Receitas Salesias MSLIV 2403

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Livro de receitas de um convento portugues

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  • Arquivo Nacional da Torre do Tombo

    Caderno de receitas do

    Convento das Salsias

  • 2

    Ficha Tcnica: Ttulo: Caderno de receitas do convento das Salsias Autor: Isabel Abecasis Colaborao: Joana Braga Id.: Arquivo Nacional da Torre do Tombo Data: 2015.03.10 Formato de Dados: Texto, PDF Estatuto de Utilizao: Acesso pblico

  • 3

    ndice Introduo ................................................................................................................ 9

    Critrios de transcrio ....................................................................................... 10

    Po de l ................................................................................................................ 11

    Receita de broinhas de po de l .................................................................... 11

    Receita de Melindres ........................................................................................ 12

    Receita dos bolos das freiras de Lagos .......................................................... 12

    Receita de cavacas tenras ............................................................................... 13

    Receita de fartinhos .......................................................................................... 14

    Receita de fartes de especia ............................................................................ 14

    Bolos recheados de ovos-moles e de fio de rsula ...................................... 15

    Bolos de fio queimados de rsula .................................................................. 16

    Papos de anjo de rsula .................................................................................. 16

    Bolos de ovos, recheados de ovos-moles de rsula ..................................... 17

    Tigelinhas de ovos-moles de rsula ............................................................... 17

    Ovos reais de rsula ......................................................................................... 17

    Broinhas de ovos-moles e castanhas .............................................................. 18

    Bolos de ovos ....................................................................................................... 18

    Esponjas de ovos das freiras de Lagos .......................................................... 19

    Receita de bolos fofos ........................................................................................ 19

    Receita de casquinha ........................................................................................ 20

    Receita para se fazer tabefe ........................................................................... 21

    Receita do amendoim ....................................................................................... 22

    Receita de Alperchada ..................................................................................... 22

    Toucinho do cu ................................................................................................. 23

    Broas de milho .................................................................................................... 23

    Receita da Olha a Luz ...................................................................................... 24

    Receita de marmelada vermelha grossa ..................................................... 25

    Receita da marmelada visguenta vermelha .............................................. 25

    Receita da geleia de marmelo ........................................................................ 26

    Receita de compota de massas ....................................................................... 26

  • 4

    Receita de alperchada ................................................................................... 26

    Receita de quartos de marmelos .................................................................... 27

    Receita de tmaras de ovos de Santa Clara ............................................... 27

    Receita dos bolos de trs dias de Santa Clara ............................................. 27

    Receita dos bocados de perada ....................................................................... 28

    Receita de pessegada ........................................................................................ 29

    Receita dos melindres de Manuel Pereira .................................................. 29

    Receita de ovos-moles brancos ........................................................................ 29

    Receita dos biscoitos de La Reina .................................................................. 30

    Receita de bolos que no levam amndoa ................................................... 30

    Receita de bocados de alperchada ................................................................. 31

    Receita de suspiros ............................................................................................ 31

    Receita de melindres ......................................................................................... 32

    Receita de bolos .................................................................................................. 32

    Receita dos bolos de raiva do Mosteiro do Sacramento ........................... 33

    Receita de broinhas ........................................................................................... 33

    Receita de bolos .................................................................................................. 34

    Receita para as azeitonas esmagadas .......................................................... 34

    Receita para queijadas .................................................................................... 35

    Outra receita para queijadas ......................................................................... 35

    Receita para chourios..................................................................................... 36

    Modo de se curar meadas ................................................................................ 37

    Receita de termentina para se fazerem as folhas das rosas ................... 37

    Receita para se pratear o cobre ..................................................................... 38

    Receita para se fazer pomada de laranja ................................................... 39

    Receita de abbora com agrao e, por outro modo, chamada de fricass ................................................................................................................. 40

    Receita para entrita ......................................................................................... 41

    Receita de bolinhos ............................................................................................ 41

    Receita de Nodego ............................................................................................. 42

    Receita de bolos .................................................................................................. 42

    Receita de cocada com ovos ............................................................................ 43

    Receita para sopa de leite ............................................................................... 43

  • 5

    Receita para carro de lagosta ....................................................................... 44

    Receita para abbora de agrao ou limo ................................................. 44

    Receita de Manjar Real ................................................................................... 45

    Receita de perada vermelha ........................................................................... 45

    Receita de bacalhau albardado .................................................................... 46

    Receita para beringelas .................................................................................. 46

    Receita de sopas de tutano ............................................................................. 46

    Receita de cocada .............................................................................................. 47

    Receita de geleia ................................................................................................ 47

    Receita de broas de milho ................................................................................ 47

    Receita para azedas ........................................................................................ 48

    Receita dos bolos de bispo ............................................................................... 49

    Receita de castanhas ....................................................................................... 49

    Receita para sopas de tutanos ...................................................................... 49

    Receita das tigelinhas de lngua .................................................................... 50

    Receita de fartes de ovos ................................................................................. 50

    Receita de frigideira de gro .......................................................................... 51

    Receita de chourios doces .............................................................................. 51

    Receita de bolos de amor ................................................................................. 52

    Receita de broas de amndoas ....................................................................... 52

    Receita de fartes ................................................................................................ 53

    Receita de chourios mouros .......................................................................... 54

    Receita das farinhas ......................................................................................... 54

    Receita de cocada de tigelinha ....................................................................... 55

    Receita de cocada de bocados ......................................................................... 55

    Receita de cidrada ............................................................................................ 55

    Receita de flor de laranja ................................................................................ 56

    Receita de flor de laranja ................................................................................ 56

    Receita de feijoada ............................................................................................ 57

    Receita para bolos de leite ............................................................................... 57

    Receita do gerzelim ........................................................................................... 58

    Receita de marmelada crua ........................................................................... 59

    Receita de laranjas cobertas ........................................................................... 59

  • 6

    Receita de Moganga ........................................................................................ 60

    Receita de geleia branca ................................................................................. 60

    Receita de morcelas .......................................................................................... 61

    Receita dos alperches de Santa Clara ........................................................... 61

    Receita de alperches ......................................................................................... 62

    Receita de tigelinhas de lngua de Joana .................................................... 63

    Receita para empadinhas de marisco ......................................................... 64

    Receita de codornada ...................................................................................... 64

    Receita da batatada de Manuel Nunes ....................................................... 65

    Receita para se fazer arroz de queijo .......................................................... 65

    Receita de marmelada, a melhor e mais fina de Santa Clara................66

    Receita de bolos podres ....................................................................................66

    Receita para se fazer espcie de gro .......................................................... 67

    Receita de escarpeadas de ovos...................................................................... 67

    Receita de Mogangada, a melhor .................................................................. 68

    Receita de cavacas ............................................................................................ 68

    Receita de cavacas melhores ..........................................................................69

    Receita dos morgados bolos ..........................................................................69

    Receita das queijadinhas ................................................................................. 71

    Receita de manjar branco de pescada ......................................................... 71

    Receita de empadinhas de passarinhos ........................................................ 71

    Receita de boroas das freiras de Marvila ................................................... 72

    Receita de um colli para toda a casta de carne de pele e tambm para sopas ...................................................................................................................... 72

    Receita do carril ................................................................................................ 73

    Receita de cidrada da esperana .................................................................. 74

    Receita de feijes rajados ................................................................................. 75

    Empadinhas de passarinhos de Sesimbra .................................................... 76

    Receita de manjar branco ............................................................................... 76

    Broinhas de batatada ....................................................................................... 77

    Receita do diacidro de Joana, da rainha santa....................................... 77

    Receita de arroz de leite .................................................................................. 79

  • 7

    Receita particular para arroz de leite, o qual se faz s em aquela parte e se me deu com grande segredo ......................................................... 79

    Receita de acar rosado ............................................................................... 80

    Receita de caldo bom para a tosse ............................................................... 80

    Receita para conservar peixe fresco muitos dias ...................................... 81

    Receita dos bolos chamados do Nicol............................................................ 81

    Receita de umas talhadinhas admirveis para toda a casta de tosse, como a experincia tem mostrado ................................................................ 82

    Receita de uma massa para tirar sezes ..................................................... 83

    Receita para sezes ........................................................................................... 83

    Remdio para as pleurites do padre Vasco de Mendona ..................... 84

    Remdio aprovado para a gota .................................................................... 84

    Outro remdio para a gota ............................................................................. 85

    Receita para almorreimas que se sangram para dessec-las e para as que saem fora...................................................................................................... 85

    Para as almorreimas que se sangram demasiadamente ......................... 85

    Emplastros que se aplicam nas febres .......................................................... 86

    Receita de alfazema curtida .......................................................................... 86

    Pomada chamada Imperial para tirar os sinais das bexigas s pessoas que ainda crescem e para adoar a pele ..................................................... 86

    Receita para o cabelo no perder a cor e se fortificar ............................. 87

    Outro remdio para o mesmo efeito [Receita para o cabelo no perder a cor e se fortificar] ........................................................................................... 88

    Outro remdio para o mesmo efeito [Receita para o cabelo no perder a cor e se fortificar] ........................................................................................... 88

    Receita para se fazer pomada de legao ................................................... 88

    Receita para um verniz mui claro e alvo ................................................... 89

    Receita do pao para verniz branco e fino ................................................ 90

    Outra receita de verniz .................................................................................. 90

    Receita do blsamo vital ................................................................................. 91

    Receita para estancar o sangue ..................................................................... 92

    Receita de caldos excelentes para o peito.................................................... 92

    Receita para sezes ........................................................................................... 93

    Receita para os cursos ..................................................................................... 94

  • 8

    Receita para lombrigas ................................................................................... 94

    Receita para os que perderam o juzo, como no seja o do nascimento ............................................................................................................................... 94

    Unguento branco rgio de Clemente Belo.................................................... 95

    Receita de uns caldos, experimentados em febres e queixa de peito e magreza ...............................................................................................................96

    Como se usa o leo de abbora ........................................................................96

    Receita para quebraduras e roturas ............................................................ 97

    Receita para lombrigas .................................................................................... 97

    Receita de um xarope que, tomado pela manh, tempera muito acrimonia das urinas ....................................................................................... 98

    Receita das amendoadas ................................................................................. 98

    Receita de um lavatrio eficaz para a queixa das almorreimas ..........99

    Receita para estupores .....................................................................................99

    Receita para febre lenta ................................................................................ 100

    Receita para tirar as covas das bexigas .................................................... 100

    Receita de um caldo bom para a tosse ........................................................101

    Virtudes do blsamo catlico .........................................................................101

    Remdio: blsamo catlico chamado do papa Inocncio XI, emendada a receita e acrescentada pelo ilustrssimo senhor Joo de Mendona, bispo que foi da Guarda. ................................................................................ 104

    R.e [?] [Blsamo do Peru?] ............................................................................. 104

    Receita para vedar os frouxos de sangue do nariz ................................ 105

    Receita para no repetiram as sezes ........................................................ 105

    Receita para se iluminar em vidro ............................................................. 106

    Receita de gua para os olhos em qualquer defluxo............................... 106

    Receita para fazer salsichas ......................................................................... 106

    Alcachofras ....................................................................................................... 107

    Novena de So Joo Evangelista, comea quinta-feira ......................... 108

    Novena do Arcanjo So Rafael, que alcana muito de Deus e se faz em trinta e seis dias. .............................................................................................. 109

    Glossrio .................................................................................................................110

  • 9

    Introduo

    Este caderno de receitas, Manuscrito da Livraria n. 2403,

    proveniente do Convento de Nossa Senhora da Visitao de Santa

    Maria, da Ordem de So Francisco de Sales, tambm conhecido por

    Convento das Salsias, localizado na Junqueira, em Lisboa.

    Recebeu as suas cinco primeiras religiosas, vindas de Frana, no ano de

    1784.

    Tudo parece indicar que este caderno de receitas, culinrias e outras de

    diferente teor, entre elas as de remdios caseiros, se destinava

    exclusivamente prtica culinria das religiosas, certamente um

    importante elemento de sobrevivncia econmica, como era muitas

    vezes habitual nos conventos. Particularmente depois de 1834, ano em

    que foram extintas as ordens religiosas e as freiras se depararam com a

    necessidade de arranjar dinheiro para o seu sustento.

    Inclui as mais variadas receitas, algumas tipicamente portuguesas, caso

    do bacalhau albardado, outras com influncias alheias, como a de arroz

    de leite, provavelmente de influncia moura. Receitas que deviam ser

    bem guardadas como refere a religiosa que transcreve a receita do

    arroz de leite, dizendo que lhe foi dada com grande segredo.

    Na confeo de bolos e doces ressaltam de imediato os ingredientes de

    eleio aqui presentes: os ovos, o acar e a amndoa.

    Portugal dos pases em que a doaria conventual tem maior

    importncia e mais enriqueceu a gastronomia portuguesa, sendo a base

    de muitas receitas de doces regionais.

    A cozinha conventual deu, sem dvida, um contributo de peso para o

    prestgio internacional que a culinria portuguesa atualmente desfruta.

  • 10

    Critrios de transcrio

    Foi, tanto quanto possvel, feita a reproduo fiel e integral do texto.

    Foi respeitada a redao e a ordem natural das palavras do texto, mas

    no a pontuao, as maisculas ou a ortografia. A pontuao foi

    atualizada tendo em vista uma melhor compreenso do texto. Foi

    regularizado o emprego das maisculas segundo a norma atual. A

    atualizao da grafia, para alm de clarificar a leitura, ir permitir a

    recuperao da informao em texto livre, em suporte informtico.

    Foram usados colchetes [ ] para assinalar palavras ou parte de

    palavras cuja leitura foi inferida.

    Foi utilizado o ponto de interrogao [?] depois de palavras de leitura e

    transcrio problemtica (suscetvel de falha de transcrio).

    Foram corrigidos erros evidentes, caso das letras trocadas ou palavras

    repetidas.

  • 11

    Po de l

    Para se fazer um po de l perfeito necessrio um arrtel de acar,

    vinte ovos, um punhado de farinha.

    Tomaro o arrtel de acar muito bem escolhido, deit-lo-o em uma

    panela vidrada e nove ovos com as claras; e dos outros nove, as gemas e

    um parzinho de pedras de sal muito limpas e, estando tudo dentro na

    panela, o batero com uma colher at ficar bem grosso; e quando o

    levarem para o forno lhe deitaro o punhado de farinha e o batero

    mais um pouco de tempo e untaro um tacho com manteiga e deitaro,

    dentro nele, este polme que est na dita panela e logo, sem dilao, o

    metero no forno, coberto com uma folha de papel; e o forno h-de estar

    em bom tempero, nem muito forte, nem muito brando. E para ver se

    est cozido, lhe metero um pauzinho; se sair seco, est cozido e ainda

    quente se tirar do tacho. (P. 1)

    Receita de broinhas de po de l

    Para se fazerem broinhas de po de l necessrio um arrtel de

    acar, uma dzia de ovos, umas pedras de sal, um vintm de canela e

    farinha, at ficar o polme, de tudo isto, bem grosso: deitaro o arrtel de

  • 12

    acar bem escolhido em um tacho e meia dzia de ovos com clara e

    meia sem ela e as pedras de sal e a canela muito pesada e passada pela

    peneira fina. Batero tudo no dito tacho com uma colher at se

    desfazerem os ovos e o acar e, depois de desfeito, lhe deitaro a

    farinha e, em estando bem grosso, untaro as bacias necessrias com

    manteiga e iro deitando nelas o que ocupe uma colher pequena do dito

    polme e, fazendo feio de broinhas, mandaro as bacias ao forno. (P. 2)

    Receita de Melindres

    Tomaro duas dzias e dez gemas de ovos, deit-las-o em um tacho e

    nele tero deitado dois com clara muito bem batidas e, quando

    estiverem bem brancos e bem grossos os ditos dois ovos, deitaro os

    acima ditos e um arrtel de acar, de lasca, bem pisado e tudo batero

    com toda a fora, com uma colher e, em estando muito brancos e grossos,

    lhe deitaro a farinha que parecer necessria e o levaro logo para o

    forno, no mesmo tacho e ir a pessoa que os faz, deitar ao p do forno,

    em umas folhas de papel com uma colher pequena, uns bolinhos muito

    pequeninos e afastados uns dos outros. O forno estar bem temperado; e

    se por uma vez se no cozer tudo, iro batendo o que restar no tacho at

    se deitar; e se parecer delgado, deite-se-lhe mais uns ps de farinha e, em

    estando bem secos, os tiraro do forno e do papel antes que esfriem. (P. 2,

    3)

    Receita dos bolos das freiras de Lagos

    Limparo um arrtel de acar e o poro em ponto de espadana e, neste

    ponto, o tiraro do lume e, enquanto se esfria, batero em uma tijela

  • 13

    vinte gemas de ovos puras, e, estando o acar frio, as deitaro dentro;

    e, fora do lume, as mexero muito bem e, estando bem misturadas com o

    acar, o poro ao lume que h-de estar muito brando e iro sempre

    mexendo-os para que se no peguem e em mostrando bem o fundo do

    tacho est feito o recheio e o deitaro em uma tijela e aguardaro at o

    outro dia, que tomaro um arrtel de farinha, bem peneirada e meio

    arrtel de acar, bem escolhido e uma colher de manteiga, bem lavada

    e oito gemas de ovos e um bocadinho de fermento e umas pedras de sal e,

    com gua quente, a que for necessria, desfar tudo isto e amassaro

    tudo, at que fique massa de estender e a poro a levedar e, sendo

    lev[ed]ada, a sevaro muito bem e lhe iro quebrando algumas cdeas

    que tiver, com manteiga, untando s as mos com ela e a faro em

    empelos pequenos e cada um se ir estendendo em uma tbua com um

    canudo de pau, que untaro com manteiga e a dita tbua e ser

    estendido de sorte que fique como uma folha de papel; e, ficando nesta

    forma, iro untando o comprimento da folha que fizer com o recheio

    acima dito e polvorizado com alguma canela e, estando bem coberta dos

    ovos, untaro outra vez o canudo com que estendero e nele iro

    embrulhando esta folha e tiraro do canudo o embrulho e com as mos

    faro a feio de bolo, fazendo-o muito chato e o cobriro do dito recheio

    e o deitaro em uma bacia, polvorizada de farinha e, com os mais que

    fizerem, os mandaro ao forno, que estar em bom tempero. Da mesma

    massa das folhas destes bolos se fazem biscoitos que sabem muito bem.

    (P. 3, 4, 5)

    Receita de cavacas tenras

    Em uma quarta de p de farinha deitaro 6 dzias de gemas de ovos e

    trs claras, uma quarta de manteiga, meio arrtel de acar escolhido,

  • 14

    um pequeno de fermento, umas pedras de sal: o fermento e sal se

    desfaro em gua de flor, ou do pote, e, sendo bem desfeito, se misturar

    com o mais e se amassar tudo at ficar a massa capaz de estender e se

    por a levedar em empelos de sorte que no fique muito levedada e se

    iro lavrando em cavacas do tamanho que quiserem e as mandaro

    bem picadas, em bacias polvorizadas de farinha, ao forno e, estando

    cozidas, as tiraro e se passaro por acar em ponto de cobrir e, em

    estando cobertas, as poro a enxugar em um tabuleiro. (P. 5)

    Receita de fartinhos

    Tomaro um salame de farinha coada deitar-lhe-o quarta e meia de

    manteiga derretida a trs quartos de acar escolhido, faro uma presa

    na farinha donde deitaro uma pedrinha de sal, se a manteiga a no

    tiver e deitaro tudo e juntado muito bem, ou unido, faro um bolo

    redondo e atiraro com ele ao fundo do alguidar, muitas vezes, at

    fazer bom caro e, parecendo capaz de obrar, iro tirando dele e

    fazendo como biscoitos e, com uma faca, iro cortando talhadinhas

    como fartes e, em bacias pulverizadas de farinha, os mandaro ao

    forno. (P. 6)

    Receita de fartes de especia

    Far-se- para a especia um bolo com pouca manteiga, sem fermento,

    muito sovado e picado e redondo se mandar ao forno e, sendo muito

    bem cozido, o deixaro esfriar e o ralaro em um ralo e passaro o

    ralado por uma peneira, porque no v cdea do bolo. Tero dois

  • 15

    arrteis de amndoa pelada e muito bem pisada e dois arrteis de

    acar limpo. Deitaro em um tacho este acar e, em fervendo, lhe

    deitaro amndoa e o bolo ralado e um tosto de canela bem pisada, um

    vintm de cravo-da-ndia; e tudo mexero com o dito acar ao lume e,

    em descobrindo bem o fundo do tacho, est feita a especia. Tiraro do

    lume o tacho e vazaro a especia em uma vasilha vidrada; e, estando

    bem fria, tomaro uma pequena de farinha conforme a especia faro

    um empelo de massa com manteiga, acar e ovos muito bem amassada,

    de sorte que se possa estender muito fina, cortando com uma carretilha,

    sendo bem estendida, tirinhas muito estreitas, iro recheando da especia

    e fazendo fartinhos muito pequeninos e mandando-os ao forno em bacias

    polvorizadas de farinha. (P. 6, 7)

    Bolos recheados de ovos-moles e de fio de rsula

    Limpar-se- um arrtel de acar e pr-se- em ponto de fio, deitar-lhe-

    o 18 gemas de ovos, quatro das ditas em ovos de fio que se faro

    primeiro que deite os outros ovos e, estando feitos estes, se faro os

    outros em recheio de ovos-moles e, esfriando-se, podem tomar um arrtel

    de manteiga, duas colheres de manteiga e quatro gemas de ovos e se

    amassar sovado muito bem, at ficar capaz de se estender e, em uma

    tbua, se estendero os bolos e se rechearo dos ovos de aletria e moles e,

    fazendo-se do tamanho que quiserem, se mandaro em bacias ao forno,

    pulverizadas de farinha e, depois de cozidos, se os quiserem cobertos de

    acar, se por ao lume o acar que parecer necessrio e, estando este

    de ponto de espelho, se passaro por ele os bolos. (P. 7, 8)

  • 16

    Bolos de fio queimados de rsula

    Limpar-se- um arrtel de acar e se por em ponto de espelho baixo,

    em um tacho pequenino deitaro aquele que for necessrio para fazer

    trs gemas, ou quatro de fio e, depois de feitos os ovos, escorrero o

    acar, ficando-lhe s aquele que possa corar os ovos, que se iro

    juntando em forma de bolo e, depois de corado por baixo, lhe daro

    volta com a colher para que de todas as partes core igualmente e lhe

    deitaro em cada um dos bolos no tacho, para despegar melhor e ficar

    mais tenro, um bocadinho de manteiga do tamanho de um gro de

    milho, bem lavada e uma polegada de canela em p e, depois de corado,

    o deitaro em uma tbua mal molhada e o iro juntando com uma

    caninha e, sendo seco, o voltaro para que de ambas as partes o fique.

    (P. 8, 9)

    Papos de anjo de rsula

    Limpar-se- um arrtel de acar, pr-se- em ponto de espelho alto,

    deitar-lhe-o trs gemas em fio, estando todas feitas no tacho se juntam

    com uma cana e com ela se tiraro, pegando pelo meio da meada e se

    poro a escorrer sobre uma joeira e, sendo feitos os que quiserem, que

    todos levaro este feitio e quantidade, poro o acar que ficar, ou mais,

    em ponto de espelho alto e fora do lume o batero com uma colher e,

    pegando nas meadas com a dita caninha, lhe botaro deste acar por

    cima; estando quebrado da quentura, em caninhas, se poro a enxugar.

    (P. 9, 10)

  • 17

    Bolos de ovos, recheados de ovos-moles de rsula

    Limpar-se- um arrtel de acar, pr-se- em ponto de espelho alto e

    lhe deitaro quinze gemas, muito bem batidas e estando o acar frio e

    fora do lume o tacho, o tornaro ao lume e se mexero at que mostre

    limpo o fundo do tacho e se tiraro, pondo-se em parte que esfrie. Poro

    ao lume, limpo, outro arrtel de acar e, pondo-o em ponto de espelho

    alto, faro nele dez gemas de ovos de fio e, quando tirarem a meada, se

    lhe deitar uma pouca de gua fria e, tiradas todas as meadas no

    acar que ficar, se lanaro duas gemas batidas e, estando feita uma

    folha que daro jeito com a colher, se tirar fora e se iro fazendo as

    mais que forem necessrias e nelas se deitaro dos ovos-moles e de fio e

    se concertaro um bolo que com os demais se mandar ao forno, em

    bacias. (P. 10, 11)

    Tigelinhas de ovos-moles de rsula

    Limpo um arrtel de acar, se por em ponto de fio e se batero

    catorze gemas de ovos e se lhe deitaro fora do lume e, sem que mostre o

    fundo do tacho, os tiraro e se deitaro em tigelinhas, ou covilhetes bem

    cobertos de canela. Se mandaro ao forno e destes mesmos ovos se fazem

    pratos. Advirtam que vo frios ao forno. (P. 11)

    Ovos reais de rsula

  • 18

    Limpo um arrtel de acar, se por em ponto de espelho e lhe botaro

    dezoito gemas de ovos por um funil finssimo e uma clara e, sendo feitas

    as meadinhas, as tiraro, deitando-lhe alguma gua fria e se poro em

    uma joeira a escorrer, antes de frios se abriro e se concertaro em um

    prato e os cobriro de acar, em ponto de espelho alto. (P. 11, 12)

    Broinhas de ovos-moles e castanhas

    Limpo um arrtel de acar, se por em ponto de espelho e se batero

    dois ovos com clara, nestes deitaro dezasseis gemas e as batero muito

    bem e fora do lume. Sendo frio o acar as botaro dentro e poro o

    tacho em lume muito brando, e as iro mexendo muito bem at que

    mostre limpo o fundo do tacho e logo se tiraro e se deitaro em coisa

    que esfrie depressa e, estando frio este recheio, se lavraro broinhas, ou

    castanhas tendidas com farinha nas mos, as castanhas com uma

    caninha se lhe faz a feio e, em bacias, as mandaro ao forno e, sem

    que faa cdea, as tiraro. (P. 12, 13)

    Bolos de ovos

    Limpar-se- um arrtel de acar e se por em ponto de espelho e se lhe

    lanar dentro cinquenta gemas de ovos bem batidas, fora do lume e a

    ele se tornar, sendo muito brando e se ir mexendo at que mostre o

    fundo do tacho e logo se tirar e deitar em coisa que esfrie depressa e,

    estando frio, em uma tbua de tender se deitaro ps de acar de lasca

    e ps de sndalos e se iro lavrando bolas e frutas novas, perinhas com

    um cravo-da-ndia na cabea e se poro em um prato concertado com

    todas as galantarias que quiserem fazer do dito recheio. (P. 13)

  • 19

    Esponjas de ovos das freiras de Lagos

    Pisaro dezoito miolos de amndoa pelada, de sorte que fique em massa,

    deit-los-o em uma tijela com dezoito gemas e se bater tudo at ficar

    muito grosso e branco.

    Tero gua fervendo em um tacho e em uma tijela da ndia, muito fina,

    deitaro este misto e, coberta com um prato e um peso em cima, a

    metero em a dita gua fervendo e nela estar, tendo cuidado no entre

    dentro na tijela gua alguma. Para se ver se est coalhado se lhe meter

    um pauzinho at ao fundo e, saindo limpo, se tirar do tacho a

    porcelana e com uma faca se despegar da porcelana o pozinho que

    estar feito e se deitar em uma tbua e, com uma faca, se ir cortando

    em talhadinhas; e, neste tempo, se por ao lume um arrtel de acar e

    sem ponto, se lhe lanaro estas fatias e se iro virando para que se no

    queimem e, em estando o acar em ponto de espelho, se tirar do lume

    e se iro deitando as talhadas em uma tijela e cobrindo-as de canela e,

    no sendo bastante o acar para ficarem cobertas, se far mais no dito

    ponto e se lanar na dita tijela. (P. 13, 14)

    Receita de bolos fofos

    Uma dzia de claras de ovos frescos, muito batidas com um molho de

    caninhas, at ficarem muito grossas e h-de estar meio arrtel de

  • 20

    acar, refinado, muito pisado e peneirado pela peneira fina e, depois,

    se ir botando umas claras, muito devagar e mexendo-se com uma

    colher de prata e, para se cozerem, h-de estar o forno to brando que se

    h-de aturar a mo dentro dele e, depois, se deitaro nos papis com a

    colher, do tamanho que os quiserem e os metero no forno e, para se ver

    se esto cozidos depois de frios, os despegaro com uma faca dos papis.

    (P. 14, 15)

    Receita de casquinha

    Tomaro as cidras verdes, que no tenham nada amarelo, as grandes

    em quatro quartos e as pequenas em dois, se lhe tirar o gomo de dentro,

    de sorte que no toque na massa da cidra e a deitaro em um alguidar

    grande vidrado, novo, que no tenha servido de outra coisa e a botaro

    em gua e sal, que fique bem salgada e andar em esta salmoura nove

    dias, mexida pela manh e noite, muito bem mexida, e aos dez dias a

    lavaro em cinco ou seis guas e estar um quarto de hora de molho; e

    depois a poro em um tacho muito bem arrumada, com a casca para

    baixo e poro no lume, coberta de gua. H-de se cozer em trs guas, a

    ltima se tirar do lume e se lavar com guas frias, at ficar boa e a

    deitaro em outro alguidar, novo, que no tenha servido de nada. Neste

    andar nove dias, mudando-se-lhe as guas pela manh e tarde; e, no

    cabo dos nove dias, se cozer em um tacho toda s camadas com o

    branco para baixo e o verde para cima. Aqui no tm as guas conta,

    porque no aparar com a faca se v o cozido, que no h-de ficar nem

    muito cozida, nem muito crua, se no em conta e, depois, se lavar em

    tantas guas at que a cidra fique fria e se arar de uma ilharga e da

    outra e nos meios e, depois disto, se arrumar em outro alguidar

    vidrado e toda se arrumar de ilharga e se far neste alguidar um

    buraco, ao p do fundo e se lhe far um torno, com que se tapar e

  • 21

    destapar; e, depois de estar arrumada, se aquentar um tacho de gua

    fervendo, se lhe botar por cima, de sorte que fique toda coberta e,

    depois de esta gua estar morna, se escorrer pelo dito torno, de sorte

    que lhe no fique nada dentro, e, pela quantidade de gua com que

    estava coberta, se h-de julgar a calda e, escorrida esta gua, se

    desmanchar o acar, que h-de ficar a calda em gua mel e, depois de

    muito bem limpa, se deitar na mesma vasilha de onde se escorreu a

    gua. Andar nove dias no doce, aquentando-o de manh e de tarde,

    alimpando-o sempre com gua de ovos at os cinco dias. Ho-de ser estas

    caldas coadas, porque da em diante entra j em meia espadana, at

    chegar aos nove dias, que espadana inteira, de sorte que h-de custar a

    soltar da escumadeira. No se pe em conta o acar, porque a calda

    conforme a quantidade da cidra; e leva o acar estas quenturas de

    cada vez que vai ao lume, pela manh e tarde e, acabando os nove

    dias, descansar um dia na calda, que fez os dez e, nos onze pela manh,

    logo se por em alguidares que no tenham servido, se no s de doce

    com gua do chafariz como as mais, de sorte que fique muito bem

    lavada e passada pela outra gua; e tudo muito pouco a pouco, de sorte

    que se no detenha na gua, no mais que enquanto se lava. Pr-se- em

    uma vasilha limpa, em que escorra toda a gua e depois a ponham em

    cestos limpos, ou joeiras e, depois de bem escorrido, se por ao sol em

    tabuleiros limpos, com o verde para baixo e andar trs ou quatro dias

    desta sorte e outros tantos dias se virar, com o verde para cima e,

    sempre ao sol e se recolher em a vasilha que quiserem, que no leva

    outra casta de cobertura, que com este se guarda. (P. 15, 16 , 17, 18)

    Receita para se fazer tabefe

  • 22

    O tabefe, para ser bom, h-de ser s de leite de ovelhas: pe-se no lume

    uma canada por que se faz muito junto; deitar-se-lhe- umas pedras de

    sal, que seja pouco para ter gosto, deita-se-lhe farinha para engrossar,

    mas tambm pouca, quanta caiba em a casca de um ovo, ento vai-se

    metendo, sempre para uma banda de sorte que no chegue a ferver: h-

    de ser o lume brando, vai ento engrossando at fazer uma teiazinha:

    logo na colher se v quando est grosso e no tem mais circunstncia:

    todo o ponto est em o no deixarem ferver. (P. 18, 19)

    Receita do amendoim

    Tira-se ao amendoim a capa de fora e amndoa que tem dentro, se lana

    em uma bacia de forno, ou tacho e se pe em fogo lento, no qual estaro

    mexendo at que se torre em termos que se no queime e fique sem

    sumo, porque este amaruja e preciso que o fogo lho tire.

    Torradas que sejam, se limpam e se pem em prato para a mesa, e

    conhece-se o estarem torradas quando perdem no fogo a segunda capa e

    ficam tostadinhas por dentro. (P. 19, 20)

    Receita de Alperchada

    Aparam-se os damascos e se lhe tiram os caroos e, a seis arrteis de

    damascos, se lhe deitam seis de acar e, depois de pesado se coze e,

    depois de cozido, se vai tirando com uma escumadeira e passando-se por

    uma peneira, como se passa a marmelada. O acar clarifica-se e depois

    se pe em ponto de espelho alto e, depois de estar em o dito ponto, se

    reparte em duas partes, sendo uma de mais quantidade e nesta se lana

  • 23

    o damasco e se vai cozendo, at mostrar o fundo do tacho. Depois se tira

    fora do lume e se pe o outro acar no lume, at se pr em ponto de

    cabelo e, depois de estar em o dito ponto, se lana no damasco que est

    cozido com o outro acar e se pe outra vez no lume e se tornar a

    cozer, o tempo de um quarto de hora e sempre se vai mexendo com a

    colher e, depois de cozido o quarto de hora, se tira fora do lume e se

    deita nos covilhetes, esta ltima vez que se coze, h-de ser em lume

    brando. (P. 20, 21)

    Toucinho do cu

    Em um arrtel de acar, um de farinha, meia dzia de ovos, se forem

    pequenos costuma levar mais um, um vintm de cravo-da-ndia, outro

    de canela, se houver um bocadinho de cachund para mais graa, no

    porque necessite dele, muito bem picado isto tudo. Tomar-se- um

    alguidar vidrado, que no seja muito pequeno, deitar-se- tudo junto

    nele, tirando os ovos que se deitam pouco a pouco e, com uma colher

    grande, se bater muito, quanto mais melhor. Far-se-o umas formas de

    papel, de um quarto cada uma e pr-se-o em bacias que fiquem muito

    direitas e ali se ir deitando, de sorte que no fiquem muito cheias; iro

    ao forno estando brando, s a corar, que fique capaz de se tirarem do

    papel: cortar-se-o em talhadinhas com uma faca e pr-se-o em bacias

    muito unidas umas com outras e tornaro ao forno a cozer, advertindo

    que quanto mais se baterem, melhor ficaro. (P. 21, 22)

    Broas de milho

  • 24

    Meio alqueire de farinha de milho, peneirada pela peneira alva rala,

    meio alqueire de farinha de trigo, j peneirada. Pe-se a cozer uma

    abbora-menina, nem grande nem pequena, com gua que a cubra e se

    veja. Tero em um alguidar s a farinha de milho e lhe deitaro menos

    de meio arrtel de erva-doce peneirada, meio tosto de cravo-da-ndia,

    um tosto de canela, tudo peneirado, tudo se deita por cima da farinha

    e se lhe deita por cima abbora que lhe parecer basta para escaldar a

    farinha e se mexe muito bem com uma colher e se lhe deitaro duas

    canadas de azeite fervendo e, tudo junto, iro mexendo com uma colher:

    tero a derreter uma canada de mel e quatro arrteis de acar que,

    esteja fervendo, se lhe deitar por cima e se ir mexendo o mel e o

    acar se lhe h-de deitar por cima de uma peneira. Depois de tudo bem

    mexido afastaro para uma parte do alguidar e deitaro a farinha de

    trigo, em que se h-de fazer a preza, que seja bem pequena, em que se

    h-de desfazer o fermento, que h-de ser da mesma farinha de trigo.

    Deitaro o sal na gua da abbora, advertindo que a gua em que se

    desfizer o sal e o fermento seja s a que bastar para se desfazer tudo

    com pouca gua, misturaro tudo e se ir amassando pouco a pouco e,

    se necessitar de mais gua, h-de ser da mesma abbora at tomar a

    massa bom caro e, em descansando um pouco, se tendero e as iro

    pondo em bacias com papis, com uns ps de farinha para se no

    pegarem aos papis; tambm podem ir em tabuleiros para o forno. (P. 22,

    23)

    Receita da Olha a Luz

    Dois arrteis de vaca, dois de carneiro, arrtel e meio de presunto, meio

    arrtel de toucinho, dois pombos, um coelho, galinha ou perdiz, se a

    quiserem meter, ou galinhola, tudo isto, muito bem lavado e escorrido

  • 25

    da gua, se meter dentro na panela, que esteja muito limpa e, no fundo

    da panela, se h-de pr primeiro trs folhas de louro e desta carne, a que

    for mais dura se por tambm no fundo e se lhe botar uma cabea de

    alhos e uma cebola partida em quartos, mas que fique inteira e se lhe

    botar uma mo cheia de gros e uns gros de pimenta e uns cravos-da-

    ndia e se lhe botar meio quartilho de vinho branco e quando no haja

    vinho, meio quartilho de aguardente e se tapar a panela muito bem e

    se acendero as suas luzes e, em estando meia cozida, se lhe me (P. 24)

    [interrompe o texto: em falta as pginas 24 a 33]

    Receita de marmelada vermelha grossa

    Deita-se em cada arrtel, arrtel de acar: o marmelo passado por

    peneira de cabelo e o acar se pe em ponto de cabelo e se lhe lana a

    massa do marmelo dentro e se desmancha muito bem, com as costas da

    colher e se pe em lume brando e, enquanto se coze, se ir mexendo at

    ficar bem vermelha e ligada e se deita nos covilhetes. (P. 33)

    Receita da marmelada visguenta vermelha

    A dois arrteis de marmelo, passado pela peneira, alva, fina, se lhe deita

    cinco de acar: estes cinco arrteis de acar, depois de clarificado, se

    pem em ponto de cabelo e ento se lhe deita a massa do marmelo e se

    desmancha muito bem e depois se pem sobre o lume brando e se vai

    cozendo at se fazer vermelha e, em tendo a cor de vermelha, se pode

    deitar nos covilhetes. (P. 33)

  • 26

    Receita da geleia de marmelo

    Coze-se o marmelo, conforme a quantidade que quiserem e se espreme

    por um pano limpo e se mete depois o sumo; e a trs quartas dele se lhe

    deita cinco arrteis de acar e se pe a cozer no mesmo ponto da

    marmelada e, estando o acar no ponto da marmelada, se lhe lana o

    dito sumo e se deixa ferver meio quarto de hora, mas entendendo que

    no o ponto da marmelada mais alto. (P. 34)

    Receita de compota de massas

    Partem-se as massas em quartos, com as cascas e deitam-se no acar,

    em ponto de espadana e se pe ao lume e se deixa engrossar. (P. 34)

    Receita de alperchada

    Pesam-se os alperces, depois de bem aparados e descaroados e se pem a

    cozer e, depois de bem cozidos, passam-se por uma peneira muito fina e

    o acar, que h-de ser mesma quantidade, se faz em ponto muito alto

    e se lhe deita dentro o que se passou pela peneira e, depois de bem

    cozido, se deita nos covilhetes em estando frio, um bocadinho. (P. 35)

  • 27

    Receita de quartos de marmelos

    Para cada arrtel de marmelo, depois de aparado, necessrio um de

    acar: o dito marmelo, feito em quartos, se coze em gua, no muito e

    se pe a escorrer sobre uma joeira e, logo que o acar estiver

    clarificado, se lhe deita o marmelo e se lhe dar uma boa fervura e se

    deita nas vasilhas, em que h-de ficar e o outro dia lhe daro outra

    fervura, que fique bem apertado. (P. 35)

    Receita de tmaras de ovos de Santa Clara

    Para cada dois arrteis de acar, trs dzias de ovos para os ovos-

    moles de que se faz o recheio e para os tais ovos se pe o acar em

    ponto de seda de se quebrar e os ovos ho-de levar, a cada dzia de

    gemas, duas claras, as quais se batem muito antes de se lhe deitarem as

    gemas, que tambm se batem, mas pouco e para as cobrir so necessrios

    quatro arrteis de acar, que se por em ponto ainda mais subido que

    o que fica dito e nele se vai deitando tmara e tmara enfarinhadas,

    primeiro em farinha, ou em acar refinado bem pisado e peneirado e,

    depois de cobertas no tacho, se tornam a enfarinhar no mesmo acar e

    nas mos se lhe vai fazendo feio de tmaras, ou bolas e as lustrosas o

    escusam, porque no mesmo tacho se fazem e cobrem-se em tacho pequeno

    com pouco acar, que se lhe vai deitando pouco a pouco e pondo-se

    sempre no mais subido ponto, como atrs fica dito. (P. 36)

    Receita dos bolos de trs dias de Santa Clara

  • 28

    A cada alqueire de farinha em p, cinco arrobas de acar e trs de

    manteiga e de fermento de farinha, obra de meia quarta de peso: o

    acar se desfaz com a mo parte e juntamente o sal, que ser o que se

    costuma deitar em um alqueire de po e tudo se coar por uma peneira

    de rala e a manteiga se ferve at se lhe ajuntar todo o sal no fundo e

    tudo se deitar em uma presa pequena e se ir sovando em empelos, que

    fique teso e, sempre sovando-os a um a um, muito bem e deixando-os

    descansar bem abafados algum tempo, os tornaro a sovar muito bem,

    at que fiquem com bom caro e logo se lavra para ir ao forno e se pe

    em um tabuleiro muito bem cobertos, at que se levedem; e para ver se

    esto lev[ed]ados, se tomam na mo batendo-lhe no fundo, entoando

    fofos esto lev[ed]ados e, em bacias, afastados uns dos outros, vo ao

    forno. (P. 37)

    Receita dos bocados de perada

    Em cada arrtel de acar se deita um de pera e uma quarta, se

    aparam as peras e se cozem e, depois de cozidas, se escorrem e, depois de

    escorridas, se vo pisando e pondo em uma peneira de rala para

    escorrerem alguma gua que tem; e da se prepara o acar, conforme a

    quantidade que quiserem e o poro em ponto de espadana alto e, depois,

    o repartiro em dois tachos, na maior parte do acar se por a perada

    a cozer, indo mexendo com uma colher at mostrar o fundo do tacho

    muito bem; e que lhe cheire a cozida a tiraro do lume e a poro em o

    outro acar no lume e o poro em ponto de caramelo e, como estiver

    nesse ponto, lhe botem ento a perada dentro, sobre o lume e ferva meio

    quarto de hora, no mais, que receba bem o acar e da se botar nos

    alguidarinhos e iro dois dias ao sol e, depois, podem fazer-se os

    bocados todas as vezes que quiserem. (P. 38)

  • 29

    Receita de pessegada

    A pessegada se faz da mesma sorte que a perada, s levar um arrtel

    de acar, arrtel e meio de pssego, o que tem de diferena tanto o

    cozer das peras como o dos pssegos, tudo o mais da mesma sorte, no

    tem diferena mais que ter a perada cinco quartas e a pessegada ter

    arrtel e meio. Quando partirem o acar nos dois tachos, aquele em que

    ho-de cozer o doce h-de ter duas partes, e h-de se acabar em uma

    parte. (P. 39)

    Receita dos melindres de Manuel Pereira

    Pisar-se- um arrtel de acar refinado e se peneirar muito bem e,

    depois disto feito, se botar em um tacho e se lhe botar catorze gemas

    de ovos, sem clara e tudo se bater muito bem com as contas de uma

    colher grande e, em estando grosso, se ir deitando a boca do forno em

    papis com uma colher de prata pequena e os pingos sero como

    tremoos. A quentura do forno h-de estar como para os bolos fofos. (P.

    39, 40)

    Receita de ovos-moles brancos

    O ponto de acar o mesmo que dos ovos amarelos, mas estes levam

    dezoito ovos e aqueles se deitam vinte, advertindo-se que o acar h-de

  • 30

    ser branco e se ho-de pr em lume to brando, que sejam s cinzas

    quentes e se devem bater at ficarem grossos e logo esto feitos. (P. 40)

    Receita dos biscoitos de La Reina

    Pesam-se dez ovos em uma balana, pondo na outra tanto acar

    refinado, quanto pesam os dez ovos. E depois se deita na balana em que

    esteve o acar, farinha muito limpa; e da dos ovos se tiram trs para

    fora e se pe igual com a farinha; e, pesando esta tanto como a farinha e

    os sete ovos, depois se bater o acar com as gemas dos dez ovos muito

    bem, at ficar muito grosso e, quando o esteja, se lhe ir deitando a

    farinha que pesaram os sete ovos e, sempre batendo muito bem at a

    boca do forno e, deitados nos papis, se pulveriza por cima com acar

    em p e se metem no forno, mais quente que para os bolos fofos e, depois

    de tirados do forno, j no prato, se lhe torna a deitar acar em p, por

    cima. (P. 40, 41)

    Receita de bolos que no levam amndoa

    Um arrtel de acar, vinte e quatro gemas de ovos e, de miolo de po a

    quantidade que possa levar uma colher de prata: o ponto do acar de

    espelho; o cozimento tirar-se uma migalha na colher e deixar esfriar,

    tanto que no pega na mo est cozida, tende-se depois de fria, untando-

    se as palmas da mo de azeite frio. Para se passarem leva outro arrtel

    de acar, o ponto de vidro e no passar est toda a circunstncia,

    porque se lhe deixam queimar o acar no ficam capazes de aparecer:

    os bolos que levam amndoa um arrtel de acar, meio de amndoa

  • 31

    menos alguma coisa pisada, de sorte que por esta massa o ponto o

    mesmo, as gemas de ovos so dezoito, ou vinte, para se passarem outro

    arrtel de acar, o ponto o mesmo com que se passam os outros. (P. 41,

    42)

    Receita de bocados de alperchada

    Se apararo os damascos e lhe tiraro os caroos fora e se pisaro crus.

    Em cada arrtel e meio de damascos se deita um arrtel de acar e se

    lavaro e se poro a cozer e, depois de cozidos, se deitam em uma

    peneira a escorrer e, depois de escorridos [os damascos], se botaro em

    um alguidar de gua fria, adonde se lavar[o] em quatro guas. E se

    limpar o acar e se por em ponto de espelho alto e, como estiver

    nesse ponto, se partir em dois tachos e no que tiver mais acar se

    deitaro os damascos dentro e se iro cozendo e mexendo at mostrar

    bem o fundo do tacho e, como o mostrar, se tirar do lume e se por a

    engrossar o outro acar at ficar em ponto de cabelo e, em estando no

    dito ponto, se ajuntar tudo e depois se por a ferver, obra de um credo

    e se tirar fora do lume e se deitar nas bacias e se faro os bocados. (P.

    42, 43)

    Receita de suspiros

    Em uma tijela vidrada se deita um arrtel de acar, muito branco e

    muito seco com uma dzia de claras de ovos e, com uma faca, se bate

    muito at ficar to duro, que, com a mesma faca, se possa cortar em

    bocados, em estando assim se lhe bota um vintm de almscar, ou um

    bocado de chocolate e se torna a bater para se misturar, e como est

  • 32

    feito, se pem papis nas bacias e, com uma colher e faca, se vo

    tendendo sobre os papis e vo para o forno: mas adverte-se que se ho-

    de estar sempre a bater e o forno h-de ser muito brando; porque se

    forte queimam-se. (P. 43)

    Receita de melindres

    Em uma tijela vidrada se deitaro arrteis, dois de acar to seco que

    parea de pedra e nove claras de ovos; e se os ovos forem pequenos,

    deitar-se-lhe-o dez. Torno a dizer que ho-de ser s as claras e dois ou

    trs limes azedos, bem verdes, rasp-los-o muito bem e aquele sumo,

    que se tira da casca se lhe bota tudo dentro [da tijela] e uma pouca de

    canela, muito bem pisada e peneirada e seja pouca e bat-los-o muito

    bem e tend-los-o como os outros; mas estes quanto mais pequenos se

    tendem, quanto melhor: tendam-nos afastados uns dos outros porque

    alastram muito. (P. 43, 44)

    Receita de bolos

    Um alqueire de farinha, seis arrteis de acar, quatro de manteiga,

    quatro dzias de ovos: desta mesma farinha se far um fermento na

    vspera e clarificaro o acar e se por a engrossar; mas que no

    chegue a ponto de espadana e se derreter a manteiga que tiraro o

    sal, porque os bolos se temperam com a mesma quantidade que se deita

    no po e se faz uma preza no alguidar em que se deita a manteiga e a

    tera parte do acar e uma dzia de ovos. A se desfaz o sal e o

    fermento e se vo amassando com as mos, com os mais ovos e acar,

    que estar sempre morno e ho-de amass-los por duas horas, ou mais

    tempo se puderem, porque da procede o ficarem fofos; e ho-de deitar a

  • 33

    massa, muito enxuta e abafada para que se levede, que nisto so

    impertinentes, e como estiverem bem lev[ed]ados, os tendero e os

    deixaro descansar, duas ou trs horas, antes que vo para o forno; e se

    cozero em bacias em forno, que no esteja muito brando; e advirtam

    que quando os amassarem lhe no deitem os ovos juntos, se no, indo-se

    enxugando dois, deitar-se-lhe outros dois at se acabarem; e o acar se

    vai tambm deitando pouco a pouco e no levam gua nenhuma e

    preciso que o trigo seja do melhor. P. 44, 45)

    Receita dos bolos de raiva do Mosteiro do Sacramento

    Um arrtel de amndoa pilada e muito bem pisada, um arrtel de

    acar em p bom e se mistura com a dita amndoa, que fique muito

    unido e se lhe deita uma quarta de manteiga derretida e se amassa

    muito bem; depois se lhe deitam nove ovos, dois com claras e se torna a

    amassar, depois de tudo unido se lhe vai deitando rolo, muito fino, at

    que se possam estar em termos de se fazerem as broas e se lhe do uns

    riscos com a faca e se pem nas bacias e se vo tendendo, com as palmas

    da mo untada com manteiga e nas bacias se bota rolo. (P. 45, 46)

    Receita de broinhas

    Em cada arrtel de acar se deita dzia e meia de ovos e s trs com

    claras e os mais sem ela[s] e muito bem batidas. Pe-se o acar, depois

    de limpo, em ponto de bola enxuta e depois se tira do lume e se lhe

    deitam os ovos, e se pe a cozer muito bem at limpar o fundo do tacho

    e, como esto feitos, se esfriam e se tendem redondinhas as broas, depois

  • 34

    se enfarinham em acar refinado quando esto bem frias e quem quer

    as pe ao sol, mas no coisa muito precisa: quem lhe quer deitar cheiro,

    se lhe deita almscar. (P. 46, 47)

    Receita de bolos

    A uma quarta de farinha se bota arrtel e quarta de acar e arrtel e

    quarta de manteiga e dez ovos: o acar se clarifica com a gua que

    parecer que basta para se amassarem os bolos, que no cresa acar; e

    depois de tendidos, se deixam estar um pedao de tempo a folgar da

    mo, ento se cozem, mas no seja tanto tempo que se faam azedos. (P.

    47)

    Receita para as azeitonas esmagadas

    No ms dos santos, ou antes se o ano for temporo, se colhero nas

    oliveiras as azeitonas mo, das quais se chamam verdeais e se

    esmagam tirando-lhe os caroos de sorte que lhe no fique nenhum e

    logo se lavaro em gua fria e se lanaro em um asado novo e tero

    uma caldeira de gua fervendo e se lhe lanar, de sorte que fiquem

    cobertos e se abafaro e todos os dias lhe faro o mesmo, at fiquem

    doces, advertindo que em estando a gua fria se lhe escorrer logo e se

    lhe lanar fervendo outra, como digo e tanto que estiverem doces, se

    tornaro a lavar em gua fria; e se lhe far a calda seguinte:

    Tomaro tanto azeite como vinagre, conforme for a quantidade das

    azeitonas e duas partes de gua, tanta como o azeite e o vinagre, esta

  • 35

    gua somente se ferver com tomilho fino e louro e umas cabeas de

    orgos e, depois de ferver, se deixar esfriar este cozimento e,

    incorporado o azeite e vinagre, se lanar nas azeitonas e juntamente

    cravo, pimenta e canela e gengibre e umas rodas de limo azedo e sumo

    de limas azedas e se mexero muito bem, at que bebam muita parte

    desta calda e, na gua da calda, estando fervendo, se lhe lanar o sal

    proporcionado s azeitonas e, feito isto assim, podero comer e sabero

    muito bem. (P. 47, 48)

    Receita para queijadas

    Ho-de ser duas partes de queijo, muito bem desfeitas e uma parte de

    farinha, no to avantajada como uma das duas partes de queijo: estas

    trs partes de queijo e farinha ho-de se amassar com um arrtel de

    acar, um ovo com clara e gema e meia dzia de gemas sem clara,

    gua de flor (no muita), no caso que lha queiram deitar. Adverte-se

    porm que, se forem os queijos grandes, deixar-se-lhe- a quantidade de

    acar, que for bastante, para ficar doce e para haver de ficar esta

    massa boa, deve ficar branda.

    Este o tempero para uma dzia de queijos, quando se queira fazer

    maior quantidade de queijadas, cada dzia de queijos levar o tempero,

    que se tem dito.

    Adverte-se que o queijo h-de ser primeiro exprimido em um pano. (P.

    49)

    Outra receita para queijadas

  • 36

    Cinco canadas de leite, tira-se obra de meia canada em uma vasilha

    vidrada e se lhe deita um bocadinho de coalho, em um paninho e se

    desfaz muito bem at ficar coalhado. Ento se deita na vasilha, em que

    est o mais leite e se lhe d duas voltas para se unir e se abafa at estar

    coalhado, que fique o soro solto e se deita em um pano e se espreme, bem

    espremido, de sorte que no fique nada de soro; depois se deita em uma

    vasilha vidrada e se desfaz com uma colher.

    Leva trs libras de acar, do mais fino e seco, pisado e peneirado, meia

    libra de amndoa, uma dzia de gemas de ovos, uma quarta de peso de

    farinha, bem fina e, se quiserem, um bocadinho de mbar, tudo bem

    unido e temperado e fique grosso: a massa se toma, com uma gotinha de

    leite e um bocadinho de manteiga e pouco acar, lavrada, que fique

    fina, e se pe um prato em cima e se vai cortando roda, com carretilha

    e se vo enchendo e pr-se- cada uma em seu papel, untado de

    manteiga. Vo em bacias para o forno, o qual h-de estar temperado

    quase para po.

    Desta mesma espcie se deita em frigideiras e vai ao forno. (P. 50)

    Receita para chourios

    O sangue de um porco cozido e ralado por joeira e bem espremido por

    um pano e se derrete o acar e se limpa e se pe em ponto de meia

    espadana e se deita duas partes dele clarificado, a uma de sangue, deita-

    se em alguidar vidrado e se vai mexendo: deita-se arrtel e meio de

    biscoito, bem fino, meio quartilho de manteiga de porco derretida e meio

    arrtel de amndoa e trs quartos de cravo, bastante canela, um

    bocadinho de mbar, ou almscar, meio quartilho de gua de flor,

    temperado de sal, no muito, tudo bem unido; e se deixa descansar um

    pouco para dar lugar a inchar o biscoito: feito isto se enchem as tripas,

  • 37

    deixando algum espao vazio: ponha-se um tacho ao lume com bastante

    gua e, como estiver para ferver, se vo encalando um e um pelo cordel

    com que se atam, de sorte que no toque no fundo e se vo pondo em um

    tabuleiro com toalha e se cobriro: ao outro dia se pe no fumo brando,

    trs dias. (P. 51, 52)

    Modo de se curar meadas

    Deitar-se-o as meadas de molho, em gua, aonde estaro um dia e sero

    bem lavadas em outras guas: tero feito um polme de cinza com bosta

    de boi, no qual se molharo muito bem e se poro em um tacho com um

    telhador, ou testo grande no fundo para que se no peguem e as tero

    sempre com bem gua a cozer, mexendo-as com um pau de figueira

    preta, andando roda sempre com o pau dentro e, quando ao dito pau

    cair a pele, ou casca, estar o fiado cozido. Tirando-as do fogo, depois de

    frias se lavaro de sorte que se lhe no tire de todo a cinza e se poro a

    curar ao sol e sereno [?] as tais meadas, com cuidado de estarem sempre

    molhadas, voltando-as de uma e outra parte: passados alguns dias se lhe

    far outro polme, de bosta grossa, onde se metero e depois sero bem

    lavadas e se poro a curar at ficarem brancas, com advertncia de que

    se no deixem secar e, no ficando bem brancas, se metero outra vez

    na bosta e se tornaro a lavar e curar e no sero cozidas em lua nova.

    (P. 52, 53)

    Receita de termentina para se fazerem as folhas das rosas

  • 38

    Deitar-se- a termentina em uma tijela de barro, vidrada, com um

    bocadinho de cera branca, virgem e pr-se- a derreter em lume brando

    e, como estiver derretida, a tiraro do lume e, quando passar a fria da

    quentura, lhe deitaro o verdete, mexendo-se tudo muito bem e tornar-

    se- a pr ao lume e, como estiver bem liquida, meter-se- dentro um

    bocado de papel para se ver se est de boa cor; e se a quiserem mais

    escura, deitar-lhe-o mais verdete na forma dita e, querendo-a mais

    clara, deitaro menos verdete; e assim podem molhar as folhas;

    advertindo que assim que as meterem na tinta as vo sacudindo fora

    pelos arames. (P. 53)

    Receita para se pratear o cobre

    Derretam-se em gua-forte pedacinhos de prata, conforme a quantidade

    da composio que se quer fazer; a saber, a cada ona da dita

    composio lhe lanareis, dos ditos pedacinhos de prata, o peso de um

    dinheiro, que a tera parte de uma oitava e da gua-forte lhe

    lanareis a que for bastante s para fundir ou derreter a dita prata.

    necessrio que haja uma redoma de vidro que tenha a boca larga,

    debaixo da qual se pe uma vela acesa at que, pondo-se uma pea de

    cobre ao fumo que sair da redoma, se no faa negra; estando assim

    derretida a dita prata, se lance dentro um vidro de gua limpa, dentro

    do qual se tenha deitado, desfeito, um pouco de sal e assim se deixe ficar

    tudo por espao de 24 horas, para que a gua-forte se evapore

    totalmente. Depois se lhe lanar tanto de sal calcinado, como de

    trtaro comum, que sarro de vinho, conforme a quantidade de prata

    que se fundiu, a saber, por cada dinheiro uma ona dos dois

    ingredientes, de sorte que, a seis dinheiros de prata se lhe lana trs

    onas de sal calcinado e outras trs onas de trtaro, os quais seis

    dinheiros de prata se podero fundir com uma ona de gua-forte,

  • 39

    contanto que a redoma seja pequena. Tudo assim feito, se por ao sol, ou

    ao ar do fogo, at que tudo se possa pisar e fazer em p sobre um

    mrmore e, pisando-o, necessrio remo-lo bem para que a prata se

    mescle bem com os mais ingredientes: esta composio se pode guardar e

    conservar quanto tempo quiserem, contanto que esteja em vidro bem

    tapado, e em lugar seco.

    Para se usar desta composio se tirar do vidro a que parecer

    necessria e, na pedra, juntando-lhe gua comum [?], se ir remoendo,

    que fique como papas, nem muito lquidas, nem muito espessas e, com

    um pano de linho, se aplicar sobre o cobre que se quer pratear. (P. 54,

    55)

    Receita para se fazer pomada de laranja

    Tomaro a banha, derret-la-o em uma sopeira grande, limpando a

    banha de peles e bolor e bot-la-o em um boio com um pano na boca,

    porque a coaro e, acabada de a limpar, a deixaro esfriar e pr-lhe-o

    uns papis, depois de fria e assim estar guardada at Pscoa. Sabero

    no tempo que houver a flor, nove dias antes, ou doze, pes-la-o para

    ver os arrteis que tem, se tiver trs arrteis, deitar-lhe-o meio de flor

    de laranja e se a quiserem fazer imitao da de Roma, lhe botaro um

    alqueire e mais se quiserem, porm antes de lhe botar a flor a ho-de

    trazer nove dias em gua, em que a lavaro duas vezes no dia; e, no fim

    dos nove dias, lhe tiraro gua fora e misturar-lhe-o a flor e botar-lhe-

    o, de manh e, de tarde pass- la-o e, ao outro dia, derret-la-o em

    urinis metidos em uns tachos de gua fervendo com umas rodas de

    rstias de cebolas em que as metero porque no deem uns pelos outros,

    nem cheguem ao fundo do tacho e, se acaso a gua se gastar, tiraro os

  • 40

    urinis fora para lhe botarem outra, porque no estalem e, tanto que

    virem que a flor est cozida, deit-la-o em uma imprensa, que um

    pano com duas bainhas largas e dois paus e a, bem espremida, a iro

    deitando em coisas limpas e deix-la-o estar nos covilhetes um dia e, no

    outro dia, com uma colher, faro arredar a pomada para uma banda,

    para lhe deitarem fora a gua e, escorrida, lhe tornaro a fazer o que

    acima se diz, como de novo, duas vezes mais. (P. 56, 57)

    Receita de abbora com agrao e, por outro modo, chamada de fricass

    Limpa de toda a casca dura, que fique bem no branco e limpa das tripas,

    cortada em bocados bem midos, se bote em gua a ferver, e, levantando

    fervura, se tire e se coe e se por a refogar em manteiga que baste,

    segundo a sua quantidade, ou azeite ainda que com manteiga melhor

    refogado com uma cebola picada. Se pulveriza muito pouco com uns ps

    de farinha e se revolva, de modo que no core e se lhe bota gua quente,

    a que baste para a cozer com um molhinho pequeno de salsa, que depois

    se lhe tira, uma cebola pequena com um ou dois cravos-da-ndia e um

    pauzinho de canela cozida e apurada. De todo temperada do sal se lhe

    deite o acar, segundo quiserem e a quantidade pedir e se tero

    prontas trs ou quatro gemas de ovos, mais ou menos, segundo a

    quantidade e se lhe ajunte o sumo do agrao, que no seja mais azedo

    que o doce e se incorpore a dita abbora, de modo que os ovos se no

    cortem e se manda mesa; quando no h agrao se tempera com

    limo; e se lhe ajunta salsa picada.

    Tambm se faz com agrao sem ovos.

  • 41

    Da mesma sorte se faz [o] doce, que depois de cozida, quase e apurada,

    se lhe deita uma pinga de leite para acabar de cozer em lume brando, se

    incorpora como acima, levando s acar e alguma nata se quiserem, se

    deite no prato e, se a quiserem corar, se cubra com po de l pisado, ou

    com claras de ovos batidas, como para bolos fofos, no com tanto acar.

    (P. 57, 58)

    Receita para entrita

    Limpos e aparados que sejam os ps de porco, se poro a cozer com uns

    pares de gros, duas cabeas de alhos inteiras, uma cebola cravada de

    alguns gros de pimenta inteiros, uma capela de salsa, estando isto meio

    cozido se lhe ajunte carne de porco magra e gorda e se deixe cozer tudo

    at ficar na proporo de caldo, segundo a quantidade da carne pedida

    e o po que se houver mister; este ser feito to mido como lentilhas, se

    botar em uma tijela com o caldo, que baste e se mexer at dar uma

    fervura, que fique como quem quer fazer po cozido. Se lhe ajuntar um

    ramo de hortel. Feito que seja, se tomar trs ou quatro ovos, bem

    batidos com clara e gema e se incorpore com o dito po, que fique bem

    enxuto com sumo de limo, segundo pedir a quantidade e se por no

    prato, escorrida toda a carne do caldo, se lhe acomodar por cima,

    guarnecida com seus nabos, que tambm precisa levar.

    Adverte-se que quem quer, quando a incorporar do po, lhe deita uma

    colher de manteiga lavada, e feito tudo como dito , se manda mesa.

    (P. 59, 60)

    Receita de bolinhos

  • 42

    Um arrtel de acar, se deita uma quarta de manteiga e oito ovos,

    quatro com claras e quatro sem elas; e o acar bem pisado; mexe-se

    tudo isto bem e vai-se botando farinha ou rolo muito fino, o que

    quiserem, at fazer bolinha que no pegue na mo. Fazem-se as bolinhas

    e cozem-se em bacias com farinha por baixo. (P. 60)

    Receita de Nodego

    Dois covilhetes de amndoa, muito bem retalhadas com um de mel. Se

    deitaro em um tacho e, com lume brando, se ir mexendo sem parar

    at que cheire, o mel e amndoa, a torrado e se deitar logo um bocado

    em gua que, estando pouco tempo, se se unir e se endurecer, se provar

    para ver se est com gosto de torrado; e, sendo assim, molharo uma

    tbua de tender e se deitar dentro com brevidade e posto a

    cumprimento; molharo as mos em gua fria e se ir espalmando at

    ficar da altura que quiserem e o deixem arrefecer para se cortar as

    talhadas com uma faca e, depois de feito em talhadas, se ir

    branqueando cada uma por si. (P.60, 61)

    Receita de bolos

    Um arrtel de acar bem seco, trs claras de ovos bem frescas, batido

    este acar em as claras de ovos, de sorte que fique em um polme grosso

    e h-de ser batido com as costas de uma faca, batendo sempre para uma

    banda e experimenta-se deitando um pouco com uma colher em um

    papel e, se no alastra, est bom; e tem-se preparado ovos feitos, como

    para broinhas; tende-se ento em bolinhas redondas com alguma

    farinha e tirando daquele polme com uma colher, se deitam as bolinhas

  • 43

    para se cobrirem do dito polme e se poro em papis dentro de bacias

    para irem ao forno e nele se metero, quando o po sair. (P. 61, 62)

    Receita de cocada com ovos

    Um coco, por maior que seja, no leva um arrtel de acar. Limpo este,

    conforme o que tiver dado de espcie o coco, assim deitaro o acar no

    tacho. O acar estar em ponto de espadana baixa, deitar-lhe-o 14

    gemas de ovos e s uma clara e se mexer at mostrar o fundo do tacho:

    tirado para fora, vazaro a espcie em alguma coisa em que se esfrie, e

    tend-las-o em bocados de obreia e se mandaro ao forno a corar. (P.

    62)

    Receita para sopa de leite

    Um quartilho de leite, quatro gemas de ovos caseiros e, no o sendo, so

    precisos seis e uma quarta de acar, tudo junto se bate com as gemas e

    o acar e, bem batido tudo, se lhe vai ajuntando o leite, em forma que

    fique incorporado e se lhe deitar dentro uma casca de limo e um pau

    de canela e se por a lume brando, mexendo sempre, que se no corte.

    Incorporado que seja, se lhe tire o limo e canela e se deite sobre fatias

    de po de l e se mande mesa. (P. 62)

  • 44

    Receita para carro de lagosta

    Aberta a lagosta com o seu sumo que tem dentro do carro e com algum

    coral e carne do pescoo, se pique, ou corte faca e se lhe ajunte pouco

    po de rala, azeite, pimento, cebola picada, salsa, uma gota de vinho

    branco e vinagre, o que baste para o tempero, se far com uma e outra

    coisa um modo de picado, o que baste para se encher o carro da lagosta

    e, depois de estar cheio, se mande ao forno a corar com po ralado por

    cima e se mande mesa como o mesmo carro

    O mesmo santola

    O mesmo sapateira

    E o mesmo caranguejos, ajuntando-lhe alguma coisa de peixe. (P. 63,

    64)

    Receita para abbora de agrao ou limo

    Limpa que seja a abbora e cortada muito bem mida, se lanar em

    uma pouca de manteiga ou azeite segundo sua quantidade, com uma

    cebola picada e refogada que seja. Se lhe bote gua quente, a que baste

    para cozer segundo a quantidade e, temperada, se ter o sumo de

    agrao espremido com gemas de ovos, mais ou menos segundo a sua

    quantidade e, junto com uns ps de acar segundo a quantidade pedir,

    se incorpore como quem incorpora um fricass e, incorporado, se mande

    mesa.

    E se no houver agrao, em lugar dele, limo azedo. (P. 64, 65)

  • 45

    Receita de Manjar Real

    Um peito de galinha, trs arrteis e meio de acar, meio arrtel de

    amndoa, o miolo de dois pes de vintm e se deitam de molho.

    O acar se clarifica e se pe a esfriar, pisa-se a amndoa e se desfia a

    galinha e depois, junta com amndoa e o po espremido, se pisa tudo

    junto, e tira-se do acar, que est clarificado, um poucochinho para um

    tachinho e se deixa a massa no que fica e se desmancha muito bem com

    as costas da colher e se pe em lume brando e se vai cozendo bem, at

    mostrar o fundo do tacho muito bem, e tira-se para fora e se engrossa o

    acar que ficou em ponto de espadana baixa e se torna a pr ao lume

    com ele, at mostrar o fundo do tacho muito bem e se tira do lume. (P.

    65)

    Receita de perada vermelha

    A cada arrtel de pera se deita um arrtel de acar e a pera bem

    pesada.

    Faro a pera em quartos e apararo, clarificaro o acar que

    quiserem fazer e o poro a esfriar e, depois de frio, lhe deitaro a pera

    dentro, crua e a poro ao lume, abafada; e, depois de estar a pera cozida

    no acar, se tire fora e se desmanche com as costas da colher e se torne

    a pr no lume e se vai mexendo at mostrar muito bem o fundo do tacho

    e ento a provaro e, se estiver bem cozida, a tiraro e, querendo-a

    vermelha, melhor de pera flamenga. (P. 66)

  • 46

    Receita de bacalhau albardado

    Depois de cozido o bacalhau, se limpe de pele e espinhas e se desfie e

    piquem cebola e salsa, conforme a quantidade do bacalhau e se misture

    este com a cebola e salsa e faam um polme de farinha com ovos e,

    batendo tudo muito bem, se vai, com uma colher, lanando no azeite que

    estar fervendo e, depois de frito, se lhe faz molho, como de peixe frito.

    (P. 66)

    Receita para beringelas

    Cortem-se as beringelas em rodas e se cozam, no muito e se escorram e

    as rodas se vo embrulhando em farinha e se frijam, como quem frege

    peixe, e depois de fritas em uma frigideira nova, se vo pondo s camas

    e polvorizando com acar e queijo do Alentejo ralado, canela e cravo-

    da-ndia, do cravo pouca quantidade e, estando a frigideira cheia, no

    muito, se lhe deite uma gota de gua, azeite e vinagre e se ponha a

    ferver em lume brando e, quanto que ferver, que esteja em conta, lhe

    lancem por cima uns ovos batidos, e se core em uma curadeira. (P. 67)

    Receita de sopas de tutano

  • 47

    Arrtel e meio de acar a um arrtel de po; no acar em espadana

    se faz uma meada de oito ovos, depois de ela feita se lhe lana o po em

    ponto mais baixo, deitando-lhe gua e, antes do po, se lhe deita os

    tutanos. Depois de estar o po muito bem aboborado lhe lanaro

    quatro gemas de ovos muito bem batidas e, depois, as lanaro em a

    sopeira com os ovos por cima e pastilhas. (P. 68)

    Receita de cocada

    Tomaro um coco pequeno, depois descascado da casca pardinha e,

    ralado, se deitar um arrtel de acar depois de limpo, deite-se o coco

    dentro at estar bem enxuto e, depois, fora do lume, lhe deitaro o

    cheiro e, se o coco for maior, leva mais acar. (P. 68)

    Receita de geleia

    A dois arrteis de acar, um quartilho de sumo e se lana este sumo em

    o acar, quando est em ponto da marmelada e se tira depois que

    levanta fervura acima, que ento est cozida. (P. 69)

    Receita de broas de milho

    Uma quarta de p de farinha de milho, outra quarta de farinha de trigo

    e a de milho se escalde parte com um arrtel de manteiga e um

    quartilho de azeite, tudo fervendo e, depois de escaldada a farinha de

  • 48

    milho, estando fria, se lhe mistura a de trigo e lhe deitaro meio tosto

    de canela e dez reis de erva-doce, tudo bem pisado e lhe ajuntaro um

    arrtel de acar e um quartilho de mel e, no havendo, se lhe deitar

    outro arrtel de acar e, depois, se amassaro muito bem e, estando em

    meia amassadura, lhe deitaro a quantidade de fermento que basta e

    no deixem a massa mui testa, porque no enduream. (P. 69)

    Receita para azedas

    Se tomaro molhos de azedas, mais ou menos segundo o prato que se

    quiser fazer, limpas do talo, lavadas, se deitem em um alguidar e se

    escaldem com gua fervendo e, abafadas at que se possam espremer

    mo, se piquem faca e se deite a frigir uma ou duas cebolas em

    manteiga, ou azeite, porm melhor ambas as coisas. Se lhe deitem

    dentro as azedas picadas e se fervam em muito pouca gua e, estando

    apuradas, se temperem de sal e pimenta e se incorpore com todo o ovo,

    clara e gema, porm muito bem batido e se mexa em termos que se no

    corte e, se no ficarem azedas, tudo que baste, se lhe deite limo; para

    esta quantidade sero necessrios trs ovos; feito que seja, se deite em

    prato de prata e se faa uma filh de dois ou trs ovos batidos, e se lhe

    ponha por cima com po ralado por cima da filh, se mande ao forno a

    corar.

    Desta sorte se fazem trouxas, ajuntadas no prato com po ralado por

    cima. Tambm deste recheio se fazem pasteis fritos e bolos de massa

    sevada; e pastelinhos folhados e po recheado, porm o po, depois de

    tirado o miolo e, tirada aquela cdea de fora com o ralador, se doura

    com ovo e se frige em manteiga e depois se recheia e torna a dourar com

    ovo e se manda a corar ao forno. (P. 70, 71)

  • 49

    Receita dos bolos de bispo

    A cada arrtel de acar se deitam vinte e cinco ovos: a oito de ovos se

    deitam seis moles e dois de fio: estes se fazem em ponto alto e se ajuntam,

    misturando-se uns com outros, tornam ao lume e se cozem, at que

    faam estrada no tacho: tendem-se em farinha de trigo e vo a cozer ao

    forno e, depois, se passam por acar em espelho e se enfarinham em

    rea muito bem pisada e peneirada por peneira de seda.

    Os bolos filis [?] o mesmo recheio, s serem tendidos em pastas de ovos

    e, assim, vo a corar ao forno. (P. 71, 72)

    Receita de castanhas

    Suponhamos que queremos fazer uma quarta de castanhas, estas, boas e

    escolhidas, levam regularmente cinco arrteis de acar bom. As

    castanhas se lhe tira a metade das cascas em crua e se ponham a cozer

    s em gua e, depois de cozidas, se lhe acaba de tirar a casca e a camisa

    e se deitem dentro do acar, limpo e clarificado e frio e se ponha em

    lume brando at que recebam o acar e, depois, se cobrem com acar

    e se pem na rede: os cinco arrteis de acar so trs para as cozer e

    dois para as cobrir. (P. 72)

    Receita para sopas de tutanos

  • 50

    As sopas de tutanos se faz o acar conforme a quantidade que cada um

    a quer: neste se faz uma ou duas meadas de ovos, conforme a

    quantidade que se quer no acar que fica dos ovos, se deitam os tutanos

    a cozer e, no os havendo, deita-se gordura e, se as querem para dia de

    peixe, deita-se manteiga de vaca tirando-se-lhe o sal e, em estando em

    espelho alto, deita-se o po e estando algum tempo abafadas; e, depois, se

    pe em tijela uma cama de sopas e outra de ovos e canela e assim se vo

    concertando; e, por cima, se pe uma cama de ovos e pastilhas e canela.

    (P. 73)

    Receita das tigelinhas de lngua

    Quatro arrteis de acar, destes se fazem dois de ovos-moles, deitando

    vinte ovos a cada arrtel, estes se fazem em ponto de fio e se faz um

    arrtel de carne de qualquer casta, ou galinha, ou coelho, ou vaca, tudo

    muito bem cozido e picado e, depois de muito bem picado, muito bem

    pisado feito no acar parte em ponto de espelho, muito bem cozido,

    faz-se um arrtel de amndoas muito bem pisadas tambm em acar

    parte, em ponto alto e tambm muito cozidas; e tudo se ajunta e se coze

    no lume at fazer montinho em cima; e quem quer deitar-lhe mais ovos

    so melhores; e quando se querem tirar, se lhe deita cravo-da-ndia,

    pouco e canela bastante e cheiro, cada uma o que quer, e prove-se para

    se lhe deitar a canela que for necessria. (P. 73)

    Receita de fartes de ovos

  • 51

    Os fartes de ovos, faz cada um o que quer, a quatro arrteis de ovos de

    fio e moles, tudo misturado, se fazem parte dois arrteis de amndoas

    muito bem pisadas e cozidas parte, em dois arrteis de acar de

    espelho e deixam-se cozer um pouco e se misturaro com os ovos de fio e

    moles e se lhe mistura cidro aos bocadinhos e, misturado tudo em um

    tacho fora do lume, se lhe deita um pouco de po ralado, o que baste

    para ficar durinho, capaz de se meter em folha e se lhe deita canela

    bastante, cravo pouco, cheiro o que cada um quer; e desta sorte se faz

    uma folha e nela os fartes para irem a provar ao forno e se deitam para

    fora mais do necessrio, deita-se-lhe mais po e, vindo do forno h-de

    estar acar feito e se cobrem. (P. 74, 75)

    Receita de frigideira de gro

    As frigideiras de gro se fazem de gros bons, pisados, se pem a cozer

    com o sal necessrio e, depois de muito cozidos, se pisam e se lhe deita

    acar em p, conforme a quantidade que e se lhe deita manteiga de

    vaca e gemas de ovos e canela e cheiro e se deita nas frigideiras e se lhe

    deita canela por cima e pastilhas e desta sorte vai a corar ao forno e, se

    quiserem fazer de feijes da mesma sorte, pode ser e, deste mesmo

    recheio se fazem tambm pastis, mas para estes se lhe deita po ralado.

    (P. 75, 76)

    Receita de chourios doces

  • 52

    A um de ventre grande se lana um tosto de po, o qual se rala

    primeiro e, depois, se torra muito bem em uma bacia de fartes que fique

    com cor amarelinha, oito arrteis de acar, dos quais se lanam

    primeiro seis arrteis ao sangue e logo uma ona de cravo pisado e

    peneirado, outra de canela, meio arrtel de erva-doce, tambm pisada e

    peneirada e um arrtel de amndoa, bem pisada e, depois de tudo isto se

    ter deitado no sangue, se lhe lana o po, que est ralado e, vendo-se que

    no est muito doce, para o que se h de provar, se lhe deitaro mais os

    dois arrteis: tomaro mais duas banhas de porco e, depois de bem

    lavadas, se derretem em um tacho e, derretidas que sejam, se lana

    quente sobre o sangue e mais espcies e se mexe tudo muito bem e se vo

    enchendo os chourios e passando-os, depois de cheios por gua fervendo;

    e logo se penduram, em uma cana e se pem ao ar. (P. 76, 77)

    Receita de bolos de amor

    A dez de acar se fazem quatro de fio e trs de ovos-moles, dois de

    amndoas, muito bem gizadas e um de cidra: a amndoa coze-se parte,

    muito bem cozida e mistura-se com os ovos-moles e de fio e, depois de se

    ajuntar tudo, se torna ao lume e se coze muito bem e se lhe deita canela

    e cravo e cheiro, cada um conforme quer. (P. 77)

    Receita de broas de amndoas