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REDE URBANA E REESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL UM PERCURSO POR ENTRE REPRESENTAÇÕES 1 Rosa Moura 2 Refletir e levantar questões sobre a organização da rede urbana e a reestruturação do território nacional provoca inquietações que perpassam o campo do discurso predominante, a dimensão do real e a dimensão, a ela associada, do universo das representações, fortemente revestidas de ideologia. No entendimento de SANTOS (1999), a totalidade social é formada por mistos de “realidade” e de “ideologia”. A ideologia produz símbolos criados para fazer parte da vida real, que ora tomam forma de objetos, ora de discursos, tornando-a de fato objetiva, real, mais que isso, criando o real. BOURDIEU (1989) aponta representações “objectais”, como aquelas que se materializam em coisas ou atos, a partir de estratégias interessadas de manipulação simbólica, que têm em vista determinar as representações mentais, estas expressas nos atos de percepção e apreciação, de conhecimento e de reconhecimento, em que os agentes investem os seus interesses e os seus pressupostos. As bases das construções discursivas, que antecedem à construção das coisas, têm origem na ideologia hegemônica. Imbuídas por representações, induzem a uma compreensão dos fatos, uma reconceituação, uma resignificação do real e, por que não, uma realidade densa de metáforas e fabulações (SANTOS, 2000), eufemizada, refém de um poder simbólico que é por si subordinado, tornado uma forma transfigurada e legitimada de outras formas de poder (BOURDIEU, 1989). Essa realidade impõe-se na sociedade via produção de imagens e do imaginário, contribuindo para que se reproduza e se naturalize um pensamento que, hegemônico, se faz passar por único (SANTOS, 2000). Daí, a reflexão e o debate devem se fazer iniciar com uma questão posta por SANTOS (1999): como enfrentar a difícil tarefa da análise? Questão para a qual ele mesmo dá pistas: o movimento da sociedade, isto é, o movimento da totalidade (e do espaço) modifica a significação de todas as variáveis constitutivas, também a do símbolo (...). Por isso mesmo, a cada nova divisão do trabalho, a cada nova transformação social, há, paralelamente, para os fabricantes de significados, uma exigência de renovação das ideologias e dos universos simbólicos, ao mesmo tempo em que, aos outros, tornam-se possíveis o entendimento do processo e a busca de um sentido. (SANTOS, 1999, p.103) 1 Trabalho apresentado no VIII Simpósio Nacional de Geografia Urbana (SIMPURB), Cidade, Espaço, Tempo, Civilização: por “uma transformação radical da sociedade como sociedade política”, em Mesa de Debates. Recife, novembro de 2003. 2 Geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).

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REDE URBANA E REESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL UM PERCURSO POR ENTRE REPRESENTAÇÕES1

Rosa Moura2

Refletir e levantar questões sobre a organização da rede urbana e a

reestruturação do território nacional provoca inquietações que perpassam o campo do

discurso predominante, a dimensão do real e a dimensão, a ela associada, do universo

das representações, fortemente revestidas de ideologia.

No entendimento de SANTOS (1999), a totalidade social é formada por mistos

de “realidade” e de “ideologia”. A ideologia produz símbolos criados para fazer parte da

vida real, que ora tomam forma de objetos, ora de discursos, tornando-a de fato

objetiva, real, mais que isso, criando o real. BOURDIEU (1989) aponta representações

“objectais”, como aquelas que se materializam em coisas ou atos, a partir de

estratégias interessadas de manipulação simbólica, que têm em vista determinar as

representações mentais, estas expressas nos atos de percepção e apreciação, de

conhecimento e de reconhecimento, em que os agentes investem os seus interesses e

os seus pressupostos.

As bases das construções discursivas, que antecedem à construção das

coisas, têm origem na ideologia hegemônica. Imbuídas por representações, induzem a

uma compreensão dos fatos, uma reconceituação, uma resignificação do real e, por

que não, uma realidade densa de metáforas e fabulações (SANTOS, 2000),

eufemizada, refém de um poder simbólico que é por si subordinado, tornado uma forma

transfigurada e legitimada de outras formas de poder (BOURDIEU, 1989). Essa

realidade impõe-se na sociedade via produção de imagens e do imaginário,

contribuindo para que se reproduza e se naturalize um pensamento que, hegemônico,

se faz passar por único (SANTOS, 2000).

Daí, a reflexão e o debate devem se fazer iniciar com uma questão posta por

SANTOS (1999): como enfrentar a difícil tarefa da análise? Questão para a qual ele

mesmo dá pistas: o movimento da sociedade, isto é, o movimento da totalidade (e do espaço) modifica a significação de todas as variáveis constitutivas, também a do símbolo (...). Por isso mesmo, a cada nova divisão do trabalho, a cada nova transformação social, há, paralelamente, para os fabricantes de significados, uma exigência de renovação das ideologias e dos universos simbólicos, ao mesmo tempo em que, aos outros, tornam-se possíveis o entendimento do processo e a busca de um sentido. (SANTOS, 1999, p.103)

1 Trabalho apresentado no VIII Simpósio Nacional de Geografia Urbana (SIMPURB), Cidade,

Espaço, Tempo, Civilização: por “uma transformação radical da sociedade como sociedade política”, em Mesa de Debates. Recife, novembro de 2003. 2 Geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).

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TRANSFORMAÇÃO OU REESTRUTURAÇÃO? No trânsito entre essência e aparência, são incorporadas expressões e idéias,

transformadas em verdades absolutas, sem que sejam inteirados seus conteúdos ou

tornados precisos seus significados.

Reestruturação do território: o que significa essa expressão? A que

temporalidade está afeta? Refere-se à mudança plena, ruptura, ou apenas à

transformação em alguns padrões? Na dimensão do território nacional, o que teria dado

margem a uma reestruturação? Nessa dimensão, o uso do termo não estaria apenas

transpondo à leitura das configurações espaciais expressão usada na economia,

associada ao esgotamento do modelo de acumulação fordista e às articulações para o

estabelecimento de um novo padrão de acumulação flexível? Qual a importância do

território para essas transformações? Em que implica a urbanização nesse processo e

que elementos novos ela revela? Que papel assumem as metrópoles no sistema de

cidades resultante dessas mudanças? No tocante ao método, devemos pensar a

reestruturação como uma totalidade sistêmica ou dialética; em processo ou como fato

acabado?

A propriedade da expressão “reestruturação” encontra críticos e adeptos.

Alguns autores mostram que reestruturação significa estruturar de novo ou,

resguardando o sentido original da palavra estrutura, construir (LENCIONI, 2003). No

âmbito das ciências humanas, enquanto noção central do pensamento estruturalista, a

palavra estrutura incorpora o conteúdo da noção de sistema, como uma totalidade

fechada. Para apreender a reestruturação como totalidade, formada pela soma de suas

partes, todas as propriedades do processo deveriam se relacionar a elas. Porém, as

“propriedades do processo de reestruturação transcendem à soma das propriedades de

suas partes constitutivas, pois ela é produto da história e, assim, contém descompassos

e descontinuidades. Ela incorpora o tempo da reestruturação, mas também o tempo do

passado que se faz presente e anuncia o tempo do futuro”. (LENCIONI, 2003, p.2)

Ou seja, os efeitos das mudanças no âmbito das relações econômico-sociais,

exuberantes nestes tempos de globalização, mais além de sua magnitude, “resultan de

una combinación de continuidad y de cambio, donde lo pre-existente condiciona la

irrupción de ‘lo nuevo’ que, en muchos casos, ya había comenzado a esbozarse en el

pasado”. (DE MATTOS, 2002, p.2)

Porém, mesmo que algumas mudanças já fossem perceptíveis em fases

anteriores, nos últimos anos parece ter havido um aprofundamento e uma intensificação

de tendências, junto à conformação de uma nova arquitetura produtiva dominante,

fazendo com que se consolidasse uma nova base econômica metropolitana e,

3conseqüentemente, se processasse uma radical reestruturação de mercados de

trabalho e uma crescente dispersão territorial das atividades produtivas e da população.

Outros autores admitem que ocorre uma verdadeira reestruturação no modo de

urbanização, após um período duradouro de continuidade nas suas tendências

principais. Com base em estudos recentes, MESENTIER (2003, p.1) sintetiza que “está

em curso um processo de reestruturação ampla e articulada da economia e da sua

organização no território”. 3

Em termos populacionais, os processos de reestruturação econômico-espacial

no Brasil são associados à desconcentração demográfica das últimas décadas,

fortemente movida pelas migrações internas e influenciada por fatores de âmbito

macroeconômico e conjunturas econômicas internas e externas, assim como por

intervenções governamentais. A reconfiguração da rede urbana seria resultado do

aprofundamento da “integração/interação” entre grandes espaços regionais, nos quais a

população economicamente ativa se redistribui, contribuindo para a dinamização (ou

degradação) de mercados de trabalho sub-regionais. Esse conjunto mais específico de

mudanças associadas aos fatores espaciais seria capaz de, per si, promover a

reestruturação territorial (MATOS, 2003).

O que move esses processos e como se redefinem os centros de comando e

de subordinação? Para MATOS (2003, p.17), Ao lado da desconcentração econômica e demográfica, lentamente se redistribuem também as formas de exercício de poder econômico e político, a partir da emergência de novos atores que gradativamente redinamizam economias urbano-regionais emergentes.

O TERRITÓRIO SE REESTRUTURA? A célere urbanização de meados do século anterior – mais abrupta em

algumas unidades da federação que em outras, mas em todo o território nacional

intensa e transformadora – desencadeou a configuração de espacialidades, num

contraponto entre áreas de concentração e de esvaziamento, aglomeradoras e densas

ou de ocupação rarefeita e com reduzidos fluxos de interconexão entre poucas

centralidades expressivas. Zonas de densidade e de rarefação, conforme SANTOS e

SILVEIRA (2001), referindo-se tanto à presença de população e de atividades

econômicas, quanto do meio técnico-científico-informacional.

3 MESENTIER (2003) arrola autores como HARVEY (1989), SASSEN (1991 e 1998), SOJA

(1993) e SCARLATO (1997), que apontam uma descontinuidade da urbanização, com mudanças qualitativas em sua forma e estrutura básicas, além de outros que analisam a reestruturação da economia e sua organização no território, enfocando o significado da crise do fordismo para este processo, ou que assinalam que os processos de reestruturação na ordem territorial acometem regularmente o capitalismo histórico na sua longa duração.

4O que faz do território brasileiro um conjunto de complexos urbanos

extremamente densos e de extensos vazios? Que lógicas norteiam a configuração das

morfologias concentradoras, particularmente num momento em que tanto se discute a

supremacia de um espaço de fluxos sobre o espaço geográfico? Que determinantes

orientam a conformação das morfologias espaciais: o padrão de urbanização, as

relações da economia nacional com o mundo, o desenvolvimento das economias

regionais? Como vem se redesenhando a rede de cidades do Brasil?

É comum se atribuir a variáveis econômicas o papel de determinante das

dinâmicas territoriais. No entanto, a organização do sistema urbano é a síntese dos

processos de mudança no país, não devendo ser entendida como resultante, mas como

parte constitutiva das determinações desse processo, no qual a dinâmica e as

alternativas de localização da atividade econômica, assim como os movimentos da

população, têm um importante papel indutor (IPEA, 2002). Portanto, expressam uma

configuração e conformam um território em constante transformação. Associadas,

urbanização e economia impingiram formas e atribuíram conceitos, fizeram-se valer de

representações, muitas vezes apropriadas pela geografia.

É fato que até os anos 70, a indústria, usufruindo as possibilidades das

cidades, impôs uma lógica aglomerativa como condição básica à produção e

reprodução do capital. A “metropolização” aconteceu como centralidade fundamental a

esses processos. Nos anos 80, num contexto de crise, particularmente do investimento

industrial, seguido pela abertura econômica e reestruturação produtiva, foi estimulada

uma forma distinta de articulação das economias regionais, que resultou no que se

entende por “desconcentração” da economia (PACHECO, 1992 e 1996) ou da

polarização, com relativa “dispersão” da indústria e “reconcentração” regional (DINIZ,

1993; DINIZ e CROCCO, 1996), com a inserção de pólos ou regiões de crescimento –

“ilhas de produtividade” (PACHECO, 1996) –, que tiveram capacidade de capturar as

novas atividades econômicas.

Mas, como se comportaram os centros urbanos, subsidiando e vivendo os

efeitos desses processos? Confirmou-se a esperada “desmetropolização” ou

impulsionou-se a emergência de novas aglomerações urbanas? Pode-se dizer que o

reforço de “pontos”4 no território estaria influenciando a estruturação de uma rede de

cidades relativamente mais distribuída? Além de poucas novas centralidades e muitas

4 Entendidos como centros lindeiros às grandes áreas cultivadas – particularmente no Centro-

Oeste, Nordeste e Norte – ou ligadas às cadeias produtivas da agroindústria – no Sudeste e Sul –, reforçando a espacialização existente e ampliando a área de abrangência de novas centralidades.

5novas aglomerações, o que efetivamente muda na configuração territorial das últimas

décadas?

Tomando por base categorias definidas no estudo coordenado pelo IPEA

(2002) e organizando uma base de informações populacionais referentes aos períodos

1980-1991-2000 (MOURA, 2002), constata-se que:

• as aglomerações urbanas permanecem sendo um fenômeno de importância

incontestável no que se refere à absorção populacional. As 12 aglomerações

urbanas de caráter metropolitano mantiveram relativa estabilidade, com

participação na ordem de 33% da população brasileira, nos períodos

consecutivos, e, entre elas, sete apresentaram taxas de crescimento

superiores a 2% a.a. no intervalo 1991/2000;5 as 37 aglomerações urbanas

não-metropolitanas demonstraram contínua ascendência em sua proporção no

total da população, partindo do patamar de 11%, em 1980, para o de mais de

13%, em 2000, e entre elas 24 cresceram mais que 2% a.a., no intervalo

1991/2000, particularmente as situadas nas Regiões Sul e Sudeste;

• o único centro metropolitano que não conforma uma aglomeração (Manaus),

os centros regionais (compostos pelas capitais estaduais de regiões com

intenso crescimento, Campo Grande e Rio Branco) e os centros sub-regionais

16 (também formados, dentre outros, pelas capitais Palmas, Macapá e Boa

Vista, com crescimento superior a 3% a.a.) apresentaram ligeiro acréscimo em

participação no total da população brasileira e crescimento elevado, mesmo

que com taxas inferiores às da década passada;7

• os centros classificados como sub-regionais de nível 2 foram a única

categoria com participação no total da população em declínio e com as

5 Com destaque para as de Brasília, com 4,54% a.a., Curitiba, com 3,18% a.a. – ambas com

crescimento mais expressivo que o da década anterior –, além de Campinas e Goiânia, também com mais de 3% a.a. 6 Desses três recortes foram separados os pólos de aglomerações.

7 Segundo Matos (2003), a densidade e o acúmulo populacional da porção Sul/Sudeste da rede

urbana indicam que “nessas áreas amplamente urbanizadas o crescimento demográfico ocorreu antes de outras regiões do país e esbarra em seus limites estatísticos na atualidade (bases populacionais de grande tamanho). (...) Os mapas mostram não só a configuração mais intrincada da rede nas proximidades da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mas também indicam quais são os centros de maior crescimento: os localizados nas imediações da própria RMSP, os localizados na Transbrasiliana e os do Oeste do Paraná. De modo geral, percebe-se uma intensificação da rede de cidades, prefigurando o que alguns autores preceituam como ‘desconcentração concentrada’, já que os novos pontos-nódulos estão muito próximos de grandes centros urbanos e nas imediações de importantes entroncamentos rodoviários. Por outro lado, os dados mapeados mostram que a expansão urbana em ritmo alto ocorre sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, onde o incremento da urbanização é tardio em relação ao Sudeste, onde muitos municípios crescem em suas áreas urbanas e rurais em níveis bem superiores ao país”. (MATOS, 2003, p.11 e 12)

6menores taxas de crescimento do conjunto.

8 Esta categoria embute muitas

das chamadas “cidades médias”;

• os pequenos centros apresentaram crescimento abaixo da média nacional,

muito próximo ao vegetativo, ou até mesmo inferior a zero.

Esse comportamento da rede de centros observado nos dados remete a outras

questões. A começar pelos pequenos centros, estariam eles subordinados a uma lógica

distinta da que induz à concentração? Ou, organizados sob a mesma ordem, estariam

sendo incapazes de cumprir as exigências de uma produção que se opera sob

racionalidades externas? O que leva à discussão de que esses não podem ser

considerados “urbanos”? 9

Suas características quanto à dimensão e inserção no

processo produtivo implicariam de fato a necessária reconceituação do urbano? O que

singulariza o urbano: a densidade, a proximidade, o desenho físico de cidade, a

presença de grandes contingentes populacionais? Ou um padrão específico de

realização, oferta e consumo de bens e serviços, estes, sim, densos, complexos,

diversos, e alcançáveis nos mais recônditos lugares, graças às possibilidades do meio

técnico-científico-informacional?

SANTOS (1993) enfatiza o fim da separação tradicional entre o rural e o

urbano, na medida em que ocorre no país “uma verdadeira distinção entre um Brasil

urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil agrícola (incluindo áreas urbanas). No

primeiro, os nexos essenciais devem-se, sobretudo, a atividades de relação complexa

e, no segundo, a atividades mais diretamente produtivas” (p.9). Note-se que o autor

refere-se a “regiões agrícolas”, e não rurais, contendo cidades, e a regiões urbanas,

contendo atividades rurais, o que resultaria em “áreas agrícolas contendo cidades

adaptadas às suas demandas e (...) áreas rurais adaptadas às demandas urbanas”

(p.65). 10

8 Dentre eles, os que apresentam algum crescimento são aqueles que desempenham papel de

articuladores de outros centros menores em eixos peculiarizados pela dinâmica econômica, configurando morfologias também aglomerativas, como ocorre em Chapecó e Foz do Iguaçu – considerados nos estudos regionais como polarizadores de aglomerações “descontínuas” e “de fronteira”, respectivamente (IPARDES, 2000) –, ou situados em frentes de expansão agropecuária, como Barreiras, no Nordeste, ou, no Norte, Castanhal e Marabá (IPEA, 2002). 9 VEIGA (2002) critica essa categorização como resultado apenas do “entulho getulista” que

orienta, até o presente, as definições de perímetros. 10

Cabe lembrar que um forte crescimento populacional vem ocorrendo em áreas rurais no entorno das regiões concentradas. MATOS (2003) explica que muitos municípios, além de terem sofrido alta valorização do solo, estão saturados em termos de oferta de áreas urbanizáveis. Passa a ocorrer, fora dos atuais perímetros urbanos, uma ocupação urbana que o autor denomina “rurbana”. “A ‘rurbanização’, isto é, a ocupação de áreas rurais com atividades urbanas tem sido uma ‘estratégia’ de redução de custos imobiliários posta em prática nos últimos anos por famílias e firmas. O processo de desconcentração populacional atinge portanto áreas rurais de vários municípios prósperos da densa rede urbana do Sudeste, assim como

7DE MATTOS (2002) recorda que, como “había anticipado Lefebvre, está

culminando una revolución urbana, en la que el tejido urbano ha proliferado de tal forma

que los residuos de vida agraria se encuentran en vías de extinción”. (p.30)

Sob tais compreensões, é pertinente a dúvida de que esses pequenos centros

sejam efetivamente urbanos? Estariam suas populações descartando o paradigma da

urbanização, numa tentativa de escapar de suas mazelas? Ou estariam, exatamente ao

contrário, buscando qualificar esses diminutos espaços, para que conquistem as formas

urbanas replicáveis pela globalização? Sem colocar em discussão a pertinência dos

conceitos de rural e de urbano, o que essa dinâmica reserva para as espacialidades de

esvaziamento, de “rarefação”? A redistribuição territorial das atividades produtivas teria

levado efetivamente à “desruralização” de um território até então com base primário-

exportadora?

Ampliando a escala dos centros, o que de verdadeiro esconde a re-emergência

das “cidades médias” no debate nacional, sob uma retórica que acentua sua

importância a partir de uma aparentemente notável dinâmica de crescimento? O que

define essa categoria de cidades, o porte ou um nível funcional? O que leva a

afirmações, iluminadas de otimismo, de que elas estariam crescendo nos últimos anos?

Inúmeras análises de “cidades médias” vêm sendo realizadas a partir de

identificações meramente físicas, como o tamanho da população,11

agregando num

mesmo conjunto municípios que polarizam ou compõem aglomerações urbanas ou

áreas metropolitanas, assim como capitais de estados – unidades que reproduzem o

padrão concentrador e as contradições das metrópoles. Descartados desse conjunto, o

crescimento não se confirma. Os que permanecem no conjunto desempenham um

papel relevante, porém extremamente suscetível, já que comandam o “essencial dos

aspectos técnicos da produção regional, deixando o essencial dos aspectos políticos

para as aglomerações maiores, no país ou no estrangeiro, em virtude do papel dessas

metrópoles na condução direta ou indireta do chamado mercado global“. (SANTOS e

SILVEIRA, 2001, p.283)

Aproximando-se dos maiores centros, a dinâmica comprova que o fenômeno

aglomerativo se dissemina pelo espaço nacional. A considerar o grau de polarização

dos centros ainda não aglomerados nos respectivos estados e a lógica de apropriação

alcança a periferia dessa rede, onde a expansão demográfica é bem superior à das localidades mais centrais da rede”. (MATOS, 2003, p.12) 11 Publicação do IPEA sobre o tema, embora ainda mantenha a definição da categoria pelo porte populacional, já distingue cidades com mais de 50 mil habitantes que fazem parte das Regiões Metropolitanas e também separa aquelas que conformam aglomerações, somando a população da área aglomerada à população do pólo, quando para seu dimensionamento (ANDRADE e SERRA, 2001).

8do espaço, na qual a valorização no solo provoca seletividade de usos e ocupação,

pode-se antever a tendência de que essas centralidades, em curto prazo, venham a

configurar novas aglomerações urbanas.

METROPOLIZAÇÃO OU DESMETROPOLIZAÇÃO? Verdades ou fabulações? Estaria associada à idéia da desmetropolização, a

de “desindustrialização”? Qual a aderência desses conceitos à dinâmica econmico^-

espacial brasileira?

SANTOS (1993) aponta que fenômenos aparentemente contraditórios como

metropolização e desmetropolização são, na verdade, complementares, e o que se

assiste é ao “reforço da metropolização juntamente com uma espécie de

desmetropolização” (p.286). Conclui destacando que algumas metrópoles –

exemplificadas com São Paulo – colocam-se como “onipresentes”, ou seja, no comando

de um mercado centralizado, apoiado em bases informacionais, desorganizando e

reorganizando as atividades periféricas em todo o território.

Sem dúvida, ocorre uma refuncionalização dos espaços metropolitanos,

recolocando-os como pólos modificados, que se tornam cada vez mais seletivos para a

alocação de atividades e população. As funções de comando e gestão, que passam a

caracterizar as metrópoles, altamente tecnificadas, dispensam trabalhadores,

particularmente os menos qualificados. Os novos objetos urbanos introduzidos nesses

espaços desencadeiam uma onda de valorização imobiliária e induzem a um

deslocamento de atividades subsidiárias e de ocupações menos solváveis para áreas

mais distantes, porém conectadas ao núcleo central. Assim, grandes metrópoles e

mesmo suas áreas metropolitanas podem crescer menos, porém expandem-se. Mas

também se expandem as metrópoles de menor porte, estendendo suas áreas

periféricas e incorporando novos municípios ao núcleo metropolitano, que se tornam

similares às suas próprias centralidades intra-urbanas.

As grandes metrópoles provocam a conformação de complexos urbanos no

entorno, como se distingue em São Paulo, cuja Região Metropolitana abarca num

continuum outras áreas metropolitanas ou aglomerações urbanas. Produto da dispersão territorial da indústria, esse complexo industrial metropolitano reafirma a primazia da metrópole voltada, substancialmente, ao atendimento dos ditames da nova lógica do capital que se impõe historicamente, onde se faz presente e cintilante a descontinuidade geográfica na localização industrial assentada na combinação de redes materiais e imateriais. Não só está aí constituído um complexo industrial metropolitano. Está, também, contido, um novo fato urbano de caráter metropolitano de dimensões inéditas. (...) Essa região metropolitana ampliada, incorporando novos espaços ao processo de metropolização e reafirmando a primazia de seu centro pela concentração das atividades de serviços especializados relacionados, principalmente, à gestão do capital, contém uma densa rede social e territorial, bem como uma intensificação

9dos fluxos imateriais que permitem sua captura pela rede urbana mundial e, ao mesmo tempo, contribuem para a estruturação dessa rede. (LENCIONI, 2003, p.7 e 3)

Tais metrópoles configuram verdadeiras cidades-regiões e crescem em todo o

mundo, exatamente num momento histórico em que se declara que o fim da geografia

está próximo e que o planeta está se convertendo em um espaço de fluxos. “De fato,

em vez das cidades-regiões estarem se dissolvendo como objetos sociais e geográficos

pelo processo de globalização, elas estão se tornando progressivamente centrais à vida

moderna”. (SCOTT et al., 2001, p.11)

Nas metrópoles menores, a dinâmica posta no final dos anos 90 confirma a

presença de fortes externalidades urbano-metropolitanas junto a redes de relações

tangíveis e intangíveis, que propiciam a inovação e assinalam a persistência dos

espaços aglomerados. A reorganização setorial da economia, com transposição do

peso de participação da indústria para o setor serviços, encobre a terciarização da

indústria, sua desintegração vertical e subcontratações, com separação das atividades

dirigentes das efetivamente produtivas, como forma de beneficiar-se das vantagens

comparativas oferecidas pelas diferentes localizações. Ademais, as grandes áreas

urbanas cada vez mais se especializam em tarefas e atividades intensivas em

conhecimento, viabilizando que a atividade aparentemente dispersa, porém

interdependente, mantenha-se sob direção centralizada, capaz de garantir eficiência à

função empresarial (CARAVACA e MÉNDEZ, 2003).

Essa dispersão da indústria e de atividades de comércio e serviços da cidade-

pólo, ou dos distritos industriais centralizados, para outros pontos da área

metropolitana, assim como a busca de condições físicas, infra-estruturais e de

mercados de trabalho e consumo, reduzem o peso de participação do pólo em função

do aumento da participação de áreas mais próximas a esse. Fatores objetivos e

subjetivos explicam um dinamismo desigual entre os municípios dessas áreas

contínuas, que desencadeiam uma “metropolização expandida” (DE MATTOS, 1998),

trazendo consigo uma mudança de escala que impulsiona uma mobilidade interna cada

vez maior, além de custos econômicos e ambientais.

Assim, a produtividade e o desempenho econômico se favorecem pela

concentração urbana, seja por garantir a eficiência do sistema econômico, seja por

intensificar a criatividade, a aprendizagem e a inovação. Isso faz com que as grandes

aglomerações acenem para um aperfeiçoamento do desempenho do papel de

“motores” da base econômica (SCOTT et al., 2001).

A persistência da aglomeração e a presença de uma metrópole modificada

deixariam intactas a composição, hierarquia e articulações estabelecidas pela rede

10urbana brasileira? Permaneceriam se dando relações hierarquizadas, subordinadas, ou

os centros estariam desenvolvendo conexões reticulares? As articulações verticais –

com uma rede mundial de cidades – estariam fazendo sucumbir as relações

horizontais, portanto inviabilizando processos efetivamente regionais ou mesmo

articulações nacionais? A morfologia resultante do aglomerado não estaria impondo

rediscutir o próprio conceito de cidade? Face à leitura dessa dinâmica, que confirma a

consolidação de algumas categorias, sua ampliação/extensão, e a tendência à

irrelevância de outras, pode-se falar de reestruturação do território?

Sob a perspectiva das morfologias concentradoras e aglomeradas

espacialmente, não seriam elas contraditórias ao fato de estar se consolidando uma

expansão horizontal da urbanização e do meio técnico-científico-informacional, ou seja,

da “modernização” do território? Novamente SANTOS aponta a resposta. Não se trata disso. A partir do momento em que o território brasileiro se torna efetivamente integrado e se constitui como mercado único, o que à primeira vista aparece como evolução divergente é, na verdade, um movimento convergente. Há uma lógica comum aos diversos subespaços. Essa lógica é dada pela divisão territorial do trabalho em escala nacional, que privilegia diferentemente cada fração em dado momento de sua evolução. A lógica é comum, os resultados regionais e locais são diferentes. (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p.273-274)

CIDADE: ESPAÇO DO CONSENSO OU DO CONFLITO? A globalização e a difusão das novas tecnologias de informação e

comunicação, assim como as dinâmicas próprias dos lugares, interferem na

(des)organização da rede de cidades e, ainda mais fortemente, no interior das próprias

cidades. Nelas, representações impõem lógicas que marcam definitivamente seu

desenho e agudizam de forma imprevisível os seus conflitos sociais.

Posto como medida única, o planejamento estratégico de cidades dissemina-

se sob a aura de modelo de fácil reprodução e de resultados infalíveis para a superação

dos obstáculos à constituição de espaços “competitivos”, “sustentáveis” e

“participativos”. Esse modelo de planejamento é concebido sob compreensão da cidade

como determinante do progresso econômico, do bem-estar social e da integração

cultural de seus povos, tornando-se a verdadeira propulsora das ações cotidianas e dos

relacionamentos externos (BORJA, 1995; BORJA e CASTELLS, 1996). Mais que

espaço-objeto sobre o qual as proposições devem incidir, a cidade se reveste do papel

de sujeito, como se fosse capaz de protagonizar seu próprio destino, liberta do território,

do entorno, da região e mesmo do país.

Tais pressupostos do planejamento estratégico de cidades são efetivamente

adequados à construção de espaços socialmente includentes e ambientalmente justos?

11Que interesses mascaram os instrumentos de política urbana que apóiam esse

modelo? É possível tornar a cidade o universo do consenso?

Esse modo de planejar a cidade introduz e naturaliza conceitos, mistifica

práticas sociais e, por certo, difunde e naturaliza um pensamento único (ARANTES,

2000). Traz embutido o forte comprometimento com a economia de mercado e com a

flexibilização produtiva, priorizando a adequação de infra-estruturas, especialmente

para a organização e a qualificação do espaço, requeridas pelos grandes

empreendimentos.

As analogias “cidade mercadoria”, “cidade empresa” e “cidade pátria”

(VAINER, 2000) são emblemáticas nesse processo. A cidade da globalização se produz

e se coloca como mercadoria em um mercado mundial de cidades, tendo como suporte

“uma base política e cultural para a reestruturação econômica e espacial, escondida da

visão crítica sob véus espessos de ilusão e ideologia”. (SÁNCHEZ, 2003, p.35). Para

tanto, vale-se de “novos” instrumentos de gestão urbana que erradicam a importância

das políticas urbanas tradicionais e que se colocam como ferramentas adequadas a

capacitar a cidade para que gere respostas aos desafios da globalização.

A cidade empresa, resultante de uma relação direta entre a configuração

espacial urbana e a produção e reprodução do capital, apóia-se no recurso do city

marketing, na modelização, produção da imagem de sucesso e eficiência, compondo-se

em um produto apto a aumentar, a qualquer custo, seu poder atrativo – uma

mercadoria, como agente em competição. Tópicos dessa composição, algumas

palavras, como “competitividade”, “sustentabilidade”, “qualidade de vida”,

“solidariedade”, “parceria”, “ação concertada”, passam a ser incorporadas no discurso

de gestores e na crença da sociedade; banalizam-se, esvaziam-se de significado.

Como exemplo, para o conceito de sustentabilidade, nesse padrão discursivo,

a racionalidade técnica adquire um peso que dispensa qualquer discussão. Seu uso

traz embutida uma nítida despolitização da questão ambiental, uma recusa ao

reconhecimento de conflitos entre meio ambiente, sociedade e economia. A noção de

“cidade sustentável” se reveste de uma subjetividade que aciona diversas

representações para a gestão da cidade, especialmente as que a associam “a

estratégias de implementação da metáfora cidade-empresa que projetam na ‘cidade-

sustentável’ alguns dos supostos atributos de atratividade de investimentos no contexto

da competição global”. (ACSELRAD, 1999, p.81). Ou seja, a requalificação do ambiente

urbano atende ao fim de realçar a atratividade, inspirar orgulho nos moradores e,

principalmente, ganhar confiança dos potenciais investidores.

Prevalece, também, a retórica da participação e do consenso, do planejamento

pela busca da agilidade e transparência nas formas de gestão. Porém, o que se colhe é

12a despolitização e produtivização da cidade. Ou seja, os “controles políticos são

estranhos a um espaço social onde o que conta é a produtividade e a competitividade,

e onde o que vale são os resultados”. (VAINER, 2000, p.90)

Essa unificação da sociedade em torno de um “projeto” gera um “patriotismo

da cidade”, que faz aparentar a inexistência de jogos de interesses ou conflitos

peculiares à produção do espaço urbano e regional. A esfera política local é substituída

por uma liderança técnica, carismática e individualizada. Por trás dessa ação

aparentemente apolítica se dá a “fabricação de consensos”, a ação “em concerto”, que

são, na verdade, “uma fábrica por excelência de ideologias” e, sobretudo, “a fabulação

de senso comum econômico” (ARANTES, 2000, p.27).

Desgarradas do modelo de planejamento estratégico, as experiências de

gestão participativa, implementadas por governos municipais considerados mais

democráticos, teriam gerado “novas formas de planejamento urbano, mais capazes de

pelo menos começar, nessas cidades, a reverter o quadro de exclusão social?”

(FERREIRA, 2003, p.18) Modelos como o orçamento participativo ou legislações como

o Estatuto da Cidade permitiriam reverter os indicadores de exclusão socioespacial das

cidades?

Se por um lado percebe-se que os modelos já implementados produziram

avanços notáveis em termos de participação, por outro, eles são per si insuficientes

para transpor os obstáculos que se alimentam nas causas estruturais da formação de

uma sociedade desigual. E mesmo os avanços auferidos em termos de participação

são restritos à gestão orçamentária e quase sempre circunscritos a pedaços da cidade.

Assim, colocam em risco os princípios e diretrizes de cunho democratizante quanto à

produção do espaço urbano presentes no Estatuto da Cidade. Relegada a participação

no processo decisório, o caráter democratizante dessa lei pode sucumbir diante da

prática empresarial. Se antes se lutava por um Direito e por instrumentos que

garantissem o planejamento e a gestão participativos, agora há que voltar a luta na

busca de uma remobilização emancipatória das forças da sociedade, pois “direitos sem

instrumentos são direitos inexistentes, da mesma forma que instrumentos sem sujeitos

sociais são folhas ao vento”. (RIBEIRO, 2001, p.16)

No extremo oposto à gestão democrática das cidades, o exercício de controle

sobre o espaço urbano se aperfeiçoa na busca de artefatos da ilusão. Resgatando de

Baudrillard as idéias de “simulacro” e “hiper-realidade”, SOJA (1994) discute a recriação

das cidades, a partir de uma “cópia exata de um original que já não existe – ou talvez

nunca tenha existido: ele se adianta ao processo mais simples da simulação para criar

farsas e fantasias ‘reais’ que funcionam não apenas como imagens e ícones, mas como

13parte de nossa realidade material”. (p.166) Verdadeiras “simcities” (SOJA, 2002);

12

perfeitas “disneylândias” (SORKIN, 1996).

A “cidade simulacro” se faz marcar pelo “crescente poder político e social das

simulações do real como substitutos lógicos e comportamentais para eventos e

condições materiais reais” implicando “uma mudança radical no imaginário urbano, nas

maneiras pelas quais relacionamos nossas imagens do real com a própria realidade.

Essa é, fundamentalmente, uma questão de epistemologia, a questão de saber como

reconhecemos o que é real do que não é”. (SOJA, 1994, p.165-166)

A construção da imagem da cidade se dá a partir da produção de um

verdadeiro e cotidiano espetáculo (SÁNCHEZ, 1997), no qual os cidadãos,

transformados em consumidores do tema proposto, tornam-se seus atores figurantes.

Essa cidade “reinventada” (SÁNCHEZ, 2003), “tematizada” (SORKIN, 1996),

“commoditizada” (IRAZÁBAL, 2002), em suas mais ínfimas condições, desconstrói as

possibilidades de participação política e elimina os pressupostos que permitiriam a

gestão democrática do espaço urbano.

No ápice da produção imagética, emerge a “cidade global” (SASSEN, 1998;

FRIEDMANN, 1995), cujo conceito não traduz apenas um processo histórico, mas dá

origem a um novo paradigma, fortemente ideologizado (CARVALHO, 2000; COMPANS,

1999), que se torna o marco de referência para uma determinada prática. Metrópoles

buscam o status de “global”, aderindo ao mesmo projeto que faz crer que essa

condição, por si, levaria à superação dos problemas metropolitanos.

Indaga-se se essas categorias são de fato uma “realidade do intensificado

processo de globalização”, um “produto da centralização econômica” ou se

“correspondem tão-somente a um mito”, particularmente no caso das cidades menos

primordiais ao funcionamento do sistema mundial (KOULIOUMBA, 2003). Ao mesmo

tempo em que se tornam desprovidas de bens e serviços básicos, encerrando em si

contradições e desigualdades, tornam-se também objetos de ostentação de uma nova

arquitetura, uma moeda de forte valorização no mercado imobiliário internacional, um

produto no competitivo mercado mundial de cidades.

12

Uma clara representação simbólica desse processo é o “simcity”: game eletrônico no qual o participante assume a produção completa de uma cidade, incluindo a apropriação mercantilizada do espaço, a dotação de infra-estruturas e serviços, a administração das finanças públicas, e até mesmo a participação popular. Grandes metrópoles são rapidamente produzidas num jogo no qual o equilíbrio financeiro e os interesses dos “moradores” devem ser e são facilmente atendidos. São espaços fechados e conflitos pré-conhecidos, portanto controláveis. Essa talvez seja a concepção de cidade assumida por gestores urbanos, que se colocam como capazes de antever anseios, determinando, portanto, necessidades, conforme seu próprio interesse. Esse jogo, posto no espaço real, determina os atores e reconceitua os processos.

14A Cidade Mundial torna-se, portanto, um mito, tanto no caso de São Paulo, como no caso de outras metrópoles menos relevantes do sistema. Dentro deste novo paradigma, todas as grandes metrópoles vêm assumindo fisionomias internacionais e internacionalizantes. Isso faz com que, direta ou indiretamente, exista algo de mundial em todas as cidades, o que em realidade não corresponde à terminologia Cidade Mundial (leia-se local de comando das atividades terciárias produtivas avançadas, dentre outras) empregada. Precisamos refletir, então, sobre quantos mais Shoppings Centers ou edifícios inteligentes teremos que construir para fazer valer nosso status de Mundial. Ou quem sabe, ainda, quantas Londres, Miamis ou Nova Iorques serão reproduzidas do lado de cá para que São Paulo se torne efetivamente uma Cidade Mundial. Penso que cada cidade encerra em si a sua própria realidade, embora as Ciências Sociais, como um todo, venham tentando sistematizar uma lógica mitológica para algo inexplicável. São Paulo é apenas São Paulo! (KOULIOUMBA, 2003, p.18 – grifos no original)

A representação adquirida pelo conceito alimenta a polêmica quanto à inclusão

de São Paulo e Rio de Janeiro, como “metrópoles globais” na categorização dos

centros urbanos brasileiros, pelo estudo do IPEA (2002), em função da crescente

internacionalização de seus fluxos de bens, serviços e informações. Esse estudo

assevera que a classificação de ambas se dá, principalmente, pelo fato de, juntas,

representarem um mercado com dimensão e grau de diversificação produtiva

comparável às mais importantes metrópoles do primeiro mundo.

Exposta a classificação, questionou-se o caso do Rio de Janeiro, sob o

argumento de que nas principais escalas do sistema mundial de cidades apenas São

Paulo se destaca como “ponto de comando da organização da economia mundial”; mas

também o de São Paulo, que tem inesgotada a discussão quanto a sua classificação

como “global de primeira ou segunda ordem”, se “centro global periférico”, ou

simplesmente “centro com importante articulação internacional” (MARQUES e

TORRES, 2000). SANTOS e SILVEIRA (2001) admitem a centralidade econômica que

cada vez mais fortemente se afirma em São Paulo, mas apontam a centralidade política

que, de certo modo, se fortalece em Brasília.

Lado à questão “mito ou realidade”, estaria subjacente uma rejeição ao

paradigma? As deseconomias de aglomeração, a desigualdade social assentada nos

padrões regressivos da distribuição de renda, os impactos socioambientais agudizados

pelos volumes populacionais e de usos que absorvem, a crescente violência estariam

anunciando uma “crise civilizatória” mais pronunciada nessas áreas?

GOVERNO OU DESGOVERNO? Sob pressão de intencionalidades distintas, encobertas por metáforas e

fabulações, a aglomeração, ao materializar de modo mais nítido os processos de

reestruturação econômica, assume uma nova morfologia. Constitui uma cidade que

incorpora centros vizinhos, que conforma um mosaico de unidades político-

administrativas autônomas e dotadas de interesses próprios, que se expande por áreas

15adjacentes ou intersticiais, mesclando hibridamente o urbano e o rural, que se dilata de

maneira dispersa e descontínua, desbordando y desdibujando los límites y la morfología pre-existentes, conduciendo a la conformación de una estructura policéntrica de fronteras móviles, cuya expresión territorial la asemeja a una suerte de archipiélago urbano intensamente interconectado. La consolidación de una dinámica reticulada, impone un nuevo papel a cada ciudad en una red mundial de ciudades en competencia entre si y establece las bases para la recuperación de su crecimiento económico y para la persistencia de su expansión territorial. (...) Sin perder sus raíces ni cambiar su identidad específica, está siendo invadida por un conjunto de artefactos, símbolos, signos, monumentos, expresiones, atributos y tendencias inherentes a esta nueva fase de desarrollo y modernización capitalista. Todo ello, necesariamente, acarrea cambios de diversa profundidad tanto en el funcionamiento y en la organización de la ciudad, como en su apariencia e imagen. (...) En esta aglomeración, sin duda mucho más imprecisa, más extendida y más difícil de delimitar y de controlar, ya no es tan claro lo que es ciudad y lo que no lo es, aún cuando lo que se impone por doquier son los modos de vida urbanos. (DE MATTOS, 2002, p.30 e 31)

Um espaço dessa ordem torna complexa a possibilidade de governo,

aparentando mesmo estar sob completo desgoverno. Como solução, é adequada a

escala local de gestão? Ou o completo domínio da escala global inibe qualquer

possibilidade local de ação?

Como o contrário palpável da escala global, a escala local vem fazendo par

com a metáfora do protagonismo da cidade e, lado à global, impondo-se como se

fossem as únicas e tornando-se sujeitos de uma nova fabulação.

De fato, a escala espacial da realização dos processos recentes não se insere

na compreensão de ordens consagradas, já que as áreas cada vez mais estão

interligadas por um universo de relações que se efetivam na multiplicação de redes,

abrigando funções locais, regionais, nacionais e até globais, o que reflete, portanto,

uma dimensão que transcende ordens uniescalares.

É difundida a ilusão de que a escala local tem poder ilimitado no alcance do

desenvolvimento urbano e regional, como fazem crer certas abordagens de clusters,

sistemas locais de inovação, empreendedorismo e governança urbana. Idéias que

BRANDÃO (2003) critica como “endogenia exagerada” das localidades, e VAINER

(2002) ironiza pela suposição de que “o local pode tudo”. Para ambos, essa visão

hegemônica, introjetada pelo “pensamento único”, precisa ser enfrentada, tanto com

propostas alternativas, quanto na perspectiva de construção de estratégias de análise e

de gestão efetivamente transescalares.

Desse modo, há que se reconstruir escalas, tanto nas abordagens analíticas,

como na definição de estratégias políticas capazes de articular ações nas diferentes

escalas, tendo clareza que não se atribuem escalas aos processos, pelo contrário, as

escalas é que são produzidas em processos heterogêneos, conflituais, contestados, em

16embates políticos, numa interação social de estruturas geográficas (SWYNGEDOUW,

1997; VAINER, 2002).

Qual escala deve nortear o planejamento e a gestão territorial, levando em

consideração o controle dos interesses privados e a garantia dos direitos sociais, numa

ação política verdadeiramente eficaz? Ou, ainda, há uma escala espacial que abarque

o processo de metropolização e de configuração de aglomerações urbanas, ou

espacialidades estariam afetas a uma dimensão transescalar, não capturável por

mecanismos e instrumentos convencionais de planejamento e gestão? (RIBEIRO e

DIAS, 2001; VAINER, 2002) Que possibilidades legítimas estariam sendo criadas nas

esferas públicas e nos movimentos sociais, para alterar o padrão localista das políticas

públicas e a fragmentação institucional extremada no que concerne ao urbano-regional,

de forma a engendrar um arranjo institucional favorável à ação articulada? (RIBEIRO e

DIAS, 2001) Que desafios se colocam à governança dessas espacialidades, já que as

estratégias de planejamento e política urbana tradicionais são pouco adequadas a

superar os efeitos negativos que acentuam sua desigualdade socioespacial?

Considerando que a fronteira dos municípios é incapaz de atender às mais relevantes

questões, pela mobilidade que vivem e porque perpassam a geografia municipal, seria

preciso mudar o federalismo para construir a institucionalidade? (POCHMANN, 2003)

Como articular as mais distintas espacialidades no interior do território nacional, de

forma a “integrar” as “regiões” ao desenvolvimento conquistado por algumas áreas

metropolitanas?

Mesmo diante da importância que assumem as aglomerações, pouco avançam

no tocante ao estabelecimento de mecanismos apropriados à complexidade de sua

gestão. Pelo contrário, os processos de integração econômica em escala mundial e de crescimento urbano acelerado tornam as estratégias de planejamento e política urbana tradicionais nessas regiões muito problemáticas, enquanto abordagens mais adequadas permanecem em um estágio experimental. Novas formas para pensar esses processos e novos caminhos para alcançar benefícios e controlar seus efeitos negativos são urgentes. (SCOTT et al., 2001, p.11)

Caracterizadas por enormes extensões horizontais continuamente

urbanizadas, heterogêneas e carentes de mecanismos apropriados de gestão que

articulem a ação de vários municípios e, concomitantemente, as relações em rede que

as conectam ao mundo, essas áreas sofrem ainda os efeitos da subordinação à

abertura da economia, fazendo com que passem a “exercer apenas uma ‘regulação

delegada’, isto é, uma regulação cujas ‘ordens’ se situam fora de sua competência

territorial” (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p.268), já “que estamos diante de verdadeiro

comando da vida econômica e social e da dinâmica territorial por um número limitado

17de empresas” (p.291). Tal corporativização, não só da cidade, mas do próprio território,

pode conduzir ao crescimento econômico, “mas à custa da perda do controle de seu

destino pelas regiões assim modernizadas" (p.292). O território torna-se “instável” em

conseqüência do seu “uso competitivo”, dessa “lógica territorial das empresas” e da

“guerra global entre os lugares”, dada a busca contínua de readaptação ao mercado e

às necessidades da corporação. “Cria-se assim uma permanente produção da

desordem ... (p.298).”

Tomando como exemplo o principal projeto de desenvolvimento pensado nos

governos anteriores, os “Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento”, constata-

se a repetição da fábula de que o mercado é o mecanismo capaz de impulsionar o

desenvolvimento, reduzindo o papel do Estado na concepção e definição de políticas

públicas.

Para COUTINHO (2003), esse projeto adere à hipótese de que o Estado

brasileiro, tendo sido desmontado e tendo perdido seus mecanismos de governança,

poderia iniciar um novo ciclo com base na identificação de um portfólio de

investimentos, considerados viáveis, ofertando a eles um suporte mínimo de logística.

Porém, como resultado, “o que está sendo tocado do projeto é aquilo que o Estado

pode fazer. O que o setor privado está fazendo, por si, é quase nada”. (p.41)

O projeto consiste na continuidade das opções neoliberais assumidas no início

da década de 90, rompendo, isto sim, com estratégias desenvolvimentistas anteriores

(GALVÃO e BRANDÃO, 2003). De uma concepção inicial de se formular “uma nova estratégia de desenvolvimento ao nível espacial, visando uma geografia sócio-econômica mais equânime, e cuja implementação requer a valorização articulada de todo o potencial disponível das diversas áreas que compõem o território nacional” (Consórcio Brasiliana, 1998, p.1), o estudo passa a tratar o desenvolvimento como uma mera questão de business, em que o que vai ganhando maior dimensão é o subprojeto da estruturação de um portfólio de investimentos. (GALVÃO e BRANDÃO, 2003, p.199-200) A espacialidade da logística específica dos grandes projetos infra-estruturais prevaleceu sobre a pesada dimensão espacial, efetivamente regional, da pobreza e de outros campos das ações governamentais. (Idem, p.196 e 198)

Ao recolocar o debate sobre a espacialidade do desenvolvimento brasileiro, o

projeto não oferece clareza quanto à natureza de sua configuração espacial: ora

apresentada como “eixo”, propriamente, ora como “região de planejamento”, “espaço”,

“território”, “região complementar” ou “área de influência do eixo” – evidenciando o

dilema teórico-metodológico dos recortes espaciais.

A mesma dificuldade de articulação entre a estratégia programática e a

dimensão espacial se percebe no zoneamento ecológico econômico (ZEE), outra

prática de governo voltada ao ordenamento territorial, orientado a uma unidade

18totalizante, como instrumento técnico e político. Por detrás das categorizações que tal

instrumento constrói, resulta um espaço fragmentado por uma “vontade de ajustar cada

uma de suas porções a um projeto utilitário de integração mercantil ou de subordinação

política”. (ACSELRAD, 2002, p.57)

Essa prática cada vez mais vem adotando elementos do discurso ambiental,

dando força a uma “racionalidade ecológica”, apresentada como necessária a esse

ordenamento, imprescindível perante a “desordem ecológica e social” resultante dos

projetos de desenvolvimento de governos anteriores. O ordenamento racionalizado se

traduz na cartografia, que “fala por si mesma” – peça fundamental dos ZEEs e

efetivamente um elemento de “representação”. Enquanto ato de comunicação persuasiva, a cartografia do ZEE produz imagens retóricas que constroem realidades socioespaciais novas. (...) Os signos cartográficos reordenam paisagens, submetendo-as a projetos que se pretendem subordinados a determinismos ecológicos, criando efeitos de verdade suficientemente fortes para calar dúvidas e interrogações, e, sobretudo, para obscurecer, por detrás de um espaço abstrato e instrumental, a presença dos poderes da representação cartográfica e da precisão zoneadora. (ACSELRAD, 2002, p.55)

Assim, um duplo mecanismo de poder liga-se à produção do ZEE: um “poder

que se exerce sobre as práticas do zoneamento através das exigências externas das

hierarquias políticas e um poder que se exerce pelo saber cartográfico e classificatório,

através do modo como os zoneadores criam uma concepção do espaço...”.

(ACSELRAD, 2002, p.55)

Esse exercício de poder favorecido pela linguagem cartográfica, hoje renovada

com o apoio digital, e pelo desenho imposto pelas categorias ou zonas, dá-se também

no principal instrumento de planejamento intraurbano. Os planos diretores, da mesma

forma, determinam usos, admitindo uma racionalidade técnica e uma eficiência capazes

de organizar o espaço, tornando-o competitivo, transformando o território em uma base

material e absorvendo tecnicamente os conflitos que sintetizam a produção do espaço.

Inscrevem-se na cultura do simulacro, tomando o espaço por mera imagem de si

próprio, cópia de um original que, talvez, nunca existiu.

Que desenvolvimento ou que ordenamento se pode obter quando é mistificada

a própria essência do que move as relações de governança: o exercício do poder?

Como tornar legítimos mecanismos e instrumentos que se desconsubstanciam, velados

pelo plano da retórica e da produção de imagens?

Esgotar o rol de representações não é a intenção desta abordagem nem dos

questionamentos alinhavados. Seu intento é justamente instigar a sensibilidade para

que sejam notadas diferenças, que parecem inexistentes, entre o real e o imaginário. A

19sensação de incapacidade de desconstruir as hiper-realidades, os simulacros, as

metáforas e fabulações pode levar a ações inócuas e em nada transformadoras. Ações

que, terminado o game, não passaram de movimentos repetitivos e prédeterminados,

realizadas por sujeitos passivos sobre um espaço virtual.

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