12
Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006 61 Revista de Geologia, Vol. 19, nº 1, 61-72, 2006 www.revistadegeologia.ufc.br Recarga do aqüífero Açu na borda sudoeste da bacia Potiguar Trecho Apodi-Upanema José Geraldo de Melo a , Paula Stein b , Mickaelon Belchior Vasconcelos b & Fabio Henrique Roque da Silva a Recebido em 13 de dezembro de 2004 / Aceito em 30 de junho de 2005 Resumo A Borda Sudoeste da Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, está situada em domínio semi-árido com precipitações pluviométricas médias de 765 mm/ano. O aqüífero Açu é o principal recurso hídrico disponível para o suprimento das populações com água potável e uso na irrigação, desempenhando, portanto um papel importante no desenvolvimento da região. A captação d’água é feita através de poços, os quais fornecem vazões muito variadas, desde menos de 5 m 3 /h até 80 m 3 /h, atestando condições de heterogeneidade, o que tem limitado o uso das águas subterrâneas em maior escala. Os dados geológicos, estruturais e geofísicos (sondagens elétricas verticais e condutância longitudinal) mostram que a área é formada por altos e baixos estruturais. De conformidade com os resultados dos estudos hidrogeológicos realizados, isto condiciona a ocorrência de setores com diferentes potencialidades. Verificou-se que a transmissividade do aqüífero cresce no sentido de sul para norte segundo a direção do fluxo subterrâneo, com valores de menos de 10 m 2 /dia até 280 m 2 /dia, evidenciando, portanto maiores potencialidades do aqüífero Açu na faixa norte da área. A recarga das águas subterrâneas foi avaliada em 54 milhões de m 3 /ano, sendo que mais de 90% deste recurso é armazenado no setor norte da área. Palavras-Chaves: Semi-árido, água subterrânea, recarga, fluxo subterrâneo Abstract The southwestern border of the Potiguar Basin, in Rio Grande do Norte State, is situated in the semi-arid region and the precipitation is about 745 mm/year. The Açu aquifer is the main water source of supply to the population and to land irrigation. The wells bored in the area present very different production, whose outflows vary from less them 5 m 3 /h up to 60 m 3 /h. It is the main reason of limiting the use of the groundwater. As shown by the geological, structural and geophysical data (vertical electrical profiles and longitudinal conductance) there are high and low geological structures. According to the studies carried out, these characteristics result in various sectors of different hydrogeologic potentialities. The aquifer transmissisvity increases following the flux direction from south to north, varying from less than 10 m 2 /day to 280 m 2 /day, characterizing the north zone of the area as the best hydrogeologic possibilities. The annual groundwater recharge was estimated in 41 mm or 54 millions m 3 , in which most of it (91,5%) is stored in the north zone of the area. Key words: semi-arid, groundwater, recharge, groundwater flow a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Depto de Geologia. E-mail: [email protected] b Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Pós-Graduação de Geociências. E-mail: [email protected]; [email protected]

Recarga do aqüífero Açu na borda sudoeste da bacia Potiguar Trecho Apodi-Upanema

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Caracterização do aquifero açu, localizado na bacia potiguar.

Citation preview

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    61

    Revista de Geologia, Vol. 19, n 1, 61-72, 2006www.revistadegeologia.ufc.br

    Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia PotiguarTrecho Apodi-Upanema

    Jos Geraldo de Meloa, Paula Steinb, Mickaelon Belchior Vasconcelosb &Fabio Henrique Roque da Silvaa

    Recebido em 13 de dezembro de 2004 / Aceito em 30 de junho de 2005

    ResumoA Borda Sudoeste da Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, est situada em domnio semi-rido

    com precipitaes pluviomtricas mdias de 765 mm/ano. O aqfero Au o principal recurso hdricodisponvel para o suprimento das populaes com gua potvel e uso na irrigao, desempenhando,portanto um papel importante no desenvolvimento da regio. A captao dgua feita atravs depoos, os quais fornecem vazes muito variadas, desde menos de 5 m3/h at 80 m3/h, atestando condiesde heterogeneidade, o que tem limitado o uso das guas subterrneas em maior escala. Os dadosgeolgicos, estruturais e geofsicos (sondagens eltricas verticais e condutncia longitudinal) mostramque a rea formada por altos e baixos estruturais. De conformidade com os resultados dos estudoshidrogeolgicos realizados, isto condiciona a ocorrncia de setores com diferentes potencialidades.Verificou-se que a transmissividade do aqfero cresce no sentido de sul para norte segundo a direodo fluxo subterrneo, com valores de menos de 10 m2/dia at 280 m2/dia, evidenciando, portanto maiorespotencialidades do aqfero Au na faixa norte da rea. A recarga das guas subterrneas foi avaliadaem 54 milhes de m3/ano, sendo que mais de 90% deste recurso armazenado no setor norte da rea.

    Palavras-Chaves: Semi-rido, gua subterrnea, recarga, fluxo subterrneo

    AbstractThe southwestern border of the Potiguar Basin, in Rio Grande do Norte State, is situated in the

    semi-arid region and the precipitation is about 745 mm/year. The Au aquifer is the main water sourceof supply to the population and to land irrigation. The wells bored in the area present very differentproduction, whose outflows vary from less them 5 m3/h up to 60 m3/h. It is the main reason of limitingthe use of the groundwater. As shown by the geological, structural and geophysical data (verticalelectrical profiles and longitudinal conductance) there are high and low geological structures. Accordingto the studies carried out, these characteristics result in various sectors of different hydrogeologicpotentialities. The aquifer transmissisvity increases following the flux direction from south to north,varying from less than 10 m2/day to 280 m2/day, characterizing the north zone of the area as the besthydrogeologic possibilities. The annual groundwater recharge was estimated in 41 mm or 54 millionsm3, in which most of it (91,5%) is stored in the north zone of the area.

    Key words: semi-arid, groundwater, recharge, groundwater flow

    aUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, Depto de Geologia. E-mail: [email protected] Federal do Rio Grande do Norte, Ps-Graduao de Geocincias.

    E-mail: [email protected]; [email protected]

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar62

    1. Introduo

    A rea de estudo est situada na bordasudoeste da Bacia Potiguar, na poro oeste doEstado do Rio Grande do Norte, numa estreitafaixa de direo leste-oeste que se estende deUpanema at a fronteira com o Estado do Cear,ocupando uma superfcie de 1320 km2 (Fig. 1).

    As guas subterrneas do aqfero Au temsido destinadas prioritariamente ao abastecimentodas cidades de Apodi, Upanema, Felipe Guerra,Rodolfo Fernandes e Severiano Melo, alm dedistritos, ressaltando que essas duas ltimascidades e alguns dos distritos esto situados nodomnio das rochas cristalinas, onde as guas

    superficiais e subterrneas so escassas e em geralsalinizadas. Nestes casos, o abastecimento dgua feito atravs de sistema de adutoras.

    A captao dgua no aqfero Au em geral feita atravs de poos com profundidades daordem de 100 m, produzindo at 80 m3/h. Adescarga total bombeada, obtida na fase de cadas-tramento de poos, da ordem de 10 milhes dem3/ano. O uso da gua na irrigao relativamentepouco desenvolvido, porem mostra tendncias paraum crescimento expressivo. H casos, tambm deindustrializao das guas subterrneas do aqferoAu como guas minerais ou potveis de mesa,como o caso da industria de gua MineralCristalina e a industria de gua Mineral Santa

    Fig. 1. Localizao geogrfica do estado do Rio Grande do Norte com destaque da regio estudada.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    63Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    Luzia, localizadas nos municpios de Apodi eUpanema, respectivamente.

    Nos ltimos anos, o uso das guas do aq-fero tem sido limitado pela presena de guassalinizadas em alguns setores, baixas vazes dospoos em muitas situaes e pela falta de conheci-mento de suas reais potencialidades. O presenteartigo enfatiza os aspectos estruturais e de recargadas guas subterrneas como subsdio otimi-zao da explotao das guas subterrneas.

    A maioria dos estudos hidrogeolgicosrealizados sobre o aqfero Au, na Bacia Poti-guar, esto concentrados na Regio de Mossor(norte da rea de estudo). As informaesdisponveis sobre a hidrogeologia da zona deafloramento da Formao Au so fruto deestudos regionais desenvolvidos na escala1:500.000, e, tambm dados isolados de perfu-rao de poos.

    Estudos Hidrogeolgicos na Bacia Potiguar,desenvolvidos por Rebouas (1967), fornecemuma primeira indicao de que o aqfero Au nazona de afloramento da Formao Au do tipolivre com fluxo subterrneo dirigido para norte.Posteriormente, este comportamento foi confir-mado por Manuel Filho (1971). Na plancie doApodi desenvolve-se o aqfero aluvial comespessuras da ordem de 35 m nos seus domniosmais produtores, com cargas hidrulicas distinta-mente superiores as do aqfero Au e descargadescendente em direo ao mesmo, tendo oaqfero Au sido caracterizado como semi-confinado (Santos, 1977). Na borda sudeste daBacia Potiguar, o aqfero Au, segundo o IPT(1982), de baixa potencialidade, sugerindocondies de explotao de poos com vazes,no mximo, de 10 m3/h. Posteriormente, a partirde 1992, com o desenvolvimento da perfuraode poos na rea, foram obtidas descargas daordem de 60 m3/h, o que motivou a Companhiade guas e Esgotos do Rio Grande do Norte(CAERN) intensificar as perfuraes, para oabastecimento de cidades.

    A caracterizao da estrutura hidrogeolgicado terreno feita com base em perfis de poos eprospeco geofsica (dados gravimtricos,sondagens eltricas verticais e sondagens eltricas

    longitudinais). O padro do fluxo subterrneo estabelecido a partir do mapa potenciomtricocom a caracterizao de zonas principais derecarga, e descarga dgua, apoiado em dadosde campanhas de medies de nveis dgua eresultados do nivelamento topogrfico de poos.Os parmetros hidrodinmicos do aqfero(transmissividade e condutividade hidrulica) soapresentados com base na interpretao deresultados de testes de produo de poos. Arecarga das guas subterrneas estimadautilizando diferentes metodologias, tendo em vistaa comparao de resultados e adoo de valoresque se mostrem mais representativos para osistema hidrogeolgico considerado. Foramaplicados os mtodos do balano hidroclimatol-gico, variao do nvel dgua, Lei de Darcyaplicada ao meio poroso saturado e balano decloreto.

    2. Condicionantes climticos e fisiogrficos

    As precipitaes pluviomtricas no domnioda rea so em mdia de 728 mm anuais (perodo1931-1990), com chuvas concentradas em trsou quatro meses e a evapotranspirao potencialrelativamente elevada, atingindo 1542 mm anuais.Os dados climticos permitiram a caracterizaode um dficit hdrico na maior parte do ano, oque atribui a rea o carter de semi-aridez.

    A rea cortada pelos rios Apodi e do Carmo(intermitentes) no sentido de sul para norte apsdrenarem os terrenos das rochas cristalinas. Seusafluentes desenvolvem uma rede de drenagempouco densa, o que sugere reduzidos escoamen-tos e elevadas taxas de infiltrao, o que nestecaso, no chega a ocorrer devido s elevadasperdas por evapotranspirao.

    Na paisagem regional distinguem-se diferen-tes formas de relevo associadas aos diferentestipos litolgicos e as estruturas geolgicas. Nodomnio das rochas cristalinas, ao sul da rea,predomina um relevo acidentado, composto poralinhamento de serras e morros isolados,desenvolvendo uma rede de drenagem dendrticae bastante densa. Ao norte da rea, tem-se aocorrncia de um relevo tpico de chapada

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar64

    (Chapada do Apodi) formada por calcrios daFormao Jandara, com formas bastante planase suaves variaes de cotas. Na rea de estudo,constituda por arenitos da Formao Au, orelevo predominantemente tabular e suavementeondulado, com a presena de vales associados sdrenagens superficiais. O contato da FormaoAu com os calcrios da Formao Jandaraocorre em grande parte sob a forma de escarpaabrupta.

    3. Estrutura hidrogeolgica

    A caracterizao da estrutura hidrogeolgicado terreno une ferramentas de anlise estrutural,da geofsica e da hidrogeologia. O levantamentogeofsico-estrutural foi desenvolvido numa escalaregional e compreendeu: compilao de mapageolgico em escala 1:200.000 e interpretaode lineamentos, com base em imagem Landsat;

    levantamento de dados estruturais do terreno; anlisede dados gravimtricos e execuo de sondagenseltricas verticais (SEV) e longitudinais (SEL)(Medeiros et al., 2001).

    Denota-se no mapa geolgico a presena dealtos e baixos estruturais. As principais falhas comrejeitos verticais inferidos a partir dos dadosgeofsicos (geo-eltricos e gravimetria) e ou poos,situam-se prximas s estruturas que, emsubsuperfcie, so mapeadas pela PETROBRAScomo limites do graben central. Embora algumasdas anomalias (ou simplesmente altos e baixos)tambm possam ser interpretadas como feiesassociadas a um paleorelevo, a configurao dasisoglicas, o contraste entre as sondagens eltricasadjacentes, e os dados do terreno, favorecem umainterpretao estrutural (falhas) na maioria doscasos (Medeiros et al. 2001) (Fig. 2).

    As Figuras 3 e 4 apresentam isolinhas deespessura da Formao Au e de espessuras

    Fig. 2. Modelos de condicionamento estrutural-hidrogeolgico na borda sudoeste da Bacia Potiguar. Fonte: Medeiroset al. 2001.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    65Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    saturadas do aqfero Au (Fevereiro - 2001),respectivamente, as quais foram obtidas com basenos dados do cadastramento de poos, nos perfisde poos, sondagens eltricas verticais segundoMedeiros et al. (2001) e sondagens eltricaslongitudinais (Santos, 1977). Verifica-se que hum aumento das espessuras do aqfero Au nosentido de sul (embasamento cristalino) para norte(Formao Jandara).

    A espessura da Formao Au varia de menosde 10 m, na faixa sul da rea (prximo ao contatocom o embasamento cristalino), a mais de 90 mna faixa norte (em direo aos calcrios). Naporo centro-norte da rea, desenvolve-semaiores espessuras, podendo atingir 275 m (sulde Felipe Guerra).

    O comportamento geral das espessurassaturadas do aqfero Au similar (Fig. 4),

    Fig. 4. Isolinhas de espessura saturada do Aqfero Au.

    Fig. 3. Isolinhas de espessura da Formao Au.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar66

    variando de menos de 10 m, na faixa sul a mais de70 m na faixa norte. Tal como ocorre com aespessura total da Formao Au, a parte centralda faixa norte que desenvolve maioresespessuras saturadas, superiores a 130 m,podendo chegar a 255 m, ao sul de Felipe Guerracom base nos dados levantados. A espessura satu-rada mdia, no setor norte, da ordem de 150 m.

    Tendo em vista uma melhor visualizao ecaracterizao da estrutura hidrogeolgica doterreno, foram elaboradas sees hidroestratigr-ficas baseadas nos perfis de poos segundo adireo S-N. Em todas as sees denota-se oaumento das espessuras do aqfero Au de sulpara norte, podendo estas variaes estarassociadas a falhamentos verticais escalonados,tal como sugerem os estudos geofsicos.

    4. Fluxo subterrneo e parmetros hidrodin-micos

    De acordo com a configurao dasequipotenciais (Fig. 5), a estrutura geolgica doterreno condiciona linhas de escoamentosubterrneo, em geral orientadas no sentido desul para norte, partindo do contato com as rochascristalinas em direo aos domnios dos calcriosda Formao Jandara. Verificam-se ocasional-

    mente inflexes das linhas de escoamento paranordeste e noroeste em direo aos vales dos riosprincipais que drenam a rea (rios Apodi e doCarmo).

    As guas subterrneas escoam na faixa sulda rea com gradientes hidrulicos relativamenteelevados, superiores a 1,0%, enquanto que nafaixa norte, contgua aos calcrios, os gradientesso mais baixos, da ordem de 0,2%, sugerindomelhores condies hidrogeolgicas neste setor,o que na regio da Plancie do Apodi pode estarassociado tambm a recarga propiciada peloaqfero aluvial em direo ao aqfero Au pordrenana vertical descendente.

    Os parmetros hidrodinmicos do aqferoAu foram avaliados a partir da interpretao dosresultados de 41 testes de bombeamento empoos de produo, cujos ensaios tiveram umadurao de no mximo 24 horas, com observaoda recuperao dos nveis dgua depois deencerrado os bombeamentos. Os locais dosensaios no esto distribudos regularmente, o queseria o desejvel; como tambm reas importantesdo ponto vista hidrogeolgico no foram testadas.Os ensaios permitiram a avaliao da transmissivi-dade e condutividade hidrulica. A porosidadeefetiva no chegou a ser avaliada, j que o nicoteste de bombeamento com dispositivo de poo

    Fig. 5. Potenciometria do aqfero Au.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    67Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    de observao realizado teve curta durao e noficou caracterizado o fenmeno de drenagemretardada na curva de rebaixamento com o tempo.Os testes foram interpretados pela aplicao dosmtodos de Cooper & Jacob para rebaixamentoe Jacob-Theis para os dados de recuperao. Namaioria dos casos, a correo de Jacob paraaqferos livres foi aplicada aos dados de rebaixa-mento. A distribuio espacial da transmissividade apresentada na Figura 06, na qual pode seobservar que a transmissividade cresce no sentidode sul para norte na direo do fluxo subterrneo,atingindo os valores mais elevados prximo aocontato com os calcrios. No setor sul da rea atransmissividade inferior a 10 m2/dia e no setornorte este parmetro atinge valores superiores a170 m2/dia (oeste de Felipe Guerra).

    A condutividade hidrulica tem um compor-tamento similar a transmissividade, ou seja, cresceno sentido de sul para norte. Na faixa meridionalda rea o aqfero Au apresenta valores decondutividade hidrulica inferior a 0,2 m/dia,enquanto que na sua faixa setentrional este par-metro assume valores em mdia de 1,86 m/dia.

    Os valores de transmissividade do setor norteda rea foram obtidos com base em resultadosde testes de bombeamento em poos compenetrao parcial no aqfero Au. Para

    condies de penetrao total, tomando por base aespessura saturada mdia de 150 m (obtida combase em sondagens mecnicas e sondagensgeofsicas) e a condutividade hidrulica mdia de1,86 m/dia, verifica-se que a transmissividade doaqfero Au pode atingir valores da ordem de280 m2/dia, em mdia.

    5. Recarga das guas subterrneas

    A recarga das guas subterrneas pode serdefinida no senso geral como o fluxo dguadescendente que alcana o nvel dgua de umaqfero livre, formando uma reserva de guaadicional para as guas subterrneas. Aquantificao da recarga das guas subterrneas um pr-requisito bsico para um eficientemanejo dos recursos de guas subterrneas, e particularmente vital em regies semi-ridas ondetais recursos so freqentemente a chave dodesenvolvimento econmico. Nestas condies,em regies semi-ridas a necessidade de estima-tiva de uma recarga confivel fundamental(Simmers, 1997). Este parmetro , entretanto,muito difcil de ser avaliado principalmente emregies semi-ridas (Lerner et al., 1990; Simmerset al., 1997; Lerner, 1997; Healy & Cook, 2002;Sanford, 2002; e Vries & Simmers, 2002).

    Fig. 6. Transmissividade do aqfero Au.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar68

    A recarga das guas subterrneas pode ocorrernaturalmente das precipitaes, rios, canais e comoum fenmeno induzido pelo homem atravs deatividades de irrigao e de urbanizao.

    A maioria das tcnicas de avaliao derecarga em meio insaturado fornece estimativaspontuais, enquanto que as tcnicas na zonasaturada comumente integram reas muito maisextensas.

    Ainda, enquanto as abordagens na zonainsaturada fornecem estimativas potenciais darecarga, as abordagens na zona saturadafornecem evidncias da recarga real porque agua alcana o nvel dgua (Scanlon & Cook,2002). Devido s incertezas associadas com astcnicas para a estimativa da recarga, o uso dediferentes mtodos recomendado para que sepossam comparar resultados e se chegar a umnmero mais confivel.

    Na rea de estudo a recarga das guassubterrneas se processa principalmente pelasinfiltraes diretas das guas de precipitaopluviomtrica no terreno. Em menor escala, arecarga pode ocorrer no leito dos rios atravsdas aluvies. O processo de recarga em geral dificultado pelas condies de aridez da rea, quelhe atribui dficit hdrico expressivo; pelocarter areno-argiloso da parte superior da

    Formao Au e pela elevada profundidade do nveldas guas subterrneas na maior parte dos casos(Fig. 7). Sabe-se que em situaes similares delitologia do meio poroso insaturado, quanto maior aprofundidade do nvel fretico maior ser o tempode trnsito das guas de infiltrao s guassubterrneas, o que, por conseguinte, podeinfluenciar na recarga efetiva. A profundidade donvel das guas subterrneas em grande parte darea superior a 30 m, chegando a 110 m no seuextremo Noroeste. Os nveis das guas subter-rneas prximas ao contato com o embasamentocristalino e no domnio das plancies aluviais,entretanto, so inferiores a 10 m.

    No presente trabalho foram aplicadasdiferentes metodologias na avaliao da recargadas guas subterrneas, conforme apresentado aseguir e sintetizado na Tabela 1.

    6. Balano hidroclimatolgico

    O mtodo do balano hidroclimatolgico um procedimento elementar que pode forneceruma primeira indicao potencial sobre omontante da recarga das guas subterrneas. Aequao geral do balano hdrico estabelece que:

    P = E + R + I (1)

    Fig. 7. Profundidade do nvel das guas subterrneas.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    69Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    onde P a precipitao (mm); E a evapotranspi-rao real (mm); R o escoamento superficial(mm) e I a infiltrao (mm).

    O excedente anual de gua no solo de precipi-tao (R + I) pode corresponder lmina dguainfiltrada no terreno (Castany, 1975; e Fetter,1994). O excedente de gua de precipitaoobtida no balano hdrico foi de 47,6 mm, o qualcorresponde recarga das guas subterrneas empotencial na rea de estudo. Neste sentido, consi-derando que a precipitao pluviomtrica mdiana rea de 798 mm, a taxa de infiltrao cor-respondente de 5,96%.

    6.1. Aplicao da Lei de Darcy

    Em aqferos livres, como o caso doaqfero Au, suas potencialidades esto condi-cionadas principalmente as infiltraes diretas dasguas de chuva, cujo volume efetivamenteinfiltrado restitui as reservas de guas subterr-neas que se perdem nos escoamentos naturais eexplotao por poos e, tambm, alimentam ofluxo subterrneo. Por definio, em condiesde equilbrio, sem considerar a explotao porpoos, a infiltrao eficaz equivalente a vazodo fluxo subterrneo natural. A descarga do fluxosubterrneo natural em direo regio doscalcrios, obtida a partir do mapa potenciomtri-co (Fig. 5), foi de 1,688 m3/s, o que equivale a50,64 x 106 m3/ano, que em termos de lminadgua corresponde a 38 mm. A equao utilizadafoi:

    Q = TIL (2)

    onde Q a vazo do fluxo subterrneo (m3/s); T atransmissividade (m2/s); e L a frente de escoa-mento (km).

    Nas avaliaes foi considerado um valor mdiode transmissividade de 3x10-3 m2/s, obtido a partirda condutividade hidrulica mdia de 2,31x10-5 m/s e espessura saturada de 130 m do aqfero Au nafaixa contgua aos calcrios. A vazo do fluxosubterrneo foi avaliada para uma condio no qualo aqfero estava sendo explotado, e assim sendo,o montante correspondente a esta explotao deveser considerado na recarga anual, o que correspondea 8,0 x 106 m3/ano (equivalente a 6,0 mm anuais). Arecarga de gua subterrnea, neste caso, ser osomatrio da vazo de fluxo obtida com ocorrespondente volume anual explotado, ou seja,58,64 x 106 m3/ano ou 44 mm de lmina dguainfiltrada. A taxa de infiltrao, portanto da ordemde 5,7%, tomando por base a precipitao pluviom-trica mdia de 765,10 mm/ano.

    6.2. Flutuao sazonal do nvel dgua

    O mtodo da flutuao do nvel dgua baseado na premissa de que a elevao do nveldgua subterrnea em aqferos livres devido gua de recarga que chega ao aqfero. Arecarga calculada como:

    R = Sy(dh/dt) = Sy(h/t) (3)

    onde Sy a porosidade especfica (adm); h aaltura do nvel dgua (mm), e t o tempo (s).

    O mtodo da flutuao de nvel dgua tem sidousado em vrios estudos (Rasmussen & Andreasen

    onalaBocirdH ycraDedieL

    edonalaBoterolC

    )mm(adartlifniaugedanimL 06,74 00,44 17,83

    )%(oartlifniedaxaT 69,5 07,5 60,5

    01x(odartlifniemuloV 6 m3) 38,26 46,85 80,15

    Tab. 1. Recarga das guas subterrneas.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar70

    1959; Gerhard 1986; Hal & Risser, 1993) e descritaem detalhe por Healy & Cook (2002). Asdificuldades de aplicao do mtodo atribuda emgeral a falta de um conhecimento mais preciso daporosidade efetiva do material aqfero sujeito avariao sazonal, o qual no foi avaliado no presentetrabalho. Quanto a variao do nvel dgua, asobservaes efetuadas no foram suficientes parauma caracterizao adequada de h,impossibilitando, portanto a aplicao do mtododa Flutuao do nvel dgua.

    6.3. Balano de cloreto

    A recarga das guas subterrneas pode seravaliada de forma aproximada pelo mtodo dobalano do on cloreto, o qual pode ser estabele-cido pela equao:

    ICi = PCp, ou seja, I = PCp/Ci (4)

    onde I a lmina de gua infiltrada (mm/ano); Ci a concentrao de cloreto nas guas subter-rneas (mg/L); P a precipitao pluviomtrica(mm/ano); e Cp a concentrao de cloreto nagua de chuva (mg/L).

    Esse mtodo baseia-se no fato de que o oncloreto conservativo e no sofre modificaesdurante a infiltrao. Os resultados do balanodo on cloreto so bons em zonas ridas e zonasarenosas, porm no tanto em zonas midas oucom elevado escoamento superficial (Custdio,1973; e Custdio & Llamas, 1986). A concentra-o de cloreto nas guas subterrneas doaqfero Au, considerada para efeito de clculo,corresponde ao valor representativo da faixanorte da rea onde as guas esto mais diludase menos afetadas por processos de salinizao,cujo teor de cloreto de 50 mg/L; no caso dasguas de chuva, foi tomado o valor mdio de2,53 mg/L. Uma vez que a precipitaopluviomtrica na rea de 765,1 mm/ano,aplicando a equao do balano de cloretoresulta uma lmina dgua infiltrada de 38,71mm, que corresponde a uma taxa de infiltraode 5,6%.

    7. Condies de explotao das guas subter-rneas

    A recarga das guas subterrneas do aqferoAu a ser considerada neste trabalho corresponde mdia obtida pela aplicao da Lei de Darcy epelo Balano de cloreto, ou seja, da ordem de41 mm/ano. Portanto, no foi considerado omtodo do balano hidroclimatolgico o qualfornece apenas uma indicao potencial da recarga.Em regies semi-ridas com precipitaespluviomtricas da ordem de grandeza de 800 mmanuais, as lminas dgua infiltradas atingindo asguas subterrneas em aqferos livres semi-confinados so em geral consideradas superioresa 40 mm (Foster et al., 1994; e Simmers, 1997).Assim sendo, as estimativas feitas no mbito destetrabalho para o aqfero so aceitveis. Em funodesses resultados, admitindo condies deequilbrio, ou seja, sem explotao das guas porpoos, os recursos explotveis poderiam ser, emuma primeira aproximao, teoricamente tomadoscomo equivalentes recarga anual. Isto, entretanto,deve ser tomado com certa reserva, haja vista aocorrncia de guas salinizadas principalmente nosetor sul da rea, o que limita desta feita o uso dasguas subterrneas. Ressalta-se, entretanto que osaspectos relativos qualidade das guas no soconsiderados neste artigo.

    A integrao geral dos resultados dos estudosgeolgicos, geofsicos e hidrogeolgicos leva caracterizao de subreas ou zonas comdiferentes possibilidades quanto aos recursosexplotveis, que em termos potenciais soapresentados a seguir (Fig. 8):

    Zona A: Localiza-se no setor norte da reae corresponde a zona de maior potencialhidrogeolgico. O aqfero Au desenvolve espe-ssura saturada em mdia de 150 m e transmissivi-dade de 280 m2/dia. Os poos neste domnio, comprofundidade em mdia de 160 m, podem produ-zir at 100 m3/h.

    Zona B: contgua a Zona A e de potencialhidrogeolgico mdio. A espessura saturada daordem de 50 m e a transmissividade do aqfero de 100 m2/dia. Os poos, com profundidadesda ordem de 120 m, podem produzir at 50 m3/h.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    71Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    Zona C: Situa-se no setor sul da rea e azona que apresenta potencial hidrogeolgico maisbaixo. O aqfero desenvolve espessura saturadade menos de 10 m at 50 m, e a transmissividade em geral inferior a 10 m2/dia. A produtividadede poos com 70 m de profundidade, de nomximo 10 m3/h.

    Da anlise empreendida e de acordo com aFigura 8, verifica-se que quase 50% da rea deestudo (660 km2) apresenta limitaes quanto ocorrncia e a explotao das guas subterrneaspor problemas lito-estruturais que limitam asespessuras saturadas dos aqferos Au, tal comose verifica no setor sul da rea.

    8. Concluses e recomendaes

    Os aspectos lito-estruturais da Formao Aucondicionam a ocorrncia de um aqfero livresujeito a semi-confinamentos localizados, comdiferentes comportamentos quanto a recarga esuas potencialidades. De conformidade com as

    dimenses, transmissividades e condies de recargado aqfero Au, a maior parte das guasarmazenadas no mesmo esto concentradas nafaixa norte da rea.

    O volume de gua que disponibilizadoatualmente populao da ordem de 10 milhesde m3/ano, o que representa menos de 20% darecarga anual (54 milhes de m3). Nestascondies, fica caracterizada a possibilidade demanuteno das descargas atuais que esto sendocaptadas no aqfero Au e tambm a ampliaoda oferta dgua, que pode chegar a 40 milhesde m3/ano. A preocupao neste caso est associa-da ao manejo do uso dessas guas, o qual requerpoos criteriosamente locados, projetados eexplotados de forma que no haja riscos de superexplotao, salinizao e ou outras formas quepossam afetar os recursos e poos de captao.Neste sentido, so apresentadas a seguirrecomendaes visando melhoria do conheci-mento do aqfero Au e uso racional dos seusrecursos hdricos:

    Fig. 8. Potencialidades hidrogeolgicas do aqfero Au.

  • Revista de Geologia, Vol. 19 (1), 2006

    Melo et al., Recarga do aqfero Au na borda sudoeste da bacia Potiguar

    72

    - Monitoramento dos nveis, das descargasbombeadas e da qualidade das guas o que permi-tir avaliar periodicamente a eficincia das capta-es;

    - Execuo de sondagens de reconhecimentolito-estratigrfico na faixa norte da rea;

    - Execuo de estudos geofsicos de detalheem reas especficas;

    - Elaborao de teste de aqfero de longadurao para avaliao da porosidade efetiva doaqfero Au.

    Os resultados a serem obtidos com essesestudos complementares devero levar a umaavaliao mais precisa das dimenses, parmetroshidrodinmicos e condies de explotao doaqfero Au, bem como a definio de estratgiasde manejo que venham a assegurar o uso susten-tvel do aqfero.

    Referncias Bibliogrficas

    Castany, 1975, Prospeccion y explotacin de las aguassubterrneas. Ediciones Omega, Barcelona.

    Custodio, E., 1973, Estudio de los recursos de aguassubterrneas en la cuenca de la Riera de Carme erea de Capellades: alrededores de Igualada (Barcelo-na). Comisara de Aguas del Pirineo Oriental y ServioGeolgico de Obras Pblicas, Barcelona.

    Custodio, E. & Llamas, M.R., 1976, Hidrologia Subterr-nea. Ediciones Omega, Barcelona, 2ed, Tomo I e II.

    Fetter, C.W., 1994, Applyed Hydrogeology. 3ed. NewJersey: University of Wisconsin-Oshkosh. PrenticeHall, Upper Saddle River, New Jersey 07458.

    Foster, S.S.D., Morris, B.L. & Lawrence, A.R., 1994,Effects of urbanization on groundwater recharge. In:Proc ICE Int Conf on Groundwater problems in UrbanAreas, London, 43-63.

    Gerhart, J.M., 1986, Groundwater recharge and its effecton nitrate concentrations beneath a manures field sitein Pennsylvania. Groundwater, 24: 483-489.

    Hall, D.W. & Risser, D.W., 1993, Effects of agriculturalnutrient management on nitrogen fate and transportin Lancaster country, Pennsylvania. Water Resour Bull

    29: 55-76.Healy, R.W. & Cook, P.G., 2002, Using groundwater levels

    to estimate recharge. Hydrogeol. J. 10: DOI 10.1007/s10040-001-0178-0.

    IPT, 1982, Estudo hidrogeolgico regional do Estado doRio Grande do Norte, IPT/SIC, Relatrio 15.795, SoPaulo, vol. 1.

    Lerner, D.N., 1997, Groundwater recharge. In: SaetherOM, de Caritat P (eds) Geochemical processes, weath-ering and groundwater recharge in catchments. AABalkema, Rotterdam, 109-150.

    Lerner, D.N., Issar, A.S. & Simmers, I, 1990, Groundwaterrecharge. A guide to understanding and estimatingnatural recharge. IAH Int Contrib Hydrogeolog 8,Heinz Heise, Hannover, 345p.

    Manuel Filho, J.M., 1971, Inventrio HidrogeolgicoBsico do Nordeste. Folha 10, Jaguaribe, NE.SUDENE, DD, Recife, Srie Hidrogeologia n 30.

    Medeiros, W.E, Jardim de S, E.F., Medeiros, V.C. &Lucena, L.R.F., 2001, Estrutura geolgica do aqferoAu na borda sul da Bacia Potiguar entre Apodi eUpanema, RN. Convnio CAERN/FUNPEC/UFRN.Relatrio Tcnico.

    Rasmussen, W.C. & Andreasen, G.E., 1959, Hydrologicbudget of the Beaverdam Creek Basin, Maryland. USGeol. Surv. Water Supply Pap. 1472: 106p.

    Rebouas, A.C., 1967, Bacia Potiguar. EstudoHidrogeolgico. In: Bacia Escola de Hidrogeologia,Recife, SUDENE/DD Relatrio Interno, Srie Hidro-geologia n 15.

    Sanford, W., 2002, Recharge and groundwater models:an overview. Hydrogeol. J. 10: DOI 10.1007/s10040-001-0173-5.

    Santos, M.V., 1977, Estudo hidrogeolgico da PlancieAluvial do Apodi, RN. Economicidade de poos paraa irrigao, SUDENE/UFPE, Recife, 185p.

    Scanlon, B.R., Healy, R.W. & Cook, P.G., 2002, Choosingappropriate techniques for quantifying groundwaterrecharge. Hydrogeol. J. 10: DOI 10.1007/s10040-001-0176-2.

    Simmers, I. (ed), 1997, Rechage of phreatic aquifers in(semi)arid areas. IAH Int Contrib Hydrogeolog 19,AA Balkema, Rotterdam, 277p.

    Vries, J.J. & Simmers, I. ,2002, Groundwater recharge:an overview of processes and challenges. Hydrogeol.J. 10: DOI 10.1007/s10040-001-0171-7.