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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. [Recensão a] Vários - História Universal 2: o Antigo Egipto Autor(es): Araújo, Luís Manuel Publicado por: Centro de História da Universidade de Lisboa URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23968 Accessed : 4-Jun-2021 18:54:16 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

[Recensão a] Vários - História Universal 2: o Antigo Egipto · 2013. 6. 25. · página 17 de apresentação da história do Egipto «brinda» os leitores com outra crassa anomalia:

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    [Recensão a] Vários - História Universal 2: o Antigo Egipto

    Autor(es): Araújo, Luís Manuel

    Publicado por: Centro de História da Universidade de Lisboa

    URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23968

    Accessed : 4-Jun-2021 18:54:16

    digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt

  • RECENSÕES

    depois do Império Novo. Um aspecto invulgar, que certamente alguns especialistas e estudantes lamentarão, mas que muitos leitores pelo contrário saudarão, é a ausência de notas de rodapé, falta justificada pelo Autor logo no prefácio: «I have dispensed with the paraphernalia of footnotes in favour of a more straithforward guide to further reading».

    Luis Manuel de Araújo

    VÁRIOS, História Universal. 2: O Antigo Egipto, Planeta De Agostini, Aleph Serveis Editoriais, s/local [Barcelona], 2005, 132 pp. ilustradas, ISBN 989-609-324-5

    A Planeta De Agostini, de Novara, que dedica muitas das suas edições, quer em livro quer em DVD, ao antigo Egipto, concebeu mais esta obra destinada ao público em geral, em que a antiga civilização faraónica se vê acompanhada pelo mundo grego e helenístico. A ficha técnica indica o nome de Massimo L. Salvador¡ como coordenador científico e seis nomes correspondentes aos autores dos textos, não se sabendo a qual deles deve ser atribuída a parte correspondente ao antigo Egipto. Em todo o caso, nenhum desses seis nomes é conhe- eido como egiptólogo.

    O Grupo Cofina adquiriu os direitos para o nosso país, tendo encarregado a Verbisiberia da coordenação da versão portuguesa destinada ao jornal Correio da Manhã, seguindo uma técnica de divul- gação e captação de leitores que tem sido seguida ultimamente por vários órgãos da comunicação social escrita. À primeira vista a ideia parece meritória, e até generosa, dada a aparente redução de preços na aquisição dos volumes que acompanham o jornal do dia, tal como o jornal Público já tinha feito com uma História Universal da Editorial Salvat (ver recensão em Cadmo, 15, pp. 249-254). A recensão que aqui se apresenta debruçou-se apenas sobre a parte dedicada ao Egipto, tendo sido um penoso exercício de leitura devido às crassas anomalias que revela, em grande medida devido ao mau trabalho da equipa de tradutores que consta na ficha técnica: Célia Granadeiro, Paula Pereira, Joana Rigato, Sandra Seabra, Ricardo Sequeira e Germana Zarcone. Este grupo foi contratado pela Verbisiberia para elaborar a versão em língua portuguesa, escorado talvez numa ampla prática de «excelência e gestão de projectos e controlo de qualidade» que 0 sítio internético desta empresa anuncia.

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    A I parte começa por apresentar «Três mil anos de história» (p. 17), e começa mal: diz que seguirá as divisões tradicionais para o enquadramento cronológico, que consistem em «Reino Antigo, Primeiro Período Intermédio, Império Médio, Segundo Período Intermédio, Im- pério Novo e Império Tardio». Ora, para os leitores habituados a ma- nusear obras sobre o antigo Egipto, entre os quais estão muitos estu- dantes, é já um primeiro choque, dos muitos que se seguirão, e fica- rão desde logo perturbados com tão aberrante apresentação: não só se omite a fundamental Época Arcaica (I e II dinastias) como se usa a imprópria designação de «Reino Antigo» para o Império Antigo (III à VI dinastia); depois segue-se, e bem, 0 Império Médio, só que no capítulo respectivo (pp. 24-26) vem «Reino Médio»; o mesmo sucede com a adulteração da forma correcta de Império Novo, tal como tinha sido apresentada, para passar a «Reino Novo» (pp. 29-37); nota-se bem a falta do Terceiro Período Intermediário, e, quando se esperaria ver a Época Baixa, aparece um estranho «Império tardio», que, no capítulo respectivo, já vem como «época tardia» (pp. 37-42). Mas esta página 17 de apresentação da história do Egipto «brinda» os leitores com outra crassa anomalia: mostra a conhecida estátua do Hórus Djoser entronizado e a legenda diz apenas que é «Estátua de Gizé» (?!). Alude também ao sacerdote egípcio Maneton - só que aqui sur- ge Manetone, à italiana. E ainda com 0 leitor um tanto contundido, a página seguinte continua com várias adulterações gros-seiras: lá apa- rece 0 deus «Rá», em lugar da forma Ré que desde há muitos anos é usada no nosso país, além da estranha «Eliopolos», em vez de Heliópolis, o nome da cidade onde 0 deus solar Ré era cultuado.

    Após 0 texto dedicado ao Império Antigo (2660-2180 a. C., e não 3000-2150 a. C. como lá vem), onde se evoca o faraó e seus poderes e as possibilidades de ascensão social (exemplos com os altos fun- cionários Herkhuf e Uni), segue-se o Primeiro Período Intermediário (2150-2040 a.C.), onde se alude às célebres lamentações de Ipu-uer, ao «igualitarismo social» e ao conceito de justiça, patente no cumpri- mento da maet (pp. 18-24). Pelo meio ficam duas páginas (20-21) com mapas do Egipto, onde muitos dos nomes de sítios históricos aparecem na forma italiana, havendo ainda uma desenvolvida referên- cia ao Faium (pp. 22-23), que aqui surge como Fayum.

    Depois é o Império Médio (2040-1780 a. C.), com a XI dinastia reunificadora e a XII dinastia, aqui avultando o seu fundador Ame- nemhat I, o qual na p. 24 é Aménemete e na p. 25 já é Amenemet, a quem sucedeu Seneseret I (aqui na sua forma grega adulterada de

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    Sesostri). Trata-se de facto de uma fase de grande prosperidade, a que a invasão dos Hicsos veio pôr cobro, estabelecendo-se o Segundo Período Intermediário (1780-1550 a. C.) que vai terminar com a reac- ção da XVII dinastia tebana e a expulsão dos Hicsos, já na XVIII dinastia, com Ahmés (pp. 24-28).

    O capítulo seguinte trata do Império Novo (1550-1070 a. C), com 0 esperado relevo que é dado às campanhas de Tutmés III, à «here- sia» de Akhenaton (aqui como Ekhnaton) que se instalou em Amarna (aqui vem El-Amarn) numa reacção contra os sacerdotes (aqui vem «padres») de Amon. Com o final do interregno amarniano (e não «ar- maniano») surge Tutankhamon e o final da XVIII dinastia com Horemheb, para se entrar da XIX dinastia, onde se destaca o reinado de Ramsés II, filho de Seti I (e não de Seth I). Merece igualmente destaque o reinado de Ramsés III, vitorioso contra os Povos do Mar (aqui, estranhamente, vem «pessoas do mar»!), e a crise final da XX dinastia, com a qual termina 0 Império Novo (pp. 29-37). Este capítulo inclui um instrutivo e bem desenhado mapa do Egipto e das suas possessões durante o Império Novo, só é pena que muitos dos no- mes estejam na forma italiana.

    Com o capítulo 6 (pp. 37-42), e saltando 0 importante Terceiro Período Intermediário, é evocada a Época Baixa (664-332 a. C., e não 1070-343 a. C.), onde avulta a XXVI dinastia saíta, que conseguiu remover a ameaça assíria mas não evitou a tomada do Egipto pelos Persas. A viagem pela longa história do país do Nilo termina com a chegada de Alexandre (332 a. C.), a subsequente dinastia ptolemaica e o fim da independência perante os Romanos (30 a. C.). Um peque- no extra-texto na p. 41 evoca o delta do Nilo e as ligações entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho, ambos referidos pelo termo egíp- cio de Uadj-uer (0 Grande Verde).

    A II parte é dedicada à «Sociedade, direito, economia» (pp. 43- -56), começando pela organização social e a «pirâmide burocrática», com o faraó à cabeça, coadjuvado pelo «vizir», 0 mais alto funcioná- rio da administração, referido pelo título egípcio de tjati (e não ciaty). Quanto às «classes sociais», mencionam-se os funcionários e o clero, e estranhamente não se fala dos escribas, que eram o esteio para o funcionamento ágil e regrado da sociedade, merecendo que a eles fossem dedicadas algumas linhas. Pelo contrário, são referidos os «cida- dãos» (?!), que eram taxados e «tinham de cumprir trabalhos de inte- resse público» (p. 44), e depois vinha a grande massa da população, os camponeses, os artesãos e os servos (que aqui são «criados»),

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    sendo a escravatura de reduzido significado sociológico e económico. Entre as várias profissões mencionadas no texto conhecido por As Admoestações de Ipu-uer surgem os lavadores de minério (aqui vem «lavadeiras»), os passarinheiros (aqui aparecem «as passarinhas»!!!), além de outras. Alude-se ainda àquilo que se considera ser «o desen- volvimento da aristocracia», segue-se «a igualdade à frente da lei» (em duvidosa tradução do original italiano, era melhor perante a lei), 0 exército e uma certa «evolução feudal» (?!) que se detectaria a partir de finais do Império Novo.

    Segue-se um capítulo que aborda a questão da justiça (pp. 48- -51), onde se impõe 0 cumprimento da maet (aqui vem no masculino «o maat»), a importância dos decretos reais, os tribunais e as penas, o «juízo do oráculo», e o «culto da justiça». Quanto ao direito privado e internacional, tema do capítulo 4, (pp. 51-54), são enumerados os direitos de propriedade, o matrimónio e os filhos. A economia é tratada no capítulo 5 (pp. 54-56), sublinhando-se a importância da agricultura e do Nilo, os vários produtos do subsolo, o «sistema monetário», a comida e a bebida.

    A III parte apresenta, num primeiro capítulo, a religião, sendo de sublinhar que agora não se vêem tantos erros como anteriormente - a explicação mais plausível é que esta parte do trabalho foi entregue a outro tradutor, e ainda bem. Por isso o nome do conhecido deus Ré já vem correctamente escrito, entre os outros grandes deuses do antigo Egipto que aqui desfilam (pp. 57-59), lembrando a divindade do faraó, os deuses zoomorfos e o panteísmo difundido. O capítulo seguinte evoca a origem do cosmos (pp. 59-62), com as diferentes cosmogo- nias que hoje se conhecem, desde a masturbação de Atum de Helió- polis com a Enéade, a Ogdóade de Hermópolis comandada por Tot, a palavra criadora de Ptah de Mênfis, até à emergência de Amon, de quem são recordados hinos que antecederam o famoso Hino a Aton da autoria de Akhenaton. Com o capítulo 3 revemos a mitologia, a religião popular e 0 conceito de divindade (pp. 62-67), abrindo com os feitiços e a magia, a diferença entre a religião popular e a religião ofi- ciai, o culto dos animais divinizados e o «deus dos eruditos». A ideia da vida e da morte é o tema do capítulo 4 (pp. 67-72), apresentando a vida no Além, o julgamento dos mortos, onde se dá a pesagem do coração, o cuidado com os túmulos, o amor pela vida e o pessimismo em relação à morte.

    A IV parte é dedicada à literatura e às artes, começando no pri- meiro capitulo pela literatura do Império Antigo (pp. 73-75), seguindo-se

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    a literatura do Primeiro Período Intermédio (cap. 2: pp. 75-78), a litera- tura do Império Médio (cap. 3: pp. 79-84), a literatura do Império Novo (cap. 4: pp. 84-91) e aquilo que é desajeitadamente chamado de «lite- ratura da Época Tardia e a literatura demótica» (cap. 5: pp. 92-96). A arquitectura é o tema do capítulo 6 (pp. 96-108), desde os templos aos túmulos reais, onde merecem destaque as pirámides, os túmulos privados e a arquitectura civil. São incluídos alguns extra-textos ilus- trados: um deles apresentando o Egipto como o país «mais organiza- do do mundo» (p. 97), outro com os tipos de colunas egipcias (p. 105), e como os egípcios construíam as pirámides (p. 106). Seguem-se as artes figurativas, que é o assunto do capítulo 7 (pp. 108-116), evi- denciando o baixo-relevo como urna arte de excelência, a arte de Amarna, as decorações coloridas, e a estatuária, assinalando as dife- renças essenciais entre as produções escultóricas do Império Antigo, do Império Novo e da Época Baixa. Com o capítulo 8 apreciamos o artesanato (pp. 117-119), merecendo destaque 0 mobiliário encontrado no túmulo de Tutankhamon.

    Por fim, a V parte aborda o conhecimento científico e técnico (pp. 120-128), a abrir com o conhecimento matemático, seguindo-se a medicina, onde se evocam alguns papiros médicos e se congemina acerca da ligação entre a medicina a religião e a magia, evocam-se casos cirúrgicos, diagnósticos e receitas, rematando com as técnicas, desde o trabalho de aparelhamento e transporte da pedra, a tecela- gem, o trabalho dos metais, a cerâmica e o vidro.

    A obra conclui com as fases e dinastias do antigo Egipto (pp. 129-132), onde abundam as confusões com datas e nomes dos soberanos.

    Enfim, quem se abalança a (e quem é pago para) fazer trabalhos de tradução e adaptação de obras deste género, devia ao menos ter o cuidado de 1er alguns livros de idêntica temática existentes em por- tuguês para não ludibriar os leitores. Trabalhos como este, feitos «a des- pachar», acabam por revelar basicamente dois lamentáveis aspectos: a falta de respeito para com os leitores e a impreparação da equipa de tradutores para a tarefa que lhes foi confiada. É o velho problema de tradutores e revisores ao serviço de muitas editoras: podem saber muito bem inglês ou francês, espanhol ou italiano, checo ou mesmo búlgaro, mas deveriam sobretudo ter alguma cultura histórica ou, ao menos, uma razoável cultura geral.

    Luís Manuel de Araújo

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