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  Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 817.061 - RJ (2006/0025777 -0)  RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA RECORRENTE : CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNÓLOGICA DE QUÍMICA DE NILÓPOLIS RJ PROCURADOR : TATIANA MOTTA VIEIRA E OUTRO(S) RECORRIDO : ANTONIO GOMES DE SOUZA ADVOGADO : WILSON DE FREITAS CHAVES RELATÓRIO MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA: Trata-se de recurso especial manifestado pelo CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE QUÍMICA DE NILÓPOLIS/RJ com base no art. 105, III, "a", da Constituição Federal. O Tribunal Regional Federal da Região manteve incólume sentença que, por sua vez, concedeu a segurança pleiteada pelo recorrido, a fim de assegurar-lhe o direito de ser reconduzido ao cargo de Contador, do qual havia pedido vacância a fim de tomar posse em emprego público na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em face de ter sido dispensado deste último antes do fim de seu contrato de experiência. A respectiva ementa foi assim concebida (fl. 130): ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTÁVEL OCUPANTE DE CARGO PÚBLICO EM AUTARQUIA FEDERAL. APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO REALIZADO PELA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS (ECT). VACÂNCIA DO CARGO PARA INVESTIDURA EM EMPREGO PÚBLICO. RECONDUÇÃO. ART. 29, INCISO I, DA LEI  8.112/90. POSSIBILIDADE. I  O servidor ocupante de cargo público que, após três anos de efetivo exercício adquire estabilidade no serviço público, implementa a condição necessária  para se  beneficiar do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei nº 8.112/90, ainda que a vacância do cargo tenha ocorrido  para investidura em emprego público. II  A recondução é garantia instituída pelo legislador visando resguardar da  perda do cargo público o servidor estável que deste se afasta para exercer outra função pública e, por superveniente inabilitação, vindica o restabelecimento do status quo ante, não podendo seu pleito ser obstado apenas  pelas distinções efetivamente existentes entre cargo e emprego público, pois, numa perspectiva mais ampla, abstraindo-se da literalidade da norma, o que se vislumbra de mais relevante é a continuidade da atuação na esfera do serviço  público, com desempenho de funções em  prol da satisfação dos interesses da Administração, seja no âmbito da entidade autárquica, seja no da empresa  pública. III – Recurso e remessa oficial desprovidos. Sustenta o recorrente, em síntese, que o acórdão recorrido teria afrontado os Documento: 3852744 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 5

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RECURSO ESPECIAL Nº 817.061 - RJ (2006/0025777-0) RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMARECORRENTE : CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNÓLOGICA DE

QUÍMICA DE NILÓPOLIS RJPROCURADOR : TATIANA MOTTA VIEIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : ANTONIO GOMES DE SOUZAADVOGADO : WILSON DE FREITAS CHAVES

RELATÓRIO

MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA: 

Trata-se de recurso especial manifestado pelo CENTRO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE QUÍMICA DE NILÓPOLIS/RJ com base no art. 105, III,

"a", da Constituição Federal.O Tribunal Regional Federal da 2ª Região manteve incólume sentença que, por

sua vez, concedeu a segurança pleiteada pelo recorrido, a fim de assegurar-lhe o direito de ser

reconduzido ao cargo de Contador, do qual havia pedido vacância a fim de tomar posse em

emprego público na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em face de ter sido

dispensado deste último antes do fim de seu contrato de experiência.

A respectiva ementa foi assim concebida (fl. 130):

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTÁVEL OCUPANTE DE CARGOPÚBLICO EM AUTARQUIA FEDERAL. APROVAÇÃO EM CONCURSOPÚBLICO REALIZADO PELA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS ETELÉGRAFOS (ECT). VACÂNCIA DO CARGO PARA INVESTIDURA EMEMPREGO PÚBLICO. RECONDUÇÃO. ART. 29, INCISO I, DA LEI Nº8.112/90. POSSIBILIDADE.

I – O servidor ocupante de cargo público que, após três anos de efetivoexercício adquire estabilidade no serviço público, implementa a condiçãonecessária para se beneficiar do instituto da recondução previsto no art. 29, I,da Lei nº 8.112/90, ainda que a vacância do cargo tenha ocorrido parainvestidura em emprego público.

II – A recondução é garantia instituída pelo legislador visando resguardarda perda do cargo público o servidor estável que deste se afasta para exerceroutra função pública e, por superveniente inabilitação, vindica orestabelecimento do status quo ante, não podendo seu pleito ser obstado apenaspelas distinções efetivamente existentes entre cargo e emprego público, pois,numa perspectiva mais ampla, abstraindo-se da literalidade da norma, o que sevislumbra de mais relevante é a continuidade da atuação na esfera do serviçopúblico, com desempenho de funções em prol da satisfação dos interesses daAdministração, seja no âmbito da entidade autárquica, seja no da empresapública.

III – Recurso e remessa oficial desprovidos.

Sustenta o recorrente, em síntese, que o acórdão recorrido teria afrontado os

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arts. 29, I, e 33, VIII, da Lei 8.112/90, tendo em vista que a vacância e a recondução seriam

institutos aplicáveis unicamente aos ocupantes de cargo público, e não aos ocupantes de

emprego público.

A parte recorrida não apresentou contraminuta (fl. 148).

Admitido o recurso na origem, subiram os autos a esta Corte (fl. 149).

O Ministério Público Federal, por meio de parecer exarado pelo

Subprocurador-Geral da República JOSÉ EDUARDO DE SANTANA, opinou pelo

provimento do recurso especial.

É o relatório.

 

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RECURSO ESPECIAL Nº 817.061 - RJ (2006/0025777-0) 

EMENTADIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR

PÚBLICO. CARGO PÚBLICO. VACÂNCIA PARA OCUPAREMPREGO PÚBLICO INACUMULÁVEL. DEFERIMENTOADMINISTRATIVO. EXISTÊNCIA. RECONDUÇÃO.POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EIMPROVIDO.1. Os ocupantes de cargo e de emprego públicos são espécies do gêneroagentes públicos, tendo em comum o fato de que integram o aparelhoestatal.2. Os institutos da vacância e da recondução têm por finalidade garantirao servidor público federal sua permanência da esfera do serviço público,

sem, comoisso,

tolher o inalienável direito de buscar sua evoluçãoprofissional.3. Sob pena de afronta ao princípio da isonomia, deve a regra dos arts. 29,I, e 33, VIII, da Lei 8.112/90 ser estendida às hipóteses em que o oservidor público pleiteia a declaração de vacância para ocupar empregopúblico federal, garantindo-lhe, por conseguinte, se necessário, suarecondução ao cargo de origem.4. Tendo os requerimentos de vacância e, posteriormente, de reconduçãoao cargo de origem sido deferidos pela Autarquia/recorrente, suanão-inclusão na respectiva folha de pagamento importaria em ofensadireta aos princípios da boa-fé objetiva e da moralidade pública, que

devem pautar os atos da Administração.5. Recurso especial conhecido e improvido.

VOTO

MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA (Relator): 

Trata-se, na origem, de mandado de segurança impetrado por ANTONIO

GOMES DE SOUZA contra ato do Diretor do Centro Federal de Educação Tecnológica deQuímica de Nilópolis/RJ, objetivando garantir o direito de ser reconduzido ao cargo de

Contador que ocupava naquela Autarquia, do qual pedira vacância a fim de tomar posse em

emprego público na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em face de ter sido

dispensado deste último antes do fim de seu contrato de experiência.

Os arts. 29, I, e 33, VIII, da Lei 8.112/90, têm a seguinte redação:

Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente

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ocupado e decorrerá de:I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;II - reintegração do anterior ocupante.Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor

será aproveitado em outro, observado o disposto no art. 30.

Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de:.......................................................................VIII - posse em outro cargo inacumulável;

À primeira vista, a leitura dos precitados dispositivos legais conduziria à

conclusão de que os institutos da vacância e da recondução somente seriam aplicáveis aos

servidores ocupantes de cargo público.Tal entendimento, contudo, não é o mais correto.

Não se olvida que o cargo e o emprego públicos sejam institutos jurídicos

diversos, tendo em vista que o primeiro, nas palavras de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE

MELO, é a denominação dada às "mais simples e indivisíveis unidades de competência a

serem expressadas por um agente, previstas em número certo, com denominação própria,

retribuídas por pessoas jurídicas de Direito Público e criadas por lei", enquanto o segundo,

por sua vez, é o núcleo de encargos de trabalho "a serem preenchidos por agentes contratadospara desempenhá-los, sob relação trabalhista" ( In "CURSO DE DIREITO

ADMINISTRATIVO", 12ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2000, págs. 225 a 227).

O próprio autor acima citado, todavia, esclarece que os ocupantes de cargo e de

emprego públicos são espécies do gênero "agentes públicos", tendo em comum o fato de que

"integram o aparelho estatal" (op. cit ., págs. 218/219).

Deve-se ressaltar, ademais, que os institutos da vacância e da recondução têm

por finalidade garantir ao servidor público federal sua permanência na esfera do serviçopúblico, sem, como isso, tolher o inalienável direito de buscar sua evolução profissional.

Dessa forma, sob pena de afronta ao princípio da isonomia, deve a regra dos

arts. 29, I, e 33, VIII, da Lei 8.112/90 ser estendida às hipóteses em que o ex-ocupante de

cargo público efetivo pleiteia a declaração de vacância para ocupar emprego público federal,

garantindo-lhe, por conseguinte, se necessário, sua recondução ao cargo de origem.

Vale observar, outrossim, que a Administração, atendendo aos requerimentos

do recorrido, declarou sua vacância no cargo público a partir de 8/5/00 (fls. 23/24), e,posteriormente, em 2/8/00, reconduziu-o ao referido cargo (fls. 29/30), ato este que, em umDocumento: 3852744 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 5

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segundo momento, não foi confirmado, em face da impossibilidade de incluir o recorrido na

folha de pagamento da autarquia, ora recorrente.

Por conseguinte, não pode o servidor, após ter seguido todos os trâmites legais,

inclusive com a chancela da própria Administração, ser surpreendido com a recusa quanto à

sua recondução ao cargo público de origem, uma vez que tal fato importaria, também, em

ofensa direta aos princípios da boa-fé objetiva e da moralidade pública, que devem pautar os

atos da Administração.

Nesse sentido, explicitando ainda mais os princípios gerais do direito, a Lei

9.784/99, em seu art. 4º, dispõe o seguinte:

Art. 4º. São deveres do administrado perante a Administração, semprejuízo de outros previstos em ato normativo:

I - expor os fatos conforme a verdade; II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;III - não agir de modo temerário;IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o

esclarecimento dos fatos.

Com base no entendimento acima esposado, entendo que nenhum reparo deve

ser feito ao acórdão recorrido, na medida em que este deu à controvérsia solução adequada,

consonante com nosso ordenamento jurídico.

Ante o exposto, conheço do recurso especial e nego-lhe provimento.

É o voto. 

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