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DOI: 10.5433/2238-3018.2013v19n1p71 _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________ História & Ensino, Londrina, v. 19, n. 1, p. 71-98, jan./jun. 2013 71 REFLEXÕES SOBRE A PRÁXIS: AS VIVÊNCIAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HISTÓRIA REFLECTIONS ON PRAXIS: EXPERIENCES IN SUPERVISED INTERNSHIP IN HISTORY Aristeu Castilhos da Rocha 1 Maria Catharina Lima Pozzebon 2 ________________________________________________________________ RESUMO: O trabalho tem como objetivo socializar algumas reflexões e vivências ocorridas em situação de estágio no curso de Licenciatura em História da Unicruz (Universidade de Cruz Alta, RS). A base teórica de tais reflexões são FONSECA (2004/2007/2011), CAIMI (2008), Barroso (2010), entre outros. A pesquisa caracteriza-se pelo cunho descritivo-qualitativo, tendo como instrumentos a observação e os relatos de experiências. As mesmas nos apontam que os estágios começam a ser vistos não apenas como eixo curricular, mas um espaço significativo na formação de professores. Palavras-chave: Ensino. Formação de Professores. Prática. Teoria. ________________________________________________________________ ABSTRACT: The paper aims to socialize some thoughts and experiences that occurred during the studants’ training in History Course Unicruz (University of Cruz Alta, RS). The theoretical basis of such reflections are Fonseca (2004/07), CAIMI (2008) among others. The research is characterized by having a descriptive and qualitative tools like observation and experience reports. They point out that in stages beginning to be viewed not only as an axis curriculum, but a significant space in teacher education. Keywords: Teaching. Teacher Training. Practice. Theory. 1 Doutor em História (PUCRS), Docente da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ) 2002 – 2012; Atualmente docente do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha, Câmpus Júlio de Castilhos. 2 Doutora em História (PUCRS), Docente aposentada da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ).

REFLEXÕES SOBRE A PRÁXIS AS VIVÊNCIAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HISTÓRIA.pdf

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  • DOI: 10.5433/2238-3018.2013v19n1p71 _______________________________________________________________________________

    ________________________________________________________________ Histria & Ensino, Londrina, v. 19, n. 1, p. 71-98, jan./jun. 2013

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    REFLEXES SOBRE A PRXIS: AS VIVNCIAS NO ESTGIO

    SUPERVISIONADO EM HISTRIA

    REFLECTIONS ON PRAXIS: EXPERIENCES IN SUPERVISED INTERNSHIP IN

    HISTORY

    Aristeu Castilhos da Rocha1

    Maria Catharina Lima Pozzebon2

    ________________________________________________________________

    RESUMO: O trabalho tem como objetivo socializar algumas reflexes e vivncias

    ocorridas em situao de estgio no curso de Licenciatura em Histria da Unicruz

    (Universidade de Cruz Alta, RS). A base terica de tais reflexes so FONSECA

    (2004/2007/2011), CAIMI (2008), Barroso (2010), entre outros. A pesquisa

    caracteriza-se pelo cunho descritivo-qualitativo, tendo como instrumentos a

    observao e os relatos de experincias. As mesmas nos apontam que os estgios

    comeam a ser vistos no apenas como eixo curricular, mas um espao

    significativo na formao de professores.

    Palavras-chave: Ensino. Formao de Professores. Prtica. Teoria.

    ________________________________________________________________

    ABSTRACT: The paper aims to socialize some thoughts and experiences that

    occurred during the studants training in History Course Unicruz (University of Cruz Alta, RS). The theoretical basis of such reflections are Fonseca (2004/07), CAIMI

    (2008) among others. The research is characterized by having a descriptive and

    qualitative tools like observation and experience reports. They point out that in

    stages beginning to be viewed not only as an axis curriculum, but a significant

    space in teacher education.

    Keywords: Teaching. Teacher Training. Practice. Theory.

    1 Doutor em Histria (PUCRS), Docente da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ) 2002 2012;

    Atualmente docente do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia Farroupilha, Cmpus Jlio de Castilhos.

    2 Doutora em Histria (PUCRS), Docente aposentada da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ).

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    Introduo

    O presente texto pretende socializar algumas reflexes e vivncias

    ocorridas, a partir de 2002, no curso de Histria (Licenciatura Plena) da

    Universidade de Cruz Alta. O municpio de Cruz Alta localiza-se no planalto mdio

    gacho no caminho percorrido pelas tropas que partiam do RS com destino a

    Feira de Sorocaba em So Paulo. Suas origens histricas lusitanas destacam-se

    em uma rea muito prxima hispnica regio missioneira. Seu crescimento

    est intimamente associado s atividades agropastoris, a viao frrea e a forte

    presena militar atravs dos quartis. Na atualidade, Cruz Alta projeta-se como

    um polo regional, principalmente, nos planos da sade e educao. A ideia da

    construo deste texto nos leva a repensar os limites e possibilidades a respeito

    do contexto scio-histrico-cultural local e regional de trabalho e chamar a

    ateno sobre o significado do Estgio Curricular no processo de formao

    pessoal / profissional do historiador / docente em Histria.

    A formao de professores alm de ser uma demanda da sociedade que

    busca o desenvolvimento pleno deve ocupar lugar estratgico nas instituies de

    educao superior. A prtica social desenvolvida pelas mesmas devem garantir

    espaos e aes inclusivas, ticas, humanizadoras e democrticas que sejam

    capazes de contemplar necessidades regionais e as diversidades. No

    entendimento de Corsetti (2002, p. 35) as:

    Instituies formadoras dos educadores necessitam aprofundar um

    trabalho que garanta o desenvolvimento no s da conscincia

    social por parte dos futuros professores, mas tambm de

    sensibilidade social. Nesse sentido, fundamental que os novos

    educadores possam ser preparados para que tenham a

    compreenso plena do papel da escolarizao num mundo com o

    que atualmente se estrutura nos marcos de um processo de

    globalizao.

    nessa perspectiva que situamos as atividades de ensino, pesquisa e

    extenso dinamizados no curso de Histria. As mesmas se efetivaram de forma

    contextualizada a partir de prticas mediadas por profissionais da Histria

    compromissados com a Educao. Como diz Helfer (2010, p. 77): No sentido de

    melhor qualificar a profisso e o exerccio da docncia nos diferentes nveis e

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    modalidades da educao bsica, visando garantia de um processo de ensino-

    aprendizagem de qualidade socialmente diferenciada.

    O curso de Histria3 tem suas origens intimamente interligadas

    Licenciatura em Estudos Sociais. A sua criao insere-se no contexto econmico,

    poltico, social brasileiro e global que comeou a ser delineado a partir da

    segunda metade da dcada de 1970. As transformaes intensificaram-se na

    dcada seguinte, mas a nova legislao que nortear a formao de professores4

    no Brasil, trazendo novos contornos s discusses, comea a emergir no fim da

    dcada de 1990.

    A formao de professores passa integrar as polticas pblicas que

    comeam a emergir na poca e os debates que ocorriam no meio a acadmico

    tanto no Brasil como no exterior. As discusses ganham novos tempos / espaos

    gerindo, inclusive, intensas reflexes no mbito do (s) curso (s) de Histria. Ao

    realizar os estudos sobre esse contexto Fonseca (2011, p. 275 276) enfatiza:

    Nos ltimos anos, estamos vivenciando, no Brasil, um processo de

    reviso, crticas, ampliao e reconhecimento de diversos lugares,

    processos, sujeitos, saberes e prticas formativas, modos de

    aprender, ensinar e aprender a ensinar, de formar-se, tornar-se

    professor de Histria. A formao, como bem sabemos, no se inicia

    nem termina nos cursos de Licenciatura. A formao do professor

    permanente. Desenvolve-se em diferentes tempos espaos, ao

    longo da vida dos sujeitos educadores. Ningum nasce professor,

    nem h um ponto determinado da vida em que o sujeito torna-se

    professor. O curso superior habilita, certifica, mas no o ponto

    final da formao. Para muitos, marca o inicio de uma trajetria.

    Sintonizada com as necessidades da sociedade de sua poca, a UNICRUZ

    preocupa-se em formar um profissional inovador, criativo, crtico, reflexivo,

    pesquisador e interdisciplinar capaz de aliar os saberes cientficos ao seu fazer

    pedaggico. Esse perfil vem ao encontro do pensamento de Oliveira (2007, p.

    305) quando diz:

    As necessidades do mundo atual exigem a formao de profissionais

    que acompanhem a evoluo do conhecimento, que assumam o

    3.Resoluo Comum n 09/98, 25/8/1998; Reconhecido pela Portaria MEC 3897/2003; DO 23/12/2003; Renovao do Reconhecimento Portaria n 1655/2010, DO 08/10/2010. 4 Sobre ver: Revista Educao Formao de professores, v. 31, n 03. Porto Alegre: PUCRS, set/dez/2008

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    trabalho de forma consciente e crtica e que revelam caractersticas

    capazes de assegurar participao e compromisso poltico e

    cidadania. Tais indicadores devem orientar a prtica do professor,

    tendo em vista assegurarem a formao do ser histrico, construtor

    da sociedade em que vive.

    Pensar a formao de professores algo que exige intensas reflexes,

    atitudes e decises que possam contribuir para a renovao das prticas sociais.

    Com base nas premissas anteriormente mencionadas que decidimos pela

    construo deste texto que enfoca as nossas convices alm das vivncias

    interativas desenvolvidas ao longo do processo. O mesmo dinamizado a partir

    de atividades que segundo Lautier (2011, p. 51) so de delinear as operaes

    cognitivas mobilizadas nas aulas so o guardio da identidade profissional,

    profundamente disciplinar, dos professores, e das dificuldades encontradas se

    traduzem frequentemente por uma defasagem entre as intenes e os atos.

    Desenvolvimento

    Com o intuito de promover a atualizao contnua do conhecimento,

    articulao terica e prtica, dilogos, orientaes, flexibilidade, investigaes,

    desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores, convivncia com questes

    ticas, sociais e profissionais bem como melhorar o processo de formao do

    professor de Histria que propomos esse texto. Em nosso entendimento o

    enriquecimento desse processo passa pela formao de um professor

    pesquisador. Ao falar em aproximaes entre ensino e pesquisa lembramos

    Freire (2000, p. 32) quando o mesmo diz:

    No a ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino

    continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque

    indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar,

    constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso

    para conhecer o que ainda no conheo e comunicar ou anunciara

    novidade.

    Na continuidade de seu pensamento Freire (2000, p. 32) ressalta:

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    Fala-se hoje, com insistncia, no professor pesquisador. No meu

    entender o que h de pesquisador no professor no uma

    qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente de

    ensinar. Faz parte da natureza da prtica docente a indagao, a

    busca, a pesquisa. O de que se precisa que, em sua formao

    permanente, o professor se perceba e se assuma, porque

    professor, como pesquisador.

    Em meio s crises e reflexes a respeito da Educao cresce a

    importncia dos processos de formao inicial e continuada de professores.

    Nesse sentido retorna-se a ideia de formar professores que alm de serem

    capazes de mediar o processo de construo do conhecimento sejam eficientes

    pesquisadores. O papel da pesquisa na formao de professores como enfatiza

    Andr (2006, p. 123) propiciar o:

    Desenvolvimento de sujeitos autnomos, livres e emancipados. A

    pesquisa pode tornar o sujeito professor capaz de refletir sobre a sua prtica profissional e de buscar formas (conhecimentos,

    habilidades, atitudes, relaes) que o ajudem a aperfeioar cada

    vez mais seu trabalho docente, de modo que possa participar

    efetivamente do processo de emancipao das pessoas.

    Os desafios da sociedade contempornea requerem que o professor da

    educao bsica seja um cidado completo capaz de atender de forma eficaz as

    necessidades deste novo tempo. natural que este completo passe,

    necessariamente, pelos aportes tericos, pelos valores identitrios, humanos e

    de cidadania, pelos aspectos pedaggicos e por atitudes investigativas,

    inovadoras e interdisciplinares no processo de ensinar e aprender histria.

    Ao se referir a complexa tarefa de ressignificar a identidade do

    professor, por sua vez, Bittencourt (2004, p. 16 17) esclarece:

    O ensino, atividade caracterstica dele, uma prtica social

    complexa, carregada de conflitos de valor e que exige posturas

    tnicas e polticas. Ser professor requer saberes e conhecimentos

    cientficos, pedaggicos, educacionais, sensibilidade, indagao

    terica e criativa para encarar as situaes ambguas, incertas,

    conflituosas e, por vezes, violentas, presentes nos contextos

    escolares e no escolares. da natureza da atividade docente

    proceder mediao reflexiva e crtica entre as transformaes

    sociais concretas e a formao humana dos alunos, questionando os

    modos de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir

    conhecimentos.

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    A formao da identidade do professor bem como o seu processo

    formativo so aspectos que se prolongam pela vida inteira. Para que isso ocorra

    imprescindvel que esse processo se efetive aliado a novas propostas

    curriculares no mbito da academia. Nessa perspectiva, salutar que as prticas

    de ensino, pesquisa e extenso sejam criativas, dialgicas, contnuas, autnomas

    e capazes de anunciar novas posturas que venham, como defende Clotet (2011,

    p. 15), compatibilizar sua formao acadmica com as exigncias do mundo

    laboral.

    Esses requisitos precisam ser presenas indispensveis no mbito do

    processo formativo qualificado do professor. A identidade epistemolgica e

    profissional do mesmo simultnea e realizam-se no sentido terico e na prtica

    social. Na formao de professores, as atividades de ensino e pesquisa de acordo

    com Bittencourt (2004, p. 19) devem: Considerar a pesquisa como principio

    cognitivo, investigando com os alunos a realidade escolar, desenvolvendo neles

    essa atitude investigativa em suas prticas profissionais e assim tornando a

    pesquisa tambm princpio formativo na docncia.

    No momento em que elaboramos esse texto encontramos respaldo terico

    em um documento recente do Ministrio da Educao que traz orientaes

    curriculares para o ensino de cincias humanas no Ensino Mdio. Ao se referir

    aos professores de Histria as OCEM5 (2006, p. 93) assim expressa:

    A formao slida dos profissionais que atuam no sistema de ensino

    condio imprescindvel para implantao de reformas

    educacionais. Da a responsabilidade das instituies que se

    dedicam formao superior de historiadores-professores em

    estruturar propostas e prticas curriculares que visem os domnios

    no apenas do contedo, das teorias e metodologias do

    conhecimento histrico, mas tambm ao domnio das proposies

    tericas e metodolgicas a respeito do processo

    ensino/aprendizagem da Histria. A formao bsica

    constantemente realimentada pela formao permanente fornecer

    a consistncia necessria para que os professores-historiadores

    desempenhem suas funes na elaborao e na execuo do projeto

    pedaggico da escola.

    5 Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio. Histria. Cincias Humanas. v. 3 Braslia:

    MEC/Secretaria de Educao Bsica, 2006.

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    Atualmente, escola e sociedade vm passando por transformaes em

    razo da interdependncia planetria e globalizao da informao, o que faz

    com que pesquisadores da rea da educao dediquem parte de seus estudos

    questo da formao de professores, sobretudo a formao continuada. Nesse

    caso priorizamos as nossas indagaes a respeito da formao do professor de

    Histria.

    Em meio a um quadro dominado pela mundializao e/ou globalizao

    para pensar a formao de professores, torna-se necessrio uma reflexo sobre

    as relaes entre o global e o local, a tradio e a modernidade, entre o

    espiritual e o material, teoria e prtica, ensino e pesquisa bem como sobre o

    desenvolvimento de capacidades de assimilao e construo do conhecimento

    em um determinado espao-tempo. Na realidade esse processo deve responder

    aos desafios da rapidez de um mundo em mudana a partir dos princpios como

    tica, cultura, diversidade, cognio, autonomia, comunicao, incluso,

    responsabilidade pessoal e profissional, acessibilidade no tempo e no espao,

    enfim, como ressaltam Bastos e Quadros (2005, p. 55): Uma formao docente

    plural que ajude a processar a multiplicidade de desafios de uma sociedade

    complexa e multicultural, para realizar uma prtica reflexiva e transformadora,

    compreendendo-se como sujeito da Histria no/do cotidiano

    escolar/educacional.

    Hoje no panorama da educao brasileira, coexiste uma enorme

    diversidade de alternativas de ensinar, aprender e formar professores que iro

    mediar o processo ensino-aprendizagem na Escola Bsica. No universo das

    licenciaturas observamos uma multiplicidade de currculos, programas e

    concepes ideolgicas, polticas, tericas e metodolgicas. Essa diversidade

    inspira pesquisas nos diferentes campos do conhecimento e da educao.

    Na prtica torna-se preciso a dinamizao de um processo que exige

    investigao, sensibilidade e postura crtica entre os alunos e professores

    durante as aes investigativas e formativas de construo de saberes nos

    diversos espaos-tempos culturais e educativos. Torna-se cada vez mais urgente,

    pensar a essencialidade de formarmos um professor pesquisador, crtico,

    pensador, articulador entre os conhecimentos gerais e especficos, cidado e

    capaz de coordenar um processo interdisciplinar, aberto, construtivo e dinmico

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    de elaborao de novos saberes, conforme Tardif (2002) Nesse contexto a

    interdisciplinaridade alm de precisar ser considerada como uma urgncia na

    contemporaneidade fundamental que seja considerada uma atitude e pelo

    vis do pensamento de Fazenda (2000). Por outro ngulo e indo ao encontro

    dessas ideias recordamos Trindade (2008, p. 82) quando o mesmo assim refere:

    A prtica interdisciplinar pressupe uma desconstruo, uma

    ruptura com o tradicional e com o cotidiano tarefeiro escolar. O

    professor interdisciplinar percorre as regies fronteirias onde o eu convive com o outro sem abrir mo de suas caractersticas, possibilitando a interdependncia, o compartilhamento, o encontro,

    o dilogo e as transformaes. Esse o movimento da

    interdisciplinaridade caracterizada por atitudes ante o

    conhecimento.

    Nessa perspectiva, entendemos que as prticas pedaggicas devem

    ocorrer ao longo do processo formativo como algo social, histrico e

    culturalmente elaborados. Assim recorremos a Fonseca (2007, p. 152) quando

    diz:

    Uma proposta no decorrer do processo de formao inicial que

    tenha, como eixo vertebrador, a reflexo na e sobre a prtica

    conduz s transformaes necessrias produo de saberes e

    prticas que possibilitam as incorporaes/superaes de forma

    dinmica e dialtica.

    No processo interativo entre formadores e formandos torna-se cada vez

    mais necessrio que sejam contempladas as dimenses tericas, tcnica, e

    instrumental. Nesse sentido, fundamental que ocorram dilogos e

    aproximaes entre os fundamentos cientficos, pedaggicos e polticos,

    assegurando dessa forma a formao de professores capazes de articular

    saberes e prticas em uma realidade complexa, desigual, plural e adversa.

    A poltica educacional brasileira faz aluso profissionalizao de

    professores baseada no desenvolvimento de competncias, destacando o saber

    prtico docente, o saber fazer, e, por conseguinte estabelecendo estreitas

    relaes com o sistema produtivo mundial.

    O desafio maior s instituies formadoras de docentes continua sendo a

    formao do professor, sem cair no marasmo de formar simplesmente para

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    saber fazer, mas para saber explicar o que faz, em um processo dialtico

    entre teoria-prtica, sendo a pesquisa um eixo pedaggico bsico, sendo

    essencial a possibilidade de um constante (re)fazer, (re)construir de saberes

    docentes. A dinamizao desse processo precisa aliar a educao na sua

    globalidade e estreitar relaes entre a teoria e a prtica educativa. As prticas

    precisam ser entendidas enquanto atividade humana permeada pela

    dialogicidade, teoria, reflexo, conscientizao e autonomia. Nessa perspectiva,

    as mesmas vo conceder licena prxis que no entendimento de Rossato

    (2008, p. 331) pode ser compreendida como a estreita relao que se

    estabelece entre um modo de interpretar a realidade e a vida e a consequente

    prtica que decorre desta compreenso levando a uma ao transformadora.

    Nessa linha de raciocnio entendemos a prxis como algo essencial na formao

    humana e no processo de formar professores.

    Nvoa (1995, p. 25), por sua vez, ao referir-se formao de professores

    prope atravs da prtica um processo reflexivo sobre a profisso:

    A formao no se constri por acumulao (de cursos, de

    conhecimento ou de tcnicas), mas sim atravs de um trabalho de

    reflexividade critica sobre as prticas e de (re)construo

    permanente de uma identidade pessoal. Por isso to importante

    investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experincia.

    A formao na verdade, conforme Pimenta (2000, p. 29) uma

    autoformao, uma vez que os professores reelaboram os saberes iniciais em

    confronto com suas experincias prticas, cotidianamente vivenciadas nos

    contextos acadmicos. nesse confronto e num processo coletivo de troca de

    experincias e prticas que os professores vo construindo seus saberes como

    praticum, ou seja, aquele que constantemente reflete na e sobre a prtica.

    Percebemos e acreditamos que a formao docente na dupla perspectiva

    do professor enquanto indivduo (aspecto pessoal), inserido num coletivo

    (aspecto organizacional escolar), em que a construo de saberes e fazeres

    ocorre na dimenso da ao-reflexo-ao, enquanto processo de investigao e

    por consequncia investigao-formao. Ao tratarmos desses aspectos vamos

    encontrar respaldo em Isaia e Piveta (2008, p. 261) quando afirmam que no

    momento

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    Em que o professor identifica o espao de trabalho como um

    ambiente de formao docente e que este acontece paralelo a

    formao de aluno, a troca de conhecimentos e a socializao de

    saberes, a prtica pedaggica torna-se um processo de construo

    que permanente, em que a tica, o respeito, a humildade e o

    comprometimento de cada professor viabilizam a construo desse

    importante universo formativo.

    Na realidade os sujeitos envolvidos com o curso de Histria e o grupo de

    pesquisa Estudo, Ensino e Pesquisa em Histria so comprometidos em propor

    aes formativas de carter cientifico, histrico e pedaggico. As leituras e

    experincias vivenciadas nos levam a acreditar, cada vez mais, na necessidade

    de um referencial terico atualizado e de prticas de ensino e pesquisa capazes

    de demonstrar resultados que evidenciem outras alternativas. No caso especifico

    da formao do professor de Histria o projeto deve contribuir conforme Fonseca

    e Couto (2009, p. 108) para a: Formao de um profissional qualificado para o

    exerccio da pesquisa, em consonncia com as novas tecnologias, que domina

    competncias e habilidades para o exerccio da profisso de historiador e seja

    capaz de atuar no mundo globalizado.

    Nessa perspectiva recorremos a Cerri (2011, p. 18) que, por sua vez,

    argumenta:

    se o ensino de histria implica o gerenciamento dos objetivos

    curriculares e das concepes de tempos e de histria que os

    alunos j trazem consigo desde fora da escola, ento o professor

    de histria definitivamente no tradutor de conhecimento erudito

    para o conhecimento escolar, um simplificador de contedos. ,

    sim, um intelectual capaz de identificar os quadros de conscincia

    histrica subjacentes aos sujeitos do processo educativo inclusive o seu prprio de assessorar a comunidade na compreenso crtica de tempo, da identidade e da ao na histria.

    Essas reflexes no contemplam a amplitude da temtica. Pelo contrrio,

    suscitam novas investigaes sobre a formao de professores e anunciam o que

    recomenda Lima (2008, p. 137) que a mesma precisa ser:

    Redimensionada, ou a escola corre o risco de entrar em um

    processo de esvaziamento de sua funo social. O professor que

    antes no sentia necessidade de refletir sobre si mesmo sobre seu saber, seu fazer e seu saber fazer agora precisa no s dessa

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    reflexo, mas dessa reflexo no espao coletivo. O professor que

    saa se sua formao inicial pronto para exercer sua funo agora precisa cada vez mais do conhecimento. Conhecimento sobre seu

    trabalho, sobre o trabalho escolar e sobre si mesmo.

    A universidade brasileira est passando por um momento de certezas e

    incertezas. A mesma comea a assumir um novo patamar terico-metodolgico,

    criando assim uma nova relao entre ensinar e aprender na qual a cognio, o

    afeto e a tica sejam companheiros de uma significativa jornada.

    O caminho proposto o aprimoramento da qualidade do processo

    formativo. Os dilogos e as atividades de ensino e/ou investigao viabilizaro

    intercmbios entre sujeitos, ideias, saberes, valores, tradies, smbolos,

    significados, experincias bem como a elaborao de recursos didticos

    estratgicos para a qualificao do processo ensino-aprendizagem em histria.

    Retornando o foco maior de nosso texto, passamos a partilhar com o leitor

    parte das nossas vivncias enquanto orientadores dos Estgios no Curso de

    Histria da Universidade de Cruz Alta (Unicruz/RS). As mesmas ocorreram no

    perodo compreendido entre o ano de 2002 a 2012.

    A base curricular do curso de Histria constituda, conforme a legislao,

    pelas disciplinas de carter terico, histrico e cientfico especficos da rea, as

    disciplinas de formao didtico-pedaggica, as optativas, os TCCs6 e as

    atividades complementares. Nessa lgica, esclarecemos que a sua organizao

    curricular est em consonncia com a Resoluo CNE / CP n 02/2002,

    respaldada no Parecer CNE / CP n 28 / 2001, o qual institui a durao e carga

    horria dos cursos de Licenciatura. O mesmo estabelece a exigncia da

    integralizao de, no mnimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais o

    entrecruzar teoria e prtica deve ser salvaguardado no Projeto Pedaggico e

    atender as dimenses dos componentes comuns:

    [...] I 400 (quatrocentas) horas de prtica como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;

    II- 400 (quatrocentas) horas de estgio curricular supervisionado a

    partir do incio da segunda metade do curso;

    III 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os contedos curriculares de natureza cientfico-cultural;

    6 Trabalho de Concluso de Curso

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    IV 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadmico-cientfico-culturais.

    Pargrafo nico: os alunos que exeram atividade docente regular

    na educao bsica podero ter reduo da carga horria do estgio

    curricular supervisionado at o mximo de 200 (duzentas horas).

    (BRASIL, 2001, p. 16)

    Em meio a essa organizao, as disposies legais do origem s

    atividades relativas ao campo de estgio7 como componente curricular

    obrigatrio. Ao verificarmos como acontece a articulao teoria e prtica

    percebemos que a mesma ocorre em sintonia ao que esclarece o Parecer CNE /

    CP n 09 / 2001: A prtica na matriz curricular no pode ficar reduzida a um

    espao isolado que a reduza ao estgio como algo fechado em si mesmo e

    desarticulado do restante do curso.

    As dinmicas implementadas no Curso de Histria, originadas a partir da

    confluncia entre os aportes tericos e as situaes experimentais fortalecem a

    construo qualificada do conhecimento, bem como as relaes dialticas entre a

    teoria e a prtica. Nessa perspectiva, os estgios8 curriculares constituem-se em

    desafios do ponto de vista terico e prtico, tanto para o acadmico em processo

    de formao, como para o professor orientador.

    Cabe ressaltar que o Estgio, essencial para o acadmico alcanar a

    Licenciatura Plena em Histria, um espao social que exige conhecimento da

    realidade, postura epistemolgica, reflexes tericas, aproximao entre os

    saberes acadmicos e os saberes escolares, planejamento, alternativas

    metodolgicas, recursos didticos adequados, acompanhamento e avaliao. Por

    outro lado, um momento significativo de construo da identidade docente.

    Como defende Rodrigues (2004, p. 66) uma:

    Situao transitria de preparao profissional um aprendizado mediante exerccio prtico. cada uma das sucessivas atividades projeto, planejamento, execuo, construo do relatrio nas quais o estagirio tem sua ao orientada e supervisionada por um

    professor.

    7 Sobre ver: PICONEZ, Stela C. Bertholo (coord). A Prtica de Ensino e o Estgio Supervisionado. 9 ed. Campinas: Papirus, 2003. 8 ABDALLA, Maria de Ftima Barbosa. A Relao Teoria e Prtica no Campo de Estgio. Revista de

    Educao. N 26. Campinas: PUC / Campinas, jan/jun / 2009. p. 53-52.

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    O estgio deve propiciar ao aluno um contato com a realidade que

    vivenciar como profissional. Essa a concepo que estamos discutindo e

    consideramos que deva prevalecer e nessa perspectiva que estamos

    trabalhando e adotando s prticas que garantam uma experincia ativa e

    dinmica.

    O parecer CNE / CP n 28 / 2001 quando trata do estgio assim se refere

    o momento de efetivar, sob a orientao de um profissional experiente, um

    processo de ensino-aprendizagem que se tornar concreto e autnomo quando

    da profissionalizao deste estagirio.

    O estgio um momento de prtica e cultura onde o acadmico, em

    processo de formao, desafiado a pensar, ensinar e agir. As suas aes

    precisam ser permeadas por saberes, valores e atitudes inovadoras,

    contribuindo, como diz Bittencourt (2004. P. 13-21) para a mediao entre os

    significados do saber no mundo atual e aqueles dos contextos nos quais foram

    produzidos. recomendvel que o mesmo seja capaz de refletir, rever ideias,

    encontrar solues para situaes ambguas, propor dilogos, formar

    conscincias, sugerir situaes prticas, pois, como lembra Fonseca (2004, p.

    84) ensinar histria partilhar saberes, contribuindo para a formao de uma

    determinada maneira de ver e compreender o mundo.

    A essa altura pertinente trazer, para o texto, a contribuio de Pimenta e

    Lima (2004, p. 132) quando as mesmas elucidam o encontro entre a teoria e a

    prtica em situao de estgio. Segundo as autoras, isto ocorre quando o

    professor no:

    Espao do estgio tem a possibilidade de se reconhecer como

    sujeito que no apenas reproduz o conhecimento, mas tambm

    pode tornar-se seu prprio trabalho de sala de aula em um espao

    de prxis docente e de transformao humana. na ao refletida e

    no redimensionamento de sua prtica que o professor pode ser

    agente de mudanas na escola e na sociedade.

    Na realidade o estgio um espao-tempo rico em intencionalidades onde

    o acadmico deve pautar as suas aes na mediao crtico-reflexiva entre as

    mutaes da sociedade e o processo de formao humana, intelectual e cidad

    de seus alunos. um momento significativo onde o estagirio estabelece uma

    cumplicidade com o aprendiz, originando-se assim o que acreditam Tardif e

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    Lessard (2005, p. 267) um conjunto de interaes personalizadas com os

    alunos, a fim de obter participao deles em seu prprio processo de formao e

    atender s suas diferentes necessidades.

    O estgio uma oportunidade que aproxima o aprendiz em formao com

    a realidade do sistema educacional. Alm de diagnosticar a realidade do contexto

    onde se realiza a prxis que de acordo com Rossato (2008, p. 331) uma

    sntese entre teoria palavra e ao. O mesmo estabelece relaes crticas e

    reflexivas pautadas nos princpios da tica, justia, autonomia, incluso,

    diversidade, participao responsvel e interdisciplinaridade.

    A contemporaneidade, plena em transformao, requer uma escola onde

    as atividades socioeducativas e culturais previstas em seu projeto pedaggico e

    desenvolvidas pelos seus professores conforme Bittencourt (2004, p. 17) deve

    proceder a mediao reflexiva e crtica entre as transformaes sociais

    concretas e a formao humana dos alunos, questionando os modos de pensar,

    sentir, agir e de produzir e distribuir conhecimentos.

    Para compreendermos melhor os propsitos dos estgios curriculares

    efetivados no Curso de Histria da UNICRUZ, passamos a seguir a anunciar como

    os mesmos transcorrem. salutar que seja garantida uma eficcia pedaggica e

    isto exige que durante os mesmos ocorra um continuum de orientaes,

    investigao, exerccio do saber e do conhecimento adquirido durante o curso,

    discusses, reflexes, troca de experincias, sugestes, vivncias,

    acompanhamento e avaliao da e na Universidade / Escola. O entendimento

    que temos a respeito do estgio nos leva a empreender iniciativas criativas e

    desafiadoras, mas ao mesmo tempo respaldadas pelos estudos realizados por

    Fonseca (2007, p. 153) a respeito da articulao estreita entre saberes e prtica

    pedaggica no mbito da Histria. A autora concebe os seguintes objetivos da

    prtica pedaggica nos cursos de formao de professores:

    Articular teoria e prtica no contexto da educao escolar bsica, saberes

    disciplinas e pedaggicos;

    Criar condies para que os futuros profissionais da educao possam

    vivenciar diversas situaes educativas em diferentes realidades e

    contexto socioeducacionais;

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    Propor situaes que ampliem as oportunidades do campo de trabalho, por

    meio da compreenso das relaes entre a prtica e o contexto social;

    Compreender as questes da pluralidade cultural e diversidade social e

    suas implicaes no contexto escolar;

    Promover situaes interativas que possibilitem a ressignificao das

    experincias;

    Utilizar diferentes metodologias e tecnologias de ensino, de modo a

    propiciar ao futuro profissional suportes necessrios para o exerccio da

    prtica docente;

    Organizar a prtica orientada baseada no princpio ao-reflexo-ao,

    articulando teoria e prtica em todos os momentos do trabalho;

    Compreender a avaliao como momento do ensino-aprendizagem,

    subsdio para o replanejamento das atividades;

    Valorizar todas as dimenses do trabalho pedaggico do professor no

    contexto escolar;

    Valorizar os aspectos ticos, polticos e estticos a serem observados na

    elaborao e no desenvolvimento das propostas pedaggicas;

    Enfatizar o processo de construo e reconstruo da identidade

    profissional no processo de formao terico-prtico;

    Participar dos processos de elaborao, desenvolvimento e avaliao dos

    projetos de ensino e histria.

    Somos conscientes da amplitude das posies de Fonseca (2007). Nesse

    sentido, ntida a conscincia do significado e urgncia de contribuirmos terica

    e metodologicamente para a formao de um profissional que como recomenda a

    ANPUH9 e avalizam Corsetti / Canan (2010, p. 52 53), ou seja, tenha

    qualidades para ser um excelente professor e um excelente trabalhador em

    outros espaos que exijam o conhecimento historiogrfico. O grande

    compromisso com a formao de professores / pesquisadores capazes, no

    exerccio da prtica, de construrem um planejamento permeado pela sintonia

    dos objetivos, interfaces dos contedos e pela interatividade de ambos a partir

    de atividades criativas, crticas, ldicas, emancipatrias e interdisciplinares. Para

    que isso torne-se uma realidade constituda, a inteno entrecruzar olhares,

    9 Associao Nacional dos Professores de Histria

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    teorizar, estabelecer dilogos entre sujeitos, rever discursos, redefinir

    possibilidades, redimensionar prticas e por isso recorremos a Zamboni e

    Mesquita (2008, p. 159) quando definem que a docncia, o ensino e a reflexo

    sobre a formao de professores de Histria fazem parte do ofcio do

    historiador.

    Dando continuidade, passamos a tecer uma narrativa sobre as

    experincias de estgios no curso de Histria. As mesmas, alm de atender aos

    aspectos legais, propiciam situaes inusitadas, at ento, para os acadmicos.

    Os primeiros contatos com a Educao Bsica foram mantidos atravs da

    participao nas atividades propostas pelas disciplinas de Prtica Docente. O

    Estgio Curricular Supervisionado I (ECS I) ocorre no 5 perodo atravs da

    investigao da realidade escolar e da turma onde ocorrero, efetivamente, os

    primeiros exerccios da docncia em Histria de 5 a 8 srie e/ou do 6 ao 9

    ano do Ensino Fundamental.

    A inteno bsica que o estgio se constitua um campo de vivncia

    social tendo a prtica pedaggica como princpio integrador. Essa prtica se

    insere como parte deste tecido que nos propicia as vivncias enquanto sujeitos

    capazes de atuar criativamente em situaes complexas na construo de novos

    saberes. Nessa perspectiva, recorremos a Gonalves (2011, p. 01) quando diz:

    Os estgios so elementos fundamentais na formao do aluno dos

    cursos de licenciaturas, representam um momento no qual os

    futuros docentes entram em contato com estrutura de ensino: tanto

    na sua parte administrativa, isto , a direo e a orientao

    pedaggica, como tambm com os professores e alunos. Em seu

    contato com a escola os estagirios vo tomando conscincia das

    reais condies de existncia da escola pblica, como ela funciona,

    qual sua lgica, percebem as formas a partir das quais se realizam

    nesse coletivo chamado escola as prticas cotidianas. Observam o

    que tem sentido e o que valorizado pelos sujeitos, professoras,

    professores e funcionrios, que l passam a maior parte de suas

    vidas teis.

    O ECS I exige que o acadmico esteja imbudo de um esprito investigativo

    cujos resultados apontam caminhos para o conhecimento do contexto e para o

    planejamento da prtica. Esse exerccio, com certeza, aproxima o ensino e a

    pesquisa, pois, como defende Martins (2010, p. 9) aprende-se com que se

    encontra ou com quem nos encontramos; inversamente, aprendem conosco

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    aqueles com quem convivemos e, a partir de nossas aes concretas, produz-se

    no mundo vivdo realidade transformada. Os processos de mediao so

    constantes e intercambiveis.

    Logo aps a primeira aula do componente ECS I, quando ocorre a

    apresentao, socializao e replanejamento do mesmo, acontece uma reunio

    onde o professor orientador informa sobre a dinmica processual de primeiro

    estgio. Nesse momento dinamiza-se a apresentao das informaes a respeito

    das observaes, instrumentos a serem utilizados na pesquisa, da sistematizao

    de dados e informaes que iro subsidiar a organizao do planejamento e / ou

    do Projeto a ser implementado no ECS II.

    Alm da entrevista com representante da Equipe Diretiva e com o

    professor da turma o acadmico utiliza um roteiro de orientao, geralmente,

    tanto nas entrevistas quanto nas investigaes no Regimento Escolar, no Projeto

    Poltico Pedaggico, no Plano de Estudos da disciplina, bem como junto turma

    na sala de aula. As observaes e a pesquisa constituem-se em atividades

    bsicas do ECS I. As mesmas desvelam dados e informaes em relao ao

    contexto socioeconmico e cultural onde a escola est inserida; objetivos e

    atividades a serem desenvolvidas no recorte temporal em questo; os contedos

    a serem abordados; as habilidades e competncias em processo de construo;

    os valores a serem repensados, a sistemtica de avaliao; os recursos didticos

    disponveis, o referencial bibliogrfico decorrente da necessidade especfica de

    cada estagirio conforme o projeto a ser desenvolvido.

    Esse estgio e os demais so vitais no processo formativo do

    professorando constituindo-se no entendimento de Caimi (2008, p. 290) em um:

    Processo investigativo-reflexivo sobre a prtica que no pode

    prescindir, sob qualquer pretexto, da efetiva interlocuo com um

    aporte terico que nos permita constituir um crculo virtuoso-

    espiralado (e no vicioso) de ao-reflexo-ao, operando

    transformaes tanto no sujeito (professorando) quanto suas

    aes docentes.

    Dessa forma, a sistematizao dos dados e informaes agilizam a

    elaborao do Projeto de Ensino respeitando o contexto cultural da escola, a

    valorizao dos conceitos e conhecimentos a serem elaborados e assimilados

    pelos alunos, bem como a possibilidade de gerir atividades de ensino que

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    ensejam o desenvolvimento de habilidades e competncias essenciais na prtica

    de Ensino de Histria. Nessa perspectiva, comea a ser delineado o projeto que

    lanado no ECS II.

    No ECS II o acadmico escolhe trabalhar de 5 a 8 srie e/ou do 6 ao 9

    ano do Ensino Fundamental durante um bimestre ou trimestre, quando o

    acadmico chega ao 6 perodo do Curso de Histria. o momento em que o

    professor estagirio, enquanto sujeito histrico recorre s leituras realizadas das

    polticas pblicas, da produo historiogrfica / educacional e dos processos

    culturais que assinalam o cotidiano social contemporneo. quando ocorre a

    prtica docente entendida como uma prtica sociocultural onde vivem e se

    contrapem sensibilidades, atividades, contexto social de atuao, tica,

    concepes de mundo, habilidades, formas dialticas do pensar e do ser,

    conhecimentos e experincias de vida. Com esta postura prope a superao da

    dicotomia terica e prtica. Portanto considera-se que no h mais possibilidade

    de dissociar conhecimento e prtica. Esses elementos apontam o que Corsetti /

    Canan (2010, p. 52) defendem substitui-se o professor passivo, pronto,

    acabado, com saberes permanentes, por um professor que sujeito de seu

    processo de conhecimento e como tal pode contribuir na formao de novos

    sujeitos.

    Nesse sentido o professor precisa ser dinmico, reflexivo, interdisciplinar e

    capaz de planejar atividades a serem efetivadas a partir de metodologias de

    ensino criativas, ldicas e contextualizadas com a produo de textos, debates,

    estudos de imagens e fotografias, elaborao de histria em quadrinhos,

    montagem de peas de teatro, anlise de filmes e documentrios, sadas de

    campo, montagem de jogos, visitas orientadas a lugares histricos e a museus,

    trabalho com mapas, elaboraes de linha de tempo ilustradas, etc. dessa forma

    contribuindo para que a sala de aula passe a constituir- se um espao de

    relaes interpessoais capazes de gerir convivncias fraternas, aprendizagens

    significativas, respeito mtuo, cultivo de autonomia, trocas de experincias, de

    elaboraes conceituais enfim tornando a sala de aula em espao-tempo social e

    cultural onde so construdos significados e saberes. Para que esse processo seja

    efetivado pertinente lembrar o que recomendam Rosa/Veit (2011, p. 309

    310)

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    As inovaes metodolgicas exigem que o professor, alm de

    dominar o contedo, seja capaz de prever a realizao da

    atividade, passo a passo, providencie e organize os materiais com

    antecedncia, tenha presena de esprito para contornar situaes

    inusitadas e seja capaz de convencer os alunos a participar. Parece

    importante tambm, que o estagirio j tenha conquistado a

    confiana dos alunos de modo a que eles tenham a certeza de que

    no sero expostos a nenhuma situao em que possam ser

    ridicularizados por sua inpcia. Alm disso, a apresentao da

    atividade a ser realizada precisa ser clara para que os alunos

    saibam exatamente o que precisaro fazer. Tambm importante

    que o professor demonstre o quanto aquela tarefa diferente

    contribui para o aprendizado.

    Nesse estgio, assim como nos vindouros, alm das orientaes

    costumeiras por parte do professor responsvel pelo ECS II, o estagirio recebe

    o apoio do professor titular da turma. Esse convvio estabelece laos de amizade

    que acabam reforando o compromisso em prol da superao da dicotomia entre

    teoria e prtica, tornando a aula um lcus de ensinar e aprender Histria. a

    partir dos anos finais do ensino fundamental que se ampliam essas

    possibilidades, abrindo, segundo Pereira / Graebin (2010, p. 172) um espao no

    qual a Histria possa ser o instrumento da ao social; um instrumento capaz

    de equipar as novas geraes com as ferramentas para ler as representaes

    que circulam na sociedade do momento presente e que circularam no passado.

    Durante as sesses de orientaes, percebemos inquietudes e certo receio

    por parte de alguns estagirios, o que na maioria das vezes no se constata por

    ocasio da visita de acompanhamento. Ao longo desse processo procuramos

    evitar aquele clima de superviso. Ao contrrio, a ideia estabelecer laos que

    chamamos cumplicidade comprometida em prol de uma prtica pedaggica

    interessante e eficiente e nesse caso, como alerta Meinerz (2010, p. 205) a:

    Prtica se redimensiona quando a gente atua com os jovens e

    comea a compreend-los no apenas como alunos. Esse

    aprendizado difcil, pois sugere transpor nossa funo e formao

    original, que , embora precariamente, lidar com o conhecimento

    abstrato, essncia de um modelo ainda permanente de escola e de

    currculo.

    O ECS III mais uma importante oportunidade de experienciao docente

    do acadmico em formao. Este estgio ocorre durante um bimestre ou

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    trimestre com uma turma das trs sries do Ensino Mdio. O ECS III

    antecedido por um perodo de observao e acesso s informaes importantes

    para a constituio de um estudo sobre o contexto social e cultural no qual a

    escola se insere. Os procedimentos e as orientaes so realizados de forma

    muito semelhante aos estgios anteriores e j explicitado neste estudo.

    As experincias dos estgios II e III nos reportam para as ideias de

    Martins (2011, p. 83 91) tanto ao defender que a histria se faz pelo agir

    humano no tempo e no espao social. Por outro lado Martins apresenta a sua

    pertinente preocupao com a qualidade controlvel dos contedos produzidos e

    utilizados e com a responsabilidade de docentes e aprendizes para consigo e

    para com os demais. No seu entendimento o ensino de histria , com isso,

    simultaneamente profisso e misso.

    Ao tratar de situao semelhante Arruda (2011, p. 139) nos traz

    interessante passagem de Lave e Wenger (1991) ao estudarem sobre

    aprendizagem. Para estes autores a aprendizagem das pessoas ocorre quando

    elas participam de uma prtica social. Os indivduos aprendem no s por

    intermdio da execuo de certas atividades, mas, tambm, pelo

    estabelecimento de relacionamentos sociais com determinados sujeitos, em

    circunstancias especficas. Eles afirmam que as atividades, tarefas e os

    entendimentos que as pessoas formam sobre as coisas possuem significado em

    sistemas mais amplos, os quais so desenvolvidos em comunidades sociais.

    Desenvolvendo a abordagem da aprendizagem situada os autores defendem que

    os aprendizes aprendem com os outros aprendizes e, participando da prtica,

    negociam significados.

    Nas vivncias como orientadores desse estgio percebemos a preocupao

    dos professorandos na fase de construo dos projetos e na elaborao das

    aulas. Outro aspecto revelado a seriedade com que as escolas tratam os

    contedos a serem abordados, tanto no sentido do aprofundamento quanto na

    urgncia em venc-los na pequena carga-horria da disciplina. Essa preocupao

    tem a ver com o nvel de exigncia dos vestibulares nas universidades federais e

    na prova do Enem.

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    Felizmente desde que comeamos atuar como orientadores desse estgio

    no tivemos nenhuma dificuldade nesse sentido. Por outro lado, verifica-se a

    dificuldade quanto elaborao de instrumentos de avaliao e a tipologia das

    questes propostas. Por isso, j nas disciplinas de Prtica Docente e no prprio

    ECS I, vimos desenvolvendo estudos sistemticos a respeito dos aportes tericos

    e situaes prticas de avaliao. Em diferentes ocasies nos desafiamos a

    propor oficinas para a elaborao ou anlise de diferentes questes, as quais

    podem constar nestes tipos de concurso. Essa postura conflui com o pensamento

    de Soares / Ribeiro (2008, p. 93) quando abordam que a avaliao constitui-se

    em um instrumento de investigao incessante das dificuldades do estudante e

    de dinamizao de novas oportunidades de conhecimentos.

    Outra forma cooperativa que ocorre nos ECS II e III a orientao para

    que os estagirios no limitem a sua prtica memorizao, ao factual, ao linear

    e ao uso intenso do livro didtico. Acreditando que possvel estabelecer uma

    nova concepo de ensino-aprendizagem em Histria, gestado a partir do

    contexto histrico-cultural, das relaes espao-temporais, da construo do

    conhecimento e da diversidade de temticas e fontes10 propondo atividades

    crtico-reflexivas e interdisciplinares. Alm da adaptao das prticas s

    necessidades sociais e econmicas locais/regionais essencial que a

    interdisciplinaridade tenha como seu nascedouro o trabalho em equipe. O desafio

    sugerido vm ao encontro do argumento de Japiassu (1976) quando o mesmo

    defende que a interdisciplinaridade um campo frtil para explorao das

    fronteiras das disciplinas. Essas atitudes trazem de volta as orientaes

    efetivadas durante a Prtica Docente IV (Metodologia do Ensino de Histria)

    como as para a utilizao de novas fontes e linguagens importantssimas para

    que se dinamize uma prtica pedaggica inovadora. Nesse sentido, recuperam-

    se as ideias defendidas por Soares (2008, p. 263) quando este autor diz:

    a atividade do professor frente s vicissitudes do mundo

    contemporneo que ir possibilitar a elaborao consciente das

    atividades de ensino que levem em considerao a realidade e o

    10 ABUD, Katia Maria et. ali (orgs). Ensino de Histria. Idias em Ao. So Paulo: CENGAGE, 2010. LAMBER, Peter; SCHOFIELD, Phillipp. Histria Introduo ao Ensino e a Prtica. Porto Alegre: Penso / Artmed, 2011.

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    desenvolvimento intelectual dos alunos, com vistas a um mundo

    mais justo e igualitrio.

    O ECS IV um estgio que inova ao propor a prtica em espaos de

    Histria e Memria, como arquivos, museus, centros culturais, bibliotecas. O

    mesmo pode ainda ocorrer em Instituies Sociais que cuidam de crianas e

    idosos...

    De acordo com a realidade de origem dos estagirios, nos ltimos tempos,

    propomos como atividade a organizao de oficinas de produo de recursos

    didticos, Projetos de organizao de museus (ex.: Arroio do Tigre, Tupanciret)

    e Projetos de ensino / pesquisa em: Histria das Misses, Histria Local e

    Regional, Histria e Cultura Afro-Indgena, Museologia e Ensino, Histria e

    Literatura do Rio Grande do Sul, planejados e dinamizados pelos acadmicos e

    agregando alunos, professores e a comunidade.

    Esse estgio formado por trs momentos: o primeiro terico quando

    so revisados os conceitos e temticas a serem abordados; o segundo a

    elaborao orientada do projeto; o terceiro a aplicao prtica o momento

    de interveno na realidade local / regional. Como culminncia, os estagirios

    organizam um seminrio de vivncias visando socializao dos resultados para

    todos os alunos e professores do Curso de Histria. Essas inovaes tm sido

    muito bem recebidas pelos alunos. Os resultados dessas experincias profcuas

    tm dado um novo sentido prtica. Outro aspecto a salientar que tanto os

    Estgios Curriculares como as Prticas Docentes tm dado origem a artigos

    cientficos e TCCs (Trabalhos de Concluso de Curso).

    Consideraes Finais

    As atividades relativas aos estgios supervisionados, redimensionadas pela

    LDB, so permeadas pela ao-reflexo-ao desenvolvidas em coletivo de

    sujeitos comprometidos com a dinamizao de aprendizagens significativas.

    Essas relaes reafirmam o papel da universidade a qual cabe no entendimento

    de Chaves Gamboa et al (2011, p. 143) a formao:

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    Dos recursos humanos profissionais o compromisso com a

    construo terica e as reflexes crticas em direo a formao

    humana atrelada ao desenvolvimento histrico da sociedade.

    Entretanto, tanto a teoria construda, como as reflexes crticas

    devem ter como parmetro epistemolgico a relao com a prtica e

    serem orientadas pela filosofia da prxis.

    Os docentes do Curso de Histria responsveis pelas orientaes dos

    estgios assumem mutuamente com os professorandos compromissos e desafios

    que surgem ao longo do processo. Hoje os estgios tm sido vistos em uma nova

    perspectiva, onde de acordo com Jarmendia (2005, p. 112 113), se consolidam

    como:

    Um dos eixos curriculares que perpassa todo o currculo e favorece

    a integrao das disciplinas e a articulao entre a teoria e prtica;

    por meio dele possvel desencadear o processo de reflexo sobre a

    prtica, bem como criar condies para retomar e revisar os

    conhecimentos tericos e aprender com o saber de experincia do

    outro. O ES deixa de ser, exclusivamente horas a cumprir e passa a

    ser fonte de questes e situaes problemticas sobre a prtica, que

    ser tornam objeto de discusso e reflexo no interior da sala de

    aula.

    Cabe ainda destacar que os estgios integram as disciplinas de formao

    pedaggica, as quais, segundo Caimi (2008, p. 292) devem:

    Oportunizar ao professorando (re)construes cognitivas no mbito do pensar / saber e do saber / fazer e, de outra parte,

    que as prticas e os estgios, superando o carter tcnico-instrumental que lhes so tradicionalmente atribudas,

    possam assumir a reflexo torico-metodolgica como instncia cognitivo-explicativa do trabalho docente.

    inevitvel no esquecer que um dia a sociedade nos entregou esses

    alunos e espera que a ela voltem adequadamente formados, competentes e

    capazes de responder s demandas dos tempos modernos. Acreditamos que os

    estgios desenvolvidos no Curso de Histria da Unicruz, desempenham um papel

    importante na formao e qualificao profissional, ao lhe conferir um diploma,

    no podem pairar dvidas que na somatria entre teoria e prtica, este cidado

  • Aristeu Castilhos da Rocha e Maria Catharina Lima Pozzebon

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    detenha os conhecimentos necessrios ao bom desempenho de uma profisso. A

    sua realizao em diferentes espaos scio-educativos e culturais viabilizam, de

    forma qualificada, prxis aproximando da mesma os conceitos de dialogicidade,

    ao-reflexo, autonomia e docncia. Ao optarem pelo vis da

    interdisciplinaridade as experincias de estgio inovam e permitem o que Aires

    (2011, p. 218) destaca:

    A interdisciplinaridade representa um instrumento de crtica interna

    do saber, buscando superar o isolamento das disciplinas, em relao

    aos outros domnios da atividade humana e nos diversos setores do

    prprio saber, como tambm uma modalidade inovadora que pode

    superar a distncia entre a universidade e a sociedade.

    Por tratarmos, neste texto, da formao de professor, dos estgios

    curriculares e do ensino de histria consideramos significativo trazer para o

    mesmo uma passagem pertinente do estudo realizado por Moreira Jos (2008, p.

    88) quando esta lembra Fazenda (2003, p. 61) ao dizer:

    O ensino de histria deve procurar cultivar valores, atitudes e

    hbitos que libertem o indivduo do isolamento cultural ao qual a

    civilizao acidental o condenou. Nesse sentido, a histria, vista sob

    perspectiva interdisciplinar, deve ser mais que simples ordenao

    sequencial e manuseio de certos materiais para consulta, deve

    plantar a semente do futuro pesquisador e do cidado que luta por

    seus direitos e deveres, enfim, por sua liberdade.

    Isto nos permite dizer que alm do profissional tambm estamos

    desenvolvendo um cidado capaz no somente de trabalhar, mas de pensar,

    criar, enfrentar problemas e as questes que a sociedade e\ou a profisso lhe

    fizerem. Por isso, preciso ter claro que alm do profissional, as universidades

    devem formar o cidado.

    preciso, portanto, garantir que o aluno ultrapasse o espao da sala de

    aula e passe a conviver com a realidade. No basta formar um grande terico,

    com muitas ideias. Cabe ajud-lo a aprender pensar. Essa, certamente uma

    grande contribuio que o estgio poder proporcionar aos alunos e futuros

    profissionais.

    Se, por um lado, devido sua complexidade, no conseguimos, neste

    texto abarcar todos os seus aspectos que o tema contm, verificamos que as

  • Reflexes sobre a prxis: as vivncias no estgio supervisionado em histria

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    vivncias nos passam a certeza de que os estgios concedem licena prxis. H

    que se considerar que os mesmos constituem-se um uma oportunidade

    promissora e eficaz de formao de conscincia histrica, humana, docente e da

    cidadania, bem como de construo da memria. Poderamos dizer tomando

    emprestada uma passagem de Seffner (2010, p. 214) que a realizao deste

    texto proporcionou a manuteno do gosto por ler e escrever Histria.

    Finalmente, as constataes registradas encaminham novos embates. mister

    destacar que preciso pensar e agir.

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    Recebido em 28 de novembro de 2012

    Aprovado em 22 de fevereiro de 2013