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Recessão, arrocho e desemprego Irmão e primo de Beto Richa são presos pela Lava jato Pág. 4 Vendas domésticas de máquinas e equipamentos caíram 36,8% Bolsonaro quer que equipe econômica de Temer continue Ficou público conchavo com presidente do BC e secretário do governo olsonaro prometeu, se for eleito, manter o pre- sidente do BC de Temer, Ilan Goldfajn. Depois de almoço no Gávea Golf Club com o “secretário de assuntos estratégi- cos” de Temer, o candidato a vice de Bolsonaro, Mourão, disse que se trata de alguém tão preparado que pode ser incorporado no seu governo. Na quarta-feira, soube-se das articulações entre o governo e a equipe de Bolsonaro para impor a “reforma da Previ- dência” que Temer não con- seguiu aprovar. O programa de Bolsonaro é instalar uma ditadura para continuar o governo Temer, tão cheio de gente preparada e honesta. P. 3 28 de Setembro a 2 de Outubro de 2018 ANO XXVIII - Nº 3.671 Marina: engraçado o Haddad “falar de impeachment depois de pedir a benção a Renan” Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL “Os dados do Conselho Na- cional de Economia, que acabo de receber, sobre a desigual- dade social e a concentração de renda, são estarrecedores”, afirmou João Goulart Filho, candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL). “O país não sai da crise se 5% dos mais ricos ficarem com o mesmo que 95%”, diz Jango “É inviável que o país consiga se desenvolver e resolver seus problemas sociais quando os 5% mais ricos ficam com o mesmo que os demais 95% da popu- lação”, destacou o candidato. Para Goulart, a concentração de renda paralisa a economia. P. 2 “A Polícia Federal vem fazendo um trabalho gran- dioso nas últimas décadas e ela é maior do que qualquer cidadão. Seja esse cidadão can- Superintendente critica Bolsonaro por desrespeitar a Polícia Federal didato a algum cargo, ou não, e merece respeito”, afirmou o superintendente da PF de MG, Rodrigo de Melo Teixeira, em resposta a Bolsonaro. P. 2 Segundo dados da Associa- ção Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as vendas domésticas de bens de capital registraram queda de 36,8% em agosto sobre o mês an- terior. Segundo o estudo, mesmo somando as importações, a ven- da no setor também teve queda de 17,2% de julho para agosto. No ano, os investimentos no setor desacelerou. Página 2 O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, afirmou em entrevista que no Supremo “você tem ga- binete distribuindo senha para soltar corrupto”. “Sem qualquer forma de direito e numa espécie “Há gabinete distribuindo senha para soltar corrupto”, denuncia ministro Barroso de ação entre amigos”, disse. In- dagado sobre a qual gabinete se referia, Roberto Barroso apenas sorriu. Pressionado depois pelo presidente Dias Toffoli, Bar- roso disse que havia sido “ex- cessivamente ácido”. Pág. 3 Argentina parou contra a fome A Argentina parou. Trens, caminhões, ônibus, metrô, es- colas, serviço público, aviação amanheceram com as ativida- des suspensas na terça, 25, na mais massiva das quatro greves gerais já ocorridas des- de a posse de Macri. Milhões atenderam à convocação das centrais sindicais que reivin- dicam reposição das perdas salariais, o fim das demissões em massa e do arrocho, como medidas para debelar a crise que assola a economia do país. Nas manifestações de centenas de milhares, no dia anterior à paralisação, os trabalhadores exigiram a sus- pensão do acordo com o FMI. Em meio à greve, Luis Caputo, presidente do BC argentino anunciou sua renúncia ao cargo. Página 6 A afirmação de Ciro Gomes foi no debate do SBT, UOL e Folha, na quarta-feira. Pág. 3 Para Ciro, PT foi responsável pelo nascimento de uma estrutura de poder odienta” “São dois pesos e duas me- didas. O PT faz o discurso dos trabalhadores e leva o país ao buraco com o Temer”, disse Marina em debate. Pág. 3 AFP AFP Arquivo Carlos Moura - STF

Recessão, arrocho e desemprego Bolsonaro quer que …§ão-3... · Recessão, arrocho e desemprego Irmão e primo de Beto Richa são presos pela Lava jato Pág. 4 Vendas domésticas

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Recessão, arrocho e desemprego

Irmão e primo de Beto Richa são presos pela Lava jatoPág. 4

Vendas domésticas de máquinas e equipamentos caíram 36,8%

Bolsonaro quer que equipe econômica de Temer continue

Ficou público conchavo com presidente do BC e secretário do governo

olsonaro prometeu, se for eleito, manter o pre-sidente do BC de Temer, Ilan Goldfajn. Depois de almoço no Gávea Golf Club com o “secretário de assuntos estratégi-

cos” de Temer, o candidato a vice de Bolsonaro, Mourão, disse que se trata de alguém tão preparado que pode ser

incorporado no seu governo. Na quarta-feira, soube-se das articulações entre o governo e a equipe de Bolsonaro para impor a “reforma da Previ-dência” que Temer não con-seguiu aprovar. O programa de Bolsonaro é instalar uma ditadura para continuar o governo Temer, tão cheio de gente preparada e honesta. P. 3

28 de Setembro a 2 de Outubro de 2018ANO XXVIII - Nº 3.671Marina: engraçado o Haddad “falar de impeachment depois de pedir a benção a Renan”

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

“Os dados do Conselho Na-cional de Economia, que acabo de receber, sobre a desigual-dade social e a concentração de renda, são estarrecedores”, afirmou João Goulart Filho, candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL).

“O país não sai da crise se 5% dos mais ricos ficarem com o mesmo que 95%”, diz Jango

“É inviável que o país consiga se desenvolver e resolver seus problemas sociais quando os 5% mais ricos ficam com o mesmo que os demais 95% da popu-lação”, destacou o candidato. Para Goulart, a concentração de renda paralisa a economia. P. 2

“A Polícia Federal vem fazendo um trabalho gran-dioso nas últimas décadas e ela é maior do que qualquer cidadão. Seja esse cidadão can-

Superintendente critica Bolsonaro por desrespeitar a Polícia Federal

didato a algum cargo, ou não, e merece respeito”, afirmou o superintendente da PF de MG, Rodrigo de Melo Teixeira, em resposta a Bolsonaro. P. 2

Segundo dados da Associa-ção Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as vendas domésticas de bens de capital registraram queda de 36,8% em agosto sobre o mês an-

terior. Segundo o estudo, mesmo somando as importações, a ven-da no setor também teve queda de 17,2% de julho para agosto. No ano, os investimentos no setor desacelerou. Página 2

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, afirmou em entrevista que no Supremo “você tem ga-binete distribuindo senha para soltar corrupto”. “Sem qualquer forma de direito e numa espécie

“Há gabinete distribuindo senha para soltar corrupto”, denuncia ministro Barroso

de ação entre amigos”, disse. In-dagado sobre a qual gabinete se referia, Roberto Barroso apenas sorriu. Pressionado depois pelo presidente Dias Toffoli, Bar-roso disse que havia sido “ex-cessivamente ácido”. Pág. 3

Argentina parou contra a fomeA Argentina parou. Trens,

caminhões, ônibus, metrô, es-colas, serviço público, aviação amanheceram com as ativida-des suspensas na terça, 25, na mais massiva das quatro

greves gerais já ocorridas des-de a posse de Macri. Milhões atenderam à convocação das centrais sindicais que reivin-dicam reposição das perdas salariais, o fim das demissões

em massa e do arrocho, como medidas para debelar a crise que assola a economia do país. Nas manifestações de centenas de milhares, no dia anterior à paralisação, os

trabalhadores exigiram a sus-pensão do acordo com o FMI. Em meio à greve, Luis Caputo, presidente do BC argentino anunciou sua renúncia ao cargo. Página 6

A afirmação de Ciro Gomes foi no debate do SBT, UOL e Folha, na quarta-feira. Pág. 3

Para Ciro, PT foi responsável pelo “nascimento de uma estrutura de poder odienta”

“São dois pesos e duas me-didas. O PT faz o discurso dos trabalhadores e leva o país ao buraco com o Temer”, disse Marina em debate. Pág. 3

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2 POLÍTICA/ECONOMIA 28 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2018HP

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Total estimado é de 17 bilhões de barris. Petrobrás manifestou interesse em ser operadora em área de menor volume

Juro do rotativo do cartão de crédito chega a 274% ao ano

Na comparação com agosto de 2017, também houve queda: -29,3%

Leilão poderá entregar controle de blocos do pré-sal às múltis

N o afã de entregar as reservas do pré-sal para o ca-pital estrangei-

ro, o governo Temer irá leiloar, nesta sexta-feira (28/09), três blocos na Bacia de Santos (Saturno, Titã e Pau Brasil) e um na Bacia de Campos (Sudo-este de Tartaruga Verde), com um volume total es-timado em 17 bilhões de barris de óleo, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O volume estimado para os blocos de Saturno e Titã é de 12,2 bilhões de barris de óleo; Pau Brasil, 3,51 bilhões de barris; e Sudo-este de Tartaruga Verde, 1,29 bilhão de barris.

A Petrobrás manifes-tou interesse em exercer o direito de participação obrigatória como opera-dora com 30% na área do Sudoeste de Tartaruga Verde, a de menor volu-me de petróleo entre as quatro ofertadas. O que significa dizer que pelo menos 15,71 bilhões de barris de petróleo do pré-sal irão para o controle das multinacionais.

ESTRANGEIRAS

Além da estatal bra-sileira, 11 petroleiras estrangeiras se habilita-ram junto à ANP para participar da 5ª Rodada de licitação do pré-sal. Entre as multinacionais, estão as integrantes do cartel internacional do petróleo ExxonMobil , Shel l , Chevron, BP e Total, todas habilitadas como Operadora A, tal qual a Petrobrás.

As operadoras são res-ponsáveis pelas compras de máquinas e equipa-mentos, ritmo de produ-ção etc.

O governo espera ar-recadar R$ 6,82 bilhões em bônus de assinatura no 5º leilão de privatiza-ção do pré-sal, que irão para o ralo dos juros, via superávit primário. Até mesmo representantes do setor petroleiro per-ceberam que o governo estabeleceu um bônus de assinatura extremamente baixo, o que viabiliza a entrega das áreas do pré-sal em oferta.

No 5º leilão da ANP, os percentuais mínimos de excedente em óleo a ser destinado à União variam de 24,82% (o maior, Pau Brasil) a 9,53% (o me-nor, 9,53%). Ou seja, um verdadeiro absurdo ante os potenciais das jazidas

colocadas em leilão.Com reservas cada me-

nores em outros países, as multinacionais se mo-vimentam para garantir participação na camada de pré-sal do Brasil, a mais promissora provín-cia de petróleo - de boa qualidade - no mundo. O aumento do interesse de empresas estrangeiras foi incentivado pela política antinacional de Temer, de suspensão de a Petrobrás ser obrigatoriamente a operadora única e de ter participação de pelo me-nos 30% nos consórcios; diminuição dos percen-tuais de conteúdo local, favorecendo a importação – piorando uma situação anterior em relação à indústria nacional do setor, que não é a mesma coisa que indústria local, que inclui também filiais de multinacionais; e de renúncia fiscal de R$ 40 bilhões anuais, ou R$ 1 trilhão em 25 anos.

Além disso, às véspe-ras do 5º leilão no pé-sal, o preço do barril de petróleo do tipo brent ultrapassou US$ 80 e atingiu o maior patamar em quase quatro anos. A cotação em alta, impul-sionada pela decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de não aumentar a produção como queriam os Estados Unidos, deve aumentar o apetite das múltis sobre o pré-sal brasileiro, facilitado pela submissão de Temer e seu preposto na Petrobrás, Ivan Monteiro.

Cabe destacar ainda, que o custo da extração de petróleo no pré-sal caiu para US$ 8 o barril graças aos investimentos da Petrobrás em pesqui-sa e desenvolvimento, do qual se favorecem as multinacionais, que não investiram um centavo sequer em pesquisa, des-coberta, desenvolvimento e produção no pré-sal. Ou seja, estão apenas se aproveitando de governos e diretorias da estatal entreguistas, sob Dilma e Temer, para avançar so-bre o petróleo brasileiro.

Ainda nesta sexta-feira, haverá audiência pública no Supremo Tri-bunal Federal (STF) pra discutir a liminar do mi-nistro Ricardo Lewan-dowski que suspendeu as vendas de ativos e pri-vatizações de empresas estatais sem anuência do Poder Legislativo.

VALDO ALBUQUERQUE

Pelo menos 15,71 bilhões de barris irão para controle estrangeiro

Taxa de juros nas alturas aumenta dívida do Tesouro

A taxa de investimen-to do país é a menor dos últimos 17 anos, o que se reflete em uma que-da brusca no consumo interno de máquinas e equipamentos.

Segundo dados da As-sociação Brasileira de Máquinas e Equipamen-tos (Abimaq), as vendas domésticas de bens de capital apresentaram uma absurda queda de 36,8% em agosto sobre o mês anterior. Na com-paração com o mesmo período de 2017, a queda foi de 29,3%.

O consumo aparente – produção doméstica mais importações menos exportações - caiu 17,2% de um mês para o outro.

“Houve queda tanto na aquisição de máquinas produzidas localmente

como importadas. Em função disto, no ano, os investimentos em má-quinas e equipamentos registraram desacele-ração. O alto índice de ociosidade da economia, combinado com crédito caro e o elevado grau de incertezas político e econômica, continua difi-cultando a retomada dos investimentos no país”, avaliou a entidade.

O nível de ociosidade das indústrias de máqui-nas e equipamentos em agosto estava em 23,4%.

O faturamento do se-tor teve variação positiva no mês passado funda-mentalmente por conta do crescimento do volume de exportações. As vendas externas somaram U$ 1,18 bilhão no mês pas-sado, o que no compara-

tivo anual representa um crescimento de 41,6%.

O pouquíssimo que o país ainda investe em bens de capital tem sido abastecido pelas impor-tações, que no ano já corresponde a 61% do que foi consumido pelo mercado interno. É o caso do crescimento de 81,4% no mês das im-portações no setor de Petróleo e Energia. A aquisição de tubos para oleodutos e gasodutos na Alemanha em agosto contribuiu para o resul-tado. Além da Alemanha – que está em terceiro lugar no ranking dos pa-íses que vendem máqui-nas e equipamentos para o Brasil – as compras no exterior se concen-traram na China e nos Estados Unidos.

Venda interna no setor de máquinas e equipamentos cai 36,8% em 1 mês

A Dívida Pública do governo federal junto aos aplicadores internos, ou seja, em reais, teve um aumento de 0,65%, ao passar de R$ 3,607 trilhões para R$ 3,630 trilhões, de julho para agosto, devido ao acumulo de juros, no valor de R$ 23 bilhões.

A dívida pública captada do mercado internacional, em grande parte em dólares, também teve aumento de 9,53% sobre julho, encerrando agosto em R$ 154,75 bilhões (US$ 37,42 bilhões).

A Dívida Pública Total, interna e externa, teve aumento de 0,98% e passou de R$ 3,748 trilhões em julho para R$ 3,785 trilhões em agosto. Os dados são da Secretaria do Tesouro Nacional, divulgados na segunda-feira(24).

Quando o governo toma dinheiro empresta-do a uma taxa de juros baixa e faz investimen-tos, a economia cresce, os impostos aumentam, ele paga a dívida e fica tudo bem, obrigado.

Quando os juros são altos, os emprésti-mos logo passam mais para pagar dívidas anteriores e menos para investimentos. A economia vai paralisando e começa a andar pra trás. É nesta situação que o Brasil está engastalhado.

Façamos um conta simples. O estoque de R$ 3,630 trilhões da dívida interna, em 30 de agosto/2018, com juros de 6,5% ao ano, que é o percentual da atual Taxa básica de juros Selic, resultará num juros de R$ 235,95 bilhões nos próximos 12 meses. Se sobre esse montante incidisse uma taxa de juros de 0,5% ao ano, as despesas com juros seriam de R$ 18,15 bilhões.

O Tesouro Nacional teria, neste exemplo, uma economia de R$ 217,80 bilhões em um ano. Seria dinheiro suficiente para colocar a economia do país em crescimento. A Taxa de 0,5%, considerada no exemplo, é bastante competitiva, ainda sendo maior do que a média das taxas básicas das principais 40 economias do planeta, que é negativa.

A Selic a 6,5% ao ano é um obstáculo aos investimentos dos empresários da indústria. Para conseguir uma rentabilidade igual a Selic é preciso “engolir muito sapo”, então é melhor aplicar!

COPOM

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, reunido na terça (18) e quarta feira (19) decidiu manter a taxa Se-lic em 6,50% a.a. e não se posicionar sobre tendências.

As pressões inflacionárias existem e são de custos, cada vez mais difíceis de controlar devido à estagnação da economia. Para a direção do banco, o aumento da Selic é basi-camente o que controlaria inflação.

Visto de modo racional, a subida da Selic serve para manter ou aumentar o juros reais para os bancos, que, como vimos, quebra o Tesouro e engessa a economia.

Não há razões para acreditar que a taxa bá-sica de juros a 6,5% surte qualquer efeito positivo na economia. Primeiro porque ela se mantém como uma das mais altas taxas do mundo enquanto a média dos demais países é zero. Segundo porque os bancos continuam se comportando como agio-tas na hora de cobrar juros para operações de crédito.

Dados do Banco Cen-tral divulgados na terça-feira (25) mostraram que a média cobrada pelas instituições financeiras em juros do rotativo do cartão de crédito voltou a subir em agosto, de 271,4% para 274% ao ano em agosto.

Já a taxa de juros do cheque especial permane-ceu em absurdos 303,2%.

Enquanto isso, em paí-ses como os Estados Uni-

dos e Portugal a taxa anu-al do rotativo do cartão de crédito não ultrapassa 30% – segundo dados dos bancos centrais de 2018. A diferença também é gritante entre países lati-no-americanos e México: a Argentina, em segundo lugar no ranking, tem co-brança média de 53,20%, ou seja, cinco vezes me-nor do que é cobrado no Brasil.

LUCRO DOS BANCOS

Não é a toa que no segundo trimestre deste ano os quatro maiores bancos do país tiveram lucros recordes, com cres-cimento geral de 17% sobre o mesmo período de 2017. São esses bancos que também detém pra-ticamente um monopólio de operações bancárias, aproximadamente 78% das operações de crédito e 76% dos depósitos.

Os preços administra-dos (aqueles determina-dos por órgão públicos ou contratos) aumentaram 6,64%, de janeiro a agos-to deste ano, enquanto a inflação do período, pelo Índice de Preços ao Con-sumidor Amplo (IPCA) foi de 2,85%. Ou seja, uma variação mais do que o dobro da média da inflação dos mais de quatrocentos preços considerados no cálculo do índice.

Energia elétrica, água e esgoto, gás de botijão e encanado, planos se saúde, produtos farmacêuticos, gasolina, diesel, ônibus, etc. Atualmente, são 23 os bens e serviços da cesta do IPCA que são classificados como “preços administra-dos”, conforme o Banco Central, e que impactam diretamente no orçamen-to das famílias. Segundo reportagem do Estadão, essas tarifas já correspon-dem a 25% da renda.

No ano passado, esses preços subiram 8%, sendo

que de janeiro e agosto a variação foi de mais 5,08%. Estimativas in-dicam que os “preços ad-ministrados” repetirão a alta de 8% neste ano.

Itens, cuja redução significativa do consu-mo, na maioria dos ca-sos, é difícil, visto serem imprescindíveis, e com frequência determinam o corte de outros itens, até mesmo alimentação.

A maioria desses se-tores, regulados por ór-gãos do governo, foram transformados nos últi-mos anos em verdadeiras arapucas a serviços da privatização.

Nem todos os preços administrados são capta-dos por índices de preços. Os preços de cartório, por exemplo. Os preços dos produtos derivados de petróleo também são in-cluídos no grupo de preços administrados, mas atual-mente são determinados exclusivamente pela dire-toria da Petrobrás.

Há uma lógica ine-rente a essa realidade de aumentos dos “preços administrados” que es-tamos vivendo no Brasil. Eles estão sendo alinha-dos, ou foram, ao nível de permitir superlucros para os monopólios, que açambarcaram ou estão à espreita para tomar de assalto as estatais ou serviços públicos, nessas condições e em nenhuma outra.

A abordagem é clássi-ca: pirataria e pilhagem. Eufemisticamente ditas como privatizações ou as-semelhadas: Concessões, PPPs - parceiras público privadas, as O.S.s –“Orga-nizações Sociais” e por aí vai, a criatividade para o roubo não é pequena.

Uma variante impor-tante, no caso da Petro-brás, é, na impossibi-lidade de privatizá-la, submeter a empresa a políticas para beneficiar os pessimamente denomi-nados investidores.

J. AMARO

A política de atre-lamento de preços dos combustíveis aos níveis internacionais fez explodir o valor da gasolina na semana encerrada em 22/09, que atingiu R$ 4,652 o litro nos postos, em média, segundo levan-tamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio-combustíveis (ANP).

Foi a quarta se-mana consecutiva de aumento. A agência chegou a encontrar o litro da gasolina a incríveis R$ 6,290.

O preço do etanol vendido ao consumi-dor também encerrou a semana em alta, com uma média de R$ 2,831. Já o do diesel ficou praticamente estável, com o litro

custando R$ 3,640 nas bombas.

Segundo analistas, o atrelamento de pre-ços estabelecido pela administração entre-guista da Petrobrás, vinculada à variação do petróleo, pode au-mentar em mais 25% o valor do litro da ga-solina até o fim de 2018. Na última sema-na, o petróleo do tipo Brent passou a custar mais de US$ 80 o bar-ril, o maior valor nos últimos quatro anos.

A estimativa é de que o barril de petró-leo chegue a US$ 100 até o fim do ano, o que faria – em função do repasse automático – com que o litro do combustível alcanças-se, em média, cerca de R$ 5,80 o litro. Tarifas de insumos básicos sobem mais que

o dobro da inflação e comprometem renda

Com atual política de preços da Petrobrás, gasolina dispara

3POLÍTICA/ECONOMIA28 DE SETEMBRO A 2 OUTUBRO DE DE 2018 HP

Se eleito, Bolsonaro indicaque vai ser clone de Temer

“Posto Ipiranga” declarou que quer a continuidade do atual presidente do Banco Central de Temer, Ilan Goldfajn

João Goulart: ‘população cada vez mais pobre e os bancos cada vez mais ricos’

Candidato do PSL está se ajeitando com Temer, o mais impopular

Superintendente da PF de Minas rebate Jair Bolsonaro: “a PF merece respeito”

Fotos: Reprodução/Montagem

Candidato do Partido Pátria Livre

Mulheres preparam ato no sábado“PT criou Bolsonaro, essa aberração”, afirmou Ciro

Reprodução

Campanha de Bolsonaro frauda vídeos

“Os dados do Conselho Nacional de Eco-nomia, que acabo de receber, sobre a desi-gualdade social e a concentração de renda, são estarrecedores”, afirmou João Goulart Filho, candidato a presidente da República pelo Partido Pátria Livre (PPL). “É inviável que o país consiga se desenvolver e resolver seus problemas sociais quando os 5% mais ricos ficam com o mesmo que os demais 95% da população”, destacou o candidato.

Para João Goulart, “estes 5% de bilioná-rios não investem esses recursos concentra-dos em suas mãos em atividades produtivas ou na criação de empregos. Quem diz que isso vai acontecer está mentindo. Eles jo-gam na especulação financeira ou mandam o dinheiro para o exterior”. Para confirmar o que disse, Goulart citou dados oficiais, di-vulgados recentemente pelo Banco Central, dando conta que sessenta mil brasileiros têm R$ 2 trilhões aplicados no exterior. “Isso sem contar o que está ilegalmente lá fora”, lembrou o presidenciável.

“E o mais gritante”, observou João Gou-lart Filho, “é que no meio dessa crise toda, os bancos estão batendo recordes de lucro”. “Os quatro bancos privados que atuam no Brasil concentram 75% dos ativos do país e recebem os maiores juros do mundo”, denunciou. João Goulart lembrou que, “dados recentes revelam que os bancos que atuam no Brasil são até três vezes mais rentáveis do que grandes bancos americanos e europeus”. “O povo brasileiro está sendo escravizado pelo sistema financeiro”, completou o candidato.

Entre 140 países analisados no estudo, o Brasil é o décimo país mais desigual do mun-do, segundo Relatório de Desenvolvimento do PNUD. O país tem o 3º pior índice de Gini (indicador de desigualdade social) na América Latina e Caribe, atrás somente da Colômbia e de Honduras. João Goulart alerta que isso não é só “injusto e desumano”. “Esse quadro social’, diz ele, “estrangula o mercado interno e impede o desenvolvimento econô-mico do país”. “A miséria é tanta que não tem quem compre os produtos e as fábricas estão fechando suas portas”, alertou.

Segundo ainda o relatório, que o Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade Social está divulgando, 80% da população brasileira vive com uma renda per capita inferior a dois salários-mínimos mensais. Goulart chama a atenção para o fato de que “o salário mínimo brasileiro é um dos meno-res do mundo”.

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O superintendente da Polícia Federal de Minas Gerais, Rodrigo de Melo Teixeira, repreendeu o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) por suas críticas ao andamen-to das investigações feitas pelo delegado Rodrigo Morais, responsável pelo inquérito sobre o ataque que ele sofreu em Juiz de Fora. “O trabalho está sendo feito com toda a transparência. A família dele estava acompanhan-do tudo de perto”, disse o superintendente.

“A Polícia Federal vem fazendo um trabalho grandioso nas últimas dé-cadas e ela é maior do que qualquer cidadão. Seja esse cidadão candidato a algum cargo, ou não, e merece respeito”, disse o superintendente, segun-do Mônica Bergamo, da “Folha de S. Paulo”.

Bolsonaro andou acu-sando a PF de querer abafar o caso.

A Associação de Dele-gados da Polícia Federal

entrará na Justiça con-tra candidatos aliados de Bolsonaro (PSL) que divulgaram informações falsas e difamaram o de-legado Rodrigo Morais, que conduz o inquérito sobre o atentado contra o presidenciável.

Depois que a PF con-cluiu que Adélio Bispo dos Anjos, autor do atentado, agiu sozinho, pelo menos dois candidatos da coliga-ção de Bolsonaro (PSL e PRTB) compartilharam materiais que difamam o delegado da PF. As posta-gens vinculam o delegado a comentários que não foram feitos por ele, mas por um homônimo que atuou na Polícia Civil do Piauí e é vereador pelo PSDB.

Dois agentes da Polí-cia Federal que estavam na escolta de Bolsonaro quando ele foi esfaqueado foram vítimam de notí-cias falsa pela campanha do candidato do PSL. Uma junção de duas ima-gens apontava que um

homem de barba, vestido de preto e com óculos escuros próximo de Bolso-naro na hora do atentado era o mesmo que posava para um retrato do lado da candidata à vice-pre-sidente na chapa petista, Manuela D’Ávila (PC do B). Segundo a postagem, isso era um indício de que aquele era um criminoso infiltrado pelos partidos adversários.

E uma fotografia mos-trava um homem com o punho fechado tocando o candidato ferido. A legen-da criminosa dizia que essa pessoa havia dado um soco quase no local da facada.

Mas nos dois casos, os homens que aparecem nas imagens são agentes da Polícia Federal que participavam da escolta e que prestavam socorro ao candidato ferido. Eles fo-ram alvos de ameaças de apoiadores de Bolsonaro e a família de um deles foi ameaçada.

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Convocadas por um grupo criado no Face-book, o “Mulheres uni-das contra Bolsonaro”, milhares de mulheres irão às ruas neste sába-do, 29 de setembro, para protestar contra a trucu-lência e o reacionarismo do candidato do PSL. Estão previstos atos em 24 Estados e em outros dez países.

O eleitorado femini-no, que corresponde a 52% do total de eleitores brasileiros, se tornou um problema para Jair Bolso-naro. O índice de rejeição ao capitão da reserva entre as mulheres chegou a 54% na mais recente pesquisa do Ibope. Ou seja, praticamente meta-

de do eleitorado feminino não aceita votar nele de jeito nenhum. Entre os homens, seu índice de rejeição é de 37%.

O candidato já deu di-versas manifestações ma-chistas e misóginas. Em uma entrevista ao jornal “Zero Hora”, em 2014, disse que não achava in-justo uma mulher ganhar menos do que o homem para a mesma função, pois mulher engravida e tem licença materni-dade. É dele, também, a seguinte frase: “Eu tenho cinco filhos. Foram qua-tro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.

Criado no início do mês, o grupo “Mulheres

unidas contra Bolsonaro”, o principal desse movi-mento nas redes sociais, soma 3,2 milhões de par-ticipantes. De lá para cá, ganhou notoriedade pro-gressiva e chegou a ser hackeado no dia 16 – foi transformado em “Mu-lheres com Bolsonaro”. As manifestações deste final de semana também têm sido alvos de ameaças.

Mais de dez mulheres já passaram pela Delega-cia de Defesa da Mulher, em Ribeirão Preto, para denunciar que receberam ameaças por estarem na or-ganização ou confirmarem presença no protesto na cidade. O ato está previsto para as 11 horas, na Espla-nada do Theatro Pedro II.

Com poucos adeptos, a campanha de Bolsona-ro partiu para a fraude. Três vídeos lançados nas redes sociais que mostram multidões em supostos atos de apoio ao candidato em Campi-nas, Brasília e Ceará são falsos, segundo o projeto Comprova.

O primeiro, em Cam-pinas seria “em prol da

saúde” do candidato. Longe da verdade. Tra-tava-se de uma multi-dão no largo do Rosário, na cidade paulista, as-sistindo à transmissão de uma partida da Copa do Mundo.

O segundo, de uma caminhada na esplanada dos Ministérios, realiza-da no dia 05 de setembro de 2018, também é falso.

Segundo o Comprova, o vídeo era de 13 de março de 2016, durante ato pela saída de Dilma. O tercei-ro vídeo foi da 32º Moto Romaria, no dia 16 de setembro, entre Fortale-za e Canindé, no Ceará. A campanha disse que era uma carreata em favor do ex-capitão. Mentira. O Comprova mais uma vez derrubou a farsa.

O ministro Luís Ro-berto Barroso, do Su-premo Tribunal Federal (STF), divulgou nota na quarta-feira (26) ame-nizando as críticas que fez à corrupção instala-da no Brasil e à atuação de integrantes da Corte no julgamento de casos sobre o assunto.

Em entrevista ao jor-nal “Folha de S.Paulo”, o ministro disse que no Supremo “você tem gabinete distribuindo senha para soltar cor-rupto”. “Sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos”, afirmou.

Indagado sobre a qual gabinete se refe-ria, Roberto Barroso permaneceu em silêncio

e sorriu. Ele acrescen-tou apenas “que tem gabinetes”. “Quando a Justiça desvia dos amigos do poder, ela legitima o discurso de que as punições são uma perseguição”, com-pletou.

Os comentários, em alusão ao papel desem-penhado por outros ministros do tribunal em relação ao acober-tamento de casos rela-cionados à corrupção, fez com que o recém--empossado presidente do STF, ministro Dias Toffoli, entrasse em contato com Barroso através do telefone.

Após a conversa com o presidente do Supre-mo, ele decidiu divulgar

uma nota sobre o ocor-rido. O ministro explica que fez uma avaliação da corrupção no país.

“Em entrevista à jor-nalista Mônica Berga-mo, da Folha de S.Paulo, fiz uma análise severa da extensão e profun-didade da corrupção no Brasil e uma crítica à própria atuação do Su-premo Tribunal Federal na matéria. Todavia, o tom excessivamente áci-do que empreguei não corresponde à minha visão geral do Tribunal. Há posições divergentes em relação às diferentes questões e todas mere-cem respeito e conside-ração”, diz o texto.

Leia mais em www.horadopovo.org.br

Ministro Luís Barroso critica a corrupção

O candidato do PDT à presidência da Re-pública, Ciro Gomes, afirmou na quarta-feira (26) que, caso ganhe as eleições de outubro, buscará governar sem o PT. “Se eu puder gover-nar sem o PT, eu prefi-ro, porque o PT, nesse momento, representa uma coisa muito grave para o país”, disse.

No debate do UOL, em parceria com a “Folha de S.Paulo” e o SBT, o pedetista explicou que o PT “se transformou em uma estrutura de poder odienta que criou o Bolsonaro, essa aber-ração”. “Esse conflito entre os dois [entre PT e Bolsonaro] vai levar nosso país para o

fundo poço”, destacou.Ciro refutou ainda

a participação do MDB em um eventual gover-no. Segundo o presiden-ciável, em sua gestão o partido seria destruído pelos caminhos demo-cráticos.

Após a fala do pe-detista, Fernando Ha-ddad foi questionado sobre sua relação com o ex-presidente Lula e, na resposta, aprovei-tou para retrucar o que Ciro disse sobre o PT. “Acabo de ver o Ciro Gomes dizer que não pretende governar com o PT, mas há poucos me-ses, me convidava para vice-presidente de sua chapa e a chamava de ‘dream team’, ou time dos sonhos”, rebateu.

A candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, afir-mou na quarta-feira (26), durante o deba-te entre presidenci-áveis promovido por UOL, Folha e SBT, que o PT se juntou com Temer para le-var o Brasil para “o buraco”.

Ao responder per-gunta do petista Fer-nando Haddad, ela disse que não vai congelar gastos pú-blicos “como fez o governo do [Michel] Temer que foi colo-cado onde está pelo Partido dos Traba-lhadores junto com a Dilma [Rousseff] que o escolheu para ser vice [presidente]”. Temer foi vice de Dil-ma nos dois governos da petista.

O candidato do PT rebateu, alegando que foi a oposição

quem teria colocado Temer no governo com o impeachment da ex-presidente. Ao que Marina devol-veu: “É muito engra-çado, Haddad, você vir falar do Temer e do impeachment, quando você foi pe-dir a bênção para o [senador] Renan Calheiros (MDB), que também apoiou o impeachment. São dois pesos e duas medidas”.

“O PT faz o dis-curso dos trabalha-dores e leva o país ao buraco com o Te-mer”, disse Marina em debate. Antes do debate, a candidata da Rede reiterou que está sempre aberta a dialogar com quem não foi pego no “do-pping da corrupção” e disse acreditar que conseguirá chegar ao segundo turno.

Marina: “Temer foi colocado onde está pelo PT e Dilma”

D epois que o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, Mourão, e o seu guru

econômico, o mal afamado Pau-lo Guedes – tão mal afamado que até a maioria dos neolibe-rais quer estar longe dele – se reuniram com o “secretário de assuntos estratégicos” de Temer, agora foi a vez do Banco Central (BC).

Bolsonaro prometeu, se elei-to, manter o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, e, ainda por cima, dar-lhe um mandato de quatro anos – sem que ele tenha de concorrer a qualquer eleição para ficar quatro anos manipulando os juros e o câm-bio, somente dando satisfação aos bancos, fundos e outros rentistas.

Goldfajn, israelense de nasci-mento, nomeado por Temer de-pois de indicado por Meirelles, é sócio do Itaú Unibanco, do qual era “economista-chefe” até ir para o BC; antes, foi economista e consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Já o “secretário de assun-tos estratégicos” - um certo Hussein Kalout, professor da Universidade de Harvard - se-gundo disse Mourão “é uma pessoa inteligentíssima, muito preparado”, que poderá ser “incorporado” ao governo, se Bolsonaro vencer as eleições.

Dizem algumas fontes que o plano de Bolsonaro, se vencer as eleições, é chamar o Meirel-les. Afinal, pretende manter a equipe de Temer – isto é, a de Meirelles -, a começar pelo Banco Central...

Não se trata de mera blague, leitor. Quem quer continuar com a equipe de Temer é porque pretende fazer a mesma coisa que Temer.

Tanto isso é verdade que a equipe de Temer e a de Bolso-naro têm feito reuniões para im-plementar, depois das eleições, a “reforma da previdência”.

Existe, inclusive, um docu-mento de autoria de Guedes, explanando que, no início, a “reforma da Previdência” seria igual a que Temer não conse-guiu fazer (v. “Guru de Bolso-naro defende em documento reforma da Previdência de Temer”, O Globo, 27/09/2018).

Guedes, por sinal, negou que o documento fosse de sua autoria – o que, em se tratando de um mentiroso crônico, contumaz tra-paceiro do cassino financeiro, é a melhor confirmação de que foi ele o autor. Como se não bastasse essa prova, “O Globo” obteve a confir-mação de alguns outros assessores da campanha de Bolsonaro.

Porém, esse pessoal é muito precipitado. O afobado, já dizia o grande Moreira da Silva, come cru e bebe cerveja quente.

Bolsonaro não foi eleito - e, pela rejeição majoritária da população à pouco brilhante perspectiva que seria para o país, não é provável que seja. Mais de 70% do eleitorado – e deve ser mais, já que estamos nos baseando em pesquisas que não são muito científicas – não querem Bolsonaro como presidente.

Por várias razões.Sucintamente, como já dis-

semos aqui, o programa de Bolsonaro consiste em rasgar a Constituição – e, com ela, as conquistas do povo brasileiro, depois de 21 anos de luta contra a ditadura.

Não faltam declarações a esse respeito: seu programa político tem como conteúdo a restau-ração de uma ditadura que foi derrubada há 33 anos.

Mas para que restaurar uma ditadura que foi extremamente impopular em sua época?

Obviamente, para fazer coi-sas impopulares, para fazer coisas contra o povo e o país. Se não, para que essa malta iria querer uma ditadura?

Ou, em palavras mais pre-cisas: para fazer o que Temer não conseguiu, devido à resis-

tência do povo.Já apontamos, em outros

artigos, o extremo servilismo do programa econômico de Bolso-naro, uma espécie de continên-cia diante da bandeira dos EUA, do ponto de vista econômico.

Mas isso ainda parece abstra-to – ou algo vago - a pessoas até muito boas.

Portanto, o anúncio de que o grande plano de Bolsonaro para o BC e para a Previdência é con-tinuar a obra de Temer, tem o mérito de tornar concreto o que dissemos: é essa fossa, ainda mais funda e ainda maior, que Bolsonaro acha que é o melhor para o Brasil.

Alguns bolsonaristas, res-pondendo a esse fato – que o único plano de Bolsonaro é continuar Temer sob uma di-tadura -, têm dito que isso não é verdade, pois seu candidato pretende combater a corrupção.

Deve ser por isso que ele gos-tou tanto da equipe de Temer...

Mencionemos, apenas de pas-sagem, que Bolsonaro ficou 11 anos (2005-2016) no PP - par-tido tão corrupto que teve sua extinção pedida pela Procurado-ria da República – e exatamente no período em que esse partido se locupletava com as propinas do esquema desbaratado pela Lava Jato.

Pode ser que, durante esse tempo, Bolsonaro tenha sido a própria flor do lodo. Mas que ele gosta um bocado de lodo – a ponto de ficar nele durante 11 anos – lá isso é...

Porém, vamos a uma questão mais importante: o grande his-toriador brasileiro José Honório Rodrigues afirmou, em artigo publicado antes da derrubada da ditadura, que esta fora o re-gime mais corrupto da História do Brasil.

José Honório, falecido em 1987, não conheceu, evidente-mente, os governos Collor, Fer-nando Henrique, Lula, Dilma e Temer.

Mas o que ele disse – e, na época, era uma constatação quase banal – foi que até en-tão não houvera regime mais corrupto em nossa história, que a ditadura de 1964.

Existem várias testemunhas desse fato – e estamos nos re-ferindo somente àquelas que participaram, em 1964, do golpe de Estado, apoiando-o ou como participantes dele.

Uma delas foi o coronel Dickson Grael, autor de um livro intitulado, precisamen-te, “Aventura, Corrupção, Terrorismo: A Sombra da Impunidade” (Vozes, 1986).

O coronel Grael - pai dos velejadores olímpicos Lars, Axel e Torben Grael -, que ficou famoso por sua denúncia do “terrorismo de Estado” (sic), no caso do atentado à bomba no Riocentro (1981), apoiou o golpe em 1964 e a ditadura durante longos anos, até que sua vivência tomou contato com coisas que eram incompatíveis com seu caráter e moral.

Uma delas era a corrup-ção – e, pior que a corrupção, o abafamento, pela ditadura, dos casos de corrupção, sempre garantindo a impunidade dos corruptos.

Aliás, foi o próprio Ernesto Geisel que disse: “A ditadura é a corrupção generalizada e impune”.

Outro participante do golpe de 1964, general de quatro estrelas, Antônio Carlos de Andrada Serpa, disse, depois de romper com a ditadura: “Em 1964, nós seguramos a vaca para os americanos mamarem”.

Voltemos agora, ao momento atual.

Se a ditadura passada – que tinha gente muito melhor do que Bolsonaro, Mourão e Gue-des - já era essa mistura de corrupção, entreguismo, e, claro, repressão, imagine-se uma ditadura para continuar o governo Temer...

CARLOS LOPES

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 27 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2018

A Polícia Federal (PF) prendeu Pepe Richa, irmão do ex--governador do Paraná Beto Richa (PSDB), e mais 14 pes-

soas na 55ª fase da Operação Lava Jato, nesta quarta-feira (26), em cidades do Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo.

A ação foi batizada de Operação Integração II e investiga irregulari-dades nas rodovias privatizadas do Paraná. Além do irmão de Richa, Luiz Abi Antoun, primo do ex--governador tucano, também teve a prisão preventiva decretada, mas ele não foi detido porque viajou para o Líbano. O diretor da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) João Chiminazzo Neto foi alvo de uma ordem preven-tiva de prisão.

Segundo a Operação Lava Jato o ex-secretário de Infraestrutura e Lo-gística do Paraná José Richa Filho, o Pepe Richa, candidato a Deputado Federal nas eleições 2018, usou R$ 500 mil de propina para a aquisição de um terreno em Balneário Cam-boriú (SC). Segundo o Ministério Público Federal, a escritura foi subfa-turada e a diferença paga em espécie “por fora”.

“A utilização de dinheiro em espécie para pagar por imóveis que são registrados por um valor inferior ao negociado configura uma forma clássica de lavagem de dinheiro utilizando o mercado imobiliário, e já foi vista inclusive em outros casos na Operação Lava Jato”, aponta o procurador da Re-pública Diogo Castor de Mattos. Segundo a Lava Jato, autoridades do governo paranaense desde 1999 agiam em benefício dos consórcios que administram as rodovias priva-tizadas e exerciam influência política junto a órgãos técnicos. De acordo com o Ministério Público Federal, Beto Richa seria um dos beneficiá-rios finais do esquema, embora não seja alvo dessa investigação.

O MPF apontou que Beto Richa “teve papel central no esquema de obtenção de vantagens indevidas mediante favorecimento de conces-sionárias de pedágio, determinando os atos de ofício a serem praticados em favor de diversas empresas, sen-do que boa parte dos recursos indevi-damente arrecadados eram vertidos para suas campanhas políticas ou em seu benefício pessoal”.

Segundo as investigações, men-salmente, as seis concessionárias do Anel de Integração do Paraná (Eco-norte, Ecovia, Ecocataratas, Rodo-norte, Viapar e Caminhos do Paraná) rateavam um pagamento de R$ 120 mil em propina proporcionalmente ao faturamento de cada uma delas e que foi atualizado de acordo com os reajustes do pedágio, chegando a R$ 240 mil por mês. “Por volta de 2010, esse valor mensal de arrecadação es-tava próximo a R$ 240.000,00, sendo que houve reclamação das concessio-nárias a João Chiminazzo”, o opera-dor das concessionárias no esquema. Os pagamentos ocorreram até ja-neiro deste ano, segundo aponta a investigação. Os valores eram pagos a agentes públicos do DER--PR (Departamento de Estradas de Rodagem), subordinada à secretaria administrada por Pepe Richa, e, depois de 2011, a funcionários da Agepar (Agência Reguladora do Pa-raná), que controla serviços públicos concedidos.

Esses pagamentos eram efetua-dos em dinheiro vivo aconteciam na sede das concessionárias na ABCR (Associação Brasileira de Concessio-nária de Rodovias) a agentes do DER e da Agepar. “O dinheiro entregue em espécie pelas concessionárias era obtido mediante a produção de caixa dois por parte das empresas concessionárias; a produção de caixa dois ocorria ou por intermédio da celebração de contratos inteiramente fictícios ou através da celebração de contratos verdadeiros, mas com ‘valores inflados’”.

Segundo o MPF, Luiz Abi Antoun

recebia vantagens indevidas do DER e centralizava o “caixa ilícito” de Beto Richa. De acordo com o MPF, desde 1999, operadores financeiros que simulavam a prestação de servi-ços movimentaram ao menos R$ 130 milhões em faturamento de notas frias para concessionárias.

Segundo o procurador, a fraude em empresas de pedágio mostra “o impacto da corrupção na vida da população, com reflexos no frete de produtos que rodaram nas estradas paranaenses (e ficam mais caros nas prateleiras dos supermercados), nos acidentes causados em rodovias que deveriam ter sido duplicadas, assim como o valor adicional pago nas cancelas do pedágio por quase duas décadas”.

Abi Antoun, primo de Richa, já havia sido foi preso na Operação Rádio Patrulha, que investiga um programa de obras em estradas rurais no Paraná, e consta no rol de denunciados pelo Ministério Público do estado (MP-PR). Ele estava em liberdade por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribu-nal Federal (STF), que suspendeu as prisões decorrentes da investigação.

EX-GOVERNADORESO MPF diz que vai aprofundar

investigações nas gestões dos últi-mos três governadores do Paraná (Richa, Jaime Lerner [ex-PFL e atualmente sem partido] e Roberto Requião [MDB]).

Para o procurador Mattos, esse tipo de situação comprova o fato de a Lava Jato ser uma investigação apartidária. “Ultimamente, temos sido acusados de partidarismo, que-rendo dizer que estamos influencian-do os pleitos eleitorais. Temos ciência de que o último governador [Beto Richa] sabia e teria se beneficiado. Em relação a outros governos, a investigação deve ser aprofundada, porque geralmente esses esquemas se estendem da área técnica à polí-tica”, diz Mattos.

Requião, que disputa uma vaga ao Senado, afirmou que não houve menção ao nome dele no despacho do juiz e que os corruptos foram presos “antes tarde do que nunca”. “Re-quião vem denunciando a corrupção no pedágio desde que ele foi criado e tomou as medidas que poderia tomar. Foram movidas cerca de 40 ações judiciais que nunca foram acolhidas pelo Judiciário”, afirmou, por meio de nota enviada por sua assessoria. “Além disso, Requião nunca autorizou reajuste que as concessionárias pediram”, ressaltou.

Já o advogado de Lerner, Cid Campelo Filho, afirmou que os procuradores estão “buscando pelo em ovo, pois não houve corrupção na época do Jaime Lerner”.

Pepe Richa e Beto Richa já ha-viam sido presos no dia 11 pela Operação Radiopatrulha, do Mi-nistério Público do Paraná, que apura desvios de recursos públicos no Programa Patrulhas do Campo. Três dias depois, Pepe e Richa foram soltos por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta terça, 25, eles foram denunciados criminalmente pela Promotoria por corrupção e fraude a licitação.

O esquema revelado levanta sus-peita de que as descobertas relativas às concessionárias que operavam pedágios em rodovias federais no Paraná possam se estender a outros estados porque muitas das empresas citadas na operação têm atuação nacional.

“Embora Beto Richa e seu irmão tenham renunciado recentemente aos cargos que ocupavam junto ao Poder Executivo estadual, o fizeram para concorrer, respectivamente, aos cargos de Senador da República e de Deputado Federal, conforme declarações do colaborador Nelson Leal, as campanhas dos irmãos Richa ao Senado e à Câmara serão abastecidas com recursos do esque-ma ilícito aqui investigado”, conclui o despacho do MPF.

A advogada Valéria Lu-cia dos Santos, que foi alge-mada e arrastada para fora de uma audiência do 3º Juizado Especial Cível de Duque de Caxias, na bai-xada fluminense no último dia 10, fez uma declaração após a Comissão Judiciária dos Juizados Especiais (Co-jes) concluir que não houve ato ilícito e inocentar a ju-íza leiga Ethel Tavares de Vasconcelos e os policiais envolvidos no caso.

Na absurda conclusão do Cojes, a advogada Valéria Lucia dos Santos “se jogou no chão” e foi algemada para sua própria segurança.

De acordo com Valéria, Ainda segundo ela, “trata--se apenas de uma decisão administrativa. É a Justiça falando da própria Justiça. Estou muito tranquila sobre o que aconteceu na-quele dia. Vamos aguar-dar”, disse a advogada que afirmou que irá recorrer da

PR: Lava Jato prende irmão e primo do ex-governador Richa

Ibaneis Rocha dispara e empata com Eliana na corrida pelo governo do DF

Juíza leiga que mandou algemar advogada negra em audiência é inocentada por órgão do TJ-RJ

Operação Integração II investiga o esquema de corrupção na concessão de rodovias estaduais

Pesquisa eleitoral para o go-verno do Distrito Federal divul-gada na última terça-feira (25), mostra que o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) e candidato Ibaneis Rocha (MDB) chegou ao segun-do lugar da disputa, empatando tecnicamente com a líder, Eliana Pedrosa (Pros).

A pesquisa foi encomendada pelo Correio Brasiliense e realiza-da pelo Instituto Opinião Política, divulgada nesta terça-feira (25), e apresenta o primeiro levantamen-to num segundo turno envolven-do Ibaneis aparece. A sondagem aponta que o candidato do MDB fica à frente dos quatro principais concorrentes.

Depois de uma crescente pontuação nas primeiras pes-quisas, Eliana Pedrosa caiu no levantamento mais recente. A

Esquema da Família Richa e concessionárias movimentou R$ 130 milhões

“O governo Temer atua para garantir o monopólio pri-vado no fornecimento do me-dicamento sofosbuvir, pagando mais caro, contra o interesse da sociedade”, condenou o médico Jorge Venâncio, membro do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e coordenador (licen-ciado) da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Para Jorge que é candidato a deputado federal pelo Parti-do Pátria Livre (PPL), a moti-vação do governo, ao se colocar contra a pesquisa da Fiocruz--Farmanguinhos, é obscura. “Isso fere a população, o nosso desenvolvimento e a pesquisa,

Governo quer monopólio privado de medicamento contra hepatite C, critica Jorge Venâncio, da Conep

e só prejudica quem precisa desse medicamento com um preço baixo”, disse.

“O governo Temer vem com o propósito de favorecer as multinacionais, quando se sabe que existe uma alter-nativa muito mais em conta fabricada pela Fiocruz e já registrada pela Anvisa”, con-denou Jorge Venâncio.

A patente do medicamento sofosbuvir foi concedida pelo governo, por meio do Instituto Nacional de Propriedade Inte-lectual (Inpi), à multinacional norte-americana Gilead. Com essa decisão, os interesses e as finanças públicas serão

duramente prejudicadas e a Fiocruz-Farmanguinhos ficaria impedida de produzir o medicamento genérico, que já estava inclusive registrado pela Anvisa. Com a patente, o governo gastará R$ 1 bilhão a mais na aquisição do remédio.

No domingo (23), o juiz Rolando Valcir Spanholo, da 21ª Vara da Justiça Federal de Brasília, atendeu a um pedido liminar protocolado pela candidata à presidência Marina Silva (Rede) e seu vice, Eduardo Jorge (PV) e anulou a decisão do governo por ir contra os interesses do país.

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Rodrigo Leste

A TEIA DA ARANHA

DOURADA

Pasqualle deu um chá de cadeira de quase uma hora em Jane, Alfredo e Marco. Quando os recebeu estampou seu sorriso “comigo ninguém pode” e de maneira paternal colocou o assunto:

— Pra vocês, tudo é aventura, faz parte do processo, da idade, da falta de compromisso. Não vou dar uma de care-ta e ficar com papo moralista, mas desde o começo avisei que tudo tem limites. Fazer a cena, sentado numa privada, com a cueca samba-canção arriada, falando num celular, como estava no roteiro que recebi, é inadmissível, fora de questão. Vocês estavam de sacana-gem comigo, pô.

Jane não consegue se conter e solta uma gargalhada. Logo se desculpa, sob o olhar preocupado de Marco e Alfredo. Pasqualle sorri de maneira complacen-te, deixando entrever uma ponta de lascívia ao olhar para Jane.

— Vamos assistir de novo a cena? — propõe Alfredo.

Marco coloca seu notebook sobre um aparador e põe a sequência para rodar. Os quatro assistem de pé. Pasqualle não consegue segurar umas tantas risadas.

— Sensacional! — Alfredo comenta. — Não é por estar na sua presença, mas você conseguiu dar o tom exato que imaginei pro personagem.

— Gostei da cena, não há como negar — observa Pasqualle. — O texto é atual, inteligente, dez vezes melhor do que o lixo da televisão. É claro que o resultado, enquanto cinema, é amador, mas me parece que isso faz parte do charme da produção. Estou certo?

— É pobreza mesmo, Pasqualle — arremata Alfredo. — Estamos fazendo mágica, não temos um tostão furado pra pôr na parada, é tudo na brodagem, sabe como? Uns ajudando os outros e boa.

— Tostão furado... me fez lembrar do Dólar Furado, não é? Faroeste com o Clint Eastwood.

— Acho que o do Clint é Por Um Punhado de Dólares... — diz Marco.

— Guenta aí que eu vou dar uma googada e conferir — diz Jane, com o celular na mão.

— É, acho que você tem razão... — hesita Pasqualle, tentando se lembrar do nome do interlocutor.

—...Marco, Pasqualle. “Paçoca” para os íntimos — ri.

— Paçoca! Vocês têm cada uma! — exclama Pasqualle, bem humorado.

— Aqui ó — Jane mostra a tela do celular. — O Marco tem razão. Por Um Punhado de Dólares é com o Clint Eastwood. O Dólar Furado é o tal do “faroeste espaguete”, com o Giuliano Gemma.

— Muito bom — afirma Pasqualle. — Vocês são rápidos mesmo no gatilho, esse celular de vocês é a pistola do re-lâmpago, uma beleza.

— Tem uns “faroestes espaguetes”, sensacionais — diz Alfredo. — Pra mim o melhor é o do Sergio Leone, Era Uma Vez no Oeste, não é este o nome, Marco?

— Esse eu vi há muito tempo — lem-bra Pasqualle. — Excelente!

— Demais — emenda Marco. — Aliás, o Por Um Punhado de Dólares também é direção do Leone, a mesma linha do “faroeste espaguete”. Aliás, deve ter sido aí que o Clint Eastwood aprendeu a fazer faroeste.

— A gente poderia passar o dia aqui falando de cinema, ia ser uma beleza, mas a minha secretaria já enviou uma mensagem, estou atrasado dez minutos para a próxima reunião. Vamos marcar um jantar com toda a equipe, por minha conta, aí a gente pode falar à vontade.

Marco, Alfredo e Jane se entreolham. Começam a se levantar para sair.

— Bom, Pasqualle, foi um prazer. Mais uma vez obrigado por tudo — Alfredo estende a mão. — Mas... como ficamos? O filme, você sabe...

Pasqualle oferece a todos um sorriso sinistro.

— Como é para o bem do povo e felicidade geral da nação, diga ao povo que... topo! — Ah; e mais uma coisa: tô com vontade de convocar essa moça pra prestar uma assessoria aqui. Tenho muito que aprender com ela.

Fim do Episódio 3

No episódio 6, a equipe aborda as eleições presidenciais de 2014, o rom-pimento da barragem da Samarco, em Mariana, a impunidade que favorece os poderosos e o golpe, em 2016. Tra-tam da edição do filme e da reunião com Pasqualle.

Episódio 7

ex-deputada distrital, que tem como vice o ex-presidente da Câmara Legislativa Alírio Neto (PTB), registrou 12,1% das citações na primeira. Ela subiu para 19,1% na pesquisa seguin-te e, agora, caiu para 17,0%. Ibaneis Rocha, que largou com 1,4% das intenções de voto, saltou para 7,0% na pesquisa concluída em 11 de setembro e, hoje, aparece com 16,1%. O vice de Ibaneis é o presidente do Avante, Paco Brito.

O candidato e deputado fede-ral Alberto Fraga (DEM) mar-cou 8,4% na primeira pesquisa e saltou para 13,2% em 11 de setembro, quando foi realizada a segunda pesquisa. Nas últimas duas semanas, o desempenho do parlamentar estabilizou e, agora, ele aparece com 13,5% das inten-ções de voto.

Orçamento aprovado levará ciência brasileira à calamidade, alerta SPBC

Advogada foi presa durante audiência no Rio

A Proposta de Lei Or-çamentária (PLOA) para o ano de 2019 apresenta um estado de calamidade para o desenvolvimento tecnológi-co e científico do nosso país. Levantamento realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com base na lei orçamentária aprovada em agosto, detalha e analisa os cortes e contingenciamen-tos nas pastas relacionadas à ciência.

Para o Ministério da Ciência e Tecnologia, Ino-vações e Comunicações (MCTIC), a proposta de orçamento aponta um acréscimo de 20% nas ver-bas gerais. Entretanto, o percentual de aumento é irrelevante, quando com-parado com a previsão de contingenciamento de 19%. A reserva de contingência aumentou cerca de (45,5%), ficando em R$ 5,2 bilhões.

No Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq), houve redução de 13,78% nas verbas gerais do CNPq. Além disso, a dotação rela-cionada a bolsas de forma-ção, capacitação e expansão de pessoal qualificado em ciência, tecnologia e inova-ção, sofreu queda de 27%, em relação ao ano vigente.

São cerca de 100 mil bolsistas de Iniciação Científica, de Pós Graduação e de Pesquisa que serão diretamente afetados com os cortes.

Da mesma forma, no Fun-do Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológi-co (FNDCT), teve um acrés-cimo de arrecadação, porém, todo o ganho é perdido com o aumento da Reserva de Con-tingência, cuja previsão para o ano que vem é de R$ 3,4 bilhões (47% acima de 2018). Treze Centros de Tecnológi-cos (CTs) terão redução de recursos, chegando até 88% em relação ao ano atual.

Os recursos de fomento da Financiadora de Inovação e Pesquisa (FINEP) sofreram forte queda, de 89% na do-tação Investimento em Em-presas Inovadoras, de 20% na Equalização de Taxa de Juros em Financiamento à Inovação Tecnológica e de 29% na Subvenção Econômica a Projetos de Desenvolvimento Tecnológico. Ainda, a verba para Implantação do Reator Multipropósito Brasileiro (pro-jeto do PAC) teve corte de 86%.

MECO orçamento do Minis-

tério da Educação (MEC) manteve-se consistente, mas, no entanto, está previsto o contingenciamento de R$ 763 milhões. Os hospitais univer-

sitários também tiveram reduções de verbas, com destaque ao Hospital Uni-versitário da UFMS, que, na avaliação da SPBC “indica o provável fechamento da unidade”.

“Entre os hospitais uni-versitários, destaca-se a situação do Hospital Uni-versitário Maria Pedrossian (Unidade 26401 na PLOA 2019), que indica o prová-vel fechamento da unida-de. A previsão de recursos em 2019 é de apenas R$ 44.457,00 – em 2018 foi de R$ 454.960,00. O hospital é ligado à UFMS”, destaca a nota da SBPC.

EMBRAPANa Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), houve queda de 1% nas verbas para Pes-quisa e Desenvolvimento nas Organizações Sociais e de 17,51% em Transferência de Tecnologias Desenvolvidas para a Agropecuária. Houve também grande queda nos recursos para projetos, com corte de 86% da verba para Conclusão da Construção e Implantação do Centro de Pesquisa Embrapa Co-cais (CPACP) e de 84% na Construção, Equipamento e Implantação da Embrapa Quarentena Vegetal.

TIAGO CÉSAR

Ilustração: Eri Gomes

decisão. “Tive o direito da pessoa humana ferido na-quela audiência”, afirmou.

O desembargador do TJ-RJ inocentou a juíza leiga Ethel Tavares de Vas-concelos de ter praticado qualquer abuso de autori-dade ao pedir a prisão de Valéria dos Santos durante a audiência.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), Felipe Santa Cruz, o relatório que isen-

tou de culpa a juíza leiga Ethel Tavares de Vasconce-los e os policiais envolvidos no caso é uma “farsa”. Santa Cruz anunciou que a OAB irá ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o Tribunal de Justi-ça do Rio de Janeiro (TJRJ) pela condução do caso pelo órgão. Ainda segundo o presidente da OAB-RJ, o TJ, que deveria ter pedido o afastamento da juíza leiga após o episódio, está aco-bertando a conduta ilegal.

5GERAL28 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2018 HP

Associação dos Magistrados da Justiça alerta para a precarização do trabalhoe a ameaça aos concursos públicos

Justiça determina reintegração dos demitidos do grupo Abril

Anamatra estuda entrar com uma ação no STF contra o decreto

Sociedade civil se mobiliza contra venda da Fibria para a Suzano - 2 Decreto de Temer amplia prática

da terceirização no setor públicoContinuação da edição anterior

A mentira de Jair Bolsonaro

Trabalhadores não têm aumento real de salário pelo segundo mês consecutivo

Também o acordo entre a Embraer e a Boeing precisa de autorização federal, já que, com a pri-vatização da empresa em 1994, o governo passou a ter, por questões estratégicas e de segurança nacional, ações de caráter especial, chamadas de “golden share”, com direito a veto.

MINORITÁRIOS

A ação civil pública movida pelos parlamenta-res corre em paralelo à movimentação de minori-tários da Embraer, que entendem que a formação de uma joint venture se trata, na prática, de uma transferência de controle que demandaria a re-alização de uma Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) para todos os acionistas.

Os acionistas minoritários da Embraer, que entendem que serão prejudicados pelos negócios, já iniciaram a conversação com escritórios de advocacia para questionar os temos do acordo firmado entre as companhias.

Em 2006, uma história parecida aconteceu no acordo entre a Mittal e Arcelor. A Mittal, depois de muita disputa, teve que estender a oferta aos acionistas da controlada, a Arcelor Brasil. No caso, a Previ tomou posição publicamente e liderou os minoritários para exigirem a mesma metodologia de cálculo utilizada na aquisição do controle da Arcelor Europa pela Mittal Steel.

FIBRIA

Assim como os minoritários da Embraer, os acionistas da Fibria também prometem entrar na Justiça contra a venda da empresa. O Fundo de Investimento Versa já se manifestou contrário à fusão, argumentando que a combinação das ope-rações da Fibria e Suzano traz prejuízo e fere os interesses aos acionistas minoritários da Fibria. “A transação como anunciada trouxe prejuízo aos acionistas minoritários da Fibria. Somos contrários à operação nesses termos”, afirma a diretoria do fundo de investimentos.

Segundo o Versa, “somados a parcela em dinheiro e ações, o valor oferecido pela Suzano não chega a R$ 65/ação, abaixo do valor de mer-cado da Fibria (R$ 71,6/ação) e abaixo da oferta existente da Paper Excellence (R$ 71,5/ação). Se considerarmos que a fusão gerará os R$ 10 bilhões em sinergias, o valor total chega em R$ 68,2/ação.

“Acreditamos que a decisão pode até ser questio-nada nos tribunais de justiça, pois o Artigo 115 da Lei das Sociedades Anônimas diz: o acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros acionis-tas”, avalia a empresa de fundo de investimentos.

BNDES

Em 2017, o Conselho Administrativo de Recur-sos Fiscais (Carf) reconheceu que a fusão bilionária entre os frigoríficos Bertin e JBS, aprovada na época pelo Cade, foi fraudulenta. A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional pediu que a Justiça cancelasse a fusão, alegando fraudes fiscais e societárias. Também foi contestado o apoio do BNDES aos dois frigoríficos para a operação. O Tribunal de Contas da União (TCU) calculou em R$ 711,3 milhões o prejuízo que o BNDES teve com operações de compra de ações e debêntures (títulos de dívida) do grupo JBS. Os au-ditores chegam a afirmar que houve “cessão graciosa de dinheiro público” para a empresa.

Na compra da Fibria pela Suzano não foi diferen-te, com o BNDES tendo um papel preponderante nas negociações. A fusão entre as duas companhias foi aprovada pelo BNDES e coordenada pelo BNDES-PAR, banco de fomento que detém participação tanto na Suzano, quanto na Fibria. O banco aumentou a injeção de recursos no setor em 2009. Hoje, é o prin-cipal investidor em celulose no mundo.

HIDRELÉTRICA

O monopólio contribui para a formação de enclaves econômicos inexpugnáveis ao controle público, à lei e ao próprio Estado. Um exemplo disso é a questão ambiental.

A Suzano é, atualmente, a maior responsável pela poluição do rio Mucuri, situação que vem sendo denunciada há muitos anos pela imprensa e pela população que mora na região. As denúncias apontam que a empresa despeja matéria orgânica acima do que é permitido no rio, matando aos pou-cos aquele que é a fonte de renda para muita gente.

SONEGAÇÃO FISCAL

Além das questões ambientais, a Suzano terá de lidar com outras denúncias, dessa vez relativas à Fibria. Em 2016, produtores denunciaram que o estado da Bahia e os municípios do Extremo Sul poderiam estar deixando de arrecadar milhões de dólares anualmente em impostos pagos pelas expor-tações de celulose, que é uma commodity – produto primário com cotação internacional. O motivo é a diferença entre os valores por metro cúbico do euca-lipto pagos pela Fibria na Bahia e em outros estados onde a empresa atua, entre eles o Espírito Santo, e em outros países. A empresa mantém uma fábrica no município capixaba de Aracruz, mas grande parte da madeira é oriunda de plantações no estado da Bahia.

Ainda conforme a denúncia, a medição dos caminhões de madeira que passam no Posto Fiscal do Estado da Bahia é feita precariamente. Com isso, os dados estatísticos “aumentam” a produ-ção de metros cúbicos por hectare no Estado do Espírito Santo e “diminuem” a produtividade na Bahia. Segundo estimativa do Index (Instituto de Desenvolvimento do Extremo Sul), os prejuí-zos anuais com a suposta sonegação de impostos chegam a 70 milhões de dólares na Bahia.

PROPINA

Os prejuízos desse valor subfaturado da pauta estão sob suspeita e envolvem uma suposta propina a funcionários públicos do Estado da Bahia.

A sonegação afeta diretamente a população do Extremo Sul baiano, onde a Fibria mantém extensas áreas com plantação de eucalipto. Esses municípios dependem fortemente dos impostos gerados pela indústria de celulose, e o rebai-xamento no preço pago pela commodity causa empobrecimento econômico à região.

Esse não é o único caso suspeito de sonegação fis-cal envolvendo a Fibria. Em 2015, a gigante do setor de celulose entrou na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa destina-da à apuração de sonegação fiscal no Espírito Santo.

(Opovonews, 07/08/2018)

O capitão da reserva, Jair Bolsonaro, em plena atuação política

Jair Bolsonaro quer vender a ideia de que é contra tudo o que está aí. Isso não é verdade, como veremos trata-se de mera pose, aliada a certo marke-ting de impacto, para ten-tar confundir o eleitor. Ele diz que não entende nada de economia, razão pelo qual repassou a responsa-bilidade a Paulo Guedes, um banqueiro de má fama, sócio-fundador do BTG Pactual, o banco que mais cresceu sob os governos petistas, sem ter sequer uma agência de rua.

Os governos Lula-Mei-relles, Dilma-Levy e Te-mer-Meirelles, através dos maiores juros reais do planeta, estabelecidos por estes mesmos governos, repassaram mais de R$ 4 trilhões em verbas públi-cas a banqueiros interna-cionais, principalmente norte-americanos, e, afora os fundos e rentistas, a bancos instalados no país, prioritariamente quatro, Itaú-Unibanco, Bradesco, Santander e o referido BTG Pactual.

Este mesmo BTG Pac-tual, que hoje paga pesqui-sas eleitorais, foi o maior sócio da empresa Sete Brasil, arapuca criada pelo PT e seus aliados com o único objetivo de fraudar a Petrobrás, através da intermediação da compra de sondas de petróleo, para angariar bilhões de reais em propinas. Um dos cor-ruptos envolvidos, Pedro Barusco, operador do PT já condenado pela Lava Jato, devolveu sozinho à Justiça U$ 100 milhões roubados (R$ 409 milhões ao câmbio de hoje). Não por aca-

so, o BTG Pactual figurou como o maior contribuinte monetário da reeleição da presidente Rousseff.

É verdade que Paulo Guedes se desligou do BTG Pactual, mas só para fundar o Instituto Millennium, que defende os interesses de todos os bancos. Como ban-queiro-economista de Bol-sonaro, faz reunião atrás de reunião com os represen-tantes de bancos e financei-ras para vender o seu peixe. Levou o próprio Bolsonaro a um encontro com a direção do BTG Pactual para afinar suas propostas com as dos agiotas.

O plano de governo de Bolsonaro-Guedes, defen-sor do ajuste fiscal, das privatizações, da reforma da previdência, resume-se a vender a Pátria e esfolar o povo brasileiro para re-passar tudo aos bancos. No que isso difere da prática dos governos do PSDB, do PT e do PMDB?

O governo FHC vendeu a Vale do Rio do Doce e as siderúrgicas estatais, mentindo que assim iria livrar o país da dívida pú-blica, enquanto repassava o resultado em juros para a banqueirada e os rentistas, e a dívida só fez aumentar. O governo Lula-Meirelles manteve os leilões de poços de petróleo às múltis petro-leiras, instituídos por FHC, e repassou R$ 1,247 trilhão aos bancos e rentistas. O governo Dilma entregou a maior bacia de petróleo do mundo, a do pré-sal de Libra, descoberta pela Pe-trobrás, para a Shell, Total e duas chinesas, além de privatizar e desnacionalizar aeroportos, hidroelétricas

e portos, e repassou R$ 1,770 trilhão em juros para os amigos banquei-ros e rentistas. O gover-no Temer, escancarada a porteira, continuou com a entrega do pré-sal às mul-tinacionais e está batendo no R$ 1 trilhão em juros entregue aos bancos e ren-tistas. Tudo isso, aliado a outras medidas do gênero entreguista, botou o país na lona, quebrou a eco-nomia e fez o desemprego explodir.

Mas então, o que propõe Bolsonaro, algo diferente? Que nada!

O programa de governo, as falas do candidato e do seu banqueiro-economista mostram que Bolsonaro, apesar de toda gritaria e encenação, quer mesmo é continuar o que teve de ruim nos governos ante-riores e ainda fazer muito pior, pois tem defendido vender todas as estatais e a Petrobrás completa ao capital estrangeiro, para repassar o resultado aos banqueiros através de juros. Na mesma linha sui-cida, Bolsonaro defendeu entregar a Amazônia às empresas norte-america-nas e já bateu continência à bandeira dos Estados Unidos. Assim, não só contraria, mas agride o es-pírito patriótico e soberano da nacionalidade, a razão de ser das nossas Forças Armadas.

Ou seja, Bolsonaro e o programa de governo que defende chega a ser pior do que os piores traidores já fizeram contra o país, ombreando com Silvério dos Reis.

SIDNEI SCHNEIDER

Pelo segundo mês con-secutivo os trabalhadores não têm aumento real de salário. O reajuste mediano em agosto foi de 3,6%, igua-lando ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses, em negociações co-letivas. Os dados são do Salariômetro da Fundação Instituto de pesquisas Eco-nômicas (FIPE).

Isso significa que metade (50%) dos salários perdeu poder de compra. O Professor da Faculdade de Economia

e Administração da UPS (FEA-USP) e coordenador do Salariômetro, Hélio Zylbers-tajn, explica que "o último aumento real foi em junho. A partir daí, a inflação deu um salto e, como a crise continua as empresas não conseguem absorver esse aumento nos custos e fica difícil para elas dar aumento real".

Até agosto os acordos e convenções somavam 15.074, 30% abaixo do nível de 2017. Essa diferença, no entanto, já chegou a superar 70%, no acumulado

até maio, fruto da reforma trabalhista, onde as nego-ciações estão mais difíceis e o patronal pressiona para retirar avanços conquista-dos em acordos anteriores.

O reajuste é a cláusu-la mais debatida no ano até agosto, representando 53,4% das negociações, e do piso salarial (48,9% das negociações), a pesquisa mostra o peso de articu-lações pela contribuição a sindicatos de trabalhadores: representaram 40,7% do to-tal das negociações no ano.

A Associação Na-cional dos Magis-trados da Justiça do Trabalho (Ana-

matra) alerta, em nota emitida no dia 26, que o decreto de Temer, que “abriu caminho para que as mais usuais práticas de terceirização possam virtualmente se dar em qualquer setor ou órgão dos serviços públicos fede-rais”. Segundo a entidade, o decreto “é uma ameaça à profissionalização do ser-viço público”. O decreto nº 9.507/2018 foi editado por Temer e publicado no Diário Oficial da União no último dia 24, e entrará em vigor em 120 dias.

A Anamatra explica que o decreto, além de ameaçar a profissionalização do serviço público, também ameaça a qualidade desses serviços, esgarça o patri-mônio jurídico conquis-tado por seus servidores e compromete a própria impessoalidade adminis-trativa que deve reger a gestão da coisa pública. O decreto viola “o teor do art. 37, II, da Constituição Federal, quando vincula expressa e rigorosamente a investidura em cargos, funções ou empregos pú-blicos à prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títu-los...”, diz a nota assinada pelo presidente da entida-de, Guilherme Guimarães Feliciano.

A entidade afirmou que estuda a possibilidade de entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto que implanta regras da reforma da trabalhista nas empresas públicas e socie-dades de economia mista controladas pela União.

Ainda de acordo com a nota, diferente do decreto n. 2.272/1997, a norma edi-tada por Temer, já não se atém textualmente às ati-vidades de assessoramento e apoio administrativo, como conservação, limpe-za, segurança, vigilância, transportes, informáti-ca, copeiragem, recepção, reprografia, telecomuni-cações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações. “O decreto vai muito disto. Temer está pondo em prática na esfera pública a reforma traba-lhista, lei n. 13.467/2018, que consumou nas rela-

ções de emprego em geral, a utilização indiscriminada de quadros terceirizados em quaisquer atividades do tomador de serviço e in-clusive em suas atividades principais”.

A associação dos magis-trados trabalhistas reite-rou o seu posicionamento institucional, deliberado no 19º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, na cidade de Belo Horizonte (MG). Se-gundo a entidade, a Lei n. 6.019/1974, alterada pela reforma trabalhista, “no que tange à prestação de serviços a terceiros, não se aplica à administração pública direta, em razão do disposto no art. 37, caput e incisos I e II da Consti-tuição da República”. E para a Anamatra, mesmo com “a recente decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito da ADPF n. 324, ao reputar lícita a terceiri-zação das chamadas “ati-vidades-fim”, certamente não sufraga o descarte do conjunto de princípios constitucionais que regem a Administração Pública; tampouco poderá ser pre-texto para a fraude, para a precarização ou para a quebra da isonomia consti-tucio--nal, notadamente no marco do serviço público federal”.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Au-ditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Silva, “o governo toma o caminho contrário do que é reivin-dicado pelo conjunto do movimento sindical no setor público. O pedido geral é para que sejam realizados concursos pú-blicos e que as carreiras sejam estruturadas. Já existe muita terceirização nos órgãos públicos. O Mi-nistério do Trabalho é um exemplo. Toda a área ad-ministrativa convive com os trabalhadores terceiri-zados há bastante tempo. Já há mais trabalhadores terceirizados do que servi-dores concursados, o que causa grandes transtornos e constrangimentos. Ao in-vés de corrigir a situação, que é considerada pelos servidores públicos um problema, a administração opta por torná-la a regra. Regulariza o que é irregu-lar. Legaliza o que é ilegal” denunciou Carlos.

ANTÔNIO ROSA

A Justiça do Trabalho de São Paulo determinou a reintegração dos trabalha-dores demitidos do grupo Abril, desde dezembro de 2017. A decisão é resultado de uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Trabalho após a demissão de 800 traba-lhadores no dia 8 de agosto deste ano. A decisão foi anunciada pelos trabalha-dores na Audiência Públi-ca realizada na terça (25), na Assembleia Legislativa de São Paulo.

O juiz Eduardo José Ma-tiota, da 61ª Vara do Traba-lho de São Paulo, declarou “procedente o pedido para a nulidade das demissões efe-tivadas a partir de dezem-bro de 2017, determinando imediata reintegração dos trabalhadores dispensa-dos, com pagamento da remuneração devida desde a dispensa até a efetiva reintegração, sob pena de multa diária de R$ 100 por empregado dispensado”.

A determinação diz ain-da que “a empresa será multada em mais R$ 10 mil a cada nova demissão

e, por fim, terá de arcar com uma indenização de R$ 500 mil, corresponden-te a danos morais difusos, a ser revertida para o Fundo de Amparo ao Tra-balhador (FAT).”

A Abril, que está em recuperação judicial - me-dida jurídica utilizada para evitar a falência de empre-sas, prevista na lei de fa-lências ( Lei 11.101/2005) – nem sequer havia pago as verbas rescisórias dos 800 trabalhadores demitidos em agosto.

A audiência pública da terça feira (25) foi con-vocada pelo deputados estadual, Carlos Gianazzi (PSOL), que convidou os trabalhadores e a edi-tora, porém essa última não esteve presente para tentar justificar o calo-te. “Com uma fortuna pessoal de mais de R$ 10 bilhões, os donos da Abril demitiram em massa e não pagaram um centavo. Estamos mobilizados ao lado dos trabalhadores para juntos tomarmos providências contra este crime”, disse o deputado.

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INTERNACIONAL 28 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2018HP6

Rússia anuncia que equipará Síria com os sistemas de defesa S-300 Em meio à greve, presidente do Banco

Central da Argentina renuncia ao cargo

Colômbia: procurador geral oculta bens e fundos em bilhões de euros na Espanha

Obrador promete a pais de 43 desaparecidos empenho para encontrar os autores do crime

Na noite de Nova Iorque, Macri exalta sua “grande relação” com a chefe do FMI

Info

bae

Argentina para contra o arrocho e a submissão de Macri ao FMI

“No meu governo a Inglaterra reconhecerá o Estado Palestino”, afirma Jeremy Corbyn

GONZALO GUILLÉN*

Milhões atenderam ao chamado das centrais sindicais argentinas, cruzando os braços em rechaço a destruição do país, com cortes nos investimentos, nos salários e demissões em massa. Com a economia no fundo do poço, Macri troca soberania por um punhado de dólares

Violência provocou mais de 500 mortes e feriu 4 mil na Nicarágua desde o início dos atos pela saída de Ortega

O Procurador Geral da Colômbia, Néstor Hum-berto Martínez Neira, esconde ativos e fundos na Espanha sob a fachada de uma empresa paname-nha que possui com a família. Chama-se Amanda Advisors S.A,, da qual detém cem por cento das ações, todas ao portador, pelo que o seu nome não aparece nelas, nem foi declarado ao fisco.

Os bens até agora descobertos são um luxuoso apartamento em Madri, avaliado em cerca de três milhões de euros, bem como fundos bancários no Banco de Santander, recebidos por meio de transferências supostamente de paraísos fiscais, revelaram fontes judiciais espanholas.

Martínez Neira adquiriu no Panamá a empre-sa de fachada Amanda Advisors SA, criada em outubro de 2007 pelo escritório de advocacia da Cidade de Panamá Rosas & Rosas, cuja atividade é semelhante à da Mossack Fonseca, famosa desde quando seu gigantesco banco de dados e ativida-des foi tornado público através de vazamentos que chegaram à Rede de Jornalismo de Pesquisa Estruturada e pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. A partir dela, mais de cem meios de comunicação publicaram centenas de artigos apoiados em vários milhões de docu-mentos sobre o funcionamento da empresa entre os anos 1970 e 2015. Isso desencadeou o escândalo mundial - ainda em efervescência - conhecido como “Panamá Papers”. Amanda Advisors S.A. não foi registrada nas Câmaras de Comércio da Colômbia.

Rosas & Rosas foi acusada judicialmente por lavar dinheiro da construtora Odebrecht para pa-gar propinas ao redor do mundo, como revelarei em um relatório que será publicado logo .

Empresa do promotor colombiano, a Amanda Advisors S.A está registrada no Décimo Cartório de Notas da Cidade do Panamá por Eliseo de León e Elisa Edghill. Seus diretores são três empresas das Ilhas Virgens Britânicas: Fairfax Invest Corp, Pointview Financial Limited e Ultra Mega Deve-lopment S.A. (Esses três últimos têm o mesmo endereço nas Ilhas Virgens).

O supracitado Ultra Mega Development S.A foi substituída na direção da firma do promotor Martínez Neira pela HBM B.V.I LTDA, represen-tada por Rosas & Rosas Abogados.

Eliseo de León, Elisa Edghill e as três empre-sas das Ilhas Virgens Britânicas também apare-cem nos documentos da fundação, assim como a existência da firma Winter Blue S.A. (criado por Rosas & Rosas). A respeito disso, uma investiga-ção do jornal argentino Clarín constatou que seu dono é o ex-chefe da Alfândega de Buenos Aires, Eduardo Bernardi, e a utilizou para esconder das autoridades tributárias ao menos meio milhão de dólares. Bernardi foi julgado e condenado pela justiça argentina sob a acusação criminal de lavagem de dinheiro.

Elisa Edghill, que aparece nas empresas do argentino e na do procurador geral colombiano, aparece na mesma posição em outras 5.308 em-presas panamenhas e 4.845 direções de empresas fundadas no Panamá. Algo semelhante acontece com Eliseo de León.

A Rosas & Rosas e suas três empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas (registradas como diretores da empresa da promotora Martínez Neira) aparecem em um escândalo de lavagem de ativos e evasão que eclodiu na Grã-Bretanha, cujo principal executivo é o empresário Derek James Tiney, que recebeu, aparentemente, dinheiro lavado da Odebrechet.

Quanto à firma offshore do procurador Geral da Colômbia, Amanda Advisors S.A, foi registrada na Cidade do Panamá com um capital social de US$ 10 mil, dividido em 10 mil ações comuns ao portador, todas com direitos e privilégios iguais. Cada um vale um dólar. Com essa estrutura, o dono dos ativos da empresa é aquele que possui suas ações ao portador (no caso, Martínez Neira e sua família), o que impede que apareçam em seu próprio nome.

Especialistas explicaram que Martínez Neira e sua família se enquadram no conceito legal de "beneficiário real", desenvolvido pela organiza-ção não-governamental alemã Transparency International, dedicada à promoção de medidas contra crimes corporativos e corrupção política em âmbito internacional.

Offshore é o termo usado no mundo das fi-nanças e da lei para descrever paraísos fiscais ou “refúgios fiscais”. Eles são usados para evitar o pagamento de impostos, bem como para usufruir do sigilo bancário para evadir e evitar impostos e para lavar e esconder capital.

É impressionante que o capital autorizado da Amanda Advisors S.A. - e firma offshore do pro-motor Martínez Neira – seja de US$ 10 mil e, ao mesmo tempo, essa empresa possua na Espanha um bem estimado em cerca de três milhões de euros, mais fundos para um valor não especificado.

* Guillén, periodista e investigador colombiano, teve este artigo originalmente publicado

pelo jornal La Nueva Prensa

O mais recente levan-tamento da Associação Nicaraguense Pró-Direi-tos Humanos (ANPDH) aponta que, em apenas 158 dias, a violência do governo de Daniel Or-tega e Rosário Murillo contra as manifesta-ções pela democracia já deixou mais de 500 pes-soas mortas e de 4.000 feridas.

Conforme o Informe Preliminar de Cidadãos Nicaraguenses Mortos em Protesto Cívico como um Direito Humano, de 19 de abril a 23 de setembro, o banho de sangue inundou o país. Os protestos iniciaram contra o anúncio de reforma da previdên-cia – que penalizava os mais pobres - e, diante da brutalidade da re-pressão, que violentou sucessivos direitos e garantias constitucio-nais, passou a exigir a saída do presidente e de sua esposa e vice-presi-

dente.Em processo de monito-

ramento e investigação -, o informe divulgado pelo renomado escritor e sa-cerdote Ernesto Cardenal, ex-ministro da Cultura durante a revolução san-dinista - contabiliza 512 assassinatos e denuncia que os hospitais públicos foram impedidos de pres-tar socorro às vítimas. “São aproximadamente 4.062 feridos entre graves, menos graves e leves, sem acesso a receber atenção médica oportuna do sis-tema de saúde pública. O número de lesionados com dano permanente é de 103 cidadãos”, descreve a organização de direitos humanos.

SEQUESTROSO documento também

denuncia que 1.428 pesso-as foram “seqüestradas/desaparecidas por grupos armados não autorizados (paramilitares)”. “Des-tes, apareceram 123 cida-dãos por gestão da ANP-

DH e da Igreja católica e dois foram liberados em outras condições dian-te da Polícia Nacional, que denunciaram haver brutalmente tortura-dos. Estão pendentes de ser localizados 1.303 cidadãos com detenção ilegal e alguns desapa-recidos”, acrescenta a organização.

De acordo com o infor-me, 472 pessoas foram liberadas pela Polícia Nacional da Nicarágua por gestão da ANPDH e da Igreja Católica, que ao mesmo tempo consegui-ram que os manifestantes liberassem 20 policiais.

A organização de di-reitos humanos conclui o informe alertando que o conjunto da população nicaraguense está sendo alvo do “assédio policial ou de organismos de segurança em conjunto de grupos paramilitares armados - e de choques - motivados por um fa-natismo partidário à margem da lei”.

O mais recente levan-tamento da Associação Ni-caraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) aponta que, em apenas 158 dias, a violência do governo de Daniel Ortega e Rosário Murillo contra as manifes-tações pela democracia já deixou mais de 500 pessoas mortas e de 4.000 feridas.

Conforme o Informe Pre-liminar de Cidadãos Nicara-guenses Mortos em Protesto Cívico como um Direito Humano, de 19 de abril a 23 de setembro, o banho de sangue inundou o país. Os protestos iniciaram contra o anúncio de reforma da previdência – que penaliza-va os mais pobres - e, diante da brutalidade da repressão, que violentou sucessivos direitos e garantias consti-tucionais, passou a exigir a saída do presidente e de sua esposa e vice-presidente.

Em processo de monito-

ramento e investigação -, o informe divulgado pelo re-nomado escritor e sacerdote Ernesto Cardenal, ex-minis-tro da Cultura durante a revolução sandinista - con-tabiliza 512 assassinatos e denuncia que os hospitais públicos foram impedidos de prestar socorro às vítimas. “São aproximadamente 4.062 feridos entre graves, menos graves e leves, sem acesso a receber atenção médica oportuna do sistema de saúde pública. O número de lesionados com dano per-manente é de 103 cidadãos”, descreve a organização de direitos humanos.

O documento também denuncia que 1.428 pesso-as foram “seqüestradas/desaparecidas por grupos armados não autorizados (paramilitares)”. “Destes, apareceram 123 cidadãos por gestão da ANPDH e da Igreja católica e dois

foram liberados em outras condições diante da Polícia Nacional, que denunciaram haver brutalmente tortura-dos. Estão pendentes de ser localizados 1.303 cidadãos com detenção ilegal e alguns desaparecidos”, acrescenta a organização.

De acordo com o informe, 472 pessoas foram liberadas pela Polícia Nacional da Ni-carágua por gestão da ANP-DH e da Igreja Católica, que ao mesmo tempo consegui-ram que os manifestantes liberassem 20 policiais.

A organização de di-reitos humanos conclui o informe alertando que o conjunto da população ni-caraguense está sendo alvo do “assédio policial ou de organismos de segurança em conjunto de grupos paramilitares armados - e de choques - motivados por um fanatismo partidário à margem da lei”.

A Argentina parou na terça-feira, 25, na mais massiva e contundente das

quatro greves gerais já ocorridas desde a posse de Macri. As reivindicações de milhões de trabalhadores que atenderam ao chamado da Confederação Geral do Trabalho, CGT, das duas CTA's, a dos Trabalhadores e a Autônoma, e dos movi-mentos sociais incluem a reabertura das negociações coletivas para barrar a que-da desabalada dos salários, o fim das demissões e a declaração da emergência alimentar, entre outras ações para debelar a crise econômica que se acirrou nos últimos meses.

Os dirigentes sindicais presentes mostraram a gravidade da situação do país, lembrando o aumen-to constante da pobreza, a inflação que disparou destruindo o salário e o consumo interno, a es-peculação financeira, a devastação da indústria e das empresas, o corte de impostos para os setores mais ricos e o incremento das taxas aos trabalhado-res, os dos 'tarifaços' que elevaram excessivamente as contas de luz, água e gás cortando ainda mais o poder aquisitivo da popu-lação, além do total desco-nhecimento do Congresso, impondo as medidas por decreto.

PAÍS ASSALTADOOs líderes dos trabalha-

dores denunciaram tam-bém a abdicação da sobe-rania em favor do Fundo Monetário Internacional, FMI, e de outros organis-mos financeiros externos; a entrega se setores do território e um perigoso início de ocupação militar estrangeira. "É a radiogra-fia de um país assaltado", afirmou o dirigente da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky, em coletiva de imprensa, no Sindicato dos Caminhoneiros. “O FMI vinha pedindo um sinal de apoio à política de ajuste e o sinal é muito forte: hoje não teve uma só atividade no país”, acrescentou.

Enquanto o país re-pudiava o governo como há tempos não se via, e manifestações que, como a de segunda-feira, 24, continuavam em pro-víncias como Mendoza e Santa Fé, Macri dançava na noite de Nova Ior-que, logo após participar da Assembleia Geral da ONU. Ao jantar com a chefe do FMI, Christine Lagarde, com quem disse que começou "uma grande relação" nos últimos me-ses, declarou que espera que todos os argentinos se "apaixonem" por ela.

O secretário adjunto do Sindicato dos Caminho-neiros, Pablo Moyano, dis-se que “aquilo que dá mais raiva é ver Macri dançan-do com seus mandantes: quando há uma greve na-cional ele responde dan-çando com o FMI”. Frisou que estava claro para quem quiser entender que a greve geral não era só contra Macri, mas contra o Fundo Monetário, e com tudo isso ficou claro quem está mandando no país. Acrescentou que lamen-tavelmente a entrega de nossa soberania vai ser paga pelas gerações pre-sentes e futuras, porque vão a hipotecar o país.

INSUSTENTÁVEL

Héctor Daer, um dos membros do triunvirato da CGT, declarou que a greve teve como objetivo "uma mudança de rumo urgente" por parte do governo. "E se não mu-dam teremos que seguir adiante com a luta. E, com certeza, a principal saída disto é política porque há que buscar uma alter-nativa para as eleições e depois governar com um acordo entre os setores que pensam a Argentina e sair desse quadro insus-tentável em que vão nos deixar", assegurou .

As duas CTA's, a CGT e a Frente Sindical para o Modelo Nacional (FSMN) realizaram um “balanço altamente positivo” da pa-ralisação nacional e con-cordaram em assinalar a contundência da “medida de força”. Manifestaram ainda satisfação com "a organização, unidade e espírito de superação das diferenças que existem no movimento".

Desde as 0 horas da terça-feira, 25, o trans-porte público e privado de passageiros parou, assim como o transporte de mercadorias, o atendi-mento em dependências públicas, as aulas nas escolas e universidades, a abertura de lojas e a ativi-dade dos bancos. Também não houve coleta de lixo, nem fornecimento de combustíveis.

Além disso, a colocação de Macri na ONU foi repu-diada, ao ser considerada como o discurso de um presidente que diz aquilo que os Estados Unidos querem ouvir. Não fez ne-nhuma referencia à crise de seu país, não tocou na renúncia do presidente do Banco Central, Luis Caputo, mas criticou a Venezuela, e anunciou que seu país vai denun-ciar o governo de Nicolás Maduro na Corte Penal Internacional.

SUSANA LISCHINSKY

O presidente do Banco Central da Argentina, Luis Caputo, renunciou ao cargo na terça-feira (25), citando motivos pessoais, mas foi no mesmo dia em que acon-teceu no país uma greve geral e em que Maurício Macri, e o seu ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, estavam em Nova York, de pires na mão, por um novo adiantamento de emprésti-mo com o Fundo Monetário Internacional, FMI.

Caputo atuou com Ma-cri desde que este chegou à presidência do país em dezembro de 2015. Ocupou o cargo de Secretário de Finanças, depois, ministro da área, e estava na pre-sidência do BC há pouco mais de 3 meses.

O site argentino Âmbito Financeiro assinalou que o funcionário defendia a intervenção no mercado cambial com o objetivo de conter a alta do preço do dólar. Teria se chocado com a imposição de Christine Lagarde de que a moeda norte-americana "flutue livremente". Nem tudo, porém, foi divergência. Durante sua passagem no comando do BC, a taxa de juros básicos do país foi elevada de 40% para 60% ao ano.

O peso despencou mais de 4%, em relação ao dólar, após a renúncia de Caputo. Guido Sandleris, o número 2 do Ministério da Fazen-da, assume a Presidência do Banco Central.

O l íder do Labour (partido trabalhista in-glês), Jeremy Corbyn, discursou para um au-ditório lotado durante a Conferência do partido e deu dura resposta a acusações de antissemi-tismo que partem de lo-bbies pró-isralenses, em especial os incrustados entre os conservadores do partido da cambale-ante premiê May: “Não aceitamos estes ataques dos tories hipócritas, que um dia nos acusam de antissemitismo e no outro endossam o gover-no direitista de Viktor Orban, ou quando dizem

que nós somos racistas, quando trabalham para criar um ambiente hostil às comunidades de imi-grantes”.

Ele deixou claro que não se intimida com as acusações deste jaez, partindo do governo de Israel, e afirmou que seu governo “reconhecerá a Palestina assim que che-gar ao poder” e condenou a “discriminadora Lei Estado-Nação” recente-mente promulgada pelo governo de Israel assim como o massacre de “ma-nifestantes desarmados pelas forças israelenses” na Faixa de Gaza duran-

te o 70º aniversário da “Nakba”, a catástrofe que levou ao êxodo de 800 mil palestinos em meio ao terror desatado na implantação do Estado de Israel.

Corbyn também não poupou as “agressivas” diabruras de Trump e sua catilinária de abusos: “Quando o presidente Trump tira os EUA dos acordos de Paris, tenta rasgar o acordo nuclear com o Irã, desloca a em-baixada norte-americana para Jerusalém e promo-ve guerras comerciais, dá as costas à cooperação e até à lei internacional”.

A Força Aérea de Is-rael foi avisada de que deve pensar duas vezes antes de atacar a Síria novamente, agora que o país está aguardando a chegada dos sistemas de mísseis S-300 (terra-ar de longo alcance), é o que afirmou o vice-ministro do Exterior da Síria.

Faisal Mekdad de-clarou dia 25 que estes sistemas funcionaram como dissuasão mas en-fatizou que os sistemas serão usados somente no caso da Síria ser atacada.

“Israel, que se acos-tumou a levar adiante muitos ataques sob dife-rentes pretextos, vai ter que reconsiderar antes de novos ataques”, afir-mou Mekdad.

A Rússia anunciou a medida através do seu ministro da Defesa,

Sergei Shoigu. A decisão “não é nossa culpa”, esclareceu o ministro e está sendo tomada após a queda de um avião rus-so de reconhecimento, modelo Il-20, haver sido abatido por engano pelos sistemas de defesa da Sí-ria no momento em que um caça israelense o fez de escudo em pleno ar e sobre o espaço aéreo da Síria. No desastre, todos os 15 russos que iam a bordo faleceram.

Os S-300 poderão ser usados no sentido de “fechar o espaço aéreo onde for necessário”, esclareceu o diretor do Departamento de Não-Proliferação e Controle de Armas, vinculado ao Ministério do Exterior afirmando que “estas armas levarão a uma estabilização da região”.

INTERNACIONAL28 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2018 HP

‘Nunca dantes’: fanfarronice de Trump leva ONU às gargalhadas

ANTONIO PIMENTA

Trump insultou China e Irã e apoiou genocídio que Sauditas perpetram no Iêmen

Europa, China e Rússia montam sistema depagamento para driblar bloqueio ianque a Irã

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GABRIEL CRUZ

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Jovem de 26 anos morre nos EUA por não ter 1.300 dólarespor mês para pagar por insulina

Antônio Guterres fala à Assembleia Geral

Craig Murray: “Guardian mente deliberadamente para espalhar falsidades sobre Julian Assange”

Secretário-geral da ONU alerta: unilateralismo está jogando o mundo no caos

“Em dois anos meu governo realizou mais do que qualquer outro na história desse país”, disse Trump à surpresa Assembleia, que desatou a rir diante da estranha arenga

Os elevados preços da insulina nos EUA estão levando os dia-béticos e suas famílias a situações extremas, a exemplo de Alex Smi-th, que morreu 27 dias depois de completar 26 anos. O seu 26º aniver-sario marcou o fim de sua cobertura no plano de saúde da mãe. Como o jovem não tinha US$ 1.300 para arcar com os custos mensais do medicamento, sua úni-ca alternativa foi racio-nar suas doses diárias, noticiou o jornal Min-neapolis Star-Tribune.

A autópsia consta-tou que o jovem morreu de cetoacidose diabéti-ca, quadro causada por uma escassez crítica de insulina, complicação que o levou à morte. A mãe do jovem, Nicole Smith-Holt, afirmou que “o preço da in-sulina subiu mais de 1.200% em 20 anos. Não é acessível. Estão enganando as pessoas que precisam desse produto para viver, para sobreviver”.

Desde que seu filho morreu no “país mais rico do mundo” por não ter dinheiro para comprar a insulina que necessitava para ga-rantir sua vida, Nicole vem somando apoio contra os preços eleva-dos dos medicamentos, e luta para consolidar uma legislação capaz de impedir que os medi-camentos essenciais se-jam comercializados a preços extorsivos pelos grandes laboratórios.

Alec foi diagnostica-do com diabetes do tipo 1 aos 23 anos e enquan-to vivia com seus país conseguia administrar a doença. Já no início de 2017, e com a ajuda de sua mãe, ele tentou arcar com o seu próprio plano de saúde, porém ele não conseguiu pagar o plano de US$ 450 mais a franquia anu-al de US$ 7.600, que teria deixado de pagar em troca da insulina,

testes e agulhas. Alec faleceu no mês de maio deste ano.

Já Paul Grant, que tem um filho de 13 anos também com dia-betes, afirmou que em menos de 90 dias viu os preços saltarem de US$ 300 para mais de US$ 900 no início de 2018. “Entrei imedia-tamente em pânico. Tentei obter respostas de minha companhia de seguros, mas recebi pouca ajuda e explica-ção. Não acho que eles sequer entendem o nosso plano de saúde, eu sei que não”.

DIVÓRCIOO casal Jake e Maria

Gray, casados há nove anos, estão conside-rando o divórcio para reduzir as despesas médicas com a filha de 6 anos, Brighton, que tem Síndrome de Wolf-Hirschhorn, um distúrbio cromossô-mico raro que requer cuidados em tempo in-tegral. Em termos de desenvolvimento, a me-nina ainda é um bebê, além de ser deficiente auditiva, visual e sofrer eventuais convulsões.

Ambos chegam a gastar US$ 15 mil por ano com as despesas médicas e o cuidado em tempo integral que a fi-lha necessita, valor que compromete mais de 30% da renda familiar de US$ 40 mil anuais. A ideia do divórcio ad-vém de que esta seria uma saída para que a menina se qualificasse para ser atendida pelo programa de saúde so-cial dos EUA para baixa renda, o Medicaid.

“Você sabe que quando você tem um recém-nascido, tudo fica realmente estres-sante. Você realmente tem que se adaptar a alguém que precisa de você 24 horas por dia, sete dias por semana”, comentou Maria.

O ex-embaixador da In-glaterra, Craig Murray, condenou o jornal The Guardian pela publicação de um artigo, sustentado em suposições de fontes anônimas sobre uma hi-potética conspiração do Equador, da Rússia e do WikiLeaks para libertar Julian Assange. Conforme a publicação, a ideia era retirar Assange da em-baixada equatoriana em Londres – onde se encontra confinado desde o dia 19 de junho de 2012 - e levá-lo para “outro país”, a Rússia mais provavelmente.

FAKE NEWS“É realmente muito sé-

rio quando um jornal como o Guardian imprime um tecido de mentiras delibera-das para espalhar notícias falsas em nome dos serviços de segurança. Não consigo encontrar palavras suficien-temente eloquentes para ex-

pressar a profundidade do meu desprezo por Harding e Katharine Viner [editora-chefe do Guardian], que traíram completamente os valores do jornalismo”, declarou o ex-embaixador.

Craig Murray d isse que participou de conversas anteriores com o cônsul do Equador, Fidel Narvaez, sobre possíveis “futuros destinos” para Assange, mas que a Rússia nunca fez parte dos planos, ten-do sido descartada desde o início. As autoridades russas também reagiram com firmeza ao artigo fan-tasioso, condenando o tex-to que apontava supostos “laços de Assange com o Kremlin” por não ter nada a ver com a realidade.

De acordo com o The Guardian, o plano te-ria sido definido para a véspera do Natal do ano passado, mas teria sido abandonado por ser “mui-

to arriscado” devido ao não reconhecimento do status diplomático de Assange pelas autoridades britâni-cas, que teriam ainda pro-metido prendê-lo quando deixasse a embaixada.

O artigo do Guardian é assinado por Stepha-nie Kirchgaessner, Dan Collyns e Luke Harding. Por mais de sete anos, Har-ding se empenhou em usar as páginas do jornal para tentar minar o amplo apoio popular ao WikiLeaks e de-sacreditar Julian Assange.

CAMADAS “O objetivo da peça é evi-

dentemente adicionar mais uma camada às notícias fal-sas da relação (inexistente) do WikiLeaks com a Rússia como parte da narrativa ‘Hillary não perdeu real-mente’. Eu estou, franca-mente, bastante chocado”, concluiu o ex-embaixador Craig Murray.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o português Antônio Gu-terres, abriu na última terça-feira a maior reunião diplomática do planeta advertindo que o unilateralismo está colocando as nor-mas mundiais “em um ponto de quebra” e deixando a “democracia sob cerco”.

“Hoje, a ordem mundial está cada vez mais caótica. As relações de poder são menos claras”, advertiu Guterres, para quem “os valores universais estão em ero-são”. Assim, com “mudanças no equilíbrio de poder, o risco de confrontação pode aumentar”. “Os desafios estão crescendo fora, enquanto muita gente está se vol-tando para dentro”, assinalou o dirigente, conclamando a todos a lutarem unidos em defesa da própria humanidade.

Na assembleia representativa de 193 nações, o secretário-geral da ONU disse que é inaceitável que os esforços de paz estejam fracassando e que normas humanitárias internacionais estejam em franco colapso. Recentemente, o governo de Donald Trump demonstrou todo o seu desprezo pelos tra-tados internacionais ao abandonar o acordo nuclear com o Irã, o do clima de Paris e, inclusive, cortar o financiamento para a ONU, estampando o retrocesso em curso.

“Existe indignação diante da nossa ina-bilidade para pôr fim às guerras na Síria, no Iêmen e outros lugares. Os rohinyá (qualificados como o povo muçulmano mais perseguido do mundo, obrigado a fugir constantemente da Birmânia para a vizinha Bangladesh) permanece no exílio, traumati-zado e na miséria, ansiando por segurança e justiça”, apontou Guterres. Ele lembrou ainda que a solução de dois Estados para os povos israelense e palestino está cada vez “mais e mais distante”, enquanto a ameaça nuclear “não se distanciou”.

A foto do líder da Coreia Popular, Kim Jong Un, no monte sagrado da milenar nação coreana, o Bektu, ao lado do presidente do sul, Moon Jae-in, tentando fazer o “símbolo do coração”, popu-larizado pelos astros do K-pop sul coreano, deixou a BBC histérica com os sul-coreanos estarem achando “Kim um fofo”. Ao que parece, a campa-nha de demonização realizada por Washington e satélites nos últimos anos contra Kim foi para o vinagre.

A contragosto, a BBC ad-mite que Kim “começa pra-ticamente a ganhar o status de celebridade no sul” e que são muitos os sul-coreanos que passaram a considerá-lo “fofo”, e que vinha sendo “incompreendido”. A divul-gação da foto foi feita pelo presidente Moon, visando, para a BBC, “tocar o público sul-coreano para suavizar ainda mais sua imagem”. “Houve até a sugestão de que as pessoas poderiam usá-las como protetor de tela”.

Diz a escriba da BBC: “na foto acima, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un [na

grafia do sul], tenta fazer um gesto sul-coreano que derre-teu corações em Seul”. Escla-rece que esse “é o símbolo do coração na Coreia – formado por unir as pontas do polegar e do dedo indicador”.

O presidente Moon rela-tou como Kim se esforçou para fazer o gesto no Monte Bektu. “Como vocês fazem isso? Não estou conseguindo fazer o formato”, comentou Kim. A BBC também se mostra inconformada com o que chama de “momentos de Instagram” de Kim, como ele e Moon atravessando a fronteira em Panmunjon na primeira cúpula, em abril, e as selfies nos pontos turísti-cos de Cingapura, antes da reunião com Trump.

A BBC conclui passando recibo, dizendo que “Kim Jon-g-un pode parecer fofo”, mas é trabalho dos jornalistas “olhar com atenção para esta foto, por todos os ângulos. Mesmo que seja o que alguns sul-core-anos não querem ouvir”. Pelo resmungo, parece que a recon-ciliação e paz intercoreana não são propriamente o que essa gente queria ver.

Sucesso de Kim Jong Un com sul-coreanos faz BBC ter faniquito

A União Europeia (UE) criará uma entidade especial para facilitar os negócios com Irã e evitar, desta forma, as sanções impostas pelos EUA após sua retirada do acordo nuclear com Teerã, anunciou a alta representante da UE para Assuntos Exteriores, Federica Mogherini, ao lado do todo sorridente chanceler iraniano Mohammad Zavad Zarif, medida que abre um enorme rombo na estratégia do governo Trump de matar o Irã de fome, proibindo que venda seu petróleo e ame-açando a quem furar seu ditame, que entrará em vigor no dia 5 de novembro.

Mogherini ressaltou que, como atesta a AIEA, o Irã per-manece comprometido estrei-tamente com o acordo nuclear de 2015. À margem da Assem-bleia Geral da ONU, o secre-tário de Estado Mike Pompeo se declarou “profundamente decepcionado” pelo anúncio feito pelos demais integrantes do acordo nuclear. “Essa é uma

das medidas mais contrapro-ducentes imagináveis para a paz e a segurança regionais”, lamuriou-se.

Esse “Veículo de Propó-sito Especial (VPS)” con-cretiza o objetivo declarado pela China, Rússia, França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia (UE), que são signatários do acordo com o Irã, em comunicado na sede da ONU em Nova Iorque, de criação de um canal para facilitar os pa-gamentos das exportações do Irã, incluindo o petróleo, bem como suas importações.

Na prática, as transações com o Irã serão feitas ao lar-go do SWIFT, o sistema in-ternacional de pagamentos que os EUA manipulam para monopolizar as transações internacionais, banindo ou vetando quem deseja – o que inclusive foi feito anterior-mente contra o Irã e chegou a ser ameaçado contra a Rússia. Corporações euro-peias foram pesadamente

multadas por transações que eram perfeitamente legais sob as leis europeias.

Conforme a Bloomberg, com as sanções do Irã de volta, está claro para os europeus (bem como para os chineses e russos) que qualquer transação futura com o Irã deve passar por entidades isoladas do siste-ma financeiro americano. Europeus, chineses e russos têm debatido intensamente a necessidade de se livrarem da dominação do dólar nas transações internacionais, e o Irã acaba se tornando em um ensaio para isso, bem como a ampliação dos acor-dos bilaterais para uso das próprias moedas. A matéria da Bloomberg adverte que “a confiança de Trump em mobilizar o dólar contra ad-versários e aliados teimosos pode acabar saindo pela cula-tra para os EUA, enquanto os esforços para empurrar o dólar de seu pedestal ficam cada vez mais sérios”.

Coube ao presidente do Irã, Hassan Rouhani, a mais densa resposta à atuação de Trump na Assembleia Geral da ONU – e fora. Sem citar o nome do presidente bilionário, ele afirmou que é “lamentável que nós estamos testemunhando governantes no mundo que pensam que podem ... obter apoio popular através do fomento do nacio-nalismo extremista e do ra-cismo e através de tendências xenofóbas que se assemelham a uma disposição nazista”.

Rouhani condenou dura-mente a decisão de Trump de se retirar unilateralmen-te do acordo internacional assinado em 2015 pelo Irã. “Confrontar o multilateralis-mo não é sinal de força. Pelo contrário, é um sintoma da

Presidente Rouhani denuncia ‘disposição nazista’ de Trumpfraqueza do intelecto - re-vela uma incapacidade de compreender um mundo complexo e interconectado”.

Rouhani acrescentou que “aqueles que buscam domínio e hegemonia são inimigos da paz e perpe-tradores da guerra”. O go-verno dos EUA – continuou - “parece determinado a tornar todas as instituições internacionais ineficazes”.

Rouhani agradeceu à co-munidade internacional, que mantém seu apoio ao acordo ao JCPOA. “Com base em 12 relatórios consecutivos da AIEA, o Irã cumpriu seus compromissos. No entanto, os EUA nunca permanece-ram fiéis às suas obrigações”. Ele acusou Trump de usar “desculpas frágeis” para vio-

lar compromissos assinados pelos próprios EUA.

O líder iraniano denun-ciou o “entendimento au-toritário dos EUA sobre as relações internacionais”, o bullying e as imposições. “Nenhum estado e nação pode ser levado à mesa de ne-gociações pela força. E se for, o que se segue é um acúmulo de vinhas da ira a ser colhido mais tarde pelos opressores”.

Mas Rouhani não des-cartou a volta das negocia-ções, dirigindo um convite a Trump. “Se você não gosta do JCPOA porque é o legado de seus rivais políticos domésticos, então nós o convidamos a voltar à resolução do Conselho de Segurança. Não se envolva em impor sanções”.

Após chegar atrasado, ao discursar na aber-tura da Assembleia Geral da ONU, o pre-

sidente Donald Trump se sur-preendeu, quando o plenário não conseguiu evitar risadas, e até gargalhadas, diante do que estavam escutando. Trump ainda tentou remendar a insó-lita situação, primeiro, com um “é tudo verdade” e, outros risos adiante, um “eu não esperava essa reação, mas tudo bem”.

Disse Trump: “Senhora Presidente [a equatoriana Ma-ria Fernanda Espinosa], há um ano atrás eu estive diante de vocês pela primeira vez neste grande salão, eu me dirigi às ameaças que nosso mundo en-frenta e apresentei uma visão para alcançar um futuro mais brilhante para toda a huma-nidade”. E continuou: “Hoje, estou diante da Assembleia Geral das Nações Unidas para compartilhar o extraordinário progresso que fizemos. Em me-nos de dois anos. Meu governo realizou mais do que quase qualquer governo na história de nosso país”.

Com todas as sanções que decretou, países que ameaçou e acordos que ras-gou, possivelmente a reação do plenário foi bastante moderada. A incredulidade de ouvir alguém se jactar, assim, de suas conquistas e governo incomparáveis, aca-bou sendo sucedida pelo riso. Dali em diante, foi o que se esperava, um festival de sandices – ou, como alguém notou, um comício voltado a seus eleitores, que ele preci-sa desesperadamente levar às urnas de novembro.

Daí as proclamações so-bre o “patriotismo” no lugar do “globalismo” – como se a globalização não tivesse sido imposta exatamente pelos bancos e corporações ian-ques e seus instrumentos, como o FMI e o Pentágono. Ou as exortações à guerra comercial total, à agressão militar (tipo “todas as op-ções estão sobre a mesa”) e expondo uma concepção suis generis de “patriotismo” e “soberania” em que todas as demais soberanias têm que se adaptar ao que Washing-ton quiser, aos interesses de Wall Street & Big Oil e às leis norte-americanas.

Mas rir do valentão do pedaço, meio que por sur-presa, também não deixa de ser um sintoma da crise que vive unilateralismo sob o tacão dos EUA, em vigên-cia desde a queda da URSS, mas com sinais agravados de decadência econômica pós-crash de 2008. A percepção de que, ao invés de “a nação indispensável” – como Oba-ma gostava de encher a boca para expressar seu chauvi-nismo -, os EUA cada vez mais generalizadamente são vistos como um país pária, que empurra o mundo para

o caos e a confrontação, na tentativa de manter o status quo e a dominação. É essa crise e degeneração que ex-plica a ascensão de um tipo como Trump (e o fato de sua oponente na eleição passada ser a favorita de Wall Street).

Como se estivesse se olhando – e a seus anteces-sores na Casa Branca – em um espelho, Trump teve a petulância de atribuir ao Irã, o que quase universalmente é tido como a característica essencial da política externa dos EUA: “não respeitam seus vizinhos ou fronteiras, ou os direitos soberanos da nação” e “semeiam o caos, a morte e a destruição”. Das colinas de Montezuma, às praias da Líbia, passando pela Coreia, Vietnã, Iugoslá-via, Iraque, Afeganistão, Lí-bia e Síria, a lista é extensa.

Em seus comentários so-bre o quadro interno dos EUA e as alternativas, Trump foi igualmente su-gestivo, do muro na fronteira com o México à exaltação da bolha de tudo em Wall Street. Também não se furtou de co-memorar como aquele que ia “drenar o pântano” o enchar-cou com mais US$ 1,5 trilhão em cortes de impostos.

Na lata, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, res-pondeu – sem citá-lo – que era lamentável que gover-nantes pensem que podem obter apoio popular através do “nacionalismo extremis-ta, racismo e tendências xe-nófobas, que se assemelham a uma disposição nazista”. Em seu discurso, o secretá-rio-geral da ONU, Antonio Guterres, advertiu contra o unilateralismo e as políticas de confrontação e lamentou a falta de solução para a Síria e Iêmen. O presidente francês, Emmanuel Macron, condenou a imposição da “lei do mais forte” e advo-gou pelo multilateralismo. A China repeliu os comen-tários de Trump contra o socialismo como tentativa de voltar à Guerra Fria, o que não é desejado pela imensa maioria dos países. No seu primeiro discurso na ONU, o presidente cubano Miguel-Días Canel exigiu o fim do bloqueio dos EUA a Cuba.

Trump também caiu de pára-quedas numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, da qual sumiu um tempo depois. As redes sociais se divertiram com seu agra-decimento ao presidente da Bolívia, “Thank you, mister president”, após Evo Morales ter discursado desancando o intervencionismo e a falta de democracia dos EUA. Parece que sequer ouviu a tradução ou o que fora dito. A Assembleia Geral da ONU vai até 1º de Ou-tubro, e ainda há tempo para Trump dizer muita estultice.

Sílvio Romero e a raça brasileira - 2

ESPECIAL

Continuação da edição anterior

SÍLVIO ROMERO

“Independente dos equívocos, Sílvio Romero era umhomem que pensava – e, antes de tudo, pensou o Brasil”

(...) Tal o sentido de certos ataques a influências estrangeiras, que desejamos ver anuladas de todo. Independência literária, independência científica,

reforço da independência política do Brasil, eis o sonho de nossa vida. Sejam eles a tríplice empresa do futuro

frenesi das liber-tações por impulso particular tomou proporções colossais. Quase não havia um só dia em que se não consignassem eman-cipações em qual-quer número. Era o festejo predileto das famílias brasileiras.

Assim correram as coisas até 1880. Neste intervalo os combatentes, os propagandis-tas da imprensa e da literatura fizeram-se ouvir sempre mais ou menos intensamente. É o tempo do moço Ferreira de Me-nezes e dos velhos Beaurepaire Rohan e José Maria do Amaral.

De 1880 em diante a mon-tanha começou a baquear de uma vez, e o que fez rolar a primeira pedra do geral desmoronamento foi o Sr. Jo-aquim Nabuco, apresentando naquele ano o seu inglório projeto de um prazo de dez anos para a extinção completa do cativeiro. Do parlamento passou logo a pugna para a imprensa; foram se formando as sociedades abolicionistas.

Os Srs. Vicente de Souza, João Clapp, José do Patrocí-nio, André Rebouças, Ennes de Souza e Nicolau Moreira tomaram a frente da propa-ganda intransigente. Digla-diavam-se três partidos, ou antes três soluções diversas: o statu-quo, patrocinado pe-los Srs. Paulino de Sousa e Andrade Figueira; a ideia de um prazo, defendida pelo Sr. Joaquim Nabuco; a abolição imediata, sonho do Sr. José do Patrocínio e de seus amigos.

A discussão tomou desde o princípio caráter incandescente.

Foi então que nós apare-cemos e procuramos encami-nhar científicamente o debate.

Nosso artigo da Revista Bra-zileira, transcrito em todo im-pério apareceu em fevereiro de 1881. Tivemos a inaudita ousadia de taxar de errôneas, atrasadas e perniciosas as três soluções e a audácia ainda maior de apresentar uma quarta…

Ao statu quo mostramos o seu acanhamento, a sua inép-cia diante do movimento eco-nômico e democrático do país.

À solução por um prazo, mostramos com a história a sua ineficácia, a desorgani-zação que traria ao trabalho, a perturbação, o sobressalto perene, que se lhe seguiriam.

À abolição imediata mos-tramos o absurdo de querer de um jato, repentinamente, retirar de um país a sua força produtora, e a leviandade de querer brincar com os fenô-menos econômicos e sociais, pretendendo resolvidos com música. Referíamo-nos às conferências e matinées.

É inenarrável a barulhada que levantou o nosso artigo. Na imprensa e nas conferên-cias foi de então em diante artigo obrigatório atacar-nos. Orador que o não fazia não merecia aplausos.

Entretanto, durante oito anos nenhuma das três solu-ções foi posta em execução. Nem o statu quo, nem o prazo, nem o imediatismo serviram para nada.

A solução que pregamos, a que demos o nome de eman-cipação autonômica e popu-lar, foi a única que se pôs em pratica. Nada de deixar dependendo do governo geral uma questão de caráter social e econômico, dissemos nós. E acrescentávamos que o indi-víduo, a família, o município, a província fossem libertando os seus escravos, os nossos irmãos de cor, ao que eram impelidos, além de motivos morais, pelo fato do escravo começar já então a ser um trambolho, uma desvantagem diante do trabalho livre.

Apesar de não terem sido estas ideias declamadas da tribuna das conferências ou da Câmara dos deputados, constituíram a solução que praticamente foi posta em

execução pelos heróis popu-lares da abolição no Ceará, Amazonas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Pa-raná, Pernambuco, Minas e Rio de Janeiro, durante oito anos. Foi a solução posta em prática pelos homens do povo, os fautores mais valentes, os obreiros mais meritórios do abolicionismo, Nascimento, João Cordeiro, João Ramos, Antonio Bento, Carlos de La-cerda e vinte outros.

É de justiça dizer que sua ação era estimulada, encoraja-da pela voz de parlamentares como Amaro Bezerra, Anto-nio Pinto, José Mariano, Rui Barbosa e Frederico Borges, este último um dos motores da libertação do Ceará.

Tal sistema era só por si mais que suficiente para con-cluir a obra encetada.

Não chegou mais depressa ao seu último resultado por causa da reação promovida pelo governo soi-disant liberal dos Lafaietes, dos Martinhos Campos, dos Saraivas e pela fra-queza inqualificável do gabinete Dantas, que não soube fazer uma eleição e criar uma maioria.

A verdade, porem, é que na luta pela abolição dos escravos, a ação governamental acompa-nhou mais ou menos a ação po-pular com medidas secundárias até 1871, e de então em diante recuou sempre, deixando o campo à iniciativa pública.

E a maior prova é que, se os recém-chegados do ga-binete atual demorassem mais três ou quatro meses a apresentação de seu projeto, não encontrariam mais a quem libertar!… A abolição progressiva, espontânea, po-pular teria chegado ao último representante da escravidão, o nosso sistema teria vencido em toda a parte.

Nem era uma novidade inaudita a solução apresen-tada; era apenas a ilação ló-gica do concurso das diversas raças no espetáculo de nossa história, problema peculiar de etnografia brasílica, base de todos os nossos trabalhos de crítica literária. Insistimos nisto desde 1870 e fizemo-lo especialmente nos Estudos sobre a poesia e os contos po-pulares do Brasil.

REPÚBLICA

Ditas estas palavras em esclarecimento de fatos próxi-mos e em homenagem à abo-lição, que, seja dito em preito à verdade, pelo modo como aqui se fez, é um fato notável, mas não é único em seu gê-nero; porque já antes de nós o tinham praticado diversos estados da América, volvamos vistas rápidas sobre as novas questões que vão provavel-mente ser agora agitadas.

A questão da forma de governo, em sentido de torná-la republicana, é de antiga data; vai tomar porém novo incremento com a excitação geral dos espíritos. Achamo-la razoável e acertada, impondo-lhe apenas uma condição: não sonhemos a república de pura forma com suas manias igua-litárias pelo modelo francês. Lutemos pela república que funde a liberdade e o desen-volvimento cultural da nação.

A este problema prende-se muito de perto o da federação, que alguns intentam errone-amente fazer desde já com a monarquia. Cremos que mais cedo ou mais tarde este anelo político será levado a efeito, porque ele tem alastrado am-plamente pelo partido liberal e pelo republicano.

É assunto muito sério, e, pelo que toca ao futuro do povo brasileiro, bem mais considerável do que a própria emancipação da escravatura.

Nós opomo-nos a ele, como patriota e nacionalista.

Referimo-nos à ideia de uma federação brasileira pelo modo porque a vão sonhando os exaltados do momento.

Somos sectários da repúbli-ca unitária, livre, autônoma, compatível com a boa e vasta descentralização administra-tiva e econômica, e compatível também com a unidade políti-ca, espiritual e étnica do país.

Passar da monarquia cen-tralizadora, dadas as con-dições do meio e do espírito nacional, para a federação pelo modelo norte-americano, é desconhecer o caráter dos povos ibero-latinos; é estimu-lar o separatismo, que já vai lavrando assombroso; é cami-nhar para o desmembramento da pátria brasileira.

Não nos iludamos com fra-ses e com rótulos: se fizerem uma federação in nomine capaz de garantir plenamente a unidade nacional, ficaremos em essência com a república unitária.

República federal que ga-ranta a unidade, ou repúbli-ca unitária, que garanta a liberdade, vem a ser uma e a mesma cousa.

Mas aí é que vai o perigo. A pretexto de reformas im-pensadas, não venhamos a desmantelar a famosa peça de arquitetura política de que falava o velho Andrada e que ele ajudou a levantar.

É mister que a monarquia, enquanto viver, entre no cami-nho das reformas, e conceda mais franquias às províncias.

A república quando vier, e deve procurar vir quanto an-tes, fortaleça essas franquias; mas só pelo culto da frase, pela mania de macaquear os norte- americanos, não cheguemos a dissolver o Estado brasileiro, que só unido poderá valer alguma cousa.

Não nos embriaguemos com a vitória da emancipação e não venhamos a perder a ca-beça, pondo em prática ideias e reformas incompatíveis com a nossa índole nacional.

A centralização exagerada e o federalismo exagerado são ambos absolutamente maléfi-cos para nós.

A ideia de federação assen-ta em dois falsos pressupostos: a crença errônea de nos convir o que convêm nos anglo-a-mericanos e a falsa teoria de supor que para lá nos levam as lições da história.

Esta última deve sobretudo ser extirpada; porque o seu inverso é a verdade.

Desde os meados e fins da idade média outra não tem sido a marcha, o ritmo do mo-vimento nacional na Europa.

Sempre a força biológica na história, isto é, a ação étnica representada pelo sangue e pela língua, foi-se tornando o centro de atração constituidor dos grandes focos nacionais. Assim foi por toda a parte.

Os antigos reinos e estados ibéricos se transformaram na Espanha; os antigos condados e reinos que ocupavam o velho solo da Gália produziram a França, a antiga heptarquia anglo-saxônica produziu a In-glaterra; as províncias unidas produziram a Holanda. Esta força de integração étnica foi sempre produzindo a sua

ação, dissolvendo uns estados e fundando outros.

Em nosso século temos três exemplos iniludíveis do fato: a unidade dos povos alemães, a unidade da Itália, a quase completa desagregação da Tur-quia. Ali é a unidade de raça a força atrativa; aqui é ainda o fator étnico que agremia as populações eslavas e as habilita a sacudirem o jugo turco.

São as lições da história.O Brasil possui uma certa

unidade étnica que lhe tem ga-rantido a existência até hoje. Mas esta unidade não deve ser perturbada com a inges-tão sistemática de elementos estrangeiros em privilegiada zona do país, nem deve ser posta em prova com um proje-to perigoso de federação.

A sábia descentralização republicana é suficiente para garantir-nos a liberdade na unidade.

Este assunto pediria um grande desenvolvimento; não é aqui o lugar próprio. Vamos a outros.

NACIONAIS

A organização municipal não é cousa que se decrete em quatro palavras, que tragam a mudança radical de nosso de-plorável estado por esta face. Será antes necessário educar, disciplinar este povo para o self governement.

Ao observador competente não escaparão a pouca aptidão e o nenhum gosto de nosso povo para a gestão direta e hábil de seus negócios. Tal o motivo capital da pasmosa decadência de todas as insti-tuições populares, que foram transplantadas para o Brasil, onde ainda não se aclimaram, como sejam o juri, o sistema representativo, as câmaras municipais, as assembleias provinciais. E é a um povo as-sim psicologicamente organi-zado que se vai impor o regime dissolvente da federação?

Da boa harmonia das liber-dades provincianas e da forte ação do governo republica-no central é que dependerá o futuro político do Brasil, repitamo-lo à saciedade. E’ preciso, pois, antes de tudo que governos, partidos, publi-cistas, escritores, todos enfim que têm uma ação qualquer sobre o povo, o vão habilitan-do para dotar-se de uma boa organização municipal.

Depois dos assuntos políti-cos seguem os sociais, e entre estes avulta o da imigração e colonização estrangeira, que, a nosso ver, é mais um teme-roso problema social do que econômico.

Sobre ele acha-se neste livro a nossa opinião. Quere-mos em primeiro lugar que se aproveitem os elementos nacionais.

Existem aí milhares e mi-lhares de patrícios nossos que devem ter a preferência nos favores do governo para a colonização. É um meio de fixar e garantir o imenso pro-letariado brasileiro.

Quanto aos estrangeiros,

deve-se fazer com eles o que nós intitulamos a colonização integral, isto é, que se vão espalhando por todo o país, es-pecialmente o norte e o grande oeste. Nada de aglomerá-los às dezenas e centenas de milha-res de uma só raça nas quatro províncias do sul.

E por que não quererão eles ocupar o resto do país? Nosso plano é o mais liberal possível: em vez de três ou quatro províncias, damos-lhes vinte. O Brasil todo aí está; espalhem-se, tenham o mesmo trabalho que tiveram outrora os portugueses. Espalhem-se e misturem-se às populações nacionais. Não vemos moti-vos para não aceitarem este sistema. Nada de privilégio de zonas; o clima do país é todo apto à colonização.

A grande naturalização se nos antolha medida pre-cipitada por enquanto num país, como o Brasil, sem um povo radical e valentemente constituído e organizado para lutar com as influências es-tranhas. Isto virá mais tarde. Fortaleça-se primeiro a nação; não queiramos fazer num dia o que as nações europeias le-varam séculos a fazer.

A reforma do ensino a que nos referimos é a da adoção do idealismo que tem predo-minado no ensino de todos os graus na Alemanha, que estimula em subida escala as faculdades elevadas e in-ventivas, e, longe de ser um obstáculo para a prática e a técnica, bem pelo contrário as desenvolvem grandemente. É justamente o contrário do ensino rasteiro, materializado e pretendidamente prático, o qual atrofia a inventiva, a imaginação, e abaixa muito o nível intelectual.

Pela face econômica o es-tímulo principal será atirar fora os velhos processos fi-nanceiros e abrir novas fontes de renda. Isto pertence aos governos e aos particulares.

O problema do aproveita-mento do proletariado ex-es-cravo e do que já dantes exis-tia será, ao menos em parte, solvido num vasto sistema de colonização nacional.

Os colonos nacionais deve-riam sistematicamente, se isso fosse possível, acompanhar de perto as levas de colonos estrangeiros para dois fins principais: aprenderem com eles os novos métodos e as no-vas ideias de trabalho e mais facilmente cruzarem com eles para assimilá-los.

Sobre a organização do trabalho, que inserimos entre os desideratos nacionais, avi-samos nitidamente que a não consideramos à maneira dos socialistas europeus. Nada. Referimo-nos à exploração de novas indústrias, ao ensaia-mento de novos métodos nas antigas, tudo no sentido de dotarmo-nos de verdadeira autonomia econômica.

A divisão progressiva das terras tem duas faces prin-cipais: a das nacionais e a das particulares. Naquelas o governo fará bem em dis-tribuí-las aos colonos, dando sempre a preferência aos nos-sos patrícios; porque este é o direito deles. Nas outras, isto é, a redução dos latifúndios, não é cousa que se decrete; irá se fazendo por si progressiva-mente. Pode ser auxiliada por medidas indiretas.

Tais as linhas capitais da atual idade política do país, tanto quanto a temos podido compreender, tal a suma das ideias que, por este lado, ha-vemos espalhado em todos os nossos livros.

A crítica acerba a eles feita, o esquecimento sistemático a eles votado, a conspiração do silêncio com que pretendem sufocá-los, dão-nos o direito de relembrar nossos trabalhos e apresentar nossos títulos. É o que vamos agora fazer. Eles são pequenos, são talvez insig-nificantes; mas gastaram as nossas forças e impossibilita-ram-nos para outra qualquer carreira. O leitor nos perdoa-rá, pois, este desabafo.

Nossa crítica não tem sido tão dissolvente, como aos inimigos aprouve assoalhar. Inspiramo-nos sempre no ideal de um Brasil autônomo, independente na política e mais ainda na literatura. Des-se pensamento inicial decorre-ram todas as nossas investidas

no domínio das letras.Primeiramente, para fir-

marmo-nos bem em nosso terreno, tratamos de circuns-crever e limitar o círculo de nossa ação: um pouco de poesia apenas e o resto crítica.

Em poesia, iniciamos a reação contra o romantismo em 1870, pregando a intuição nova de uma poesia alimen-tada do espírito criticista dos nossos dias. Nossa obra em totalidade deferia constar de cantos inspirados pela Natu-reza, Humanidade, América, e Sergipe.

A Natureza e a Humanida-de representariam o lirismo em sentido geral; a América e Sergipe o lirismo local, indíge-na, brasiliano. Tudo isto acha-se esboçado nos Cantos do Fim do Século e nos Últimos Arpejos, livros não compreen-didos pela alvar ignorância da crítica indígena, que um dia lhes fará justiça.

Em crítica aplicamo-nos apenas à filosofia, à etnogra-fia, à política e à literatura propriamente dita, tudo isto sob o ponto de vista de apli-cações ao Brasil.

A parte filosófica acha-se, por enquanto, principalmente na Filosofia no Brasil, onde analisamos tudo o que no gê-nero se havia escrito até 1876 entre nós. Defendemos aí as ideias do criticismo natura-lista alemão, tanto quanto o compreendemos dentro do plano de nossa competência.

A parte etnográfica está nos Estudos sobre a poesia e os cantos populares no Brasil e mais especialmente nas crí-ticas aos trabalhos dos Srs. Couto de Magalhães, Barbosa Rodrigues, Ladislau Neto, e Teófilo Braga. De Couto de Magalhães batemos o aria-nismo de algumas populações americanas; de Barbosa Ro-drigues refutamos o asiatismo turquestânico, que se preten-dia firmar nas decantadas pe-dras verdes (muyrakitans); de Ladislau Neto o mongolismo e quejandas patranhas oriundas da audácia e da ignorância; de Teófilo Braga a mania do turanismo.

Na política em os Ensaios de Crítica Parlamentar insis-timos nos vícios do parlamen-tarismo, indicando a incompe-tência da maioria dos nossos homens de governo, que não estudam as condições reais do país e vivem a impingir-nos macaqueações impensadas.

A parte literária ocupa o restante, que é a maior parte de nossa obra. A Literatura Brasileira e a Crítica Moder-na, os Estudos de Literatura Contemporânea, esta História da Literatura e outros escritos aliunde esparsos representam nossas ideias, nossos intuitos por este lado.

A aplicação ao Brasil é a preocupação constante; as considerações etnográficas, a teoria do mestiçamento, já físi-co, já moral, servem de esteios gerais; o criticismo filosófico é a base fundamental.

Nosso pensar sobre a evo-lução geral da história está no artigo — Interpretação filosófica dos fatos históricos; nossa opinião sobre a intuição da arte e da literatura em ge-ral no estudo intitulado Sobre Emilio Zola.

São estas as linhas direto-ras de nossa ação na literatura do país. Se nos faltou o talen-to, resta-nos em todo caso, a face moral da empresa; a verdade e o patriotismo foram os nossos guias.

Tal o sentido de certos ataques a influências estran-geiras, que desejamos ver anu-ladas de todo. Independência literária, independência cien-tífica, reforço da independên-cia política do Brasil, eis o so-nho de nossa vida. Sejam eles a tríplice empresa do futuro.

Tenhamos confiança!Rio de Janeiro 18 e 19

de maio de 1888.