.

Sim65%

Habitualmente25%

Raramente5% Não

5%

Figura 4.20 - Especificação dos requisitos pretendidos para o revestimento exterior

Relativamente à questão 20, “Concorda com os seguintes critérios de compatibilidade dos

revestimentos?”, os resultados das respostas foram genericamente afirmativos para os critérios de

compatibilidade apresentados à excepção de três deles (figura 4.21). Proteger as paredes, não

prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício ou serem duráveis e contribuírem

para a durabilidade do conjunto foram os critérios que receberam respostas negativas de três

intervenientes. Quanto a este último, um interveniente entendeu não ser aplicável. Verifica-se que os

critérios de compatibilidade questionados, de acordo com Veiga (2003b), são consensuais à grande

maioria dos intervenientes em reabilitação. Foram ainda acrescentados por alguns intervenientes

outros critérios de compatibilidade dos revestimentos: (i) continuar as técnicas originais; (ii)

exequibilidade tendo em conta o contexto em que se desenvolve a obra; (iii) critérios estéticos; (iv)

ser compatível com a base e materiais adjacentes em termos físico-químicos; (v) não introduzir sais

solúveis no sistema (anexo A-tabela A1.2).

24

23

22

22

1

1

1

1

1

1

1

1

0 5 10 15 20 25

Não contribuir para degradar os elementos preexistentes sobretudo alvenarias

Proteger as paredes

Não prejudicar a apresentação visual nem descaracterizar o edifício

Ser duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto

Exiquibilidade, tendo em conta o contexto em que se desenvolve a obra

Continuar as técnicas originais

Estéticos

Ser compatível com a base e materiais adjacentes em termos físico-químicos

Não introduzir sais solúveis no sistema

Sim Não

Figura 4.21 - Critérios de compatibilidade dos revestimentos

Page 81: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

67

No que respeita a questão 21, “Para além de ter por base requisitos de compatibilidade, quais os

factores que considera que o método de selecção de uma argamassa de substituição deve ter em

conta?”, a análise do gráfico da figura 4.22 possibilita tirar conclusões relevantes. Dos factores

referidos, de acordo com Veiga (2003b), à excepção das tecnologias a utilizar, que 50% (12 dos

inquiridos) identificou serem importantes para o caso e portanto constituir um factor que não é

consensual (em que directores de obra e empreiteiros bem como fornecedores e fabricantes de

materiais não o consideraram), todos os outros foram reconhecidos pela maioria dos intervenientes.

Destacam-se as características do suporte e perícia do executante (21; 88%), seguindo-se soluções

que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível (18; 75%), bem

como ainda a adequação da mistura e das condições de aplicação correspondendo a 71% (17).

Relativamente a este factor, os tipos de intervenientes que não o consideraram integram os

fornecedores e fabricantes de materiais de construção bem como directores de obra e empreiteiros, o

que não parecia expectável por se relacionarem com a aplicação dos materiais e produtos

seleccionados ou se tratarem de intervenientes directos em obra. No que respeita a soluções que

permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rentabilidade possível, este factor não foi

referido por alguns intervenientes sendo eles consultores técnicos, directores de obra e empreiteiros

bem como também fornecedores e fabricantes de materiais. Quanto às características do suporte e

perícia do executante, curiosamente foram promotores e donos-de-obra bem como directores de obra

e empreiteiros que não as consideraram.

Adequação da mistura e das condições de aplicação; 17

Tecnologias a utilizar; 12

Características do suporte e perícia do executante; 21

Soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível; 18

0

5

10

15

20

25

Figura 4.22 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição

Foram ainda referidos outros factores a ter em conta, tais como ser de fabrico nacional (quando

exista), compatibilidade com a argamassa existente/adjacente e factores estéticos (tabela 4.6; anexo

A-tabela A1.2).

Page 82: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

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Tabela 4.6 - Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição

Factores a ter em conta no método de selecção de uma argamassa de substituição Nº de respostas Amostra %

Adequação da mistura e das condições de aplicação 17 71%

Tecnologias a utilizar 12 50%

Características do suporte e perícia do executante 21 88%

Soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível 18 75%

68 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Ser de fabrico nacional (quando exista) 1 4%

Compatibilidade com a argamassa existente/adjacente 1 4%

Factores estéticos 1 4%

3 24 100%

Na questão 22, “Quais os factores que influenciam de forma decisiva a estrutura física do reboco de

argamassa, o seu comportamento e a sua durabilidade?” (figura 4.23), quase a totalidade da amostra

identificou a interacção com o suporte (23; 96%), seguindo-se o modo de preparação e a cura (com

75% (18) e 67% (16), respectivamente) e, por fim, a evolução ao longo do tempo ainda com cerca de

metade das respostas (11; 46%) o que permite concluir que este factor não é consensual. Os

intervenientes que consideraram a influência deste factor integram os projectistas arquitectos,

consultores técnicos, bem como fornecedores e fabricantes de materiais de construção, o que já por

si é diversificado a nível de experiência de cada um. Verifica-se que o modo de preparação e a cura

não foram identificados por alguns dos projectistas arquitectos e promotores e donos-de-obra da

amostra.

Modo de preparação; 18

Cura; 16

Interacção com o suporte; 23

Evolução ao longo do tempo; 110

5

10

15

20

25

Figura 4.23 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco

Outros factores foram ainda referidos por intervenientes, sobretudo o modo de aplicação (8%), entre

outros como número e espessura das camadas, composição (constituintes e traço), condições de

aplicação e condições ambientais, o que revela a diversidade de aspectos que a amostra considera

influenciarem o reboco de argamassa (tabela 4.7; anexo A-tabela A1.2).

Page 83: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

69

Tabela 4.7 - Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco

Factores que influenciam a estrutura física, comportamento e durabilidade do reboco Nº de respostas Amostra %

Modo de preparação 18 75%

Cura 16 67%

Interacção com o suporte 23 96%

Evolução ao longo do tempo 11 46%

68 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Modo de aplicação 2 8%

Nº e espessura das camadas 1 4%

Composição (constituintes e traço) 1 4%

Condições de aplicação 1 4%

Condições ambientais 1 4%

6 24 100%

No que se refere à questão 23, “Considera verdadeira a afirmação de que a conservação do

revestimento é a opção mais correcta e favorável a nível de durabilidade, funcionalidade e

economia?” (figura 4.24), genericamente os intervenientes responderam que a consideram verdadeira

(92%), sem qualquer objecção. Excepção foi a resposta afirmativa de um interveniente referindo que

em geral sim, mas que há casos em que considera preferível a substituição, por exemplo, de rebocos

de argamassa cimentícia ou de rebocos soltos e muito desagregados com muito baixa resistência

mecânica. Outros dois intervenientes responderam negativamente (8%), um referindo que depende

da situação e outro que nem sempre, que por vezes a sua remoção/substituição é preferível. Verifica-

se que, apesar da existência destes casos, a grande maioria dos intervenientes concorda com a sua

conservação como a opção mais correcta e favorável em durabilidade, funcionalidade e economia, de

acordo com Veiga (2009).

Sim92%

Não8%

Figura 4.24 - Conservação do revestimento como opção mais correcta e favorável

77% daqueles que responderam afirmativamente à questão justificaram-no. Os motivos de

considerarem verdadeira a afirmação foram variados; no entanto são relacionáveis e genericamente

revelam a mesma importância de aspectos a ter em conta, bem como respectivas preocupações. A

razão principal atribuída pelos intervenientes para a conservação, pela análise da tabela 4.8, é o facto

de o revestimento servir de protecção (pele) ao suporte evitando a sua degradação (33% das

justificações aplicáveis). As restantes, com um peso de 13% no total de respostas, prendem-se com o

facto de o revestimento original ou próximo ser compatível e durável, bem como o de a conservação

aumentar a durabilidade do edifício e o facto de a substituição implicar riscos e custos acrescidos

para além de perda de características (tabela 4.8; anexo A-tabela A1.2).

Page 84: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

70

Tabela 4.8 - Justificações para a conservação do revestimento

Justificações para a conservação do revestimento Nº de respostas Amostra %

O material original é um documento de estudo 1 7%

O revestimento preserva o valor cultural 1 7%

O revestimento é compatível e durável (se for o original, ou próximo disso) 2 13%

O revestimento já carbonatou 1 7%

O revestimento serve de protecção (pele) ao suporte evitando a sua degradação 5 33%

Aumenta a durabilidade do edifício 2 13%

Contribui para a manutenção da qualidade do interior dos edifícios 1 7%

O revestimento possui função decorativa de grande relevância para a imagem do edifício 1 7%

Prolonga de forma significativa o tempo útil de vida do revestimento 1 7%

A não conservação provoca o aparecimento de anomalias, cujos custos de reparação são significativos 1 7%

A conservação é medida preventiva de anomalias de maior gravidade 1 7%

A substituição implica riscos e custos acrescidos para além de perda de características 2 13%

A manutenção periódica evita perda material e reduz custos de conservação 1 7%

A conservação periódica permite monitorização do comportamento, manutenção e eventuais correcções 1 7%

O edifício mantém o aspecto inicial, bem cuidado, sem necessidade de trabalhos profundos de reabilitação 1 7%

22 15 100%

Dos resultados relativos à questão 24, “Onde costuma aceder a informações sobre as boas práticas

de projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores com argamassas?” (figura 4.25), é

possível verificar que os congressos e palestras, manuais de aplicação de revestimentos e normas e

documentação técnica do LNEC são as fontes de informação salientadas pela maioria dos

intervenientes, seguindo-se logo as revistas de especialidade e os manuais de aplicação de

fabricantes de argamassas. Entre 67% (16) e 71% (17) da amostra de intervenientes costuma aceder

a cada aspecto questionado, exceptuando-se as revistas de especialidade que correspondem a 58%

(14) da amostra, seguindo-se a internet com apenas 42% (10). Constata-se que os tipos de

intervenientes que afirmaram geralmente aceder a todos os exemplos questionados, ou apenas à

excepção da internet, correspondem a alguns fornecedores e fabricantes de materiais, bem como

também a certos consultores técnicos. Pelo contrário, aqueles que menos aspectos referiram

equivalem maioritariamente a directores de obra e empreiteiros, consultando sobretudo manuais de

aplicação de revestimentos.

Internet; 10

Congressos e palestras; 17

Revistas de especialidade; 14

Manuais de aplicação de revestimentos; 17

Manuais de aplicação de fabricantes de argamassas; 16

Normas e documentação técnica do LNEC; 16

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Figura 4.25 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores

Page 85: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

71

Para além dos items questionados também outros foram especificados por determinados

intervenientes, tais como: (i) bibliografia técnica especializada; (ii) documentos académicos (teses e

artigos); (iii) contactos com antigos mestres; (iv) investigação e experimentação própria; (v)

experiência própria e de mestres aplicadores; (vi) conselho de outros profissionais; (vii) obras de

referência (de preferência com algum tempo decorrido sobre a aplicação dos revestimentos); (viii)

contacto directo com a obra. De todos, os que foram referidos por mais que um interveniente foram

os documentos académicos e o conselho de outros profissionais (8%). (tabela 4.9; anexo A-tabela

A1.2) Conclui-se, deste modo, que grande parte dos intervenientes em reabilitação recorre aos

principais meios de acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de

revestimentos de paredes exteriores com argamassas. No entanto, ainda assim, há vários que não o

fazem e este aspecto pode ser de certa forma compensado e eventualmente solucionado com a

existência de um documento de apoio ao projecto, que constitua uma metodologia ou modelo de

apoio ao projecto de reabilitação a nível dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

Tabela 4.9 - Informações sobre boas práticas de projecto e execução de revestimentos exteriores

Informações sobre as boas práticas Nº de respostas Amostra %

Internet 10 42%

Congressos e palestras 17 71%

Revistas de especialidade 14 58%

Manuais de aplicação de revestimentos 17 71%

Manuais de aplicação de fabricantes de argamassas 16 67%

Normas e documentação técnica do LNEC 16 67%

90 24 100%

Alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

Bibliografia técnica especializada 1 4%

Documentos académicos (teses e artigos) 2 8%

Contactos com antigos mestres 1 4%

Investigação e experimentação própria 1 4%

Experiência própria e de mestres aplicadores 1 4%

Conselho de outros profissionais 2 8%

Obras de referência 1 4%

Contacto directo com a obra 1 4%

10 24 100%

4.3. Síntese de conclusões do inquérito

As principais conclusões da análise de resultados aos inquéritos respondidos pelos intervenientes

seleccionados e apresentados em detalhe no presente capítulo são sumariadas nos parágrafos

seguintes. Pretende-se assim obter uma valiosa percepção prática das metodologias e

procedimentos aplicados por estes intervenientes.

A especificação de materiais e sua adequabilidade ao projecto e à obra bem como a avaliação do

estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes foram os dois aspectos mais

consensuais à maioria dos inquiridos no que respeita à sua importância para a intervenção de

conservação e reabilitação de revestimentos de paredes antigas.

Page 86: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

72

Para caracterizar o estado de conservação dos revestimentos, a totalidade dos inquiridos respondeu

que o tipo de anomalias que revelam é o aspecto mais importante.

Por outro lado, o aspecto mais importante que a equipa projectista deve identificar ao delinear as

acções a desenvolver, e o mais consensual (96% das respostas), foi o número, tipo e espessura de

camadas do revestimento para posterior caracterização.

Sobre a utilização de técnicas experimentais de caracterização do edifício e dos revestimentos de

paredes, a maioria dos inquiridos afirmou recorrer à avaliação de propriedades físicas e mecânicas

mediante ensaios in situ sobre o revestimento antigo. Destas propriedades questionadas, a maioria

classificou como muito importante ou importante a humidade do suporte e as deformações deste.

Quando questionados se no projecto incluem desenhos e especificações tendo em conta a natureza

do suporte, condições de exposição, exigências, tipo de reboco e de acabamento, a maioria (87%)

respondeu que o faz sempre ou habitualmente, o que é positivo.

Verifica-se que não há uma preferência clara entre produtos doseados em obra ou pré-doseados,

apesar de os doseados em obra terem tido a preferência dos projectistas arquitectos, consultores

técnicos, conservadores-restauradores e promotores e donos-de-obra. Este aspecto pode demonstrar

as suas preocupações e escolhas pelo que é tradicional e adaptado à especificidade do revestimento

em causa e à obra, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou consideradas

adequadas. Por outro lado, sobretudo os fornecedores e fabricantes referem produtos pré-doseados,

pelo que se pode concluir que quem especifica ainda não está sensibilizado para este tipo de

produtos produzidos por este grupo de intervenientes, aspecto que deve ser corrigido. Note-se ainda

que, para 30% dos intervenientes inquiridos, a escolha não é clara, fazendo depender a sua escolha

da especificidade da situação e da intervenção em causa.

Constata-se ainda que os intervenientes afirmaram especificar os materiais e produtos a utilizar ou

habitualmente o fazer, o que é positivo para garantir um projecto adequado e execução correcta das

intervenções. No entanto, tal situação revela especificação prescritiva e não exigencial, que estaria

mais directamente ligada com o desempenho em serviço (responsabilizando mais os técnicos

directamente intervenientes na obra, a partir de requisitos previamente definidos pelos projectistas)

que com as características técnicas típicas dos materiais de per se.

A inclusão da ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra

parece não ser consensual entre os intervenientes abrangidos pela amostra, até dentro do mesmo

grupo, apesar de a maioria (67%) ter respondido afirmativamente. De referir que os inquiridos podem

fornecê-la por iniciativa própria ou por exigência da obra.

Note-se que na especificação do material/produto, o critério mais utilizado por 96% dos intervenientes

é o do âmbito de aplicação, tendo sido o critério mais frequentemente apontado, por oposição ao

custo do produto, que foi o menos referido. Entre os inquiridos, o âmbito de aplicação revelou ser,

portanto, mais importante que o custo do produto apesar de que este também tem relevância no

processo. Fornecedores e fabricantes bem como directores de obra e empreiteiros correspondem

genericamente aos que não referiram o traço da argamassa. De referir que a prescrição por traço é

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73

muito limitativa, contrária à prescrição exigencial pretendida, pela especificação de requisitos de

desempenho, por exemplo segundo a NP EN 998-1:2013. Note-se ainda que 61% especifica a

composição da argamassa a utilizar, geralmente o traço em volume, no caso de argamassas

doseadas em obra. Destes, todos afirmam fazê-las acompanhar-se de uma descrição técnica das

tecnologias de aplicação.

Conclui-se também que a grande maioria opta pela aplicação de mais que uma camada, o que

corresponde à verificada preferência pela opção por produtos doseados em obra. Ao invés, os pré-

doseados têm adições e adjuvantes que permitem a aplicação em apenas uma única camada.

Apesar da dispersão na escolha das razões para a opção por mais que uma, a preferência vai para a

baixa tendência para fendilhação por retracção. Conforme abordado no capítulo 3, uma das razões

para a execução dos rebocos tradicionais com mais que uma única camada advém do facto de,

apenas com uma, não serem completamente conseguidas as características exigidas, entre as quais

se refere a baixa tendência para a fendilhação por retracção (Faria Rodrigues, 1993). Adicionalmente,

segundo Veiga (2003b), função dos requisitos e para a formulação das argamassas de substituição, a

tensão desenvolvida por retracção restringida deve ser inferior à resistência à tracção do suporte

constituindo, assim, um princípio básico e com influência na tendência para fendilhação. Por fim, a

norma europeia EN 13914-1:2005 recomenda aspectos referentes à concepção, preparação e

aplicação de argamassas de reboco, na qual se refere que estes revestimentos devem ser compostos

pelo menos por duas camadas e as camadas sucessivas devem devem ser mais fracas do que as

anteriores.

Um ponto a corrigir ao nível do projecto e da execução das intervenções em edifícios antigos é a

utilização das documentação principalmente pelos projectistas na concepção, dado que mediante as

respostas foi possível concluir que alguns não o fazem com frequência. Apresentadas no subcapítulo

3.4. do presente trabalho, determinadas normas e documentos técnicos internacionais e nacionais

são aplicáveis neste âmbito e devem ser consultadas e verificadas. Salientam-se a norma EN 13914-

1:2005 relativa a revestimentos de argamassa à base de ligantes minerais, o documento técnico DTU

26.1:2008 relativo a rebocos tradicionais, bem como normalização nacional como a NP EN 998-

1:2013 de argamassas para alvenarias e a NP EN 459:2011 quanto à cal de construção.

Verifica-se que dentro dos 10% de inquiridos que não especifica os requisitos pretendidos que o

revestimento exterior deve cumprir se encontram fornecedores e fabricantes, ou projectistas

arquitectos. Constitui um aspecto negativo por dever partir destes últimos a definição e especificação

dos requisitos pretendidos para o revestimento de forma a assegurar que é compatível com o

desempenho pretendido.

Os critérios de compatibilidade dos revestimentos são consensuais à grande maioria dos

intervenientes, o que demonstra a importância destes. Quanto aos factores que influenciam de forma

decisiva a estrutura física do reboco de argamassa, o seu comportamento e durabilidade, verificou-se

que a resposta consensual à quase totalidade dos inquiridos se prende com a interacção com o

suporte.

Page 88: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

74

De notar que, apesar de alguns casos isolados de intervenientes terem referido que por vezes a

remoção/substituição dos revestimentos é preferível, a grande maioria concorda com a sua

conservação como a opção mais correcta e favorável em durabilidade, funcionalidade e economia.

Por fim, conclui-se que apesar de os intervenientes inquiridos consultarem diversas fontes de

informação sobre as melhores práticas de projecto e execução, alguns ainda não o fazem e que este

aspecto pode vir a ser de certa forma compensado e eventualmente solucionado com a existência de

um documento de apoio ao projecto que constitua uma metodologia ou modelo para a reabilitação a

nível de revestimentos de paredes de edifícios antigos para o qual este trabalho se propõe contribuir.

De acordo com o inquérito realizado e as respostas obtidas e com vista à ficha de inquérito poder ser

utilizada, em trabalhos futuros, para alargamento da amostra ou desenvolvimento da metodologia por

outros investigadores, considera-se que é adequada e completa, no entanto podem deixar-se umas

notas e recomendar-se alguns ajustes. Ao longo da sua utilização foi possível perceber determinados

aspectos: (i) seria importante saber quais as razões pelas quais depende a opção por produtos pré-

doseados ou produtos tradicionais doseados em obra, pelo que o campo de justificação poderia ser

acrescentado na questão (9); (ii) quanto aos critérios utilizados na especificação do material/produto

seria relevante esclarecer melhor a questão (13), dado que os inquiridos interpretaram-na de forma

um pouco diferente uns dos outros inclusive especificando alternativas que o traduzem; (iii) um

número considerável de intervenientes não exemplificou a composição da argamassa a utilizar e,

ainda, seria interessante que referissem onde se baseiam para a recomendação do traço da

argamassa, pelo que este campo poderia ser acrescentado na questão (14); (iv) relativamente à

questão (23) de considerar-se verdadeira ou não a conservação do revestimento como primeira

opção, alguns inquiridos não justificaram a sua resposta e, ainda, seria relevante acrescentar o

campo ‘depende’, dado que casos pontuais acabaram por o fazer na própria justificação (tanto tendo

respondido ‘sim’ como ‘não’). Estas são as recomendações que se deixam para trabalhos futuros.

Page 89: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

75

5. Metodologia para reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos

5.1. Considerações gerais

Tendo por base o estudo do estado dos conhecimentos (capítulos 2 e 3) e o estado da prática com a

investigação mediante o contacto com intervenientes em reabilitação (capítulo 4), o presente capítulo

tem como principais objectivos a proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de

revestimentos de paredes de edifícios antigos e a sua aplicação mediante um caso de estudo.

Integrados na metodologia proposta, salienta-se a definição dos aspectos a analisar no edifício e dos

procedimentos e critérios relevantes para a intervenção, sobretudo para o projectista na fase de

concepção. O edifício que constitui o caso de estudo para aplicação da metodologia proposta foi

seleccionado por se enquadrar no âmbito do presente trabalho, de património monumental e com

necessidades urgentes de intervenção atendendo ao seu estado de conservação actual. A

caracterização do edifício e dos seus revestimentos de paredes é importante para a aplicação da

metodologia proposta ao edifício, seguindo-se o seu diagnóstico e definição da intervenção a realizar

ao nível dos seus revestimentos de paredes exteriores.

5.2. Proposta de metodologia de estudo e apoio à reabilitação de revestimentos antigos

5.2.1. Objectivos da proposta de metodologia de avaliação e reabilitação

A proposta de metodologia visa constituir um modelo prático ou guia de apoio à decisão e projecto,

que consiste numa sequência de trabalhos ou procedimentos de apoio. Assim, os principais

objectivos da proposta de metodologia são estruturar e sintetizar os procedimentos relevantes à

reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios antigos e constituir um apoio ao projecto. O

estudo sobre o estado de conservação dos edifícios e em particular dos seus revestimentos permite

obter indicações essenciais sobre a estratégia a adoptar e os materiais e técnicas a utilizar nas

intervenções. Pretende-se clarificar os procedimentos e critérios que o projectista deve seguir na fase

de concepção, tendo em vista a compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas

argamassas de revestimento. O diagrama da figura 5.1 representa o processo para desenvolvimento

da proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação, atendendo a determinados factores

relevantes, abordados nos subcapítulos seguintes.

Figura 5.1 - Processo para o desenvolvimento da proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação

Proposta de metodologia de apoio ao projecto

Tipo de estratégia e técnicas a adoptar

Compatibilidade entre materiais

Procedimentos e critérios na fase de concepção

Estudo dos elementos e do estado de conservação

Page 90: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

76

5.2.2. Compatibilidade dos elementos

Um aspecto crucial no âmbito do presente trabalho consiste na compatibilidade entre os materiais

originais e os novos a aplicar, do ponto de vista mecânico, químico, físico, geométrico e estético. Com

efeito, as novas argamassas de revestimento têm de ser compatíveis com o suporte e elementos

preexistentes, mantendo níveis adequados de desempenho. Como referenciado no capítulo 2 do

presente trabalho, de acordo com Santos Silva (2002), para o conhecimento destes é necessária a

determinação da composição de argamassas antigas, pelo que no LNEC tem sido complementada e

actualizada uma metodologia nesse sentido. Tem sido particularmente desenvolvida no LNEC uma

metodologia para revestimentos com base em cal (Veiga et al., 2004). A existência de determinados

requisitos é essencial para garantir a compatibilidade e contribuir para o bom desempenho global e

durabilidade do edifício.

Por outro lado, a selecção e desenho das soluções de revestimentos de substituição devem basear-

se em critérios de compatibilidade com os elementos preexistentes. Conforme estudos e diversas

publicações do LNEC, as soluções não devem contribuir para degradar os elementos preexistentes,

sobretudo alvenarias. Com efeito, devem proteger as paredes, não devem prejudicar a apresentação

visual nem descaracterizar o edifício e, sem colocar em causa os aspectos anteriores, devem ser

duráveis bem como contribuir para a durabilidade do conjunto.

Para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes de edifícios antigos,

aspectos pertinentes e prioritários ao interveniente na reabilitação e conservação são, entre outros, a

menor intrusividade possível na intervenção e a visão global do problema e das possíveis soluções.

5.2.3. Procedimentos e critérios relevantes na fase de concepção

Na fase de concepção é de grande relevância a avaliação do estado de conservação do edifício e em

particular dos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede de suporte, a definição da

intervenção pretendida e adequada, a especificação de materiais a utilizar e a especificação dos

requisitos de desempenho a cumprir no revestimento.

Relativamente ao estado de degradação de elementos construtivos, tal como referido no capítulo 2,

existem algumas metodologias para registo e avaliação, tais como: uma implementação de checklists

em intervenções de reabilitação (Leitão e Almeida, 2004), uma plataforma multimédia designada por

Buildings Life (Paulo, 2009), um catálogo de fichas de anomalias criado pelo PATORREB (Freitas et

al., 2007), o método apresentado no “Guide Socotec de la Maintenance et de la Réhabilitation” e um

método para aferição do nível de degradação de um elemento construtivo (Gaspar, 2009).

Face a um revestimento existente e com base em critérios científicos, a selecção da estratégia deve

ter em conta factores como o estado de conservação do edifício, a autenticidade histórica dos

materiais existentes e a disponibilidade de recursos para a sua realização. De acordo com Veiga

(2003b), o tipo e estratégia de intervenção a adoptar devem ser, primeiramente, a conservação como

Page 91: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

77

opção mais correcta e também favorável a nível da durabilidade, funcionalidade e economia.

Seguidamente, pode optar-se por uma reparação pontual com recurso a novos materiais e novas

tecnologias semelhantes ao preexistente. Justificada por elevado valor histórico ou artístico do

revestimento ou por raridade do material ou da técnica, pode ainda optar-se pela consolidação do

revestimento. Caso nenhuma das anteriores seja viável pode então optar-se, por fim, pela

substituição parcial ou total do revestimento exigindo a utilização de materiais e tecnologia

compatíveis, devendo seleccionar-se os revestimentos de substituição tendo em conta critérios de

compatibilidade funcional e estética bem como aspectos de viabilidade de execução e durabilidade.

De modo a limitar a deterioração e prolongar o tempo de vida útil do revestimento, devem

estabelecer-se planos de conservação e de manutenção periódica.

Por forma a evitar o risco de acelerar a degradação, são essenciais determinados aspectos gerais de

concepção e execução como a adequabilidade dos materiais de reparação, consolidação e

substituição, a adequabilidade do reboco ao projecto e às condições locais da obra, a recepção de

materiais ou de produtos pré-doseados, a preparação do suporte e as condições de execução. Para

além da importante questão dos materiais seleccionados, a forma como é feita a mistura e aplicação

posterior da argamassa é fundamental pelo que, assim, uma correcta operação de conservação

requer a adequação dos materiais usados e a execução em boas condições.

5.2.4. Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes

Sendo a elaboração de proposta teórica de metodologia de apoio ao projecto para reabilitação de

revestimentos de paredes em edifícios antigos o primeiro objectivo do capítulo 5, a metodologia

proposta é, assim, apresentada no presente subcapítulo. Tal como é representado no diagrama da

figura 5.2, tem-se por base o estudo do estado dos conhecimentos e a consequente investigação

mediante o inquérito realizado aos intervenientes bem como a sua análise crítica permitindo

estabelecer prioridades, validar e complementar os principais procedimentos de apoio a uma

intervenção em revestimentos de paredes antigas (Appleton, 2011; Cóias, 2007; Freitas, 2012; Paiva

et al., 2006; Veiga, 2009; Veiga et al., 2004).

Figura 5.2 - Base para a proposta de metodologia de apoio ao projecto

Deste modo, apresenta-se uma proposta, sob a forma de checklist com pontos de verificação dos

procedimentos importantes, a serem realizados quando aplicável e possível (figura 5.3).

Proposta de metodologia de apoio ao projecto

Estudo do estado da arte

Inquérito aos intervenientes

Lista de verificação de procedimentos

Bibliografia específica

Page 92: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

78

Proposta de metodologia de apoio ao projecto de reabilitação de revestimentos de paredes

1. Acesso a informação

1.1. Aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes

exteriores – ex: congressos e palestras; manuais de aplicação de revestimentos e/ou de fabricantes de

argamassas; normas e documentação técnica do LNEC; revistas de especialidade; bibliografia técnica

especializada; documentos académicos (teses e artigos); conselho de outros profissionais; contactos com

antigos mestres; experiência de mestres aplicadores; obras de referência; contacto directo com a obra.

1.2. Aceder a informações sobre o edifício em estudo, particularmente sobre a data de construção e

intervenções posteriores – ex: documentos relativos ao edifício; contactos com conhecedores deste.

2. Estado de conservação

2.1. Avaliar e caracterizar o estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes – inspecção.

2.1.1. Identificar as anomalias, diagnosticar o seu tipo, severidade e viabilidade da reparação

2.1.2. Identificar origem/causas das anomalias

2.1.3. Reconhecer as anomalias associadas a outros elementos (quando aplicável)

2.1.4. Verificar as funções do revestimento afectadas

2.1.5. Identificar a autenticidade e o valor técnico e decorativo, bem como ter informações sobre

revestimentos decorativos a proteger

2.1.6. Determinar correlações com os factores de degradação principais e definir/escalonar tratamentos –

ex: mediante o registo das áreas afectadas e mapeamento das anomalias com o registo dos tipos, categorias

e níveis/índices de degradação ou de susceptibilidade.

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

3.1.5. Definir o conjunto de ensaios a realizar e eventualmente os pontos de aplicação

3.1.6. Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação

3.1.7. Determinar as decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto

Page 93: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

79

3.2. Efectuar o diagnóstico da parede de suporte (nomeadamente a nível de estabilidade, quando necessário)

e particularmente dos revestimentos – inspecção e ensaios.

3.2.1. Inspecção visual

3.2.2. Ensaios in situ sobre o revestimento antigo – ex: avaliação das propriedades mecânicas; avaliação

das propriedades físicas; análise estratigráfica in situ.

3.2.3. Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas em obra (quando necessário) – ex: análise

química; análise mineralógica; análise microestrutural; análise orgânica; análise estratigráfica em laboratório;

ensaios físicos e mecânicos em laboratório.

3.2.4. Outros ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

4. Definição da intervenção

4.1. Definir a necessidade ou não de intervenção de outros técnicos como conservadores-restauradores e de

outras acções a desenvolver a montante – ex: reforço estrutural; tratamento de humidades – elemento de

projecto.

4.2. Definir o tipo e estratégia de intervenção a adoptar, fundamentada com base na avaliação do estado de

conservação do revestimento antigo e importância da técnica empregue – conservação, reparação pontual,

consolidação ou substituição – elemento de projecto.

4.3. Identificar disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e mão-de-obra para concretização – projecto.

4.4. Verificar a exequibilidade da intervenção em boas condições, tendo em conta o contexto em que se

desenvolve a obra – inspecção.

4.5. Definir os valores e características a preservar nas paredes e seus revestimentos – ex: valor histórico e

arquitectónico; autenticidade histórica dos materiais existentes; aspecto formal da sua arquitectura e conjunto

funcional, materiais, técnicas; texturas e cores; bom funcionamento global das paredes resultante da

compatibilidade entre materiais e soluções construtivas – elemento de projecto.

5. Especificação dos revestimentos

5.1. Especificar os revestimentos de paredes exteriores atendendo a determinados factores – ex: humidade

do suporte; deformações do suporte; condições atmosféricas; valor cultural do edifício e do revestimento;

estabilização ou não das anomalias do suporte; compatibilidade com o preexistente; natureza do suporte e do

revestimento; tipo de suporte; resistências mecânicas; função do espaço e/ou parede; envolvente de áreas

anexas; área superficial da parede – elemento de projecto.

5.2. Incluir desenhos e especificações tendo em conta natureza do suporte, natureza e condições de

exposição do reboco, exigências, tipo de reboco e de acabamento – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

Page 94: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

80

5.3. Definir os critérios a utilizar na especificação do material/produto – ex: âmbito de aplicação; traço da

argamassa; cumprimento dos requisitos de compatibilidade com as preexistências e desempenho especificados;

preparação do suporte; modo de execução; especificidades da obra, do suporte e do revestimento; marcação CE

(quando aplicável); custo do produto – elemento de projecto.

5.4. Optar por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra – projecto.

5.5. Experimentar/avaliar através de ensaio os produtos escolhidos (quando aplicável) – ensaios.

5.6. Especificar os materiais e produtos a utilizar e verificar a sua adequabilidade ao projecto e às condições

locais da obra – elemento de projecto; ensaios e inspecção.

5.7. Incluir ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra –

elemento técnico.

5.8. Optar por uma única camada ou mais que uma na especificação/execução do revestimento – elemento

de projecto.

5.9. Proceder à análise da compatibilidade (mecânica, química, física, geométrica e estética) da argamassa a

aplicar com o suporte e a argamassa preexistente (quando aplicável), mantendo níveis adequados de

desempenho – ensaios.

5.10. Especificar a composição da argamassa a utilizar – ex: traço em volume; tipo de areias; características

dos constituintes e número de camadas a aplicar; relação água/ligante – elemento de projecto.

5.11. Acompanhar as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição técnica

detalhada das tecnologias de aplicação propostas – elemento de projecto.

5.12. Verificar e utilizar as normas aplicáveis e eventualmente documentação técnica do LNEC – ex: NP EN

998-1:2013 (Especificação de argamassas para alvenarias - Parte1: Argamassas para rebocos interiores e

exteriores); NP EN 459:2011 (Cal - definições, especificações e critérios de conformidade; métodos de ensaio;

avaliação da conformidade) – elementos legais.

5.13. Especificar os requisitos de desempenho a cumprir pelo revestimento exterior – ex: critérios de

compatibilidade a diversos níveis entre reboco, suporte e acabamento final; critérios funcionais, de aspecto e

comportamento futuro com os elementos preexistentes; conformidade com regras que garantam a conservação

das características construtivas, da funcionalidade e da imagem do edifício – elemento de projecto.

5.14. Seleccionar e especificar a argamassa de substituição (quando aplicável) tendo em conta determinados

factores – ex: características do suporte e perícia do executante; adequação da mistura e das condições de

aplicação; soluções que permitam bom desempenho e durabilidade com a melhor rendibilidade possível;

tecnologias a utilizar; ser de fabrico nacional (quando exista); compatibilidade com a argamassa

existente/adjacente; factores estéticos – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

Page 95: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

81

6. Plano de manutenção

6.1. Estabelecer planos de conservação/manutenção periódica com vista a limitar-se a deterioração,

prolongar-se a vida útil do revestimento e do edifício antigo – elemento de projecto.

Figura 5.3 - Proposta de metodologia de apoio ao projecto (cont.)

5.2.5. Considerações finais sobre a proposta de metodologia Baseada e fundamentada com o estudo do estado da arte relativo aos revestimentos de paredes de

edifícios antigos, abordado nos capítulos 2 e 3, e com a investigação mediante inquérito realizado a

determinada amostra de intervenientes em reabilitação, apresentada no capítulo 4, a proposta de

metodologia apresentada neste capítulo 5 sob a forma de lista de verificação de procedimentos de

apoio ao projecto pode ser seguida e aplicada a edifícios neste âmbito. Cumprindo o objectivo de

estruturar e sintetizar os procedimentos relevantes à reabilitação de revestimentos de paredes de

edifícios antigos, a proposta de metodologia constitui um modelo prático de apoio à decisão e

projecto, sequência de trabalhos ou procedimentos de apoio (figura 5.4). Estes podem ser ajustados

consoante o edifício em causa e os respectivos revestimentos de paredes, podendo a lista de

verificação ser reduzida ou aumentada se necessário e adaptada, assim, ao caso particular.

Figura 5.4 - Síntese da proposta de metodologia

A existência de um modelo ou metodologia de apoio ao projecto, como é exemplo a proposta

apresentada, tornar-se-ia muito relevante e produtiva neste âmbito a vários níveis, bem como

propiciadora de uma melhor qualidade das intervenções de reabilitação e conservação nos

revestimentos de edifícios antigos. Primeiramente, pode constituir um apoio em particular para os

projectistas, para que possam seguir uma orientação possível e verificar a aplicabilidade dos vários

procedimentos à particularidade do edifício em estudo que constitui objecto do projecto.

Consequentemente, por se traduzir em projectos com as necessárias e adequadas especificações,

pode também melhorar o entendimento por parte dos intervenientes directos em obra e a correcta

execução da intervenção, aspecto fulcral na reabilitação e conservação deste tipo de edifícios. No

subcapítulo seguinte testa-se a aplicabilidade da presente metodologia proposta, pela sua aplicação a

um caso de estudo seleccionado.

Diagnóstico

3

Dos revestimentos

e também do

suporte

Argamassa

original

Incompatibilidades

Intervenções

anteriores

Conhecimento

geral sobre

ensaios a realizar

(in situ e de

laboratório)

Do edifício e dos

seus

revestimentos de

paredes

Anomalias

Causas

Factores de

degradação

Estado de

conservação

2

Tipo e estratégia

Disponibilidade de

recursos e

técnicas

Exequibilidade em

boas condições

Valores e

características a

preservar

Definição da

intervenção

4

Critérios

Materiais/produtos

Número de

camadas

Composição da

argamassa

Tecnologias de

aplicação

Documentação

aplicável

Requisitos de

desempenho

Possibilidades de

argamassas de

substituição

Especificação

revestimentos

5

Plano de

inspecção e

manutenção

programada/

periódica

Plano de

manutenção

6

Sobre boas

práticas de

projecto e de

execução

Conhecimento

geral sobre

características

das argamassas

doseadas em

obra e pré-

doseadas, assim

como do edifício,

incluindo datas

Acesso a

informação

1

Page 96: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

82

5.3. Aplicação da metodologia proposta a caso de estudo

5.3.1. Considerações gerais

O presente subcapítulo, envolvendo o caso de estudo, aborda a intervenção de reabilitação em

determinado edifício antigo ao nível dos seus revestimentos exteriores de paredes, mediante

aplicação da metodologia proposta no subcapítulo anterior. Para tal, foi seleccionado o Observatório

Astronómico da Escola Politécnica de Lisboa (por conveniência, é também referido como

“Observatório Astronómico” ou apenas “Observatório”) por se enquadrar no tipo de edifícios que

constitui o âmbito do trabalho. Também por se considerar que apresenta um interesse histórico e

artístico bem como grandes potencialidades arquitectónicas, para além de várias anomalias que se

podem identificar e tipificar como estudo e inspecção do edifício antecedendo a reabilitação.

A escolha do edifício do Observatório Astronónimo prende-se também com o facto de a autora ter tido

uma participação activa particularmente na fase inicial do projecto - levantamento e inspecção -

aquando desempenhou funções no atelier de arquitectura co-responsável pelo projecto de

reabilitação do edifício. No decorrer da fase de levantamento e inspecção, a autora reuniu um

conjunto de elementos in situ que se julga trazerem um importante contributo para o enriquecimento

da investigação.

Para uma intervenção correcta e eficaz sobre os revestimentos de paredes é exigido um bom domínio

de determinados aspectos, ao nível do conhecimento dos revestimentos existentes e dos suportes,

estratégias possíveis e soluções adequadas, segundo Veiga (2009). Assim, inicia-se a aplicação da

metodologia proposta pelo acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e concretamente

sobre o edifício em estudo, correspondendo ao ponto 1 da proposta.

Baseando a proposta de metodologia apresentada, pretende-se definir a intervenção a adoptar em

função da avaliação do estado de degradação do edifício, bem como das anomalias principais

verificadas nos revestimentos exteriores e causas prováveis, identificando-se consequentemente as

prioridades de intervenção. Para tal, torna-se necessário realizar o estudo do enquadramento

histórico e da evolução do edifício ao longo do tempo, bem como o seu levantamento e

caracterização genérica ao nível da tipologia, materiais utilizados nos elementos constituintes e

soluções construtivas, pelo que se considera importante abordá-lo no início do subcapítulo. Com este

estudo preliminar propõe-se demonstrar particularmente a importância de adequado diagnóstico e

inspecção a implementar com vista à reabilitação da construção existente, considerando-se também

a importância da prevenção como forma de minimizar as consequências das anomalias, bem como

da manutenção do edifício ao longo da sua evolução no tempo.

A aplicação de determinados procedimentos da metodologia proposta ao objecto de estudo permite

estudar a sua aplicabilidade, demonstrar a importância da sua aplicação logo desde a fase de análise

e diagnóstico conforme Paiva et al. (2006), e avaliar o contributo positivo que pode trazer como apoio

ao projecto e, consequentemente, à melhoria da qualidade em intervenções de reabilitação e

conservação dos revestimentos de paredes de edifícios antigos.

Page 97: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

83

5.3.2. Enquadramento histórico e caracterização do caso de estudo

No espaço da antiga Faculdade de Ciências há valores patrimoniais edificados do Museu da Ciência,

como o Laboratório Químico, o Laboratório de Física e o Observatório Astronómico, sendo que este

último é o que urge recuperar dado que o seu avançado estado de deterioração assim o exige. Uma

simultaneidade e sintonia verificam-se na génese dos edifícios do Observatório (1875) relativamente

à do denominado Jardim Botânico de Lisboa (1873-1878) (Carolino e Mota, 2009; Tavares, 1967)

classificado de Monumento Nacional em Dezembro de 2010. Um papel estratégico e decisivo na

vivificação de todo este conjunto em que se inserem é conferido àqueles edifícios, quer pela

proximidade com o acesso da Rua da Escola Politécnica quer pela sua implantação privilegiada como

espaço de recepção, charneira e transição entre a cota alta e baixa do próprio jardim (figura 5.5).

Junto à Escola Politécnica, da Faculdade de Ciências, foi concluído em 1877 o Observatório

Astronómico, com o objectivo de instruir a disciplina de Astronomia aos alunos e como instrumento de

estudo para professores e investigadores (figura 5.6) (Carolino e Mota, 2009; Cunha, 1937).

Figura 5.5 - Observatório Astronómico integrado no Jardim Botânico de Lisboa (fonte: Biblioteca do Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

Figura 5.6 - Equipamentos de observação no âmbito da Astronomia (fonte: Museu da Ciência, Universidade de Lisboa; F.C. e A. D., 2011)

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84

Sendo na altura constituído por dois corpos, um principal e um anexo, o edifício do Observatório cedo

começou a apresentar graves problemas de deterioração, principalmente ao nível estrutural, com o

aparecimento de fissuras em diversos locais. Tendo o edifício sido construído sobre um terreno

formado de aterros, as oscilações naturais foram a principal causa dos seus danos por

assentamentos diferenciais. A ameaça de ruína levou a que os engenheiros responsáveis pela

consolidação do edifício ponderassem a hipótese de o demolir por completo e reconstruir noutro local

(Silva, 1996a,b). Em Janeiro de 1897 o edifício superior foi demolido e reconstruído com um recuo de

cerca de dezoito metros no eixo longitudinal relativamente à muralha adjacente. Contudo, o projecto

de reconstrução valorizou o lado estético em detrimento das necessidades reais do espaço, que

inutilizou a curto prazo algumas salas do novo edifício, pelo que este aspecto revelou alguns erros

técnicos cometidos (Silva, 1996a).

Presentemente, este edifício superior do conjunto é considerado e conhecido como Observatório

Astronómico (figuras 5.7 e 5.8), tendo subsistido até aos dias de hoje e constituindo-se como o único

observatório oitocentista de ensino existente em Portugal. As suas formas curvilíneas encimadas por

três cúpulas, das quais se destaca o desenho em semiesfera da cúpula central, singularizam o

Observatório, sendo também de salientar a sua dupla simetria em relação aos eixos longitudinal e

transversal (figura 5.9) (Silva, 1996a).

Figura 5.7 - Implantação do Observatório Astronómico no conjunto do Jardim Botânico de Lisboa (fonte: adaptado de Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

Page 99: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

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Figura 5.8 - Vista da implantação do Observatório Astronómico

Figura 5.9 - Fachadas do Observatório Astronómico - fachada principal ou vista Sudeste (à esquerda) e fachada lateral direita ou alçado Norte (à direita) (fonte: Biblioteca e Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

5.3.3. Caracterização estrutural e construtiva do edifício

O conjunto que compõe o Observatório Astronómico da Escola Politécnica de Lisboa é singular, tanto

de um ponto de vista estético como científico ou simbólico, atendendo à beleza do edifício, ao seu

significado como exemplo de arquitectura a nível científico e ao rigor que norteou a sua execução,

que o tornam só por si um elemento que certamente interessa preservar (figura 5.10).

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86

O Observatório tem uma qualidade invulgar no âmbito da sua composição estrutural, à semelhança

do edifício inferior, sendo que se apresenta robusto e com muito poucas das anomalias que se

esperaria serem encontradas atendendo à data de construção, caso o conjunto se integrasse na

média da qualidade estrutural das construções do período final do século XIX no qual se insere. De

facto, estes edifícios não apresentam movimentos relevantes de fundações ou fracturas oblíquas nas

paredes principais, o que se constitui como invulgar em edifícios do período construtivo gaioleiro. O

fenómeno é manifestado com muito reduzida amplitude nos poucos elementos de cantaria que se

apresentam fracturados, sendo apenas alguns os exemplos detectados.

O facto de este edifício não ser o primeiro explica a sua robustez, tendo sido o segundo construído

neste local. Relativamente ao primeiro, datado de 1875, todos os relatos e registos revelam a sua

história, esta sim típica do período gaioleiro, de graves movimentos de assentamento e fracturas de

paredes. Segundo Vasco Rivotti da Silva, foi introduzido um conjunto absolutamente invulgar de

estudos de carácter estrutural e geotécnico bem como alguns projectos de reforço (Silva, 1996a,

1996b).

Um problema de génese de insuficiente cota de fundação do edifício de 1875 é revelado, tanto pelas

sondagens realizadas entre 1895 e 1897, como pelos efeitos do recalçamento com microestacas

(Silva, 1996a, 1996b). A razão pela qual os edifícios actualmente existentes, de 1898, têm uma

aparente robustez estrutural invulgar para a época, explica-se pelo facto de não ser crível que o

engenheiro responsável pelo levantamento, diagnóstico e confirmação do problema, no seu projecto

tivesse deixado que aquele se repetisse (figuras 5.11 e 5.12).

Figura 5.10 - Vistas do Observatório Astronómico - vista Sul (à esquerda) e vista Norte (à direita) (fonte: Biblioteca do Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

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Figura 5.11 - Desenhos do Observatório Astronómico - plantas (à esquerda) e alçado principal (à direita) (fonte: Museu da Ciência, Universidade de Lisboa)

Figura 5.12 - Diversas vistas do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

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O Observatório é, assim, um edifício do final do século XIX, com o sistema estrutural e construtivo

corrente neste período.

Entre os elementos principais da construção, contam-se fundações e paredes portantes de alvenaria,

de pedra irregular com argamassas de ligante de cal aérea (figura 5.13).1

Ao nível dos revestimentos e acabamentos (figura 5.14), destacam-se paredes de alvenaria com

acabamento barrado liso pintado com tinta aquosa, estuque pintado com tintas diversas, estuque

polido sem pintura, réguas de madeira pintada, apainelados de madeira exótica “mogno da Guiné”

(Silva, 1996a) e chapas metálicas pintadas.2

Figura 5.13 - Diversas vistas da fachada principal do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

1 Outros elementos principais englobam: pavimentos em estrutura de madeira e pavimentos de abobadilha com o

uso de estrutura metálica; coberturas em estrutura de madeira e ainda coberturas metálicas que constituíam as cúpulas móveis das salas de observação salientes em relação ao edifício dado o seu carácter especial; escadas com estrutura de madeira e escadas metálicas, entre as quais a escada de caracol metálica correspondente a uma alteração posterior à construção original.

2 Incluem-se ainda: pavimentos de madeira de soalho de pinho importado “à inglesa” (Silva, 1996a), pavimentos

de ladrilho de pasta de cimento e pó de pedra com ou sem padrão, pavimentos de betonilha sendo alguns sobre calçadas antigas, pavimentos de mosaico tipo S. Paulo, pavimentos de mosaicos hidráulicos com inertes aparentes e pavimentos de marmorite, correspondendo estes últimos três revestimentos a alterações posteriores à construção original; tectos de abobadilhas de tijolo barradas ou rebocadas e pintadas, abóbadas de alvenaria rebocadas e pintadas, tectos de estuque sobre fasquiado de madeira, sobre placas de estafe, sobre lajes de vigotas (todos estes com e/ou sem pintura) correspondendo estes dois últimos revestimentos a alterações posteriores à construção original (F.C. e A. D., 2011).

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Figura 5.14 - Vistas exteriores e interiores do Observatório Astronómico (fonte: F.C. e A. D., 2011)

Seguidamente, apresenta-se o exercício de aplicação da metodologia proposta ao caso concreto do

Observatório Astronómico, cujo estudo do edifício apresentado completa o conjunto de informação

necessária para alcançar este objectivo.

5.3.4. Metodologia de trabalho

Após o estudo do edifício (figura 5.15), bem como o acesso a informações sobre as boas práticas de

projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores, desenvolvidos no capítulo anterior,

pretende-se apresentar a aplicação da metodologia proposta ao caso concreto e no qual a autora

participou activamente a nível profissional nas fases de levantamento e inspecção, e subsequentes,

no ano de 2011, durante o período em que desempenhou funções como arquitecta num dos

gabinetes de arquitectura responsáveis pelo projecto de reabilitação.

Na sequência do estudo sobre o estado do conhecimento e sobretudo do trabalho desenvolvido ao

longo do capítulo anterior, a metodologia de trabalho por forma a aplicar a proposta efectuada

consiste na execução prática das etapas principais incorporadas na própria proposta de metodologia

de apoio ao projecto. Trata-se, assim, da avaliação e caracterização do estado de conservação do

edifício e revestimentos de paredes, realização do diagnóstico dos revestimentos particularmente

através de inspecção visual, definição do tipo e estratégia de intervenção a adoptar bem como

especificação dos revestimentos e respectivos materiais ou produtos e, de algum modo,

determinação da conservação e manutenção adequada ao exterior das paredes do edifício.

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90

Para a aplicação da proposta, a metodologia de trabalho seguida integra o estudo do edifício

seleccionado bem como de intervenções anteriormente nele realizadas, inspecções ao edifício,

acesso ao projecto de execução de arquitectura de Falcão de Campos Arq. e Appleton e Domingos

Arq. de 2011, contacto com estes e outros projectistas, experiência própria e acesso a bibliografia

técnica especializada. A proposta de metodologia identificada no início do presente capítulo é

apresentada como lista de verificação dos procedimentos relevantes, sendo realizados quando

possível por forma a ser aplicada a proposta a um caso de estudo e poder confirmar-se a sua

importância como apoio ao projecto.

Figura 5.15 - Fachada posterior ou vista Noroeste do Observatório Astronómico (fonte: desconhecida)

5.3.5. Estado de conservação e diagnóstico do edifício

5.3.5.1. Considerações iniciais

O diagnóstico e inspecção de um edifício em estudo baseiam a recolha de informação sobre a

construção e envolvente. O levantamento da sua geometria, materiais constituintes e seus sintomas

patológicos, bem como a avaliação das propriedades dos materiais e a determinação das suas

alterações possibilitam o estudo e caracterização da construção. Para tal, a inspecção visual ou com

o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam a capacidade visual é o tipo de inspecção mais

simples, sendo a utilizada na aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo desenvolvido. No

entanto, a realização de inspecções e ensaios com o objectivo de quantificar as propriedades

relevantes para os fins visados trata-se de um complemento ao estudo e caracterização de edifícios e

seus materiais, após reunida toda a informação disponível sobre a construção e efectuado o

levantamento no local. Quer o planeamento das inspecções e ensaios, variável conforme os motivos

que tornam necessária a intervenção e as respectivas circunstâncias, quer o número de ensaios a

realizar, dependem de diversos factores como a diversidade de elementos para caracterização, o

custo unitário dos ensaios e o tempo de execução necessário.

Para a previsão do comportamento do edifício e seus elementos face aos novos requisitos de

desempenho que determinam a necessidade da intervenção, é importante o conhecimento da sua

história pelo facto de as sucessivas alterações nela introduzidas determinarem conjuntamente o seu

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91

estado actual e tornarem-se fundamentais à previsão da sua futura evolução. Este corresponde a um

aspecto crucial no edifício em estudo no presente trabalho.

Após o acesso a informações sobre as boas práticas de projecto e concretamente sobre o edifício em

estudo, correspondendo ao ponto 1 da proposta, a avaliação e caracterização do estado de

conservação do edifício bem como a realização de diagnóstico correspondem aos pontos 2 e 3 da

metodologia proposta no início do presente capítulo, os quais são abordados nos próximos

subcapítulos.

5.3.5.2. Identificação de problemas - de origem, do tempo e de alterações

O edifício sofre de diversos problemas, alguns dos quais se devem a incorrecções no momento inicial

da concepção e/ou execução da obra, à idade avançada da construção e a uma deficiente

manutenção, ou ainda a alterações introduzidas no edifício ao longo da sua vida. Estes factores estão

na origem de uma série de problemas de carácter estrutural e construtivo, que se diferenciam em

função dos elementos da construção a que dizem respeito e da origem do problema. Apesar da

robustez do conjunto edificado, nos dias de hoje o que se verifica é que globalmente o edifício

apresenta deficiências estruturais, não intrínsecas. No entanto, padece essencialmente de danos

causados por falta de manutenção e abandono, patentes no decaimento dos revestimentos de

paredes tanto interiores como exteriores (figura 5.16) bem como de tectos e, consequentemente, na

podridão de elementos de madeira e na corrosão de elementos de metal.

Uma intervenção no edifício não é inviabilizada por estes fenómenos mas terá necessariamente que

passar pela reparação de elementos de madeira, eventual reforço de algumas soluções estruturais

em pavimentos e eventual substituição de partes da estrutura que se encontrem excessivamente

danificadas. Tendo em vista uma adequada consideração das anomalias num projecto de reabilitação

ou de conservação, a caracterização envolve o seu levantamento com suficiente rigor, desde a

fundamental inspecção visual até a ensaios laboratoriais sobre amostras recolhidas em obra.

Figura 5.16 - Anomalias nas fachadas do Observatório Astronómico - vista Sudoeste (à esq.) e vista Este (à direita) (fonte: F.C. e A. D., 2011)

Page 106: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

92

Dado que o edifício apresenta algumas fragilidades e um elevado tempo de vida, mais exigente

deveria ser a sua manutenção, contudo diversos problemas nele identificados decorrem de uma

deficiente manutenção. As causas dos principais problemas detectados no edifício são, portanto, a

falta de manutenção da envolvente construtiva (coberturas, paredes, vãos) e problemas de uso,

nomeadamente ao nível dos pavimentos de madeira.

Tanto nas coberturas metálicas planas como nas restantes coberturas com aquele material, a falta de

manutenção leva à entrada de água que consequentemente vai destruindo as estruturas e os

revestimentos inferiores. Nos rebocos e pinturas exteriores, a falta de manutenção tem o mesmo tipo

de efeito, permitindo a entrada de água que, por sua vez, provoca a destruição dos pavimentos de

madeira e revestimentos interiores. Naturalmente que este aspecto também se aplica aos vãos que,

sendo na sua maioria de madeira, deixando de ter manutenção entram em degradação cada vez

mais acelerada, acabando por deixar de garantir a protecção do interior, nomeadamente face à água

da chuva.

As consequências deste tipo de problema no interior são visíveis essencialmente através de:

apodrecimento disseminado de estruturas de pavimentos de madeira; apodrecimento disseminado de

revestimentos de madeira (pavimentos, remates); oxidação e delaminação de elementos metálicos

das abobadilhas de tijolo; desagregação de alvenarias e de revestimentos ao nível das abóbadas e

das paredes (figura 5.17); presença de eflorescências, destacamento e desagregação de

revestimentos do edifício; delaminação das pinturas dos diversos revestimentos.

Figura 5.17 - Anomalias no Observatório Astronómico - empeno e corrosão de elementos metálicos (à esquerda); sinais de desagregação da alvenaria nas abobadilhas, oxidação e delaminação de elementos metálicos (à direita)

(fonte: F.C. e A. D., 2011)

Tendo como principal objectivo a melhoria e a manutenção do edifício, as campanhas de obras e

alterações nele introduzidas ao longo do século XX são, em determinados casos, responsáveis por

problemas importantes, alguns de índole estrutural e construtivo, outros de índole patrimonial.

Ao nível dos revestimentos e acabamentos houve alterações generalizadas. Foram substituídos

quase todos os revestimentos interiores e exteriores do edifício, com algumas excepções. Os rebocos

e os estuques das paredes foram substituídos, sendo perceptível que os rebocos exteriores são de

base cimentícia. Como se observa em diversas situações, nomeadamente no exterior e no átrio de

entrada, foram também usadas tintas incompatíveis com o edifício por excessiva impermeabilidade

Page 107: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

93

ao vapor de água. O demérito de incompatibilidade em termos construtivos com o suporte existente e

de destruição da unidade decorativa original do edifício, foram resultado destas diversas alterações.

5.3.5.3. Síntese do estado de degradação do edifício

Considerando adequadamente as anomalias aquando de um projecto de reabilitação ou conservação

desta construção, a sua caracterização compreende o levantamento rigoroso desde a essencial

inspecção visual até aos ensaios laboratoriais sobre amostras recolhidas no local.

O edifício objecto de estudo do presente trabalho apresenta diversos problemas, sendo que uns se

devem a incorrecções no momento inicial da concepção e/ou execução da obra, outros à idade

avançada da construção e a uma deficiente manutenção, outros ainda a alterações introduzidas no

edifício ao longo da sua vida. Os vários factores estão na origem de problemas de carácter estrutural

e construtivo, diferenciando-se em função dos elementos da construção e da origem do problema.

Apesar da robustez do edifício, hoje em dia verificam-se globalmente deficiências estruturais, não

intrínsecas. No entanto, sofre sobretudo de danos causados por falta de manutenção e abandono,

evidentes no decaimento dos revestimentos de paredes tanto interiores como exteriores bem como

de tectos, na podridão de elementos de madeira e na corrosão de elementos de metal.

Considera-se que o edifício está num avançado estado de degradação, estando presentemente em

risco por falta da quantia total para a recuperação, tendo-se contudo obtido verbas da Universidade

de Lisboa, da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Secretaria de Estado da Cultura. Em

Dezembro de 2012, o edifício foi tapado para o proteger da chuva e selado pela Protecção Civil, para

impedir que alguém possa aceder ao seu interior, tal o risco que já apresenta (figura 5.18).

Uma reabilitação do edifício terá necessariamente que passar pela reparação de elementos de

madeira, pelo eventual reforço de algumas soluções estruturais em pavimentos e eventual

substituição de partes da estrutura que se encontrem excessivamente danificadas.

Figura 5.18 - Observatório Astronómico em risco (fonte: http://amigosdobotanico.blogspot.pt/2013/04/observatorio-astronomico-no-jardim.html)

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94

5.3.6. Diagnóstico dos revestimentos de paredes

5.3.6.1. Anomalias existentes e causas prováveis

A patologia da construção implica um conhecimento detalhado das características arquitectónicas,

construtivas e funcionais do objecto em estudo, sendo que um diagnóstico das anomalias detectadas,

prognóstico das causas prováveis e definição de recomendações de actuação são efectuados a partir

daquele (Watt, 1999). Genericamente, as anomalias principais correntes nos rebocos tradicionais

consistem em: (i) fendilhação e fissuração; (ii) perda de aderência, manifestando-se através do

destacamento da argamassa relativamente ao suporte ou pela perda de coesão ou desagregação do

material constituinte; (iii) eflorescências e criptoflorescências; (iv) colonização biológica; (v) manchas

de humidade e sujidade. O sistema de reboco aplicado pode fazer variar o tipo ou a incidência das

anomalias, seja ele tradicional, pré-doseado ou com pintura como acabamento. O planeamento de

intervenção nos revestimentos ganha um contributo positivo com o diagnóstico correcto de causas e

avaliação do estado da argamassa.

O diagnóstico dos revestimentos de paredes integra o ponto 3 da metodologia proposta no início do

presente capítulo. Mediante inspecção visual ou com o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam

a capacidade visual, é então possível detectar-se as anomalias existentes nos revestimentos de

paredes do caso de estudo e identificar-se as causas prováveis, funções do revestimento afectadas e

mecanismos de degradação associados.

Ao nível dos revestimentos de paredes, as fachadas do edifício antigo em estudo apresentam alguns

rebocos que se encontram desagregados, assim como certas alvenarias que constituem o seu

suporte. A causa provável desta perda de coesão pode ser a pintura dos rebocos das alvenarias,

sendo que podem impedir as trocas de humidade com o exterior causando concentração de

humidade, bolhas ou desagregações. Por outro lado, são bastante identificáveis revestimentos e

acabamentos com presença de eflorescências. No que respeita a este tipo de anomalia, causas

prováveis são, por um lado, a acumulação de sujidade por acção de poluentes atmosféricos pelo

vento e chuva facilitando a deterioração e o crescimento biológico, bem como, por outro lado, a

expansão associada à cristalização salina através da água proveniente do solo traduzindo-se na

acumulação à superfície sob a forma de eflorescências. Tanto o primeiro tipo de anomalia como o

segundo são identificados sobretudo nas zonas de parede em torno dos vãos e tubos de queda bem

como na parte inferior das fachadas junto às cantarias (figura 5.19).

Por outro lado, a existência em fachadas de revestimentos com sujidade, degradados, assim como

descolados e pinturas delaminadas revelando perda de aderência, pode ter origem ou agravamento

por anomalias associadas a outros elementos. Estes são não só os próprios elementos decorativos

degradados (sancas e remates) e outros destacados (frontão e sancas), como também cantarias e

elementos decorativos na presença de depósitos superficiais com alguma coesão e aderência,

substâncias de coloração cinzenta a negra (figura 5.20). Causas prováveis destas são a carência de

tratamentos dado que aqueles elementos podem requerer tratamentos específicos, incidência da

chuva ou lavagem que provoca, deterioração agravada pela acção do vento bem como de agentes

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agressivos presentes na atmosfera ou na água da chuva provocando erosão da pedra e, ainda,

poluição atmosférica originando manchas no material. Todas estas acções de agentes atmosféricos

nos elementos decorativos em pedra também afectam os próprios rebocos, elementos construtivos

envolventes e que estão particularmente expostos.

Figura 5.19 - Anomalias em revestimentos de fachadas - desagregação e eflorescências (fonte: F.C. e A. D.,2011)

Figura 5.20 - Anomalias associadas a elementos decorativos de fachadas - sujidade e descolamento (fonte: F.C. e A. D., 2011)

Page 110: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

96

5.3.6.2. Consequências de anomalias e intervenções anteriores nos rebocos

Sendo que os principais problemas identificados no edifício se devem à falta de manutenção da sua

envolvente construtiva (coberturas, paredes e vãos) e a problemas de uso, a falta de manutenção dos

próprios rebocos e pinturas exteriores é detectável. Não garantindo a estanqueidade, têm o mesmo

tipo de efeito que a falta de manutenção de coberturas, permitindo a entrada de água, que provoca a

destruição dos pavimentos de madeira e dos revestimentos interiores.

Pode considerar-se que as funções dos revestimentos afectadas são a eficácia como protecção das

alvenarias de suporte e, consequentemente, das próprias paredes contra acções externas, a

impermeabilização das fachadas de modo a contribuírem significativamente para a estanqueidade

global das paredes exteriores e, por fim, a melhoria da imagem do edifício por condicionarem o seu

aspecto. Assim, é de grande relevância a intervenção a nível dos revestimentos não só como

melhoria de características no exterior do edifício mas também, e com um importante contributo,

como forma de diminuição da humidade no interior deste, que genericamente é a principal

propiciadora de muitas das anomalias nos espaços interiores.

Portanto, no edifício em estudo, os principais aspectos responsáveis por mecanismos de degradação

a nível dos seus revestimentos antigos são a água, a poluição e os sais, bem como de certa forma as

reacções expansivas e a biodeterioração que lhes estão associadas. Deve travar-se a acção dos

mecanismos de degradação e influência sobre os revestimentos, bem como evitar-se a progressão

de situações patológicas. Os tratamentos a executar nos revestimentos de paredes deste edifício

devem ser escalonados com prioridade nas anomalias relativas a perda de coesão e de aderência,

mais do que anomalias a nível das superfícies dos rebocos, apesar de todas deverem ser tratadas.

Relativamente a intervenções anteriores, constata-se que ao nível dos revestimentos e acabamentos

do edifício houve alterações generalizadas, pelo que quase todos os revestimentos interiores e

exteriores foram substituídos. A autenticidade e o valor técnico e decorativo dos revestimentos

exteriores originais das paredes, à base de cal aérea, tinham uma grande importância e papel no

edifício. No entanto, pela análise dos actuais se constata que os rebocos e estuques das paredes

foram substituídos e é visível a olho nú que os rebocos exteriores são de base cimentícia em vez do

mesmo tipo de solução tradicional, o que num edifício baseado em ligantes aéreos implica problemas

de incompatibilidade com o suporte. Da mesma forma, como se observa em diversas situações no

exterior, foram usadas tintas incompatíveis com o edifício por excessiva impermeabilidade ao vapor

de água. Trata-se de soluções inadequadas ao tipo de suporte e incompatíveis com a construção,

potenciadoras de patologia e, em consequência, um tempo depois de degradação generalizada.

5.3.7. Definição da intervenção no revestimento de paredes

A reabilitação de um edifício pressupõe a resolução das anomalias construtivas e a intenção de

melhoria do seu desempenho local ou geral, compreendendo, portanto, um conjunto de operações

Page 111: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

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destinadas a aumentar os seus níveis de qualidade, com vista à conformidade com níveis de

exigências funcionais superiores àqueles para os quais o edifício foi concebido (Appleton, 2011).

A humidade é uma das grandes preocupações nos edifícios antigos dos quais este caso de estudo é

exemplo, estando associada ao aparecimento de muitas das anomalias e à evolução destas para

situações bastante gravosas para a estrutura. As anomalias mais frequentes em paredes devem-se à

presença de humidade, sendo a de precipitação resolvida mediante intervenções sobre os

revestimentos. Existem fenómenos de higroscopicidade devidos à presença de sais higroscópicos

nos materiais, que sofrem ciclos de dissolução/cristalização com humidades relativas e consequentes

aumentos de volume com a cristalização. Deste modo, as medidas de protecção contra a humidade

tornam-se indispensáveis quando se pretende prevenir a manifestação das anomalias.

A exigência de especialização para além da área especificamente técnica torna-se particularmente

relevante sobretudo quando se trata de edifícios antigos com grande interesse histórico e patrimonial,

como o presente objecto de estudo, pelo que a escolha da solução a adoptar depende de diversos

factores, designadamente os seguintes: objectivos da intervenção, importância funcional do edifício,

interesse histórico e/ou cultural da construção, condicionamentos económicos e condicionamentos

locais aos trabalhos a realizar (Paiva et al., 2006).

Uma proposta de intervenção no edifício em estudo deve incluir, na globalidade, a conservação e

reparação dos elementos existentes, reposição das existências e substituição de soluções ilegítimas

ou inoportunas que foram sendo adoptadas ao longo dos mais de cem anos de existência do edifício,

operações que devem ser suportadas por algumas medidas de reforço e reparação estrutural. Numa

intervenção de reabilitação no objecto de estudo deve procurar-se a defesa exaustiva e rigorosa dos

valores patrimoniais da identidade e da memória do edificado, no entanto possibilitando acolher

novas utilizações, necessidades de acessibilidade, segurança, desempenho e sustentabilidade (F.C.

e A. D., 2011).

A definição da intervenção no revestimento de paredes, que se desenvolve de seguida, corresponde

ao ponto 4 da proposta de metodologia apresentada no início do presente capítulo.

Ao nível dos revestimentos e acabamentos do edifício (pavimentos, paredes, tectos, rodapés/lambris

e sancas), pode considerar-se que a operação deve ser de manutenção e conservação do que é

original ou se encontra estabilizado e de substituição dos revestimentos que apresentam problemas

e/ou incompatibilidades com os suportes. Como tal, ao nível dos revestimentos exteriores de paredes,

não se verifica ser viável ou recomendável manter o revestimento existente e podem definir-se

acções a desenvolver a montante como o tratamento de humidades.

Com base na avaliação do estado de conservação do revestimento exterior existente e importância

dos materiais e técnicas originalmente empregues nas paredes, define-se o tipo e estratégia de

intervenção a adoptar, a sua substituição por revestimentos compatíveis com o suporte, à base de cal

aérea como os originais. Os revestimentos das paredes exteriores são, então, removidos até à

alvenaria e substituídos por revestimentos com ligante de cal aérea. As soluções não estruturais

recomendadas relacionam-se com compatibilização de matérias e técnicas de forma a corrigir as

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anomalias existentes. Trata-se da substituição de revestimentos degradados ou incorrectamente

aplicados por serem de base cimentícia ao nível do exterior do edifício, com a reposição de

revestimentos compatíveis com o suporte existente, conforme metodologia descrita adiante, bem

como a execução de pinturas com tintas compatíveis. Identificados os recursos, materiais, técnicas e

mão-de-obra necessários para a concretização da intervenção, torna-se possível conferir a sua

exequibilidade em boas condições e durabilidade do conjunto.

No presente caso de estudo, a definição dos valores e características a preservar nas paredes e seus

revestimentos exteriores tem uma grande relevância. Salienta-se, por um lado, o valor histórico,

cultural e arquitectónico do edifício e o conjunto formal dos materiais, técnicas, texturas e cores

originais dos seus revestimentos, bem como, por outro, o bom funcionamento global das paredes

resultante da compatibilidade entre materiais e soluções construtivas.

5.3.8. Especificação dos revestimentos

A especificação dos revestimentos de paredes, que a seguir se apresenta, corresponde ao ponto 5 da

metodologia proposta no presente capítulo.

A areia a empregar na confecção das argamassas deverá satisfazer as condições de ser bem limpa

ou lavada e isenta de terras, substâncias orgânicas ou quaisquer outras impurezas, e ser peneirada e

lavada quando julgado necessário. No fabrico de argamassas a empregar em rebocos deverá utilizar-

se areia de grão fino, esta considerada a que passe no crivo com orifícios de 1.5 mm.

“A cal aérea será de boa qualidade, extinta por imersão em tanque ou por aspersão e deve satisfazer

as seguintes condições: ser bem cozida, sem cinzas, matérias terrosas, fragmentos de calcário cru ou

recozido e isenta de quaisquer outras impurezas; ser bem cozida a mato; após a extinção, ser isenta

de fragmentos resultantes de deficiências ou excessos de cozedura de calcário. A cal extinta por

aspersão será guardada em armazém fechado, para não ficar sujeita à acção dos agentes

atmosféricos; na falta de armazém, poderá ser permitida a sua conservação ao ar livre, desde que

seja coberta depois de extinta com uma camada delgada de argamassa de cal e areia bem alisada.

No caso de se empregar cal extinta por imersão, esta será trabalhada sem nova adição de água” (F.C.

e A. D., 2011).

As operações relativas à execução de revestimentos de paredes com argamassas de cal serão

constituídas pelos procedimentos indicados de seguida. Os revestimentos de base cimentícia

existentes serão removidos; as paredes a revestir serão limpas de forma a retirar argamassas pouco

aderentes ou desagregadas, “os suportes serão limpos de materiais soltos ou pulverulentos e

deverão ser humedecidos para que não retirem a água de amassadura das argamassas que irão

constituir os novos revestimentos; os suportes serão molhados, pelo menos nos três dias anteriores

ao da execução do revestimento, duas vezes por dia, fazendo-se depender a quantidade de água de

humedecimento das condições atmosféricas existentes aquando da execução destes trabalhos; em

todo o caso, a molhagem será efectuada de cima para baixo e com recipientes de cerca de dois litros

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de capacidade ou por intermédio de mangueira debitando um pequeno caudal; as fundações dos

suportes que irão receber estes revestimentos serão drenadas superficialmente e em profundidade,

bem como ventiladas, para minimizar a tensão de capilaridade da água no suporte; deverão

igualmente ser analisadas as condições de escoamento da água nas coberturas”; serão feitos

encasques necessários para que as paredes fiquem bem desempenadas (F.C. e A. D., 2011).

Para o revestimento exterior de paredes opta-se por produtos tradicionais doseados em obra,

especificando-se o traço em volume da argamassa a aplicar e requisitos. Inclui-se a ficha técnica dos

materiais na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra e opta-se por mais que uma

camada na especificação do revestimento. “Na execução de revestimento exterior de paredes com

argamassas de cal deverão ser utilizadas argamassas de cal aérea hidrófuga constituídas por:

Salpisco: (…) quando o suporte é constituído por alvenaria de pedra assente com argamassa de cal,

não deverá ser efectuado qualquer salpisco.

Emboço: os emboços serão executados com argamassa de cal aérea hidrófuga em pasta ‘D.

Fradique’, ou equivalente, ao traço 1:3.5, exclusivamente com areias lavadas com a composição de

2.5 volumes de areia média e 1 volume de areia fina lavada, com aditivo pozolânico em pó ‘D.

Fradique’, ou equivalente, a 20% do volume de cal.” As diversas camadas de emboço serão

executadas em conformidade com as indicações do fabricante das cais. “Este trabalho inclui, em

condições de calor, um abundante humedecimento do suporte, pelo menos nos três dias anteriores,

duas vezes por dia, uma delas ao final da tarde e ainda cerca de uma hora antes da projecção do

emboço que deverá ter espessura máxima de 1.5 cm (primeiro emboço) e de 1.0 cm (segundo

emboço), com acabamento sarrafado grosso. Quando houver necessidade de executar mais do que

uma camada de emboço (paredes de suporte em alvenaria de pedra), deverá decorrer pelo menos

cerca de três dias entre uma camada e a seguinte.” Isto pressupõe que a camada anterior foi

apertada e reapertada com sarrafo, quando começa a secar. “Entre uma camada e outra é

igualmente indispensável efectuar molhagem com sulfatador ou pulverizador, ou ‘caiada’ com água. A

aplicação de uma nova camada não deverá ser feita antes de a água da molhagem se ter infiltrado na

camada anterior ou alvenaria.

Reboco: o reboco será executado com cal aérea não hidrófuga em pasta ‘D. Fradique’, ou

equivalente, ao traço 1:3.5, só com areia fina lavada, com aditivo pozolânico em pó ‘D. Fradique’, ou

equivalente, a 20% do volume de cal, projectada após secagem do emboço (cerca de três dias).”

As diferentes camadas do revestimento serão realizadas com uma dosagem de água adequada à

consistência necessária à respectiva execução.

“O reboco será precedido de abundante humedecimento pulverizado do emboço, será areado e terá

espessura máxima de 0.5 cm, após aperto e reaperto à talocha, devendo entretanto ser efectuada

molhagem por pulverização caso se receie que haja demasiada secagem.

Quando a superfície a regularizar apresente maiores depressões deverá ser efectuada prévia

regularização da superfície a barrar utilizando esta massa à qual se adiciona igual volume de areia

fina. Igual procedimento deverá ser seguido quando se pretende um barramento de enchimento maior

que 0.5 mm de espessura.

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100

Recomenda-se que a espessura da última camada, o reboco, quando contenha areia média, não seja

inferior a 1 cm de modo a que, com o aperto e reaperto, a areia de maiores dimensões ‘mergulhe’ na

argamassa e permita um acabamento adequado” (F.C. e A. D., 2011).

“As várias camadas de emboço e o reboco serão aplicadas por projecção mecânica. Para garantir a

qualidade do revestimento devem seguir-se as recomendações de fabrico, execução e cura indicadas

pelo fabricante das cais, nomeadamente do técnico do fabricante que acompanhe os trabalhos. Os

trabalhos de revestimento deverão ser precedidos de todos os que envolvam execução de roços ou

outros que introduzam vibrações. A limpeza das eventuais cantarias igualmente deverá preceder a

aplicação da última camada do revestimento. O reboco terá acabamento que deverá ser submetido à

aprovação do Projectista” (F.C. e A. D., 2011).

Os emboços dos revestimentos exteriores serão, portanto, executados com argamassa de cal aérea

hidrófuga de acordo com os traços definidos, enquanto o reboco será efectuado com argamassas de

cal aérea não hidrófuga. Estas superfícies com rebocos de cal deverão receber preparação e

aplicação de esquemas de pintura sendo que, de modo a evitar a eventual cristalização de sais

abaixo da superfície e consequentemente destacamentos e empolamentos do revestimento, só

deverão ser utilizadas tintas que permitam alta permeabilidade ao vapor de água. Neste caso

enquadram-se tintas de base de cal e tintas de silicato de acordo com a norma DIN 18363: 2012

(Allgemeine Technische Vertragsbedingungen (ATV). Maler- und Lackiererarbeiten - Beschichtungen.

Termos contratuais sobre condições técnicas gerais (ATV). Trabalhos de pintura e envernizamento -

revestimentos) relativa a pintura e envernizamento de revestimentos, que independentemente da sua

composição química não poderão conter mais do que 5% de resinas acrílicas, aplicadas de acordo

com as indicações dos fabricantes. Os revestimentos exteriores de paredes do edifício serão, assim,

rebocos areados finos de base de cal com pintura de base de cal apagada envelhecida ‘CIN, Rialto

Epoca Ottocento’ (14-935), de cor a definir.

As operações de pintura deverão ser efectuadas com prévia protecção dos vidros e caixilharias

adjacentes, bem como o acabamento final será obtido através de barramento de base de cal com

pigmentos baseado em óxidos naturais. Para a realização das pinturas deve obedecer-se, em

particular, às especificações do DTU 59:1952 (Cahier des Prescriptions Techniques Générales

applicables aux travaux de Peinture, Nettoyage, Mise en Service, Vitreries, Papier de Teinture) e

outras subsequentes (F.C. e A. D., 2011).

A respeito dos materiais ou produtos especificados, após o estudo de mercado nacional de materiais

e produtos resumido no anexo B (tabela B1), a cal ‘D. Fradique’ da Fradical (Fábrica de

Transformação de Cal, Lda.) tem patente nacional.

A ‘cal aérea hidrófuga em pasta D. Fradique’ consiste numa “cal aérea como ligante natural

hidrofugado a partir de utilização de subproduto do azeite”. Tem como características principais a

“fendilhação nula após conclusão dos trabalhos, baixo coeficiente de capilaridade, ser hidrófuga,

condutibilidade térmica constante, alta impermeabilidade à água no estado líquido, grande

permeabilidade ao vapor de água e óptimo envelhecimento” (ficha técnica do material). “Não havendo

entrada de água quer por absorção quer pela fendilhação, a resistência térmica da envolvente

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101

exterior do edifício não é diminuída no tempo e permite a utilização de isolamentos térmicos e

acústicos com elevada permeabilidade ao vapor de água” (http://www.fradical.pt/).

Quanto à ‘cal aérea não hidrófuga em pasta D. Fradique’, consiste numa “cal aérea como ligante

natural CL 90”. Tem como características principais a “fendilhação nula após conclusão dos trabalhos,

boa aderência aos materiais de suporte, baixo coeficiente de capilaridade, elevada durabilidade, boa

plasticidade, condutibilidade térmica constante, ser bactericida e permeável ao vapor de água, boa

trabalhabilidade, óptimo envelhecimento e carbonatação (240 dias para 1.5 cm de espessura, variável

em função da humidade relativa)” (ficha técnica do material).

O ‘aditivo pozolânico em pó D. Fradique’ é uma pozolana artificial em pó, um metacaulino moído de

forma a apresentar uma elevada superfície específica. Trata-se, assim, de “um metacaulino, idêntico

ao utilizado pelos romanos, que uma vez adicionado às argamassas de cal aérea confere-lhes um

maior e mais rápido endurecimento, sem introdução de sais solúveis como aconteceria com a

utilização do cimento ou cal hidráulica. A sua utilização em pequenas percentagens nas camadas de

enchimento dos revestimentos permite que a camada seguinte se possa executar decorridos cerca de

três dias após a anterior sem afectar os bons desempenhos acima referidos” (http://www.fradical.pt/).

O ‘aditivo pozolânico em pó D. Fradique’ consiste num “aditivo para argamassas de cal aérea. (…) A

adição a argamassas de cal aérea confere-lhes características de hidraulicidade resultantes da

reacção pozolânica. A sua utilização possibilita ainda o encurtamento de prazos de execução dos

revestimentos e assentamentos” (ficha técnica do material).

‘Rialto Epoca Ottocento’, da gama Rialto, da CIN (Corporação Industrial do Norte, S.A.), é um

revestimento feito à base de cal apagada envelhecida, para interior e exterior (http://cindecor.cin.pt/).

“Para além de proteger fachadas da degradação provocada pelos agentes atmosféricos, permite

reproduzir fielmente o efeito aguarelado (…) das tradicionais fachadas italianas. O ‘Rialto Epoca

Ottocento’ responde totalmente aos requisitos italianos para estes produtos, a utilizar na recuperação

de centros históricos” (http://www.cin.pt/). “’Epoca Ottocento’ é um revestimento mineral para interior

e exterior, constituído por cal apagada envelhecida, pigmentos naturais, óxidos inorgânicos e aditivos

minerais, que confere um acabamento estético característico da cal aplicada a pincel, mate e

manchado.” Tem como características principais a “elevada permeabilidade ao vapor de água, boa

aderência ao suporte, resistência aos álcalis, resistência à abrasão e ser não inflamável” (ficha

técnica do material).

Relativamente a normas aplicáveis destacam-se as seguintes, anteriormente referenciadas no

capítulo 3 ou no presente capítulo:

• DIN 18363: 2012. Allgemeine Technische Vertragsbedingungen (ATV). Maler- und Lackiererarbeiten

- Beschichtungen (Termos contratuais sobre condições técnicas gerais (ATV). Trabalhos de pintura e

envernizamento - revestimentos);

• EN 13914-1:2005. Design, preparation and application of external rendering and internal plastering -

External rendering;

• EN 13914-2:2005. Design, preparation and application of external rendering and internal plastering -

Design considerations and essential principles for internal plastering;

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• NP EN 998-1:2013. Especificação de argamassas para alvenarias. Parte 1: Argamassas para

rebocos interiores e exteriores.

• NP EN 459-1:2011. Cal de construção. Parte 1: Definições, especificações e critérios de

conformidade;

O revestimento exterior de paredes do edifício deve cumprir determinados requisitos de desempenho.

Referem-se sobretudo os critérios de compatibilidade a diversos níveis entre reboco, suporte e

acabamento final, abordados no capítulo 4, bem como a conformidade com regras que garantam a

conservação das características construtivas, da funcionalidade e da imagem do edifício.

5.3.9. Considerações finais sobre o caso de estudo

O tema abordado na segunda metade do presente capítulo consiste no estudo aprofundado de um

edifício antigo, o Observatório Astronómico que, por um lado, apresenta um grande valor tanto

histórico e científico como iconográfico e arquitectónico e no qual, por outro lado, é notória a

existência de anomalias relevantes na construção, por falta da sua manutenção ao longo dos tempos

mas também devido a intervenções incorrectas. Revela-se imprescindível a determinação e análise

das suas causas bem como a definição dos adequados métodos de diagnóstico, com vista a uma

intervenção apropriada e ajustada às necessidades e requisitos definidos.

No edifício em estudo, os diversos problemas que apresenta tanto se devem a incorrecções no

momento inicial da concepção ou execução da obra, como à idade avançada da construção e a uma

deficiente manutenção, bem como ainda a alterações nele introduzidas ao longo da sua vida. O

principal problema observado que constitui a origem da maior parte das anomalias nesta construção

é a humidade devido às entradas de água sob as suas diversas formas. Por fim, pode-se referir que

este edifício urge ser reabilitado e conservado, pelo agravamento do seu estado de deterioração com

o passar do tempo, sem a necessária manutenção da construção.

Um objectivo deste último subcapítulo, mediante a aplicação da metodologia proposta na primeira

parte deste capítulo 5 tendo em vista o estudo da sua exequibilidade e aplicabilidade, consiste na

apresentação de proposta de intervenção ao nível dos revestimentos exteriores de paredes do

edifício com vista a alcançar o restabelecimento de adequados níveis de desempenho durante a sua

vida útil. Como tal, também se pretende a retoma de materiais e técnicas originais compatibilizando-

os entre suporte, revestimento e acabamento. As principais operações nos revestimentos ao nível do

exterior do edifício passam pela substituição dos revestimentos de base cimentícia actualmente

existentes tendo sido incorrectamente aplicados ou consequentemente degradados, pela reposição

de revestimentos à base de cal aérea compatíveis com o suporte em alvenaria de pedra, bem como

por fim pela execução de pinturas com tintas compatíveis.

Para o exterior das paredes do edifício recomenda-se o material de acabamento apresentado, com

vista à garantia da possibilidade de uma manutenção simples, em lugar de garantia da sua

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inexistência, que não seria de todo adequada. Trata-se de um acabamento de pouca e/ou fácil

manutenção, como um barramento que não exige repinturas cíclicas e envelhece de forma natural.

Por fim, importa referir o contributo do caso de estudo para o presente trabalho, que corresponde

sobretudo à verificação e estudo da aplicabilidade da metodologia de apoio proposta ao nível do

projecto, com vista a uma intervenção correcta e adequada nos revestimentos de paredes do edifício,

tendo-se verificado a vantagem de, no caso de as fases propostas na metodologia serem seguidas

rigorosamente por qualquer que seja o interveniente, se garantir a qualidade do planeamento do

projecto e da respectiva intervenção. Nos pontos seguintes procede-se, assim, à análise da aplicação

da metodologia ao presente caso de estudo, concluindo-se sobre as suas vantagens e possibilidade

de desenvolvimentos futuros.

5.4. Análise crítica da aplicação da metodologia de apoio proposta

A recolha de informação sobre uma construção e sua envolvente baseia-se, sobretudo, no

diagnóstico e inspecção do objecto de estudo, tanto ao nível da estrutura propriamente dita e das

fundações como das acções a que está sujeita em função da sua utilização e ambiente que a envolve.

O estudo e caracterização da construção integram não só o levantamento da sua geometria,

materiais constituintes e suas anomalias, como também a caracterização dos materiais incluindo a

avaliação das suas propriedades e a determinação das suas alterações. Por outro lado, o estudo da

envolvente construtiva visa o conhecimento das acções quer físicas quer químicas a que se encontra

sujeita e que demarca o tempo de resposta como instantâneo ou demorado. Por fim, o estudo do

comportamento da construção pretende saber a forma da sua interacção com a envolvente quando

submetida a forças e alterações, especialmente a nível estrutural.

Essencialmente para a avaliação das características geométricas da estrutura e para a identificação

genérica dos materiais que a constituem e dos eventuais sintomas patológicos, a inspecção visual ou

com o auxílio de dispositivos ópticos que potenciam a capacidade visual é o tipo de inspecção mais

simples, tendo sido o utilizado pela autora na aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo.

No entanto, actualmente uma série de técnicas e instrumentos facilitam as observações ou

multiplicam o seu rigor e alcance. Segundo Cóias (2007), podem proporcionar aos responsáveis pela

concepção das intervenções de conservação, reparação e recuperação, determinados dados

importantes ajudando à recolha de informação para avaliar a capacidade de desempenho da

construção. Aqueles ajudam, ainda, não só à determinação das causas de possíveis anomalias

existentes e correcta avaliação da importância e extensão das degradações existentes, mas também

à adopção de medidas correctivas menos intrusivas e mais bem adaptadas, atempada definição e

planeamento das intervenções e monitorização do comportamento da construção após as mesmas.

Reunida toda a informação disponível sobre determinada construção e efectuado o levantamento no

local mediante a representação da sua geometria, um complemento ao estudo e caracterização do

edifício e dos seus materiais é a realização de inspecções e ensaios com o objectivo de quantificar as

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104

propriedades relevantes para os fins visados. Pretende-se prever o seu comportamento face aos

novos requisitos de desempenho que determinam a necessidade de uma intervenção na construção.

Para tal, pressupõe-se também o conhecimento da sua história, desde a origem até ao estado em

que se encontra à data, na medida em que as sucessivas alterações nela introduzidas determinam

cumulativamente o seu estado actual e tornam-se essenciais para prever a sua futura evolução. Este

é um aspecto de extrema relevância no edifício que constitui objecto de estudo.

O planeamento das inspecções e ensaios é variável conforme os motivos que a tornam necessária e

as circunstâncias em que decorrerá, assim como o número de ensaios a realizar depende de vários

factores, entre os quais a diversidade dos elementos para caracterização, o custo unitário dos

ensaios e o tempo de execução necessário para aqueles. Como tal, não são definidos na aplicação

da proposta ao presente caso de estudo. De qualquer forma, por vezes, quando possível e aplicável,

realizam-se ensaios laboratoriais especializados sobre amostras de materiais ou partes da

construção recolhidas em obra, estas últimas adoptadas para completar e fundamentar o diagnóstico.

Na aplicação da proposta de metodologia de apoio ao caso de estudo executou-se a maioria das

etapas principais nela incorporadas, não só relativas ao estado de conservação do edifício e

revestimentos de paredes e ao diagnóstico destes últimos, como também à intervenção a adoptar, à

especificação dos revestimentos e à sua conservação e manutenção adequada. Correspondendo ao

objectivo final do presente capítulo, testa-se, deste modo, a aplicabilidade da metodologia de apoio

proposta. Na definição do tipo e estratégia de intervenção bem como especificação dos revestimentos,

respectivos materiais/produtos e técnicas recomendadas, faz-se referência a elementos escritos do

projecto de execução de arquitectura de Falcão de Campos Arq. e Appleton e Domingos Arq. em

2011. Trata-se de um projecto baseado no edifício existente e histórico de intervenções anteriores,

concebido com rigor e particularmente correspondendo às preocupações e aspectos abordados no

presente trabalho, podendo considerar-se que se constitui como forma de validação da metodologia

proposta e sua credibilidade.

Segue-se a metodologia de apoio proposta na primeira parte deste capítulo sob a forma de checklist,

com a marcação das etapas que foram efectuadas na sua aplicação ao caso de estudo, apresentada

na figura 5.21.

1. Acesso a informação

1.1. Aceder a informações sobre as boas práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes

exteriores

1.2. Aceder a informações sobre o edifício em estudo, particularmente sobre a data de construção e

intervenções posteriores

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta

Page 119: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

105

2. Estado de conservação

2.1. Avaliar e caracterizar o estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes – inspecção.

2.1.1. Identificar as anomalias, diagnosticar o seu tipo, severidade e viabilidade da reparação

2.1.2. Identificar origem/causas das anomalias

2.1.3. Reconhecer as anomalias associadas a outros elementos (quando aplicável)

2.1.4. Verificar as funções do revestimento afectadas

2.1.5. Identificar a autenticidade e o valor técnico e decorativo, bem como ter informações sobre

revestimentos decorativos a proteger

2.1.6. Determinar correlações com os factores de degradação principais e definir/escalonar tratamentos

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

3.1.5. Definir o conjunto de ensaios a realizar e eventualmente os pontos de aplicação

3.1.6. Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação

3.1.7. Determinar as decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios

3.2. Efectuar o diagnóstico da parede de suporte (nomeadamente a nível de estabilidade, quando necessário)

e particularmente dos revestimentos – inspecção e ensaios.

3.2.1. Inspecção visual

3.2.2. Ensaios in situ sobre o revestimento antigo

3.2.3. Ensaios de laboratório sobre amostras extraídas em obra (quando necessário)

3.2.4. Outros ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

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106

4. Definição da intervenção

4.1. Definir a necessidade ou não de intervenção de outros técnicos como conservadores-restauradores e de

outras acções a desenvolver a montante – elemento de projecto.

4.2. Definir o tipo e estratégia de intervenção a adoptar, fundamentada com base na avaliação do estado de

conservação do revestimento antigo e importância da técnica empregue – conservação, reparação pontual,

consolidação ou substituição – elemento de projecto.

4.3. Identificar disponibilidade de recursos, materiais, técnicas e mão-de-obra para concretização – projecto.

4.4. Verificar a exequibilidade da intervenção em boas condições, tendo em conta o contexto em que se

desenvolve a obra – inspecção.

4.5. Definir os valores e características a preservar nas paredes e seus revestimentos – elemento de projecto.

5. Especificação dos revestimentos

5.1. Especificar os revestimentos de paredes exteriores atendendo a determinados factores – elemento de

projecto.

5.2. Incluir desenhos e especificações tendo em conta natureza do suporte, natureza e condições de

exposição do reboco, exigências, tipo de reboco e de acabamento – elemento de projecto.

5.3. Definir os critérios a utilizar na especificação do material/produto – elemento de projecto.

5.4. Optar por produtos pré-doseados ou produtos tradicionais doseados em obra – projecto.

5.5. Experimentar/avaliar através de ensaio os produtos escolhidos (quando aplicável) – ensaios.

5.6. Especificar os materiais e produtos a utilizar e verificar a sua adequabilidade ao projecto e às condições

locais da obra – elemento de projecto; ensaios e inspecção.

5.7. Incluir ficha técnica do material na especificação para controlo da qualidade e garantia da obra –

elemento técnico.

5.8. Optar por uma única camada ou mais que uma na especificação/execução do revestimento – elemento

de projecto.

5.9. Proceder à análise da compatibilidade (mecânica, química, física, geométrica e estética) da argamassa a

aplicar com o suporte e a argamassa preexistente (quando aplicável), mantendo níveis adequados de

desempenho – ensaios.

5.10. Especificar a composição da argamassa a utilizar – elemento de projecto.

5.11. Acompanhar as especificações relativas à composição da argamassa com uma descrição técnica

detalhada das tecnologias de aplicação propostas – elemento de projecto.

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

Page 121: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

107

5.12. Verificar e utilizar as normas aplicáveis e eventualmente documentação técnica do LNEC – elementos

legais.

5.13. Especificar os requisitos de desempenho a cumprir pelo revestimento exterior – elemento de projecto.

5.14. Seleccionar e especificar a argamassa de substituição (quando aplicável) tendo em conta determinados

factores – elemento de projecto.

6. Plano de manutenção

6.1. Estabelecer planos de conservação/manutenção periódica com vista a limitar-se a deterioração,

prolongar-se a vida útil do revestimento e do edifício antigo – elemento de projecto.

Figura 5.21 - Etapas efectuadas na aplicação da metodologia proposta (cont.)

A metodologia proposta no início do presente capítulo pode ser adaptada como lista de apoio ao

projectista em obra, de aplicação prática, pelo que se apresenta de seguida na figura 5.22 um

exemplo de preenchimento do ponto 3 da metodologia proposta correspondente ao diagnóstico dos

revestimentos, na aplicação ao caso de estudo.

3. Diagnóstico

3.1. Delinear as acções a desenvolver de diagnóstico dos revestimentos – inspecção.

3.1.1. Identificar o número, tipo e espessura de camadas do revestimento para caracterização

Camadas de regularização e protecção (1, 2 ou 3 camadas principais)

Emboço: 1 subcamada mais que 1 subcamada (espessura máxima de 1.5 cm cada)

Reboco: 1 subcamada mais que 1 subcamada (espessura máxima de 0.5 cm com areia fina, ou espessura mínima de 1 cm com areia média)

Esboço: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Camadas de protecção, acabamento e decoração (1, 2 ou 3 camadas principais)

Barramento: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Pintura: 1 subcamada mais que 1 subcamada

Ornamentação

Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao caso de estudo

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108

3.1.2. Identificar a composição e as propriedades da argamassa original (quando possível)

Argamassa de cal e areia ao traço volumétrico entre 1:1 e 1:5 de cal aérea:areia.

3.1.3. Reconhecer incompatibilidades e materiais diferenciados

Argamassas de base cimentícia diferentes das originais à base de cal.

Tintas incompatíveis com o suporte em alvenaria de pedra.

3.1.4. Analisar o histórico de intervenções anteriores (quando aplicável)

Substituição dos rebocos originais com tipo de solução tradicional por rebocos de base cimentícia.

Utilização de tintas incompatíveis com o suporte por excessiva impermeabilidade ao vapor de água.

Figura 5.22 - Exemplo de preenchimento relativo ao diagnóstico dos revestimentos na aplicação ao caso de

estudo (cont.)

5.5. Considerações finais da metodologia

Tendo sido seguida a maioria dos passos indicados, a aplicação da metodologia proposta ao caso de

estudo possibilita concluir que esta não só é exequível como na realidade apoia a concepção do

projecto e, consequentemente, a definição da intervenção de reabilitação nos revestimentos de

paredes de edifícios antigos. Inclusive os procedimentos relativos aos ensaios, que no caso de

estudo não foram efectuados, são importantes e determinam escolhas correctas e intervenções

adequadas nos edifícios. A metodologia proposta apresenta-se de forma completa, no entanto

permite ser adaptada e ajustada ao tipo de edifício em causa, ao seu estado de conservação e

especificidades, adequando-se determinados pontos indispensáveis a uma intervenção correcta ao

nível dos revestimentos de paredes do caso particular. O contributo do caso de estudo para o

presente trabalho corresponde, assim, à verificação e estudo da aplicabilidade da metodologia

proposta ao nível do projecto, por forma a melhorar-se a sua eficácia e qualidade.

Analisando a aplicação da metodologia proposta ao caso de estudo, constata-se a sua exequibilidade

e aplicabilidade, pelo que permite também reforçar a importância da sua existência como modelo de

apoio ao projecto com vista aos frutos que possa ter a nível de qualidade tanto do projecto como da

própria execução da intervenção o que é realmente relevante e de salientar.

Page 123: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

109

6. Conclusões e desenvolvimentos futuros

6.1. Considerações finais

A investigação realizada possibilitou a reflexão sobre a conservação e reabilitação de edifícios

antigos particularmente ao nível dos seus revestimentos de paredes. Um adequado projecto de

conservação e reabilitação exige um bom conhecimento dos revestimentos em argamassa de cal e

suas alvenarias de suporte, geralmente em pedra, por forma a avaliar correctamente o seu estado de

conservação, evitar a progressão de anomalias e planear intervenções apropriadas e eficazes. Para

tal devem ser utilizados materiais de reparação ou substituição de características semelhantes,

compatíveis com a construção existente e com durabilidade adequada. Um projecto deve estar na

base de todo o processo e as diversas fases devem ser cuidadosamente planeadas e concretizadas.

O planeamento de intervenções de reabilitação e conservação ao nível dos revestimentos de paredes

deve basear-se no estudo de aspectos relacionados com as componentes funcional e construtiva dos

edifícios, particularmente o suporte, revestimento e acabamento de paredes, no que respeita a sua

concepção original e estado em que se encontram no presente. Na conservação dos edifícios e

protecção das alvenarias, os revestimentos de paredes têm um papel relevante garantido pelo seu

conjunto.

O contacto com diversos intervenientes em reabilitação e conservação de edifícios e a concretização

do inquérito a determinada amostra, tiveram em vista obter uma valiosa percepção prática das

metodologias e procedimentos aplicados pelos intervenientes seleccionados para o inquérito. A

análise de resultados efectuada permitiu concluir que, por um lado, no que respeita à importância de

determinados aspectos e procedimentos para a intervenção em revestimentos de paredes antigas, os

inquiridos consideram sobretudo a especificação de materiais e sua adequabilidade ao projecto e à

obra bem como a avaliação do estado de conservação do edifício e dos revestimentos de paredes.

Por outro lado, para caracterizar o estado de conservação dos revestimentos, o tipo de anomalias

que revelam constitui o aspecto mais importante considerado pela totalidade dos inquiridos. O

número, tipo e espessura de camadas do revestimento para posterior caracterização traduz-se no

aspecto mais importante que a equipa projectista deve identificar ao delinear as acções a desenvolver.

No diagnóstico do edifício, a utilização de técnicas experimentais de caracterização do edifício e dos

revestimentos de paredes é mais comum através de ensaios in situ sobre o revestimento antigo, na

avaliação de propriedades físicas e mecânicas. Para a especificação de revestimentos de paredes, a

humidade do suporte e suas deformações constituem os factores aos quais os intervenientes

atribuem maior importância.

A nível prático, a maioria dos intervenientes afirmou incluir desenhos e especificações tendo em

conta determinados aspectos como a natureza do suporte, condições de exposição, exigências, tipo

de reboco e de acabamento, o que se revela um aspecto positivo para o projecto e intervenção.

Concluiu-se que não há uma preferência clara entre produtos tradicionais doseados em obra ou pré-

doseados, apesar de verificado que projectistas arquitectos, consultores técnicos, conservadores-

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110

restauradores e promotores e donos-de-obra dão preferência aos doseados em obra. Este aspecto

demonstrou as suas preocupações e escolhas pelo que é tradicional e adaptado à especificidade do

revestimento em causa e à obra, mas também alguma falta de soluções pré-doseadas específicas ou

consideradas adequadas. Por outro lado, sobretudo fornecedores e fabricantes de materiais de

construção referem produtos pré-doseados. Concluiu-se que quem especifica ainda não está

sensibilizado para este tipo de produtos por aqueles fabricados ou fornecidos, aspecto que é

importante que seja corrigido ou equilibrado, bem como que para quase um terço dos intervenientes a

escolha não é clara, fazendo depender a sua escolha da especificidade da situação e da intervenção

em causa.

Sendo a especificação dos materiais e produtos a utilizar relevante para a garantia de um projecto

adequado e execução correcta das intervenções, salienta-se que todos os intervenientes o afirmaram

fazê-lo sempre (maioria) ou habitualmente. No entanto, a inclusão da ficha técnica do material na

especificação para controlo da qualidade e garantia da obra parece não ser consensual entre os

intervenientes abrangidos pela amostra, inclusive dentro do mesmo grupo, apesar de que a maioria

afirmou fazê-lo.

É possível aferir que na especificação do material ou produto o âmbito de aplicação é o critério mais

utilizado, por oposição ao custo do produto. Relativamente ao traço da argamassa, os intervenientes

que não o referiram correspondem sobretudo a fornecedores e fabricantes de materiais bem como a

directores de obra e empreiteiros. De referir que a prescrição por traço é muito limitativa, contrária à

prescrição exigencial pretendida, pela especificação de requisitos de desempenho, por exemplo

segundo a NP EN 998-1:2013. Adicionalmente, quase dois terços dos intervenientes especifica a

composição da argamassa a utilizar, geralmente o traço em volume, sendo que destes todos

afirmaram fazê-las acompanhar-se de uma descrição técnica das tecnologias de aplicação.

Na especificação ou execução de revestimento exterior em argamassa, verifica-se também que a

grande maioria opta pela aplicação de mais que uma camada, o que era de esperar verificada a

preferência por produtos doseados em obra e dados os diversos motivos possíveis para o fazer

atendendo também às alternativas de resposta dadas pelos intervenientes. Apesar da dispersão nas

razões para essa opção, salienta-se a baixa tendência para fendilhação por retracção. Quanto a

alternativas enunciadas, referem-se a boa carbonatação, bom aspecto, possibilidade de eventuais

correcções de imperfeições ou irregularidades do suporte, compatibilidade mecânica com os suportes

e espessura do revestimento, entre outros.

Ao nível do projecto e da execução das intervenções em edifícios antigos, um ponto a corrigir é a

utilização de documentação, principalmente pelos projectistas na concepção, dado que mediante as

respostas foi possível aferir que alguns não o fazem com frequência. Determinadas normas e

documentos técnicos internacionais e nacionais são aplicáveis neste âmbito e devem ser consultadas

e verificadas, salientando-se a norma EN 13914-1:2005 e o documento técnico DTU 26.1:2008 a

nível internacional, bem como a NP EN 998-1:2013 e a NP EN 459:2011 a nível nacional.

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111

Outro aspecto verificado nas respostas ao inquérito corresponde ao facto de os fornecedores e

fabricantes bem como os projectistas arquitectos se encontrarem entre os que não especificam os

requisitos pretendidos que o revestimento exterior deve cumprir. Este constitui um aspecto negativo

por dever partir sobretudo destes últimos a definição e especificação dos requisitos pretendidos para

o revestimento de forma a assegurar a sua compatibilidade e contribuir para que seja bem executado

pelos intervenientes directos em obra.

A importância dos critérios de compatibilidade dos revestimentos foi demonstrada ao serem

consensuais à grande maioria dos intervenientes. Adicionalmente, a interacção com o suporte foi o

factor comum à quase totalidade dos intervenientes, quanto à sua influência decisiva para a estrutura

física do reboco de argamassa. Apesar da existência de alguns casos isolados de intervenientes que

consideram por vezes ser preferível a remoção/substituição dos revestimentos, a grande maioria

concorda com a sua conservação como a opção mais correcta e favorável a nível de durabilidade,

funcionalidade e economia.

Apesar de os intervenientes inquiridos consultarem diversas fontes de informação sobre as melhores

práticas de projecto e execução de revestimentos de paredes exteriores com argamassas, alguns

ainda não o fazem de forma regular, pelo que a existência de um documento de apoio que constitua

uma metodologia ou modelo de apoio ao projecto de reabilitação a nível de revestimentos de paredes

de edifícios antigos pode vir a compensar de certa forma e eventualmente solucionar este aspecto.

Pretende-se que a investigação desenvolvida no presente trabalho contribua em certa medida para

solucionar esta insuficiência.

Na presente dissertação concluiu-se que na fase de concepção é essencial a avaliação do estado de

conservação do edifício e em particular dos revestimentos exteriores, o seu diagnóstico e da parede

de suporte, definição da intervenção, especificação de materiais a utilizar e requisitos de desempenho

a cumprir no revestimento e, ainda, previsão de planos de conservação e manutenção periódica.

Propiciadora de melhor qualidade das intervenções de reabilitação e conservação nos revestimentos

de edifícios antigos, a existência de uma metodologia de apoio ao projecto constitui uma boa

orientação e verificação da aplicabilidade ao edifício em causa, em particular para os projectistas,

bem como melhorar o entendimento por parte dos intervenientes directos em obra e a correcta

execução da intervenção. Dada a inexistência de uma metodologia completa e eficiente para apoio ao

projecto neste âmbito, torna-se oportuno o contributo desta investigação, incluindo a sua aplicação

prática a um edifício existente proveniente da experiência profissional da autora, para o vasto

conjunto de estudos académicos, técnicos e empíricos relativamente a esta temática, tendo em conta

a importância deste aspecto na reabilitação e conservação de edifícios antigos.

Desenvolvendo-se o caso de estudo neste trabalho e correspondendo à sua utilidade, a aplicação de

determinados procedimentos da proposta de metodologia ao edifício permitiu não só testar a sua

exequibilidade e avaliar o contributo positivo como apoio ao projecto mas também o seu papel na

melhoria da qualidade em intervenções de conservação e reabilitação de revestimentos de paredes

de edifícios antigos. Em geral, grande parte dos procedimentos integrados na metodologia proposta

foi concretizada aquando da sua aplicação ao caso de estudo, tanto relativos ao estado de

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112

conservação do edifício e revestimentos de paredes e seu diagnóstico, bem como à intervenção a

adoptar, especificação dos revestimentos e sua conservação e manutenção adequada. Deste modo,

testou-se a aplicabilidade da metodologia proposta sendo cumprido o objectivo que lhe está

associado, bem como se verifica e reforça o seu papel como modelo de apoio ao projecto visando os

frutos possíveis a nível de qualidade, não só do projecto como também da própria execução da

intervenção. Ao nível do projecto, por baseá-lo num estudo completo do edifício e particularmente dos

seus revestimentos, bem como definirem-se o tipo e estratégia de intervenção, os valores e

características a preservar e especificarem-se os revestimentos e requisitos de desempenho a

cumprir por estes, correspondendo a uma abordagem planeada e exigencial. Consequentemente, ao

nível da execução da intervenção, pelo facto de um projecto bem definido, claro e com as

especificações necessárias, contribuir para um melhor entendimento deste pelos intervenientes

directos em obra e, assim, para uma correcta concretização apoiada ao máximo pelo projecto.

Revelando o seu contributo para a qualidade do projecto e da obra, trata-se, assim, de um aspecto de

grande relevância e a salientar, sendo que o caso de estudo permite conclui-lo e pelo que se propõe

a existência e seguimento de metodologia em qualquer projecto de reabilitação neste âmbito.

De um modo geral, considera-se que os resultados da investigação permitiram retirar ilações

concretas sobre os procedimentos que uma reabilitação deve envolver, tendo sido integrados na

proposta de metodologia, e ilações gerais sobre a relevância de existência de metodologia ao nível

do projecto de intervenção num edifício antigo, sendo cumpridos os objectivos propostos. Considera-

se assim que na fase de concepção o projectista deve, portanto, seguir determinados procedimentos

e critérios visando a compatibilidade dos vários constituintes das paredes e respectivas argamassas

de revestimento. Espera-se que o trabalho desenvolvido fomente o posicionamento crítico face a todo

o processo que integra uma reabilitação e conservação de um edifício antigo, consistindo numa base

para a elaboração de estratégias de actuação no presente.

Pretende-se que a dissertação contribua para optimizar o processo de caracterização, diagnóstico e

intervenção em determinada fase da operação de reabilitação do edificado antigo em análise, bem

como contribua como apoio ao problema global da conservação e reabilitação de revestimentos de

edifícios mediante proposta de procedimentos de actuação relevantes, de metodologia adequada e

aplicável.

Reforça-se o facto de resultados importantes obtidos em estudos desenvolvidos neste âmbito

deverem ser divulgados no meio técnico sobretudo entre os projectistas arquitectos e engenheiros,

promotores e responsáveis por intervenções em edifícios antigos, por forma a melhorar a concepção

das intervenções neste tipo de edifícios. Para além disso, com vista à viabilidade de estratégias de

conservação e correcta execução de operações em revestimentos de edifícios antigos, é também

necessária a adequada consciencialização dos empreiteiros e fabricantes de materiais de construção.

Um ponto de vista fundamental a salientar com o presente trabalho é o da complementaridade entre

todos os tipos de intervenientes em conservação e reabilitação, tanto ao nível dos seus pontos de

vista como dos seus conhecimentos e experiência neste âmbito.

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113

6.2. Perspectivas de desenvolvimento futuro neste domínio

O trabalho desenvolvido ao longo da presente dissertação enquadra-se num universo de estudos

consideravelmente vasto e actual, possibilitando o desenvolvimento de futuras investigações. No

âmbito de potenciais investigações a desenvolver, podem destacar-se as que se apresentam de

seguida.

O alargamento do inquérito a um número maior de intervenientes na reabilitação de revestimentos

de edifícios antigos;

A implementação da metodologia, após o seu aperfeiçoamento, a um conjunto alargado de

edifícios que necessitem de intervenção ao nível dos revestimentos de paredes e testar a sua

eficácia no apoio ao processo de reabilitação, bem como a elaboração de estratégias de actuação

no presente.

Poder-se-á, assim, aplicar a metodologia a diferentes edifícios com estados de conservação e de

intervenção distintos ao nível dos revestimentos de paredes, destacando-se os seguintes tipos de

situações: (i) outros edifícios antigos e/ou de património monumental que necessitem de ser

reabilitados, por forma a perceber as diferenças entre eles, função das necessidades específicas; (ii)

edifícios que estejam a ser reabilitados e nos quais seja possível comparar o procedimento seguido

com a aplicação da metodologia; (iii) edifícios que já tenham sido reabilitados e seja relevante a

comparação de actuações e a identificação das melhorias possíveis caso tivesse sido integrada e

seguida uma metodologia completa e adequada ao projecto.

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114

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A

Anexos

Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito

Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos

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A1.I

Anexo A. Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito

Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito

As respostas são apresentadas por siglas/acrónimos (cf. legenda abaixo para consulta da correspondência). Quando aplicável, i.e. nos casos em que é possível seleccionar mais do que uma opção em determinada pergunta, o número da questão é seguido de um asterisco (*). As diferentes opções de resposta são apresentadas em numeração romana pela ordem indicada na ficha-tipo

(exibida no subcapítulo 4.2.2. do documento) pelo que a sua consulta é aconselhada para leitura das opções possíveis em cada questão.

Referência do Interveniente

Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

1 (*) PA PA PA GP

PA PeD

PA GP PeD

PE CT

GP CT

DeE CR

CR CT

CR DeE

CT PeD CT

DeE

PeD DeE

DeE DeE CT FeF

FeF FeF FeF FeF FeF FeF FeF FeF

2 a) I MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I MI I I MI I MI MI MI I I MI I b) MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I I MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI I c) MI MI MI I I MI I MI I I MI I MI MI I MI MI MI MI MI I I MI I d) MI MI MI MI MI MI I MI I I MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI MI

3 (*) i.

ii.

iii.

iv. Outro(s) N/A

4 H H S S S S H S S S S S H H S S N/A N/A S S H H H N/A

5 (*) i. ii. iii. iv. Outro(s) N/A

6 a) i. R H R R S R H H S N/A S N S H H N N/A N/A H S R R H N/A ii. R H N R H H H H S N/A S N S S R N N/A N/A H H R H H N/A b) i. R R R R H R R S S N/A H N H N/A R N N/A N/A R R R R N N/A ii. R R R R S R R R S N/A H N H N/A R N N/A N/A R R N N N N/A iii. R R N R R R R R S N/A H N H N/A R N N/A N/A R H N N R N/A iv. R R R R S N R R S N/A R N H N/A R N N/A N/A R R N N N N/A Outro(s) H H

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A1.II

Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito (cont.)

Referência do Interveniente

Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

7 a) I MI I I I I I MI I MI I I I MI I I I MI I I I I MI I b) I MI MI I MI MI I MI MI MI MI MI MI MI I MI MI MI MI MI MI I MI MI c) MI MI I I PI MI MI MI I PI MI MI MI MI MI MI MI I MI MI MI MI MI MI d) I I PI I I I I I I I I I I I PI MI MI I I I PI I I PI Outro(s) I I MI MI MI MI MI MI I

8 S S S S H S N/A S S N/A N/A S H S H N/A N/A N/A N/A N/A H N/A R R

9 i.

ii. iii. iv.

10 R H H S R R H S S H S S H H S S S N/A H S S N/A N/A H

11 S S S S S S N/A S S S S S H H S S S S H S H N/A S N/A

12 N/A S H R S H R S S S N S H S S S S N/A S S H S S N/A

13 (*) i.

ii.

iii. Outro(s) N/A

14 S S S S S S R S S H S S H S S H N/A S N H H N S N

15 S S S S S H H S S R H H S S S S N/A N H S H H S S

16 a) N S R R H S N/A H N H R H b) S S H S H H S S S S H S H S S S N/A R S R H H H

17 (*) i. ii. iii. iv.

v. vi.

Outra(s) N/A

18 R R S S N/A H R S S H H S S S S N/A S S H S S S S S

19 N H H S S H H S S N/A S S H S S N/A S S R S S S N/A N/A

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A1.III

Tabela A1.1 - Resumo das respostas dos intervenientes ao inquérito (cont.)

Referência do Interveniente

Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

20 a) S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S b) S S S S S S S S S N S S S S S S S S S S S S S S c) S S N/A S S S S S S S S S S S S S S S S S N S S S d) S S S N/A S S S S S N S S S S S S S S S S S S S S Outro(s) S S S S S

21 (*) i. ii. iii.

iv. Outro(s) N/A

22 (*) i. ii.

iii.

iv.

Outro(s) N/A

23 S S S S S S S S S S S N S S S S S S S S N S S S

24 (*) i. ii.

iii.

iv. v.

vi.

Outra(s)

N/A

Legenda: PA = Projectistas arquitectos; PE = Projectistas engenheiros; GP = Gestores de projecto; CR = Conservadores-restauradores; PeD = Promotores e donos-de-obra; CT = Consultores técnicos; DeE = Directores de obra e empreiteiros; FeF = Fornecedores e fabricantes de materiais de construção; MI = Muito Importante; I = Importante; PI = Pouco Importante; NI = Nada Importante; N/A = Não Aplicável; S = Sim; H = Habitualmente; R = Raramente; N = Não.

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A1.IV

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes

São apresentadas apenas as questões (em coluna) em que essa opção era permitida.

Questões

Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24

1 Caracterização do revestimento

Sempre que podemos e que o revestimento está em bom estado preservamo-lo pois preferimos um revestimento que já 'deu provas' de ser compatível com o suporte.

2

Necessidade de intervenção de outros técnicos (ex. restauro), tipo de patologias e outras acções a desenvolver a montante (ex. reforço estrutural, humidades, etc).

Ensaios realizados por equipas de conservação e restauro

Quando não especifico argamassas pré-doseadas, especifico traços em volume.

Possibilidade de eventuais correcções de imperfeições ou irregularidades do suporte

Exequibilidade, tendo em conta o contexto em que se desenvolve a obra.

A conservação periódica permite a monitorização do comportamento dos revestimentos, a sua manutenção e eventuais intervenções (mais ou menos pontuais) de correcção.

Outros projectistas; Obras de referência (de preferência com algum tempo decorrido sobre a aplicação dos revestimentos).

3 Função do espaço

Preparação do suporte

O revestimento serve de protecção (pele) ao suporte; aumenta a durabilidade do edifício.

4 Incompatibilidades e materiais diferenciados

Envolvente áreas anexas

Modo de execução

Traço em volume 1:3 por ex.

Estéticos Estéticos

Qualquer substituição implica riscos e custos acrescidos para além de perda de características (argamassas de cal).

5 Autenticidade; Valor técnico e decorativo

Compatibilidade com existente

3:1 Continuar as técnicas originais

A sua manutenção periódica evita perda material e reduz custos de conservação.

Bibliografia técnica especializada e conselho de outros profissionais

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A1.V

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)

Questões

Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24

6

Identificar causas das anomalias; Ter informação sobre revestimentos decorativos a proteger.

Verificar se as anomalias do suporte estão ou não estabilizadas

Traço em volume; Tipo de areias.

Ser de fabrico nacional (quando exista)

Em geral sim, mas há casos em que considero preferível a substituição, por exemplo, de rebocos de argamassa cimentícia ou de rebocos soltos e muito desagregados com muito baixa resistência mecânica.

Experiência própria e de mestres aplicadores

7

Registo das áreas afectadas e o nível de degradação de cada uma delas

8

Deve-se sempre conservar o material original, porque o novo material nunca irá consegui ter as mesmas características que o original, por vezes nem mesmo a sua plasticidade. O material original é também um documento de estudo sobre como e quais as características das argamassas antigamente. Se se remove tudo, deixa-se de ter um registo muito importante.

9 Traço em volume

Teses universitárias

10 O presente interveniente não apresentou alternativas de resposta.

11 Funções do revestimento afectadas

Decisões a tomar face aos resultados obtidos nos ensaios

Análise estratigráfica; Ensaios físicos e mecânicos em laboratório.

Valor cultural do edifício e do revestimento

Cumprimento dos requisitos de compatibilidade e desempenho especificados

Traço em volume e características dos constituintes

Boa carbonatação; bom aspecto (permite usar agregado mais fino na camada de acabamento, por exemplo).

Modo de aplicação; nº e espessura das camadas; composição (constituintes e traço).

Preserva o valor cultural; é de certeza compatível e durável (se for o original, ou próximo disso); já carbonatou.

Contactos com antigos mestres; Investigação e experimentação própria.

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A1.VI

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)

Questões

Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24

12 Traço em volume, relação a/l

Depende da situação

13 O presente interveniente não apresentou alternativas de resposta.

14 Material e tipo de suporte

Sim para evitar entrada de água nas paredes, evitando a sua degradação.

15

Identificar origem das anomalias (causas)

Prescrever execução de amostras em obra para validação e posterior aplicação

Compatibilidade com as preexistências (se houver)

Volume

Como medida preventiva de anomalias de maior gravidade, o revestimento deve ser prioridade na estratégia de conservação de paredes.

16 Viabilidade técnica

Traço em volume quando não pré-doseados

Espessura do revestimento. As argamassas de cal em pasta não apresentam fissuração por retracção restringida.

Modo de aplicação

Evita a degradação do suporte.

Contacto directo com a obra

17

Não refiro o traço, porque só recomendamos Argamassas Fabris.

Evitar fissuração devida ao peso excessivo de uma camada espessa

De 5 em 5 anos deve fazer-se o diagnóstico e consequentes operações de conservação. O edifício mantém-se com o aspecto inicial, bem cuidado, sem necessidade de efectuar trabalhos profundos de reabilitação.

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A1.VII

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)

Questões

Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24

18 Marcação CE (quando aplicável)

Quando solicitado pelo cliente

Os revestimentos são elementos importantes da estrutura edificada, pois além de possuírem uma função protectora possuem muitas vezes uma função decorativa de grande relevância para a imagem do edifício.

19

Ao efectuar a manutenção ou seja conservação do revestimento irá de forma significativa prolongar o seu tempo útil de vida, tendo aqui um factor importante a nível económico na

medida em que a conservação é mais barata do que se tivermos de refazer tudo de novo.

20 Compatibilidade com o suporte

1:4

A não conservação provocará o aparecimento de patologias, cujos custos de reparação serão significativos.

21 Resistências mecânicas

Nem sempre; por vezes, a sua remoção/substituição é preferível.

22

Compatibilidade mecânica com os suportes; Diversidade de acabamentos.

É também uma forma de contribuir para a manutenção da qualidade do interior dos edifícios.

23

Anomalias associadas a outros elementos

Histórico da obra (possíveis intervenções anteriores)

Natureza do suporte e do revestimento

Especificidades da obra, do suporte e do revestimento

Depende

Granulometria da argamassa e especificidades do produto

Ser compatível com a base e materiais adjacentes em termos físico-químicos

Compatibilidade com a argamassa existente/adjacente

Condições de aplicação e condições ambientais

É um dos factores, embora não seja o único e a análise deva ser efectuada enquadrando a obra como um todo.

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A1.VIII

Tabela A1.2 - Resumo das respostas ao inquérito com alternativas de resposta dadas pelos intervenientes (cont.)

Questões

Int. 3 5 6 7 13 14 17 20 21 22 23 24

24 Tipo de suporte

Não introduzir sais solúveis no sistema

Preserva o material existente, que muitas vezes tem muitos anos de existência, bem como o próprio edifício.

Documentos académicos, ex. teses, artigos, etc.

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B1.I

Anexo B. Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos

Tabela B1 – Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos

Síntese do estudo de mercado de materiais e produtos tradicionais doseados em obra ou pré-doseados, incluindo a identificação dos seus produtores e marcas presentes no mercado nacional, bem como a descrição das respectivas

constituições, propriedades e campos de aplicação, de acordo com informação do respectivo fabricante.

Empresa Nome do material / produto

Tradicional doseado em obra /

Pré-doseado Descrição

Ligantes / aditivo

Calcidrata Cal em pasta

Material tradicional

Cal de elevada pureza, completamente hidratada e em pasta. Pronta a aplicar em pinturas, trabalhos de estuque e na preparação de argamassas para construção. Material pronto ou doseado em obra.

Calcidrata Cal viva Cal como produto químico, obtido por descarbonatação do calcário, em fornos apropriados para o efeito. Material não pronto.

Calcidrata Cal hidratada

Cal viva produzida em fornos tradicionais destinada a trabalhos de estuque tradicional. Após saída do forno é direccionada para um processo de moagem. Também denominada de cal apagada resulta da reacção entre a cal viva e a água. Material pronto em seco ou doseado em obra.

Fradical

Cal aérea hidrófuga em pasta D. Fradique

Cal aérea como ligante natural hidrofugado a partir de utilização de subproduto do azeite. Material pronto ou doseado em obra.

Fradical

Cal aérea não hidrófuga em pasta D. Fradique

Cal aérea como ligante natural CL 90 de acordo com EN 459-1. Material pronto ou doseado em obra.

Fradical Aditivo pozolânico em pó D. Fradique

Aditivo para argamassas de cal aérea, pozolana artificial em pó. Material pronto ou doseado em obra.

Argamassas / rebocos

Calcidrata NX2 Cinza Linha Intomix

Produto pré-doseado

Reboco pronto, de cor cinza, para interiores e exteriores, aplicado por projecção mecânica.

Calcidrata NX2 Branco Linha Intomix

Reboco pronto, de cor branca, para interiores e exteriores, aplicado por projecção mecânica.

Calcidrata NX2 Hidro Cinza Linha Intomix

Reboco pronto, hidrofugado de cor cinza, para exteriores, aplicado por projecção mecânica.

Calcidrata NX2 Hidro Branco Linha Intomix

Reboco pronto, hidrofugado de cor branca, para exteriores, aplicado por projecção mecânica.

Fassabortolo K 1710 Linha Pura Cal

Reboco à base de cal aérea. Bio-Reboco de efeito pozolânico e fibro-reforçado, à base de pura nano-cal, para interior e exterior.

Matesica Port’Cal Refª 441

Argamassa de cal aérea, bicomponente (formulada a dois componentes) e de granulometria grossa.

Matesica Port’Cal Refª 442

Argamassa de cal aérea, bicomponente (formulada a dois componentes) e de granulometria fina.

Saint-Gobain Weber

Weber.rev 158

Regularização e protecção de paredes em construções antigas, sobre suportes de constituição pouco coesa e sujeitas a forte humidade ascendente. Cal hidráulica e aérea, cargas silenciosas seleccionadas, fibras sintéticas e adjuvantes específicos.

Saint-Gobain Weber

Weber.rev tradition

Regularização e protecção de paredes em construções antigas, sobre suportes de constituição coesa e não sujeitas a forte humidade ascendente. Cal aérea, ligante hidráulico, cargas, fibras sintéticas e adjuvantes específicos.

Page 146: Reabilitação de revestimentos de paredes de edifícios ... · iii Resumo Com base na compreensão integrada da intervenção de reabilitação num edifício antigo, de suporte em

B1.II

Tabela B1 – Resumo do estudo de mercado nacional de materiais e produtos (cont.)

Empresa Nome do material / produto

Tradicional doseado em obra /

Pré-doseado Descrição

Secil Argamassas

REABILITA CAL Reboco

Produto pré-doseado

Reboco de enchimento à base de cal hidráulica natural. Argamassa de reboco com fibras naturais, à base de cal hidráulica natural, para enchimento e regularização em sistemas de reabilitação de alvenarias antigas.

Secil Argamassas

REABILITA Alvenaria RA 01

Argamassa de consolidação de alvenarias antigas, com desempenho mecânico e físico compatível com suportes antigos.

Secil Argamassas

REABILITA RA 05

Argamassa de reboco macroporosa para acumulação de sais, de elevada permeabilidade ao vapor de água, para o tratamento de paredes com a presença de humidades ascensionais e salitre.

Topeca Rebetop rpti Produto hidrofugado e permeável ao vapor. Reboco para regularização de fachadas, tectos, muros etc.

Topeca Rebetop monomassa

Produto hidrofugado e permeável ao vapor.

Topeca Rebetop pedra Produto hidrofugado e permeável ao vapor.

Topeca Rebetop kal Reboco à base de cal para a regularização e protecção de suportes antigos, sem fortes problemas de humidade por ascensão capilar.

Acabamentos

Calcidrata FX2 Branco Linha Intomix

Produto pré-doseado

Reboco pronto, para acabamento, de cor branca, de aplicação manual em interiores e exteriores.

CIN Rialto Epoca Ottocento Gama Rialto

Revestimento mineral para interior e exterior, constituído por cal apagada envelhecida, pigmentos naturais, óxidos inorgânicos e aditivos minerais.

Saint-Gobain Weber

Weber.rev kal

Acabamento mineral colorido à base de cal para paredes interiores e exteriores. Suportes admissíveis: weber.rev tradition, reboco tradicional de cal, weber.rev classic, weber.rev dur e reboco tradicional de cimento. Cal aérea, ligante hidráulico, cargas seleccionadas, fibras sintéticas e adjuvantes específicos.

Topeca Rebetop argamassa

Produto hidrofugado, raspado fino e colorido, e permeável ao vapor. Revestimento colorido utilizado em fachadas, muros (de suporte, vedação, jardim) de exterior.

Topeca Rebetop color Produto hidrofugado e permeável ao vapor. Revestimento mineral decorativo de aplicação em fachadas, muros de vedação e paredes de interior.

Topeca Rebetop kal color

Revestimento mineral colorido de capa fina à base de cal, para acabamento de paredes de interior e exterior.