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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
THAISLANY TELES DA ROCHA
REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA
COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA
FORTALEZA – CEARÁ
2014
THAISLANY TELES DA ROCHA
REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA
COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA
Monografia submetida à aprovação da
Coordenação do Curso de Serviço Social
da Faculdade Cearense como requisito
para obtenção de titulo de Bacharel em
Serviço Social.
Orientador: Prof º. Ms. Jefferson Falcão Sales
FORTALEZA – CEARÁ
2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
R672r Rocha, Thaislany Teles da
Realidades e perspectivas das juventudes inseridas na
Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza / Thaislany
Teles da Rocha. Fortaleza – 2014.
87f. Orientador: Profº. Ms. Jefferson Falcão Sales.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Juventudes. 2. Identidade religiosa. 3. Comunidade
Shalom. I. Sales, Jefferson Falcão. II. Título
CDU 364(813.1)
THAISLANY TELES DA ROCHA
REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA
COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA
Monografia como pré-requisito para
obtenção do título de Bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela Faculdade
Cearense – FaC, tendo sido aprovada
pela banca examinadora composta pelos
professores.
Data da Aprovação: _____/______/______
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof º. Ms. Jefferson Falcão Sales – FaC
Orientador
___________________________________________________________________
Prof ª. Ms. Niedja de Oliveira Pereira
___________________________________________________________________
Prof ª. Ms. Lisieux D' Jesus Luzia de Araújo Rocha
Ao maior amor de minha vida:
JESUS CRISTO
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, desejo de todo meu ser agradecer ao maior amor de minha vida,
Jesus Cristo, meu Pai querido que me concedeu a Graça da vida e de hoje estar
concluindo mais um de seus sonhos para mim assim como em favor da
humanidade, que tanto necessita de pessoas, profissionais, dispostos a lutar pela
justiça, pelos direitos e dignidade que concerne a todo ser humano.
Agradeço aos meus fiéis intercessores do céu em especial minha Mãe Maria,
exemplo de fé, coragem e obediência ao Senhor, que me inspira a dizer meu SIM
diariamente à Santa Vontade Divina e aos intercessores da terra, em especial aos
meus irmãos de grupo de oração, célula e ministério que em todo meu caminhar se
dispõem a me oferecer o belíssimo e fortificante presente que é a oração.
Aos meus amigos, a toda minha família, meus pais Eraldo e Terezinha, meus irmãos
Marcelo e Fernando também agradeço pelo apoio e dedicação às minhas
necessidades.
A minha querida amiga, irmã, afilhada Sheyla Deylanne, que em todos os momentos
se encontra ao meu lado me auxiliando e sendo amparo quando mais preciso, como
sou feliz por tê-la em minha vida e saber que nossa amizade está firmada naquilo
que não passa, pois vem do alto.
A todos os docentes da Faculdade Cearense, por terem partilhado conosco seus
conhecimentos e ao meu orientador Jefferson Sales, por ter aceito trilhar comigo
este processo de construção do presente trabalho.
A banca examinadora Ms. Niedja e Ms. Lisieux que de prontidão se dispuseram a se
fazer presentes e abrilhantar este momento único e inesquecível, são enviadas do
céu e serei por toda minha vida grata às duas.
E por fim, agradeço a Comunidade Católica Shalom, que é o meu chamado nesta
terra e também instrumento deste trabalho monográfico, o qual no início para muitos
parecia “loucura”, mas a certeza de cumprir esse pedido feito a mim por Deus e
iluminado pelo seu Santo Espírito não me deixaram desanimar e hoje posso
contemplar aquilo que aos olhos do homem parecia impossível, com a certeza de
proclamar a frase de minha vida “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mateus 6,33). Deus
não falha sua fidelidade é concreta do início ao fim.
A todos minha eterna Gratidão!
“Ninguém te despreze por seres jovem. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis,
no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade”.
I Timóteo 4, 12
RESUMO
O trabalho monográfico, aqui circunscrito se funda na articulação das temáticas
juventudes e identidade religiosa, delineando como objeto principal, estudar as
realidades e perspectivas das juventudes inseridas na Comunidade Católica Shalom
da cidade de Fortaleza. Para tanto, foi abordado como recorte de investigação, uma
análise dos modos de viver e conviver peculiares dos jovens participantes da
Comunidade supracitada. O estudo da identidade religiosa configurou-se em uma
breve análise do catolicismo no âmbito do fenômeno da Renovação Carismática, na
qual se verificou seu processo histórico, sua atuação dentro da Igreja Católica e
suas tendências. Foi a partir deste movimento que surgiram também as Novas
Comunidades Católicas, como por exemplo, a Comunidade estudada na presente
pesquisa. O percurso metodológico compreendeu pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e pesquisa de campo. Na pesquisa bibliográfica, foram trabalhadas
questões das Juventudes e da Identidade Religiosa nas teorizações
contemporâneas, buscando demarcar vias analíticas para pensar o objeto de
estudo. Na pesquisa documental foram analisados materiais que dizem respeito a
Comunidade Católica Shalom. Na pesquisa de campo, foram utilizadas estratégias
investigativas como a realização de entrevistas semiestruturadas com os jovens
participantes da Comunidade Católica Shalom. Como resultado, verificou-se que a
religião tem grande influência na vida dos jovens analisados de modo que tem tido
um caráter modificador em suas ações cotidianas.
Palavras-Chave: Juventudes. Identidade Religiosa. Comunidade Shalom.
RESUMEN
La monografía, circunscrita aquí se basa en la articulación de la temática de los
jóvenes y la identidad religiosa, destacando el objeto principal, el estudio de las
realidades y perspectivas de los jóvenes insertados en la Comunidad Católica
Shalom la Cidad Fortaleza. Por lo tanto, se plantea como la investigación, un
análisis de los modos de vivir y convivir peculiares de los jóvenes participantes de la
Comunidad arriba. El estudio de la identidad religiosa configurado en un breve
análisis de la religión católica en el fenómeno de la Renovación Carismática, que fue
encontrado en su proceso histórico, su rendimiento dentro de la Iglesia Católica y
sus tendencias. Fue a partir de este movimiento que surgió también las
Comunidades Nuevas Católicas, como la Comunidad estudiada en esta
investigación. El enfoque metodológico consistió en la literatura de investigación,
trabajo de documentación e investigación de campo. En la literatura, se trabajaron
temas de Juventud e Identidad Religiosa en las teorías contemporáneas, buscando
maneras para demarcar el pensamiento analítico del objeto de estudio. En los
materiales de investigación documental que se relacionan con la Comunidad
Católica Shalom se analizó. En la investigación de campo, estrategias de
investigación se utilizaron como la realización de entrevistas semi estructuradas con
participantes jóvenes de la Comunidad Católica Shalom. Como resultado, se
encontró que la religión tiene una fuerte influencia en los jóvenes analizados por lo
que ha tenido un carácter modificador en sus acciones cotidianas.
Palabras clave: Jóvenes. Identidad Religiosa. Comunidad Shalom.
LISTA DE SIGLAS
CEB's – Comunidades de Base
IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
MRCC – Movimento da Renovação Carismática Católica
NC – Novas Comunidades
NME – Novos Movimentos Eclesiais
ONU – Organização das Nações Unidas
PJJ – Projeto Juventude pra Jesus
RCC – Renovação Carismática Católica
SVES – Seminário de Vida no Espírito Santo
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ….................................................................................................12
1 JUVENTUDES EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE DE MODOS DE VIDA …...15
1.1 Juventudes na atualidade …............................................................................15
1.2 Identidade Religiosa: Numa perspectiva do cenário do catolicismo …............21
1.3 Juventudes e a dimensão religiosa …..............................................................30
2. RESGATE DE UMA VIVÊNCIA DE FÉ NO ÂMBITO DA RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA: COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM
…............................................................................................................34
2.1 O Movimento da Renovação Carismática e as Novas Comunidades …..........34
2.2 Comunidade Católica Shalom …......................................................................39
2.3 Juventudes de Fortaleza X Juventudes na Comunidade Shalom …................43
3 DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO METODOLÓGICO DO CAMPO DE
PESQUISA …..........................................................................................................47
3.1. Percurso metodológico ….................................................................................47
3.2Jovens inseridos na Comunidade Católica Shalom: Realidades e Perspectivas
…........................................................................................................51
CONSIDERAÇÕES FINAIS….................................................................................72
REFERÊNCIAS…....................................................................................................76
ANEXOS…...............................................................................................................80
APÊNDICES….........................................................................................................82
12
INTRODUÇÃO
A PESQUISADORA E SUA TEMÁTICA
Em várias leituras anteriores a esta pesquisa, constatou-se que o tema
“juventudes” tem sido na atualidade bastante discutido e investigado, em especial
pelas suas vastas e polêmicas realidades. O fator da identidade religiosa também
tem sido alvo de estudos e na presente pesquisa o catolicismo toma grande
proporção, assim como as vertentes que o abrangem na contemporaneidade, a
Renovação Carismática Católica e as Novas Comunidades, onde utilizarei como
instrumento de estudo uma Nova Comunidade Católica de grande repercussão e
que já toma grandes proporções no mundo todo, sendo esta a Comunidade Católica
Shalom.
De fato, pode-se afirmar que a Renovação Carismática Católica (RCC) surgiu
nos anos 60 nos Estados Unidos, onde esta resultou num caráter de atualização no
interior da Igreja Católica, gerando por assim dizer transformações em longo prazo,
gerando novos frutos no decorrer do tempo que se passara desde então, como por
exemplo, impactos no meio social, no meio acadêmico, devido ao universo de suas
atuações e novas propostas de vivências espirituais, morais e sociais na realidade
atual, especialmente nos processos de atuação com as “juventudes”, que são os
principais alvos deste estudo.
Ao entrelaçar os assuntos juventudes e a questão religiosa, mobilizou-me
como pesquisadora e estudante de Serviço Social, cujo resolvi acolher e por assim
dizer exercer essa profissão que visa em seu perfil, um profissional dotado de
formação intelectual, científica e cultural generalista crítica, capaz de inserir-se no
conjunto das relações sociais, assim também como no mercado de trabalho,
atuando e intervindo nas diversas expressões da questão social. Nesta pesquisa se
buscará compreender as transformações sociais recorrentes no âmbito das
“juventudes”, as diversidades nos modos de vida, e as realidades destas que se
encontram inseridas na Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza. A
referida Comunidade, é uma realidade próxima a mim a qual faço parte como
membro atuante, então olhando por este ângulo este acaba por se tornar um dos
maiores desafios como pesquisadora, pois meu olhar crítico deve estar atento em
13
todas as circunstâncias. Porém desde o início de minha estada na comunidade em
2006, o fato de entender o que levou e leva tantos jovens a optarem por viver uma
vida que se adéqua a sua opção religiosa, esteve sempre presente pelo fato de que
o meu motivo para se encontrar ali se refere totalmente à questão espiritual, porém
no decorrer do tempo fui percebendo que para muitos jovens os motivos eram
bastante diferenciados do meu e bem diversificados, assim fui me sentindo cada vez
mais atraída por tal assunto, de modo que fui percebendo em minha vivência na
comunidade quão grandes transformações muitos jovens passam no que diz
respeito aos aspectos de suas vidas, pessoal, social, profissional.
Os jovens ainda me despertaram um maior interesse para a realização de
minha pesquisa, pelo fator de que ao lançar meu olhar sobre estes na atualidade,
pude perceber uma juventude pragmática, influenciada pela busca exacerbada pelo
prazer, pelas drogas, pelo consumismo, envolvida nas múltiplas expressões da
questão social que marcam nossa sociedade. É bastante comum ver entre os
jovens, e em especial os das classes populares, uma grande instabilidade e
insegurança, gerando em tantos a falta de perspectivas e de construção de novos
projetos quanto a sua vida no mundo, como também desejam viver intensamente e
responder suas questões surgidas externamente e interiormente, assim nos fala
João Paulo II (1980) atual santo da Igreja Católica no que diz respeito às
juventudes, "A juventude de nosso tempo sente fortemente a atração pelas alturas,
pelas coisas desafiadoras, pelos grandes ideais".
Desta feita, os objetivos elencados para a presente pesquisa foram: o
objetivo geral, estudar as realidades e perspectivas das juventudes inseridas na
Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza. Nos objetivos específicos,
buscou-se: Analisar teorizações sobre Juventudes e os aspectos que as abrangem
assim como também a Identidade Religiosa numa perspectiva do catolicismo;
Configurar a estrutura e a dinâmica da Comunidade Católica Shalom, como
integrante do Movimento da Renovação Carismática Católica que trabalha com
jovens; Refletir e discutir numa primeira aproximação, as vivências das juventudes
que integram a Comunidade Católica Shalom.
Para analisar o tema da pesquisa, o respectivo trabalho de conclusão de
curso foi dividido em três capítulos incluindo a Introdução e as Considerações
14
Finais, como segue.
No que se refere à parte introdutória, esta comporta a trajetória pessoal,
justificativa, problemática e os objetivos desta pesquisa.
O primeiro capítulo é formado pela parte teórica da pesquisa, retrata os
aspectos gerais sobre o tema “juventudes”, trazendo em seus subtópicos as
discussões sobre juventudes na atualidade, destacando seus aspectos principais,
estes que geram tantas polêmicas em meio à sociedade; também faz uma
abordagem sobre a Identidade Religiosa no âmbito do catolicismo e por fim o
capítulo faz menção a relação dos jovens com a dimensão religiosa.
O segundo capítulo é feito um estudo sobre o Movimento da Renovação
Carismática Católica e as Novas Comunidades, contextualizando historicamente e
mencionando suas atuações tão diversas. Posteriormente destaca-se uma análise
sobre uma Nova Comunidade de grande trajetória e cuja escolhi como campo para
realização da presente pesquisa, a Comunidade Católica Shalom relacionando-a
com as “juventudes” nela inseridas.
O terceiro capítulo se refere ao discurso e percurso metodológico utilizado
para a concretização deste estudo, ou seja, os passos utilizados para que isto
aconteça, mostrando também relatos do público pesquisado em atividades dentro e
fora da comunidade, ou seja, suas realidades. Apresentam-se também os dados
finais da pesquisa analisando as entrevistas sistematizadas, cujas estas foram
realizadas com os jovens participantes da Comunidade Católica Shalom.
Diante das observações e leituras encaradas, acredita-se que a temática a
ser estudada venha oferecer indiscutivelmente uma compreensão no que se refere
às novas formas de atuação social entre os jovens dos dias de hoje, especialmente
dos jovens que optam por viver suas vidas e se relacionar a luz de uma vivência de
Fé.
15
1. JUVENTUDES EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE DE MODOS DE VIDA
O presente capítulo contextualiza sobre o tema “juventudes”, primeiramente
destaca suas definições conforme o estatuto da juventude e alguns autores que
dialogam sobre este assunto, após cita os fatores principais que abrangem os
jovens na atualidade, se referindo ao que estes buscam para obter sua
autorrealização, fazendo menção exclusiva a dimensão religiosa numa perspectiva
do catolicismo, onde muitos se encontram inseridos por diversos motivos que serão
explicitados no decorrer desta pesquisa.
1.1 Juventudes na atualidade
O termo “juventudes” é uma construção social, pode ser caracterizado como
um segmento da sociedade, cujo se denomina o intermediário entre a fase infantil e
a fase adulta, compondo membros com faixa etária de quinze à vinte nove anos,
diferenciando-se assim da adolescência, conforme nos afirma o Estatuto da
Juventude (Lei Nº 12.852, de 5 de Agosto de 2013):
§ 1o Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com
idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade.
§ 2
o Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos
aplica-se a Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente
Tendo em vista que os jovens estão inseridos em diversos tipos de contexto
social pode-se afirmar que o melhor termo e mais adequado para se utilizar seria
“juventudes” como já citado anteriormente e não juventude, considerando assim que
existe uma diversidade de grupos, cujos estes são marcados por diferenças sociais,
formação escolar, formas e estilos de vida, religiosidade, cultura, enfim, universos
sociais diversos e com suas especificidades que praticamente não tem nada em
comum. Conforme destaca Abramo (2004 p.43-44):
Se há tempos atrás todos começavam seus textos a respeito do tema da juventude citando Bourdieu, alertando para o fato de que “juventude” podia esconder uma situação de classe, hoje o alerta inicial é o de que precisamos falar de juventudes no plural, e não de juventude, no singular, para não esquecer as diferenças e desigualdades que atravessam esta condição. Esta mudança de alerta revela uma transformação importante na própria noção social: a juventude,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
16
mesmo não explicitamente, é reconhecida como condição válida, que faz sentido para todos os grupos sociais, embora apoiada sobre situações e significações diferentes. Agora a pergunta é menos sobre a possibilidade ou impossibilidade de viver a juventude, e mais sobre os diferentes modos como tal condição é ou pode ser vivida.
É de extrema importância analisar a questão das “juventudes” não somente
no que diz repeito ao campo biológico, mas principalmente no que diz respeito a
aspectos sociais, culturais e políticos, pois se encontram em constante movimento,
de acordo com cada período. Conforme Corrêa (2013, p. 31):
Vale dizer que foi apenas a partir do final do século XVIII que a juventude foi vista mais claramente como uma fase distinta na vida humana. Como um grupo social com presença significativa na sociedade. A juventude sempre existiu, mas agora se tornou visível e fez com que sua presença fosse sentida.
Para compreender e analisar as mudanças ocorridas no perfil da juventude
nos últimos anos é indispensável o entendimento sobre as mudanças da própria
sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à questão política,
trabalhista e educacional. Sofiati (2004, p. 4), ainda complementa que:
Parte-se do pressuposto que os espaços privilegiados pela juventude para participação na sociedade foram mudando conforme o desenvolvimento histórico, sendo que nos anos 1960 e 1970 havia o predomínio do sindicato e movimento estudantil, nos anos 1980 nos movimentos sociais e nos anos 1990 os jovens atuam de forma diluída e fragmentada nos movimentos culturais e lúdicos. Os jovens dos anos 2000 são socializados principalmente nos movimentos religiosos, principalmente os carismáticos e pentecostais, em sua manifestação mais recente chamada de “terceira onda”.
Nos nossos dias se percebe “juventudes” que se encontram sob a dominação
imposta pela civilização do capital, cujo este se encontra como sistema econômico
em nossa sociedade. Apesar da imposição do referido sistema, os jovens são
marcados e reconhecidos por sua busca incessante de superação, independente de
suas dúvidas, inseguranças, ou até mesmo do meio em que se encontrem dentro da
sociedade. Assim nos complementa sobre isso, Mariz (2009):
Abraçar um sistema ideológico pouco flexível, radical, fundamentalista sempre foi uma opção juvenil para fugir das dúvidas específicas dessa etapa da vida. Para os jovens, relativizar, tolerar e flexibilizar um sistema valorativo, moral ou mesmo cognitivo, é uma fraqueza dos mais velhos, e defende que abole radicalmente todo sistema moral ou o adota sem contemporização. Essa atitude não seria específica dos jovens, mas de todos que vivem em estado de vulnerabilidade. Observa-se também que aqueles que vivem em situação de risco, seja por falta de recursos, seja por viver em regiões de conflitos, tendem a abraçar modelos fundamentalistas ou abrir mão de valores e moralidades, ou seja, é tudo ou nada. Ser jovem é viver uma experiência de insegurança existencial por ser, por definição,
17
uma experiência de liminaridade, por não ser mais crianças e ainda não ser adulto. Ser jovem em uma sociedade que gera insegurança em todas as faixas etárias é uma experiência ainda de maior vulnerabilidade.
(http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php? secao=307>)
As “juventudes” em sua amplitude podem ser atribuídas de mais de um
significado, principalmente pela sua trajetória tão repleta de conquistas e desafios,
em especial no que diz respeito aos diversos movimentos organizados pela mesma.
Estas (juventudes) podem ser percebidas no contexto geral, em alguns aspectos
como um “perigo” ou “ameaça”, porém, a expressão negativa dos jovens como
problema, gerou nos mesmos uma grande força de busca pela afirmação de sua
real identidade também como sujeito de direitos. No que se refere aos referidos
direitos das “juventudes” e as políticas públicas voltadas a estas, eis o que nos diz o
Estatuto da Juventude (Lei Nº 12.852, de 5 de Agosto de 2013):
Art. 2o
O disposto nesta Lei e as políticas públicas de juventude são regidos pelos seguintes princípios: I - promoção da autonomia e emancipação dos jovens;
II - valorização e promoção da participação social e política, de forma direta e por meio de suas representações;
III - promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do País;
IV - reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares;
V - promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem;
VI - respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da juventude;
VII - promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e
VIII - valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações.
E assim também é possível afirmar novamente que as “juventudes” se
encontram em construção social no que se referem a sua amplitude que reverencia
inúmeras possibilidades dentro da sociedade, assim nos complementa Esteves e
Abramovay (2008, p. 4):
É uma construção social, ou seja, a produção de uma determinada sociedade originada a partir das múltiplas formas como ela vê os jovens, produção esta na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, referências múltiplas, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia, grupo etc. Por essa linha, torna-se cada vez mais corriqueiro o emprego do termo “juventudes”, no plural, no sentido não de se dar conta de todas as especificidades, mas sim de apontar a enorme gama de possibilidades presente nessa categoria.
Conforme Aguiar (2013, p. 20), a apresentação dessa realidade leva a
18
compreensão de como é rico o universo juvenil de atuação e sua diversidade.
Especialmente quando eles são convidados a participar de movimentos que
estimulam o protagonismo juvenil e valorização de seus pensamentos. Os jovens
em especial, buscam autonomia, liberdade. Segundo Libanio (2011, p.26) “a
modernidade e a pós-modernidade trouxeram a riqueza da descoberta da
subjetividade, da valorização da liberdade, da afirmação da autonomia já desde bem
cedo”.
Libanio (2011, p. 18) ainda nos complementa que:
A pós-modernidade desloca o acento para o presente, o jovens buscam experimentar o momento. Sugam o mel do favo diante dos olhos.Correm o risco de parar na fase das experiências sem tomar decisões, sem compromisso com a vida a vir. O presente torna-se-lhes uma sequência de tensões, de emoções fortes, cuja responsabilidade se dá na simples descarga emocional […] A cultura pós-moderna acentua ainda mais a centralização do sujeito em si mesmo […]
Conforme Aguiar (2013, p.17), “em verdade, parece que a sociedade está
diante de uma “juventude” pragmática, imersa na insegurança e na instabilidade,
gerando em muitos jovens falta de perspectivas e de projetos quanto a sua vida no
mundo”. E assim, ainda segundo Aguiar (2013, p. 22), “no geral verifica-se o quanto
é vasto e rico o universo das “juventudes”. Jovens participantes de uma sociedade
consumista e globalizada, sendo desafiados todos os dias a construir novas formas
de ver e viver a vida”.
Ao analisar e se aprofundar na realidade das juventudes no século XXI, é
possível perceber os aspectos gerais que marcam o “ser jovem” na afabilidade do
capital, cujo este elenca um sistema arraigado pelo individualismo consumismo,
hedonismo, e indiscutivelmente a busca pelo prazer máximo sem o assumir de
compromissos, entre outros aspectos referentes a este sistema.
As “juventudes” nas ultimas décadas, tem passado por intensas
transformações, pode-se afirmar que algumas delas são acarretadas devido o
avanço da tecnologia, gestando meios de comunicação, cada dia mais práticos,
modernos e acessíveis. Em pleno processo de transição para a fase adulta, os
jovens se veem afetados constantemente pelas transformações sociais, pelo
exacerbado consumismo, pela falta de expectativas prósperas de emprego, pela
desintegração dos modelos familiares tradicionais, pelas relações efêmeras, tudo
isto gera dúvidas e inseguranças.
http://www.dicio.com.br/afabilidade/
19
Conforme Libanio (2011, p.33), “não interessa aos jovens mudar o mundo,
nem se preocupam com o futuro, mas buscam viver bem, ter muito prazer dentro do
capitalismo, respeitando a família e a propriedade”. O mundo das “juventudes” é
marcado intensamente pela busca do prazer seja ele momentâneo ou duradouro o
que importa é a satisfação dos desejos internos e externos necessários para a
sobrevivência dos jovens. Segundo Libanio (2011, p. 36) “na idade jovem, os
desejos manifestam-se mais fortes. Frequentemente não se sabe o que fazer com
eles”.
No que diz respeito às buscas constantes pelos desejos, pelo prazer, algumas
delas podem ser citados, até porque são alvos também de muitas polêmicas na
atualidade. A respeito disto eis o que nos afirma mais uma vez o autor Libanio (2011
p. 62-63):
O tema do prazer ocupa hoje o cenário juvenil, nele se acentuam as diferenças entre as gerações. A formação tradicional equilibrava prazer e disciplina. Os momentos prazerosos se seguiam às horas de estudo, de trabalho. Em certos ambientes religiosos, o prazer se unia ao descanso, à pausa, a fim de dispor as pessoas melhor para os momentos de empenho acadêmico ou profissional.
A diante pode-se citar uma das buscas mais frequentes pelos jovens
desejosos de prazer e satisfação momentânea na atualidade, cujo é um assunto que
gera muitas polêmicas na sociedade: às drogas. Segundo Corrêa (2013, p. 41),
“entre as questões desafiantes estão também, de forma acentuada, as drogas.
Apesar de que este não é um assunto novo, ele vem se alastrando desde muito
tempo”. Assim destaca Libanio (2011, p. 63-64):
Em relação à droga, a resistência se fazia total. Pairava o medo. A cultura predominante rejeitava-a, ao ligá-la ao mundo do desvio, do crime, da transgressão. Dificultava-se o acesso dos usuários a ela. Circulava somente em grupos restritos, quase associais, ou em festas suspeitas. Por não receber a legitimidade social, o seu uso passava a sensação de algo proscrito, de experiência estranha, fora da lei e da normalidade. Difundiu-se até mesmo, terrorismo verbal na família, na escola, na Igreja.
Afunilando um pouco mais essa questão das drogas na atualidade e o acesso
dos jovens a elas, Libanio (2011, p. 68), faz um breve resumo a seguir:
Em resumo somam-se para a difusão da droga no meio juvenil vários fatores, entre outros:
1. A sua abundante comercialização com consequente facilidade de obtê-la;
2. A ousadia dos traficantes e comercializadores na porta de escolas;
3. O uso de crianças como pombos-correio;
4. Associação dela com a corrupção policial;
5. A sedução da experiência;
20
6. A perda do medo de experiências-limites no campo da droga;
7. A entrada de drogas pesadas;
8. O vazio existencial de muitos jovens que buscam nela compensação;
9. A prática de usá-la em grupo;
10. A sua função de ingrediente animador de certas festas juvenis e raves.
Nota-se nitidamente uma série de questões envoltas neste assunto, este que
é muito amplo e remete discussões em longo prazo devido a sua complexidade.
Não se pode deixar de citar também os receios frequentes dos jovens e
também outros dilemas, a respeito disto, nos diz Corrêa (2013, p. 41):
Em relação aos medos e preocupações das juventudes aparece o de sobrar, o de morrer e ficar desconectado. Têm medo de sobrar no mercado de trabalho, pois o desemprego e o futuro profissional estão entre seus grandes dilemas. É o segundo assunto que mais interessa às juventudes, perdendo para a educação. Com a falta de espaço e a concorrência no mercado de trabalho, muitos permanecem sustentados pelos pais. Outro medo é de morrer precocemente. Daí que a violência é uma das principais preocupações dos jovens […]
Tantas características envolvem o mundo das “juventudes”, tantas mudanças
no decorrer das gerações, cujas permanecem a cada novo dia, assim nos
complementa Libanio (2011, p. 247):
O processo de transformação da juventude não parou. Continua. Ela representa, no momento, realidade e mito. A realidade dos jovens não engana. Estão aí diante dos olhos com qualidades e defeitos, potencialidades e limites. A sociedade moderna e, sobretudo, pós-moderna, faz deles um mito. Crianças precoces comportam-se como jovens com comportamentos sexuais artificialmente provocados. Adultos retardatários imitam-nos grotescamente. E eles mesmos prolongam a juventude para além da faixa etária correspondente.
Conforme o que foi avaliado até aqui, Libanio (2011, p. 248) ainda nos afirma que:
Os jovens tendem a adquirir feição pós-moderna. Em resumo, indicamos alguns dos seus principais traços em rápida tipologia.
1) A maioria dos jovens prefere viver voltados para o presente, procurando usufruir os prazeres e os gozos que ele oferece, sem ocupar-se do passado nem preocupar-se com o futuro, prezando muito a própria autonomia.
2) Os jovens satisfeitos, em geral de classes aquinhoadas de bens materiais e de escolaridade, celebram as vitórias da modernidade, mas com medo de perdê-las por causa da crise cultural.
3) Outros, fragmentados, sofrem diante da sociedade e cultura atual crescente decepção com certa dose céptica.
4) Não faltam os que embarcam na atmosfera religiosa, fixando-se em alguma das inúmeras ofertas das Igrejas e religiões, ou peregrinando por várias ou até mesmo construindo seu próprio santuário privado.
5) Enorme multidão de jovens mergulha no mundo virtual, frequentando as infinitas possibilidades de programas de informação e comunicação.
6) Algumas causas importantes, levadas por movimentos sociais, como a ecologia, a consciência negra, o feminismo, o antibelicismo mobilizam
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jovens idealistas e ainda dispostos a compromissos maiores. Sonham alto e lutam na base.
7) O crime, a droga, a violência, os esportes radicais atraem os desejos de viver experiências arriscadas.
8) A pós-modernidade acena com regalias a que alguns jovens não tem acesso e então dão duro no trabalho com desejos de progredir socialmente, não sem penar.
Após tantos destaques na presente pesquisa, ainda se faz necessário e
indispensável salientar o processo de avanço tecnológico e da cultura da
descartabilidade tão presente neste universo dos jovens contemporâneos.
Manifesta-se outro fenômeno o qual marca o tempo atual: a realidade de
“juventudes” que tem se voltado para a vivência da espiritualidade por meio de
vivências de fé, no amplo universo das religiões, detalhando posteriormente o
contexto das “juventudes” ligadas a Igreja Católica, no recorte da Renovação
Carismática Católica, afunilando para as Novas Comunidades Católicas.
1.2 Identidade Religiosa: Numa perspectiva do cenário do catolicismo
Ao falar de identidade é indispensável afirmar que esta, está ligada e é
construída a partir de um contexto social, cultural, religioso, dentre outros, sob o
qual o ser humano se encontra inserido e nele interage. Observando a transição das
histórias do ocidente, nota-se que a identidade do sujeito foi sendo construída ao
longo destas referidas transições. Segundo Hall (2005, p.38), “assim, a identidade é
realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e
não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento”.
“Por isso se pode elencar como ponto de apoio, a racionalidade do período
iluminista da qual adveio uma forma de identidade codificada que se firmou em toda
modernidade, a saber, o sujeito individualizado” (Jesus 2012, p.95).
Conforme destaca Hall (2006, p.10-11):
O sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo.
O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa.
Já no tempo chamado pós-moderno, cujo sujeito tem sua identidade
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diferenciada do período anterior, conforme afirma Hall (2005, p.12-13), “a identidade
torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente; em relação
às formas pelas quais somos representados e interpelados nos sistemas culturais
que nos rodeiam”.
Assim também a pós-modernidade gera transitoriedades, influências no que
diz respeito ao sagrado, assim destaca Queiroz (1996, p. 16-17):
O caráter permanentemente migratório da Pós-Modernidade penetra no âmbito do sagrado e provoca um fenômeno que se caracteriza como nomadismo místico. Mesmo permanecendo nominalmente vinculado a alguma forma tradicional de culto, que em geral herdou do berço materno, a tendência religiosa do homem pós-moderno é um trânsito constante pela constelação religiosa, compondo, nessas inúmeras viagens, um sentido para a existência.
Segundo Hall (2005, p. 07), “[...] as velhas identidades, que por tanto tempo
estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado”.
Conforme Jesus (2012, p.96)
Desabrocham e/ou surgem situações de apatia no convívio social e também religioso que não se percebe sem um olhar crítico acentuado. É preciso muito discernimento. O esvaziamento de formas e métodos religiosos antigos acabou gestando uma forte elaboração de identidade, só que no campo privado.
Tudo se intensifica após tantos desafios históricos, como por exemplo, a
secularização, onde aqueles que pertencem a grupos religiosos, se encontram
numa aparente busca de identidade e segurança, e assim o fazem quando se
apropriam do ingresso em novos movimentos religiosos, associações religiosas ou
grupos filosóficos, como, por exemplo, a Renovação Carismática Católica (RCC),
sendo este um movimento iniciado por jovens universitários de principio na intenção
de atrair outros jovens para uma experiência espiritual profunda com o Sagrado.
Conforme Jesus (2012, p.96):
A proposta da RCC, dentro desse quadro de perdas e desafios é oferecer proposta/caminho de vida espiritual que faça o fiel encontrar sua identidade católica e nela fixar sua vida. Por isso, no caminho traçado pela Igreja Católica, durante o século XX, essa busca de identidade foi marcante e deveras intensa.
Tudo isto resulta do enfraquecimento e transformações no interior de
instituições religiosas mais antigas, pois como diz Aguilar (2006 p. 16), “o constante
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crescimento das igrejas pentecostais, bem como de algumas dominações afro-
brasileiras, causou mudanças dentro da Igreja Católica Brasileira trazendo também
consequências para a identidade religiosa brasileira”.
Diante de todos estes pontos aqui esclarecidos, pode-se afirmar que houve
uma ruptura com relação à dominação da vida dos fiéis, desencadeando assim uma
retomada de conversões, onde os mesmos optaram por buscar suas experiências
pessoais. Segundo Jesus (2012, p. 96), “a figura do convertido no século XX surge
na discussão, por ela ser importante na elaboração de práticas e conceitos que
redundam na identificação ou também na reafiliação”. Ainda conforme Jesus (2012,
p. 117), “o reafiliado é um convertido que redescobre um segmento religioso, o qual
devolve a garantia de viver “intensamente” sua experiência de fé”.
Com relação à RCC Jesus (2012, p. 97) ainda afirma que:
A RCC sabe que a identidade se dá com clareza na conversão e por isso a coloca como tema central de suas atividades. O convertido tem identidade a qual se consolida na postura do fiel convertido e não abre mão de sua experiência com Deus.
Houve um denso esforço por parte da Igreja Católica em compreender tudo
que se manifestava no que se refere às novas ideias trazidas pela modernidade.
Tudo isto se deu no período pós Concílio Vaticano II, cujo este foi um marco extenso
de cunho sócio eclesial, porém, antes deste, alguns aspectos e formas de diálogos
para com a sociedade moderna, podem ser observados nos documentos do Papa
Pio XII, cujo, suas encíclicas abordam diversos temas religiosos marcantes para a
Igreja, apesar disto, finda por deixar as bases para o Concílio. A Igreja encara sua
crise de forma a não perder seu ponto forte, sendo este o caráter sagrado, tendo em
mente que este caráter desde o princípio deveria estar fixo em algo eterno,
sobrevivente à oscilações históricas. Benedetti (2009, p.22) complementa que:
O Vaticano II efetivamente rompeu com essa circularidade discursiva. A expressão “sinais dos tempos” como indicativa do lugar onde buscar a revelação de Deus mostrava uma mudança de rumos que necessariamente implicaria uma nova forma e presença no mundo. Suporia manter fidelidade à tradição, descobrindo-a nas tradições, que ao invés de revelá-la ocultavam, ao tornarem eterno e imutável o que era apenas histórico (se bem que necessário, quando situado no tempo e no espaço).
Desencadeia-se uma época fadada às inquietações e angústias por parte dos
sujeitos que não se contentam mais com respostas sem fundamento que não
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respondam suas angústias, formando assim uma nova estrutura política, social e
religiosa e transformações também no âmbito econômico e profissional. Pode-se
afirmar ainda que os seres humanos no que se refere à prática e vivência religiosa,
entram em profunda crise consigo mesmo e com os outros, devido suas convicções
construídas no passado.
Arendt (1993, p.57) com relação às crenças e dúvidas do sujeito, expressa
que:
O homem religioso moderno pertence ao mesmo mundo secular que seu oponente ateu [...] O crente moderno que não aguenta a tensão entre dúvida e crença perderá de imediato a integridade e profundidade de sua crença.
Podemos ainda sublinhar a questão do pluralismo, no que se refere ao
catolicismo, significando assim que não há um modelo único desta prática religiosa,
assim nos diz Teixeira (2010, p.17):
Não dá pra situar o catolicismo brasileiro num quadro de homogeneidade. Na verdade, existem muitos “estilos culturais de 'ser católico'”, como vem mostrando estudiosos que se debruçam sobre este fenômeno, São malhas diversificadas de um catolicismo, ou se poderia mesmo falar em catolicismos.
Sobre essa diversidade do catolicismo posta anteriormente, Aguilar (2006, p.
16) afirma que:
Desde sua colonização, e também por causa dela o Brasil é considerado um “país católico”, não só por aqueles que o olham de fora, mas por seu povo. Desta forma, todos os que aqui nascem são católicos. A concepção de um catolicismo nacional, trouxe consequências para a prática religiosa, havendo desta forma um duplo movimento onde o catolicismo se fazia presente na cultura brasileira, influenciando-a com suas crenças e princípios, mas, ao mesmo tempo, era influenciado por ela.
Ainda sobre esta diversidade segundo Silva (2012, p.22), “desta forma é
comum à referência de dois tipos de catolicismo no Brasil: O tradicional e o popular.
O primeiro diz respeito ao catolicismo mais romanizado e o segundo está ligado às
crenças e as religiosidades populares”.
De acordo com Jesus (2012, p. 100):
Por mais que se insista na capacidade religiosa das instituições sobreviver, o dado pessoal deve ser pesquisado com insistência. Agora é a experiência subjetiva que predomina na vida religiosa. Assistimos a uma quebra-de-braço no campo religioso brasileiro. As formas institucionalizadas da vida religiosa não desapareceram, mas tiveram que ceder o lugar para outra
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maneira de se viver e celebrar a religião que é o campo pessoal e fortemente subjetivado.
Conforme Polletier (2002, p. 290), “sob a crise das instituições o sentimento
religioso não cessa de trabalhar, preparando uma recomposição do campo religioso
no qual a experiência individual na crença toma o lugar da pertença institucional”.
Pode-se destacar ainda o fato da misticidade, no qual o sujeito em sua
liberdade pode optar em seguir individualmente e pessoalmente assim como
acontecia na pré-modernidade, segundo Léger (2008, p. 139-140), “a história da
mística cristã, pode ser inteiramente lida deste ponto de vista, como uma história da
construção do sujeito religioso”.
Sendo assim esse ser místico, concerne em favor da conversão e
aproximação de Deus, onde ele buscará meios para que isto ocorra como, por
exemplo, as pessoas ou ambientes propícios para isto. Assim a RCC, como já
mencionada anteriormente, pode ser considerada um destes meios, já que neste
aspecto da experiência pessoal religiosa ela tem afinidade e aborda em suas
práticas com seus adeptos, oferecendo formas de retornar e permanecer na Igreja,
sendo ela uma guia de busca ou retorno a conversão.
Conforme afirma Teixeira (2010, p. 02):
Em sintonia com esta preocupação de “readesão” ao catolicismo, atuam novos movimentos eclesiais em particular a Renovação Carismática Católica (RCC). São movimentos que agem numa linha distinta de outros núcleos eclesiais que estiveram particularmente ativos nas décadas de 70 e 80, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais sociais. A RCC centra sua vida religiosa na “esfera da intimidade”, no incremento a grupos de oração centrados na emotividade. Mas também organiza e promove eventos litúrgicos massivos, visando apresentar um catolicismo que seja mais sedutor e atraente para a população. É visível o crescimento do número de católicos carismáticos no Brasil, ou das pessoas que estão envolvidas com atividades relacionadas ao movimento. Fala-se em 12,6% da população total do país.
Com relação à adesão ao referido movimento nos afirma Polletier (2002,
p.289):
Provavelmente nessa experiência trata-se do desejo de um re-encontro com Deus, ao mesmo tempo íntimo e partilhado pelo grupo, […] os carismáticos inventam uma espiritualidade de expansão individual. E completa: Trata-se de um reencantamento pelo espiritual que procura transcender o individualismo em nome da própria experiência individual. […] Inscreve-se profundamente na modernidade, ao inventar novas liturgias ou ao tomar a sério a emergência de uma sociedade de bem-estar.
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Ouve-se atualmente falar-se muito sobre a escolha feita por fiéis no que diz
respeito à religião, assim como também conflitos que acarretam no abandono dos
mesmos a práticas religiosas que escolheram, é o fato do catolicismo que sofreu
com a perca de seus adeptos. Mariz (2006, p. 53) cita que:
Não surpreende, portanto, que nos últimos censos do Brasil venha se observando uma queda crescente no percentual da população católica com respectivo aumento da proporção de evangélicos e dos que se dizem sem religião. Desde meados do século XX a população católica vem diminuindo em termos relativos, mas essa queda tem se acentuado nas últimas décadas.
Porém pode-se afirmar também que os católicos podem estar buscando
meios de aprofundar compreensões e ensinamentos, no que diz respeito à sua
religião. Conforme Mariz (2006, p.53), “essa revisão sugere que a queda na
proporção de católicos parece estar sendo acompanhada por um relativo
reavivamento religioso, e mais ainda por uma intensificação da diversidade na
experiência de ser católico”.
Existem ainda outros movimentos que trabalham com as práticas religiosas,
cujos sujeitos os aderem buscando descobrir e afirmar sua identidade, tanto interior
como exterior, assim também como respostas para seus questionamentos, vida
espiritual mais cheia de fervor e que possa ser compartilhada com os outros, pois
como afirma Carranza e Mariz (2009, p.165), “além do conforto que encontram no
“nós” comunitário, os fiéis sentem-se seguros perante as escolhas religiosas
realizada”.
Bauman (2005, p. 35) aponta que:
O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um sentimento ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazo, cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, num lugar teimosamente, perturbadoramente, “nem-um-nem-outro”, torna-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma perspectiva atraente.
Numa busca incessante do ser humano por Deus, cuja esta soa como
necessidade para o enfrentamento dos problemas, e necessidade de realização, o
cristianismo pode ser uma destas vias para essa busca que faz parte também da
formação de sua identidade, já que este reproduz na vida de seus adeptos uma
aproximação mais intensa com os símbolos pertencentes ao mesmo.
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Jesus (2012, p. 104) ainda complementa que:
O bem-estar pessoal, a saciedade dos meus sonhos e desejos e a busca de uma felicidade individual tomam o lugar dos caminhos outrora concebidos como absolutos; agora se descortina uma “nova-religião”, ou seja, constrói-se uma inaudita capacidade de tudo ser individualizado.
No que se refere ao surgimento e busca de fenômenos religiosos e suas
práticas, Mondin (1980, p. 245) aponta:
E, com efeito, também na sociedade moderna, tão saturada de secularização, afloram em toda parte fenômenos de redescoberta dos sagrados: esses não compreendem só os fenômenos que tem claramente caráter religioso, mas também outros fenômenos que pretendem a recuperação das dimensões religiosas da autêntica e significativa existência humana no universo.
A religião num contexto mais amplo se refere a uma busca de satisfação
individual, interior, construindo assim uma concepção de mundo, contemplando
assim a individualidade, sabendo, contudo, que ela não se opusera a modernidade.
Conforme Fromm (1976, p.137):
A religião específica, desde que seja eficaz na motivação da conduta, não é um acervo de doutrinas e crenças; ela tem raízes na estrutura específica de caráter do indivíduo e, na medida em que religião de um grupo, também no caráter social. Assim sendo, nossa atitude religiosa pode ser considerada um aspecto de nossa estrutura de caráter, visto que somos aquilo a que nos dedicamos é o que nos motiva a nossa conduta.
Esse caráter de satisfação que o indivíduo busca, vem de outros momentos e
também outras tradições religiosas, assim nos fala Jesus (2012, p. 105):
Uma leitura minuciosa da história da humanidade e particularmente de algumas tradições religiosas com seus caminhos espirituais específicos – como islamismo, hinduísmo, cristianismo, judaísmo – mostra como elas foram capazes de mudar a história de pessoas numa determinada época e contexto, seja de adversidade e de abundância espiritual, já que toda tradição religiosa demarca seu tempo, com características bem acentuadas de acontecimentos e pessoas que influem na sua época.
Dentre outros fatores característicos que traçam o caráter religioso, destaca
Carvalho (1994, p.22):
Outra característica fundamental, penso eu, da religiosidade contemporânea, é a de que a religião não é mais herdada, mas algo da ordem da opção, da escolha, da procura, da experimentação. Pode até ser descrita pelo sujeito em termos de um chamado, de uma ação do espírito desencadeada fora do seu controle de qualquer forma, entra no espaço do individualismo, é mais um lugar desse exercício da autonomia da vontade e da capacidade de decisão.
É possível analisar a partir do que já foi descrito o quão intenso e complexo é
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o caminho do convertido, cujo este o traça na certeza de trilhá-lo com discernimento
e aproximando-se cada vez mais do ser superior o qual creem, no caso dos
católicos carismáticos fixam seu olhar em Jesus Cristo como exemplo máximo,
acima de qualquer outro ser, assim como também sua dinâmica é construída
através da ação do Espírito Santo.
O Concílio do Vaticano II, cujo já citado anteriormente aborda em seus
objetivos, de frisar a participação do leigo mediante sua participação na Igreja,
permitindo e apoiando também a proliferação de agrupações que instigavam a
incorporação dos leigos, como cita Carranza e Mariz (2009, p.140):
Das muitas agrupações que proliferara no século passado podem ser mencionadas, grosso modo, Ação Católica, Vicentinos, Congregação Mariana, Cursilhos de Cristandade, entre outros. Com origens históricas e incidências socioeclesiais diferentes, esses movimentos se expandem com ênfase na participação do leigo. [...] Com origem em contextos sociais diversos e inspirados de forma distinta pelo Vaticano II, esses movimentos rompem com o modelo dos movimentos eclesiais acima citados na medida em que pretendem a transformação da Igreja Católica como um todo,
redefinindo seja o tipo de atuação do leigo, seja a espiritualidade.
O catolicismo estava passando nesta época (século XX), por mudanças
geradoras de atividades que propiciavam a conversão. Conforme Libânio (1996, p.
48), “passar-se-á para um cenário quase oposto. Em vez da instituição, triunfará o
carisma. Em vez da lei objetiva, a subjetividade. Em vez do clima controlado das
normas litúrgicas, a exuberância da emoção”.
Conforme tudo o que já foi descrito é possível perceber o crescimento e
intensidade que toma a RCC e o quanto ela mobiliza e atrai tantas pessoas,
utilizando para isso dinâmica em suas práticas como já dito anteriormente, assim
como também aposta em alguns desdobramentos. Tentando explicar o significado e
sentido mais amplo da RCC Carranza e Mariz (2009, p. 151) apontam que:
A RCC pode ser interpretada como um movimento religioso e social num sentido mais amplo, e não apenas como um movimento eclesial com certa burocracia e liderança, na medida em que se desdobrou em inúmeras iniciativas de caráter plural como são as comunidades novas.
Carranza (2009, p. 51) ainda destaca que:
Em termos culturais pode-se afirmar que um dos desdobramentos da RCC é o de fomentar nas Novas Comunidades o estatuto de comunidades intermediárias de sentido, capazes de oferecer refúgios emocionais a tantos jovens que procuram orientação a sua existência.
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Com tudo isto a RCC, busca salientar em especial para seus adeptos, que os
mesmos necessitam buscar a vida espiritual, necessitam indispensavelmente da
presença de Deus, pois somente assim se sentirão plenas e satisfeitas, pois o que
estas almejam realmente e são incentivada a buscarem diariamente com todos os
esforços possíveis é a conversão, salvação e santidade, utilizando como base para
que isto se concretize, a adesão às doutrinas católicas. Apesar das novas adesões e
formas adotadas para atrair fiéis, a RCC com estes posicionamentos se aproxima da
hierarquia católica, conforme destaca Carranza (2000, p.143):
Nesse duplo posicionamento sobre questões dogmáticas e doutrinárias, a RCC se localiza como sendo refúgio da valorização doutrinal do catolicismo romano. Para os bispos, segundo foi assinalado anteriormente, o fato de a RCC pregar com insistência sobre a necessidade de renovar a devoção mariana, frequentar os sacramentos e acolher incondicionalmente as normas da Igreja é um consolo pastoral.
O papel mariano dentro da RCC fortalece e dá mais segurança ao
carismático/convertido, que toma sua imagem e significado como exemplo já que ela
representa o papel da fidelidade a Jesus Cristo e a Igreja Católica, sendo também
muito bem-aceita pela mesma. Segundo Carranza (2000, p.144), “a devoção
mariana que a RCC enfatiza, é uma das razões que faz com que os bispos cada vez
mais aceitem a RCC nas suas dioceses [...]”. Através do Papel de Maria, os
católicos mais uma vez reafirmam sua identidade, assim como também é um traço
que diferencia a Igreja Católica de outras concepções religiosas, como o
pentecostalismo, afastando também seus fiéis de tais concepções. Assim nos é
exposto:
As diferenças entre carismáticos e pentecostais centram-se no culto a Maria. Para os católicos é a Santa Mãe de Jesus, da Igreja e de todos os Cristãos, digna de todos os louvores; para os protestantes, uma mulher que recebeu uma graça especial e que deve ser lembrada como um exemplo de conduta, não mais. Movidas por sua ânsia de renovação espiritual, os carismáticos fomentam o culto à Nossa Senhora colocando-se como premissa insubstituível na salvação dos homens. Com seu apego a Maria cria-se uma marca explícita de separação entre pentecostais e carismáticos. Os segundos são pentecostais, mas com Maria. (Prandi 1998, p. 125-142) (Andrade 2004, p.211).
Analisando todos estes pontos expostos, percebe-se que o sistema de crise
no século XX perpassou por todas as instituições religiosas existentes na época,
como o Concílio do Vaticano II, que gerou vários rumores de abalo na Igreja
Católica, neste tempo também o homem se tornou mais questionador e desejava
respostas concretas as suas indagações, tanto exteriores quanto interiores,
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buscando livremente construir sua própria identidade religiosa, através de meios que
favorecessem essa busca, como por exemplo, os novos movimentos recorrentes do
referido tempo.
A modernidade favoreceu a descaracterização das forças religiosas que
regiam o passado do sujeito, priorizando assim a individualidade, onde o mesmo
não seguiria o que lhe foi imposto em ensinamentos passados, mas sim a
incessante busca por afirmar sua própria identidade a partir de suas escolhas
pessoais.
Aqui destacamos o papel da Renovação Carismática Católica neste período,
de modo a acentuar seus esforços para atrair adeptos e mantê-los na Igreja
Católica, utilizando de dinâmicas e oferecendo atributos que saciam as
necessidades espirituais daqueles que recorrem à mesma, além disto, ela também
assume a responsabilidade de nortear o carismático em seu comportamento dentro
e fora da Igreja, no que diz respeito também a moralidade, sociedade, política,
família, cultura, combatendo todo e qualquer obstáculo que possa provocar rupturas
em sua escolha, podendo ainda este caminhar para uma maior radicalidade dentro
das Novas Comunidades (desdobramentos/frutos da RCC), mantendo assim acesa
com a ajuda do Espírito Santo (como estes creem) a chama da conversão.
1.3 Juventudes e a dimensão religiosa
Pode-se afirmar que os jovens da atualidade mantêm as principais traços
característicos dos jovens da década de 90. O que há de novo se refere a crescente
adesão aos movimentos religiosos, principalmente às igrejas e correntes do
pentecostalismo católico e evangélico. A religião em especial se consolidou e se
aplica como uma das principais formas de organização grupal das juventudes nos
tempos atuais.
Ao analisar as “juventudes” sob diversos aspectos na contemporaneidade, é
possível a percepção de que os jovens estão juntos uns com os outros, por
afinidade, sendo assim, pode-se afirmar que a religião possui papel de grande
relevância, conforme Novaes (2004, p.264-265):
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Para os jovens de hoje, multiplicam-se igrejas e grupos de várias tradições religiosas. Para eles também existem possibilidades de combinar elementos de diferentes espiritualidades em uma síntese “pessoal e intransferível”. Em síntese, nos dias atuais, surgem constantemente novas possibilidades sincréticas que ao mesmo tempo (re) produzem identidades institucionais e até novos fundamentalismos.
É necessário ainda que se percebam as influências que a religião gera na
vida dos sujeitos, nos mais diversos tipos de aspectos, em especial em suas
decisões e atos. A respeito, Novaes (2004, p.265) ainda nos diz:
É nesse cenário que se coloca o desafio de compreender o “quanto”, “como” e “quando” o pertencimento, as crenças e as identidades religiosas influenciam opiniões, percepções e praticas sociais dos jovens dessa geração. Trata-se de encontrar instrumentos de análise e caminhos de reflexão para compreender melhor os efeitos de escolhas, pertencimentos e identidades religiosas em diferentes áreas da vida social.
Tomando por base o foco desta pesquisa, a qual se busca a compreensão
das realidades das “juventudes” que se encontram inseridas no cenário do
catolicismo, cuja esta toma por título ser a religião oficial do Brasil, porém, como já
citado anteriormente a Igreja Católica perdeu grande parte de seus adeptos para
outras religiões, pois em muitos casos, os jovens tomavam por escolha o catolicismo
por influência dos pais, ou de outros membros próximos, contudo no decorrer do
tempo os jovens passaram a ter mais autonomia e ir em busca daquilo que os
satisfizesse realmente, de acordo com suas próprias percepções. A partir disso a
influência do meio evangélico (protestante) toma uma maior proporção para estes
jovens. Sobre isto eis o que nos afirma Corrêa (2013, p. 42):
Aparece claramente que, apesar de ser ainda superior, o número de jovens que se dizem católicos diminuiu. Há um ligeiro aumento dos que se declaram evangélicos. Destaque para os que se declaram m religião, apesar de crerem em Deus. Percebe-se um grande abismo entre o cristianismo institucionalizado e as diferentes experiências religiosas vividas pelas juventudes. A busca de emancipação atinge também os vínculos religiosos e as crenças familiares. Por outro lado, sem dúvida, as novas tecnologias de comunicação foram incorporadas e contribuem para a globalização do campo religioso.
Assim a Igreja Católica toma medidas fortes e aposta em mudanças numa
tentativa de se estabilizar novamente, pois conforme Libanio (2011, p. 210):
Há diversos campos de desencontro entre os jovens e a Igreja. Eles a consideram ultrapassada, desatualizada, sobretudo no campo da moral, ao opor-se ao uso da camisinha, ao sexo antes do matrimônio. Ela parece-lhes desinteressante, impositiva, ao prescrever normas sem justificá-las suficientemente para eles. Predomina neles o sentimento de incompreensão, de distância, de indiferença.
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Surgem também como forma de atrair os jovens que não se enquadram
dentro das práticas religiosas do catolicismo, os novos movimentos católicos como
já citados anteriormente e os quais também me aprofundarei posteriormente.
Ao analisar as referidas realidades as quais estão inseridas estes jovens,
percebe-se que os mesmos estão à procura de uma identidade que os complete em
todos os aspectos em que estão envolvidos. Pois assim como afirma Libanio (2011,
p. 210), “Nem tudo na Igreja os afasta. Veem nela espaço para momentos de paz e
introspecção em algumas celebrações e encontros. Admiram e participam de
atividades sociais. Engajam-se em corais ou servem de instrumentista nas liturgias”.
No que diz respeito a esta procura, Bauman (2005, p.35) ainda expõe que:
“Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades, também não é uma perspectiva atraente”. Em nossa época líquido-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, estar fixo ser identificado de modo inflexível e sem alternativa é algo cada vez mais malvisto.
Assim surgem as particularidades da construção da identidade de cada
jovem, onde trazem em si os preceitos pregados pela Igreja Católica e pelos novos
movimentos, assim tentam vivenciá-los em cada momento, onde quer que estejam,
apesar das tensões vivenciadas no cotidiano, assim como também transmiti-los em
meio às realidades em que está compreendida a sociedade. É importante ainda
compreender as diversas realidades que motivam os jovens a buscar a religião, e
considerá-la como uma segurança. Assim nos afirma Novaes (2004, p.282):
O que isso teria a ver com religião? Não me atrevo a afirmar que o medo de sobrar, a insegurança para planejar o futuro profissional e a experiência de vivenciar precocemente a morte de amigos, primos e irmãos resultem direta e necessariamente, em reforço de valores religiosos, em busca de fé ou na valorização da religião como lócus de agregação social. Contudo, quando se pretende analisar as relações entre religiões e juventude, não podemos deixar de lado as inseguranças advindas dos desenraizamentos do mundo contemporâneo e as especificas dificuldades de inserção social que vivem os jovens brasileiros de hoje. Religião nesse sentido, não pode ser pensada como volta ao passado, os jovens de hoje parecem viver uma nova página nas relações entre valores da sociedade moderna e religião.
Todas estas questões são de extrema importância, de modo que precisam ser
avaliadas tomando em consideração o sistema econômico capitalista, vigente em
nossa sociedade, para que se possa perceber se a busca pela religião está
vinculada a uma questão interior ou a algo material que não se tem acesso, devido o
caráter excludente do sistema citado anteriormente. Porém deve-se levar em conta,
33
até mesmo porque existem estudos sobre isso, que as experiências religiosas
também podem ser vistas como forma de superação das tensões existentes e
presentes na vida dos jovens. Verifica-se um relaxamento além de uma sensação de
força e poder que antes não eram encontrados na vida social. Dessa forma, pode-se
afirmar a tese da existência de uma subjetividade juvenil funcionalmente religiosa,
como relata Mariz (2005, p. 269):
A subjetividade juvenil teria assim uma afinidade eletiva com experiências coletivistas e comunitárias, entendidas por Durkheim (1985) como funcionalmente ‘religiosas’. Devido a esse tipo de afinidade, os jovens seriam os mais aptos a tomar atitudes de heroísmo extremo, a ser revolucionários ou virtuoses religiosos, ou a se engajar em violência radical, optando por vezes pelo que Durkheim chamou de ‘suicídio altruísta’ .
Conforme se pode analisar, essa subjetividade juvenil não necessariamente
religiosa possibilita às religiões se tornarem na atualidade uma das principais formas
de socialização dos jovens na sociedade. Essa tendência é favorecida pela crise
social enfrentada pela sociedade brasileira e pode ser compreendida principalmente
no que diz respeito ao aspecto trabalhista, educacional e político das “juventudes”.
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2. RESGATE DE UMA VIVÊNCIA DE FÉ NO ÂMBITO DA RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA: COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM
No presente capítulo, dando continuidade as abordagens referentes ao
catolicismo, será dado enfoque as mudanças principais ocorridas no interior da
Igreja Católica a partir do Concílio do Vaticano II, fazendo um breve contexto de tais
mudanças que geraram por frutos, o Movimento da Renovação Carismática Católica
e por consequência as Novas Comunidades Católicas, cujos estes tiveram
indiscutivelmente participações importantes dos jovens. Por fim será dada ênfase a
uma dessas Novas Comunidades, a Comunidade Católica Shalom, que foi escolhida
como campo de pesquisa do presente trabalho.
2.1 O Movimento da Renovação Carismática e as Novas Comunidades
Breve Histórico
Por vários séculos a Igreja Católica manteve grande influência sobre a
sociedade, em aspectos culturais, sociais, políticos e morais, contudo, não foi
possível evitar uma aparente crise no século XIX, que acarretou na perca dos
adeptos à mesma, como afirma Benedetti (2009, p.17):
A Igreja Católica não consegue controlar mais seus membros e tenta desesperadamente impor sua visão de mundo, valores e normas que daí emanam à sociedade que provoca essa situação de liberdade face às instituições.
Ainda segundo Benedetti (2009, p.19):
A Igreja Católica parte do pressuposto de que os indivíduos estão “perdidos”, inseguros “, desenraizados”. Eles não tem esta percepção de si mesmos, mas sim veem uma instituição que nada tem a dizer a eles senão que estão fora do caminho. Fica evidente aqui, um diálogo de surdos. Os critérios de pertença ao grupo cristão são cada vez mais subjetivos e a doutrina oficial cada vez mais distante da experiência pessoal.
Tomando catolicismo como foco e o analisando, pode-se perceber que no
decorrer de sua história, tem reinventado também novas formas no que se refere a
ritos, práticas e aspectos emocionais, apostando em diversas escolhas e
possibilidades para afirmar a identidade de pertencer a Igreja Católica. Assim ela
apresenta aos sujeitos da modernidade tais possibilidades de modo a atraí-los e
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estreitar laços com estes. Surge então, uma possibilidade que se refere ao
consumismo, cujo este penetra nas práticas religiosas, transformando estas em
produto, que possua a finalidade de compreensão do campo religioso atual de
caráter plural e desregulado.
Conforme Guerra (2003, p. 01):
A lógica mercadológica sob a qual a esfera da religião opera produz, entre outras coisas, o aumento da importância das necessidades e desejos das pessoas na definição dos modelos de práticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado. Ao mesmo tempo, demanda das organizações religiosas maior flexibilidade em termos de mudança de seus “produtos” no sentido de adequá-los da melhor maneira possível para a satisfação da demanda religiosa dos indivíduos.
Com o passar dos anos, no século XIX, é possível analisar diversas
transformações no cenário do catolicismo, motivadas pela lógica do mercado, que
se intensifica nas estruturas internas da fé, cujo se veem na obrigação e
responsabilidade de dar respostas satisfatórias aos indivíduos, possibilitando assim
escolhas para que os mesmos possam permanecer ligados as instituições
religiosas.
Conforme Della Cava (1992 apud Carranza e Mariz 2009, p 140):
Os tempos mudaram. Perante uma descristianização e a descatolização da sociedade, no século XIX, emerge o catolicismo social que sob o marco doutrinal da em cíclica Rerum Novarum (Leão XIII, 1890), previu a reorganização da base social do catolicismo. Assim reflorescem no século XX associações laicais e movimentos eclesiais, cuja novidade seria missão da tradição e na missão de evangelizar, dantes tarefa reservada ao clero.
É notório neste período que o catolicismo se viu praticamente que obrigado a
rever seu papel perante a sociedade e fazer mudanças para que não houvesse uma
crise ainda maior, principalmente no que se refere a perca de seus adeptos. Dentre
tantas transições, pode-se destacar o Concílio do Vaticano II, cujo este, tem um
caráter de atualização na história da Igreja Católica, apostando na atuação do leigo,
conforme afirma Carranza (1998, p.7 Apud Aguiar, 2013):
Dentre as propostas do Vaticano II encontravam-se: enfatizar a renovação litúrgica e bíblica, procurar novas relações entre a Igreja e a sociedade moderna e entre outras religiões, rever a função do leigo no mundo e na igreja, o que implicou na reorientação pessoal do fiel para um engajamento nas lutas sociais em nome do Evangelho e na sua participação dentro da estrutura institucional.
Segundo Aguiar (2013, p.54), “a partir do Concílio percebe-se uma maior
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abertura por parte da Igreja ao trabalho dos leigos, o que anteriormente ficava
centrado só em religiosos como padres e freiras”.
Pode-se afirmar também que a partir do Vaticano II floresceu na Igreja uma
concepção mais servidora, que diminuiu a distância entre seus ministros e o povo de
Deus. Uma atitude mais misericordiosa em face das dores e sofrimentos do homem
moderno (Jesus 2012, p.25).
Desse modo a respeito dos “frutos” do referido Concílio, cujo representa uma
resposta da Igreja e mudanças no catolicismo tradicional, nos afirma Nicolau (2006,
pag.78):
Foi com o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, que surgiram as duas principais correntes do catolicismo brasileiro: A RCC e o Cristianismo de Libertação. Este último com as Comunidades Eclesiais de Base (CEB's) e a RCC, com as Comunidades de Vida e as Comunidades de Aliança.
Dinamizando com relação às ditas anteriormente Comunidades Eclesiais de
Base (CEB's) em seu contexto mais amplo, Prandi (1997, p.97) nos diz que:
As CEB's gestadas pela estratégia de uma hierarquia da Igreja como meio de dinamizar a vida religiosa para recuperar o espaço perdido na sociedade, significam uma mudança efetiva na prática pastoral, com inequívoca abertura para as questões sociais, gerando inclusive mecanismos de
formação de militância político-partidária.
Silva (2012, p.34) complementa que:
O auge das CEB's se deu entre as décadas de 70 e 80, período de grande articulação popular contra ditadura. Sua maior contribuição está na mobilização e envolvimento afetivo dos leigos na vida eclesial com vista a transformação social. Em contrapartida essa movimentação político/social/intramundano, contribuiu para o acolhimento do movimento de RCC que se espalhou rapidamente por todo país, mesmo sendo visto por alguns, como um movimento problemático.
Com relação ao surgimento histórico da RCC afirma Aguiar (2013, p. 55 e
56):
A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecido, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17 a 19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA) [...] No Brasil a origem do MRCC teve seu início, no ano de 1970, na cidade de Campinas-SP por meio dos padres americanos Haroldo Joseph Rahm e EduardoDougherty, dai se expandindo para o restante do país [...] No Ceará a RCC chegou à cidade de Fortaleza em 1975, através de um evento que foi conduzido pelo padre Eduardo Dougherty. A expansão do MRCC em Fortaleza aconteceu primeiramente no bairro Pirambu, atual Cristo Redentor, por Caetano Minette de Tillesse,
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que era herdeiro do trono da Bélgica, mas decidiu-se ser padre, e ele foi o então precursor da instalação do MRCC no Ceará.
Jesus (2012, p.26), com relação ao surgimento da Renovação Carismática
destaca que:
Nesse contexto de abertura aos novos tempos, a Igreja viu-se contemplada por novos movimentos e dentre eles, a Renovação Carismática Católica que tratou de colocar seus pilares de espiritualidade centrada no Espírito Santo. Ela vislumbrou o alcance do Concílio e se colocou como proposta de vida eclesial.
Pode-se citar, a respeito da relação e influência entre o Concílio do Vaticano II
e RCC o seguinte ponto, conforme aponta Carranza (1998, p.8):
É nessa revivescência pós-conciliar que surge o movimento de Renovação Carismática Católica (RCC), como uma inflexão do catolicismo que reage diante da pós-modernidade, oferecendo uma nova subjetividade religiosa pautada nos moldes neopentecostais de emotividade e como uma agência moderna de aflição.
A RCC para alguns era considerada um problema por ser um movimento que
valoriza inestimavelmente o espiritual, o ser e sua conversão, assim como também o
midiatismo (evangelização através de meios de comunicação), e não se denota a
ser de cunho altamente social como as CEB's, isto também se fundamenta na
questão de ter sido criada por jovens, universitários e por assim dizer, também ricos.
Conforme Carranza (2009, p.46), “o embasamento teórico que sustentava a
acusação de que a RCC era um movimento alienado, que só visava o
emocionalismo e a vida espiritual intimista, encontrava eco numa leitura marxista da
realidade”.
Já sobre a serventia que presta a RCC, nos diz Rolim (1997, p.297):
O que escapa a essa perspectiva conservadora(da Igreja) é o fato de ela estar mergulhando cada vez nas águas, aparentemente sedutoras, do emocional religioso, visto como bons olhos pelo capitalismo que se serve dele com habilidade, esperteza e sucesso […] Combate-se o materialismo histórico em nome de um vago materialismo, e não se considera que a sociedade de consumo, com implicações no urbano e no rural, cria e alimenta um materialismo prático que corrói os valores da vida.
Com relação a sua estrutura, a Renovação Carismática Católica comporta
sua própria organização, conforme destaca Carranza (1998, p.36):
A RCC se organiza em torno de grupos de oração e Seminários de Vida no Espírito Santo (SVES). Há também reuniões de caráter massivo denominado Cenáculos, rebanhões, encontrões, festivais, enfim, uma variedade de nomes para designar atividades que implicam na aglutinação
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de multidões.
No interior do contexto que abrange a RCC, pode-se frisar o papel das Novas
Comunidades, ou Comunidades de Vida ou Aliança como também podem ser
mencionadas e até Novos Movimentos Eclesiais (NME), cujos estes tiveram um
grande apoio por parte do clero, em especial no pontificado do papa João Paulo II.
Carranza (2007, p.8) vem afirmar que as Novas Comunidades:
São novas agregações religiosas católicas que reúnem homens e mulheres, casados ou solteiros, jovens, famílias em torno de experiências religiosas devocionais, sacramentais e projetos de evangelização. Elas são, historicamente, um dos desdobramentos da Renovação Carismática Católica — RCC — que, ao longo de quatro décadas, no Brasil, tem se consolidado como movimento espiritual centrado nos dons do Espírito Santo e na vivência de carismas.
Carranza e Mariz (2009, p. 158) ainda destacam que:
Nas comunidades de Aliança e Vida, o fiel encontra a espiritualidade carismática, aquilo que reavivou sua fé, optando por participar delas quando identifica nessas novas comunidades o universo simbólico que lhe concede sentido religioso – o contato direto cm o sagrado, a possibilidade de milagres cotidianos.
Diante disto afirma Ferreira (2011, p.61) complementando com relação aos
traços que caracterizam as novas comunidades:
Suas características principais são: ideias, força, espírito comum; mais do que um estatuto, os membros se reconhecem em uma doutrina e em uma práxis, que tendem a uma espiritualidade; finalidades de evangelização, promoção humana e edificação da comunidade eclesial; adesão não-formal, mas vital, sem necessidade de inscrições particulares.
As Novas Comunidades surgem então, como uma forma de resgatar aqueles
que se encontram distanciados do catolicismo, e buscam uma certa estabilidade e a
autorrealização, assim como também como respostas aos seus questionamentos
tanto interiores quanto exteriores. Conforme nos diz Berger e Luckmann (2004, p.
55):
As pequenas comunidades parecem ser o refúgio que alivia no indivíduo a necessidade de reinventar o mundo a todo momento e de ter que se encontrar nele. Assim, esses agrupamentos criam programas, currículos existenciais comprovados pela tradição, nos quais as pessoas espelham seu comportamento e aspiram à autorrealização.
Já no que diz respeito a relação entre as novas comunidades e a Renovação
Carismática Católica, eis o que nos diz Carranza e Mariz (2009, p. 145):
Apesar de terem surgido e entre membros da RCC, as novas comunidades
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são organismos totalmente independentes. Estruturando-se com casa matriz, sedes, estatutos, regras, registro civil, coordenação casas de missão e recursos próprios, algumas comunidades revelam-se verdadeiros impérios espirituais como empreendimentos financeiros consideráveis, comportando-se como movimentos autônomos em prol da expansão de seu carisma. Ao mesmo tempo estas comunidades, nascem com raízes fortes locais, identificam-se com as necessidades de seu entorno e respondem a elas desde a compreensão do que denominam missão.
As Novas Comunidades, nos últimos tempos têm crescido exacerbadamente
e assim desenvolvendo novas formas de adaptação no meio em que se instalam e
principalmente para aqueles que aderem esta forma de expressar sua
espiritualidade, assim complementa Carranza (2007, p.10):
Acho que a agilidade da sua organização. Livre das amarras canônicas das grandes congregações, as novas comunidades se espalham com maior rapidez, ora para fundar novos grupos, realizar projetos, ora para incorporar novos membros e os deslocar de um lado para outro.
A partir do surgimento das Novas Comunidades é possível analisar as
transformações, cujas estas acarretaram para os leigos e para a Igreja Católica, no
âmbito pessoal, social, cultural, espiritual. Por fim de acordo com Silva (2012, p. 37),
“com as NC, são introduzidas mudanças na forma de se pensar, e se construir o
catolicismo brasileiro. É através delas que paradigmas estruturantes são
repensados, além disso, identidades são fortalecidas e adeptos são atraídos para a
Igreja”.
É nesta realidade que se encontra inserida a Comunidade Católica Shalom, a
qual estará explícita no estudo a seguir.
2.2 Comunidade Católica Shalom
Eis que surge um novo, uma das maiores novas comunidades católicas
existentes no País, a Comunidade Católica Shalom, que se identifica como uma
nova Comunidade com bases e espiritualidade da RCC (Renovação Carismática
Católica), esta foi fundada pelo então jovem e leigo Moysés Louro de Azevedo Filho,
e posteriormente tal obra perpassa a vida da cofundadora Maria Emmir Orquendo
Nogueira, os dois iniciaram suas caminhadas na Igreja, engajando-se na prática
católica acompanhado de outros jovens em 1976, onde tiveram a experiência do
Batismo no Espírito Santo na Renovação Carismática Católica, assim nos afirma
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Azevedo (2012, p. 146):
Participo do meu primeiro encontro de jovens e tenho meu encontro pessoal com Jesus. Minha vida muda radicalmente e assumo um forte compromisso com a Igreja, engajado na evangelização dos jovens através do Movimento de Encontros da Arquidiocese e do Grupo de Jovens do Colégio Cearense, pertencente aos Irmãos Maristas.
De acordo com Mariz e Aguilar (2006) na RCC, Moysés e Maria Emmir
Nogueira organizavam grupos de oração voltados para jovens.
Relatando assim Azevedo (2012, p.146):
Animados pelo Espírito, fomos crescendo em uma saudável criatividade para anunciar O Evangelho. Por esse tempo começavam a florescer os Seminários de Vida no Espírito Santo para jovens e, em comunhão com Emmir Nogueira, que conhecemos dentro da RCC, todo um trabalho de Renovação Carismática, especificamente voltado para os jovens, começou a se desenvolver.
Segundo Mariz e Aguilar (2006) na visita de João Paulo II ao Brasil, em 1980,
Moysés é escolhido para representar os jovens do Ceará, fato que se configura um
marco na sua vida e na história da Shalom, já que durante o encontro ele promete a
Deus dedicar sua vida à evangelização dos jovens: dois anos depois, fundará a
Shalom.
Como afirma o fundador e autor Azevedo (2012, p.147):
[...] Pela misericórdia de Deus, eu era um destes jovens. Discernimos que devíamos apresentar ao Papa um presente em nome de todos os jovens da Arquidiocese. O p