Recensão - Exemplo 1

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    Identidades Nacionais e Cinema: Uma recenso crtica dolivro Directory of World Cinema: Spain

    Isabel MacedoUniversidade do Minho, Portugal

    E-mail: [email protected] 1

    Resumo

    Esta obra constitui uma parte de uma s-rie de volumes publicados no mbito do Directory World Cinema da editora Intel-lect Books . A primeira parte consti-tuda por uma crtica ao lme Biutiful,uma entrevista ao realizador Jaime Rosa-les, seguida de uma reexo sobre a in-dstria cinematogrca espanhola. Estaprimeira parte composta ainda por umcaptulo em que se discutem os aspetos

    que denem a cultura espanhola, encer-rando com uma reexo sobre o trabalhode alguns realizadores espanhis. Na se-gunda parte so discutidos dez gneroscinematogrcos que caracterizam o ci-nema espanhol, sendo analisados dez l-mes por cadagnero apresentado. Salien-

    tamos queesta obra beneciaria comumareexo nal sobre o cinema espanhol,que passaria por reconhecer e discutiro carter nacional do cinema produzido,muito marcado pelos espaos nacionais epela histria poltica, cultural e social vi-vida. Muitas cinematograas europeiastornaram-se conhecidas como pertencen-tes a uma determinada cultura nacio-nal, tendo algumas desenvolvido inclu-

    sivamente um estilo ou especializando-se num gnero especco. Esta pareceser a realidade do cinema espanhol, es-tando muito presente o gnero classi-cado nesta obra como melodrama de au-tor .

    Palavras-chave: cinema, identidade nacional, melodrama de autor

    1. Artigodesenvolvido no mbitode bolsa de doutoramentoatribudapela FCT Fundaopara a Cincia e Tecnologia (SFRH/BD/75765/2011)

    Estudos em Comunicao n 12, 343-350 Dezembro de 2012

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    National Identities and Cinema: a critical recension of the bookDirectory of World Cinema: Spain

    Abstract

    This critical review concerns the book Directory of World Cinema: Spain. Thisbook is part of a series of volumes pu-blished in the Directory of World Ci-nema, by Intellect Books. The rst partconsists of a critique of the lm "Biuti-ful", an interview with the director JaimeRosales, followed by a reection on theSpanish lm industry. This part is alsocomposed of a chapter in which are dis-cussed the aspects that the authors con-sider to dene the Spanish culture, con-cluding with a reection on the work of some Spanish lmmakers. In the se-cond part are presented ten lm genresthat characterize the Spanish cinema, and

    analyzed ten lms by each gender. Thisbook would benet from a nal reectionon the Spanish cinema, by recognizingand discussing the national character of the lms produced, very marked by thenational spaces and by the political, cul-tural and social history lived. Many Eu-ropean cinematographies became knownas belonging to a particular national cul-ture, and some even developed a style orhave become specialized in a particulargenre. This seems to be the reality of Spanish cinema, were the genre classiedin this book as author melodram is verypresent.

    Keywords: cinema, national identity, author melodram

    Aobra Directory of World Cinema: Spain constitui uma parte de uma sriede volumes publicados no mbito do Directory World Cinema (estudosacadmicos sobre lmes) da editora Intellect Books . Cada volume desta s-rie composto por uma coleo de recenses, ensaios, crticas, resumos delmes, com as merecidas ilustraes. So destacados lmes e atores conside-rados centrais no contexto cinematogrco nacional pelo editor da obra, Lo-renzo J. Torres Hortelano. Estes volumes pretendem constituir um contributopara a reexo sobre o cinema produzido em diferentes pases. Atualmente,encontram-se publicados volumes sobre o cinema espanhol, francs, italiano,alemo, americano dois volumes, um dedicado ao cinema independente eoutro ao cinema comercial japons, russo, australiano e neo-zelands, irani-ano, sul-coreano e britnico2. Alm destes, esto previstos outros trabalhos,

    2. Cf. http://worldcinemadirectory.co.uk/ .

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    embora no esteja ainda conjeturada a produo de um volume sobre o cinemaportugus.

    Para Lorenzo J. Torres Hortelano professor do Departamento de Cin-cias da Comunicao da Universidade Rey Juan Carlos (Madrid) este li-vro constitui um auxlio indispensvel para compreendermos o passado e opresente do cinema espanhol. Segundo o mesmo, atravs do lme podemosexpressar-nos e consequentemente compreender-nos melhor enquanto socie-dade. O autor considera este livro uma espcie de guia para as novas geraes,que estrutura a diversa cinematograa espanhola. Por isso, a sua estrutura clara e de fcil compreenso, contudo, a linguagem de estilo mais acadmicoparece contradizer esta ideia de guia.

    A primeira parte constituda por uma crtica ao lme Biutiful, umaentrevista ao realizador Jaime Rosales, seguida de uma reexo sobre a in-dstria cinematogrca espanhola. Esta primeira parte composta ainda porum captulo em que os autores Latorre Izquierdo e Martnez Illn discutemsobre os aspetos que consideram denir a cultura espanhola. Conta ainda comuma anlise daquilo que tem sido a Semana de Filme Experimental de Ma-drid, situando esta cidade no centro do cinema espanhol. Esta parte inicialda obra encerra com uma reexo sobre o trabalho de alguns realizadores es-

    panhis. Na segunda parte so discutidos dez gneros cinematogrcos quecaracterizam o cinema espanhol, sendo analisados dez lmes por cada gneroapresentado.

    Como foi referido anteriormente, a primeira parte desta obra abre comuma crtica realizada por Torres Hortelano (2011) quele que considera ser olme do ano 2010, Biutiful, de Alejandro Gonzalez Inarritu. O autor chamaa ateno para a controvrsia que esta seleo pode provocar, pelo facto dese tratar de um lme cujo realizador mexicano e no espanhol. Estamosa falar de uma coproduo, realizada em Barcelona, que Torres Hortelano(2011) classica como o melhor lme realizado em Espanha em 2010 e umdos melhores trabalhos de Javier Bardem.

    De seguida, -nos apresentada uma entrevista ao realizador Jaime Rosalesque, curiosamente, procura esclarecer que nunca v ou realiza um lme comoespanhol ou para um pblico espanhol, ou seja, que no reete de um pontode vista nacional. Para o realizador, o seu trabalho passa muito por ser tes-temunha do seu tempo, deixando evidncias deste tempo atravs de imagense sons. Efetivamente, apesar de no pretender discutir a questo nacional, o

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    certo que as suas representaes desse tempo e as imagens e sons que asconstituem tendem a ser inuenciadas pelo contexto onde se move. Da queas projees-identicaes (Morin, 1956/1997) deste e de outros realizadoresespanhis (e de outros pases europeus) objetivadas em situaes, aconteci-mentos, personagens, atores e reicadas no cinema estejam de algum modorelacionadas com a realidade nacional.

    Reetindo sobre a indstria cinematogrca espanhola, Jos Maria Alva-rez Monzoncillo indica que o cinema espanhol viveu momentos de recesso ede expanso ao longo do ltimo sculo, estando os ciclos de maior expansorelacionados com um aumento do investimento nesta indstria por parte dateleviso, exigncia do governo espanhol. Apesar deste investimento, o ora-mento para a produo flmica ainda muito limitado, bem como a promoocomercial, as exportaes e, consequentemente, os proveitos nanceiros. Da que a indstria flmica espanhola deva tirar o mximo de partido da internetpara a distribuio cinematogrca, procurando conquistar o mercado interna-cional. Com efeito, a internet tem permitido uma maior ecincia, abrangn-cia e reduo de custos na distribuio e exibio dos produtos audiovisuais,promovendo a recongurao das estratgias de divulgao (Prgola, 2004).

    Na seco seguinte, num captulo denominado de Cultural Crossover ,

    dois autores trabalham trs aspetos que, na sua perspetiva, denem a culturaespanhola de um modo universal: a inuncia dos movimentos avant-garde ;o modo como a violncia representada no cinema espanhol e as diferentesleituras de D. Quixote que, para o editor, so tambm leituras do que serespanhol. Desde 1910, a obra de Cervantes, D. Quixote, levada ao ecr.Durante todo o sculo vrios lmes tm por base a histria de D. Quixote eSancho Pana. Um captulo deste livro dedicado a esta anlise, dando contados trabalhos realizados sobre esta obra e da sua importncia para compreen-dermos a histria recente espanhola, atravs do testemunho do tempo em quecada lme foi produzido.

    na Semana de Filme Experimental de Madrid, o nico festival espanholcom uma seco experimental em competio, que so apresentados e divul-gados trabalhos inovadores no mundo do cinema experimental, caracterizadopor procurar ir alm do estabelecido na linguagem flmica, constituindo umprocesso de aprendizagem e evoluo na rea do cinema. Efetivamente, Ma-drid tem sido a cidade espanhola escolhida pela maioria dos realizadores paraa rodagem dos seus lmes. Exemplo desta seleo so os lmes de Edgar

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    Neville (1943, 1945, 1946, 1950), Jos Antnio Neves Conde (1951), RafaelAzcona (1958, 1960), Carlos Saura (1959, 1980), Pedro Almodvar (1984,1987, 1995) e Len de Aranoa (1998, 2005). Trata-se de lmes que, emborade diferentes pontos de vista e em perodos muito distintos, histrica e social-mente, tm Madrid como cenrio principal. nesta cidade que os realizadoresapresentados no captulo seguinte desta obra desenvolveram boa parte do seutrabalho. Assim, o trabalho dos realizadores Edgar Neville, Fernando Fernn-Gmez, Carlos Saura, Vctor Erice e Pedro Almodvar, constituem o mote dediscusso do ltimo captulo daquela que consideramos a primeira parte destaobra.

    A segunda parte deste trabalho aborda, de um modo geral, dez gneroscinematogrcos que caracterizam o cinema espanhol: melodrama de autor;comdia grotesca; drama ibrico; musical; cinema do ps-guerra; lmes depoca; o cinema de transio para a democracia; crime e thriller ; fantasia eterror e documentrio experimental. Dentro de cada gnero cinematogrcoapresenta-se uma introduo e dez lmes, com as respetivas sinopses e crti-cas. Para isso, o editor recorreu a vrios colaboradores, especialistas nos di-ferentes gneros cinematogrcos expostos. Torres Hortelano (2011) inicia adiscusso sobre os vrios gneros de lmes espanhis com uma breve introdu-

    o e exemplicao de trabalhos integrados no gnero melodrama de autor .Para o autor, Pedro Almodvar e Isabel Coixet so realizadores que se iden-ticam com este gnero cinematogrco, com trabalhos como Todo sobremi madre (Almodvar, 1999) e Min vida sn mi (Coixet, 2003). Tambmos trabalhos de Jlio Medem so representativos deste gnero. O lme AnaCatica (2007) um exemplo perfeito de melodrama de autor e Jamn, Ja-mn (1992) de Bigas Luna abre a apresentao deste gnero que constituiuma veia original do cinema espanhol, cuja origem remonta ao perodo dops-guerra civil.

    Os lmes representativos da comedia grotesca, so exemplos de traba-lhos que tm como objetivo a distoro da realidade, procurando criticar asociedade. Ao contrrio da comdia clssica que termina em harmonia, rea-rmando a ordem estabelecida a famlia, a comunidade e a nao lmescomo os de Lus Garca Berlanga terminam invariavelmente em solido. ParaSteven Marsh trata-se de uma comdia de solido, perda e perdedores (Tor-res Hortelano, 2011: 86).

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    do terror internacional. Esta obra termina com a reexo sobre o gnero do-cumentrio experimental, salientando a ideia de que a fase nal do regime deFranco e a fase de transio para a democracia foram os perodos mais ricosna produo de lmes com estas singularidades.

    Na nossa perspetiva, este livro beneciaria da incluso de uma reexonal sobre o cinema espanhol, que passaria por reconhecer e discutir o carternacional do cinema produzido, muito marcado pelos espaos nacionais e pelahistria poltica, cultural e social vivida. Passaria tambm por uma tentativade compreender este cinema luz daquele que produzido no resto da Europae, provavelmente, por discutir as caractersticas que marcam a identidade docinema espanhol.

    Na opinio de Elsaesser (2005: 13), trs fatores permitem uma leitura docinema do Oeste Europeu depois da II Guerra Mundial: os realizadores soreconhecidos como autores; os seus estilos e temas espelham a imagem danao e caracterizam-se pelos novos signicados polticos e de renovao es-ttica que acompanham a realidade scio-poltica. Para este autor, cada pastem o seu prprio cinema nacional, cada vez mais defendido como um valiosotesouro e parte de um patrimnio inalienvel nacional. A este propsito, Hill(2001) enfatiza este carter nacional referindo-se ao cinema britnico, inu-

    enciado pela necessidade de nanciamento e de audincias, sendo a televisoum meio atravs do qual os realizadores obtm estas duas vertentes, essenci-ais para continuarem a produzir lmes. E porque so produzidos para umaaudincia nacional, discutem-se questes representativas das complexidadesnacionais. Efetivamente, estas caractersticas esto tambm presentes no ci-nema portugus. A guerra, por exemplo, inuenciou diversos cineastas tendoservido como forma exemplar de contar Portugal (Grilo, 2006: 108). Apartir da dcada de 90 tem sido a realidade social, marcada pelo desemprego,pelas drogas e pela realidade multicultural que tem habitado o imaginrio dosrealizadores portugueses.

    Com efeito, muitas cinematograas europeias tornaram-se conhecidas comopertencentes a uma determinada cultura nacional, tendoalgumas desenvolvidoinclusivamente um estilo ou especializando-se num gnero especco (Bap-tista, 2010). Esta parece ser a realidade do cinema espanhol, estando muitopresente o gnero classicado nesta obra como melodrama de autor.

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    Referncias bibliogrcas

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    MORIN, Edgar (1956/1997) O Cinema ou o Homem Imaginrio . Lisboa:Relgio Dgua Editores.

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    TORRES HORTELANO, Lorenzo. J. (ed.) (2011) Directory of World Ci-nema: Spain . Bristol: Intellect, Ltd.