REDES ESTRATÉGICAS NO CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO: ESTUDO DE …

FUNDACcedilAtildeO GETUacuteLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTAtildeO EMPRESARIAL

REDES ESTRATEacuteGICAS NO CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO ESTUDO DE

CASO NA INDUacuteSTRIA DO PETROacuteLEO

DISSERTACcedilAtildeO APRESENTADA Agrave ESCOLA

BRASILEIRA DE ADMINISTRACcedilAtildeO

PUacuteBLICA E DE EMPRESAS (EBAPE) PARA A

OBTENCcedilAtildeO DO GRAU DE MESTRE

EDUARDO SEIXAS

Rio de Janeiro 2009

TIacuteTULO

REDES ESTRATEacuteGICAS NO CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO ESTUDO DE CASO

NA INDUacuteSTRIA DO PETROacuteLEO

DISSERTACcedilAtildeO DE MESTRADO APRESENTADA POR

EDUARDO SEIXAS

APROVADO EM _________

PELA COMISSAtildeO EXAMINADORA

_____________________________________________

AGRADECIMENTOS

O caminho para conquistar o tiacutetulo de Mestre eacute longo e aacuterduo e indubitavelmente o

apoio e a amizade manifestada por diversas pessoas foram de fundamental importacircncia para

superaccedilatildeo de vaacuterios desafios e para a conclusatildeo do curso

Mesmo ciente do risco de omitir alguns nomes que contribuiacuteram com seu apoio

algumas merecem especial destaque de agradecimento

Agradeccedilo a DEUS por tudo

Agrave minha esposa Mocircnica Seixas pelo amor dedicaccedilatildeo e carinho constantes

Agrave minha querida matildee Maria Joseacute Seixas

Ao meu orientador Alexandre Faria por todas as sessotildees de orientaccedilatildeo pelo grande

apoio e por todo o conhecimento a mim repassado

Aos demais professores da Ebape pelas excelentes aulas ministradas

Aos funcionaacuterios da Ebape em especial agrave chefia e agrave prestativa equipe de apoio do

CFAP aleacutem da eficiente equipe da Secretaria Acadecircmica pela estrutura de conhecimento e

apoio sem a qual natildeo seria possiacutevel a realizaccedilatildeo deste curso

Agrave Petroacuteleo Brasileiro SA ndash PETROBRAS em especial ao Gerente Executivo da

Contabilidade Marcos Menezes ao Gerente Geral de Suporte Contaacutebil Luiz Gonzaga do

Monte Teixeira ao Gerente de Planejamento Contaacutebil Antocircnio Roberto da Silva ao Gerente

do EampPPreacute-Sal Joseacute Alberto Bucheb aos consultores Carlos Arthur Madeira e Victor

Emanuel Marques e todos os profissionais da companhia que apoiaram meu trabalho de

conclusatildeo de curso pela oportunidade de desenvolvimento profissional a mim concedida e

por toda a ajuda e atenccedilatildeo a mim dispensadas

Agrave turma do Mestrado Executivo de 2006

EDUARDO SEIXAS

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada agrave Escola

Brasileira de Administraccedilatildeo Puacuteblica e de Empresas

(EBAPE) Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas como parte

dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre

ORIENTADOR ALEXANDRE FARIA

RIO DE JANEIRO

RESUMO

SEIXAS Eduardo Redes estrateacutegicas no contexto luso-brasileiro da induacutestria do petroacuteleo

Rio de Janeiro 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado Executivo em Gestatildeo Empresarial) ndash Escola

Brasileira de Administraccedilatildeo Puacuteblica e de Empresas ndash Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Rio de

Janeiro 2009

Desde seu surgimento a aacuterea de estrateacutegia apresenta como caracteriacutesticas centrais a criaccedilatildeo

uso e difusatildeo de modelos que ajudam a construir e manter a autoridade do estrategista da

grande empresa e o forte embasamento nas teorias econocircmicas e no paradigma da entidade

autocircnoma No cenaacuterio teoacuterico dessa disciplina predominam os referenciais produzidos no

ambiente anglo-americano a prescriccedilatildeo de modelos estrateacutegicos universais e a falta

profundidade teoacuterica e conceitual que ajude a melhor compreender o fenocircmeno das redes

Esse arcabouccedilo teoacuterico dominante na disciplina designa maior relevacircncia e foco agrave tese da

mercadizaccedilatildeo que reproduz os princiacutepios do neoliberalismo e marginaliza as demais teorias

de mercado que tambeacutem satildeo de fundamental importacircncia para a compreensatildeo do desempenho

das empresas e das redes Exemplos de teorias marginalizadas satildeo as que endereccedilam o

reconhecimento das interfaces entre poder poliacutetica mercado Estado e sociedade

Especialmente em economias emergentes assim como em economias em transiccedilatildeo como eacute o

caso do Brasil e de Portugal respectivamente essas teorias marginalizadas revelam o

reconhecimento de que estrateacutegias de natildeo-mercado satildeo tatildeo importantes quanto estrateacutegias de

mercado Dada a atual relevacircncia das operaccedilotildees envolvendo as organizaccedilotildees hiacutebridas

Petrobras e Galp em especial na induacutestria petroliacutefera de Brasil e Portugal por meio de um

estudo de caso a presente dissertaccedilatildeo busca identificar como e porque satildeo formadas redes de

organizaccedilotildees hiacutebridas na induacutestria petroliacutefera luso-brasileira e como estrateacutegias de mercado e

de natildeo-mercado interagem nessas redes

Palavras-Chave estrateacutegia rede mercado natildeo-mercado organizaccedilotildees hiacutebridas induacutestria

petroliacutefera luso-brasileiro Brasil Portugal

ABSTRACT

Since discipline was born strategy presents as its central characteristics the creation the use

and difusion of models that help to build and keep the major companyrsquos strategist authority

and the strong basement in economic theories and in the autonomous entity paradigm Within

its theoretical scenario prevail the anglo american theories produced the prescription of

universal strategic models and the lack of theoretical and conceptual deepness that enables to

better comprehend the network phenomenon This dominant theoretical framework within the

discipline gives more relevance and focus to the market thesis that reproduces the

neoliberalism principles and marginalizes the other market theories also important for the

comprehension of the organizations and network performance Some examples of marginal

theories are those who address the recognizing of power politics market State and society

interfaces Specially in emergent and transition economies as Brasil and Portugal

respectively these marginal theories reveal the recognizing of non-market strategies are as

important as market strategies Considering the present relevance of operations involving the

hybrid organizations Petrobras and Galp in special in the Brazilian and Portuguese oil

industries through a case study this dissertation aims to identify how and why hybrid

organizations networks are formed in the Brazilian-Portuguese oil industry and how market

and non-market strategies interact in among these networks

Key-words strategy network market non-market hybrid organizations oil industry Brazil

Portugal

ldquoAprender eacute a uacutenica coisa que a mente nunca se

cansa nunca tem medo e nunca se arrependerdquo

Leonardo da Vinci

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES (Figuras e Quadros)

Figura 1 Forccedilas que dirigem a concorrecircncia na induacutestria 36

Figura 2 Perspectivas sobre estrateacutegia 46

Figura 3 Tendecircncias poliacuteticas e vantagem dinacircmica 56

Figura 4 Concepccedilotildees dominantes na disciplina 57

Figura 5 Estrutura sobre a evoluccedilatildeo dos conceitos sobre redes 71

Figura 6 Interface entre os acircmbitos de mercado e de natildeo-mercado 83

Figura 7 Concentraccedilatildeo de empresas ndash classificaccedilotildees 86

Figura 8 Representaccedilatildeo do framework da pesquisa 99

Figura 9 Mapa de atuaccedilatildeo mundial da Petrobras 122

Figura 10 Mapa de atuaccedilatildeo mundial da Galp 124

Figura 11 Mapa de blocos da camada preacute-sal 131

Figura 12 Participaccedilatildeo da Galp no preacute-sal 132

Figura 13 Consoacutercio entre as empresas em Portugal 136

Figura 14 Aacutereas do BMS-11 (preacute-sal) 143

Figura 15 Presenccedila das organizaccedilotildees na rede e supra-rede 148

Figura 16 Representaccedilatildeo do framework final da pesquisa 151

Quadro 1 Escolas em Estrateacutegia 51

Quadro 2 Caracteriacutesticas baacutesicas dos paradigmas positivista e fenomenoloacutegico 102

Quadro 3 Situaccedilotildees relevantes para diferentes estrateacutegias de pesquisa 108

Quadro 4 Relaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre os entrevistados 113

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 7

11 Contextualizaccedilatildeo e relevacircncia do problema 7

12 Justificativa da escolha do tema 13

13 Delimitaccedilatildeo do estudo e de conceitos 17

14 Estrutura da dissertaccedilatildeo 18

2 O PROBLEMA 20

21 Perguntas de Pesquisa 20

22 Objetivos gerais e especiacuteficos 21

23 Resultados esperados 22

3 REVISAtildeO DE LITERATURA 24

31 Estrateacutegia ndash a literatura dominante e as abordagens pluralistas 25

311 Um histoacuterico da Aacuterea de Estrateacutegia 29

312 Abordagens Pluralistas na Aacuterea de Estrateacutegia 44

32 Redes 57

321 Redes ndash algumas definiccedilotildees classificaccedilotildees e opiniotildees 61

322 Redes ndash visatildeo criacutetica do atual cenaacuterio 72

33 Redes e estrateacutegias de natildeo-mercado em organizaccedilotildees hiacutebridas 76

34 A induacutestria do petroacuteleo as joint ventures e o contexto luso-brasileiro 83

341 Estrateacutegia na induacutestria petroliacutefera 89

35 Descriccedilatildeo do framework da pesquisa 95

4 MEacuteTODO DE PESQUISA 100

41 Consideraccedilotildees Epistemoloacutegicas 100

42 Estrateacutegia de Pesquisa Estudo de Caso 106

43 Coleta de dados 109

44 Limitaccedilotildees do meacutetodo 114

45 Fontes de Evidecircncias e Testes de Validaccedilatildeo e Confiabilidade 115

5 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 118

51 Uma breve descriccedilatildeo das empresas 119

52 Uma descriccedilatildeo da rede focal 127

521 A rede focal no Brasil 127

522 A rede focal em Portugal 135

523 Rede e supra-rede 137

53 Mercado e natildeo-mercado na rede focal 142

6 CONCLUSOtildeES E RECOMENDACcedilOtildeES 152

61 Conclusotildees da anaacutelise 152

62 Contribuiccedilotildees do estudo 156

621 Para os praticantes 156

622 Para os acadecircmicos 157

63 Sugestotildees para pesquisas futuras 158

64 Limitaccedilotildees da pesquisa 159

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

8 APEcircNDICES 178

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este capiacutetulo destina-se a apresentar uma contextualizaccedilatildeo do tema e a relevacircncia do

problema de pesquisa a ser investigado aleacutem de expor as justificativas que levaram o autor a

escolher o assunto analisado nessa obra Adicionalmente satildeo apresentadas as delimitaccedilotildees

dos principais conceitos utilizados na pesquisa e constantes desse trabalho aleacutem da estrutura

da dissertaccedilatildeo

A pesquisa desenvolvida e apresentada nessa obra surge de uma inquietaccedilatildeo do

pesquisador frente agrave ligaccedilatildeo existente entre o paradigma de redes as estrateacutegias caracterizadas

como de natildeo-mercado e o processo estrateacutegico de empresas hiacutebridas que utilizam-se de

estrateacutegias de mercado e tambeacutem de natildeo-mercado

De modo especiacutefico visando demonstrar a conexatildeo supra-mencionada a pesquisa

desenvolve-se por meio do uso de um estudo de caso envolvendo como unidade de anaacutelise as

empresas petroliacuteferas Petrobras e Galp Energia organizaccedilotildees de Brasil e Portugal paiacuteses que

guardam relaccedilatildeo histoacuterica e semelhanccedilas culturais e institucionais

11 Contextualizaccedilatildeo e relevacircncia do problema

Brasil e Portugal tecircm uma heranccedila em comum que abrange uma grande parte da

cultura e dos costumes de ambos os paiacuteses fruto do Brasil ter sido colocircnia de Portugal e

tambeacutem como resultado do relevante e contiacutenuo fluxo de imigrantes portugueses desde o

desembarque da Coroa portuguesa no Rio de Janeiro em 1808 ateacute meados do seacuteculo passado

Em termos comerciais durante a maior parte do seacuteculo XX apesar da grande

participaccedilatildeo de Portugal na constituiccedilatildeo do Estado nacional brasileiro e da proximidade

linguiacutestica histoacuterica e cultural as relaccedilotildees econocircmicas entre os dois paiacuteses declinaram ou

apresentaram fraca expressatildeo (LEAL 2000 e COSTA 2008)

Todavia a partir do iniacutecio dos anos 90 assistiu-se a um crescimento significativo e

generalizado nas relaccedilotildees econocircmicas entre Portugal e o Brasil o que indica o comeccedilo de um

novo ciclo no relacionamento bilateral (SILVA 2002) revelando a existecircncia de

cumplicidades comerciais entre os dois paiacuteses as quais podem ser exemplificadas pelos

investimentos diretos portugueses no Brasil (CAMARGO 2001)

Em grande parte em funccedilatildeo das similaridades entre as caracteriacutesticas institucionais dos

mercados de Brasil e Portugal (GUEDES 2008) o investimento direto estrangeiro de

Portugal quadruplicou entre 1995 e 1998 e em relaccedilatildeo ao Brasil no mesmo periacuteodo

aumentou cerca de 48 vezes permitindo que Portugal se transformasse num dos maiores

investidores externos no Brasil e tambeacutem que o Brasil se firmasse com clareza como o

principal mercado nacional de destino dos investimentos portugueses com cerca de 40 do

seu total (MATEUS 2000)

Durante os uacuteltimos vinte anos o Brasil despontou como uma das principais potecircncias

econocircmicas mundiais assumindo posiccedilatildeo de destaque entre as economias em

desenvolvimento sendo classificado como uma economia emergente (SILVA 2002)

principalmente em funccedilatildeo da expansatildeo de suas exportaccedilotildees grandes descobertas de petroacuteleo

estabilidade financeira e baixa inflaccedilatildeo (ONIS 2008)

Jaacute Portugal apoacutes deacutecadas de divergecircncia e estagnaccedilatildeo econocircmica consolidou o

processo de convergecircncia com as economias das potecircncias europeias mais desenvolvidas

vivendo momento particularmente exitoso nos desafios econocircmicos e poliacuteticos

(FRISCHTAK 2000) Nesse cenaacuterio Brasil e Portugal guardam entre si a capacidade de

crescimento raacutepido de suas economias

As relaccedilotildees econocircmicas externas de Portugal e Brasil nessas uacuteltimas duas deacutecadas tecircm

sido marcadas decisivamente pelos processos de integraccedilatildeo econocircmica na Europa e na

Ameacuterica do Sul respectivamente os quais conferem traccedilos importantes agrave trajetoacuteria das

respectivas relaccedilotildees econocircmicas externas com claro aprofundamento do relacionamento

comercial entre as economias da Peniacutensula Ibeacuterica e a Ameacuterica Latina (MATEUS 2000)

Atuando dentro desse ambiente o Brasil vem adotando uma postura de fomento ao

investimento estrangeiro sobretudo quando este se faz acompanhar de novas tecnologias

Aleacutem disso o Brasil vem estimulando a formaccedilatildeo de parcerias alavancando as vantagens

advindas da evoluccedilatildeo demograacutefica que se revela uma importante condicionante do

desenvolvimento de longo prazo (LEAL 2000)

Sob outro ponto de vista para a Europa a conquista dos mercados jovens da Ameacuterica

Latina especialmente o emergente Brasil significa um grande fator de alavancagem do seu

crescimento econocircmico Com isso tanto para o Brasil quanto para Portugal existem inuacutemeras

vantagens em colaborar para um aumento das parcerias empresariais entre Ameacuterica do Sul e

Europa

Juntamente com a histoacuterica abertura desses espaccedilos agrave cooperaccedilatildeo entre os dois paiacuteses

visando agrave internacionalizaccedilatildeo das empresas e em busca de novas oportunidades tem sido

verificado que atualmente diversos negoacutecios internacionais tecircm ocorrido por meio da

organizaccedilatildeo e conduccedilatildeo de um processo de parceria de rumo e visatildeo estrateacutegica para esses

paiacuteses Alguns desses negoacutecios satildeo realizados por meio de conjuntos de redes nas quais

diferentes atores estatildeo ligados uns aos outros mediante relacionamentos empresariais diretos e

indiretos (SILVA 2002)

A formaccedilatildeo da parceria econocircmica bilateral luso-brasileira dinamizada pela existecircncia

de fortes raiacutezes culturais em comum e alicerccedilada e empenhada em termos estrateacutegicos coloca

novos desafios aos dois paiacuteses (SILVA 2002) e tambeacutem revela uma componente relevante a

formaccedilatildeo de redes estrateacutegicas compreendendo um conjunto de relacionamentos das

empresas tanto horizontais como verticais com outras organizaccedilotildees ndash fornecedores clientes

concorrentes e outras entidades ndash incluindo relaccedilotildees que atravessam as fronteiras das

induacutestrias paiacuteses e continentes e correlacionam-se com diversas capacidades empresariais

tais como produccedilatildeo marketing distribuiccedilatildeo conhecimento e acesso a novas tecnologias

Uma das atividades de grande importacircncia no cenaacuterio internacional e que tambeacutem estaacute

presente no ambiente luso-brasileiro eacute a participaccedilatildeo em projetos de energia especialmente a

atividade de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo notadamente nas bacias sedimentares

mariacutetimas com destaque para a exploraccedilatildeo em aacuteguas profundas (RIBEIRO 2000)

Especificamente trata-se de um segmento que caracteriza-se pela complexidade das

operaccedilotildees no qual os empreendimentos satildeo considerados de alto risco e demandam grande

volume de recursos financeiros para sua execuccedilatildeo Os projetos satildeo de longa maturaccedilatildeo com a

recuperaccedilatildeo desses investimentos sendo realizada ao longo de grandes periacuteodos de tempo No

ambiente luso-brasileiro tratam-se de atividades que tecircm ganhado relevacircncia ao longo dos

uacuteltimos anos (preacute-sal brasileiro e investigaccedilotildees offshore em Portugal) e reproduzem algumas

das caracteriacutesticas supracitadas

No acircmbito empresarial desse segmento variaacuteveis que envolvem questotildees geopoliacuteticas

tecnoloacutegicas de riscos negociais e poliacuteticos interesses nacionais e dos demais stakeholders

de estrutura organizacional recursos internos posicionamento e dinacircmica de mercado dentre

outras satildeo consideradas no processo de formulaccedilatildeo das estrateacutegias das companhias

petroliacuteferas

Ainda no que se refere agraves relaccedilotildees entre os dois paiacuteses dentro desse segmento

verifica-se a formaccedilatildeo de alianccedilas estrateacutegicas e joint ventures por meio de redes e realizaccedilatildeo

de operaccedilotildees conjuntas entre empresas brasileiras e portuguesas as quais guardam

caracteriacutesticas hiacutebridas por incluiacuterem em seu processo estrateacutegico dentre outros fatores tanto

os interesses dos acionistas e stakeholders e foco em resultados financeiros quanto a

participaccedilatildeo e influecircncia governamental na estruturaccedilatildeo execuccedilatildeo e acompanhamento das

estrateacutegias formuladas aleacutem da combinaccedilatildeo de elementos da administraccedilatildeo puacuteblica com

caracteriacutesticas de empresas privadas (CHU ampWOOD Jr 2008)

Ampliando os limites do contexto das relaccedilotildees Brasil-Portugal verifica-se tambeacutem

que esses paiacuteses estatildeo inseridos num cenaacuterio global no qual as estruturas econocircmicas

caracterizam-se de forma cada vez mais acentuada pelo alto niacutevel de importacircncia conferido

ao mercado foco central para o desempenho superior e sustentaacutevel das grandes empresas e

corporaccedilotildees e por uma pesada tendecircncia em direccedilatildeo agrave mundializaccedilatildeo das atividades e dos

agentes econocircmicos seguindo os modelos e conceitos construiacutedos no mundo anglo-americano

(MATEUS 2000 FARIA 2008a FARIA 2008c e FARIA amp IMASATO 2008)

Trata-se de fenocircmeno cuja designaccedilatildeo mais corrente e consagrada se encontra na

expressatildeo intrinsicamente hiacutebrida globalizaccedilatildeo que reflete-se numa espeacutecie de ideologia de

construccedilatildeo de realidades mundiais a qual atinge em seu acircmago processos produtos e

estrateacutegias Globalizaccedilatildeo que para alguns eacute uma etapa mais avanccedilada e intensa do processo

de internacionalizaccedilatildeo (LUZ 1999) implica maior conhecimento da singularidade regional

(CABRAL 1999) e induz organizaccedilotildees e abordagens administrativas a se tornarem

diferenciadas muacuteltiplas e hiacutebridas aleacutem de ser indissociaacutevel do modo de ldquoOrganizaccedilatildeo em

Rederdquo tido como o mais adaptado agrave expansatildeo da economia e agrave crescente heterogeneidade dos

atores (RIBEIRO 2000 MATEUS 2000 SANTOS 2001 LEVY 2005 e CALAacuteS amp

ARIAS 2007)

Adicionalmente a literatura dominante em estrateacutegia (gerada e difundida pelos EUA)

argumenta enfaticamente que a estrateacutegia corporativa deve ser ainda mais integrada e

uniforme dentro da grande empresa devido agraves forccedilas do mercado global (FARIA 2008c) A

globalizaccedilatildeo em conjunto com a mercadizaccedilatildeo demanda a construccedilatildeo de estrateacutegias que

contemplem dentre outros itens a viabilizaccedilatildeo do acesso a novos mercados e a novas fontes

de capital a mitigaccedilatildeo de riscos No entanto numa visatildeo criacutetica eacute possiacutevel a construccedilatildeo e

reforccedilo da cooperaccedilatildeo empresarial a integraccedilatildeo da cadeia de valor principalmente nas

operaccedilotildees internacionais e tambeacutem o reconhecimento e alargamento de relaccedilotildees e interaccedilotildees

desprezadas pela literatura dominante como as relaccedilotildees de natildeo-mercado e as interaccedilotildees entre

poder poliacutetica Estado sociedade e organizaccedilotildees

A aacuterea de estrateacutegia apresenta como caracteriacutesticas centrais a criaccedilatildeo uso e difusatildeo de

modelos e conceitos que ajudam a construir ou manter a autoridade do estrategista da grande

empresa alicerccedilada no paradigma da entidade autocircnoma o forte embasamento nas teorias

econocircmicas o desprezo agraves questotildees de poder e poliacutetica a predominacircncia dos referenciais

teoacutericos produzidos no ambiente anglo-americano sobre a produccedilatildeo local e a prescriccedilatildeo de

modelos estrateacutegicos universais aleacutem da falta profundidade teoacuterica e conceitual que ajude a

melhor compreender o fenocircmeno das redes (FARIA 2006 FARIA 2008b FARIA amp

IMASATO 2008 HAMBRICK 2004 WILSON amp JARZABKOWSKI 2004 VOLBERDA

2004 e KNIGHTS amp MORGAN 1991)

Ademais apesar do meio-ambiente empresarial ser composto de fatores de mercado e

de natildeo-mercado a teoria predominante (difundida principalmente pelos EUA) designa maior

relevacircncia e foco agrave tese da mercadizaccedilatildeo que reproduz os princiacutepios do neoliberalismo e

marginaliza as demais teorias de mercado que satildeo de fundamental importacircncia para a

compreensatildeo do desempenho das empresas (FARIA 2008a)

Exemplos de teorias marginalizadas satildeo as que endereccedilam o reconhecimento das

interfaces entre mercado Estado e sociedade Tratam-se de teorias que por exemplo revelam

o reconhecimento de que estrateacutegias de natildeo-mercado focadas nas oportunidades controladas

pelo Estado entidades governamentais grupos de interesse e dinacircmicas soacutecio-poliacuteticas dos

mercados satildeo tatildeo importantes quanto estrateacutegias de mercado em economias emergentes e em

economias em transiccedilatildeo como eacute o caso do Brasil e Portugal respectivamente (BARON

1995a BARON 1995b FARIA 2008a e FARIA amp IMASATO 2008)

Especialmente em relaccedilatildeo ao ambiente luso-brasileiro verifica-se que muitas das

caracteriacutesticas culturais e institucionais presentes no Brasil e em Portugal satildeo mais

semelhantes entre si do que as observadas e privilegiadas nas economias mais desenvolvidas

(notadamente do ambiente anglo-saxatildeo Estados Unidos Gratilde-Bretanha Canadaacute e Austraacutelia)

que incorporam plenamente o liberalismo (ALBUQUERQUE 2000) No eixo Brasil-

Portugal os papeacuteis responsabilidades e as praacuteticas do Estado do mercado e de outras

instituiccedilotildees relevantes natildeo satildeo necessariamente coincidentes com o que a literatura dominante

(anglo-americana) descreve e prescreve para o mundo (FARIA amp IMASATO 2008)

Em relaccedilatildeo a esse aspecto existem evidecircncias de que as dimensotildees poliacutetica e social

dos mercados continuam guardando relevacircncia na era da globalizaccedilatildeo em especial nas

economias emergentes e em desenvolvimento como eacute o caso de Brasil e Portugal

contrariamente ao que preconiza a literatura dominante a qual eacute explicada por interesses

poliacuteticos e econocircmicos especiacuteficos (FARIA 2008c)

Aleacutem do alinhamento cultural linguiacutestico e histoacuterico traccedilos marcantes que impactam

diretamente a cultura brasileira e portuguesa na gestatildeo das organizaccedilotildees haacute uma loacutegica de

cunho estrateacutegico no aprofundamento das relaccedilotildees entre os dois paiacuteses (FLORES Jr 2000 e

CHU ampWOOD Jr 2008) que demanda e fomenta o aprofundamento das relaccedilotildees econocircmicas

em comum com uso de mecanismos de articulaccedilatildeo entre Portugal e o Brasil que permitam

atingir objetivos essenciais como o desenvolvimento econocircmico social e a afirmaccedilatildeo

conjunta no cenaacuterio internacional (LOPES 2000)

Com a crescente importacircncia que tecircm tomado os negoacutecios no cenaacuterio luso-brasileiro

revelada pela realizaccedilatildeo de relevantes investimentos diretos de corporaccedilotildees portuguesas no

Brasil e de empresas brasileiras em Portugal tem ocorrido uma preocupaccedilatildeo das empresas

localizadas nesse ambiente com as especificidades desses mercados e com o domiacutenio dos

EUA no campo da administraccedilatildeo Essa preocupaccedilatildeo pode possibilitar aos pesquisadores desse

contexto numa visatildeo criacutetica plural e multicultural a construccedilatildeo de uma perspectiva luso-

brasileira no acircmbito da estrateacutegia que reconheccedila natildeo somente os interesses das empresas mas

tambeacutem os de governos as relaccedilotildees governo-empresa sociedade-empresa e da empresa com

diferentes tipos de stakeholders (FARIA 2008c)

O objetivo principal dessa obra eacute identificar a importacircncia e a interaccedilatildeo entre as

estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado em redes de organizaccedilotildees hiacutebridas no contexto luso-

brasileiro da induacutestria do petroacuteleo

De modo mais especiacutefico buscar-se-aacute verificar ateacute que ponto os conceitos e

frameworks da literatura dominante ajudam a compreender e a explicar os processos de

estruturaccedilatildeo da estrateacutegia de empresas hiacutebridas brasileiras e portuguesas na induacutestria

petroliacutefera Tambeacutem dentro dessa visatildeo o projeto adicionalmente apresenta como objetivo

discutir e reforccedilar conhecimentos que desafiem os pressupostos dominantes da loacutegica de

mercado estabelecidos pelo mundo anglo-americano

12 Justificativa da escolha do tema

O estudo das relaccedilotildees entre Portugal e Brasil eacute um tema muito complexo dada a

extensatildeo do paiacutes sul-americano e a longa duraccedilatildeo dos contatos entre as naccedilotildees praticamente

sem interrupccedilatildeo desde 1500 (FARINHA 2001) A literatura existente indica que os estudos

existentes sobre as relaccedilotildees bilaterais entre os dois paiacuteses nos seacuteculos XIX e XX satildeo raros

mas os estudos das relaccedilotildees internacionais em Portugal e no Brasil ampliaram-se muito nas

uacuteltimas deacutecadas revelando uma evoluccedilatildeo condizente com o momento atual (CERVO 2001)

No que se refere ao volume de recursos financeiros entre 1995 e 2001 Portugal foi o

quinto paiacutes em volume de investimentos no Brasil (SILVA 2002) Atualmente verifica-se

que o investimento direto de Portugal no Brasil apresenta nuacutemeros significativos com

grandes empresas portuguesas realizando investimentos relevantes no Brasil tais como1

Vale salientar que estudos recentes demonstraram que os investimentos portugueses

no Brasil satildeo motivados pela liacutengua comum a proximidade cultural e pelos laccedilos histoacutericos

que ligam os paiacuteses o que revela que natildeo somente os motivos estritamente econocircmicos

previstos na literatura dominante satildeo levados em consideraccedilatildeo (SILVA 2005)

Adicionalmente as relaccedilotildees entre os governos dos paiacuteses e viacutenculos institucionais satildeo

relevantes para a realizaccedilatildeo dos recentes investimentos assim como as estrateacutegias efetivadas

no cenaacuterio luso brasileiro (CAVALCANTI et al 2008)

Sonae (distribuiccedilatildeo) CIMPOR (cimentos) IPE (aacutegua e saneamento) Caixa Geral de

Depoacutesitos e Grupo Espiacuterito Santo (setor bancaacuterio) Portugal Telecom Eletricidade de

Portugal PetrogalGalp Energia (companhia petroliacutefera) Quintas amp Quintas (autopeccedilas e

telecomunicaccedilotildees) Sodeacutecia (autopeccedilas) Frezite (autopeccedilas) Logoplaste (embalagens)

Simoldes (autopeccedilas) dentre outros (SANTOS 2000 e MARQUES 2000)

O investimento direto brasileiro em Portugal apresenta contornos bem diversos

havendo uma assimetria neste momento nas relaccedilotildees entre os dois paiacuteses (LUCENA 2000)

O investimento direto brasileiro em Portugal teve o seu grande momento no final da deacutecada

de 80 ateacute 1994 A partir desse periacuteodo o investimento quase parou (MARQUES 2000)

talvez devido ao fato de Portugal ter bem menos oportunidades em aberto do que o Brasil

(LUCENA 2000)

1 A relaccedilatildeo dessas empresas e alguns detalhes de suas principais atividades no Brasil constam do Apecircndice 1

No entanto haacute em andamento uma perspectiva de muacutetuo benefiacutecio que direciona os

dois paiacuteses no sentido do aprofundamento de suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Para Portugal eacute

voltar-se uma vez mais para uma fronteira de oportunidades aberta haacute 500 anos Jaacute para o

Brasil este movimento de parceria vem representar a colaboraccedilatildeo de Portugal para romper as

barreiras ao crescimento sustentado da economia brasileira (FRISCHTAK 2000)

Especialmente nas atividades de exploraccedilatildeo de petroacuteleo Brasil e Portugal

respectivamente por meio das empresas consideradas hiacutebridas e em processo de

internacionalizaccedilatildeo Petrobras e Galp exercem na praacutetica atividades de cooperaccedilatildeo por

meio da formaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de redes estrateacutegicas especificamente com a utilizaccedilatildeo de joint

ventures

No Brasil a formaccedilatildeo de joint ventures no segmento petroliacutefero somente foi

autorizada com a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 947897 a chamada Lei do Petroacuteleo que veio a

instituir o fim do monopoacutelio estatal exercido pela Petroacuteleo Brasileiro SA ndash Petrobras desde

sua criaccedilatildeo em outubro de 1953 sobre as atividades de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo

(EampP)

No entanto a execuccedilatildeo das atividades petroliacuteferas sob a forma de parcerias natildeo foi

iniciada imediatamente ao fim do monopoacutelio estatal Satildeo atividades notadamente recentes

executadas de forma mais efetiva a partir do ano 2000 quando das primeiras cessotildees parciais

de participaccedilatildeo detidas pela Petrobras em aacutereas de exploraccedilatildeo petroliacutefera para outras

companhias de petroacuteleo

Jaacute em Portugal as atividades de prospecccedilatildeo e pesquisa de petroacuteleo foram objeto de

grande desenvolvimento durante quase toda a deacutecada de 70 beneficiando-se de uma

conjuntura internacional favoraacutevel No entanto nas uacuteltimas duas deacutecadas tais atividades

abrandaram consideravelmente em funccedilatildeo do esgotamento da capacidade de resposta dos

meios tecnoloacutegicos existentes agrave eacutepoca

Visando dar um novo impulso a essas atividades principalmente offshore por meio do

Decreto-Lei 10994 foram simplificadas as regras de concessatildeo de aacutereas e implementadas

regras e procedimentos administrativos mais claros e simples melhor ajustados agrave realidade e agrave

praacutetica da induacutestria o que resultou num significativo incremento das atividades na induacutestria

petroliacutefera portuguesa com a assinatura de novos contratos de concessatildeo

Tanto em Portugal quanto no Brasil Petrobras e Galp desempenham suas operaccedilotildees

de forma associada como integrantes de uma mesma rede que atua numa atividade jovem

(nas respectivas naccedilotildees) que vem ganhando relevacircncia ao longo dos anos e implicado

mudanccedilas estruturais em ambos os paiacuteses o que representa um desafio no que se refere agrave

anaacutelise e discussatildeo de suas peculiaridades em especial no que se refere agraves suas implicaccedilotildees e

contornos estrateacutegicos que satildeo componentes de anaacutelise ainda pouco conhecidasinvestigadas

das relaccedilotildees bilaterais luso-brasileiras

No que se refere agrave estrateacutegia devido a questotildees histoacutericas e geograacuteficas o

conhecimento que hoje existe sobre essa disciplina eacute predominantemente gerado na Ameacuterica

no Norte sendo constituiacutedo por um grande conjunto de ideias teorias e perspectivas

defendidas por um amplo espectro de autores o que configura um conjunto baseado em

paradigmas maduros e suposiccedilotildees incompletas sendo aplicado de forma sistemaacutetica em

economias emergentes e em transiccedilatildeo Adicionalmente apesar da internacionalizaccedilatildeo de

Petrobras Galp e demais empresas brasileiras e portuguesas na era da globalizaccedilatildeo as

literaturas acadecircmicas de Gestatildeo no Brasil e em Portugal natildeo vecircm dando o merecido destaque

ao conhecimento acadecircmico na aacuterea de estrateacutegia (FARIA amp IMASATO 2008)

O predomiacutenio dessas teorias originadas nos EUA especialmente ligadas ao

neoliberalismo e agrave orientaccedilatildeo para o mercado natildeo revela a importacircncia das dinacircmicas soacutecio-

poliacuteticas as quais representam uma caracteriacutestica tiacutepica de economias de paiacuteses emergentes

como o Brasil (FARIA 2008a e 2008b) Nesse contexto estudos sobre estrateacutegias voltadas

para o ambiente de interaccedilotildees entre a sociedade Estado instituiccedilotildees puacuteblicas e demais

stakeholders ainda satildeo considerados uma anomalia perante a corrente de pensamento

americana

No entanto Brasil e Portugal guardam semelhanccedilas histoacuterico-institucionais como a

forte presenccedila do Estado e de organizaccedilotildees governamentais na regulaccedilatildeo do mercado e o uso

intenso de estrateacutegias de natildeo-mercado pelas empresas O mercado nesses paiacuteses eacute moldado e

mobilizado natildeo somente por empresas mas tambeacutem pelo Estado e pela sociedade civil

(GUEDES 2008) Essas semelhanccedilas e caracteriacutesticas entretanto natildeo as tornam inferiores

em relaccedilatildeo a outros tipos de governanccedila poliacutetico-econocircmica como os prescritos pela literatura

dominante em estrateacutegia (FARIA amp IMASATO 2008)

No que tange agraves redes estrateacutegicas apesar de ser um tema que tem ganhado

importacircncia e atraiacutedo esforccedilos de pesquisa o estudo de redes inseridas no contexto estrateacutegico

de interaccedilotildees no ambiente de natildeo-mercado e que envolvam caracteriacutesticas subjetivas ainda eacute

discutido marginalmente Toma-se como exemplo o ambiente de relaccedilotildees bilaterais entre

Brasil e Portugal onde basicamente inexiste literatura sobre redes luso-brasileiras

Com o atual contexto de crescentes volumes de investimentos diretos no mundo luso-

brasileiro e a crescente internacionalizaccedilatildeo das empresas de Portugal e do Brasil na era da

globalizaccedilatildeo (FARIA amp IMASATO 2008) faz-se necessaacuterio teorizar e investigar a disciplina

nessas economias emergentes e menos desenvolvidas com vistas a desafiar os pressupostos

dominantes (GUEDES 2008) e verificar ateacute que ponto os conceitos e frameworks da

literatura dominante ajudam a compreender e a explicar os processos de estruturaccedilatildeo da

estrateacutegia alicerccedilada em redes de empresas brasileiras e portuguesas tambeacutem na induacutestria

petroliacutefera

Segundo alguns autores destacam as economias emergentes tais como China Ruacutessia

Iacutendia e Brasil reuacutenem poderes para desafiar a hegemonia dos EUA no mundo globalizado e

com isso fomentar a construccedilatildeo e disseminaccedilatildeo tambeacutem em escala global de um outro tipo de

capitalismo (FARIA 2008c)

Nesse sentido as relaccedilotildees luso-brasileiras constituem-se num interessante e atual

estudo de caso no acircmbito estrateacutegico das relaccedilotildees econocircmicas internacionais alicerccediladas sobre

redes inter-firmas (SILVA 2002) em especial as redes formadas na induacutestria petroliacutefera de

Brasil e Portugal Trata-se de uma induacutestria altamente relevante em termos econocircmicos e

geopoliacuteticos mas cuja exploraccedilatildeo eacute relativamente recente em ambos os paiacuteses os quais

guardam relacionamento histoacuterico e semelhanccedilas culturais e institucionais principalmente a

forte presenccedila do Estado na regulaccedilatildeo do mercado e o uso intenso de estrateacutegias de natildeo-

mercado pelas empresas (FARIA amp IMASATO 2008)

Justifica-se tambeacutem a escolha do tema proposto em virtude de tratar-se de

oportunidade para analisar o contexto empresarial luso-brasileiro que tem se tornado cada vez

mais relevante nos uacuteltimos anos no que se refere aos seus contornos e componentes

estrateacutegicos sobretudo quanto agrave utilizaccedilatildeo formato e caracteriacutesticas de suas redes estrateacutegicas

e da interaccedilatildeo entre estrateacutegias voltadas para o mercado e estrateacutegias natildeo-mercado Aleacutem

disso trata-se de boa oportunidade para ajudar a diminuir a extraordinaacuteria carecircncia de

pesquisas focadas no acircmbito luso-brasileiro na aacuterea de administraccedilatildeo (GUEDES 2008)

De outro modo a construccedilatildeo eou o entendimento do modelo estrateacutegico das relaccedilotildees

luso-brasileiras demanda o alargamento das ligaccedilotildees existentes entre a economia e a

sociedade seja por meio da difusatildeo de conhecimentos ou atraveacutes da intensificaccedilatildeo do

conteuacutedo cientiacutefico e teacutecnico dessas relaccedilotildees o que pode ser realizado pelas universidades

centros de investigaccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas nessa aacuterea como esta (MATEUS

Por fim considerando que a aacuterea de estrateacutegia eacute considerada noviacutessima no Brasil o

que se manifesta na existecircncia de poucos autores que tenham uma tradiccedilatildeo de exerciacutecio

profissional em estrateacutegia (BERTERO et al 2003) o desenvolvimento de obras sobre esse

assunto vem a contribuir para a disciplina como um todo agrave medida que discute e revela os

novos contornos e caracteriacutesticas da estrateacutegia e ajuda a produzir conhecimento local que

desafie o domiacutenio dos EUA (GUEDES 2008)

13 Delimitaccedilatildeo do estudo e de conceitos

Devido a restriccedilotildees logiacutesticas e de tempo para conclusatildeo da pesquisa o estudo

realizado teve como foco a anaacutelise de dados primaacuterios coletados atraveacutes de entrevistas

realizadas com profissionais de diversos niacuteveis hieraacuterquicos da Petrobras considerando as

operaccedilotildees do segmento de Exploraccedilatildeo amp Produccedilatildeo de petroacuteleo responsaacutevel por gerir as

parcerias que fazem parte da rede formada por Petrobras e Galp

O estudo de dados secundaacuterios considerou uma amplitude maior de informaccedilotildees

sendo possiacutevel coletar dados tanto da Petrobras quanto da Galp e adicionalmente foram

obtidas informaccedilotildees relevantes da ldquosupra rederdquo formada por Brasil e Portugal com detalhes

da envoltoacuteria que circunda e antepara as operaccedilotildees estrateacutegicas envolvendo ambos paiacuteses

Durante a construccedilatildeo da revisatildeo de literatura e do estudo de caso satildeo mencionados

diversos conceitos e siglas cujos mais relevantes satildeo delimitados a seguir

i Estrateacutegia ndash O conceito de estrateacutegia como seraacute visto no capiacutetulo 3 eacute alvo de

frequentes discussotildees sendo definido de diversas formas Nesse momento natildeo seraacute

exposta nenhuma definiccedilatildeo a priori de estrateacutegia ficando esse conceito melhor

delimitado ao final da revisatildeo de literatura

ii EampP ndash Significa a atividade de exploraccedilatildeo de campos de petroacuteleo que consiste na

realizaccedilatildeo de estudos geoloacutegicos anaacutelises geofiacutesicas e interpretaccedilatildeo dos resultados

aleacutem da realizaccedilatildeo de perfuraccedilatildeo de poccedilos e seu preparo para produccedilatildeo de

hidrocarbonetos

iii Upstream ndash Similar ao conceito de EampP upstream significa o processo de exploraccedilatildeo

e desenvolvimento de campos de petroacuteleo

iv Parceria ndash No acircmbito geral uma parceria pode representar a uniatildeo de empresas

visando um objetivo estrateacutegico comum podendo haver ou natildeo a constituiccedilatildeo de uma

nova sociedade Jaacute no acircmbito da induacutestria petroliacutefera luso-brasileira pode ser

representada pelos consoacutercios formados entre empresas

v Consoacutercio ndash O consoacutercio eacute uma associaccedilatildeo contratual sem personalidade juriacutedica

entre duas ou mais sociedades com atividades em comum e complementares que

objetivam juntar esforccedilos para a realizaccedilatildeo de determinado empreendimento

vi Joint venture ndash Constitui-se numa forma distinta de relacionamento estrateacutegico

representando o estabelecimento de um negoacutecio separado por duas ou mais empresas

parceiras No acircmbito da induacutestria petroliacutefera luso-brasileira as joint ventures satildeo

materializadas por meio dos consoacutercios

vii Blocos blocos exploratoacuterios ndash Significam blocos adquiridos por meio de leilotildees

promovidos pelo ente governamental concedente ou por negociaccedilatildeo direta com os

proprietaacuterios dos direitos de concessatildeo Satildeo designados exploratoacuterios quando ainda

encontram-se na fase de investigaccedilatildeo do potencial petroliacutefero (obtenccedilatildeo de dados

siacutesmicos interpretaccedilatildeo siacutesmica perfuraccedilatildeo de poccedilos pioneiros etc)

viii On offshore ndash No acircmbito da induacutestria petroliacutefera em geral significam

respectivamente as operaccedilotildees em campos terrestres (onshore) e em campos mariacutetimos

(offshore)

ix ANP ndash Agecircncia Nacional do Petroacuteleo

14 Estrutura da dissertaccedilatildeo

A dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em oito capiacutetulos O primeiro deles diz respeito agrave

introduccedilatildeo agrave pesquisa na qual satildeo abordados os aspectos relevantes ligados agrave justificativa da

escolha do tema e agrave contextualizaccedilatildeo e importacircncia da investigaccedilatildeo do problema de pesquisa

o qual seraacute detalhado no segundo capiacutetulo juntamente com os objetivos gerais e especiacuteficos e

os resultados esperados

O terceiro capiacutetulo reserva-se agrave revisatildeo de literatura na qual seratildeo expostas as

principais caracteriacutesticas da literatura dominante e das abordagens pluralistas

Adicionalmente seratildeo evidenciados um histoacuterico da disciplina o paradigma de redes as

estrateacutegias de natildeo-mercado as definiccedilotildees sobre organizaccedilotildees hiacutebridas e o cenaacuterio da induacutestria

petroliacutefera Por fim seraacute apresentado o framework da pesquisa visando informar o leitor

sobre a siacutentese do anteparo teoacuterico que o autor do trabalho utilizou para representar a

realidade investigada na pesquisa de campo

O quarto capiacutetulo destina foco ao meacutetodo de pesquisa indicando consideraccedilotildees

epistemoloacutegicas a estrateacutegia de pesquisa e a forma de coleta dos dados que seratildeo analisados

no capiacutetulo cinco onde tambeacutem seratildeo apresentados os resultados da pesquisa O sexto

capiacutetulo dedica-se agraves conclusotildees e recomendaccedilotildees contribuiccedilotildees do estudo para praticantes e

acadecircmicos aleacutem das indicaccedilotildees e sugestotildees para pesquisas futuras

Finalizando a dissertaccedilatildeo no capiacutetulo seacutetimo satildeo indicadas as referecircncias

bibliograacuteficas utilizadas para o desenvolvimento da parte teoacuterica e do trabalho de campo da

pesquisa Jaacute o capiacutetulo oitavo eacute reservado aos apecircndices isto eacute informaccedilotildees relevantes que

servem de complementaccedilatildeocomprovaccedilatildeo das informaccedilotildees alocadas nas diversas seccedilotildees e

subseccedilotildees da dissertaccedilatildeo

2 O PROBLEMA

21 Perguntas de Pesquisa

Definir as questotildees de pesquisa eacute provavelmente o passo mais importante a ser

considerado durante o estudo de uma pesquisa devido agrave sua relevacircncia no processo de

identificaccedilatildeo e compreensatildeo daquilo que seraacute investigado e porque fornece indiacutecios da

estrateacutegia de pesquisa a ser utilizada a partir do reconhecimento de que as questotildees possuem

substacircncia (ldquosobre o que eacute o estudordquo) e tambeacutem forma (a pergunta eacute do tipo ldquoquemrdquo ldquoo querdquo

ldquocomordquo ou ldquopor querdquo) (YIN 2005)

Considerando a hegemonia anglo-americana na disciplina que enfatiza conceitos e

modelos alicerccedilados no paradigma da entidade autocircnoma e caracteriza-se pelo forte

embasamento nas teorias econocircmicas desprezo agraves questotildees de poder e poliacutetica

predominacircncia dos referenciais teoacutericos produzidos no ambiente anglo-americano em

detrimento da produccedilatildeo local e prescriccedilatildeo de modelos estrateacutegicos universais surge uma

inquietaccedilatildeo do pesquisador em relaccedilatildeo agrave aplicabilidade desses conceitos e modelos firmados

pela literatura dominante na disciplina no contexto de paiacuteses emergentes e em transiccedilatildeo como

Brasil e Portugal

Ademais tendo em vista a atividade de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo representar

uma atividade relevante e relativamente nova no cenaacuterio da induacutestria nacional e portuguesa

considerando que montantes relevantes de investimentos tecircm sido realizados e diante da

necessidade de pesquisas sobre processos que envolvam a formaccedilatildeo de redes de empresas no

relacionamento Brasil-Portugal torna-se necessaacuterio aprofundar a compreensatildeo acerca de suas

principais caracteriacutesticas seus fundamentos teoacutericos e praacuteticos e de suas implicaccedilotildees e

componentes estrateacutegicos

Em funccedilatildeo das caracteriacutesticas e peculiaridades desse cenaacuterio para os profissionais

(administradores consultores professores estudantes etc) e demais interessados envolvidos

com o processo estrateacutegico especificamente envolvendo empresas hiacutebridas no segmento de

petroacuteleo vaacuterios questionamentos surgem sobre o processo de formaccedilatildeo de redes no ambiente

luso-brasileiro

Apresentam-se entatildeo como perguntas a serem respondidas por essa pesquisa Como e

porque foram formadas essas redes Por que essas empresas se associaram em detrimento de

se associarem a outras companhias congecircneres com origem em outros contextos culturas e

ambientes institucionais Quais satildeo as caracteriacutesticas dos relacionamentos existentes

atualmente nas redes e alianccedilas estrateacutegicas nessa induacutestria Como se desenvolveram esses

relacionamentos Quais os componentes estrateacutegicos envolvidos Quais estrateacutegias de natildeo-

mercado foram utilizadasdelineadas Como e porque estrateacutegias de natildeo-mercado foram

gerenciadas Quais satildeo e como funcionam as interfaces entre as estrateacutegias de mercado e natildeo

mercado Que consideraccedilotildees satildeo importantes no planejamento estrateacutegico de formaccedilatildeo de

parcerias entre essas empresas no contexto luso-brasileiro

Esses questionamentos podem ser consolidados numa uacutenica questatildeoproblema como e

por que satildeo formuladas e implementadas estrateacutegias com a utilizaccedilatildeo de redes de

organizaccedilotildees hiacutebridas e como estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado interagem utilizando-

se como foco de anaacutelise o contexto das relaccedilotildees Brasil-Portugal especificamente as relaccedilotildees

empresariais luso-brasileiras na induacutestria do petroacuteleo entre Petrobras e Galp Energia

Tomando como foco a questatildeo de pesquisa acima apresentada buscar-se-aacute verificar

ateacute que ponto os conceitos e frameworks da literatura dominante ajudam a compreender e a

explicar os processos de estruturaccedilatildeo de estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado em redes

entre empresas brasileiras e portuguesas na induacutestria petroliacutefera Ainda dentro desse aspecto

o projeto tambeacutem apresenta como objetivo discutir e reforccedilar conhecimentos que desafiem os

pressupostos dominantes da loacutegica de mercado estabelecidos pelo mundo anglo-americano

22 Objetivos gerais e especiacuteficos

O objetivo geral desse estudo eacute explicar como e porque satildeo formadas redes entre

organizaccedilotildees hiacutebridas de Brasil e Portugal aleacutem de revelar e compreender a interaccedilatildeo entre

estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado utilizadas por essas organizaccedilotildees no caso as

empresas petroliacuteferas no acircmbito do cenaacuterio luso-brasileiro Para que esse objetivo seja

atingido a pesquisa parte de uma observaccedilatildeo das caracteriacutesticas de Petrobras e Galp Energia

das origens dessas empresas dos cenaacuterios em que ambas atuam de forma conjunta aleacutem da

coleta de dados em diversas fontes Visando atingir esse objetivo o pesquisador procedeu a

uma anaacutelise dos relatos de profissionais (praticantes) acerca dos conteuacutedos estrateacutegicos dessa

rede que envolve Petrobras e Galp

Em termos de objetivos especiacuteficos a pesquisa visa verificar como definiccedilotildees

conceitos e estruturas analiacuteticas de entendimento e reconhecimento da estrateacutegia presentes na

literatura dominante na disciplina possibilitam aos nela interessados compreender entender e

justificar as accedilotildees estrateacutegicas de empresas situadas no cenaacuterio luso-brasileiro mais

especificamente de Petrobras e Galp Adicionalmente considerando a natureza da

investigaccedilatildeo a pesquisa visa discutir e reforccedilar conhecimentos que desafiem os pressupostos

dominantes da loacutegica de mercado estabelecidos pelo mundo anglo-americano

Tanto para atingir esses objetivos especiacuteficos quanto para atingir o objetivo geral da

pesquisa na parte dedicada agrave revisatildeo de literatura (capiacutetulo 3) essa obre reuacutene os conceitos

definiccedilotildees e frameworks da literatura dominante que revela a hegemonia anglo-americana da

disciplina aleacutem das diversas visotildees e definiccedilotildees sobre redes estrateacutegias de natildeo-mercado

organizaccedilotildees hiacutebridas e o cenaacuterio da induacutestria do petroacuteleo no Brasil e Portugal

Por fim a anaacutelise das informaccedilotildees obtidas dos dados coletados e a verificaccedilatildeo de sua

correlaccedilatildeo com a literatura dominante da disciplina satildeo apresentadas no capiacutetulo 5

23 Resultados esperados

Essa pesquisa seraacute conduzida por meio de um estudo de caso envolvendo as empresas

Petrobras e Galp Energia cujos detalhes encontram-se no capiacutetulo 5 visando averiguar como

e por que satildeo formuladas e implementadas estrateacutegias com a utilizaccedilatildeo de redes de

organizaccedilotildees hiacutebridas e como estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado interagem nessas

Pretende-se obter como principais resultados desse estudo de caso (i) a confirmaccedilatildeo

de que Petrobras e Galp empresas petroliacuteferas do cenaacuterio luso-brasileiro utilizam-se de

estrateacutegias de natildeo-mercado nas redes em que atuam (ii) a evidenciaccedilatildeo da existecircncia de uma

ldquosupra-rederdquo composta de fatores dos acircmbitos puacuteblico e privado que antepara as relaccedilotildees

entre essas empresas (iii) a comprovaccedilatildeo de que os conceitos e frameworks da literatura

dominante em estrateacutegia natildeo satildeo suficientescompletos e natildeo satildeo totalmente aplicaacuteveis para

cenaacuterios fora do contexto anglo-americano (especialmente o cenaacuterio luso-brasileiro da

induacutestria petroliacutefera) (iv) a visualizaccedilatildeo de que empresas hiacutebridas como Petrobras e Galp

dependendo do momento e do acircngulo que satildeo observadas apresentam-se ora mais alinhadas a

questotildees de mercado ora a questotildees de natildeo-mercado e (v) a confirmaccedilatildeo de que o paradigma

da empresa autocircnoma representa um discurso empregado pela literatura dominante da

disciplina e o paradigma das redes natildeo pode ser entendido somente do ponto-de-vista

econocircmico mas tambeacutem envolvendo questotildees de poder e poliacutetica questotildees essas desprezadas

pela corrente hegemocircnica

3 REVISAtildeO DE LITERATURA

Para Yin (2005) a revisatildeo de literatura eacute

ldquo() um meio para se atingir uma finalidade e natildeo ndash como pensam

muitos estudantes ndash uma finalidade em si Os pesquisadores iniciantes

acreditam que o propoacutesito de uma revisatildeo de literatura seja

determinar as respostas sobre o que se sabe a respeito de um toacutepico

natildeo obstante os pesquisadores experientes analisam pesquisas

anteriores para desenvolver questotildees mais objetivas e perspicazes

sobre o mesmo toacutepicordquo (YIN 2005 p 28)

Para Vergara (2004) denomina-se referencial teoacuterico o capiacutetulo do projeto que tem

por objetivo apresentar os estudos sobre o tema ou especificamente sobre o problema jaacute

realizados por outros autores Desse modo trata-se de uma revisatildeo da literatura existente no

que se refere natildeo soacute ao acervo de teorias e suas criacuteticas mas tambeacutem a trabalhos realizados

que as toma como referecircncia

ldquoAleacutem de visitar e revisitar a literatura eacute no capiacutetulo destinado ao

referencial teoacuterico que o autor do projeto revela suas preocupaccedilotildees e

referecircncias aponta para o leitor as lacunas que percebe na

bibliografia consultada ou as discordacircncias que com ela tem ou os

pontos que considera que precisam ser confirmadosrdquo (VERGARA

2006 p 35)

Portanto o principal objetivo desse capiacutetulo eacute possibilitar que o autor e o leitor tomem

conhecimento do que jaacute existe sobre o assunto ou seja sobre o estado da arte visando

adicionalmente oferecer base referente agrave contextualizaccedilatildeo e consistecircncia agrave investigaccedilatildeo que

seraacute realizada

O capiacutetulo estaacute dividido em cinco seccedilotildees Na primeira seraacute realizada uma revisatildeo

geral da literatura dominante existente sobre estrateacutegia percorrendo o contexto histoacuterico as

abordagens pluralistas e os desafios contemporacircneos da aacuterea

Na segunda seccedilatildeo seraacute abordado com mais detalhes o cenaacuterio de redes estrateacutegicas

Aleacutem de abordar a evoluccedilatildeo e a base teoacuterica existente seraacute evidenciada uma visatildeo criacutetica do

contexto de redes empresariais Na terceira seccedilatildeo seratildeo abordadas as interfaces entre redes e

estrateacutegias de natildeo-mercado concepccedilotildees que seratildeo complementadas na quarta seccedilatildeo que

deteraacute foco agraves organizaccedilotildees hiacutebridas e seu respectivo conteuacutedo teoacuterico

Na seccedilatildeo seguinte seratildeo apresentadas as caracteriacutesticas da induacutestria do petroacuteleo da

formaccedilatildeo de joint ventures nesse segmento industrial e do ambiente de negoacutecios luso-

brasileiro Por fim seraacute apresentado o framework baacutesico dos conceitos envolvidos na revisatildeo

de literatura

31 Estrateacutegia ndash a literatura dominante e as abordagens pluralistas

Historicamente verifica-se que ateacute o iniacutecio dos anos 80 a aacuterea de estrateacutegia

praticamente natildeo existia nos EUA (FARIA 2008b) Poliacuteticas de negoacutecios (business policy)

como a aacuterea era denominada nos EUA era apenas um assunto relevante natildeo sendo a

disciplina considerada ateacute aquele momento um campo acadecircmico (HAMBRICK 2004)

Durante esse periacuteodo preacute-1980 com exceccedilatildeo de Harvard considerada o berccedilo da

disciplina natildeo havia professores de business policy com carreira estabelecida Ademais nas

trecircs grandes publicaccedilotildees (Academy of Management Journal Academy of Management Review

e Administrative Science Quarterly) apenas poucos artigos sobre estrateacutegia foram publicados

o que revela a diminuta quantidade de produccedilatildeo acadecircmica sobre estrateacutegia agravequela eacutepoca

(HAMBRICK 2004 e FARIA 2005)

A aacuterea de estrateacutegia (chamada de strategic management nos EUA) nasceu

oficialmente em 1980 a partir do lanccedilamento do Strategic Management Journal que teve

como principal objetivo a produccedilatildeo de conhecimento acadecircmico relevante para estrategistas

(FARIA 2008b)

A partir de entatildeo houve raacutepido florescimento e crescimento da aacuterea (HAMBRICK

2004) e no que se refere agrave produccedilatildeo acadecircmica houve uma profusatildeo teoacuterica e conceitual

considerada um avanccedilo importante mas que baseou-se principalmente nas teorias vindas da

economia (BETTIS 1991) e na abordagem positivista de investigaccedilatildeo (WILSON amp

JARZABKOWSKI 2004 SNOW amp THOMAS 1994)

Nesse contexto o tema estrateacutegia tem estado presente nas discussotildees acadecircmicas e

tambeacutem do meio-ambiente empresarial principalmente no que se refere agrave preocupaccedilatildeo dos

gestores e empresas com sua perpetuaccedilatildeo no mercado o que tem gerado como reflexo a

caracterizaccedilatildeo da atividade como de importacircncia crucial e grande consumidora de tempo nas

organizaccedilotildees (CLARK 2004)

No entanto ainda nesse cenaacuterio felizmente verifica-se que alguns autores envolvidos

com a disciplina tecircm questionado e colocado em discussatildeo a relevacircncia da estrateacutegia

principalmente em funccedilatildeo da falta de abordagens criacuteticas relevantes realizadas pelos

acadecircmicos (HAMBRICK 2004 FARIA 2005 BERTERO 2003 BETTIS 1991

WHITTINGTON et al 2003 WILSON amp JARZABKOWSKI 2004)

Uma das criacuteticas agrave aacuterea estaacute ligada ao fato de administradores e teoacutericos valerem-se de

pressupostos teorias modelos e correntes de pensamento bastante diversas visando ampliar a

competitividade das empresas Entretanto apesar da vasta quantidade de teorias escolas e

modelos a maioria nem sempre apresenta-se como sustentaacutevel e com poder suficiente para

resistir agraves questotildees relacionadas ao seu poder praacutetico de geraccedilatildeo de valor para as empresas

(HAMBRICK 2004) Adicionalmente alguns modelos e teorias comumente revelam-se

como um tipo de conhecimento passiacutevel de natildeo ser classificado como cientiacutefico (CLARK

A proliferaccedilatildeo de escolas de pensamento e de muitas dessas teorias sem os devidos

testes fez com que a aacuterea de estrateacutegia se caracterizasse por possuir grandes introspecccedilotildees

pontos de vista sem conectividade (relaccedilotildees e implicaccedilotildees) e ideias fragmentadas

apresentando-se como um tema muito grande no qual estatildeo inseridas inuacutemeras variaacuteveis e

processos o que tem levado essa aacuterea a um quadro de confusatildeo e descreacutedito (HAMBRICK

Ademais na atualidade haacute relativamente pouca acumulaccedilatildeo teoacuterica e uma aparente

desilusatildeo acadecircmica em relaccedilatildeo ao valor da literatura em estrateacutegia com os gestores das

empresas se envolvendo cada vez mais em experimentos estrateacutegicos sem os apropriados

direcionamentos teoacutericos (VOLBERDA 2004)

Ainda no cenaacuterio contemporacircneo algumas caracteriacutesticas dessa disciplina vecircm

impondo limites e criacuteticas agrave sua relevacircncia e aplicaccedilatildeo praacutetica Uma delas eacute o uso improacuteprio

de fundamentos com forte base nas ciecircncias econocircmicas em vez de utilizar os conhecimentos

e teorias econocircmicas para desenvolver as demais teorias que norteiam o conhecimento

estrateacutegico Ao longo do desenvolvimento da disciplina essas bagagens teoacutericas oriundas do

campo da economia foram incorporadas na disciplina estrateacutegia em detrimento de outros

campos do conhecimento que lidam com questotildees de poder e poliacutetica (BETTIS 1991 e

FARIA 2008b)

As pesquisas em estrateacutegia apresentam-se tambeacutem como etnocecircntricas ao

considerarem como foco o ambiente anglo-saxocircnico com grande direcionamento para os

EUA em detrimento do resto do mundo natildeo considerando portanto aspectos relevantes de

outras culturas negoacutecios interesses e estruturas (BETTIS 1991)

Nesse aspecto em especial na Ameacuterica Latina natildeo soacute em relaccedilatildeo agrave estrateacutegia vecirc-se a

importaccedilatildeo traduccedilatildeo e repeticcedilatildeo de conhecimento produzido no mundo anglo-saxatildeo (que

alguns autores denominam ldquocentrordquo) assim como uma ldquocertardquo imposiccedilatildeo da definiccedilatildeo do que

satildeo os problemas relevantes das organizaccedilotildees e sob que estruturas de anaacutelise devem ser

tratados e resolvidos (IBARRA-COLADO 2006)

Como consequecircncia da predominacircncia dessa base teoacuterica prescritiva e etnocecircntrica

empresas situadas em diferentes paiacuteses contextos e culturas satildeo tratadas com as mesmas

prescriccedilotildees e modelos adotados para a grande e autocircnoma empresa norte-americana muitos

deles baseados nos fundamentos de Michael Porter havendo com isso grande

distanciamento entre a realidade vivida na ldquoperiferiardquo e a literatura dominante da disciplina

(BETTIS 1991 AKTOUF 2002 e BERTERO et al 2003)

Criacuteticas tambeacutem surgem aos modelos de posicionamento e especialmente ao principal

dentre eles estruturado e disseminado por Porter (BERTERO et al 2003) Referem-se

profundamente agraves suposiccedilotildees feitas pelas escolas do posicionamento a centralidade da

modernidade e o poder dos tipos ideais matrizes e meacutetodos positivistas (WILSON amp

JARZABKOWSKI 2004)

Em termos gerais esses questionamentos em relaccedilatildeo agrave relevacircncia da estrateacutegia

resultam da necessidade de uma maior pluralidade e reflexatildeo criacutetica Atualmente vecirc-se que

alguns autores tecircm buscado espaccedilo para uma discussatildeo mais criacutetica reconhecimento do

pluralismo da aacuterea abordagens interdisciplinares e posicionamento menos prescritivo

(MINTZBERG et al 2000 e WHITTINGTON 2002) Esses autores indicam tambeacutem uma

perspectiva de sucesso futuro relacionada ao movimento de afastamento das prescriccedilotildees

estrateacutegicas tradicionais as quais defendem o controle hieraacuterquico planejamento formal e

anaacutelise industrial (VOLBERDA 2004)

A partir dos anos 90 a estrateacutegia volta a ser o centro das atenccedilotildees em funccedilatildeo

principalmente das exigecircncias estabelecidas pelo processo de globalizaccedilatildeo de empresas e

negoacutecios e suas questotildees de livre mercado e hipercompetitividade Aleacutem dessas questotildees os

desafios da sociedade poacutes-moderna com seu cenaacuterio de grandes transformaccedilotildees e crescente

complexidade tecircm forccedilado os estrategistas a reconhecerem questotildees ateacute o momento

invisiacuteveis como as questotildees que envolvem as dimensotildees de poder e poliacutetica (FARIA 2008b e

LOWENDAHL amp REVANG 1998)

Adicionalmente embora o cenaacuterio de globalizaccedilatildeo revele a existecircncia de grandes

interaccedilotildees entre as empresas e atores de outros ambientes e se revele como um processo

profundamente poliacutetico acompanhado de uma ideologia que legitimiza esse processo e

mascara formas de relaccedilotildees de neocolonialismo (LEVY 2005) ainda satildeo muito pouco

reconhecidas pela literatura dominante as estrateacutegias de natildeo-mercado (MAHON et al 2004 e

BARON 1995a)

A disciplina ainda natildeo passou por mudanccedilas significativas sendo possiacutevel considerar

que a aacuterea de estrateacutegia ainda eacute um terreno que estaacute sendo contestado com sua continuidade

em cheque aleacutem de passar por um momento de grande miopia no qual predomina o modelo

porteriano Nessa conjuntura permanece o grande domiacutenio das concepccedilotildees prescritivas e os

pesquisadores continuam desprezando as questotildees de poder e poliacutetica e em consequecircncia

interesses e praacuteticas de estrategistas de contextos diversos (FARIA 2008b HAMBRICK

2004 WILSON amp JARZABKOWSKI 2004 VOLBERDA 2004 e KNIGHTS amp MORGAN

Tambeacutem a partir dos anos 90 as redes estrateacutegicas aparecem com destaque dentro do

cenaacuterio de transformaccedilotildees introduzidas pelo processo de globalizaccedilatildeo A imagem de diversos

atores competindo por lucros uns contra os outros num ambiente de mercado impessoal eacute

crescentemente inadequada num mundo em que as empresas estatildeo inseridas em redes de

relacionamentos sociais profissionais e de trocas com outros atores individuais ou

organizacionais (GULATI et al 2000)

Nesse ambiente global contemporacircneo eacute absolutamente decisivo o papel e a

importacircncia das relaccedilotildees e das redes inter-firmas que atravessam fronteiras das induacutestrias e

paiacuteses (TAUHATA amp MACEDO-SOARES 2004) Prova disso eacute a visiacutevel proliferaccedilatildeo da

formaccedilatildeo de redes com grandes conglomerados desafiando o paradigma da empresa

autocircnoma agrave medida que passam a atuar nessas redes (FARIA 2005) A partir dessa

proliferaccedilatildeo e do aumento da competitividade no ambiente empresarial as redes de

relacionamentos das empresas assumem importacircncia estrateacutegica (GULATI et al 2000)

Atualmente tem havido um grande interesse de acadecircmicos da aacuterea de estrateacutegia e

estudos organizacionais que tecircm pesquisado algumas das causas e consequecircncias em

especial as econocircmicas da participaccedilatildeo das empresas nessas redes (GULATI 1998 e

GULATI et al 2000)

No entanto a literatura dominante que ainda alicerccedila-se e guarda suas raiacutezes no

paradigma da empresa como entidade autocircnoma dificultou o desenvolvimento de pesquisas

relacionadas a esse fenocircmeno (FARIA 2005) Adicionalmente apesar de importante ainda

falta profundidade teoacuterica e conceitual que ajude a melhor compreendecirc-lo como funciona

para quecirc serve e que tambeacutem consiga revelar suas implicaccedilotildees e interaccedilotildees com as questotildees

de poder e poliacutetica (JARILLO 1988 GULATI et al 2000 FARIA 2005 e 2008b)

Dada a raacutepida proliferaccedilatildeo de redes alianccedilas e outros tipos de relacionamentos inter-

empresas contemporaneamente pode-se considerar que as empresas podem ser vistas em

meio a conexotildees que as ligam umas agraves outras em muacuteltiplas redes de recursos e outros fluxos

contrariamente agrave visatildeo tradicional de entidade autocircnoma Desse modo incorporar o tema agraves

anaacutelises do ambiente de strategic management pode conduzir a disciplina rumo agrave discussatildeo de

uma visatildeo mais compreensiva do comportamento estrateacutegico das empresas (GULATI et al

O principal objetivo desta seccedilatildeo eacute apresentar um breve histoacuterico do desenvolvimento

da estrateacutegia considerando os mais importantes antecedentes principais teorias e correntes de

pensamento conteuacutedos e autores inseridos nesses poucos mais de 50 anos da disciplina

311 Um histoacuterico da Aacuterea de Estrateacutegia

A palavra estrateacutegia tem como origem o termo do grego antigo ldquostrategosrdquo que refere-

se originalmente a ldquoarte do generalrdquo (PENG 2008) A aacuterea de estrateacutegia possui fortes raiacutezes

militares onde apresenta-se como um conceito amplo vagamente definido como sendo uma

campanha militar para aplicaccedilatildeo de forccedilas em grande escala contra um inimigo (ANSOFF

Com essas raiacutezes militares que remontam desde os trabalhos de Sun Tzu estrategista

militar chinecircs (PENG 2008) em particular a estrateacutegia corporativa estaacute iacutentima e

historicamente relacionada ao acircmbito militar e aos princiacutepios praacuteticas e agrave ideologia

correspondentes (FARIA amp SAUERBRONN 2008)

Apesar de suas antigas raiacutezes na estrateacutegia militar a aplicaccedilatildeo desses princiacutepios no

meio ambiente dos negoacutecios conhecida como administraccedilatildeo estrateacutegica eacute um fenocircmeno mais

recente de meados da deacutecada de 60 (PENG 2008) que valeu-se da bagagem construiacuteda pela

aacuterea de estudos organizacionais a qual desenvolveu a ideia de ambiente externo como um

domiacutenio ameaccedilador agrave sobrevivecircncia existecircncia e continuidade da organizaccedilatildeo

Partindo do senso comum em torno do argumento de que para sobreviver a

organizaccedilatildeo se adapta ao ambiente externo (KNIGHTS amp MORGAN 1993) a aacuterea de

estrateacutegia constituiu-se nos EUA ficando por um longo periacuteodo de tempo presa agraves suposiccedilotildees

modernistas daquela naccedilatildeo (WHITTINGTON 2004) e construindo a ideia de que o princiacutepio

fundamental da estrateacutegia eacute a adaptaccedilatildeo da empresa ao ambiente externo

Aleacutem da ecircnfase a esse ambiente externo naquilo que estaacute localizado fora da

organizaccedilatildeo desde seu iniacutecio a aacuterea de estrateacutegia representa a grande empresa e os interesses

da elite corporativa identificada como o grupo que pode formular e propiciar a

implementaccedilatildeo das propostas estrateacutegicas em virtude do poder que deteacutem para adquirir e

distribuir os recursos fundamentais agrave criaccedilatildeo e ajuste da estrutura (CHANDLER 1998)

Toda essa bagagem e a distinccedilatildeo hieraacuterquica entre formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo da

estrateacutegia foi explicitamente estabelecida pela teoria da estrutura precedida pela estrateacutegia de

Alfred Chandler (CLEGG et al 2004)

Nos anos 60 em sua obra ldquoStrategy and Structure Chapter in the History of American

Enterpriserdquo considerada uma referecircncia teoacuterica seminal no campo da estrateacutegia e de fundaccedilatildeo

da pesquisa em estrateacutegia Chandler apresenta suas reflexotildees tomando como base estudo feito

sobre estrateacutegia e estrutura das grandes empresas industriais2

2 Para Chandler representada pela grande empresa comercial privada com fins lucrativos e que produz bens mediante alguns ou todos os sucessivos processos industriais desde a compra da mateacuteria-prima ateacute a venda ao consumidor final

americanas mostrando como

executivos lidaram com questotildees e problemas que lhes pareciam uacutenicos O foco desse estudo

estaacute centrado nas maiores e mais complexas empresas industriais americanas registrando o

surgimento de empresas diversificadas e multidivisionais do iniacutecio do seacuteculo XX as quais

comeccedilaram a formar sua estrutura logo apoacutes a I Guerra Mundial (WHITTINGTON 2004)

De acordo com Chandler o meio-ambiente dos negoacutecios e os recursos da organizaccedilatildeo

influenciam sua estrateacutegia a qual determina a estrutura organizacional Desse modo a

evoluccedilatildeo eou mudanccedilas no meio-ambiente e nos recursos trazem uma nova estrateacutegia e

demandam uma nova estrutura

Adicionalmente na perspectiva de Chandler haacute uma grande atribuiccedilatildeo de relevacircncia

ao papel dos executivos3 Importacircncia essa decorrente da centralizaccedilatildeo do poder de

distribuiccedilatildeo por meio do escritoacuterio geral4

Sua anaacutelise produziu um novo objeto conceitual ndash o planejamento estrateacutegico que

conduz domina e determina a estrutura organizacional Nesse contexto a avaliaccedilatildeo

estrateacutegica revela-se uma atividade fundamental para o alcance do sucesso empresarial

fazendo face agraves oportunidades e necessidades criadas pelas modificaccedilotildees na demanda

mudanccedilas nas condiccedilotildees econocircmicas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e iniciativas dos concorrentes

(CHANDLER 1998 e CLEGG et al 2004)

dos recursos fundamentais ao sucesso da

implementaccedilatildeo das estrateacutegias concebidas (CHANDLER 1998)

ldquoA tese de que as diferentes formas de organizaccedilatildeo resultam dos

diferentes tipos de expansatildeo pode ser enunciada com maior clareza se

considerarmos que o planejamento e a execuccedilatildeo dessa expansatildeo satildeo

uma estrateacutegia e a organizaccedilatildeo criada para gerir as novas atividades

e recursos uma estrutura Pode-se dizer que estrateacutegia eacute a definiccedilatildeo

dos principais objetivos a longo prazo de uma empresa bem como a

adoccedilatildeo de linhas de accedilatildeo e a alocaccedilatildeo de recursos tendo em vista

esses objetivos () Pode-se dizer que estrutura eacute o modelo de

3 Representa a ldquomatildeo visiacutevel da gerecircnciardquo fundamental naquele periacuteodo histoacuterico ao realizar grandes mudanccedilas no que diz respeito ao papel e responsabilidade dos gestores o que influenciou o processo de surgimento e crescimento das empresas comerciais modernas

4 Na concepccedilatildeo de Chandler o escritoacuterio geral niacutevel das decisotildees mais importantes da companhia detinha a responsabilidade sobre os processos de coordenaccedilatildeo avaliaccedilatildeo e planejamento de metas e poliacuteticas de alocaccedilatildeo de recursos

organizaccedilatildeo pelo qual se administra a empresardquo (CHANDLER

1998 p 136)

Resumindo essas concepccedilotildees de Chandler visualiza-se o axioma de que o sucesso e a

sobrevivecircncia de uma organizaccedilatildeo dependem de um alinhamento bidirecional entre (i) seu

comportamento no ambiente e as condiccedilotildees de sucesso e sobrevivecircncia definidas pelo

ambiente e (ii) seu comportamento e configuraccedilatildeo interna (ANSOFF 1983)

Entretanto alguns autores apresentaram uma visatildeo criacutetica agrave concepccedilatildeo de Chandler ao

indicarem que natildeo se pode afirmar que a estrutura segue a estrateacutegia ou vice-versa De acordo

com esse ponto-de-vista pode-se indicar apenas que existe um relacionamento bastante forte

entre esses fatores pois a correlaccedilatildeo entre estrateacutegia e estrutura eacute complexa a estrutura eacute

resultado de complexas variaacuteveis e natildeo somente da estrateacutegia e a estrutura tambeacutem assume

um conteuacutedo poliacutetico podendo a direccedilatildeo da correlaccedilatildeo ocorrer em ambos os sentidos (HALL

amp SAIAS 1980)

Ainda dentro dessa visatildeo criacutetica dependendo dos dados empiacutericos observados podem

ser confirmadas ambas as proposiccedilotildees havendo argumentos coerentes para validar ambas as

ideias Estrutura e estrateacutegia possuem um relacionamento de influecircncia reciacuteproca e

dependendo de qual parte do processo estrateacutegico eacute observada estrutura segue a estrateacutegia e

estrateacutegia segue a estrutura Nesse contexto manter o equiliacutebrio entre os diferentes requisitos

eacute o maior desafio da alta gerecircncia (BURGELMAN 1983)

As pesquisas de Chandler e sua percepccedilatildeo (claacutessica) de estrateacutegia caracterizada como

sendo a determinaccedilatildeo de metas e objetivos baacutesicos de longo prazo como resultado da

concepccedilatildeo dos executivos (liacutederes) e como determinante da estrutura (estrutura eacute produto

resultado da estrateacutegia) inspiraram a primeira geraccedilatildeo de estudantes de doutorado da Escola

de Administraccedilatildeo de Harvard (WHITTINGTON 2004 e WILSON amp JARZABKOWSKI

2004) considerados os responsaacuteveis por estabelecer uma estrutura para a estrateacutegia como uma

ciecircncia positiva prescritiva favoraacutevel a modelos de formulaccedilatildeo e escolha de estrateacutegia

fundamentados em bases econocircmicas e de posicionamento

Tambeacutem considerado um dos pioneiros da disciplina Igor Ansoff eacute outro importante

autor que por sua vez aborda a estrateacutegia de forma prescritiva preocupando-se em apresentar

um plano um processo formal para estruturaccedilatildeo da estrateacutegia e ferramentas de planejamento

Uma visatildeo um pouco diferente portanto da visatildeo de estrateacutegia como resultado da escolha dos

liacutederes da organizaccedilatildeo

No proacuteprio prefaacutecio de seu livro ldquoCorporate Strategyrdquo5

Em sua opiniatildeo as decisotildees estrateacutegicas

aponta o interesse pela

prescriccedilatildeo normativa procurando desenvolver uma seacuterie de conceitos e procedimentos uacuteteis

para os administradores em suas atividades (ANSOFF 1977) Adicionalmente nessa obra

encontra-se uma maior sistematizaccedilatildeo da aacuterea de estrateacutegia jaacute natildeo mais restrita agrave discussatildeo e

anaacutelise de casos a qual eacute apresentada basicamente como um esforccedilo de sistematizaccedilatildeo

coordenaccedilatildeo e controle (BERTERO et al 2003 e ANSOFF 1977)

Para esse autor os objetivos das empresas exercem influecircncia preponderante sobre

todo o processo de formulaccedilatildeo de estrateacutegias uma vez que satildeo centrados nas medidas de

retorno Sobre esse processo de formulaccedilatildeo Ansoff prescreve as atividades que devem ser

realizadas a fim de se construir a estrateacutegia da organizaccedilatildeo por ele definida como um dos

vaacuterios conjuntos de regras de decisatildeo para orientar o comportamento de uma organizaccedilatildeo

(ANSOFF 1977)

preocupam-se principalmente com

problemas externos e natildeo internos da empresa e especificamente com a escolha do composto

de produtos a ser fabricado pela empresa e dos mercados em que seratildeo vendidos O problema

estrateacutegico diz respeito ao estabelecimento de um equiliacutebrio entre a empresa e o seu ambiente

(ANSOFF 1977)

Nesse contexto Ansoff indica que a estrateacutegia apresenta os seguintes componentes (i)

conjunto de produtos e mercados nos quais a organizaccedilatildeo realizaraacute suas atividades (ii) vetor

de crescimento geograacutefico que indica em qual direccedilatildeo a empresa estaacute andando (iii) vantagem

competitiva que satildeo propriedades especiacuteficas que datildeo agrave empresa uma forte posiccedilatildeo

concorrencial e (iv) sinergia que eacute uma medida da capacidade da empresa para tirar proveito

de sua entrada numa nova aacuterea (ANSOFF 1990)

Ansoff tambeacutem legitimou por meio da segregaccedilatildeo das atividades operacionais

administrativas e estrateacutegicas a praacutetica de considerar o processo estrateacutegico como

formulaccedilatildeo ficando a sua implementaccedilatildeo a cargo da estrutura e dos processos operacionais o

que significa classificar as atividades relativas ao planejamento estrateacutegico ou empresarial

como de staff proacuteprias da alta administraccedilatildeo e nunca como operacionais Como heranccedila

5 Como referecircncia nessa dissertaccedilatildeo foi utilizada a traduccedilatildeo brasileira desse livro Estrateacutegia Empresarial

6 Para Ansoff o termo estrateacutegico significa ldquotudo o que se refere agraves relaccedilotildees entre a empresa e o seu ambienterdquo

dessa visatildeo verifica-se ateacute os dias atuais uma forte identificaccedilatildeo entre profissionais de

administraccedilatildeo da gestatildeo de Estrateacutegia Empresarial com o planejamento (BERTERO et al

Michael Porter eacute outro autor renomado da disciplina que passou a ser considerado

uma das autoridades mundiais em estrateacutegia a partir da realizaccedilatildeo de abrangente pesquisa para

o governo Ronald Reagan durante os anos 80 nos EUA Essa pesquisa teve como objetivo

principal a busca por uma explicaccedilatildeo para o sucesso das empresas japonesas (PORTER

Professor de administraccedilatildeo de empresas da Harvard Business School desde 1973

Porter pertence ao grupo responsaacutevel pelo estabelecimento da estrateacutegia como uma ldquociecircncia

positivardquo (PORTER 2002 e WITTINGTON 2004) Especialmente seu primeiro livro

ldquoCompetitive Strategyrdquo7

Aleacutem de fazer a disciplina emergir Porter conseguiu consolidar uma tradiccedilatildeo de

Harvard ao posicionar a disciplina no acircmbito da anaacutelise econocircmica e mais especificamente

na anaacutelise do ramo industry analisis com seu famoso modelo das forccedilas competitivas

(BARNEY 2002 BERTERO et al 2003 e AKTOUF 2002)

teve um impacto decisivo na aacuterea de estrateacutegia empresarial haja

vista ter sido responsaacutevel por aglutinar os interesses de uma geraccedilatildeo de acadecircmicos e

consultores sendo considerado um divisor de aacuteguas uma vez que antes da publicaccedilatildeo desse

livro a disciplina era um conjunto de ideias mal conectadas e teorias de escopo limitado e

implicaccedilotildees empiacutericas incertas (MINTZBERG et al 2000 BARNEY 2002 e BERTERO et

al 2003)

Nesse cenaacuterio pelo fato de ser comprometida com o positivismo de confiar na

racionalidade e de se mostrar desconfortaacutevel com dados primaacuterios a economia se tornou

rapidamente fonte de conhecimento para a estrateacutegia como um todo Com isso o positivismo

de Harvard se tornou o modelo para a pesquisa na aacuterea uma vez que combinava com as

condiccedilotildees de origem da disciplina (WHITTINGTON 2004)

Para Porter o conceito de estrateacutegia refere-se agrave criaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo exclusiva e

valiosa para a organizaccedilatildeo envolvendo um diferente conjunto de atividades consistindo a

essecircncia do posicionamento estrateacutegico na escolha de atividades diferentes daquelas dos

rivais em posicionar a empresa o tempo todo em seu ramo de atividade Eacute tambeacutem a criaccedilatildeo

7 Como referecircncia nessa dissertaccedilatildeo foi utilizada a traduccedilatildeo brasileira desse livro Estrateacutegia Competitiva

de compatibilidade entre as atividades desenvolvidas pela empresa (PORTER 1998 e 1999 e

BERTERO et al 2003)

ldquoEstrateacutegia eacute criar uma posiccedilatildeo exclusiva e valiosa envolvendo um

diferente conjunto de atividades Se houvesse apenas uma uacutenica

posiccedilatildeo ideal natildeo haveria necessidade de estrateacutegia () Se os

mesmos conjuntos de atividades fossem os melhores para produzir

todas as variaacuteveis de produtos () as empresas simplesmente se

alternariam entre eles e a eficaacutecia operacional determinaria o

desempenhordquo (PORTER 1999 p 63)

Na visatildeo de Porter a essecircncia da formulaccedilatildeo estrateacutegica eacute lidar com a competiccedilatildeo a

qual depende de cinco forccedilas baacutesicas (i) as ameaccedilas de novos entrantes que trazem novas

capacidades desejo de ganhar participaccedilatildeo de mercado e tambeacutem concorrem com recursos

substanciais (ii) o poder de barganha dos fornecedores os quais podem exercer esse poder

sobre os participantes de um setor aumentando os preccedilos ou reduzindo a qualidade de

mercadorias e serviccedilos (iii) o poder de barganha dos clientes os quais podem forccedilar os

preccedilos para baixo demandar maior qualidade ou melhores serviccedilos e jogar um concorrente

contra o outro (iv) a ameaccedila de produtos ou serviccedilos substitutos que limitam lucros e

reduzem a prosperidade de um setor ao estabelecerem um teto para os preccedilos praticados e (v)

a intensidade da rivalidade entre empresas concorrentes ou seja o setor competindo por uma

posiccedilatildeo entre os concorrentes existentes (PORTER 1998 e MINTZBERG et al 2000)

A partir dessa concepccedilatildeo Porter indica que o estrategista corporativo pode identificar

o vigor e as fraquezas da empresa sendo o objetivo estrateacutegico da organizaccedilatildeo encontrar uma

posiccedilatildeo no setor onde ela possa melhor se defender contra essas forccedilas influenciar no seu

equiliacutebrio de modo a melhorar a posiccedilatildeo da empresa e antecipar mudanccedilas nos fatores

baacutesicos dessas forccedilas escolhendo uma estrateacutegia apropriada para o novo equiliacutebrio

competitivo (PORTER 1998)

Figura 1 Forccedilas que dirigem a concorrecircncia na induacutestria Fonte PORTER 1986 (p 23)

Segundo Porter as posiccedilotildees estrateacutegicas no setor emergem de trecircs fontes distintas (i)

posicionamento baseado na variedade fundamentado na escolha variedades de produtos ou

serviccedilos (ii) posicionamento baseado nas necessidades orientado para o atendimento de um

determinado segmento de clientes como alvo e (iii) posicionamento baseado no acesso

criteacuterio focado na segmentaccedilatildeo dos clientes em razatildeo de diferenccedilas nas modalidades de acesso

(PORTER 1999)

Em sua concepccedilatildeo existem dois tipos baacutesicos de vantagem competitiva que uma

empresa pode possuir baixo custo ou diferenciaccedilatildeo Esses tipos de vantagens combinadas ao

escopo das empresas produzem trecircs estrateacutegias geneacutericas (i) lideranccedila em custos ndash ser o

produtor de baixo custo da induacutestria com produccedilatildeo em grande escala (ii) diferenciaccedilatildeo ndash

desenvolvimento de produtos ou serviccedilos uacutenicos com base na lealdade agrave marca e do cliente e

(iii) foco ndash procurar atender segmentos de mercado estreitos focando em grupos de clientes

linhas de produtos ou mercados geograacuteficos (PORTER 1986 MINTZBERG et al 2000 e

PENG 2008)

Os conceitos presentes em outra obra de Porter ldquoCompetitive Advantagerdquo8

8 Como referecircncia nessa dissertaccedilatildeo foi utilizada a traduccedilatildeo brasileira desse livro Vantagem Competitiva

fizeram

com que ele se distanciasse e se destacasse dos demais autores da disciplina agrave medida que

CONCORRENTES NA INDUacuteSTRIA

Rivalidade entre as empresas existentes

FORNECEDORES COMPRADORES

ENTRANTES POTENCIAIS

SUBSTITUTOS

Ameaccedila de produtos ou serviccedilos substitutos

Ameaccedila de novos entrantes

Poder de negociaccedilatildeo dos fornecedores

Poder de negociaccedilatildeo dos compradores

ofereceu uma base um conjunto de conceitos sobre o qual deve ser construiacuteda a estrateacutegia da

organizaccedilatildeo reduziu o que para muitos autores seriam inuacutemeras possibilidades de estrateacutegias

para apenas trecircs estrateacutegias geneacutericas as quais podem ser capazes de sobreviver agrave

concorrecircncia a longo prazo e divulgou sua noccedilatildeo de cadeia de valor (PORTER 1989 e

MINTZBERG et al 2000)

Porter sugere que em busca de vantagem competitiva a empresa seja representada em

termos das atividades que satildeo executadas para projetar produzir comercializar entregar e

sustentar seu produto Segundo essa teoria a vantagem competitiva localiza-se nas diferentes

formas como os concorrentes desempenham essas atividades Nesse sentido sugere que a

empresa pode ser segregada nas seguintes atividades (i) primaacuterias diretamente envolvidas no

fluxo de produtos ateacute o cliente e (ii) de suporte as quais existem para apoiar as atividades

primaacuterias (PORTER 1989)

Para Porter a cadeia de valor provecirc uma maneira sistemaacutetica de examinar todas as

atividades desempenhadas pela empresa e de visualizar como elas interagem entre si Dentro

desse contexto a totalidade da cadeia de valor deve ser considerada Ser o melhor em uma

atividade primaacuteria pode natildeo ser uma vantagem estrateacutegica se isto natildeo estiver bem coordenado

com outra atividade primaacuteria (PORTER 1989)

ldquoA cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividades de

relevacircncia estrateacutegica para que se possa compreender o

comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de

diferenciaccedilatildeo Uma empresa ganha vantagem competitiva

executando estas atividades estrategicamente importantes de uma

forma mais barata ou melhor do que a concorrecircnciardquo (PORTER

1989 p 31)

Adicionalmente Porter apresenta os gestores como liacutederes e heroacuteis os quais pensam e

decidem pelas organizaccedilotildees e as ensinam confirmando o mito de gestores na representaccedilatildeo

de liacutederes heroacuteicos (CLEGG et al 2004) os quais devem possuir talentos intelectuais e

gerenciais aleacutem de carisma para delinear o futuro e guiar a empresa rumo a ele (GADDIS

1997) O planejador passa a ser mais importante pois ele tornou-se um analista um

calculador estudioso com fichas de dados para selecionar a melhor estrateacutegia geneacuterica

(MINTZBERG et al 2000)

Seu modelo adequa-se perfeitamente como instrumento de trabalho ao administrador

agrave medida que permite que sejam analisadas as situaccedilotildees de uma empresa no interior de seu

ramo de atividade Falam de muito perto aos profissionais tornando Porter certamente no

mais influente dos autores de estrateacutegia (BERTERO et al 2003 e AKTOUF 2002)

Durante os uacuteltimos 25 anos Porter tem mantido essa condiccedilatildeo de mais influente

teoacuterico da disciplina uma vez que suas proposiccedilotildees atingiram as questotildees centrais da

estrateacutegia desde o seu surgimento Aleacutem de ser qualificado como o mentor dos especialistas

em estrateacutegia eacute o autor mais citado nas publicaccedilotildees de administraccedilatildeo e economia (BARNEY

2002 e AKTOUF 2002)

O impacto das ideias de Porter foi tatildeo profundo a ponto de bloquear a percepccedilatildeo de

novos modelos e perspectivas Com isso a partir dos anos 90 comeccedilam a surgir os primeiros

trabalhos representando criacuteticas aos modelos de posicionamento e especialmente ao principal

deles que eacute o de Michael Porter (BERTERO et al 2003)

Algumas avaliaccedilotildees referem-se agraves concepccedilotildees de Porter como criticaacuteveis enquanto

teorias e tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sua aplicaccedilatildeo Referem-se tambeacutem ao fato do porterismo ser

orientado para o econocircmico e em especial para o quantificaacutevel no lugar do social e do

poliacutetico aleacutem de ser universalizado

ldquoTodo o raciociacutenio sobre estrateacutegia que desenvolverei a seguir eacute

vaacutelido para empresas de qualquer lugar do planetardquo (PORTER

2002 p 22)

Em relaccedilatildeo ao contexto haacute uma clara preferecircncia da maioria dos estudos pelas grandes

empresas tradicionais com maior poder de mercado com concorrecircncia menos eficaz e o

potencial para manipulaccedilatildeo poliacutetica mais pronunciado Adicionalmente haacute argumentos que

indicam que as teorias de Porter satildeo estreitamente situadas na ideologia do mercado neoliberal

e dos detentores de interesses financeiros agrave exclusatildeo de qualquer outro (MINTZBERG et al

2000 AKTOUF 2002 e BERTERO et al 2003)

Diversos autores afirmam que pode-se considerar que Chandler com sua visatildeo

acadecircmica e o registro do surgimento das empresas diversificadas e multidivisionais do iniacutecio

do seacuteculo XX foi declarado o verdadeiro precursor da pesquisa em estrateacutegia em detrimento

de Ansoff e seu interesse pelas ferramentas de planejamento da estrateacutegia como praacutetica

(WHITTINGTON 2004)

Chandler ajudou a posicionar a estrateacutegia como a mais importante da academia de

administraccedilatildeo e a legitimar primeiramente nos EUA e posteriormente em diversos paiacuteses o

princiacutepio do comando e controle isto eacute de que a estrutura segue a estrateacutegia Mostrou

tambeacutem que as estrateacutegias de longo prazo os gerentes e estruturas hieraacuterquicas garantiriam o

crescimento das grandes empresas e o bem-estar social

Sua obra contribuiu fortemente para a disciplina agrave medida que revelou a histoacuteria

empresarial americana e afirmou que a estrutura de uma empresa tem um impacto

significativo para a performance dos negoacutecios o que nem as ciecircncias econocircmicas nem os

estudos das teorias organizacionais ateacute entatildeo haviam realizado (WILLIAMSON 1981)

No entanto a obra de Chandler natildeo pode ser considerada como isenta do contexto em

que foi produzida Desafiou a importacircncia do Estado para o desenvolvimento econocircmico do

paiacutes (EUA) que buscava num cenaacuterio de Guerra Fria uma soluccedilatildeo para a rivalidade entre

governo e empresa e ademais estabeleceu o paradigma da empresa como entidade autocircnoma

em face dos desafios do ambiente externo (FARIA 2007)

Importante ressaltar que numa perspectiva econocircmica neoclaacutessica o surgimento da

empresa de grande porte instituiccedilatildeo econocircmica importante e complexa em tamanho

diversidade e organizaccedilatildeo interna ainda apresenta-se como a melhor maneira de reduzir

incertezas e minimizar custos de transaccedilatildeo absorvendo transaccedilotildees na empresa como afirma

Williamson9

De acordo com Williamson as relaccedilotildees econocircmicas inter-firmas apresentam custos de

transaccedilatildeo que tornam mais caro o subcomponente em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo pela proacutepria firma

Esses custos satildeo originados pelas ineficientes transaccedilotildees de determinada organizaccedilatildeo com o

seu mercado ocorrendo sobretudo pelas seguintes razotildees racionalidade limitada do tomador

(WILLIAMSON 1981)

9 Williamson definiu o mercado e a hierarquia como os dois modos alternativos de organizaccedilatildeo da atividade econocircmica Considera que a firma tem diferentes custos de produccedilatildeo de cada subcomponente do produto final Caso existam firmas no mercado produzindo o mesmo bem a priori a mais eficiente forma de organizar a produccedilatildeo consistiraacute em uma firma especializada na produccedilatildeo de cada um dos subcomponentes do produto

de decisotildees incerteza sobre o futuro e possibilidade de comportamento oportunista por parte

de determinados atores econocircmicos (BALESTRIN amp VARGAS 2004)

Quanto a Porter seu pensamento tornou-se mais do que uma simples teoria ou

conjunto de normas para o uso gerencial Lanccedilou a estrateacutegia competitiva ou do mercado

moderno com a firma sendo a unidade de anaacutelise e foco na performance das induacutestrias O

modelo analiacutetico por ele desenvolvido com base na ecircnfase da estrateacutegia na sobrevivecircncia e

competiccedilatildeo empresarial estabeleceu a era da estrateacutegia competitiva nos EUA e no mundo e

passou a ser um molde generalizado de concepccedilatildeo e de anaacutelise uma visatildeo de mundo uma

ideologia plena e inteira (BARON 1995a AKTOUF 2002 e FARIA 2007)

Aleacutem da visatildeo baseada no posicionamento e em modelos estrateacutegicos geneacutericos eacute

relevante ressaltar a existecircncia de temaacutetica voltada para recursos e competecircncias preconizada

por Prahalad e Hamel10

Nessa concepccedilatildeo estrateacutegica cada vez mais empresas buscam concentrar suas

atividades naquelas de maior valor e que sejam uacutenicas para seus clientes o que se reflete nas

suas competecircncias essenciais Essa visatildeo acaba por explicar em grande parte os motivos

pelos quais as empresas formam redes de relacionamentos com outras organizaccedilotildees como

alianccedilas estrateacutegicas que se concretizam por meio de acordos contratos e joint ventures

complementando suas competecircncias com as de outras empresas parceiras com o objetivo de

melhor atender os clientes (VILLAS amp MACEDO-SOARES 2008)

(1998) e a formulaccedilatildeo do conceito de competecircncia essencial que

trataram do modo como o desenvolvimento de competecircncias essenciais influencia em longo

prazo a competitividade empresarial (PRAHALAD amp HAMEL 1998)

Dentro dessa mesma perspectiva tambeacutem destacam-se Wernerfelt11 (1984) e Barney12

10 Artigo publicado na Harvard Business Review em 1990 lanccedilou o conceito de Competecircncia Essencial ndash ldquoCore Competencerdquo Nele os autores definem ser de extrema importacircncia o comportamento dos executivos que devem ser capazes de identificar cultivar e explorar competecircncias essenciais

(1991) Esse uacuteltimo forneceu uma descriccedilatildeo detalhada da perspectiva baseada em recursos

voltada para os recursos internos agrave empresa e apresenta um novo conceito vantagem

competitiva sustentada As teorias baseadas em recursos adotaram a proacutepria organizaccedilatildeo

11 No artigo ldquoResource-based view of the firmrdquo Wernerfelt apresenta uma das referecircncias-base do modelo baseado nos recursos Assume que recursos e produtos satildeo duas faces da mesma moeda considerando os recursos como antecedentes aos produtos e performance das empresas

12 Em seu artigo ldquoFirm resources and sustained competitive advantagerdquo Jay B Barney analisa as condiccedilotildees sob as quais os recursos empresariais podem significar fontes de vantagem competitiva sustentada e contribui para o desenvolvimento do ldquoResource-based viewrdquo

como unidade de anaacutelise destinando foco ao ambiente interno da empresa (WERNERFELT

1984 e BARNEY 1991)

Anteriormente ao introduzir o conceito de cadeia de valor visando identificar

potenciais vantagens competitivas baseadas nos recursos empresariais Porter acabara por

admitir que natildeo soacute as caracteriacutesticas do segmento industrial satildeo determinantes para a

estrateacutegia competitiva (PORTER 1989) Desse modo a escola de recursos e a cadeia de valor

de Porter alinharam-se no fato de que todas as funccedilotildees e niacuteveis da grande empresa deveriam

cooperar entre si o que permitiu consolidar o paradigma da empresa como entidade autocircnoma

em busca de vantagens competitivas sustentaacuteveis (FARIA 2007)

Entretanto em complemento agraves anaacutelises e visotildees tradicionais supracitadas alguns

autores indicam que recursos estrateacutegicos das organizaccedilotildees podem localizar-se (e tambeacutem

fluir por eles) nos relacionamentos que as empresas mantecircm umas com as outras Dentro

dessa visatildeo as fronteiras da grande firma autocircnoma satildeo insuficientes para explicar o

atingimento das vantagens competitivas Desse modo a empresa tem que ser analisada

tomando por base suas caracteriacutesticas o seu ambiente de negoacutecios e seus relacionamentos e as

redes das quais participa ou seja deve ser feita uma anaacutelise relacional (VILLAS amp

MACEDO-SOARES 2008 e DYER amp SINGH 1998)

Os trecircs principais autores apresentados nessa subseccedilatildeo (Chandler Ansoff e Porter)

enquadram-se na abordagem claacutessica13

Verifica-se claramente por meio das obras desses autores que a disciplina construiu a

ideia de que o princiacutepio fundamental da estrateacutegia eacute a adaptaccedilatildeo da empresa ao ambiente

externo e representa desde seu iniacutecio a grande empresa e os interesses da elite corporativa

Tornou-se senso comum o argumento de que ldquopara sobreviver a organizaccedilatildeo se lsquoadaptarsquo ao

ambiente externordquo (KNIGHTS amp MORGAN 1993 e FARIA amp SAUERBRONN 2008)

Com base nesse arcabouccedilo teoacuterico principalmente apoacutes a II Guerra Mundial as estrateacutegias

da estrateacutegia conforme o modelo de classificaccedilatildeo

proposto por Richard Whittington (2006) que eacute a abordagem dominante no mundo dos

negoacutecios e no mundo acadecircmico atualmente O ponto em comum entre os autores

enquadrados nessa abordagem concentra-se no fato de apresentarem como a organizaccedilatildeo deve

compor sua estrateacutegia aleacutem de considerarem a estrateacutegia como um processo racional de

caacutelculos e anaacutelises deliberadas com o objetivo de maximizar a vantagem a longo prazo

(WHITTINGTON 2006)

13 Essa classificaccedilatildeo seraacute abordada na proacutexima seccedilatildeo desse capiacutetulo

corporativas das grandes empresas voltam-se para o controle ldquodaquilo que estaacute fora da

organizaccedilatildeordquo implementando estrateacutegias focadas no bloqueio da concorrecircncia e na

dominaccedilatildeo dos mercados tanto no exterior quanto nos Estados Unidos (KNIGHTS amp

MORGAN 1991)

Esse cenaacuterio dominante na aacuterea de estrateacutegia baseia-se tambeacutem na representaccedilatildeo

instrumental e ideoloacutegica de que decisotildees estrateacutegicas satildeo tomadas pelo topo da hierarquia e

que esses membros do alto escalatildeo escolhem uma dentre diversas alternativas de acordo com

o criteacuterio de maximizaccedilatildeo dos resultados (FARIA 2003)

Juntamente com a estrutura da induacutestria de Porter e o conceito de custos de transaccedilatildeo

de Williamson a economia inseriu na estrateacutegia a ideia do homem econocircmico racional que

projeta a estrateacutegia como o produto de um uacutenico indiviacuteduo empreendedor agindo com

perfeita racionalidade para maximizar a vantagem econocircmica ignorando as complexidades

organizacionais e institucionais (WHITTINGTON 2006)

Adicionalmente trata-se de disciplina cuja literatura eacute repleta de modelos normativos

de formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de estrateacutegias baseados em dados empiacutericos limitados

normalmente oriundos de negoacutecios desenvolvidos por meacutedias e grandes empresas da Ameacuterica

do Norte (SHRIVASTAVA 1986)

Por meio da supremacia dos interesses do top management da universalizaccedilatildeo dos

modelos baseados em evidecircncias empiacutericas norte-americanas e da ecircnfase no ambiente

econocircmico tecircm sido relegadas a segundo plano nas corporaccedilotildees as questotildees de cunho

cultural social e poliacutetico aleacutem das questotildees que envolvem interaccedilotildees existentes entre as

estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado e as relaccedilotildees governo-empresa sociedade-empresa e

da empresa com diversos stakeholders questotildees essas que tambeacutem moldam as estruturas do

processo competitivo (SHRIVASTAVA 1986 BARON 1995a FARIA 2008c) A literatura

dominante praticamente suprimiu essas questotildees e a dimensatildeo poliacutetica da estrateacutegia

empresarial e como consequecircncia afastou pesquisadores das reais oportunidades e desafios

trazidos pela globalizaccedilatildeo (FARIA 2005)

Com isso organizaccedilotildees localizadas fora do ldquocentrordquo (Ameacuterica do Norte) consomem

conhecimento importado traduzido e produzido para o mundo anglo-saxatildeo tratam os

problemas que satildeo considerados relevantes conforme as definiccedilotildees contidas nesse

conhecimento e os resolvem conforme as prescriccedilotildees chamadas de universais Todo esse

processo acaba por refletir-se num colonialismo de conhecimento subordinando a Ameacuterica

Latina economias emergentes e em transiccedilatildeo e suas peculiaridades ao ldquocentrordquo (IBARRA-

COLADO 2006)

Tambeacutem dentro desse cenaacuterio o paradigma de redes eacute marginalizado em funccedilatildeo do

paradigma da ldquoempresa como entidade autocircnoma em busca de vantagem competitivardquo e os

pesquisadores ainda natildeo incorporaram essa temaacutetica nem mesmo dentro da abordagem

processual que historicamente opotildee-se agrave literatura dominante por reconhecer as decisotildees

estrateacutegicas como resultado de barganhas e negociaccedilotildees entre indiviacuteduos e unidades

organizacionais que tecircm percepccedilotildees conflitantes e condiccedilotildees desiguais de poder (FARIA

2003 FARIA 2005 e WHITTINGTON 2006)

Organizaccedilotildees que vivem diferentes contextos e realidades recebem dos acadecircmicos o

mesmo tratamento da grande empresa autocircnoma americana Assim particularmente em paiacuteses

emergentes como o Brasil pesquisas em estrateacutegia ficam comprometidas havendo uma

inibiccedilatildeo ao desenvolvimento de conhecimento acadecircmico em outros paiacuteses e regiotildees

especialmente nos novos e atrativos mercados e tambeacutem uma grande distacircncia entre o que eacute

praticado em algumas localidades e a literatura dominante disseminada (WALTERS 2001

BERTERO et al 2003 HAMBRICK 2004 WILSON amp JARZABKOWSKI 2004 FARIA

2005 e GUEDES 2008)

Em especial no Brasil o ensino e a produccedilatildeo de tecnologia administrativa foram

moldados com base na importaccedilatildeo e difusatildeo massiva de referenciais estrangeiros

principalmente os americanos resultando na vigecircncia da enorme hegemonia da literatura

americana na academia brasileira (CALDAS 2007)

No que se refere ao ambiente de negoacutecios luso-brasileiro cenaacuterio que se destaca

principalmente pelas diferentes responsabilidades e praacuteticas do Estado pela forte presenccedila de

aspectos de poder e poliacutetica e pelo uso intenso de estrateacutegias de natildeo-mercado pelas empresas

percebe-se que a literatura dominante deslegitimou as praacuteticas dos estrategistas que nele

atuam (FARIA amp IMASATO 2008)

No entanto as questotildees de poder e poliacutetica e as interfaces entre mercado Estado e

sociedade tambeacutem tecircm sido marginalizadas Essa caracteriacutestica eacute resultado do fato da

literatura em estrateacutegia desprezar os conceitos relacionados ao poder e agrave poliacutetica porque esses

fatores foram deslegitimados pela literatura dominante produzida nos EUA mesmo que a aacuterea

seja intimamente relacionada ao poder e agrave poliacutetica (KNIGHTS amp MORGAN 1991 e FARIA

amp IMASATO 2008)

Finalizando verifica-se a forte predominacircncia das praacuteticas e conceitos baseados no

argumento de que a grande empresa deve se dedicar a controlar o que estaacute fora da

organizaccedilatildeo No entanto para alguns autores a estrateacutegia natildeo eacute soacute um conjunto de teacutecnicas ou

um corpo de conhecimentos mas eacute essencialmente um mecanismo de poder um discurso

Considerando tambeacutem a posiccedilatildeo hieraacuterquica da disciplina e sua histoacuterica vinculaccedilatildeo agraves elites e

ao poder militar pode-se afirmar que ela estaacute longe da neutralidade o que demanda

indubitavelmente visotildees mais pluralistas e exige atenccedilatildeo criacutetica (KNIGHTS amp MORGAN

1991 e FARIA 2007)

O discurso dominante de orientaccedilatildeo para o mercado facilita o foco e a visatildeo da

estrateacutegia organizacional pois provecirc objetivo comum a ser alcanccedilado unificando esforccedilos e

projetos dos indiviacuteduos e departamentos da organizaccedilatildeo constituindo uma forma ideoloacutegica e

cultural de controle (KNIGHTS amp MORGAN 1991)

Uma vez abordado o histoacuterico de construccedilatildeo da teoria dominante vigente na

atualidade aleacutem da concepccedilatildeo de Whittington (2006) a proacutexima subseccedilatildeo tambeacutem deteraacute

foco nas concepccedilotildees de Henry Mintzberg (2000) autores que satildeo considerados pelas

contribuiccedilotildees em prol do pluralismo e visatildeo mais criacutetica nessa disciplina Adicionalmente

seratildeo apresentadas visotildees da estrateacutegia que consideram aspectos ligados a poder e poliacutetica

312 Abordagens Pluralistas na Aacuterea de Estrateacutegia

Alguns autores de estrateacutegia desenvolveram outras abordagens que destinam atenccedilatildeo

ao processo descritivo de como as estrateacutegias satildeo realizadas como acontecem e natildeo como

elas deveriam ser realizadas aleacutem de terem contribuiacutedo para o reconhecimento do pluralismo

na aacuterea

Dentre essas outras abordagens destacam-se as concepccedilotildees de Richard Whittington

com suas perspectivas e matriz de classificaccedilatildeo bidimensional de estrateacutegia e de Henry

Mintzberg que apresenta sua classificaccedilatildeo de escolas e linhas de pensamento em estrateacutegia O

principal objetivo dessa subseccedilatildeo eacute apresentar essas duas importantes classificaccedilotildees visando

revelar as diferentes perspectivas existentes na disciplina o que seraacute uacutetil para maior

delineamento do cenaacuterio que envolve a estrateacutegia Adicionalmente seratildeo apresentadas visotildees

da estrateacutegia que consideram aspectos ligados a poder e poliacutetica questotildees desconsideradas

pela literatura dominante

Whittington em seu livro ldquoO que eacute estrateacutegiardquo estabelece uma classificaccedilatildeo das

diversas teorias de estrateacutegia representada por uma matriz na qual os eixos referem-se agrave

orientaccedilatildeo da estrateacutegia empresarial e ao processo de decisatildeo A combinaccedilatildeo dessas duas

dimensotildees define as quatro perspectivas do pensamento estrateacutegico claacutessica evolucionaacuteria

sistecircmica e processual (BERTERO et al 2003)

Para Whittington essas quatro abordagens se distinguem por duas dimensotildees os

resultados da estrateacutegia e os processos pelos quais ela eacute levada a termo Em relaccedilatildeo agrave

dimensatildeo dos resultados o posicionamento na matriz indica o grau em que a estrateacutegia

conduz agrave produccedilatildeo de resultados de maximizaccedilatildeo de lucros ou deles se desvia visando dar

lugar a outros objetivos No que se refere agrave dimensatildeo dos processos reflete o quanto a

estrateacutegia resulta de caacutelculos deliberados ou emerge acidentalmente seja por confusatildeo ou ateacute

mesmo ineacutercia (WHITTINGTON 2006)

ldquoAs abordagens claacutessica e evolucionaacuteria vecircem a maximizaccedilatildeo do

lucro como o resultado natural do desenvolvimento da estrateacutegia As

abordagens sistecircmica e processual satildeo mais pluralistas pressentindo

outros resultados possiacuteveis aleacutem do lucro As abordagens tambeacutem se

diferenciam com respeito aos processos Aqui a evolucionaacuteria se alia

agrave processualista ao enxergar a estrateacutegia como algo que emerge dos

processos governados por acasos confusatildeo e conservadorismo Por

outro lado embora diferentes quanto aos resultados as abordagens

claacutessica e sistecircmica concordam em que a estrateacutegia pode ser algo

deliberadordquo (WHITTINGTON 2006 p 2-3)

Figura 2 Perspectivas sobre estrateacutegia Fonte WHITTINGTON 2006 (p 3)

Na classificaccedilatildeo de Whittington (2006) para os estrategistas claacutessicos a lucratividade

eacute o objetivo supremo das empresas o qual eacute obtido por meio de um planejamento racional de

longo prazo vital para garantir o futuro Suas principais caracteriacutesticas foram estabelecidas

por Alfred Chandler Igor Ansoff e Alfred Sloan14

A perspectiva claacutessica eacute reconhecidamente a mais antiga e tambeacutem a mais influente

dentre todas sendo frequentemente associada ao modelo de anaacutelise das induacutestrias de Porter

autor que tambeacutem pode ser enquadrado dentro dessa classificaccedilatildeo (BERTERO et al 2003)

apego agrave anaacutelise racional distanciamento

entre estruturaccedilatildeo e execuccedilatildeo da estrateacutegia e o compromisso com a maximizaccedilatildeo dos lucros

das empresas Para os claacutessicos dominar ambientes internos e externos exige um bom

planejamento e decisotildees objetivas fazem a diferenccedila entre o sucesso prolongado e o fracasso

Em termos gerenciais as visotildees claacutessicas devem projetar-se para um futuro distante

inspirando e guiando a forccedila de trabalho ao mesmo tempo em que otimizam o resultado

financeiro (lucro) Dentro desse contexto a alta gerecircncia deve decidir sobre suas estrateacutegias

por meio de accedilotildees objetivas e com a utilizaccedilatildeo de foacutermulas e matrizes sem desviar os olhos

dos detalhes das operaccedilotildees As estruturas devem sempre seguir as estrateacutegias

A perspectiva evolucionaacuteria afirma que a estrateacutegia em seu sentido claacutessico de

planejamento racional orientado para o futuro eacute frequentemente irrelevante Os

evolucionaacuterios consideram o futuro como algo muito volaacutetil e imprevisiacutevel de ser planejado e

aconselham que a melhor estrateacutegia eacute concentrar-se na maximizaccedilatildeo das chances de 14 Ex-presidente da General Motors definiu o problema estrateacutegico fundamental das empresas como sendo o posicionamento organizacional nos mercados dentro dos quais eacute possiacutevel alcanccedilar o maior iacutendice de lucros

Emergentes Deliberados Processos

Claacutessica

Sistecircmica

Evolucionaacuteria

Processual

Plural

Maximizaccedilatildeo dos lucros Resultados

sobrevivecircncia de hoje Isso porque o ambiente eacute caracterizado como algo muito implacaacutevel e

imprevisiacutevel para que possam ser feitas previsotildees eficazes

Dentro dessa perspectiva o que prevalece eacute um processo de seleccedilatildeo anaacutelogo agrave seleccedilatildeo

darwiniana As empresas satildeo como espeacutecies da evoluccedilatildeo bioloacutegica nas quais processos

competitivos cruelmente selecionam as mais capacitadas agrave sobrevivecircncia Jaacute as que natildeo tecircm

forccedila suficiente para se adaptar encaminham-se para a extinccedilatildeo (WHITTINGTON 2006 e

BERTERO et al 2003)

Na abordagem evolucionaacuteria os estrategistas tecircm menos confianccedila na habilidade

gerencial de planejar e agir racionalmente No processo de ldquoseleccedilatildeo naturalrdquo as estrateacutegias

bem sucedidas emergem como processos competitivos e de diversificaccedilatildeo sendo essas as que

sobreviveratildeo Em detrimento dos gerentes os evolucionistas esperam que os mercados

garantam a maximizaccedilatildeo do lucro sendo os principais conselhos dos evolucionaacuterios (i)

manter os custos baixos (ii) ter as opccedilotildees abertas e (iii) deixar que o ambiente (e natildeo os

gerentes) faccedilam a seleccedilatildeo das estrateacutegias

No que se refere agrave perspectiva processual o planejamento de longo prazo eacute pouco uacutetil

em funccedilatildeo das dificuldades relacionadas ao processo de previsatildeo do futuro Os processualistas

satildeo menos pessimistas sobre o destino de empresas que natildeo se adeacutequam ao ambiente pois

empresas e mercados satildeo inerentemente imperfeitos o que contraria os pressupostos do

planejamento estrateacutegico claacutessico e do princiacutepio da sobrevivecircncia dos evolucionaacuterios

respectivamente (WHITTINGTON 2006 e BERTERO et al 2003)

As bases da abordagem processualista encontram-se na rejeiccedilatildeo do princiacutepio do

homem racional econocircmico e da perfeiccedilatildeo dos mercados competitivos o que a levou a

considerar relevantemente a complexidade interna das organizaccedilotildees

Nesse cenaacuterio nem a exatidatildeo claacutessica nem a crueldade evolucionaacuteria satildeo adequados

Desse modo para os processualistas na praacutetica a estrateacutegia emerge mais de processos

pragmaacuteticos de aprendizagem comprometimento e adaptaccedilatildeo Para eles os recursos que

garantem um desempenho superior sustentaacutevel encontram-se internamente na capacidade de

explorar e renovar recursos distintos e natildeo externamente com o simples posicionamento da

empresa nos mercados certos Adicionalmente dentro dessa abordagem a implementaccedilatildeo

efetiva da estrateacutegia natildeo eacute resultado do comando de cima para baixo mas do profundo

envolvimento que permite a aprendizagem Assim as estruturas organizacionais controlam os

estrategistas tanto quanto o inverso (WHITTINGTON 2006)

A abordagem sistecircmica propotildee que os objetivos e as praacuteticas da estrateacutegia dependem

do sistema social especiacutefico no qual o processo de desenvolvimento da estrateacutegia encontra-se

inserido Perante essa visatildeo os estrategistas podem com frequecircncia se desviar da regra da

maximizaccedilatildeo do lucro deliberadamente pois os ambientes social poliacutetico e cultural podem

despertaacute-lo para outros interesses aleacutem do lucro (BERTERO et al 2003)

Os estrategistas que advogam essa abordagem acreditam que a estrateacutegia reflete os

sistemas sociais dos quais eles participam definindo os interesses segundo os quais eles

agem e as regras de sobrevivecircncia Trata-se portanto de uma posiccedilatildeo relativista perante a

qual um determinado comportamento julgado como irracional ou ineficiente por um teoacuterico

claacutessico pode ser perfeitamente racional e eficiente dependendo dos criteacuterios locais e do

modus operandi do contexto social especiacutefico onde as accedilotildees estrateacutegicas satildeo realizadas

Nesse cenaacuterio o comportamento econocircmico dos estrategistas encontra-se inserido

numa rede de relaccedilotildees sociais que pode envolver suas famiacutelias o Estado suas formaccedilotildees

profissionais e origem eacutetnica Essas redes influenciam tanto os meios quanto os fins da accedilatildeo

possibilitando que tipos diferentes de estruturas de empreendimentos tornem-se viaacuteveis e bem

sucedidos em determinados contextos sociais principalmente onde as culturas satildeo

homogecircneas e compartilham fortes limites com os estados-naccedilatildeo15

A visatildeo sistecircmica revela que as ecircnfases claacutessica e evolucionaacuteria nos mercados e na

lucratividade as quais excluem o Estado e os interesses nacionais satildeo reflexo de

circunstacircncias histoacutericas e sociais muito particulares especificamente das condiccedilotildees

particulares da Ameacuterica do Norte no periacuteodo poacutes-guerra Tratam-se das origens do conceito

de estrateacutegia compostas de noccedilotildees de estrateacutegia peculiares do ponto de vista daquele

ambiente cultural e social

Desse modo variaccedilotildees no mercado Estado e sistemas culturais poliacuteticos e sociais satildeo

relevantes para a formulaccedilatildeo da estrateacutegia corporativa A abordagem sistecircmica eacute a que surgiu

mais recentemente e desafia a universalidade de qualquer modelo estrateacutegico agrave medida que

reconhece as vaacuterias racionalidades segundo as quais os estrategistas podem atuar

De forma resumida na visatildeo de Whittington (2006) tratam-se de quatro perspectivas

bastante diferentes em relaccedilatildeo agrave estrateacutegia Cada qual alicerccedilada sobre pressupostos que

variam quanto aos processos e resultados e com implicaccedilotildees opostas no que se refere agraves accedilotildees

15 Estado-naccedilatildeo eacute um Estado uma unidade poliacutetica territorial especiacutefica do sistema econocircmico que se identifica em funccedilatildeo de uma naccedilatildeo especiacutefica (BRESSER-PEREIRA 2007 e GONCcedilALVES 2006)

gerenciais De um lado a confianccedila dos claacutessicos na anaacutelise ordem e controle eacute abalada pelo

ceticismo dos processualistas sobre cogniccedilatildeo racionalidade e flexibilidade humanas Sob

outro ponto de vista os processualistas e sua aprendizagem incremental satildeo desafiados pelos

mercados impacientes dos evolucionistas os quais podem ser contestados se o Estado for

instado a intervir como preconizam os analistas sistecircmicos

Sob outro foco de anaacutelise para Henry Mintzberg a estrateacutegia pode ser vista sob uma

variedade de formas Entretanto esse autor identificou cinco diferentes definiccedilotildees em

particular plano padratildeo posiccedilatildeo perspectiva e truque (MINTZBERG 1987)

Dentro dessas definiccedilotildees a estrateacutegia pode ser um plano representando uma direccedilatildeo

um guia ou curso de accedilatildeo para o futuro um caminho a ser seguido um padratildeo a consistecircncia

da empresa num comportamento ao longo do tempo uma posiccedilatildeo incorporando a visatildeo de

Porter localizando a empresa e seus produtos corretamente no ambiente uma perspectiva ou

seja a maneira fundamental de uma organizaccedilatildeo fazer as coisas e por fim um truque

representando uma manobra especiacutefica para enganar um oponente ou concorrente

Para esse autor o reconhecimento de muacuteltiplas definiccedilotildees pode ajudar igualmente

praticantes e pesquisadores a lidarem com as dificuldades da disciplina Adicionalmente cada

definiccedilatildeo adiciona relevantes aspectos para uma melhor compreensatildeo da estrateacutegia

ldquo() strategy is not just a notion of how to deal with an enemy or a

set of competitors or a market as it is treated in so much of the

literature and in its popular usage It also draws us into some of the

most fundamental issues about organizations as instruments for

collective perception and actionrdquo (MINTZBERG 1987 p 21)

Diferentemente de Whittington (2006) mas com o mesmo propoacutesito de demonstrar e

reconhecer o pluralismo existente na disciplina Henry Mintzberg em conjunto com Bruce

Ahlstrand e Joseph Lampel na obra ldquoStrategy safary a guided tour through the wilds of

strategic managementrdquo16

16 Como referecircncia nessa dissertaccedilatildeo foi utilizada a traduccedilatildeo brasileira desse livro Safaacuteri de Estrateacutegia (2000)

dividiu a literatura sobre estrateacutegia em dez grandes linhas ou

escolas de pensamento as quais adicionalmente foram classificadas como prescritivas e

descritivas

O primeiro grupo descrito a seguir reuacutene escolas que tecircm em comum o fato de

compartilhar a natureza normativa que relaciona-se ao grande interesse pelo modo como as

estrateacutegias devem ser formuladas e menos pela maneira como foram concebidas

i Escola do Design ou da concepccedilatildeo ndash Trata-se da primeira escola que lanccedilou

as bases das escolas prescritivas e considera a formulaccedilatildeo da estrateacutegia como

um processo de concepccedilatildeo Inclui-se nessa escola Alfred Chandler e sua

teorizaccedilatildeo sobre estrateacutegia e estrutura

ii Escola do Planejamento ndash Essa escola originou-se no mesmo tempo que a

escola de design e percebe a formulaccedilatildeo da estrateacutegia como um processo

formal O autor mais influente dessa escola eacute Igor Ansoff

iii Escola do Posicionamento ndash Surgida nos anos 80 revela-se como a escola

mais voltada para o posicionamento nos mercados econocircmicos e vecirc o processo

de formulaccedilatildeo estrateacutegica como um processo analiacutetico Trata-se de uma escola

que focalizou o conteuacutedo das estrateacutegias abrindo o lado prescritivo da aacuterea a

investigaccedilotildees substanciais aleacutem de contar com grandes contribuiccedilotildees de

Michael Porter

Esse segundo grupo conteacutem linhas de pensamento que se concentram no processo de

concepccedilatildeo das estrateacutegias ou seja modelos descritivos

iv Escola Empreendedora ndash Essa escola descreve a estrateacutegia como a criaccedilatildeo da

visatildeo da organizaccedilatildeo por uma grande lideranccedila personalizada e a considera

como um processo visionaacuterio

v Escola Cognitiva ndash Vinculada ao empreendedorismo desenvolveu-se a linha

do conhecimento buscando nas ferramentas da psicologia cognitiva o modo

de penetrar na mente do estrategista Portanto para essa escola a formulaccedilatildeo

da estrateacutegia eacute um processo mental

vi Escola do Aprendizado ndash Considera como fundamento vital o embasamento

em descriccedilatildeo em vez de prescriccedilatildeo e percebe a estrateacutegia como um processo

emergente com os planos estrateacutegicos sendo feitos em pequenas etapas agrave

medida que a empresa se adapta agrave complexidade do ambiente

vii Escola do Poder ndash Essa escola vecirc o processo de formulaccedilatildeo estrateacutegica

enfatizando a questatildeo poliacutetica e como um processo de negociaccedilatildeo o qual rege

o confronto entre grupos internos ou entre a organizaccedilatildeo e seu ambiente

Nessa escola eacute introduzida a formulaccedilatildeo cooperativa de estrateacutegia com a

utilizaccedilatildeo de redes e alianccedilas estrateacutegicas

viii Escola da Cultura Empresarial ndash considera a formulaccedilatildeo de estrateacutegia como

um processo coletivo e cooperativo estando a estrateacutegia enraizada na cultura

da empresa

ix Escola Ambiental ndash Nessa escola a formulaccedilatildeo de estrateacutegia eacute um processo

baseado na reaccedilatildeo da empresa ao contexto e agraves pressotildees e natildeo ao que ela eacute de

O uacuteltimo grupo eacute um concentrado dos outros dois e conteacutem apenas uma linha de

pensamento

x Escola de Configuraccedilatildeo ndash Define a formulaccedilatildeo de estrateacutegia como um

processo de transformaccedilatildeo integrando vaacuterias partes ndash gecircnese conteuacutedo

estruturas organizacionais contextos ndash em funccedilatildeo de diferentes estaacutegios de

vida da empresa

Escolas Prescritivas Escolas Descritivas Escola Prescritiva e Descritiva Design Empreendedora Configuraccedilatildeo

Planejamento Cognitiva

Posicionamento Aprendizado

Cultural

Ambiental Quadro 1 Escolas em Estrateacutegia Fonte Adaptado de MINTZBERG et al 2000

Grande parte do conhecimento de administraccedilatildeo estrateacutegica tem enfatizado o lado

racional e prescritivo do processo ou seja tem dado relevante foco agraves escolas do design

planejamento e posicionamento Essas trecircs escolas prescritivas tecircm dominado a praacutetica e a

literatura sobre estrateacutegia fazendo com que a disciplina seja comumente descrita como uma

atividade que gira em torno de fases distintas de formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo e controle

Dentre essas escolas prescritivas analisando as caracteriacutesticas de cada classificaccedilatildeo de

Whittington e Mintzberg conclui-se que haacute um grande predomiacutenio da concepccedilatildeo de estrateacutegia

enquanto posicionamento (positioning) o que pode ser explicado pelo fato de ser uma teoria

que oferece simultaneamente referencial teoacuterico procedimentos de anaacutelise e instrumentos de

trabalho para o gestor (BERTERO et al 2003)

Realmente perceber a estrateacutegia como a determinaccedilatildeo de metas e objetivos baacutesicos de

longo prazo como propotildee Chandler se provou frutiacutefero para aqueles que satildeo favoraacuteveis a

modelos de formulaccedilatildeo e escolha de estrateacutegia fundamentados em bases econocircmicas e

posicionamento (por exemplo a matriz de estrateacutegias geneacutericas de Porter) No entanto essa

abordagem eacute considerada limitada em termos de profundidade analiacutetica pelos estudiosos

interessados em delinear e descrever processos de estrateacutegia como a sua implementaccedilatildeo e o

seu surgimento (WILSON amp JARZABKOWSKI 2004 e CUMMINGS amp WILSON 2003)

Numa outra abordagem ampliando o horizonte da visatildeo sistecircmica pode-se considerar

que toda a formaccedilatildeo ortodoxa da estrateacutegia ou seja a racionalidade claacutessica de estrateacutegia

revela-se como uma ideologia poliacutetica conservadora que atende aos proacuteprios interesses pois

serve como um modo de reproduzir as condiccedilotildees da sociedade capitalista (norte-americana)

organizada hierarquicamente e das empresas como entidades por definiccedilatildeo autocircnomas Sob

esse ponto de vista as pesquisas desenvolvidas em strategic management satildeo

substancialmente coloridas por interesses ideoloacutegicos os quais universalizam as estruturas

existentes na sociedade americana como um todo assim como as metas desejos valores e

interesses de sua elite dominante (SHRIVASTAVA 1986)

Apesar de Mintzberg e Whittington considerarem a existecircncia de uma pluralidade na

disciplina dentro do cenaacuterio teoacuterico dominante de estrateacutegia o conceito de redes eacute

praticamente ignorado uma vez que predomina o paradigma da empresa como entidade

autocircnoma o que dificulta o desenvolvimento de pesquisas relacionadas a esse fenocircmeno

Aleacutem disso as perspectivas dominantes em estrateacutegia ignoram o papel do Estado no

processo de desenvolvimento das empresas assim como a influecircncia do setor privado sobre as

decisotildees do governo (BAILEY 1999) Tanto as questotildees de poder e poliacutetica quanto as

interfaces entre mercado Estado e sociedade tambeacutem tecircm sido marginalizadas Essa

caracteriacutestica eacute resultado do fato da literatura em estrateacutegia desprezar os conceitos

relacionados ao poder e agrave poliacutetica porque esses fatores foram deslegitimados pela literatura

dominante produzida nos EUA ainda que a aacuterea seja intimamente relacionada ao poder e agrave

poliacutetica (KNIGHTS amp MORGAN 1991 e FARIA amp IMASATO 2008)

No decorrer da evoluccedilatildeo da estrateacutegia emergiram praacuteticas e conceitos baseados no

argumento de que a grande empresa deveria se dedicar a controlar o que estava fora da

organizaccedilatildeo com base em modelos e estrateacutegias geneacutericas como visto anteriormente No

entanto para alguns autores a estrateacutegia natildeo eacute soacute um conjunto de teacutecnicas ou de

conhecimentos mas essencialmente um mecanismo de poder Considerando tambeacutem a

posiccedilatildeo hieraacuterquica da disciplina e sua histoacuterica vinculaccedilatildeo agraves elites e ao poder militar pode-

se afirmar que ela estaacute longe da neutralidade (KNIGHTS amp MORGAN 1991 e FARIA

No que tange a poder embora existam outras forccedilas tangiacuteveis no ambiente interno e

externo agrave empresa as quais satildeo privilegiadas pela literatura dominante trata-se de um fator

relevante que natildeo pode ser ignorado no processo de anaacutelise e entendimento de como as

organizaccedilotildees funcionam O poder seja dentro das organizaccedilotildees por meio das forccedilas internas

de influecircncia (controle de pessoal controle burocraacutetico ideologia expertise etc) seja ao

redor das mesmas eacute um fator que pode explicar como diversos interessados tentam

influenciar os que as empresas fazem (MINTZBERG 1983)

Especialmente em relaccedilatildeo ao poder poliacutetico haacute uma literatura em estrateacutegia que

entende que a organizaccedilatildeo pode agir de forma proacute-ativa com o objetivo de angariar vantagens

comerciais junto ao governo visando impedir as ameaccedilas de determinado concorrente ou

visando forccedilar consumidores a comprarem seus produtos (BAILEY 1999 e MARTIN 2003)

Trata-se de um fator ambiental importante e de consideraccedilatildeo obrigatoacuteria na elaboraccedilatildeo

das estrateacutegias empresariais devendo fazer parte da estrateacutegia geral da empresa dada a sua

faculdade de tributaccedilatildeo regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades econocircmicas o que o configura

como um relevante agente criador de dependecircncias ao fixar em praticamente todos os setores

regras de ingresso e de funcionamento legiacutetimo (BAILEY 1999 e MARTIN 2003)

ldquoAs poliacuteticas do setor puacuteblico podem criar e ajudar a sustentar a

vantagem competitiva das empresas ou minar e ateacute destruir as

vantagensrdquo (BAILEY 1999 p 87)

O poder puacuteblico encontra-se afastado do escopo da literatura de estrateacutegia tambeacutem em

funccedilatildeo do fortalecimento do conceito de orientaccedilatildeo para o mercado que despreza as

caracteriacutesticas institucionais e histoacutericas dos mercados e em especial os poderes e interesses

do Estado da empresa e da sociedade marginalizando as outras teorias que satildeo de central

importacircncia para a compreensatildeo do desempenho das empresas (FARIA 2008a)

As empresas competem por lucros natildeo somente dentro do ambiente de mercados mas

tambeacutem por meio de seus esforccedilos na arena poliacutetica a fim de manipular regulaccedilotildees leis e

outras instituiccedilotildees que governam o ambiente de negoacutecios A estrateacutegia tem historicamente

focado na primeira forma de competiccedilatildeo (estrateacutegia de mercado) deixando a uacuteltima

reconhecida como estrateacutegias de natildeo-mercado para acadecircmicos do campo de economia

poliacutetica (HENISZ amp ZELNER 2003)

As accedilotildees poliacuteticas das organizaccedilotildees tecircm como principal objetivo a estruturaccedilatildeo de um

domiacutenio poliacutetico que atua por meio da utilizaccedilatildeo do poder de governo para conseguir

vantagens econocircmicas ou reduccedilatildeo de incertezas operacionais Ademais enquadram-se numa

categoria especial de estrateacutegias empresariais as que buscam obter vantagens competitivas

econocircmicas de forma natildeo aceitaacutevel pela sociedade (MARTIN 2003)

A abordagem claacutessica dificilmente reconhece a interferecircncia do Estado nas atividades

das empresas privadas num posicionamento estaacutetico que ignora o Estado como parte da

estrutura da induacutestria embora existam evidecircncias de que o Estadogoverno atue como

construtor de ambiente apropriado (apoiando criando clima favoraacutevel e se necessaacuterio

intervindo) para as companhias aumentarem sua capacidade de competir mundialmente

(BARBOSA 1999)

Adicionalmente conforme pode ser verificado a partir da anaacutelise da literatura

dominante sobre estrateacutegia parte importante dessa base teoacuterica acadecircmica sobre o

comportamento empresarial trata da dependecircncia das empresas em relaccedilatildeo a fatores externos

ou ambientais No entanto nem no modelo das cinco forccedilas de Porter nem na visatildeo baseada

em recursos da empresa eacute destinado foco aos importantes viacutenculos existentes entre estrateacutegia

privada e poliacuteticas puacuteblicas sendo ignoradas portanto as interaccedilotildees existentes (BAILEY

Desse modo verifica-se que a quase totalidade da literatura tradicional sobre estrateacutegia

natildeo focaliza explicitamente as interaccedilotildees entre estrateacutegia e poliacutetica (inter-relaccedilotildees dinacircmicas

entre empresas o puacuteblico legisladores oacutergatildeos reguladores e agecircncias) que podem ajudar a

garantir e sustentar vantagens competitivas ou mesmo limitar a mobilidade de recursos como

capital e trabalho Adicionalmente nessa literatura o poder poliacutetico eacute considerado

exclusivamente como um agente neutro17

dos interesses puacuteblicos apesar de taacuteticas de captura

e de exploraccedilatildeo do poder poliacutetico serem ativamente praticadas em todo o mundo (BAILEY

1999 e MARTIN 2003)

ldquoDesta forma as poliacuteticas econocircmicas e os instrumentos de sua

implementaccedilatildeo entre os quais os impostos os subsiacutedios os

licenciamentos as operaccedilotildees diretas do governo tais como as

aquisiccedilotildees e as concessotildees de creacutedito e mesmo informaccedilotildees sobre

futuras decisotildees e planos governamentais em mateacuteria econocircmica

estariam submetidas agrave possibilidade de captura parcial ou totalrdquo

(MARTIN 2003 p 3)

O comportamento poliacutetico pode ser uma fonte de eficiecircncia poder de mercado e

legitimidade particularmente no contexto internacional onde a interferecircncia poliacutetica e as

oportunidades por ela alavancadas satildeo mais variadas e abundantes Adicionalmente alguns

autores consideram o comportamento poliacutetico como intriacutenseco aos negoacutecios internacionais

uma vez que cruzar fronteiras organizacionais e de paiacuteses levam as firmas a outros contextos

de soberania e forma de estado (BODDEWYN amp BREWER 1994)

As interaccedilotildees entre estrateacutegia e poliacutetica foram delineadas por Bailey (1999 p 88)

conforme o quadro a seguir

17 A teoria econocircmica neoclaacutessica reconhece que instituiccedilotildees poliacuteticas legais monetaacuterias e outras existem mas elas satildeo consideradas como neutras quanto aos efeitos gerados nos resultados econocircmicos os quais satildeo largamente ignorados (FURUBOTN amp RICHTER 2000)

Figura 3 Tendecircncias poliacuteticas e vantagem dinacircmica Fonte BAILEY 1999 (p 88)

Apesar desses tipos de estrateacutegias de ldquonatildeo-mercadordquo18

Dentro desse cenaacuterio o envolvimento na representaccedilatildeo e defesa dos interesses da

empresa em assuntos de poliacutetica puacuteblica em uma base constante eacute agora parte do trabalho do

executivo principal na maioria das grandes corporaccedilotildees pois o ambiente poliacutetico continua

concedendo vantagens eou impondo restriccedilotildees que alteram tanto a natureza da competiccedilatildeo

quanto os resultados competitivos (MASSEY 2001)

serem fundamentais para

grandes corporaccedilotildees e governos devido agrave disseminaccedilatildeo de praacuteticas de lobby na era da

globalizaccedilatildeo ndash as quais satildeo classificadas como lsquocorrupccedilatildeorsquo pela miacutedia ndash raramente satildeo

reconhecidas na aacuterea da administraccedilatildeo empresarial em virtude do preconceito de se discutir

apenas aquilo que eacute politicamente correto (MARTIN 2003)

Numa perspectiva sistecircmica na classificaccedilatildeo de Whittington (2006) existem

variaccedilotildees no mercado Estado e sistemas culturais poliacuteticos e sociais relevantes para a

formulaccedilatildeo da estrateacutegia corporativa Desse modo interesses mais plurais devem ser

considerados pelos estrategistas que devem buscar vantagens no Estado ou em outras partes

como os proacuteprios concorrentes num processo de cooperaccedilatildeo em rede

Essa subseccedilatildeo destinou-se a revelar algumas classificaccedilotildees importantes de diferentes

perspectivas estrateacutegicas revelando com maior nitidez os fundamentos das abordagens

adotadas pela literatura dominante da aacuterea e aquilo que ela despreza A proacutexima seccedilatildeo

destinar-se-aacute agrave investigaccedilatildeo dos traccedilos teoacutericos relacionados ao paradigma de redes

18 As poliacuteticas puacuteblicas muitas vezes servem como impulsionadores natildeo-mercadoloacutegicos do sucesso da empresa (BAILEY 1999) O ambiente natildeo-mercado seraacute mais detalhado na seccedilatildeo 33

Recursos da empresa +

Competecircncias baacutesicas

Mudanccedila nas poliacuteticas

puacuteblicas

Arena competitiva ou

da induacutestria

Arena poliacutetica pode criarsustentar vantagem para a empresa

Nova definiccedilatildeo da arena

Empresas podem usar a arena puacuteblica para proteger seus investimentos em recursos

Empresas podem influenciar durante a abertura da janela poliacutetica

procurando desvendar suas origens as caracteriacutesticas mais relevantes e suas principais

perspectivas

Figura 4 Concepccedilotildees dominantes na disciplina

32 Redes

ldquoAs redes satildeo e seratildeo os componentes fundamentais das

organizaccedilotildeesrdquo (CASTELLS 2001 p 188)

Economias por todo o mundo passaram a manter interdependecircncia global

apresentando uma nova forma de relaccedilatildeo entre a economia o Estado e a sociedade num

sistema de geometria variaacutevel Nesse cenaacuterio a empresa muda seu modelo organizacional

ESTRATEacuteGIA ndash CONCEPCcedilOtildeES DOMINANTES

ETNOCENTRISMO ANGLO-AMERICANO

PARADIGMA DA GRANDE EMPRESA

AMERICANA

OBJETIVOS E RESULTADOS ECONOcircMICOS

ESTRATEacuteGIAS GENEacuteRICAS UNIVERSAIS

FORCcedilAS E ESTRATEacuteGIAS DE

MERCADO

EMPRESAS AUTOcircNOMAS

DESPREZO A PODER E POLIacuteTICA

PLURALISMO

OUTROS CONTEXTOS REDES

para adaptar-se agraves condiccedilotildees de imprevisibilidade introduzidas pela raacutepida transformaccedilatildeo

econocircmica e tecnoloacutegica

O proacuteprio capitalismo tambeacutem passa por um processo de reestruturaccedilatildeo caracterizado

por maior flexibilidade de gerenciamento descentralizaccedilatildeo das empresas e sua organizaccedilatildeo

em redes tanto no acircmbito interno quanto em suas relaccedilotildees com outras empresas e aumento

da concorrecircncia econocircmica global num contexto de progressiva diferenciaccedilatildeo dos cenaacuterios

geopoliacuteticos e culturais (CASTELLS 2001)

Dentro desse contexto a dinacircmica das organizaccedilotildees tem feito com que o tradicional

modelo organizacional de empresa hierarquizada e verticalmente integrada seja substituiacutedo

por um formato no qual as relaccedilotildees de colaboraccedilatildeo unem diversas empresas em redes de

interligaccedilotildees sobretudo horizontais (CARVALHO amp FISCHER 2000)

Com o advento da globalizaccedilatildeo redes estrateacutegia coletiva empreendimentos conjuntos

e alianccedilas estrateacutegicas passaram a fazer parte do novo vocabulaacuterio de administraccedilatildeo

estrateacutegica a ponto de Mintzberg et al (2000) sugerirem que esse fato eacute suficiente para formar

uma escola proacutepria chamada de ldquoescola de limitesfronteirasrdquo em referecircncia a uma

perspectiva relacional uma vez que com a raacutepida ascensatildeo dos relacionamentos corporativos

a formaccedilatildeo de estrateacutegias deixa os limites exclusivos da organizaccedilatildeo e torna-se um processo

conjunto para ser desenvolvido com parceiros A empresa executa um processo de

negociaccedilatildeo atraveacutes de uma seacuterie de relacionamentos e formula uma estrateacutegia que pode ser

caracterizada como coletiva

A principal preocupaccedilatildeo dessa escola eacute com a dissoluccedilatildeo das fronteiras das empresas e

de mercados dissoluccedilatildeo essa que provecirc maior complexidade agrave praacutetica e anaacutelise estrateacutegica

Os teoacutericos que advogam a favor dessa escola argumentam que os pesquisadores devem se

preocupar menos com o processo prescritivo sobre redes e mais com a compreensatildeo de como

funciona o processo de gerenciamento estrateacutegico (FARIA 2007)

Historicamente agrave medida que as empresas ampliaram esses relacionamentos entre si

em amplitude e principalmente em profundidade eacute que os pesquisadores tomaram

conhecimento do modelo de redes Percebeu-se entatildeo que nesse novo cenaacuterio as

organizaccedilotildees satildeo identificadas como entidades natildeo-autocircnomas e interdependentes tendo em

vista que convivem em redes de interaccedilotildees com outras organizaccedilotildees sejam elas do mesmo ou

de diferentes setores As empresas portanto natildeo operam isoladas mas nessas complexas

redes de interaccedilotildees com outros agentes e organizaccedilotildees inclusive fornecedores concorrentes e

clientes (CARVALHO amp FISCHER 2000 e MINTZBERG et al 2000)

Fundamental a esse paradigma eacute o fato de as organizaccedilotildees estarem envolvidas em

relacionamentos com outras empresas Nessa visatildeo a organizaccedilatildeo demonstra-se sem

fronteiras sendo constituiacuteda e estando ligada tambeacutem a recursos e atividades controladas por

outros atores dentro da mesma rede empresarial (HAKANSSON amp SNEHOTA 2006)

A ideia de redes e estrateacutegias coletivas lanccedilou a base para uma torrente de obras e

pesquisas sobre uma outra ideia que estava ocorrendo atraveacutes da praacutetica ndash a das alianccedilas

estrateacutegicas ndash as quais tomam uma variedade de diferentes arranjos como empreendimentos

conjuntos e acordos cooperativos e que desdobram-se numa seacuterie de novos e criativos

arranjos (MINTZBERG et al 2000)

Vale ressaltar e destacar que as alianccedilas e redes estrateacutegicas que interligam as

empresas e fomentam tais interaccedilotildees satildeo muito diferentes das formas tradicionais de carteacuteis e

outros acordos oligopolistas uma vez que dizem respeito a eacutepocas mercados e processos

especiacuteficos Aleacutem disso satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de parceiros os quais ao mesmo

tempo cooperam e competem entre si (CASTELLS 2001)

Nesse sentido configuraccedilotildees diversificadas passam a ser responsaacuteveis pela

combinaccedilatildeo na dinacircmica das organizaccedilotildees contemporacircneas de vaacuterios elementos hiacutebridos

com significados globais e locais puacuteblicos e privados tradicionais e complexos os quais

definem a necessidade de desenvolvimento das condiccedilotildees de governabilidade (governance) e

espaccedilos de negociaccedilatildeo entre os diversos atores dessas redes (CARVALHO amp FISCHER

Muitas alianccedilas e redes possuem tambeacutem uma dimensatildeo poliacutetica seja ela deliberada

ou natildeo em adiccedilatildeo agraves forccedilas puramente competitivas formada quando empresas estabelecidas

se juntam para solapar os esforccedilos de empresas menores e mais novas Adicionalmente essas

manobras estrateacutegicas podem se utilizar de vaacuterias espeacutecies de redes e alianccedilas (MINTZBERG

et al 2000)

O paradigma de redes tambeacutem tem implicaccedilotildees importantes para o desenvolvimento e

anaacutelise de negoacutecios internacionais uma vez que a participaccedilatildeo em redes pode diminuir a

necessidade da companhia de conhecer a cultura liacutengua estrutura industrial e praacuteticas de

negoacutecios de um mercado estrangeiro e comparar essas caracteriacutesticas com as correspondentes

do paiacutes de origem (FORSGREN amp JOHANSON 1992)

Com isso diferentemente da visatildeo antiga de investimento estrangeiro que visava

assumir o controle dos empreendimentos por meio de redes internacionais as organizaccedilotildees

estatildeo considerando o investimento como um instrumento para a construccedilatildeo de um conjunto de

relaccedilotildees entre empresas em diferentes ambientes institucionais (CASTELLS 2001)

No entanto a visatildeo tradicional da organizaccedilatildeo considera as empresas como

concebidas principalmente para o controle e alocaccedilatildeo de recursos internos de acordo com os

criteacuterios de eficiecircncia e lucratividade Essa visatildeo foi institucionalizada natildeo soacute na presente

literatura dominante sobre estrateacutegia mas tambeacutem no arcabouccedilo legal nas diversas

regulaccedilotildees fiscais e em outras disciplinas como contabilidade e economia por exemplo

(HAKANSSON amp SNEHOTA 2006)

Em funccedilatildeo das complexidades originadas no mercado global os pesquisadores da

disciplina privilegiaram o foco gerencial reproduzindo no acircmbito das redes a hegemonia

gerencial construiacuteda na literatura sobre estrateacutegia Uma das mais relevantes caracteriacutesticas

desse posicionamento hegemocircnico eacute a supressatildeo de questotildees de poder e poliacutetica De modo

amplo essas questotildees satildeo tratadas de forma generalizada para todas as organizaccedilotildees sem

considerar as caracteriacutesticas e a amplitude das relaccedilotildees sociais e institucionais (FARIA 2007

e CLEGG amp DUNKERLEY 1977)

Considerando essas caracteriacutesticas as discussotildees relacionadas ao paradigma de redes

constituem-se num desafio a essa visatildeo predominante e abrem novas perspectivas para o

alargamento dos conceitos da administraccedilatildeo estrateacutegica uma vez que colocam em discussatildeo

pressupostos teoacutericos que envolvem a definiccedilatildeo de empresa ambiente mercado e sobre o que

eacute puacuteblico e o que eacute privado Essas discussotildees ajudam a explicar porque pesquisadores natildeo tecircm

conseguido esclarecer como e porque as redes influenciam o desempenho competitivo de

empresas (HAKANSSON amp SNEHOTA 2006 e FARIA 2007)

Apesar de sua difusatildeo mundial as redes ainda natildeo alcanccedilaram o devido

reconhecimento pelos acadecircmicos de gerecircncia estrateacutegica Ainda falta profundidade teoacuterica e

conceitual criacutetica que ajude a melhor compreendecirc-lo como funciona para quecirc serve e que

tambeacutem consiga revelar suas implicaccedilotildees com as questotildees de poder e poliacutetica (GULATI 2000

e FARIA 2005)

Uma outra importante consideraccedilatildeo relativa ao pequeno foco dado agraves redes pela

literatura dominante eacute o fato de acadecircmicos terem dado pouco foco a esse conceito devido agraves

dificuldades de harmonizaccedilatildeo com os postulados baacutesicos do comportamento competitivo

Esse problema de conceitualizaccedilatildeo e concepccedilatildeo da realidade que envolve as redes foi

agravado pela proeminecircncia dos modelos estrateacutegicos baseados nas teorias econocircmicas

(JARILLO 1988)

Esta seccedilatildeo tem por principal objetivo apresentar algumas definiccedilotildees gerais sobre redes

algumas classificaccedilotildees e opiniotildees de autores diversos e tambeacutem buscaraacute evidenciar os

principais aspectos relacionados a uma visatildeo criacutetica do atual cenaacuterio que envolve esse

paradigma

321 Redes ndash algumas definiccedilotildees classificaccedilotildees e opiniotildees

ldquoEmpresas competem e cooperam ao mesmo tempordquo (LIPNACK amp

STAMPS 1994 p 12)

O termo ldquorederdquo apresenta diferentes sentidos e seu conceito pode ser encontrado em

diferentes disciplinas e no estudo de diferentes fenocircmenos sociais Na antropologia por

exemplo por meio das redes primaacuterias referem-se agraves formas especiacuteficas de interaccedilatildeo entre

indiviacuteduos de determinados agrupamentos

Jaacute na sociologia destacam-se as redes sociais que denominam as muacuteltiplas relaccedilotildees

tecidas a partir de associaccedilotildees coletivas Na geografia destacam-se as redes urbanas as quais

indicam niacuteveis de interdependecircncia e de fluxos entre cidades (LOIOLA amp MOURA 1997)

No mundo dos negoacutecios o paradigma de redes eacute um tema que tem sido alvo de

discussotildees entre diversos autores e recebido crescente interesse de publicaccedilotildees gerenciais e

jornais acadecircmicos No entanto apesar de um importante toacutepico e do recente interesse sobre

os relacionamentos inter-firmas ainda haacute uma grande necessidade de maiores pesquisas e de

uma estrutura conceitual baacutesica generalizadamente aceita entre os teoacutericos (JARILLO 1988 e

GULATI et al 2000)

Diferentemente da visatildeo tradicional e claacutessica da disciplina que considera como

variaacuteveis estrateacutegicas os recursos organizacionais como indica por exemplo a teoria da

resource-based view (Barney 1991) ou fatores estruturais da induacutestria e do ambiente

competitivo como preconiza a escola do posicionamento (Porter 1998) a perspectiva

relacional (Mintzberg et al 2000) proporciona uma visatildeo mais abrangente do comportamento

estrateacutegico das empresas

Essa visatildeo relacional fornece maiores insights quanto agraves fontes de vantagem

competitiva e criaccedilatildeo de recursos valiosos e inimitaacuteveis presentes fora das fronteiras das

empresas aleacutem de permitir um entendimento mais refinado da estrutura onde ela se situa

(LEITE amp MACEDO-SOARES 2005)

Diversos autores tecircm definido redes de formas distintas A seguir seratildeo apresentadas

algumas dessas definiccedilotildees classificaccedilotildees e opiniotildees De forma inicial toma-se a visatildeo de

Gulati (1998 p 297) para quem as organizaccedilotildees podem estar interconectadas por meio de um

grande nuacutemero de relacionamentos sociais e econocircmicos os quais podem constituir cada um

uma rede social que inclui relacionamentos de fornecimento fluxo de recursos associaccedilotildees

de comeacutercio e alianccedilas estrateacutegicas

Numa perspectiva estrateacutegica as empresas formam alianccedilas com as quais dividem o

maior niacutevel de interdependecircncia Nesse sentido a formaccedilatildeo de alianccedilas correlaciona-se com

diversas capacidades empresariais tais como produccedilatildeo marketing distribuiccedilatildeo e acesso a

novas tecnologias por exemplo

ldquo() arranjos voluntaacuterios entre empresas envolvendo troca

compartilhamento ou co-desenvolvimento de produtos tecnologias

ou serviccedilos Podem ocorrer como resultado de uma ampla variedade

de motivos e objetivos assumir vaacuterias formas e cruzar as fronteiras

vertical e horizontal da empresardquo (GULATI 1998 p 293)

Dentro dessa perspectiva estrateacutegica o conceito de redes de relacionamentos estaacute

diretamente ligado ao processo de formaccedilatildeo de alianccedilas Na opiniatildeo de Gulati Nohria e

Zaheer (2000 p 204) as redes estrateacutegicas satildeo aquelas que compreendem um conjunto de

relacionamentos da empresa tanto horizontais como verticais com outras organizaccedilotildees ndash

fornecedores clientes concorrentes e outras entidades ndash incluindo relaccedilotildees que atravessam as

fronteiras de induacutestrias e paiacuteses Satildeo compostas de relaccedilotildees interorganizacionais de

significacircncia estrateacutegica para a participaccedilatildeo das empresas em alianccedilas joint ventures e

parcerias de longo prazo

Esses autores (2000 p 199) ressaltam a importacircncia de considerar o papel das redes

estrateacutegicas resultantes de relacionamentos inter-organizacionais em temas fundamentais da

pesquisa em estrateacutegia Identificam cinco temas-chave que teriam grande potencial de

incorporar o paradigma de redes (i) estrutura industrial (ii) posicionamento industrial (iii)

recursos e capacidades empresariais natildeo-imitaacuteveis (iv) custos de coordenaccedilatildeo e contrataccedilatildeo e

(v) limitaccedilotildees e benefiacutecios das redes dinacircmicas

Kogut (2000 p 405) destaca que a performance de uma empresa pode ser

influenciada pelas redes nas quais a organizaccedilatildeo estaacute envolvida por meio da quantidade e

qualidade das informaccedilotildees que recebe e atraveacutes dos benefiacutecios oriundos de redes dinacircmicas de

coordenaccedilatildeo de atividades entre produtores especializados

Na opiniatildeo de Jarillo (1988 p 32) redes satildeo vistas como formaccedilotildees complexas de

relacionamentos entre empresas Esse autor define o paradigma de redes como um modo de

organizaccedilatildeo que pode ser usado por gerentes e empresaacuterios para situar suas firmas numa

posiccedilatildeo competitiva mais forte Adicionalmente esse mesmo autor (1988 p 35) indica que as

redes tecircm implicaccedilotildees estrateacutegicas importantes haja vista que permitem agrave empresa

especializar-se nas atividades de sua cadeia de valor que satildeo essenciais para sua vantagem

competitiva

Jaacute Martin (2002 p 829) explicita que redes satildeo conjuntos de indiviacuteduos ou

organizaccedilotildees nas quais transaccedilotildees satildeo conduzidas com base na confianccedila muacutetua sustentadas

por relaccedilotildees estaacuteveis preferenciais particulares e natildeo-obrigatoacuterias Nessas redes as empresas

podem ser mantidas unidas em funccedilatildeo do compartilhamento de valores interdependecircncia de

recursos ou por meio da imposiccedilatildeo de dependecircncia em relaccedilatildeo a empresas dominantes

Lipnack amp Stamps (1994 p 18) expotildeem que fornecedores clientes e concorrentes satildeo

todos participantes de redes que transpotildeem as fronteiras tradicionais das organizaccedilotildees

motivados pela maior rapidez complexidade e globalizaccedilatildeo das atividades informaccedilotildees e

fluxo de recursos

Essa primeira parte de definiccedilotildees e opiniotildees apresentadas referem-se a uma corrente

mais econocircmica e prescritiva que guarda suas origens nas caracteriacutesticas fundamentais da

literatura dominante No entanto no capitalismo competitivo as redes provecircem um meio

efetivo de coordenaccedilatildeo dos relacionamentos inter-firmas demonstrando que tanto os

relacionamentos colaborativos quanto os competitivos podem ser desenvolvidos com a

utilizaccedilatildeo de estruturas baseadas em redes

A seguir satildeo apresentadas outras visotildees que consideram as redes sob diferentes

aspectos outros que apenas a perspectiva econocircmica e prescritiva Sob esses outros aspectos

alguns caracterizam o surgimento do fenocircmeno das redes como resposta econocircmica agrave busca

por novas fontes de competitividade mas jaacute considerando que a empresa natildeo eacute tatildeo autocircnoma

como explicita a visatildeo claacutessica da estrateacutegia Nessas outras visotildees estatildeo presentes outros

termos-chave como por exemplo colaboraccedilatildeo cooperaccedilatildeo interdependecircncia troca

interaccedilatildeo ajuda muacutetua compartilhamento complementaridade e natildeo-autocircnoma

Carvalho e Fischer (2000 p 6) indicam que organizaccedilotildees satildeo identificadas como

entidades natildeo-autocircnomas e interdependentes uma vez que estatildeo ancoradas em redes de

interaccedilotildees com outras organizaccedilotildees de um mesmo ou de diferentes setores

Para Leite e Macedo-Soares (2005 p 1323) as redes estrateacutegicas satildeo compostas de

laccedilos interorganizacionais duradouros de significado estrateacutegico e incluem alianccedilas entre

empresas e demais entidades podendo ser decompostas em vaacuterios laccedilos bilaterais envolvendo

motivos de caraacuteter colaborativo e competitivo onde os parceiros possuem interesses

particulares e comuns

Na concepccedilatildeo de Welch amp Wilkinson (2004 p 216) as redes configuram-se como

sistemas de relacionamentos de troca interconectados entre atores do ambiente de negoacutecios

Essas conexotildees refletem-se de trecircs principais formas entre atividades desenvolvidas pelos

atores entre os recursos detidos por esses atores e entre os proacuteprios atores

Na visatildeo de Hay (1998 p 33) o paradigma de redes estaacute remoldando o contexto

econocircmico e social das sociedades industriais avanccediladas Para esse autor a utilizaccedilatildeo de redes

oferece como grande potencial o estabelecimento de paracircmetros de estabilidade e

previsibilidade dentro de um cenaacuterio instaacutevel desordenado imprevisiacutevel e de raacutepidas

mudanccedilas

Para Hakansson (2004 p 51) a complexidade presente nas grandes empresas

internacionais tem ficado cada vez mais relevante ao longo dos tempos Joint ventures

alianccedilas parcerias estrateacutegicas outsourcing e organizaccedilotildees descentralizadas tecircm modificado

as fronteiras das empresas continuamente

Esse autor (1987) considera o conceito de redes de forma abrangente dado que de um

modo geral significa duas ou mais organizaccedilotildees envolvidas em relacionamentos de longo

prazo tendo como objetivo principal dinamizar os diversos processos organizacionais para o

alcance da competitividade num ambiente cada vez mais turbulento Hakansson amp Ford

(2002) complementam esse conceito afirmando que rede eacute uma estrutura onde um certo

nuacutemero de ldquonoacutesrdquo relacionam-se a outros por meio de especiacuteficos elos Adicionalmente

estabelecem que as organizaccedilotildees atuando em redes destinam tempo ao exame de

oportunidades e restriccedilotildees por meio dos relacionamentos a que estatildeo abertas

Hakansson amp Snehota (2006 p 260) afirmam que atualmente as empresas estatildeo

envolvidas em relacionamentos com diversas organizaccedilotildees Quando esses relacionamentos

demonstram-se centrados em relaccedilotildees de interdependecircncias de atividades e recursos entre os

diversos atores envolvidos esse conjunto de relacionamentos pode ser denominado como uma

Hakansson (1987) destaca trecircs dimensotildees de atuaccedilatildeo dos participantes das redes (i) as

atividades que realiza ou controla (ii) os recursos que controla e (iii) os conhecimentos

detidos sobre atividades recursos e demais participantes da rede A partir dessas trecircs

dimensotildees as redes formadas podem ter as seguintes caracteriacutesticas

i de interdependecircncia funcional quando participantes da rede suas atividades e

recursos apresentam heterogeneidade e complementaridade em niacuteveis

distintos

ii de estrutura de poder dos atores quando a relaccedilatildeo baseia-se no controle de

atividades e recursos

iii de estrutura de conhecimento e experiecircncia quando papeacuteis e funccedilotildees dos

participantes da rede satildeo estabelecidos por sua expertise

iv de estrutura relacionada a tempo quando a rede eacute formada como um produto

de sua histoacuteria em termos de experiecircncia e investimentos em relacionamentos

e conhecimento

Na visatildeo de Castells (2001 p 209-210) existem cinco tipos de redes

i Redes de fornecedores ndash incluem subcontrataccedilatildeo e acordos de OEM

(fabricaccedilatildeo do equipamento original) entre um cliente e seus fornecedores

ii Redes de produtores ndash abrangem acordos de co-produccedilatildeo que oferecem

possibilidade a produtores concorrentes de juntarem suas capacidades de

produccedilatildeo e recursos financeiroshumanos

iii Redes de clientes ndash representam os encadeamentos entre induacutestrias e

distribuidores canais de comercializaccedilatildeo revendedores e usuaacuterios finais

iv Coalizotildees-padratildeo ndash satildeo iniciadas por potenciais definidores de padrotildees globais

com o objetivo de atrelar empresas a padrotildees

v Redes de cooperaccedilatildeo tecnoloacutegica ndash satildeo redes que facilitam a aquisiccedilatildeo de

tecnologia para projetos e geraccedilatildeo de produtos

Para Loiola amp Moura (1997 p 57) no campo dos negoacutecios a rede representa a forma

de organizaccedilatildeo intermediaacuteria entre a firma e o mercado Nesse cenaacuterio as redes estrateacutegicas

caracterizam-se pela conjunccedilatildeo de relaccedilotildees complexas reciacuteprocas de caraacuteter mais cooperativo

do que competitivo Sua composiccedilatildeo goza de relativa estabilidade e seus membros satildeo

empresas juridicamente independentes mas que dependem de uma empresa focal a qual

atuaria como liacuteder na formulaccedilatildeo de estrateacutegias

Diversos motivos podem levar as empresas a optarem por alianccedilas estrateacutegicas ou

redes de relacionamentos Dentre esses motivos destaca-se o processo de internacionalizaccedilatildeo

das empresas em busca de novas oportunidades de negoacutecios Como afirmam Forsgren amp

Johanson (1992 p 2) negoacutecios internacionais ocorrem em conjuntos de redes nas quais

indiretos

Forsgren amp Johanson (1992 p 4) estabelecem uma classificaccedilatildeo para as redes e as

segregam em redes de negoacutecios e redes estrateacutegicas As redes de negoacutecios estatildeo intimamente

ligadas a atividades de negoacutecios as quais interrelacionam-se em vaacuterios niacuteveis de dependecircncia

e precedecircncia Esses autores afirmam que redes empresariais representam uma maneira de

gerenciar atividades interdependentes entre diversos atores do mercado

Nessas redes tais atores ligam-se uns aos outros por meio de relaccedilotildees de troca sendo

suas necessidades e capacidades mediadas pela interaccedilatildeo existente nesses relacionamentos

Tal tipo de rede emerge em ambientes nos quais a coordenaccedilatildeo entre diferentes atores pode

gerar ganhos para as organizaccedilotildees e tambeacutem em ambientes em que o contexto muda

rapidamente

Adicionalmente Forsgren amp Johanson (1992 p 7) admitem que as redes de negoacutecios

natildeo devem ser confundidas com redes estrateacutegicas como as redes de franchising ou redes de

subcontrataccedilatildeo onde um ator de posiccedilatildeo central as constroacutei visando a interaccedilatildeo entre outros

diversos participantes

Por fim esses autores afirmam que os participantes de uma rede tecircm diferentes

domiacutenios de poder em relaccedilatildeo aos demais havendo diferenccedilas no poder de agir e de

influenciar a accedilatildeo dos demais participantes Nessa visatildeo o poder estaacute baseado na posiccedilatildeo que

o participante ocupa na rede e no niacutevel de controle sobre recursos e atividades criacuteticas

Miles amp Snow (1986 p 62) indicam que a busca por novas fontes de competitividade

estaacute produzindo uma nova forma organizacional fruto de uma combinaccedilatildeo uacutenica de

estrateacutegia estrutura e processos de gerenciamento que denomina-se rede dinacircmica

Essas novas formas organizacionais apresentam-se tanto como causa como resultado

das mudanccedilas na natureza da competiccedilatildeo empresarial Empresas formulam novas estrateacutegias a

fim de enfrentar as condiccedilotildees do ambiente empresarial e com isso desenvolvem redes

dinacircmicas as quais revelam-se por meio da formaccedilatildeo de joint ventures subcontrataccedilatildeo

atividades internacionais de licenciamento e desagregaccedilatildeo vertical

Nessas redes cada componente eacute percebido numa visatildeo de complementaridade e natildeo

de competiccedilatildeo com outros componentes Essa complementaridade eacute que permite a criaccedilatildeo de

redes desenhadas para atuar em situaccedilotildeesatividades complexas que natildeo podem ser efetuadas

por uma organizaccedilatildeo isoladamente

Miles Snow amp Coleman (1992 p 11-14) classificam as redes em internas estaacuteveis e

dinacircmicas As redes internas satildeo criadas visando capturar benefiacutecios empresariais e do

mercado sem engajar a empresa em terceirizaccedilotildees (outsourcing) Redes estaacuteveis empregam

outsourcing parcial representando um modo de injetar flexibilidade em toda a cadeia de

valor Nesse caso os ativos satildeo detidos por algumas empresas mas satildeo totalmente dedicados

ao mesmo negoacutecio Nas redes dinacircmicas a empresa-liacuteder monta ativos detidos por outras

empresas da rede Esse tipo de rede pode prover especializaccedilatildeo e flexibilidade com cada

participante da rede praticando sua proacutepria expertise

Na concepccedilatildeo de Thorelli (1986 p 37) as redes situam-se entre mercados e

hierarquias num ambiente complexo no qual nenhuma organizaccedilatildeo pode ser entendida sem

considerar seus diferentes relacionamentos com os demais atores desse ambiente

As redes referem-se a duas ou mais organizaccedilotildees envolvidas em relacionamentos de

longo prazo Podem tambeacutem consistir em ldquonoacutesrdquo ou posiccedilotildees (ocupadas por empresas

unidades de negoacutecio estrateacutegicas associaccedilotildees de comeacutercio e outros tipos de organizaccedilotildees) e

links os quais satildeo evidenciados pela interaccedilatildeo entre essas posiccedilotildees

Dentro dessa concepccedilatildeo as redes podem ser estreitas ou mais abertas dependendo da

quantidade qualidade e tipo de interaccedilotildees entre as posiccedilotildees ou seus participantes Poder eacute o

conceito central na anaacutelise de uma rede conceito esse que reflete-se na habilidade de

influenciar as decisotildees eou accedilotildees de outros membros da rede

Outros conceitos importantes nas redes segundo Thorelli satildeo influecircncia e confianccedila

A influecircncia eacute o indicador de que o poder estaacute sendo exercido Jaacute a confianccedila eacute um conceito

orientado para o futuro que pode ser visto como a crenccedila por parte de cada membro na

importacircncia dos relacionamentos para sua proacutepria performance Especialmente em culturas

orientais confianccedila eacute um fator fundamental para a formataccedilatildeo de contratos envolvendo redes

A confianccedila tambeacutem assume um importante papel para a concretizaccedilatildeo de redes ligando

governos e tambeacutem entre empresas estatais e privadas assumindo portanto aspectos

poliacuteticos

Para alguns autores as redes significam arranjos organizacionais hiacutebridos natildeo-

burocraacuteticos que guardam caracteriacutesticas natildeo-mercado e satildeo utilizadas pelas empresas

visando combinar forccedilas e suplantar fraquezas Aleacutem do aspecto econocircmico reconhecem que

esse processo de colaboraccedilatildeo inter-firmas conteacutem aspectos e interesses muito mais amplos e

profundos (POWELL 1987)

Grandori e Soda (1995 p 1) satildeo dois autores italianos que ressaltam o aumento da

importacircncia das redes entre empresas na atual conjuntura econocircmica devido em muito agrave sua

capacidade de regular complexas interdependecircncias transacionais e cooperativas entre as

organizaccedilotildees De forma geneacuterica conceituam redes como modos de organizar atividades

econocircmicas por meio de coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo interempresarial

Esses acadecircmicos desenvolveram uma tipologia de redes interempresariais tomando

como base a compilaccedilatildeo de diversas pesquisas realizadas em eacutepocas anteriores e alicerccedilada

nos seguintes criteacuterios (i) as principais variaacuteveis que impactam a formaccedilatildeo e o tipo de rede

(ii) os tipos de mecanismos de coordenaccedilatildeo utilizados pelas empresas para atingir a

cooperaccedilatildeo e (iii) os principais modos de coordenaccedilatildeo entre empresas

Dentre as variaacuteveis que impactam a formaccedilatildeo e o tipo de rede destacam-se

diferenciaccedilatildeo entre as unidades a serem coordenadas a intensidade da interdependecircncia

empresarial a complexidade dessa interdependecircncia as caracteriacutesticas do processo de

negociaccedilatildeo a dependecircncia de recursos e a eficiecircncia e efetividade econocircmica

Dentro dessa proposta de classificaccedilatildeo de Grandori e Soda trecircs tipos de redes foram

identificadas sociais burocraacuteticas e proprietaacuterias As redes sociais apresentam como

caracteriacutestica fundamental a informalidade de suas relaccedilotildees interempresariais visando o

intercacircmbio das ldquomercadorias sociaisrdquo tais como prestiacutegio status mobilidade profissional

oportunidades de poder e carreira etc As redes burocraacuteticas em oposiccedilatildeo agraves redes sociais

caracterizam-se pela existecircncia de um contrato formal que se destina a regular natildeo somente

as especificaccedilotildees de fornecimento de produtos e serviccedilos mas tambeacutem os relacionamentos

organizacionais dentro delas proacuteprias ou seja as condiccedilotildees de relacionamento entre seus

participantes Finalmente as redes proprietaacuterias tecircm exclusivamente propoacutesitos financeiros

sendo evidenciadas pela formalizaccedilatildeo de acordos de direito de propriedade entre os acionistas

de empresas tais como joint ventures e capital ventures

Candido Goedert e Abreu (2000 p 8) entendem que de forma geneacuterica pode-se

definir uma rede organizacional como uma estrutura na qual podem participar empresas que

devido a limitaccedilotildees de ordem dimensional estrutural e financeira natildeo podem assegurar as

devidas condiccedilotildees de sobrevivecircncia e desenvolvimento no atual ambiente de turbulecircncias e

incertezas caracterizado pela alta competitividade e por crises e movimentos de

reestruturaccedilatildeo

Para esses autores os princiacutepios fundamentais da aplicaccedilatildeo dos conceitos de rede satildeo

a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacutetua o compartilhamento a integraccedilatildeo e a

complementaridade Desse modo a empresa natildeo eacute analisada isoladamente mas sim dentro de

um contexto que envolve uma ou mais empresas atuando de forma interativa integrada

podendo compartilhar recursos pessoas tecnologias etc

Wright et al (2005) associam novos arranjos organizacionais como as redes a

economias emergentes sendo essas redes caracterizadas como um meio de lidar com a falta

de instituiccedilotildees de mercado nos paiacuteses subdesenvolvidos e com instabilidades poliacuteticas aleacutem

de possibilitar o ajuste de assimetrias de capacidades e de recursos Com isso na visatildeo desses

autores o paradigma de redes estaacute mais alinhado agrave Resource-Based View (RBV) devido ao

foco dado agrave sua utilizaccedilatildeo como instrumento de compensaccedilatildeo dos recursos disponiacuteveis

Todas as redes satildeo compostas de ligaccedilotildees entre ldquonoacutesrdquo (participantes) em sistemas

sociais Como um sistema social as redes podem ser entendidas como um conjunto de

relacionamentos de dependecircncia resultante de trocas de recursos padronizadas entre os ldquonoacutesrdquo

da rede O comportamento de um determinado participante dessa rede pode ser interpretado

como uma funccedilatildeo do modo como as ligaccedilotildees entre os participantes criam acesso a recursos na

rede como um todo (MAHON et al 2004)

Uma rede social pode ser construiacuteda onde dois ou mais atores conectados por um

ldquonoacuterdquo que faz com que participem de um ou mais grupos sociais e onde a intensidade desse

ldquonoacuterdquo aumenta conforme o incremento de novos participantes na rede (MAHON et al 2004)

Para Nohria (1992) a ideia os conceitos e as aplicaccedilotildees de redes natildeo satildeo novas uma

vez que vecircm sendo sistematicamente utilizados por diversas aacutereas de conhecimento em

especial nas ciecircncias sociais Na antropologia e psicologia tecircm sido utilizados num enfoque

mais relacionado agraves diversas formas de interaccedilatildeo e relacionamento de pessoas e grupos sociais

num determinado contexto social Na utilizaccedilatildeo assim como no estudo da perspectiva de

redes as organizaccedilotildees satildeo apontadas como redes sociais que estatildeo diretamente relacionadas

ao conjunto de pessoas e organizaccedilotildees de diversas naturezas

Dentre as perspectivas teoacutericas dominantes esse autor ressalta duas correntes A

primeira delas encara as redes como respostas estrateacutegicas para mitigar e gerenciar incertezas

competitivas e interdependecircncias de recursos Exemplos dessa visatildeo satildeo os trabalhos de

Wernerfelt e Barney A segunda perspectiva apoacuteia-se na teoria dos custos transacionais como

resposta agraves condiccedilotildees em que as transaccedilotildees natildeo podem ser conduzidas por meio de contratos

de mercado mas em que os custos de transaccedilatildeo natildeo satildeo tatildeo altos a ponto de demandarem

organizaccedilatildeo interna Nessa visatildeo alinha-se Williamson Essas teorias natildeo satildeo suficientes para

explicar o fenocircmeno das redes pois datildeo pouca atenccedilatildeo agrave forma como as alianccedilas

interconectam-se de modo a amarar as empresas numa rede de relacionamentos (CABRAL

Nohria sugere que o estudo das organizaccedilotildees numa perspectiva de redes deve ser

fundamentado nas seguintes razotildees (i) todas as organizaccedilotildees integram uma rede social e

precisam ser analisadas como tal (ii) o ambiente organizacional atual caracteriza-se como um

conjunto de empresas interligadas e em constante interaccedilatildeo e (iii) as accedilotildees dos participantes

das organizaccedilotildees podem ser melhor explicadas e compreendidas sob o ponto de vista de

relacionamentos

Nessa concepccedilatildeo as redes satildeo classificadas em intra e interorganizacionais sendo

essas uacuteltimas subdivididas na aplicaccedilatildeo de redes e nas alianccedilas as quais tomam formas

variadas como joint-ventures consoacutercios franchising fusotildees e aquisiccedilotildees etc

Para esse autor a estrutura de qualquer organizaccedilatildeo tem que ser compreendida e

analisada como redes muacuteltiplas de relaccedilotildees internas e externas A evoluccedilatildeo dos conceitos de

redes foi assim estruturada por Nohria

Figura 5 Estrutura sobre a evoluccedilatildeo dos conceitos sobre redes Fonte NOHRIA 1992

Sociologia Antropologia

Psicologia Biologia Molecular Teoria de Sistemas

Interaccedilatildeo Relacionamento Ajuda Muacutetua Compartilhamento Integraccedilatildeo Complementaridade

Teoria de Redes

Redes Sociais

Redes Intrapessoais ( Bore Grandi Lorenzoni 1992 )

Redes Interorganizacionais ( Bilateral Multilateral ) Homogecircnea Heterogecircnea Formal Informal)

Redes Alianccedilas

Redes Intraorganizacionais ( Caracteriacutesticas da sua cadeia de valor e do processo produtivo )

middot Redes Flexiacuteveis de PMEs (Redes de Subcontrataccedilatildeo ) middot Redes de Inovaccedilatildeo middot Redes de Relacionamento middot Redes de Informaccedilatildeo middot Redes de Comunicaccedilatildeo middot Redes de Pesquisa

middot Estrateacutegica middot Vertical middot Horizontal middot Transacional middot De Fornecimento middot De Posicionamento middot De Aprendizado

middot Joint Ventures middot Consoacutercios middot Acordos Cooperativos middot Fusotildees e Aquisiccedilotildees middot Franchising middot Organizaccedilatildeo Virtual middot Clusters middot Etc

322 Redes ndash visatildeo criacutetica do atual cenaacuterio

Os termos relacionamentos e redes tecircm recebido recentemente grande atenccedilatildeo da

academia e do meio empresarial Atualmente estrategistas tecircm se preocupado com joint

ventures alianccedilas e redes estrateacutegicas (HAKANSSON amp FORD 2002) e tambeacutem em definir

classificar explicar prescrever e revelar os fundamentos desse fenocircmeno como visto na

subseccedilatildeo anterior

Apesar da quantidade de estudos e da profusatildeo de definiccedilotildees sobre as formas de

coordenaccedilatildeo inter-empresarial sobre alianccedilas estrateacutegicas redes em geral e estruturas

hiacutebridas originaacuterias de diversificadas disciplinas a anaacutelise dos arranjos inter-firmas

permanece um tanto opaca carecendo de uma anaacutelise mais criacutetica (GRANDORI 1997)

Entretanto para traccedilar um breve histoacuterico da literatura de redes ateacute os dias atuais numa

visatildeo criacutetica eacute necessaacuterio remontar aos anos 60 poacutes Segunda Guerra e ao trabalho de

Chandler que com a adoccedilatildeo da estrutura multidivisional das grandes organizaccedilotildees

estabeleceu o paradigma da empresa como entidade autocircnoma

A partir dos anos 80 a hegemonia das concepccedilotildees de Chandler foi desafiada pela

ecircnfase da estrateacutegia na sobrevivecircncia e competiccedilatildeo e natildeo mais no lucro e crescimento de

longo prazo Porter passa a ser o teoacuterico mais influente e estabelece a era da estrateacutegia

competitiva Nesse mesmo cenaacuterio dos anos 80 com a crescente concorrecircncia internacional

resultado do advento da globalizaccedilatildeo diversos autores passam a prescrever que as empresas

deveriam estruturar vantagens competitivas sustentaacuteveis

Esses paradigmas se amalgamaram e consolidaram o paradigma da empresa como

entidade autocircnoma em busca de vantagens competitivas sustentaacuteveis e ajudaram a consolidar

a hegemonia gerencial na literatura universalizando os interesses estrateacutegicos das grandes

empresas como vaacutelidos para todas as demais organizaccedilotildees e suprimindo questotildees de poder e

poliacutetica entre as aacutereas funcionais da gerecircncia e a aacuterea de estrateacutegia (FARIA 2007)

Trata-se portanto da visatildeocorrente econocircmica maioria dominante denominada

ldquopositivistardquo que vecirc as redes como sistemas objetivos que geram vantagens competitivas para

seus membros por meio da gerecircncia estrateacutegica planejada uma vez que permite a reduccedilatildeo de

custos aumento da flexibilidade e maior eficiecircncia das operaccedilotildees Essa pode ser considerada

a dimensatildeo mais visiacutevel da realidade considerada pela literatura dominante (FARIA 2005 e

LORENZONI amp BADEN-FUumlLLER 1995)

Uma outra corrente denominada ldquointerpretativistardquo representa as redes como sistemas

subjetivos de fronteiras natildeo muito bem definidas e complexas demais para serem gerenciadas

conforme as prescriccedilotildees da literatura positivista dominante No entanto essa visatildeo guarda um

status marginal sendo considerada uma dimensatildeo menos superficial havendo uma seacuterie de

aspectos menos visiacuteveis que satildeo desprezados pela maioria dos pesquisadores (FARIA 2005)

Numa rede a interdependecircncia e evoluccedilatildeo conjunta satildeo importantes caracteriacutesticas e o

aspecto puramente competitivo da estrateacutegia torna-se menos importante Dentro da

perspectiva relacional da empresa passa a ser difundida a ideia de que o escopo da estrateacutegia

estaacute centrado na habilidade de construir e manter relacionamentos com outras organizaccedilotildees

Nesse sentido o cenaacuterio onde diversas organizaccedilotildees competem por lucros precisa ser

suplementado e agraves vezes corrigido De fato sob vaacuterias formas as empresas estatildeo envolvidas

em redes nas quais fatores econocircmicos e dimensotildees sociais satildeo cruciais para sua

sobrevivecircncia Com isso nessas relaccedilotildees caracterizadas pela colaboraccedilatildeo e dependecircncia

muacutetua o escopo da estrateacutegia muda da competiccedilatildeo por lucros de forma autocircnoma para a

realizaccedilatildeo dessa mesma atividade de forma conjunta com clientes fornecedores

distribuidores e parceiros (GADDE HUEMER e HAKANSSON 2003)

Dentro do cenaacuterio de globalizaccedilatildeo econocircmica e de mercados relacionamentos inter-

firmas e redes que se estendem aleacutem das fronteiras das empresas satildeo fatores-chave para a

internacionalizaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de mercados estrangeiros Tambeacutem no niacutevel de naccedilotildees eacute

possiacutevel verificar a utilizaccedilatildeo do paradigma de redes Por exemplo a Uniatildeo Europeia eacute

essencialmente organizada como uma rede que envolve prioritariamente a polarizaccedilatildeo e

partilha de soberania em vez de sua transferecircncia Esse cenaacuterio acaba por ilustrar uma nova

forma de estado experimentado pelas instituiccedilotildees europeias que caracteriza-se pela divisatildeo

da autoridade ao longo de uma rede (CASTELLS 1998)

Em relaccedilatildeo agraves definiccedilotildees e classificaccedilotildees as redes natildeo podem ser vistas simplesmente

como uma alianccedila estrateacutegica resultante de uma decisatildeo estrateacutegica da firma O

estabelecimento de relaccedilotildees inter-organizacionais deve ser entendido como a proacutepria

estrateacutegia havendo redes formadas como consequecircncia de accedilotildees deliberadas e outras

formadas de modo naturalemergente (DYER amp SINGH 1998)

Muitos estudos tecircm tratado a organizaccedilatildeo em redes como um simples tipo de arranjo

organizacional concebido como uma estrutura geneacuterica intermediaacuteria entre mercados e

hierarquias ou caracterizado como um ldquoterceirordquo modo organizacional com suas

peculiaridades que o distingue dos demais Em geral as redes satildeo definidas dando relevacircncia

a aspectos legais e praacuteticos o que leva foco ao processo de formaccedilatildeo de joint ventures

franchising e consoacutercios em vez de considerar fundamentos teoacutericos que possam conduzir a

anaacutelises criacuteticas (GRANDORI 1997)

Nessa linha analisando o paradigma de redes numa visatildeo interpretativista eacute

importante verificar que ele acaba por revelar novos limites da teoria de organizaccedilotildees

empresariais controladas pelo mercado etnocentricamente enraizada na experiecircncia anglo-

saxocircnica agrave medida em que empresas em rede vecircm prosperando em outros contextos

institucionaisculturais contradizendo a visatildeo claacutessica de Chandler e de Williamson por

exemplo (CASTELLS 2001)

O mercado dentro desse contexto etnocecircntrico eacute caracterizado pelas relaccedilotildees

econocircmicas impessoais grande nuacutemero de transaccedilotildees unidades relativamente

descentralizadas e auto-reguladas e pluralidade de objetivos (BOISOT amp CHILD 1996)

Dentre outros aspectos menos visiacuteveis mas relevantes que satildeo desprezados pelos

pesquisadores haacute as questotildees que envolvem o poder poliacutetico e econocircmico de empresas

transnacionais perante governos e mercados e tambeacutem a influecircncia de poliacuteticas nacionais na

performance de empresas e setores industriais Isso significa dizer que satildeo tratadas como

invisiacuteveis a dimensatildeo poliacutetica das estrateacutegias de grandes empresas e a dimensatildeo poliacutetica das

redes (BODDEWYN amp BREWER 1994 e FARIA 2005)

Eacute interessante verificar que dentro desse cenaacuterio positivista o paradigma

organizacional baseado nos conceitos econocircmicos e custos de transaccedilatildeo eacute silente sobre

fenocircmenos e movimentos de natildeo-mercado Ateacute mesmo a popular teoria baseada em recursos

distingue competecircncias e recursos das firmas como de natureza essencialmente econocircmica e

organizacional mas natildeo poliacutetica (BODDEWYN amp BREWER 1994)

Em especial os relacionamentos com atores poliacuteticos tais como governo entidades

estatais e agecircncias governamentais tambeacutem revelam-se como criacuteticos para o desenvolvimento

de atividades em mercados estrangeiros Nesse sentido o ldquoconteuacutedo poliacuteticordquo de uma rede de

negoacutecios pode tomar algumas formas instituiccedilotildees poliacuteticas atores poliacuteticos atividades

poliacuteticas das firmas e recursos poliacuteticos (WELCH amp WILKINSON 2004)

Recentes estudos tecircm demonstrado a importacircncia dos modelos amplos de redes

interdependecircncia e poder da mesma forma como as forccedilas econocircmicas para entender em que

tipos de relaccedilotildees as empresas estatildeo emersas Nesse sentido o entendimento das redes que

envolvem aspectos sociais pode ajudar a entender os contornos desse paradigma (DACIN et

al 1999)

Considerando o acircmbito da literatura socioloacutegica as perspectivas dominantes sobre

forma organizacional satildeo subsocializadas ou seja conceituam a eficiecircncia econocircmica das

organizaccedilotildees de forma dissociada de seu contexto social Com isso analisam essas novas

formas apenas como uma resposta agraves contingecircncias ambientais

Exemplos disso satildeo as abordagens centradas no mercado ou as perspectivas que

percebem o ambiente como fonte de incertezas e a organizaccedilatildeo como uma entidade

delimitada que busca fazer frente a esse contexto O entendimento eacute de que as formas

organizacionais sociais e econocircmicas possuem uma dependecircncia e uma autonomia relativas

aos quadros culturais e institucionais de cada paiacutes estando imbricadas nesses quadros

(BALDI 2004)

As redes de relaccedilotildees sociais cuja importacircncia dentro das empresas eacute bem conhecida

pela sociologia organizacional e industrial indicam a existecircncia de uma rede ainda mais densa

de relaccedilotildees sociais sobreposta agraves relaccedilotildees comerciais que conectam entidades de mercado

previamente independentes

Pode-se inferir que provavelmente eacute essa rede de interaccedilotildees o principal elemento que

explica o niacutevel de eficiecircncia alto ou baixo da nova forma organizacional Dessa forma a

definiccedilatildeo de eficiecircncia econocircmica natildeo ocorre num vaacutecuo social mas sim dependente de uma

contextualizaccedilatildeo social A existecircncia de contextos sociais diferentes e a diversidade de

quadros institucionais conduziratildeo a ldquomodos de racionalidaderdquo diferenciados

(GRANOVETTER 2007)

Segundo alguns autores buscando as origens da disciplina o problema da teoria de

Chandler foi negligenciar completamente o papel atribuiacutedo agrave cooperaccedilatildeo nos modelos

econocircmicos Nesse sentido as teorias claacutessicas necessitam ser questionadas pois

negligenciaram o poder econocircmico de trecircs fatores que ajudam a explicar o sucesso das redes

(i) as economias de escala por meio de redes (ii) a confianccedila e a cooperaccedilatildeo que coexistem

com a competiccedilatildeo e (iii) o estado de bem-estar social causado pelo aumento da eficiecircncia de

setores industriais regionais (BALESTRIN amp ARBAGE 2007)

Referem-se a questotildees natildeo visiacuteveis presentes em estruturas de redes mais elevadas que

podem explicar a maior parte do desempenho competitivo das empresas e das redes No

entanto as teorias impostas pelos ldquopositivistasrdquo suprimem estas peculiaridades e tambeacutem o

caraacuteter poliacutetico das estrateacutegias de grandes corporaccedilotildees e as respectivas interfaces entre

governo e empresa Satildeo as chamadas ldquosupra-redesrdquo compostas por membros dos acircmbitos

puacuteblico e privado que transcendem fronteiras nacionais e desafiam as distinccedilotildees que a

disciplina atribui aos domiacutenios econocircmico e poliacutetico transcendendo tambeacutem o domiacutenio mais

superficial e visiacutevel da realidade (FARIA 2005)

33 Redes e estrateacutegias de natildeo-mercado em organizaccedilotildees hiacutebridas

O termo natildeo-mercado (non-market) tem sido atualmente utilizado nas literaturas sobre

gerenciamento organizaccedilotildees estrateacutegia e temasdisciplinas sociais com o argumento de que

a sustentabilidade das vantagens competitivas das organizaccedilotildees eacute tatildeo dependente da sua

habilidade em gerenciar forccedilas do ambiente natildeo-mercadoloacutegico quanto da sua habilidade em

atingir metas econocircmicas no ambiente de mercado Com isso verifica-se que o ambiente de

negoacutecios eacute composto de componentes de mercado e de natildeo-mercado (BODDEWYN 2003

MAHON et al 2003 e BARON 1995a)

Nesse sentido um nuacutemero crescente de autores vem mostrando que as estrateacutegias das

grandes empresas vecircm privilegiando a dimensatildeo natildeo-mercado tendo em vista que governos

nacionais guardam relevacircncia para suas estrateacutegias de investimentos notadamente os

internacionais na era da globalizaccedilatildeo Em especial no ambiente luso-brasileiro foco dessa

obra verifica-se que o mercado nesses paiacuteses eacute moldado e mobilizado natildeo somente por

empresas mas tambeacutem pelo Estado e pela sociedade civil (GUEDES 2008)

Muitos autores por exemplo fortalecem um ramo da literatura que constroacutei

argumentaccedilotildees no sentido do reconhecimento das barganhas e relaccedilotildees negociais entre

multinacionais e governos Nessa corrente da literatura assume-se que as diferenccedilas entre

negoacutecios domeacutesticos e internacionais satildeo fundamentalmente poliacuteticas (BREWER 1992 e

BODDEWYN 1988)

Em definiccedilatildeo recente o termo natildeo-mercado foi estabelecido como uma referecircncia a (i)

valores que expressam interesses puacuteblicos (ii) mecanismos de troca interna e externa de

coerccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que complementam e equilibram a competiccedilatildeo de modo reciacuteproco em

vaacuterios niacuteveis de interaccedilatildeo (iii) relacionamentos entre organizaccedilotildees de mercado e de natildeo-

mercado principalmente sobre os direitos de soberania dos atores das redes e (iv) integraccedilatildeo

dos fatores econocircmicos poliacuteticos sociais e culturais das organizaccedilotildees (BODDEWYN 2003)

Os componentes que integram o ambiente de ldquonatildeo-mercadordquo dos negoacutecios revelam-se

como forccedilas sociais poliacuteticas e legais que moldam as interaccedilotildees entre as firmas e seus

stakeholders19

O ambiente de natildeo-mercado de negoacutecios difere do mercado em um grande nuacutemero de

fatores mas principalmente porque inclui instituiccedilotildees puacuteblicas regras de maioria seguimento

do devido processo legal accedilatildeo coletiva uso do voto e publicidade dos atos por exemplo que

satildeo accedilotildees e atores tiacutepicos de uma visatildeo geral daquilo que eacute puacuteblico As atividades realizadas

no ambiente de natildeo-mercado podem ser voluntaacuterias como por exemplo quando firmas

cooperam com representantes do governo ou involuntaacuterias agrave medida que o governo regula

uma determinada atividade ou um grupo de ativistas (ambientais trabalhistas etc) que

organiza boicotes agrave produccedilatildeo da empresa (BODDEWYN 2003 e BARON 1995a e 1995b)

fora do mercado e acordos privados mas tambeacutem em conjunccedilatildeo com eles

Nele estatildeo inclusas as interaccedilotildees entre as organizaccedilotildees indiviacuteduos stakeholders entidades

governamentais miacutedia e puacuteblico que natildeo satildeo intermediadas pelo mercado mas sim por

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas (MAHON et al 2004 e BARON 1995a)

Apesar da relevacircncia do ambiente de natildeo-mercado a teoria econocircmica neoclaacutessica

argumenta que instituiccedilotildees poliacuteticas dentre outras satildeo consideradas neutras quanto aos

efeitos gerados nos resultados econocircmicos (FURUBOTN amp RICHTER 2000) Ademais

argumentam que as prescriccedilotildees gerenciais voltam-se apenas para o gerenciamento de assuntos

estrateacutegicos endereccedilados por entidades governamentais e relacionamento com os

stakeholders temas que constituem-se atualmente nos mais importantes ramos de pesquisas

das estrateacutegias de natildeo-mercado (MAHON et al 2004)

Entretanto nesse cenaacuterio de interaccedilotildees as empresas em adiccedilatildeo agraves estrateacutegias ditas de

mercado comumente estruturam estrateacutegias de natildeo-mercado mais abrangentes que os ramos

supracitados e que satildeo definidas como um padratildeo de accedilotildees a serem realizadas no ambiente de

natildeo-mercado Para alguns autores tais estrateacutegias satildeo estruturadas com o objetivo de criar

valor para a organizaccedilatildeo por meio da maximizaccedilatildeo de sua performance (BARON 1995a)

Colocadas nesses termos por tais autores verifica-se a existecircncia de uma teorizaccedilatildeo que

subordina as estrateacutegias de natildeo-mercado agraves de mercado o que eacute proacuteprio da literatura

dominante que prioriza as questotildees econocircmicas

Essas estrateacutegias de natildeo-mercado que ainda satildeo consideradas a parte ldquomenos visiacutevelrdquo

da realidade surgem como resultado de um processo de gerenciamento que incorpora 19 Todos os interessados e partes que podem afetar ou satildeo afetados pelas atividades desenvolvidas pela organizaccedilatildeo para atingimento de seus objetivos (DONALDSON amp PRESTON 1995)

conhecimentos diversos sobre os ambientes de mercado e de natildeo-mercado informaccedilotildees sobre

assuntos estrateacutegicos especiacuteficos e estruturas conceituais que guiam a formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo da estrateacutegia Para que a estrateacutegia geral da organizaccedilatildeo seja efetiva esses

dois componentes devem atuar integrados e perfeitamente moldados aos respectivos

ambientes e tambeacutem agraves competecircncias fundamentais da empresa (BARON 1995a e 1995b)

Uma caracteriacutestica relevante do ambiente de natildeo-mercado reflete-se nos paracircmetros de

avaliaccedilatildeo da performance Enquanto no ambiente de mercado a performance eacute avaliada em

termos de lucros auferidos e distribuiacutedos aos acionistas como retorno do capital investido e

valor criadoagregado no ambiente de natildeo-mercado a avaliaccedilatildeo das organizaccedilotildees daacute-se em

dimensotildees mais amplas que incluem princiacutepios eacuteticos e conceitos de responsabilidade

(ambiental e social por exemplo) (BARON 1995a)

Em relaccedilatildeo agraves redes alguns autores consideram que as relaccedilotildees de natildeo-mercado nelas

presentes funcionam como fatores sociais permeando as relaccedilotildees econocircmicas

(BODDEWYN 2003) Nesse aspecto as operaccedilotildees de mercado que ocorrem em relaccedilotildees

inter-firmas satildeo reguladas em grande parte por mecanismos de natureza natildeo-mercado que

envolvem interesses muacutetuos obrigaccedilotildees reputaccedilatildeo e confianccedila (GRANDORI 1997)

Ainda especialmente nas redes o fenocircmeno de natildeo-mercado ocorre com frequecircncia agrave

medida que satildeo verificadas poliacuteticas empregadas pelos diversos atores da rede Poliacuteticas essas

que natildeo tecircm somente como objetivo o aumento dos resultados econocircmicos mas tambeacutem a

maximizaccedilatildeo de sua influecircncia social e poliacutetica em arenas natildeo-mercado socialmente densas

Por meio das redes satildeo transferidos e distribuiacutedos recursos natildeo-mercado fundamentais agraves

empresas tais como informaccedilatildeo ideias reputaccedilatildeo e prestiacutegio (BODDEWYN 1988 e

MAHON et al 2004)

Destaca-se tambeacutem que a realizaccedilatildeo de operaccedilotildees inter-firmas considera acordos de

cooperaccedilatildeo de vaacuterias naturezas a niacutevel internacional e tambeacutem entre paiacuteses (GRANDORI

1997) Nesse aspecto o surgimento de redes de naccedilotildees antevecirc uma multiplicidade de redes

internacionais nas quais os participantes satildeo naccedilotildees soberanas Cada naccedilatildeo integra-se ao

conjunto mundial permanecendo poreacutem na condiccedilatildeo de entidade independente com sua

integridade proacutepria e uma substancial auto-suficiecircncia (LIPNACK amp STAMPS 1994)

guardando caracteriacutesticas de mercado e tambeacutem de natildeo-mercado evidenciando um cenaacuterio

hiacutebrido que tambeacutem eacute verificado no acircmbito das redes inter-organizacionais

Adicionalmente tem sido verificado que pesquisadores de outras aacutereas tecircm mostrado a

ocorrecircncia no mundo globalizado articulaccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas entre empresas

transnacionais e governos locais principalmente em paiacuteses menos desenvolvidos Essas

atividades representam um dos principais mecanismos para a atuaccedilatildeo estrateacutegica das grandes

empresas transnacionais No entanto essa literatura ainda natildeo chamou a atenccedilatildeo dos

acadecircmicos (FARIA 2005)

Em relaccedilatildeo ao contexto luso-brasileiro existem evidecircncias de que as dimensotildees

poliacutetica e social dos mercados continuam guardando relevacircncia mesmo na era da

globalizaccedilatildeo em especial nas economias emergentes e em desenvolvimento como eacute o caso de

Brasil e Portugal contrariamente ao que preconiza a literatura dominante a qual eacute explicada

por interesses poliacuteticos e econocircmicos especiacuteficos (FARIA 2008c)

Mesmo os Estados mais desenvolvidos intervecircm de alguma maneira na atividade

econocircmica de forma a operacionalizar as estrateacutegias de internacionalizaccedilatildeo das empresas

(SANTOS 2000) O Estado e suas poliacuteticas afetam de fato as potencialidades de cada forma

de parceria e tambeacutem as caracteriacutesticas do cenaacuterio onde as atividades ocorrem (LUCENA

2000) Especialmente no contexto luso-brasileiro eacute isso que ocorre

Redes estrateacutegicas inter-organizacionais envolvendo empresas e governos de dois ou

mais paiacuteses tecircm evoluiacutedo suplantando as fronteiras e formas organizacionais

convencionalmente concebidas agrave medida que consideram aspectos de natildeo-mercado

enfatizam relacionamentos cooperativos e desenham modelos de relaccedilotildees entre negoacutecios

(mercado) e o governo com redes empresas-governo que acabam por permear tambeacutem os

paiacuteses (BREWER 1992)

Outro fenocircmeno presente no mesmo cenaacuterio das redes e estrateacutegias de natildeo-mercado eacute

o processo de hibridizaccedilatildeo das empresas Dentro desse cenaacuterio a globalizaccedilatildeo induz

organizaccedilotildees e abordagens administrativas a se tornarem diferenciadas muacuteltiplas e hiacutebridas

com altos niacuteveis de variaccedilatildeo em todas as partes do mundo numa crescente heterogeneidade

dos atores (CALAacuteS amp ARIAS 2007)

A visatildeo tradicional da globalizaccedilatildeo estaacute diretamente associada a processos de

homogeneizaccedilatildeo num amplo sentido Entretanto numa visatildeo mais criacutetica eacute possiacutevel perceber

o processo de globalizaccedilatildeo como impulsionador da heterogeneidade que relaciona-se a

processos de hibridizaccedilatildeo Desse modo globalizaccedilatildeo e hibridizaccedilatildeo das organizaccedilotildees satildeo

vistos como ocorrecircnciaseventos simultacircneos permitindo o desenvolvimento de mesclas

culturais envolvendo reestruturaccedilatildeo de laccedilos entre o local e o estrangeiro o mercado e o natildeo-

mercado o tradicional e o moderno etc (PIETERSE 1993 e CALAacuteS amp ARIAS 2007)

O termo hibridismo de forma ampla refere-se a processos coletivos de interaccedilatildeo de

culturas20

Nesse aspecto verifica-se que diversos acadecircmicos tecircm destinado atenccedilatildeo agraves

similaridades e diferenccedilas entre as organizaccedilotildees puacuteblicas e privadas cujas definiccedilotildees e

conceitos satildeo multidimensionais Essas tipologias devem portanto ser tratadas como um

continuum e natildeo como uma dicotomia como poacutelos opostos (PERRY amp RAINEY 1988

CHANDLER 1991 e NWANKWO 1996)

implicando a justaposiccedilatildeo e a combinaccedilatildeo de elementos e processos que no acircmbito

organizacional alinha-se a uma formaccedilatildeo social fragmentada heterogecircnea e muacuteltipla Como

exemplos de formaccedilotildees organizacionais hiacutebridas tecircm-se as entidades que combinam

elementos da administraccedilatildeo puacuteblica com caracteriacutesticas de empresas privadas com fins

lucrativos e as organizaccedilotildees que combinam aspectos democraacuteticos e burocraacuteticos (CHU amp

WOOD Jr 2008)

Dentro desse continuum num dos extremos o modo de controle social eacute realizado pelo

ente governamental representando a influecircncia do poder puacuteblico sobre a organizaccedilatildeo no

outro extremo o modo de controle social vem a ser exercido pelo mercado Pode-se dizer que

as formas organizacionais hiacutebridas estatildeo presentes no continuum sendo em momentos mais

influenciada pelos modos de controle exercidos pelos entes puacuteblicos e em outros momentos

mais influenciada pelo controle exercido pelo mercado (PERRY amp RAINEY 1988)

Desse modo ora a organizaccedilatildeo hiacutebrida estaacute mais alinhada agraves forccedilas de mercado ora

estaacute mais alinhada a forccedilas de natildeo-mercado dependendo do momento e em que estaacute atuando

aleacutem de sob que acircngulo estaacute sendo observada Com isso a dicotomia e a subordinaccedilatildeo

estabelecidas pela literatura claacutessica natildeo satildeo suficientes para investigar essas empresas

De modo geral empresas que justapotildeem propriedade e modo de financiamento nas

dimensotildees puacuteblica e privada podem ser consideradas hiacutebridas formas organizacionais

intermediaacuterias Adicionalmente estatildeo sujeitas agraves regras e competiccedilatildeo de mercado e satildeo

orientadas para o lucro apesar de terem objetivos mais plurais (PERRY amp RAINEY 1988)

Eacute possiacutevel agraves organizaccedilotildees hiacutebridas assumir diversas formas e configuraccedilotildees Podem

ser desde empresas puacuteblicas empresas estatais organizaccedilotildees que atuam em mercados

20 Entendendo cultura como atitudes valores mentalidades e suas expressotildees organizacionais (CHU amp WOOD Jr 2008)

regulados e corporaccedilotildees nacionais ou empresas multinacionais todas sob alguma influecircncia

de fatores de natildeo-mercado e do Estado (poder poliacutetica autoridade intermediaccedilatildeo etc) nos

mercados em que atuam (PERRY amp RAINEY 1988 e MURTHA amp LENWAY 1994)

ldquoHybrid form of organization such as state-owned enterprises

government corporations and heavily regulated business firms mix

government auspices and control with features usually conceived as

private economic activity such as sale of goods or services for a

pricerdquo(RAINEY amp CHUN 2005 p 73)

Para as empresas hiacutebridas o termo mercado possui natureza ambiacutegua (PERRY amp

RAINEY 1988) uma vez que necessitam balancear caracteriacutesticas de organizaccedilotildees de

mercado e organizaccedilotildees estatais A organizaccedilatildeo estaacute sempre deslizando no continuum entre os

extremos puacuteblico e privado (JOLDERSMA amp WINTER 2002) Desse modo essa

ambiguidade torna problemaacuteticos os conceitos e fundamentos dominantes da aacuterea de

estrateacutegia fortemente influenciados pelos pressupostos da economia neoclaacutessica jaacute que em

organizaccedilotildees hiacutebridas como as empresas estatais os acircmbitos puacuteblico e privado coexistem

desafiando os pressupostos da literatura dominante

ldquoHybrid organizations combine characteristics of a task organization

and a market organization they have to deal with the constraints of

the governing body but are also involved in a dynamic market-like

environment It can be assumed that hybrid organizations will

resemble the analysers they show higher levels of strategic choice

than the defensive task organizationsrdquo (JOLDERSMA amp WINTER

2002 paacuteg 87)

No caso desse tipo de empresa sua performance eacute avaliada considerando de forma

mais relevante a realizaccedilatildeo de seu plano estrateacutegico normalmente pluralista do que somente

criteacuterios orccedilamentaacuterios e de lucratividade (BOISOT amp CHILD 1996) Trata-se do caso das

empresas investigadas nesse estudo De um lado a Petrobras gigante estatal brasileira atuante

do mercado mas com grandes interesses poliacuteticos e sociais Do outro a Galp Energia

companhia portuguesa que lidera o mercado em Portugal

Especialmente para essas empresas consideradas hiacutebridas a classificaccedilatildeo como

empresa nacional tambeacutem eacute vaacutelida Aleacutem das caracteriacutesticas das empresas hiacutebridas jaacute citadas

as empresas nacionais normalmente guardam caracteriacutesticas como satildeo ou foram estatais

detecircm monopoacutelios naturais dominam o setor de sua atividade primaacuteria empunham a

ldquobandeira nacionalrdquo ou seja satildeo siacutembolo do seu estado de origem e desempenham funccedilotildees

natildeo-econocircmicas amplas que incluem aspectos poliacuteticos sociais eacuteticos e ambientais por

exemplo (CHANDLER 1991 e NWANKWO 1996)

Adicionalmente por serem hiacutebridas em seu gerenciamento estrateacutegico detecircm

caracteriacutesticas e restriccedilotildees especiais tais como diversidade de stakeholders maior atenccedilatildeo e

exposiccedilatildeo puacuteblica lentidatildeo e burocracia do processo decisoacuterio necessidade de maior

flexibilidade e poder de adaptaccedilatildeo agraves peculiaridades do mercado e atuaccedilatildeo em diferentes

contextos por exemplo (RING amp PERRY 1985)

No acircmbito acadecircmico verifica-se que as escolas de negoacutecio dificilmente estudam o

relacionamento entre praacuteticas empresariais e o contexto pois se concentram em teacutecnicas de

gestatildeo de caraacuteter universal como jaacute demonstrado anteriormente Nesse mesmo ambiente a

administraccedilatildeo puacuteblica revela-se como um campo disciplinar que considera natildeo soacute o processo

de gestatildeo mas tambeacutem inclui os diversos fatores dos contextos nos quais as organizaccedilotildees

governamentais atuam Com isso a interaccedilatildeo entre a administraccedilatildeo puacuteblica e privada pode dar

visibilidade a fatores como opiniatildeo puacuteblica poliacuteticas governamentais e demais fatores de natildeo-

mercado contribuindo para o alargamento das questotildees pesquisadas atualmente restritas a

aspectos econocircmicos e gerenciais das empresas (CHANDLER 1991)

Concluindo para muitas companhias o sucesso nas arenas de mercado e de natildeo-

mercado eacute fundamental para o atingimento de suas metas Entretanto para algumas o sucesso

no ambiente de natildeo-mercado eacute criacutetico e crucial em especial quando as oportunidades dessas

firmas satildeo de alguma forma e intensidade controladas por entidades governamentais ou

ameaccediladasdesafiadas por pressotildees puacuteblicas Nesse cenaacuterio a subordinaccedilatildeo das estrateacutegias de

natildeo-mercado agraves de mercado preconizada pela literatura dominante natildeo eacute uacutetil para as

organizaccedilotildees hiacutebridas Desse modo quando isso ocorre estrateacutegias de natildeo-mercado precisam

ser formuladas e implementadas de forma efetiva aleacutem de estarem perfeitamente integradas

com as estrateacutegias de mercado (BARON 1995 a e 1995b) Em especial nas redes que

envolvem empresas hiacutebridas esse cenaacuterio revela-se com mais ecircnfase

Figura 6 Interface entre os acircmbitos de mercado e de natildeo-mercado Fonte MERABET 2007

34 A induacutestria do petroacuteleo as joint ventures e o contexto luso-brasileiro

ldquoThe equation ndash oil equals Power ndash had already been proved on the

battlefields of World War I and from that conflict emerged a new era

in relations between oil companies and nation-statesrdquo (YERGIN

A sociedade moderna vive a era do petroacuteleo caracterizada pela predominacircncia dessa

fonte de energia dentre as demais o que pode ser comprovado pelo fato de na atualidade

dificilmente ser encontrado um ambiente um utilitaacuterio ou um bem que natildeo contenha

compostos derivados do petroacuteleo ou que natildeo seja produzido direta ou indiretamente a partir

do petroacuteleo No entanto o uso do petroacuteleo no mundo teve iniacutecio na Antiguidade existindo

indicaccedilotildees de que os feniacutecios jaacute utilizavam esse recurso mineral por volta do seacuteculo IV aC

Nas Ameacutericas sua utilizaccedilatildeo comeccedilou com Cristoacutevatildeo Colombo durante sua primeira viagem

quando utilizou o petroacuteleo encontrado na ilha de Cuba para calafetaccedilatildeo de seus navios

(THOMAS 2001)

NAtildeO-MERCADO MERCADO

POLIacuteTICA

PRESENCcedilA ESTATAL

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas puacuteblicas

estatais ex-estatais

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

ORGANIZACcedilOtildeES

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

O marco inicial das atividades de exploraccedilatildeo do petroacuteleo como induacutestria e de sua

afirmaccedilatildeo como produto na sociedade moderna data de 1859 quando foi dado iniacutecio agrave

exploraccedilatildeo comercial nos Estados Unidos A partir do desenvolvimento do processo de

destilaccedilatildeo do petroacuteleo e geraccedilatildeo de derivados os quais substituiacuteam com grande margem de

lucro o carvatildeo e o oacuteleo de baleia a induacutestria petroliacutefera iniciou seu processo de crescente

importacircncia no cenaacuterio internacional Ateacute entatildeo a induacutestria petroliacutefera continua a ter um

impacto enorme e enquanto natildeo se encontrar uma fonte de energia alternativa o petroacuteleo

continuaraacute a ter efeitos de longo alcance sobre a economia global (YERGIN 1992 e

THOMAS 2001)

Algumas peculiaridades tornam o segmento petroliacutefero de alta relevacircncia para o

mundo Uma primeira caracteriacutestica localiza-se no fato do petroacuteleo ser um produto

intimamente imbricado nas estrateacutegias nacionais e no poder e poliacutetica globais O petroacuteleo foi

de importacircncia fundamental para o rumo e as consequecircncias da I e II Guerras Mundiais e

mais recentemente nos anos 70 com a crise do petroacuteleo e a guerra fria (YERGIN 1992 e

KATZ 1992)

Em termos concretos as consequecircncias das duas guerras mundiais resultaram numa

maior expansatildeo das empresas de petroacuteleo anglo-americanas as maiores do mundo

conhecidas com as sete irmatildes21

Jaacute a crise do petroacuteleo ajudou a reacender o nacionalismo no Brasil Anos antes por

meio do slogan ldquoo petroacuteleo eacute nossordquo a induacutestria petroliacutefera havia sido toda monopolizada nas

matildeos do governo A exploraccedilatildeo e a produccedilatildeo do mesmo modo que a refinaccedilatildeo e o transporte

de petroacuteleo no Brasil eram administrados exclusivamente pela Petrobras (GEUS 1999)

(ldquoSeven Sistersrdquo) nos territoacuterios dos paiacuteses perdedores dessas

guerras (KATZ 1992)

Outra caracteriacutestica marcante da induacutestria petroliacutefera mundial eacute a complexidade de

suas atividades Trata-se de um segmento no qual os empreendimentos satildeo considerados de

alto risco demandam grande volume de recursos financeiros para sua execuccedilatildeo e os projetos

satildeo de longa maturaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo desses investimentos sendo realizada ao longo de

grandes periacuteodos de tempo (BUCHEB 2006 e LIMA 2008)

As mudanccedilas satildeo constantes na induacutestria de petroacuteleo em funccedilatildeo principalmente da

globalizaccedilatildeo dos mercados da volatilidade dos preccedilos reduccedilotildees de custos novas tecnologias

21 Agravequela eacutepoca as ldquosete irmatildesrdquo eram Exxon Mobil (recentemente incorporada pela Exxon) Chevron Royal Dutch Shell (empresa anglo-holandesa) Gulf (atualmente parte da Chevron) Texaco (recentemente incorporada pela Chevron) e British Petroleum

acesso a capital e regulaccedilatildeo dos mercados No acircmbito empresarial variaacuteveis que envolvem

questotildees geopoliacuteticas tecnoloacutegicas de riscos negociais e poliacuteticos de estrutura

organizacional recursos internos posicionamento e dinacircmica de mercado dentre outras satildeo

consideradas no processo de formulaccedilatildeo da estrateacutegia das companhias de petroacuteleo (YERGIN

1992 KATZ 1992 e THOMAS 2001)

As caracteriacutesticas da induacutestria do petroacuteleo forccedilam empresas petroliacuteferas e naccedilotildees a

estabelecerem relaccedilotildees contratuais que regulem seus interesses especiacuteficos Os governos tecircm

como objetivos a otimizaccedilatildeo do aproveitamento dos recursos petroliacuteferos existentes em seu

territoacuterio o controle das operaccedilotildees visando garantir que os interesses nacionais e da

sociedade em geral sejam preservados e a captura de renda econocircmica para o Estado que seraacute

revertida em benefiacutecios para a sociedade Para as empresas petroliacuteferas o objetivo primordial

eacute a maximizaccedilatildeo da remuneraccedilatildeo

Desse modo modelos contratuais para exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo foram

desenvolvidos para atender a estes diferentes objetivos de governos e empresas dentro dos

ordenamentos juriacutedicos vigentes em cada paiacutes e atendendo agraves caracteriacutesticas de cada um para

o melhor desempenho das funccedilotildees de governo e do aspecto econocircmico do paiacutes Dentre os

principais modelos contratuais destacam-se contratos de concessatildeo contratos de partilha da

produccedilatildeo e contratos de serviccedilos (KATZ 1992)

As caracteriacutesticas desse cenaacuterio de altos riscos envolvidos e elevados recursos

financeiros necessaacuterios agrave sua execuccedilatildeo aleacutem dos bastidores geopoliacuteticos de poder e poliacutetica

acabam por tornarem-se fatores que contribuem decisivamente para que as empresas

atuantes nesse segmento se associem com frequecircncia Formam parcerias empresariais para

conjugar esforccedilos a fim de dividir os riscos e otimizar seus portifoacutelios de investimentos e suas

estrateacutegias empresariais de curto meacutedio e longo prazos (BUCHEB 2006)

O fenocircmeno da concentraccedilatildeo de empresas tem sido verificado em escala mundial em

diversos setores da economia sendo as modalidades mais frequentes as incorporaccedilotildees e

fusotildees de empresas Entretanto tais modalidades apresentam o inconveniente de fazer com

que pelo menos um de seus agentes perca sua autonomia De modo alternativo as empresas se

associam sob a forma de parcerias empresariais (joint ventures) que tecircm como caracteriacutestica

principal representar uma uniatildeo contratual que preserva a autonomia empresarial das

companhias (BUCHEB 2007)

Em linha com essa perspectiva tambeacutem identificam-se trecircs tipos de concentraccedilotildees

verticais horizontais e conglomeradas As concentraccedilotildees verticais ocorrem entre agentes

econocircmicos que atuam em diferentes niacuteveis da cadeia produtiva ou seja concentrados no

mesmo processo produtivo As concentraccedilotildees conglomeradas satildeo uniotildees entre empresas cujos

produtos natildeo possuem qualquer relaccedilatildeo de concorrecircncia ou complementaridade Jaacute a

concentraccedilatildeo horizontal envolve agentes econocircmicos atuantes no mesmo mercado relevante

estando portanto em direta relaccedilatildeo de concorrecircncia (FORGIONI 2004 e SANTOS 2006)

Esse uacuteltimo tipo de concentraccedilatildeo empresarial aproxima-se do conceito de redes

horizontais tambeacutem denominadas redes de cooperaccedilatildeo as quais satildeo constituiacutedas por

empresas que guardam cada uma sua independecircncia mas que optam por desenvolver

atividades especiacuteficas de maneira conjunta para atingir determinados objetivos comuns

(BALESTRIN amp ARBAGE 2007)

As alianccedilas horizontais tambeacutem referidas como parcerias operacionais ou

genericamente no acircmbito desse segmento como joint ventures verificam-se entre empresas

que detecircm os direitos de exploraccedilatildeo desenvolvimento e produccedilatildeo de uma determinada aacuterea

de exploraccedilatildeo Trata-se assim de associaccedilatildeo entre empresas concorrentes que ocorre com

bastante frequecircncia em escala mundial na aacuterea de EampP em razatildeo dos jaacute mencionados

elevados riscos e altos custos tiacutepicos desses empreendimentos (BUCHEB 2007)

Figura 7 Concentraccedilatildeo de empresas ndash classificaccedilotildees Fonte BUCHEB 2007

A joint venture constitui-se numa forma distinta de relacionamento estrateacutegico

parceiras Nesse tipo de relacionamento os parceiros confiam um no outro possuem

filosofias e estilos compatiacuteveis de negoacutecios concordam com a autonomia do empreendimento

e fazem contribuiccedilotildees que satildeo respeitadas pelo outro Incluem um amplo conjunto de

participantes interligando-se para diferentes propoacutesitos com dois ou mais niacuteveis de

relacionamentos empresariais envolvendo importantes direcionamentos estrateacutegicos das

empresas (LIPNACK amp STAMPS 1994)

Recentes pesquisas tecircm demonstrado que as joint ventures tecircm sido frequentemente

adotadas em induacutestrias ou atividades econocircmicas maduras onde a captura de economias de

escala e de escopo eacute um fator criacutetico sendo governadas por arranjos contratuais natildeo

societaacuterios isto eacute sem a criaccedilatildeo de novas empresas (GRANDORI 1997)

Especificamente no Brasil o mercado de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo foi aberto

agraves demais companhias petroliacuteferas com a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 947897 a chamada Lei do

Petroacuteleo que veio a instituir o fim do monopoacutelio estatal sobre as atividades de exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de petroacuteleo (EampP) as quais ateacute entatildeo eram exercidas exclusivamente pela Petroacuteleo

Brasileiro SA (Petrobras) entidade de economia mista controlada pela Uniatildeo

Durante esses cerca de dez anos de vigecircncia da lei do petroacuteleo companhias

petroliacuteferas internacionais aportaram no Brasil foram criadas novas companhias petroliacuteferas

brasileiras grupos empresariais jaacute existentes passaram a investir na induacutestria do petroacuteleo a

Agecircncia Nacional do Petroacuteleo (ANP) realizou leilotildees de novas aacutereas a serem prospectadas e a

Petrobras teve que se adaptar a um novo cenaacuterio que introduziu concorrecircncia e disputa com

outras empresas

ldquoAs licitaccedilotildees de blocos para a execuccedilatildeo das atividades de EampP satildeo

disciplinadas na Lei do Petroacuteleo e nos editais das rodadas

promovidas pela ANP Nesses processos aleacutem de concorrerem

individualmente ocorre com frequecircncia a praacutetica da reuniatildeo de

empresas em parcerias empresariaisrdquo (BUCHEB 2007 p 35)

Nesse cenaacuterio diversas parcerias foram formadas sendo estruturadas sob a forma de

consoacutercios conforme prevecirc a legislaccedilatildeo brasileira e a ANP Dentre as diversas empresas que

adotaram essa modalidade de associaccedilatildeo destaca-se a proacutepria Petrobras que atua em

relevante quantidade de parcerias e aacuterea de prospecccedilatildeo De forma especial a Petrobras vem

utilizando suas operaccedilotildees em parcerias num contexto de redes internacionais utilizando tais

alianccedilas em seu processo de internacionalizaccedilatildeo dos negoacutecios

conjuntura internacional favoraacutevel Entretanto nas uacuteltimas duas deacutecadas as atividades

petroliacuteferas em Portugal abrandaram consideravelmente em funccedilatildeo principalmente do

esgotamento da capacidade de resposta dos meios tecnoloacutegicos existentes agrave eacutepoca

Com o objetivo de proporcionar um novo impulso a essas atividades principalmente

offshore por meio do Decreto-Lei 10994 foram simplificadas as regras de concessatildeo de aacutereas

e implementadas regras e procedimentos administrativos mais claros e simples melhor

ajustados agrave realidade e agrave praacutetica da induacutestria o que resultou num significativo incremento das

atividades na induacutestria petroliacutefera portuguesa com a assinatura de novos contratos de

concessatildeo

Em ambos os paiacuteses satildeo utilizados os contratos de concessatildeo de modo a regular as

relaccedilotildees entre Estado e concessionaacuterios dos direitos de exploraccedilatildeo No que se refere agraves joint

ventures formadas tambeacutem em ambos os paiacuteses eacute utilizada a figura juriacutedica do consoacutercio

O contrato de consoacutercio oferece uma estrutura obrigacional adequada a esse cenaacuterio e

possibilita a aplicaccedilatildeo de um conjunto poderoso de mecanismos de coordenaccedilatildeo

particularmente em relaccedilatildeo aos mecanismos de controle O consoacutercio22

Por meio dos consoacutercios eacute possiacutevel agraves empresas alcanccedilar a expansatildeo de negoacutecios

crescimento dos empreendimentos explorar e criar novos negoacutecios transferir tecnologia

promover a integraccedilatildeo vertical entre as empresas e penetrar em novos mercados com o apoio

do investidor local (FERRAZ 2001)

permite agraves empresas

compartilhar recursos similares e complementares e incluem o planejamento inter-firma

sistemas de controle muacutetuos e sistemas de penalizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a falhas em compromissos

externos (GRANDORI 1997)

Tanto em Portugal quanto no Brasil destacam-se as empresas de energia Petrobras e

Galp que desempenham suas operaccedilotildees de forma associada por meio de consoacutercios como

integrantes de uma mesma rede que atua numa atividade jovem em ambas as naccedilotildees que vem

ganhando relevacircncia ao longo dos anos e implicado mudanccedilas estruturais em ambos os paiacuteses 22 No Brasil o ordenamento juriacutedico disciplina o consoacutercio por meio da Lei 640476 especificamente nos artigos 278 e 279 sendo o consoacutercio desprovido de personalidade juriacutedica (CARVALHO 2008) Jaacute em Portugal o consoacutercio eacute disciplinado pelo Decreto-Lei 23181 (FERRAZ 2001)

Representa um desafio no que se refere agrave anaacutelise e discussatildeo de suas peculiaridades em

especial com relaccedilatildeo agraves suas implicaccedilotildees e contornos estrateacutegicos que satildeo componentes de

anaacutelise ainda pouco conhecidasinvestigadas das relaccedilotildees bilaterais luso-brasileiras

341 Estrateacutegia na induacutestria petroliacutefera

No acircmbito da induacutestria petroliacutefera mundial variaacuteveis que envolvem questotildees

tecnoloacutegicas de riscos negociais de posicionamento e dinacircmica de mercado dentre outras

satildeo fortemente consideradas no processo de formulaccedilatildeo estrateacutegica das grandes companhias

privadas de petroacuteleo Trata-se de um contexto onde as mudanccedilas significam uma constante

principalmente em funccedilatildeo da globalizaccedilatildeo dos mercados da volatilidade dos preccedilos pressotildees

por reduccedilatildeo de custos desenvolvimento de novas tecnologias acesso a capital e regulaccedilatildeo dos

mercados

Nesse aspecto de modo geral as concepccedilotildees dominantes em estrateacutegia alinham-se agraves

particularidades desse cenaacuterio de mercado prevalecendo o argumento de que a grande

empresa deve dedicar-se ao controle daquilo que estaacute fora da organizaccedilatildeo tomando como

referencial modelos e estrateacutegias universais de posicionamento que possibilitem agrave

organizaccedilatildeo posicionar-se perante as ameaccedilas de mercado

Dentro desse contexto o termo ldquograndes petroliacuteferas multinacionaisrdquo estaacute diretamente

associado a empresas de origem anglo-americana como Exxon Chevron Shell e British

Petroleum Dado o predomiacutenio dessas multinacionais no contexto anglo-americano verifica-

se que em grande parte a elas se aplicam os pressupostos dominantes gerados e voltados para

grandes empresas autocircnomas a orientaccedilatildeo para objetivos econocircmicos e o etnocentrismo da

literatura os quais foram construiacutedos no mesmo ambiente de origem dessas empresas

ldquoNossas principais estrateacutegias nos levaratildeo a posiccedilotildees de lideranccedila

em negoacutecios desenvolvidos de forma integrada em todo o mundo

Global Upstream - Aumentar a rentabilidade dos principais negoacutecios

e estabelecer novas posiccedilotildees para geraccedilotildees futurasrdquo

ldquoStrategy

bull Well-positioned for volatile market conditions

bull Effective cost management

bull Robust project queue

bull Reduced base business investmentsrdquo

Destaques da estrateacutegia de upstream da Chevron23

ldquoOur organizational structure is built on a concept of global

businesses and is designed to allow ExxonMobil to compete most

effectively in the ever-changing and challenging worldwide energy

industryrdquo

ldquoExxonMobilrsquos exploration strategy is to identify evaluate pursue

and capture the highest quality opportunities around the worldrdquo

Destaques da estrateacutegia da Exxon24

Devido aos altos e diversos riscos envolvidos e aos elevados recursos financeiros

necessaacuterios agrave sua execuccedilatildeo as empresas atuantes nesse segmento se associam com

frequecircncia Formam associaccedilotildees contratuais as quais preservam sua autonomia empresarial

visando conjugar esforccedilos a fim de dividir os riscos e otimizar seus portifoacutelios de

investimentos e suas estrateacutegias empresariais de curto meacutedio e longo prazos

Tendo em vista esses objetivos as empresas petroliacuteferas tambeacutem participam de redes

que tecircm como objetivo principal a maximizaccedilatildeo de seus resultados econocircmicos o que se

aproxima da visatildeo claacutessica de estrateacutegia Dadas essas particularidades em seus fins essas

redes estatildeo mais alinhadas agrave visatildeo que as considera meramente sistemas objetivos que geram

vantagens competitivas para seus membros por meio da gerecircncia estrateacutegica planejada uma

vez que permitem a reduccedilatildeo de custos aumento da flexibilidade e maior eficiecircncia das

operaccedilotildees

ldquoLooking forward our strategy is to create value for shareholders by

investing to deliver growth in our Exploration and Production

23 Disponiacutevel em httpwwwchevroncombr e httpwwwchevroncom 24 Disponiacutevel em httpwwwexxonmobilcomcorporateaboutaspx

business together with high-quality earnings and returns throughout

our operationsrdquo

ldquoWe expect to strengthen our position further by securing new access

and achieving exploration successrdquo Relatoacuterio Anual Destaques da

estrateacutegia de EampP da BP25

ldquoWe continue to focus the company on delivering strong operating

performance and maintaining the financial flexibility to fund both

new projects and returns to shareholdersrdquo Jeroen van der Veer CEO

da Shell26

Em relaccedilatildeo ao cenaacuterio geral da induacutestria petroliacutefera essa pode ser considerada a

dimensatildeo mais visiacutevel da realidade utilizando-se dos pressupostos considerados pela

literatura dominante em estrateacutegia em especial a visatildeo claacutessica de estrateacutegia com seu foco na

otimizaccedilatildeo do resultado financeiro e uso de accedilotildees estrateacutegicas estruturas organizacionais

foacutermulas procedimentos e matrizes objetivas

No entanto adicionalmente a induacutestria petroliacutefera mundial eacute um segmento que estaacute

imbricado em bastidores geopoliacuteticos que envolvem questotildees de poder e poliacutetica Apesar de o

contexto anglo-americano destacar importacircncia agraves grandes multinacionais de mesma origem

muitas das maiores empresas petroliacuteferas pertencem e satildeo operadas por governos como Saudi

Aramco (Araacutebia Saudita) NIOC (Iratilde) PDVSA (Venezuela) Gazprom e Rosneft (Ruacutessia)

CNPC (China) Petronas (Malaacutesia) e a proacutepria Petrobras

ldquoThe Saudi Arabian Oil Company (Saudi Aramco) the state-owned

oil company of the Kingdom of Saudi Arabia is a fully-integrated

global petroleum enterprise and a world leader in exploration and

producing refining distribution shipping and marketingrdquo Perfil

empresarial da Saudi Aramco27

25 Disponiacutevel em httpwwwbpcomannualreview 26 Disponiacutevel em httpwwwshellcomhomecontentaboutshellour_strategyupdate_2009update_2009 27 Disponiacutevel em httpwwwsaudiaramcocom

ldquoThe defense of National Sovereignty is one of the key aspects of the

innovative national oil policy effected by the Bolivarian Government

of Venezuela This strategic policy intended to bring about authentic

oil nationalization calls for the reaffirmation of the nationrsquos property

rights over its subterranean deposits of hydrocarbons as well as the

recovery of control of oil activities within its frontiers from the legal

and fiscal perspectives to full control over of the national oil

industryrdquo Estrateacutegia da PDVSA28

ldquoO nosso objectivo eacute trabalhar em estreita colaboraccedilatildeo com os

nossos clientes parceiros e decisores poliacuteticos para promover uma

utilizaccedilatildeo mais eficaz e sustentaacutevel da energia e dos recursos

naturaisrdquoPrinciacutepios gerais de negoacutecio da Shell29

No entanto apesar de as proacuteprias empresas tidas como multinacionais privadas

admitirem a negociaccedilatildeo com entes poliacuteticos a literatura em estrateacutegia despreza essas

questotildees por terem sido deslegitimadas pelo conhecimento produzido nos EUA ainda que a

aacuterea seja intimamente relacionada ao poder e agrave poliacutetica

Apesar do visiacutevel desprezo a essas questotildees tiacutepicas de natildeo-mercado perante a

literatura dominante percebe-se que para as grandes empresas de petroacuteleo anglo-americanas

as accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito dessa dimensatildeo satildeo estruturadas com o objetivo de criar valor

para a organizaccedilatildeo por meio da maximizaccedilatildeo de sua performance

Nessas condiccedilotildees sob esse ponto de vista haacute uma subordinaccedilatildeo das estrateacutegias de

natildeo-mercado em relaccedilatildeo agraves de mercado preconizada pela literatura dominante e amparada no

argumento de que seu objetivo maior eacute sempre pautado por questotildees econocircmicas Essa

construccedilatildeo teoacuterica dominante leva a um enquadramento maior de seus preceitos em ambientes

de organizaccedilotildees natildeo-hiacutebridas atuantes em contextos tiacutepicos de mercado De forma geral o

termo ldquomercadordquo segundo essas abordagens dominantes de estrateacutegia eacute caracterizado como

ldquoturbulentordquo ao qual a empresa deve se adaptar para sobreviver

28 Disponiacutevel em httpwwwpdvsacom 29 Disponiacutevel em httpwww-staticshellcomstaticaboutshelldownloadswho_we_aresgbpssgbp_portugalpdf

agraves demais companhias petroliacuteferas haacute pouco mais de dez anos a partir do fim do monopoacutelio

estatal exercido exclusivamente pela Petrobras De forma especial a Petrobras vem

utilizando seus relacionamentos focais num contexto de redes internacionais servindo-se

dessas alianccedilas em seu processo de internacionalizaccedilatildeo dos negoacutecios

ldquoA Petrobras busca oportunidades no Brasil e fora do paiacutes () que

possam ser utilizadas como contrapartidas por empresas que

desejem alavancar oportunidades no setor petroacuteleo onde a Petrobras

atua aproveitamento de sinergias entre ativos ()rdquo Oportunidades de

novos negoacutecios com a Petrobras30

Jaacute em Portugal o Estado simplificou regras e procedimentos administrativos visando

proporcionar um novo impulso agraves atividades petroliacuteferas principalmente offshore Tanto em

Portugal quanto no Brasil predominam nos respectivos mercados Petrobras e Galp que

tambeacutem vecircm desempenhando suas operaccedilotildees de forma associada como integrantes de uma

mesma rede

Em especial nas economias emergentes e em desenvolvimento como eacute o caso de

Brasil e Portugal existem evidecircncias de que as dimensotildees poliacutetica e social dos mercados

continuam guardando relevacircncia mesmo na era da globalizaccedilatildeo Nesse aspecto o contexto

luso-brasileiro da induacutestria petroliacutefera possui particularidades ainda natildeo previstas pela

literatura dominante como as interfaces existentes entre mercado Estado e sociedade

ldquo() No que se refere agrave intervenccedilatildeo estatal () natildeo se pode admitir

que o Estado seja um guardiatildeo social imparcial ()rdquo (CHANG

Adiciona-se a esse contexto a natureza hiacutebrida das empresas participantes dessa rede

luso-brasileira cujo relacionamento foi investigado nessa pesquisa Para essas organizaccedilotildees a

sustentabilidade de suas vantagens competitivas eacute tatildeo dependente da sua habilidade em

30 Disponiacutevel em httpwww2petrobrascombrnegociosportuguesnovos_negociospopp_oportunidadeshtm

gerenciar forccedilas do ambiente natildeo-mercadoloacutegico quanto da sua habilidade em atingir metas

econocircmicas no ambiente de mercado O sucesso no ambiente de natildeo-mercado eacute criacutetico e

crucial em especial quando as oportunidades dessas firmas satildeo de alguma forma e

intensidade controladas por entidades governamentais

Considerando que nesse cenaacuterio o reconhecimento da influecircncia do Estado eacute de

central importacircncia para a compreensatildeo da rede entre essas empresas o pesquisador acaba por

ter que se afastar da literatura dominante de estrateacutegia principalmente as abordagens

claacutessicas haja vista natildeo considerarem fatores ligados a questotildees de natildeo-mercado e interesses

mais plurais que vatildeo aleacutem dos objetivos econocircmicos

Com isso levando em consideraccedilatildeo a forte presenccedila de variaacuteveis que envolvem poder

e poliacutetica interesses diversos e interaccedilatildeo entre fatores de mercado e de natildeo-mercado verifica-

se que o contexto que envolve os relacionamentos focais de Petrobras e Galp natildeo eacute o mais

representativo de mercado tomando uso das definiccedilotildees estabelecidas pela literatura

dominante

ldquoIn some developing countries large companies that remain in

private hands rely on government patronage in the form of credit

contracts and subsidies These privately owned but government-

favored national champions get breaks from the government which

sees them as a means of competing with purely commercial foreign

rivals and they are thus able to carve out a dominant role in the

domestic economy and in export markets In turn these companies use

their clout with their governments to gobble up smaller domestic

rivals reinforcing the companies strength as pillars of state

capitalismldquo Ian Bremmer Foreign Affairs

Trata-se portanto de um contexto hiacutebrido que mistura poliacutetica com mercado privado

com estatal tal qual as empresas pesquisadas Nesse aspecto tendo em vista que a pesquisa

envolve Petrobras e Galp empresas hiacutebridas que estatildeo contidas nesse cenaacuterio tambeacutem

hiacutebrido a distinccedilatildeo entre estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado exige outras abordagens

aleacutem da visatildeo claacutessica de estrateacutegia Desse modo a literatura dominante em estrateacutegia explica

apenas parcialmente a interaccedilatildeo existente nesse contexto

35 Descriccedilatildeo do framework da pesquisa

Considerando que em qualquer pesquisa que envolva a descriccedilatildeo de uma determinada

realidade haacute a influecircncia e presenccedila de vieacutes atrelado agrave bagagem teoacuterica detida pelo

pesquisador essa seccedilatildeo tem como objetivo apresentar ao leitor um framework da pesquisa ou

seja o anteparo teoacuterico com o qual o pesquisador desse trabalho representaraacute a realidade

pesquisada durante o trabalho de investigaccedilatildeo

Como visto nas seccedilotildees anteriores em razatildeo do fato da estrateacutegia ser um campo

relativamente novo sua definiccedilatildeo tem sido mateacuteria de intensas discussotildees e criacuteticas (PENG

2008) Nesse cenaacuterio o termo estrateacutegia eacute definido de vaacuterias formas (MINTZBERG et al

2006) e a disciplina eacute sistematizada em diversas escolas (MINTZBERG et al 2000) mas

quase sempre caracterizada como de orientaccedilatildeo deliberada intencional que determina as

decisotildees e o posicionamento da organizaccedilatildeo

No contexto que envolve essas amplas discussotildees verifica-se a existecircncia de

concepccedilotildees dominantes que baseiam-se em modelos normativos de formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de estrateacutegias baseadas e voltadas relevantemente para grandes empresas da

Ameacuterica do Norte (SHRIVASTAVA 1986) Trata-se de uma aacuterea caracteristicamente

alicerccedilada no paradigma da empresa autocircnoma em teorias prescritivas cunhadas pelo

positivismo orientada para objetivos econocircmicos e etnocecircntrica (BETTIS 1991 AKTOUF

2002 e BERTERO et al 2003)

Nessas concepccedilotildees dominantes e mesmo em suas derivaccedilotildees o sentido atribuiacutedo agrave

estrateacutegia fez emergir praacuteticas e conceitos baseados no argumento de que a grande empresa

deveria se dedicar a controlar o que estava fora da organizaccedilatildeo com base em modelos e

estrateacutegias geneacutericas porterianas que possibilitem agrave organizaccedilatildeo posicionar-se perante as

ameaccedilas de mercado (FARIA 2007)

Em relaccedilatildeo agrave literatura dominante verifica-se que as questotildees de poder e poliacutetica

assim como as interfaces existentes entre mercado Estado e sociedade tecircm sido

marginalizadas denotando o seu desprezo a qualquer menccedilatildeo de estrateacutegias que natildeo estejam

voltadas para o mercado Essa caracteriacutestica eacute resultado do fato da literatura em estrateacutegia

desprezar os conceitos relacionados ao poder e agrave poliacutetica porque esses fatores foram

deslegitimados pelo conhecimento produzido nos EUA mesmo que a aacuterea seja intimamente

relacionada ao poder e agrave poliacutetica (KNIGHTS amp MORGAN 1991 e FARIA amp IMASATO

Como consequecircncia das caracteriacutesticas presentes nessa conjuntura onde predominam

as concepccedilotildees prescritivas o paradigma da empresa autocircnoma e os pesquisadores desprezam

as questotildees de poder e poliacutetica satildeo ignorados os interesses e praacuteticas de estrategistas de

contextos diversos aleacutem de ser dificultado o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao

fenocircmeno de redes (FARIA 2005 FARIA 2008b HAMBRICK 2004 WILSON amp

JARZABKOWSKI 2004 VOLBERDA 2004 e KNIGHTS amp MORGAN 1991)

Perante essa visatildeocorrente mercadoloacutegica e econocircmica dominante as redes satildeo vistas

meramente como sistemas objetivos que geram vantagens competitivas para seus membros

por meio da gerecircncia estrateacutegica planejada uma vez que permitem a reduccedilatildeo de custos

aumento da flexibilidade e maior eficiecircncia das operaccedilotildees Essa pode ser considerada a

dimensatildeo mais visiacutevel da realidade considerada pela literatura dominante (FARIA 2005 e

No entanto a sustentabilidade das vantagens competitivas das organizaccedilotildees eacute tatildeo

dependente da sua habilidade em gerenciar forccedilas do ambiente natildeo-mercadoloacutegico quanto da

sua habilidade em atingir metas econocircmicas no ambiente de mercado Verifica-se com base

nas teorias que alicerccedilam essa afirmaccedilatildeo portanto que o ambiente de negoacutecios eacute composto de

componentes de mercado e de natildeo-mercado (BODDEWYN 2003 MAHON et al 2003 e

BARON 1995a)

Brasil e Portugal contrariamente ao que preconiza a literatura dominante Explica-se a

presenccedila dessas dimensotildees de natildeo-mercado pelos interesses poliacuteticos e econocircmicos

especiacuteficos (FARIA 2008c)

Com isso em alguns cenaacuterios para muitas companhias o sucesso nas arenas de

mercado e de natildeo-mercado eacute fundamental para o atingimento de suas metas Entretanto para

algumas o sucesso no ambiente de natildeo-mercado eacute criacutetico e crucial em especial quando as

oportunidades dessas firmas satildeo de alguma forma e intensidade controladas por entidades

governamentais ou ameaccediladasdesafiadas por pressotildees puacuteblicas como eacute o caso de empresas

hiacutebridas caracteriacutestica das organizaccedilotildees investigadas nessa pesquisa

A dimensatildeo poliacutetica dos mercados do mesmo modo que as atividades empresariais

neste domiacutenio foram desprezadas pela literatura dominante da estrateacutegia apesar de vitais para

empresas hiacutebridas Nesse sentido vale ressaltar que os termos puacuteblico e privado satildeo

multidimensionais e fazem parte de um mesmo continuum o que permite a existecircncia de

formaccedilotildees hiacutebridas embora muitas vezes sejam tratados como uma dicotomia (PERRY amp

RAINEY 1988 CHANDLER 1991 e NWANKWO 1996) Essa visatildeo dicotocircmica que

balizou a construccedilatildeo da escola de administraccedilatildeo puacuteblica separada da administraccedilatildeo de

empresas veio a inibir as escolas de negoacutecios de cruzarem a fronteira para adentrar questotildees

do setor puacuteblico (PAULA 2005)

Nesse cenaacuterio a natureza hiacutebrida das empresas participantes das redes e cenaacuterios

pesquisados faz com que o pesquisador tenha que se afastar da literatura dominante de

estrateacutegia principalmente as abordagens claacutessicas de estrateacutegias haja vista natildeo considerarem

fatores ligados a questotildees de natildeo-mercado Com isso passa o pesquisador a poder

compreender os papeacuteis que exercem as forccedilas do setor puacuteblico e privado sobre as

organizaccedilotildees os efeitos da imposiccedilatildeo dos objetivos e interesses do setor puacuteblico sobre o setor

privado e vice-versa e a interaccedilatildeo das teacutecnicas de gestatildeo do setor privado para o puacuteblico

(RING amp PERRY 1985) Todos esses efeitos e caracteriacutesticas satildeo reproduzidos no caso da

rede entre Petrobras e Galp Energia ambas empresas de energia e hiacutebridas

Finalizando pode-se assumir que haacute questotildees natildeo visiacuteveis presentes em estruturas de

redes formadas entre essas empresas e tambeacutem em redes mais elevadas que podem explicar a

maior parte da interaccedilatildeo existente nessas redes No entanto as teorias impostas pelos

ldquopositivistasrdquo suprimem estas peculiaridades e tambeacutem o caraacuteter poliacutetico das estrateacutegias de

grandes corporaccedilotildees e as respectivas interfaces entre governo e empresa Desse modo as

chamadas ldquosupra-redesrdquo compostas por fatores dos acircmbitos puacuteblico e privado que

transcendem fronteiras nacionais e desafiam as distinccedilotildees que a disciplina atribui aos

domiacutenios econocircmico e poliacutetico transcendem tambeacutem o domiacutenio mais superficial e visiacutevel da

realidade (FARIA 2005)

Com base nesse arcabouccedilo teoacuterico o framework da pesquisa conduzida por meio do

estudo das relaccedilotildees presentes na rede formada entre Petrobras e Galp no ambiente luso-

brasileiro da induacutestria do petroacuteleo considera as seguintes discussotildeesproposiccedilotildees

(i) a literatura dominante em estrateacutegia eacute etnocecircntrica atrelada agrave realidade norte-

americana e alicerccedila-se fortemente no paradigma da grande empresa privada e

autocircnoma

(ii) o sentido dado agrave estrateacutegia pelas concepccedilotildees dominantes eacute orientado para

objetivos e resultados econocircmicos privilegiando as atividades de mercado

estando os conceitos e praacuteticas baacutesicas da estrateacutegia baseados no argumento de

que a grande empresa deve controlar o que estaacute fora da organizaccedilatildeo fazendo

uso de modelos e estrateacutegias geneacutericasuniversais

(iii) perante a literatura dominante as redes satildeo vistas como sistemas

objetivoseconocircmicos que geram vantagens competitivas por meio da reduccedilatildeo

de custos aumento da flexibilidade e maior eficiecircncia das operaccedilotildees

(iv) as questotildees que envolvem poder e poliacutetica aleacutem das interfaces existentes entre

mercado Estado e sociedade embora sejam intimamente ligadas agrave estrateacutegia

foram desprezadas pelas concepccedilotildees dominantes empresas que juntamente

com a teoria econocircmica neoclaacutessica ignora que as organizaccedilotildees estruturam

estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado

(v) empresas tambeacutem atuam e satildeo impactadas por relaccedilotildeesforccedilas de natildeo-mercado

como forccedilas sociais poliacuteticas ambientais estatais e legais que moldam as

interaccedilotildees entre as firmas e seus diversos stakeholders e em especial nas

economias emergentes e em desenvolvimento como eacute o caso de Brasil e

Portugal as dimensotildees poliacutetica e social dos mercados continuam guardando

relevacircncia mesmo na era da globalizaccedilatildeo

(vi) organizaccedilotildees privadas e puacuteblicas fazem parte de um mesmo continuum

permitindo a existecircncia de empresas hiacutebridas que ao mesmo tempo guardam

caracteriacutesticas privadas e puacuteblicas e participam de redes em comum verifica-se

tambeacutem a existecircncia das ldquosupra-redesrdquo compostas por fatores dos acircmbitos

puacuteblico e privado que desafiam as distinccedilotildees entre os domiacutenios econocircmico e

poliacutetico transcendendo tambeacutem o domiacutenio mais superficial e visiacutevel da

realidade

(vii) essas representaccedilotildees se reproduzem no cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria do

petroacuteleo

Com base nessas discussotildeesquestotildees que compotildeem o framework dessa pesquisa

visando melhor destacar as principais caracteriacutesticas das concepccedilotildees dominantes da disciplina

e retratar mais detalhadamente a realidade presente no cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria do

petroacuteleo foi construiacuteda a figura a seguir

Figura 8 Representaccedilatildeo do framework da pesquisa

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO-MERCADO

MERCADO

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

CONTEXTO

DA INDUacuteSTRIA PETROLIacuteFERA

LUSO-BRASILEIRO

4 MEacuteTODO DE PESQUISA

41 Consideraccedilotildees Epistemoloacutegicas

ldquoAs suposiccedilotildees ontoloacutegicas epistemoloacutegicas e da natureza humana

tecircm implicaccedilotildees diretas de ordem metodoloacutegica vale dizer

encaminham o pesquisador na direccedilatildeo dessa ou daquela

metodologiardquo (VERGARA 2004 p 12)

A Administraccedilatildeo assim como a Sociologia natildeo possui meacutetodos e teacutecnicas de

investigaccedilatildeo exclusivos pelo contraacuterio utiliza-se de teacutecnicas e meacutetodos de outras ciecircncias

Em ciecircncias jaacute constituiacutedas como a Matemaacutetica ou a Biologia existe uma preacutevia adequaccedilatildeo

entre o meacutetodo e o respectivo objeto da pesquisa No entanto nas pesquisas em

Administraccedilatildeo a situaccedilatildeo eacute diferente porque natildeo necessariamente deve haver privileacutegio de

um meacutetodo para tratar objetos cientiacuteficos pois nas ciecircncias sociais o objeto eacute na maioria das

vezes ao mesmo tempo sujeito e objeto (MARTINS 1997)

Diante desse quadro no acircmbito das ciecircncias sociais a discussatildeo das principais opccedilotildees

filosoacuteficas subjacentes aos diferentes meacutetodos de pesquisa em Administraccedilatildeo eacute muito uacutetil para

a qualidade e sucesso das pesquisas a serem desenvolvidas Em primeiro lugar essa discussatildeo

filosoacutefica pode ajudar a esclarecer as concepccedilotildees de pesquisa incluindo os meacutetodos pelos

quais os dados seratildeo coletados e analisados Tambeacutem pode ajudar o pesquisador a reconhecer

quais concepccedilotildees iratildeo ou natildeo funcionar indicando as limitaccedilotildees de determinadas abordagens

e por fim mas natildeo exaurindo a importacircncia dessa discussatildeo pode facilitar a identificaccedilatildeo de

concepccedilotildees que podem estar fora da experiecircncia passada do pesquisador e a adaptaccedilatildeo das

concepccedilotildees de pesquisa de acordo com as restriccedilotildees das diversas estruturas de assunto ou de

conhecimento (EASTERBY-SMITH et al 1999)

Nessa seccedilatildeo seraacute realizada uma breve discussatildeo sobre as diversas correntes filosoacuteficas

aleacutem da indicaccedilatildeo daquela que estaacute mais proacutexima da pesquisa realizada visando auxiliar o

leitor dessa dissertaccedilatildeo na compreensatildeo dos fundamentos do meacutetodo de pesquisa escolhido

pelo autor

A estrutura formal de uma ciecircncia compreende quatro niacuteveis epistemoloacutegico teoacuterico

teacutecnico e metodoloacutegico Cada um com relativa autonomia no sistema cientiacutefico expressando-

se articuladamente no processo de produccedilatildeo do conhecimento Em relaccedilatildeo ao niacutevel

metodoloacutegico satildeo diversas e divergentes as classificaccedilotildees No entanto seratildeo considerados

basicamente trecircs grandes meacutetodos baseados em trecircs correntes filosoacuteficas do pensamento

contemporacircneo (positivismo fenomenologia e marxismo respectivamente) (i) hipoteacutetico-

dedutivo (ii) fenomenoloacutegico e (iii) dialeacutetico (MARTINS 1997 e VERGARA 2006)

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo representa a heranccedila da corrente epistemoloacutegica

denominada positivismo escola de pensamento de grande importacircncia e influecircncia no mundo

ocidental cuja ideia eacute que o mundo social existe externamente e que suas propriedades devem

ser medidas por meio de meacutetodos objetivos e natildeo serem inferidos subjetivamente por meio de

sensaccedilotildees da reflexatildeo ou da intuiccedilatildeo Dentro dessa corrente filosoacutefica o pesquisador deve ver

o mundo como existindo independentemente da apreciaccedilatildeo que algueacutem faccedila dele e dos olhos

do proacuteprio observador ou seja haacute uma independecircncia de interesses e valores Deduz alguma

coisa a partir da formulaccedilatildeo de hipoacuteteses as quais satildeo testadas na busca por relaccedilotildees causais

entre variaacuteveis A causalidade eacute o seu eixo de explicaccedilatildeo cientiacutefica com ecircnfase na

quantificaccedilatildeo daiacute a relevacircncia dos procedimentos estatiacutesticos (EASTERBY-SMITH et al

1999 RICHARDSON 1999 e VERGARA 2006)

Em oposiccedilatildeo agraves ideias derivadas do positivismo a corrente fenomenoloacutegica afirma que

algo soacute pode ser entendido a partir do ponto de vista das pessoas que o vivem e

experimentam A linha filosoacutefica da fenomenologia utiliza a hermenecircutica que atraveacutes da

anaacutelise do contexto busca a compreensatildeo de significados muitos deles ocultos Esse

paradigma adota as crenccedilas de que o mundo eacute socialmente construiacutedo e subjetivo o

observador eacute parte daquilo que eacute observado e que a ciecircncia eacute movida por interesses humanos

O pesquisador procura entender o que estaacute acontecendo desenvolve ideias a partir dos dados

por induccedilatildeo usa pequenas amostras investigadas em profundidade e lanccedila matildeo de meacutetodos

muacuteltiplos para estabelecer diferentes visotildees dos fenocircmenos (EASTERBY-SMITH et al 1999

e VERGARA 2006)

Da mesma forma como o paradigma fenomenoloacutegico o dialeacutetico opotildee-se agrave corrente

filosoacutefica do positivismo e vecirc as coisas em constante fluxo e transformaccedilatildeo tendo como foco

o processo Entende que a sociedade constroacutei o homem e ao mesmo tempo eacute por ele

construiacuteda Os fenocircmenos satildeo estudados dentro de um contexto com o pesquisador

observando que tudo se relaciona mutuamente (VERGARA 2006)

Paradigma positivista Paradigma fenomenoloacutegico

Crenccedilas O mundo eacute externo e objetivo O mundo eacute construiacutedo socialmente e subjetivo

O observador eacute independente O observador eacute parte daquilo que eacute observado

A ciecircncia eacute isenta de valores A ciecircncia eacute movida por interesses humanos

O pesquisador deve Focalizar os fatos Focalizar significados

Buscar causalidade e leis fundamentais Procurar entender o que estaacute acontecendo

Reduzir os fenocircmenos aos elementos mais simples

Olhar para a totalidade de cada situaccedilatildeo

Formular hipoacuteteses e testaacute-las a seguir Desenvolver ideias a partir dos dados atraveacutes de induccedilatildeo

Os meacutetodos preferidos incluem

Operacionalizaccedilatildeo de conceitos para que eles possam ser medidos

Uso de meacutetodos muacuteltiplos para estabelecer visotildees diferentes dos fenocircmenos

Tomar grandes amostras Pequenas amostras investigadas em profundidade ou ao longo do tempo

Quadro 2 Caracteriacutesticas baacutesicas dos paradigmas positivista e fenomenoloacutegico Fonte EASTERBY-SMITH et al 1999 p 27

Considerando as trecircs correntes filosoacuteficas apresentadas a pesquisa desenvolvida e

apresentada nessa obra identifica-se mais com o paradigma fenomenoloacutegico tendo em vista

que o estudo do fenocircmeno das redes e estrateacutegias de natildeo-mercado desenvolve-se com foco em

contexto especiacutefico (relaccedilotildees luso-brasileiras) e visa agrave descoberta de detalhes especiacuteficos

desse fenocircmeno dentro desse contexto especialmente nas relaccedilotildees presentes na induacutestria

petroliacutefera de Brasil e Portugal

Adicionalmente essa aproximaccedilatildeo entre a corrente fenomenoloacutegica e a pesquisa

desenvolvida pode ser considerada beneacutefica para a geraccedilatildeo de conhecimento em estrateacutegia

uma vez que pesquisas dessa natureza ainda satildeo escassas no Brasil (MARTINS 1997) e

devido agrave predominacircncia na disciplina abordada nesse estudo (estrateacutegia) de uma literatura

dominante com caracteriacutesticas etnocecircntricas (natureza anglo-americana) positivista e

quantitativa que natildeo considera aspectos relevantes de outras culturas negoacutecios interesses e

estruturas ou seja de outros contextos Esse conhecimento dominante despreza as questotildees de

poder e poliacutetica e em consequecircncia interesses e praacuteticas de estrategistas sendo demandadas

anaacutelises mais pluralistas que critiquem a realidade apresentada pela literatura dominante e a

validade de seus preceitos para outros contextos (BETTIS 1991 BERTERO et al 2003

WHITTINGTON 2004 HAMBRICK 2004 IBARRA-COLADO 2006 e FARIA 2008a)

Aleacutem da indicaccedilatildeo da corrente filosoacutefica agrave qual o estudo mais se identifica eacute

necessaacuterio alinhaacute-la agraves perspectivas qualitativas e quantitativas das pesquisas Apesar de a

distinccedilatildeo entre os paradigmas filosoacuteficos ser bastante clara quando se trata de usar os

meacutetodos quantitativos ou qualitativos e definir as questotildees de concepccedilatildeo da pesquisa essa

distinccedilatildeo se desfaz podendo haver uma mistura de meacutetodos (EASTERBY-SMITH et al

Em linhas gerais num estudo quantitativo o pesquisador conduz seu trabalho a partir

de um plano estabelecido a priori com suas hipoacuteteses claramente especificadas e variaacuteveis

operacionalmente definidas Essa abordagem quantitativa tem sido empregada com a

finalidade de isolar as causas e os efeitos operacionalizando relaccedilotildees teoacutericas e medindo e

quantificando os fenocircmenos permitindo a generalizaccedilatildeo das descobertas Estudos

quantitativos satildeo uacuteteis para examinar relaccedilotildees entre inputs e outputs e provecircm resultados

detalhados e com afericcedilatildeo de seu grau de confianccedila que podem ser utilizados pelos diversos

stakeholders de uma organizaccedilatildeo no processo decisoacuterio (GODOY 1995a MILLER et al

1997 e DENZIN amp LINCOLN 2006)

Jaacute a pesquisa qualitativa natildeo procura enumerar eou medir os eventos estudados nem

emprega instrumental estatiacutestico na anaacutelise dos dados coletados Parte de questotildees ou focos de

interesses amplos que vatildeo se definindo agrave medida que o estudo se desenvolve Envolve a

coleta de dados descritivos sobre pessoas lugares e processos interativos pelo contato direto

do pesquisador com o contexto investigado procurando compreender os fenocircmenos de acordo

com a perspectiva dos sujeitos desse contexto Esses dados fruto da descriccedilatildeo e explicaccedilatildeo

das interaccedilotildees existentes nos contextos organizacionais sociais e institucionais ajudam a

explicar e tornar visiacuteveis os componentes fundamentais de uma organizaccedilatildeo aos seus

stakeholders De modo geral diferenciam-se dos quantitativos por natildeo empregarem

instrumental estatiacutestico como base do processo de anaacutelise de um problema (GODOY 1995a

MILLER et al 1997 e RICHARDSON 1999)

Os meacutetodos quantitativos tecircm sido largamente utilizados por pesquisadores que

admitem que uma das principais funccedilotildees da ciecircncia social eacute descobrir leis e generalizaccedilotildees

para explicar predizer e controlar a realidade Jaacute a utilizaccedilatildeo de meacutetodos qualitativos mostra-

se mais adequada para pesquisadores que admitem que as ciecircncias sociais tecircm como principal

objetivo compreender os acontecimentos diaacuterios bem como os significados que as pessoas

datildeo aos fenocircmenos (GIL 2006)

A pesquisa qualitativa pode ser entendida como um campo interdisciplinar

transdisciplinar e agraves vezes contradisciplinar que atravessa as humanidades ciecircncias sociais e

as ciecircncias fiacutesicas Trata-se de um campo com foco multiparadigmaacutetico inerentemente

poliacutetico e influenciado por muacuteltiplas posturas eacuteticas e poliacuteticas Envolve uma abordagem

naturalista interpretativa para o mundo tendo em vista que os pesquisadores que a adotam

estudam as coisas em seus cenaacuterios naturais tentando entender ou interpretar os fenocircmenos

em termos dos significados que as pessoas a eles conferem (DENZIN amp LINCOLN 2006)

ldquoOs estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem

descrever a complexidade de determinado problema analisar a

interaccedilatildeo de certas variaacuteveis compreender e classificar processos

dinacircmicos vividos por grupos sociais contribuir no processo de

mudanccedila de determinado grupo e possibilitar em maior niacutevel de

profundidade o entendimento das particularidades do

comportamento dos indiviacuteduosrdquo (RICHARDSON 1999 p 80)

Nos estudos em Administraccedilatildeo o interesse por abordagens qualitativas comeccedilou a se

delinear a partir dos anos 70 e embora exista muita diversidade entre os trabalhos

desenvolvidos sob esses preceitos alguns aspectos essenciais identificam os estudos desse

tipo Dentre essas caracteriacutesticas essenciais destacam-se (i) ter o ambiente natural como

fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental (ii) ser descritiva com

os dados aparecendo sob a forma de transcriccedilotildees e tipos variados de documentos (iii) a

preocupaccedilatildeo essencial do pesquisador eacute o significado que as pessoas datildeo agraves coisas e agrave sua

vida e (iv) os pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na anaacutelise de seus dados (GODOY

1995a)

Considerando que o estudo desenvolvido refere-se agrave investigaccedilatildeo de objetos numa

dada realidade institucional justifica-se o alinhamento com a corrente filosoacutefica da

fenomenologia e a utilizaccedilatildeo dos preceitos da pesquisa qualitativa pela coleta de dados

descritivos busca do entendimento do fenocircmeno como um todo na sua complexidade e

interaccedilatildeo com o contexto investigado

Neste estudo portanto seraacute dado foco a informaccedilotildees qualitativas No entanto dados

quantitativos tambeacutem seratildeo utilizados visando ilustrar conteuacutedos originariamente

qualitativos Por exemplo partindo de informaccedilotildees qualitativas sobre economias emergentes e

em transiccedilatildeo foi possiacutevel com o uso de dados quantitativos verificar a relevacircncia das

relaccedilotildees Brasil-Portugal permitindo definir o foco da pesquisa utilizado para direcionar em

qual contexto os estudos seriam aprofundados

No que se refere ao tipo de pesquisa quanto a seus finspropoacutesitos ressalta-se que as

pesquisas sociais desenvolvem-se em diferentes niacuteveis podendo ser principalmente

exploratoacuterias descritivas ou explicativas (GIL 2006 e YIN 2005) A investigaccedilatildeo

exploratoacuteria eacute realizada em aacuterea em que haacute pouco conhecimento acumulado e sistematizado e

natildeo comporta hipoacuteteses Visa ao aprimoramento de ideias eou descoberta de intuiccedilotildees A

pesquisa descritiva expotildee caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno sendo

possiacutevel estabelecer correlaccedilotildees entre variaacuteveis Jaacute as investigaccedilotildees explicativas visam tornar

algo inteligiacutevel esclarecer quais fatores contribuem para a ocorrecircncia de determinado

fenocircmeno (VERGARA 2006)

Para pesquisas exploratoacuterias os meacutetodos quantitativos por serem muito estruturados

apresentam-se com pouco valor Nesses casos os problemas satildeo definidos inicialmente de

forma vaga requerendo frequentes mudanccedilas no processo de pesquisa Por essa razatildeo os

meacutetodos devem ser usados de maneira flexiacutevel Por sua vez os meacutetodos qualitativos satildeo

flexiacuteveis e particulares em relaccedilatildeo ao objeto de estudo evoluindo ao longo da investigaccedilatildeo

Graccedilas a esta flexibilidade que se consegue maior aprofundamento e detalhamento dos dados

(GIL 2006)

Quanto aos seus fins a pesquisa foi delineada de modo a ser exploratoacuteria haja vista a

necessidade de aprimoramento de ideias e novas investigaccedilotildees aleacutem da realizaccedilatildeo de uma

reflexatildeo intuitiva acerca do fenocircmeno de redes e estrateacutegias de natildeo-mercado no contexto luso-

brasileiro Quanto aos seus meios a pesquisa utilizaraacute um estudo de caso como procedimento

para a coleta de dados

Resumindo a pesquisa desenvolvida aproxima-se da corrente filosoacutefica da

fenomenologia caracterizando-se por ser um estudo qualitativo e exploratoacuterio com o uso de

estudo de caso como procedimento para obtenccedilatildeo dos dados a serem analisados em conexatildeo

com a revisatildeo de literatura visando contribuir para a disciplina por meio de uma pesquisa

com caracteriacutesticas pluralistas

42 Estrateacutegia de Pesquisa Estudo de Caso

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de

materiais empiacutericos estudo de caso experiecircncia pessoal introspecccedilatildeo histoacuteria de vida

entrevista artefatos textos e produccedilotildees culturais textos observacionais histoacutericos interativos

e visuais dentre outros (DENZIN amp LINCOLN 2006)

Para o processo de escolha da maneira de obter os dados eacute fundamental traccedilar o

delineamento da pesquisa que refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensatildeo mais

ampla Um dos delineamentos mais adotados na pesquisa qualitativa em ciecircncias sociais eacute o

estudo de caso que eacute constituiacutedo pelo estudo amplo e exaustivo de um ou de poucos objetos

de maneira a permitir seu amplo e detalhado conhecimento (GIL 1998 e 2006)

O estudo de caso eacute uma estrateacutegia de pesquisa que destina foco ao entendimento das

dinacircmicas presentes em colocaccedilotildees simples Aleacutem disso estudos de caso tipicamente

combinam coleta de dados como arquivos entrevistas questionaacuterios e observaccedilotildees As

evidecircncias coletadas por meio dos dados podem ser qualitativas quantitativas ou das duas

formas simultaneamente No entanto em sua essecircncia os estudos de caso satildeo

caracteristicamente qualitativos podendo comportar dados quantitativos para aclarar aspectos

especiacuteficos da questatildeo investigada (EISENHARDT 1989 e GODOY 1995b)

Na taxonomia apresentada por Vergara (2006 p 49) a estrateacutegia do estudo de caso eacute

classificada como um meio de investigaccedilatildeo circunscrita a uma ou poucas unidades entendidas

essas como pessoa famiacutelia produto empresa oacutergatildeo puacuteblico comunidade ou mesmo paiacutes por

exemplo Adicionalmente expotildee que o estudo de caso tem caraacuteter de profundidade e

detalhamento podendo ou natildeo ser realizado no campo

O estudo de caso tambeacutem pode ser caracterizado como um tipo de pesquisa cujo

objeto eacute uma unidade que se analisa intensa e profundamente Visa ao exame detalhado de

uma unidade social que pode ser um ambiente um simples sujeito uma empresa uma

comunidade ou uma situaccedilatildeo em particular com o objetivo de compreendecirc-los em seus

proacuteprios termos Eacute uma investigaccedilatildeo empiacuterica que pesquisa fenocircmenos dentro de seu contexto

real (pesquisa naturaliacutestica) (GODOY 1995b e MARTINS amp LINTZ 2000)

Nas ciecircncias durante muito tempo o estudo de caso foi encarado como procedimento

pouco rigoroso que serviria apenas para estudos de natureza exploratoacuteria Hoje poreacutem eacute

encarado como o delineamento mais adequado para a investigaccedilatildeo empiacuterica de fenocircmenos

contemporacircneos dentro de seu contexto da vida real especialmente quando os limites entre o

fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo claramente definidos (GIL 1998 e YIN 2005)

Segundo Stablein (2001 p 80) os estudos de casos podem ser classificados em trecircs

naturezas O primeiro tipo eacute o etnocaso ou etnografia estudo que eacute orientado para a

representaccedilatildeo da realidade dos participantes nativos pelos habitantes de uma determinada

realidade

O segundo tipo de estudos de caso eacute voltado para proposiccedilotildees teoacutericas generalizaacuteveis

sendo a realidade organizacional do escritor desse tipo de caso representada pelo mundo de

construtos31

O estudo de caso tem se tornado a estrateacutegia preferida quando os pesquisadores

procuram responder agraves questotildees ldquocomordquo e por querdquo certos fenocircmenos ocorrem quando haacute

pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse

revela-se sobre fenocircmenos contemporacircneos os quais soacute podem ser submetidos a uma anaacutelise

aprofundada considerando algum contexto da vida real (GODOY 1995b)

definidos pelo pesquisador Jaacute o terceiro tipo eacute o caso exemplar considerado o

mais influente nos estudos organizacionais pois satildeo normalmente apresentados a

participantes das organizaccedilotildees que podem seguir o molde do caso exemplar para interferir em

suas proacuteprias firmas e estudantes em salas de aula que utilizam essas experiecircncias simuladas

para testar novos dados e ideias (STABLEIN 2001)

ldquoA investigaccedilatildeo de estudo de caso enfrenta uma situaccedilatildeo

tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais variaacuteveis de interesse

do que pontos de dados e como resultado baseia-se em vaacuterias fontes

de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato de

triacircngulo e como outro resultado beneficia-se do desenvolvimento

preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a anaacutelise de

dadosrdquo (YIN 2005 p 33)

Na concepccedilatildeo de Yin (2005 p 19-26) o estudo de caso eacute apenas uma das muitas

maneiras de fazer pesquisa em ciecircncias sociais sendo a estrateacutegia escolhida quando satildeo

examinados acontecimentos contemporacircneos mas adicionalmente quando comportamentos

31 O construto eacute uma ideia do pesquisador relacionada a outras ideias em uma teoria de comportamento organizacional

relevantes natildeo podem ser manipulados Visando identificar a melhor estrateacutegia para o

desenvolvimento das pesquisas esse autor indica uma proposta de enquadramento das

perguntas de pesquisa a cada estrateacutegia de pesquisa nas condiccedilotildees expostas no quadro abaixo

Estrateacutegia Forma de questatildeo de pesquisa

Exige controle sobre eventos

comportamentais

Focaliza acontecimentos

contemporacircneos

Experimento Como por que Sim Sim

Levantamento Quem o que onde quantos quanto

Natildeo Sim

Anaacutelise de arquivos

Quem o que onde quantos quanto

Natildeo SimNatildeo

Pesquisa histoacuterica Como por que Natildeo Natildeo Estudo de caso Como por que Natildeo Sim

Quadro 3 Situaccedilotildees relevantes para diferentes estrateacutegias de pesquisa Fonte Yin 2005 p 24

Conforme indica Yin (2005 p 24) nesse enquadramento reforccedilando Godoy (1995b)

o estudo de caso representa uma estrateacutegia adequada quando se colocam questotildees do tipo

ldquocomordquo e ldquopor querdquo quando natildeo eacute exigido controle sobre eventos comportamentais e quando

o foco eacute sobre eventos contemporacircneos

O desenvolvimento da pesquisa adotou a metodologia de estudo de caso descrita por

Yin (2005 p 24) tendo em vista que tem como foco determinar ldquocomordquo e ldquopor querdquo satildeo

formuladas e implementadas estrateacutegias com a utilizaccedilatildeo de redes de organizaccedilotildees hiacutebridas e

como estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado interagem nessas redes utilizando-se como

foco de anaacutelise o contexto das relaccedilotildees Brasil-Portugal especificamente as relaccedilotildees

empresariais luso-brasileiras na induacutestria do petroacuteleo considerando como foco de anaacutelise as

empresas Petrobras e Galp Energia

Adicionalmente justifica-se a escolha da metodologia do estudo de caso considerando

que trata-se de um fenocircmeno recente ou seja contemporacircneo e tambeacutem por natildeo haver

controle sobre os processos de desenvolvimento e manutenccedilatildeo dessas redes e parcerias em

estudo

Em relaccedilatildeo ao desenvolvimento do estudo de caso seraacute seguida a estrutura de fases

proposta por Martins amp Lintz (2000 p 37-38) que apesar de considerarem que essa estrateacutegia

de pesquisa natildeo eacute orientada por um esquema riacutegido de etapas e accedilotildees propotildeem trecircs etapas

baacutesicas (i) exploraccedilatildeo do caso visando apreender e compreender os muacuteltiplos aspectos da

situaccedilatildeo (ii) delimitaccedilatildeo do estudo com o objetivo de selecionar os aspectos mais relevantes

e a determinaccedilatildeo do recorte a ser investigado e (iii) confecccedilatildeo do relatoacuterio no qual seratildeo

apresentadas as descriccedilotildees e anaacutelises do caso

43 Coleta de dados

ldquoDados em estudos organizacionais satildeo representaccedilotildees que mantecircm

uma correspondecircncia de duas vias entre uma realidade empiacuterica e um

sistema simboacutelicordquo (STABLEIN 2001 p 71-72)

Tanto no meacutetodo fenomenoloacutegico como no dialeacutetico o pesquisador obteacutem os dados via

observaccedilatildeo entrevistas e questionaacuterios natildeo estruturados nas histoacuterias de vida em conteuacutedos

de textos na histoacuteria de organizaccedilotildees ou seja em fontes diversas (VERGARA 2006)

Especificamente no estudo de caso o pesquisador geralmente utiliza uma variedade de

dados coletados em diferentes momentos e atraveacutes de diversas fontes de informaccedilatildeo

Entretanto dentre essas diversas fontes de informaccedilatildeo tomam destaque como teacutecnicas

fundamentais a observaccedilatildeo e a entrevista (GODOY 1998b)

De forma geral o estudo de caso reuacutene o maior nuacutemero de informaccedilotildees detalhadas

por meio de diferentes teacutecnicas de coleta de dados entrevistas questionaacuterio observaccedilatildeo dos

participantes entrevista em profundidade levantamento de dados secundaacuterios etc com o

objetivo de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo e criativamente descrever a complexidade

de um caso concreto (MARTINS amp LINTZ 2000)

Os estudos organizacionais satildeo necessariamente estudos empiacutericos que exploram

atitudes comportamentos experiecircncias artefatos siacutembolos documentos textos sentimentos

crenccedilas significados medidas fatos e nuacutemeros (STABLEIN 2001)

Dentro desse ambiente a coleta de dados e sua interpretaccedilatildeo representam

consequecircncias de coerecircncia teoacuterico-metodoloacutegica e de uma coerecircncia epistemoloacutegica que

deve estar presente na construccedilatildeo das pesquisas em estudos organizacionais Contudo eacute

fundamental a atenccedilatildeo do pesquisador na obtenccedilatildeo da interlocuccedilatildeo das metodologias e dos

tipos de dados coletados que acompanham essas metodologias o que vem a enriquecer os

estudos na aacuterea de administraccedilatildeo de empresas (CARRIERI amp GARCIA 2001)

Stablein (2001 p 64) indica que trecircs caracteriacutesticas satildeo importantes para o

desenvolvimento de boas pesquisas de estudos organizacionais o propoacutesito do pesquisador o

puacuteblico-alvo e os dados O propoacutesito de um projeto ou programa de pesquisa eacute normalmente

chamado de ldquoquestatildeordquo da pesquisa sendo especiacutefico para cada pesquisa

Em relaccedilatildeo ao puacuteblico-alvo (a audiecircncia) Stablein sugere a existecircncia de quatro

diferentes tipos (i) os pares do pesquisador isto eacute outros pesquisadores que significa o

menor dos puacuteblicos mas o mais importante para o estudioso em organizaccedilotildees (ii) os

professores cuja atividade principal eacute ensinar estudos organizacionais (iii) os alunos que

consomem compecircndios e livros didaacuteticos e para os quais satildeo apresentados resumos

ldquodescomplicadosrdquo da pesquisa e por fim (iv) os trabalhadores em organizaccedilotildees os quais

poucos pesquisadores demonstram interesse em alcanccedilar

A terceira caracteriacutestica os dados tem a funccedilatildeo de conectar a intenccedilatildeo do pesquisador

com o puacuteblico-alvo Por meio da seleccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de dados os estudos sobre

organizaccedilotildees tentam mostrar o alcance do propoacutesito da pesquisa Para esse autor dados satildeo

representaccedilotildees sugerem coisas que satildeo representadas e traduzidas para que as pessoas possam

compreender determinada realidade Eacute por meio dos dados que os pesquisadores e seus

estudos conectam-se aos outros agrave audiecircncia

Para esse estudo foram coletados dados primaacuterios e secundaacuterios Dados primaacuterios satildeo

gerados pelo pesquisador para uma finalidade especiacutefica para solucionar o problema de

pesquisa Jaacute os dados secundaacuterios satildeo dados que jaacute foram coletados para objetivos que natildeo os

do problema em pauta (MALHOTRA 2006)

Os dados secundaacuterios tecircm como qualidade o poder de ajudar a interpretar os dados

primaacuterios com mais criteacuterio aleacutem da capacidade de suplementaacute-los (MALHOTRA 2006 e

MIR et al 2008) Desse modo a pesquisa de campo aleacutem de ser precedida de uma extensa

revisatildeo de literatura foi antecedida pela coleta e organizaccedilatildeo de dados secundaacuterios referentes

agrave rede e supra-rede que envolvem Petrobras e Galp e o cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria do

petroacuteleo

Tais dados foram coletados em diversas fontes eou publicaccedilotildees tais como relatoacuterios

diversos das empresas pesquisadas relatoacuterios anuais de atividade outras publicaccedilotildees das

organizaccedilotildees investigadas consultas a revistas e jornais especializados e natildeo-especializados

na induacutestria de petroacuteleo artigos cientiacuteficos dados macroeconocircmicos relatoacuterios de anaacutelise da

induacutestria aleacutem de internet e intranet sites Durante a consulta e sistematizaccedilatildeo dos dados

secundaacuterios existentes foi feita a anaacutelise cuidadosa e criteriosa de sua confiabilidade por meio

da afericcedilatildeo da credibilidade reputaccedilatildeo e integridade das diversas fontes

Posteriormente ao levantamento dos dados secundaacuterios foi realizada a pesquisa de

campo para o levantamento dos dados primaacuterios os quais foram obtidos mediante a

realizaccedilatildeo de entrevistas importante meacutetodo qualitativo e uma das mais relevantes fontes de

informaccedilotildees que revela-se como uma oportunidade de sondar profundamente para descobrir

novos indiacutecios explorar novas dimensotildees de um problema e garantir relatos viacutevidos precisos

e abrangentes baseados na experiecircncia pessoal (EASTERBY-SMITH et al 1999 e YIN

A utilizaccedilatildeo de entrevistas como fontes de evidecircncias para o estudo de caso tem como

pontos fortes o direcionamento jaacute que enfocam diretamente o toacutepico do estudo de caso a

capacidade de corrigir enganos dos informantes o fato de permitir o uso de recursos visuais e

a possibilidade de fornecerem inferecircncias causais percebidas Como pontos fracos podem ser

relacionados perguntas viesadas respostas viesadas e respostas imprecisas devido agrave fraca

memoacuteria do entrevistado (SELLTIZ et al 1987 e YIN 2005)

As entrevistas semi-estruturadas visando obter do entrevistado o que ele considera os

aspectos mais relevantes do problema (RICHARDSON 1999) foram realizadas com

membros de diversos niacuteveis hieraacuterquicos de aacutereas da Petrobras que atuam na formaccedilatildeo e

gestatildeo das atividades da rede ligadas agrave exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo Essas entrevistas

foram realizadas tendo como base um roteiro previamente estabelecido e tiveram duraccedilatildeo de

aproximadamente 60 minutos cada uma sendo obtidas informaccedilotildees sobre a questatildeo

fundamental da pesquisa

A primeira entrevista foi realizada depois de coletada e analisada base de dados

secundaacuterios sobre o objeto de pesquisa Com a utilizaccedilatildeo dessa estrateacutegia buscou-se

minimizar o risco de gerar distanciamento do entrevistado visando manterdespertar seu

interesse em participar da pesquisa

As entrevistas foram realizadas tomando como ponto de partida alguns informantes-

chave participantes ou indicados pela rede de relacionamentos profissionais participada pelo

pesquisador Em algumas ocasiotildees o acesso aos informantes-chave era facilitado por

intermediaacuterios que tinham como funccedilatildeo consultar previamente o entrevistado sobre a

possibilidade de conceder a entrevista ao pesquisador

Aos entrevistados primeiramente foram apresentados de forma sucinta o tema e os

objetivos do projeto de pesquisa Em seguida foi apresentada a pergunta de pesquisa e uma

breve descriccedilatildeo do seu framework A partir dessa etapa inicial foi demandado aos

entrevistados o fornecimento de breve descriccedilatildeo de uma situaccedilatildeo ou caso alinhado agrave pergunta

de pesquisa

Conforme a evoluccedilatildeo da entrevista perguntas do roteiro eram descartadas visando

favorecer a exploraccedilatildeo de dados que emergiam Os participantes foram solicitados a relatar

alguns detalhes dos exemplos de incidentes criacuteticos32

Agrave medida em que os casos eram relatados conforme a avaliaccedilatildeo do pesquisador foram

priorizados incidentes criacuteticos e colhidas informaccedilotildees mais especiacuteficas daqueles nos quais foi

percebido haver maior possibilidade de existecircncia de interaccedilotildees entre as accedilotildees de natildeo-

mercado e as accedilotildees de mercado de modo a obter maiores detalhes e melhor descriccedilatildeo dessas

situaccedilotildees e ocorrecircncias

O uso desse procedimento possibilitou ao pesquisador atingir os seguintes objetivos

principais (i) identificar situaccedilotildees especiacuteficas (incidentes criacuteticos) que mereceriam

investigaccedilatildeo com maior profundidade (ii) permitir ao pesquisador a checagem da cronologia

dos eventos narrados pelo informante e dos significados mobilizados a posteriori pelo

informante (iii) dados primaacuterios mais alinhados agrave pergunta e ao framework da pesquisa e (iv)

fornecer maior grau de controle tanto ao pesquisador como ao informante para a

reconstituiccedilatildeo de situaccedilotildees passadas

Visando reduzir obstaacuteculos agrave reconstituiccedilatildeo de situaccedilotildeesincidentes que fazem parte da

experiecircncia dos praticantes somente foram investigados fatos que tivessem ocorrido

recentemente (no maacuteximo haacute ateacute trecircs anos) No entanto fatos marcantes embora um pouco

mais antigos tambeacutem foram considerados nas entrevistas em profundidade dada sua

relevacircncia Com a utilizaccedilatildeo desse procedimento foi possiacutevel utilizar de forma mais eficaz

meacutetodos de observaccedilatildeo direta e tambeacutem de uso de dados secundaacuterios como fontes adicionais

de evidecircncia

32 Meacutetodo utilizado para extrair informaccedilotildees que natildeo poderiam ser expressas prontamente Representam procedimentos que visam agrave coleta de observaccedilotildees diretas do comportamento humano com concentraccedilatildeo das perguntas na principal aacuterea de interesse (EASTERBY-SMITH et al 1999 e PETTIGREW amp McNULTY 1998)

A etapa de coleta de dados por meio das entrevistas foi iniciada em fevereiro de 2009

periacuteodo em que muitos profissionais estatildeo em feacuterias e de forma especial em que quase a

totalidade dos profissionais da aacuterea financeira da companhia estaacute envolvida com a confecccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo das Demonstraccedilotildees Financeiras No entanto apesar de a eacutepoca ser um pouco

inoportuna os entrevistados foram selecionados e as entrevistas realizadas haja vista o

avanccedilado estaacutegio da pesquisa e o exiacuteguo prazo para conclusatildeo do curso de mestrado

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas em salas de reuniatildeo nas salas dos

profissionais em suas estaccedilotildees de trabalho e em almoccedilos realizados fora do ambiente de

trabalho O horaacuterio da concretizaccedilatildeo da entrevista variava conforme a disponibilidade do

entrevistado natildeo havendo padratildeo para esse fator

Considerando a diversidade dos entrevistados e mantendo grande preocupaccedilatildeo com a

obtenccedilatildeo dos dados mais apropriados para a pesquisa o roteiro de entrevista sofria alteraccedilotildees

de entrevistado para entrevistado Entretanto jaacute nas uacuteltimas entrevistas o roteiro pouco sofreu

alteraccedilotildees em virtude dos dados comeccedilarem a se repetir em sua essecircncia com certa

frequecircncia

Ao todo foram entrevistados 8 profissionais da Petrobras O quadro a seguir apresenta

a especificaccedilatildeo dos entrevistados e respectivas funccedilotildees

Quadro 4 Relaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre os entrevistados

As entrevistas acompanhadas de observaccedilotildees conversas informais e acesso a

documentos diversos das empresas foram transcritas e posteriormente analisadas pelo proacuteprio

pesquisador tomando como base os direcionamentos apontados pelo orientador acadecircmico

Adicionalmente foi realizada a anaacutelise da consistecircncia das respostas obtidas destacando os

aspectos importantes visando preparar relaccedilatildeo preliminar dos resultados a serem apresentados

posteriormente

Em adiccedilatildeo agraves entrevistas foram realizadas observaccedilotildees diretas e participantes As

observaccedilotildees diretas foram feitas durante a realizaccedilatildeo das entrevistas por meio da observaccedilatildeo

de alguns comportamentos e condiccedilotildees ambientais relevantes

A observaccedilatildeo participante eacute uma modalidade especial de observaccedilatildeo na qual o

pesquisador natildeo eacute apenas um observador passivo (YIN 2005) Considerando que o

pesquisador faz parte do corpo funcional de uma das empresas investigadas e atua no

segmento foco da pesquisa foi possiacutevel captar algumas informaccedilotildees inacessiacuteveis agrave

investigaccedilatildeo cientiacutefica permitindo portanto perceber a realidade do ponto de vista de algueacutem

dentro do estudo de caso e natildeo de um ponto de vista externo

Num estudo de casos o objetivo da coleta de dados natildeo eacute especificamente a

quantificaccedilatildeo ou enumeraccedilatildeo mas sim a descriccedilatildeo classificaccedilatildeo percepccedilatildeo da realidade sua

interpretaccedilatildeo e desenvolvimento da teoria existente Natildeo se tem como objetivo primordial

obter uma grande amostra representativa em termos estatiacutesticos sendo possiacutevel inclusive

optar por dados com ldquobaixordquo niacutevel de integridade desde que haja riqueza contextual que

proporcione pleno entendimento daquilo que eacute investigado Uma vez que os pesquisadores

estejam confiantes sobre compreensatildeo do fenocircmeno explorado com o estudo de caso outras

pesquisas podem usar meacutetodos dedutivos ao problema (BONOMA 1985)

A etapa de anaacutelise dos dados obtidos por meio da pesquisa foi realizada tomando

como base o framework desenvolvido para a pesquisa que de acordo com o que foi exposto

na seccedilatildeo 35 representa o anteparo teoacuterico com o qual o pesquisador representou a realidade

44 Limitaccedilotildees do meacutetodo

A utilizaccedilatildeo de entrevistas com profissionais de diversos niacuteveis gerenciais pode limitar

os dados obtidos pela pesquisa Normalmente os objetos da pesquisa satildeo mais poderosos que

os pesquisadores e quase todos os gerentes estatildeo numa posiccedilatildeo na qual podem facilmente se

recusar a prover informaccedilotildees para pesquisadores Os gerentes tambeacutem satildeo peritos na

conduccedilatildeo de entrevistas face a face e no gerenciamento de interaccedilotildees com outras pessoas

(EASTERBY-SMITH et al 1999) Desse modo estatildeo muito cientes do valor das informaccedilotildees

e da importacircncia do que pode e do que natildeo pode ser revelado

O meacutetodo tambeacutem estaraacute limitado em funccedilatildeo da seleccedilatildeo dos atores para entrevista

Essa seleccedilatildeo foi necessaacuteria considerando a impossibilidade de serem entrevistados todos os

gerentes e demais profissionais envolvidos com o objeto de pesquisa e indicados como

importantes para a obtenccedilatildeo de dados da investigaccedilatildeo

Por tratar-se de um estudo qualitativo a pesquisa tem como vantagens o fato de ser

relativamente estruturado e por natildeo impor a respondentes o quadro de referecircncias do

pesquisador por meio de questionaacuterios o que ldquoengessardquo a coleta de dados No entanto uma

limitaccedilatildeo desse tipo de estudo eacute a restriccedilatildeo existente agrave generalizaccedilatildeo dos resultados

(WALTERS 2001)

45 Fontes de Evidecircncias e Testes de Validaccedilatildeo e Confiabilidade

Os testes de validade e confiabilidade foram originalmente desenvolvidos para uso na

ciecircncia social quantitativa Segundo alguns autores tem havido alguma relutacircncia em aplicar

essas ideias agrave pesquisa fenomenoloacutegica em virtude de poderem significar a aceitaccedilatildeo de uma

realidade absoluta (positivista) (EASTERBY-SMITH et al 1999) No entanto apesar de

qualitativo esse estudo utilizar-se-aacute desses criteacuterios

Em relaccedilatildeo ao processo de coleta e organizaccedilatildeo das evidecircncias para o estudo de caso

seratildeo seguidos os princiacutepios propostos por Yin (2005 p 109) visando aumentar sua

qualidade Tais princiacutepios indicam o uso de vaacuterias fontes de evidecircncias formataccedilatildeo de banco

de dados para o estudo de caso e estabelecimento de um encadeamento de evidecircncias

Concluiacuteda a pesquisa que deve representar um conjunto loacutegico de proposiccedilotildees eacute

necessaacuterio avaliar a qualidade do projeto de acordo com alguns testes loacutegicos Yin (2005 p

55-60) recomenda quatro testes para um estudo de caso explanatoacuterioexploratoacuterio validade do

constructo interna externa e confiabilidade

De acordo com Yin (2005 p 56) o pesquisador deve ter certeza de cumprir as etapas

de (i) selecionar os tipos especiacuteficos de mudanccedilas que devem ser estudadas e (ii) demonstrar

que as medidas selecionadas refletem os tipos de mudanccedilas selecionadas

O criteacuterio da validade indica a capacidade de um instrumento de pesquisa produzir

mediccedilotildees adequadas e precisas para chegar-se a conclusotildees corretas Visando aumentar a

validade de constructo que refere-se agrave validaccedilatildeo de uma teoria seratildeo utilizadas vaacuterias fontes

de evidecircncias o que proporciona a triangulaccedilatildeo de dados Ademais seraacute estabelecido um

encadeamento de evidecircncias e organizado um processo de revisatildeo por informantes-chave

(YIN 1995 e RICHARDSON 1999)

A validade interna vincula-se agrave exatidatildeo dos dados e agrave adequaccedilatildeo das conclusotildees

Revela-se como uma preocupaccedilatildeo apenas para estudos explanatoacuterios e tem como objetivo

mostrar uma relaccedilatildeo de causa e efeito entre as variaacuteveis de estudo Nessa perspectiva no caso

de haver relaccedilotildees de causa-efeito seraacute realizado o teste das hipoacuteteses estabelecidas

verificando o relacionamento entre os eventos estudados (YIN 1995 e RICHARDSON

Jaacute a validade externa refere-se agrave possibilidade de generalizar os resultados a grupos

similares Trata do problema de saber se as descobertas de um estudo satildeo generalizaacuteveis aleacutem

do estudo de caso imediato ou seja se os resultados do estudo de caso podem ser

extrapolados para outro caso similar natildeo estudado (YIN 1995 e RICHARDSON 1999)

Considerando que essa pesquisa classifica-se como um estudo qualitativo acredita-se

que seraacute obtida maior validade interna haja vista o uso de observaccedilotildees natildeo estruturadas

permitindo conhecer detalhes dos cenaacuterios investigados Nesse tipo de estudo de visatildeo

fenomenoloacutegica pretende-se alcanccedilar a validade por meio do pleno acesso aos conhecimentos

e significados dos informantes (EASTERBY-SMITH et al 1999)

Em relaccedilatildeo agrave validade externa procurar-se-aacute assegurar que o estudo tem uma forte

base teoacuterica e contribui preferencialmente para a construccedilatildeo ou reforccedilo de teorias existentes

(WALTERS 2001) Em relaccedilatildeo a esse tipo de validaccedilatildeo a construccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico

desse trabalho preocupou-se em identificar as caracteriacutesticas da literatura dominante

(etnocecircntrica anglo-americana etc) evidenciar a existecircncia de outras teorias que potildeem em

cheque os pressupostos dominantes e expor a limitaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo desses pressupostos em

outros cenaacuterios como o contexto da induacutestria do petroacuteleo luso-brasileira

O criteacuterio da confiabilidade indica a capacidade que os instrumentos utilizados na

pesquisa devem ter para produzir mediccedilotildees constantes quando aplicados a um mesmo

fenocircmeno O teste da confiabilidade significa certificar se caso um outro pesquisador venha a

seguir os mesmos procedimentos descritos por um pesquisador anterior chegaraacute aos mesmos

resultados A confiabilidade tem como propoacutesito minimizar os erros e vieses de um estudo e

para isso seraacute utilizado um protocolo de estudo de caso visando documentar todos os

procedimentos adotados (YIN 1995 e RICHARDSON 1999)

A confiabilidade externa vincula-se agrave possibilidade de outros pesquisadores

observarem fatos idecircnticos ao utilizarem-se de instrumentos de pesquisa similares Jaacute a

confianccedila interna refere-se agrave possibilidade de outros pesquisadores fazerem as mesmas

relaccedilotildees entre os conceitos e os dados coletados com iguais instrumentos (RICHARDSON

Em relaccedilatildeo agrave confiabilidade por utilizar o meacutetodo qualitativo haveraacute uma relaccedilatildeo

mais proacutexima entre o pesquisador e o informante entrevistado possibilitando informaccedilotildees

mais detalhadas permitindo uma descriccedilatildeo detalhada do cenaacuterio problema investigado

Dentro da visatildeo fenomenoloacutegica pretende-se alcanccedilar a confiabilidade da pesquisa primando

sempre pela questatildeo observaccedilotildees semelhantes seratildeo feitas por pesquisadores diferentes em

ocasiotildees diferentes (EASTERBY-SMITH et al 1999)

5 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo satildeo apresentados os principais resultados obtidos por meio da pesquisa

realizada Conforme indicado no capiacutetulo destinado ao meacutetodo de pesquisa os diversos dados

coletados foram analisados tomando como base o framework da pesquisa descrito na seccedilatildeo

O framework desenvolvido considera como pressupostos a existecircncia em estrateacutegia de

concepccedilotildees dominantes baseadas e voltadas de modo relevante para grandes empresas da

Ameacuterica do Norte (SHRIVASTAVA 1986) o forte embasamento da aacuterea no paradigma da

empresa autocircnoma e em teorias prescritivas cunhadas pelo positivismo a grande orientaccedilatildeo

para objetivos econocircmicos e o etnocentrismo (BETTIS 1991 AKTOUF 2002 e BERTERO

et al 2003)

Dentro dessas concepccedilotildees dominantes as redes satildeo vistas como sistemas objetivos que

geram vantagens competitivas para seus participantes por meio da reduccedilatildeo de custos

aumento da flexibilidade e maior eficiecircncia das operaccedilotildees Tambeacutem eacute considerado nesse

framework o pressuposto de que as questotildees de poder e poliacutetica assim como as interfaces

existentes entre mercado Estado e sociedade tecircm sido marginalizadas (FARIA 2005 e

No entanto contrariamente ao que preconiza a literatura dominante em especial nas

economias emergentes e em desenvolvimento como eacute o caso de Brasil e Portugal existem

evidecircncias de que as dimensotildees poliacutetica e social dos mercados continuam guardando

relevacircncia mesmo na era da globalizaccedilatildeo (FARIA 2008c)

De forma resumida este framework que constitui o anteparo teoacuterico utilizado pelo

pesquisador para retratar a realidade pesquisada indica que os pressupostos e conceitos

baacutesicos da literatura dominante em estrateacutegia explicam apenas parcialmente a formaccedilatildeo de

redes nesse cenaacuterio que natildeo corresponde agravequele onde a literatura dominante foi construiacuteda

Os dados primaacuterios e secundaacuterios obtidos e coletados durante a etapa de trabalho de

campo foram analisados considerando essa estrutura de conceitos numa visatildeo criacutetica

Especialmente considerando a natureza hiacutebrida das empresas participantes das redes e as

particularidades do contexto envolvido nessa pesquisa a anaacutelise dos dados foi conduzida de

forma a possibilitar a identificaccedilatildeo da existecircncia e interaccedilatildeo entre estrateacutegias de mercado e de

natildeo-mercado

No decorrer da anaacutelise desses dados foi necessaacuterio que o pesquisador se afastasse da

literatura dominante de estrateacutegia principalmente as abordagens claacutessicas de estrateacutegia haja

vista natildeo considerarem fatores ligados a questotildees de natildeo-mercado ao desprezarem questotildees

de poder e poliacutetica dentre outras

Considerando toda a complexidade do contexto investigado e as caracteriacutesticas da

literatura dominante em estrateacutegia a anaacutelise dos dados teve que voltar-se para um processo de

averiguaccedilatildeo da realidade do contexto investigado que viesse a identificar que a literatura

dominante explica parcialmente natildeo soacute a formaccedilatildeo de redes nesse cenaacuterio mas tambeacutem a

interaccedilatildeo existente entre estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado no cenaacuterio luso-brasileiro

da induacutestria petroliacutefera

Com isso ao tomar como base o framework de pesquisa a anaacutelise dos dados

possibilitou verificar o quanto a literatura dominante ajuda a explicar os fenocircmenos

investigados a compreensatildeo dos papeacuteis que exercem as forccedilas do setor puacuteblico e privado

sobre as organizaccedilotildees a interaccedilatildeo de fatores de mercado e de natildeo-mercado e as caracteriacutesticas

da rede formada entre Petrobras e Galp Energia empresas petroliacuteferas e hiacutebridas no contexto

luso-brasileiro da induacutestria petroliacutefera

Visando informar ao leitor as principais caracteriacutesticas do cenaacuterio que envolve a

pesquisa realizada seraacute descrito em primeiro lugar o conjunto de caracteriacutesticas de cada

empresa posteriormente o contexto das unidades de anaacutelise sobre as quais foi feita a

pesquisa colhendo as evidecircncias caracteriacutesticas e peculiaridades da rede montada por ambas

as empresas representada pelos relacionamentos focais entre Petrobras e Galp Energia Por

fim seratildeo abordadas as diversas interaccedilotildees existentes no acircmbito dessa rede e da supra-rede

que envolve Brasil Portugal Petrobras e Galp

51 Uma breve descriccedilatildeo das empresas

A Petroacuteleo Brasileiro SA ndash Petrobras33

Lei 2004

foi criada em outubro de 1953 por meio da

tendo como principal objetivo executar as atividades do setor petroacuteleo no Brasil em

33 httpwwwpetrobrascombr

nome da Uniatildeo A companhia iniciou suas atividades com o acervo recebido do antigo

Conselho Nacional do Petroacuteleo - CNP que manteve sua funccedilatildeo fiscalizadora sobre o setor

As operaccedilotildees de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo (EampP) assim como as demais

atividades ligadas ao setor de petroacuteleo gaacutes natural e derivados agrave exceccedilatildeo da distribuiccedilatildeo

atacadista e da revenda no varejo pelos postos de abastecimento34

Offshore Technology Conference (OTC)

foram objeto de monopoacutelio

detido pela Petrobras de 1954 a 1997 Durante esse periacuteodo a Petrobras tornou-se liacuteder em

comercializaccedilatildeo de derivados no Paiacutes e graccedilas ao seu desempenho a empresa obteve

destaque com a premiaccedilatildeo recebida em 1992 da o

mais importante precircmio do setor Posteriormente em 2001 a companhia novamente recebeu

o precircmio

Em 1997 o Brasil atraveacutes da Petrobras ingressou no seleto grupo de 16 paiacuteses que

produzem mais de 1 milhatildeo de barris de oacuteleo por dia Em agosto do mesmo ano foi

sancionada a Lei n ordm 9478 que abriu as atividades da induacutestria petroliacutefera no Brasil agrave

iniciativa privada

Em 2003 coincidindo com a comemoraccedilatildeo dos seus 50 anos a Petrobras dobrou a sua

produccedilatildeo diaacuteria de oacuteleo e gaacutes natural ultrapassando a marca de 2 milhotildees de barris no Brasil e

no exterior o que juntamente com a entrada em operaccedilatildeo da plataforma P-50 em abril de

2006 no Campo de Albacora Leste na Bacia de Campos permitiu ao Brasil atingir a auto-

suficiecircncia em petroacuteleo

Atualmente a companhia estaacute presente em 27 paiacuteses tendo sido classificada em 2007

como a 7ordf maior empresa de petroacuteleo do mundo com accedilotildees negociadas em bolsas de valores

de acordo com a Petroleum Intelligence Weekly (PIW)35 publicaccedilatildeo que divulga anualmente

o ranking das 50 maiores e mais importantes empresas de petroacuteleo Outro destaque da

companhia foi sua classificaccedilatildeo em 2008 pela Management amp Excellence (MampE)36

A Lei 9478 de agosto de 1997 tambeacutem conhecida como Lei do Petroacuteleo instituiu

que as atividades de Exploraccedilatildeo e Produccedilatildeo tambeacutem conhecidas nessa induacutestria como

atividades de upstream devem ser regidas por concessotildees precedidas de licitaccedilatildeo e

como a

petroleira mais sustentaacutevel do mundo

34 Atividades realizadas em condiccedilotildees de livre concorrecircncia de mercado pela sua subsidiaacuteria Petrobras Distribuidora SA criada em novembro de 1971 35 httpwwwenergyintelcom A lista completa estaacute disponiacutevel no Apecircndice 2

36 httpwwwmanagement-ratingcom A lista completa estaacute disponiacutevel no Apecircndice 3

implementadas por contratos Essa lei tambeacutem determinou a transiccedilatildeo entre a posiccedilatildeo

monopoliacutestica estatal da Petrobras para uma posiccedilatildeo de livre mercado competitivo

possibilitando a entrada de capital privado nesse setor da economia

A partir desse marco legal como parte integrante de sua estrateacutegia empresarial a

Petrobras vem desenvolvendo um amplo programa de parcerias com outras empresas na aacuterea

de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo Essas associaccedilotildees correspondem a uma praacutetica largamente adotada

por companhias que atuam no setor petroacuteleo internacional onde empresas tentam dividir os

riscos inerentes aos projetos de Exploraccedilatildeo e Produccedilatildeo que caracteristicamente envolvem

grandes volumes de investimentos

Com isso as principais transformaccedilotildees que marcaram a histoacuteria recente da induacutestria

petroliacutefera brasileira foram a quebra do monopoacutelio estatal do petroacuteleo exercido pela Petrobras

em 1997 a instituiccedilatildeo de novos agentes operadores e reguladores e a introduccedilatildeo de um

mercado competitivo no paiacutes por meio da liberaccedilatildeo das importaccedilotildees de derivados e dos preccedilos

tabelados e do livre acesso agrave infra-estrutura instalada pela Petrobras para distribuiccedilatildeo dos

seus produtos Apesar desse novo cenaacuterio ter trazido muitos desafios tambeacutem foram criadas

oportunidades para o mercado brasileiro de energia (VILLAS et al 2006)

A Petrobras eacute uma sociedade anocircnima de capital aberto que atua de forma integrada e

especializada em segmentos relacionados agrave induacutestria de oacuteleo gaacutes e energia tendo como

missatildeo atuar de forma segura e rentaacutevel com responsabilidade social e ambiental nos

mercados nacional e internacional fornecendo produtos e serviccedilos adequados agraves necessidades

dos clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos paiacuteses onde atua

Utilizando-se de tecnologia proacutepria para aacuteguas ultra-profundas a companhia estaacute

produzindo petroacuteleo a preccedilos competitivos em campos mariacutetimos (offshore) a profundidades

cada vez maiores o que tem atraiacutedo o interesse de outras companhias petroliacuteferas com as

quais vem firmando acordos de parceria para exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de suas reservas na

plataforma submarina brasileira A abertura da aacuterea de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo para parceiros

internacionais gerou por sua vez oportunidades de EampP em outras partes do mundo

Figura 9 Mapa de atuaccedilatildeo mundial da Petrobras Fonte Website da Petrobras

No que se refere ao controle da companhia destaca-se a participaccedilatildeo e grande

influecircncia exercida pelo Estado brasileiro A Uniatildeo Federal eacute proprietaacuteria de 322 do capital

total da Petrobras e 557 do capital votante (accedilotildees ordinaacuterias) Com o controle das accedilotildees

referentes ao capital votante a Uniatildeo Federal deteacutem o controle da companhia com o poder de

decisatildeo nas mateacuterias objeto de deliberaccedilatildeo da assembleia geral e tambeacutem de eleger os

membros do conselho de administraccedilatildeo que eacute responsaacutevel pela orientaccedilatildeo e direccedilatildeo superior

da companhia tendo a atribuiccedilatildeo por exemplo de definir o planejamento estrateacutegico da

empresa

A Galp Energia SGPS SA37

Atualmente a Galp Energia eacute o principal grupo integrado de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de produtos petroliacuteferos e gaacutes natural do paiacutes com uma presenccedila crescente

na Espanha e uma atividade em desenvolvimento no setor de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica

foi constituiacuteda em abril de 1999 como resultado da

reestruturaccedilatildeo do setor energeacutetico em Portugal tendo como objetivo operar no setor

petroliacutefero e de gaacutes natural A Galp Energia agrupou a Petrogal a uacutenica empresa refinadora e

principal distribuidora de produtos petroliacuteferos em Portugal e a GDP sociedade responsaacutevel

pela importaccedilatildeo transporte e distribuiccedilatildeo de gaacutes natural naquele paiacutes

37 httpwwwgalpenergiacom

Atraveacutes das suas atividades de exploraccedilatildeo e de produccedilatildeo a Galp Energia estaacute presente

em quase todos os continentes principalmente na Aacutefrica e na Ameacuterica do Sul participando

em grandes projetos A companhia tem um reconhecido histoacuterico de parcerias de sucesso com

outras companhias petroliacuteferas internacionais com projetos de exploraccedilatildeo de

desenvolvimento e de produccedilatildeo que utilizam tecnologia de ponta especialmente nos projetos

de aacuteguas profundas e ultra profundas

A Galp Exploraccedilatildeo e Produccedilatildeo (EampP) eacute responsaacutevel pela atividade da Galp Energia no

setor de petroacuteleo e gaacutes natural A esta aacuterea compete a coordenaccedilatildeo supervisatildeo estudo e

execuccedilatildeo de todas os trabalhos relacionados com a prospecccedilatildeo pesquisa avaliaccedilatildeo

desenvolvimento e produccedilatildeo de hidrocarbonetos nos projetos em que a Galp Energia estaacute

envolvida bem como a responsabilidade de identificar analisar e promover oportunidades de

desenvolvimento em novos projetos de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo petroliacutefera

A atividade de EampP na Galp Energia tem sido consolidada nos uacuteltimos anos atraveacutes

de uma poliacutetica seletiva de investimentos orientada para a aquisiccedilatildeo de participaccedilotildees em

blocos de elevado potencial preferencialmente em paiacuteses de liacutengua portuguesa (Angola e

Brasil) O portifoacutelio da Galp Energia constitui-se de vaacuterias participaccedilotildees distribuiacutedas entre

Angola e Brasil em parceria com empresas como ENI Sonangol Petrobras Chevron Total

Exxon e Devon

Figura 10 Mapa de atuaccedilatildeo mundial da Galp Fonte Website da Galp

A ambiccedilatildeo da Galp Energia consiste em crescer em cada um dos negoacutecios em que estaacute

presente e promover uma maior integraccedilatildeo entre eles conquistando as oportunidades imensas

que o seu portifoacutelio de ativos lhe oferece

A Galp Energia conta com uma estrutura acionaacuteria composta por trecircs acionistas

principais a Amorim Energia a Caixa Geral de Depoacutesitos e a Eni que em conjunto detecircm

67 do capital social e satildeo parte do Acordo Parassocial Esse acordo estabeleceu as regras

especiacuteficas para alienaccedilatildeo de accedilotildees composiccedilatildeo dos oacutergatildeos sociais da empresa direitos de

preferecircncia e outras mateacuterias relativas ao controle da companhia

As accedilotildees da Galp Energia dividem-se em duas categorias a categoria A com

40000000 de accedilotildees e a categoria B com as restantes 789250635 accedilotildees De acordo com o

Estatuto da Galp Energia satildeo inerentes agraves accedilotildees da categoria A os seguintes direitos

especiais (i) eleiccedilatildeo do Presidente do Conselho de Administraccedilatildeo que soacute poderaacute ser

aprovada com a maioria dos votos inerentes agraves accedilotildees da categoria A e (ii) aprovaccedilatildeo de

quaisquer deliberaccedilotildees que visem autorizar a celebraccedilatildeo de contratos de grupo paritaacuterio ou de

subordinaccedilatildeo e ainda quaisquer deliberaccedilotildees que de algum modo possam pocircr em risco a

seguranccedila do abastecimento de petroacuteleo gaacutes e eletricidade ou produtos derivados dos

mesmos a Portugal

De acordo com a Lei nordm 7188 a titularidade das accedilotildees da categoria A teraacute de

pertencer a entes puacuteblicos Ateacute janeiro de 2007 o Estado portuguecircs detinha participaccedilatildeo direta

na Galp sendo a detentora integral das accedilotildees da categoria A Apoacutes a realizaccedilatildeo de uma

reestruturaccedilatildeo societaacuteria atualmente a totalidade dessas accedilotildees eacute detida pela Parpuacuteblica

entidade controlada pelo Estado portuguecircs responsaacutevel por gerir as participaccedilotildees financeiras

estatais em diversas empresas

Ao Conselho de Administraccedilatildeo compete decidir os assuntos considerados de grande

importacircncia Para determinados assuntos haacute a necessidade de voto favoraacutevel do Presidente do

Conselho de Administraccedilatildeo tais como a definiccedilatildeo da estrateacutegia da empresa a escolha de

parceiros estrateacutegicos a definiccedilatildeo da estrutura organizacional e societaacuteria a definiccedilatildeo do

perfil da carteira de negoacutecios a captaccedilatildeo de sinergias entre direccedilotildees a aprovaccedilatildeo de

investimentos de risco ou de custo elevado a definiccedilatildeo de objetivos de criaccedilatildeo de valor

relativamente a cada atividade e o controle da realizaccedilatildeo de atividades-chave

Em relaccedilatildeo a ambas empresas vale destacar que ao mesmo tempo que tecircm alta

influecircncia do Estado em sua gestatildeo o que as faz terem interesses plurais considerando

aspectos de natildeo-mercado tambeacutem tecircm suas accedilotildees negociadas nas principais bolsas de valores

do mundo prestam contas aos demais acionistas buscam o lucro e pagam dividendos por

exemplo o que as leva a estarem sempre ldquodeslizandordquo no continuum entre os extremos

puacuteblico e privado

A anaacutelise de suas caracteriacutesticas leva agrave conclusatildeo de que tratam-se de empresas

hiacutebridas sendo em determinados momentos mais influenciadas pelos modos de controle

exercidos pelos entes puacuteblicos e em outros momentos mais influenciada pelo controle

exercido pelo mercado Aleacutem disso tratam-se de empresas que detecircm interesses plurais

ldquoA Petrobras eacute do Brasil e natildeo o contraacuteriordquo Luiz Inaacutecio Lula da

Silva ndash Presidente do Brasil Jornal O Dia (maio2009)

ldquoAgora temos que transformar essa riqueza natural (o preacute-sal) em

riqueza socialrdquo Ministra Dilma Rousseff Jornal O Dia (maio2009)

Ora as organizaccedilotildees estatildeo mais alinhadas agraves forccedilas de mercado ora estatildeo mais

alinhadas agraves de natildeo-mercado dependendo do momento e em que estatildeo atuando aleacutem de sob

que acircngulo estatildeo sendo observadas Para essas empresas hiacutebridas o termo mercado possui

natureza ambiacutegua uma vez que necessitam balancear caracteriacutesticas de organizaccedilotildees de

mercado e organizaccedilotildees estatais com interesses mais amplos plurais de diversos

stakeholders

ldquoOs direitos especiais conferem ao Estado portuguecircs a capacidade de

nomear o presidente do conselho de administraccedilatildeo e as decisotildees que

possam pocircr em perigo o fornecimento de produtos petroliacuteferos gaacutes e

electricidaderdquo

ldquoO Estado portuguecircs respondeu que os serviccedilos prestados pela Galp

e pela EDP satildeo de interesse econocircmico geral e de interesse puacuteblico o

que no seu entender justifica os direitos especiaisrdquo Discussatildeo

envolvendo os direitos do Estado portuguecircs na Galp RTP Notiacutecias

(fevereiro2009)

Essa ambiguidade torna problemaacuteticos os conceitos e fundamentos dominantes da aacuterea

de estrateacutegia fortemente influenciados pelos pressupostos da economia neoclaacutessica jaacute que em

organizaccedilotildees hiacutebridas os acircmbitos puacuteblico e privado coexistem desafiando os pressupostos da

literatura dominante Adicionalmente a dicotomia e a subordinaccedilatildeo estabelecidas pela

literatura claacutessica natildeo satildeo suficientes para investigar o comportamento e o relacionamento

entre essas empresas

Por fim especialmente essas empresas consideradas hiacutebridas tambeacutem podem ser

classificadas como empresas nacionais uma vez que satildeo ou foram estatais detecircm monopoacutelios

naturais dominam o setor de sua atividade primaacuteria empunham a ldquobandeira nacionalrdquo ou

seja satildeo siacutembolo do seu estado de origem e desempenham funccedilotildees natildeo-econocircmicas amplas

devendo atender a interesses de diversos stakeholders

52 Uma descriccedilatildeo da rede focal

A seguir seratildeo expostas informaccedilotildees que evidenciam a amplitude do relacionamento

empresarial existente entre a Petrobras e a Galp Seratildeo expostas informaccedilotildees a respeito dos

relacionamentos focais no Brasil e em Portugal entre essas empresas no segmento de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo e no segmento de biocombustiacuteveis aleacutem de dados que

ajudam a explicar como e porque foi formada a rede entre essas organizaccedilotildees hiacutebridas

Adicionalmente seratildeo revelados dados referentes ao relacionamento Brasil Portugal

ajudando a identificar os elementos da supra-rede que suporta e impacta o relacionamento

existente entre as duas companhias

Os dados e informaccedilotildees expostos na sequecircncia foram obtidos por meio do

levantamento de dados primaacuterios e tambeacutem de pesquisas de dados secundaacuterios disponiacuteveis

nos websites das empresas e dos governos de Brasil e Portugal Adicionalmente foram

pesquisadas informaccedilotildees disponibilizadas por entidades do mercado financeiro de fomento

das relaccedilotildees comerciais bilaterais do ambiente luso-brasileiro e agecircncias de notiacutecias

521 A rede focal no Brasil

A Petrobras desenvolve vaacuterios projetos em diversas aacutereas de modo a viabilizar sua

estrateacutegia empresarial no atual cenaacuterio da induacutestria de oacuteleo gaacutes e energia nos mercados

nacional e internacional

Para isso a companhia dispotildee de uma aacuterea corporativa de desenvolvimento de Novos

Negoacutecios que tem como principais poliacuteticas utilizar parcerias para alavancar posiccedilatildeo de

mercado diluir riscos e atrair investimentos buscar oportunidades de negoacutecios no Brasil e no

exterior que possam ser utilizadas como contrapartidas por empresas que desejem alavancar

oportunidades no setor petroacuteleo onde a Petrobras atua e formar relacionamentos que

possibilitem o aproveitamento de sinergias entre ativos

Desde 1999 a ANP vem organizando rodadas de licitaccedilotildees de blocos exploratoacuterios

Desde entatildeo a Galp tem se envolvido em vaacuterios projetos de exploraccedilatildeo onshore e offshore no

Brasil tendo participado em seis dessas rodadas de licitaccedilatildeo (2ordf 3ordf 6ordf 7ordf 9ordf e 10ordf) sempre

em parceria com a Petrobras Estas parcerias possibilitaram agrave Galp entrada no mercado

brasileiro

Como resultado dessa poliacutetica de formaccedilatildeo de novos negoacutecios por meio das licitaccedilotildees

da ANP Petrobras e Galp Energia formaram grande quantidade de consoacutercios no Brasil para

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de aacutereas petroliacuteferas concedidas pela ANP Atualmente as duas

empresas satildeo parceiras em 69 blocos de exploraccedilatildeo de petroacuteleo Desse total a Petrobras eacute

operadora em 37 blocos e a Galp por meio de sua subsidiaacuteria brasileira Petrogal Brasil Ltda

eacute operadora em mais 32 blocos todos terrestres (onshore)39

Nesse processo de formaccedilatildeo do relacionamento focal num primeiro momento nota-se

a importacircncia do papel da ANP haja vista que o processo de licitaccedilatildeo de aacutereas permite agraves

empresas se associarem para dela participarem explicando a facilidade da formaccedilatildeo da rede

entre as empresas analisadas no Brasil

ldquoEmpresas nacionais e estrangeiras devidamente habilitadas podem

participar das licitaccedilotildees para exploraccedilatildeo desenvolvimento e

produccedilatildeo de hidrocarbonetosrdquo Informaccedilotildees sobre licitaccedilatildeo da

Numa anaacutelise mais profunda em relaccedilatildeo a essas associaccedilotildees realizadas entre as duas

empresas nota-se que por parte da Galp preferencialmente sempre buscou-se relacionamento

com a Petrobras Jaacute pelo lado da companhia brasileira verifica-se que o relacionamento tem

38 Disponiacutevel em httpwww2petrobrascombrnegociosportuguesnovos_negociospopp_oportunidadeshtm 39 Lista completa dos consoacutercios formados por Petrobras e Galp no Brasil consta do Apecircndice 6 40 Disponiacutevel em httpwwwanpgovbrpetrorodadas_de_licitacoesasp

ganhado relevacircncia ao longo do tempo No entanto para ambas as organizaccedilotildees os laccedilos

histoacutericos e culturais pareceram ser relevantes

ldquoOs laccedilos culturais e histoacutericos facilitaram a formaccedilatildeo dessas

parceriasrdquo Consultor de Negoacutecios ndash Aacuterea Internacional da empresa

brasileira

Ao longo das licitaccedilotildees da ANP a Petrobras atuou com diversos parceiros No

entanto nas uacuteltimas licitaccedilotildees tem havido uma preferecircncia pela Galp a ponto de na uacuteltima

licitaccedilatildeo realizada pela ANP todas as parcerias formadas pela Petrobras terem a participaccedilatildeo

da Galp via sua subsidiaacuteria Petrogal

ldquoA Galp Energia participou dessas rondas de licitaccedilatildeo tendo

adquirido direitos () sempre em parceria com a Petrobraacutes Esta

parceria com a Petrobras possibilitou a entrada no mercado

upstream brasileiro tirando partido do seu vasto conhecimento do

potencial das aacutereas dos seus soacutelidos conhecimentos teacutecnicos e da sua

rede de infra-estruturas locaisrdquo Estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo da

Galp41

ldquoNo iniacutecio todas as grandes multinacionais queriam fazer negoacutecio

conosco principalmente apoacutes a quebra do monopoacutelio A Galp

tambeacutem sempre quis fazer negoacutecio conosco mas permanentemente

queria incrementar novos negoacutecios conoscordquo Consultor de Negoacutecios

B ndash Gerecircncia de EampP da empresa brasileira

ldquoA induacutestria do petroacuteleo eacute um segmento que eacute caracteristicamente

estrateacutegico para as naccedilotildeesrdquo Consultor de Negoacutecios B ndash Aacuterea

internacional da empresa brasileira

41 Disponiacutevel em httpinvestorrelationsgalpenergiacomgalpirvPTBusiness_Segments Exploration_Production

Adicionalmente de fundamental importacircncia para a identificaccedilatildeo de como e porque

essa rede focal atua no Brasil percebe-se uma relaccedilatildeo de influecircncia por parte das accedilotildees

estruturadas no acircmbito da supra-rede entre Brasil e Portugal

ldquoNo que diz respeito agrave aacuterea de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo e

gaacutes natural o memorando de entendimento (assinado entre

Petrobras Galp e EDP nas aacutereas de biocombustiacuteveis gaacutes natural

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica exploraccedilatildeo e produccedilatildeo) prevecirc a

avaliaccedilatildeo da possibilidade da formaccedilatildeo de parcerias que permitam agrave

Galp atuar como operadora em aacuteguas rasas nas Bacias de Campos

de Santos e do Espiacuterito Santordquo Detalhes do acordo firmado na Cuacutepula

Brasil-Portugal Fonte Agecircncia Brasil (maio2009)

ldquoAs parcerias formadas foram concebidas por causa do empenho

governamentalrdquo Consultor de Negoacutecios ndash Aacuterea Internacional da

empresa brasileira

As atividades de exploraccedilatildeo de petroacuteleo no Brasil ganharam maior relevacircncia e

destaque internacional entre 2006 e 2007 quando do anuacutencio das primeiros indiacutecios da

existecircncia de uma nova proviacutencia petroliacutefera brasileira a chamada ldquocamada preacute-salrdquo

As rochas do preacute-sal satildeo reservatoacuterios que se encontram abaixo de uma extensa

camada de sal que abrange o litoral do Estado do Espiacuterito Santo ateacute Santa Catarina ao longo

de mais de 800 km de extensatildeo por ateacute 200 km de largura em lacircmina drsquoaacutegua que varia de

1500m a 3000m e soterramento entre 3000 e 4000 metros

Os poccedilos que atingiram o preacute-sal e que foram testados pela Petrobras mostram ateacute

agora alta produtividade de petroacuteleo leve e de gaacutes natural Esses poccedilos se localizam nas

bacias do Espiacuterito Santo de Campos e de Santos Os volumes recuperaacuteveis estimados de oacuteleo

e gaacutes para os reservatoacuterios do preacute-sal se confirmados elevaratildeo significativamente a

quantidade de oacuteleo existente em bacias brasileiras colocando o Brasil entre os paiacuteses com

grandes reservas de petroacuteleo e gaacutes do mundo

Evidentemente a Petrobras por ser a pioneira na exploraccedilatildeo desses blocos deteacutem

posiccedilatildeo privilegiada nos investimentos e tambeacutem nos benefiacutecios da produccedilatildeo futura dos

campos de petroacuteleo localizados dentro dessa regiatildeo tendo em vista reservas estimadas em

287 bilhotildees de barris de petroacuteleo

Figura 11 Mapa de blocos da camada preacute-sal Fonte Website da Petrobras

No entanto a Galp presente em parcerias com a Petrobras em blocos dessa regiatildeo42

tambeacutem ocupa destaque podendo adicionar agraves suas reservas um total de 38 bilhotildees de barris

de petroacuteleo ficando atraacutes apenas de Petrobras e British Gas empresa inglesa que pode

adicionar 72 bilhotildees de barris agraves suas reservas43

ldquoCom base na sua experiecircncia a Galp privilegiou a operaccedilatildeo e

participaccedilatildeo com a Petrobras em campos terrestres no iniacutecio de sua

vida no Brasil Posteriormente alcanccedilou participaccedilotildees importantes

em blocos mariacutetimos de aacuteguas profundas principalmente no preacute-sal

42 A Galp deteacutem participaccedilotildees nos blocos Iara Juacutepiter e Tupi todos na regiatildeo da camada preacute-sal localizada no litoral brasileiro

43 Informaccedilotildees detalhadas sobre as estimativas de reservas para cada empresa atuante no preacute-sal encontram-se no Apecircndice 7

o que deu visibilidade e relevacircnciardquo Consultor de Negoacutecios A ndash

Gerecircncia de EampP da empresa brasileira

Figura 12 Participaccedilatildeo da Galp no preacute-sal Fonte Website da Galp

No acircmbito do segmento de biocombustiacuteveis Petrobras e Galp Energia assinaram

recentemente em Lisboa Acordo de Investimentos para formaccedilatildeo de uma joint-venture com

objetivo de desenvolver projeto destinado agrave produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de biocombustiacuteveis

Durante a IX Cimeira Brasil-Portugal realizada no final do mecircs de outubro de 2008

na Bahia diversos acordos foram celebrados entre eles uma parceria entre Petrobras e Galp

para estudar a viabilidade de implantaccedilatildeo de um poacutelo para a produccedilatildeo de oacuteleo de palma (o

tradicional dendecirc baiano) e oacuteleo de girassol mateacuterias-primas para a produccedilatildeo de biodiesel

Este acordo eacute resultado do desdobramento de um Memorando de Entendimentos

assinado anteriormente entre as duas empresas visando o estudo da viabilidade de

implementaccedilatildeo conjunta de projetos para aproveitamento de oportunidades futuras na

produccedilatildeo comercializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de biodiesel nos mercados brasileiro portuguecircs e

internacional O documento foi assinado durante a visita do presidente Luiz Inaacutecio Lula da

Silva a Portugal com a presenccedila do Primeiro Ministro de Portugal Joseacute Soacutecrates

A criaccedilatildeo da joint venture prevecirc a produccedilatildeo de 600 mil toneladas por ano de oacuteleo

vegetal no Brasil destinado agrave produccedilatildeo de 500 mil toneladas por ano de biodiesel Metade

desse volume seraacute produzido em Portugal nas refinarias da Galp e a outra metade em local a

ser definido para comercializaccedilatildeo na Europa prioritariamente no mercado ibeacuterico O iniacutecio

da produccedilatildeo estaacute previsto para 2010

Os estudos e anaacutelises realizados em conjunto pela Petrobras e Galp apoacutes a assinatura

do referido memorando apontaram para a viabilidade do negoacutecio originando um Plano de

Negoacutecios para o desenvolvimento do projeto As empresas pretendem aprofundar os estudos

visando confirmar as premissas utilizadas no Plano de Negoacutecios e concretizar a parceria para

implantaccedilatildeo das operaccedilotildees e atividades previstas Caso confirmada a viabilidade do projeto a

joint venture seraacute concretizada por meio da constituiccedilatildeo de uma sociedade com capital social

dividido entre Petrobras (50) e Galp Energia (50)

A Galp vecirc com enorme confianccedila o futuro do Brasil que considera

ser um dos paiacuteses em melhor posiccedilatildeo para enfrentar os enormes

desafios colocados pela profunda crise que a economia mundial

atravessa A petroliacutefera considera ter no Brasil uma oportunidade

histoacuterica de crescimento Fonte oficial da empresa citada pela

Agecircncia Lusa (fevereiro2009)

ldquoA Galp Energia tem apostado nas parcerias petroliacuteferas em paiacuteses

de liacutengua portuguesa porque natildeo pode estar em todo lugar e nestes

Estados haacute vantagens culturais competitivas por haver uma

percepccedilatildeo mais clara do risco poliacutetico dos investimentosrdquo Gestor da

Galp Energia Fonte Agecircncia Lusa (maio2009)

Nesse segmento a Petrobras adota o modelo de parceria tripartite na qual a

companhia brasileira com toda a sua visibilidade imagem positiva no mercado rede logiacutestica

e comercializaccedilatildeo trabalha em conjunto com produtores nacionais que contribuem com o

expertise e parceiros internacionais que garantem mercado e participam da produccedilatildeo do

produto

ldquoOs entendimentos com a Galp continuam e deveratildeo ser concluiacutedos

() Eacute muito importante porque pode facilitar a entrada do nosso

produto no mercado Europeurdquo Gestor da Petrobras Fonte Agecircncia

Brasil (marccedilo2009)

ldquoPortugal tem uma posiccedilatildeo geogaacuteficalogiacutestica estrateacutegica na

peniacutensula ibeacutericardquo Consultor de Negoacutecios ndash Aacuterea Internacional da

empresa brasileira

Com este acordo para ambas as empresas torna-se possiacutevel a troca de experiecircncias e

de conhecimento Ademais a Galp Energia daacute um passo decisivo na concretizaccedilatildeo da sua

estrateacutegia para os biocombustiacuteveis e contribui para o posicionamento de Portugal na lideranccedila

na produccedilatildeo de biocombustiacuteveis de segunda geraccedilatildeo

O que se depreende dos dados analisados e expostos nessa subseccedilatildeo eacute que aleacutem de

fatores pautados pelos interesses econocircmicos de ambas empresas e naccedilotildees fatores ligados agrave

parte menos visiacutevel perante a literatura dominante em estrateacutegia detecircm relevacircncia no processo

de formaccedilatildeo e construccedilatildeo da rede focal entre essas organizaccedilotildees hiacutebridas Nesse aspecto

revelam-se de grande importacircncia os elementos presentes na supra-rede os quais seratildeo

abordados em mais profundidade na subseccedilatildeo 523

522 A rede focal em Portugal

Em Portugal Petrobras e Galp assinaram em 2007 acordo para exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de petroacuteleo em quatro blocos de exploraccedilatildeo de petroacuteleo localizados na Bacia

Lusitaniana Essa regiatildeo exploratoacuteria situa-se na costa portuguesa ao norte de Lisboa

De acordo com informaccedilotildees disponibilizadas em seu website seraacute a primeira atividade

de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo desenvolvida pela Petrobras na costa portuguesa Os blocos

chamados Camaratildeo Almeijoa Mexilhatildeo e Ostra possuem profundidades de aacutegua entre 200 e

2000 metros em aacuterea total de 12 mil quilocircmetros quadrados Nesses consoacutercios a Petrobras

seraacute a empresa operadora detendo 50 de participaccedilatildeo cabendo agrave Galp 30 e agrave tambeacutem

portuguesa Partex os 20 restantes

ldquoO acordo eacute resultado do memorando de entendimento assinado em

agosto de 2006() pelo Primeiro-Ministro de Portugal () e o

Presidente da Petrobras () As negociaccedilotildees entre Petrobras Galp e

Partex ocorreram em curto espaccedilo de tempo devido ao grande

interesse por parte das trecircs empresas Fonte Agecircncia Petrobras de

Notiacutecias (maio2007)

O consoacutercio formado pelas trecircs empresas deveraacute se concentrar na prospecccedilatildeo de

hidrocarbonetos em regiotildees de aacuteguas profundas visando agrave descoberta de petroacuteleo O contrato

prevecirc um periacuteodo de oito anos para a exploraccedilatildeo envolvendo a aquisiccedilatildeo siacutesmica e a

perfuraccedilatildeo de poccedilos exploratoacuterios A parceria poderaacute envolver ainda a comunidade acadecircmica

de geologia em Portugal visando agrave transferecircncia de conhecimento A Petrobras eacute a operadora

dos estudos em funccedilatildeo de sua capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica em exploraccedilatildeo e produccedilatildeo em aacuteguas

profundas e ultra profundas no Brasil e no exterior

ldquoDesenvolver parcerias comerciais e logiacutesticas multimodais

garantindo a colocaccedilatildeo de petroacuteleo derivados e biocombustiacuteveis nos

mercados-alvordquo Estrateacutegia da Petrobras no segmento internacional

Fonte Agecircncia Petrobras de Notiacutecias (fevereiro2009)

O investimento subsequente em perfuraccedilatildeo exploratoacuteria dependeraacute do resultado dos

estudos siacutesmicos a serem realizados Eventuais descobertas comerciais na aacuterea dos blocos

seratildeo exploradas pelo consoacutercio num prazo de 30 anos

Em relaccedilatildeo ao processo de concessatildeo dos direitos de exploraccedilatildeo destaca-se a

possibilidade em Portugal de ser realizado concurso puacuteblico ou apresentada uma candidatura

para o exerciacutecio de atividades exploratoacuterias numa determinada aacuterea via negociaccedilatildeo direta

com o governo Essas negociaccedilotildees diretas podem ser feitas em relaccedilatildeo a aacutereas declaradas

como disponiacuteveis numa base permanente ou em que num concurso anterior natildeo tenham sido

atribuiacutedas a terceiros

Figura 13 Consoacutercio entre as empresas em Portugal Fonte Website da Galp

A zona offshore portuguesa conteacutem um potencial de exploraccedilatildeo de aacuteguas profundas

que ainda natildeo foi adequadamente investigado As prospecccedilotildees petroliacuteferas naquela zona

fundamentam-se em estudos acadecircmicos produzidos ao longo dos anos pela Universidade de

Coimbra A Galp Energia solicitou autorizaccedilatildeo governamental para explorar estas aacuteguas e tem

conduzido negociaccedilotildees com outras empresas em especial a Petrobras

ldquoEste eacute mais um projeto em que a Petrobraacutes e a Galp parceiras haacute

vaacuterios anos na pesquisa e produccedilatildeo de petroacuteleo no Brasil se

envolvem conjuntamente Mas o reforccedilo da parceria entre ambas natildeo

se fica por aquirdquo Diaacuterio de Notiacutecias ndash Portugal (fevereiro2008)

De acordo com comunicado da Galp Energia a formaccedilatildeo deste consoacutercio alicerccedila-se

na estreita relaccedilatildeo que a Galp desenvolveu com a Petrobras na aacuterea de exploraccedilatildeo e produccedilatildeo

no Brasil onde ambas possuem participaccedilotildees conjuntas em espaccedilos de terra (onshore) e de

mar (offshore)

523 Rede e supra-rede

O relacionamento entre Brasil e Portugal atravessa um periacuteodo de grande dinamismo

nos domiacutenios cultural que tem como destaque o recente acordo ortograacutefico da liacutengua

portuguesa econocircmico haja vista o contiacutenuo crescimento do investimento direto portuguecircs

no Brasil e poliacutetico no qual tecircm ocorrido regularmente visitas de autoridades entre os dois

paiacuteses criaccedilatildeo de mecanismo de consultas poliacuteticas e mecanismos de cooperaccedilatildeo teacutecnica

previstos no Tratado de Amizade Cooperaccedilatildeo e Consulta

O Tratado de Amizade Cooperaccedilatildeo e Consulta celebrado entre Brasil e Portugal em

2001 tem como principais fundamentos e objetivos o desenvolvimento econocircmico social e

cultural muacutetuo o estreitamento dos viacutenculos entre as duas naccedilotildees e a participaccedilatildeo do Brasil e

de Portugal em processos de integraccedilatildeo regional como a Uniatildeo Europeia e o Mercosul

almejando permitir a aproximaccedilatildeo entre a Europa e a Ameacuterica Latina para a intensificaccedilatildeo das

suas relaccedilotildees

ldquoEacute importante que o Brasil e Portugal aprofundem suas inserccedilotildees na

Uniatildeo Europeacuteia e no Mercosul respectivamente () Eacute preciso

favorecer tudo quanto possa contribuir para aproximar as duas

naccedilotildees incluindo aiacute desde o intercacircmbio cultural o artiacutestico e o

acadecircmico ateacute a cooperaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica as trocas

comerciais os fluxos turiacutesticos e de investimentos Destaca-se ainda

a necessidade do aprofundamento das relaccedilotildees no campo poliacutetico de

modo a projetar essa parceria no cenaacuterio internacional Cavaco Silva

ndash Presidente de Portugal Fonte Agecircncia Brasil (marccedilo2008)

Perante esse tratado a consulta e a cooperaccedilatildeo poliacutetica entre as duas naccedilotildees teratildeo

como instrumentos (i) visitas regulares dos presidentes dos dois paiacuteses (ii) cimeiras anuais

dos dois Governos presididas pelos chefes dos respectivos Executivos (iii) reuniotildees dos

responsaacuteveis pela poliacutetica externa de ambos os paiacuteses alternadamente no Brasil e em

Portugal bem como sempre que recomendaacutevel no quadro de organizaccedilotildees internacionais de

caraacuteter universal ou regional em que os dois Estados participem (iv) visitas reciacuteprocas dos

membros dos poderes constituiacutedos de ambos os paiacuteses para aleacutem das referidas nas aliacuteneas

anteriores com especial incidecircncia naquelas que contribuam para o reforccedilo da cooperaccedilatildeo

interparlamentar (v) reuniotildees de consulta poliacutetica entre altos funcionaacuterios do Ministeacuterio das

Relaccedilotildees Exteriores do Brasil e do Ministeacuterio dos Negoacutecios Estrangeiros de Portugal e (vi)

reuniotildees da Comissatildeo Permanente criada pelo tratado

ldquoO Brasil eacute um parceiro estrateacutegico no plano econocircmico paiacutes liacuteder

das economias emergentes A parceria estrateacutegica que queremos

construir daraacute um novo impulso a essa relaccedilatildeo bilateralrdquo Maacuterio Lino

- Ministro portuguecircs das Obras Puacuteblicas Transportes e

Comunicaccedilotildees Agecircncia Lusa (outubro2008)

Adotamos um plano de accedilatildeo para a parceria estrateacutegica que

constituiraacute o principal marco de nosso diaacutelogo e cooperaccedilatildeo A

parceria resultou de uma convergecircncia de interesses que vai aleacutem dos

valores e princiacutepios que defendemos nos foros internacionais Neste

momento de tanta incerteza e turbulecircncia no cenaacuterio global podemos

trabalhar juntos em temas cruciais para nossos paiacuteses e para a

comunidade internacional Luiz Inaacutecio Lula da Silva ndash Presidente do

Brasil UOL (dezembro2008)

O tratado ainda prevecirc o acreacutescimo de colaboraccedilatildeo entre empresas brasileiras e

portuguesas atraveacutes de acordos de cooperaccedilatildeo e de associaccedilatildeo que fomentem o seu

crescimento e progresso teacutecnico e facilitem o aumento e a valorizaccedilatildeo do fluxo de trocas entre

os dois paiacuteses e a promoccedilatildeo e realizaccedilatildeo de projetos comuns de investimentos tanto no Brasil

quanto em Portugal e em outros mercados entre empresas brasileiras e portuguesas atraveacutes

da constituiccedilatildeo de joint ventures de co-investimento e de transferecircncia de tecnologia com

vistas a desenvolver e modernizar as estruturas empresariais no Brasil e em Portugal e

facilitar o acesso a novas atividades em termos competitivos no plano internacional

privilegiando as aacutereas de integraccedilatildeo econocircmica em que os dois paiacuteses se enquadram

ldquoOs niacuteveis de desenvolvimento das economias do Brasil e de Portugal

justificam uma maior intensidade no relacionamento econocircmico entre

os dois paiacuteses e natildeo podemos ficar agrave espera que venham ter conosco

Temos que ser proativos Teixeira dos Santos ndash Ministro das

Financcedilas de Portugal Agecircncia Lusa (fevereiro2009)

ldquoA formaccedilatildeo das parcerias representa um momento nas relaccedilotildees

entre as duas empresas caracterizado pela existecircncia de aspectos

poliacuteticosrdquo Consultor de Negoacutecios A ndash Gerecircncia de EampP da empresa

brasileira

Atualmente na presidecircncia da Uniatildeo Europeia (UE) Portugal tem promovido e

valorizado os laccedilos com a Ameacuterica Latina advogando as vantagens muacutetuas de um

relacionamento mais profundo entre as duas regiotildees com realce para o lanccedilamento de uma

parceria estrateacutegica entre a UE e o Brasil

No acircmbito dessa parceria estrateacutegica os temas prioritaacuterios da relaccedilatildeo bilateral entre

Brasil e a UE satildeo a cooperaccedilatildeo nas aacutereas de biocombustiacuteveis de mudanccedilas climaacuteticas e de

ciecircncias e tecnologia Com a visatildeo portuguesa na presidecircncia da UE essa parceria estrateacutegica

significa reconhecer o Brasil tanto como potencial parceiro estrateacutegico quanto como grande

ator econocircmico latino-americano e liacuteder regional

() foi por pressatildeo portuguesa por sugestatildeo portuguesa por

insistecircncia portuguesa que esta reuniatildeo se realizou () na relaccedilatildeo

entre UE e Ameacuterica Latina fazia falta uma trave-mestra um pilar e

esse pilar soacute poderia ser o Brasil Joseacute Soacutecrates ndash Primeiro-Ministro

de Portugal UOL (dezembro2008)

Tambeacutem na presidecircncia da Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa Portugal

tem se empenhado na promoccedilatildeo e difusatildeo da liacutengua portuguesa e na criaccedilatildeo da Assembleia

Parlamentar da CPLP buscando a dinamizaccedilatildeo das dimensotildees regional e empresarial da

CPLP em reforccedilo agraves parcerias estrateacutegicas com organizaccedilotildees internacionais

Em termos praacuteticos a supra-rede que antepara a rede existente entre Petrobras e Galp

materializa-se nos relacionamentos focais formados por essas empresas tanto no Brasil quanto

em Portugal aleacutem do planejamento existente de participaccedilatildeo conjunta em investimentos em

outros paiacuteses principalmente os da CPLP como Angola Moccedilambique Satildeo Tomeacute e Priacutencipe

e Timor Leste nos segmentos de petroacuteleo e biocombustiacuteveis

De forma geral a supra-rede fomenta accedilotildees tambeacutem em outros segmentos como o

bancaacuterio e o de telecomunicaccedilotildees

ldquoA retomada dos negoacutecios no Brasil se deve ao fato de o paiacutes ser um

dos mercados estrateacutegicos no processo de internacionalizaccedilatildeo do

banco que jaacute tem experiecircncia no mercado nacional Aleacutem disso o

contexto macroeconocircmico brasileiro eacute favoraacutevel e os investimentos

da peniacutensula ibeacuterica satildeo de porte extremamente relevante e deveratildeo

continuar a chegar no Brasil mesmo na conjuntura atual Sob a

denominaccedilatildeo Banco Caixa Geral - Brasil SA a instituiccedilatildeo tambeacutem

faraacute financiamento de projetos assessoria em fusotildees e aquisiccedilotildees e

diacutevida estruturada aleacutem de repasses do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES)rdquo Banco Caixa Geral

de Depoacutesitos Fonte Agecircncia Brasil (fevereiro2009)

ldquoO primeiro-ministro portuguecircs Joseacute Soacutecrates defendeu () a

criaccedilatildeo de uma grande operadora luso-brasileira de

telecomunicaccedilotildees para defender e promover a liacutengua portuguesa no

mundo e disse que a Portugal Telecom (PT) onde o Estado manteacutem

uma golden share que lhe garante direitos especiais estaacute na Vivo e

no Brasil para ficar Fonte Agecircncia Brasil (outubro2008)

A partir dos diversos dados coletados verifica-se claramente a presenccedila e grande

importacircncia dos elementos presentes na supra-rede bastante densa e diversa em relaccedilatildeo aos

seus interesses que tem participaccedilatildeo relevante na formaccedilatildeo de diversos relacionamentos

focais entre organizaccedilotildees luso-brasileiras em especial as empresas hiacutebridas Petrobras e Galp

atuantes do contexto de economias emergentes e em transiccedilatildeo

Nesse cenaacuterio percebe-se a existecircncia de interesses que somente a rede focal pode

propiciar agraves empresas e naccedilotildees Como exemplo eacute importante para a Galp estar no Brasil

assim como eacute importante para a Petrobras estar em Portugal Em ambos os casos por

interesses e motivos diversos que envolvem tambeacutem os interesses das naccedilotildees

Uma conclusatildeo obtida e que deve ser reforccedilada eacute que quanto agrave formaccedilatildeo e construccedilatildeo

dessa rede haacute um relevante viacutenculo entre a rede focal e a supra-rede ou seja a rede focal

existe por causa em grande parte da existecircncia e dos interesses plurais da supra-rede o que

ressalta a imagem de que estes acircmbitos estatildeo relacionados agrave existecircncia de estrateacutegias e

contextos de mercado e natildeo-mercado

Adicionalmente verifica-se que as organizaccedilotildees hiacutebridas desse cenaacuterio guardam um

certo niacutevel de ambiguumlidade em termos de atuaccedilatildeo e posicionamento no acircmbito da redesupra-

rede uma vez que essas empresas focais participam simultaneamente tanto da rede focal

quanto da supra-rede

Nesse aspecto o contexto investigado composto de organizaccedilotildees hiacutebridas e paiacuteses

emergentes e em transiccedilatildeo desafia os desenvolvimentos dos conceitos de mercado e de natildeo-

mercado baseados na referecircncia da grande empresa autocircnoma de mercado natildeo havendo

nesse caso a chamada ldquoprimazia de mercadordquo Com isso pode-se considerar que a literatura

dominante em estrateacutegia explica apenas parcialmente esse fenocircmeno haja vista ser a supra-

rede a parte menos visiacutevel da realidade perante essa literatura

Por fim nesse contexto de organizaccedilotildees hiacutebridas paiacuteses emergentes e em transiccedilatildeo

nos quais aspectos de mercado e de natildeo-mercado interagem desafiando os pressupostos da

literatura dominante a representaccedilatildeo do paradigma de redes ganha notoacuteria importacircncia como

ferramenta de investigaccedilatildeo e anaacutelise criacutetica dos pressupostos dominantes nesse cenaacuterio

53 Mercado e natildeo-mercado na rede focal

As investigaccedilotildees realizadas por meio de entrevistas tiveram como foco duas unidades

de anaacutelise principais o consoacutercio BMS-11 (no Brasil) e o conjunto de consoacutercios Camaratildeo

Almeijoa Mexilhatildeo e Ostra (em Portugal)

Justifica-se a escolha do BMS-11 por ser o bloco exploratoacuterio onde estatildeo contidos os

reservatoacuterios Tupi e Iara que detecircm relevantes volumes estimados de hidrocarbonetos

Especificamente em relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees em Portugal optou-se por escolher um conjunto de

consoacutercios tendo em vista tratarem-se de empreendimentos conjuntos que fazem parte de um

mesmo projeto integrado e formado num mesmo momento naquele paiacutes

O consoacutercio BMS-11 eacute formado pela Petrobras (65 - Operadora) BG Group (25) e

Galp Energia (10) e destina-se agrave exploraccedilatildeo petroliacutefera em aacuteguas ultraprofundas da Bacia

de Santos Esse bloco exploratoacuterio eacute composto por duas aacutereas exploratoacuterias Na maior delas

foi perfurado um primeiro poccedilo informalmente chamado de Tupi

Em novembro de 2007 a Petrobras anunciou que estima a existecircncia nessa aacuterea de

volume recuperaacutevel de oacuteleo leve de 28ordm API entre 5 e 8 bilhotildees de barris de petroacuteleo e gaacutes

natural o que elevaraacute significativamente a quantidade de oacuteleo existente em bacias brasileiras

colocando o Brasil entre os paiacuteses com grandes reservas de petroacuteleo e gaacutes do mundo

Posteriormente em agosto de 2007 a Petrobras anunciou a comprovaccedilatildeo da

ocorrecircncia de mais uma jazida de oacuteleo leve com densidade em torno de 30ordm API nos

reservatoacuterios do preacute-sal com estimativa de volume recuperaacutevel de 3 a 4 bilhotildees de barris de

petroacuteleo leve e gaacutes natural O novo poccedilo descobridor informalmente conhecido como Iara

localiza-se na aacuterea menor do bloco original a cerca de 230 km do litoral da cidade do Rio de

Janeiro em lacircmina drsquoaacutegua de 2230 metros O poccedilo ainda encontra-se em perfuraccedilatildeo na

busca de objetivos mais profundos

Figura 14 Aacutereas do BMS-11 (preacute-sal) Fonte Website da Petrobras

A segunda unidade de anaacutelise eacute representada pelos consoacutercios Camaratildeo Almeijoa

Mexilhatildeo e Ostra Conforme anteriormente informado na subseccedilatildeo 522 em 2007 Petrobras e

Galp assinaram em Portugal acordo para a exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de petroacuteleo em quatro

blocos de exploraccedilatildeo de petroacuteleo localizados na Bacia Lusitaniana regiatildeo exploratoacuteria situada

na costa portuguesa ao norte de Lisboa

A escolha dessas unidades de anaacutelise eacute justificada por mais alguns motivos Em

relaccedilatildeo ao consoacutercio BMS-11 devido ao fato de ter revelado as aacutereas de Tupi e Iara

potenciais reservas relevantes no cenaacuterio brasileiro Adicionalmente a escolha desse

consoacutercio que conta tambeacutem com a participaccedilatildeo da British Gas (BG) permite uma maior

anaacutelise comparativa entre o relacionamento existente entre Petrobras e Galp e entre essas duas

empresas e a BG

Em relaccedilatildeo aos consoacutercios formados em territoacuterio portuguecircs ressalta-se a participaccedilatildeo

da empresa privada Partex Tambeacutem nesse caso a escolha desses consoacutercios permitiraacute uma

anaacutelise comparativa das interrelaccedilotildees existentes entre as empresas que dele participam

Durante as entrevistas realizadas com profissionais das aacutereas de Exploraccedilatildeo amp

Produccedilatildeo e Internacional foi possiacutevel identificar a importacircncia da participaccedilatildeo e influecircncia de

aspectos ligados a variaacuteveis de mercado e de natildeo-mercado na rede formada por Petrobras e

stakeholders fora do mercado e acordos privados mas tambeacutem em conjunccedilatildeo com eles

(MAHON et al 2004 e BARON 1995a)

Especificamente nas relaccedilotildees entre essas empresas hiacutebridas verificou-se de

fundamental importacircncia na rede por elas formada a influecircncia das forccedilas de poder e poliacuteticas

aleacutem de outros aspectos em especial no processo de formaccedilatildeo dos negoacutecios Nesse aspecto

destaca-se que algumas dessas forccedilas residem nas proacuteprias empresas no niacutevel da supra-rede agrave

medida em que sob determinados acircngulos parte das proacuteprias organizaccedilotildees estatildeo presentes e

satildeo parte da supra-rede

governamentalrdquo

ldquoOs laccedilos culturais e histoacutericos facilitam a formaccedilatildeo dessas

brasileira

De acordo com as informaccedilotildees obtidas nas entrevistas realizadas esse processo de

formaccedilatildeo da rede entre essas empresas hiacutebridas foi iniciado por meio da negociaccedilatildeo da

construccedilatildeo das parcerias no Brasil Conforme os relatos esse incidente criacutetico apresentou

como caracteriacutestica marcante a predominacircncia de fatores de natildeo-mercado

brasileira

Em relaccedilatildeo a esse primeiro momento ligado agrave formaccedilatildeo da rede focal foi possiacutevel

verificar de forma clara e evidente a existecircncia de uma supra-rede que ultrapassou os limites

das companhias e eacute composta por fatores mais voltados para interesses plurais Identificou-se

tambeacutem que essa supra-rede localizava-se numa dimensatildeo menos superficial e visiacutevel da

realidade ou seja natildeo era totalmente visiacutevel levando-se em consideraccedilatildeo apenas os

pressupostos e prescriccedilotildees da literatura dominante em estrateacutegia

ldquoRealmente houve um interesse governamental no iniacutecio da formaccedilatildeo

dos negoacuteciosrdquo Consultor de Negoacutecios B ndash Gerecircncia de EampP da

empresa brasileira

Ainda em relaccedilatildeo a esse primeiro incidente criacutetico dada a forte influecircncia dos fatores

identificados e em funccedilatildeo do acircngulo e do momento em que o fenocircmeno foi observado

percebe-se que as empresas estavam mais alinhadas a aspectos de natildeo-mercado do que de

mercado

lsquoOs relacionamentos entre as duas empresas foram fomentados pelo

interesse governamentalrdquo Gerente ndash Gerecircncia de EampP da empresa

brasileira

Apesar da relevacircncia dessas variaacuteveis presentes no ambiente de natildeo-mercado em

outros momentos e sob outros acircngulos de observaccedilatildeo as organizaccedilotildees revelam-se em

diferentes cenaacuterios e outras caracteriacutesticas das relaccedilotildees presentes na rede formada entre as

empresas satildeo notadas Dentro desse aspecto no que se refere agraves atividades corriqueiras do

dia-a-dia dos consoacutercios ou seja nas relaccedilotildees empresariais relativas agrave conduccedilatildeo das

operaccedilotildees consorciais tanto no Brasil quanto em Portugal o cenaacuterio revelado eacute a princiacutepio

um pouco diferente do apresentado anteriormente

Por meio das entrevistas realizadas foi possiacutevel verificar que ao longo do processo de

gestatildeo dos empreendimentos o que prevalece satildeo os fundamentos de mercado isto eacute no

acircmbito de conduccedilatildeo da rede focal satildeo prioritariamente considerados aspectos ligados aos

interesses econocircmicos dos consoacutercios e seus efeitos sobre cada organizaccedilatildeo como o seu

desempenho lucratividade e possibilidade de ganhos financeiros

ldquoNo dia-a-dia natildeo haacute duacutevidas cada um segue e defende seus

interesses corporativosrdquo Consultor de Negoacutecios B ndash Gerecircncia de

EampP da empresa brasileira

Nesse cenaacuterio o desempenho dos empreendimentos conjuntos eacute o foco das atenccedilotildees

Accedilotildees ligadas ao controle do plano orccedilamentaacuterio sua execuccedilatildeo financeira estrutura de

financiamento e aporte de recursos financeiros controle dos fatores criacuteticos de sucesso

verificaccedilatildeo do cumprimento das regras contratuais dentre outras satildeo as que prevalecem com

grande visibilidade dentro das organizaccedilotildees

Na execuccedilatildeo de cada tarefa envolvida com a gestatildeo do empreendimento cada

empresa busca o melhor posicionamento econocircmico de mercado para si Utilizam a rede em

que participam visando atingir a posiccedilatildeo oacutetima sob o ponto de vista econocircmico num regime

de cooperaccedilatildeo mas de atenccedilatildeo muacutetua em relaccedilatildeo agrave conduta do outro integrante da rede

ldquoNas questotildees relacionadas agrave conduccedilatildeo e controle dos

empreendimentos cada organizaccedilatildeo luta por seus posicionamentosrdquo

Gerente ndash Gerecircncia de EampP da empresa brasileira

Aparentemente teriacuteamos entatildeo dois incidentes criacuteticos relevantes (um atrelado agrave

formaccedilatildeo dos empreendimentos e outro ligado agrave sua gestatildeo) mas isolados temporalmente

que ainda natildeo evidenciam a existecircncia de uma interaccedilatildeo entre estrateacutegias de mercado e de

natildeo-mercado numa mesma dimensatildeo temporal Entretanto por meio do aprofundamento da

investigaccedilatildeo realizada atraveacutes das entrevistas foi possiacutevel identificar alguns incidentes

criacuteticos em que essa interaccedilatildeo ocorre

No entanto durante as entrevistas num niacutevel maior de profundidade verificou-se que

fatores de mercado e de natildeo-mercado conviveram e interagiram em determinadas situaccedilotildees

relacionadas a impasses na busca pelo consenso durante a conduccedilatildeo dos empreendimentos e

em fatos ligados agrave interrelaccedilatildeo entre os negoacutecios desenvolvidos no Brasil e aqueles

desenvolvidos em Portugal

ldquoDe modo geral os aspectos natildeo-mercadocorporativos foram bem

visiacuteveis no momento da formaccedilatildeo das parcerias No entanto esses

aspectos ainda convivem no dia-a-dia existindo discussotildees em que

esses aspectos convivem com interesses puramente competitivosrdquo

Consultor de Negoacutecios A ndash Gerecircncia de EampP da empresa brasileira

Esses incidentes criacuteticos ocorreram jaacute na vigecircncia de novos acordos bilaterais entre as

naccedilotildees que dentre outras funccedilotildees estabeleceram novos papeacuteis e atividades aos respectivos

segmentos industriais acadecircmicos e poliacuteticos de ambos os paiacuteses Como consequecircncia a rede

formada pelas duas empresas passou a ser mais atuante ganhando maior relevacircncia e escopo

em especial para a Galp no que se refere agraves suas participaccedilotildees no Brasil

Nesse aspecto ressalta-se que tais incidentes ocorrem tanto ao niacutevel da rede focal

quanto ao niacutevel da supra-rede estando as organizaccedilotildees hiacutebridas parcialmente presentes em

ambos os niacuteveis ao mesmo tempo sujeitas a accedilotildees de mercado e de natildeo-mercado

simultaneamente o que desafia os pressupostos da literatura dominante de estrateacutegia Esse

especial contexto pode ser visualizado na representaccedilatildeo graacutefica a seguir

Figura 15 Presenccedila das organizaccedilotildees na rede e supra-rede

Por exemplo tem-se a introduccedilatildeo de accedilotildees conjuntas de cooperaccedilatildeo no segmento de

biocombustiacuteveis guardando explicitamente interesses tiacutepicos de mercado para as empresas

mas tambeacutem fatores de poder e geopoliacuteticos para ambas as naccedilotildees Adicionalmente tambeacutem

revela-se o aumento da participaccedilatildeo da Galp no Brasil com sua entrada nos cobiccedilados

projetos do preacute-sal

ldquoHaacute outras racionalidades que natildeo soacute a econocircmica nessas relaccedilotildees

entre Petrobras e Galp ou melhor a racionalidade econocircmica dessa

relaccedilatildeo natildeo pode ser entendida somente considerando o ponto de

vista financeiro mas sim outras abordagens e interessesrdquo Consultor

de Negoacutecios A ndash Gerecircncia de EampP da empresa brasileira

O que se depreende dessas observaccedilotildees eacute que de fato a rede formada por Petrobras e

Galp eacute relevantemente composta de relacionamentos densos de caracteriacutesticas cooperativas

sob o acircngulo de observaccedilatildeo da supra-rede existente que liga os governos de Brasil e Portugal

na qual eacute possiacutevel verificar claramente aspectos caracteristicamente de natildeo-mercado

Nesse aspecto as organizaccedilotildees hiacutebridas analisadas em parte estatildeo presentes na supra-

rede ao mesmo tempo em que participam de uma rede focal que guarda interesses diversos

que natildeo soacute o lucro

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

ldquoEvidentemente haacute uma diversidade de interesses nesse

relacionamento entre as empresas luso-brasileiras que natildeo podem

ficar restritos somente agraves operaccedilotildees realizadasrdquo Gerente ndash Gerecircncia

de EampP da empresa brasileira

Essas caracteriacutesticas revelam-se de forma mais clara e com maior influecircncia no

processo de formaccedilatildeo de novos negoacutecios entre as empresas No entanto numa investigaccedilatildeo

mais profunda percebe-se que essas caracteriacutesticas se interrelacionam e interagem com

fatores tiacutepicos de mercado Em alguns momentos nesse contexto fatores de mercado ficam

subordinados aos de natildeo-mercado dada a existecircncia de interesses plurais na rede

No que tange agraves accedilotildees estrateacutegicas de natildeo-mercado a literatura dominante em

estrateacutegia estabelece uma subordinaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves de mercado dada a visatildeo de que o seu

objetivo maior eacute sempre pautado por questotildees econocircmicas Nos relacionamentos focais entre

Petrobras e Galp natildeo foi percebida essa subordinaccedilatildeo uma vez que foi verificada uma

interaccedilatildeo entre esses dois tipos de accedilatildeo estrateacutegica

Trata-se nesse caso da influecircncia da chamada ldquosupra-rederdquo composta por

caracteriacutesticas presentes nos acircmbitos puacuteblico e privado a qual transcende as fronteiras

nacionais de Brasil e Portugal e desafia a concepccedilatildeo dominante de organizaccedilotildees de mercado

presente na literatura de estrateacutegia que reconhece a dimensatildeo natildeo-mercado Esse cenaacuterio

supera o domiacutenio mais superficial e visiacutevel da realidade normalmente apresentada pela

literatura dominante da disciplina

A comprovaccedilatildeo da existecircncia dessa ldquosupra-rederdquo assim como a sua anaacutelise foi

possiacutevel por meio da conjugaccedilatildeo e triangulaccedilatildeo dos dados obtidos nas entrevistas em

profundidade realizadas e pela utilizaccedilatildeo de dados secundaacuterios (estatutos tratados

declaraccedilotildees de representantes governamentais etc) considerados relevantes no acircmbito das

relaccedilotildees existentes entre PetrobrasBrasil e GalpPortugal

No entanto de forma paralela permanente e digamos num contexto que permeia as

relaccedilotildees de natildeo-mercado essa mesma densa rede de interrelacionamentos revela-se ao

mesmo tempo com caracteriacutesticas competitivas onde satildeo observados majoritariamente

aspectos de mercado ligados aos resultados econocircmicos de cada organizaccedilatildeo seus interesses

e objetivos monetaacuterios (lucro) interesses dos acionistas seu posicionamento no mercado e

controle dos fatores que encontram-se fora da organizaccedilatildeo

Nesse caso essas caracteriacutesticas tornaram-se mais evidentes no processo de conduccedilatildeo

dos negoacutecios jaacute formados entre as empresas hiacutebridas cujas caracteriacutesticas satildeo relevantemente

distintas das organizaccedilotildees autocircnomas de mercado que satildeo referecircncia na literatura dominante

da estrateacutegia embora mesmo no acircmbito desse processo existam incidentes criacuteticos

reveladores da interaccedilatildeo entre os fatores de mercado e de natildeo-mercado

Por fim como resultado dos dados analisados na pesquisa realizada propotildee-se um

novo framework mais completo que aquele apresentado na seccedilatildeo 35 dadas as caracteriacutesticas

do contexto revelado pela investigaccedilatildeo feita

Figura 16 Representaccedilatildeo do framework final da pesquisa

DISCIPLINA ESTRATEacuteGIA ndash CONCEPCcedilOtildeES DOMINANTES

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

6 CONCLUSOtildeES E RECOMENDACcedilOtildeES

61 Conclusotildees da anaacutelise

A estrateacutegia apresenta como caracteriacutesticas centrais a criaccedilatildeo uso e difusatildeo de

teoacutericos produzidos no ambiente norte-americano sobre a produccedilatildeo local e a prescriccedilatildeo de

melhor compreender o fenocircmeno das redes

processos o que tem levado essa aacuterea a um quadro de confusatildeo e descreacutedito

As pesquisas apresentam-se como etnocecircntricas ao considerarem como foco o

ambiente anglo-saxocircnico com grande direcionamento para os EUA em detrimento do resto

do mundo natildeo considerando portanto aspectos relevantes de outras culturas negoacutecios

interesses e estruturas

Nesse aspecto em especial em paiacuteses emergentes natildeo soacute em relaccedilatildeo agrave estrateacutegia vecirc-

se a importaccedilatildeo traduccedilatildeo e repeticcedilatildeo de conhecimento produzido no mundo anglo-saxatildeo

assim como uma certa imposiccedilatildeo da definiccedilatildeo do que satildeo os problemas relevantes das

organizaccedilotildees e sob que estruturas de anaacutelise devem ser tratados e resolvidos Como

consequecircncia organizaccedilotildees situadas em diferentes paiacuteses contextos e culturas satildeo tratadas

com as mesmas prescriccedilotildees e modelos adotados para a grande e autocircnoma empresa norte-

americana

Em relaccedilatildeo ao paradigma de redes apesar do crescente interesse de acadecircmicos da

aacuterea de estrateacutegia e estudos organizacionais a literatura dominante que ainda alicerccedila-se e

guarda suas raiacutezes no paradigma da empresa como entidade autocircnoma dificultou o

desenvolvimento de pesquisas relacionadas a esse fenocircmeno Adicionalmente apesar de

importante ainda falta profundidade teoacuterica e conceitual que ajude a melhor compreendecirc-lo

como funciona para quecirc serve e que tambeacutem consiga revelar suas implicaccedilotildees e interaccedilotildees

com as questotildees de poder e poliacutetica

Adicionalmente nesse cenaacuterio teoacuterico apesar do meio-ambiente empresarial ser

composto de fatores de mercado e de natildeo-mercado a teoria predominante (difundida

principalmente pelos EUA) designa maior relevacircncia e foco agrave tese da mercadizaccedilatildeo que

reproduz os princiacutepios do neoliberalismo e marginaliza as demais teorias de mercado que satildeo

de fundamental importacircncia para a compreensatildeo do desempenho das empresas

que incorporam plenamente o liberalismo No eixo Brasil-Portugal os papeacuteis

responsabilidades e as praacuteticas do Estado do mercado e de outras instituiccedilotildees relevantes natildeo

satildeo necessariamente coincidentes com o que a literatura dominante (anglo-americana)

descreve e prescreve para o mundo

poliacuteticos e econocircmicos especiacuteficos apesar da aacuterea de estrateacutegia estar imbricada em questotildees

poliacuteticas

Dentro desse contexto considerando o poder dos pressupostos da literatura dominante

satildeo verificadas relevantes dificuldades no que tange agrave investigaccedilatildeo de redes supra-redes

assim como a interaccedilatildeo de accedilotildees de mercado e natildeo-mercado principalmente quando dentre os

atores estatildeo envolvidas organizaccedilotildees hiacutebridas

Ademais o estudo de redes inseridas no contexto estrateacutegico de interaccedilotildees no

ambiente de natildeo-mercado e que envolvam caracteriacutesticas subjetivas ainda eacute discutido

marginalmente Toma-se como exemplo o proacuteprio ambiente de relaccedilotildees bilaterais entre Brasil

e Portugal onde basicamente inexiste literatura sobre redes luso-brasileiras

Visando modestamente colaborar para o preenchimento dessa lacuna teoacuterica esse

trabalho teve como objetivo principal investigar como e por que satildeo formuladas e

implementadas estrateacutegias com a utilizaccedilatildeo de redes de organizaccedilotildees hiacutebridas e como

estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado interagem utilizando como foco de anaacutelise o

contexto das relaccedilotildees Brasil-Portugal especificamente as relaccedilotildees empresariais luso-

brasileiras na induacutestria do petroacuteleo entre Petrobras e Galp Energia

O que se depreende do estudo da rede formada entre Petrobras e Galp eacute que o claacutessico

enfoque dicotocircmico de anaacutelise da economia capitalista neoliberal que isola a organizaccedilatildeo

empresarial num extremo e o mercado no outro natildeo condiz com a realidade praticada pelas

organizaccedilotildees no contexto em que atuam Trata-se portanto de um resultado observado que

demanda o complemento de alguns conceitos e pressupostos presentes na literatura dominante

da disciplina

A literatura dominante descreve teoricamente as empresas como unidades autocircnomas

com limites bem definidos e contornos pouco permeaacuteveis mas na praacutetica como visto na

pesquisa realizada elas inserem-se em meio a uma densa rede de interrelacionamentos

arranjos alianccedilas e interesses muacutetuos que revelam-se ao mesmo tempo competitivos e

cooperativos

No cenaacuterio global em que estatildeo inseridas Petrobras e Galp a formaccedilatildeo de redes

estrateacutegicas internacionais funciona como uma resposta ao desafio imposto pela necessidade

de se adotar estrateacutegias globais e parceiros locais aleacutem da aquisiccedilatildeo de competecircncias

fundamentais necessaacuterias agrave sua sobrevivecircncia

Por meio das observaccedilotildees realizadas foi possiacutevel concluir que a rede formada por

essas organizaccedilotildees hiacutebridas eacute relevantemente composta de relacionamentos densos de

caracteriacutesticas cooperativas e envolve interesses plurais quando o acircngulo de observaccedilatildeo

permite a visualizaccedilatildeo da supra-rede existente entre os governos de Brasil e Portugal

Apresenta-se tambeacutem com caracteriacutesticas competitivas sob o ponto de vista do processo de

gestatildeo e conduccedilatildeo dos negoacutecios formados entre as empresas

Desse modo com a realizaccedilatildeo desse estudo foi possiacutevel verificar nas relaccedilotildees entre as

organizaccedilotildees hiacutebridas a existecircncia de fatores de natildeo-mercado e de mercado que alinham-se

respectivamente agrave supra-rede identificada e ao processo de gestatildeo dos negoacutecios ou seja a

proacutepria rede focal Essas observaccedilotildees confirmam portanto que o ambiente de negoacutecios eacute

composto de componentes de mercado e de natildeo-mercado

Respondendo agrave primeira parte da pergunta de pesquisa (como e porque satildeo formadas

as redes) conclui-se que estrateacutegias com a utilizaccedilatildeo de redes entre organizaccedilotildees hiacutebridas satildeo

formuladas e implementadas no cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria petroliacutefera entre

Petrobras e Galp por meio de associaccedilotildees contratuais as quais preservam a autonomia

empresarial das organizaccedilotildees visando a formaccedilatildeo de joint ventures estrateacutegicas interessantes

para ambas empresas

A descriccedilatildeo da literatura dominante sobre o contexto onde diversas organizaccedilotildees

competem por lucros precisa ser suplementada e agraves vezes corrigida Como pocircde ser visto em

relaccedilatildeo ao cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria petroliacutefera de fato sob vaacuterias formas as

empresas estatildeo envolvidas em redes nas quais fatores econocircmicos mas tambeacutem aspectos mais

plurais satildeo importantes para sua sobrevivecircncia

Nesse aspecto explica-se em grande parte o porquecirc da formaccedilatildeo desses

relacionamentos focais pela influecircncia dos atores que atuam na supra-rede existente entre

Brasil e Portugal Supra-rede que revela-se densa e diversa quanto aos interesses nela

presentes e que conta com a proacutepria participaccedilatildeo das organizaccedilotildees hiacutebridas agrave medida em que

parte delas estaacute presente na supra-rede

Por meio da investigaccedilatildeo em profundidade realizada evidenciou-se que estrateacutegias de

mercado e de natildeo-mercado interagem dentro dessas redes o que ajuda a responder a segunda

parte da pergunta de pesquisa (interaccedilatildeo entre as estrateacutegias de mercado e de natildeo-mercado)

Apesar de muitos estudos tratarem a organizaccedilatildeo em redes como um simples tipo de

arranjo organizacional concebido como uma estrutura geneacuterica intermediaacuteria entre mercados

e hierarquias ou caracterizado como um ldquoterceirordquo modo organizacional a pesquisa realizada

ajuda a concluir que eacute importante analisar o paradigma de redes numa visatildeo interpretativista

Esse modo de anaacutelise permite ao pesquisador apurar que esse paradigma acaba por

revelar novos limites da teoria de organizaccedilotildees empresariais controladas pelo mercado

etnocentricamente enraizada na experiecircncia anglo-saxocircnica agrave medida que empresas atuando

em rede vecircm prosperando em outros contextos institucionaisculturais contradizendo a visatildeo

claacutessica de Chandler e de Williamson por exemplo

Com isso conclui-se tambeacutem que os conceitos e frameworks da literatura dominante

natildeo satildeo totalmente suficientes para ajudar a compreender e a explicar os processos de

estruturaccedilatildeo da estrateacutegia de empresas brasileiras e portuguesas na induacutestria petroliacutefera

havendo diversos aspectos menos visiacuteveis quando utilizados apenas os pressupostos e

preceitos dessa literatura que desafiam os pressupostos dominantes da loacutegica de mercado

estabelecidos pelo mundo anglo-americano

Dentre esses aspectos menos visiacuteveis mas relevantes que satildeo desprezados pelas

teorias impostas pelos positivistas e pelos pesquisadores haacute as questotildees que envolvem o

poder poliacutetico e econocircmico de empresas transnacionais perante outros governos e mercados e

as respectivas interfaces entre governo e empresa

Por meio dessa pesquisa viu-se que natildeo podem ser tratadas como invisiacuteveis a

dimensatildeo plural das estrateacutegias de grandes corporaccedilotildees e das redes assim como a existecircncia

de ldquosupra-redesrdquo compostas por fatores dos acircmbitos puacuteblico e privado os quais transcendem

fronteiras nacionais e desafiam as distinccedilotildees que a disciplina atribui aos domiacutenios econocircmico

e poliacutetico transcendendo tambeacutem o domiacutenio mais superficial e visiacutevel da realidade

Adicionalmente relevante tambeacutem eacute reconhecer que nesse contexto a visatildeo claacutessica

de que estrateacutegias de mercado tecircm supremacia em relaccedilatildeo agraves estrateacutegias de natildeo-mercado a

chamada ldquoprimazia do mercadordquo precisa ser complementada haja vista a interaccedilatildeo existente

e ateacute mesmo a inversatildeo identificada com estrateacutegias de mercado subordinadas agraves de natildeo-

mercado

Em especial no atual cenaacuterio de globalizaccedilatildeo econocircmica e de mercados

relacionamentos inter-firmas e redes que se estendem aleacutem das fronteiras das empresas satildeo

fatores-chave para a internacionalizaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de mercados estrangeiros Em especial

em relaccedilatildeo a Brasil e Portugal a formaccedilatildeo de uma parceria luso-brasileira mais consistente

vasta e empenhada em termos estrateacutegicos coloca uma seacuterie de desafios aos dois paiacuteses

62 Contribuiccedilotildees do estudo

621 Para os praticantes

O conhecimento acadecircmico tem sido uma das principais bases de legitimidade para o

estrategista da grande empresa o que ajuda a explicar a histoacuterica lideranccedila norte-americana na

aacuterea de estrateacutegia e a grande expansatildeo territorial das grandes organizaccedilotildees e da academia de

Administraccedilatildeo dos EUA recentemente

Um grande desafio para os praticantes do mundo luso-brasileiro eacute que os modelos e

conceitos construiacutedos e disseminados no mundo anglo-americano vecircm sendo aplicados de

forma ampla e sistemaacutetica em economias emergentes e economias em transiccedilatildeo como Brasil

e Portugal respectivamente

Especificamente para os profissionais de estrateacutegia o presente estudo contribuiu com

uma apresentaccedilatildeo de base teoacuterica e evidecircncias de contexto distinto da origem da literatura

dominante que demonstra a insuficiecircncia dos modelos e conceitos dominantes na

compreensatildeo e explicaccedilatildeo de determinados fatores presentes nas redes entre organizaccedilotildees

hiacutebridas

Apesar da pesquisa ter detido foco na induacutestria do petroacuteleo as descobertas podem ser

utilizadas como base de anaacutelise para redes de organizaccedilotildees hiacutebridas de outros contextos onde

a dimensatildeo poliacutetica guarda relevacircncia Nesse aspecto a pesquisa realizada pode contribuir

com uma visatildeo generalizaacutevel sobre os aspectos estrateacutegicos envolvidos no contexto desse tipo

de organizaccedilatildeo agrave medida que retrata uma visatildeo do que compotildees o cenaacuterio dos estrategistas de

empresas hiacutebridas

Especificamente em relaccedilatildeo agraves organizaccedilotildees hiacutebridas brasileiras e portuguesas o

estudo contribui com descriccedilotildees dos componentes de natildeo-mercado presentes no niacutevel da rede

e da supra-rede formadas Com essas revelaccedilotildees buscou-se contribuir para a montagem de

arcabouccedilo de peculiaridades e caracteriacutesticas desse cenaacuterio visando agrave criaccedilatildeo e depuraccedilatildeo de

fatores relevantes de autoridade de estrategistas que podem ser de grande importacircncia para a

expansatildeo e fortalecimento do mundo luso-brasileiro

622 Para os acadecircmicos

A estrutura do trabalho buscou construir um framework de pesquisa que resume o

cenaacuterio atual da estrateacutegia dentro de uma visatildeo criacutetica e apresenta como contribuiccedilatildeo a

indicaccedilatildeo e identificaccedilatildeo das concepccedilotildees dominantes na literatura sobre estrateacutegia e a

exposiccedilatildeo das caracteriacutesticas do cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria petroliacutefera assim como as

organizaccedilotildees hiacutebridas nele presentes que desafiam os pressupostos presentes na literatura

dominante

Com base na construccedilatildeo desse arcabouccedilo teoacuterico o presente estudo contribuiu para os

acadecircmicos com uma visatildeo criacutetica da literatura dominante aleacutem de demonstrar que estrateacutegia

natildeo pode ser analisada eou entendida como uma disciplina de conteuacutedo e formaccedilatildeo neutros

que a empresa natildeo pode ser enxergada como totalmente autocircnoma a importacircncia do

paradigma de redes a existecircncia de interesses plurais tiacutepicos de organizaccedilotildees hiacutebridas e que

as estrateacutegias de natildeo-mercado satildeo tatildeo importantes quanto as de mercado

Nesse sentido dados os interesses plurais das organizaccedilotildees hiacutebridas e a presenccedila

simultacircnea de accedilotildees de mercado e de natildeo-mercado no contexto investigado tambeacutem

contribui-se com a indicaccedilatildeo de que torna-se de fundamental importacircncia que outros

acadecircmicos no Brasil e outros paiacuteses emergentes problematizem as organizaccedilotildees hiacutebridas

como aqui tentado

Em especial em relaccedilatildeo ao contexto luso-brasileiro tambeacutem buscou-se contribuir com

modelos e conceitos de outros estrategistas que satildeo de fundamental importacircncia tanto para o

desempenho das empresas e dos mercados nesses contextos quanto para a expansatildeo global

das corporaccedilotildees hiacutebridas do mundo luso-brasileiro Desse modo o estudo contribui com uma

visatildeo acadecircmica da estrateacutegia mais compatiacutevel com o mundo luso-brasileiro na era da

globalizaccedilatildeo

63 Sugestotildees para pesquisas futuras

Por girar em torno de redes formadas no acircmbito do cenaacuterio luso-brasileiro da induacutestria

do petroacuteleo essa pesquisa considerou aspectos especiacuteficos da rede formada pelas empresas

hiacutebridas Petrobras e Galp Energia em Portugal e no Brasil assim como da supra-rede

existente No entanto apesar da amplitude desses relacionamentos algumas variaacuteveis e

questotildees deixaram de ser exploradas podendo ser investigadas e novos trabalhos

Inicialmente sugere-se como campo de pesquisa futura a comparaccedilatildeo das

caracteriacutesticas das relaccedilotildees entre essas empresas do cenaacuterio luso-brasileiro e demais players

da induacutestria petroliacutefera especialmente aqueles do mundo anglo-saxocircnico dando continuidade

ao que jaacute foi introduzido nessa pesquisa

Outra possibilidade de pesquisa futura refere-se agrave investigaccedilatildeo das relaccedilotildees existentes

entre as empresas hiacutebridas pesquisadas no acircmbito dos negoacutecios de biocombustiacuteveis haja vista

ser uma atividade industrial do segmento energia que tem ganhado relevacircncia agrave medida que

tornam-se mais fortes as demandas por combustiacuteveis natildeo-poluentes e natildeo tatildeo dependentes do

petroacuteleo

De forma geral dada a pouca atenccedilatildeo destinada ao contexto luso-brasileiro propotildee-se

possibilidades de pesquisa que estejam alinhadas com accedilotildees que envolvam maior intercacircmbio

entre Brasil e Portugal nos acircmbitos acadecircmico institucional e empresarial

Dentro desse cenaacuterio sugere-se a realizaccedilatildeo de novos estudos envolvendo diversos

outros setores com ecircnfase especial para aqueles que satildeo regulados ou foram submetidos

recentemente a processos de privatizaccedilatildeo Estudos que busquem o reconhecimento de redes e

supra-redes suas caracteriacutesticas e revelem fatores e pressupostos que desafiem a literatura de

estrateacutegia produzida principalmente nos EUA

Por fim eacute aqui proposta a continuidade de pesquisas que investiguem mais

pormenorizadamente o paradigma de redes aleacutem das questotildees que envolvam mercado e natildeo-

mercado e questionem os pressupostos da literatura dominante de estrateacutegia em continuidade

agraves revelaccedilotildees jaacute apresentadas em trabalhos anteriormente realizados por alunos da FGV como

Daniel Merabet Pedro Gangemi e Carlos Fernandino

64 Limitaccedilotildees da pesquisa

De forma geral a pesquisa foi limitada pela falta de maior acesso a informaccedilotildees

secundaacuterias mais particulares sobre a Galp aleacutem da falta de entrevistas em profundidade com

profissionais dessa empresa Essa limitaccedilatildeo em sua maior parte foi causada pela distacircncia

entre o pesquisador e a sede daquela empresa Apesar dessa distacircncia contatos foram tentados

mas natildeo geraram sucesso quanto agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees

Sem duacutevida com a inserccedilatildeo desses dados primaacuterios e secundaacuterios sobre essa

organizaccedilatildeo e mais voltados para a percepccedilatildeo e vivecircncia de seus profissionais seria possiacutevel

diagnosticar e retratar com maiores detalhes o cenaacuterio de interaccedilatildeo entre estrateacutegias de

mercado e de natildeo-mercado de Petrobras e Galp

A pesquisa tambeacutem foi impactada por limitaccedilatildeo relacionada agrave sensibilidade do tema o

que foi claramente percebido durante as entrevistas em profundidade Dado que por si soacute o

tema estrateacutegia eacute tratado com reservas pelas organizaccedilotildees o processo de obtenccedilatildeo de dados

primaacuterios ligados a aspectos de natildeo-mercado foi limitado pelo modo como essas informaccedilotildees

satildeo tratadas pelos profissionais das empresas

Desse modo eacute possiacutevel que existam dados mais relevantes ou que retratem mais

fielmente a realidade desse contexto mas que natildeo foram possiacuteveis acessar dado que o

assunto eacute considerado estrateacutegico e por isso eacute reservado

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YIN Robert K Estudo de caso planejamento e meacutetodos 3 ed Porto Alegre Bookman 2005

8 APEcircNDICES

Apecircndice 1 ndash Lista exemplificativa de empresas portuguesas atuando no Brasil

CIMPOR

Grupo cimenteiro internacional que ocupa o 10ordm lugar no ranking mundial Entrou no mercado brasileiro em 1997 com a aquisiccedilatildeo da SERRANA

A CIMPOR Brasil tem hoje capacidade instalada de 58 milhotildees de toneladasano e vendas estimadas para 2000 de 4 milhotildees de toneladas com participaccedilatildeo de mercado de 92 Esta participaccedilatildeo torna a CIMPORBR o terceiro maior grupo cimenteiro do paiacutes

Maior conglomerado natildeo-financeiro de Portugal e um dos maiores do

setor de distribuiccedilatildeo na Europa

No final da deacutecada de 80 chegou ao Brasil por meio de uma joint venture com a empresa gauacutecha Josapar originando a Cia Real de Distribuiccedilatildeo com sede no estado no Rio Grande do Sul

Hoje a Sonae Distribuiccedilatildeo Brasil eacute a quarta maior rede do setor de supermercados do paiacutes segundo ranking da Abras - Associaccedilatildeo Brasileira de Supermercados Aleacutem de manter um niacutevel de expansatildeo com a abertura de novas lojas e na aposta de novos nichos de mercado

10ordm empregador do paiacutes em 2003 (Revista Exame) IPE Aacuteguas de

Portugal Desenvolve no Brasil vaacuterios projetos no domiacutenio de saneamento e

tratamento de aacuteguas

CAIXA GERAL DE DEPOacuteSITOS

Deteve 98 do Banco Bandeirantes com 165 agecircncias e 350 postos de

atendimento que foi vendido ao Unibanco

Jaacute aprovada pelo BACEN a constituiccedilatildeo no Brasil o Banco Caixa Geral-

Brasil SA ainda em fase de estudo

A Caixa participa ainda direta e indiretamente no capital de um conjunto

significativo de empresas no Brasil nas quais deteacutem posiccedilotildees majoritaacuterias

GRUPO ESPIacuteRITO SANTO

No Brasil criou o BESI com sede em Satildeo Paulo eacute um Banco de Investimento que atua na Ameacuterica Latina adquirido pelo Grupo BES em 2000 O BES deteacutem 80 do capital social atraveacutes do BES Investimento e os restantes 20 satildeo detidos pelo Banco Bradesco

Deteacutem participaccedilatildeo da COBRAPE desenvolvendo as suas atividades na Fazenda Pantanal de Cima no Estado do Tocantins no Brasil a Cobrape dedica-se agrave produccedilatildeo de arroz no Veratildeo e sementes de soja no Inverno

Tambeacutem deteacutem participaccedilatildeo na Botucatu Citrus que afirma-se como um

dos principais produtores de citrinos no mercado brasileiro

O empreendimento turiacutestico EcoResortampThalasso SPA na Praia do Forte no Estado da Bahia ndash Brasil localizado numa aacuterea com 6600 hectares de preservaccedilatildeo ambiental junto agrave linha da costa foi adquirido pelo Grupo Espiacuterito Santo Resources em 2006 Trata-se do primeiro passo de um ambicioso plano que prevecirc outros resorts espalhados pela costa brasileira

A ESAI ndash Espiacuterito Santo Ativos Imobiliaacuterios holding imobiliaacuteria do Grupo Espiacuterito Santo no Brasil tem participado em projetos de grande relevo no Estado de Satildeo Paulo como o Quinta da Baroneza e Residencial Villa-Lobos

PORTUGAL TELECOM

O Brasil constitui a aposta forte em termos de internacionalizaccedilatildeo da Portugal Telecom que participa hoje na maior empresa de telecomunicaccedilotildees moacuteveis da Ameacuterica do Sul a Vivo

No mercado brasileiro a presenccedila estende-se agrave Dedic e agrave Mobitel empresas que operam respectivamente nos segmentos de contact center e transmissatildeo de mensagens

Deteacutem participaccedilatildeo de 29 no portal UOL

Em Agosto de 2007 a Vivo adquiriu a Telemig operador moacutevel do estado de Minas Gerais que lhe garantiu o controle sobre mais 4 milhotildees de clientes no terceiro estado mais rico do Brasil por cerca de 500 milhotildees de euros

ELETRICIDADE DE PORTUGAL

O Grupo EDP tem uma forte presenccedila no setor da eletricidade no Brasil onde atua nas atividades de produccedilatildeo distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de eletricidade atraveacutes da Energias do Brasil

A distribuiccedilatildeo de eletricidade eacute a principal atividade da EDP no Brasil A Energias do Brasil tem uma forte presenccedila nos Estados de Satildeo Paulo Espiacuterito Santo e Mato Grosso do Sul atraveacutes das empresas de distribuiccedilatildeo Bandeirante Escelsa e Enersul respectivamente

Na atividade de produccedilatildeo a empresa pretende investir em nova capacidade hidroeleacutetrica com vista a beneficiar das oportunidades de crescimento no mercado brasileiro e de um enquadramento regulatoacuterio estaacutevel assim como equilibrar o peso da atividade de produccedilatildeo versus o peso da atividade de distribuiccedilatildeo no seu portfolio de negoacutecios

PETROGAL GALP ENERGIA

A Galp Energia estaacute envolvida em vaacuterios projetos de exploraccedilatildeo onshore e

offshore no Brasil desde 1999

A Galp Energia participou em diversas rodadas de licitaccedilatildeo (2ordf 3ordf 6ordf e 7ordf) de aacutereas de exploraccedilatildeo de petroacuteleo tendo adquirido direitos em blocos de exploraccedilatildeo sempre em parceria com a Petrobraacutes

Galp e Petrobras assinaram recentemente memorando de entendimento para a formaccedilatildeo de uma joint-venture entre as duas empresas para a avaliaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de oportunidades em futuros negoacutecios na aacuterea de biocombustiacuteveis

GRUPO NELSON QUINTAS

Deteacutem participaccedilotildees em induacutestria de autopeccedilas e cabos para telecomunicaccedilotildees operando duas faacutebricas no Estado de Minas Gerais a Cabelauto e a Cabelte

SODEacuteCIA

A Sodeacutecia atua no mercado de componentes automoacuteveis desde 1980

As faacutebricas no Brasil estatildeo localizadas em Satildeo Paulo - SODECIAIMBE Manaus - SODECIA DA AMAZOcircNIA e SalvadorBahia - SODECIA DA BAHIA e SODECIAINDUacuteSTRIA AUTO PECcedilAS JARDIM

Suas unidades no Brasil satildeo responsaacuteveis pela produccedilatildeo de peccedilas

estampadas e conjuntos metaacutelicos para os veiacuteculos da Ford e Honda

FREZITE Empresa metaluacutergica fabrica fresas de precisatildeo em parceria com o grupo

alematildeo AKE liacuteder mundial de fresas circulares

LOGOPLASTE

Opera 4 faacutebricas posicionando-se como um dos maiores produtores de embalagens plaacutesticas (PET) do Brasil Tem parcerias com diversas empresas

SIMOLDES Fabrica plaacutesticos e moldes de accedilo para a induacutestria automobiliacutestica Tem 2

faacutebricas em Curitiba e uma outra em Satildeo Paulo

Apecircndice 2 ndash Lista das 50 maiores empresas petroliacuteferas do mundo

PIWs Top 50 How the Firms Stack Up

Rank2007 Rank2006 PIWIndex Company Country State Ownership

1 1 30 Saudi Aramco Saudi Arabia 100 2 2 33 NIOC Iran 100 3 3 37 Exxon Mobil US 4 5 51 PDV Venezuela 100 5 7 53 CNPC China 100 6 4 55 BP UK 7 6 63 Shell UKNetherlands 8 8 83 ConocoPhillips US 9 9 88 Chevron US 10 10 90 Total France 11 11 91 Pemex Mexico 100 12 12 99 Sonatrach Algeria 100 13 12 102 Gazprom Russia 500023 14 14 103 KPC Kuwait 100 15 15 111 Petrobras Brazil 322 16 24 116 Rosneft Russia 7516 17 18 124 Petronas Malaysia 100 18 16 126 Adnoc UAE 100 18 17 126 Lukoil Russia 20 19 141 NNPC Nigeria 100 21 19 144 Eni Italy 30 22 21 159 QP Qatar 100 23 23 162 Libya NOC Libya 100 24 22 166 INOCdagger Iraq 100 25 29 173 Sinopec China 7184 26 28 176 StatoilHydro Norway 625 27 26 177 EGPC Egypt 100 28 25 180 Repsol YPF Spain 29 27 187 Surgutneftegas Russia 30 30 215 Pertamina Indonesia 100 31 31 223 ONGC India 7414 32 34 246 Marathon US 32 32 246 PDO Oman 60 34 37 264 EnCana Canada 34 -- 264 Uzbekneftegas Uzbekistan 100 36 36 273 Socar Azerbaijan 100 37 35 288 SPC Syria 100 38 39 290 Ecopetrol Colombia 899 39 42 291 Apache US 39 44 291 CNR Canada 41 37 294 Anadarko US 42 41 296 Devon Energy US 43 40 297 TNK-BPDagger Russia 44 43 298 OMV Austria 315 45 48 305 Hess US 46 44 310 Occidental US 47 47 312 BG UK 48 51 316 CNOOC China 6641 49 50 322 Inpex Japan 2935 50 52 323 Kazmunaigas Kazakhstan 100

Apecircndice 3 ndash Lista das 20 empresas petroliacuteferas mais sustentaacuteveis e eacuteticas

Apecircndice 4 ndash Composiccedilatildeo do capital da Petrobras

Acionistas

Composiccedilatildeo do

Capital Social

(31122008)

Accedilotildees

Accedilotildees Ordinaacuterias 5073347344 1000

Uniatildeo Federal 2826516456 557

BNDESPar 94492328 19

ADR Niacutevel 3 1350276582 266

FMP - FGTS Petrobras 186749197 37

Estrangeiros (Resoluccedilatildeo nordm 2689 CMN) 184803530 36

Demais pessoas fiacutesicas e juriacutedicas (1) 430509251 85

Accedilotildees Preferenciais 3700729396 1000

BNDESPar 574047334 155

ADR Niacutevel 3 e Regra 144 ndashA 1235631388 334

Capital Social 8774076740 1000

BNDESPar 668539662 76

ADR (Accedilotildees ON) 1350276582 154

ADR (Accedilotildees PN) 1235631388 141

Fonte Petrobras

Apecircndice 5 ndash Composiccedilatildeo do capital da Galp Energia

Apecircndice 6 ndash Relaccedilatildeo de parcerias entre Petrobras e Galp no Brasil

Rodada Bacia Bloco Tipo Operador Participaccedilatildeo Galp Energia

2 Santos BM-S-8 (1 bloco) Deep offshore Petrobras 14 2 Santos BM-S-11 (1 bloco) Deep offshore Petrobras 10 3 Santos BM-S-21 (1bloco) Deep offshore Petrobras 20 3 Santos BM-S-24 (1 bloco) Deep offshore Petrobras 20 6 Potiguar BT-POT-28 (1 bloco) Onshore Galp Energia 50 6 Potiguar BT-POT-29 (3 blocos) Onshore Galp Energia 50 6 Potiguar BT-POT-32 (4 blocos) Onshore Petrobras 50 6 Potiguar BT-POP-36 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50 6 E Santo BT-ES-23 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50 7 E Santo BT-ES-24 (4 blocos) Onshore Petrobras 50 7 Sergipe-

Alagoas BT-SEAL-13 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50

7 E Santo BT-ES-28 (3 blocos) Onshore Petrobras 50 7 Potiguar BT-POT-59 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50 7 Potiguar BT-POT-56 (2 blocos) Onshore Petrobras 50 7 Potiguar BM-POT-16 (2 blocos) Deep offshore Petrobras 20 7 E Santo BM-ES-31 (1 bloco) Deep offshore Petrobras 20 7 Potiguar BM-POT-17 (3 blocos) Deep offshore Petrobras 20 7 Potiguar BT-POT-51 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50 7 Potiguar BT-POT-47 (4 blocos) Onshore Galp Energia 50 7 E Santo BT-ES-29 (1 bloco) Onshore Galp Energia 50 7 Potiguar BT-POT-45 (2 blocos) Onshore Petrobras 50 9 Campos C-M-593 Aacuteguas pouco

profundas Petrobras 15

9 Santos S-M-1162 Aacuteguas pouco profundas

Petrobras 20

9 Pernambuco-Paraiacuteba

PEPB-M-783 Nova fronteira Petrobras 20

10 Potiguar POT-T-563 Bacia madura Galp Energia 50 10 Potiguar POT-T-564 Bacia madura Petrobras 50 10 Potiguar POT-T-608 Bacia madura Galp Energia 50 10 Potiguar POT-T-699 Bacia madura Petrobras 50 10 Potiguar POT-T-743 Bacia madura Galp Energia 50 10 Amazonas AM-T-62 Nova fronteira Petrobras 40 10 Amazonas AM-T-84 Nova fronteira Petrobras 40 10 Amazonas AM-T-85 Nova fronteira Petrobras 40

Fonte Galp Energia

Apecircndice 7 ndash Bacia de Santos estimativas de reserva do Preacute-sal

Fonte Credit Suisse





2 O PROBLEMA








32 Redes









43 Coleta de dados


















8 APEcircNDICES

TIacuteTULO

REDES ESTRATEacuteGICAS NO CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO ESTUDO DE CASO

NA INDUacuteSTRIA DO PETROacuteLEO

DISSERTACcedilAtildeO DE MESTRADO APRESENTADA POR

EDUARDO SEIXAS

APROVADO EM _________

PELA COMISSAtildeO EXAMINADORA

_____________________________________________

AGRADECIMENTOS

EDUARDO SEIXAS

Mestre

RIO DE JANEIRO

RESUMO

Janeiro 2009

ABSTRACT

Portugal

Leonardo da Vinci

SUMAacuteRIO

2 O PROBLEMA 20

32 Redes 57

8 APEcircNDICES 178

Europa

petroliacuteferas

ARIAS 2007)

(LUCENA 2000)

ventures

(EampP)

americana

petroliacutefera

hidrocarbonetos

(offshore)

2 O PROBLEMA

Brasil e Portugal

luso-brasileiro

2006 p 35)

seraacute realizada

de literatura

(FARIA 2008b)

FARIA 2008b)

JARZABKOWSKI 2004)

BARON 1995a)

GULATI et al 2000)

1998 p 136)

amp SAIAS 1980)

(ANSOFF 1977)

al 2003)

BERTERO et al 2003)

(PORTER 1999)

PENG 2008)

fizeram

SUBSTITUTOS

1989 p 31)

2002 e AKTOUF 2002)

2002 p 22)

(WHITTINGTON 2004)

Williamson9

(WILLIAMSON 1981)

1984 e BARNEY 1991)

(WHITTINGTON 2006)

MORGAN 1991)

COLADO 2006)

2005 e GUEDES 2008)

amp IMASATO 2008)

1991 e FARIA 2007)

na aacuterea

Claacutessica

Sistecircmica

Evolucionaacuteria

Processual

Plural

BERTERO et al 2003)

descritivas

Michael Porter

da empresa

pensamento

vida da empresa

Cultural

(BARBOSA 1999)

1999 e MARTIN 2003)

(MARTIN 2003 p 3)

puacuteblicas

da induacutestria

perspectivas

32 Redes

AMERICANA

MERCADO

PLURALISMO

et al 2000)

e FARIA 2005)

(JARILLO 1988)

paradigma

STAMPS 1994 p 12)

GULATI et al 2000)

competitiva

fluxo de recursos

mudanccedilas

distintos

e conhecimento

indiretos

rapidamente

poliacuteticos

relacionamentos

Teoria de Redes

Redes Sociais

Redes Alianccedilas

al 1999)

(BALDI 2004)

(GRANOVETTER 2007)

BODDEWYN 1988)

stakeholders19

MAHON et al 2004)

culturas20

WOOD Jr 2008)

2002 paacuteg 87)

(THOMAS 2001)

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

THOMAS 2001)

KATZ 1992)

guerras (KATZ 1992)

1992 KATZ 1992 e THOMAS 2001)

outras empresas

concessatildeo

mercados

ldquoStrategy

industryrdquo

operaccedilotildees

our operationsrdquo

da Shell26

mesma rede

dominante

BARON 1995a)

autocircnoma

realidade

petroacuteleo

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO-MERCADO

MERCADO

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

pelo autor

e VERGARA 2006)

1995a)

(GIL 2006)

realidade

construtos31

comportamentais

contemporacircneos

Natildeo Sim

estudo

43 Coleta de dados

petroacuteleo

de pesquisa

de evidecircncia

frequecircncia

posteriormente

(WALTERS 2001)

et al 2003)

natildeo-mercado

Lei 2004

o precircmio

iniciativa privada

como a

empresa

Exxon e Devon

mesmos a Portugal

stakeholders

electricidaderdquo

(fevereiro2009)

brasileiro

brasileira

Galp41

empresa brasileira

produto

empresa brasileira

mar (offshore)

brasileira

empresas e a BG

governamentalrdquo

brasileira

empresa brasileira

mercado

brasileira

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

americana

poliacuteticas

da disciplina

cooperativos

para ambas empresas

mercado

hiacutebridas

dominante

como aqui tentado

petroacuteleo

mar 2009

Acesso em 17mai2009

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203-227 2004

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Acesso em 02mai2009

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457-478 jul 2004

23dez2008

Atlas 2006

153 janfev 2006

171-180 1984

396-409 dez 2003

20 outdez 2004

8 APEcircNDICES

CIMPOR

PORTUGAL TELECOM

SODEacuteCIA

LOGOPLASTE

Acionistas

Capital Social

(31122008)

Accedilotildees

BNDESPar 574047334 155

BNDESPar 668539662 76

Fonte Petrobras

Petrobras 20

Fonte Galp Energia

Fonte Credit Suisse





2 O PROBLEMA








32 Redes









43 Coleta de dados


















8 APEcircNDICES

AGRADECIMENTOS

EDUARDO SEIXAS

Mestre

RIO DE JANEIRO

RESUMO

Janeiro 2009

ABSTRACT

Portugal

Leonardo da Vinci

SUMAacuteRIO

2 O PROBLEMA 20

32 Redes 57

8 APEcircNDICES 178

Europa

petroliacuteferas

ARIAS 2007)

(LUCENA 2000)

ventures

(EampP)

americana

petroliacutefera

hidrocarbonetos

(offshore)

2 O PROBLEMA

Brasil e Portugal

luso-brasileiro

2006 p 35)

seraacute realizada

de literatura

(FARIA 2008b)

FARIA 2008b)

JARZABKOWSKI 2004)

BARON 1995a)

GULATI et al 2000)

1998 p 136)

amp SAIAS 1980)

(ANSOFF 1977)

al 2003)

BERTERO et al 2003)

(PORTER 1999)

PENG 2008)

fizeram

SUBSTITUTOS

1989 p 31)

2002 e AKTOUF 2002)

2002 p 22)

(WHITTINGTON 2004)

Williamson9

(WILLIAMSON 1981)

1984 e BARNEY 1991)

(WHITTINGTON 2006)

MORGAN 1991)

COLADO 2006)

2005 e GUEDES 2008)

amp IMASATO 2008)

1991 e FARIA 2007)

na aacuterea

Claacutessica

Sistecircmica

Evolucionaacuteria

Processual

Plural

BERTERO et al 2003)

descritivas

Michael Porter

da empresa

pensamento

vida da empresa

Cultural

(BARBOSA 1999)

1999 e MARTIN 2003)

(MARTIN 2003 p 3)

puacuteblicas

da induacutestria

perspectivas

32 Redes

AMERICANA

MERCADO

PLURALISMO

et al 2000)

e FARIA 2005)

(JARILLO 1988)

paradigma

STAMPS 1994 p 12)

GULATI et al 2000)

competitiva

fluxo de recursos

mudanccedilas

distintos

e conhecimento

indiretos

rapidamente

poliacuteticos

relacionamentos

Teoria de Redes

Redes Sociais

Redes Alianccedilas

al 1999)

(BALDI 2004)

(GRANOVETTER 2007)

BODDEWYN 1988)

stakeholders19

MAHON et al 2004)

culturas20

WOOD Jr 2008)

2002 paacuteg 87)

(THOMAS 2001)

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

THOMAS 2001)

KATZ 1992)

guerras (KATZ 1992)

1992 KATZ 1992 e THOMAS 2001)

outras empresas

concessatildeo

mercados

ldquoStrategy

industryrdquo

operaccedilotildees

our operationsrdquo

da Shell26

mesma rede

dominante

BARON 1995a)

autocircnoma

realidade

petroacuteleo

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO-MERCADO

MERCADO

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

pelo autor

e VERGARA 2006)

1995a)

(GIL 2006)

realidade

construtos31

comportamentais

contemporacircneos

Natildeo Sim

estudo

43 Coleta de dados

petroacuteleo

de pesquisa

de evidecircncia

frequecircncia

posteriormente

(WALTERS 2001)

et al 2003)

natildeo-mercado

Lei 2004

o precircmio

iniciativa privada

como a

empresa

Exxon e Devon

mesmos a Portugal

stakeholders

electricidaderdquo

(fevereiro2009)

brasileiro

brasileira

Galp41

empresa brasileira

produto

empresa brasileira

mar (offshore)

brasileira

empresas e a BG

governamentalrdquo

brasileira

empresa brasileira

mercado

brasileira

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

americana

poliacuteticas

da disciplina

cooperativos

para ambas empresas

mercado

hiacutebridas

dominante

como aqui tentado

petroacuteleo

mar 2009

Acesso em 17mai2009

Campus 1999

janjul 2007

203-227 2004

48-62 outdez 2003

Society v 43 n 3 p 297-327 2003

Affairs maijun 2009

n 2 p 113-129 1992

6 novdez 2000

412-432 2008

em 09mai2009

09mai2009

21-31 outdez 2004

Routledge 1977

setout 2008

Artmed 2006

91 jan1995

p 660-679 1998

Janeiro FGV 2005

janfev 2008

Paulo Atlas 1998

Routledge 1987

163 1980

Studies v 42 n3 p 685-693 2005

Synergia 2008

Janeiro EMC 2000

Bookman 2006

em 31 jan 2009

de Janeiro EMC 2000

Hall 1983

Review p 11-27 1987

v 4 n 23 p 203-227 2008

v87 n 6 p 110-122 novdez 2008

15mai2009

p 21-38

276-286 1985

02mai2009

em 15mai2009

Acesso em 02mai2009

em 27mai2009

n 3 p 363-377 1986

457-478 jul 2004

23dez2008

Atlas 2006

153 janfev 2006

171-180 1984

396-409 dez 2003

20 outdez 2004

8 APEcircNDICES

CIMPOR

PORTUGAL TELECOM

SODEacuteCIA

LOGOPLASTE

Acionistas

Capital Social

(31122008)

Accedilotildees

BNDESPar 574047334 155

BNDESPar 668539662 76

Fonte Petrobras

Petrobras 20

Fonte Galp Energia

Fonte Credit Suisse





2 O PROBLEMA








32 Redes









43 Coleta de dados


















8 APEcircNDICES

EDUARDO SEIXAS

Mestre

RIO DE JANEIRO

RESUMO

Janeiro 2009

ABSTRACT

Portugal

Leonardo da Vinci

SUMAacuteRIO

2 O PROBLEMA 20

32 Redes 57

8 APEcircNDICES 178

Europa

petroliacuteferas

ARIAS 2007)

(LUCENA 2000)

ventures

(EampP)

americana

petroliacutefera

hidrocarbonetos

(offshore)

2 O PROBLEMA

Brasil e Portugal

luso-brasileiro

2006 p 35)

seraacute realizada

de literatura

(FARIA 2008b)

FARIA 2008b)

JARZABKOWSKI 2004)

BARON 1995a)

GULATI et al 2000)

1998 p 136)

amp SAIAS 1980)

(ANSOFF 1977)

al 2003)

BERTERO et al 2003)

(PORTER 1999)

PENG 2008)

fizeram

SUBSTITUTOS

1989 p 31)

2002 e AKTOUF 2002)

2002 p 22)

(WHITTINGTON 2004)

Williamson9

(WILLIAMSON 1981)

1984 e BARNEY 1991)

(WHITTINGTON 2006)

MORGAN 1991)

COLADO 2006)

2005 e GUEDES 2008)

amp IMASATO 2008)

1991 e FARIA 2007)

na aacuterea

Claacutessica

Sistecircmica

Evolucionaacuteria

Processual

Plural

BERTERO et al 2003)

descritivas

Michael Porter

da empresa

pensamento

vida da empresa

Cultural

(BARBOSA 1999)

1999 e MARTIN 2003)

(MARTIN 2003 p 3)

puacuteblicas

da induacutestria

perspectivas

32 Redes

AMERICANA

MERCADO

PLURALISMO

et al 2000)

e FARIA 2005)

(JARILLO 1988)

paradigma

STAMPS 1994 p 12)

GULATI et al 2000)

competitiva

fluxo de recursos

mudanccedilas

distintos

e conhecimento

indiretos

rapidamente

poliacuteticos

relacionamentos

Teoria de Redes

Redes Sociais

Redes Alianccedilas

al 1999)

(BALDI 2004)

(GRANOVETTER 2007)

BODDEWYN 1988)

stakeholders19

MAHON et al 2004)

culturas20

WOOD Jr 2008)

2002 paacuteg 87)

(THOMAS 2001)

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

THOMAS 2001)

KATZ 1992)

guerras (KATZ 1992)

1992 KATZ 1992 e THOMAS 2001)

outras empresas

concessatildeo

mercados

ldquoStrategy

industryrdquo

operaccedilotildees

our operationsrdquo

da Shell26

mesma rede

dominante

BARON 1995a)

autocircnoma

realidade

petroacuteleo

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO-MERCADO

MERCADO

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

pelo autor

e VERGARA 2006)

1995a)

(GIL 2006)

realidade

construtos31

comportamentais

contemporacircneos

Natildeo Sim

estudo

43 Coleta de dados

petroacuteleo

de pesquisa

de evidecircncia

frequecircncia

posteriormente

(WALTERS 2001)

et al 2003)

natildeo-mercado

Lei 2004

o precircmio

iniciativa privada

como a

empresa

Exxon e Devon

mesmos a Portugal

stakeholders

electricidaderdquo

(fevereiro2009)

brasileiro

brasileira

Galp41

empresa brasileira

produto

empresa brasileira

mar (offshore)

brasileira

empresas e a BG

governamentalrdquo

brasileira

empresa brasileira

mercado

brasileira

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

americana

poliacuteticas

da disciplina

cooperativos

para ambas empresas

mercado

hiacutebridas

dominante

como aqui tentado

petroacuteleo

mar 2009

Acesso em 17mai2009

Campus 1999

janjul 2007

203-227 2004

48-62 outdez 2003

Society v 43 n 3 p 297-327 2003

Affairs maijun 2009

n 2 p 113-129 1992

6 novdez 2000

412-432 2008

em 09mai2009

09mai2009

21-31 outdez 2004

Routledge 1977

setout 2008

Artmed 2006

91 jan1995

p 660-679 1998

Janeiro FGV 2005

janfev 2008

Paulo Atlas 1998

Routledge 1987

163 1980

Studies v 42 n3 p 685-693 2005

Synergia 2008

Janeiro EMC 2000

Bookman 2006

em 31 jan 2009

de Janeiro EMC 2000

Hall 1983

Review p 11-27 1987

v 4 n 23 p 203-227 2008

v87 n 6 p 110-122 novdez 2008

15mai2009

p 21-38

276-286 1985

02mai2009

em 15mai2009

Acesso em 02mai2009

em 27mai2009

n 3 p 363-377 1986

457-478 jul 2004

23dez2008

Atlas 2006

153 janfev 2006

171-180 1984

396-409 dez 2003

20 outdez 2004

8 APEcircNDICES

CIMPOR

PORTUGAL TELECOM

SODEacuteCIA

LOGOPLASTE

Acionistas

Capital Social

(31122008)

Accedilotildees

BNDESPar 574047334 155

BNDESPar 668539662 76

Fonte Petrobras

Petrobras 20

Fonte Galp Energia

Fonte Credit Suisse





2 O PROBLEMA








32 Redes









43 Coleta de dados


















8 APEcircNDICES

RESUMO

Janeiro 2009

ABSTRACT

Portugal

Leonardo da Vinci

SUMAacuteRIO

2 O PROBLEMA 20

32 Redes 57

8 APEcircNDICES 178

Europa

petroliacuteferas

ARIAS 2007)

(LUCENA 2000)

ventures

(EampP)

americana

petroliacutefera

hidrocarbonetos

(offshore)

2 O PROBLEMA

Brasil e Portugal

luso-brasileiro

2006 p 35)

seraacute realizada

de literatura

(FARIA 2008b)

FARIA 2008b)

JARZABKOWSKI 2004)

BARON 1995a)

GULATI et al 2000)

1998 p 136)

amp SAIAS 1980)

(ANSOFF 1977)

al 2003)

BERTERO et al 2003)

(PORTER 1999)

PENG 2008)

fizeram

SUBSTITUTOS

1989 p 31)

2002 e AKTOUF 2002)

2002 p 22)

(WHITTINGTON 2004)

Williamson9

(WILLIAMSON 1981)

1984 e BARNEY 1991)

(WHITTINGTON 2006)

MORGAN 1991)

COLADO 2006)

2005 e GUEDES 2008)

amp IMASATO 2008)

1991 e FARIA 2007)

na aacuterea

Claacutessica

Sistecircmica

Evolucionaacuteria

Processual

Plural

BERTERO et al 2003)

descritivas

Michael Porter

da empresa

pensamento

vida da empresa

Cultural

(BARBOSA 1999)

1999 e MARTIN 2003)

(MARTIN 2003 p 3)

puacuteblicas

da induacutestria

perspectivas

32 Redes

AMERICANA

MERCADO

PLURALISMO

et al 2000)

e FARIA 2005)

(JARILLO 1988)

paradigma

STAMPS 1994 p 12)

GULATI et al 2000)

competitiva

fluxo de recursos

mudanccedilas

distintos

e conhecimento

indiretos

rapidamente

poliacuteticos

relacionamentos

Teoria de Redes

Redes Sociais

Redes Alianccedilas

al 1999)

(BALDI 2004)

(GRANOVETTER 2007)

BODDEWYN 1988)

stakeholders19

MAHON et al 2004)

culturas20

WOOD Jr 2008)

2002 paacuteg 87)

(THOMAS 2001)

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

THOMAS 2001)

KATZ 1992)

guerras (KATZ 1992)

1992 KATZ 1992 e THOMAS 2001)

outras empresas

concessatildeo

mercados

ldquoStrategy

industryrdquo

operaccedilotildees

our operationsrdquo

da Shell26

mesma rede

dominante

BARON 1995a)

autocircnoma

realidade

petroacuteleo

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO-MERCADO

MERCADO

POLIacuteTICA

SOCIEDADE AMBIENTE

INTERESSES PLURAIS

empresas reguladas

empresas privadas

multinacionais

PUacuteBLICAS

PRIVADAS

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

pelo autor

e VERGARA 2006)

1995a)

(GIL 2006)

realidade

construtos31

comportamentais

contemporacircneos

Natildeo Sim

estudo

43 Coleta de dados

petroacuteleo

de pesquisa

de evidecircncia

frequecircncia

posteriormente

(WALTERS 2001)

et al 2003)

natildeo-mercado

Lei 2004

o precircmio

iniciativa privada

como a

empresa

Exxon e Devon

mesmos a Portugal

stakeholders

electricidaderdquo

(fevereiro2009)

brasileiro

brasileira

Galp41

empresa brasileira

produto

empresa brasileira

mar (offshore)

brasileira

empresas e a BG

governamentalrdquo

brasileira

empresa brasileira

mercado

brasileira

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

AMERICANA

MERCADO

NAtildeO MERCADO

SUPRA REDE

REDE FOCAL

PETROBRAS GALP

CONTEXTO

LUSO-BRASILEIRO

americana

poliacuteticas

da disciplina

cooperativos

para ambas empresas

mercado

hiacutebridas

dominante

como aqui tentado

petroacuteleo

mar 2009

Acesso em 17mai2009

Campus 1999

janjul 2007

203-227 2004

48-62 outdez 2003

Society v 43 n 3 p 297-327 2003

Affairs maijun 2009

n 2 p 113-129 1992

6 novdez 2000

412-432 2008

em 09mai2009

09mai2009

21-31 outdez 2004

Routledge 1977

setout 2008

Artmed 2006

91 jan1995

p 660-679 1998

Janeiro FGV 2005

janfev 2008

Paulo Atlas 1998

Routledge 1987

163 1980

Studies v 42 n3 p 685-693 2005

Synergia 2008

Janeiro EMC 2000

Bookman 2006

em 31 jan 2009

de Janeiro EMC 2000

Hall 1983

Review p 11-27 1987

v 4 n 23 p 203-227 2008

v87 n 6 p 110-122 novdez 2008

15mai2009

p 21-38

276-286 1985

02mai2009

em 15mai2009

Acesso em 02mai2009

em 27mai2009

n 3 p 363-377 1986

457-478 jul 2004

23dez2008

Atlas 2006

153 janfev 2006

171-180 1984

396-409 dez 2003

20 outdez 2004

8 APEcircNDICES

CIMPOR

PORTUGAL TELECOM

SODEacuteCIA

LOGOPLASTE

Acionistas

Capital Social

(31122008)

Accedilotildees

BNDESPar 574047334 155

BNDESPar 668539662 76

Fonte Petrobras

Petrobras 20

Fonte Galp Energia

Fonte Credit Suisse





2 O PROBLEMA








32 Redes









43 Coleta de dados


















8 APEcircNDICES

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REDES ESTRATÉGICAS NO CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO: ESTUDO DE …