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TEXTO: CELSO ARNALDO ARAUJO FOTOS: DIVULGAÇÃO Qualidade de Vida Reforço nos ossos Cerca de 15% dos pa- cientes idosos com fratu- ra de quadril morrem devido à fra- tura ou complicações durante a cirurgia. Nos três meses seguintes, o risco ainda é grande, pela redução da atividade, que causa em- bolia ou problemas cardiopulmonares. Em apro- ximadamente 80% dos casos os pacientes são portadores de osteoporose da pós-menopausa (nesse caso, mulheres) ou osteoporose senil. Mas as fraturas na coluna vertebral, por conta também da osteoporose, são uma causa importante de so- frimento e invalidez na terceira idade. São fratu- ras dolorosas, que produzem grande dificuldade de locomoção – quando não, inatividade absoluta, com as mesmas consequências da fratura de qua- dril. E as técnicas convencionais de tratamento são paliativas e de lenta recuperação. Mas, segun- do o neurocirurgião e especialista em doenças da coluna, Dr. João Luiz Pinheiro Franco, um dos autores da obra referência em cirurgia de coluna, Conceitos Avançados em Doença Degenerativa Discal Lombar , a medicina conta hoje com uma técnica avançada e revolucionária chamada cifo- plastia, que permite uma rápida recuperação do paciente, sua reintegração à sociedade, menos tempo de internação e sem necessidade de grandes cortes. A cifoplastia, informa o Dr. Pinheiro Franco, surgiu de outra técnica descoberta na década de 1980, a vertebroplastia. O médico francês Hervé Deramond inventou uma técnica que consistia na aplicação, por cânulas através da pele, de uma espécie de cimento ósseo para fortalecer vértebras quebradas por tu- mores da coluna e aliviar a dor. Mas a técnica, de tão eficiente, se estendeu para as fraturas de coluna por osteoporose, que são muito mais comuns. Mais recen- temente, os cientistas desenvolveram uma evolução dessa técnica, que consiste na criação de cavidades nas vértebras fraturadas poróticas, através da insu- flação de balões por meio de cânulas, que atravessam a pele, sem necessidade de grandes incisões. Através dessas cânulas, o cimento cirúrgico é injetado nas ca- vidades novas dentro do corpo da vértebra quebrada. Segundo Pinheiro Franco, a nova técnica diminui em muito o sofrimento dos pacientes que, até certo tem- po atrás, passavam por uma recuperação muito mais lenta e dolorosa. “O tratamento se baseava em medi- camentos, coletes, repouso no leito ou cirurgias de grande porte – e assim aparecia uma série de proble- mas derivados da imobilização”, diz o médico. osteoporose, doença metabólica que causa redução na quantidade de osso no esqueleto, é considerada um grave problema de saúde pública, pois acomete 25% da população brasileira, sobretudo em decorrência do processo de envelhecimento, sendo mais comum no sexo feminino – cerca de 40% das mulheres correm o risco de ter uma fratura em decorrência do mal. A fratura de fêmur é a consequência mais dramática da osteoporose. Mas a quebra de ossos vertebrais, na coluna, também é um drama na terceira idade – agora minimizado com a introdução de uma nova técnica, capaz de consolidar a fratura e liberar o paciente do hospital em 24 horas. Neurocirurgião especializado em doenças da coluna, o Dr. João Luiz Pinheiro Franco explica essa nova era no tratamento das fraturas por osteoporose REVISTA ABCFARMA | NOVEMBRO/2011 | 17

Reforço nos ossos

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Matéria da Revista ABCFARMA: Reforço nos ossos

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TexTo: Celso arnaldo araujofoTos: divulgação

Qualidade de Vida

Reforço nos ossos

Cerca de 15% dos pa-cientes idosos com fratu-

r a de quadril morrem devido à f r a - tura ou complicações durante a cirurgia. Nos três meses seguintes, o risco ainda é grande, pela redução da atividade, que causa em-bolia ou problemas cardiopulmonares. Em apro-ximadamente 80% dos casos os pacientes são portadores de osteoporose da pós-menopausa (nesse caso, mulheres) ou osteoporose senil. Mas as fraturas na coluna vertebral, por conta também da osteoporose, são uma causa importante de so-frimento e invalidez na terceira idade. São fratu-ras dolorosas, que produzem grande dificuldade de locomoção – quando não, inatividade absoluta, com as mesmas consequências da fratura de qua-dril. E as técnicas convencionais de tratamento são paliativas e de lenta recuperação. Mas, segun-do o neurocirurgião e especialista em doenças da coluna, Dr. João Luiz Pinheiro Franco, um dos autores da obra referência em cirurgia de coluna, Conceitos Avançados em Doença Degenerativa Discal Lombar, a medicina conta hoje com uma técnica avançada e revolucionária chamada cifo-plastia, que permite uma rápida recuperação do

paciente, sua reintegração à sociedade, menos tempo de internação e sem necessidade de grandes cortes. A cifoplastia, informa o Dr. Pinheiro Franco, surgiu de outra técnica descoberta na década de 1980, a vertebroplastia. O médico francês Hervé Deramond inventou uma técnica que consistia na aplicação, por cânulas através da pele, de uma espécie de cimento ósseo para fortalecer vértebras quebradas por tu-mores da coluna e aliviar a dor. Mas a técnica, de tão eficiente, se estendeu para as fraturas de coluna por osteoporose, que são muito mais comuns. Mais recen-temente, os cientistas desenvolveram uma evolução dessa técnica, que consiste na criação de cavidades nas vértebras fraturadas poróticas, através da insu-flação de balões por meio de cânulas, que atravessam a pele, sem necessidade de grandes incisões. Através dessas cânulas, o cimento cirúrgico é injetado nas ca-vidades novas dentro do corpo da vértebra quebrada. Segundo Pinheiro Franco, a nova técnica diminui em muito o sofrimento dos pacientes que, até certo tem-po atrás, passavam por uma recuperação muito mais lenta e dolorosa. “O tratamento se baseava em medi-camentos, coletes, repouso no leito ou cirurgias de grande porte – e assim aparecia uma série de proble-mas derivados da imobilização”, diz o médico.

osteoporose, doença metabólica que causa redução na quantidade de osso no esqueleto, é considerada um grave problema de saúde pública, pois acomete 25% da população brasileira, sobretudo em decorrência do processo de envelhecimento, sendo mais comum no sexo feminino – cerca de 40% das mulheres correm o risco de ter uma fratura em decorrência do mal. a fratura de fêmur é a consequência mais dramática da osteoporose. Mas a quebra de ossos vertebrais, na

coluna, também é um drama na terceira idade – agora minimizado com a introdução de uma nova técnica, capaz de consolidar a

fratura e liberar o paciente do hospital em 24 horas. neurocirurgião especializado em doenças da coluna,

o Dr. João Luiz Pinheiro Franco explica essa nova era no tratamento das fraturas por osteoporose

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Entre as fraturas desencadeadas pela osteoporose, as da coluna são bastante frequentes?

Sim, a coluna é órgão de susten-tação de nosso corpo e é formada por diversas vértebras. Sendo a osteopo-rose uma doença óssea, e sendo a co-luna formada por osso, é natural que ocorram fraturas em colunas com os-teoporose. As fraturas de coluna por osteoporose são mais frequentes em mulheres em idade mais madura.

sistemas especializados de parafusos que permitem a injeção de uma espécie de cimento cirúrgico para fortalecer as vértebras quebradas. Evidentemente, há casos e casos, mas a cifoplastia sur-giu como um tratamento minimamente invasivo, que evita cirurgia de grande porte e permite rápida estabilização da pessoa e sua rápida reintegração à vida social.

A cifoplastia já é oferecida na rede pública? Planos de saúde cobrem?

Há alguns poucos hospitais públi-cos que já oferecem esse tratamento, que ainda tem alto custo. Mas os planos de saúde autorizam o procedimento, que é cientificamente comprovado.

Costuma-se dizer que, nas pessoas com osteoporose avançada, o osso quebra primeiro e então a pessoa cai. Isso é verdade?

É verdade. Em muitos casos, o colo do fêmur se quebra pela osteoporose – e o idoso então cai, e não o contrário.

Com o avanço da terceira idade, espera-se um aumento exponencial das fraturas por osteoporose?

Seguramente, uma vez que existe uma relação clara com fatores hormonais.

Por que as mulheres estão mais expostas à osteoporose?

Devido a fatores hormonais rela-cionados ao sexo feminino e ao término das menstruações.

Com sua experiência na área, o que realmente pode funcionar em matéria de prevenção da osteoporose? Dieta, exercícios, sol, medicamentos de reforço de cálcio?

Tudo isso ajuda a prevenir e a re-tardar a osteoporose, mas as mulheres devem ter em mente que o acompa-nhamento com seu ginecologista ou reumatologista é fundamental. A den-sitometria óssea é o exame que aponta a existência ou não de osteoporose. De-vem ficar atentas, permanentemente, a essa doença insidiosa.

Mudando um pouco de assunto: qual é hoje o melhor tratamento para hérnia de disco?

Existem diversos, do simples re-pouso com analgésicos, anti-inflama-tórios e relaxantes musculares, pas-sando pelas infiltrações e cirurgia, em casos específicos, além de técnicas de fisioterapia para alívio de dores. Hoje são inúmeras as possibilidades de tra-tamento e de melhora dos pacientes. E hérnia de disco hoje não significa que a pessoa esteja condenada à incapacida-de ou dor eterna.

Dez perguntas para o Dr. Pinheiro Franco

Fraturas de coluna por osteoporose podem até passar despercebidas num primeiro momento? Quais são os sintomas?

Normalmente, as fraturas de colu-na causam dor, já que existem termina-ções nervosas dentro do osso. Em mui-tos casos, elas podem causar dor intensa e levar a pessoa a um estado total de in-capacidade.

Antes da cifoplastia, quais eram as alternativas de tratamento?

As opções anteriores de tratamento para fraturas de coluna por osteoporose eram coletes, analgésicos e até cirurgias de estabilização da coluna – em alguns casos, com parafusos cirúrgicos. Hoje há

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É uma doença silenciosa da terceira idade - e muitas vezes o paciente só toma conhecimento dela quan-

do sofre uma fratura. Com o en-velhecimento progressivo da po-pulação, a doença aumenta sua incidência ano a ano. Pelo Censo 2010, 51 milhões de brasileiros têm mais de 55 anos. Desses, es-tima-se que cerca de 10 milhões sejam portadores de osteoporose. Uma em cada três mulheres de-senvolve a doença após a meno-pausa. No caso dos homens, um a cada cinco. Segundo o presi-dente da Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica-SBDens, Dr. Bruno Muzzi Camargo, é es-sencial realizar o controle regular da perda óssea nas mulheres, após a menopausa, quando a perda óssea é mais acelerada, podendo chegar a 5% ao ano.

Numa atitude inédita, três so-ciedades médicas ligadas à prevenção e ao tratamento da Osteoporose – So-beco, Sobrao e SBDens – lançaram dia 4 de outubro a campanha “Firme e Forte Osteoporose”, convidando a po-pulação a entender os riscos de uma dieta desprovida de cálcio e Vitamina D, que são o “combustível” dos ossos, e de uma vida sedentária – isso pode apressar a doença silenciosa. “Além das três sociedades, a Campanha Firme e Forte Osteoporose conta com o apoio

do Ministério da Saúde, International Osteoporose Foundation(IOF) e da federação Nacional de Portadores de Osteoporose (FENAPCO). Trata-se de uma campanha de mobilização onde o principal objetivo é garantir que os brasileiros, em especial as mulheres, percebam a importância de cuidar de seus ossos”, explica o Dr. Bruno. Entre outras informações, no site www.sejafirmeforte.com.br, você poderá fazer o teste e descobrir como está a saúde de seus ossos e responder a 19 questões simples, que poderão auxiliar a evitar a osteoporose.

você notou uma diminuição em sua altura?

você tem histórico de osteoporose em sua família?

você cai com certa frequência?

você teve menopausa precoce?

você teve alguma dor repentina e forte na coluna?

se respondeu positivamente a estas perguntas, consulte um médicoComo manter a saúde dos ossos?evite o consumo excessivo de álcoolevite a ingestão abusiva de sal e cafeínanão fumeProcure ingerir alimentos ricos em vitamina d e cálciofaça exercícios como caminhadas, corridas, ginástica, musculação e dançaTome sol, por 15 minutos, sem protetor solar, nos horários antes das 10h e após as 14h. n

OSTEOPOROSEFirme e forte

Com o envelhecimento progressivo da população, a

doença aumenta sua incidência ano a ano.

Pelo Censo 2010, 51 milhões de brasileiros

têm mais de 55 anos

Dr. Bruno Camargo

PergunTas ÚTeis

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