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UNIVERSIDADE PAULISTA PSICOLOGIA MERLISE MOREIRA SOUSA RECORDAR, REPETIR E ELABORAR (NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE II)

Recordar, repetir e elaborar (novos recomendações sobre a técnica da Psicanálise II)

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Page 1: Recordar, repetir e elaborar (novos recomendações sobre a técnica da Psicanálise II)

UNIVERSIDADE PAULISTA

PSICOLOGIA

MERLISE MOREIRA SOUSA

RECORDAR, REPETIR E ELABORAR (NOVAS

RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA

PSICANÁLISE II)

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SÃO PAULO

2009

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MERLISE MOREIRA SOUSA

RECORDAR, REPETIR E ELABORAR (NOVAS

RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA

PSICANÁLISE II)

Resumo apresentado no curso de graduação da Universidade Paulista, curso de Psicologia,

ao Professor Valter Perea.

Orientação: Professor Valter Perea

SÃO PAULO

2009

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RECORDAR, REPETIR E ELABORAR (NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE II)

A Psicanálise sofreu muitas alterações desde sua criação. A catarse de Breuer, sendo sua primeira fase, focava o momento no qual surgia o sintoma e esforçava-se para reproduzir os processos mentais envolvidos na situação, para dirigir-lhes a descarga no decorrer da atividade consciente. Assim que a hipnose foi abandonada, teria que se descobrir, através de associações livres de paciente, o que este deixava de lembrar. A resistência deveria ser desvelada através da interpretação feita e dada ao paciente. O foco de interesse eram as situações que haviam formado os sintomas e as anteriores a este, mas a ab-reação foi substituída pelo gasto de trabalho que o paciente fazia por ser forçado a superar a censura das associações livres. Hoje o analista não foca um momento ou problema específicos. Estuda-se tudo que se acha presente na superfície da mente do paciente e faz-se a interpretação para descobrir as resistências, tornando-as conscientes ao paciente. O médico desvela as resistências que o paciente desconhece e quando vencidas, o paciente, por muitas vezes relaciona as situações e vinculações esquecidas com facilidade. O objetivo destas técnicas é preencher os espaços na memória, superar as resistências que a repressão traz.

É graças à antiga técnica hipnótica que nos foram apresentados os processos psíquicos únicos de análise de forma isolada, dando-nos coragem para a criação de situações difíceis no tratamento analítico.

Nos tratamentos hipotéticos o paciente ficava diante de uma situação anterior que parecia jamais confundir-se com a atual, fornecendo um relato dos processos mentais dela, assim acrescentava-se o que poderia aparecer como resultado da transformação processual, que tinham sido transformados em conscientes.

Esquecer impressões, cenas ou experiências, quase sempre é interrompê-las. Geralmente, quando o paciente menciona os fatos “esquecidos” diz ter sempre sabido, mas nunca pensado a respeito. Muitas vezes decepciona-se por esquecer-se destas coisas na qual nunca pensou sobre. Apesar deste mesmo desejo ser realizado, principalmente na histeria de conversão. O “esquecer” torna-se mais limitado quando se avalia em seu verdadeiro valor as lembranças ocultadoras que geralmente são presentes. Em alguns casos, pode-se dizer que a amnésia infantil é completamente compensada por lembranças ocultadoras. Tudo o que é essencial na infância foi retido nessas lembranças. Estas representam a fase esquecida da infância, como o conteúdo de um sonho representar os pensamentos oníricos.

As fantasias, processos de referências, impulsos emocionais, vinculações de pensamentos, sendo atos internos e não podendo ser contrastados com impressões e experiências, ocorre em sua relação com o esquecer e o recordar, separadamente. Ocorre lembrar-se de algo que jamais poderia ser esquecido, por nunca ter sido notado. No curso tomado pelos eventos psíquicos, parece não ter importância se alguma “vinculação de pensamento” foi notada e depois esquecida ou se nunca se tornou consciente. A certeza que o paciente atinge no decorrer da análise não depende deste tipo de memória.

Nos vários tipos de neurose obsessiva, o esquecimento deve-se à quebra das vinculações de pensamento, ao não chegar à conclusões corretas e isolar lembranças.

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As experiências ocorridas em uma infância muito distante e não foram entendidas na ocasião, mas que depois de um tempo foram compreendidas e interpretadas, não podem ser recuperadas. Tem-se conhecimento desta através dos sonhos, sendo-se obrigado a acreditar nestes, baseando-se nas provas mais conscientes da estrutura da neurose. Além disso, o paciente após a superação de suas resistências, não se esquece delas.

Em alguns casos que se comportam como aqueles sob hipnose até certo ponto e só depois se deixa de executá-los, mas outros são levados de forma diferente desde o princípio. Pode-se dizer deste último que o paciente não se lembra de nada do que esqueceu, mas se expressa pela atuação ou atua-o. Este reproduz como ação, não como lembrança, repete-o sem saber o que está repetindo.

O fato de um paciente com um histórico cheio de acontecimentos e doenças não nos despejar bastante informação a seu respeito, quando se pede para este dizer-nos o que lhe vem à mente, é simplesmente a repetição de uma atitude homossexual, devido à resistência contra recordar algo. Enquanto em tratamento, o paciente não pode fugir à compulsão de repetição e depois entendemos que esta é sua maneira de recordar. Interessa-nos, de fato, a relação desta compulsão à repetição com a transferência é apenas uma parte da repetição e a repetição é uma transferência do passado esquecido não só para o médico, mas para todos os aspectos da situação atual. Deve-se descobrir que o paciente submete-se à compulsão, à repetição, substituindo a recordação, não apenas ao médico, mas nas suas atividades e relacionamentos. Quanto maior a resistência, maior é a atuação, substituirá o recordar, pois o recordar ideal já esquecido, que acontece na hipnose, é um estado onde a resistência foi abandonada. Se o paciente faz o tratamento com uma transferência positiva, facilita o resgate das lembranças, como na hipnose e durante este período, seus sintomas patológicos encontram-se inativos. Pelo contrário, se a transferência for negativa, o recordar abre espaço à atuação. O paciente se defenderá com as armas do passado, contra o progresso da análise.

O paciente repete tudo o que já avançou a partir das fontes do reprimido para sua personalidade manifesta (inibições, atitudes desnecessárias e traços patológicos de caráter) e também todos os seus sintomas. A enfermidade do paciente não pode parar no começo da análise, e sua doença não pode ser tratada como um fato do passado, mas como uma força atual.

O recordar, assim como na hipnose, só pode dar a impressão de um experimento laboratorial. O começo do tratamento causa uma mudança na atitude consciente do paciente na sua doença. Talvez o paciente não saiba ao certo o que faz sua fobia manifestar-se, escutar suas idéias obsessivas ou não apreender o intuito real de seu impulso obsessivo. Este tem que ter coragem para focar os fenômenos de sua doença se esta nova atitude em relação à doença aumenta os conflitos e os sintomas, pode-se consolar o paciente, mostrando-lhe que são pioras necessárias e temporárias, que não se vence um inimigo ausente ou fora de alcance. A resistência pode explorar a situação para esses próprios fins e aproveita da condição de estar doente.

Novos e mais profundos impulsos estruturais ainda não sentidos, podem vir a ser “repetidos”. É possível que as atitudes do paciente, fora da transferência, podem trazer dano temporário na sua vida ou servem para acabarem suas perspectivas de restabelecimento.

O médico está preparado para uma luta interna com o paciente, para manter no seu psiquismo todos os impulsos que ele gostaria de dirigir para motricidade, sendo evitado isso, através da descarga no ato de recordar.

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O tratamento pode impedir o paciente fazer algumas das repetições mais importantes e usar sua intenção como material para o trabalho terapêutico. Faz-se o paciente prometer não tomar decisões importantes que lhe afetem a vida no decorrer do tratamento, protegendo-o dos prejuízos provindos de seus impulsos.

Porém, não se priva da completude de sua liberdade. Pode ocorrer de os instintos manifestarem-se antes desta imposição ou que o que liga o paciente ao tratamento, seja rompido através de uma ação repetitiva.

O principal instrumento para reprimir a compulsão do paciente à repetição e transformá-la em motivo de recordação, está no manusear da transferência. Para tornar a compulsão inofensiva e útil, permitindo-a afirmar-se num campo definido. Geralmente alcança o êxito em fornecer a todos os sintomas da doença um novo significado transferencial, quando há colaboração por parte do paciente, também substitui sua neurose comum por uma “neurose de transferência”, através do trabalho terapêutico. A transferência propicia uma região intermediária entre a moléstia e a vida real, através da passagem de uma para a outra. A partir das reações repetitivas exibidas na transferência, somos levados à família até o despertar das lembranças, aparecendo facilmente, após a superação da resistência.

O primeiro passo para a superação das resistências é o analista revelar a resistência desconhecida para o paciente para que este se acostume com ela. Alguns terapeutas iniciantes acham que este primeiro passo é a totalidade de seu trabalho. Deve-se dar ao paciente tempo para conhecer mais esta resistência, para poder elaborá-la, superá-la. Só quando a resistência atinge seu ápice e que o analista pode descobrir os impulsos estruturais reprimidos que a alimentam e é isto que convence o paciente da existência e poder desta sobre seus impulsos. O médico deve apenas esperar e não apressar este processo.

A elaboração das resistências pode ser difícil para o analista, mas efetua muitas mudanças no paciente que diferencia este tratamento dos outros.