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O ESTADO DE S. PAULO Fundadoem1875 Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Fi lho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mes quita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita N eto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesqui ta (1959-1997)  Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) PlínioBarreto (1927-1958) E m artigo intitula- do Opapeldaopo-  sição, o ex-presi- dente Fernan do Henrique Cardo- sofazalgoforade moda na política brasileira: re- flete. Essa reflexã o abrangente, com diversas verten tes, penso poder dividir em três aspectos: fragilidade da oposição, seja na defesa de suas realizações, seja noataqueaoPTrelativamentea fatos graves característicos do rei nad o de Lul a des de 200 3;es- tratégias a serem seguidas; e pontosa constit uíremcompro- missosbásicos da oposiçã o. Quan toà frag ilid adena def e- sa de suas realizações , lembra- seatibiezaemexplicaroproces- so de privatização, alcunhado peloPT,parafinseleitorais,co- mo “privataria” e maliciosa- mentedifundidocomovendair- risória das riquezas nacionais. Em camp anha s pre side ncia is o PSDB limitou-se a negar que iriapriva tizaro Banc o doBrasil ouaCaixaEconômica,comose ao vestir a camisa do BB se es- pantasse o receio de um mal, emvezdemostrarobemquese fizera na privatização da Vale doRioDoceoudaEmbraer.As- sim,essasduasestatais,afunda- das na mão do Estado em défi- cits imensos, jamais poderiam assumir o papel de relevo que ora têm no cenário econômico mundial se não fosse a imensa inversão de capital privado e o espírito empreendedor que a gestão empresar ial imprimiu. O mesmo se diga do Proer, apodado de protecionismo aos  ban cos,quando , na verd ade,es- tabe lece u umregimede aust eri- dadecomaimposiçãoderespon- sabilidadesolidáriadoscontrola- dores de instituições financei- ras,crian doefetivocontro le por  viadoqualoBancoCentralpode- riaagirpreventivamentecomefi- ciência paraproteg er os depo si- tantes, preservar o sistema e a economia. O pequeno compro- metimento de nossas institui- ções financeiras na crise de fins de 2008 mostra a importância doProer,quefoidebilmentede- fendidopela oposição. Masàfragilidadedadefesacor- respondeuigualfraquezanoata- que.O“mensalão”nãofoiataca- do com firmeza pela oposição, apesardosresultadosdaCPIque redundounadenúnciadoMinis- térioPúblico.Fuiumdoscoorde- nadoresdomovimentodemobi- lização da sociedade civil deno- min ado“Da Ind ign açã o à Açã o”, quereuniurepresentantesdeen- tidades como OAB, OAB-SP ,  ABI , PNBE, Fies p, Instit uto Ethos, Força Sindical, Transpa- rênciaBrasil,Associaçã o dosAd-  vogados, Instituto dos Advoga- dos de São Paulo, a rede Conec- tasdeDireitosHumanos,oMovi- mentoDemocráticodo Ministé - rioPúblicoeaAssociaçãodoMi- nis tér io Púb licode SãoPaulo . Em manifesto, o movimento expressava que as instituições políticas do País estavam dura- mente atingidas, sendo impres- cindível,alémdeinvestigaçãosé- ria, com punições firmes e pro- porcionais às faltas praticadas, mudançasprofundasnosistema político, pois nunca aparecera tãoclaramentea nece ssid adede uma reconstruç ão republican a. O movimento arregimentou lí- deresdasentidades,masapopu- laçãoestava,comodizFernando Henrique no seu artigo, aneste- siada e os partidos de oposição, salvoalgunspoucosparlamenta- res,nãosemobilizaramparaen-  volver os brasileiros contra a maior artimanha de corrupção engendrada em detrimento do sistema democrático: a compra de mais de centena de deputa- dos às vésperas de votaç ões im- portantescomdinheirosaídodo Banco do Brasil, aí, sim, privati- zado . A opos ição temeuenfren - tardire tamente o núc leodo po- derenemsequerpropôsmudan- ças moralizadoras, intimidada, talvez, por erros graves , mesmo quemenores, em seusquadro s.  A denú nciada apro pria çãodo Estado também foi tímida. Não seacusoucomvigor,aolongodo tempo,ocrescimentovertigino- so dos cargos em comissão no governo Lula, mais de 17%, mas comumgravameimportante:au- mentaram em 50% os cargos DAS 5 e em 30% os DAS 6, os mais bem remunerados, com grande elevação do gasto públi- co,que oradificul ta o comb ateà inflação. Quantoàestratégia,Fernando Hen riq ue mos traque o dis cur so dev e voltar-se par a a nov a cla sse méd ia,fruto do dinamismo eco- nômico do mundo e daqui, para atingir novos protagonistas do cenár io social,a seremsensibili- zad osna med idaem quese sai ba entenderseusanseiosnocotidia- no,a ser em deb atid os pri nci pal - mentenasredessociais,comoFa- cebook , YouTub e, Twitter , etc.  Alé m des senovo foc o e dono-  vomeiodeação,énecessárioam- pli ar,diz Fernando Hen riqu e,as discussõesjuntoàs“inúmerasor- ganizaçõesdebairros,aumsem- númerodegruposmusicaisecul- tur aisnas per iferias dasgrande s cidades,àsorganizaçõesvoluntá- riasdesolidariedadeedeprotes- to,adefensoresdomeioambien- te”, que revelam espíri to públi- co,masseafastamdapolítica,vis- ta como jogo sujo de interessei- ros. Só assim se encontram for- çasativas,masdiscretas,dasocie- dade,queparaasalvaçãodasins- tituiçõ es precis am particip ar di- retamen te do proces so político .  Aestratégiapropostadesevol- tar para novos focos está corre- ta,semquea lut a contraa misé- riadeixedeserumobjetivobási- co.Tantoéquesesugereterpor fimúltimodademocraciaocom- prometimentocomosvaloresin- ser tosna defe sa dosdireit oshu- mano s, naproteção e promoção domeio ambi entee nocombate àmiséria,emlutaaserempreen- did a coma parti cipa çãoativa de todaa soci edad e. No campo da ação governa- mental, defende- se que cumpre à oposição lutar em prol da for- ma çãode qua dr ose daconstru- ção da infraestrutura, hoje blo- quead a,mas a sealca nça r coma colaboração do setor privado, a serdevida ment e fisc aliz ado por agênciasreguladorasdotadasde independência,semliamesparti- dários e clientelísticos que ora existem. Outrasquestõessãotrazidasà  bai la,mas esse saspectossão su- fici entes paraprovoca r fort e re- flexão.Pontosdotrabalhomere- cemcríticas,maséprecisoantes compreendê-lo no seu conjun- to.Ao susci taro de bat e,o art igo  vale por si, pois já é um grande  bemrecome çara pens ar. ADVO GADO , PROFES SOR TITULA R DAFACUL DADEDEDIREI TO DAUSP, MEMB RO DA ACAD EMIAPAULISTADE LETRA S, FOI MINIS TRO DA JUSTIÇ A Recomeçar a p ensa r MIGUEL REALE JÚNI OR LOREDANO  A reflexão abrangent e de Fernando Henrique Cardoso já é um bem por suscitar o debate

"Recomeçar a pensar", por Miguel Reale Jr

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8/6/2019 "Recomeçar a pensar", por Miguel Reale Jr.

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O ESTADO DE S. PAULO

Fundadoem 1875

Julio Mesquita (1891-1927)Julio de Mesquita Filho (1927-1969)Francisco Mesquita (1927-1969)Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988)Julio de Mesquita Neto (1969-1996)Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884)Nestor Rangel Pestana (1927-1933)PlínioBarreto (1927-1958)

Em artigo intitula-do Opapeldaopo- sição, o ex-presi-dente FernandoHenrique Cardo-sofazalgoforade

moda na política brasileira: re-flete.Essa reflexão abrangente,com diversas vertentes, pensopoder dividir em três aspectos:fragilidade da oposição, seja nadefesa de suas realizações, sejanoataqueaoPTrelativamenteafatos graves característicos doreinado de Lula desde 2003;es-tratégias a serem seguidas; epontosa constituíremcompro-missosbásicosda oposição.

Quantoà fragilidadena defe-sa de suas realizações, lembra-seatibiezaemexplicaroproces-so de privatização, alcunhadopeloPT,parafinseleitorais,co-mo “privataria” e maliciosa-mentedifundidocomovendair-risória das riquezas nacionais.Em campanhas presidenciais oPSDB limitou-se a negar que

iriaprivatizaro Banco doBrasilouaCaixaEconômica,comoseao vestir a camisa do BB se es-pantasse o receio de um mal,emvezdemostrarobemquesefizera na privatização da ValedoRioDoceoudaEmbraer.As-sim,essasduasestatais,afunda-das na mão do Estado em défi-cits imensos, jamais poderiamassumir o papel de relevo queora têm no cenário econômicomundial se não fosse a imensa

inversão de capital privado e oespírito empreendedor que agestãoempresarial imprimiu.

O mesmo se diga do Proer,apodado de protecionismo aos bancos,quando, na verdade,es-tabeleceu umregimede austeri-dadecomaimposiçãoderespon-sabilidadesolidáriadoscontrola-dores de instituições financei-ras,criandoefetivocontrole por viadoqualoBancoCentralpode-riaagirpreventivamentecomefi-ciência paraproteger os deposi-tantes, preservar o sistema e aeconomia. O pequeno compro-metimento de nossas institui-ções financeiras na crise de finsde 2008 mostra a importânciadoProer,quefoidebilmentede-fendidopela oposição.

Masàfragilidadedadefesacor-respondeuigualfraquezanoata-que.O“mensalão”nãofoiataca-do com firmeza pela oposição,

apesardosresultadosdaCPIque

redundounadenúnciadoMinis-térioPúblico.Fuiumdoscoorde-nadoresdomovimentodemobi-lização da sociedade civil deno-minado“Da Indignação à Ação”,quereuniurepresentantesdeen-tidades como OAB, OAB-SP, ABI, PNBE, Fiesp, InstitutoEthos, Força Sindical, Transpa-rênciaBrasil,Associação dosAd- vogados, Instituto dos Advoga-dos de São Paulo, a rede Conec-tasdeDireitosHumanos,oMovi-mentoDemocráticodo Ministé-rioPúblicoeaAssociaçãodoMi-nistério Públicode SãoPaulo.

Em manifesto, o movimentoexpressava que as instituiçõespolíticas do País estavam dura-mente atingidas, sendo impres-cindível,alémdeinvestigaçãosé-ria, com punições firmes e pro-porcionais às faltas praticadas,mudançasprofundasnosistemapolítico, pois nunca apareceratãoclaramentea necessidadedeuma reconstrução republicana.O movimento arregimentou lí-deresdasentidades,masapopu-laçãoestava,comodizFernandoHenrique no seu artigo, aneste-siada e os partidos de oposição,salvoalgunspoucosparlamenta-res,nãosemobilizaramparaen- volver os brasileiros contra amaior artimanha de corrupçãoengendrada em detrimento dosistema democrático: a comprade mais de centena de deputa-dos às vésperas de votações im-portantescomdinheirosaídodoBanco do Brasil, aí, sim, privati-zado. A oposição temeuenfren-tardiretamente o núcleodo po-derenemsequerpropôsmudan-ças moralizadoras, intimidada,talvez, por erros graves, mesmoquemenores, em seusquadros.

A denúnciada apropriaçãodo

Estado também foi tímida. Nãoseacusoucomvigor,aolongodotempo,ocrescimentovertigino-so dos cargos em comissão nogoverno Lula, mais de 17%, mascomumgravameimportante:au-mentaram em 50% os cargosDAS 5 e em 30% os DAS 6, osmais bem remunerados, comgrande elevação do gasto públi-co,que oradificulta o combateà inflação.

Quantoàestratégia,FernandoHenrique mostraque o discursodeve voltar-se para a nova classemédia,fruto do dinamismo eco-nômico do mundo e daqui, paraatingir novos protagonistas docenário social,a seremsensibili-zadosna medidaem quese saibaentenderseusanseiosnocotidia-no,a serem debatidos principal-mentenasredessociais,comoFa-cebook, YouTube, Twitter, etc.

Além dessenovo foco e dono- vomeiodeação,énecessárioam-pliar,diz Fernando Henrique,asdiscussõesjuntoàs“inúmerasor-ganizaçõesdebairros,aumsem-númerodegruposmusicaisecul-turaisnas periferias dasgrandescidades,àsorganizaçõesvoluntá-riasdesolidariedadeedeprotes-

to,adefensoresdomeioambien-te”, que revelam espírito públi-co,masseafastamdapolítica,vis-ta como jogo sujo de interessei-ros. Só assim se encontram for-çasativas,masdiscretas,dasocie-dade,queparaasalvaçãodasins-tituições precisam participar di-retamente do processo político.

Aestratégiapropostadesevol-tar para novos focos está corre-ta,semquea luta contraa misé-riadeixedeserumobjetivobási-co.Tantoéquesesugereterporfimúltimodademocraciaocom-prometimentocomosvaloresin-sertosna defesa dosdireitoshu-manos, naproteção e promoçãodomeio ambientee nocombateàmiséria,emlutaaserempreen-dida coma participaçãoativa detodaa sociedade.

No campo da ação governa-mental,defende-se que cumpreà oposição lutar em prol da for-maçãode quadros e daconstru-ção da infraestrutura, hoje blo-queada,mas a sealcançar comacolaboração do setor privado, aserdevidamente fiscalizado poragênciasreguladorasdotadasdeindependência,semliamesparti-dários e clientelísticos que oraexistem.

Outrasquestõessãotrazidasà baila,mas esses aspectossão su-ficientes paraprovocar forte re-flexão.Pontosdotrabalhomere-cemcríticas,maséprecisoantescompreendê-lo no seu conjun-to.Ao suscitaro debate,o artigo vale por si, pois já é um grande bemrecomeçara pensar.

ADVOGADO, PROFESSOR TITULARDAFACULDADE DEDIREITO DAUSP,MEMBRO DA ACADEMIAPAULISTADELETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

Recomeçara pensar●✽MIGUELREALE JÚNIOR

LOREDANO

A reflexão abrangentede Fernando HenriqueCardoso já é um bempor suscitar o debate