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    Estudos de cultura material:

    uma vertente francesa

    Marcelo Rede

    Universidade Federal Fluminense

    Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v. 8/9. p. 281-291 (2000-2001). Editado em 2003.

    At a dcada de noventa, os estudos de cultura material tiveram, naFrana, uma trajetria inconstante e aleatria. Alguns esforos so dignos denota, mas no contriburam de modo decisivo para a constituio de um campo

    de pesquisa. Faltaram, ou foram dbeis, os requisitos elementares para tanto abusca de instrumentos metodolgicos, o debate a fim de definir ou afinar os conceitostericos, o exerccio aplicado a casos particulares tudo o que, enfim, permitedefinir um domnio de saber. Por outro lado, as tentativas restaram isoladas emcampos que nem sempre se comunicaram abertamente do pensamento filosfico sociologia, passando pela historiografia , o que contribuiu para a pulverizaoda reflexo.

    sintomtico deste quadro o fato de o livro de Baudrillard, Le systmedes objets(1968), ter-se tornado uma referncia constante e, ao mesmo tempo,ter permanecido como o produto de uma tendncia particular, aquela da semiologia,pronta a oferecer uma chave de leitura aos diversos fenmenos da vida social da palavra imagem, passando pelos objetos , sempre a partir de mtodos econceitos cujas origens se localizavam na lingstica. Apesar de algumas diferenasimportantes, o Thorie des objetsde Moles (1972) compartilhava com a obra deBaudrillard duas caractersticas essenciais: a preocupao em descrever o papeldas coisas materiais na sociedade moderna e, sobretudo, a valorizao da funosgnica dos objetos.

    Por outro lado, no domnio historiogrfico, alguns esforos prolongarama sugesto de Braudel de inserir no horizonte de uma histria econmico-social adimenso palpvel da civilizao material. No entanto, mesmo no interior de umatendncia caracteristicamente dinmica como a Escola dos Annales, seria precisochamar a ateno para certos limites. Leia-se o captulo de Pesez (1978) sobre a

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    cultura material no volume programtico editado por Jacques Le Goff, Roger Chartier

    e Jacques Revel, e se perceberquer a ausncia de conceitos satisfatrios doselementos implicados, quer a debilidade das propostas analticas apresentadas, emgeral derivadas de uma transferncia um tanto irrefletida dos procedimentos daarqueologia para o campo da histria. Os estudos monogrficos, por seu lado,parecem ter assimilado o apelo a uma ateno cultura material, sobretudo comouma sugesto de renovao das temticas da nova histria. Assim, a obra bastantecaracterstica de Roche (1997) sobre o nascimento das formas modernas de consumoa partir do sculo XVII mobiliza intensamente o universo da cultura material (a casa,as estruturas de iluminao, aquecimento e abastecimento de gua, os mveis e

    objetos, as vestes, os alimentos) com o intuito de estabelecer as novas articulaesda vida cotidiana, as alteraes nos padres de sociabilidade, em face dastransformaes no sistema de produo, circulao e consumo. No entanto, aexplorao dessa fronteira no parece ter exigido, e isto o mais surpreendente,nenhuma renovao no arsenal analtico tradicional do historiador: atravs daspginas do livro, so os documentos escritos que so mobilizados para dar contada relao entre sociedade e matria. A operao historiogrfica no se alterousubstancialmente com a renovao do temrio; dito de outro modo, o reconhecimentoda cultura material como parte essencial do fenmeno histrico no implicou suainsero decisiva como documento no processo de produo do discursohistoriogrfico. Mesmo se, com os Annales, os estudos de cultura material distanciaram-se da abordagem tradicional da histria das tcnicas, restringiram-se finalmente aopapel de complemento histria das mentalidades.

    Na ltima dcada, contudo, um elemento novo foi introduzido noquadro. Partindo desta vez da antropologia, um movimento prope relanar osestudos de cultura material. Seu carter, diferena dos anteriores, orgnico,ao menos o suficiente para que se possa falar de um grupo de estudiosos que

    partilham certa gama de interesses e preocupaes. Uma organicidade que setraduz em institucionalizao: congregao dos pesquisadores em torno de umaUniversidade (Paris V - RenDescartes), constituio de um grupo de trabalho(Matire Penser, fundado em 1995), organizao de seminrios e colquios,divulgao editorial dos trabalhos (no sendo desinteressante notar a concentraodas publicaes em um editor do Quartier Latin, LHarmattan; o volume sob resenha,publicado pela PUF, fazendo as vezes de exceo, mas tambm sinalizando umapenetrao mais larga do grupo). Um movimento, por fim, francs: no sentido deque procura se enraizar em uma tradio antropolgica local (aquela de Mauss,

    a que se esfora, no obstante, por superar, como veremos), marcando as diferenascom os estudos de cultura material do mundo anglo-americano (em particular, atradio dosamerican studies) mesmo se se mantm aberta ao dilogo.

    Alguns nomes so recorrentes, como Cline Rosselin, Marie-Pierre Julien,Isabelle Garabau-Moussaoiu e, sobretudo, Pierre Parlebas e Jean-Pierre Warnier.Parlebas, socilogo dos jogos e dos esportes, o principal terico de um domniocaro ao grupo: a motricidade, a problemtica do comportamento corporal e de suaarticulao com o universo fsico. , no entanto, a Jean-Pierre Warnier que cabe opapel de principal sintetizador dos argumentos tericos e metodolgicos da corrente.Ao analisar sua mais recente obra Construire la culture matrielle, o que seprope aqui explicitar seus postulados e seus procedimentos analticos, bem como,em um segundo momento, avaliar criticamente as suas potencialidades e suaslimitaes, sempre sob a ptica das particularidades da pesquisa em histria.

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    Motricidade: corpo e cultura material

    Uma parte considervel da cultura material formada por objetosmanipulveis. Sua funo social se estabelece, ento, em uma relao imediata edireta com o corpo. Mesmo para os demais, cuja manipulao casual ou indireta,a relao com o corpo continua a ser fundamental, pois no se trata apenas deum contato fsico imediato, mas tambm de articulaes menos evidentes e que,no cotidiano, podem passar despercebidas, como, por exemplo, a disposioespacial dos elementos no ambiente freqentado pelo corpo. Certas situaes

    diluem consideravelmente a percepo do vnculo fsico, o caso da articulaocorpo-paisagem ou das relaes em que os contatos so predominantementevisuais. No entanto, em todos os casos, o corpo se impe como um balizadormaior da experincia material do homem (do indivduo, como da sociedade) e,por conseqncia, como variante importante do estudo antropolgico. De onde anfase de Parlebas e Warnier e seus seguidores na articulao entre o corpo e acultura material e do resgate de um texto largamente subestimado de Mauss.

    De fato, em 1936, Mauss assinava no Journal de Psychologie umartigo intitulado As tcnicas do corpo, em que procurava estabelecer as bases

    para um estudo antropolgico do comportamento corporal. A inteno erademonstrar o carter cultural das condutas corporais, explicando as diferenasobservadas etnograficamente (as vrias formas de nadar ou de manter-se agachado,por exemplo). Dois aspectos desse texto nos interessam mais de perto, poisencontram-se no centro de sua apropriao por Warnier.

    De incio, a prpria delimitao do objeto de estudo. Mauss,distanciando-se do mtodo arqueolgico ou dos estudos de materiais etnogrficos,focalizou sua ateno sobre o corpo em detrimento dos objetos ou instrumentos.

    Trata-se de uma nfase consciente e que acarreta algumas conseqnciasimportantes. O objetivo de Mauss era lanar luz sobre um domnio atentooculto pela noo tradicional de tecnologia: em geral, diz ele, considera-seequivocadamente que existe tecnologia quando um instrumento envolvido noato de manipulao. A esta technique instrument, Mauss ope um conjunto detechniques du corps, s quais confere mesmo um papel preliminar: o corpo oprimeiro instrumento a dominar, aquele que intermedeia a relao com todos osdemais.

    Se Mauss estimulava, assim, a considerao do corpo no estudo das

    prticas sociais, ao mesmo tempo, na avaliao de Warnier, marginalizava acultura material de um modo que, ao final das contas, incuo, pois, comomostra o prprio texto de Mauss, os elementos fsicos exteriores ao corpo soonipresentes e sua considerao se impe ao estudioso. Cumpre, ento, superara dicotomia estabelecida por Mauss (mais pedaggica do que ontolgica, emtodo caso), e propor uma anlise das prticas sociais atravs da articulao entrecorpo e cultura material, entre as condutas motoras e os elementos que compemo quadro fsico da vida. O corpo a corpo com o objeto, para retomar umaexpresso cara ao grupo, transforma-se, ento, em campo de observao epotencial revelador das relaes sociais. A partir da herana de Mauss, portanto,o grupo posiciona no centro de suas reflexes o problema da motricidade, masenfatiza que ela no se realiza num vcuo fsico: ao contrrio, no apenas aconduta corporal se estabelece em funo de parmetros materiais (que lhe oferecem

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    as possibilidades e os limites), mas tambm, aprofundando ainda mais o postulado,

    pode-se dizer que o universo material parte constitutiva da prpria corporalidade,que o corpo se constri pela materialidade que lhe exterior a princpio. Mais doque uma prtese do corpo que lhe supriria, ento, uma lacuna , a culturamaterial participa de uma sntese que, longe de ser esttica, implica interaodinmica entre os elementos em jogo: corpo, objeto, espao. Assim, o foco daanlise serconcentrado sobre o processo de incorporao, isto , a apropriaodo universo fsico mediada pelo corpo.

    O texto de Mauss fornecia, ainda, um segundo aspecto importante,que Warnier busca igualmente aproveitar e remodelar: trata-se da forma de

    articulao entre o nvel individual e biolgico, de um lado, e o nvel coletivo esocial, de outro. No sernecessrio insistir, aqui, sobre a importncia da questopara Mauss, uma vez que ela se posiciona em pleno corao de sua idia dehomem total.Apenas lembremos que sua resposta fora francamente influenciadapelos trabalhos dos psiclogos, de quem ele se aproximava nas primeiras dcadasdo sculo. Se a sociedade estabelece esquemas de referncia para que o indivduose posicione diante do coletivo, ao mesmo tempo a psicologia individual forneceos mecanismos de interao entre o sujeito corporal e a sociedade. As rouesdengrenagesde Mauss situam-se em uma esfera subjetiva.

    Na seqncia dessa idia, Warnier enfatizaro sujeitocomo sede daoperao que articula os diversos nveis da experincia: o biolgico, o psquico,o social. Em outros termos, no centro de sua ateno, esto modo singularizadopelo qual o sujeito se apropria das diversas variantes e reproduz, sua maneira,a existncia.

    No que diz respeito, ento, s interaes entre a motricidade corporal,a cultura material e as representaes mentais, o postulado leva a abandonartodo e qualquer determinismo (presente em diversas verses do marxismo) oupressuposto de homologia entre as estruturas (que encontramos no conceito dehabitusde Bourdieu), para propor uma relao plural e no-necessria entre oselementos componentes da realidade. Evidentemente, o fato de o sujeito ser ooperador da articulao que permite uma tal maleabilidade. DaWarnier instigara antropologia a falar no apenas de identidade, mas tambm do eu, concebido,ao exemplo de Foucault, como o sujeito das tcnicas de si.

    Prticas e representaes

    O problema precedente repercute em outro paralelo, com implicaesconsiderveis tanto para o posicionamento dos estudos de cultura material comopara um dos debates que divide a disciplina antropolgica no ltimo sculo: aarticulao entre prtica e representao.

    Warnier identificou, corretamente, o predomnio das preocupaesconcernentes ao discurso no pensamento antropolgico francs. De Durkheim aLvi-Strauss, a corrente majoritria constituiu uma antropologia das representaespartilhadas, em detrimento da anlise de outros elementos da ao social.Contrariamente, a contribuio de Mauss permitiria superar o impasse, integrandoao campo de considerao as prticas no-discursivas: o gestual ritual, a expressocorporal, etc. Poder-se-ia questionar legitimamente esse esforo de Warnier em

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    opor Mauss tradio: de fato, o texto sobre as tcnicas corporais, que para

    Warnier um dos pilares da teoria geral de Mauss sobre a religio, consideradopor muitos um hapax, sem conseqncias maiores sobre sua obra. Em todo caso,para nosso propsito, isso conta menos do que a apropriao particular dopensamento de Mauss por Warnier, a qual permite explicitar o problema darelao entre prtica e representao.

    Warnier enfatiza a distncia entre esses dois nveis: a prtica motriz ea prtica discursiva. Haveria uma coincidncia entre ambos, mas ela seria apenasparcial. O discurso verbalizado ou no no pode recobrir, e muito menosexplicar, o conjunto de prticas exercidas pelo corpo e/ou baseadas na

    materialidade dos objetos. No limite, haveria mesmo uma diferena de naturezaentre duas formas de pensamento: aquele que se gera na cabea (que corresponde,ento, noo tradicional do pensamento cerebral), que tem caractersticahomogeneizadora (o historiador reconhecer, aqui, a condio sine qua nonpostulada pelos criadores da histria das mentalidades) e, de outro lado, aquelecuja matriz a prpria dimenso corporal (o homem um animal que pensa comseus dedos, de acordo com a frmula de Maurice Halbwachs, retomada porMauss e herdada por Warnier). Este segundo nvel de pensamento eminentementediferenciador: nele, com o concurso do corpo e da cultura material, o homem

    singulariza a sua existncia social, constri a si mesmo como sujeito. A questoque se apresenta, ento, a da articulao entre as condutas motrizes e osobjetos, de um lado, e o imaginrio, os smbolos, as representaes, de outro.Uma vez mais, Foucault que, na viso de Warnier, permite responderadequadamente a um problema apenas vislumbrado por Mauss: o sujeito, pelaprtica, faz a sntese entre o objeto-corpo e o objeto-signo(p. 82s.).

    No se trata, portanto, de uma simples inverso da equao. Warnierprocura evitar o que chama de aporia da causalidadee as oposies artificiaisentre mental e material, entre tcnica e sociedade, entre sujeito e objeto. Suaterceira via, tendo Mauss como apoio, consiste em propor uma ao transitivaentre os diversos elementos da equao, evitando oposies apressadas, bemcomo determinismos incontornveis. Para tanto, o foco necessariamente deslocadopara o que, segundo o autor, constitui a matriz ativa da ao social: no mais oator inserido em sua categoria (grupo, classe, profisso), mas o sujeito, instnciacapaz de singularizar e dar consistncia real ao ator social (que permaneceriacomo conceito fundamental, mas insuficiente, da sociologia).

    O estudo da singularidade

    O predomnio da ateno sobre o discurso verificou-se, igualmente, nocampo da cultura material. Nos primeiros estudos franceses sobre o sistema deobjetos, a partir da dcada de sessenta, percebe-se a influncia marcante daabordagem semiolgica: o objeto , antes de mais nada, um signo. A culturamaterial um sistema discursivo, e seu estudo, uma operao semitica.Identificando Baudrillard como o mais representativo (e, ao mesmo tempo, maiscaricatural) autor dessa corrente, Warnier reprova-lhe seja o postulado terico que, transformando o objeto em unidade semntica, lhe subtrai toda materialidade, seja o mtodo, que conduziria a uma especulao exclusivamente abstrata,

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    desprovida de enquete emprica e que no responderia aos protocolos cientficosque permitem a verificao dos procedimentos de anlise. As crticas a Baudrillardpermitem explicitar alguns pontos de apoio das idias de Warnier, que convmrecapitular: a rejeio de uma abordagem generalizante, que mascara aparticularidade das trajetrias individuais; a defesa da compreenso dos fenmenossociais a partir de sua materialidade (corporal, objetual), e no apenas de suanatureza sgnica; a nfase na observao de campo. Os estudos de cultura materialinserem-se, assim, no quadro de uma etnologia da singularidade, que, opondo-se(ou, mais propriamente, somando-se) antropologia das categorias, visa a entenderas formas prticas de constituio do sujeito social. No h, preciso dizer, uma

    rejeio sumria da importncia da norma, do discurso, dos enquadramentossociais, mas uma decidida constatao de seus limites como instrumentos deexplicao da realidade. A observao da relao corpo/universo fsicoofereceria, ento, uma ferramenta capaz de afinar a pesquisa, permitindo que oolhar do antroplogo penetre em uma dimenso marginalizada atento.

    Um novo campo ou, simplesmente, um redimensionamento da escalade observao? interessante notar que autores como Isabelle Garabuau-Moussaouie Dominique Desjeux que, no obstante, compartilham largamente do programade Warnier rejeitam o abandono de uma perspectiva mais ampla e propem,no lugar de umaantropologia no singular, uma antropologia social a uma escalamicro-social (2000, p. 20). Voltaremos a esse problema na concluso; porenquanto, apenas notemos que os integrantes do grupo parecem hesitar emqualificar sua abordagem como uma ruptura radical perante a tradioantropolgica, preferindo considerar a cultura material como uma chave de entradainovadora para penetrar as antigas questes. De fato, nem nas consideraestericas de Warnier nem nos diversos trabalhos empricos do grupo existe umarenovao decisiva das temticas de pesquisa. Assim, so recorrentes asproblemticas do consumo e da transmisso (ANDRYS, 2000; FRANOIS;DESJEUX, 2000), da organizao da vida domstica (PUTNAM; SWALES, 1999;TESTUT, 2000), ao lado de estudos monogrficos sobre as trajetrias sociais deobjetos particulares, como o livro (MARTIN, 2000), a fotografia (LEVQUE, 2000),o carro (GARABUAU-MOUSSAOUI, 2000).

    O objeto e a mercadoria

    Resta, enfim, compreender um conceito-chave desenvolvido pelo grupo:a autentificao.

    Warnier postula uma validade universal para a grade de anliseproposta: das sociedades ditas tradicionais s sociedades industrializadas, oconjunto de ferramentas apresentado deve ser capaz de explicar a dinmica darelao homem/matria em toda a sua complexidade. No entanto, o autorreconhece as particularidades de cada uma das diversas formas de organizaosocial e, por conseqncia, as diferenas de cada campo de estudo.

    O conceito de autentificao responde, de fato, s imposies daanlise de um caso particular, aquele das sociedades modernas, em que o consumode massa o sistema de aprovisionamento por excelncia e cujo funcionamentose desenrola segundo os parmetros do mercado. Em tal situao, o objeto , por

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    assim dizer, despersonalizado, ou seja, reduzido categoria de mercadoria,considerado apenas ou principalmente pelos atributos que permitem sua inclusoem um circuito econmico de massa. A sua equivalncia em dinheiro cumprejustamente esse papel: doravante, ele passivo de uma mensurao que o equalizacom todos os demais objetos do circuito, que permite seu deslocamento do produtorao consumidor em um processo desprovido de personalidade. Ora, ns sabemosque esse princpio (presente quer na teoria econmica clssica, quer nas diversascrticas da sociedade de consumo) dconta apenas muito imperfeitamente darealidade. A sociedade moderna se caracteriza, ao contrrio, pela proliferaode bens e de circuitos cuja definio passa justamente pela distino: os critrios

    histricos ou geogrficos, a tradio, a produo de origem controlada, somobilizados para conferir um estatuto distinto ao objeto (o queijo tpico de umaregio; as compotas feitas segundo as receitas dos monges da abadia tal; omobilirio extico, artesanal ou oriental, por exemplo). E eis, ento, o paradoxoda mercadoria autntica: ela se distingue da massa de mercadorias pelaincorporao de significados, num processo de autentificao, mas, ao mesmotempo, integra o circuito econmico de mercado. O que, por definio, erainalienvel (no se vende uma histria!) transforma-se, na sociedade moderna, emmercadoria. Autenticidade e alienabilidade so incorporadas num mesmo objeto.

    V-se bem que o conceito de mercadoria autnticaprocura respondera um antigo problema da teoria social. De Marx a Baudrillard, passando pelaescola de Frankfurt, a teoria daalienaofoi uma das pedras de toque da anlise,e da crtica, do sistema de objetosda sociedade moderna: a mercadizao,implicando uma universalizao do valor de troca atravs de sua expressomonetria, tenderia, nesta perspectiva, a esvaziar o objeto de toda a sua cargaafetiva ou pessoal e a reduzi-lo a uma unidade mnima do sistema econmico. Noentanto, segundo Warnier, uma srie de constataes permitiria, ao menos, moderar

    um tal postulado. Em primeiro lugar, ao mesmo tempo em que contribui para ahomogeneizao dos produtos, o sistema industrial permite diversificar asmercadorias indefinidamente, aumentando as possibilidades de diferenciao ede subjetivao. Em segundo lugar, o processo de equivalncia em valor-dinheirono de modo algum exclusivo e o acesso aos objetos no passa necessariamentepelo mercado. Por fim, a prpria definio esttica de mercadoria deveria serrevista: o estatuto de mercadoria no uma natureza absoluta, inerente a umacerta categoria de objetos (em particular, os produtos da economia moderna),mas uma qualificao dinmica, que marca uma fase na trajetria social do

    objeto. No entanto, mesmo aps essas ressalvas, o prprio autor reconhece queo efeito da uniformizao pelo mercado tal que as prticas que visam apersonalizar o objeto, a singulariz-lo, so insuficientes. De onde a importnciado imaginrio da mercadoria autntica, esse conjunto de dispositivos mentais(manipulado, alis, pela prpria estratgia publicitria) que permite a existncia,no interior do sistema, de elementos que, a princpio, lhe so contraditrios.

    A noo de uma biografia da cultura materialrevela-se, assim, essencialpara compreender como o objeto autntico, por definio no-mercantilizvel,apresenta-se sob a forma de uma mercadoria autntica, podendo integrar asengrenagens do mercado. Reconhece-se, aqui, a que ponto o conceito demercadoria autntica tributrio e, ao mesmo tempo, um prolongamento dasidias de Igor Kopytoff que, em sua importante contribuio aos estudos de culturamaterial (1986), procurou alertar para o fato de que a mercadizao no esgota

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    o objeto e que as constantes integraes, mutaes e reintegraes, com todas asimplicaes no nvel das alteraes de atributos, devem ser consideradas em umaanlise da trajetria cultural do objeto.

    Limites e perspectivas

    A corrente aqui analisada jovem e multiplica-se quer pela via dostrabalhos empricos, das monografias aplicadas, quer pela via da reflexo terica.No cabe, nesta resenha, uma apreciao do seu lugar no quadro da antropologiacontempornea. No sendo antroplogo, limitar-me-ei a duas ou trs consideraesfinais, sob a ptica do historiador interessado no estudo da cultura material.

    Um tal interesse cobre, de fato, dois campos que devem ser devidamentedistintos. O primeiro aquele da realidade histrica propriamente dita: o estudiosopode indagar-se sobre as formas de organizao material da sociedade, sobre oprocesso de apropriao do universo material pelo grupo humano, sobre as relaessociais implicadas pela interao entre os homens e o meio, as estruturas e osobjetos fsicos, ou ainda sobre as representaes coletivas que acompanham asprticas materiais. O segundo campo situa-se no nvel historiogrfico e remetediretamente operao analtica que faz da cultura material uma fonte, umdocumento a ser mobilizado no estudo de um fenmeno social qualquer. Asobservaes a seguir partem dessa distino fundamental, mas se concentram nosegundo aspecto.

    Uma primeira caracterstica, decorrente da prpria natureza da abordagemantropolgica, a fraca ateno conferida aos aspectos diacrnicos das relaesentre a sociedade e a cultura material. Apesar da nfase na trajetria dos objetos e do

    cuidado em estabelecer uma sucesso de statusda cultura material, as propostas deWarnier no esto fundadas teoricamente numa perspectiva histrica e no parecemprever os instrumentos metodolgicos necessrios captao do fator temporal e desuas conseqncias. A viso que se delineia , antes, esttica ou, no melhor doscasos, composta por diferentes quadros consecutivos. Se a cultura material mobilizadacomo elemento revelador das alteraes dos comportamentos pessoais e grupais, poroutro lado, fracamente manipulada para se entender a dinmica social como umtodo, isto , os fatores de ruptura e de continuidade. Cabe, imperativamente, aohistoriador reintroduzir no quadro uma projeo temporal mais acurada.

    Outra decorrncia do mtodo antropolgico que o entendimento darelao corpo/matria feito a partir de uma observao direta; dito de outromodo, da enquete etnogrfica. Ora, para uma parte considervel das sociedadesanalisadas pelo historiador, um tal procedimento impossvel: o corpo, ao menosaquele provido de motricidade, simplesmente uma dimenso perdida (deixando,no mximo, alguns traos que sero, certo, proveitosamente integrados ao estudo).Retornamos, assim, ao problema do documento: o prprio mtodo histrico leva auma documentalizao dos componentes do fenmeno estudado (textos; imagens;registro oral; cultura material), como a via prioritria de acesso cognitivo aoprprio fenmeno. No caso em questo, exige a transformao da cultura materialem documento, inclusive para o entendimento da sua relao com o corpo, sendoeste plo da equao presente apenas de modo residual ou indireto. Justamente,o corpo, que para o etngrafo uma dimenso observvel, para o historiador

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    ser, ele mesmo, o resultado de uma inferncia a partir dos documentos. Taisdiferenas enfraquecem consideravelmente o potencial das propostas de Warnier,excessivamente dependentes da observao direta. Os requisitos de uma anlisehistrica seriam mais bem preenchidos, por exemplo, a partir dos modelosexplicativos propostos pela arqueologia, que visam reconstituio do gestualcorporal pela anlise dos traos fsicos da cultura material, dos sinais de suamanipulao pelo homem, ainda que o prprio mtodo arqueolgico no dispense,por seu lado, a comparao etnogrfica (ver, por exemplo, o interessante estudode BEAUNE, 2000).

    O problema da escala de observao jfoi enunciado acima, bem como

    as divergncias a seu respeito no interior do prprio grupo. Acrescentemos apenasque a questo igualmente importante para o historiador, tendo sido abordada nosrecentes debates na disciplina, e chamemos a ateno para a necessidade de sefazer uma distino, ao se falar de micro-histria, entre o que um procedimentoanaltico (a adequao da escala na construo do objeto de observao) e o que uma considerao sobre a realidade observada (os nveis micro ou macro do fenmenosocial). Quanto ao primeiro aspecto, a proposta de Warnier bastante clara, comose viu. No entanto, as implicaes de uma anlise em microescala na confeco dosmodelos explicativos no parecem encontrar um encaminhamento adequado, quer

    porque estes modelos tendem a perder o seu lugar, quer porque, o quemais provvel,os autores sintam uma dificuldade de articular o procedimento de pesquisa e aconcepo acerca da dimenso do fenmeno estudado.

    Por fim, uma reflexo terica curta mas que nos parece importante:epistemologicamente, Warnier milita por uma abordagem da sociedade quevalorize o indivduo como elemento motor da ao social. Deste ponto de vista,as prticas de singularizao seriam mais esclarecedoras do que as normas; domesmo modo, o sujeito, mesmo que no seja entendido como um ser isolado,passaria a ser uma categoria analtica mais representativa do que aquela do atorsocial (vista, ento, como uma espcie de abstrao que diluiria a especificidadedos agentes). Num primeiro olhar, tratar-se-ia de uma antropologia mais histrica,se com isto pretendermos valorizar o carter vnementiel do discursohistoriogrfico. Todavia, tal nfase no seria, justamente, uma contradio anteuma tendncia mais conceitual, que marcou to profundamente as ltimas dcadasda historiografia francesa? Ou, pelo contrrio, a antropologia estaria apenasacompanhando, e subsidiando, a histria em seu abandono da ambiogeneralizante, da explicao sinttica, em benefcio de uma abordagem

    singularizada, de um saber local, que parecem constituir o mais recente farol dosAnnales, a ponto de se ter podido falar de uma histria em migalhas? Nestecaso, no estariam ambas as disciplinas caminhando para uma nova forma dedeterminismo, do indivduoe do individual, depois de terem experimentado atirania da classee o imperialismo do signoe das mentalidades?

    REFERNCIAS

    ANDRYS, Christine. Les cadeaux: rgles et itinraires des pratiques de don. In: GARABUAU-MOUSSAOUI, Isabelle; DESJEUX, Dominique (Ed.). Objet banal, objet social. Les objets quotidiens

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    BAUDRILLARD, Jean.Le systme des objets. Paris: Gallimard, 1968.

    BEAUNE, Sophie A. de.Pour une archologie du geste. Paris: CNRS Editions, 2000.

    FRANOIS, Tine Vinje; DESJEUX, Dominique. Lalchimie de la transmission sociale des objets.

    Comment rchauffer, entretenir ou refroidir les objets affectifs en fonction des stratgies de transfertentre gnrations. In: GARABUAU-MOUSSAOUI, Isabelle; DESJEUX, Dominique (Ed.). Objet banal,

    objet social. Les objets quotidiens comme rvlateurs des relations sociales. Paris: LHarmattan,

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    GARABUAU-MOUSSAOUI, Isabelle.Roulez jeunesse. La voiture comme analyseur des relationsparents/jeunes. In: GARABUAU-MOUSSAOUI, Isabelle; DESJEUX, Dominique (Ed.).Objet banal,

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    Artigo reapresentado em 2/2003. Aprovado em 9/2003.

  • 7/25/2019 REDE, MARCELO. Estudos de cultura material- uma vertente francesa .pdf

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    Estudos de Cultura Material: uma vertente francesa

    Marcelo Rede

    Surgida na Frana, no mbito dos estudos antropolgicos e sociolgicos, uma tendncia recente deanlise da cultura material se firma como uma alternativa tradio anglo-americana dos materialculture studies. Este artigo procura definir suas caractersticas predominantes, avaliando suaspossibilidades e seus limites para o trabalho do historiador.PALAVRAS-CHAVE: Cultura Material. Sociologia. Frana.Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v. 8/9. p.281-291 (2000-2001). Editado em 2003.

    Material Culture Studies: a French stream

    Marcelo Rede

    Arisen in France, in the scope of the anthropological and sociological studies, a recent analysistendency of the material culture settles as an alternative to the Anglo-American tradition of the materialculture studies. This article wants to define its predominant characteristics, evaluating its possibilitiesand its limits for the historians work.KEYWORDS: Material Culture. Sociology. France.Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v. 8/9. p.281-291 (2000-2001). Editado em 2003.

    Gnero e Cultura Material: uma introduo bibliogrfica

    Vnia Carneiro de Carvalho

    Este artigo discute as contribuies de historiadores, curadores, arquitetos, arquelogos, antroplogos,entre outros, na produo de um objeto de conhecimento recente a histria do gnero na perspectivada cultura material. A confluncia das duas reas vem enriquecendo a compreenso da naturezaculturalmente sexuada das prticas sociais. Nesse casamento, no entanto, somaram-se problemasterico-metodolgicos que merecem explicitao. Apesar da abrangncia do campo, especial atenofoi dada para a produo bibliogrfica que trata da formao do espao domstico ocidentalburgus. Tal recorte justifica-se por entendermos que a casa o local privilegiado de construo dognero atravs de dispositivos materiais.PALAVRAS-CHAVE: Histria da Mulher. Histria da Famlia. Espao Domstico. Cultura Material. Histria do Gnero.Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v. 8/9. p.293-324 (2000-2001). Editado em 2003.

    Gender and Material Culture: a bibliographic introduction

    Vnia Carneiro de Carvalho

    This article discusses the contributions of historians, curators, architects, archaeologists, andanthropologists, among others, in the production of an object of recent knowledge the History ofGender in the perspective of material culture. The confluence of the two areas has been enriching thecomprehension of the culturally sexual nature of the social practices. In this marriage, however,theoretical-methodological matters, which deserve a word about, have been added. Such attention isdue to our understanding that home is the best place for the construction of Gender through materialartefacts.KEYWORDS: Womans History. Familys History. Domestic Space. Material Culture. Genders History.Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v. 8/9. p.293-324 (2000-2001). Editado em 2003.