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0 FACULDADE CATÓLICA DE UBERLÂNDIA Cristiane Pereira Rodrigues Débora Pereira Inácio Josane Aloise Herckert Samuel Juliana Gomes Nogueira Sousa Macsuelma Jansen Marcelo Luiz Pereira Matheus Silva Lima Nayara Gomes Neusa Alves da Silva RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA MODERNIZADORA

RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA MODERNIZADORA

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O presente estudo tem como ponto de partida a análise da formulação da perspectiva modernizadora, juntamente com as vertentes de pensamentos que deram origem a tal discussão. A importância de se discutir esses temas está na necessidade de fazermos um breve retrospecto histórico nos fatos que culminaram no movimento de reconceituação do agir profissional do Serviço Social no Brasil, sendo esse nosso objetivo principal, por tanto, destacaremos dois acontecimentos históricos e decisivos para a síntese desse movimento, o “Seminário de Teorização do Serviço Social” em Araxá (MG) e o “Seminário de Teorização do Serviço Social” em Teresópolis (RJ), que resultaram em dois documentos essenciais, que consolidaram o movimento de reconceituação da profissão no Brasil, os quais analisaremos mais detalhadamente no decorrer deste texto.

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FACULDADE CATÓLICA DE UBERLÂNDIA

Cristiane Pereira RodriguesDébora Pereira Inácio

Josane Aloise Herckert SamuelJuliana Gomes Nogueira Sousa

Macsuelma JansenMarcelo Luiz PereiraMatheus Silva Lima

Nayara GomesNeusa Alves da Silva

RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA

MODERNIZADORA

UBERLÂNDIA

2010

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CRISTIANE PEREIRA RODRIGUES

DÉBORA PEREIRA INÁCIO

JOSANE ALOISE HERCKERT SAMUEL

JULIANA GOMES NOGUEIRA SOUZA

MACSUELMA JANSEN

MARCELO LUIZ PEREIRA

MATHEUS SILVA LIMA

NAYARA GOMES

NEUSA ALVES DA SILVA

RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA

MODERNIZADORA

Trabalho apresentado ao curso de Serviço Social da Faculdade Católica de Uberlândia como requisito parcial para avaliação na disciplina Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social II. Orientadora: Juliana Maria Batistuta Teixeira Vale

UBERLÂNDIA

2010

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SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................ 3

2. A vertente estudada em relação a trajetória histórica do movimento de reconceituação no Brasil .........................................................................................

3

3. A formulação da perspectiva modernizadora ................................................... 4

4. Documento de Araxá – Teorização do Serviço Social ...................................... 5

4.1. Natureza do Serviço Social ............................................................................... 5

4.1.1. Objetivos do Serviço Social ........................................................................... 6

4.1.2. Funções do Serviço Social ............................................................................. 7

4.2. Adequação da Metodologia às funções do Serviço Social ............................. 8

4.3. Serviço Social e realidade brasileira na perspectiva modernizadora .......... 10

5. Documento de Teresópolis: cristalização da perspectiva modernizadora ...... 11

5.1. Relatório do Grupo A ....................................................................................... 15

5.2. Seminário de Teresópolis Relatório B .................................................................. 18

6. Conclusão .............................................................................................................. 22

Referências ............................................................................................................... 23

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1. Introdução

O presente estudo tem como ponto de partida a análise da formulação da

perspectiva modernizadora, juntamente com as vertentes de pensamentos que deram

origem a tal discussão. A importância de se discutir esses temas está na necessidade de

fazermos um breve retrospecto histórico nos fatos que culminaram no movimento de

reconceituação do agir profissional do Serviço Social no Brasil, sendo esse nosso

objetivo principal, por tanto, destacaremos dois acontecimentos históricos e decisivos

para a síntese desse movimento, o “Seminário de Teorização do Serviço Social” em

Araxá (MG) e o “Seminário de Teorização do Serviço Social” em Teresópolis (RJ), que

resultaram em dois documentos essenciais, que consolidaram o movimento de

reconceituação da profissão no Brasil, os quais analisaremos mais detalhadamente no

decorrer deste texto.

2. A vertente estudada em relação à trajetória histórica do movimento de reconceituação no Brasil

Nos anos 60 o Serviço Social vai questionar seus referenciais devido à

conjuntura histórica vivida que intensificou os movimentos políticos culturais. Sob esta

atmosfera surge um amplo movimento de Reconceituação em vários níveis como o

teórico, o metodológico, o técnico/operativo e o ideopolítico. Este movimento impõe

aos Assistentes Sociais a necessidade de construir um novo projeto profissional que irá

se comprometer com as demandas e interesses dos trabalhadores e das camadas

populares usuárias das políticas públicas, além de uma necessária validação teórica.

Irão marcar este processo as experiências de grupos de Assistentes Sociais da

esquerda Católica e dos projetos de Educação de base e de organização popular em

comunidades urbanas e rurais, estes inspirados pela educação para a libertação e pelo

método de Alfabetização de Paulo Freire.

Cabem a este processo três momentos distintos: a vertente Modernizadora que

cobre a segunda metade dos anos 60, a inspirada na fenomenologia que surge um

decênio após a primeira e a vertente Marxista que se localiza na abertura dos anos 80. A

vertente Modernizadora será o objeto deste presente estudo e se caracteriza pela

incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e mais tarde sistêmicas

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(positivismo), o positivismo pode ser considerado o mais conservador, possui uma

objetividade cientifica, mas busca a neutralidade, busca uma ciência social desligada

das classes sociais, das posições políticas, dos valores morais, das ideologias, das visões

de mundo. Vê o indivíduo como único na formação de um todo, onde cada indivíduo

exerce uma função específica e sua má execução irá significar um desregramento da

mesma.

O núcleo central do Serviço Social nesta perspectiva é a tematização do mesmo

como interveniente, dinamizador e integrador no processo de desenvolvimento,

aceitando como inquestionável a ordem sócio-política advinda do golpe militar de Abril,

retornando assim ao tradicionalismo e dotando a profissão de referências e instrumentos

capazes de atender as demandas advindas desta ordem estando em sincronia com a

mesma.

3. A formulação da perspectiva modernizadora

O processo de renovação do Serviço Social no Brasil tem sua primeira expressão

a partir do desenvolvimento da perspectiva modernizadora iniciada no encontro de

Porto Alegre, em 1865. Mas só dois mais tarde, em 1967, tem sua formulação afirmada,

com os resultados obtidos no primeiro “Seminário de Teorização do Serviço Social”,

em Araxá (MG) entre os dias 19 e 26 de março daquele ano, e mais tarde um pouco em

1970 pelo segundo evento desse tipo em Teresópolis (RJ), nos dias 10 a 17 de janeiro.

Esses encontros deram origem a dois documentos importantíssimos para o

movimento de reconceituação iniciado com a perspectiva modernizadora da profissão,

são eles o “Documento de Araxá” e o “Documento de Teresópolis”.

Porém, a perspectiva modernizadora não se conteve apenas a esses dois

documentos, houve ainda grande influência de trabalhos de profissionais e docentes que

discutiram o tema, entre a metade da década de sessenta e o final da década de setenta,

dos quais o estudioso que mais se destacou foi Lucena Dantas.

Mas vamos nos conter neste estudo, a falar sobre esses dois documentos que

tiveram fundamental importância na formulação do Serviço Social voltado para a

realidade brasileira. Já que até então eram seguidos modelos de países capitalistas

centrais e agências internacionais como a ONU, que não se adequavam ao contexto

brasileiro.

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Não podemos deixar de citar, no entanto, a tendência desenvolvimentista desses

documentos, naturalmente influenciados pelo ideário de desenvolvimento econômico-

social e político decorrente do governo golpista de abril de 1964, que acoplaria mais

tarde, a noção de segurança em seu discurso ideológico. Portanto os resultados obtidos

em Araxá e Teresópolis mostraram-se bem sincronizados com o regime vigente.

4. Documento de Araxá – Teorização do Serviço Social

4.1. Natureza do Serviço Social

Esse capítulo realiza uma analise dos objetivos distantes e operacionais do

Serviço Social, em busca de mudança social.

O documento de Araxá foi um resultado de um ato de reflexão de 38 Assistentes

Sociais, que teve como ponto de partida a apreciação da profissão: “Como prática

institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela ação junto a indivíduos como

desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de

estruturas sociais inadequadas” (CBCISS, 1986:24).

Uma discussão foi realizada ao questionar se o Serviço social é uma ciência

autônoma, um conjunto define como “Ciência Social Aplicada”, devido à utilização dos

conhecimentos de outras ciências, para intervir na realidade social, outro grupo sustenta

a posição de independência para o Serviço Social que possui um conhecimento

científico, normativos e transmissíveis, em torno de um objetivo comum, e o ultimo

grupo afirma que o Serviço Social é uma ciência quando sintetiza as ciências

psicossociais.

Devido aos elementos incluídos ao definir Serviço Social, a questão fica em

aberto, para ocorrer um consenso e caracterizar o Serviço Social é necessário ligar ao

conhecimento especulativo e prático, é considerá-lo como uma técnica social que

influencia o comportamento humano e o meio nos seus inter-relacionamentos. Com o

processo de transformação dos conceitos de Serviço Social e sua sistematização como

disciplina, foi possível afirmar a existência de componentes essenciais como

instrumentos de intervenção na realidade social que atua na base das inter relações do

binômio individual da sociedade, com sua teorização a partir da “práxis”, ou seja, o

Serviço Social que pesquisa e identifica os princípios ligados à prática sistematiza sua

teoria.

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Com a análise critica do “modus operandi” o Serviço Social possui ferramentas

para elaboração da teoria e para disciplina. Com a evolução no Brasil ocorre o

aparecimento do Estado como paternalista coincidente com as origens do Serviço

Social. Foi um fator para realizar um sistema instituições sociais com o objetivo de

propor programas assistências de caráter imediatista, contribuindo para uma imagem de

que o Serviço Social realizava atividades de prestações sociais assistenciais dificultando

a analise critica em que o Serviço Social poderia buscar uma ação centrada de

preferência nas estruturas sociais, dessa forma assumiu o papel de contribuir para

organização das técnicas, para atuação social de diretriz operacional nesse contexto

histórico que vivencia uma linha assistencialista da mesma, foi em busca de um apelo

ao Serviço Social para ações preventivas.

Dessa forma reconhece que os caracteres corretivos, preventivo e promocional

são uma particularidade do Serviço Social e específicos e comuns a outras ciências

teóricas prática com uma linha de simultaneidade e não de opção sem ênfase na

realidade ambiental e social.

Caráter corretivo: intervenção na realidade com o objetivo de remover as causas

que impede ou dificulta o desenvolvimento do indivíduo a partir da atuação do Serviço

Social, com atuação de micro e macroestrutura.

Caráter preventivo: é um processo de intervenção que busca evitar as causas de

desajuste inserindo, com a possibilidade de atuação preventiva como uma decorrência

do caráter do Serviço Social.

Caráter promocional: promover e capacitar o individuo para o mesmo atingir a

plena realização de suas potencialidades.

Com esses caracteres com atuação adequada aos contextos, o Serviço Social é

chamado para atuar com o papel de modificar o contexto, onde o mesmo deve orientar-

se no sentido de consciência dos problemas sociais em busca do desenvolvimento do

país, com o desenvolvimento mundial constituem a inserção da profissão na realidade

dos mesmos países ou região. Dessa forma com o novo foco do Serviço Social em

romper o condicionamento de sua atuação é incorporado novos métodos e processos.

4.1.1. Objetivos do Serviço Social.

Ocorre a distinção entre dois objetivos: o objetivo remoto do Serviço Social e

seus objetivos operacionais.

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Objetivo remoto do Serviço Social pode ser considerado como provimento de

recursos em busca do desenvolvimento, a valorização e a melhoria de condições do ser

humano, ou seja, um embasamento teórico do Serviço Social para enriquecer o

conteúdo.

Ex.: Declaração Universal dos Direitos do Homem, das Nações Unidas.

Objetivos operacionais:

a) Identificar e tratar problemas ou distorções residuais que impedem o indivíduo

estimular a continua elevação de seus padrões;

b) Colher elementos e elaborar dados referentes a problemas ou disfunções que esteja a

exigir reformas das estruturas e sistemas sociais;

c) Criar condições para tornar efetiva a participação consciente de indivíduos, grupos,

comunidades e populações para provocar mudanças necessárias;

d) Implantar e dinamizar sistemas e equipamentos que permitam realização dos

objetivos.

4.1.2. Funções do Serviço Social

De acordo com os objetivos do Serviço Social ocorrem as suas funções em

diferentes níveis de atuação:

a) Política Social: promover o processo de formulação da política social,

quando ausente, ou de sua dinamização para provocar reformulação

necessária para oferecer subsídio ao embasamento dessa política como

canais aos objetivos a serem atingidos.

b) Planejamento: traz o conhecimento para contribuir com a criação de

condições que permitam a participação popular no processo de

planejamento.

c) Administração dos Serviços Sociais: promover a participação de pesquisas

operacionais para levar os usuários a participar da programação social dos

serviços.

d) Serviços de atendimentos direto corretivo, preventivo e promocional,

destinados a indivíduos, grupos, comunidades, populações e organizações:

trabalha com o individuo que apresenta problemas ou dificuldades de

integração social através de mobilização de suas potencialidades individuais,

visando a sua integração numa perspectiva de desenvolvimento.

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4.2. Adequação da Metodologia às funções do Serviço Social

O documento de Araxá veio para atender aos reclamos dos profissionais do

Serviço Social.

De início, a idéia seria formar cinco grupos com temas diferentes que seriam

levados ao plenário para serem discutidos. Houve maior interesse em discutir sobre os

conceitos básicos e metodologia por parte dos participantes.

Este documento vai romper com a exclusividade do tradicionalismo e vai dar

lugar ao transformismo, porém sem o interesse de ser definitivo.

O Serviço Social atua como intervenção entre o homem e a sociedade através de

pesquisas e identificação de questões sociais que muitas vezes é causada por estruturas

inadequadas. Para a elaboração da teorização do Serviço Social é fundamental a análise

crítica.

Os encontros regionais questionaram também sobre a falta de orientação

científica da metodologia do Serviço Social, e para se chegar à adequação à realidade

requer formação filosófica.

No Brasil, também se observa a princípio que o Serviço Social era como uma

assistência imediata, uma imagem vinda desde o passado ligado à caridade, o que

dificultou o foco do Serviço Social como estrutura social, desencadeando a passagem do

quadro assistencialista para ações preventivas, consistindo em intervenções com o

objetivo de remoção de causas, evitando os desajustes, propondo elementos que possam

se eliminados.

O caráter promocional de Serviço Social consiste na habilitação da população,

levando-os a atingir a plena realização do que é capaz.

O Serviço Social atua sob novas linhas de teoria, o de levar a população a se

conscientizar sobre os problemas sociais, por exemplo.

O documento determina a relação entre o objetivo remoto e os objetivos

operacionais da profissão. O objetivo remoto pode ser considerado como a principal

estrutura de recursos para o desenvolvimento do ser humano. Na falta de uma teoria

formulada sobre a universalidade da condição humana, é aceito a Declaração Universal

dos Direitos do Homem, resultado de um acordo feito entre representantes de várias

culturas, necessitando-se de investigações sistemáticas, ou seja, organizado sobre a

matéria.

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Os objetivos operacionais são a identificação e tratamento dos problemas sociais,

a coleta de elementos e elaboração de dados sobre os problemas, criação de condições

para integração do indivíduo em uma sociedade melhor, implantação de sistemas e

equipamentos que permitam a realização dos seus objetivos.

O Serviço Social de caso deve ser aplicado de forma a capacitar o indivíduo a

integrar-se em sua comunidade e em seu desenvolvimento, setores os quais, o

profissional trata-os à base do relacionamento Assistente Social/cliente. A aplicação do

Serviço Social de caso deve ocorrer juntamente com o de Grupo, deve também ser

vinculada ao desenvolvimento de projetos com objetivo de eliminar ou prevenir os

problemas identificados nos tratamentos de casos.

O Serviço Social de Grupo é preventivo e terapêutico, capacita o indivíduo a

melhorar seu relacionamento social e analisar a melhor solução para seus problemas

pessoais, de grupo e de comunidade. Possui uma linha sociológica moralizadora.

O processo de desenvolvimento de comunidades possui ampla diversidade

profissional, nem sempre, constituída por assistentes sociais, estes recebem treinamento

e base teórica para formação do Assistente Social. O desenvolvimento de comunidade

visa capacitar a população para integrar-se no desenvolvimento através de ação

organizada. As ações eram impostas.

A busca por maiores rendimentos no Serviço Social resultou em várias formas de

abordagem como a integração dos processos de Serviço Social, de programas e projetos,

das técnicas dos processos em programas e da docência com o exercício profissional e

pesquisa.

Apesar da administração não ser atribuída ao assistente social, ele desempenha

funções administrativas, que é utilizada como apoio a execução de suas atividades, e por

esse motivo, está a exigir estudos no campo da administração voltada para a

problemática específica do Serviço Social.

O documento de Araxá conduz a adequação da metodologia das funções do

Serviço Social que são realizadas em dois níveis: o da micro e o da macroatuação.

A microatuação é essencialmente operacional e na macroatuação as funções são

integradas ao nível de política e planejamento para o desenvolvimento.

O documento faz uma distinção entre infra-estrutura social, econômica e física,

dando prioridade à infra-estrutura social compreendida como básica, de importância

fundamental, merecendo prioridade igual e não inferior a assegurada para a solução dos

problemas da infra-estrutura econômica e física.

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4.3. Serviço Social e realidade brasileira na perspectiva modernizadora

O processo de modernização do Serviço Social tem sua marca no reflexo de

movimentação político e social, marcando o esforço da categoria profissional em torno

da sistematização da prática em meio a um período mais rígido da ditadura militar entre

o ano de 1969 a 1974, no qual, as ações profissionais passaram a ser questionadas

quanto a sua eficácia mediante a realidade social brasileira, assim como também os

fundamentos teóricos e metodológicos que fundamentavam sua prática. O período

embasado em um modelo repressor e autoritário impunha ao Assistente Social a

operacionalizar os interesses do Estado.

A necessidade do conhecimento da realidade brasileira é pressuposto

fundamental para que o serviço social nela possa inserir adequadamente sua

reformulação da teoria/prática, com um planejamento para intervenção da realidade

brasileira, com vistas das necessárias mudanças no aspecto econômicos, tecnológicos,

sócio-culturais e político-adiministrativos. Nesta conotação de desenvolvimentos o

serviço social entende que o homem deve ser nele simultaneamente, agente e objeto, em

busca de sua promoção humana num sentido de totalidade, propiciando o

desenvolvimento não só a uma parte da população, mas de cada individuo.

O serviço social, como técnica, dispõe de uma metodologia de ação que utiliza

diversos processos, sendo eles:

- Serviço social de casos no qual é um conjunto de conhecimento teórico-práticos

identificável e transmissível, torna-se urgente focalizar alguns aspectos referentes a sua

utilização adequada a realidade brasileira, mais do que propriamente uma atenção

particularizada a sua teoria.

- Serviço social de grupo se modificou em conseqüência da evolução histórica do

processo, tradicionalmente, ação do assistente social se concentrava no grupo e nele

circunscrevia seu limite, hoje busca um ajuste efetivo da clientela no processo social

mais amplo tendo a natureza do processo como sócio-educativo podendo ter caráter

terapêutico e/ou preventivo.

O desenvolvimento de comunidade é um processo interprofissional que visa a

capacitar a comunidade para integra-se no desenvolvimento através de ação

organizadora, para atendimento de suas necessidades e realizações.

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Esses processos foram considerados até o momento, os modelos de ação do

serviço social em sua intervenção na realidade social, mas recente se inicia a utilização

também de processo de trabalho com população de maneira mais sistematizada, a fim de

romper com a ausência de referencias teóricas e metodológicas na profissão e rever os

elementos característicos a essa realidade elaborando e incorporando novos métodos

onde se tem dois diferentes níveis de atuação: a microatuação inserida no rotulo

tradicional que visa o indivíduo com seus desajustamentos familiares e sociais, e a

macroatuação inserida no rotulo moderno que visa o processo de desenvolvimento

pensado globalmente, para a realização integral do homem, conforme a realidade social

a ser estudada, O serviço social deve estabelecer critérios de prioridade e a definição de

opções adequadas as exigências da realidade econômico-social.

O documento de Araxá de 1967 comenta sobre a realidade brasileira e o serviço

social, mas não discute a realidade, ele deixa ao Assistente Social, um breve comentário

para o avanço da teorização do Serviço Social dentro de uma linha conservadora, no

qual o mesmo possa desenvolver um trabalho de acordo com a realidade social

brasileira. O documento estabelece uma relação entre “objetivo remoto e objetivos

operacionais” da profissão.

É nessa perspectiva de globalidade que o documento de Araxá, tem o propósito

de adequação da metodologia das funções do serviço social, tendo na macroatuação o

ponto essencial para se alcançar essa nova perspectiva, mas tendo a clareza para se

combinar a micro e a macroatuação, quando assim for necessário.

Como vimos o Serviço Social e a realidade brasileira, no documento de Araxá

não, rompe com o tradicionalismo, mas a um avanço sobre esse tradicionalismo na

esfera de teorização do serviço social dentro de uma linha conservadora.

5. Documento de Teresópolis: cristalização da perspectiva modernizadora

Em 1970, foi realizado em Teresópolis (RJ), um seminário para estudar a

metodologia do serviço social. Esse evento foi idealizado para ser uma continuidade do

histórico Seminário de teorização do Serviço Social, realizado em Araxá (MG), em 1967. O

seminário reuniu 35 Assistentes Sociais, que divididos em dois grupos, inseriram a

metodologia empregada dentro de um esquema cientifico e introduziram algumas mudanças

na termologia tradicional. Ao contrario do seminário de Araxá, o de Teresópolis não

produziu um documento final, foi o Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de

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Serviços Sociais, empresa que realizou o evento, que publicou os relatórios de cada grupo

separadamente.

É importante ressaltar que o traço conservador ganhou uma roupagem

modernizante, o que criou condições para processar sua adaptação à autocracia

burguesa, reforçando marcas históricas da profissão. Não obstante, contraditoriamente,

foi exatamente o processo que a incompatibilizou, posteriormente, com o segmento

profissional crítico fortalecido em decorrência da crise e da ditadura. A “perspectiva

modernizadora” teve sua hegemonia.

Posta em questão, no plano da idéia, a partir da segunda metade do ano de 1970,

juntamente com a crise da ditadura militar e de todos os instrumentos e instituições que

foram funcionais a ela. Os limites de tal perspectiva foram exaustivamente criticados

pela “intenção de ruptura”.

Os núcleos temáticos da perspectiva modernizadora no Serviço Social foram

principalmente desenvolvidos e aprofundados no I Seminário Regional Latino-

Americano do Serviço Social, realizado em maio de 1965, em Porto Alegre, iniciando o

processo de reconceituação na América Latina, prosseguiu no Seminário de Araxá

(MG) em março de 67 e se afirmou no Seminário de Teresópolis (RJ), em janeiro de

1970. Os documentos resultantes consolidaram as tendências sócio-políticas deste

modelo no período da ditadura militar.

Todas estas mobilizações influem profundamente na busca de propostas que, no

entanto, ficam aprisionadas pelo desenvolvimento, pela perspectiva do ajuste e da

adaptação. Este seminário de Teresópolis foi organizado também pelo CBCISS (Centro

Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais), com o propósito de

analisar a questão da metodologia profissional do Serviço Social. Neste sentido as idéias

apresentadas por Lucena Dantas são as mais relevantes, por causa da coerência e

competência teórica deste profissional.

Para Dantas o método profissional é o método científico aplicado: que opera

através do diagnóstico e da intervenção planejada. No positivismo considera-se que só

existe um método para conhecer a realidade. Nesta formulação aparece o papel de razão

instrumental (técnica, formal, abstrata, calculista). A intervenção profissional está

comandada por uma racionalidade calculista (cálculo de custos e benefícios), de um

indivíduo que opera em um mundo coisificado. Esta racionalidade possibilita também

um maior controle por parte das grandes burocracias das práticas profissionais.

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O positivismo opera com uma racionalidade auto-limitada, que no caso da ação

social, significa separar os meios dos fins. A esfera dos meios é, ou pode ser objeto de

análise racional (ou cálculo racional), mas a esfera dos fins, dos valores, não pode ser

objeto de análise racional.

A prática profissional comandada por esta perspectiva é uma prática de

verificação de hipótese. O Assistente Social opera através do desenvolvimento de

projetos, nos quais está embutida uma hipótese (explícita ou implicitamente), a hipótese

do projeto que estabelece uma relação entre duas ou mais variáveis. Na prática do

Assistente Social, este modifica uma ou mais variáveis (chamadas variáveis

independentes), através das atividades do projeto, para alcançar um determinado

resultado (variável dependente).

No texto de Teresópolis, o “moderno” triunfa completamente sobre o

“tradicional”, sendo que o dado relevante é que a perspectiva modernizadora se afirma

não apenas como concepção profissional geral, mas, sobretudo como pauta interventiva.

Dantas considera que a questão da metodologia de ação constitui a parte central e atual

da Teoria Geral do Serviço Social e afirma que a definição de um modelo de prática do

Serviço Social adequado à problemática social brasileira depende, grandemente, da

solução do seu problema metodológico. Sua pretensão consiste, exatamente, em

oferecer uma “introdução à metodologia do Serviço Social” voltada para que a prática

profissional se desenvolva e adquira um nível mínimo de cientificidade. Dantas busca

recuperar os métodos profissionais tradicionais (Caso, Grupo e Comunidade),

redefinidos segundo as variáveis de intervenção, entendidas enquanto uma dada ordem

de fenômenos sociais com que a prática profissional lida de maneira recorrente e

sistemática; nesta redefinição, conserva a legitimação das práticas tradicionais, mas as

amplia largamente, inserindo no seu marco (e/ou possibilitando a inserção de) práticas

suscetíveis de serem comandadas pelas exigências do processo da “modernização

conservadora”. A contribuição de Dantas se dá por conduzir ao limite o transformismo

até então subjacente à perspectiva modernizadora, sendo que conferiu a esta uma

organicidade teórica, de fundo estrutural-funcionalista, com viés da modernização

conservadora embasando inteiramente a angulação desenvolvimentista, na qual o papel

profissional está enquadrado pela dominância tecnoburocrática.

O documento de Teresópolis compõe-se de dois grupos de profissionais

participantes, que se concentraram na reflexão sobre os temas “Concepção científica da

prática do Serviço Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”.

Page 15: RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA MODERNIZADORA

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No estudo do primeiro tema o Grupo A tem na elaboração desse esquema,

insistente consideração “da globalidade e do inter-relacionamento das necessidades

humanas” em que certos condicionantes básicos para a prática do Serviço Social não

decorrem de cada um dos níveis encarados isoladamente, mas das características

centrais da sociedade brasileira, país subdesenvolvido e em crise motivada por uma fase

de transição e mudanças. No que se toca a situação do Serviço Social, o grupo vai mais

longe: supõe três níveis de atuação, prestação direta de serviços, administração de

serviços sociais e o seu planejamento e, em seguida lista o conjunto de disciplinas

sociais que podem subsidiar a intervenção em cada um deles.

Nos dois relatórios, tirando as suas diferenças, há um denominador comum: a

concepção científica da prática do Serviço Social é assumida com uma intervenção. Em

realidade, o caráter científico da prática é identificado a uma racionalidade

manipuladora, que pode ser desmontada em operações singulares e regulares passíveis

de controle burocrático-administrativo, em ambos os relatórios, a “concepção científica

da prática do Serviço Social” é efetivamente reduzida ao estabelecimento de conexões

superficiais entre dados empíricos da vida social e à intervenção metódica sobre eles,

consideradas aquelas conexões.

A aplicação da metodologia do Serviço Social do Grupo A formula uma

sequência do procedimento metodológico de intervenção do Serviço Social que

configura a própria metodologia genérica investigação/diagnóstico e intervenção, já o

Grupo B vai mais além definindo a metodologia aplicável no nível do planejamento e só

depois cuidou da aplicável nos níveis de administração e prestação de serviços diretos.

As diferenças entre as colocações dos dois grupos são acessórias de fato, o

destaque visível é para o maior aprofundamento realizado pelo Grupo B, ambos dão

perfeita conseqüência, no tratamento da aplicação da metodologia do Serviço Social e

ao encaminhamento contido na concepção cientifica da prática da profissão.

As formulações constitutivas do Documento de Teresópolis, apreciadas

globalmente, possuem um tríplice significado no processo de renovação do Serviço

Social no Brasil, apontam para a requalificação do Assistente Social, definem,

nitidamente o perfil sócio-técnico da profissão e a inscrevem conclusivamente no

circuito da “modernização conservadora” e, com toda essa carga, repõem em nível mais

complexo os vetores que deram à tônica na elaboração de Araxá.

As reflexões de Teresópolis cristalizam a tendência, já expressa no documento de

1967, à redefinição do papel sócio-técnico do Assistente Social, ao situá-lo como um

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“funcionário de desenvolvimento”, Teresópolis propõe tanto uma redução quanto uma

verticalização de seu saber e do ser lazer. A redução está ligada à própria condição

“funcionária” do profissional: as tradicionais indagações valorativas são deslocadas pelo

privilégio da eficácia manipulativa, e o Assistente Social é investido de um estatuto

básica e extensamente executivo, mas longe de atribuições terminais e sem

subalternidade. A verticalização compreende precisamente a apropriação ideal de um

elenco mais operativo de técnicas de intervenção, com a conseqüente valorização da

ação prático-imediata.

O Documento de Teresópolis equivale à plena adequação do Serviço Social à

ambiência própria da “modernização conservadora” conduzida pelo Estado ditatorial em

benefício do grande capital e às características sócio-econômicas e político-

institucionais do desenvolvimento capitalista ocorrente em seus limites.

5.1 Relatório do Grupo A

Analisando o estudo do documento de Teresópolis, precisamente o grupo A no

qual se refere à Concepção Científica da Prática do Serviço Social e a Aplicação da

metodologia do Serviço Social. O condicionamento estudado no grupo A, foi inspirado

por Lebret, que por sua vez construiu um quadro geral de sete níveis, a partir de

“necessidades básicas” e das “necessidades sociais,” o grupo de estudantes desenvolveu

uma sistemática de trabalho dividida em cinco etapas, sendo: 1- Levantamento de

fenômenos significativos observados na prática do Serviço Social; 2- Identificação das

Variáveis significativas para o Serviço Social nos fenômenos observados; 3- Possíveis

funções do serviço Social. 4- Redução das funções; 5- Classificação das funções.

O grupo na elaboração desse esquema insiste na consideração da globalidade e

do inter-relacionamento das necessidades humanas e em que certos condicionamentos

básicos para a prática do Serviço Social, obtendo uma ação profissional voltada para a

intervenção da realidade.

Quadro geral de níveis e alguns exemplos:

Fenômenos Variáveis Possíveis funções Funções reduzidas

Nível Biológico e de Equipamentos Sanitário

Subnutrição Tabus alimentares Introdução e/ou substituição de valores no

De substituição de padrões

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comportamento alimentar e higiênico.

Nível Doméstico e Familiar

Distorções no comportamento sexual.

Iniciação sexual prematura e/ou inadequada

Orientação familiar De educação de base

Nível Educacional Alto índice de analfabetismo.

Dificuldade de acesso às informações.

Participação nos programas de formação profissional

Assistencial.

Nível Residencial Problemas de infra-estrutura urbana (água, esgoto, transporte, comunicação, etc.).

A falta de recursos relativos á educação, saúde, lazer e bem-estar.

Incentivo á formação de mutirão em caráter supletivo para complementar ações públicas, construções e melhoria da casa própria.

Mobilizadora.

Nível Cívico-Municipal

Alienação de faixas da população em relação à vida municipal.

Ignorância em relação às leis.

Inserção e integração no tempo e no espaço.

Conscientizadora.

Nível Sócio-Cultural

Individualismo. Ausência de consciência de classe e de consciência de comunidade.

Desenvolvimento de convivência de classe, consciência de nação, etc.

Desenvolvimento de convivência de classe, consciência de nação, etc.

Nível de Segurança Riscos sociais (doenças, velhice, acidentes de trabalho, morte, etc.)

Desconhecimento do sistema previdenciário.

Programas de extensão previdenciária para integração da mão-de-obra marginalizada.

De pesquisa de necessidades.

Classificação das funções:

Função em Serviço Social, se definiu pela intervenção das práticas assistenciais

desenvolvidas pelos "agentes da assistência” e "visitadores sociais” procurando emergir

com as necessidades humanas, necessidades individuais e necessidades familiares

através de encaminhamentos, aconselhamento e visitas domiciliares.

Page 18: RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA MODERNIZADORA

17

Estas funções são concebidas em microatuação (compreende os serviços diretos

através dos processos de casos, grupo e desenvolvimento e comunidade) e

macroatuação (criação de recursos, política social) e divididas em funções fins e

funções meios, podendo ser divididas em educativas (que preparam as populações para

participarem do esforço do desenvolvimento e concorrem para romper estruturas

mentais rígidas, valores e comportamentos de resistência à mudança) e curativas (são

necessárias para responder as necessidades básicas de populações marginalizadas ou

carentes).

Quadro classificatório das funções

Funções Fins Em microatuação Educativas: mobilizadora, educação de base, Substituição de padrões, conscientizadora, socializadoraCurativas: terapêutica, assistencial.

Em macroatuação Criação de recursos, política social.

Funções Meios Em micro e macroatuação Assessoria, pesquisa, planejamento, administração, política social.

Sua finalização ocorreu reiterando a necessidade de uma visão global, onde

conheceríamos a diversidade de manifestação dos fatos sociais em cada região do

Brasil, postos o enquadramento dos fenômenos levantados “no princípio da Causação

Circular Acumulativa” (Myrdal), o que leva a ser considerado no estudo metodológico

do Serviço social e a moldura do subdesenvolvimento.

Na intervenção profissional do Serviço Social podem-se destacar os seguintes

fenômenos: Coletivo, individual sendo eles de forma particular ou coletivo, que se exige

uma intervenção simultânea aos níveis de estrutura e particular, na qual detém processos

definidos de ação coerentes com a fenomologia da variável identificada.

Na configuração da investigação-diagnóstico (entrevistas, contatos individuais,

visitas domiciliares) faz-se com que haja uma formulação na seqüência do

procedimento metodológico de intervenção de Serviço Social e que a partir destas

reflexões, podemos analisar os subsídios propostos.

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18

Investigação/diagnóstico: Levantamento de necessidades, levantamento de

variáveis significativas de todas as necessidades, verificação da relevância do

fenômeno, verificação de interdependência das variáveis, formulação de hipóteses,

determinação, com base nas hipóteses formuladas, das funções, das escalas ou níveis de

atuação, das formas de atuação.

Intervenção

Montagem de plano de intervenção nas variáveis, implantação e execução do

plano, avaliação.

Compreende-se que é de estrema importância ressaltar que ao procedimento

metodológico que não tenha por objetivo a intervenção, mas que visa à verificação da

validade dos conhecimentos do Serviço Social e/ou a produção de novos conhecimentos

com vistas à formação de sua teoria, conduzindo a investigação cientifica na profissão.

E que o relatório do grupo A, menciona as necessidades básicas e sociais, abrangendo

num todo, as relações com os fenômenos sociais sendo, a infra-estrutura, a insegurança,

o desemprego e concluindo o nível de vida profissional dos assistentes sociais.

5.2 Seminário de Teresópolis Relatório B

O relatório B tinha por finalidade o Estudo do Serviço Social nos seus aspectos

teóricos e práticos para avaliar o progresso feito no sentido de um caminhar para

cientificidade, os documentos no relatório B, refletiram o pensamento dos profissionais

naquela época, isso constituiu um marco histórico do Serviço Social.

O grupo B, com inspiração distinta, também aplicada numa lógica

desenvolvimentista, construiu um quadro de fenômenos e variáveis, segundo o critério

das necessidades e problemas que podem ser objeto da atenção do Serviço Social.

O trabalho desenvolveu a partir de um modelo teórico capaz de delimitar todos

os fenômenos e variáveis significativas para a prática do serviço social.

2.1.1 FENOMENOS E VARIAVÉIS SGINIFICATIVOS PARA A PRÁTICA DO

SERVIÇO SOCIAL.

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O estudo do grupo B começou pelo exame dos problemas e necessidades dos

níveis de vida e sistemas de relações sociais, a conceituação dos níveis de vida e a

delimitação dos setores das necessidades que os compõem, foram resultados das

investigações do Uneted nations Resarch institute for Social Development (UNRISD).

Segundo os estudos feitos pelo instituto, os níveis de vida foram conceituados

como níveis de atendimento das necessidades humanas, classificadas em 06 setores que

são: saúde, alimentação, habitação, educação, segurança nacional social e lazer.

2.1.2 CONHECIMENTOS JÁ ELABORADOS PELAS CIÊNCIAIS SOCIAIS

Ao analisar as áreas de conhecimento no que se toca a situação de Serviço

Social, o grupo vai um pouco mais longe, adota um esquema de três níveis de atuação

(prestação direta de serviços, administração de serviços sociais e o planejamento), em

seguida faz uma lista do conjunto de disciplinas sociais que são: economia, psicologia,

psicologia social, dinâmica de grupo e antropologia cultural, etc., são as ciências que

poderia contribuir com a intervenção em cada um deles.

Diante das situações sociais problemas, o grupo sugere a adoção de

procedimentos lógicos, tanto em fases que predomina o conhecimento como de ação.

2.1.3 CONHECIMENTO JÁ ELABORADOS OU QUE O POSSAM SER, NO

CAMPO DA PROFISSÃO, PELO PROFISSIONAL OU POR QUALQUER

CIENTISTA SOCIAL.

Quanto à enumeração dos conhecimentos teve como base metodológica as

constatações de fato no campo profissional. O objetivo era abrir novas perspectivas para

as investigações no campo profissional nas áreas de conhecimento como: elemento

básico e preliminar ao estudo do Serviço Social, conhecimento em Serviço Social,

relacionam-se a profissão em suas atividades teóricas e práticas, conhecimento sobre o

serviço social tem como objeto de investigação específica.

ESPECIFICAÇÕES DA METODOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL

SEGUNDO OS CRITERIOS MAIS USADOS.

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20

SISTEMA-CLIENTE

Discutidos os métodos de serviço social pela corrente tradicional, inspirado pelo

modelo americano, e como os formulários do Seminário de Araxá e pelo Instituto de

Serviço Social de São Paulo, a metodologia do Serviço Social não pode ser feita

somente a partir de identificação do Sistema-Cliente.

Segundo esse critério “Sistema-Cliente”, limita a questão quase que exclusiva ao

nível da pratica direta, impedindo outros níveis de atuação.

PROCEDIMENTO LÓGICO FACE À SITUAÇÃO SOCIAL PROBLEMA

Reconhecimento das dificuldades das situações sociais ditas como problema,

como critério específico da metodologia, enquanto questão levada ao debate do objeto

do Serviço Social. Apesar de o objeto determinar o método, esse fato não impede que se

trate o problema metodológico e que o tratamento das duas questões podem e devem ser

conduzidas juntas num esclarecimento mútuo dos diversos problemas, como critérios

específicos, por considerar que a questão do objeto ainda não está suficientemente nítida

na teoria da profissão. E conclui com a prescrição das seguintes operações que

configuram a aplicação metodológica: no diagnostico, identificar e descrever,

classificar, explicar e compreender, prever tendências, na intervenção e preparação da

ação, execução e avaliação, igualmente neste plano, as diferenças entre as colocações

dos grupos são meramente acessórios, o destaque é para maior aprofundamento

realizado pelo grupo B.

Como resultado das reflexões, a ser utilizado no estudo no próximo item: Temos

Aplicação:

TEMA 3: APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL

3.1 Metodologia aplicável ao nível de planejamento;

3.2 Metodologia aplicável ao nível de administração em serviço social;

3.3 Metodologia aplicável ao nível de prestação de serviço social.

3.1. O planejamento foi considerado como o procedimento que orienta a tomada de

decisões políticas racionais com vistas ao desenvolvimento. O papel do serviço social

nesse processo se desdobra na sua presença efetiva nas etapas técnicas de:

Page 22: RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: PERSPECTIVA MODERNIZADORA

21

a) Elaboração de planos.

b) Estabelecimento através de suas organizações representativas. Compõe-se de quatro

etapas, de natureza política, técnica, administrativa e técnico-administrativa.

Foi estudado só o papel do serviço social na etapa técnica de elaboração dos planos.

a) Identificação de necessidades e aspirações;

b) Identificação de recursos;

c) Diagnóstico;

d) Formulação de objetivos e definição de metas e prioridades;

e) Estabelecimento de padrões e normas de sistemas e serviços;

f) Detalhamento de programas e projetos.

No processo de planejamento, a intervenção se situa em dois momentos: decisão e

execução, o primeiro visa a etapa de elaboração de planos (de natureza técnica) o

segundo a etapa de implantação (de natureza administrativa). A metodologia e o

conteúdo do planejamento social estão ainda em elaboração, inclusive para o setor de

serviços sociais no planejamento integrado.

3.2. METODOLOGIA APLICÁVEL AO NÍVEL DE ADMINISTRAÇÃO EM

SERVIÇO SOCIAL

Para fins de estudo, foram elaboradas as seguintes conceituações:

Diagnóstico – Conjunto de operações visando à coleta e à interpretação de dados, à luz

de hipóteses para determinação dos objetivos dos programas, metas e projetos.

3.3. Metodologia aplicável ao nível da prestação de serviços diretos.

Esse procedimento lógico foi adotado como hipótese de trabalho para a

exploração de diagnóstico e da intervenção do serviço social ao nível da prestação de

serviços diretos.

O RELATORIO FINAL

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Os Assistentes Sociais que escreveram o Documento de Teresópolis, conscientes

da responsabilidade assumida, reconhecem que o assunto deve ser objeto de estudos e

reflexões futuras. A matéria por grande demais, não pode ser suficientemente

aprofundada num encontro de sete dias, por isso o Seminário não esgotou o assunto de

grande valor.

O CBCISS submete a critica dos Assistentes Sociais os resultados do Seminário

de Teresópolis e espera haver contribuído de certa forma para o desenvolvimento de um

Serviço Social que responda cada vez mais às necessidades do cidadão brasileiro.

6. Conclusão

Concluímos que na perspectiva modernizadora o Serviço Social teve que se

adequar como instrumento de intervenção numa perspectiva desenvolvimentista,

exigida pelo processo sócio-político emergente no pós-64. Neste processo o Serviço

Social era visto como interveniente, dinamizador e integrador no processo de

desenvolvimento, mas sem contestar a ordem vigente, que exigia novos espaços sócio-

profissionais, mas estes deveriam estar de acordo com a racionalidade burocrática,

sendo impedido o questionamento.

Os dois documentos formulados nesta perspectiva, o de Araxá e o de

Teresópolis, buscam a teorização do Serviço Social, mas o primeiro não discute as

questões políticas e não faz um diagnóstico da realidade. Busca a teorização, mas está

limitada ao desenvolvimentismo, não rompe com o tradicionalismo, se mantendo na

ação interventiva. Já o de Teresópolis vem para cristalizar a perspectiva modernizadora

reafirmando a tendência de Araxá. O Assistente Social aparece como funcionário do

desenvolvimento com um papel sócio-técnico.

Todo um esforço de Reconceituação do Serviço Social fica limitado em uma

modernização conservadora onde as verdadeiras necessidades do usuário estão

vinculadas à ideologia burguesa, levando a uma manipulação de pensamento. Quando

não discutimos a perspectiva política da questão social, continuamos vendo a mesma

como um problema individual do usuário, e não conseguimos abranger as estruturas da

mesma, que estão envolvidas em uma questão mais abrangente e estrutural da

sociedade, e assim continuamos à mercê do tradicionalismo. Não há como mudar este

contexto sem uma crítica discussão sobre as estruturas sócio-políticas num todo.

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Referências

NETTO, Jose Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 6º edição São Paulo: Cortez, 2002.

Teorização do serviço social/Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais. Rio de janeiro: Agir, 1984.

Teorização do Serviço Social: Documento do Alto da Boa Vista/ Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais. Rio de janeiro: Agir, 1988.

MARTINELLI, Maria Lúcia; YAZBEK, Maria Carmelita; RAICHELIS, Raquel. O Serviço Social brasileiro em movimento: fortalecendo a profissão na defesa dos direitos.Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 95, p. 5-31, set. 2008.