32
Redes, Cibernética e Neuropoder - breve estudo do contexto cibernético actual Rui Matoso Resumo Na esteira de Norbert Wiener e de Marshall Mcluhan, podemos entender as redes telemáticas como ampliação do cérebro e do sistema nervoso central, dando assim origem à conexão entre a rede neuronal e o ambiente cibernético em que vivemos. Neste contexto operam duas formas de poder: o noopower (poder cognitivo) e o neuropoder (poder neuroplástico). Ambos resultam das interferências psicotecnológicas e dos mecanismos aditivos de feedback na estrutura da rede neuronal e nas formas de produção da consciência e da subjectividade. Palavras-chave: Cibernética – Neuropoder – Redes – Feedback Abril 2015 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Doutoramento em Ciências da Comunicação Rui Matoso 2015 | [email protected] | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso

Redes-Cibernética e Neuropoder- Rui Matoso _ Abril 2015

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Redes-Cibernética e Neuropoder

Citation preview

  • Redes, Ciberntica e Neuropoder- breve estudo do contexto ciberntico actual

    Rui Matoso

    Resumo Na esteira de Norbert Wiener e de Marshall Mcluhan, podemosentender as redes telemticas como ampliao do crebro e dosistema nervoso central, dando assim origem conexo entre arede neuronal e o ambiente ciberntico em que vivemos. Nestecontexto operam duas formas de poder: o noopower (podercognitivo) e o neuropoder (poder neuroplstico). Ambos resultamdas interferncias psicotecnolgicas e dos mecanismos aditivosde feedback na estrutura da rede neuronal e nas formas deproduo da conscincia e da subjectividade.

    Palavras-chave: Ciberntica Neuropoder Redes Feedback

    Abril 2015

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Doutoramento em Cincias da Comunicao

    Rui Matoso 2015 | [email protected] | http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso

    RuiMquina de escreverDRAFT in progress

    ESBOO em desenvolvimento

    RuiMquina de escrever

    RuiMquina de escrever

    RuiMquina de escrever

    RuiMquina de escrever

    RuiMquina de escrever

  • Networks, Cybernetics and Neuropower

    Absctract:___________________________________________

    In the wake of Norbert Wiener and Marshall McLuhan , we canunderstand the telematic networks , such as the expansion of thebrain and central nervous system, thus giving rise to theconnection between the neural network and cyber environment inwhich we live. In this context operate two forms of power : thenoopower (cognitive power) and neuropoder (neuroplastic power).Both result from psicotechnologies and feedback mechanisms inthe neural network structure and forms of production of awarenessand interference on subjectivity.

    Key-words: __________________________________________Cybernetics - Neuropower- Networks - Feedback

  • NDICE1 - INTRODUO 42 - AMBIENTE E EXPERINCIA 2.1. O DESENVOLVIMENTO DA NOO DE MEIO 52.2. PRAGMATISMO 6

    2.3. CIBERNTICA E CONTROLO 82.4. ORGANOLOGIA UMA PERSPECTIVA CRTICA DA CIBERNTICA 12

    3. VIDA E POLTICA EM REDE3.1. DO CREBRO AOS SISTEMAS DINMICOS COMPLEXOS A EXPANSO PS-CIBERNTICA DA IDEIA DE REDE E A SUA CRTICA 163.2. CONECTADOS, MAS A QUE PREO E SOB QUE CONDIES ? 213.2.1. LGICA DA ADICO : FEEDBACK, RECOMPENSA E MULTITASKING 223.3. BIG DATA, VIGILNCIA E AFFECTIVE COMPUTING 243.4. NOOPOWER (PODER COGNITIVO) E NEUROPODER 28

  • 1. INTRODUO

    Este ensaio pretende analisar e problematizar o contexto ciberntico actual, tendo em linha

    de conta que as tecnologias de rede, designadamente a Internet e as redes sociais, definem em

    grande medida a nossa cultura tecnolgica, na qual as psicotecnologias operam como extenses da

    conscincia e da rede neuronal.

    Deste modo, julgamos til tomar como ponto de partida o desenvolvimento das noes de

    ambiente e experincia, com maior nfase nas teorias da Ciberntica, uma vez que a partir das

    investigaes de Norbert Wiener que as noes de ambiente, interao e experincia viro a ser

    reequacionadas tendo em considerao novos desenvolvimentos tericos e empricos. A regulao

    e controlo dos fluxos de informao e dos mecanismos de feedback positivo aplicados pela

    Ciberntica investigao dos mecanismos de regulao homeosttica nos seres humanos um dos

    eixos principais da cibernetizao do humano e dos seus ambientes.

    Posteriormente, veremos como a expanso do pensamento ciberntico de Wiener a diversos

    modelos organizacionais formam a nossa contemporaneidade, e deram origem a uma viso

    organizacional subjacente aos modelos dos sistemas dinmicos, os quais tomam como ponto de

    partida o enunciado ciberntico da automatizao, auto-regulao e controle (homeostase e

    feedback). Neste contexto, teremos ainda de salientar as investigaes do neurocientista Daniel

    Levitin sobre o multitasking informtico e a existncia de centros de recompensa (reforo positivo)

    no crebro, que sendo estimulados atravs de impulsos elctricos produzem neurotransmissores-

    dopamina, criando assim hbitos aditivos.

    Se convocarmos para esta anlise dos mecanismos de recompensa neuronal as investigaes

    cibernticas de Norbert Wiener, podemos deduzir que as designadas redes sociais, funcionam como

    indutores dos mecanismos de recompensa e de feedback, por exemplo atravs da inveno do

    boto like e dos comentrios associados.

    Por fim, percorremos alguns aspectos do panorama ciberntico e das tecnologias de rede

    actuais, visando problemticas em aberto como o big data, a computao afectiva, a militarizao

    do ciberespao (vigilncia), mas que do corpo a uma governao algortmica e a novas formas

    (relaes) de poder: o noopower (poder cognitivo) e o neuropoder (poder neuroplstico).

  • 2. AMBIENTE E EXPERINCIA

    Today, the technosphere, or the mediascape, is the only nature we know.

    Steven Shaviro

    2.1. O DESENVOLVIMENTO DA NOO DE MEIO

    A ideia de que o ser humano vive e interage em ambientes que o condicionam contm

    perspectivas distintas e complementares. No contexto da sociologia da cultura usual afirmar-se

    que o seres humanos vivem imersos como peixes num aqurio de guas semiticas, tomando como

    naturais os fluxos e as foras culturais que atravessam o quotidiano. No quadro da modernidade, o

    diagnstico avanado por Georg Simmel em As Metrpoles e a Vida Mental1, elucidativo do

    quanto o meio urbano contribuiu para a intensificao da estimulao nervosa () exigindo uma

    quantidade diferente de conscincia que aquela que lhe exigida pela vida rural (Simmel, 2004:

    76). No ter sido por acaso que a noo de meio, derivada do latim medium, se imps como

    factor estruturante nos estudos das cincias da comunicao.

    Historicamente considerado, o termo foi importado da mecnica para a biologia, na segunda

    metade do sculo XVIII, surgindo na Enciclopdia, de dAlembert e Diderot. Os mecanicistas

    franceses designaram por meio o que Newton e antes dele, Christian Huygens - entendia por

    ter, o fluido (veculo da ao) que permeava os corpos e permitia a interao distncia (Lei da

    Atrao Universal). Na sua ptica, Newton considera o ter como estando em contiguidade no ar,

    no olho, nos nervos e nos msculos. Desse modo, seria pela aco de um meio que se garantia a

    ligao de dependncia entre a fonte luminosa percepcionada e os movimentos orgnicos atravs

    dos quais o homem reage a essa sensao.

    Auguste Comte, ao propor uma teoria biolgica geral do meio, no seu Cours de Philosophie

    Positive, de 1838, desenvolve aquela noo como sendo o conjunto total das circunstncias

    exteriores necessrias existncia de cada organismo (Canguilhem, 2011: 143) , salientando a

    relao de reciprocidade entre o meio e o organismo, ainda de acordo com o princpio newtoniano

    da aco e da reaco.

    A partir de 1859, com a publicao de Origem das Espcies, Darwin prope mais variveis

    privilegiando a relao entre o vivente e o meio, concebida como conjunto de foras fsicas, a

    concorrncia vital e a seleo natural. Devido s suas viagens exploratrias, Darwin est mais

    1 A publicao original Die Grostdte und das Geistesleben de 1903.

  • prximo dos gegrafos, reconhecendo a importncia da diversidade biogeogrfica do meio e a sua

    influncia na constituio das circunstncias concretas que suportam a vida.

    A extenso da noo de meio escala planetria d-se por via do naturalista Alexander von

    Humboldt, na sua obra Kosmos (1845) apresentada uma sntese dos conhecimentos tendo por

    objecto a vida sobre a Terra e as relaes da vida com o meio fsico envolvente. Esta mundiviso da

    totalidade denota a abertura de um pensamento geofilosfico e da relao entre a humanidade e o

    planeta, abrindo assim caminho histria universal e geopoltica.

    Contudo, ser John B. Watson, que pela sua investigao no campo da psicologia

    comportamental estar na origem dos postulados da psicologia behaviorista e, deste ponto de vista,

    o meio define-se como um apriori investido de todos os poderes na relao com os indivduos que o

    habitam, assim, a situao do vivente equivale a uma condio imposta, ou a um condicionamento

    pr-determinado.

    A articulao entre as formulaes oriundas do darwinismo, behaviorismo e mecanicismo,

    continuam ainda hoje operacionais na investigao das redes telemticas e da interao homem-

    mquina, sendo o conjunto de prticas experimentais e teraputicas designado como

    neurofeedback aquele que actualmente se evidencia como efeito de um determinismo tecnolgico

    behaviorista, designadamente no que respeita aos fenmenos de condicionamento

    desencadeados pela activao dos centros neuronais de recompensa e pelo reforo do feedback2;

    ou nas experincias de manipulao das emoes contgio emocional - dos utilizadores da rede

    social Facebook3.

    2.2. PRAGMATISMO

    A interao organismo-meio vir posteriormente a ser revertida nos estudos de psicologia

    animal de Von Uexkll4, nos quais dito que estudar um organismo nas condies

    experimentalmente construdas impor-lhe um meio, contudo, aquilo que prprio do vivente

    este construir o seu prprio meio (Canguilhem, 2011: 154). O organismo assim considerado como

    um ser ao qual nem tudo pode ser imposto, essencialmente porque a sua existncia enquanto

    organismo consiste em se propor ele mesmo s coisas e ao ambiente envolvente.

    A passagem de uma anlise centrada no condicionamento pelo meio a uma outra perspetiva

    2 Tal como refere Dwight E. Fultz, behaviorists are well-positioned to develop a neuroscience-based source code inwhich neural activity is described in behavioral terms, providing a basis for behavioral conceptualization andeducation of neurofeedback providers and their clients. (Fultz, 2009: 160)

    3 Cf. o estudo Experimental evidence of massive-scale emotional contagion through social networks (Kramer e outros, 2014).

    4 Uexkll, J. Von (1909). Umwelt und Innenwelt der Tiere. Berlin.

  • que valoriza o agenciamento do vivente na construo da experincia de imerso ser promovida

    por John Dewey no mbito do desenvolvimento dos estudos da interao social e da comunicao

    interpessoal.

    Ainda do ponto de vista de uma afeco pr-simblica na interaco com o meio-ambiente,

    Dewey define meio da seguinte forma: um meio constitudo pelas interaes existentes entre as

    coisas e uma criatura viva. Ele , em primeiro lugar o teatro das aes realizadas e das

    consequncias suportadas no decurso da interao; no seno em segundo lugar que partes e

    aspectos do meio se tornam objetos de conhecimento. Os elementos que o constituem so objetos

    de utilizao, de satisfao e de sofrimento, no objetos de conhecimento5. No se trata portanto

    de uma adaptao (darwinista) ao meio, mas de uma formulao da experincia como resultado da

    interao entre os seres vivos e a sua envolvente. A experincia, no sentido formulado por Dewey,

    portanto resultado de uma funo biolgica de interao entre o organismo e o seu meio,

    implicando adaptao ou ajustamento mas tambm transformao do meio natural, social e

    cultural.

    Posteriormente Dewey utilizar o termo transao de modo a salientar que a experincia

    modulada na transao com um contexto que pode ser designado de situao e combina atividade

    e receptividade, fazer e afeo. Na experincia h uma associao entre interior e exterior, sujeito e

    objeto, agir e padecer () Na transao, os constituintes das entidades interatuantes so eles

    prprios susceptveis de sofrerem alterao (Babo, 2013: 227-228). Conclui-se portanto que nesta

    interao (transao) o equilbrio surge no de forma mecnica mas devido tenso inerente a essa

    dinmica, na qual o ser vivo perde e restabelece ciclicamente o equilbrio com a envolvente (Dewey,

    1934: 19-22).

    Transposto para um contexto de esfera pblica e de comunicao mediada, a noo de

    experincia humana desenrola-se num meio sociocultural, repleto de instituies, padres culturais

    e num quadro de interao suportado em medias electrnicos ubquos. neste medium que o

    individuo constitui o seu processo de individuao psicolgica e colectiva, atravs das mltiplas

    dimenses da experincia (simblica, afectiva, biolgica, etc.).

    A experincia o resultado, o sinal, e a recompensa de que a interao do organismo e

    ambiente uma transformao de interao em participao e comunicao, pois, o fruto da

    comunicao deve ser a participao. Este resultado equivale assim ao significado de cultura, ou

    seja, o produto no dos esforos dos indivduos perante um vazio, mas da interao prolongada e

    acumulativa com o meio ambiente (idem: 33).

    5 Traduo de Isabel Babo-Lana (John Dewey, Logique, p.220-221, apud Bidet, Qur et Truc (2011) , In John Dewey, La formacion des valeurs, Paris:La Dcouverte, p.42.)

  • A linguagem e a mente como mediuns culturais- emergem assim como amplificao das

    energias empregues pelo humano na interao com o meio e os indivduos e as coisas nele

    presentes. A experincia, ao mesmo tempo biolgica e simblica, resulta de uma dinmica de

    trocas de energia e tenses que configuram um padro de associaes, de entrelaamentos entre

    indivduos, objectos, eventos e mundo, isto , de uma assemblage of things da qual faz parte a

    assemblage of organic human beings (Dewey,1929 :175).

    2.3. CIBERNTICA E CONTROLO

    Com a rpida difuso dos media electrnicos a partir da dcada de 1950, as noes de

    ambiente, interao e experincia viro a ser reequacionadas tendo em considerao novos

    desenvolvimentos tericos e empricos. As investigaes de Norbert Wiener (e Julian Bigelow) em

    torno do funcionamento de automatismos militares durante a segunda guerra, levaram-no ao

    aprofundamento dos estudos em computao matemtica e da estatstica aplicada noo de

    mensagem6 como transmisso de impulsos eltricos nos computadores e no sistema nervoso

    central.

    Com o apoio de Claude Shannon e da sua teoria matemtica da comunicao, que permitiu

    melhorias substanciais na codificao de sinais eltricos, rapidamente a investigao de Wiener

    tomou conscincia da analogia existente entre os problemas presentes na comunicao, controlo e

    mecnica estatstica (entropia) nas mquinas e nos organismos vivos. Foi a este campo unificado da

    investigao dos mecanismos de feedback que Wiener atribui a designao de Ciberntica, pois

    pela primeira vez ficara claro que mquinas de computao ultra-rpidas representam um

    modelo ideal do sistema nervoso (Wiener, 1948: 22).

    A regulao e controlo dos fluxos de informao e dos mecanismos de feedback positivo

    aplicados pela Ciberntica investigao dos mecanismos de regulao homeosttica nos seres

    humanos um dos eixos principais da cibernetizao do humano e dos seus ambientes. Wiener

    chega mesmo a advertir que qualquer livro a ser publicado sobre Ciberntica dever ter uma

    discusso detalhada dos processos homeostticos (Wiener, 1948: 135). Outro eixo fundamental na

    construo tcnica desta cincia est patente na opo de Wiener pela digitalizao da informao

    atravs do uso preferencial das mquinas numricas (mquinas digitais baseadas na aritmtica

    6 A noo ciberntica de mensagem, segundo Wiener, entendida enquanto sinal transmitido por sistemas eltricos,mecnicos ou pelo sistema nervoso central: The message is a discrete or continuous sequence of measurable eventsdistributed in time precisely what is called a time-series by the statisticians. (Wiener, 1948: 16). As descoberts de Wiener foram posteriormente desenvolvidas por Claude Shannon na sua teoria matemtica dacomunicao : A Mathematical Theory of Communication (1948).

  • binria e lgebra booleana) em vez das mquinas analgicas7, bem como no aperfeioamento

    tecnolgico das capacidades de programao, memorizao e automatizao de processos cujo

    incremento nas velocidades de processamento levariam desejvel substituio do gesto humano

    por processos de automao. Este eixo da Ciberntica, apoiado nas investigaes de John von

    Neumann e de Alan Turing, foi o que permitiu a Norbert Wiener afirmar que o sistema nervoso

    humano e animal funcionam como sistemas de computao e controlo, pois a rede neuronal

    (neurnios-sinapses) funcionaria de forma anloga ao clculo binrio: the all-or-none principle

    (Wiener, 1948: 141-143).

    Por outro lado, o entendimento de que o mecanismo de reflexo condicionado (Pavlov), ou

    de affective tone como Wiener prefere designar (Wiener, 1948: 150-151), um mecanismo

    biolgico de feedback relacionado com os sistemas de aprendizagem e de associao de ideias,

    permitiu a Wiener especular acerca das capacidades de aprendizagem dos computadores, levando-

    o a firmar que a nova revoluo industrial consiste em substituir o juzo e o discernimento humano

    pelo das mquinas, neste sentido o computador surge j no como fonte de poder, mas como fonte

    de controlo e de comunicao (Wiener, 1954: 71).

    A fuso ciberntica entre o crebro (e sistema nervoso central) e a emergncia

    fenomenolgica da mente8 (funes mentais, estados emocionais, pensamento,...) referida em

    diversos momentos por Wiener representa desde ento uma nova linha de actuao do

    behavorismo ciberntico (ciberbehaviourismo9), o qual tem vindo a implementar-se como meio-

    ambiente ciberntico imersivo e holstico (totalitrio ?), isto , que procura agir em todo o ciclo do

    processo de feedback, automatizando a administrao de inputs lgicos e afectivos (racionalidade e

    emoo) na expectativa de recolher outputs calculveis e preemptivos (algoritmos), e assim exercer

    uma forma de controlo difuso e manter a homeostase nos colectivos sociotcnicos (redes

    telemticas).

    O projecto Ciberntico vem sendo, desde a segunda metade do sc. XX, alimentado pelas

    industrias dos media e das tecnologias de rede, mas tambm pela infraestrutura militar,

    7 Wiener refere-se ao diferential analyzer de Vannevar Bush (Wiener, 1948: 138)

    8 Neste ponto no podemos esquecer os contributos de Walter Pitts e Warren McCulloch (Embodiments of Mind, 1970 ed.Cambridge: MIT Press) para o aprofundamento da ideia ciberntica de rede neuronal artificial. Cf Orit Halpern The Neural Network: Temporality, Rationality, and Affect in Cybernetics (artigo indito cedido pela autora, aguarda publicao em: The Timing of Affect: Epistemologies of Affection Edited by Marie-Luise Angerer, Bernd Bsel, and Michaela Ott University of Chicago Press .

    9 um neologismo criado pelo autor para se referir incluso da racionalidade instrumental promovida pelosdispositivos actuais da tecnocincia (vigilncia, bigdata, biopolticas, etc..) no percurso histrico do behavorismo e dasua relao com outras correntes de pensamento prximas: mecanicismo, positivismo, determinismo, darwinismo,etc.

  • correspondendo ao que Julian Assange designa como militarizao do ciberespao, como ter um

    tanque de guerra dentro do quarto ou um soldado debaixo da cama, ironiza Assange para

    evidenciar a infiltrao das agncias de inteligncia militares na nossa privacidade 10 (Assange, 2013:

    10).

    Aquilo que designamos aqui como ambiente ciberntico holstico ou totalitrio pode ser

    interpretado como a extenso do ciberespao totalidade da vida (biofsica e psquica) na qual se

    integram as biotecnologias, as biopolticas e as mltiplas aplicaes da ciberntica (organizacional,

    financeira, cognitiva, esttica, etc...) e corresponde implementao de programas concretos ao

    longo da histria e em geografias distintas (2 casos):

    I) O projecto Cybersyn -sinergia ciberntica-11 desenvolvido e dirigido pelo engenheiro

    Stafford Beer, entre 1971 e 1973 no Chile durante o governo de Salvador Allende, consistiu na

    criao de um ambiente interativo para administrar e optimizar o suporte a decises importantes a

    serem tomadas no mbito da poltica econmica. A utilizao de dispositivos de captura de

    informaes: salas de videoconferncia, sistemas de redes colaborativas e protocolos de interao

    entre empresas, governo e outras organizaes, eram aplicados em iniciativas emergentes como o

    e-governo e a ciberntica organizacional.

    II) O modelo ciber-urbanstico das Cidades Inteligentes (Smart Cities), assente sobre a ideia

    de pretender controlar as cidades atravs de centros de operaes cibernticos (urban

    computing12)- desenhados e produzidos pela IBM (unidade Smarter Cities13)- torna evidente a

    viragem computacional (computational turn) nos modelos de governao com a qual j interagimos

    constantemente. Rem Koolhaas, na conferncia Digital Minds for a New Europe14, organizada pela

    Comisso Europeia, questiona se as cidades inteligentes esto condenadas estupidez? Enquanto

    afirma que os cidados que a cidade inteligente diz servir, so tratados como crianas (Koolhaas,

    2014). Um das preocupaes referidas pelo arquitecto, prende-se com a forma apoltica do modelo

    de Cidade Inteligente, segundo o qual os tradicionais valores europeus de liberdade, igualdade e

    fraternidade foram substitudos no sculo XXI por conforto, segurana e sustentabilidade.

    10 Cf Assange: Google Is Not What It Seems. http://www.newsweek.com/assange-google-not-what-it-seems-279447 (acedido a 3 de Abril de 2015)

    11 http://www.cybersyn.cl/ingles/cybersyn/opsroom.html#|Cybernetic-Synergy,

    12 http://research.microsoft.com/en-us/projects/urbancomputing/ ; http://www.spaceandculture.org/2009/05/13/models-of-urban-computing/ ; http://en.wikipedia.org/wiki/Urban_computing ; http://www2.cs.uic.edu/~urbcomp2013/urbcomp2014/index.html ; http://www.situatedtechnologies.net/?q=node/77

    13 http://www.ibm.com/smarterplanet/us/en/smarter_cities/overview/

    14 http://ec.europa.eu/archives/commission_2010-2014/kroes/en/content/digital-minds-new-europe.html

  • Do lado da esfera pessoal e no que respeita s formas da individualidade, a questo que se

    coloca desde os primeiros momentos da Ciberntica por um lado o da emergncia da inteligncia

    artificial (incorporao maqunica da mente) e o da produo indutiva de subjetividades dceis e

    submissas aos dispositivos tecnobiopolticos, cuja psicopoltica digital e Big Data se apoderam das

    emoes para influenciar aces a nvel pr-reflexivo (neural turn), pois, refere Byung-Chul Han,

    que atravs das emoes que se chega s profundezas do quantified self (Han, 2014:36), a

    emoo representa um meio eficiente15 para estabelecer o controlo psicopoltico do individuo. A

    este novo regime de governamentabilidade e controlo das subjectividades, capaz de instaurar

    simultaneamente uma realidade virtual, a codificao digital da vida e a reduo das incertezas pelo

    tratamento algortmico da informao acumulada, Antoinette Rouvroy caracteriza-o por se

    fundamentar em dois processos complementares: o data-behaviourism e a governao algoritmca

    (Rouvroy, 2012).

    de algum modo evidente que a Ciberntica foi construida sob influncia do racionalismo

    vigente na Europa desde o Sc. 17, nomeadamente da filosofia de Ren Descartes que descreveu

    minuciosamente analogias maqunicas para a explicao do funcionamento do organismo humano,

    invocando autmatos de mola e autmatos hidrulicos, recorrendo assim s formas tcnicas mais

    evidentes da sua poca. Os bilogos e filsofos mecanicistas viam nas mquinas apenas teoremas

    solidificados, exibidos in concreto por meio de uma operao de construo inteiramente

    secundria, simples aplicao de um saber consciente de seu alcance e seguro de seus efeitos

    (Canguilhem, 2011: 108). De igual modo, o darwinismo de Norbert Wiener patente,

    designadamente quando compara a fisiologia do sistema nervoso com considervel semelhana

    ideia de seleo natural (Wiener, 1961: 400).

    Com o advento da Ciberntica a distino dualista entre meio-ambiente e indivduo esbate-

    se a favor da predominncia da interao e da interatividade controlada por ciclos de feedback que

    procuram garantir a homeostase do sistema/rede. Para este fim foi necessrio constituir as duas

    esferas de aco, pblica e privada, em sinergia e interdependncia, sendo que poltica coube a

    tarefa de implementar uma governao algoritmca, fundamentada na anlise estatstica e preditiva

    dos dados, desviando-a do conhecimento impuro, emprico e incerto da realidade material e das

    condies de vida concretas das populaes. s tecnologias cibernticas cabe a misso de instalar

    interfaces que permitam codificar a natureza como informao, i.e., digitalizar e recompor a matria

    sob a forma de hipstases computacionais (Martinho, 2011: 157), onde o ambiente/contexto se d

    15 Como referido anteriormente o estudo de manipulao das emoes pela rede social Facebook, demonstroucabalmente a sua eficincia.

  • como matrix computacional desenhado para a imerso osmtica do ser digital16.

    Se verdade que vivemos actualmente numa sociedade hiper-mediatizada, saturada de

    tecnologias ubquas como a Internet, e que isso forma a pele da nossa cultura tecnolgica onde as

    psicotecnologias operam como extenses da psique (Kerchov, 1997: 33); ento podemos afirmar

    que o domnio das tecnologias de informao e comunicao promove um ambiente ciberntico

    propcio operacionalidade das psicotecnologias. Marshall Mcluhan em Understanding Media- The

    extensions of man (1964) j o havia afirmado a propsito da nova era da electricidade, a partir da

    qual seria estabelecido uma rede planetria anloga ao nosso sistema nervoso central, no se

    tratando apenas de uma rede eltrica, mas de um campo unificado de experincia (Mcluhan,

    1964: 384). Mcluhan refere ainda que o crebro o lugar de integrao e traduo das impresses

    e da experincia humana, permitindo-nos a interpretao dos contextos em que nos situamos. Ora,

    se o contexto envolvente psicotecnolgico, na interao entre crebro e ambiente electrnico

    que se formam sinergias automatizadas - inter-relao instantnea entre crebros e computadores,

    ao nvel da conscincia de si (conscious awareness). Assim, a simulao de processos de conscincia

    pelos computadores acontece ao mesmo tempo que a rede elctrica global simula a condio

    central do sistema nervoso (idem: 388).

    Em suma, na interao entre crebro e computadores e ambientes psicotecnolgicos,

    sobrelevam alteraes na conscincia enquanto campo unificado de experincia e na prpria

    rede neuronal enquanto estrutura biolgica do crebro-, pois o crebro tem de se calibrar

    segundo as mtricas do ambiente em que vive, e as suas conexes internas modificam-se

    dinamicamente em sintonia com as perturbaes externas. neste trabalho de adaptao

    constante da rede neuronall (neuroplasticidade) que reside, de acordo com Warren Neidich a

    operacionalidade do neuropoder (Neidich, 2010: 545).

    16 Cf Negroponte, Nicholas (1995). Being Digital. New York. Alfred A. Knopf.

  • 2.4. ORGANOLOGIA UMA PERSPECTIVA CRTICA DA CIBERNTICA

    The man who wishes to dominate his fellows creates the android machine.

    Gilbert Simondon

    conhecida a posio ctica de alguns tericos franceses relativamente publicao da obra

    de Norbert Wiener, Cybernetics or Control and Communication in the Animal and the Machine

    (1948). Gilbert Simondon e Georges Canguilhem representam um posicionamento crtico face a

    alguns dos seus aspetos. Simondon no seu livro Du mode d'existence des objets techniques (1958)

    discorda com a investigao de Wiener por esta ter partido de uma classificao dos objetos

    tcnicos em termos de espcie e gnero, contrapondo que uma cincia da tecnologia no deve

    proceder desse modo, porque no h espcies de autmatos: h simplesmente objetos tcnicos;

    estes possuem uma organizao funcional, e nelas diferentes graus de automatismo so

    realizados. (Simondon, 1980: 42). Simondon mantm aqui a sua mxima discordncia quanto ao

    postulado bsico da ciberntica: o de que seres vivos e objetos tcnicos auto-regulados (princpio

    da homeostase/feedback) so anlogos.

    Numa conferncia de 1947, intitulada Mquina e Organismo, Georges Canguilhem

    apresentou uma perspetiva alternativa da relao homem-tcnica, sustentada num possvel campo

    de estudos designado Organologia. O problema, afirmava Canguilhem, que as relaes da

    mquina com o organismo, em geral, s foi estudado num sentido nico, isto , a partir da estrutura

    e do funcionamento da mquina j construda procurou-se explicar a estrutura e o funcionamento

    do organismo. Mas raramente se procurou compreender a prpria construo da mquina a partir

    da estrutura e do funcionamento dos rgos. A hegemonia cartesiana da interpretao mecanicista

    dos fenmenos biolgicos no permitiu, afirma Georges Caguilhem, que a explicao da mquina

    pelo organismo pudesse ter surgido. neste exato ponto que Canguilhem avana com a hiptese,

    na esteira de Raymond Ruyer17 de considerar as mquinas como rgos da espcie humana: Uma

    ferramenta, uma mquina so rgos e os rgos so ferramentas ou mquinas (Canguilhem,

    2011: 123). H contudo diferenas de finalidade: h mais finalidade na mquina do que no

    organismo, porque nela, a finalidade rgida e unvoca, univalente. Uma mquina no pode

    substituir uma outra mquina, no organismo, ao contrrio (...) observamos uma vicarincia 18 das

    17 Ruyer, Raymond (1946). lments de psycho-biologie. Presses universitaires de France.

    18 A vicarincia o que permite o funcionamento de algumas prteses binicas da viso, no caso do dispositivoBrainPort faz-se uso das clulas da lngua (papilas gustativas) como interface para transduzir sinais elctricos quetransportam a imagem captada por uma cmara. Vide http://www.wicab.com/en_us/ .

  • funes, uma polivalncia dos rgos. (idem: 125).

    Para reforar a genealogia orgnica da tcnica, mais precisamente uma filosofia biolgica da

    tcnica, Caguilhem refere-se ainda ao trabalho de diversos etngrafos (Leroi-Gourham19) entre

    outros), pois so estes os que esto mais perto da constituio de uma filosofia da tcnica da qual

    os filsofos se desinteressaram, atentos que foram, em primeiro lugar, filosofia das cincias.

    (idem: 132). No campo da filosofia propriamente dita, as excepes identificadas so Alfred

    Espinas20 e Ernst Kapp21, cujo contributo essencial reside na teoria da projeo orgnica, usada para

    explicar a construo das primeiras ferramentas enquanto prolongamentos dos rgos humanos em

    movimento. Este essencialmente o mago da tese da tecnicidade originria ou a lgica do

    suplemento veiculada pela filosofia continental (Jacques Derrida, Bernard Stiegler, Gilbert

    Simondon, Georges Caguilhem, entre outros...), a tecnologia como prtese constitutiva do humano.

    Considerando a tcnica como um fenmeno biolgico universal, e no apenas como uma

    construo racional e instrumental do homem. Esta linhagem filosfica tem a vantagem de mostrar

    o homem em continuidade com a natureza por meio da tcnica, reunindo numa nova rea de

    investigao, denominada Binica, que estuda as estruturas e sistemas biolgicos visando a sua

    transferncia tecnolgica e aplicao a diversas reas cientficas e das engenharias.

    A relao entre o homem e as mquinas abertas as que funcionam com margens de

    indeterminao, recebem e enviam informao- uma relao transdutiva, ou seja, de modulao

    entre o potencial e o atual atravs da operao transdutiva gerada pela conservao da informao

    (Simondon, 2007: 158-160). Simondon no v as mquinas como produtoras ou consumidoras de

    informao, mas antes como transdutoras de informao. Uma margem de indeterminao ou de

    incompletude constitui por isso a tecnicidade inerente ao conjunto tcnico (colectivo sociotcnico).

    Com esta ressalva, Simondon pretendia tambm denunciar uma certa viso fetichista da cultura

    humanista enquanto modo de contemplao dos objetos estticos e, simultaneamente, de excluso

    dos objetos tcnicos. Uma atitude dualista (tecnofilia/tecnofobia) face ao objeto tcnico exagerada

    na relao idoltrica com a tcnica, cujo tecnicismo equivale representao mtica do boneco

    robtico antropomrfico; em suma, diz Simondon: o nosso objetivo precisamente mostrar que

    no existe tal coisa como um rob; que um rob no mais uma mquina do que uma esttua um

    ser vivo; que apenas um produto da imaginao, dos poderes fictcios do homem, um produto da

    19 Leroi-Gourham, Andr (1945). Milieu et Techniques. Paris. Albin Michel.

    20 Les origines de la technologie (1897)

    21 Kapp, Ernst (1877). Grundlinien einer Philosophie der Technik.

  • arte da iluso.22 (Simondon, 1980: 12).

    A capacidade transdutiva partilhada pelo homem e pela mquina, contudo o vivente que

    na sua dimenso problemtica, geradora de devir e mediao, opera segundo um teatro de

    individuaes e que avana de meta-estabilidade em meta-estabilidade. O indivduo no , por isso,

    absolutamente condicionado pelo meio ou pela natureza pr-individual.

    a esta multiplicidade organizacional meta-estvel, binica, transdutiva e transindividual

    dos colectivos sociotcnicos que corresponde uma organologia geral, na atualidade j traduzida

    numa organologia expandida por diversas organologias especficas e concretas. Por exemplo, a

    organologia desenvolvida por Bernard Stiegler, por si designada como Psicotecnologias da

    Transindividuao23, vem sendo aplicada no centro de investigao coordenado por Stiegler e

    Vincent Puig no Centre Pompidou24.

    Uma filosofia binica ento aquela que observa a vida tcnica suscitada pela relao

    informacional entre homem e mquina, mas de forma diferente da Ciberntica, que visa a eficcia

    no controle da comunicao, e diferentemente tambm de uma poltica tecnocrtica que dissemina

    o poder e a dominao por meio das mquinas. Se usarmos a metfora, e mitologia, cyborg de

    Donna Haraway, podemos invocar esta dualidade sob duas perspetivas anlogas, a do ciborgue

    como produto final da imposio de uma grelha de controlo25 sobre o planeta - mais prxima da

    Ciberntica; ou a do ciborgue como realidade social e corporal sem receio de conexes com animais

    e mquinas, composto por identidades fracturadas, identidades parciais e at mesmo contraditrias

    (Haraway, 1991) - mais prxima da Binica26.

    22 A viso de Norbert Wiener exactamente a oposta: We are living in an age in which automata have becomepart of our daily life. Most of these automata have very little resemblance in their operation to the livingorganisms which perform similar functions. (Wiener, 1961: 400).

    23 Cf. Bernard Stiegler and Irit Rogoff Transindividuation. http://www.e-flux.com/journal/transindividuation/ (acedido a 23 maro 2015)

    24 http://www.iri.centrepompidou.fr/

    25 Filmes como Matrix sos parecem inspirados nesta viso. http://www.imdb.com/title/tt0133093/

    26 Filmes como Blade Runner assemelham-se a esta concepo. http://www.imdb.com/title/tt0083658/

  • 3. VIDA E POLTICA EM REDE

    The technical transformation has changed the conditions of mental activity

    and the forms of interaction between the individual and the collective sphere.

    Franco "Bifo" Berardi

    3.1. DO CREBRO AOS SISTEMAS DINMICOS COMPLEXOS A EXPANSO PS-CIBERNTICA DA IDEIA DE

    REDE E A SUA CRTICA

    As investigaes e teorias visionrias e delirantes27 de Norbert Wiener tm dois aspectos

    particularmente importantes para as teorias de rede actuais (network theory e theory of

    networks28). Por um lado a valorizao dada por Wiener mecnica estatstica quntica

    (probabilidades) na base de organizao do sistema nervoso, organizao esta que no portanto

    correlativa a uma rede permanente de ligaes anatmicas (nervos e sinapses), e que designou

    como neurologia estatstica ou wet neurophysiology (Wiener, 1961:407). Por outro lado, a opo

    pela computao digital permitiu lidar com maiores quantidades de informao (dados estatsticos)

    e com o desenvolvimento da potncia de clculo, programao e arquivo. Estes dois aspectos inter-

    relacionam-se quando Wiener equipara o crebro a um computador digital29.

    A rede liquida30 uma metfora usada para assinalar a mobilidade e a ubiquidade com

    que nos conectamos hoje s redes telemticas, utilizando diversos espectros de radiofrequncia e

    atravs de sistemas de computao em nuvem - sem praticamente necessidade de ligaes rgidas

    ou fixas entre os ns. De algum modo as qualidades cibernticas atrs referidas, so hoje

    celebrados como caractersticas fundamentais das redes e da sua expanso enquanto tecnologia

    adequada aos modelos matemticos de sistemas complexos. A evidncia pode constatar-se no

    27 Cf. Stephen Pfohl, The Cybernetic Delirium of Norbert Wiener . www.ctheory.net/articles.aspx?id=86 (acedido em 3 Abril 2015.

    28 Cf A distino: Network theory refers to the mechanisms and processes that interact with network structures toyield certain outcomes for individuals and groups.(...) theory of networks refers to the processes that determine whynetworks have the structures they dothe antecedents of network properties. (Borgatti e Halgin, 2011:1168)

    29 This led us to another comparison between the nervous system and the computing machine, and led us, furthermore,to the idea that since the nervous system is not only a computing machine but a control machine, that we may makevery general control machines, working on the successive switching basis and much more like the control machinepart, the scheduling part of a computing machine, than we might otherwise have thought possible. (Wiener, 1954:69)

    30 Rede liquida por analogia com a modernidade liquida / sociedade liquida de Zygmunt Bauman e com aexpresso neurofisologia molhada de Wiener.

  • fenmeno the data explosion (Barabsi, 2012: 14), isto , no incremento exponencial das

    capacidades de armazenamento e de computao algortmica de dados, com as suas mais diversas

    aplicaes cientificas ou industriais; e cujo conceito de Big Data inclui os processos de captura,

    arquivo, tratamento e anlise de praticamente toda a informao (dados, imagens, udio, etc..)

    disponvel na rede Internet pelos seus utilizadores e respectivas mquinas.

    Contudo, devemos ainda procurar a expanso do pensamento ciberntico de Wiener, e mais

    especificamente no captulo X- Brain Waves and Self-Organising Systems, da segunda edio de

    Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the Machine (1961), a diversos

    modelos organizacionais que formaram a nossa contemporaneidade, designadamente atravs da

    influncia de Arthur Tansley que concebeu a ideia de ecossistemas31 para se referir interconexo

    em rede, do crebro e do mundo natural, e crena da auto-regulao destes sistemas.

    Jay Forrester, tambm ele um dos pioneiros da Ciberntica, desenvolveu a ideia de Tansley

    aplicando-a isomorfia entre o crebro, cidades e sociedades, na sua teoria dos sistemas dinmicos

    entendidos como redes controladas por feedback no-linear e geridos por computadores32.

    Howard T. Odum e Eugene Odum ambos ecologistas investigaram os ecossistemas

    ecolgicos atravs da recolha intensiva de dados, construindo posteriormente uma rede eletrnica

    que simulava estes mesmos ecossistemas33. Posteriormente os movimentos ecolgicos viriam a

    adoptar estas propostas tericas e empricas que descreviam o mundo natural como um sistema

    dinmico holstico auto-regulado.

    Na dcada de 1970 a identificao de novos problemas, como o crescimento exponencial da

    populao mundial, recursos naturais limitados e poluio, foram tidos como impossveis de

    resolver por sistemas hierrquicos convencionais. Jay Forrester reafirmou a sua capacidade para

    resolver as novas problemticas e aplicou a sua teoria de sistemas desenhando um diagrama

    ciberntico da estrutura do sistema mundial (Fig.1) . Este diagrama foi transformado em modelo

    computacional que previu o colapso da populao. A perspectiva de Forrester constituiu a base do

    modelo World334 desenvolvido por Donella Meadows, Dennis Meadows, e Jrgen Randers, usado

    pelo Clube de Roma35, e os resultados deste foram publicados em Os Limites do Crescimento [The

    31 Cf. Willis, A.J. (1997). "The Ecosystem: An Evolving Concept Viewed Historically". Functional Ecology 11 (2): 268271

    32 Cf Collected Papers of Jay W. Forrester. Pegasus Communications (1975)

    33 Modeling for all Scales: An introduction to System Simulation. Academic Press. (2000)

    34 Uma simulao deste modelo : https://insightmaker.com/insight/1954/The-World3-Model-A-Detailed-World-Forecaster

    35 http://www.clubofrome.org/

  • Limits to Growth (1972)].

    A viso organizacional subjacente aos modelos dos sistemas dinmicos tomava como ponto

    de partida o enunciado ciberntico da automatizao, auto-regulao e controle (homeostase e

    feedback), sustentada na hiptese de Wiener de que os computadores introduziram uma nova fase

    da governao poltica e uma nova revoluo industrial que consistia na substituio da deciso

    humana pela da mquina, o que significaria a substituio de uma lgica de poder hierrquica (dos

    sistemas polticos convencionais) por uma lgica de controle e comunicao horizontal (Wiener,

    1954: 71).

    Fig 1. Diagrama ciberntico do mundo, Jay Forrester (1971)

    Rapidamente a ideologia New Age da auto-governao ciberntica das redes (self-

    organizing networks) expandiu-se a todos os quadrantes sociais, influenciando, por exemplo, a

    emergncia de comunidades (hippies) que aspiravam auto-sustentabilidade e dissoluo das

    hierarquias nas estruturas de poder. No campo da ecologia, James Lovelock originava uma nova

    corrente ecolgica a partir da publicao do best-seller Gaia: A New Look at Life on Earth (1979),

    introduzindo a ideia de planeta Terra como um hiper-organismo auto-regulado. Enquanto Kevin

  • Kelly, considerado um profeta contemporneo da nova tecnologia e das novas economias,

    amplamente aclamado autor e editor da revista Wired36, invoca as teorias dos caos, dos sistemas

    dinmicos e da complexidade para vislumbrar um futuro radicalmente diferente, com novas formas

    de controle social e organizacional. Como exemplo, veja-se o projecto Biosphere 237 , implementado

    no deserto do Arizona e que toma como ponto de partida o conceito vivisystems de Kelly. Neste

    mundo utpico, o controle seria disperso por sistemas altamente pluralistas, abertos e

    descentralizados. Neste contexto tambm de salientar a revista The Whole Earth Catalog38,

    publicada por Stewart Brand entre 1968 e 1972, considerada um cone da contra-cultura norte-

    americana, focada em temas como a auto-suficincia, ecologia ou holismo.

    Uma parte substancial do desenvolvimento histrico da Ciberntica at actualidade foi

    registado no filme-documentrio All Watched Over by Machines of Loving Grace39, da autoria do

    realizador Adam Curtis, e inspirado num poema homnimo, de tom irnico, escrito por Richard

    Brautigan (1967), cujo ultimo verso diz assim:

    I like to think

    (it has to be!)

    of a cybernetic ecology

    where we are free of our labors

    and joined back to nature,

    returned to our mammal

    brothers and sisters,

    and all watched over

    by machines of loving grace.

    Contudo, apesar dos contributos tericos e empricos para o pensamento da

    complexidade40, estas concepes vm sendo criticadas41 pelas suas posies naturalizantes e

    deterministas.

    No artigo intitulado Kevin Kelly's Complexity Theory: The Politics and Ideology of Self-

    Organizing Systems, Steve Best e Douglas Kellner (1999) contestam a metafsica de Kelly42 da nova

    36 http://www.wired.com/

    37 http://www.biospherics.org/biosphere2/

    38 http://en.wikipedia.org/wiki/Whole_Earth_Catalog

    39 http://en.wikipedia.org/wiki/All_Watched_Over_by_Machines_of_Loving_Grace_%28TV_series%29

    40 Cf. Morin, Edgar (1991). Introduo ao Pensamento Complexo. Lisboa. Instituto Piaget.

    41 Cf. Steven Shaviro, Against Self-Organization. http://www.shaviro.com/Blog/?p=756 (acedido em 3 Abril 2015)

    42 New Rules for the New Economy (Kelvin,1998).

  • economia e da nova tecnologia, argumentando que faz ilicitamente uso metforas da natureza para

    legitimar as novas formas de economia e organizao. Kelly defende e legitima uma forma de

    determinismo tecnolgico, deixando as dinmicas e as lgicas do capitalismo de fora da imagem co-

    evolutiva da tecnologia e natureza (Best e Kellner, 1999: 4). As propostas apologticas e acrticas de

    Kevin Kelly na defesa de um novo tipo de capitalismo soft, a par da insistncia numa viso

    sociolgica do darwinismo social, so igualmente contraditadas pelas teorias oriundas do

    construtivismo social da tecnologia43, que ao privilegiar e reconhecer o conceito de flexibilidade

    interpretativa dos artefactos refuta o determinismo tecnolgico, justificando que os

    desenvolvimentos tcnicos devem ser sujeitos anlise social desde que no sejam vistos como

    autnomos ou guiados metafisicamente por dinmicas internas (Bijker, 1993: 118). Deste modo a

    perspectiva da construo social da tecnologia contraria a ontologia, a autonomia (independncia)

    e a auto-regulao dos sistemas tecnolgicos, demonstrando pelo contrrio que os artefactos

    humanos se constroem em contextos de sistemas socioeconmicos especficos.

    A teorizao da sociedade e da economia com metforas biolgicas, tais como auto-

    organizao, auto-regulao, homeostase, feedback positivo, entre outras, extremamente

    arriscada pois perde-se facilmente de vista as enormes diferenas entre os sistemas biolgicos e

    sociais. Quer a naturalizao do societal, quer a determinao do tecnolgico, enquanto

    totalizaes das teorias dos sistemas complexos, pela ideologia californiana, promovida pelos

    digerati (tecnolibertrios), desde a Ciberntica de Wiener ao Silicon Valley, est ancorada na

    propaganda da automatizao global como valor absoluto da economia ps-industrial. Contudo a

    realidade social e econmica so bem distintas da tecno-utopia, as crescentes desigualdades

    sociais, a intensificao da explorao laboral ou o aumento da pobreza e do desemprego, so sinais

    evidentes de que as metforas softs do capitalismo tardio44 servem apenas para mascarar a

    violncia das novas regras do capital financeiro. Franco Berardi Bifo confirma que in the last thirty

    years a new economy and new technologies have found their cradle in California, nurturing a

    technomentalist culture, and giving rise to a special brand of social Darwinism which is expressed

    well in books like Kevin Kellys Out ofControl. (Bifo, 2013: 9).

    43 Este grupo de teorias mais amplamente reconhecido como Social Construction Of Technology (SCOT). Cf. Do not despair: There is Life after Construtivism (Bijker, 1993)

    44 Fazendo uso da reconhecida frmula das trs fases do capitalismo de Ernest Mandel (1972. Late Capitalism.Traduo de loris De BresDer. Spatkapitalismus.Suhrkamp Verlag ), Fredric Jameson, em Culture and FinanceCapital, descreve o capitalismo tardio como o estdio especulativo da expanso financeira, uma espcie de vrusdesenvolvendo-se numa epidemia lanada pela mquina capitalista, ou seja, pela descodificao generalizada defluxos, pela desterritorializao massiva e pela conjugao de fluxos desterritorializados (Deleuze e Guattari, 1996:232), refletindo-se na descodificao dos Estados pelo capital financeiro e pelas dvidas pblicas (idem: 234).

  • 3.2. CONECTADOS, MAS A QUE PREO E SOB QUE CONDIES ?

    Ser que as vossas mquinas de pensar, de representar, sofrem ?

    Jean-Franis Lyotard

    No que foi dito acima procurou-se evidenciar o desenvolvimento da noo de meio

    entrecruzando duas genealogias principais, a biolgica e a ciberntica, at ao ponto em que ambas

    se fundem no ps-cibernetismo expandido a uma viso holstica das redes telemticas de

    comunicao e da economia, sob pano de fundo do fenmeno globalizao, como defende Kevin

    Kelly. A ideia de globalizao, enquanto conceito problematizado por Manuel Castells, sinnimo

    de sociedade em rede, sendo a tecnologia condio necessria mas no suficiente para a

    emergncia de uma nova forma de organizao social baseada em redes, ou seja, na difuso de

    redes em todos os aspectos da actividade na base das redes de comunicao digital (Castells,

    2006:17). A condio suficiente seria para os digerati a auto-regulao do sistema ciberntico

    expandido ao colectivo-sociotcnico (homens, mquinas, coisas, natureza,...) combinado com o

    laissez-faire neoliberal do capitalismo tardio. Em suma, nas palavras de Kellner e Best: A free-

    marketeer, Kelly posits capitalism as a complex system that will steer itself into order, providing a

    replay of Adam Smith's laissez-faire. Indeed, he sees Smith's "invisible hand" not only in the market,

    but in the Internet and the "Net" of life itself. (Best e Kellner, 1999:5).

    Toda esta linhagem ciberntica resultante das investigaes em torno da comunicao e

    controlo no animal e na mquina, no procurou outra coisa seno dizer que esse controlo

    fantasmagrico, que afinal ningum preside ao controle da mquina, pois a mquina um hiper-

    autmato auto-sustentvel e regula-se a si mesma-, numa total mistificao dos sistemas complexos

    econmico e poltico, nos quais como evidente operam entidades concretas com intenes

    prprias, corporaes multinacionais, idelogos e acadmicos, grupos de poder influentes, bancos e

    oligarcas financeiros, etc... cujas estratgias e aces postas em prtica implicam certamente

    conflitualidade social e poltica, apesar de todos os esforos no sentido de consensualizar, estetizar

    e uniformizar os modelos de governao, de regulao e de gesto.

    Steven Shaviro vai mais longe na crtica ao darwinismo social e auto-regulao das redes

    cibernticas promovidos pelos tecnfilos New Age: Such is the soft fascism of the corporate

    network: it reconciles the conflicting imperatives of agressive predation on one hand, and

    unquestioning obedience and conformity on the other. (Shaviro, 2003: 4).

  • 3.2.1. LGICA DA ADICO : FEEDBACK, RECOMPENSA E MULTITASKING

    We shape our tools, and afterwards our tools shape us.

    Marshall McLuhan

    A relao entre o consumo de substncias psicotrpicas potencialmente adictivas e a

    cibercultura conhecida, diversos autores de ciberfico salientam a confluncia entre a navegao

    do ciberespao e estados mentais alterados. A noo de ciberespao no Neuromante definida

    como sendo uma alucinao consensual, vivida diariamente por bilies de operadores legtimos

    em todas as naes (Gibson, 2004:65).

    O fenmeno adictivo designado como Internet addiction disorder (IAD) actualmente

    reconhecido como um assunto srio no campo da sade mental e da ciberpsicologia dos

    adolescentes. O estudo Abnormal White Matter Integrity in Adolescents with Internet Addiction

    Disorder: A Tract-Based Spatial Statistics Study45 confirma a comparao com estudos anteriores -

    dos danos provocados em estruturas neuronais do cortex prfrontal em indivduos expostos a outro

    tipo de substncias adictivas.

    O multitasking informtico cada vez mais favorecido pela imerso dos utilizadores nas redes

    telemticas ubquas (tablets, smartphones,...), vem sendo igualmente reconhecido como uma

    prtica prejudicial ao funcionamento do crebro. De acordo com o neurocientista Daniel J. Levitin,

    em extractos retirados do seu novo livro divulgado pelo jornal The Guardian46, a prtica de

    multitasking aumenta a produo de cortisol - conhecida como hormona do stress- tal como

    favorece a libertao da hormona adrenalina, a qual pode sobre-estimular o crebro causando

    pensamentos confusos (mental fog or scrambled thinking). Assim, Levitin postula que o

    multitasking gera um efeito de adico atravs de um feedback-de-dopamina (dopamine-addiction

    feedback loop (.) It is the ultimate empty-caloried brain candy), recompensando efectivamente o

    crebro pela perda de foco e pela constante procura de estmulos externos (Levitin, 2014: 88):

    Each time we dispatch with an e-mail in one way or another, we feel a sense ofaccomplishment, and our brain gets a dollop of reward hormones telling us we

    accomplished something. Each time we check a Twitter feed or Facebook update, we

    encounter something novel and feel more connected socially (in a kind ofweird impersonal

    45 Cf o estudo: Abnormal White Matter Integrity in Adolescents with Internet Addiction Disorder: A Tract-Based SpatialStatistics Study [ http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0030253 (acedido a 30 Maro 2015)]

    46 Daniel J. Levitin, The Organized Mind: Thinking Straight in the Age of Information Overload http://www.theguardian.com/science/2015/jan/18/modern-world-bad-for-brain-daniel-j-levitin-organized-mind-information-overload (acedido a 30 Maro 2015)

  • cyber way) and get another dollop of reward hormones. But remember, it is the dumb,

    novelty-seeking portion of the brain driving the limbic system that induces this feeling of

    pleasure, not the planning, scheduling, higher-level thought centers in the prefrontal

    cortex. Make no mistake: E-mail, Facebook, and Twitter checking constitute a neural

    addiction.

    (Levitin, 2014: 91)

    As investigaes de Daniel Levitin tomaram como de partida as dos neurocientistas James

    Olds e Peter Milner (McGill University) descritas em Reward centers in the brain and lessons for

    modern neuroscience (1954)47, a qual evidenciava a existncia de centros de recompensa (reforo

    positivo) no crebro, que sendo estimulados atravs de impulsos elctricos produzem

    neurotransmissores-dopamina.

    Na hiptese de Marshall Mcluahn, da narcose tecnolgica de Narciso (Mcluahn, 1964: 51) a

    adio narctica resulta de uma resposta traumtica criada pela sensao de amputao -

    substituio protsica revelada pela expanso do crebro e sistema nervoso central. Como se essa

    expanso e conexo entre crebro e contexto ciberntico exterior fosse demasiado violenta e hiper-

    estimulante, e desse modo seriam disparados os alarmes biolgicos produtores de um estado de

    narcose que permita limitar os danos causados pelo sofrimento.

    Ora, se convocarmos para esta anlise dos mecanismos de recompensa neuronal as

    investigaes cibernticas de Norbert Wiener, podemos deduzir que as redes sociais,

    designadamente o Facebook, funcionam como indutores dos mecanismos de recompensa e de

    feedback, por exemplo atravs da inveno do boto like e dos comentrios associados. Induzindo

    assim formas de adico que na teoria ciberntica equivalem a mecanismos de controlo, ou

    control by informative feedback (Wiener, 1948: 133) que, como referido anteriormente,

    anlogo ao mecanismo de reflexo condicionado (Pavlov), ou de affective tone como Wiener

    preferiu designar (Wiener, 1948: 150-151).

    Ironicamente Byung-Chul Han considera o Facebook como uma espcie de igreja universal

    do reino virtual, onde o boto like funciona como o men digital, pois, cuando hacemos clic en el

    botn de me gusta nos sometemos a un entramado de dominacin. El smartphone no es solo un

    eficiente aparato de vigilancia, sino tambin un confesionario mvil (...) El neoliberalismo es el

    capitalismo del me gusta. (Han, 2014:12-14). Ainda no campo da crtica, foi recentemente criado,

    Fevereiro 2015, o artigo Criticism_of_Facebook na Wikipdia48.

    47 http://neuroblog.stanford.edu/?p=3733

    48 http://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_Facebook

  • Se a esta vertente dos mecanismos cibernticos de recompensa neuronal do Facebook lhe

    acrescentarmos a vertente da manipulao de estados emocionais - atravs da introduo de

    notcias negativas no feed noticioso49 de cada utilizador, rapidamente nos deparamos com uma

    esfera ciberntica totalitria de controlo neuronal e manipulao emocional um mecanismo

    ciberbehaviourista. Se pensarmos em engenharia social numa web semntica impregnada se

    socialbots (social networking bot)50, ou na forma como os social media se tornaram medias

    confessionais - the social media confessional machine (Gehl, 2014:31) - a pergunta que

    imediatamente nos ocorre : se possvel a uma rede social induzir mecanismos aditivos e

    manipular os estados emocionais, como demonstra o estudo da Universidade de Cornell (Kramer,

    Adam D. I., Guillory ,Jamie E. e Hancock, Jeffrey T. (2014), possvel tambm influenciar as

    intenes de voto em eleies polticas e fazer eleger candidatos? Esta suspeita fundada at pelas

    alegadas relaes com o programa DoD Minerva51 do departamento de defesa norte-americano, e

    pelas fundamentadas colaboraes com com o programa de vigilncia Prism da National Security

    Agency- segundo relata o Jornalista Glenn Greenwald que publicou os documentos secretos de

    Edward Snowden no jornal The Guardian52.

    3.3. BIG DATA, VIGILNCIA E AFFECTIVE COMPUTING

    I remember what the Internet was like before it was being watched.

    Edward Snowden (Citizen Four)

    A designao redes sociais no deixa de ser paradoxal se atendermos noo de Actor-

    Network de Bruno Latour, na qual no existe dicotomia ontolgica entre actor (ou actante) e rede

    pois so dois elementos reversveis: It is in this complete reversibilityan actor is nothing but a

    network, except that a network is nothing but actorsthat resides the main originality of this

    theory. (Latour, 2011: 800). Do ponto de vista do controlo ciberntico, esta indistino faz ainda

    mais sentido no que respeita interao entre redes neuronais e redes sociais, tal como visto

    49 O feed de notcias do Facebook controlado pelo algoritmo Edgerank [ http://sproutsocial.com/insights/facebook-news-feed-algorithm-guide/ (acedido a 1 Abril 2014)]

    50 Software usado em redes sociais que simula o comportamento humano robot social.

    51 http://minerva.dtic.mil/index.html ; http://www.theguardian.com/environment/earth-insight/2014/jun/12/pentagon-mass-civil-breakdown ; http://www.theguardian.com/technology/2014/jul/04/facebook-denies-emotion-contagion-study-government-military-ties

    52 http://www.theguardian.com/world/2013/jun/06/us-tech-giants-nsa-data

  • anteriormente. como se o problema identificado53 por Latour em Technology is Society Made

    Durable (Latour, 1991) tivesse sido ultrapassado, pois agora a conexo telemtica rede ela

    prpria constituinte (via mecanismos de feedback e recompensa neuronal) da aco (programa) do

    actor. O problema estudado por Latour , em suma, o problema da descrio analtica da

    articulao reticular entre elementos em interao e o modo como as relaes se modulam sob

    efeito das aes lanadas a cada momento na rede. Por esta razo, a unidade de anlise passar a

    ser tida como o conjunto sociotcnico (socio-technical ensemble) termo j usado por Gilbert

    Simondon em 1958. neste sentido que Latour afirma que o poder (de impor uma inovao)

    resultante do efeito de conjunto (rede) e no de aces promovidas por elementos isolados.

    Podemos assim entender a rede social Facebook (por exemplo) como uma socio-technical-

    network onde as trajetrias e as tradues se desenvolvem at atingir momentos de estabilizao

    (Latour, 1991: 129), s que esta estabilizao fruto de um abuso de poder ciberntico,

    fundamentalmente resultado da aplicao de software de engenharia social (socialbots) e affective

    processing a gigantescas bases de dados (Big Data) onde esto arquivados os perfis, os contedos, a

    agregao de metadata e os traos dos utilizadores, ou seja, como refere Robert Gehl, these

    archives comprise the products of affective processing; they are archives of affect, sites of

    decontextualized data that can be rearranged by the site owners to construct particular forms of

    knowledge about social media users. (Gehl, 2014: 43).

    O conjunto de dados recolhidos no se confina apenas informao que disponibilizamos

    via Internet, inclui ainda os movimentos com carto de crdito, posicionamento GPS, cartes

    promocionais, autoestradas, uso de telemvel, elementos biomtricos (biometric scanning),

    reconhecimento facial, reconhecimento emocional54, vdeo vigilncia, etc. Os dilemas de ordem

    pragmtica que se nos colocam so diversos, mas focam-se essencialmente nas questes de

    privacidade, intimidade, subjectividade e corporalidade (data body)55. Com a emergncia da

    Internet of Things onde pessoas e coisas esto conectadas, at as televises podem captar as nossas

    53 O da pequena inovao (Latour, 1991: 104), onde Latour desconstri o processo e os diversos atores do sistema: odono do hotel (o inovador), as suas ordens (statements) e as pequenas invenes (os programas: as chaves e o porta-chaves); os clientes e os seus antiprogramas (resistncias s inovaes).

    54 Cf Affective computing and emotion recognition systems: The future of biometric surveillance? (Joseph Bullington)

    55 Exemplos: 1) o clculo dos seguros de sade podem ser baseados em dados relativos ao nosso historial clnico eoutros de sade que j tenham sido disponibilizados previamente s companhias de seguros. Para nossa convenincia,dizem-nos, as empresas j sabem tudo o que precisam de saber sobre ns. O problema que ns no sabemos o queeles j sabem sobre ns, e nem sequer temos a certeza de que as informaes esto corretas, desconhecendo assimcomo so tomadas as decises sobre o nosso corpo, sade e doena. 2) A empresa qual nos candidatmos exclui-nosda seleo prvia de candidatos devido a possuir informao errada sobre o nosso historial clnico e potenciaisproblemas de sade, ou no quer contratar empregados que fiquem doentes no futuro.

  • conversas, como de facto j acontece56.Um dos aspectos em questo prende-se com as assimetrias

    de informao, pois aqueles que detm esses dados tm uma ferramenta crucial que lhes permite

    influenciar o comportamento das pessoas de quem os dados so capturados e analisados, o

    marketing um exemplo bvio que envolve formas subtis de manipulao: criar desejos no

    momento certo e no local exacto para que possam ser satisfeitos pelos consumidores. Com os

    governos e as foras de segurana acontece de modo idntico, quantos mais dados obtiverem sobre

    as pessoas, mais efectivo se torna o controlo. Esta situao, afirma Felix Stalder, deixa inmeras

    pessoas nervosas, por uma boa razo. De acordo com estudos empricos realizados, a opinio da

    grande maioria de entrevistados - pelo menos antes do pnico social surgido na sequncia dos

    atentados terroristas de 11 setembro de 2001 dizia-se "muito preocupado" com o uso indevido

    de dados privados57 (Stalder, 2002: 121).

    Sobre as revelaes de Edward Snowden58 e os vazamentos de documentos secretos que

    comprovam a existncia efectiva e eficaz de um gigantesco sistema de vigilncia global, o filme-

    documentrio de Laura Poitras, Citizen Four59, um bom contributo para o conhecimento do

    dispositivo tecnolgico instalado, infraestruturas e programas de vigilncia massiva.

    Se conjugarmos os seguintes elementos: o termo affective tone usado por Wiener para se

    referir ao reflexo condicionado enquanto mecanismos cibernticos de homeostase, de auto-

    regulao das redes e sistemas complexos, de biofeedback/neurofeedback; Os mecanismos aditivos

    do multitasking e das redes sociais; o actor enquanto rede em Latour e o processamento de Big

    Data como afective processing / affective computing60, teremos os ingredientes para entender que a

    expanso emprica da Ciberntica na configurao das redes telemticas atuais, designadamente

    das suportadas na Internet (redes sociais, Google, Facebook, etc.) se reificou efectivamente como

    infraestrutura e potncia de controlo ciberntico, ou como dizem Galloway e Thacker, the network,

    it appears, has emerged as a dominant form describing the nature of control today(...) Perhaps

    there is no greater lesson about networks than the lesson about control: networks, by their mere

    56 Samsung's Smart TVs Are Collecting And Storing Your Private Conversation https://www.techdirt.com/articles/20150206/04532329928/samsungs-smart-tvs-are-collecting-storing-your-private-conversations.shtml (acedido em 3 Abril 2015)

    57 Fonte citada por Felix Stalder: http://www.privacyexchange.org/survey/estudies/estudies.html

    58 http://www.theguardian.com/us-news/edward-snowden

    59 https://citizenfourfilm.com/

    60 http://affect.media.mit.edu/ e Affective computing: challenges (Rosalind Picard - MIT Media Laboratory) -

    http://affect.media.mit.edu/pdfs/03.picard.pdf (acedido em 4 Abril 2015)

  • existence, are not liberating; they exercise novel forms of control that operate at a level that is

    anonymous and nonhuman, which is to say material.61 (Galloway e Thacker,2007: 4-5).

    Daqui emergiria certamente uma contradio paradoxal caso no nos apoissemos numa

    anlise crtica -, que como vimos anteriormente (3.1.) a expanso do modelo ciberntico s redes

    e sistema complexos, governao poltica e organizao social, teria como fundamento teleolgico

    uma sociedade livre de formas de poder hierrquico- o sonho Wieneriano de substituir a

    racionalidade e o juzo humano pelo do computador.

    No one is in control afirmava Kevin Kelly ( (Best e Kellner, 1999: 5), contudo, face s

    constelaes de poder e controlo realmente existentes na actualidade, o sistema militar de

    vigilncia62 do ciberespao e das redes telemticas, os normativos de Kelly, e dos digerati em geral,

    e a apologia do controlo total ciberntico e benfico das estruturas sociais complexas e

    ecossistemas (veja-se o j referido centro de controlo de Cidades Inteligentes) apenas serve para

    ofuscar e tornar invisvel o dispositivo de poder constitudo pelas foras sociais, econmicas e

    polticas em campo, bem os seus programas que viso submeter a estrutura societal (trabalho,

    sociabilidades, cultura, etc.) existente s novas regras do capitalismo semitico-cognitivo63.

    Note-se que no se trata de uma viso determinstica da tecnologia, mas antes segundo

    Latour e as teorias SCOT, de uma anlise social do campo de poder tecnolgico e da sua capacidade

    para reconfigurar o ambiente/contexto ciberntico das sociedades actuais. Ou seja, devemos

    entender a forma e o aspecto de como as tecnologias de rede constituem e moldam o ambiente das

    sociedades/colectivos actuais, sem com isso afirmar que essas mesmas tecnologias so a sua razo

    suficiente, i.e., que fundam e determinam esse mesmo ambiente. Nesse sentido til ter em conta

    que a existncia de redes, designadamente de redes telemticas, no por si nem sinnimo nem

    garantia de democracia. Para usar uma citao de Pit Schultz, relativa topologia das redes,

    decentralization, or the rhizomatic swarm ideology is value free, useful for military, marketing,

    terrorism, activism and new forms of coercion. It is not equal to freedom, only in a mathematical

    sense. (Galloway e Thacker,2007: 13).

    61 Esta questo do poder da rede (network power) tem de ser dialeticamente equacionada com a questo da soberania edo poder poltico soberano, questo desenvolvida por Galloway e Thacker e por muitos outros autores: ManuelCastells, Bragana de Miranda,

    62 Cf. Surveillance and Society Journal (http://www.surveillance-and-society.org/journal.htm ). Surveillance StudiesNetwork (http://www.surveillance-studies.net/). Julian Assange (Cypherpunks). Edward Snowden e Glen Greenwald- The Guardian NSA files (http://www.theguardian.com/us-news/the-nsa-files ) . Felix Stalder, Opinion. Privacy isnot the antidote to surveillance (http://library.queensu.ca/ojs/index.php/surveillance-and-society/article/view/3397/3360)

    63 Esta apenas uma das muitas definies tericas em torno do capitalismo tardio, haveria ainda que considerar as teses acelaracionistas e a dromologia de Paul Virilio, o fast capitalism de Ben Agger, etc.

  • 3.4. NOOPOWER (PODER COGNITIVO) E NEUROPODER

    No captulo dedicado a Noopower and the Social Media State(s) of Mind, Robert W. Gehl

    conclui que as redes sociais so instncias de noopower, pois induzem interaces preditivas ou

    seja baseadas na inter-relao entre metadata e big data e respectivos perfis agregados a cada

    actor-rede (Latour), vulgo, perfis de utilizadores- que por sua vez modulam a ateno e a memria

    dos sujeitos (Gehl, 2014:23). Uma outra forma de o dizer usando a noo de polticas da

    conscincia de Michel Foucault aplicado-a quilo que Gehl denomina confessional medias,

    estaramos assim deparados com uma forma de poder pastoral fundada pelo cristianismo: this

    form of power cannot be exercised without knowing the inside of people's minds, without exploring

    their souls, without making them reveal their innermost secrets. It implies a knowledge of the

    conscience and an ability to direct it. (Foucalt, 1982: 783).

    A etimologia de noopower remete-nos para o prefixo de origem grega nous que significa

    inteligncia, intelecto ou mente, dando origem a vocbulos como nosis, o processo da

    inteleco, cognio ou insight. O termo noosfera vem sendo usado como sinnimo de esfera da

    inteligncia, mundo das ideias, num termo proposto pelo filsofo francs Teilhard de Chardin (1881-

    1955), para designar o mundo virtual, imaterial, formado por ideias, conceitos e mitos; mas

    tambm usado para designar projectos de ciber-inteligncia colectiva-planetria64

    No contexto ciberntico que aqui abordamos, o objecto do poder noopower (que

    arriscamos a traduzir por poder cognitivo) , por um lado os produtos imateriais da inteligncia

    (trabalho imaterial), e por outro a formao da subjectividade (self). O foco do noopower na

    mente humana, por sua vez, efeito da emergncia da noo-poltica enquanto paradigma das

    sociedades de controlo (Deleuze), tal como a biopoltica a forma de governamentabilidade

    associada s sociedades disciplinares (Foucault). nesta transio, diz Maurizio Lazzarato, que as

    tecnologias disponveis e os mecanismos de poder so redireccionados do corpo (alvo da

    biopoltica) para a mente (alvo das noo-polticas), i.e., da vida material para a vida psquica,

    particularmente para as memrias e para a ateno (Neidich, 2010: 539).

    Contudo, ser ainda necessrio atender ao suporte material da mente, ou seja, ao crebro e

    s redes neuronais bem como s potencialidades da neuroplasticidade65, i.e., capacidade do

    sistema nervoso alterar-se, adaptar-se e moldar-se a nvel estrutural e funcional ao longo do

    desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experincias. O poder que lida com a

    64 Vide: http://noosphere.princeton.edu/ 65 Neural plasticity refers to the ability of the components of neurons, their axons, dendrites, and synapses, plus their

    extended forms as neural network systems, to be modified by experience. (Neidich, 2010: 547)

  • neuroplasticidade designado por Warren Neidich como neuropower (neuropoder), enquanto

    poder homogeneizante das subjectividades (noopoltica) por via da modulao da potncia

    neuroplstica, tendo por isso um papel fundamental na produo de processos de ateno que por

    sua vez traam determinados circuitos de memria, e desse modo estabilizam-se em redes

    neurononais algo anlogo aos processos de feedback, neste caso neurofeedback.

    Na sequncia das conferncias The Psychopathologies of Cognitive Capitalism, promovidas

    pelo ICI - Berlin Institute for Cultural Inquiry66, foi publicado a antologia de textos em trs volumes,

    nos quais se procura analisar o contexto terico Californiano no que se refere aos estudos e

    investigaes sobre tecnologias e ecologias da mente, bem como perceber at que ponto as

    psicopatologias do capitalismo cognitivo so responsveis por sintomas como o sndroma de pnico,

    deficit de ateno ou desordens psicolgicas relacionadas com a memria. Neste ltimo aspecto,

    refere Neidich, o novo foco de poder no estaria apenas na falsa reproduo do passado (anloga

    manipulao de arquivos), pois o territrio do neuropoder no tanto a manipulao da memria

    passada, mas a elaborao da memria futura (Neidich, 2013:226).

    Retomando Foucault, parece-nos claro que as interferncias psicotecnolgicas na estrutura

    da rede neuronal (neuropoder) e nas formas de conscincia (noopower/noopoltica), requerem

    novas formas de resistncia cultural antagonistas das formas de governamentabilidade ancoradas

    na sujeio dos sujeitos submisso das subjectividades-. Tornam-se cada vez mais importantes,

    mais at do que as resistncias contra os mecanismos de dominao e explorao. Neste aspecto,

    das formas de governamentabilidade, Antoinette Rouvroy, no artigo j citado, invoca a expresso

    algorithmic governmentality como aquela que no permite processos de subjectivao humana,

    pois, a algorithmic governmentality is without subject: it operates with infra-individual data and

    supra-individual patterns without, at any moment, calling the subject to account for himself.

    (Rouvroy, 2012: 2).

    66 https://www.ici-berlin.org/event/476/

  • REFERNCIAS

    Assange, Julian (2013). Cypherpunks: Freedom and the Future of the Internet. Or Books.

    Babo-Lana, Isabel (2013). O acontecimento e os seus pblicos. In Revista Comunicao e Sociedade, vol. 23,

    pp. 218 - 235 .

    Barabsi, Albert-Lszl (2012). The network takeover. In Nature Physics . Vol 8, january 2012.

    Beniger, James R. (1989). The Control Revolution: Technological and Economic Origins of the Information

    Society. Harvard University Press

    Best, Steve e Kellner, Douglas (1999). Kevin Kellys Complexity Theory: The Politics and Ideology of Self-

    Organizing Systems. Organization & Environment. June 1999 12: 141-162. [http://www.uta.edu/huma/illuminations/best7.htm (consultado em 31 maro 2015)]

    Bifo, Franco Berardi (2013). The Minds We: Morphogenesis and the Chaosmic Spasm Social Recomposition,

    Technological Change and Neuroplasticity. In Boever, Arne De e Neidich, Warren (Eds). The Psychopathologies

    of Cognitive Capitalism: Part One. Berlin. Archive Books. Pp 7-32.

    Bijker, Wiebe E. (1993). Do not despair: There is Life after Construtivism. In Science, Technology & Human

    Values, Vol 18 n 1, Winter 1993, 113-138. Sage Periodicals Press.

    Borgatti, Stephen P. e Halgin, Daniel S. (2011). On Network Theory. In Organization Science. Vol. 22, No. 5,

    SeptemberOctober 2011, pp. 11681181.

    Caguilhem, Georges (2011). O Conhecimento da Vida. Rio de Janeiro. Forense Universitria.

    Caguilhem, Georges (1992). Machine and Organism. In Incorporations. Edited by Jonathan Crary and Sanford

    Kwinter. Zone Books. Pp 45-69.

    Castells, Manuel (2006). A Sociedade em Rede: do Conhecimento Poltica. In Castells, Manuel e Cardoso,

    Gustavo (orgs). A Sociedade em Rede: do Conhecimento Poltica . Lisboa. INCM.

    Deleuze, Gilles e Guattari, Flix (1996). O Anti-dipo, Capitalismo e Esquizofrenia. Lisboa. Asssrio & Alvim

    Dewey, John (1929). Experience and Nature. London. George Allen & Unwin, ltd.

    Dewey, John (1934). Art as Experience. Perigee Books. New York.

    Foucault, Michel (1982). The Subject and Power. In Critical Inquiry, Vol. 8, No. 4, (Summer, 1982),The University

    of Chicago Press. Pp. 777-795.

    Forrester, Jay Wright (1971). World Dynamics. Wriht-Allen Press.

    Fultz, Dwight E. (2009). The Current Status of Behaviorismand Neurofeedback. In International Journal of

    Behavioral Consultation and Therapy. Volume no. 5, issue no. 2. Pp 160-164.

    Galloway, Alexander R. e Thacker, Eugene (2007). The Exploit: A Theory of Networks (Electronic Mediations Ser.

    Vol. 21). Minneapolis. U Minnesota.

    Gehl, Robert W. (2014). Reverse Engineering Social Media - Software, Culture, and Political Economy in New

    Media Capitalism. Filadlfia. Temple University.

    Gibson, William (2004). Neuromante. Lisboa. Gradiva.

    Han, Byung-Chul (2014). Psicopoltica- Neoliberalismo y nuevas tcnicas de poder. Barcelona. Herder Editorial.

    Haraway, Donna Jeanne (1991). A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late

    Twentieth Century. In Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Routledge. ISBN 0415903866.

  • Kerchov, Derrick de (1997). A Pele da Cultura. Uma Investigao Sobre a Nova Realidade Electrnica. Lisboa.

    Relgio D'gua Editores.

    Koolhaas, Rem (2014) . Rem Koolhaas pergunta: As cidades inteligentes esto condenadas estupidez? [Rem

    Koolhaas Asks: Are Smart Cities Condemned to Be Stupid?] 30 Dec 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo

    Baratto). (http://www.archdaily.com.br/br/759569/rem-koolhaas-pergunta-as-cidades-inteligentes-estao-condenadas-a-estupidez.Acedido a 27 Marco 2015)

    Kramer, Adam D. I., Guillory ,Jamie E. e Hancock, Jeffrey T. (2014). Experimental evidence of massive-scale

    emotional contagion through social networks. In PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the

    United States of America). Junho 17, 2014 vol. 111 no. 24. [ http://www.pnas.org/content/111/24/8788.full.pdf (acedido a26-03-2015) ]

    Latour, Bruno (1991). Technology is Society Made Durable. In J. Law (editor) A Sociology of Monsters Essays

    on Power, Technology and Domination, Sociological. Review Monograph N38, 103-132.

    Latour, Bruno (2011). Networks, Societies, Spheres: Reflections of an Actor-Network Theorist. In International

    Journal of Communication 5 (2011), 796 810.

    Levitin, Daniel J. (2014). The organized mind : thinking straight in the age of information overload. New York.

    DUTTON. Penguin Group. (verso ebook)

    Mcluhan, Marshall (1964). Understanding Media- The extensions of man. Routledge.

    Neidich, Warren (2010). From Noopower to Neuropower: How Mind Becomes Matter. In Cognitive

    Architecture. From Biopolitics to Noopolitics. Architecture & Mind in the Age of Communication and

    Information. Deborah Hauptmann and Warren Neidich (Eds). 01 0 Publishers. Rotterdam.

    Neidich, Warren (2013). Neuropower: Art in the Age of Cognitive Capitalism. In Boever, Arne De e Neidich,

    Warren (Eds). The Psychopathologies of Cognitive Capitalism: Part Two. Berlin. Archive Books.

    Rouvroy, Antoinette (2014). Privacy, Due Process and the Computational Turn. Philosophers of Law Meet

    Philosophers of Technology, Mireille Hildebrandt & Ekatarina De Vries (eds.), Routledge.

    Shaviro, Steven (2003). Connected: Or What It Means to Live in the Network Society. Electronic Mediations /

    Vol. 9. Minneapolis. U of Minnesota Press.

    Simmel, Georg (2004). Fidelidade e Gratido e Outros Textos. Lisboa. Relgio D'gua.

    Simondon, Gilbert (1958). On the Mode of Existence of Technical Objects. University of Western Ontario.

    [https://english.duke.edu/uploads/assets/Simondon_MEOT_part_1.pdf (Acedido a 25 maro 2015)]

    Simondon, Gilbert (2007). EI modo de existencia de los objetos tcnicos. Buenos Aires. Prometeo Libros.

    Simondon, Gilbert (2009). La individuacin a la luz de las nociones de forma y de informacin . Buenos Aires: La

    Cebra Ediciones y Editorial Cactus.

    Stalder, Felix (2002). Privacy is not the antidote to surveillance. In Surveillance & Society 1(1): 120-124.

    www.surveillance-and-society.org

    Wiener, Norbert (1948). Cybernetics, or Control and Communication in the Animal and the Machine. MIT

    Press/John Wiley and Sons, NY.

    Wiener, Norbert (1954). Men, Machines, and the World About. In Medicine and Science. 13- 28. New York

    Academy of Medicine and Science, ed. I. Galderston, New York: International Universities Press. [Verso utilizada:http://21stcenturywiener.org/wp-content/uploads/2013/11/Men-Machines-and-the-World-About-by-N.-Wiener.pdf (acedido a 27 Maro

    2015)]

  • Wiener, Norbert (1961).Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the Machine . Segunda

    edio revista. Paris, (Hermann & Cie) e Cambridge. MIT Press.

    Wiener, Robert (1965). Perspectives in Neurocybernetics. In Cybernetics of the Nervous System - Edited by the

    Late Norbert Wiener and J.P. Schad. Elsevier Publishing Co.