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tema de capa Texto Marta Martins Silva eVanessa Fidalgo Uma rede em que nem tudo é * like' NO FACEBOOK, A PARTILHA DE FOTOGRAFIAS E DADOS PESSOAIS ACABA MUITAS VEZES EM HISTÓRIAS DE POLÍCIA s ara, nome fictício, 13 anos de verdade, enviou imagens em poses mais atrevidas para um desconhecido que conhecera na internet. Um novo amigo, pen- sava ela. Palavra puxa palavra e puxa outras fotos também. Em poucos dias, o amigo revelou, afinal, aoque vinha: queria mais imagens de Sara, nua, em poses cada vez mais picantes, ou tor- naria públicas todas as outras que tinha em seu poder. De amigo, afinal, tinha pouco. Sara arrependeu - se e envergonhou- se, mas, felizmente, não tanto que a impedisse de contar a dois colegas o imbróglio em que es - tava metida. Aqueles conven- ceram-na afalar com amãe, que denunciou o chantagista à polí- cia. Afinal, o 'amigo' eraumpe- dófilo procurado, que tinha violado outras jovens que co- nhecera e chantageara nas mes - mas condições. E Sara seria apenas mais uma, aproxima, se não tivesse parado a tempo. 0 caso remonta a 20 08 e ainda não chegou às barras dos tribu- nais. "O suspeito, que terá vio- lado pelomenos duas outras jo- vens, está com termo de identi- dade e residência, mas continua aaceder àinternet apartir de lo- cais públicos" avisa Tito de Mo- rais, fundador do site Miúdos SegurosNa.Net. "A nossa vida íntima deve ser mantida íntima e registar ê o pri- meiro passo para as coisas corre - rem mal" avisa o investigador. Quandoaproezadáparaotorto, todos saem a perder: veja-se o caso das adolescentes oriundas de famílias da alta sociedade que partilharam fotos íntimas numa página fechada que acabaram no telemóvel do pai de uma delas e que o CM noticiou na semana passada [ver caixa]. Muitas vezes, porém, a internet esconde um mundo de possibi- lidades e perigos que nenhuma das vítimas pôde imaginar. Ca- sos como o de Cristina, 34 anos, também vítima de chantagem com requintes tecnológicos por parte de um colega da fábrica onde trabalha, numa pequena cidade do interior do País. Aquele forjou conversas no Messenger entre Cristina e um inventado amante. Depois, mostrou-lhe os supostos regis- tos e , ou ela saía da fábrica ou ele mostrava tudo ao marido. ? "0 suspeito, que terá violado duas jovens, está com termo de identidade e residência, mas continua a acederá neta partir de locais públicos" "A nossa vida íntima deve ser mantida íntima e registar é o primeiro passo para as coisas correrem mal" Tito de Morais MiúdosSegurosNa.Net

rede em que nem like'...cada vez mais picantes, ou tor-naria públicas todas as outras que já tinha em seu poder. De amigo, afinal, tinha pouco. Sara arrependeu -se e envergonhou-se,

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Page 1: rede em que nem like'...cada vez mais picantes, ou tor-naria públicas todas as outras que já tinha em seu poder. De amigo, afinal, tinha pouco. Sara arrependeu -se e envergonhou-se,

tema de capa Texto Marta Martins Silva eVanessa Fidalgo

Uma rede em que nem tudo é * like'NO FACEBOOK, A PARTILHA DE FOTOGRAFIAS E DADOS PESSOAISACABA MUITAS VEZES EM HISTÓRIAS DE POLÍCIA

sara, nome fictício, 13 anos de

verdade, enviou imagens em

poses mais atrevidas para umdesconhecido que conhecera nainternet. Um novo amigo, pen-sava ela. Palavra puxa palavra e

puxa outras fotos também. Em

poucos dias, o amigo revelou,afinal, aoque vinha: queria mais

imagens de Sara, nua, em posescada vez mais picantes, ou tor-naria públicas todas as outras

que já tinha em seu poder. De

amigo, afinal, tinha pouco. Sara

arrependeu - se e envergonhou-se, mas, felizmente, não tanto

que a impedisse de contar a dois

colegas o imbróglio em que es -

tava metida. Aqueles conven-ceram-na afalar com amãe, quedenunciou o chantagista à polí-cia. Afinal, o 'amigo' eraumpe-dófilo procurado, que já tinhaviolado outras jovens que co-nhecera e chantageara nas mes -

mas condições. E Sara seria

apenas mais uma, aproxima, se

não tivesse parado a tempo.0 caso remonta a 20 08 e ainda

não chegou às barras dos tribu-nais. "O suspeito, que terá vio-lado pelomenos duas outras jo-vens, está com termo de identi-dade e residência, mas continuaaaceder àinternet apartir de lo-cais públicos" avisa Tito de Mo-rais, fundador do site Miúdos

SegurosNa.Net."A nossa vida íntima deve ser

mantida íntima e registar ê o pri-meiro passo para as coisas corre -rem mal" avisa o investigador.

Quandoaproezadáparaotorto,

todos saem a perder: veja-se o

caso das adolescentes oriundas

de famílias da alta sociedade quepartilharam fotos íntimas numa

página fechada que acabaram notelemóvel do pai de uma delas e

que o CM noticiou na semana

passada [ver caixa].

Muitas vezes, porém, a internetesconde um mundo de possibi-lidades e perigos que nenhumadas vítimas pôde imaginar. Ca-sos como o de Cristina, 34 anos,também vítima de chantagemcom requintes tecnológicos porparte de um colega da fábricaonde trabalha, numa pequenacidade do interior do País.

Aquele forjou conversas no

Messenger entre Cristina e uminventado amante. Depois,mostrou-lhe os supostos regis-tos e , ou ela saía da fábrica ou ele

mostrava tudo ao marido. ?

"0 suspeito,que teráviolado duasjovens, estácom termo deidentidade eresidência,mas continua aacederá netapartir de locaispúblicos"

"A nossa vidaíntima deve sermantida íntimae registar é oprimeiro passopara as coisascorrerem mal"Tito de MoraisMiúdosSegurosNa.Net

Page 2: rede em que nem like'...cada vez mais picantes, ou tor-naria públicas todas as outras que já tinha em seu poder. De amigo, afinal, tinha pouco. Sara arrependeu -se e envergonhou-se,

tema de capa

? Cristina fez o que lhe pareceumais certo: contou a verdade ao

marido, ou seja, que estava a ser

alvo de chantagem. Sofreunovo

ataque: o mesmo colega criou

um perfil em seu nome num si -

te de sexo, onde colocou o seu

número de telemóvel. As cha-madas de conteúdo e convites

explícitos começaram a chover

e acabou por ser um dos 'senho-

res' do lado de lá da linha a ex-

plicar-lhe como arranjara o nú-mero. O marido, nascido e cria-do nesse mesmo sítio pequeno,teve dificuldade em compreen -der. "Começou a fazer cenas de

ciúmes, a controlar-me as con-tas, o telefone, não podia se-

quer ir às compras. Começá-mos a discutir muito. Até víti-ma de violência doméstica fui"recorda Cristina.

Hoje estão divorciados. Cris-tina ainda é acompanhada porum psicólogo e garante que se

tornou mais forte. Agarra-se ao

filho que lhe ficou de recordaçãodo casamento aziago e ainda

Pai recebe SMScom fotografiada filha nuaTrês jovens de 19 anos, oriundas de famí-

lias da alta sociedade e em férias, resolve-

ram criar um grupo fechado no Facebook

para partilhar imagens e vídeos íntimos,

conforme noticiou o CM esta semana. Só

que o grupo, afinal, não era assim tão fe-

chado. Alguém copiou todos os conteú-

dos, e aquilo que era para ficar em privadoacabou por correr mundo na internet até

chegar ao telemóvel do pai de uma das jo-vens que se vêem nas imagens em posesprovocantes e seminuas. Depois do mun-do virtual, o caso deu que falar nos mediae o escândalo ganhou ainda maiores di-

mensões. O Facebook não admite porno-grafia nem conteúdos violentos, mas só

uma denúncia pode controlar a propaga-ção de imagens deste teor.

Page 3: rede em que nem like'...cada vez mais picantes, ou tor-naria públicas todas as outras que já tinha em seu poder. De amigo, afinal, tinha pouco. Sara arrependeu -se e envergonhou-se,

tentou processar o culpado, mas

desistiu: "Disseram -me que ia

gastar muito tempo e dinheiro

inutilmente porque era a minha

palavra contra a dele ".

Tito de Morais reconhece

igualmente que fazer os culpa-dos pagarem nem sempre é fá-cil. "Há pouco tempo, uma ra-

pariga de 22 anos contactou- me

porque aos 16 anos tinha sido

chantageada e abusada. Arran-

jara finalmente coragem para

denunciar, só que o crime já ti-nha prescrito. Por acaso ela até

guardava todas as provas , o quena maioria das vezes não acon-tece porque, no momento da

aflição, a primeira atitude das

vítimas é apagar fotos, vídeos,

conversas, enfim, tudo o que

depois poderia servir de prova

para uma eventual punição."É a lógica da lei. "Todos os cri-

mes têm data de prescrição. Es -

tes, em concreto, prescrevementre três a cinco anos, depen-dendo da gravidade", explicafonte da Secção de Criminali-

dade Informática da Polícia Ju-diciária. Entre os crimes quemais afectam o utilizador co-mum contam-se o "desvio não

autorizado de quantias deposi-tadas em bancos , o acesso inde -

vido e a comercialização ilícita

de dados pessoais'! Quanto aos

mais novos, as duas situações

que mais são denunciadas à Pfsão "por um lado, entre jovens,

procederem à disponibilizaçãode fotos e vídeos sem autoriza-

ção dos visados; por outro, o

facto de estes não perceberem

que oferecem dados pessoais

através das redes sociais que

podem ser utilizados para a sua

localização por parte de abusa -

dores sexuais", acrescenta a

mesma fonte.

Joana Castro, 24 anos, acreditou

na pessoa errada. Durante se-

manas foi trocando mensagensno MySpace e no Facebook

com um suposto estudante

universitário, que frequentaria

o mesmo curso que ela mas

noutra cidade. Acabou porcombinar encontrar -se com

ele, em Coimbra. Dividiu as

despesas da gasolina com uma

amiga natural de Coimbra e

que por acaso nesse fim-de-semana ia visitar os pais. Noúltimo minuto, a amiga insistiu

para ir com ela. "Quando che-

gámosao local, ele tinha pousa-do um caderno de capa verme-lha em cima da mesa, tal comotínhamos combinado, e percebi

logo que não era a pessoa que ti-nha dito. Era muito mais velho.

Podia ser meu avô !" conta Joa-

na, que se foi embora, deixando

o amigo das redes sociais pen-durado. "Só nesse momentotive a verdadeira noção do peri -

go em que quase me colocara

porterconfiadoum perfil falso"

reconhece.Diana Hrynchyk tem 17 anos,

é uma ucraniana de Lisboa e fre -

quenta o ensino secundário naEscola António Arroio, em Lis -

boa. Utiliza o Facebook quasetodos os dias e "às vezes tam-bém o tumblr "Gosta sobretudo

de colocar fotos suas ou com as

amigas, dos mais variados mo-mentos do dia. Agora, porexemplo, as imagens tiradas na

praia estão em destaque.Nunca conversou sobre segu-

rança na internet com nin-guém. Ainda assim, tem algunscuidados. "Aceito como amigos

mesmo pessoas que não co-

nheço, mas, por exemplo, não

aceito homens mais velhos.Não tenho muita confiança,

porque já aconteceu aceitar e

eles depois virem falar e serem

muito chatos. Também já tiveoutros dissabores: aconteceu

uma rapariga utilizar fotos mi-nhas no seu Facebook. Eu nem

sequer a tinha nos amigos, e só

tínhamos uma pessoa em co-mum na lista de amizades. De-nunciei-a ao Facebook, masainda não sei se já está apagado,

pois ela bloqueou-me" recorda

Diana. Talvez por isso, a^

"Disseram-meque ia gastarmuito tempoe dinheiroinutilmente,pois era aminha palavracontra a dele"Cristinavítima

"Percebi logoque ele não eraa pessoa quetinha dito. Eramuito maisvelho. Podiaser meu avô"Joana Castro

"Os menoresnão percebemque oferecemdados quepodem serutilizadospara a sualocalização"Polícia Judiciária

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? maioria das suas fotos não são

públicas e só podem ser vistas

pelos amigos. E por amigos dos

amigos virtuais. 'Postar' fotos é

é uma das formas como a sua

geração comunica, um diáriodos tempos modernos: "Metoas fotos que , de todas as que ti-rei num dia, mais gosto e pron-to! "justifica.

Diana, na sapiência dos seus

17 anos, não considera a internet

completamente seguia. "É talcomo na rua, não se pode con-fiar a 100% em ninguém, nem

sequer nos amigos verdadeiros

quanto mais nas pessoas que se

conhece nas redes sociais! Os

mais novos, de 10 ou 11 anos, é

que não têm noção disso ."

No entanto, mesmo depois de

ser vítima, Diana nunca falou

com ninguém. Também porisso, a criminalidade desta na-tureza, 'sexting' como lhe cha-

mam, continua a crescer apesardos avisos e do aumento dos

mecanismos de segurança dis-poníveis para os utilizadores da

internet. Num estudo realizado

nos EUA, um em cada quatroadolescentes dos 14 aos 19 anos

já enviou a alguém, geralmenteoutro adolescente, fotografiasem que se encontrava nu. Sete

em cada dez raparigas recebeu

pedidos para o fazer. Em Portu-gal não há números , mas há ca-sos que todos os dias chegam às

mãos da Polícia fudiciária.

Rita, de 14 anos, namorava com

João (nomes fictícios), da mes-ma idade. Sem que ela soubes-

se , o namorado aproveitou uma

partilha mais íntima que fize-ram através de webcam numarede social e fez um vídeo do

momento que veio ausar contraela no dia em que a relação aca-bou. "O rapaz distribuiu pelocolégio onde ela andava CDcom os vídeos que tinha feito

sem ela suspeitar. Isto passou-se num colégio religioso, de

freiras, por isso imagine o im-pacto que teve a circulação des-tes vídeos e destas imagens "re-corda o psicólogo clínico João

Nuno Faria, coordenador doNúcleo de Intervenção no Usoda Internet e das Telecomuni-

cações, que a acompanhou."Ela estava no 9^ ano, por isso

teria mesmo de mudar de colé-

gio no ano seguinte, mas mes-mo que não fosse assim sairia de

qualquer forma daquela escola

porque ficou com uma marca,tornou -se insustentável enca-rar as pessoas que tinham visto

o vídeo. Ela dizia que desligava

daquilo que as pessoas pensa-vam sobre ela, mas nas sessões

de terapia que tivemos percebi

que não era assim. Estes episó-dios marcam muito e a culpa e a

vergonha perduram no tempo."Também Sofia Nunes da Silva,

psicóloga clínica do Hospital deSanta Maria, em Lisboa, recor-da um caso que se passou comum casal de namorados de 16

anos. "Quando a relação aca-

bou, o rapaz começou a chanta -

gear a rapariga. Ameaçou-a de

que ia publicar numarede social

fotografias íntimas de ambos,bem como todas as conversassobre sexo que tinham tido emchats. Elaficoumuito perturba-da. Felizmente, os pais desco-briram e conseguiram reverter a

situação, mas foimuito compli-cado lidar com isto , com o medode ver exposta a intimidade."

Catarina (nome fictício), de 16

anos, aproveitou a ausência dos

pais para organizar em casa umafesta para os amigos. A noiteacabou com todos a saltar para a

piscina, com pouca ou nenhu-ma roupa. "As raparigas tiraramas camisolas e ficaram sem sutiã

e as filmagens que um dos ele-mentos fez acabaram por ir pa-rar à internet, onde os pais to-maram conhecimento do quetinha sucedido" recorda aindaSofia Nunes da Silva sobre umdos casos que já lhe passarampelasmãos. "Nestecaso.ospaissentiram-se traídos pela filha e

juntos tiveram de recuperar a

confiança perdida. Os pais aca-bam por rever a liberdade que

tema de capa

"A primeiraatitude dasvítimas é

apagar fotos,vídeos,conversas,tudo o queafinal serviriade prova"Tito de MoraisMiúdosSegurosNa.Nlet

"E tal comona rua, não sepode confiara 100% emninguém, nemsequer nosarmgos, quantomais nasredes sociais"Diana

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deram aos filhos uma vez queestes não se conseguiram prote -

ger do perigo" relata.

O sexólogo José Pacheco re-busca explicações para a apa-rente inconsciência: "As pes-soas sentem-se mais confortá-veis a mostrarem - se na net por -

que o outro não está ali a ver, nãoé público. Há um certo exibicio -nismo como motivação, mastambém o orgulho com o pró-prio corpo pode entrar na equa -

ção. Há também uma certa in-genuidade: as pessoas pensamque a net é muito mais segura do

que aquilo que é."

Até porque uma página 'se-creta' ou privada, às vezes não é

tanto assim. Basta que alguém'fure' o compromisso, ou queum hacker se dedique a desco-

brir uma password. "Ainda porcima, temos atendência de usar

sempre as mesmas passwords e

em usar coisas que facilmente se

relacionam connosco, comodatas ounomes. Essas são sem-

pre as primeiras pistas que os

hackers testam", afirma João

Oliveira, business developmentdirector em Portugal da multi-nacional de sistemas informáti-cos Oracle.

As empresas estão especial-mente vulneráveis. "Ose-mailscomo são gerados automatica-

mente, são todos iguais, e porisso um e-mail pode ser usado

como gerador de outros para a

obtenção de informações e

acesso a informações, como se

fosse interno (pixing)" explica.Outro perigo são os programasde 'tracking; que através de "fo-tos inocentes que as pessoas

publicam nas redes sociais per-mitem saber onde é que elas es-tão" Um dos crimes informáti-cos que mais afecta as empresasportuguesas é o chamado 'cri-me defacing' - a alteração do

'rosto' da página da instituiçãocom intenção de difamar. Por

exemplo, com conteúdos por-nográficos" explica fonte da PJ.

Os ataques informáticos - emmuito consequência damoder-

nização da tecnologia - têm

obrigado as empresas a apostar

na protecção dos dados.

Certo é que Portugal é o paísmais satisfeito da União Euro-

peia quanto à informação dada

pelas redes sociais sobre o des-tino dos dados inseridos, revela

um relatório técnico no qual a

UE analisa as práticas dos curo -

peus nas redes sociais e em ser-

viços de comércio electrónico.Está também entre os países

que consideram haver menosriscos associados à publicaçãode dados pessoais, éo 7? onde os

internautas se sentemcommaiscontrolo sobre a informaçãoque publicam e é 82 no rankingdos que consideram que divul-

gar informação pessoal "não é

um grande problema" (opiniãode47%dos 1046 entrevistados,

quando apenas 39% em toda a

UE partilham desta convicção).Muitas vezes existe a crença

irrealista de que se está escuda-do por trás de um computador e

dentro de redes mais particula-res como os grupos fechados, "o

quenãoéverdade" adverte JoãoNuno Faria, coordenador do ?

"Quando arelaçãoacabou, o

rapaz começoua fazerchantagem"

"As raparigasficaram semsutiã e asfilmagensforam pararà internet"Sofia Nunesda Silvapsicóloga

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tema de capa

? Núcleo de Intervenção no Uso

da Internet e das Telecomuni-

cações. Basta haver uma fuga,

alguém que desiste do grupo, e o

mundo inteiro passa a ter acesso

às imagens."Também acontece on-line

uma coisa que as pessoas não

pensam quando estão off-line:será que se eu estivesse off-linepartilharia determinada foto-

grafia com os meus amigos e

amigas? Provavelmente não o

fariam, mas quando estão na in-ternet há um conjunto de carac-terísticas a que no seu conjuntose dá o nome de ' efeito de desini-

bição on-line! Ou seja, as pes-soas sentem que virtualmenteé-se quase invencível, porqueesta desinibição ligada à internet

tem subjacente a ideia de ser in-visível, a ideia da ausência dos li -mites e a ideia de ser anónimo.Há inclusive artigos que mos-tram que há um certo desligarem relação ao que se partilha na

internet, quase como 'aquelenãosoueu! 'aquilo fui eu"!

O impacto emocional paraquem se vê assim exposto pode

ser extremamente negativo,confirma Vera Lisa Barroso, psi -

cóloga clínica de um projecto(MindKiddo, da Oficina de Psi-

cologia) especializado em saúde

mentalinfantilejuvenil: "Existe

uma relação desigual entre a ví-tima e os outros, que utilizamessa informação para gozar,ofender, envergonhar, humi-lhar, acusar. O simples facto de

ser tema de conversa e alvo de

olhares cúmplices pode ser, porsi só, altamente angustiante.Dependendo da maturidade,bem como existência, ou não,de uma rede de suporte, perso -

nalidade e o contexto e carizdestas mesmas fotografias, po-demos observar consequências

psicológicas, emocionais e so-ciais que podem ir de um isola -mento temporal, desenvolvi-mento de quadros de ansieda-

de, fobia social, depressão, etc.

ou, em casos mais graves, até

ideação suicida" remata.

A vergonha e a culpa entram de

rompante e colam-se ao dia- a-

dia, mesmo que se seja inocente

como a 8., que no ano passadoentrou para o quinto ano numanova escola. Conta a mãe que"um dia avisaram-na 'para ter

cuidado com o que andava no

Facebook! logo ela que nem se-

quer tinha página na rede" Ou

pelo menos, assim pensava.Alguém lhe tinha tirado uma

foto, sem que se apercebesse, e

criado um perfil em seu nome,através do qual eram adiciona-das fotos de pornografia e man-tidas conversas de teor sexual

com miúdas mais velhas da es -

cola. "Foi uma experiência as-sustadora no sentido em quenum contexto seguro, como a

escola, e sem dar conta, a ima-

gem da minha filha foi usada e

conotada de forma negativa.

Quando a PSP entrou em cam-po, o perfil foi apagado. Não

obstante, a B. andou muito tem-

po mais fechada. Com o tempoacalmaram os medos, mas as

recordações ficaram, semprecom a mensagem predominan -

te de como somos todos tão vul -

neráveis" relata. O

"Usamossempre asmesmaspasswords eusamos coisasque os hackerstestam logo"João Oliveiradirector na Orado

"As pessoassentem quevirtualmenteé-se quaseinvencível"João Nuno FariaNúcleo de Int. Internet

"Foi assustador.A imagem daminha filhafoi usada deuma formanegativa"mãecriaram perfilfalso da filha

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