Redação Técnica1

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Aula de redação técnica.

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  • Redao TcnicaProf Eduarda Bainha

  • A comunicaoA COMUNICAO HUMANA

    O homem utiliza a linguagem para comunicar-se. Ela, alm de propiciar o progresso (j que o ser humano, atravs da linguagem, pode codificar e armazenar suas experincias e descobertas para transmiti-las a outras geraes), um fator de interao e coeso social.

    A linguagem pode ser verbal (o cdigo lingustico) e no verbal (todos os outros cdigos: icnico, gestual, cromtico, etc.). As caractersticas inerentes linguagem verbal so:

  • A comunicao verbalo dialogismo: a linguagem sempre remete a algo j dito e dirige-se a algum, ela s viva porque orientada para o outro com o qual entra em interao;

    a argumentatividade: atravs da linguagem, o enunciador (emissor) imprime, por meio de palavras, uma direo argumentativa a seu texto, indicando como o enunciatrio (receptor) deve/pode entend-lo.

  • A comunicaoA comunicao um processo que exige determinados fatores, elementos mnimos para poder realizar-se. No quadro a seguir, voc ver o esquema clssico da comunicao proposto pelo linguista Roman Jakobson:

  • Fatores da ComunicaoAnalisemos esses fatores:

    EMISSOR: voc. A partir de uma situao de comunicao, caber a voc escolher, entre as possibilidades que os cdigos colocam sua disposio, os enunciados que melhor se ajustem aos seus propsitos interacionais;

    RECEPTOR: seu leitor. O destinatrio v, ouve, l etc., traduz os cdigos (decodifica), entende e interpreta. importante enfatizar que o leitor quem vai determinar a escolha de palavras e todos os outros recursos de organizao da mensagem que voc vai utilizar, pois uma das caractersticas fundamentais da linguagem o dialogismo, a interao;

  • Fatores da ComunicaoREFERENTE: assunto sobre o qual voc vai falar/escrever;

    MENSAGEM: ou texto uma manifestao comunicativa, concretizada por alguma materialidade (grafia, som, imagem, gestos...). Ela produzida por algum, em uma situao concreta (contexto), com alguma finalidade;

    CDIGO: uma conveno, um contrato, que controla a relao entre aquilo que se pode perceber atravs dos sentidos (significante) e seu significado. Essa relao entre o plano da expresso (significante) e o plano do contedo (significado) constitui uma unidade abstrata, a que se d o nome de signo (no ato de linguagem, ser concretizado por alguma materialidade visual, sonora, ttil...). a partir do cdigo que um estmulo fsico qualquer pode virar signo. importante enfatizar que o cdigo que o comunicador social vai usar a Lngua Portuguesa, a qual deve dominar em todas as suas variantes;

  • Fatores da ComunicaoCANAL (meio, veculo ou mdia): o meio fsico que transporta a mensagem e possibilita o contato entre o emissor e o destinatrio da mensagem. H dois tipos de canal natural e tecnolgico , que, quando necessrio, complementam-se (isso ocorre sobretudo na publicidade e em textos de RTV). Assim, podemos aumentar a abrangncia do canal natural, com o auxlio de um canal tecnolgico. A televiso, por exemplo, um meio, canal ou veculo tecnolgico, pelo qual podemos ver e ouvir o mundo todo, o que a nossa viso e audio (canais naturais) no permitem. Os canais tecnolgicos (telefone, internet, rdio, impressos etc.) so chamados pelos especialistas em comunicao de mdias. Quando a comunicao realizada somente com o canal natural (ar), ela denominada comunicao direta. A comunicao realizada com o auxlio da mdia (canal tecnolgico) denominada comunicao indireta.

  • Funes da Linguagem Segundo o linguista russo Roman Jakobson, em toda comunicao h uma inteno predominante por parte do emissor da mensagem. Esse objetivo do emissor faz com que, nas mensagens, cada fator, que corresponde a uma das funes da linguagem, esteja mais enfatizado do que outros (a questo de hierarquizao das funes e no de excluso). Assim:

  • Funes de Linguagem

  • Funes de Linguagema) O remetente informa de modo objetivo: funo denotativa ou referencial nfase no contexto. Ex.: bula de remdio, manual de instruo, notcia de jornal. b) O remetente trata de seus sentimentos, emoes: funo emotiva nfase no emissor. Ex.: msicas romnticas, poesia lrica (gnero de poesia em que o poeta canta suas emoes e sentimentos ntimos).

  • c) O remetente quer influenciar o comportamento do destinatrio: funo conativa nfase no destinatrio/receptor. Ex.: publicidade, discurso poltico.d) O emissor quer explicar alguma palavra que faz parte da mensagem, isto , usa o cdigo para falar do prprio cdigo: funo metalingustica nfase no cdigo. Ex.: dicionrio. e) O remetente testa se o destinatrio est recebendo bem a mensagem: funo ftica nfase no contato/canal de comunicao. Ex.: a conversa de elevador, sinal ruim de celular.

  • ExemplosFuno referencial uma notcia do jornal. Tiradentes rendeu penso especial para sete trinetos Criada na ditadura militar, aposentadoria especial j foi paga a sete trinetos do mrtir da Inconfidncia, enforcado h 219 anos. Uma das descendentes recebeu o benefcio por 18 anos. Funo emotiva qualquer texto em que sentimentos, emoes, opinies do receptor sejam enfatizados: Amor, ento, Tambm acaba? No que eu saiba O que eu sei que se transforma Numa matria-prima Que a vida se encarrega De transformar em raiva Ou em rima (Paulo Leminski, Caprichos e Relaxos)

  • ExemplosFuno conativa ou apelativa procura convencer o receptor, o uso do modo imperativo, na maioria das vezes, prevalece: A Stella Barros est lanando uma novidade on ice: os novos programas para as mais incrveis estaes de esqui dos EUA. So vrias opes para a prxima temporada de inverno: Aspen, Vail e Park City. E em todos os programas voc e sua famlia contam com uma infraestrutura completa, que inclui hoteis, restaurantes, instrutores, equipamentos e transporte. (Vip, nov. 95)

    Funo metalingustica: utiliza o cdigo (seja ele qual for) para falar do prprio cdigo: Quadrinhos: s.m.pl. Narrao de uma histria por meio de desenhos e legendas dispostos numa srie de quadros; histria em quadrinhos. (Minidicionrio Luft. 9 ed. So Paulo: tica/Scipione, s.d. p. 511.)

  • ExemplosFuno ftica predomnio das mensagens que tm por objetivo principal no a transmisso de informaes, mas o prolongamento da comunicao ou sua interrupo, para atrair a ateno do destinatrio ou verificar sua ateno: Al! Al!, marciano Aqui quem fala da Terra... (Rita Lee)

    Funo potica caracteriza-se pelo trabalho com a linguagem: Trova Quem as suas mgoas canta, Quando acaso as canta bem No canta s suas mgoas, Canta a de todos tambm. (Mrio Quintana)

  • O CONTEXTOEm todo esse processo de comunicao, o contexto de fundamental importncia, pois, dependendo dele, um mesmo enunciado pode adquirir significados diferentes. Observe a orao A porta est aberta nas seguintes situaes:

  • diz a moa num dia de calor: A porta est aberta e, por ela, entra uma brisa fresca. O contedo da mensagem indica, simplesmente, que a porta est aberta;

    o barulho do corredor muito intenso e o professor, incomodado com a situao, queixa-se a um aluno que est perto da porta: A porta est aberta. Sua inteno no constatar que a porta est aberta, mas pedir ao aluno que a feche;

    um aluno est brigando com o professor e diz-lhe que no suporta mais sua aula. O professor responde: A porta est aberta, ou seja, Pode sair;

    um empregado de uma empresa recebe uma proposta para trabalhar num outro lugar, com um salrio melhor e possibilidade de ascenso na carreira. Seu empregador lhe diz que est feliz com essa perspectiva; mas, se algo no correr bem no prximo emprego, A porta est aberta, ou seja, ele poder voltar.

  • O Contexto por isso que se diz que, na comunicao, preciso sempre levar em considerao o contexto e reconhecer a inteno de quem produz a mensagem. Assim, nas frases acima, o leitor deve perceber a fora ilocutria (a inteno), para que a interao se estabelea. A linguagem tambm trabalha (e muito) com implcitos, espcie de passageiros clandestinos, que agem ocultamente, da a necessidade de saber ler as lacunas. Os implcitos podem ser de duas naturezas:

  • PRESSUPOSTOS: mensagens cuja inferncia automtica. Em Paulo deixou de fumar, a inferncia que ele fumava antes, pois o verbo parar autoriza essa leitura. Ou Jean nasceu na Frana, mas bem-humorado. O mas pressupe que quem nasce na Frana mal-humorado. H sempre na frase um elemento lingustico que permite a pressuposio.

    SUBENTENDIDOS: mensagem que transfere ao emissor a responsabilidade de atribuir determinado sentido ao texto. o caso da ironia, em que difcil provar que o emissor quis dizer tal coisa, isto , muitas vezes no se pode provar, com apoio no texto, a inteno do emissor. Para sua leitura, o receptor deve conhecer o contexto. Por exemplo, no ano de 2004, uma escola de idiomas em sua publicidade veiculou esta frase em cartazes:

  • A primeira leitura marota ertica, mas o publicitrio pode dizer que no foi isso que quis dizer, mas somente que, sabendo duas lnguas, voc pode ter acesso a duas culturas e ter muito mais prazer no aprendizado.

  • Conotao X DenotaoQuando a palavra utilizada com seu sentido comum (o que aparece no dicionrio) dizemos que foi empregada denotativamente.

    Quando utilizada com um sentido diferente daquele que lhe comum, dizemos que foi empregada conotativamente.

  • Texto literrio x Texto no literrioTexto1: Fotossntese Da ao da luz sobre os vegetais verdes depende o mais importante de todos os fenmenos vitais, a fotossntese, qual esto direta ou indiretamente escravizados todos os seres vivos. Exteriormente, a fotossntese se manifesta pela troca de gases entre o vegetal e a atmosfera: o vegetal absorve CO2 e elimina oxignio. Duas condies so necessrias para que o fenmeno se realize: uma a presena de clorofila; outra, a presena de luz. O papel da clorofila consiste em absorver uma parte das radiaes solares, cuja energia ento aproveitada para reaes qumicas no interior da planta. (ALMEIDA Jr., A. Biologia Educacional. So Paulo: Cia. Editora Nacional, 1965. p. 201.)

  • Texto literrio x Texto no literrioTexto2: Luz do Sol Luz do sol, Reza a correnteza, Que a folha traga e traduz Roa a beira, Em verde novo, em folha, em graa, Reza, reza o rio, Em vida, em fora, em luz. Crrego pro rio, Cu azul, O rio pro mar. Que vem at onde os ps tocam a terra Marcha o homem sobre o cho, E a terra expira e exala seus azuis. Leva no corao uma ferida acesa. Dono do sim e do no, Doura a areia. Diante da viso da infinita beleza Roa a beira, Finda por ferir com a mo essa delicadeza, Reza, reza o rio, A coisa mais querida: Crrego pro rio, A glria da vida. O rio pro mar. (Caetano Veloso, Luz do Sol. In: Meu bem, meu mal. LP Fontana 826162-1. 1985. L.2, f.1.)

  • Texto literrio x Texto no literrioComo voc percebeu, o tema do primeiro texto e do segundo (na parte destacada) o mesmo: a fotossntese. Mas, por suas intenes e caractersticas, cada um deles pode ser classificado como no literrio e literrio, respectivamente. Vejamos por qu.

    No primeiro texto predomina a funo referencial. O objetivo do autor , pura e simplesmente, informar de maneira precisa e objetiva. Para atingir essa meta, ele utilizou a denotao, isto , valeu-se do sentido prprio ou referencial da palavra. Privilegiou, portanto, o significado, seu valor utilitrio, ou seja, o plano do contedo. Por isso, pode-se fazer um resumo das ideias do texto e apreender o essencial da informao. O plano da expresso (explorao dos recursos do significante) no trabalhado nesse texto, isto , a linguagem transparente, s veicula contedos. Como consequncia o texto univalente: apresenta uma nica interpretao

  • Texto literrio x Texto no literrioNo segundo texto, ao contrrio, predomina a funo potica, pois a organizao da mensagem privilegia a prpria mensagem, o plano da expresso, o trabalho com a parte concreta do signo (significante): o que se destaca o trabalho com a linguagem. A predominncia no texto de Caetano da linguagem em funo esttica, conotativa, que permite o aparecimento de um sentido figurado. Observe o uso conotativo, metafrico, dos verbos tragar e traduzir: houve uma associao por similaridade, em outras palavras, associou-se o ato de fumar e de tragar ao do vegetal absorvendo a luz e, em seguida, transformando essa luz em substncia orgnica. Ou, nas palavras do autor, traduzindo uma informao em outra.

  • Texto literrio x Texto no literrio

  • Texto No LiterrioTextos no literrios privilegiam a funo referencial, portanto conciso, objetividade, clareza, coerncia e adequao ao nvel hierrquico do destinatrio so suas principais caractersticas. Conciso: expressar o mximo de informaes com o mnimo necessrio de palavras. Objetividade: para que o texto seja objetivo, preciso determinar com preciso quais so as informaes realmente relevantes que dele devem constar. Clareza: para que o texto seja claro, deve estar conceitualmente bem organizado e redigido em bom portugus. Coerncia: para que o texto seja coerente, deve ter nexo, lgica, isto , deve apresentar harmonia entre situaes, acontecimentos ou ideias. Linguagem formal: respeitar as normas gramaticais. O grau de formalidade, maior ou menor, dever ser adequado posio hierrquica do destinatrio.

  • Texto No Literrio