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MPSP – Promotoria de Justiça Cível do Consumidor – R. Otto Benz, 1070 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-580 – Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] PROCON/RP – R. Aureliano Garcia de Oliveira, 266 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-750 - Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] 1
RECOMENDAÇÃO CONJUNTA n.º 002/2020
PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DO CONSUMIDOR DE RIBEIRÃO PRETO
E DIVISÃO MUNICIPAL DE GERENCIAMENTO DO PROCON DE RIBEIRÃO PRETO
RECOMENDAÇÃO, NO ÂMBITO DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO
PRETO, AOS CONTRATANTES DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
CONTINUADA, EM ESPECIAL AOS DE TRANSPORTES
ESCOLARES, DE MEDIDAS DE PROTEÇÃO E DEFESA DA
RELAÇÃO DE CONSUMO A SEREM ADOTADAS PARA
ENFRENTAMENTO DO ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA E DE
EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA DECORRENTE DO
CORONAVÍRUS - COVID-19.
CONSIDERANDO,
1. que o Ministério Público, nos termos do art. 129, III, da Constituição da
República, possui legitimidade para a tutela dos interesses difusos e coletivos,
dentre os quais a defesa do Consumidor (art. 81, parágrafo único, I a III, e 82, I, do
Código de Defesa do Consumidor - Lei n.º 8.078/90, bem como art. 5° da Lei n.º
7.347/85);
2. que dentre as inúmeras atribuições outorgadas ao Ministério Público pela Constituição
Federal, destaca-se, prefacialmente, a defesa dos interesses difusos, dos coletivos e dos
individuais homogêneos, com ênfase nas relações de consumo, em que a supremacia
do poder econômico dos fornecedores de produtos e serviços se sobrepõe com nitidez
à fragilidade dos consumidores;
3. que a Divisão Municipal de Gerenciamento do PROCON de Ribeirão Preto, nos termos
do art. 2º, Decreto Federal n.º 2.181/1997, é parte integrante do SNDC - Sistema
Nacional de Defesa do Consumidor, que possui a competência e legitimidade, nos
termos do art. 4º, Decreto Federal n.º 2.181/1997, em especial no inciso III, além das
premissas no 5°., XXXII, art. 170, V da Constituição Federal, na Lei 8.078/1990, no seu
art. 4°., do CDC, art. 5°., III e V da Lei Complementar do Município n.º 403/94;
4. a promoção da proteção e defesa do Consumidor, como um direito fundamental da
pessoa humana, conforme previsão da Constituição Federal, no seu art. 5º, XXXII;
5. a proteção e defesa do Consumidor, como princípio de ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, cuja finalidade é garantir a todos
a existência digna, conforme previsão da Constituição Federal, no seu art. 170, V;
6. o CDC como conjunto de normas de proteção e defesa do Consumidor, de Ordem
Pública e Interesse Social, conforme previsão da Constituição Federal, ADCT – Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, no seu art. 48 e art. 1º da Lei n.º 8.078/1990;
MPSP – Promotoria de Justiça Cível do Consumidor – R. Otto Benz, 1070 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-580 – Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] PROCON/RP – R. Aureliano Garcia de Oliveira, 266 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-750 - Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] 2
7. que a Política Nacional das Relações de Consumo tem, por objetivo, o atendimento das
necessidades dos Consumidores, a proteção da sua dignidade, saúde e segurança, além
dos seus interesses econômicos, conforme previsão do art. 4º, CDC;
8. o reconhecimento da vulnerabilidade do Consumidor, como um dos princípios
balizadores da Política Nacional das Relações de Consumo, conforme art. 4º, I, CDC;
9. que, também, na mesma política se busca a harmonização dos interesses dos seus
participantes, compatibilizando a proteção e defesa do Consumidor com a necessidade
do desenvolvimento econômico e tecnológico, tudo como modo de viabilizar os
princípios que fundam a Ordem Econômica Brasileira(art. 170, CF), sempre com base
na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores (art. 4º, III, CDC);
10. a possibilidade de revisão contratual, como direito básico do Consumidor, quando o
contrato se tornar excessivamente oneroso, em decorrência de fato superveniente a
que ele não deu causa (art.6º, V, CDC);
11. a suspensão das atividades presenciais na educação básica (infantil, fundamental e
médio) e superior, nas redes públicas e privadas de ensino, enquanto durar a situação
de pandemia causada pelo COVID-19;
12. que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia de COVID-19,
doença causada pelo Coronavírus (SARS-CoV-2);
13. a Portaria do Ministério da Saúde n.º 188, de 3 de fevereiro de 2020, por meio da qual
o Ministro de Estado da Saúde declarou emergência em saúde pública de importância
nacional (ESPIN) em decorrência da infecção humana pelo novo Coronavírus;
14. a Portaria do Ministério da Saúde n.º 454, de 20 de março de 2020, por meio da qual o
Ministro de Estado da Saúde declarou, em todo o território nacional, o estado de
transmissão comunitária do Coronavírus (COVID-19);
15. que a Lei Federal nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, dispôs sobre medidas para o
enfrentamento da citada emergência de saúde pública de importância internacional;
16. o disposto no Decreto Federal nº 10.282, de 20 de março de 2020, que regulamenta a
Lei Federal nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as
atividades essenciais;
17. que a Câmara dos Deputados, em 18 de março de 2020, e o Senado Federal, na data
de 20 de março, reconheceram a existência de calamidade pública (Decreto Legislativo
n.º 6/2020) para os fins do artigo 65 da Lei Complementar Federal n.º 101, de 4 de maio
de 2000, nos termos da solicitação do Presidente da República encaminhada por meio
da Mensagem n.º 93, de março de 2020;
18. o Decreto Estadual nº 64.879, de 20 de março de 2020, que reconhece o estado de
calamidade pública, decorrente da pandemia do COVID-19, que atinge o Estado de São
Paulo, e dá providências correlatas;
19. que o Governo Municipal, primeiro, decretou situação de emergência na saúde pública
(Decreto n.º 069/2020) e que, agravada a situação, decretou estado de calamidade
pública (art. 1º, Decreto Municipal n.º 076/2020);
20. e por fim, que o Decreto Municipal nº 91, de 17 de abril de 2020, em especial no art.
4º, recomenda ao setor privado de ensino a prorrogação de suspensão das aulas, o que
tem mudado a forma de prestação de serviço educacional, enquanto durar essa
situação de pandemia, alterando por consequência os contratos de Transporte Escolar
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mantidos entre os fornecedores e os pais de alunos, para acesso às instituições de
ensino durante o ano letivo, exigindo, assim, a necessidade de renegociação dos
mesmos;
21. que diante da campanha “Contrato não é papel, contrato tem rosto” lançada pelo
PROCON Municipal de Ribeirão Preto em conjunto com os PROCONS Brasileiros, no
último dia 17/04/2020, estamos recebendo a busca por informações, de categorias de
classes e consumidores, com o intuito de esclarecer como devem ser orientadas as
relações de consumo na situação de pandemia declarada pelas autoridades mundiais,
federais, estaduais e municipais.
Vimos através da presente recomendação expor o que segue:
De início, enquadrando a recomendação nas prestações de serviços de
Transportes Escolares como contrato contínuo (anual ou semestral) e intimamente
ligado ao educacional, é imperioso salientar que o Código de Defesa do Consumidor adotou
o sistema de responsabilidade civil baseado na teoria do risco da atividade. Nesta toada, o
fornecedor tem a liberdade de explorar o mercado de consumo, mas também assume o risco
de reparar danos em caso de insucesso. Ainda, mister consignar que o Código de Defesa do
Consumidor, alicerçado na teoria do risco da atividade, estabeleceu para os fornecedores,
como regramento geral, a responsabilidade objetiva, estabelecendo as excludentes desta
responsabilidade nos seus art. 12, § 3º e no art. 14, também no §3º.
Embora existam as responsabilidades, bem como as suas excludentes, não foram
previstas no CDC as hipóteses de excludentes decorrentes de caso fortuito e força maior, que
é a situação formada por conta da pandemia. Todavia, existem posicionamentos diversos
admitindo tais hipóteses como excludentes, (suprimi) pois como a lei consumerista visa
proteger as relações de consumo, ocorrido o fato imprevisível e inevitável, após a colocação
do produto ou serviço no mercado de consumo, haveria a quebra do nexo causal, e, portanto,
não se podendo responsabilizar o fornecedor por evento ao qual não deu causa, nem tinha
como prevê-lo ou evitá-lo.
Nesse contexto, tais institutos poderiam ser invocados perante o Poder Judiciário
para discussão dos contratos firmados entre os fornecedores de transportes escolares e os pais
dos alunos, o que poderia resultar no cancelamento dos contratos e em prejuízos enormes
para a vida acadêmica de milhares de estudantes, bem como inviabilizar a prestação de serviço
proposta.
Deste modo, alinhado com a maioria dos PROCONS do Brasil, o PROCON
Municipal de Ribeirão Preto, bem como o Ministério Público, na busca de minimizar as
discussões judiciais, em que cada uma das partes traria argumentos jurídicos consistentes e,
sobretudo, o rompimento de contratos estabelecidos em diversos setores da economia, têm
trabalhado no sentido de construir negociações em face da atual epidemia e das dificuldades
operacionais dela decorrentes.
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E para tal desiderato, recomendamos:
1. aos Prestadores de Serviço de Transporte Escolar no município de Ribeirão Preto,
que reconheçam a vulnerabilidade dos consumidores, bem como o seu direito à
informação e ao equilíbrio contratual quando da desistência da manutenção do
contrato em recomendação;
2. aos Prestadores de Serviço de Transporte Escolar no município de Ribeirão Preto
que disponibilizem e divulguem, aos alunos e/ou responsáveis legais meio ou canal
de diálogo à distância, como cumprimento das restrições referentes ao
isolamento/distanciamento social, assim possibilitando as discussões decorrentes dos
contratos celebrados;
3. aos Consumidores e Prestadores de Serviço de Transporte Escolar no município
de Ribeirão Preto e que mantenham o contrato firmado, mesmo tendo as partes
direito à resolução contratual, visando garantir o serviço ainda que de forma alternativa,
e, quando for o caso, mediante reposição;
a. os períodos que não puderem ser objetos de reposição devem ser devidamente
compensados, proporcionando os prestadores de serviço do transporte escolar,
mesmo que parcialmente ao valor contratado, um desconto correspondente ao
período em que não houve a prestação do serviço;
4. aos Prestadores de Serviço de Transporte Escolar no município de Ribeirão Preto
que enviem aos seus consumidores, no prazo de 10 (dez) dias, proposta de revisão
contratual, para vigorar no período de suspensão do transporte escolar, devendo
considerar as despesas inicialmente previstas e as não realizadas durante o período de
pandemia, informando-as, aos mesmos, com as devidas comprovações, bem como
estabelecendo prazo mínimo de (10) dias para a resposta dos consumidores;
5. aos Consumidores e Prestadores de Transporte Escolar no município de Ribeirão
Preto que, retornando o transporte escolar, restabeleçam o equilíbrio econômico e
financeiro do contrato, utilizando como parâmetro a redução do número total de
viagens contratado, com o consequente abatimento proporcional do preço;
6. aos Prestadores de Transporte Escolar no município de Ribeirão Preto que
observem a opção do consumidor de rescindir o contrato, caso este último não
concorde com a proposta de revisão contratual, como sendo motivada por caso
fortuito ou de força maior, ocorrido posteriormente à relação da avença, não pode ser
considerada como inadimplemento contratual, e, assim, nada podendo ser cobrado a
esse título (Lei n.º 8.078/1990, arts. 6º, V e 46; Código Civil arts. 393 e 607);
7. por fim, aos Consumidores e Prestadores de Transporte Escolar no município de
Ribeirão Preto que todo e qualquer acordo ou distrato seja realizado por escrito,
MPSP – Promotoria de Justiça Cível do Consumidor – R. Otto Benz, 1070 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-580 – Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] PROCON/RP – R. Aureliano Garcia de Oliveira, 266 – Nova Ribeirânia – CEP 14.096-750 - Ribeirão Preto/SP - E-mail: [email protected] 5
obedecendo aos regramentos estabelecidos pelo CDC e baseado na boa-fé e na
conservação do negócio jurídico.
Desta feita, de maneira a proteger e resguardar os direitos dos consumidores, bem
como, em manter o equilíbrio na relação de consumo, ressaltando que o Consumidor
é a parte mais vulnerável da cadeia de consumo, vimos publicar a presente
recomendação para que, se constatando práticas abusivas por parte dos fornecedores,
a Promotoria de Justiça Cível do Consumidor de Ribeirão Preto e o PROCON Municipal
de Ribeirão Preto tomarão as providências e medidas cabíveis no âmbito das suas
competências, analisando caso a caso, monitorando, coibindo e penalizando quaisquer
práticas neste sentido.
Ribeirão Preto, 28 de abril de 2020.
Ramon Lopes Neto Feres Junqueira Najm
2º Promotor de Justiça Auxiliar de
Ribeirão Preto
Promotoria de Justiça Cível do
Consumidor de Ribeirão Preto
Chefe de Divisão de Gerenciamento
do PROCON de Ribeirão Preto