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1 RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA APLICADOS EM PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA. Renan Pereira Campos 1 ,Charles Capella 2 ¹Acadêmico - Curso de graduação em Pós Fisioterapia Intensiva - Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro ²Orientador - Curso de Pós graduação em Fisioterapia Intensiva - Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro Resumo: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa, progressiva e incapacitante que afeta os neurônios motores superiores e inferiores. A evolução da doença geralmente é rápida e a maioria dos pacientes torna-se dependente de suporte ventilatório, ao longo do tempo. O objetivo do presente estudo foi descrever os recursos fisioterapêuticos respiratórios utilizados no paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica. Para a realização deste estudo foram utilizadas as bases de dados PubMed, Medline, Lilacs, Scielo e revista neurociências. Durante o período de 2008 a 2017. Foram utilizados como palavras chaves da pesquisa: Esclerose Lateral Amiotrófica, Doença do Neurônio Motor, Reabilitação Fisioterapêutica, Fisioterapia Respiratória. Foram incluídos neste trabalho: revisões, pesquisas e livros mais recentes e/ou de referências sobre o tema. A busca realizada foi limitada aos artigos publicados em português e inglês. Apesar da variedade de recursos ainda não há um consenso dentro dos materiais científicos pesquisados sobre a comprovação dos reais efeitos benéficos no tratamento fisioterapêutico respiratório na ELA, havendo a necessidade de maiores estudos metodológicos comprobatórios. Contudo, o fisioterapeuta contempla em sua formação, saberes para a aplicabilidade de sua conduta profissional e corrobora com o tratamento multiprofissional necessário para a assistência no paciente com ELA. A atuação fisioterapêutica deve ser realizada em todas as etapas da doença. Descritores da saúde: Esclerose Lateral Amiotrófica, doença do neurônio motor, reabilitação, fisioterapia respiratória.

RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA APLICADOS EM

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Page 1: RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA APLICADOS EM

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RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA APLICADOS EM PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA.

Renan Pereira Campos1,Charles Capella 2

¹Acadêmico - Curso de graduação em Pós Fisioterapia Intensiva - Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro

²Orientador - Curso de Pós graduação em Fisioterapia Intensiva - Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro

Resumo: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa,

progressiva e incapacitante que afeta os neurônios motores superiores e inferiores. A

evolução da doença geralmente é rápida e a maioria dos pacientes torna-se

dependente de suporte ventilatório, ao longo do tempo. O objetivo do presente estudo

foi descrever os recursos fisioterapêuticos respiratórios utilizados no paciente com

Esclerose Lateral Amiotrófica. Para a realização deste estudo foram utilizadas as

bases de dados PubMed, Medline, Lilacs, Scielo e revista neurociências. Durante o

período de 2008 a 2017. Foram utilizados como palavras chaves da pesquisa:

Esclerose Lateral Amiotrófica, Doença do Neurônio Motor, Reabilitação

Fisioterapêutica, Fisioterapia Respiratória. Foram incluídos neste trabalho: revisões,

pesquisas e livros mais recentes e/ou de referências sobre o tema. A busca realizada

foi limitada aos artigos publicados em português e inglês. Apesar da variedade de

recursos ainda não há um consenso dentro dos materiais científicos pesquisados

sobre a comprovação dos reais efeitos benéficos no tratamento fisioterapêutico

respiratório na ELA, havendo a necessidade de maiores estudos metodológicos

comprobatórios. Contudo, o fisioterapeuta contempla em sua formação, saberes para

a aplicabilidade de sua conduta profissional e corrobora com o tratamento

multiprofissional necessário para a assistência no paciente com ELA. A atuação

fisioterapêutica deve ser realizada em todas as etapas da doença.

Descritores da saúde: Esclerose Lateral Amiotrófica, doença do neurônio motor,

reabilitação, fisioterapia respiratória.

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RESOURCES OF RESPIRATORY PHYSIOTHERAPY APPLIED IN PATIENTS WITH

AMIOTROPHIC LATERAL SCLEROSIS.

ABSTRACT: Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is a progressive, disabling

neurodegenerative disease that affects upper and lower motor neurons. The

progression of the disease is usually rapid and most patients become dependent on

ventilatory support over time. The objective of the present study was to describe the

respiratory physiotherapeutic resources used in the patient with Amyotrophic Lateral

Sclerosis. For the accomplishment of this study we used the databases PubMed,

Medline, Lilacs, Scielo and neuroscience journal. During the period 2008 to 2017. Key

words of the research were: Amyotrophic Lateral Sclerosis, Motor Neuron Disease,

Physiotherapy Rehabilitation, Respiratory Physiotherapy. Included in this work were:

revisions, researches and most recent books and / or references on the subject. The

search was limited to articles published in Portuguese and English. Despite the variety

of resources, there is still no consensus within the researched scientific literature on

the actual beneficial effects in respiratory physiotherapeutic treatment in ALS, and

there is a need for further methodological studies. However, the physiotherapist

contemplates in his training, knowledge for the applicability of his professional conduct

and corroborates with the multiprofessional treatment necessary for the assistance in

the patient with ALS. The physiotherapeutic action must be performed in all stages of

the disease.

Health descriptors: Amyotrophic Lateral Sclerosis, motor neuron disease,

rehabilitation, respiratory physiotherapy.

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Introdução

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa de

caráter progressivo e fatal. A evolução geralmente é rápida e, na maioria dos

pacientes, o intervalo entre o início dos primeiros sintomas e a dependência de suporte

ventilatório é de dois a quatro anos (FRANCIS et al., 1999).

O processo degenerativo desta doença tem uma etiologia complexa e

multifatorial. As hipóteses atuais sobre os mecanismos patológicos subjacentes desta

entidade sugerem que há uma interação complexa entre os vários mecanismos,

incluindo fatores genéticos, danos oxidativos, acúmulo de agregados intracelulares,

disfunção mitocondrial, defeitos de transporte axonal, patologia das células gliais e

excitotoxicidade (LINDEN-JUNIOR et al., 2013).

A ELA pode ser classificada nas formas familiares, 5-10% casos devido à

herança autossômica dominante, cujo 10- 20% são associados a um defeito no gene

codificador do zinco superóxido dismutase do cromossoma 21, ou esporádica que é a

maioria dos casos e não tem relação genética na fisiopatologia (MULDER et al., 1986).

Embora ELA seja considerada uma doença de incidência rara, com pouco mais

de 1 caso para 100.000 pessoas/ano, ela representa um grande impacto pessoal e

socioeconômico para o indivíduo e para a sociedade (QUADROS et al., 2013).

Os sintomas clássicos da ELA desenvolvem-se a partir de uma perda

progressiva tanto dos neurônios motores superiores (NMS), localizados no córtex

cerebral, quanto dos neurônios motores inferiores (NMI), localizados no tronco

cerebral e corno anterior da medula espinhal (KIERNAN et al., 2011).

Existem dois subgrupos de ELA: a de início nos membros e a de início bulbar,

com base nas áreas do corpo que primeiramente mostram os sinais da doença. A

forma com envolvimento bulbar (Paralisia Bulbar Progressiva), relacionada ao

comprometimento dos neurônios do tronco cerebral, caracteriza-se por envolvimento

predominante da musculatura de inervação bulbar, com ou sem lesão do NMS. Nesse

tipo de ELA, os nervos da área bulbar do cérebro, que inervam a face e cabeça,

controlando a mastigação, a deglutição e a fala são primeiramente afetados. Disartria

e disfagia são os sintomas predominantes, acompanhados de fraqueza, atrofia e

fasciculações de língua. Como resultado, a ELA de início bulbar progride mais

rapidamente porque as funções vitais se deterioram quase que imediatamente

(PONTES et al., 2010; BANDEIRA et al., 2010).

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O diagnóstico é baseado nos sinais progressivos de disfunção dos neurônios

superiores e inferiores, excluindo-se outras patologias neurológicas com sinais e

sintomas semelhantes (SOUZA, et al., 2014).

O tratamento da ELA é abrangente e multidisciplinar podendo receber

assistência de várias áreas da saúde (BELLO-HAAS, 2010). O tratamento

fisioterapêutico visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes, por meio da

fisioterapia motora e respiratória (CAMPOS et al, 2009).

O presente estudo teve por objetivo descrever os recursos fisioterapêuticos

respiratórios utilizados nos pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica, como

alternativa à Ventilação Mecânica Invasiva.

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Metodologia

Para a realização deste estudo foram utilizadas as bases de dados PubMed,

Medline, Lilacs, Scielo, Revista Neurociências. Durante o período de 2008 a 2017.

Foram utilizados como palavras chaves da pesquisa: Esclerose Lateral Amiotrófica,

Doença do Neurônio Motor, Reabilitação Fisioterapêutica, Fisioterapia Respiratória.

Foram incluídos neste trabalho: revisões, pesquisas e livros mais recentes e/ou

de referências sobre o tema. A busca realizada foi limitada aos artigos publicados em

português e inglês.

Breve Histórico

FrançoesAran, escritor e médico francês em 1848 descreveu uma nova

síndrome, denominada de Atrofia Muscular Progressiva (AMP), caracterizada por

fraqueza muscular progressiva de natureza neurogênica.

Em 1869, Jean Martin Charcot, professor de neurologia e AlixJoffroy, professor

de psiquiatria, descreveram 2 pacientes com AMP com lesões associadas na porção

anterolateral da medula nervosa. Eles não deram o nome de Esclerose Lateral

Amiotrófica (ELA) para esta entidade, mas eles determinaram as características

essenciais para o seu reconhecimento, desde então pouco modificadas.

Também coube a Charcot a descrição de Paralisia Bulbar Progressiva (PBP) e

de Esclerose Lateral Primária (ELP).

Em 1933, Brain introduziu o termo Doença do Neurônio Motor (DNM) para

todas estas aparentemente, diferentes doenças. Em 1969 Brain e Walton

consideraram DNM e ELA como sinônimos, embora o termo ELA seja o mais

frequente. (QUADROS et al; 2013)

Epidemiologia

Embora ELA seja considerada uma doença de incidência rara, com pouco mais

de 1 caso para 100.000 pessoas/ano, representando um grande impacto pessoal e

socioeconômico para o indivíduo e para a sociedade. Com exceção de um pequeno

foco no Pacífico Ocidental, onde a ELA assumiu uma forma epidêmica, a frequência

da patologia é similar em todo o mundo. Aparentemente, a frequência tem aumentado

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uniformemente e não parece ter relação com a maior habilidade dos médicos em

reconhecer a doença (QUADROS et al., 2013).

Estudos realizados na França, na Itália, no Japão, nos Estados Unidos e na

Índia relataram relação masculino/feminino variando de 1,05 a 3,0 (NOONAN et al.,

2005; LINDEN-JUNIOR et al., 2013).

Na América do Sul há pouca informação disponível sobre a ocorrência de ELA.

No Brasil, o maior país sulamericano, até o momento não foi realizado nenhum estudo

sobre a frequência de ELA. No entanto, em um estudo conduzido na Cidade de Porto

Alegre, a prevalência estimada foi de 5,0 casos a cada 100.000 pessoas, sendo maior

para os homens (5,2/100.000) do que para as mulheres (4,8/100.000). A relação

homem/mulher foi de 1,08. Nesse mesmo estudo, a prevalência aumentou com a

idade, atingindo um pico entre os 70 e 79 anos em ambos os sexos (NOONAN et al.,

2005; LINDEN-JUNIOR et al., 2013).

Sinais e Sintomas

A Esclerose Lateral Amiotrófica é caracterizada pela deterioração de neurônios

motores superiores e inferiores, localizados no córtex cerebral, tronco cerebral e corno

anterior da medula espinhal (RESQUETI et al, 2011). Quando o acometimento ocorre

na região dos neurônios motores superiores, a doença se caracteriza pela fraqueza

muscular, espasticidade, reflexos tendinosos hiperativos, sinal de Babinski e clônus.

Já quando a região dos neurônios motores inferiores é acometida, ocorre fraqueza

muscular, atrofia,fasciculações, hipotonia e cãibras musculares. Também podem

ocorrer disfagia, disartria e sialorréia (BANDEIRA et al, 2010).

A fraqueza muscular é um dos principais sintomas iniciais, apresentado nas

extremidades, geralmente nos membros superiores, pois acomete primeiramente a

medula cervical e torácica, podendo apresentar uma paresia espástica ou flácida, que

geralmente é focal e assimétrica. Com a progressão a doença vai evoluindo para todos

os grupos musculares, exceto os músculos extraoculares e esfincterianos (BANDEIRA

et al, 2010); atingindo posteriormente a musculatura faríngea e respiratória, gerando

perdas funcionais das atividades de vida diária.

Os músculos necessitam de uma inervação potente para que mantenham sua

funcionabilidade e trofismo, assim, com a degeneração progressiva dos neurônios

motores (tanto superiores, corticais, quanto inferiores, do tronco cerebral e medula),

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ocorrerá atrofia por desnervação, observada na clínica como perda de massa

muscular, com dificuldades progressivas de executar movimentos e perda de força

muscular.

As capacidades mentais e psíquicas permanecem, frequentemente,

inalteradas. A ELA não afeta as funções corticais superiores como a inteligência, juízo,

memória e os órgãos dos sentidos (BANDEIRA et al, 2010).

A doença afeta a musculatura inspiratória e expiratória, além das vias aéreas

superiores. Como consequência, ocorre hipoventilação e perda da força e efetividade

da tosse, com incapacidade de eliminar secreções. As primeiras alterações

ventilatórias ocorrem inicialmente no período noturno, e posteriormente de forma

constante. O paciente com ELA pode apresentar anormalidades durante o sono,

microdespertares, cefaleia matinal, letargia, fadiga, sonolência excessiva, diminuição

do apetite e dificuldade de concentração, agravando o quadro. Por fim, com a

evolução da doença, as alterações dos músculos das vias aéreas superiores e o

comprometimento bulbar podem prejudicar a deglutição, levando à aspiração de saliva

e partículas de alimentos, que associados com a inabilidade de eliminar secreções,

podem gerar infecções respiratórias de repetição, desenvolvendo um quadro de

insuficiência respiratória, que se torna a maior causa de óbito dos pacientes

acometidos com ELA (LINDEN-JUNIOR, 2013; ROCHA et al., 2007).

Diagnóstico clínico da ELA

O diagnóstico de ELA baseia-se principalmente na interpretação do médico de

sintomas e sinais clínicos e nas investigações para excluir outras causas. A ampla

gama de apresentações de ELA e a trajetória clínica rápida requerem uma abordagem

flexível do atendimento clínico que é melhor providenciada em um ambiente

multidisciplinar integrado (ROONEY et al., 2015).

O atraso no diagnóstico provavelmente terá um impacto negativo no bem-estar

psicológico dos pacientes e suas famílias, além de resultar em um período de

incerteza, stress e ansiedade ao longo do curso da doença, pois também haverá

atraso no início do tratamento adequado. (GALVIN et al.; 2017)

A Federação Mundial de Neurologia (FMN) utiliza um algoritmo para o

diagnóstico da ELA, baseado em critérios clínicos e eletrofisiológicos para expressar

a gravidade da doença no momento do diagnóstico. (MITCHELL, 2000).

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Os termos distintos para classificação e diagnóstico de ELA são:

● ELA definida: acometimento dos NMS e NMI, em três regiões;

● ELA provável: acometimento dos NMS e NMI, em duas regiões;

● ELA provável com suporte laboratorial: acometimento dos NMS e NMI

envolvendo uma região ou sinais em NMS com evidência eletroneuromiográfica de

acometimento em dois ou mais membros;

● ELA possível: Envolvimento de NMS e NMI em uma região apenas;

● ELA suspeita: sinais de acometimento dos NMI apenas ou

acometimento dos NMS, apenas.

Tratamento clínico da ELA

Diversos tratamentos estão sendo pesquisados, muitos em fase 2 e 3 de teste;

o único comprovado até o momento, porém, é o riluzole, droga inibidora da

excitoxicidade pelo glutamato, que aumenta a sobrevida de três a seis meses, o que

pode parecer pouco, mas é significativo para um portador, representando, às vezes,

até uma duplicação da sua sobrevida. Seu efeito, contudo, restringe-se a isso, o que

deve ser informado à família. (NORDON, 2009).

Nos últimos anos, o significante progresso acerca do conhecimento dos

mecanismos celulares da degeneração do neurônio motor na ELA não tem sido

acompanhado pelo desenvolvimento de estratégias terapêuticas para prevenir a

progressão da doença. As múltiplas potenciais causas e a relativa raridade dessa

doença são dois importantes fatores que tornam difíceis o desenvolvimento e a

avaliação de estudos clínicos (VINCENT, 2008).

A utilização de riluzole 50 mg via oral duas vezes ao dia prolonga,

provavelmente, por aproximadamente dois meses a sobrevivência de pacientes com

ELA, quando iniciado precocemente e, especialmente, nos casos de início bulbar

(MILLER, 2003)

Dada a falta de tratamento eficazes para ELA, os estudos atualmente tem

investigado o uso e aplicação das células-tronco como candidata na terapia de

escolha contra a doença. (LIMA et al., 2010)

Abordagem multidisciplinar no tratamento da ELA

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O tratamento da ELA conta com a participação de uma equipe multidisciplinar

e inclui o tratamento farmacológico de base, o tratamento sintomático dos problemas

associados e o tratamento de reabilitação, com o objetivo de prolongar a capacidade

e independência funcional destes pacientes, visando a garantia de maior qualidade

de vida possível. (ORSINI et al., 2009)

Portadores e seus familiares precisam da ajuda de médicos, enfermeiros,

psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e fisioterapeutas.

Deve-se levar em conta que a doença é predominantemente motora, o que

significa que o portador ainda está lúcido preso a um corpo apenas parcialmente

funcionante. Assim, é de extrema importância compreender e distinguir as atitudes,

atribuições e características psicológicas de pacientes e cuidadores para planejar e

promover intervenções efetivas que visem melhorar a qualidade de vida de ambos.

(NORDON et al., 2009; ORSINI et al., 2012)

O tratamento fonoaudiológico é importante para manter uma fala

compreensível, usando exercícios de coordenação fono-respiratória e mobilidade

labial e lingual. Exercícios de reabilitação também enfocam as diferentes fases da

deglutição para melhorar o controle oral do bolo alimentar e para aprender técnicas

facilitadoras e manobras posturais que favoreçam a passagem do bolo alimentar.

(PONTES et al., 2010)

Ademais, por ser uma doença principalmente catabólica, é necessário um

aumento na ingestão de nutrientes, em alguns casos em até duas vezes o normal. Em

muitos portadores no início da doença e em até 60% até o fim dela, faz-se necessário

o uso de uma sonda nasogástrica ou, em casos extremos, gastrostomia para evitar a

desnutrição. (NORDON et al., 2009)

Tratamento Fisioterapêutico da ELA

A Fisioterapia tem um papel importante no tratamento de pacientes com ELA.

Muitos problemas advindos da progressão da doença podem ser tratados utilizando-

se métodos e técnicas fisioterapêuticas (WIJESEKERA et al., 2009).

Durante as atividades de vida diária, alguns cuidados são importantes,

principalmente com a progressão da doença. Para evitar quedas e facilitar as

transferências, modificações no ambiente se tornam fundamentais, tanto para o

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paciente quanto para os cuidadores, e incluem: dispositivos que auxiliam na

movimentação do paciente, remoção de pequenos tapetes, realocação de móveis,

instalação de barras de apoio e superfícies anti-deslizantes (MAYADEV et al., 2008).

Posicionamento apropriado no leito é essencial para prevenir contraturas e

úlceras de pressão. O uso de cunhas e almofadas pode ajudar na melhora da postura

e prover alívio na pressão sobre algumas partes do corpo. Órteses para manter o

tornozelo em posição neutra podem prolongar a deambulação e evitar lesões se há

queda do pé unilateral ou bilateral. Bengalas ou andadores com rodas, freio e assento

podem também ser úteis, dependendo do padrão da fraqueza (MAYADEV et al.,

2008).

Exercícios resistidos restauram, melhoram ou mantêm a força, a potência e a

resistência muscular. Fraqueza do músculo esquelético é um sintoma clínico

primordial nos pacientes com ELA. Entretanto, o papel do exercício resistido na ELA

ainda é controverso. Um músculo fraco pode ser lesionado por excesso de trabalho.

Assim, programas de exercício para pessoas com ELA podem ser desencorajados.

Entretanto, a inatividade e o desuso podem aumentar a fraqueza muscular,

sobrepondo-se à fraqueza causada pela própria doença (CHEN et al., 2008).

Movimento é essencial para a saúde articular. A perda progressiva da força

muscular que ocorre na ELA e, por conseguinte, a perda da capacidade do indivíduo

de movimentar-se leva a alterações articulares e dor. Em pacientes com ELA,

mobilização articular passiva regular é importante para a manutenção da mobilidade

articular e independência funcional (SICILIANO et al., 2001).

Mobilização articular refere-se a técnicas usadas com o objetivo de tratar

disfunções articulares que limitam a amplitude de movimento. São técnicas passivas

manuais aplicadas a articulações e tecidos moles relacionados com fins terapêuticos,

utilizando amplitudes e velocidades variadas (KISNER et al., 2007).

Exercícios aeróbicos têm sido amplamente estimulados para manter a aptidão

cardiorrespiratória e melhorar diversas outras funções corporais em indivíduos

saudáveis e doentes. Contudo, evidências que suportem esta abordagem em

pacientes com ELA ainda são insuficientes. Não existem ainda ensaios clínicos bem

delineados publicados acerca dos efeitos do exercício aeróbico em indivíduos com

ELA. (SICILIANO et al., 2001).

Insuficiência respiratória é a principal causa de morte em pacientes com ELA e

ocorre devido à falência dos músculos respiratórios. O diagnóstico e manejo da

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insuficiência respiratória são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e

prolongar a sobrevivência destes pacientes. Comumente, hipoventilação noturna é o

primeiro sinal de disfunção respiratória. Contudo, com a progressão da doença, outros

sinais e sintomas aparecem, tais como: dispneia, distúrbios do sono, sonolência diária

excessiva, uso de musculatura acessória, movimento paradoxal do abdome e

diminuição dos movimentos do tórax (WIJESEKERA et al., 2009).

Algumas técnicas fisioterapêuticas de desobstrução e de expansão pulmonar

podem ser empregadas com a finalidade de reduzir as intercorrências respiratórias

destes pacientes. Alguns padrões ventilatórios devem ser realizados visando

promover um aumento das capacidades volumétricas dos pulmões. A capacidade de

insuflação máxima, associada ou não ao uso de pressão positiva, e a tosse

mecanicamente assistida demonstraram ser uma alternativa para otimizar a tosse e a

eliminar as secreções brônquicas. (PRESTO et al., 2009)

O air stacking (que significa empilhamento de ar em português) é um tipo de

auxílio à tosse que pode ser realizado de forma manual ou de forma mecânica, porém,

o uso de ambu (ressuscitador manual) é o mais indicado para o fornecimento de ar

durante a manobra. O ambu é utilizado quando a técnica ocorre de forma manual. Já

a realização de forma mecânica é feita com o uso de aparelhagem que promove a

insuflação profunda (30 a 50 cmH2O) seguida de uma exsuflação com uma pressão

negativa. (LOPES et al., 2014)

A tosse mecanicamente assistida foi utilizada em pacientes com ELA, sendo

utilizados 40 cmH2O tanto para insuflação quanto para exsuflação. Foi observado que

os pacientes estáveis, sem comprometimento bulbar importante e com pico de fluxo

de tosse (PFT) abaixo de 160 litros por minuto, foram capazes de gerar PFT maiores

que 270 litros por minuto, o que favoreceu a eliminação de secreções brônquicas.

A técnica de air stacking é indicada quando o paciente não atinge o mínimo

PFT, em torno de 160 litros por minuto ou 2,7 litros por segundo. Tal técnica tem o

objetivo de atingir a maior capacidade de volume de ar que possa ser inflado pelos

pulmões, pois, sabe-se que esse aumento traz como consequência aumento da

complacência pulmonar, redução de microatelectasias e maior efetividade da tosse.

(LOPES et al., 2014)

Os espirômetros de incentivo (EI) são instrumentos que fornecem feedback

visual ou auditivo, encorajando os pacientes a realizarem inspirações máximas

sustentadas. Inspirações profundas levam ao aumento da pressão transpulmonar e,

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associadas à pausa inspiratória, promovem insuflação e recrutamento alveolar,

contribuindo para a estabilização dos alvéolos, melhorando a complacência e

ventilação alveolar. Os EI são utilizados com o objetivo de restaurar os volumes

pulmonares, modificando o padrão respiratório e de ventilação pulmonar. (MARQUES

et al., 2009)

A abordagem da fisioterapia deve ser de início precoce, de cunho preventivo e

tem como principais objetivos a manutenção da complacência pulmonar e da parede

torácica, facilitar o clearance das vias aéreas, proporcionar ventilação e perfusão

alveolar adequadas com normalização dos gases sanguíneos, e acima de tudo

oferecer uma adequada qualidade de vida. Tais objetivos em longo prazo podem

prevenir episódios de insuficiência respiratória aguda, bem como hospitalizações e

prolongar a sobrevida destes pacientes sem a necessidade destes se submeterem a

traqueostomia. (PAULA et al., 2010)

As técnicas fisioterapêuticas precisam ser adaptadas para cada paciente e

revisadas constantemente durante o curso da doença, conforme a perda funcional.

Função pulmonar do paciente com ELA

A homeostasia do sistema respiratório depende do funcionamento normal de

todos os mecanismos fisiológicos que integra. Estes incluem: 1) drive central de

centros respiratórios bulbares e de centros corticais, 2) força e coordenação dos

músculos respiratórios (inspiratórios, expiratórios e bulbares), e 3) complacência das

estruturas pleuro-pulmonares e gradil costal (ROCHA et al, 2007).

Nos pacientes com ELA, geralmente o drive central se encontra preservado; a

disfunção ventilatória se deve ao processo de desnervação dos músculos

respiratórios, principalmente o diafragma e intercostais externos, o que resulta em

alterações dos gases sanguíneos, na redução progressiva da pressão inspiratória

máxima, do volume corrente e da capacidade vital, levando a hipoventilação alveolar,

com hipoxemia e hipercapnia crescente, sendo manifestada por meio de

fragmentação do sono, cefaleias matinais e sonolência diurna.

A paresia e incoordenação dos músculos bulbares, apresentadas nas formas

bulbares da ELA, ocasionam a sialorreia com aspiração recorrente de saliva e

alimentos, devido a incapacidade de um fluxo expiratório suficiente para uma tosse

eficaz. Em consequência desses fatores, os pacientes com ELA costumam apresentar

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episódios de dessaturação dificilmente reversível e pneumonias por aspiração

potencialmente fatais (ROCHA et al, 2007).

A consequência dessa fraqueza e fadiga da musculatura respiratória e da

incapacidade de manter as vias aéreas livres de secreções é a progressão das

complicações respiratórias para a insuficiência respiratória crônica restritiva com

hipoventilação (PASCHOAL et al, 2007).

Uso da Ventilação Não Invasiva no paciente com ELA

Apesar do caráter progressivo e fatal da doença, intervenções precoces no

âmbito da reabilitação respiratória podem melhorar significativamente a qualidade de

vida do doente e seus cuidadores, constituindo uma alternativa confortável à

ventilação mecânica invasiva (VMI).

A Ventilação Não Invasiva (VNI) consta na administração de ventilação

mecânica aos pulmões sem que haja a necessidade de vias aéreas artificiais,

podendo ser oferecida ao paciente por meio de ventiladores mecânicos ou por meio

de aparelhos denominados Pressão Positiva Bifásica nas Vias Aéreas (Bilevel ou

BiPAP). Sua aplicação possui diversos objetivos, dentre eles: a melhora na qualidade

do sono, na qualidade de vida, na redução do desconforto respiratório e no trabalho

ventilatório, nas trocas gasosas e, por fim, o prolongamento da sobrevida (PRESTO

et al, 2009).

O uso de ventilação não invasiva e técnicas adjuvantes (que incluem o

recrutamento de volume pulmonar e a tosse manualmente assistida) podem prolongar

a sobrevida e, caso a função bulbar o permita, evitar ou pelos menos adiar a

necessidade de traqueostomia (ROCHA et al, 2007).

A fisiopatologia da insuficiência respiratória nas doenças neuromusculares é

complexa e pode envolver inúmeros fatores. Alterações no controle da ventilação,

aparecimento de sinais de fadiga muscular respiratória, alterações nas propriedades

mecânicas do sistema respiratório, mudanças na troca gasosa, especialmente no

período noturno, e a disfunção do trato respiratório superior são algumas

possibilidades. Para quantificar estas modificações respiratórias os estudos acerca do

uso da VNI na ELA verificam: as trocas gasosas e o equilíbrio ácido básico, por meio

da gasometria arterial, a Saturação Periférica de Oxigênio (SpO2), através da

oximetria, a força dos músculos ventilatórios, utilizando a manovacuometria, e a

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mensuração dos volumes, capacidades e índices integrados, por meio da

espirometria. Vale ressaltar que a indicação da VNI nos portadores de ELA vem sendo

indicada quando há uma redução de 50% do valor predito para Capacidade Vital

Forçada (CVF) e/ou diminuição da SpO2 abaixo de 88% por mais de cinco minutos

consecutivos no período noturno e/ou aumento da Pressão Parcial de Gás Carbônico

no Sangue Arterial (PaCO2) acima de 45 mmHg e/ou redução da Pressão Inspiratória

Máxima dos Músculos Inspiratórios (Pimax) abaixo de -60 cmH2O2 . Além destas,

existem as indicações relacionadas a possíveis sinais e sintomas como: dispnéia,

fadiga, dor de cabeça matutina, sonolência exacerbada entre outros (PRESTO et al,

2009).

A escolha do método de suporte ventilatório não invasivo é dependente do

conforto e adaptação do doente, e da experiência pessoal do médico.

Os principais modelos ventilatórios na VNI, assim como na ventilação invasiva,

são a ventilação regulada por pressão ou regulada por volume, habitualmente são

utilizados em VNI os ventiladores regulados por pressão, uma vez que apresentam

um menor custo, maior capacidade para compensação de fugas, são mais portáteis e

mais bem tolerados pelos doentes e podem ser utilizados em situações agudas ou

crônicas (FERREIRA et al., 2009).

No CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas), o suporte ventilatório

ocorre através da aplicação do mesmo nível de pressão positiva nas vias aéreas

durante a inspiração e expiração (PRESTO et al, 2009).

O ventilador pressométrico (BiPAP), em virtude de apresentar suporte de

pressão positiva em fase inspiratória e expiratória, auxilia na inspiração e evita o

colapso das aéreas superiores na expiração, sendo por isso considerado mais efetivo

nas formas de atingimento bulbar mais severo.

A fraqueza diafragmática pode ser diagnosticada com espirometria, com

capacidade vital passando por declínio progressivo ao longo da doença. As medidas

da força muscular inspiratória, como a pressão inspiratória máxima e a pressão

inspiratória nasal do sono, são preditores mais precisos de disfunção respiratória do

que a capacidade vital e podem ser mais viáveis em pacientes com fraqueza muscular

(KIERNAN et al., 2011).

Os objetivos da VNI são a diminuição do trabalho respiratório, o repouso dos

músculos respiratórios, a melhoria das trocas gasosas, tem como principais vantagens

evitar a intubação orotraqueal, com a consequente diminuição dos riscos associados:

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infecções nosocomiais e lesão traqueal, evitando o trabalho dinâmico imposto pelo

tubo endotraqueal. Além disso, para a realização da VNI não é necessária sedação,

permite ao doente falar, manter tosse eficaz e alimentação oral. É fácil de instituir e

de retirar e pode ser realizada em hospitais ou em casa com o auxílio de um

fisioterapeuta. Acarreta, por isso, uma diminuição do tempo de internação hospitalar,

da mortalidade e uma diminuição dos custos (FERREIRA et al., 2009).

Ao utilizar a VNI como recurso terapêutico na ELA, foram atribuídos preditores

de tolerabilidade dos pacientes para a terapia. Os pacientes acompanhados por mais

de 60 dias que conseguem utilizar a VNI, através do BiPAP, por mais de 4 horas por

dia tendem a tolerar a VNI. Este grupo obteve lentificação na queda da CVF através

do tempo e redução na taxa de mortalidade. O prolongamento da vida foi observado

através da utilização da VNI associada à tosse mecanicamente assistida, quando

necessária, permitia a um pequeno número de pacientes o adiamento da necessidade

de traqueostomia e o prolongamento da vida por um período maior que um ano.

(PRESTO et al., 2009)

A qualidade de vida é outro aspecto abordado, para avaliar a possível eficiência

da VNI em pacientes com ELA. Foi observada melhora significativa da qualidade de

vida dos pacientes que foram submetidos à VNI para tratar distúrbios respiratórios do

sono. Foi observada melhora ou manutenção da qualidade de vida e melhora na

sobrevida em pacientes com ELA sem comprometimento bulbar grave. Entretanto, os

pacientes com comprometimento bulbar grave apresentaram melhoria dos sintomas

respiratórios noturnos, mas sem aumento significativo na sobrevida. (PRESTO et al.,

2009)

Marca-passo diafragmático como qualidade de vida para o paciente com ELA.

Com o avançar da doença, esse paciente torna-se cada vez mais grave e

dependente de ventilação mecânica invasiva. Uma alternativa seria a utilização de

marca-passo diafragmático naqueles que possuem o nervo frênico preservado.

O sistema de estimulação elétrica do diafragma foi desenvolvido pela primeira

vez para controlar o comprometimento do neurônio motor inferior do nervo frênico em

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pacientes com lesão da medula espinhal. O sistema melhorou substancialmente a

qualidade de vida fazendo com que pacientes com lesão da medula espinhal fossem

desmamados dose ventilador mecânico e custo reduzido de cuidados. Deste ponto de

vista, sugeriu-se que a diminuição da capacidade vital, que é o problema mais

importante na ELA, poderia ser prevenida através da estimulação elétrica de baixa

frequência do diafragma. (LEFAUCHEUR et al., 2016)

O sistema de estimulação elétrica para a ELA foi implantado pela primeira vez

em 2005, a implementação desse sistema em pacientes com ELA converte as fibras

musculares de TIPO IIB (contração rápida) em fibras musculares de TIPO I (contração

lenta) ao reverter a atrofia não-usável, como em pacientes tetraplégicos e em algumas

doenças neuromusculares. (TEDDE et al., 2012)

O termo genérico "marca-passo diafragmático" (MPD) designa um dispositivo

que gera impulsos elétricos junto ao nervo frênico para provocar contrações

diafragmáticas que visam substituir a ventilação mecânica em pacientes com

insuficiência respiratória. A condição essencial para que essa terapêutica possa ser

empregada é que o nervo frênico esteja preservado (PINTO-FILHO et. al., 2015).

Existem dois tipos de dispositivos para a estimulação do nervo frênico,

dependendo do local de implante: diretamente no nervo frênico ou diretamente no

diafragma. Os marca-passos conectados ao nervo frênico podem ser implantados ao

longo do nervo por via cervical ou torácica. O nervo frênico se origina nas raízes nos

níveis C3 e C4, com a junção da raiz em C5 mais distalmente. Com o implante cervical,

corre-se o risco de o eletrodo ser posicionado no nervo antes da junção da raiz em

C5. A presença de traqueostomia pode aumentar o risco de infecção. Por esses

motivos, recomenda-se que o implante seja realizado no segmento intratorácico do

nervo frênico, preferencialmente por videocirurgia. (PINTO-FILHO et al., 2015)

Figura 1 - Raio X de paciente com marca-passo diafragmático

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CONCLUSÃO

Considerando-se que a Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença

neurodegenerativa, progressiva e incapacitante, o tratamento desses pacientes tem

melhorado significativamente ao longo dos anos, várias estratégias tem permitido

melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevivência destes pacientes. Alguns

fatores como a demora do diagnóstico, a terapêutica específica ser restrita somente a

uma única droga e a fisiopatologia não claramente definida prejudicam no prognóstico

desses pacientes.

Embora esta condição seja incurável, uma abordagem multidisciplinar pode

melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevivência dos indivíduos acometidos.

A fisioterapia é necessária durante todo o decorrer da doença, com

modificações e adaptações essenciais para cada estágio da enfermidade em ordem

de retardar a evolução e minimizar os sintomas.

O tratamento fisioterapêutico na ELA tem por objetivo principal manter a

independência e mobilidade funcional e a realização das atividades de vida diária,

contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Além disso, os objetivos secundários

incluem minimizar as deficiências através de adaptações; educar o paciente e os

familiares; prescrever exercícios apropriados; prevenir as complicações relacionadas

à imobilidade e eliminar ou prevenir a dor.

Apesar do prognóstico pobre da ELA, a fisioterapia respiratória é um

componente importante no cuidado global desses pacientes. Complicações

pulmonares são prevenidas com técnicas de desobstrução brônquica.

A utilização da ventilação não invasiva (VNI) nos pacientes com ELA tem sido

empregada nos últimos anos com o objetivo de corrigir a insuficiência respiratória e,

por conseguinte, melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevivência destes

indivíduos.

O implante do marca-passo diafragmático pode ajudar na manutenção da

qualidade de vida do paciente à medida que a doença progride. O marca-passo pode

evitar a atrofia e perda de força do diafragma, tornando mais amenos os sintomas da

doença.

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