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REFLEXÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DO TREINAMENTO ESPECÍFICO DE REMO NA EXTINTA DDR – REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DA ALEMANHA – COMPARAÇÃO DAS METODOLOGIAS Introdução Esse texto constitui uma reflexão buscando entender como, em linhas gerais, evoluíram os processos de treinamento na modalidade do treino específico, ou seja, o realizado no barco. Antes de adentrarmos no tema propriamente dito tentaremos resumidamente esclarecer as razões da escolha da fonte da metodológica, bem como do tipo de treinamento. Quando se procura, como fonte de aplicação subsidiária, eleger um modelo de treinamento de alto nível aconselha o bom senso olhar inicialmente para os resultados internacionais de equipes das várias nacionalidades e distinguir dentre elas quais os mais consistentes. E essa consistência deve ser vista de forma temporal, qualitativa e quantitativa. Em outras palavras que país tem apresentado em eventos internacionais melhores resultados e obtido as mais significativas vitórias, e por quanto tempo. Estaremos então distinguindo os grandes vencedores e os melhores, dado que esses últimos não são necessariamente ganhadores de forma constante ou duradoura. Além disso, parece ser fundamental vislumbrar se o método usado apresenta bases científicas nas quais se assenta e ainda quanto à racionalidade na sua aplicação e controle de execução. E, sobretudo, se metodologia está difundida sob fontes formais, ou seja, publicada pela entidade autora. Essa última qualidade é de especial valor porque afasta suposições ou a inclusão de procedimentos de autenticidade duvidosa. Como se sabe, a República Democrática da Alemanha, também conhecida como Alemanha Oriental ou Alemanha do Leste, instituída em 7/10/1949 e declarada soberana em 1954, coexistiu com a República Federal da Alemanha até 3 de outubro de 1990, quando se deu a reunificação do país. Apresentou ela um longo histórico de sucessos na modalidade esportiva do remo. Em Olimpíadas esse esporte sempre lhe foi fonte segura de medalhas. Tal êxito pode encontrar múltiplas explicações como o grande número de clubes e praticantes; a importância social e política conferida ao esporte; a existência nacional de fábricas de barcos e remo; os recursos financeiros; a estruturação, organização, e administração esportivas; os estudos científicos favorecendo a constituição de metodologias de treinamento; treinadores com boa formação, etc. Concretizou-se especialmente ali uma política voltada para a projeção internacional desportiva. Aos atletas conferia-se um status privilegiado. Resultara então um Estado dotado de organização peculiar a qual incluía, acima de tudo, determinação de governo disponibilizando necessários recursos financeiros e aporte científico. Traduzia ainda a eleição de certas modalidades esportivas como prioritárias. E o remo, repita-se, era uma delas. Discorrer sobre esse modelo sócio-político, analisá-lo, compará-lo com outros é uma tarefa complexa exigindo amplo grau de conhecimento. Não possuímos essas qualidades e não vamos nos aventurar em suposições. Também não é o propósito dessa matéria. Mas enquanto nenhuma dúvida subsiste sobre a todo o suporte humano e material que era destinado às equipes da DDR com vistas a conquistas desportivas internacionais, devemos também e sobretudo admitir que na ausência de uma boa metodologia de treinamento grande parte do trabalho estaria comprometido, não sendo demais lembrar que outros países possuíam na época semelhantes, ou até melhores, estruturações em recursos humanos e materiais e não alcançaram sucessos de tanto realce. Então as grandes vitórias dizem

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REFLEXÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DO TREINAMENTO ESPECÍFICO DE REMO NA EXTINTA DDR – REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DA ALEMANHA – COMPARAÇÃO DAS METODOLOGIAS

Introdução

Esse texto constitui uma reflexão buscando entender como, em linhas gerais, evoluíram os processos de treinamento na modalidade do treino específico, ou seja, o realizado no barco. Antes de adentrarmos no tema propriamente dito tentaremos resumidamente esclarecer as razões da escolha da fonte da metodológica, bem como do tipo de treinamento.

Quando se procura, como fonte de aplicação subsidiária, eleger um modelo de treinamento de alto nível aconselha o bom senso olhar inicialmente para os resultados internacionais de equipes das várias nacionalidades e distinguir dentre elas quais os mais consistentes. E essa consistência deve ser vista de forma temporal, qualitativa e quantitativa. Em outras palavras que país tem apresentado em eventos internacionais melhores resultados e obtido as mais significativas vitórias, e por quanto tempo. Estaremos então distinguindo os grandes vencedores e os melhores, dado que esses últimos não são necessariamente ganhadores de forma constante ou duradoura. Além disso, parece ser fundamental vislumbrar se o método usado apresenta bases científicas nas quais se assenta e ainda quanto à racionalidade na sua aplicação e controle de execução. E, sobretudo, se metodologia está difundida sob fontes formais, ou seja, publicada pela entidade autora. Essa última qualidade é de especial valor porque afasta suposições ou a inclusão de procedimentos de autenticidade duvidosa.

Como se sabe, a República Democrática da Alemanha, também conhecida como Alemanha Oriental ou Alemanha do Leste, instituída em 7/10/1949 e declarada soberana em 1954, coexistiu com a República Federal da Alemanha até 3 de outubro de 1990, quando se deu a reunificação do país. Apresentou ela um longo histórico de sucessos na modalidade esportiva do remo. Em Olimpíadas esse esporte sempre lhe foi fonte segura de medalhas. Tal êxito pode encontrar múltiplas explicações como o grande número de clubes e praticantes; a importância social e política conferida ao esporte; a existência nacional de fábricas de barcos e remo; os recursos financeiros; a estruturação, organização, e administração esportivas; os estudos científicos favorecendo a constituição de metodologias de treinamento; treinadores com boa formação, etc.

Concretizou-se especialmente ali uma política voltada para a projeção internacional desportiva. Aos atletas conferia-se um status privilegiado. Resultara então um Estado dotado de organização peculiar a qual incluía, acima de tudo, determinação de governo disponibilizando necessários recursos financeiros e aporte científico. Traduzia ainda a eleição de certas modalidades esportivas como prioritárias. E o remo, repita-se, era uma delas. Discorrer sobre esse modelo sócio-político, analisá-lo, compará-lo com outros é uma tarefa complexa exigindo amplo grau de conhecimento. Não possuímos essas qualidades e não vamos nos aventurar em suposições. Também não é o propósito dessa matéria.

Mas enquanto nenhuma dúvida subsiste sobre a todo o suporte humano e material que era destinado às equipes da DDR com vistas a conquistas desportivas internacionais, devemos também e sobretudo admitir que na ausência de uma boa metodologia de treinamento grande parte do trabalho estaria comprometido, não sendo demais lembrar que outros países possuíam na época semelhantes, ou até melhores, estruturações em recursos humanos e materiais e não alcançaram sucessos de tanto realce. Então as grandes vitórias dizem

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respeito, sobretudo quanto à forma de treinar, inteligência essa reforçada pelo desempenho de certas equipes de outras nações usando iguais métodos de treino.

Pela análise de vários fatos e circunstâncias somos levados a considerar que os pré-requisitos pesquisados para a eleição de metodologia sobre a qual pretendemos uma reflexão evolutiva progrediram em cerca de 25 anos , (entre as décadas de 1960 e 1985), na Alemanha do Leste e, o que é importante, foram atualizados com aplicação internacional válida até os dias de hoje. Essa escolha em nada deprecia excelentes sistemas e conquistas de outros países, envolvendo treinadores e remadores, onde se incluem, por exemplo, as grandes inovações paralelas contemporaneamente surgidas na própria República Federal da Alemanha, trazidas pelo professor Karl Adam, em trabalho realizado na Academia de Remo de Ratzeburg conjuntamente com outros experts, sobretudo com Dr. Paul E. Nowack no âmbito da área de fisiologia do esporte. Também se fazem necessárias justas referencias a Thor Nilsen cujo conjunto da obra, assume destacável valor pela transmissão universal de excelentes conhecimentos, frutos de seu sistemático trabalho com varias equipes internacionais de renome, abrindo para todos horizontes cujo acesso era até então restrito, e proporcionando uma elevação significativa do nível do remo em geral.

Então, repita-se, a escolha ora feita buscou e recaiu num modelo pelas qualidades acima enunciadas, sobressaindo a disciplina e o respeito a bases científicas, cujo correto uso tenha conduzido a alto rendimento durante anos seguidos. Não existe aqui, portanto, um juízo de mérito quanto ao melhor sistema, o mais renomado treinador ou melhores remadores. Posto isso trataremos de subseqüentes métodos oriundos da DDR e de seus atuais perfis, os quais atravessaram os tempos e foram adotados como padrão em vários países.

Como dito inicialmente o objeto de nossa reflexão é quanto a uma parte significativa da metodologia , entendida essa como maneira de fazer ou ensinar segundo certos princípios em determinada ordem. E para chegar ao que nos interessa vamos primeiro relembrar a diferença entre as diversas formas de treinamento. Como treinamento geral posicionam-se tipos absolutamente necessários para a formação atlética do remador. Trata-se então do treino fundamental no aprendizado da coordenação, assim como para desenvolver a força básica e a resistência de força. Podem-se utilizar várias modalidades acessórias tais como a corrida, esportes coletivos, pesos e alteres, ciclismo, natação, ski, etc. Já o treinamento semi- específico contem todas as formas de cargas de um encadeamento similar ao gesto do remador, no entanto falta o que chamamos de interação ( diálogo, associação) com o barco. Então podemos relacionar os treinos em ergômetro, no tanque, etc. Agora quanto às atividades efetuadas no gesto em barco, essas representam o real treinamento específico. É ele a nossa carga principal para melhorar a performance. Note-se que esse tipo de estímulo busca dois alvos. Um objetivo fisiológico em relação às áreas energéticas Um objetivo técnico em relação às exigências biomecânicas. Está muito claro que tanto para o esporte do remo, como para outros, o grande volume de preparação anual reside na modalidade específica. E se alguma dúvida subsiste basta perguntarmos quantos quilômetros nada um nadador por ano, quantos quilômetros corre um corredor, quanto pedala em sua bicicleta um ciclista, etc, e quanto comparativamente em volume esses atletas se utilizam de outros meios não específicos ou semi-específicos em sua preparação. Depois no remo três dos principais requisitos para uma boa performance (força-resistência , consumo de O2 e boa técnica) são adquiridos fundamentalmente nesse tipo de treinamento. Tudo isso reafirma a importância de se treinar nos tipos específicos, os quais acabam se traduzindo no núcleo de qualquer metodologia a ser usada. Paralelamente não se quer dizer que outras formas não sejam relevantes. Veja-se, por exemplo, no remo a consideração dada pelos técnicos às sessões com pesos (musculação). São feitas por quase todo o ano e em geral duas vezes na

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semana. No entanto o que se pretende aqui é uma reflexão sobre o treinamento específico dado o grande volume e intensidades assumidos em um ciclo anual de preparação de um remador e, conseguintemente no percentual de sua performance competitiva.

Uma ótima fonte formal sobre o que se preconizava na DDR quanto a fundamentos do remo está revelado numa publicação de editora especializada em temas desportivos, a “SPORVERLAG BERLIN” no livro “ RUDERN” (edição de 1970) Essa é uma obra de vários renomados autores , organizada pelo DR ERNEST HERBERGER. Deram-lhe contribuições: Gerhart Beyer, Dr. Dieter Harre, Hans Otto Kruger, Dr. Hans Querg, e Gehard Sieler. Esse livro despertou notável interesse internacional e foi editado não menos que cinco vezes. Na sua quarta edição referencia que os fundamentos fisiológicos de treinamento estavam lastreados nos conhecimentos encontrados em fonte importantíssima , qual seja, na obra do Dr. DIETRICH HARRE,” PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO”, editora Sportverag, E esses princípios vieram em muito de experiências e pesquisas científicas esportivas feitas na própria Alemanha do Leste O livro RUDERN de cunho oficial da Federação Alemã da DDR, foi muito divulgado internamente, seus ensinamentos adotados como padrão em todo o país e usufrui de respeito mundial como uma obra cuja maior parte do conteúdo encontra-se ainda hodiernamente válida . Trata-se de uma fonte excepcional em termos de fundamentos de remo, tanto pela objetividade como pela abrangência. E como todo o ensino do remo na DDR organizou-se sob suas bases, instituiu-se através do mesmo uma uniformização nacional de procedimentos.

. A última edição a que tivemos acesso do livro RUDERN data de 1985, porém então organizada por THEODOR KORNER e PETER SCHWANITZ, contando com a colaboração autoral de 24 doutores e professores. A comparação entre as edições de 1970 e 1985 permite ver que certos fundamentos não se alteraram, enquanto outros apresentaram modificações de seus perfis em razão de novos subsídios científicos, como se verá no decorrer da presente reflexão.

Além dessa obra, tantas outras editadas pela Sporverlag, foram divulgadas na mesma época e pela sua leitura vislumbra-se o aprofundamento na DDR em matéria de ciência aplicada ao esporte, sobretudo no âmbito da Universidade de Leipzig, deixando assentado que em termos de fundamentos ou princípios do treinamento ali se trabalhava em bases muito sólidas, construídas debaixo de sistemáticas experiências e pesquisas com atletas de alto nível, resultando em sistemas seguros e capazes de conduzir a bons resultados.

Passamos, pois, a refletir sobre métodos de treinamento, no enfoque do treino específico, adotados na DDR, nos esforçando para detectar a evolução através de quase quatro décadas e objetivando vislumbrar os proveitos para dias de hoje. Para isso dividiremos nosso tema e três partes. Na primeira cuidaremos dos ensinamentos constantes do livro RUDERN-edição de 1970. Na segunda trataremos das inovações advindas na edição de 1985. E na terceira procuraremos estabelecer um paralelo entre os modelos, tentando vislumbrar e entender as alterações mais significativas.

Treinamento de resistência Dos métodos do treino específico nos anos 70- Fonte RUDERN Esclarecimentos - Conforme se verá cada modelo ou tipo de treinamento, segundo suas características de distância, intensidade, volume, ritmo, intervalo, etc, era então conceituado como um método de treino. No entanto todos eles iam compor um elenco de atividades (ou conjunto de métodos – metodologia) coexistindo em sua aplicação segundo certos períodos para o aprimoramento da performance. Para mais fácil entendimento iremos destinar para cada

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“método” um texto descrevendo suas características, finalidades e efeitos esperados, bem como correspondentes gráficos e slides permitindo uma visualização de como deveria funcionar.

Outro registro esclarecedor é o de que cada método adotava em geral mais de uma faixa percentual de velocidade como referência. Essa velocidade estava expressa em metros por segundo (m/s). Ocorre que as informações são anteriores a 1970. Desse período até os dias de hoje os barcos e remos muito evoluíram em construção e os remadores em rendimento, logo são necessárias certas adaptações caso se pense numericamente nos modelos para a atualidade. Isso, no entanto é fácil porque de toda sorte os percentuais para os tipos de velocidade são os mesmos, os quais seriam aplicados nas marcas (resultados) da atualidade para se adequar então à velocidade em metros por segundo.

Vejamos um exemplo. Consideremos, como consta de gráfico a ser apresentado, um skiff com o melhor resultado médio de 8.00. Esse remador iria, por exemplo, treinar em velocidade moderada ( prevista de 70 a 84% percentuais ) em tempos de 11.26 a 9.32 para cada parcial de 2000m. Já em velocidade média (de 85 a 95% percentuais ) com tempos de 9.24 a 8.26 para cada parcial de 2.000 m . Então o seu andamento em metros por segundo para a velocidade moderada estaria entre 3,49 m/s e 2,91 m/s e para a velocidade média entre 3,54 m/s e 3,95 m/s. Trazendo esse sistema para os dias de hoje, imaginemos um singlista com o melhor resultado médio de 7.00 em 2000 m Ele iria realizar o treino em velocidade moderada com tempos entre 10,00 e 8.20 e na velocidade média entre 8.14 e 7.22 . E a sua velocidade moderada para treinamento estaria entre 3,33 m/s e 4,0 m/s e para velocidade média entre 4.04 m/s e 4,52 m/s

Tipos de velocidade Cada método usado estabelecia um plano de aplicação e avaliação de

treinamento. Então é necessário antes distinguir os diferentes tipos de velocidade do barco de remo os quais foram idealizados segundo os sistemas energéticos a mobilizar e qualidades a desenvolver. E isso é muito importante porque todo o sistema foi construído apoiando-se na velocidade, ou percentuais de velocidade usados para treinamento. Os tipos de velocidade, pelos seus percentuais, é que irão basicamente determinar as intensidades de cargas Pela tabela seguinte vemos quais seriam os tipos de velocidades, pelas quais estariam sendo determinadas as intensidades de trabalho ou de treinamento e com as quais se comporiam os métodos os quais veremos mais á frente.

Esclarecimento importante

Tabela de intensidade de carga

Intensidade de trabalho Porcentagem do melhor tempo na distância de Competição

Velocidade sub­máxima 101 a 105%

Velocidade de competição 96 a 100%

Velocidade média Homens 85 a 95% Mulheres 80 a 95%

Velocidade moderada Homens 70 a 84% Mulheres 65 a 79%

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Conforme se pode constatar existiam diferenças de limites percentuais entre homens e mulheres no que toca às velocidades moderada e média. Não se menciona uma razão para isso. Acredita-se, entretanto, que tais limites tenham advindo de fatos os quais passamos a relatar. É relevante considerar que na época em que construída essa padronização a distância oficial das provas para as mulheres era de 1000 metros e nela feitos os testes ou avaliações para encontrar a melhor performance média a qual serviria de base para o cálculo das referencias de velocidade. E como se sabe na distância de 1000 m ocorre maior utilização do sistema energético anaeróbico lático em comparação aos 2000 m Ao mesmo tempo, em tese, treinos nas velocidades moderada e média ocorriam com o uso predominante do sistema aeróbico. Podemos imaginar que estabeleceram-se as diferenças percentuais , não só porque os testes masculinos eram em 2000 m.e o das mulheres em 1000m, como porque as mulheres utilizavam menores proporções do sistema energético aeróbico em suas provas. No entanto, pelos conhecimentos atuais sob o aspecto de mobilização de sistemas energéticos ( parâmetro de dosagem de lactatos ), não deveria haver a distinção referida, entre homens e mulheres, quanto aos percentuais para treinamento nas velocidades moderada e média.

Cálculo das velocidades de referencia para treinamento Como se disse, os métodos de treinamento que serão apresentados

se orientam em muito pelas faixas de velocidade da embarcação. E cada uma delas mobilizaria, de forma peculiar e segundo as individualidades, um ou mais de um sistema energético, aos quais se agregariam outras qualidades (por exemplo, a resistência), Na aplicação e execução dos métodos existia então um pré-requisito para cada guarnição que seria saber quais eram as expressões numéricas das faixas de velocidade de sua embarcação segundo os tipos previstos nas metodologias. Em outras palavras em quantos metros por segundo deveria estar navegando o seu barco para cumprir as velocidades: moderada, média, de competição e sub-máxima.

A seguir demonstramos uma tabela (A) construída para essas referências e como se chegava a esse conhecimento. Partia-se da melhor performance média da guarnição ou do remador. Para isso eram tomados, quando do período de competições, três tempos em testes máximos de 2000 metros, com razoáveis dias de intervalos, sendo recomendável que feitos no mesmo local e em condições iguais (condições hidrológicas, meteorológicas, etc). Obtidas as marcas, estabelecia-se a média das mesmas, a qual seria a base para se calcular os percentuais para treinamento segundo os diversos métodos.(Tabela B ) Tabela A TABELA DE REFERENCIA PARA TREINAMENTO PERFORMANCE MÁXIMA MÉDIA DE 8:00 em 2.000 m­ 1 X H

V E L O C I D A D E S

DIST. SUB­MÁXIMA COMPETIÇÃO MÉDIA MODERADA 101% 105% 100% 96% 95% 85% 84% 70%

100 m 0:22.8 0:23.8 0:24.0 0:25.0 0:25.3 0:28.0 0:28.6 0:34.3% 200m 0:45.6 0:47.0 0:48.0 0:50.6 0:50.6 0:56.4 0:57.2 1:08.6 500m 1:54.0 1:59.0 2:00.0 2:05.0 2:06.5 2:21.0 2:23;0 2:51.5 1000m 3:48.0 3:58.0 4:00.0 4:10.0 4:13.0 4:42.0 4:46.0 5:43.0 2000m x X 8:00.0 8:20.0 8:26.0 9:24.0 9:32.0 11:26.0 5000m x X X X 21:05.0 23:30.0 23:50.0 28:35.0 10000m x X X X 42:10.0 47:00.0 47:40.0 71:10.0 15000m x X X X X x 71:30.0 85:45.0 20000m x X X X X x 95:20.0 114:20.0

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Pela tabela acima se calcularam os limites de treinamento em velocidade moderada e média. O mesmo procedimento servia para calcular demais velocidades (de competição e sub-máxima).

VISTA GERAL DOS MÉTODOS DE TREINAMENTO - FORMATAÇÃO (Tipificação pela forma de administrar as cargas)

Juntamente com os percentuais de velocidade ( que eram os principais fatores determinantes das intensidades dos estímulos ) , a duração dos estímulos, a sua distribuição e formatação (volume, continuidade , fracionamento, intervalos, etc) em uma sessão de treinamento viriam a delinear os vários métodos de treinamento específicos de resistência. Teríamos então formatos segundo cargas aplicadas continuamente (método contínuo e método alternado), e segundo cargas aplicadas com interrupção ou com intervalos (método de repetição e método intervalado). Existiam ainda dois outros formatos, eram eles, o método de repetições alternando cargas e o método intervalado alternando cargas. Esses dois últimos eram construídos com base nos métodos alternado, de repetição e intervalado. A figura abaixo nos dá uma exemplificação bastante clara sobre a classificação mencionada.

TABELA B CÁLCULO DE TEMPOS PERCENTUAIS COMO REFERENCIA

BARCO SIKFF HOMENS CONTROLES 15/jun 08:00 480 seg Tempo realizado OU DADOS 30/jun 07:55 475 seg Tempo realizado Média 480 seg ( em um mesmo 20/jun 08:05 485 seg Tempo realizado

estado de raia ) % VEL Vel m/s CÁLCULO 70 2,91 VELOCIDADE a a MODERADA 84 3,49

CÁLCULO 85 3,54 VELOCIDADE a a MÉDIA

95 3,95

PARAMETROS

TREINAMENTO

( controle )

480 x 100 : 70 = 686 seg ou 11.26 min Para velocidade moderada a 70 % 480x 100 : 84 = 571 seg ou 09.31 min para velocidade moderada a 84%

480 x 100 : 85 = 564 seg ou 9,24 min para velocidade média de 85% 480 x 100 : 95 = 505 seg ou 8.25 seg para velocidade média de 95%

Velocidade moderada­ entre 11.26 e 9.31 Velocidade média ­ entre 9,31 e 8.25

Em velocidade moderada­ mínimo de 70%­ 11.26 a cada 2000 de toda a distância do treino e máximo de 85% ­ 9.31 a cada 2000 m de toda a distância do treino

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METODOS DE TREINAMENTO ESPECÍFICOS DE RESISTÊNCIA SEGUNDO CARGAS CONTÍNUAS E DESCONTÍNUAS

Cargas contínuas Cargas intervaladas

Método Contínuo Método Alternado Método de Método Ex Ex repetição Intervalado 15 KM 24 RPM 2 min a 26 rpm Ex Ex

2 min a 22 rpm OU 2 min a 26 rpm 4 x 2.500 m 8 X 90 seg com

etc a 32 rpm intervalos entre 15 Km a 20 RPM com intervalos repetições de 5 Km a 24 RPM alternando por de 10 minutos 2', 2', 2', 10", 2', 2' 4 Km a 28 RPM 30 a 60 minutos 2' sem intervalo

Método Alternado de Repetições Método Alternado/ Intervalado Ex­

Ex­ 3 x 4000.m ­ frequência e aplicação de 6 vezes 1.000 m ­ frequência e aplicação de força alternando no ritmo sobre o percurso força alternando no ritmo do percurso 10 minutos de pausa entre cada 4.000 m Ex­ alternar

20 remadas a 38 rpm + 10 remadas a a 28 rpm com 10 minutos de intervalo após cada 1000m

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ANÁLISE DETALHADA DOS MÉTODOS - (Considerar as velocidades em m/s, nas colunas da direita, referentes ao tempo de 8 minutos como média das melhores marcas em 2000 m). O método contínuo

O método contínuo era constituído por cargas ou estímulos ininterruptos e constantes, mas poderia também prever gradual aumento de velocidade em limites pré-estabelecidos. Duração de estímulo mínima era de 30 minutos, situando-se o ótimo volume entre 60 e 120 minutos por sessão. Dependendo do nível do remador o ritmo deveria variar entre 20 e 28 remadas e a velocidade preferível se encontrar nos parâmetros de MODERADA. (velocidade do barco entre 70% e 84% para homens e de 65% a 79% para mulheres) O principal efeito esperado era o aumento da capacidade aeróbica. Aqui também se procurava adquirir boa técnica econômica, e evitar ou corrigir erros. Com essa metodologia pretendia-se, portanto, desenvolver a capacidade aeróbica. É importante aqui mencionar os limites de pulso (freqüência cardíaca) previstos - deveria estar entre 140 e 160 e a intensidade (força) em torno de 2/3 da máxima possível. E ainda quanto á freqüência cardíaca o limite de 160 seria atingido na parte final da sessão de treino Variante do método contínuo

Uma notável variante desse método era remar continuamente com gradual aumento de velocidade de MODERADA PARA MÉDIA (passando de 70/84% para 85/95% no caso dos homens, e de 65/79% para 80/95% no caso das mulheres) Essa obtenção de maior velocidade efetivava-se com o acréscimo de ritmo e da aplicação de força, ou alterando-se esses dois fatores. Com essa variante poder-se-ia subir o patamar de resistência básica mais rapidamente do que com o exclusivo uso da velocidade moderada, o que decorreria de mais alta exigência do metabolismo aeróbico, mobilizando a resistência e atributos psicológicos. Método Contínuo

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s velocidade de competição

velocidade média 3,5 m/s

velocidade moderada 3,0 m/s

2,5 m/s treino ineficaz quanto à intensidade

10 20 30 40 50 60 70 80 90 minutos

método contínuo com velocidade uniforme

método contínuo com acréscimo gradual de velocidade

A

B

A

B

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Método alternado Constituía uma forma de remo contínuo com característica de

intensidade intermitente, ou seja, a alteração da velocidade pela modificação do ritmo e da força na remada. Quando de sua execução era importante que nas fases ou momentos de estímulos mais baixos , quando diminuía a velocidade do barco , mesmo assim se deveria fazer com que ele navegasse acima da chamada VELOCIDADE INEFICAZ DE TREINO ou no limite inferior da velocidade MODERADA. Conforme se pode constatar pelo gráfico a velocidade resultante durante esse treino oscilava dentro da faixa das velocidades moderada e média. Geralmente os estímulos de baixa intensidade estariam no terço superior da faixa velocidade moderada e os de maior intensidade o terço inferior da faixa de velocidade média. A duração das fases de intensidade alta e baixa poderia variar. A duração da fase de carga baixa deveria ser no mínimo igual ao das cargas de alta. O uso do método alternado em conjunto com o contínuo ajudaria a aumentar com relativa rapidez a capacidade aeróbica, além de aprimorar a técnica em certa quantidade no ritmo alto, como também a aplicação da força. Seria interessante igualmente por introduzir variação no treinamento de resistência básica. Caso se pretendesse trabalhar com cargas logo abaixo do ritmo de competição essas deveriam variar de 1 a 10 minutos. Entretanto se fosse usada a velocidade de competição essa deveria durar entre 30 a 60 segundos. Seria então possível uma relativa variação de estímulos dentro do método alternado, tornando-o mais intenso, daí a duração do treino oscilar entre 30 e 60 minutos.

Método Alternado

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s velocidade de competição

velocidade média 3,5 m/s

3,0 m/s velocidade moderada

2,5 m/s área de treino ineficaz quanto à carga

4 8 12 16 20 24 28 32 34 minutos

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Método alternado com aumento de cargas e longa pausa de recuperação

Sua estrutura de cargas era semelhante ao método alternado, no entanto ocorreria uma subida de intensidade gradual na velocidade de competição. Como a velocidade de competição era atingida, a fase de carga maior deveria ficar entre 30 e 60 segundos, sendo que as fases de baixa intensidade deveriam durar no mínimo o mesmo que o das cargas altas, ou se alongarem até o ritmo normal da respiração de recuperação. Conforme se pode ver no gráfico após um bloco de subida de cargas onde se chegava quase ao limite superior da faixa de velocidade de competição, dever-se-ia dar um intervalo de recuperação ativo, quando então se remava na faixa de intensidade ineficaz. Em seguida um novo bloco de subida de cargas teria início. Também pelo gráfico é possível ver que quando das cargas baixas (salvo pelo intervalo) a velocidade beirava a que correspondia ao limite superior da velocidade moderada. Já no caso das cargas altas a velocidade saía inicialmente da parte superior da faixa de velocidade média e subia progressivamente a cada estágio dentro da faixa de velocidade de competição.

Efeitos do método alternado

O efeito essencial do método alternado era o desenvolvimento da resistência básica. Adicionalmente complexas adaptações poderiam ser produzidas através de adequadas proporções de aplicação de força e ritmo de remadas. Quando, ou se, uma maior velocidade fosse obtida principalmente pelo aumento de força, e sem o aumento de ritmo, um bom efeito de treinamento para o aumento de força teria sido particularmente produzido, desde que a maior força possível tivesse sido usada. Se a velocidade de competição fosse muito usada na fase dos estímulos altos o treinamento estaria sendo direcionado para o período de competições. E isso

Método alternado Com aumento de carga e intervalo

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s velociade de competição

3,5 m/s velocidade média

3,0 m/s velocidade moderada

2,5 m/s

4 8 12 16 20 24 28 30 minutos

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produziria o desenvolvimento do processo anaeróbico lático. Esse método também serviria para desenvolver ritmo de competição quando eram feitos ajustes nesse sentido

Variantes

Diferentes métodos poderiam ser combinados em uma sessão de treinamento. Um exemplo é a estruturação em séries. Nesse caso uma pausa podia ser estabelecida após a seqüência da administração de cargas, de, por exemplo, 8 a 20 minutos e depois da mesma um novo estímulo igual ou parecido se iniciaria.

EXEMPLO PARA UM BARCO DE OITO REMADORES 1ª Série Estímulo 120 remadas +60 R +120 R +60 R etc Ritmo 32 rpm 36 32 36 etc Intervalo 5/10 min. 2ª Série Estímulo 120 remadas + 120 + 120 + 120 etc Ritmo 34 rpm 36 34 36 3tc Intervalo 20 min. 3ª Série Estímulo 60 remadas + 60 R + 60R + 60R etc Ritmo 36 rpm 26 36 26 etc Intervalos ativos com técnica

Método de repetição O método de repetição manejava cargas em distancias mais longas

que as da competição e eram repetidas várias vezes em uma sessão de treinamento, sendo interrompidas por pausas de recuperação ativa. Essas distâncias variavam de 2000 a 5000 metros A velocidade MÉDIA era geralmente a preferida nesse tipo de treino. O tempo de recuperação era estimado com base nas condições individuais de treinamento, distância percorrida e velocidade em que cumprido o percurso (quantidade e qualidade do estímulo anterior à recuperação) Geralmente esses intervalos iam de 5 a 15 minutos. O tempo total por sessão de treinamento (dos estímulos) alcançava 8 a 15 km.

Efeitos – Esse método desenvolveria primariamente a resistência básica juntamente com certa quantidade de resistência específica de competição. Quando a duração dos estímulos era relativamente longa assegurava-se a utilização quase exclusiva do metabolismo aeróbico. Como a velocidade se avizinhava da velocidade de competição haveria uma boa demanda de força. Esse método não estava condicionado ao uso da velocidade MÉDIA, e poderia ser aplicado na velocidade MODERADA. Atletas bem treinados utilizando o método de repetição poderiam trabalhar com extensas cargas de resistência

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Método de repetição com velocidade moderada

Método de repetição com velocidade média Métodos de Treinamento específico de resistência Método de repetição Com velocidade média

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s velocidade de competição

velocidade média 3,5 m/s

Velocidade moderada 3,0 m/s

2,5 m/s área de treino ineficaz quanto à carga

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Km

Exemplo ­ 3 x 4000 com intervalo de 2 km ou 10 minutos Velocidade média

Métodos de Treinamento específico de resistência Método de repetição Com velocidade moderada

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s velocidade de competição

velocidade média 3,5 m/s

velocidade moderada

3,0 m/s

2,5 m/s área de treino ineficaz quanto à carga

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Km

Exemplo ­ 7 x 2000 com intervalo de 1 km Velocidade moderada­ de 75%

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Método intervalado Esse método caracteriza-se pela repetição de cargas sobre partes da

distância da competição. Fraciona-se a distância total. Após cada estímulo (repetição) eram dados intervalos de recuperação. Os intervalos poderiam ser ativos ou passivos. Quando ativos remava-se com muito baixa aplicação de força. Quando passivos não deveriam ser superiores a 5 minutos. Quando as distâncias, intervalos e velocidade eram combinados de diversas maneiras surgiam numerosas variações. Dependendo da duração das cargas o método de intervalo podia ser conceituado como curto, médio e longo, conforme envolviam respectivamente 15 segundos a 2 minutos, 2 a 8 minutos e 8 a 15 minutos. Há controvérsia sobre o valor do método intervalado em desenvolver condições de performance no remo. Muito embora esse método não ocupasse para o treinamento do remo uma posição de destaque, poderia ser usado para programar certas condições para as quais outros métodos eram menos usados

Era utilizado predominantemente para preparar os remadores em condições específicas imediatamente antes de competições. O remador era solicitado em ótimos limites de ritmo, de resistência, de força e, eventualmente na mais alta velocidade para a embarcação. É importante mencionar que se distinguiam duas formas de método intervalado. Uma delas era baseada na distância do estímulo. A outra na velocidade usada durante a carga. Então podemos para fins de classificação nomeá-los de tipo 1 e tipo 2 A figura abaixo mostra o diagrama do método intervalado com repetições de alta intensidade de cargas alternadas com interrupções, intervalos nos quais se rema em área de ineficácia de estímulo Método intervalado

Método intervalado

m/s

4,5 m/s

4,0 m/s

3,5 m/s

3,0 m/s

2,5 m/s

4 8 12 16 20 24 28 minutos

velocidade de competição velocidade média velocidade moderada área de carga ineficaz

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Características do método intervalado tipo 1 - Distâncias entre 250 e 1500 metros. Velocidade e ritmo objetivando a próxima competição. Os intervalos deveriam ser ajustados para assegurar que a performance não fosse comprometida. A regra básica para se determinar a pausa era a seguinte. Para os iniciantes pausa mais longa que a duração do estímulo. Para os já desenvolvidos a duração da pausa deveria ser igual à do estímulo. Para os remadores elite a pausa deveria ser mais curta que a da duração da carga. O volume de cargas numa sessão de treinamento deveria corresponder a cerca de duas a três vezes aquela da distância da prova (por exemplo, 600 a 900 remadas se a prova fosse de 2000 m) e dividido em séries. E a pausa entre séries deveria ser mais longa que aquela entre estímulos. Quanto ao principal objetivo desse tipo de treino, seria o de preparar os remadores nas condições imediatamente antes da competição. Relativamente aos efeitos, solicitaria dos remadores uma freqüência ótima de remadas, um ótimo esforço de resistência e eventualmente uma favorável velocidade média, dependendo da capacidade de performance

Características do método intervalado tipo 2 – Com esse tipo trabalhava-se para a resistência de velocidade, aumentando a capacidade de mobilização do metabolismo anaeróbico em conjunto com a capacidade neuro-motora do remador. A potência seria especialmente desenvolvida em razão da alta força exigida. Considerava-se que esse processo gerava um alto nível de esgotamento das reservas energéticas, influenciando negativamente as trocas metabólicas aeróbicas e a performance do sistema cardiovascular. Recomendava-se o seu uso de forma bem moderada.

A carga nesse método INTERVALADO não era sempre caracterizada pela uniformidade da velocidade.

Eram aceitáveis as seguinte formas de carga . A- “tempo-training “ – Velocidade e ritmo permaneciam iguais. Usava-se essa fórmula para

desenvolver adaptação quanto ao ritmo e velocidade

B- . - Com aumento da velocidade-O ritmo e a força aumentavam a cada fase. Servia para trabalhar uma ótima técnica debaixo do aumento de demanda de certas condições –

C- - Alternando “tempo –training”- O ritmo e a aplicação de força variavam nas partes de cada percurso. Exemplo – partida, percurso e chegada. Essa forma servia principalmente para o trabalho de transição da partida para uma ótima velocidade média de percurso e ainda promoveria uma habilidade para o sprint final.

D- - Partes iguais - A essência dessa fórmula era compor uma igualdade de distâncias, cargas e intervalos. Por exemplo, 6 x 500 m com pausas de 5 minutos: ou 5 séries de 10 X 1 minuto, com pausas de 1 minuto entre estímulos e de 5 minutos entre as séries-

E- - Combinação das partes - Curtas, médias e longas partes (distâncias) eram combinadas. Por exemplo – 4 x 200 m (em velocidade sub-máxima) + 4 x 500m (em velocidade de competição) + 2 x 1000 m (em velocidade média) + 4 x 200m m (em velocidade sub- máxima) Sob o ponto de vista fisiológico e psicológico essa formula seria mais efetiva e rica; e sua variedade ajudaria a prevenir a criação de uma resistência estereotipada.

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Outra possível variação dessa forma seria a alterar a duração da carga em cada subseqüente repetição. Por exemplo: 10 remadas+40+80+120+200+120+80+40+20+10 (também com correspondente variação de intervalos ou variando o ritmo de remadas.

Método de avaliação controle e competição

Este método era caracterizado pelo remo na distância da regata ou em distâncias maiores ou menores que aquela., e com a mais alta aplicação possível de força. Cargas desse perfil eram repetidas uma a duas vezes. Para a resistência básica os testes previstos eram de 5000 até 10000m. Previam-se também e paralelamente testes em corrida. Ergômetro, etc, que serviam de parâmetros de comparação.

Controles específicos

Os testes de avaliação e controle se inserem também na metodologia de treinamento, razão pela qual faremos uma referência aos mesmos. O controle da resistência básica seria realizada nas distâncias de 5000 e 10 000 m , em skiff., e em testes específicos. Também em treinamento, sobre distâncias entre 5 e 20 km era feito um controle. Já a resistência de competição era analisada sobre 2000 m, observando-se os tempos intermediários de cada 250, quando também seria possível estimar a tática para a performance Além disso, usavam-se dois tipos de avaliações importantes. Vejamos

Determinação do fator resistência

Após dois testes separados (um em 500m e outro em 2000 m) calculava-se a diferença entre o resultado dos 500 m e o tempo médio de 500m apurado sobre o teste de 2000 m . A diferença entre esses tempos determinava a fator resistência. Essa medida representa um valor quantitativo de fadiga Exemplo Média de 500 m sobre 2000 – 1.32,6 500 m máximo – 1.25 Diferença – 7,5 seg.- fator resistência Quanto maior a diferença pior é a resistência específica de competição

Considerava-se que os resultados em distâncias curtas eram determinados principalmente pelo nível de potência máxima e pela resistência de velocidade, enquanto os resultados em 2000 m dependeriam de uma grande extensão da capacidade do sistema cardiovascular. Então um fator de resistência baixo indicaria uma capacidade pouco desenvolvida do sistema cardiovascular em comparação com a máxima potência e a resistência de velocidade. Isso indicaria a necessidade de melhorar a performance com um treinamento para resistência básica. No entanto se um bom tempo era obtido na distância de competição (2000 m) e o resultado nos 500 m não era significativo, isso traduziria a necessidade de desenvolver um trabalho para a potência máxima e para a resistência de velocidade.

A resistência de velocidade era testada em distâncias relativamente curtas e remadas à mais alta velocidade possível. (350 a 500 m). Um dos critérios para avaliar a resistência de velocidade era a melhora do tempo para cumprir uma determinada distância na maior velocidade média possível, observada a diminuição de perda de velocidade entre os 300 e 500 metros iniciais da prova

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Determinação do fator competição

Era analisado sob o resultado de um teste máximo de 2000 m O tempo dos primeiros 500 ou dos 1000 m era usado para se calcular

o fator competição. O tempo dos 500 m iniciais era multiplicado por 4, obtendo-se então os supostos 100% da performance ideal. No caso da referencia de 1000 m multiplicava-se por 2. A diferença entre esse produto e o tempo tomado nos 500 iniciais representava o fator competição. Devem ser vistos, entretanto, os fatores táticos, de amadurecimento da guarnição, etc. Exemplo 500 m iniciais- 1.26,5 (86,5 seg.) 2000 m em 6.00 (360 seg.) 4 x 86,5 = 346 seg. 360-346= 14 seg. 14 seg. representam 4, 04 % de 346 Fator competição 4,04%

Uma alta percentagem indicaria que a guarnição remou 500 m iniciais muito rapidamente e não foi capaz de manter a velocidade ou repetir o tempo. Se o fator competição era baixo indicaria que as parciais foram bem divididas correta e economicamente. Se, entretanto, o tempo final não era bom a velocidade teria sido muito baixa.

Como se pode verificar existia uma diferença entre o fator resistência e o fator competição. Mas deveriam ser analisados em conjunto. E ambos lidariam, além de seus objetivos específicos, com a capacidade do remador manter a velocidade média como a mais alta possível durante as 220 ou 240 do percurso da prova.

Um parâmetro interessante

Um parâmetro muito interessante para se observar e avaliar o resultado de competição era baseado na diferença de velocidade existente entre os diferentes tipos ( classes) de barcos. Trata-se do tempo comparativo respeitando as diferentes velocidades dos tipos de barcos. Estudos feitos por Bormann e Sheyer, em análise de regatas, e tomando como referência a velocidade do oito, estabeleceram percentuais de velocidade para os demais barcos frente ao paradigma, ou as diferenças de tempos entre eles. Veja-se a tabela

BARCO BORGMANN - em segundos

SCHEYER - em percentual

8 0 100% 4- 28 A 34 SEG 91 A 93% 4+ 39 A 47 SEG 88 A90% 2x 43 A 53 SEG 86 A 89% 2- 63 A 79 SEG 81 A 85 % 1X 75 A 82 SEG 81 a 83% 2+ 87 A 94 SEG 79 a 80%

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Obs.- trata-se de uma tabela anterior a 1970. Construída para 2000m Homens Formula - TEMPO COMPARATIVO = tempo do 8 x 100

Tempo do barco sob exame

Exemplo – oito de 6.12 (372 s) comparado com tempo de 6.52 (412 s) feito por outro tipo de barco (ex 4+) 372x100 = 89,4% (percentual do barco sob análise em comparação com o oito)

412

De uma forma geral esses eram os modelos de treinamento adotados então

Aspectos relevantes dessas metodologias de treinamento até agora relacionadas

Os requisitos para um bom desempenho em uma prova de remo, considerando os sistemas de produção de energia intervenientes, inclusive por sua distribuição no percurso da prova são mencionados nessa edição do RUDERN, e diferem um pouco, mas não tanto, do que se considera hoje. Dava-se então ênfase ao desenvolvimento da resistência, e a maioria dos métodos acima relacionados objetivava aumentar essa capacidade. E esses métodos foram construídos debaixo de avaliações e experiências. Consideravam-se relevantes os seguintes aspectos, os quais de certa forma eram também seus fundamentos.

1- A capacidade aeróbica era tida como necessária para bom nível de resistência. Ela podia melhor ser desenvolvida pelo treino em velocidade abaixo da usada em competição e requerendo a utilização exclusiva do metabolismo aeróbico. O critério para manter o treino nesse sistema era a freqüência cardíaca entre 140 e 160 batimentos por minuto. Grande volume de cargas com treinos de longa duração (distancias) deveria ser objetivado

• A resistência básica sendo mais bem desenvolvida através de um grande volume de cargas em moderada e média velocidades

2- A capacidade anaeróbica, a qual suportaria a resistência de velocidade, e o sistema neuro- motor, os quais tidos como necessários para atividades motoras rápidas, só seriam desenvolvidos pelas cargas intensas. A velocidade aconselhada giraria em torno ou maior que a de competição

* A resistência de velocidade seria mais bem desenvolvida através de cargas em alta velocidade

3- Em adição, e trata-se de uma informação muito importante, uma terceira forma de carga devia ser acrescentada. A distância da competição de remo requer uma forma específica de resistência, a qual era definida como “resistência específica de competição” . A resistência básica, a resistência de velocidade e a resistência de força seriam pré- requisitos e componentes da resistência específica de competição. Para desenvolver uma conexão estrutural entre esses parâmetros de resistência objetivando rendimento eram necessárias competições e formas de carga de treinamento que correspondam a essa característica . Com o mesmo perfil poderia ser usada a metade da distância da competição * A resistência específica de competição seria melhor desenvolvida através de competições ou cargas de treinamento planejadas como tal.

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Princípios básicos para a planificação anual

Esse tópico, diante da característica dessa reflexão, é uma informação adicional, já que diz respeito à planificação anual do treinamento. Vislumbra-se interesse ao referenciá-lo porque é onde se destaca a importância dada a cada método pelas qualidades perseguidas na constituição da performance.

1- A resistência básica era considerada fator decisivo na capacidade de performance em competições. Os limites da capacidade individual para trabalhar com cargas e o tempo necessário para recomposição eram também determinados pelo rendimento funcional do músculo cardíaco e sistema circulatório. Um remador com resistência básica bem desenvolvida poderia tolerar alta carga competitiva

2- O critério mais importante para o desenvolvimento à resistência era o volume de cargas

3- Cargas longas em velocidade média deviam absorver uma boa porcentagem frente a todo o volume do treinamento, não apenas no meio do ano, mas em todos os estágios do ciclo anual.

4- Cada sessão de treinamento de resistência devia solicitar ótimos volume e intensidade. Remar em área (faixa) de intensidade ineficaz só deveria ser admitido para instruções técnicas e na recuperação ativa

5- A resistência deveria ser desenvolvida através de múltiplas formas do método básico. Após um inicial aumento de performance o uso prolongado de um método quanto a intensidade e formas de cargas levariam à geração de uma performance estacionária de resistência estereotipada

6- Ao lado do remo outras modalidades de treino poderiam ser incluídas para a obtenção da resistência, como por exemplo, a corrida, o ciclismo,a ginástica, a natação, os jogos, etc

7- O treinamento de resistência deveria ser estruturado de forma que as cargas e performances fossem mensuráveis

8- A resistência deveria ser reavaliada regularmente. Primeiro criando uma base sólida e então aplicando cargas específicas de competição.

9- Primeiro uma base deveria ser desenvolvida e só então cargas de treino específico de competição deveriam ser introduzidas.

10- A resistência básica, a resistência de velocidade e a resistência de força eram tidos como pré-requisitos e componentes da resistência específica de competição. Para desenvolver uma conexão estrutural entre esses parâmetros de resistência objetivando rendimento

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seriam necessárias competições e formas de carga de treinamento que correspondessem a essa característica . Com o mesmo perfil poderia ser usada a metade da distância da competição

Algumas observações até aqui

Conforme é fácil constatar os diversos tipos de treinos mostrados apresentam uma estruturação destinada a trabalhar com fontes energéticas vinculadas ao desenvolvimento de qualidades necessárias ao bom desempenho numa prova de remo. A maior parte desses métodos priorizava a resistência e capacidade aeróbica. O controle no treinamento era feito tanto pelas faixas de velocidade percorridas (sendo média e moderada as mais utilizadas), como pela freqüência cardíaca, ou antes, pela conjugação desses dois parâmetros. Encontram-se, é verdade, entre os métodos aqueles ensejariam o trabalho com fontes anaeróbicas láticas. No entanto quando se verificam os planejamentos detalhados dos ciclos e períodos de treinamento, constata-se a intenção de mobilizar esse sistema mais acentuadamente quando do período de competições, e mesmo assim em percentual não muito grande frente ao volume dos treinos com perfil aeróbico e resistência básica. Mas deve-se, entretanto, considerar as menções feitas à capacidade do remador para suportar alto nível de ácido lático, e sobre isso trataremos de forma especial mais à frente.

Um aspecto importante a se considerar é quanto ao controle. Não se mencionava a dosagem de lactatos como instrumento tipificador de treinamentos aeróbicos ou anaeróbicos. Embora boa exposição se encontre na fonte formal ( RUDERN ed. 1970 ) relativamente aos sistemas energéticas mobilizáveis para uma boa performance no remo, chamando atenção quanto à necessidade da predominância de treinos aeróbicos e sobre o risco da impregnação ácida do sangue ( acidose ) trazida pelo treino anaeróbico, o fato é que não se revelou nessa edição do livro outra forma de controle dos sistemas energéticos que não fosse da freqüência cardíaca conjugada com a velocidade do barco.

A EVOLUÇÃO – NOVOS CONHECIMENTOS

RUDERN – edição de 1985

A edição do RUDERN, datada de 1985, apresentou, como já referenciado no preâmbulo desse texto, um perfil bem diferente. Há nela um grande aprofundamento científico. Em vasto material discorrem-se cientificamente sobre os sistemas energéticos ( inclusive nas proporções ) envolvidos no desempenho do remo, trocas metabólicas, tipos e atuação de fibras musculares, etc. Adentra-se verdadeiramente na área da bioquímica. E são referenciados perfis de treinamento, os quais assentados naquelas bases. Conclui-se afirmando pela necessidade de aprimorar os sistemas energéticos nas proporções em que atuam na competição e com base no que devem ser construídos os modelos de treinamento, enfatizando-

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se que diante dessas conclusões não existe outra forma mais adequada para melhorar a performance em nosso esporte.

Sobressai, e isso muito marcante, a orientação para se construir e orientar a execução dos treinamentos segundo modelos mobilizando os sistemas energéticos envolvidos na prova de remo, para cuja tipificação o critério seja a quantidade de lactatos sanguíneos produzidos. Demonstra-se também como manejar corretamente os programas de treinos em razão dos substratos utilizados nas diversas formas de estímulos, assim como os repousos necessários para eliminação de toxinas e recomposição de reservas energéticas, o que conduz à chamada compatibilização das formas de treinos para uma mesma sessão, assim como aos intervalos necessários para a repetição de um tipo de treino num mesmo micro-ciclo.

Em resumo pode-se dizer que se assentam bases científicas muito consistentes sobre as quais é possível elaborar programas de treinamento de uma forma racional e segura e, sobretudo , descartando procedimentos prejudiciais à evolução da performance dos remadores. Diante do objeto da presente análise parece-nos de especial interesse um gráfico constante da página 163 dessa edição, pelo qual nos é dada uma visão muito precisa e adequada de como a partir de então se revelavam cientificamente os controles dos treinamentos segundo os sistemas energéticos mobilizados. Esse gráfico é importantíssimo.

Vejamos

TREINAMENTO ­ CURVAS SEGUNDO MOBILIZAÇÃO DE ÁCIDO LÁTICO LIMIARES AERÓBICO E ANAERÓBICO

INTENSIDADE DE DIAGNÓSTICO TREINO

Area de treino para desenvolvimento da capacidade aeróbica

C > L Limite de desenvolvimento

L~C Estabilização e economia

L<C Area de compensação

carga C­ Carboidratos L­ Lipidios

Lactatos ( pulso/minuto ) 4.0 170 2.0 130 Controle de treino CARGA ( RENDIMENTO )

L­4.0 L­4,0

L­ 4,0 L­ 2,0

Valor limite respiratório Parâmetro

Propor­ ção de substra­ tos

6.

4

2

O

lactatos mmol

limiar aneróbico

limiar aeróbico

Transição aeróbico/ anaeróbico

CURVAS DE LACTATO

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Constatam-se as seguintes informações as quais de forma alguma podem ser desprezadas quando da elaboração e execução de planos ou programas de treinamento.

1- o limite aeróbico com predominância de lipídios como substrato encontra-se numa concentração de lactatos de 2 mmol/l.

2- Para uma concentração de lactatos de 2 a 4 mmol/l estaríamos numa faixa de estabilização e economia , ocorrendo equilíbrio quanto aos substratos mobilizados (lipídios e glicídios). Essa é a faixa mais importante e na qual deveriam se situar os treinamentos em remo para a resistência básica.

3- Em 4 mmol/l se encontraria o limite para a entrada no sistema anaeróbico, e nesse patamar o gasto energético predominante seria dos glicídios

4- A curva de subida de lactatos torna-se quase vertical após se atingir 4.0 mmol, demonstrando um aumento rápido e exponencial.

5- A área de compensação encontra-se abaixo de 2,0 mmol de lactatos 6- De 4 a 6 mmol de lactatos há o limite de desenvolvimento aeróbico e a partir de 6

mmol encontra-se a área de desenvolvimento da capacidade anaeróbica. 7- Relativamente ao pulso/minuto a ser considerado os valores estariam em torno de 170

para o limite anaeróbico (produção de 4 mmol de lactatos) e em torno de 130 para uma faixa de 2 mmol, No entanto é necessário mencionar que esses dados representam um valor colhido pela média num determinado universo de remadores, não sendo, pois uma referencia nominal absoluta, mas uma mera medida estimativa.

Em RUDERN - edição de 1985 - não se encontram modelos de treinamento como minuciosamente construídos e especificados na edição de 1970. Mas são descritas como formas genericamente adequadas: o treino de longo percurso ou longa duração, o treino fracionado (distancias fracionadas) o treino de longa duração com maior intensidade, treino de velocidade, treino intervalado, etc., tipos esses que pouco diferem em nomenclatura do que foi visto na edição Rudern 1970. No entanto para cada um dos tipos são apresentados fundamentos científicos revelando-se quando e como executá-los, que sistemas e fontes energéticas são mobilizados, quais efeitos esperarem, que qualidades desenvolvem, em que períodos e em que percentuais devem ser usados, quais os intervalos adequados para recuperação, compatibilização entre modelos, etc. Enfim, ali são expostas as bases de suporte científico às boas formas de treino que possam ser idealizadas. Em outras palavras, estão ditos quais tipos de treinamento são adequados à obtenção de bons resultados, e passadas informações com e pelas quais possam ser construídos esses treinos. Tratam-se de ensinamentos de grande valor, responsáveis pelas alterações metodológicas como veremos a seguir. Registre-se que os modelos de treino que serão apresentados não constam do RUDERN. Mas é certo que foram construídos pelos responsáveis técnicos das equipes de remo DDR, respeitando-se as bases científicas, aliadas aos conhecimentos práticos.

Como já dito anteriormente o objetivo aqui pretendido é a uma reflexão comparativa para tentar entender em linhas gerais como e porque uma determinada metodologia evoluiu. Esse progresso, já repetimos bastante, deve-se aos conhecimentos científicos, embora as experimentações práticas tenham também muito contribuído. Para o nosso propósito parece mais interessante não nos detemos em pormenorizações de ciência, senão as absolutamente necessárias. A partir desse raciocínio a idéia que nos ocorre é apresentar um quadro discriminado dos novos modelos de treinamentos construídos e utilizados. E então estaremos falando de moldes atuais da metodologia egressa da DDR, repassada por experientes

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treinadores alemães, principalmente os que foram trabalhar em outros países. No caso presente utilizamos o que foi transmitido por um deles, Ebehard Mund para a Federação Francesa de Remo, sendo adotado oficialmente como um sistema nacional sobre o qual se assenta a planificação de treinamento de remo naquele país e que vem sendo utilizado há 12 ano desde sua implantação. E coube ao excelente treinador Bruno Boucher, daquela federação, repassá-lo aos técnicos brasileiros. Essa transmissão deu-se em curso realizado em 2005, no Centro de Treinamento de Vôlei, em Saquarema, em nova estada no Rio de Janeiro, e também pela formulação de planos de treinamento para a equipe nacional do Brasil. O material gráfico de modelos de treinos que se seguirá ( incluindo slides em anexos de testes e avaliações ) foi apresentado no já referido curso, integra o complexo básico da planificação do remo Francês, constituindo, portanto, uma fonte formal de treinos elaborados com base em ensinamentos contidos na edição de Rudern de 1985

Repetimos, portanto, que veremos a seguir modelos de treinos prevendo cada um deles : sistemas energéticos utilizados, lactatos produzidos, freqüência cardíaca, velocidade referencial, intervalos de recuperação, compatibilização com outros modelos de treino, período e percentuais adequados, etc. Enfim, cada modelo tem a sua finalidade, limites de delineamento e com o complexo dos mesmos formula-se o planejamento de um ciclo anual de treinamento. Registre-se que apesar de todas as inovações, o parâmetro “velocidade de referencia” continuou a ser o eixo de orientação. Mas apenas com uma diferença, como se verá mais para frente. É que nos modelos antigos a velocidade de referencia era obtida pelos resultados do próprio remador e depois passou a ser a de expectativa de futura marca olímpica para cada tipo de barco. Em outras palavras se antes o remador se orientava sob velocidades que eram percentuais da média de seus próprios melhores resultados, passou a treinar sob percentuais de velocidade de tempos prognosticados, para o final de cada 4 anos, para vencedores de provas olímpicas ou de campeonatos mundiais. Vamos iniciar pelos tempos prognosticados para a Olimpíada de 2008, seguindo com os modelos de treinos e outras informações concernentes. Para facilitar a compreensão apresentaremos uma seqüência de quadros com resumos do acima referenciado.

OS TEMPOS DE REFERENCIA

OS TEMPOS DE REFERENCIA

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4

n n 2000m / tempo de referência = Veloc.re fer. 2000m / tempo de referência = Veloc.re fer.

n n 2000m / tempo realizado = Veloc.realizada 2000m / tempo realizado = Veloc.realizada

n n V.ref /V .rea x 100 = % do tempo de V .ref /V .rea x 100 = % do tempo de referência referência – – ca lcu lar em metros/segundos ca lcular em metros/segundos

n n 1X M : 1X M : 2000 / 6 ’32” ( 392s) = 5,102 m /s 2000 / 6 ’32” ( 392s) = 5,102 m /s

n n Tps realiz = 2000 / 6 ’48” ( 408 s)= 4,902 m /s Tps realiz = 2000 / 6 ’48” ( 408 s)= 4,902 m /s

n n (4,902 / 5,102) x 100 = 96,07% (4,902 / 5,102) x 100 = 96,07%

Os tempos de referência

Treino dos fatores físicos Treino dos fatores físicos

Modo de cálculo

9

O catálogo do treino

Todas as atvidades efetuadas no gesto em barco representam treinamento específico. É a nossa carga principa l para desenvolver a performance

É necessário colocar em evidência esse treinamento sob dois objetivos :

- Um objectivo fisiologico em relação com as file iras énergéticas,

- um objectivo técnico em relação com as exigências biomecânicas.

Essa ocorrência é essencial para um progresso físico explorável para a velocidade do barco. Segundo a potência aplicada e a duração do esforço, distinguem-se aqui as três vias de produção de energia que se fazem necessárias a uma boa planificação

3

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

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O catálogo do treino

-Treino aérobico É a carga principal. Representa cerca de 90% da quantidade de treinamento específ ico. É necessário novamente assinalar que esse treinamento deve ser realizado no metabolismo aeróbico. Conhecemos os parâmetros perm itindo controlar, como por exemplo, a frequência cardíaca e a taxa de lactatos. Para que esse treinamento seja eficaz, é preciso igua lmente respeitar durante toda sessão. a estrutura e a dinâm ica do gesto técnico as quais asseguram a propulsão máx ima a cada remada Trata-se da remada que será a base de todas as remadas durante a competição

O Treino aérobico (tipo B1 e B2) è o treino de base do remador de competição. Entra em 70% na realização da performance de competição.

3

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

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O catálogo do tre ino

-O tre ino anaérobico alático É um treinamento que perm ite a performance na partida e no « sprint « fina l da prova. Ele pode ser realizado durante todo o ano para ativação desse metabo lism o. É compatível com cargas aeróbicas e deve integrar em proporção modesta ( cerca de 2% ) a totalidade do tre inamento específico. Esses 2% são suficientes para desenvolver e manter a capacidade anaeróbica alática para a performance acima mencionada

A sua quota-parte na rea lização da performance total em compétição é muito fraca. No entanto o desenvolvimento desta qualidade é de extrema importância.

3

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

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O catálogo do treino

- O treino anaérobico lático É o treino que desenvolve a energia necessária à fase de transição. Essa via contínua deve ser utilizada em adição à fileira aeróbica durante toda a competição. Sua quota-parte na realização da performance em competição é de cerca de 15% Ele representa por volta de 8% de quantidade do treino espécifico (competiçôes compreendidas).

Esse tipo de treinamento está concentrado no período de competição. Durante o transcorrer dessa fase de condicionamento torna-se necessário, de tempos em tempos, mobilizar esse metabolismo para ativar as enzimas as quais sáo absolutamente necessárias para essa via de produção energética Torna-se então preciso prestar atenção quanto à sua compatibilidade com outras sessões de treino porque a combinação com outras cargas láticas , gerais e sem i- específicas, pode produzir uma regressão na performance aeróbica.

3

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

14

O catálogo do treino

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

FORÇA­RESISTÊNCIA ESPECÍFICA Objetivos e realização Duração

2 x 30 a 45’ Km

da sessão Cadência % velocidade referencia

Freqüência cardíaca

Lactatos Mmol/l

Objetivo energético

Força­resistência aeróbica fundamental

Objetivo energético - Força-resistência aeróbica fundamental

Objetivo biomecânico - Propulsão máxima por remada nos limites do metabolismo

Realização- Remada potente, recuperação quando da fase volta à proa- Remar sem pausa

Séries entre 6 a 10 vezes 10 remadas em sprint podem ser inseridas com a condição de

retornar após à série para a qualidade B1 ( intervalo entre séries de não menos 5 minutos)

Aplicação Todo o ano mesmo quando do período de competição

Compatibilidade fisiológica no mesmo dia Compatível com todas as outras exigências fisiológicas

das as outras exigências fisiológicas

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O catá logo do tre ino

T re ino T re ino dos dos fatores f ís icos fatores f ís icos

FORÇA ­ RES ISTÊNC IA ESPEC ÍFICA

Objetivo energé tic o - Força-resistênc ia aerób ica fundam enta l

Objetivo m ecânic o - Propu lsão m áx im a por remada nos lim ites do metabolismo

Rea lização-

Remada potente, recuperação na fase de vo lta à proa

Rema r sem pausa durante a série de 20 ‛ a 30 ‛, com uma pausa ativa de 5 ‛ entre as etapa s

Ap licação Todo o ano, m esmo no per íodo de com petições

Com pat ib ilida de f is io lóg ica no m esm o d ia Não é compatíve l com formas de tre inamento de intensidade superior

Ob jetivo s e rea liz ação Duração 2 x 20 à 30 ’

K m da se ssão C adência % ve loc idade.

re fer ên c ia F reqüênc ia ca rd ía ca

Lactato s m m o l/l

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O catálogo do tre ino

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

FORÇA­RESISTÊNCIA ESPEC ÍFICA

Objetivo energético - Força-resistênc ia aeróbica e levada

Objetivo b iomecânico- Propulsão proporc ional à cadência

Realização- Remada potente, manutenção de ritmo - Remar sem pausa durante as sér ies

Recuperação de 20 ‛ entre as sér ies

Aplicação Preparação da estação da competição

Compatib ilidade fis iológ ica no mesmo d ia Compat ível com B1

Objetivos e realização Duração Km da sessão Cadência % velocidade

referência Freqüência cardíaca

Lactatos mmol/l

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O catálogo do treino

Treino dos fatores f is icos T re ino dos fatores f isicos

FORÇA­RESISTÊNC IA ESPECÍFICA da

Objetivo e rea lização D uração Km da sessão Cadênc ia

% Veloc idade referencia

Freqüência card íaca

Lactatos mmol/l

Objetivo energético - Transiç ão d a força- resist ência aerób ica para a a força- resistência anaerób ica lát ica

Objetivo b iom ecân ico - Propu lsão proporciona l à cadênc ia

Rea lização - Remada potente, m anter o ritm o - R em ar sem pausa durante as série s

R ecuperação de 20 ‛ entre a s séries

Ex em plo de sessão- 2 x 2000 progressivos ( 1000m a 24 r.p.m ./ 500m a 28 r.p.m . / 500 a 32 r.p.m . ) pausa 2 0 ‛

Aplicação Preparação quando do período d e com pet ição; nas com pet iç ões

N otar que as regatas de longa d istância são d e natureza B4

Com patib ilid ade fisio lóg ica no m esmo d ia Com pat ível com B1

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O catálogo do tre ino

Treino dos fatores físicos Treino dos fatores físicos

FORÇA ­RESISTÊNCIA ESPECIFICA Objetivo e realização Duração Km da

Sessão Cadência % velo cidad e referen cia

F reqüênc ia card íaca

L actatos mm ol/l

Objetivo energético - Força-resistên cia anaeróbica lá tica – provocação máxima do metabolismo

Objetivo b iomecânico -Propu lsão proporcional à cadência

Realização Prepa ração pa ra bom aquecimento – remada potente, manutenção de ritmo

Recupe ração de 5 ‛ entre as sé ries – Recupera ção de 20” após a ú ltima série

Exemp lo de sessão- 2 x 500m máximos, pausa de 5 ‛. Ou 1000 m cadência máxima

Aplicação Prepa ração nas competições

Registrar que a competição é uma sessão de B5

Compatib ilidade fisio lóg ica no mesmo d ia Somente compatíve l com B1- Interva lo de 1 dia entre duas sessões de B5

C om petiçã o Não significativa

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O catálogo do treino

Treino Treino dos dos fatores físicos fatores físicos

FORÇA­VELOCIDADE ESPECIFICA Objetivo e realização

Duração Km da sessão

Cadência % velocidade referencia

Freqüência cardíaca

Lactatos mmol/l

Objetivo energético - Força-velocidade anaeróbica alática

Objetivo biomecânico - Propulsão proporcional à cadência

Realização Preparação para um bom aquecimento - Remada potente

Recuperação entre séries de 5‛ - Recuperação após última série 20”

Aplicação Todo o ano – uma a duas vezes por semana

Preparação das competições ( partida + 10 remadas )

Compatibilidade fisiológica no mesmo dia Compatível com B1

máximaa máximaa Não significativa 5 a 10 séries de 10 remadas

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Ocatálogo do treino

Treino Treinodos dosfatores físicos fatores físicos

FORÇA­RESISTÊNCIA(ACENTUAÇÃO NA FORÇA) Objetivos e realizações Duração Km

da sessão Cadência % velocidade

referencia Freqüência cardíaca

Lactatos mmol/l

Objetivo energético – força-resistência ( de forma acentuada ) transição aeróbica- - anaeróbica

Objetivo biomecânico- -propulsão ótima propulsão ótima– – manter o mesmo encadeamento manter o mesmo encadeamento

Realização – – Preparação para um bom aquecimento Trabalho com frenagem ou trabalho com meia-guarnição em barcos longos

Recuperação de 10‛ entre as séries ( inferior a B1)

Recuperação de 20‛ após a última série

Aplicação Musculação específica no período de preparação e durante o estágio de competições finais

Atenção ! As sessões de B4 mobilizam o mesmo metabolismo

Compatibilidade fisiológica no mesmo dia Somente compatível com B1

Não prevista 6 x 50 remadas

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O quadro acima resume os tipos de treinos específicos preconizados atualmente. Variações em torno de cada um deles podem eventualmente ocorrer, no entanto será sempre necessário se manter dentro do mesmo sistema energético proposto. Tudo dependerá bastante das condições da guarnição, conhecimento e imaginação do treinador. E é muito importante também manejar inteligentemente com os micro-ciclos de treinamento. Como se sabe, dado um determinado estímulo de treinamento em uma sessão, o organismo se predisporá para igual no dia seguinte. Se no dia seguinte mantemos ou aumentamos um pouco o estímulo começa, a haver uma adaptação progressiva. Se diminuirmos o organismo se recupera. Mas se mantemos a mesma carga indefinidamente acaba por haver uma estagnação orgânica. Então tanto a variação de formas dentro de uma mesma modalidade de treino, como sobretudo as modificações de volume e intensidade no decorrer dos ciclos desempenham um papel muito importante no planejamento da evolução da performance.

Existe ainda um tipo de treino (e também avaliação), nominado de 2000 m progressivos , que se insere na modalidade B4. Nele os primeiros 1000 m são cumpridos a 24 rpm; de 1000m a 1500 m rema-se a 28 rpm e os últimos 500 m são remados a 32 rpm. As

RESUMO DOS MÉTODOS DE TREINOS ESPECÍFICOS ATUAIS

TIPO DURAÇÃO KM POR RPM % TEMPO PULSO MMOL OBJETIVO SESSÃO REFERENCIA Lactados ENERGÉTICO

Remo 2 X 30 ' 45' 15 a 25 km 16 a 18 70 a 75 % 145 a 156 1,5­ 2,0 força­resist Em B1 60' a 90' aerob. Básica

B2 2 X 20' a 30' 15 a 20 km 18 a 20 75 a 80% 156 a 170 2,0 a 3,0 Força­resist 40' a 60' Aerob básica

B3 2 x 8' a 10' 15 km 22 a 24 81 a 85% 180 4,0Força­resist Aerob elevada

B4 1 a 2 x 10' 15 a 20 km 24 a 32 86 as 90' > 180 4,0 a 6,0 Força­resist transição aerob Anaeróbica

B5 1a 2 x 90 s 12 a 16 km De compe > 100% Não signi Não signi Força­resist A 120s tição Ficativa Ficativa anerób lática

B6 5 a 10 séries 8 a 20 km máxima Máxima Não signi Não signi Força­resist 10 remadas Ficativa Ficativa anaerob alatica

B7 6 X 60 rema 20 km 14 a 16 Não Das Prevista > 180 4,0 a 6,0 Força­resist

elevada­ Trans Aerob­anaeob

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velocidades ótimas desejáveis são de 85 % para o primeiro km, com os próximos 500 metros sendo remados a 90 % do tempo de referencia e os últimos 500 m a 95 %.. Em média a velocidade dos 2 000 m será de 88 a 89% do tempo de referência. Revela-se um desejável acréscimo de 5% de velocidade em relação aos tempos de referência a cada aumento de 4 remadas por minuto. O aumento de velocidade dá-se pelo acréscimo de ritmo, mas esse só é obtido de forma satisfatória pelo aumento de força em cada remada. Em outras palavras, e como normalmente se diz, “a voga cresce na água e não no carro” Um variação de forma quanto a esse tipo de treino seria o conhecido modelo de 3-2-1-1 ( minutos ) com ritmos respectivos de 26-28-30-32 , ainda que não prevista nos modelos apresentados.

Além dos modelos de treinos há previsão de testes em barco, geralmente para avaliação da resistência e preferivelmente realizados em barcos curtos ( barcos de formação )

O que se verifica nos novos modelos

Os modelos são por si só explicativos. Vejamos, porém, algumas considerações interessantes. Denota-se rigidez quanto à em uma mesma sessão não mesclar solicitações de sistemas energéticos diferentes, dando-se ao organismo estímulo certo e determinado, sem qualquer confusão de cargas. Em outras palavras a informação fornecida ao organismo (estímulo) deve ser precisa quanto à forma esperada de sua reação (efeitos). Além disso, se prevê a compatibilidade de cargas, ou seja, quando dois tipos de treino podem ser realizados numa mesma sessão, ou num mesmo dia sem que haja prejuízo para o organismo. Essa orientação decorre fundamentalmente dos substratos utilizados e lactatos produzidos segundo os diversos tipos de treino, bem como do tempo necessário para a eliminação daqueles últimos e ainda recomposição das reservas energéticas. Enfim, de como o organismo reagirá de imediato e de como se comportará com a repetição sistemática desses estímulos. De uma forma geral e salvo algumas exceções, os métodos de treino são muito lineares, isto é, estão previstos para distâncias longas ou fracionadas, mas em geral mantendo-se a mesma velocidade. Como exemplo temos os treinos em B1, B2, B3 e B4, onde registre-se , são uniformes as velocidades e, portanto, não há mescla de tipos de estímulos. Os treinamentos aeróbicos assumem 90% do volume anual, ou seja, treina-se quase todo o tempo nas modalidades B1, B2 e B3, significando dizer numa produção de lactatos entre 2.0 e 4,0 mmol. A mobilização anaeróbica lática relativamente ao treino específico alcança ao percentual de 8% do volume anual de treino (incluídas as competições) . Já a mobilização anaeróbica alática fica em torno de 2% e pode ocorrer com freqüência ( por exemplo - estímulos curtos em torno de 5 séries de 10 remadas máximas – 15 segundos - com intervalos não inferiores a 5 minutos ). Uma vez que não acumula lactatos pode ser usada a forma anaeróbica alática em conjunto com vários tipos de treino. Enquanto os treinamentos em B1 são compatíveis num mesmo dia com todas as outras formas de treinamento, aqueles em B2 (2 até 4 mmol de lactato) não são compatíveis com outras formas de treinamento com intensidade superior. Note-se que nos treinos em B1 estarão sendo mobilizados prioritariamente lipídios e a expectativa é de um acúmulo em torno de 1,5 a 2,0 mmol de lactatos. Os treinamentos de B2 a B7 somente são compatíveis num mesmo dia com os treinos em B1. Do respeito a essas compatibilidades resulta que, em se treinando com duas sessões num mesmo dia , havendo uma de intensidade superior a B1, a outra será necessariamente em B1, razão pela qual se torna muito grande o volume anual nesse método. Realizando-se ordinariamente duas sessões de treino ao dia, é dado um repouso completo depois da quinta sessão seguida, devendo-se compreender que o repouso é uma etapa regeneradora fazendo parte do treinamento. Embora

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não se trate de treinamento específico é importante lembrar que quando se introduz circuito de pesos (C2) para a obtenção de força-resistência (com produção recomendável em torno de até 8,0 mmol de lactatos) torna-se necessário dar um intervalo de mínimo de 48 horas para se repetir esse mesmo treino. Também no dia de realização desse circuito (C 2) recomenda-se que, em havendo uma outra sessão de treinos essa seja feita em B1. Os treinamentos em B4 se equivalem para fins fisiológicos a uma regata em longa distância, enquanto os em B5 a uma regata em 2000 m Após um treinamento em B4 recomenda-se um intervalo de 48 horas para que seja repetido.

Já os treinamentos com peso para força máxima (com séries de 3 repetições) podem ser feitos na mesma sessão de B1

Verifica-se uma grande preocupação em desenvolver a força- resistência e a capacidade aeróbica através do treino específico, uma vez que se sabe o quanto esses requisitos são necessários para uma boa performance em remo. Em grande parte alcançam- se esses objetivos pelos treinos em B2, registrando-se que nessa modalidade treina-se numa faixa de da chamada “estabilização e economia” , (produção de 2,0 a 4,0 mmol de lactatos sanguíneos .- veja-se gráfico de curvas de limiares de treinamento já apresentado)

Sabe-se, igualmente, que o sistema aeróbico é dotado de uma grande inércia não sendo desenvolvido em curto prazo. Portanto para progredir nessa capacidade requisita-se tempo e principalmente uma informação clara, perseverante, endereçada ao sistema concernente, um treinamento próprio, sem confusão.

Registre-se que caso contrário, quando se aplicam cargas inadequadas e exageradas (na hipótese as de natureza láticas) sobre o sistema energético, o efeito aeróbico desejado, para aumento do consumo de oxigênio, não será atingido e, ao contrário, desencadeiam-se os mecanismos de proteção contra elementos tóxicos (no caso o ácido lático). Pela concentração muita elevada de ácido lático a membrana da célula fecha-se para evitar a acidose; as mitocôndrias afastam-se da membrana, encolhem e seu número diminui. Essa reação foi observada em biópsias feitas na equipe de remo da RDA (República Democrática da Alemanha) antes e depois de campeonatos. As cargas (estímulos) intensas das competições e sua preparação durante duas semanas anteriores, embora necessárias, prejudicam a preparação aeróbica no estágio final. Em relação aos efeitos do caso em tela podemos imaginar a mesma reação antes da temporada de competições ( no período preparatório ) em razão de um treinamento anaeróbico exagerado. Nesse caso do uso exagerado antes das temporadas de competições todo o trabalho estará seriamente prejudicado, e todo o tempo decorrido se perdeu Os desenhos abaixo procuram demonstrar os efeitos nocivos de treinos anaeróbicos exagerados

Sarcoplama

Membrana

Núcleo

Mitocondrias

Treino adequado

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Quanto aos tempos de referência, como já registrado, são aqueles fixados como meta para as equipes de alto nível, traduzindo em cada caso a marca a ser perseguida na próxima olimpíada. E os treinamentos se orientam sempre em torno de percentuais de velocidades calculadas sobre os tempos prognosticados. De uma forma geral estima-se que uma guarnição, em condições neutras de raia, sendo capaz de uma performance mínima com 97% a 98% do respectivo tempo prognosticado para o seu tipo de barco possa entrar numa final olímpica. Acredita-se também que como meta a ser perseguida uma guarnição de nível de excelência possa melhorar sua marca (sua velocidade) em 1% ao ano.

Em linhas gerais as observações acima são as que mais chamam atenção sobre o que mudou em termos dos treinamentos realizados pelas equipes da DDR segundo o que foi formalmente divulgado até 1970 e posteriormente a 1985.

Na presente reflexão não há e nem poderia haver a pretensão de exaurir a matéria. Existem principalmente, e todos os treinadores o sabem, questões de ordem prática e uma das mais importantes e difíceis tarefas do treinador é orientar um planejamento segundo os fundamentos corretos, mas sempre tendo como alvo a obtenção da boa performance de seus remadores. Um exemplo disso é o uso dos controles específicos pelos fatores de resistência e de competição no sentido de detectar capacidades que devam ser melhoradas nas guarnições, influindo isso na elaboração dos planos de treinamento. Outro exemplo é a introdução de cargas específicas de competições segundo as necessidades, em cada caso. E mais. A resistência deve ser desenvolvida através múltiplas formas do método básico, pois após um inicial aumento de performance o uso prolongado de um método com uso idêntico de formas de cargas, intensidades, e volumes leva à geração de uma performance estacionária de resistência estereotipada. E não é só. Existem testes e avaliações as mais diversas, podendo dar indicativos seguros sobre a evolução da performance.

Feitas essas considerações, acreditamos que o importante foi ter deixado mais ou menos claras as alterações que formalmente se processaram e vindas, salvo melhor juízo, de mais perfeita compreensão científica e prática do que ocorre fisiologicamente

Sarcoplama

Membrana

Núcleo

Mitocondrias

Treino inadequado

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em uma prova de remo em 2000 m, e com base na qual se delinearam os modelos do treinamento específico.

Da comparação dos modelos

Não é fácil comparar a progressividade de sistemas ou modelos de treinamentos mesmo oriundos de uma mesma “escola”. E a dificuldade reside em encontrar as reais razões das mudanças operadas. Sem detectar os fundamentos permanecemos no campo das cogitações. Depois a base na qual se assenta uma alteração nem sempre decorre de suporte científico. Muito embora tenhamos enfatizado que as modificações dos modelos de treino se apoiaram na ciência, é impossível negligenciar outros aspectos. Então nesse âmbito precisamos levar em conta as conclusões dos experimentos práticos, as quais nem sempre bem explicadas, mas que contribuíram para bons resultados, sendo então julgadas válidas. Muitas das práticas bem sucedidas, embora desacompanhadas de sustentação científica acabaram por integrar as fontes formais de divulgação de conhecimentos. E deve-se considerar ainda que certas práticas se provaram eficientes e somente mais tarde tiveram assentados seus fundamentos científicos. Então são válidas para nossas reflexões. Depois precisamos ter em mente que estabelecer um modelo de treinamento é, como se sabe, um processo complexo. Dizer da razão pela qual se treinava de uma forma e depois se passou a treinar de outro modo requer, ao contrário das aparências, análise cuidadosa. Vejamos um exemplo dessa complexidade. Como já referenciado na edição de RUDERN 1970 não se faz alusão à dosagem de lactatos como parâmetro delimitador dos sistemas energéticos mobilizados. No entanto duvida-se que nessa época na DDR já não se soubesse em grande parte dos requisitos fisiológicos numa prova de remo. Do contrário não se encontrariam recomendações como a de que “o remador que deseja uma boa performance deve ser capaz de bem mobilizar o metabolismo aeróbico e tolerar alto nível de ácido lático”. Seria então mera coincidência que grande parte do treinamento recomendado se processasse pelas atividades em pulso que, em tese, corresponderia a 2/4 mmol de lactatos, ou seja, em moldes para a predominância de resistência básica e capacidade aeróbica ? Teria sido essa uma conclusão a que se chegara pelos resultados práticos ? Em verdade não sabemos. Pode-se, é claro, por em dúvida o conhecimento de “ grande parte dos requisitos” a que nos referimos diante de parte daquela a afirmativa onde se menciona a capacidade para tolerar alto nível de ácido lático , porque seria então admitir a necessidade de grande capacidade anaeróbica para uma prova de remo. Mas é possível também imaginar que a expressão “ tolerar alto nível de ácido lático “ tivesse sido empregada de forma inadequada porque em verdade o que se necessitava, conforme hoje sabemos, era a capacidade de mobilizar grande quantidade de trabalho ( a mais alta intensidade possível durante um grande parte da duração da prova de 2000 m ) com a menor acúmulo possível de lactatos, e portanto, com predominância do regime aeróbico, ou seja, sem grande produção de ácido lático. De uma forma ou de outra permanece para a questão em tela a dúvida sobre o que significava realmente a expressão “ capacidade para tolerar alto nível de ácido lático”

E há mais um, entre todos os outros dados, pelo qual se pode igualmente questionar se haveria naquela época o domínio dessa temática. Tratam-se das diferenças de percentuais estabelecidos para homens e mulheres nos treinamento em velocidades moderada e média, demonstrando claramente que os parâmetros desses limites não poderiam ser fisiológicos e muito menos pelo controle de lactatos.

Mas em resumo, o que se demonstra é que não podemos dizer ao certo o quanto em 1970 se dominavam na DDR os mecanismos das trocas metabólicas realizadas nos

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sistemas energéticos atuantes numa prova de remo e como eles interagiam. No entanto é certo que até então para a tipificação e controle dos treinos não se cogitava de medidas de lactatos acumulados. Mas tudo isso revelado pelas fontes formais

De qualquer sorte há sólidas razões para crer que se tais conhecimentos ainda não fossem tão apurados como formalmente revelados em 1985, pelo menos teriam sido suficientes para, agregados à prática bem sucedida, ter dado consistência a uma boa metodologia. Apesar de todas essas indagações e conjecturas sem resposta, sabe-se que na pior das hipóteses em 1980 já se usava em boa escala na DDR a dosagem de lactatos na orientação das intensidades de treinos em remo.

Se quisermos nos aprofundar mais nesse tema podemos ampliar a nossa reflexão e, ainda que divagando um pouco, iremos comparativamente de encontro ao que ocorria na mesma época em outros países evoluídos em remo. Podemos, por exemplo, citar a Alemanha Federal, cujo consistente remo era orientado por Karl Adam. Na excelente obra “Rudertraining” editora Limpert, 1977- autores coletivos – Karl Adam, Hans Lenk, Paulo Nowacki, Manfred Ruffs e Walter Schoder, nos deparamos com um verdadeiro compêndio de remo, dizendo do pensamento e da prática desse esporte na Alemanha Federal , e mais precisamente pelas orientações da Academia de Remo de Ratzeburg prevalentes por quase duas décadas. O capítulo fisiologia, de autoria do Dr. Paul Nowacki, catedrático em Medicina Esportiva apresenta dados coletados com a equipe nacional da RFA, os quais englobam o período de 1967 a 1973. A parte de fisiologia do remo é ao mesmo tempo específica e abrangente, e construída, sobretudo com dados das guarnições dos famosos “oitos”, contando com inúmeras planilhas revelando testes ergométricos dos mais diversos com remadores vencedores olímpicos, onde se encontram entre outros dados o consumo de oxigênio, eliminação de C02, produção de watts, várias mensurações corporais, cardio-pulmonares e cardio-circulatórias, enfim um número enorme de informações. Mas quando se trata produção de lactatos os dados são poucos, quase que se reduzindo a consignar o total final acumulado em cada avaliação máxima (geralmente 18 mmol em 2000m). Essas revelações, portanto, não apontam a consideração do parâmetro produção ou acúmulo de lactatos como importante referencial delineador dos tipos de treinamento. E aqui é interessante registrar que nessa mesma obra, no capítulo relativo a planos e programas de treinamento dos anos 1971/1972, os trabalhos de repetições de 500m, 560 m, 1000m, 5 minutos, de 50, 40 e 30 remadas, em ritmo de competição ou acima, assumem um volume muito grande em todo o ciclo anual daqueles programas. Pode-se então formular algumas hipóteses. A primeira já referida, a de que a dosagem de lactatos era tida como pouco relevante para fins delimitantes dos sistemas energéticos a trabalhar. E a segunda pela qual embora se atribuindo grande importância ao consumo máximo de 02 para a performance do remador, porque essa é uma marca ressaltada nos dados das avaliações, considerava-se talvez de igual ou maior valor deter o remador uma grande capacidade anaeróbica Mas, não seria isso aparentemente contraditório sabendo-se não se obter um grande consumo de 02 pelas formas de trabalho anaeróbico ? Não poderia, é claro, haver o entendimento pela qual os treinamentos para aumento da capacidade anaeróbica subiriam o consumo de oxigênio. Seria muito mais razoável crer que pelo conceito dos autores uma prova de remo requisitaria um percentual muito mais alto de capacidade anaeróbica do que hoje se assume. Então aqui volta a questão já mencionada ( quando tratamos do mesmo tema na DDR ) sobre a necessidade que teria o remador de tolerar alto nível de ácido lático. Seria esse realmente um conceito naquela época? E qual o seu real significado? E essa hipótese talvez se confirmasse pelo que foi declarado pelo próprio Karl Adam, um dos palestrantes na primeira Conferência FISA para Treinadores, em Magligen - 1972, quando admitiu ter dado muita ênfase aos treinamentos anaeróbicos para sua equipe imaginando que essa

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seria uma qualidade fundamental para a prova olímpica de remo, quando em verdade e depois passara a reconhecer, deveria ter priorizado os treinos aeróbicos . Esse fato ocorreu logo após a Olimpíada de Munique, quando decepcionou o desempenho do “oito” da RFA.

Essas referências podem, à primeira vista, não ter tamanho significado, no entanto se pensarmos que o principal dado, de fácil medida, cientificamente confiável para se detectar o sistema energético mobilizado reside precisamente na dosagem do ácido lático produzido (já incluindo os processos de resíntese em ATP), e que os sistemas energéticos, salvo melhor juízo, devem ser desenvolvidos pelos treinamentos segundo a sua participação percentual na performance de uma prova de remo, estaremos persuadidos de que para trilhar o caminho mais seguro na condução dos treinos (entenda-se também constituição de plano de treinos) não poderemos prescindir desse controle. E isso até que novas revelações científicas mais valiosas tomem o seu lugar.

Voltando aos dados formais concretos disponibilizados pela DDR, e comparando os modelos ( METODOLOGIAS ) atuais com aqueles exibidos inicialmente podem-se constatar diferenças interessantes quanto à forma e conteúdo. Vamos relacionar algumas. Para efeito de distinção propomos a considerar os modelos como anteriores e atuais.

A - Os tempos de referência A primeira diferença facilmente detectada é quanto aos tempos para

as velocidades de referencia. Como já salientado no modelo anterior chegavam-se a esses tempos mediante avaliações máximas realizadas pelo próprio remador. Resulta daí que as velocidades de referencia traduziam percentuais da média de performances máximas do próprio remador ou da guarnição. Então cada remador ou cada guarnição devia deter uma marca através da qual se determinavam as intensidades de treinamento pelos percentuais daquela performance. Já o modelo atual estabeleceu tempos de referencia por tipo de barco e de categoria de remadores segundo projeções quadrienais, ou seja, estabeleceu prognósticos de futura performance como referencia desejável de ser alcançada. E sobre os percentuais de velocidade desses tempos prognosticados são previstas as intensidades e tipos e treinamento. Esse novo sistema trouxe várias vantagens, entre elas permitir uma mais fácil visão global comparativa de toda a equipe, possibilitando ao mesmo tempo que cada remador ou guarnição possa avaliar-se até mesmo em treinos quanto a seu rendimento em relação a um parâmetro de excelência, e em relação a outras guarnições. E também pelos percentuais de velocidade alcançados em treinamento é possível projetar uma estimativa de performance máxima. Um outro fator o qual nos parece também relevante é que com esse novo modelo podem-se construir tabelas para treinamento destinadas a todas as guarnições segundo os tipos de barco, e algumas das quais pretendemos anexar ao final dessa reflexão. E quando nos referimos a todas as guarnições podemos incluir até as de remadores em formação.

Os percentuais nominais de velocidade para treinamento, segundo cada modelo ou faixa de velocidade, passaram comparativamente a ser mais baixos que os anteriores, porque os remadores se orientam desde então segundo uma projeção de performance olímpica (idealizada para cada período de 4 anos), imaginando-se que somente no último ano se aproximariam dela. ( melhorando 1% por ano ) Depois a expectativa , como já se disse, é a de que com 96% a 97% de performance máxima do tempo prognosticado a guarnição possa entrar numa final olímpica.

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Acreditamos que esses percentuais nominais de velocidade também baixaram em razão dos controles pelas medidas de lactatos Com elas definiram -se com total precisão duas faixas peculiares para os treinos absolutamente aeróbicos (em B1 e B2), predominando em cada delas um tipo de substrato. O mesmo se diga quanto a, com fidedignidade, atingir o propósito de não mesclar numa mesma sessão treinamentos aeróbicos com anaeróbicos láticos, estabelecendo-se então faixas de velocidades mais restritas.

Outro fato que registramos apenas de passagem é que relativamente às mulheres os percentuais de velocidade se igualaram, aos homens, o que pode ser atribuído, como já explanado, ao aumento (de 1000 para 2000 m) da distância de suas provas.

B - O perfil das sessões de treinamentos Vejamos mais uma alteração, e bem acentuada, quanto à forma e

conteúdo dos modelos. Nos anteriores notava-se para alguns tipos de treinos variações de intensidades numa mesma sessão, que mesmo mobilizando igual sistema energético, ora haveria a predominância do substrato lipídio, ora glicídio. Já em outros treinos dava-se uma grande amplitude na variação de velocidades envolvendo inevitavelmente mobilizações de sistemas energéticos diversos, dado que a produção de lactatos oscilaria em tese entre 1,5 a 8,0 mmol, ou seja na mesma sessão sistemas aeróbico e anaeróbico lático estariam sendo postos em ação. Enfim, num mesmo treino saía-se do sistema aeróbico e ia-se para o anaeróbico lático, ou nele se faziam incursões fracionadas, mas que de toda sorte acabaria elevando bastante a taxa de lactatos sanguíneos, uma vez que ultrapassado o limite de 4,0, mmol , passa a ocorrer uma subida exponencial.

Depois, um mesmo método poderia ser usado para efeitos diferentes. Veja-se, por exemplo, que no método alternado praticavam-se normalmente velocidades entre moderada e média, quando então se permanecia, em tese, dentro do sistema aeróbico. No entanto ele poderia ser utilizado para trabalho predominantemente anaeróbico lático caso se usassem cargas logo abaixo do ritmo de competição, variando de 1 a 10 minutos. E se fosse praticada a velocidade de competição a duração dos estímulos estaria entre 30 a 60 segundos. Seria então possível variedade de estímulos dentro do método alternado, tornando-o mais intenso, daí a duração do treino oscilar entre 30 e 60 minutos. Portanto, uma dupla aplicação podia ocorrer com esse método alternado quando se dava aumento de carga e intervalo

Isso em resumo significa que vários métodos anteriores se prestavam também para treinar em sistemas energéticos diferentes, fossem eles numa mesma sessão ou em sessões distintas. E esse é um dado importante, porque ainda que o percentual de velocidade fosse a referencia da intensidade do estímulo, era o transito pelas diversas faixas de velocidade previstas em um método que iria determinar o perfil do treinamento e, conseguintemente que sistema ou sistemas energéticos estariam sendo mobilizados. Então tudo dependeria muito da organização ou da forma de cada sessão de treinamento.

Nos modelos atuais há uma preocupação constante em dar ao organismo uma informação muito clara, muito precisa, sobre um único sistema energético a ser mobilizado na sessão de treino, evitando-se a mistura de cargas e de sistemas energéticos Em outras palavras, salvo condições especiais e excepcionais previstas na organização das sessões, cada treino é em geral orientado para a atuação de uma só fonte energética por vez. Usar um só modelo por vez ( de B1 a B7 ) E ainda dentro do cuidado de se desenvolver plenamente certas qualidades com treinamentos “limpos”, estabeleceram-se: a chamada “compatibilização de formas e conteúdo de treinamento”; os intervalos necessários entre sessões de treinos; a periodicidade de sessões em relação aos tipos de treino. E esses intervalos e repousos, como já referido, levam

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em consideração não somente a necessidade de recuperação orgânica, reposição de energia, como o tempo requerido para a repetição de uma determinada forma de trabalho.

Então, enquanto nos moldes anteriores o perfil energético de uma sessão de treinamento ( aeróbico, anaeróbico lático, anaeróbico alático ou aeróbico/anaeróbico lático ) era determinado pelo possível trânsito ou incursões nas diversas faixas de velocidade previstas em cada modelo, nos atuais, salvo raras exceções, ele será sempre determinado pelo próprio modelo com sua peculiar estreita faixa de velocidade, registrando-se que não há modelos atuais com incursões em faixas de velocidade diferentes da própria e, conseguintemente mobiliza-se um só sistema energético por vez. Cada modelo atual apresenta uma peculiar faixa de velocidade a qual deve mobilizar apenas um sistema energético. O quadro de comparação modelos que será apresentado na parte de conclusões demonstra bem o acima referido.

Nos modelos atuais os treinamentos podem parecer mais monótonos e propensos a criar um tipo de resistência estereotipada. Quanto à monotonia essa pode ser quebrada pela imaginação do treinador., estabelecendo temas de motivações dentro da própria sessão. Relativamente à uma possível resistência estereotipada é possível pela própria programação dos treinos preveni-la. Significa dizer que uma boa medida é estabelecer variação de formas, ainda que dentro do mesmo método, e isso é perfeitamente possível sem alterar a sua natureza. No entanto, tratam-se de questões para necessariamente manejar-se bem e que muito dependem de conhecimentos, experiência e criatividade dos treinadores. Enfim, modelos de treinamento devem estar construídos e ser executados atendendo objetivos fundamentais que são o aperfeiçoamento do remador (ou da guarnição) e a melhoria da performance, o que pede uma observação constante de seus efeitos. Muito embora a certa aplicação de boa metodologia seja capaz de gerar resultados apreciáveis, é fundamental saber como os remadores reagem a ela porque dependente disso podem ser necessárias eventuais adaptações.

C - Controle pela produção de lactatos Surge também nos modelos atuais uma constante representada pela

dosagem de lactatos. Muito embora para cada um dos tipos ( modelos ) de treinos exista uma previsão de freqüência cardíaca, sabe-se que esse é um parâmetro médio de estimativa em face de um universo de remadores. Na realidade a tipificação dos treinamentos dá-se em razão de medidas de lactato. E essa passa a ser uma avaliação da qual não se pode nunca abrir mão. Um exemplo - Ter o remador treinando (em B2) em bom volume, com a geração de lactatos de 2,0 a 3,5 mmol (numa base de 20 rpm) e se possível com uma velocidade média de 75 a 80% do tempo de referência é um ótimo indicativo orientado para performance de alto nível. No entanto se o treino (previsto para B2) não se realiza ao nível mínimo de 2,0 mmol (digamos em apenas 1,0 ou menos de 1.5) os resultados esperados não virão porque estará sendo movida uma fonte energética em baixa intensidade (treinando-se então em B1) e as trocas metabólicas desejadas não ocorrem de molde a fazer subir a sua condição no pretendido. Como se sabe nos treinos em B1 predominam como substrato os lipídios, e em B2 os glicídios. Diferentemente dos lipídios, para a utilização desses últimos (sob a forma de glicogênio) necessita-se de oxigênio, o que obriga ao consumo de O2, contribuindo, portanto, para acréscimo da capacidade aeróbica. Em sentido inverso o mesmo pode ser dito quando se preconiza um treino aeróbico (entre 2 e 4 mmol) e por excesso são produzidos, digamos, 5 A 7 mmol , cumprindo-se então um treino com perfil anaeróbico lático. Então, nos treinamentos modernos a dosagem sistemática de lactatos é indispensável para a indicação de acerto, ou erro, quanto à qualidade do treino previsto ou proposto. Além disso, auxilia no controle do binômio estímulo/recuperação e fornece informações do nível de rendimento do remador. Depois é relevante ter consciência de que a faixa de

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velocidade prevista em cada modelo é para ser atingida com a medida de lactatos correspondente ao próprio modelo, sendo prioritário trabalhar na medida de lactatos, e se possível atingir a velocidade prevista.

D - Dos tipos e amplitude das faixas de velocidade Nos modelos anteriores as intensidades advinham de não mais que

quatro tipos de velocidade, as saber, sub-máxima, de competição, média e moderada. Essas velocidades poderiam ser combinadas e surgiam assim treinamentos com cargas contínuas (com acréscimo ou alternando velocidades); treinamentos com cargas intervaladas (método de repetições ou de intervalos), ou ainda as formas mistas caracterizando o método alternado de repetições ou o método alternado intervalado. Existiam, enfim, inúmeras idealizações pelas quais se trabalhavam principalmente com as velocidades moderada e média (indo de 70 a 95% dos tempos individuais de referencia). Tratava-se, portanto de uma faixa muito ampla de cada tipo de velocidade. Essas variações decorriam tanto da maior ou menor intensidade da força- resistência aplicada, como do ritmo. E parece-nos, salvo equívoco, que se procurava com elas a criação de uma resistência bem abrangente, inclusive pela capacidade de tolerar lactatos. Então numa mesma faixa de velocidade mobilizavam-se eventualmente sistemas energéticos diversos. Depois, como já referido, o perfil da sessão de treinamento dependia de como se manejava essas velocidades em um treino, já que num mesmo modelo poder-se-ia optar por diferentes tipos de intensidade. Mais à frente apresentaremos um quadro comparativo onde é possível ver não existir uma correspondência bem adequada de faixas entre os modelos anteriores e os atuais. Por exemplo nos antigos a velocidade média previa 85% a 95% da velocidade de referencia. Esses percentuais de velocidade para os modelos atuais se equivaleriam aos treinos em B3 e B4 ( 81% a 85% e 86% a 90% ). Ocorre que os treinos em B3 e B4 são diferentes quanto aos sistemas energéticos solicitados. Então nesse exemplo se criarmos uma correspondência entre os modelos , segundo as faixas de velocidade, acabaremos por admitir quando se treinava em velocidade média ocorria a possibilidade de utilizar sistemas energéticos diversos.( relativos aos atuais B3 e B4 ), No entanto é necessário ter certo cuidado nessa análise porque os próprios tempos de referência sobre os quais se assentavam os diversos percentuais de velocidade apresentam bases distintas nos modelos anteriores e atuais. Em razão dessas observações foi que dizemos acima que não existem entre os modelos anteriores e atuais faixas de velocidade que possam proporcionar uma comparação precisa. O quadro que apresentaremos demonstra isso de forma clara, e também serve para que se tenha uma visão de como ( sobretudo em que sentido) se processaram as mudanças

Nos modelos atuais distinguem-se formas bem mais precisas. As faixas de velocidade são mais numerosas e bem estreitas. Para cada modelo espera-se um só efeito energético. Sobre esse aspecto o que se verifica são maiores especificidade e extratificação. Nos moldes anteriores a exigência de se obter e manter a velocidade de forma constante, bem como ao acréscimo de voga corresponder um aumento de velocidade em nada distingue dos atuais. Repetimos que a diferença que encontramos em nossas reflexões é então um refinamento ou uma maior precisão quanto aos efeitos das faixas de velocidade estabelecidas, mobilizando-se, salvo raras exceções, apenas um sistema energético correspondente à faixa. E tudo isso decorre, segundo se pode imaginar do propósito de evitar confusão de cargas numa mesma sessão. Como efeito há um trabalho muito perseverante em se obter um alto nível de força-resistência no treinamento específico, o que demandará tempo, o mesmo ocorrendo com o aumento da capacidade aeróbica. O grande volume de treinos em B2 é muito significativo. Conforme dito, ter um remador por 2 x 30 minutos, remando a 20 rpm e com velocidade entre 75

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e 80% do tempo de referencia, acumulando não mais que 3,5 mmol de lactatos, é um indicativo importante da construção de uma base muito sólida, sobre a qual se pode desenvolver todo o resto.

E- Da resistência específica de competição. Nos moldes anteriores denota-se o cuidado do desenvolvimento da

resistência específica de competição em muito pelos próprios trabalhos previstos nos treinos. Várias formas preconizadas para treino buscam claramente esse efeito

Nos atuais há indicativos de que uma grande parte desse tipo de resistência é perseguida basicamente nas próprias competições, em grande número no período próprio, muitas das quais assumem o papel de formação/avaliação e sem que se provoquem significativas alterações nos treinamentos na semana antecedente. Trata-se de entender que competição também é treinamento. E esse é um tópico muito importante porque quando mencionamos resistência específica de competição estamos falando na utilização e em proporções corretas de cada sistema (aeróbico, anaeróbico lático e alático) conjugado com a maior possível força-resistência média por 220 a 240 remadas, que irão atuar durante os 2000 m. Isso implica em ter adequados e equilibrados fatores “competição e resistência”. E além dos aspectos fisiológicos não se pode esquecer da parte psicológica e tática, as quais muito trabalhadas quando de eventos competitivos. Em outras palavras, em todos os sentidos o remador aprende ou assimila com competições, as quais são partes relevantes nos treinamentos.

Nunca será demais repetir que resistência básica, a resistência de velocidade e a resistência de força são pré-requisitos e componentes da resistência específica de competição. Essas qualidades podem ser melhorada separadamente. Mas para desenvolver uma conexão estrutural entre esses parâmetros de resistência objetivando rendimento são necessárias competições e formas de carga de treinamento que correspondam a essa característica . Com o mesmo perfil pode ser usada a metade da distância da competição

Conclui-se que é necessário no período próprio e peculiar submeter o remador a várias competições, mas sem que se alterem os planos de treinamento, ou seja, sem que nos mesmos se produzam modificações preparatórias significativas para atendê-las.

F - Da força-resistência Pela inteligência dos modelos atuais em termos de força média a ser

usada pelo remador, essa deve ser a maior possível a ser aplicada 220 a 240 vezes durante a duração do percurso de 2000 m. Daí resulta estarmos falando necessariamente em força- resistência, e não de uma força ótima máxima resumida em umas poucas remadas. E o que se constata nos modelos novos é uma grande insistência no desenvolvimento dessas qualidades com os treinos específicos (no barco) postando-se como alvo para o remador o acréscimo de velocidade de 5% a cada aumento de voga em 4 remadas. Isso implica não somente no desenvolvimento de capacidades físicas como obrigá-lo a interagir da melhor forma possível com o barco, qual seja, em uma técnica absolutamente eficaz. Reforçam essas afirmativas os modelos de trabalhos com pesos, onde se atua com um número considerável de repetições para cada exercício (musculação do tipo C2), com cargas em percentual não muito elevado quanto à força máxima, com ritmo de médio para alto objetivando resistência, em produção de lactatos estimadas em 8,0 mmol e com execução correta de forma a ter um ganho levado para a aplicação na remada. Nos modelos antigos os conceitos de força e de resistência não estavam dissociados, é verdade, mas não tão intrinsecamente conjugados para treinamento tal como nos modernos. Denotava-se então um cuidado em adquirir uma força máxima elevada e uma resistência em ótimo nível. Dentro do atual conceito da necessidade do mais alto grau de força possível repetido

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seguida e constantemente em cadência elevada para 220 a 240 remadas durante os 2000 m, entende-se que na verdade se lida na hipótese com duas qualidades entrosadas e indissociáveis, cujo conceito resume-se no termo força-resistência. Então lidamos com uma qualidade composta de dois valores sendo trabalhados e desenvolvidos em grande parte no mesmo momento, simultaneamente. E esses dois valores serão tão mais efetivos quanto maiores as capacidades dos sistemas energéticos que os suportam. Os efeitos dos treinamentos para acréscimo dessa qualidade (força-resistência treinados simultaneamente) mostram-se mais demorados quanto à aquisição, todavia são mais consistentes, perduram mais.

G- Da dinâmica de carga . Nas duas metodologias a planificação dos treinamentos ocorre segundo ciclos anuais. Nesses ciclos estão compreendidos os períodos : preparatório, pré- competitivo, de competição e de transição Dentro de cada um deles se pretende desenvolver certas qualidades, o que orienta os tipos, intensidade e volume dos treinos incluídos em meso e micro-ciclos . Nisso não há diferenças entre os modelos, salvo quanto aos percentuais totais do ano em que cada sistema energético é trabalhado. Nos moldes atuais orienta-se muito mais para as fontes energéticas aeróbicas e muito menos para as anaeróbicas láticas. Esses percentuais já foram mencionados e guardam razão com o quanto são utilizados numa prova de remo. Entretanto na metodologia atual estabeleceu-se a chamada dinâmica de cargas. Trata-se de um sistema pelo qual são relacionados os tipos de treinos de cada sessão da semana e com a sua duração prevista. São discriminadas todas as semanas do ano, criando-se para cada tipo de treino subtotais por período e o total anual, bem como o quanto em percentual representa frente aos demais tipos Assim os treinos são construídos de forma a observar com bastante rigor as proporções dos sistemas que se pretendem trabalhar durante cada ciclo anual. Claro está que antes de estabelecer os treinos é necessário saber quando e que tipo de avaliações serão feitas, em que regatas se irá competir, enfim, quais eventos integrarão o programa do ano. Com esse sistema a probabilidade de estabelecer e manejar planos bem adequados é maior e o risco de erros se reduz porque acima de tudo há uma visão conjunta do planejamento. Existem modelos dessa dinâmica de carga destinados a remadores de alto nível, podendo ser seguidos com boa margem de segurança. E torna-se mais fácil analisar a efetividade do sistema em questão quando é feito um controle paralelo dos treinos cumpridos. À primeira vista pode parecer que essa dinâmica de carga não representa uma inovação porque poderia ser aplicada nos métodos anteriores. No entanto assim não ocorre porque o uso da mesma somente é possível quando cada sessão de treino mobiliza um único sistema energético. E, como vimos, nos moldes anteriores ocorria a mobilização de sistemas energéticos diferentes numa mesma sessão e com a impossibilidade de se saber em quanto cada um tinha autuado. Então se trata de fato de algo inovador mesmo considerado o seu perfil de distribuição e dosagem de cargas na construção de um programa.

CONCLUINDO

Em linhas gerais essas são talvez as alterações mais importantes notadas entre os dois sistemas. Não conseguimos detectar outras que possam representar mudanças significativas como evolução de metodologia. Existem, é claro, novos procedimentos, novas formas de agir, etc. No entanto tratam-se de introduções decorrentes da própria metamorfose e progresso em geral do remo, não devendo ser atribuídas a essa ou àquela “ escola”. Não analisamos também os aspectos detalhados de execução dos modelos. Metodologia é forma de realizar ou transmitir ensinamentos segundo certos princípios e debaixo de certa ordem. Os métodos então resultam em instrumentos objetivos postos a serviço ou do qual nos

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valemos para a obtenção de uma boa performance, constituindo , portanto meios para se tentar resultados e não um fim em si mesmos. Como tanto requerem conhecimento e racionalidade em sua aplicação e execução. E podem ter mais eficácia segundo se observem princípios pedagógicos, educacionais e psicológicos, mas nesse caso estaríamos entrando num tema fora da nossa proposta inicial, que se resume uma reflexão objetiva apenas sobre a evolução de meios de treinamento. Abaixo apresentamos um simples quadro comparativo entre os modelos quanto às velocidades caracterizadoras dos tipos de treinos.

Esses sistemas partiram basicamente dos mesmos princípios ou fundamentos, mas o segundo deles muito se aperfeiçoou mercê de experiências práticas bem sucedidas e conhecimentos científicos. Quando se trabalha sistematicamente com a mesma metodologia por anos seguidos é muito mais fácil extrair ensinamentos práticos e científicos para aperfeiçoá-lo. E ao que tudo indica isso foi o que ocorreu na DDR. E um fato notável é a lógica simples e objetiva que presidiu todo esse encadeamento de prescrições gerando algo harmônico cuja eficácia se comprovou largamente

Em linhas gerais deu-se o seguinte.

1- Como primeiro passo procurou-se saber quais sistemas energéticos e em quais proporções interferiam numa regata de remo (de 2000 m), como também em que momentos da prova agiam, se interagiam, como se encadeavam . O mesmo se diga quanto à força-resistência necessária (o mais alto nível como média de 220 a 240 repetições nos 2000 m) Entendamos, então, os sistemas energéticos como qualidades.

COMPARAÇÃO DOS MODELOS

MÉTODO ANTERIOR MODELO ATUAL Velocidade Velocidade

Tipo Percentual Pulso Tipo Percentual Lactatos pulso Rpm Velocidade máxima 101­105% B6 MÁXIMA n/s n/s Max

Velocidade de competição Método alternado com intervalo e aumento carga Método intervalado Formas mistas 96­100% B5 100% n/s n/s 32/38

Velocidade média 85­95% 160/180 B4 86­90% 4,0 a 6,0 >180 24/32 Método alternado Método de repetição Formas mistas B3 81­85% 4 18022/24 Velocidade moderada B2 75­80% 2,0 a 3,0 156/170 18/20 Método continuo e variante Método alternado Método alternado com intervalo e aumento carga Método de repetição Formas mistas 70­84% 140/160 B1 70­75% 2145/156 16/18

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2- Em seguida determinou-se o quanto de cada uma das qualidades (capacidades) deveria estar remador dotado para apresentar uma boa desempenho na prova de remo de nível internacional

3- Como terceira meta determinou-se como deveria ser o treinamento em qualidades e quantidades percentuais para que essas condições ou capacidades fossem adquiridas ou desenvolvidas, e em quanto tempo.

4- E na quarta meta estavam compreendidos outros requisitos, como ciclos de treinamento, periodicidade, dosagem, super-compensação, compatibilidade entre os sistemas energéticos, avaliações, etc, tudo que deveria ser levado em consideração ao se elaborar os planos de treinamento.

5-Aliando a experiência prática aos fundamentos científicos foram então delineados os planos de treinamento para o desenvolvimento dos sistemas energéticos nas proporções de sua participação na prova. E uma das pedras angulares do aprimoramento desses sistemas foi o dos treinos em velocidades representando percentuais de tempos estimados para vencedores da prova, as quais deveriam como condição básica melhorar as qualidades acima referidas. Como se sabe uma mesma velocidade pode ser obtida ora com um ritmo alto e força- resistência baixa ou com ritmo baixo e força-resistência alta. Como um dos objetivos consistia em dotar os remadores da força-resistência média a mais alta possível para realizar 220 a 240 em 2000, claro está que se optou por treinar em ritmo mais baixo, mas procurando impulsionar o barco o mais longe possível em cada remada, respeitado um pulso que corresponderia à produção de lactatos adequada ao sistema interessado, Portanto o estabelecimento do ritmo para cada tipo de velocidade guarda razão com o acima mencionado, como também na proporção adequada pela qual a cada acréscimo de 4 remadas deve haver um aumento de 5% na velocidade. Vejamos o pequeno esquema abaixo

Tipo de treino Rpm Velocidade B1 16/18 70 a 75 % B2 18/20 75 a 80% B3 22/24 81 a 85% B4 24/32 86 a 90 B5 De competição 100% B6 Máxima Máxima

É claro que se deve levar em consideração que determinados tipos de barcos apresentam em competição vogas mais altas, o que ocorre em geral com os barcos maiores relativamente aos barcos curtos. Há também um outro aspecto a ser pensado que é o da característica particular de guarnições para um mesmo tipo e categoria de barco, havendo em cada caso uma preferência de ritmo de competição segundo o melhor rendimento, técnica, etc. No entanto esse é um quadro geral. Estamos tratando de uma orientação a ser seguida e que deve interessar a remadores em formação como a de alto nível. A diferença é que somente os de alto nível conseguem alcançar os percentuais de velocidade expressivos, tal como previstos, como também suportar elevado volume de treino. E um dos parâmetros para avaliar a evolução a médio

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e longo prazo reside exatamente no aumento do percentual da velocidade media nos treinamentos, assim como na capacidade de lidar progressivamente com maiores volumes de cargas nos treinos. Então no que respeita a formação e desenvolvimento de remadores, tanto a melhoria da velocidade ( intensidade ) como o volume de treino por sessão são metas para alcance a longo ou médio prazo, devendo-se programar para cada ciclo anual uma subida progressiva mas consistente desses valores. Assim agindo e com a ajuda do tempo teremos um remador fortalecido e resistente, capaz de suportar as altas demandas do treinamento para alto nível.

Para encerrar gostaríamos de registrar e ressaltar dois aspectos importantes estreitamente relacionados com o sistema envolvendo métodos nos quais se treina observando percentuais de velocidade. Eles decorreram muito de observações práticas e sistemáticas com esses métodos.

A velocidade obtida pelo barco é o resultado da força-resistência aplicada durante o tempo motor, do tempo de recuperação na remada, do uso dos sistemas para a produção de energia, da eficácia técnica, do sistema de alavanca usado, como também das forças de hidro-dinâmica atuando sobre o casco. E uma prova olímpica de remo é na distância de 2000 m. Isso impõe como já referenciado uma ótima capacidade aeróbica, que é alcançada fundamentalmente com treinos quando se rema com uma produção de lactatos em 2,0 e 4,0 mmol (ex treinos em B2) Mas ao mesmo tempo é necessário aprimorar a força-resistência (fator de impulso do barco). Ocorre que um ciclo inteiro de remada compreende o tempo motor e o tempo de recuperação. E sabe-se que o barco é impulsionado no tempo motor. Então o mais interessante é que nesses treinos se busque a velocidade com a maior possível aplicação de força-resistência, e não pelo acréscimo de ritmo. E uma boa referencia nesse caso é medir a duração do tempo motor, que para remadores de bom nível geralmente é de 7 décimos em barcos curtos e ao ritmo de 20 rpm, respeitado o ângulo adequado de varredura do remo. Quando a duração desse tempo motor é de 8 décimos deve-se tomar cuidado. E quando é de 9 décimos significa que algo não está bem, e normalmente não se cumpre o percentual de velocidade ideal previsto para o treino. A experiência prática tem demonstrado que barcos treinando a 20 rpm com o tempo motor durando 9 décimos, ou mais, não conseguirão trazê-lo para 5 a 6 décimos, como é necessário quando remarem em ritmo de competição e por toda duração da mesma. Então na obtenção do ritmo, e compensando uma força-resistência precária, irão acelerar a fase de recuperação e aí a velocidade desejada muito menos será obtida. E um dos desafios do remo em geral, e em especial dos treinos prevendo percentuais de velocidade, é a cada acréscimo de voga de 4 remadas aumentar a velocidade em não menos que 5%. Para isso quanto mais alto o ritmo menor deve ser a duração do tempo motor. A prática demonstra que quando sempre se treina de forma sistemática num ritmo constante ( digamos 20 rpm ) com apenas razoável duração do tempo motor, não ocorrem maiores dificuldades para se cumprir percursos médios ( digamos de 2000 a 3000 m ) com boa intensidade e num ritmo de oito remadas acima do treinado ( teríamos então 28 remadas ) No entanto para se cumprir o mesmo percurso com boa intensidade em ritmo acima de 8 remadas do que foi treinado, terá sido necessário que durante os treinamentos a duração do tempo motor tenha sido ótima.

E experiências práticas em treinamentos com progressão de ritmo - 2000m progressivos( 24, 28 ,32 rpm ), ou 3-2-1-1 ( subindo o ritmo de 26 até 32 ) demonstram que somente os remadores muito bem treinados são capazes de obter a razão acima mencionada ( subida de 5% de velocidade a cada aumento de ritmo de 4 remadas ) quando a voga ultrapassa as 28 remadas por minuto. Quando essa marca não é alcançada há claros indicativo de que o nível

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de força-resistência não é suficiente ( baixa intensidade no tempo motor ) . Todavia existem outros fatores que podem ser determinantes e que devem ser investigados pelo treinador

Mas, apesar de tudo o que nunca se deve é desrespeitar o treinamento previsto, como por exemplo, alterar o sistema energético previsto para a sessão de treino porque prejuízos maiores podem ocorrer. Por exemplo, estando previsto um treinamento em B2 , quando não se deve ultrapassar o limite de 4,0 mmol de lactato, esse será sempre o teto superior delimitando do percentual de velocidade, não importa qual seja. Assim se, por exemplo, há insistência em alcançar durante o treino um percentual de velocidade, digamos de 80% daquela de referencia ( prevista aerobicamente em B2 ) e para isso ultrapassa-se um acúmulo de 4,0 mmol de lactato, passe-se a manejar outro sistema energético ( entrando-se no anaeróbico) e os efeitos esperados não serão os mesmos. Uma insistência nesse procedimento acabará estacionando, e depois diminuindo, a capacidade de consumo de oxigênio. Portanto as questões do manejo da força-resistência nos treinamentos específicos devem ser vistas cuidadosamente, sobretudo porque estão muito relacionadas ao fortalecimento do remador através do tempo.

De uma forma geral no caso do treino em B2 o objetivo deve ser, além de outros requisitos, a aquisição de um tempo motor rápido, mas mantendo-se dentro do sistema aeróbico previsto (não menos que 1,5 e não mais que 4,0 mmol de lactato) para também elevar o consumo de oxigênio. Dependendo do estado de evolução do remador o seu barco vai navegar entre 60 e 80 % do respectivo tempo de referencia. Caso no treino não se esteja alcançando o limite inferior de lactatos, deve-se exigir mais empenho, mais aplicação na intensidade no tempo motor. Ao contrário, se o limite superior de lactatos esta sendo ultrapassado, pode-se diminuir o ritmo em uma a duas remadas no máximo (remando-se a 18 rpm e não a 20) ou então diminuir ligeiramente a intensidade do tempo motor e mantendo as 20 rpm. A solução vai depender muito do treinador, que inclusive pode encontrar melhor solução para o problema. Mas é sempre necessário estar atento porque o percentual de velocidade que se irá alcançar depende desses parâmetros referenciados (tempo motor intenso e limite de lactatos previsto) e pode ocorrer que não seja ele ainda apreciável porque falta ao remador fortalecer- se (força e resistência básica) suficientemente para navegar tão rápido. Nesse caso é necessário dar tempo ao tempo e treinar dentro dos parâmetros corretos.

O segundo aspecto é o seguinte. Como a técnica é um dos fatores determinantes da velocidade do barco é importante avaliar o desempenho do ou dos remadores quanto à mesma. E isso deve ser visto principalmente quanto à forma que interage com o barco. Quando se almeja remar num percentual de velocidade não se pode negligenciar esse ponto. Aqui não estamos nos referindo apenas a gesto técnico de boa ou má conformação, mas dos seus efeitos na navegação do barco, ou antes, de como o remador se associa ao mesmo E isso inclui os aspectos da hidro-dinâmica. Sabe-se que determinadas deficiências técnicas, sobretudo aquelas que produzem forças negativas, as quais normalmente devem ser minimizadas ou eliminadas, podem ocasionar perdas de cerca de 10 a 15 segundos em 2000 m, o que é muito. E numa hipótese dessa e com um pequeno exercício aritmético imaginemos um singlista se propondo a realizar treinos a 80% de um tempo de referencia de 7,00 (420 segundos) cumprindo cada 2000 m em 525 segundos (8.45) . Todavia apresenta clara deficiência técnica na interação com o barco e realiza tempos de 8.55 (535s) em cada 2000m cumprindo um percentual de 78,5%. Então provavelmente teríamos uma embarcação rendendo 1,5% a menos por técnica ineficaz em cada 2000m do treino. Mesmo que não se possa precisar com exatidão os percentuais de perda de velocidade pela técnica ruim, é necessário bem observar esse aspecto, inclusive porque um dos requisitos dos treinamentos na velocidade moderada (B1 ou B2) é a aprimoramento técnico. Do contrário pode-se eventualmente acreditar que uma determinada guarnição não venha atingindo o

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percentual de velocidade previsto para o treino por falta de condições físicas quando o problema é técnico. Depois diante da hipótese ventilada, e para os remadores já desenvolvidos, será mais célere e econômico, em tese, subir a velocidade em 1,5% pela melhoria técnica que por aumento de capacidade de sistemas energéticos necessários na prova de remo. E se alguma dúvida subsiste quanto a isso, lembramos certo consenso entre os treinadores pelo qual para uma guarnição de excelência projeta-se um avanço anual de 1% quanto à sua melhor marca. Lembremos também que 10 a 15 segundos em 2000 pode significar uma perda estimada entre 6 a 8 posições numa regata, dependendo do nível da mesma.

Por tudo que se viu tratamos de um sistema bem racional e de relativa facilidade de compreensão. Mas um registro a ser feito. É o de que se torna necessário um bom acompanhamento e controle fidedigno sistemático, efetuado tanto pelo treinador quanto pelo remador. E esse controle deve ser bem rígido ( constante e pelos padrões previstos ) . Depois é necessário agir com racionalidade, bom senso e estar bem familiarizado com os processos, ou seja, a parte prática deve ser bem elaborada e desenvolvida de forma a tornar remadores e treinadores bem experientes na aplicação ou execução dos métodos. Não nos esqueçamos, por exemplo, que as condições de água, vento e temperatura, umidade relativa do ar, muito interferem na velocidade das embarcações, alterando de forma significativa as marcas ou resultados. E não existem fórmulas matemáticas tão fidedignas permitindo correções precisas de tempos em razão daqueles fatores climáticos. Daí a necessidade do controle sistemático pelo qual se podem dissipar dúvidas eventualmente vindas de condições do ambiente. E a esse controle diário dos treinamentos agregam-se avaliações outras, em distâncias maiores que 2000 m, como também algumas realizadas em práticas não específicas, tais como em ergometria, pesos, corrida, etc, mas que podem corroborar as específicas.

Quando procuramos racionalmente um modelo de treinamento desejamos ter várias informações. Se as equipes que o utilizam apresentam bons resultados, se teremos meios para executá-lo, se os métodos e processos que utilizam são compatíveis com o perfil de nossa equipe, etc. Mas, sobretudo de seus princípios, fundamentos e da parte prática devemos ter conhecimento porque são eles que nos permitirão agir com criatividade e solucionar eventuais problemas que apareçam inicialmente ou com o passar do tempo. E sabe-se que em termos de execução pode ocorrer multiplicidade de formas, mas nem todas preconizadas pelo método usado. Então existem adaptações aceitáveis e as que deturpam os fundamentos do método e, portanto, inaceitáveis.

Tudo isso é necessário saber, pois do contrário ou estaremos rigidamente apenas copiando o que alguém fez, ou adaptando com criatividade mas sem a necessária segurança. Portanto quanto mais se trabalhar sistemática e corretamente com os modelos referenciados, quanto mais se aprender com os treinos, execuções e avaliações, mais se estará apto a tirar melhor proveito dos mesmos. E somente podemos ensinar bem aquilo que conhecemos com razoável profundidade.

E não nos esqueçamos da parte educacional e didática. Não basta saber lidar com a metodologia, deve-se transmiti-la de forma adequada, que seja bem entendida. E ainda é necessário que o remador esteja educado, tendo conhecimento do que está sendo feito a cada treino, de como se comportar, dos efeitos esperados, bem como dos controles mínimos que lhe compete. Essa consciência da e na execução desempenha um papel de muita importância numa metodologia que trabalha sistemática e fundamentalmente com valores pré-determinados e medidas almejadas. A simplicidade e racionalidade dessa metodologia fazem com que pareça de fácil uso. No entanto a execução requer os cuidados já referidos para gerar a eficácia

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pretendida. E nesse aspecto é muito importante contar com a efetiva participação dos remadores.

Em vários temas aqui tratados fomos bastante repetitivos, o que evidentemente não nos passou despercebido No entanto preferimos dizer que enfatizamos certos assuntos, mesmo com o risco de nos tornarmos cansativos porque se tratavam de pontos muito importantes das metodologias sob análise e sobre os quais não deveriam permanecer dúvidas

Finalmente, quanto dos modelos usados na DDR tentamos enfocar tanto a razão do que se fazia , como porque se realizaram alterações. Então essa escolha deu-se muito mais pela racionalidade presidindo esses modelos. Esperamos que as considerações expendidas sirvam de alguma forma trazendo esclarecimentos vindos de quem acompanhou através dos tempos o desenvolver de uma metodologia.

Conforme dito usamos e estamos anexando em separado a esse trabalho slides de modelos de treinamento ( metodologia anterior e atual), gráficos de modelos de treinamento da metodologia anterior, tabelas de velocidade de treinamento e dinâmica de carga. Os gráficos e slides tornam mais fácil a compreensão dos modelos. Pelo uso das tabelas facilita- se o trabalho de cálculo das diversas velocidades de treinamento para barcos de todas as categorias e ainda estabelecidos os handicaps. O seu uso é fácil e prático tanto pela distância prevista a percorrer como pelo tempo previsto. Agregamos ainda uma planilha para cálculo das velocidades obtidas em treinamento, avaliações ou testes, interessando a todas as categorias de remadores e tipos de barco. Em algumas delas, lançados os tempos cumpridos por cada barco a planilha calcula automaticamente o percentual de velocidade obtido no treino, avaliação, teste, etc. Em outras se lança o horário de partida e da chegada do barco, e a planilha calcula o tempo cumprido e o percentual da velocidade obtido. Essas planilhas podem ser usadas em variadas distâncias. Para manejá-las basta ter um mínimo conhecimento do programa “Microsoft Office Excel” ou então pedir ajuda a quem o conhece, porque quase tudo se resume à escolha da planilha correta e como entrar com os dados. De qualquer maneira em cada planilha foram incluídas algumas orientações básicas para o bom uso, inclusive recomendações para manter a integralidade das fórmulas. Quanto ao material gráfico constante do texto e anexo utilizados: duas tabelas de cálculo de treinamento para seniors, seniors pesos leves e juniors; as planilhas para cálculo de velocidade; o esquema da dinâmica de carga e os slides sobre os modelos de treinos atuais e avaliações foram cedidas pela FFSA. Os gráficos e slides dos métodos anteriores foram por nós construídas segundo dados constantes do livro RUDERN, edição de 1970. O gráfico de curvas de treinamento segundo produção de lactatos consta do livro RUDERN ed. 1985. Demais tabelas para cálculo de treinamento foram por nós construídas observados os tempos de referência modernos.

Para encerrar reafirmamos que outros métodos de treinamento, de perfis bem diversos, apresentam excelentes resultados internacionais. Com alguns deles não temos intimidade e outros requerem um aparato científico excepcional de acompanhamento. Enfim, as escolha do método é prerrogativa do treinador. Mas como já dizemos e repetimos nossa pretensão nunca foi a de dizer qual a melhor metodologia, apenas e somente refletir sobre uma que vivenciamos e conhecemos um pouco.

Obrigado pela atenção

Arnaldo Brant

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