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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
CURSO DE MESTRADO
REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS
NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
BONAL
Ana Paula Diniz Brito
Rio Branco
2013
ANA PAULA DINIZ BRITO
REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS
NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVELBONAL
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Regional, da Universidade Federal do Acre, como
requisito para obtenção do Título de Mestre em
Desenvolvimento Regional.
Orientador: Raimundo Cláudio Gomes Maciel
Rio Branco
2013
BRITO, A. P. D., 2013.
BRITO, Ana Paula Diniz. Reforma agrária, capital social e a gestão dos recursos
naturais: caso do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal. Rio Branco: UFAC,
2013. 103f
Marcelino G. M. Monteiro – CRB/11 - 258
B862r Brito, Ana Paula Diniz, 1978 -
Reforma agrária, capital social e a gestão dos recursos naturais: o
caso do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal / Ana Paula
Diniz Brito --- Rio Branco : UFAC, 2013.
93 f : il. ; 30cm.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Programa
de Pós-Graduação Mestrado em Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal do Acre.
Orientador: Prof. Dr. Raimundo Cláudio Gomes Maciel.
Inclui bibliografia
1. Capital Social. 2. Cooperação. 3. Ação coletiva. 4.
Comunidade. 5. Acre – Condições econômicas. 6. Acre – Condições
sociais. I. Título.
CDD.: 306.3098112
CDU.: 309.18(811.2)
REFORMA AGRÁRIA, CAPITAL SOCIAL E A GESTÃO DOS RECURSOS
NATURAIS: O CASO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
BONAL.
COMISSÃO EXAMINADORA
PROF. DR. SILVIO SIMIONE DA SILVA
PPG/MDR - Universidade Federal do Acre- UFAC
PROF. DR. CARLOS ALBERTO FRANCO DA COSTA
CCJSA - Universidade Federal do Acre- UFAC
PROF. DR. RAIMUNDO CLÁUDIO GOMES MACIEL
PPG/MDR - Universidade Federal do Acre- UFAC
Orientador
Em memória ao amigo Marco Antônio Toledo (ex-delegado do município de Bujari-
Acre), que em sua vida sempre buscou o conhecimento, a honestidade e a dedicação ao
trabalho, transformado o mundo das pessoas que com ele tiveram o prazer de conviver.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me presenteou com o dom da vida, força,
saúde e fé necessária para a conclusão deste trabalho, providenciando todas as minhas
necessidades.
À minha família pelo amor incondicional e apoio: ao meu pai pelo cuidado
constante e as incansáveis orações da minha mãe, além da amizade dos meus irmãos.
Ao professor Dr. Raimundo Cláudio pela orientação nesse trabalho, pelo
cuidado que ele nutre pela manutenção da academia e por fazer parte da equipe do
ASPF.
Aos professores do mestrado pela dedicação em nos ensinar, pelos bons
momentos que passamos juntos no período de conclusão dos créditos, em especial ao
Dr. Silvio Simione e Antonio Carlos pelas contribuições essenciais para a dissertação.
Aos colegas do curso de mestrado, em especial a Francisco Júnior, Flávia
Simoura, Marta e Jeigiane pelo companheirismo, amizade e pela ajuda recíproca que
cultivamos, afeição pelos quais quero levar por toda a minha vida.
Não poderia deixar de agradecer ao meu amigo Zé Mastrângelo, amigo de todas
as horas, pessoa que, desde o primeiro momento em que nos conhecemos, mostrou-se
leal e companheira e nas horas difíceis se transformou num irmão amado.
Ao professor Rubiclies Gomes, meu primeiro professor do curso de Economia,
com o qual aprendi as lições iniciais, os conceitos e a vontade de sempre querer mais na
vida.
Ao professor Raimundo Lopes de Melo, meu incentivador, amigo e conselheiro
quando necessito de ajuda sobre o mundo acadêmico, além da ajuda no tempo em que
eu cursava o ensino médio, quando realizou o meu sonho de estudar no CERB.
À CAPES, pelo apoio financeiro com a bolsa-auxílio durante o curso de
mestrado.
Ao Governo do Estado do Acre através da FUNTAC, pelo suporte financeiro
indispensável para execução da pesquisa de campo.
Ao INCRA, pela parceria, informações e ao suporte na pesquisa.
À equipe do Programa ASPF, em especial a Pedro, Geso, Eline, Rodrigo e João
Paulo.
À amiga Débora Souza pelo fim de semana produtivo na UFAC com direito a
caminhadas, leituras e produção de texto, cada uma de nós concentrada em seus
trabalhos.
Ao amigo Renato Almeida pela amizade que ao longo dos anos vem se
solidificando, meu professor de inglês, consultor de tecnologia e outras tantas
atribuições especiais em minha vida.
Aos moradores do PDS Bonal, em especial ao casal Francisca e Raimundo, pela
acolhida, informações acerca do projeto e o carinho que nos foi dispensado durante os
dois anos no assentamento. Ao casal Dieime e Adelar, pela acolhida e hospedagem nos
dias em que passamos em campo.
Mesmo na tentativa de fazer uma lista exaustiva, certamente cometerei alguma
injustiça. Foram muitas as pessoas que, de alguma forma, ajudaram-me a cumprir esta
etapa da minha vida. Mas a todas aquelas que deixei de mencionar, saibam, pois, que
contribuíram, e por isso meus sinceros agradecimentos.
“Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante de
mim, prossigo para o alvo.” Filipenses 3.1
BIOGRAFIA
Ana Paula Diniz Brito, filha de Raimundo de Almeida Brito e Dona Maria das Graças
Pinheiro Diniz, nasceu em no dia 08 de dezembro de 1978 na cidade de Sena Madureira
(AC).
Cursou o Ensino Fundamental na Escola Estadual São João Batista, no município de
Bujari (AC), concluindo em dezembro de 1994.
Em março de 1995, iniciou o Ensino Médio na Escola Estadual São João Batista, no
município de Bujari (AC). No ano seguinte, cursou o 2º ano do Ensino Médio no
Colégio Estadual Rio Branco, onde concluiu em dezembro de 1997.
Em fevereiro de 2006, ingressou no Curso de Comunicação Social/Jornalismo no
Instituto de Ensino Superior do Acre (IESACRE), terminando em 08 de dezembro de
2009.
Um ano depois entrou no Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do
Acre (UFAC) e formou-se em 09 de setembro de 2011.
Foi selecionada, em março de 2011, no Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Regional (MDR/UFAC), submetendo à defesa a Dissertação no dia
29 de julho de 2013, para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.
RESUMO
BRITO, Ana Paula Diniz, Me., Universidade Federal do Acre, março de 2013.
Reforma Agrária, Capital Social e a Gestão dos Recursos Naturais: O caso do Projeto de
desenvolvimento Sustentável Bonal. Orientador: Raimundo Cláudio Gomes Maciel.
A discussão em torno do capital social é relativamente nova na academia, contudo está
diretamente relacionada com um antigo problema da vida social: os dilemas da vida
coletiva, ou seja, a necessidade da sociedade em desenvolver ações que gerem confiança
mútua entre seus membros e cooperação, buscando atingir objetivos comuns, evitando
os velhos problemas que envolvem os bens públicos e possibilitando atitudes que
influenciam na geração de renda e, consequentemente, na diminuição da pobreza no
meio rural. Neste sentido, o presente trabalho tem por finalidade analisar os níveis do
capital social no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal, localizado no
município de Senador Guiomard (AC), tendo em vista as discussões referentes ao
desenvolvimento sustentável. A metodologia utilizada baseou-se em técnicas de grupos
focais, diagrama de Venn, mapeamentos e questionários semiestruturados, além de
variáveis que identificam o estágio do capital social na região de estudo. Os resultados
obtidos indicam que o capital social do Projeto encontra-se em fase inicial, justamente
por conta de fatores decorrentes do processo de maturação do assentamento, levando-se
em consideração as dificuldades de reprodução social das famílias, que resulta numa
frágil gestão dos recursos naturais.
Palavras-Chave: Capital Social, Reforma Agrária, Projeto de Assentamento Sustentável,
Amazônia.
ABSTRACT
BRITO, Ana Paula Diniz, M.Sc., Federal University of Acre. March 2013. Agrarian
Reform, Social Capital and Natural Resource Management: The Case of Sustainable
Development Project Bonal. Advisor: Raimundo Cláudio Maciel
The discussion on the issue of capitalism considered relatively new topic in academia,
but is directly related to an old problem of social life: the dilemmas of collective life, in
the need for society to develop by means of actions that build trust mutual cooperation
among its members and seeking to achieve common goals, avoiding the old problems
involving public goods, and enabling attitudes that influence the generation of in come
and there for reduction in rural areas. In this sense, the present study aims to analyze the
levels of social capital in Sustainable Development Project Bonal, located in the
municipality of Senador Guiomard (AC), as well as consider what are their impacts on
sustainable development. The methodology consists of gatheringin formation from the
elaboration no ffocus groups, using the techniques of the Venn diagram, mapping and
prepared questions, and socioeconomic indicators and variables that identify the stage of
social capital in the study region. The results obtained from the survey indicate that the
share capital of the Project is in the initial stage, precisely because of factorsarising
from the maturation process of the settlement, taking into account the difficulties of
social reproduction of families, resulting in weak management natural resources.
Keywords: Social Capital, Land Reform, Sustainable Settlement Project, Amazon.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa do Estado do Acre ................................................................................. 40
Figura 2: Mapa de Localização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal,
2012. ............................................................................................................................... 41
Figura 3: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no PDS
Bonal ............................................................................................................................... 43
Figura 4: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no PDS
Bonal ............................................................................................................................... 44
Figura 5: Aplicação da técnica do diagrama de Venn, durante a pesquisa exploratória,
no PDS Bonal ................................................................................................................. 45
Figura 6: Aplicação da técnica das entrevistas pré-elaboradas, durante a pesquisa
exploratória, no PDS Bonal ............................................................................................ 47
Figura 7: Unidade de processamento para beneficiamento do palmito no PDS Bonal .. 55
Figura 8: Representação da importância de cada instituição para a comunidade do PDS
Bonal, 2012 ..................................................................................................................... 57
Figura 9: Indicadores Econômicos por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal,
2012. ............................................................................................................................... 70
Figura 10: Renda mensal por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal, 2012. .... 71
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Mão-de-obra da voluntária da comunidade em instituições/organizações, em
2012 ................................................................................................................................ 66
Gráfico 2: Linha de Pobreza e Miséria, com base no salário mínimo (SM) oficial, entre
as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard (AC), por estrato no período de
2011/2012 (Valores em R$) ............................................................... …………………73
Gráfico 3: Linha de Pobreza e Miséria, com base no valor dos bens de consumo
comprados no mercado (VBCC), entre as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard
(AC) por estrato no período de 2011/2012 (Valores em R$) ......................................... 75
Gráfico 4: Perfil dos produtores do PDS Bonal, período 2012 ...................................... 76
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de análise por estágios
........................................................................................................................................ 49
Quadro 2: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de análise por estágios
........................................................................................................................................ 60
Quadro 3: Dimensões, categorização e parâmetros para medir capital social ................ 63
LISTAS DE SIGLAS
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
II PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária
CIGA - Cooperativa Incubadora de Gestão Avançada e Assessoria Técnica, Social e
Ambiental
SEAPROF - Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
PAD- Programa de Assentamento Dirigido
PAE- Projeto de Assentamento Agroextrativista
PE- Projeto de Assentamento Estadual
PDS- Plano de Desenvolvimento Sustentável
PAC- Projeto de Assentamento Conjunto
PIC- Projeto Integrado de Colonização
PAF - Projeto de Assentamento Florestal
FHC - Fernando Henrique Cardoso
CONTAG- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
ASPF - Análise Socioeconômica de Produção Familiar Rural do Estado do
Acre
NARIs- Núcleos de Apoio Rural Integral
CIMI - Conselho Indigenista Missionário
CPT - Comissão Pastoral da Terra
PROBOR- Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16
1. GESTÃO DOS RECURSOS NA AMAZÔNIA: DO EXTRATIVISMO À
MUDANÇA NA ESTRUTURA AGRÁRIA ................................................................. 20
1.1. Síntese do Processo de Ocupação das Terras Acreanas ...................................... 20
1.2. Políticas Desenvolvimentistas e a Reforma Agrária na Amazônia ..................... 25
2. AGRICULTURA FAMILIAR E CAPITAL SOCIAL ........................................... 30
2.1. Agricultura Familiar como Base para Compreender a Realidade dos
Assentamentos Rurais .................................................................................................... 30
2.2. A Agricultura Familiar no Brasil ......................................................................... 33
2.3. Capital Social: Contribuição dos Principais Autores .......................................... 35
3. METODOLOGIA ................................................................................................... 39
3.1 Caracterização do Objeto.......................................................................................... 39
3.2 Descrição dos Momentos da Pesquisa ...................................................................... 41
3.3 Pesquisa de Campo – Fase 1: Pesquisa Exploratória. .............................................. 42
4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ 53
4.1 Características do Universo Pesquisado ................................................................... 53
4.2 Mapeamento da Comunidade ................................................................................... 55
4.2.1Espaços descrito pelos moradores ................................................................... 55
4.3 Diagrama de Venn do PDS Bonal ....................................................................... 57
4.3.1 As organizações e a instituições públicas no PDS Bonal............................... 57
4.4 Avaliação do Capital Social ..................................................................................... 59
4.5 Capital Social do PDS Bonal: Qual o Nível de Maturidade? ................................... 76
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 83
ANEXOS ........................................................................................................................ 90
16
INTRODUÇÃO
Fazer pesquisa é caminhar do conhecido para o desconhecido.
Fazer pesquisa é revelar uma realidade.
O desafio maior para o pesquisador não é descrever, mas compreender.
(Hannah Arendt, 1988)
O modelo desenvolvimentista no Brasil adotou uma política baseada na proteção
de mercados, utilizando-se de premissas economicistas, visando atingir um crescimento
econômico em curto período. O desenvolvimento expandiu-se por meio das fronteiras
naturais e concentrou-se apenas numa pequena parcela da população, suscitando
preocupação em âmbito internacional com a conservação e manutenção da
biodiversidade brasileira, já que esse processo alterou toda a estrutura dos estoques de
recursos naturais, que sofreram procedimento de degradação e diminuição.
O desenvolvimento na região amazônica surge com a expansão de atividades
produtivas que colaboram para ampliar os desmatamentos. Muitos autores atribuem as
causas enfaticamente a fatores específicos, como a construção de estradas, o avanço da
pecuária, crescimento populacional e os surgimentos dos assentamentos de reforma
agrária.
A implantação do desenvolvimentismo pelo governo militar, na década de 1970,
praticamente foi abandonado após a queda desse regime, na segunda metade dos anos
1980. Em seu lugar, surge a concepção da valorização do desenvolvimento sustentável,
efetivamente nas comunidades alvos das políticas públicas.
No entanto, verificaram-se correntes que assinalaram a importância de atributos
sociais para que uma determinada região obtenha o desenvolvimento por intermédio do
fortalecimento do capital social. Tais correntes vêm crescendo e ganhando forças. O
capital social, que reúne elementos da economia e de outras ciências, como a sociologia,
busca a capacitação social da população de uma região para atingir o desenvolvimento,
já que promove a cooperação entre os atores com objetivos comuns, possibilitando a
obtenção de recursos, por meio de trocas de informações e conhecimentos, participação
política e associativismo, ações que os indivíduos sozinhos jamais poderiam alcançar.
Assim o capital social aparece como forma de amenizar as desigualdades, incentivar e
apoiar a agricultura familiar, permitindo que os agricultores permaneçam no campo, não
17
como um excedente social, mas como vetores do desenvolvimento local, com base em
suas potencialidades como a pluriatividade e a multifuncionalidade.
O capital social pode ser entendido em termos funcionais como um elemento da
estrutura social que cumpre com a função de servir através dos recursos para que os
atores sociais satisfaçam seus interesses.
A possibilidade de existência do capital social em comunidades rurais,
principalmente nas que exercem a agricultura familiar, pode ser uma ferramenta de
grande importância na diminuição da pobreza. O capital social que se apresenta como
um conceito em determinação do nível “micro”, isto é, através de
associações/organizações que buscam resoluções dos problemas coletivos com intuito
de proporcionar qualidade de vida para os membros da comunidade e desenvolvimento
local.
Para a discussão da temática serão apresentadas abordagens teóricas acerca do
capital social, vinculando-o ao desenvolvimento local. Buscou-se propor o capital social
como um instrumento viável ao desenvolvimento rural, tendo como base a agricultura
familiar. Para tanto, foi feita a caracterização física, histórica e social da região de
estudo, buscando compreender sua relação com a possível construção do capital social,
bem como relacionar a existência deste ao processo de fortalecimento da agricultura
familiar.
De tal modo, compreender a forma de colonização da Amazônia é fundamental
para o entendimento da pesquisa. A forma diferenciada do restante do país evidenciou
uma colonização baseada no extrativismo da borracha, o fator motivador para a chegada
dos primeiros imigrantes para a região.
Nas duas fases de exploração da borracha, tanto no primeiro ciclo1 como no
segundo2, não existia nenhuma espécie de preocupação com a gestão dos recursos
naturais, pois a exploração extrativista, com o manejo adequado, pressupõe a
manutenção da floresta. Com a falência dos seringais, pós-segunda Grande Guerra e a
emergência da agropecuária, pós- 1970, é que a gestão dos recursos florestais entra em
discussão face aos desmatamentos evidenciados e, principalmente, aos conflitos pela
1 Fenômeno socioeconômico mais expressivo que teve lugar na Amazônia no final do século XIX. Houve
um aumento considerável na produção da borracha, que, em razão das primitivas técnicas de extração
empregada, baseado no aumento da mão-de-obra (Sem sentido). Paula, 1982. 2O segundo ciclo foi um momento importante da história econômica e social do Brasil relacionado com a
extração de látex e comercialização da borracha. Teve o seu centro na região amazônica e proporcionou a
expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais. Martinello, 2004
18
posse da terra. Nesse período, emerge a primeira manifestação do capital social na
região com o movimento seringueiro.
A proposta de reforma agrária instalada pelo governo militar mostrou-se
ineficiente, visto que os problemas sociais só se agravaram. Além do mais, a política
beneficiou apenas os migrantes do Centro-Sul, que alteram a base econômica do Estado,
passando do extrativismo vegetal para a pecuária extensiva, indo contra a lógica da
gestão dos recursos naturais. Mesmo com bom desempenho econômico, os efeitos
negativos, como desmatamentos e degradação progressiva dos solos, repercutiram na
esfera política.
Assim, com a proposta de um modelo capaz de criar formas viáveis para garantir
a sobrevivência das populações rurais e ainda a conservação dos recursos naturais, uma
vez que os assentamentos convencionais ao longo dos anos se mostraram incapazes de
resolver demandas da reprodução social das famílias assentadas, nascem os Projetos de
Desenvolvimento Sustentável (PDS), idealizados pelo INCRA, baseados nas
reivindicações sociais dos movimentos trabalhistas ligados à reforma agrária.
Contudo, analisar o desenvolvimento a partir do Projeto de Desenvolvimento
Sustentável Bonal, em particular, permite compreender a formação e consolidação de
um assentamento com particularidades próprias que, ao longo dos anos de formação e
estruturação, busca solucionar questões comuns da comunidade, valorizando a
agricultura familiar e o trabalho coletivo para amenizar problemas sociais acarretados
pela estrutura funcional do assentamento. Além de objetivar algumas questões
relacionadas com forma de reprodução social que envolve a agricultura familiar, o
capital social e a reforma agrária.
Não obstante, nessa linha reside a questão fundamental que a pesquisa pretende
responder: A implantação de uma nova forma de assentamento, como é o caso do PDS
Bonal, é suficiente para garantir a boa gestão comunitária e elevar a qualidade dos
recursos naturais?
Trabalha-se com a hipótese de que a implantação do assentamento baseado no
modelo PDS imposto por decreto, partindo das políticas públicas para a comunidade
assentada, não é suficiente para a promoção do desenvolvimento local sustentável,
tampouco para a formação do capital social, uma vez que a literatura indica que os casos
de sucessos acontecem justamente da lógica inversa. A base comunitária desenvolve o
capital social, transformando no pilar de sustento do desenvolvimento para então
constituir as normas de convívio.
19
Os procedimentos metodológicos baseiam-se no levantamento e análise de
indicadores e variáveis desenvolvidos para medir o estágio do capital social, além de
atividades baseadas nas técnicas do diagrama de Venn, mapeamentos e perguntas pré-
elaboradas.
O presente trabalho pretende contribuir para a elaboração de políticas públicas e
estratégias no processo de estruturação dos projetos de assentamentos com o intuito de
viabilizar o fortalecimento da agricultura familiar e sua responsabilidade na preservação
do meio ambiente e ainda na influência de novos valores que estão pautados na nova
forma de reprodução familiar.
A dissertação está estruturada, além de Introdução e Considerações Finais, da
seguinte forma: o primeiro capítulo apresenta a Gestão dos Recursos na Amazônia,
tratando da borracha com suas dinâmicas ao longo do período de colonização. No
segundo capítulo, a abordagem será mais direta no que tange ao tema Agricultura
Familiar, Capital social e a Gestão dos Recursos Naturais e suas implicações na vida da
comunidade. O terceiro versa sobre a metodologia da pesquisa e o último aborda os
resultados e discussões enfocando a realidade evidenciada pela comunidade.
20
2. GESTÃO DOS RECURSOS NA AMAZÔNIA: DO EXTRATIVISMO À
MUDANÇA NA ESTRUTURA AGRÁRIA
2.1. Síntese do processo de ocupação das terras acreanas
Para um melhor entendimento acerca da situação agrária que permeia a
Amazônia, é importante compreender os ciclos produtivos da região, levando-se em
consideração três principais momentos: a exploração das drogas do sertão; o período
áureo e a decadência da borracha; e os grandes projetos oriundos das políticas
desenvolvimentistas do governo militar, pós-1970.
A história da gestão dos recursos naturais na Amazônia inicia-se com as
denominadas “drogas do sertão3”, que eram produtos da região vendidos como
especiarias, época em que a Amazônia pertencia à subordinação da Coroa Portuguesa
(TOCANTINS, 1979).
No segundo momento, a gestão das florestas na Amazônia está diretamente
ligada ao extrativismo da borracha, iniciado com a Primeira Revolução Industrial. Em
um primeiro momento, a borracha foi explorada exclusivamente com a extração do
caucho. Alguns autores descrevem essa fase da história da economia do extrativismo da
goma elástica como “extrativismo expedicionário” 4. Os seringueiros, em sua maioria,
eram indígenas e a forma evidenciada pela produção os tornava nômades. As condições
de técnicas da operação podem ser expressas pela seguinte forma:
O tronco da árvore é primeiro atacado a golpes de machadinha até
uma altura de oito a sei pés da base, deixando-se o látex correr por
algumas cavidades feitas no solo, junto ao pé da árvore. Esse processo
continua durante uma semana ou até dez dias, até cessar o
escoamento. A árvore então é derribada [sic], sofrendo a parte
superior do tronco, bem os ramos, outros golpes, para abrir as células
restantes, e o látex escorrer durante 24 ou 30 horas, sendo então
abandonada a árvore caída (SOARES, apud LIMA, 1994).
Nesse contexto, os seringueiros referenciavam-se em um universo sociocultural
próprio, estabelecendo suas relações de tensões e harmonia – uma dialogia com o
mundo, fazendo sua linguagem e proposta de sustentabilidade própria, ou seja, homem e
natureza em consonância (LIMA, 1994).
3 É um termo que se refere a determinadas especiarias do chamado sertão brasileiro na época da entrada e
das bandeiras, Martinello, 2004. 4 A expressão é empregada por Ernesto Pinho Filho, apud Lima, 1994.
21
Por outro lado, a forma da extração do caucho enfraquece a composição da
relação de produção, notadamente em decorrência da forma de produção. Octavio Ianni
(1978) relata que a relação de produção evidenciada pelo extrativismo não significa a
inexistência da afinidade com a natureza ou fraco relacionamento com ela. Segundo o
autor, existia uma relação especial na qual a existência da relação de produção acontece
em virtude do suporte da apropriação privada das terras.
A segunda fase ocorre com a utilização da borracha no processo industrial por
meio da vulcanização e, por último, após o desenvolvimento da indústria
automobilística e a invenção dos pneus (LIMA, 1994).
Esta fase ocorreu na segunda metade do século XIX, quando os imigrantes
nordestinos vieram para o Acre, em busca do enriquecimento através da exploração da
borracha. Foi a fase denominada “Ciclo da Borracha”, constituído, sobretudo, em
virtude de sua ação monopolizadora que propiciou um período de grande expressão
política, cultural e socioeconômica, gerando condições materiais de vida
(MARTINELLO, 2004).
Assim, ocorrem profundas transformações na maneira de produção, como, por
exemplo, o surgimento do sistema de aviamento, que funcionava como uma cadeia a
base de créditos, ou seja, com relações de interdependência vertical, em que o
seringueiro era uma figura quase escrava, dentro de uma estrutura montada com base
nas casas exportadoras → casas importadoras → intermediários (seringalistas ou não)
→ seringalistas → seringueiros (MARTINELLO, 2004).
Contudo, enquanto parte desse processo, os seringueiros não desempenharam
habilidades suficientes para desenvolver capital social
Segundo Paula (1982), a economia do aviamento5 na Amazônia cresceu de
forma instantânea, ocupando toda a região, promovendo um surto de ocupação humana
e de exploração dos recursos naturais.
Ao reproduzir uma situação característica do período colonial, de
economia primário-exportadora dependente dos países centrais,
condenava a região e a população que ali se estabelecia a uma luta
inglória cujo resultado era a transferência de praticamente todo o
excedente para o exterior e a assimilação do ônus do processo. Sendo
que um dos principais custos desse processo foi a perda de uma
enorme quantidade de vidas devido às precárias condições de vida da
região e ao nível de exploração do sistema. (PINTO, 1984, apud
MACIEL, 2004 ).
5 Sistema de aviamento pode ser entendido como o fornecimento de mercadorias a crédito, que consistia
na manutenção da dependência ao patrão seringalista através do endividamento, Martinello, 2004.
22
A incorporação da borracha enquanto matéria-prima implica algumas
transformações no produto com uma nova dinâmica de trabalho. À medida que avança o
processo de domesticação da Hevea brasiliensis, cresce o distanciamento dos alicerces
naturais que eram determinantes para a produção inicial. Contudo, os efeitos da
expansão da demanda sobre as estruturas produtivas são expressos com uma continuada
elevação dos preços de exportações regionais (LIMA, 1994).
A transformação da borracha em matéria-prima é uma decorrência da
descoberta do processo de vulcanização por Charles Goodyear, em
1839, o que promove sua incorporação em elevado número de
processos de produção industrial (LIMA, 1994 p.53).
Com a inserção da região amazônica no movimento do capital industrial, inicia-
se uma nova fase relacionada à gestão dos recursos naturais, com relação direta com o
progresso técnico no processo de extração do látex. A mudança na forma de “sangrar” a
árvore, proporcionando maior vida útil à floresta, serviu para a fixação do homem no
seringal e, por conseguinte, elevou a produção e produtividade do trabalho (LIMA,
1994).
Nesse contexto, a demanda pelo produto tem um aumento significativo e, por
conseqüência, é evidente a pressão sobre as fontes fornecedoras da matéria-prima,
direcionando os movimentos de capitais para as zonas produtoras de borracha com
intuito de incorporá-las ao processo de expansão do capital. Historicamente, a
Amazônia é inserida nesse contexto por se tratar do habitat natural da Hevea
brasiliensis, conhecida popularmente por seringueira (LIMA, 1994).
Entretanto, a Inglaterra, na segunda metade do século XIX, começou a investir
em projetos de experimentação da racionalização da produção vegetal da borracha em
suas colônias asiáticas. É importante destacar que os primeiros empreendimentos
iniciaram-se com sementes pirateadas do Brasil (PAULA, 1982).
Portanto, estavam lançadas as bases de política internacional de
substituição do monopólio amazônico com suas estruturas arcaicas e
de baixa produtividade pela produção racional em bases capitalistas
orientadas pelo progresso técnico-científico (MACIEL, 2004 p. 4).
Só partir de 1900, no entanto, é que a produção de borracha originária de
seringais de cultivos asiáticos começa a competir com a produção da Amazônia. Em
23
1912, a produção asiática altera os preços da produção mundial e anuncia o fim do
boom da Amazônia (MACIEL, 2004).
Estando o capital estrangeiro voltado para a Malásia, a Amazônia experimenta
um período de anacronismo e estagnação, principalmente no Acre, com a desativação
dos seringais nativos. A economia começar a trilhar por caminhos diferentes, baseada
especificamente nas relações desempenhadas no campo, sendo que os seringueiros que
permaneceram em terras acreanas se adaptaram às novas condições econômicas,
guiados por dois caminhos: a busca de novos produtos para exportação e a produção de
subsistência (OLIVEIRA, 1985).
Com a explosão da Segunda Guerra Mundial e a invasão do Sudeste Asiático
pelos japoneses, os centros industriais mais avançados do Ocidente foram duramente
atingidos pela falta de borracha natural, matéria-prima imprescindível naquele
momento, inclusive para a indústria bélica (MARTINELLO, 2004).
Em resposta a essa demanda, que se consubstanciou em um acordo do governo
brasileiro com o governo norte-americano para reativação da produção de borracha nos
seringais da Amazônia – o Tratado de Washington. Em 1942, foi criado o Serviço de
Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, visando organizar e incentivar a
migração de um novo contingente de nordestinos, que ficaram conhecidos como
"soldados da borracha".
Além disso, estabeleceu-se o monopólio estatal sobre a borracha e fixaram-se
regras para regulação das relações de trabalho nos seringais como condição para
efetivação das operações de crédito com os seringalistas. Mais uma vez o sistema de
aviamento foi estabelecido (MARTINELLO, 2004). Todavia esse sistema de produção
não deu certo. Além de impedir a formação do capital social, alterava toda a estrutura de
funcionamento da floresta.
Na fase denominada “Segunda Batalha da Borracha”, período evidenciado pela
reativação das bases econômicas do sistema de aviamento com implicações diretas nas
bases sociais, o capital social ainda não tinha atingido o grau de amadurecimento
suficiente para somar de forma acumulativa em prol de melhorar a qualidade de vida da
comunidade (MARTINELLO, 2004).
A maioria dos trabalhadores que se aventuraram na região, acredita-se em mais
de 30 mil seringueiros, enfrentou situações atípicas na floresta e morreu abandonada por
causa da exaustão de suas forças nas atividades produtivas. Outros morreram em
decorrência de doenças tropicais que eram comuns na região.
24
Vale ressaltar que a Amazônia mais uma vez vivenciou um período de
estagnação após os ciclos do extrativismo, com a decadência da produção, em virtude
dos seringais de cultivos na Ásia e do uso da borracha sintética como matéria-prima no
processo industrial (PAULA, 2005).
Nem mesmo as políticas adotadas pelo Governo Federal, que tinham como
objetivo principal a regulamentação e organização dos seringais silvestres da Amazônia,
através da criação do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal
(PROBOR), salvaram os seringais da falência (PAULA, 2005).
Desse modo, a desestruturação dos seringais implicou a substituição do
extrativismo da borracha pela pecuária extensiva. Não obstante o declínio da borracha, o
governo militar implantou políticas de incentivos fiscais e financeiros, pelos quais a
Amazônia começa a conhecer um plano de capital mais centralizado, unificando o
mercado nacional (OLIVEIRA, 1985).
Conforme Silva (1982), o bojo das transformações evidenciadas na economia
Amazônica, em especial no Acre, de certo modo privilegiou o crescimento da atividade
agropecuária. Outros fatores importantes para despertar os interesses dos capitalistas da
região Centro-Sul, foram, em especial, o baixo preço relativo das terras à perspectiva de
especulação fundiária, o crédito fácil, os abundantes programas em âmbito nacional e as
facilidades desenvolvidas pelo Governo Estadual.
As transformações por sua vez originaram diversos problemas decorrentes pela
nova atividade econômica praticada no Estado, a qual, além de expulsar os seringueiros
do campo, provocou desmatamentos na floresta. Por essa razão, os centros urbanos
passaram a receber um grande número de pessoas, surgindo, assim, as periferias com
todos os problemas sociais oriundos da falta de planejamentos (MARTINS, 1997).
Nessa circunstância, a reforma agrária torna-se fundamental para a
reorganização do espaço geográfico da região, sendo ela primordial para a consolidação
da agricultura familiar. A reforma agrária, ao longo dos anos, procura a distribuição
mais equilibrada da terra, ampliando a produção e o consumo interno e promovendo o
desenvolvimento (MARTINS, 1997).
Portanto, é na totalidade da reforma agrária que os trabalhadores assentados
estão sujeitos à reprodução social junto à terra em um espaço preciso, assumindo a
responsabilidade da fixação no local e a recriação do espaço.
25
2.2. Políticas Desenvolvimentistas e a Reforma Agrária na Amazônia
As políticas desenvolvimentistas idealizadas para a região amazônica
representavam uma tentativa de integração regional, ou seja, dar homogeneidade às
estruturas socioeconômicas. De tal modo, que o papel do Estado na estratégia de
desenvolvimento foi impor um processo de modernização forçada para caracterizar uma
fase que determinou um crescimento vertiginoso na concentração fundiária, aumento
populacional, conflitos sociais, impactos ambientais provocados pela urbanização rural
e periferização das cidades amazônicas.
SILVA (1982) comenta que:
A expansão do capitalismo na área dinâmica do país, onde a
acumulação do capital se dá, é que vai explicar o surgimento de
condições objetivas à corrida pela terra no Acre. O Governo passa,
então, a criar mecanismos que estimulassem a penetração do grande
capital nacional e estrangeiro, na Amazônia, a fim de incorporar a
região ao processo geral de acumulação de capital (SILVA (1982).
No entanto com a chegada do “progresso”, os índios, seringueiros e outros
pequenos grupos tornaram-se invisíveis no conjunto das políticas públicas, agravando-
se, dessa maneira, os conflitos sociais, uma vez que a floresta já aparecia nos projetos
estatais como “sendo substituída por empreendimentos modernos”. A meta do governo
passou a ser a de transformar a região em grandes propriedades agrícolas e de pastagens
extensivas, com o intuito de proporcionar o desenvolvimento (LOUREIRO, 1992 p. 12).
Desse modo, a região agrícola passa a ser palco de conflitos sociais
acompanhados de lutas violentas, resultantes da forma de apropriação do solo
amazônico, que, na maioria das vezes, era ocupado ilegalmente.
Grandes extensões de terras rurais na Amazônia gozavam da condição
de serem bens relativamente 'livres' — do ponto de vista de estarem
passivas de serem trabalhadas sem disputa, por pequenos posseiros
(...), em geral, naturais da região. Seja porque grande parte delas
constituía-se de terras devolutas do Estado ou da União; seja porque
[uma] parte não estava titulada como propriedade privada e (...) outra
parte, embora assim titulada, face às dificuldades de acesso, ou pela
grande extensão de alguns imóveis rurais, ou ainda, porque as terras
tinham baixo valor de mercado, (...) [não impediram] a ocupação por
posseiros [que] era, com freqüência, ignorada e simplesmente não
questionada pelo próprio proprietário legal (LOUREIRO, 1992, 11).
26
Com a expansão progressiva da pecuária, os seringueiros se deparam com a
expulsão de suas próprias terras, resultado decorrente do desmatamento para a formação
dos pastos. Diante dessa situação, os seringueiros começam a ser articular em
movimentos de ações coletivas denominados “movimentos seringueiros”. Em resumo, é
nesse contexto de forças contraditórias que brota o movimento como resultado de um
conflito rural clássico entre posseiros e grandes proprietários. No entanto, desenvolve-se
pela ação de atores sociais que arquitetam identidades coletivas singulares como forma
de aglutinação de forças em um espaço político próprio (PAULA, 2005).
Os grupos de seringueiros, que através das articulações desenvolvidas com
movimentos sociais, começam a se organizar em ações comunitárias para garantir a
preservação dos recursos naturais, registro que define a formação de capital social
(ARAÚJO, 2006).
Segundo Mahar (1989), no Brasil o movimento ambientalista concentrou sua
atenção na degradação ambiental crescente por conseqüência do processo de
desenvolvimento, que na região amazônica foi evidenciado pelas políticas
desenvolvimentistas implantadas ainda na década de 1950, quando iniciou a era do
desenvolvimento moderno, o qual tinha como objetivos a integração, segurança
nacional e a criação de assentamentos, além da perspectiva de um desenvolvimento
regional, pensado de fora para dentro. Nesse contexto, o extrativismo e economia
cabocla não somavam como potencial, mas como déficit.
Depois de 1964, com a Ditadura Militar, o desbravamento da Amazônia
continua e se intensifica. Apesar de muitas oscilações e contradições internas, é possível
identificar dois aspectos principais na estratégia das políticas de desenvolvimento, de
um lado grandes projetos nas áreas de mineração e energia e de outro lado, uma nova
fronteira agrícola que nasce através dos assentamentos com pequenos agricultores e
ainda pelo incentivo a grandes empreendimentos pecuaristas.
Depois de duas décadas de intenso desenvolvimento, o estoque de floresta foi
significativamente reduzido. Para Sachs (1986), o desmatamento era considerado como
sinônimo de progresso econômico. Porém o termo “desenvolvimento” sempre permeou
na literatura como um conceito controverso. Para um maior entendimento, surge a
necessidade de abrir um parêntese para conceituar o termo.
As concepções acerca do termo adquiriram diversos conceitos e significados ao
longo dos anos. Na literatura econômica, existem três conceitos básicos. A primeira
corrente traz a idéia de que o desenvolvimento seja sinônimo de crescimento
27
econômico. A segunda assegura que não passa de pura ilusão. Por fim, uma terceira
visão afirma que o crescimento econômico é indispensável, no entanto não suficiente,
uma vez que o desenvolvimento deve ter como base o aspecto qualitativo do ponto de
vista social (MACIEL, 2009 apud FURTADO, 2000; SOUZA, 2008; VEIGA, 2005).
Não desprezando as diversas conceituações, segue-se a última, a qual entende o
desenvolvimento como um processo mais amplo, mais do que resultado da produção de
bens e serviços ou, ainda, o aumento econômico constante. Além disso, o crescimento
econômico consegue gerar resultados na vida do ser humano, trazendo benefícios nos
aspectos econômicos e sociais e auxiliando no processo de conservação e preservação
dos recursos ambientais (MACIEL, 2009).
Destaque-se que o contexto das mudanças sobre o desenvolvimento rural no
Brasil é a incorporação do desenvolvimento sustentável, que prioriza a agricultura em
sua totalidade complexa, que vai além dos aspectos econômicos, passando por questões
relacionadas à preocupação ambiental e cultural.
Uma definição completa de desenvolvimento envolve, além da
melhoria de indicadores econômicos e sociais, a questão da
preservação do meio ambiente. Com o tempo, o crescimento
econômico tende a esgotar os recursos produtivos escassos, através de
sua utilização indiscriminada. Por exemplo, o crescimento econômico
acelerado pode provocar o desmantelamento de florestas, a exaustão
de reservas minerais e a extinção de certas espécies de peixes
(SOUZA, 2008, P.7).
Depois do entendimento acerca de desenvolvimento, é fundamental continuar
escrevendo acerca dos caminhos que foram traçados para a Amazônia, em especial a
partir da década de 1970, período marcado pela tentativa do governo de promover uma
política de reforma agrária para atender à demanda dos movimentos sociais através dos
projetos de assentamentos (SILVA, 2003).
Analisando os projetos de assentamentos existentes no Estado, com os seringais
loteados, é possível perceber que nem de longe a política contemplou uma ferramenta
para a realização da reforma agrária6. Foi, sim, um instrumento para a reprodução e
perpetuação capitalista sobre a terra, deixando de lado o aspecto social. Com isso, os
6 Considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que visem promover melhor distribuição da terra,
mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e o
aumento da produtividade. (Estatuto da Terra, Lei 4504, Art. 1º , § 1º).
28
grandes investidores, denominados de “paulistas” pelos acreanos, foram chegando e
comprando as terras, com o intuito de especulá-la no mercado fundiário (SILVA, 2003).
A política de colonização do INCRA não veio promover uma reforma
agrária, uma democratização da terra, ela atuou contra a reforma
agrária [...] nega-se com isto a finalidade do INCRA, de promover a
‘democratização da propriedade da terra’, pois possibilitou o acesso,
mas o que não foi acompanhado de políticas agrárias com infra-
estruturas necessárias para possibilitar a permanência deste homem do
campo. (SANTOS, 1993 apud SILVA, 2003, p.210).
Além disso, é instituída uma nova forma de latifundiários se apropriarem das
terras públicas, impedindo o acesso à terra aos trabalhadores que dependiam dela. Esses
latifundiários criaram uma nova forma de burlar a lei, método pelo qual se falsificava
um título de cartório, colocando-o em um baú fechado com grilos para dar aparência de
documento antigo, tornando essa prática comum e impune em várias regiões do país.
Assim, cresce a concentração de terras improdutivas em relação aos
trabalhadores excluídos do processo de produção do capital. Vale lembrar que os
seringais também eram constituídos por grandes extensões de terras, mas a finalidade do
uso das terras foi se modificando com as atividades econômicas da região (OLIVEIRA,
2005).
Nesse contexto, passa a existir uma forte pressão que desencadeou freqüentes
lutas de trabalhadores rurais sem-terras, que transversalmente, em forma de resistência,
estabeleceram um processo de expropriação, expulsão e exclusão motivado pela procura
de um pedaço de terra para fixar, estabelecer suas relações de trabalho e garantir o
sustento de sua família (OLIVEIRA, 2005).
Dos conflitos mais significativos na luta pela terra, destacam-se os vivenciados
nos municípios de Brasiléia e Xapuri. Entretanto, esses conflitos também ocorreram em
todo o Vale do Acre e em menor grau no Vale do Juruá. Lideranças como Chico
Mendes e Wilson Pinheiro tornaram-se famosas mundialmente.
Além dos conflitos pela posse da terra, os assentamentos tradicionais de reforma
agrária, idealizados para solucionar os impasses, não apresentaram resultados
satisfatórios. A política adotada representava apenas a necessidade de fixar o indivíduo
na terra, mas não oferecia condições de sobrevivência para as famílias assentadas, fruto
da falta de planejamento (ALENCAR et al.,2004).
Para Soares (2008), o planejamento refere-se à área, à infraestrutura do projeto
de assentamento, às dimensões organizacionais da área produtiva (distribuições dos
29
lotes), da área socioeconômica, ambiental e a otimização dos recursos. “Projetos de
assentamento mal planejados favorecem o extrativismo predatório ao prover a área de
infraestrutura precária, mão-de-obra não qualificada e um proprietário cúmplice.”
(SOARES, 2008).
O movimento dos seringueiros, já fortalecido e com características definidas,
estabeleceu o posicionamento das políticas públicas relacionadas com dois aspectos
fundamentais à sua identidade coletiva: a defesa dos direitos de posse e a garantia de
acesso e de uso dos recursos naturais disponíveis na floresta (ARAÚJO, 2006).
Designou-se, deste modo, uma interconexão com duas políticas governamentais:
a da reforma agrária e a do meio ambiente, produzindo importantes modificações
conceituais em ambas, para ajustá-las às especificidades de suas demandas. Em um
primeiro momento, a proposta dos seringueiros questionou as duas alternativas, tanto
em termos conceituais quanto institucionais, e, em um segundo momento, fundiu as
duas tradições em um novo conceito, no qual a regularização da posse ficou
subordinada à proteção do meio ambiente (ARAÚJO, 2006).
De tal modo, a aliança de várias forças com os seringueiros começa a apresentar
resultados na amenização dos conflitos. Nas palavras de Costa Filho:
[...] o Governo do Estado do Acre passou a defender os interesses
tradicionais do Acre, realizando ações para o fortalecimento da
economia rural. Ainda sob a orientação do Governo local, o INCRA
passa a ter uma ação restritiva quando à transação de terras do Estado.
(COSTA FILHO, 1995, p.13).
Para Silva (2003), o fracasso de muitos assentamentos implantados pelo INCRA
foi expresso pela falta de planejamento, infraestrutura, dificuldade de acesso, créditos
limitados, falta de assistência técnica, além de se mostrarem inadequados do ponto de
vista social e ambiental.
Desse modo, a solução encontrada foi repensar numa nova forma de reforma
agrária para a Amazônia. Assim sendo, nas décadas seguintes, surgem novas
modalidades de assentamentos, todos com o intuito de preservar os recursos naturais e
com responsabilidade social. Com incentivos dos Sindicatos Rurais, Órgãos Públicos,
ONGs, através de associações e cooperativas, de 1970 a 1999, segundo o INCRA, são
implantados 49 projetos de assentados de diversas modalidades no Acre (SILVA, 2003).
Para Nascimento Soares (2008), o incremento dos esforços de colonização na
Amazônia levou o INCRA a criar diversas modalidades de assentamento, em uma
30
tentativa de adequação a realidade das comunidades e mais recente com as questões
ambientais, no intuito de promover a preservação dos recursos naturais: Projetos
Integrados de Colonização (PIC), Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD), Projetos
de Assentamento Rápido (PAR), Projetos de Assentamentos (PA), Projetos de
Assentamento Extrativista (PAE), Assentamentos Agroflorestais, Projetos de
Desenvolvimento Sustentável (PDS).
O PDS, por sua vez, é uma modalidade de assentamento que se baseia
essencialmente na produção de produtos florestais, formados por plantios consorciados
com a finalidade de garantir uma maior vida útil ao solo, bem como a racionalização
dos recursos naturais a partir dos sistemas agroflorestais.
3. AGRICULTURA FAMILIARE CAPITAL SOCIAL
3.1.Agricultura familiar como base para compreender a realidade dos
assentamentos rurais
Surgida há cerca de 1,5 milhões de anos, a espécie humana teve de enfrentar as
adversidades de um mundo até então inóspito para as necessidades da espécie. No
sentido de garantir seu espaço, buscou a competitividade com outras espécies de
animais. A principal dificuldade foi sempre garantir a disponibilidade de alimentos.
Durante algum tempo, o homem teve que sobreviver como caçador e coletor de frutos
(PATERNIANI, 2001).
Esse período é chamado de economia primitiva. Nessa fase, o homem era
condicionado ao que a terra lhe oferecia para viver, assim alimentava-se dos produtos
naturais obtidos através da coleta, caça, pesca, etc.(CORAZZA e MARTINELLI JR.,
2002).
Durante esse período, o homem buscou apenas garantir a sobrevivência,
operando basicamente como caçador e coletor, e não conseguiu avanço social
(PATERNIANI, 2001). Com o tempo, foi adaptando-se à natureza e, assim, observou
que, cultivando a terra, garantiria seu sustento. Assim, buscou produzir seus próprios
alimentos, de acordo com suas necessidades, passando a exercer controle sobre as
condições naturais de sobrevivência (CORAZZA e MARTINELLI JR., 2002).
A agricultura começa uma domesticação das plantas e dos animais
úteis ao homem. Essa domesticação principiou desde o aparecimento
31
do homem sobre a terra. Onívoro, sente o homem a necessidade de
uma alimentação variada, tirada, ao mesmo tempo, do reino vegetal e
do reino animal. Somente em casos excepcionais, quando se vê
privado de quaisquer recursos vegetais, é que o homem se torna, por
força das circunstâncias, carnívoro e ictiógrafo [...] (GEORGE, 1975
p.9).
A agricultura tem como objetivo a produção de alimentos, sobretudo voltados
para o autoconsumo, além da sua importância na absorção de mão-de-obra na produção,
ou seja, enfatizando mais sua função de caráter social do que econômica, tendo em vista
sua menor produtividade e incorporação tecnológica.
No Brasil, a história agrícola está ligada ao processo de colonização, no qual a
dominação social, política e econômica privilegiou a grande propriedade. Nos países
capitalistas desenvolvidos, o desenvolvimento rural passou por um processo de
modernização agrícola que almejava suprir tanto a necessidade de produtividade como a
do trabalho (WANDERLEY, 2003).
A agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a
maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços
de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime e
muitas vezes tampouco operacional. É perfeitamente compreensível,
já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem
categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a
definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito,
pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com
finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O
importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e
trabalho familiar) estão presentes em todas elas. (ABRAMOVAY,
1997, p.3)
A definição da agricultura familiar não determina limites máximos de área para
as propriedades. Na prática, é o nível de desenvolvimento tecnológico e os sistemas de
produção aceitos que limitam a extensão da área que pode ser explorada com base no
trabalho familiar.
O universo dos agricultores familiares é composto por grupos com interesses
particulares e estratégias próprias de sobrevivência e de produção, que reagem de
maneira desigual a desafios, oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto,
demandam tratamento compatível com as diferenças.
Os agricultores organizam suas estratégias, vivem suas lutas e fazem
suas alianças em função destes dois domínios: a memória que
32
guardam de sua história e as ambições que têm para o futuro. Suas
chances de atingir o modelo ideal, ou simplesmente de se aproximar
dele, dependerão da complementaridade de seu projeto junto ao que a
sociedade elaborou para eles (Lamarche, 1994, p.19)
É comum caracterizar a agricultura familiar como um setor arcaico, do ponto de
vista econômico, tecnológico e social, voltado para a produção de produtos alimentares
básicos e com uma lógica de produção de subsistência. Ultimamente, pode-se observar
uma nova fase totalmente diferente dessa idéia estereotipada.
A agricultura familiar não é um fenômeno tão generalizado que não
pode ser explicada pela herança histórica camponesa, de fato, em
alguns casos existentes, na verdade, o Estado foi determinante na
moldagem da atual estrutura social do capitalismo agrário das nações
centrais. Uma agricultura familiar altamente integrada ao mercado,
capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às
políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada
como camponesa. (ABRAMOVAY 1992, p.19).
Para Martins (2001), a agricultura familiar é a instituição de reprodução familiar
baseada na relação direta com a terra e com a produção agrícola. Além disso, suas
estratégias de reprodução não se resumem apenas em reproduzir, subsistir e permanecer
no campo, estão cada vez mais adapto nas resoluções dos problemas.
O termo “agricultura familiar” vem sendo utilizado como sinônimo para o que
anteriormente era classificado como camponeses ou pequenos produtores, contudo a
nova terminologia busca uma composição administrativa que resulta do movimento da
burocratização do Estado com o setor.
Ainda existe uma dificuldade teórica para atribuir um valor conceitual a
agricultura familiar, especialmente depois da implantação de programas como o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Para alguns
autores, o conceito atribuído se confunde com a definição adotada pelo programa, que
estabelece os beneficiários em função da capacidade de atendimento, além de
contratação de até dois empregados pernamentes e posse de área inferior a quatro
módulos fiscais.
33
3.2. A Agricultura Familiar no Brasil
A agricultura familiar tem um perfil heterogêneo distribuído por todo o país,
fator que muitas vezes dificulta a classificação. Nesse universo, encontram-se os que
produzem para o autoconsumo e agricultores economicamente integrados a redes de
distribuição, tais como, o setor exportador e a agroindústria.
Por sua vez, a Conferência Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG) definiu como familiares todos os agricultores que trabalham em menos de
quatro módulos fiscais e que não contratem mão-de-obra permanente.
Enquanto para outros, a agricultura familiar corresponde à parcela de
agricultores que estão tentando se adaptar às novas exigências do mercado em curto
prazo para consolidar sua produção e renda familiar (WANDERLEY, 2003)
Para Gonçalves e Souza ( 2005), a melhor definição de propriedade rural
consta no inciso II do artigo 4º do Estatuto da Terra, estabelecido pela Lei 4.504, de 30
de novembro de 1964, com a seguinte redação:
Propriedade familiar: o imóvel que, direta e pessoalmente explorado
pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho,
garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com
área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e
eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.
E na exatidão da área máxima, a Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993,
estabelece como pequena os imóveis rurais com até 4 módulos fiscais e, como média
propriedade, aqueles entre 4 e 15 módulos fiscais.
Para Wanderley (2003), o agricultor familiar pode ser classificado como a
camada de produtores capazes de incorporar as modernas exigências do mercado em
relação aos que são incapazes de assumir tais mudanças.
Segundo Carmo (1999), o perfil da agricultura brasileira compreende a
agricultura familiar como forma de organização de produção em que os critérios
adotados para orientar as decisões relativas à exploração agrícola não se subordinam
unicamente pelo ângulo da produção, mas levando em consideração também as
necessidades e objetivos familiares. Contrariando o modelo patronal, no qual existe uma
completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes fatores estão
diretamente relacionados.
34
Para Guanziroli (2001), a prevalência da produção familiar como alicerce da
produção agrícola nos países capitalistas adiantados pode ser entendida, em primeiro
lugar, pela sua capacidade de aliar progresso técnico e responder às demandas do setor
urbano-industrial em expansão. Em segundo lugar, pela valorização de importância
político-estratégica em projetos de desenvolvimento nacionais não excludentes.
O universo agrário é muito complexo, em conseqüência da grande diferença da
paisagem agrária (meio físico, ambiente, variáveis econômicas, etc.). Na verdade, a
existência de diferentes tipos de agricultores responde de maneira diferenciada aos
desafios e restrições, alguns por seus interesses particulares, estratégias próprias de
produção e sobrevivência (GUANZIROLI, 2001).
De acordo com Corazza e Martinelli Jr. (2002), com o desenvolvimento da
agricultura, o homem se estabeleceu no solo e apropriou-se da terra. Desse modo,
surgiu a divisão social do trabalho e a divisão da sociedade em classes, os conflitos de
interesses e o poder político do Estado. Criaram-se, deste modo, as bases materiais,
sociais e políticas das primeiras civilizações agrícolas.
O desenvolvimento da sociedade motivou novas técnicas para a agricultura. Os
aparelhamentos rudimentares foram sendo substituídos e isso permitiu o crescimento da
produção de alimentos desdobrados, visto que o trabalho feito por homens e animais
passou a contar com o auxílio de máquinas. Os solos puderam ser melhorados com a
mecanização e os fertilizantes químicos. A agricultura tradicional abriu espaço a uma
agricultura moderna.
A modernização da agricultura não aconteceu equitativamente. Nos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento amplo, parte da produção agrícola sucede da
forma tradicional de agricultura, como é o caso do Brasil. Esse tipo de agricultura é
realizado, na maioria das vezes, por grupos familiares.
Wanderley (2001) diz que a agricultura familiar se distingue quando a família é
ao mesmo tempo a proprietária dos meios de produção e adota o trabalho nas unidades
produtivas. Sendo assim, todas as técnicas utilizadas na produção são definidas pelos
próprios produtores rurais, os quais se utilizam de seus conhecimentos tradicionais em
todos os tratos culturais, como, por exemplo, a escolha do local onde será feita a
plantação, a maneira como será preparado o solo, as formas de colheita, até o
planejamento de como será comercializado o produto final.
35
Em linhas gerais, entende-se que os empreendimentos familiares apresentam
duas características principais: eles são administrados pela própria família; e neles a
família trabalha diretamente, com ou sem a ajuda de terceiros. Vale dizer que a gestão e
o trabalho são predominantemente familiares. Podemos afirmar também que um
estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo;
uma unidade de produção e de reprodução social (DENARDI, 2001).
Além disso, no meio rural passa a existir como alternativa de sobrevivência o
cooperativismo, que nasce em razão da grande dificuldade na dinâmica de produção,
fator originado da depreciação na relação de troca entre campo/cidade, por decorrência
da prática baseada na monocultura agroexportadora. Muitas experiências de ajuda
mútua têm dado certo, e a cooperação vem promovendo o desenvolvimento de
comunidades (FLEURY, 1983).
Nos assentamentos de reforma agrária, a associação cooperativa pode trazer
benefícios para a aquisição de créditos, equipamentos, insumos, capacitação, além de
facilitar a comercialização dos produtos, barateando o transporte. Assim, o capital social
aparece como resultado do processo mental reforçado pela ideologia e cultura de um
grupo atribuído por normas crenças, atitudes, que por sua vez contribuem para o
desenvolvimento local.
3.3. Capital Social: Contribuição dos Principais Autores
A agricultura familiar sempre esteve presente na organização do espaço rural
brasileiro, constituindo-se em uma atividade principal ou complementar à medida que se
apresentam as condições históricas, dependente da expansão ou retratação das culturas
“impostas” pelo mercado. Porém, com a crise das monoculturas tradicionais e em
decorrência de vários problemas enfrentados pelos produtores rurais, surge a
necessidade da incorporação do capital social.
Putnam (2000) explica que o termo “capital social” foi inventado e reinventado
diferentes vezes ao longo do século XX. Foi utilizado por Jane Jacobs7em relação à vida
urbana, por Pièrre Bourdieu (1983) com relação à teoria social e por Coleman (1988)
nas suas discussões sobre o contexto social da Educação. Nos últimos anos, foi
7Ver JACOBS, J., (1961). The Death and Life of Great American Cities, New York: Random apud SMITH (2001).
36
“adotado” pelo Banco Mundial (WORLD BANK, 1999) e pela OCDE (2001), os quais
passaram a sistematizar as informações existentes sobre o tema e a estimular novos
estudos, principalmente no que concerne à sua criação, medição e relação com o
desenvolvimento econômico e redução da pobreza.
O capital social é um conceito ainda em formação, entretanto com um
crescimento de abordagens que discutem as relações entre mensuração, utilidade e
fomento a partir das diversas formulações, que convergem na idéia de que as relações
sociais instituem um patrimônio “não visível”, mas com grande eficácia a serviço dos
sujeitos sociais, sejam estes na coletividade ou individualmente (HIGGINS, 2005).
Há certa resistência por parte de alguns pesquisadores em considerar o capital
social como um “capital” de fato. Para Silva, por exemplo:
(…) o conceito de capital social é equivocado. Por que usar o termo
‘capital’ para este conceito que remete a noções que vão desde
relações cooperativas horizontais, até confundir o conceito de infra-
estrutura social? No meu entender, definir capital social como infra-
estrutura social ou o conjunto de leis, normas, (e a eficácia das
mesmas) talvez seja a forma mais interessante de se lidar com esta
intuição econômica, que é, sem dúvida, interessante. Melhor ainda,
sugiro, é definir algo como tecnologia social ou tecnologia
institucional para dar conta do fenômeno em questão (SILVA, 2001,
p.21).
Com essa definição, Silva (2001) não quer desprezar o conceito mais amplo do
capital social, apenas propõe uma abordagem simplificada do conceito para facilitar sua
incorporação nos modelos econômicos, retirando a parte que convencionamos chamar
de “dimensão cognitiva”. Assim, como a tecnologia de modo geral pode aumentar a
produtividade do capital e do trabalho, o entendimento do capital social pode ser
evidenciado como uma ‘tecnologia social’ que produz o aumento da produtividade dos
demais fatores de produção.
Logo, o capital social é entendido de forma relativamente diferente das outras
formas de capital. Diferentemente do capital físico, o capital social aparece para
beneficiar e acumular com o uso, de certa forma assemelhando-se ao capital humano.
Entretanto, o capital social é intangível e tem nítidas características de um bem público.
O capital social aparece como agregador dos conceitos anteriores, como capital
físico, humano e natural na forma de agente para a geração de desenvolvimento. Deste
37
modo, é entendido como característica da organização social que se torna possível às
ações coordenadas. O capital social é produtivo, pois permite a realização de certos
objetivos que seriam inalcançáveis se este não existisse (HIGGINS, 2005).
Teu milho está maduro hoje; o meu estará amanhã. É vantajoso para
nós dois que eu te ajude a colhê-lo hoje e que tu me ajudes amanhã.
Não tenho amizade por ti e sei que também não tens por mim.
Portanto, não farei nenhum esforço em teu favor; e sei que, se eu te
ajudar, esperando alguma retribuição, certamente me decepcionarei,
pois não poderei contar com tua gratidão. Então, deixo de ajudar-te, e
tu me pagas na mesma moeda. As estações mudam; e nós dois
perdemos nossas colheitas por falta de confiança mútua (HUME,
1996, p. 78).
Bourdieu (1980), autor da primeira análise contemporânea sobre o conceito, na
sua definição colocou o capital social como sendo o agregador de recursos, o que
representa pertencimento duradouro a determinados grupos e instituições. Ou seja, o
conjunto de relações sociais em que os membros dos grupos extraem recursos e
vantagens como um multiplicador das outras formas de capital.
Coleman (1988) descreve o capital social como produtivo e explica a
possibilidade de atingir certos fins que de outra forma não seriam atingidos.
Diferentemente do capital físico e humano, o capital social é proveniente das relações
estruturais por meio dos atores e entre atores. Por não ser tangível o capital social, só
existe no espaço relacional por meio e entre pessoas intimamente ligadas com as
mudanças, crenças e opiniões pessoais.
Para Coleman, o capital social é entendido em termos funcionais, isto
é, consiste em todos aqueles elementos de uma estrutura social que
cumprem a função de servir com recursos para que atores individuais
alcancem suas metas e satisfaçam seus interesses. Dentro das
estruturas sociais há pelo menos três grupos de elementos com essa
finalidade: em primeiro lugar as obrigações, expectativas e lealdades,
em segundo lugar os canais de informação e, em terceiro, as normas e
sanções estabelecidas. As obrigações podem contar com diferentes
graus de reciprocidade, levando em conta o tempo e o motivo, [...] os
canais de informação reduzem os custos através das pessoas que têm
informações pertinentes e a compartem com a rede social. As normas
têm por função específica inibir os comportamentos negativos que
debilitam o capital social (HIGGINS, 2005, p.33).
Assim, o capital social atribuído ao conceito apresentado por Coleman (1988)
busca introduzir um novo elemento nos dilemas da ação coletiva. Partindo da escolha
racional, contudo, ignora as premissas individualistas que normalmente acompanhavam
38
os pensamentos da comunidade. Com isso, ele introduzia um novo “recurso” à
disposição das pessoas em que o capital social tem a função de dinamizar a produção de
uma sociedade e, portanto, capaz de promover maior crescimento econômico através
das instituições (HIGGINS, 2005).
Para Evans (1997), as instituições assumem um papel essencial na formação de
capital social, através da relação entre Estado e sociedade civil, bem como na
implantação do desenvolvimento social. Deste modo, a parceria entre a relação de dois
tipos que convivem: uma baseada nas ações de complementaridade de governos e
cidadãos e a outra fundamentada nas articulações da divisão do público- privado.
Paralelo à temática abordada sobre o capital social, surge a necessidade de
avançar na mensuração do processo de minimizar a subjetividade intrínseca a ele,
contribuindo para ampliar as discussões dos estudos práticos e aproximar mais da
realidade. Quando se busca aproximar a teoria existente do capital social com a prática,
duas categorias inter-relacionadas desse fenômeno são sugeridas: a estrutura e cognitiva
(UPHOFF, 2000).
Quanto à organização social, as redes são avaliadas como fonte de capital
social, pois as relações entre indivíduos, grupos e as redes são as reproduções dos
modelos estabelecidos de comunicação e cooperação, que atuam nas reduções dos
custos transacionais e fazem da atuação coletiva lucrativa. Outro artifício que integra a
análise do capital social estrutural é a ação coletiva, essa por sua vez implica que as
pessoas estão até certa questão investidas umas nas outras, ou seja, estão dispostas a
contribuir com o bem-estar das outras pessoas (UPHOFF, 2000).
Coleman (1988) ressalta a importância das estruturas sociais que obedecem a
rigorosas metas que sugerem que os indivíduos interajam com outros, a fim de resgatar
a experiência de fontes alternativas de recursos, adquirirem a capacidade de gestão para
obter ajuda, a coesão das redes sociais e a logística para contatos sociais.
As redes criadas a partir do acúmulo de capital social são compostas por todos
os membros e entre as conexões com cada um, que são representados por sujeitos
sociais como indivíduos, grupos, organizações ligadas por algum tipo de relação.
O modo de vida dos indivíduos representa sua visão de mundo. Seu
comportamento é determinante das relações passadas ou atuais. Desse modo, a
interdependência das funções humanas sujeitas e moldadas soma em ações positivas que
garantem qualidade de vida e harmonia com o meio ambiente, facilitando a gestão dos
recursos naturais e garantido maior durabilidade dos ecossistemas.
39
Além disso, a administração dos recursos naturais de uso comum está baseada na
questão ambiental. No caso particular do PDS Bonal, a gestão foi sugerida pela proposta
do projeto de reforma agrária, que prioriza uma gestão coletiva racional de uso comum,
tendo em vista que os então chamados recursos naturais podem ser passíveis de
utilização por vários indivíduos. No entanto, para que isso aconteça, é necessário limitar
o seu uso. Além de garantir sua disponibilidade para diferentes usuários, existe a
preocupação de preservar o recurso para que ele permaneça ao longo do tempo.
Portanto, o capital social aparece como elemento fundamental para nortear os atores
sociais na tomada de decisões a que freqüentemente estão sujeitos a enfrentar, levando-
os a estipular a criação de regras de uso comum.
3. METODOLOGIA
3.1 Caracterização do Objeto
O Acre foi a última grande área a ser incorporada ao território brasileiro, pelo
limite do acordo colonial. A extensão de terra pertencia à Bolívia e ao Peru, porém, no
final do século XX, o governo brasileiro financiou políticas de ocupação, resultantes de
um processo da produção de borracha no mercado internacional. Hoje, o Estado é uma
das 27 unidades federativas do Brasil, localizado no sudoeste da Região Norte e tem
como limites os estados do Amazonas ao norte, Rondônia ao leste, e os países Peru, e ao
sul e oeste e Bolívia. Ocupa uma área de 152.581,4 km² e sua capital é a cidade de Rio
Branco, com uma população de aproximadamente 733.559 habitantes (IBGE, 2010),
divididos em 22 municípios, com densidade demográfica de 2,73 habitantes por km2.
40
Figura 1: Mapa do Estado do Acre
Fonte: IBGE, 2006.
O objeto de estudo do presente trabalho é a produção familiar rural assentada
no PDS Bonal, situado no município de Senador Guiomard, à margem da BR-364, entre
Rio Branco e Porto Velho, no km76, conforme mostra a Figura 02.
Criado no ano de 2005 com o objetivo de promover um modelo de reforma
agrária diferenciada, buscando promover o desenvolvimento com base em práticas
sustentáveis, o PDS Bonal surge com benfeitorias herdadas da Agroindústria de
Processamento de Palmito Belga, presente desde o início dos anos 1970. A Fazenda
Bonal, como era conhecida na região, desenvolveu inicialmente o plantio racional de
seringueiras para extração de látex. No início dos anos 1980, a empresa começou o
plantio de pupunha para a produção de palmito. E, em meados dos anos 1990, foi
construída a agroindústria para o beneficiamento do palmito (INCRA, 2010).
41
Figura 2: Mapa de Localização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal,
2012.
Fonte: Base de Dados INPE e ZEE/AC (2012)
Elaboração: Francisco Ivam Castro do Nascimento (2012)
3.2 Descrição dos Momentos da Pesquisa
Esta pesquisa foi dividida em quatro fases distintas. A primeira constituiu na
construção do projeto de pesquisa, que ocorreu no período de março a junho de 2011. O
segundo momento marca as visitas a campo para levantamento de dados e entrevistas. A
terceira fase aconteceu no escritório do Projeto ASPF, onde os dados levantados foram
processados no fluxograma específico para gerar resultados, levando em consideração
as peculiaridades do objeto de estudo do meio rural, observando como, por exemplo, o
calendário agrícola e o modo de vida dos moradores do PDS. A quarta e última fase
consistiu na realização de entrevistas com representantes de moradores, líderes
comunitários e representantes de instituições.
Baseando-se nas características peculiares da área de estudo, tomando como
base o estudo de caso da comunidade, o presente trabalho busca delinear as
potencialidades e analisar os níveis de participação de agricultores familiares em uma
metodologia participativa para o desenvolvimento rural sustentável.
42
3.3 Pesquisa de Campo – Fase 1: Pesquisa Exploratória
O primeiro contato com a comunidade do PDS Bonal aconteceu no dia 13 de
fevereiro de 2012, na Escola Estadual Bom Destino. A professora Francisca da Silva
Araújo de Macedo foi o elo entre a equipe do ASPF, os moradores e os líderes da
comunidade. Essa primeira visita foi vital para a pesquisa, que largou a apresentação do
projeto de dissertação e, além disso, o conhecimento preliminar da comunidade que
posteriormente foi o ponto inicial para definição do tamanho da amostra.
No decorrer do ano em questão, a partir do mês de abril, acorreram outros
contatos com os moradores do PDS através de entrevistas orais com a população,
definida pelo método de amostragem e subseqüentes com o auxílio do questionário de
pesquisa do Projeto ASPF, que trabalha uma metodologia apropria que busca englobar
dados gerais das famílias, patrimônio, autoconsumo, transferência de renda, avaliação
estratégica. Além disso, aconteceram diversas reuniões com as lideranças da
comunidade para discussão de temas relacionados ao papel das instituições e às
inovações na gestão do PDS Bonal.
Inicialmente, a pesquisa foi do tipo exploratória, uma medida adotada para
propiciar familiaridade com o ambiente do problema proposto pela pesquisa e
transversalmente o amadurecimento do problema de pesquisa. A demarcação dos
objetivos muito se deve a esses encontros com os moradores em seu lugar. Para Gil
(2002), a idealização da pesquisa exploratória é maleável, o que permite a consideração
das mais variadas roupagens relativas ao fato estudado.
Após as primeiras visitas ao PDS Bonal, fizeram-se levantamento bibliográfico
acerca do assentamento, com auxílio de conversas informais com pessoas que
participaram do processo de transição da Empresa Belga para a instalação do modelo
coletivo de assentamento e com identificação de fontes documentais, elementos
fundamentais que subsidiaram a definição de novas estratégias em campo e a
significação dos objetivos da pesquisa.
Além da metodologia do Programa ASPF, optou-se também pela realização de
duas outras, o mapeamento e o Diagrama de Venn. O mapeamento possibilitou
aproximar a equipe e a comunidade em uma atividade, na qual os moradores do PDS
representaram o local em que residem. Para tanto, formou-se um grupo com moradores
de todas as agrovilas, em que foi solicitado que eles reproduzissem o espaço em que
residem e suas relações com este, com auxílio de pincéis no quadro da Escola Estadual
43
Bom Destino. A partir do desenho dos moradores, aos poucos foram sendo destacados
vários espaços de referências, tais como: recursos naturais, áreas de lazer, demarcações
de lotes, escola, etc.
Figura 3: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no
PDS Bonal
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
Essa atividade durou em média cerca de 50 minutos. Para a finalização, a
coordenadora da atividade perguntava, a cada novo desenho, se todos concordavam com
a representação. Se a resposta fosse negativa, sugeria que outro morador refizesse outra
vez o desenho. Quando a resposta era positiva, a atividade seguia seu ritmo normal.
Durante a atividade, os moradores tiveram de fazer concessões, que aconteceram
de forma tranqüila. Na maioria das vezes, eles concordavam com as representações
feitas pelos membros da comunidade que participaram da atividade. Porém, em alguns
momentos, divergiram quando não concordavam, como, por exemplo, a localização de
uma propriedade de uso comum.
44
Figura 4: Aplicação da técnica mapeamento, durante a pesquisa exploratória, no
PDS Bonal
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
A técnica do diagrama de Venn objetivou uma melhor compreensão das
organizações, instituições e /ou pessoas que estão presentes no cotidiano do PDS Bonal
e que fazem parte do processo que influencia no desenvolvimento e, ainda, como os
grupos sociais estão abrangidos nesse processo. Para a realização dessa atividade, foi
sugerido que o grupo apontasse todas as instituições, organizações e pessoas que
julgava essenciais para toda a comunidade.
À medida que os nomes eram citados, a pesquisadora anotava na mesma ordem
no quadro. Depois de encerrada a relação, pergunta-se se ainda existiam mais nomes a
serem incluídos na lista. Quando a resposta era negativa, a coordenadora da atividade
desenhava um círculo, em que a comunidade estivesse representada. Em seguida, eram
feitas as demarcações, que indicavam o limite de onde a atividade deveria ser realizada.
Depois, a proposta da atividade exigia uma construção coletiva de um desenho
que representasse a importância e a distância de cada nome citado na lista em relação à
comunidade, que já estava posicionada no centro. Solicitou-se que alguém, entre as
45
pessoas do grupo, desenhasse um círculo que representasse a importância da
organização em relação à comunidade.
O exercício foi realizado por todos os membros da comunidade que estavam
presentes. Quando a atividade parava, recomendava-se que outro membro se dispusesse
a desenhar mais um círculo representando outra instituição.
Para a finalização de cada círculo, perguntava-se se todos concordavam com o
tamanho e a distância, ou seja, com a importância e as ações atribuídas para cada
organização. No momento da realização, teve-se o cuidado de anotar as negociações,
discussões e concessões em que surgiriam as atribuições de importância para o coletivo.
Em alguns momentos, a pessoa que fazia o desenho não representava de acordo com a
opinião dos demais. No momento em que era para transpor para o círculo seguinte, era
perguntado se o desenho estava em consonância com a opinião de todos. Se não
estivesse, era apagado e outro membro desenhava conforme a opinião de todos.
Figura 5: Aplicação da técnica do diagrama de Venn, durante a pesquisa
exploratória, no PDS Bonal
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
Posteriormente, quando todas as organizações listadas já estavam devidamente
posicionadas e o diagrama todo preenchido, a organizadora da atividade levantou
algumas questões para que cada um relatasse pareceres sobre cada uma das
organizações mencionadas. Nesse momento, os moradores tinham a oportunidade de
expressar seus posicionamentos sobre a atividade que se refere ao papel e à importância
de cada arranjo. Na maioria das vezes, os comentários eram feitos a partir de críticas ou
46
elogios, os quais geravam reações de concordância ou de discordância. Em média, a
técnica do diagrama de Venn durou 60 minutos.
Vale ressaltar que o importante na efetivação das duas atividades, tanto no
mapeamento quanto no diagrama de Venn, não era o desenho obtido no final. O mais
importante era o debate que conduziu a construção de cada desenho individual e
coletivo, representando a importância que a comunidade dá aos temas abordados. Todas
as atividades realizadas eram acompanhadas de anotações por escrito, gravações de
áudio das reuniões, gravações de vídeo e registros fotográficos.
As entrevistas previamente elaboradas consistem em conversas realizadas
com lideranças e moradores que participaram das outras atividades interativas. As
questões apresentadas para a discussão consideraram aspectos como natureza,
tecnologia, confiança, acesso a serviços básicos, tipos de organização social e redes
informais, visão de mundo, conflitos e violência, preocupações ambientais, informação
e comunicação, coesão e inclusão social.
Durante a realização das entrevistas, teve-se o cuidado de formar um semicírculo
para que todos os participantes estivessem no mesmo ângulo. A organizadora da
atividade sentava-se na roda de conversas e apontava um tema e impulsionava o grupo
para a discussão. Os temas apresentados eram comuns a todos, relatavam seu cotidiano
e suas experiências de convívio, além de resgatarem questões vividas no passado e a
comparação com a atualidade. Normalmente, todos participavam da atividade, à medida
que as perguntas eram feitas; outros, porém, tinham de ser convidados para responder.
Geralmente, as questões eram respondidas em um clima de tranqüilidade e
concessão, porém, em alguns momentos, os moradores tiveram divergências de
opiniões, e foi proposto um consenso. Desse modo, todas as perguntas receberam a
aprovação de todos os presentes. Essa atividade teve duração de 60 minutos e, na
finalização, a mediadora, como em todas as atividades, perguntou ao grupo se todos os
participantes entendiam que as respostas dadas às questões levantadas pela proposta da
atividade estavam de acordo com a opinião de todos.
47
Figura 6: Aplicação da técnica das entrevistas pré-elaboradas, durante a pesquisa
exploratória, no PDS Bonal
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
Uma parte da entrevista tinha a função de validar as informações obtidas nas
atividades específicas: mapeamento e o diagrama. É importante ressalvar que o trabalho
de campo necessita de um pensamento projetivo ou de ações sistemáticas, condição
histórica efetivada pela modernização que esquadrinhou ações intervenientes movidas
pelo planejamento (Coelho, 2005).
As intervenções das orientações técnicas exigem, portanto, uma forma
metodológica de ação, como uma pesquisa de caráter aplicado. Essas
intervenções podem, inclusive, fornecer hipóteses para outros
trabalhos de pesquisa mais sistemática ou teórica. Para o trabalho de
orientação técnica, a literatura sobre pesquisa participante ou pesquisa
ação desponta também como referência bibliográfica indispensável.
Além disso, percebe-se que, na prática da orientação técnica, não
distanciamento, tão comum nos meios universitários, entre o que se
convencionou chamar de atividade de pesquisa e atividade de
extensão (COELHO, 2005p. 78).
A proposta da metodologia aplicada na pesquisa partiu da idéia de uma
ferramenta empírica para medir o capital social. Objeto de estudo das últimas décadas, o
48
conceito tem gozado de um crescente prestígio nas ciências sociais e na literatura em
geral.
O uso do método histórico contribuiu para a confirmação da importância e
influência das organizações e instituições, e para a dinâmica da evolução, modificação e
ainda as questões atuais da forma de vida social em todos os seus aspectos. A forma
pela qual se buscou identificar a existência do capital social consta em um roteiro de
questões objetivas que analisa o capital social sobre a forma estrutural e cognitiva,
tomando como base adaptações, com intuito de atender à totalidade do estudo. A seguir,
encontra-se de forma detalhada o conjunto de dimensões e parâmetros utilizados para a
análise do capital social.
Quanto ao tratamento e análise de dados, optou-se pela forma qualitativa
(priorizando analisar os dados acerca das dimensões do capital social proposta pelo
Quadro 01), sendo obtidos em critérios que se referem à correlação entre os dados
primários e secundários. No que compõem os dados primários, estes se deram por meio
de entrevistas, baseadas na aplicação do questionário ASPF e ainda nas atividades
metodológicas do diagrama de Venn, mapeamento e entrevistas semi-estruturadas
aplicadas junto aos moradores da comunidade por meio de amostragem probabilística,
em que entrevistados, 22 sorteados de um total de 208 Para tanto, foram, levadas em
consideração seis dimensões dos estágios, que serviram de arcabouço para o corpo da
pesquisa. Veja no quadro1 abaixo:
49
Quadro 1: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de Análise por Estágios
Indicadores Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3
Visão de mundo/ sentido
de fazer (criar)
Os indivíduos do grupo tendem a olhar
para trás no sentido de buscar
marcações velhas.
Indivíduos e grupos que procuram
para dentro da marcação o novo
senso da realidade das redes sociais.
Interação entre a comunidade e
líderes políticos na solicitação de
ações de desenvolvimento e formas
de decisão relacionada a projetos de
desenvolvimento.
Grupo autodeterminado a moldar a realidade
olhando para frente.
Mudanças de atitudes e
valores Medo de mudança.
Nenhuma mudança nas atitudes.
Ajustando o acaso.
Realização de novas capacidades.
Esperar mudar como uma norma.
Reflexão crítica e conceituação de novos
insights.
Ligações horizontais e de
redes externas
Tende a ser imposta de fora do
exterior para os derivados.
Desenvolvimento de regras e normas
próprias. Evolução e articulação de regras e normas.
Tecnologias e aspectos
ambientais
Esse grupo tem algum valor para
conseguir o reconhecimento de algo
novo, uma partilha de idéias, mas
tendência e desconfiança do novo.
Membros cada vez mais dispostos a
investir no seu próprio grupo.
Grupo suscetível de exprimir suas relações
sociais.
Partilha para os atores externos.
Tempo de vida em
grupos Pouca ligação com os outros grupos. Vínculos com os outros grupos.
Grupos capazes de conduzir outros grupos
sociais.
Resiliência
Ligação no sentido único de cima para
baixo.
Percepção de que o fluxo de
informação caminha para cima.
Grupo bem ligado às muitas agências externas
e forte o suficiente.
Participação do líder, mudanças nas estruturas,
tipo de ajuda organizacional, capacidade e
competência.
Variabilidade Depende de facilitadores externos para
sustentar as atividades de grupo. Regeneração do capital natural. Facilitadores não são mais necessários.
Razão de ser Eco-eficiência de redução de custos e
danos Regeneração do capital natural.
Redesenhar os acordos para manter os
princípios ecológicos básicos.
Capacidade de apresentar Espera a solução externa.
Esperando uma bala de prata nova.
Pouca experiência de adaptação.
Percepção de que as soluções devem
ser geradas internamente.
Planejamento coletivo para a
Soluções internas e externas.
Experiência leva à adaptação e à inovação.
Mudanças de estruturas e propósito;
50
experimentação/ algumas inovações.
participação organizacional, capacidade das
organizações para conviver com os conflitos;
capacidade e competência das organizações; e
liderança organizacional.
Facilitadores internos e
externos
Atrelado a uma agência.
Agrupamento com sucesso a
alcançar as atividades planejadas.
Participação por instituição, faixa
etária e gênero.
Os grupos agora são calibrados em diferentes
atividades.
Dificilmente obtêm rupturas lineares.
Indivíduos, grupos e organizações, que se
encontram interligados por algum tipo de
relação.
Normas e regras de
confiança
Grupo com o mesmo programa e o
mesmo tempo.
Possível quebra após a realização de
atividades iniciais. Grupos com olhares diferentes um dos outros.
Fonte: PRETTY E WARD (2001)
51
A pesquisa aponta o nível de capital social identificado na localidade. A partir da
análise das dimensões e dos indicadores propostos pelo Banco Mundial, serão adaptadas
e divididas nas categorias e subcategorias que serão disponibilizadas em dimensões para
facilitar o entendimento.
Dimensão 1- Apoio Comunitário
Participação das pessoas nas instituições locais
Participação por gênero
Participação por faixa etária
Participação por ocupação
•Nível de organização da comunidade
• Mobilização das pessoas e ou instituições para resolução de problemas
• Programas ou instituições envolvidas na geração de desenvolvimento local [
Dimensão 2 – Capital Social Estrutural
•Infra-estrutura
Participação do líder
Diferença entre os membros (diversidade)
•Influência dos líderes
Dimensão 3 – Redes e Organizações de Apoio Mútuo
•Disponibilidade de serviços
Problemas de acesso a serviços
•Níveis de diferenças
Problemas decorrentes das diferenças
Dimensão 4 – Ação Coletiva Prévia
•Interação entre comunidade e líderes políticos na solicitação de ações de
desenvolvimento
•Formas de decisão relacionada a projetos de desenvolvimento
Dimensão 5 – Capital Social Cognitivo
•Apoio e solidariedade
•Confiança
52
•(Níveis) de individualismo
•(Níveis) de respeito e Atenção à opinião alheia
Dimensão 6 – Perfil Organizacional
•Mudanças nas estruturas e propósitos da organização
•Tipo de ajuda organizacional
•Participação organizacional
•Capacidade das organizações para conviver com conflitos
•Capacidade e competência das organizações
•Liderança organizacional
53
4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo, são apresentados e analisados os resultados da pesquisa, através
da descrição dos procedimentos utilizados para análise e dados obtidos.
Nesse sentido, uma primeira seção para demonstrar o universo pesquisado de
forma panorâmica, com informações gerais e peculiaridade do estudo realizado.
Tomando como base a revisão literária acerca do capital social, constatam-se a
importância e a contribuição deste no processo de desenvolvimento, evidenciando,
quando se identificam as práticas de cooperação, confiança, solidariedade adotada pela
comunidade, assim como destes para as instituições Entendemos que, nesse sentido,
quanto maior a intensidade do capital social, maiores serão as possibilidades de
existirem políticas públicas e ações voltadas para alavancar o desenvolvimento local.
4.1 Características do Universo Pesquisado
O processo de constituição do PDS Bonal iniciou-se ainda na década de 1970,
quando o grupo Bonal adquiriu a área que corresponde hoje ao assentamento para a
instalação de um projeto agroindustrial, com o objetivo de cultivar seringueiras e
fornecer palmito de pupunha. As primeiras famílias foram contratadas para trabalhar
nos plantios de seringueiras. Já na década de 80, em virtude do baixo preço da borracha
no mercado nacional e internacional, buscou-se melhorar o desempenho econômico do
empreendimento, começando o plantio da pupunha (INCRA, 2010).
Com a mudança no foco da atividade produtiva, vários seringueiros foram
demitidos, permanecendo poucos na condução dessa atividade, uma vez que a pupunha
demanda pouco volume de mão-de-obra para o manejo. No entanto, diversos
seringueiros, apesar de formalmente demitidos, continuaram a explorar a área em bases
extrativistas informais. Na década de 1990, foi instalada uma unidade para
beneficiamento da pupunha (INCRA, 2010).
Em 1999, um grupo dos antigos funcionários que haviam sido demitidos no final
dos anos 70, mas que ainda continuavam vivendo na área com exploração extrativista da
seringa, organizou-se em uma associação como forma de reivindicar antigos direitos
trabalhistas e obter financiamentos do Governo Federal para o acréscimo de renda e
acesso à terra para trabalho. Essas ações tiveram propagação no sentido de reivindicar a
área da Fazenda Bonal para a reforma agrária. Depois de um longo período de
54
negociação, os proprietários do empreendimento fizeram um acordo com o INCRA-
SR14, que, em 2005, adquiriu o imóvel, mediante compra, para a constituição de um
Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), destinado às famílias que já viviam na
área e a outras famílias de trabalhadores sem-terra da região (INCRA, 2010).
No processo de compra, o INCRA proporcionou a possibilidade de todos os
empregados da fazenda ter o direito ao assentamento. Aceita a proposta, o projeto foi
designado, propiciando o acesso à terra inicialmente para 41 famílias dos antigos
empregados do imóvel. A criação do PDS Bonal aproveitou a organização territorial
original do tempo da empresa que estava distribuída em três núcleos de moradia: as
agrovilas Bom Destino, com 26 famílias residentes; Morada Nova, com 14 famílias; e a
Retiro, que, naquela ocasião, possuía apenas uma família residente. (INCRA, 2010).
Justamente nesse mesmo período, foi formada a Cooperativa Agroextrativista
Bom Destino LTDA (CAEB), destinada a coordenar a exploração do palmito e a
utilização da infraestrutura existente no assentamento. A CAEB teve início com 24
cooperados fundadores. No início de 2006, foi criado o Conselho Gestor da
Cooperativa, órgão encarregado de representar os demais assentados e buscar soluções
para os problemas (INCRA, 2010).
Criado oficialmente em julho de 2005, o PDS foi fruto do planejamento
apresentado no Plano Regional de Reforma Agrária com a parceria do INCRA e o
Governo do Estado do Acre, envolvendo a proposta de sustentabilidade constituída pelo
Ministério do Meio Ambiente. O objetivo era consolidar um sistema de gestão focado
na coletividade e no planejamento participativo, em que a exploração da terra estava
baseada na forma coletiva, e também individual (INCRA, 2010).
Com a área total de 12 mil hectares, o assentamento disponibiliza recursos
naturais que permitem várias formas de uso da terra, sem mencionar o manejo múltiplo,
a extração de borracha nativa, castanha, açaí, copaíba e outras palmáceas nativas. A área
destaca-se pelo manejo ecológico que consorcia o seringal de cultivo com o plantio de
pupunheiras, destinado para o uso da agroindústria (INCRA, 2010).
55
Figura 7: Unidade de processamento para beneficiamento do palmito no PDS
Bonal
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
4.2 Mapeamento da Comunidade
4.2.1 Espaços descritos pelos moradores
Através do mapeamento, foi possível compreender a forma como os moradores
percebem o espaço em que residem. Também foi possível identificar valores, desafios e
concepções que implicam diretamente na gestão da localidade. A referência inicial para
a construção do mapa foi a BR-367, com a localização para o km 78, que corresponde à
entrada do ramal principal que dá acesso ao PDS, seguida pela escola, que ganhou
destaque nos desenhos da comunidade. As próprias casas dos moradores, agroindústria,
lugares de lazer comunitário como campo de futebol, igrejas, comércios, posto de saúde,
açudes, agrovilas, florestas, plantios, etc.
Durante a realização da atividade, evidenciou-se a importância dos espaços e a
forma como eles são utilizados, conforme se observa nos depoimentos:
56
“A igreja é um lugar onde todos nós podemos contar com o
apoio dos outros.” Morador 01
“A nossa escola é um lugar de muito respeito. Dá gosto saber
que as crianças estão estudando lá!” Morador 02
“O nosso campo é o lugar das peladas na hora da folga.”
Morador 03
Ressalte-se que, durante a atividade de construção do mapeamento, os
participantes usaram a expressão “nosso”, com intuito de enfocar a consciência
comunitária para alguns espaços e recursos, tais como agroindústria, campo de futebol,
igrejas. No entanto, em outros momentos o individualismo prevaleceu quando a
construção enfocou as agrovilas (espaços onde se localizam as casas dos assentados).
Além disso, questões relevantes, como as dificuldades enfrentadas, foram
evidenciadas: a dificuldade de acesso aos ramais nos períodos do inverno amazônico,
falta de água em algumas agrovilas, a falta de assistência no posto de saúde.
Entretanto, o assentamento funciona com sua dinâmica própria, evidenciando a
forma de organização, distribuição e acesso aos recursos naturais. Cada assentado
possui seu lote e sua casa em uma das agrovilas. Ainda existem locais coletivos que são
espaços comuns, nos quais a comunidade programa suas atividades sociais e a
organização do seu trabalho.
Outro aspecto observado na forma de os moradores visualizarem o espaço foi a
iniciativa de um morador em procurar preencher as lacunas do desenho com o volume
das plantações de pupunhas e seringas existentes. Nesse momento, abriram-se espaços
para outras discussões, como acesso a financiamento de créditos, para aumentar os
plantios, e técnicas modernas para garantir mais lucratividade.
57
4.3 Diagrama de Venn do PDS Bonal
4.3.1 As organizações e a instituições públicas no PDS Bonal
Nessa seção, serão apresentados os resultados da aplicação da técnica do
diagrama de Venn, conforme apresentado na metodologia do presente trabalho. Ao
longo da atividade, foram citadas 12 organizações e instituições que estão presentes no
cotidiano dos moradores.
As citações das organizações/instituições que atuam no assentamento PDS Bonal
foram feitas durante a explicação da atividade, ainda quando a monitora orientava os
participantes de como seriam conduzidos. Dessa maneira, entende-se que foram citadas
as instituições/organizações pelo grau de importância na garantia da sobrevivência dos
assentados no local, conforme a seguinte classificação:
Figura 8 Representação das instituições por grau de importância para a
comunidade do PDS Bonal, 2012
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
Outro cuidado dos participantes foi escolher o local exato para representar todas
as instituições/organizações, já que a distância do desenho usado na representação
definiria as ações presentes de cada uma delas na comunidade. Algumas citações na
categoria instituições públicas geraram discussões por causa das suas ações ou ainda por
falta de ações na opinião dos participantes. INCRA e SEAPROF, em alguns momentos,
BONAL
COMÉRCIO ESCOLA
IGREJA
PREFEITURA
CIGA
BANCO
SEAPROF
COOPERATIVA
AGROINDUSTRIA
CASA DE FARINHA
POSTO DE
SAÚDE
INCRA
58
são avaliados de forma negativa e, em outros momentos, apesar de críticas dos
moradores, são avaliados positivamente, o que demonstra a dificuldade em se
operacionalizar políticas públicas em uma iniciativa com particularidades próprias.
Conforme as discussões surgidas na elaboração do Diagrama de Venn, a escola
apareceu como a instituição pública mais atuante na comunidade. Para os participantes
da atividade, a educação foi a área que mais avançou nos últimos anos. A estrutura da
Escola Estadual Bom Destino, fundada em 1979, é um exemplo, funcionando nos três
turnos com os ensinos fundamental e médio e o Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Há
ainda a Escola Municipal Infantil Criança Feliz, com cerca de 40 alunos matriculados.
A igreja aparece como auxílio espiritual para os moradores. Com seu papel
social, ela cumpre com outra função dentro da comunidade. Além do mais, existe a
proximidade dos membros, fator relevante para desenvolver tarefas em redes.
O comércio foi desenhando próximo da comunidade pelo motivo de os
moradores negociarem costumeiramente mantimentos para efetuar o pagamento no final
do mês, ou ainda quando comercializar a produção. já que os moradores deveriam ter
essa aproximação com a agroindústria, que é a principal responsável pela manutenção
econômica do assentamento.
Mesmo com 95 % dos moradores com pelos menos um financiamento para
ampliar a produção, estes identificaram os bancos com uma distância razoável da
comunidade, apresentando justificativas como burocracias para ter acesso aos
financiamentos e também dificuldades para efetuar o pagamento. Entretanto, relatos dos
próprios moradores mostram que nem todo o dinheiro foi utilizado na plantação. Muitos
adquiriram mobílias e até automóveis.
A prefeitura de Senador Guiomard é a responsável pelos serviços básicos de
saúde, coleta de lixo, educação infantil, entre outras coisas. A distância pode ser
explicada pela dificuldade enfrentada no acesso aos serviços. Por isso, justifica-se a
localização do posto de saúde, para onde os moradores são obrigados a se deslocar até à
cidade para ter direito aos serviços de saúde.
A SEAPROF, do mesmo modo que as outras instituições, apareceu longe do
PDS, evidenciando o descrédito dos moradores em relação às instituições públicas.
A agroindústria e a cooperativa correspondem às instituições que têm maior
influência direta no cotidiano dos moradores. A cooperativa, por sua vez, tem a função
de administrar as ações dos membros.
A CIGA, a assistência técnica contratada pelo INCRA, apareceu com grande
distância da comunidade. Os moradores explicam que os técnicos fazem apenas
59
relatórios. Ainda não foi identificado nenhum papel de importância para a vida
econômica e social da comunidade. Apesar de não ser uma instituição pública, os
moradores a citaram na construção do diagrama de Venn, tendo em vista que a
assistência técnica desenvolvida poderia ser de atribuição do INCRA.
4.4 Avaliação do Capital Social
Os resultados obtidos com a realização da pesquisa apontam o nível de capital
social identificado na localidade pesquisada, a partir da análise das dimensões e dos
indicadores.
60
Quadro 2: Tipologia de Capital Social e Definição dos Critérios de Análise por Estágios
INDICADORES PDS BONAL ESTÁGIOS 1 2 3
Visão de mundo/ sentido de Fazer (criar) “Era melhor na época da empresa”. x
Mudanças no sentido de atitudes e valores Ainda tendem a olhar por passado e alguns valores não foram
incorporados.
x
Normas e regras de confianças e criação
de normas internas.
A comunidade ainda não desenvolveu articulações para criarem suas
próprias regras. Todas que existem são frutos de fora para dentro.
x
Reconhecimento de valor do grupo/ ética
partilhada.
O grupo ainda não assumiu os valores da ética partilhada. Existem
desconfiança e medo do novo.
x
Redes interligadas e ligações horizontais. A comunidade, por vários motivos, não desenvolveu habilidades para
trabalhar em redes.
x
Facilitadores externos Depende de facilitadores externos para sustentar atividades em grupo.
Evidenciada pelo grupo de trabalhos existentes no início do sistema
coletivo.
x
Fonte de tecnologia Buscam sempre uma solução de fora para dentro. x
Tempo de vida em grupo/ razão de ser Não existe amadurecimento na vida em grupo. x
Resiliência Ligação no sentido único de cima para baixo. x
Variabilidade Os membros dos grupos não são capazes de desenvolver atividades
baseadas no mesmo tempo e nas mesmas razões.
x
61
Não é correto afirmar que o “bem-estar” estaria simplesmente relacionado só
pela maximização da renda. Não obstante, o homem influenciado por suas crenças,
valores morais, que podem influenciar a maneira como ele cria suas relações na vida em
sociedade, como ele realiza suas “trocas” (econômicas ou não) com sua comunidade,
levando em consideração um maior ou menor crescimento econômico. Quais a outras
valorações possíveis então?
Dessa forma, o capital social é construído a partir do amadurecimento da
comunidade, diferentemente das outras atribuições do capital social,como o capital
físico. O capital social, por sua vez, aparece para beneficiar e acumular com o uso, de
certa maneira o assemelhando ao capital humano. Quando analisamos a comunidade
com os indicadores que são entendidos como fundamentais para surgimento e
amadurecimento do capital social, percebe-se que o estágio de maturação do grupo em
questão permanece na fase inicial, fato que pode ser justificado pela falta de articulação
de atividades redes e entrosamento com as instituições presentes, que nesse contexto
determinam uma função primordial para o desenvolvimento.
A comunidade continua voltada para a “velha ideia” de conduzir a vida fazendo
comparações com a época em que eram funcionários da empresa e tinham uma renda
mensal fixa, época em que as plantações de seringas e pupunhas estavam na sua melhor
fase de produção. Além disso, os moradores trabalhavam em outra lógica
completamente diferente da realidade em que vivem hoje. Eram apenas executores de
ações pré-estabelecidas, não necessitando tomar decisões para a resolução de problemas
funcionais relativos à produção, assim como não somavam os gastos oriundos da
produção na sua renda, apenas empregando sua mão-de-obra.
No entanto, como existe a transformação do empregado da empresa em produtor
familiar, como assentado assume toda a responsabilidade de sua produção e sustento,
implicando tomadas de decisões como contratação de mão-de-obra para realização de
alguma atividade, diversificação da produção, financiamentos junto aos bancos. Vale
lembrar que ele é o único responsável pela própria renda mensal.
Os moradores que não participaram da fase da empresa, desconhecem essa
comparação, contudo, por questões do histórico de vida em centros de cidades, são
pessoas que também estão no mesmo processo de aprendizado do modo de vida do
agricultor familiar. A transição aconteceu de forma brusca: depois da compra da
empresa pelo INCRA se iniciou o processo de escolha dos assentados, os quais, por sua
vez, foram instalados no PDS e conseqüentemente se deparam com uma forma de vida
bastante diferente da sua realidade. As regras de convívio do sistema coletivo
62
representaram, sem dúvidas, as maiores dificuldades para a adaptação na vida no
campo. Entretanto, as famílias assentadas iniciaram um processo de adaptação à nova
vida, o que significou uma fase de insatisfação para os produtores que não se adaptaram
ao novo sistema.
Destaque-se que os resultados alcançados pela pesquisa representam uma visão
do processo de aprimoramento do tema, considerando que ele transita em um campo
que envolve múltiplos conceitos, dimensões, variáveis e abordagens e que busca
analisar as infinitas possibilidades de interações e relações sociais na comunidade.
Seguindo a metodologia adotada pela pesquisa, verificou-se que os resultados apontam
que a comunidade se encontra no estágio I. Ele apresenta dificuldades na organização de
atividades coletivas; as disposições tendem a ser impostas do exterior para o interior,
não desenvolveram ainda a prática da sustentabilidade consciente, são apenas meros
reprodutores de ações preestabelecidas.
Os recursos inerentes são “sociais” na função em que são acessíveis dentro e por
meio de relações, contrárias ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano
(habilidade, educação), propiciando um fluxo de indivíduos como um papel
fundamental para a rede.
Notadamente, é possível evidenciar, com a construção do mapa da vida
associativa da comunidade, que o conjunto de problemas sociais (violência, saúde,
pobreza) tem sido atribuído empiricamente à existência (ou falta) de capital social na
comunidade, cabendo às modernas políticas públicas a criação de novas ferramentas
com o objetivo de estimular mudanças do comportamento individual, até atingir o
pensamento coletivo.
Logo, percebe-se que a construção de um processo de desenvolvimento em
sentido mais amplo não se refere apenas ao crescimento econômico, mas também está
pautado no bem-estar social, na qualidade de vida e no respeito ao meio ambiente,
resultado de três fatores: capacidade local (capital social), atuação efetiva do Estado e
um plano de desenvolvimento em longo prazo. As discussões a respeito dos problemas
relacionados à gestão coletiva do uso comum dos recursos naturais estão profundamente
ligadas ao nível de capital social da comunidade. Os assim chamados recursos naturais
são passíveis de ser utilizados por todos os membros da comunidade, sendo, portanto,
de uso comum. No entanto, é preciso observar que alguns pontos essenciais para
garantir a conservação dos recursos em longo prazo, evitando a exploração, relacionam-
se com a consciência individual de todos os membros, formando uma consciência
global.
63
Quadro 3: Dimensões, categorização e parâmetros para medir o capital social
DIMENSÕES CATEGORIAS PARÂMETROS RESULTADOS BONAL( +/-)
Apoio comunitário Participação das pessoas nas instituições Quanto maior a participação, maior a possibilidade de
existência de capital social.
Os moradores têm resistência em participação de
ações em algumas instituições. (-)
Participação por gênero Quanto mais equitativo o percentual, maior a possibilidade
de capital social.
Os homens participam mais que as mulheres. (-)
Participação por faixa etária Quanto mais equitativo o percentual, maior a possibilidade
de capital social.
As pessoas adultas tendem a participar de mais
ações, acima de 30 anos. (-)
Participação por ocupação Quanto maior a quantidade de trabalhadores de múltiplas
profissões, maior a existência de capital social.
Basicamente os moradores do PDS desempenham
as mesmas funções. (+)
Nível de organização da comunidade Quanto maior o nível de organização, maior a existência de
capital social.
Dificuldades de mobilização da comunidade (-)
Mobilização das pessoas e ou instituições
para as resoluções dos problemas
Quanto maior a mobilização de pessoas ou instituições para
a resolução dos problemas, maior a possibilidade de capital
social.
Mobilização partindo de fora para dentro da
comunidade. (-)
Programas ou instituições envolvidas na
geração do desenvolvimento local
Quanto maior o número de instituições envolvidas na
geração de desenvolvimento, maior o nível de capital social.
Foram citadas apenas 03 instituições envolvidas
diretamente na resolução do desenvolvimento. (-)
Capital Social Estrutural Infra-estrutura Quanto maior a disponibilidade de locais para encontros
públicos e privados, maior a possibilidade de capital social.
Para um assentamento de cunho rural, existe um
número aceitável. (+)
64
Participação do líder Quanto maior a participação do líder maior a possibilidade
de capital social.
Embora existam vários lideres local, não foram
citados no momento da pesquisa.( -)
Serviços Serviços, maior a existência de capital social. Faltam alguns serviços básicos ( -)
Problemas de acesso a serviços Quanto maior forem os problemas de acesso aos serviços,
menor a possibilidade de existência de capital social.
Dificuldades para receber certos serviços básicos:
saúde, segurança e educação. (-)
Ação Coletiva Prévia Interação entre a comunidade e líderes
políticos na solicitação do desenvolvimento.
Quanto maior a frequência de relações entre a comunidade e
os políticos, maior a existência de capital social.
A comunidade não identificou relações entre os
políticos na comunidade com intuito de
desenvolvimento. ( -)
Formas de decisão relacionada a projetos de
desenvolvimento.
Quanto maior a participação da comunidade nas decisões,
maior o capital social.
Apenas 20% da comunidade contribuem no
processo de decisões coletivas.( -)
Capital Social Cognitivo Apoio e solidariedade Quanto maior for o nível de relacionamento entre as
pessoas, maior ás atitudes de apoio e solidariedade, maior
capital social.
90% da comunidade apresentam comportamento
solidário.( +)
Confiança Quanto maior foro nível de confiança demonstrada entre os
atores, maior o capital social.
A comunidade afirmou que confia apenas em
20% dos membros.( -)
( Níveis) de individualismo Quanto maior for o individualismo, menor será o nível de
capital social.
85% da comunidade apresentam algum tipo de
individualismo.(-)
(Níveis) de respeito e atenção a opinião
alheia.
Quanto maior for o nível de respeito e atenção à opinião
alheia será o envolvimento interpessoal desse grupo, maior
será o capital social.
A comunidade não considera relevante a opinião
de outros membros caso a sua opinião seja
relevante.( -)
Diferença entre os membros (diversidade) Quanto mais diferentes forem os membros participantes dos
grupos, maior o capital social.
Basicamente os membros exercem funções
distintas no PDS.
Redes e organizações de
apoio mútuo
Influência dos lideres Quanto mais efetiva a participação do líder, maior o capital
social.
Não foi citada a participação de líderes na
pesquisa.( - )
65
Níveis de diferenças Quanto maior forem as diferenças, menor a existência de
capital social.
Os membros do PDS tem basicamente o mesmo
perfil. (+)
Problemas decorrentes de diferenças Quanto maior forem os problemas decorrentes de
diferenças, menor o capital social.
Existem apenas os problemas comuns para a
comunidade. (+)
Disponibilidade de serviços Quanto maior for à disponibilidade de serviços, maior a
existência de capital social.
A comunidade não tem dificuldade para prestar
serviços para 03 instituições. ( -)
Perfil Organizacional Mudanças nas estruturas e propósitos da
organização
Quanto mais flexível for a estrutura da organização, maior a
possibilidade de capital social.
A comunidade apresenta resistência às mudanças.
( -)
Tipo de ajuda organizacional Quanto maior a ajuda de instituições externas, maior a
existência de capital social.
Segundo relatos as instituições externas não
apresentam ajuda significativa para a
comunidade. ( -)
Capacidade das organizações para conviver
com os conflitos
Quanto maior a transparência e a participação das
organizações para resolver conflitos, maior será a
possibilidade de geração do capital social.
A comunidade afirma que as instituições
nãomostram transparência na resolução dos
conflitos. (+)
Capacidade e competência das organizações Quanto maior a capacidade e competência das organizações
no que se refere às atividades especializadas, maior será o
capital social.
Nem todas as instituições cumprem com o seu
papel. ( -)
Liderança organizacional Quanto mais pessoas puderem ocupar a posição de líder,
mais pessoas das organizações, maior representatividade
terá essa organização, maior capital social.
Poucas pessoas desenvolveram o espírito de
liderança para reivindicar em prol da comunidade.
( -)
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
66
A dimensão apoio comunitário é compreendido como elemento de estabilidade,
por sua presença aparece, como forma primordial na ação coletiva dos interesses
organizados, e refere-se às características gerais da comunidade e suas prováveis
relações com a capital social.
No que concerne à análise acerca da participação comunitária. Verifica-se que
englobam algumas dimensões específicas, tais como: participação por instituição, faixa
etária e gênero. Fundamentado nas considerações obtidas a respeito das várias
categorias pode-se inferir que o apoio comunitário é uma propriedade de um ambiente
propício ao acúmulo de capital social, uma vez que os entrevistados apresentam de
modo geral ações voltadas para o apoio e ainda disponibilizam sua mão-de-obra para
determinados fins nas seguintes instituições apresentadas abaixo.
73% dos entrevistados estão dispostos a dedicar sua mão-de-obra em atividades
relacionadas às igrejas, das quais são membros, cinquenta e cinco por cento respondeu
que já trabalharam e sempre que a cooperativa precisar de seu trabalho está
dispostos,noventa e um por cento afirmaram que quando acionadas estão prontos a
ajudar na atividades da escola e 9% dos entrevistados afirmam que não têm interesse em
fazer esse tipo de serviço ,lembrando que os entrevistados poderiam nessa questão
escolher várias instituições, por isso a soma excede 100%.
Gráfico 1: Mão-de-obra da voluntária da comunidade em
instituições/organizações, em 2012
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Igreja Cooperativa Escola Nenhuma Importância
73%
55%
91%
9%
67
Destacaram03 grupos/instituições como o mais importante para o
desenvolvimento da comunidade: igreja, escola e cooperativa. Quando perguntado
qual a importância de fazer parte dos grupos/instituições os moradores responderam que
cada uma representava um segmento do cotidiano, como por exemplo, a agroindústria e
a cooperativa, que são responsáveis pela condução das atividades produtivas; a escola
por sua vez representa um papel múltiplo na opinião dos entrevistados, difusão do
conhecimento, capacitação para o mercado de trabalho e ocupação para livrar os filhos
do ócio.
O ato da participação da comunidade com a mão-de-obra voluntária é de externa
importância não só para o acúmulo de capital, mas para a dinâmica da vida em
comunidade, tendo em vida que nem sempre é possível solicitar o serviço contratado
mediante pagamento, considerando a renda mensal dos assentados. No entanto existe
um grande problema quando os membros em sua concepção se fecham apenas para
algumas instituições e bloqueiam a possibilidade de existência do capital social.
O reconhecimento da importância do trabalho em rede abre espaço para as
resoluções de problemas que normalmente são típicos dos assentamentos, além de o
capital social ser considerado elemento da teoria social que age como peça essencial
para o desenvolvimento humano das comunidades.
Os moradores responderam que participam sempre que comunicados de outras
atividades, como: reuniões, palestras de todas as 11 instituições presentes no PDS,
mantendo o mesmo nível de participação dos anos anteriores. No entanto, ficou evidente
que os moradores não exercem confiança em algumas instituições, por esse motivo
apresentam resistência em participar das ações.
Os homens participam mais das atividades em redes: 65% asseguram que estão
disponíveis para realização de tarefas em prol da comunidade; as mulheres, por sua vez,
em maioria são dona de casa, mães e ainda trabalham na produção, de tal modo que sua
presença torna-se menor na cooperação comunitária.
A faixa etária dos participantes é adulta, correspondendo aos maiores de 30 a 65
anos de idade. Quanto à participação por ocupação é basicamente representada por
trabalhadores que exercem a mesma profissão, já que os assentados do PDS
desenvolvem os mesmos trabalhos.
A Dimensão capital social estrutural compreende o compartilhamento de
informações que facilitam as ações coletivas e os processos de tomada de decisão
regidos por normas estabelecidas, redes sociais e outras estruturas suplantadas por leis,
68
associando ás diversas formas de organização social e de instituições locais, formais e
informais, que atuam como instrumento para o desenvolvimento comunitário. Essa
dimensão é de suma importância, as redes de relações sociais que favorecem a
cooperação, ou mais especificamente, o comportamento cooperativo, precisam criar
mecanismos para fortalecer as ações realizadas na comunidade.
Verifica-se que a comunidade apresenta dificuldade para a organização da
comunidade, não obstante a participação das ações da ações das instituições locais,
afirma que não existe de fato uma parceria entre a comunidade e as instituições, uma
vez que as ações realizadas não são avaliadas como eficaz para o planejamento.
Quanto à categoria infraestrutura, os moradores acreditam que estão cercados
com por uma infraestrutura aceitável para uma comunidade rural. Contudo, a
ineficiência de alguns serviços na localidade está contribuindo para o descrédito dos
moradores nas referidas instituições. Desta forma, fica fácil compreender o porquê da
comunidade inferir algumas instituições com uma grande distância. Assim, os serviços
básicos: saúde, segurança e educação (cursos profissionalizantes) ficam comprometidos,
na maioria das vezes. O assentado afirma que se desloca para receber certos nas cidades
mais próximas. A ausência de determinados serviços públicos que são suprimidos da
comunidade diminuem a existência da possibilidade do capital social.
Quanto à participação do líder, parâmetro necessário para desenvolver a
possibilidade de capital social, não foi relatado durante a pesquisa à existência de
nenhum líder, embora se tenha percebido em alguns momentos alguns membros da
comunidade assumam esse papel.
A Dimensão Redes e organizações de Apoio Mútuo pode ser definida, como
sistemas complexos formados por conexões que representam sujeitos sociais, tais como:
indivíduos, grupos e organizações, que se encontram interligados por algum tipo de
relação. Esta dimensão busca verificar como os membros agiriam em certas situações,
como por exemplo, fracasso de colheita, violência, falta de coleta de lixo, ausência de
assistência médica, que exija a resolução do problema em ação coletiva, ou seja, busca
entender as expectativas de ações coletivas e solidariedade futura.
A comunidade demonstra características negativas que inviabilizam a
mobilização e participação da mesma de forma efetiva, que pode ser explicado pelo
espírito de individualismo resultado da época de inicial da formação do PDS, onde
funcionava o sistema coletivo, a não adaptação ao sistema derivou um grau de
69
insatisfação dos assentados, que na sua maioria buscavam conviver num assentamento
convencional, onde cada um deles possuísse de fato a demarcação de seus lotes.
Vários motivos eram determinantes para que a comunidade optasse pela divisão
do lote. O trabalho dos assentados na produção era feita mediante grupos de trabalhos
subdivididos em equipes que desempenhava funções distintas: corte de seringa, corte de
pupunha, limpeza das áreas e industrialização. Apesar disso, o salário pago para os
trabalhadores eram equivalentes, independente da função. Os trabalhadores
argumentavam que as funções desenvolvidas envolviam quantidade de trabalho
diferenciado e alguns tinham a delegação de trabalhar mais pesado do que outros.
A influência de um líder evidencia que a comunidade desenvolveu os pré-
requisitos necessários para conviver num ambiente em redes e apoio mútuo, a não
existência da organização estruturada por membros e líderes impede a existência do
capital social e ainda cai na falta de ações para gerenciar os problemas existentes na
comunidade.
O perfil dos trabalhadores assentados segundo a estrutura do assentamento
deveria basicamente o mesmo, já que os moradores teriam que desenvolver as mesmas
atividades produtivas, já que na divisão do lotes teve-se o cuidado de revezar espaço
suficiente para os produtores desenvolver pelo mesmo as duas atividades centrais do
assentamento; alguns moradores cedem uma atividade produtiva para outro morador
fazer o trabalho por ele, e dividem a produção.
Esse simples gesto que poderiam ser visto como cooperativismo repercute na
dinâmica econômica familiar, uma vez que indicadores econômicos apontam que as
unidades familiares têm uma linha de dependência do mercado superior a sua renda
bruta, e o autoconsumo dessas famílias não tem grande impacto na alimentação básica,
pois, não são produtores de lavoura branca, hortaliças, frutas e verduras. Por
consequência os bens de consumos comprados no mercado correspondem a R$ 959,43 a
margem bruta familiar é negativa R$ -5,30. A elucidação para o sustento total familiar
só é plausível por causa das transferências de renda (bolsa família), trabalho assalariado
e aposentadoria dos membros das famílias. Veja na figura a seguir:
70
Figura 9: Indicadores Econômicos por Unidade de Produção Familiar do PDS
Bonal, 2012.
Indicadores Econômicos Unidade Valor
RB - Renda Bruta R$/mês 413,21
RBT- Renda Bruta Total R$/mês 887,55
LDM - Linha de Dependência do Mercado R$/mês 959,43
AC – Autoconsumo R$/mês 104,38
Obs.: Resultados medianos por UPF
Fonte: Resultados da Pesquisa (2012)
Os valores evidenciados na tabela acima representam a fragilidade econômica
dos moradores; eles ainda não compreenderam que a reprodução familiar necessita de
mecanismo intrínseco, é que a agricultura de subsistência é fundamental para a
produção familiar, além das outras atividades inseparáveis para o PDS, que corresponde
ao manejo sustentável da pupunha, a industrialização do palmito (agregação de valor ao
produto) e ainda o extrativismo.
Efetivamente a pupunha não representa a principal atividade geradora dos
assentados, ela aparece apenas na quarta posição, mesmo com a agroindústria presente
no assentamento. No entanto, a presença da fábrica tem grande contribuição na vida dos
assentados, pois enquanto funcionou sempre inseriu a comunidade em atividades
produtivas com renumeração salarial.
A borracha configura-se como atividade principal representando 64, 50% na
renda bruta do PDS, somando com a castanha e a criação de porcos corresponde a 80%
da renda bruta familiar. Seguido pela produção de frutas banana comprida, açaí, banana
curta e etc.
O autoconsumo baixo pode ser explicado por questões de organização,
dificuldades de produzir sem qualificação necessária, por condições naturais
características do assentamento. A figura abaixo representa o autoconsumo familiar por
unidade.
71
Figura 10: Renda mensal por Unidade de Produção Familiar do PDS Bonal, 2012.
Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.
.
A dimensão Ação Coletiva Prévia corresponde às seguintes características: grau
de ação coletiva, tipo de atividades realizadas coletivamente e iniciativas para cooperar
e participar de ações coletivas, objetivando que o coletivismo associado a práticas
cooperativas é de suma relevância para que a comunidade conquiste índices melhores de
desenvolvimento. Na medida em que a comunidade tem entrosamento para desenvolver
ações em conjuntos, possui um poder maior.
As categorias avaliadas nessa dimensão são entendidas como: interação entre a
comunidade e líderes políticos na solicitação de ações de desenvolvimento e formas de
decisão relacionada com os projetos de desenvolvimento locais.
Para tanto, o PDS Bonal apresenta-se como um percentual nulo, não teve
resultados satisfatórios para nenhuma das categorias analisadas. Como justificativa para
este resultado, verificou-se que a comunidade não apresenta iniciativa para desenvolver
atividades em grupo, exceto quando surge a necessidade de alguns assentados
trabalharem em parceria, isso acontece quando um trabalhador assume a
responsabilidade de desenvolver as atividades relacionadas à produção no lote de outro
assentado, dividindo a produção ao meio com o dono. Verificou-se que as agrovilas que
mais participam de atividades coletivas são Retiro e Pista. No entanto, apenas 20% da
comunidade têm disposição para cooperar em uma atividade de cunho coletivo.
Quanto à participação de políticos e gestores para a tomada de decisões e
mobilização de ações com o intuito de garantir o desenvolvimento local, os moradores
relataram que é raro; normalmente quando acontece reunião dessa natureza é apenas
2,17%
1,18%
1,37%
1,57%
3,46%
4,40%
5,02%
5,34%
10,99% 64,50%
Outros
CRIAÇÃO DE AVES/Ovos
PUPUNHA FRUTO
BANANA CURTA
AÇAÍ
BANANA COMPRIDA
PUPUNHA PALMITO
CRIAÇÃO DE PORCOS
CASTANHA
BORRACHA
72
para a comunicação de regras já estabelecidas de convívio coletivo. Os habitantes
consideram que a opinião individual e coletiva não é respeitada, além da falta de
engajamento, o que reduz consideravelmente a existência de capital social.·.
A dimensão Capital Social Cognitivo é compreendida por processos mentais
reforçados pela cultura e ideologia de um grupo, especificamente definidos por normas
sociais, valores, atitudes e crenças, que por sua vez se encaminham para o
comportamento coletivo.
Verifica-se que as categorias “apoio” e “solidariedade” obtiveram um maior
índice de positividade ao capital social, pois 90% dos entrevistados relataram que à
medida que acionados a desenvolver uma atividade relacionada à solidariedade e apoio
a algum membro da comunidade que necessite de ajuda, estão dispostos a ajudarem.
A comunidade não tem confiança na própria comunidade, pois apenas 20 % dos
entrevistados asseguram que não teriam dificuldades em realizar uma transação
comercial ou de outra natureza com os membros, relatando ainda que fossem poucas as
pessoas que venderiam para pagar posteriormente, permutaria mercadorias e mesmo
emprestariam dinheiro.
O nível de individualismo corresponde a 85 %, uma porcentagem alta quando se
relaciona características de uma comunidade que primeiramente foi formado o sistema
coletivo para o gerenciando dos recursos naturais. Sem dúvidas, a falta de espírito
coletivo é um dos grandes vilões dos problemas existentes na comunidade. A
mobilização em redes é o caminho de sucesso para uma comunidade que apresenta
possibilidade de capital social.
O Perfil Organizacional refere-se à vitalidade de redes comunitárias e da
sociedade civil, que deriva num ambiente institucional, legal e político. Com o intuito
de acessar as características internas das organizações locais e específicas e delinear o
relacionamento e as redes com que elas têm outras ligações.
Como citado acima no quadro 02, o líder não foi mencionado durante a
realização da pesquisa, esse fato não pode ser considerado com uma variável isolado.
Nessa dimensão a participação efetiva de lideranças outorgaria uma organização
estrutural do ambiente comunitário, que consequentemente induziria mudanças
significativas para a comunidade, além de garantir capacidade de gestão para os outros
membros.
Deste modo, toda estrutura organizacional permanece comprometida, os
moradores não acreditam na transparência das instituições nem nas formas dos
73
procedimentos de resoluções dos conflitos. No entanto, garantem que a maioria das
organizações presentes no PDS não cumprem com o seu papel dificultando assim a
existência de capital social.
Com a soma dos resultados analisados, a comunidade apresentou mais resultados
de ineficiência de capital social, pois 20 itens demonstraram que a comunidade precisa
de uma reestruturação das bases econômicas, assim com a organização social. Que pode
ser mobilizado por energias da sociedade, explorando suas potencialidades, além de sua
articulação e integração com o setor público, que será fundamental para o
desenvolvimento local.
Também é possível identificar a situação de pobreza gráfico 2 que mostra a
situação atual das famílias do PDS Bonal que estão em um cenário de indigência e
miséria, tomando como referência o salário mínimo que no período da pesquisa (2012)
estava em R$ 622,00.
Destaca-se, ainda o nível de vida das famílias do PDS Bonal por estrato, nível de
vida (NV) é o valor total apropriado pelo produtor familiar. Contudo, esse indicador é o
mais adequado para mensurar a condição das famílias rurais relacionando com salário
mínimo.
Gráfico 2: Linha de Pobreza e Miséria, com base no salário mínimo (SM) oficial,
entre as famílias do PDS Bonal, Senador Guiomard – Acre - por estrato no período
de 2011/2012. (Valores em R$)
0,00 50,00
100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 400,00 450,00 500,00 550,00 600,00 650,00 700,00
Nivel de Vida C1
D E
Salário Mínimo (R$ 622,00) Linha de Pobreza (R$ 311,00)
Linha de Miséria (R$ 155,50)
Linha de Pobreza
Linha de Miséria
74
Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.
C1= 1/2 SM/mês < NV < 1 SM/mês;
D= 1/2 SM/mês < NV < 1/4 SM/mês;
E= NV < 1/4 SM/mês
O gráfico 2 representa uma disparidade entre as famílias, umas com renda e
outras sem renda, o C1 quantifica os ganhos da famílias que representa valores maiores
que ½ salário mínimo (R$ 311,00), o que corresponde há 30% da população, contudo
15% das famílias são representados pela letra D, que possuem o nível de vida maior que
¼ do salário mínimo com o valor em menor que R$ 311,00. Dessa forma é possível
observar que as famílias pobres sobrevivem com apenas com as transferências de renda,
nesse caso em especial verifica-se que é o Bolsa Família (Programa do Governo Federal
de transferência de renda direta que beneficia famílias em situação de pobreza externa).
Enquanto o indicador representado pela letra E, corresponde à quantidade de
famílias que estão abaixo da linha da pobreza, essas famílias possuem uma renda em
torno de R$ 155,50. Esta população está caracterizada em uma situação de
vulnerabilidade, pois, a renda auferida é insuficiente para atender as necessidades
básicas das famílias, tomando com parâmetro o salário mínimo que corresponde a R$
622,00(valor do ano de 2011) verifica que essa parcela da população está vivendo com
apenas 24,11% do valor mínimo previsto para a sobrevivência básica de uma família de
04 pessoas.
Desta forma 55% das famílias assentadas no PDS Bonal estão na linha da
miséria. Nesse sentido fica evidente que somente a transferência de renda não é a
solução para acabar com a fome, a transferência de renda Bolsa Família ameniza a
situação, entretanto a produção de alimentos na zona rural tem o principal papel para
eliminar a pobreza e a miséria rural.
O gráfico 3 apresenta indicadores econômicos das famílias assentadas no PDS
Bonal, com relação ao assalariamento com a Margem Bruta Familiar (MBF),
transferências governamentais, neste caso o autoconsumo e o bolsa família,
respectivamente. Na linha horizontal verifica o volume de bens comprado no mercado
pelo (VBCC) e também os gastos das famílias somente com alimentos
(VBCC/Alimentos).
75
Gráfico 3 - Linha de Pobreza e Miséria, com base no valor dos bens de consumo
comprados no mercado (VBCC), entre as famílias do PDS Bonal, Senador
Guiomard – Acre - por estrato no período de 2011/2012. (Valores em R$)
Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.
No gráfico 3 verifica-se que a margem bruta familiar não aparece com
frequência, evidenciando a razão pela qual as famílias não produzir excedentes
monetários para a aquisição de bens no mercado, teoricamente essas famílias estão
isentas ao acesso de vestuários, insumos e atividade recreativas e etc. Situação que pode
ser explicada pelo fato das famílias não possui uma produção eficiente por esse motivo
estão totalmente dependente do mercado, com isso, a renda bruta familiar é abatida
pelos custos total da produção, consequentemente em dados momentos não provê os
gastos gerando uma renda familiar negativa. A pesquisa ainda identificou que 80% das
famílias trabalham fora da unidade de produção, descaracterizando o agricultor familiar,
que tem a terra o meio de tirar seu sustento.
O perfil das famílias assentadas no PDS Bonal enquadra-se nos níveis elevados
índices de trabalho familiar com capitalização e índices de assalariamento
desfavoráveis, descaracterizando a produção familiar. De acordo com o gráfico 4,
apenas 5% das Unidade de Produção Familiar (UPFs) são caracterizadas como efetiva
produção familiar rural. Não obstante, o trabalho realizado pelos próprios produtores é
fortemente comprimido pelo índice elevado de assalariamento proporcionado pela
-200 -100
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800
Assalariamento Autoconsumo
MBF Bolsa Família
VBCC R$ 751,84 VBCC/Alimento R$ 401,36
76
evasão da mão-de-obra interna que busca renda fora da unidade produtiva,
caracterizando 30% das UPFs do PDS Bonal como produtores semi-assalariados.
O gráfico 4 apresenta ainda outro fator que descaracteriza o procedimento de
produção familiar é o índice alto de capitalização (IK) que indica uma produção
intensiva em capital, isso que dizer que os produtores consomem mais com capital fixo
e circulante do que com mão-de-obra, e, até mesmo os gastos com capital são realizados
com renda oriunda do trabalho externo, resultado dos elevados índices de
assalariamento (IA). Além disso, a forma de produção semi-assalariada torna-se mais
intensiva em capital, representando 55% da unidade produtiva.
Fonte: Resultados da Pesquisa, 2013.
4.5 Capital Social do PDS Bonal: Qual o Nível de Maturidade?
A proposta do desenvolvimento local sustentável evidenciada pelo formato de
assentamento PDS pode ser entendido por meio de investimentos e aproveitamentos das
potencialidades e a diversidade de cada localidade, onde os atores sociais exercem um
papel fundamental para a promoção do desenvolvimento local. Em função disso, o
capital social representa uma variável significativa para que os indivíduos cooperem
num processo de construção do desenvolvimento.
A realização da pesquisa permitiu a identificação das influências do capital
social e os estágios de maturidade, no entanto a comunidade apresentou requisitos que
validam o estágio como iniciante, já que os parâmetros utilizados para a medição
apresentam a fragilidade de ações em redes.
A hipótese levantada foi aceita, evidenciando que o desenvolvimento local
necessita do amadurecimento da comunidade. A implantação por decreto, do modo
5%
30%
55%
10% Pequeno produtor familiar
Produtor semi-assalariado
Semi-assalariado intensivo
em capital
Outras categorias
Gráfico 4. Perfil dos produtores do PDS Bonal, período 2012
77
estabelecido no PDS, não foi o suficiente; os fatores internos como individualismo,
confiança, solidariedade e consciência ambiental aparecem como empecilho para a
existência do capital social.
Os argumentos levantados por modelos convencionais sobre o uso dos recursos
comum de mostram que os indivíduos que se deparam com a necessidade de gerenciar
recursos dessa maneira, estão expostos a uma visão comum, e os casos de sucesso do
gerenciamento acontece de maneira inversa à tragédia dos comuns, teoria apresentada
no referencial teórico.
A cooperação entre os indivíduos no sistema coletivo não apresentou resultados
satisfatórios, tendo em vista que a forma de sistema implantada no PDS, não foi o
suficiente para que os moradores, mesmo que ao longo do tempo, desenvolvem a
capacidade de se articularem em redes.
Na verdade é possível identificar uma série de motivos que apontam que a
comunidade não estava preparada para o modo de vida da forma coletiva, até hoje a
estrutura organizacional do assentamento onde as agrovilas foram estruturadas longe
dos lotes(de tal forma que é preciso o morador se deslocar até o lote todos os dias para
trabalhar na sua produção) é motivo para críticas e insatisfações dos assentados.
Além disso, as primeiras regras de convívio, que tinham que ser respeitadas
pelos moradores, vão de encontro com a lógica da agricultura familiar. A proibição da
criação de animais domésticos, como por exemplo, galinhas somavam como pontos
negativos para a adaptação das famílias ao assentamento e influenciava ainda mais a
dependência do mercado.
Vale lembrar que os moradores ainda estavam em processo de adaptação ao
novo sistema (coletivo), a transição de morador de uma empresa para um morador de
um projeto de assentamento coletivo levando em consideração que a maioria dessas
pessoas deriva de centros urbanos e não tinha conhecimento das articulações e redes e
tampouco na gestão do uso comum dos recursos naturais.
E assim articulavam entre cada um morador o desejo de marcar seu “território”,
delimitando sua propriedade com uma cerca ou murro. Uma vez que esse desejo pode
ser explicado pelo perfil dos assentados, que em sua maioria vieram de periferias da
capital ou de outras cidades do interior do Estado.
Contudo, essa é uma discussão que está na fase inicial na comunidade, sendo
levantadas aqui questões para a reflexão, não compete dizer que a comunidade
78
encontra-se longe de atingir o nível máximo dos estágios; compete apenas dizer que se
guiado pelo caminho da cooperação e trabalho em redes, o PDS Bonal dará oprimeiro
passo em direção ao desenvolvimento do capital social, faltando ainda ampliara
conscientização das atividades em rede, pelo menos no que diz respeito à comunidade,
não obstante, a atuação mais efetiva do Estado e o planejamento, visando o futuro
melhor para todos com a garantia da preservação dos recursos naturais e diminuição da
pobreza.
79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A agricultura familiar sempre esteve relegada ao segundo plano nos projetos de
desenvolvimento brasileiro, no entanto, a partir da década de 1990, as pesquisas sobre o
tema aumentaram, contribuindo para o debate sobre as problemáticas, consensualmente
as pesquisas concordam entre si, no que tange a importância da produção de alimentos
básicos e à preservação dos recursos naturais.
O fortalecimento desse setor pode amortecer as desigualdades sociais, diminui
violência nos centros urbanos, resultado da saída da população rural para as cidades por
falta de condições de sobrevivência.
Pensando na importância da valorização dos recursos naturais presentes nos
assentamentos e na forma como os agricultores familiares conduzem suas produções e
as formas apresentadas como modelo de desenvolvimento sustentável como efeito da
organização desses produtores em redes com intuito de garantir resultados mais
eficientes em sua produção e melhorar a vida no campo.
O capital social, por sua vez, representa as normas de relacionamentos e valores
e os relacionamentos partilhados com membros e instituições que garantem a
cooperação dentro dos grupos sociais. Assim, se faz necessário a interação entre, pelo
menos dois membros, enfocando a estrutura de redes por trás do conceito, que passa a
ser definido como um recurso da comunidade construído pelas suas redes de relações.
A implicação da construção de redes sociais e a coerente aquisição de capital
social estão condicionadas por fatores sociais, políticos e culturais. Entender a
construção pode levar à sua utilização dos recursos em favor do desenvolvimento.
Vale lembrar que as comunidades que não desenvolveram o amadurecimento do
capital social estão sujeitas a máxima afirmada por Hardin que afirma que as
comunidades que utilizam a propriedade comum dos recursos naturais são conduzidas
extinção dos recursos, transformando o ambiente comum insustentável, já que o
resultado da destruição não afetaria só o equilíbrio dos ecossistemas, mas também a
economia.
As variações na configuração dos direitos de propriedade comum são
comprovados pela formação cultura de cada membro, observando que as regras
impostas de cima pra baixo não alteram a consciência ambiental nem o modo de vida
comunitário; os usurários que não têm bem definido as condições necessárias para
80
cooperar com o manejo competente dos recursos naturais,acabam tomando decisões
irracionais que visam apenas os benefícios à curto prazo, consequentemente a escolha
individual leva à destruição total dos recursos.
Atribuindo a ideia de gestão coletiva de bens comuns, configura-se na
responsabilidade social que deve ser compartilhada com todos os atores sociais, e a
reprodução social busca a parcimônia do uso racional dos recursos. A reprodução
familiar nasce da mudança dos paradigmas de modernização da agricultura familiar,
como principal argumento para a geração de renda e desenvolvimento comunitário,
buscando uma nova estrutura no meio rural. Contudo o ajustamento da cada
comunidade reflete a realidade e o grau de amadurecimento em que se encontram as
famílias rurais.
Mesmo com todos os problemas comuns dos assentamentos, ainda é uma forma
de distribuição de terras é um modo eficaz contra a pobreza. Consolidando a justiça e a
efetividade da reforma agrária, mas o sustentáculo é a questão da sobrevivência
econômica nas unidades de produção familiar rural, que pode ser combinado com a
geração sustentável de renda, que necessita de acesso, mercado, créditos, educação,
informação e tecnologia.
Os moradores fortalecidos em entidades, tornam-se mais fortes para enfrentar os
problemas, com os custos financeiros e organizacionais estabelecidos pelo contexto
econômico do mundo globalizado, além de garantir a mobilização política para adquirir
outros benefícios. Mesmo defendendo a potencialidade do capital social para o
desenvolvimento das comunidades de agricultura familiar, é necessário entender que o
conceito capital social não pode ser apresentado com a salvação de todos os problemas.
Inegavelmente, existe a possibilidade do conceito como potencializador do
desenvolvimento, não esquecendo que ainda existe um grande vazio que precisa ser
preenchidos por políticas públicas.
Além disso, a renda do morador assentando ainda sofre com as decorrências
financeiras ocasionadas por uma série de fatores, que poderiam ser amenizados como
trabalhado em conjunto, ou seja, hoje no PDS os produtores granjeiam ao mês a renda
bruta de R$413, 21 decorrente de todo o trabalho do seu lote. Esse produtor, por sua
vez, não desenvolveu uma produção de autoconsumo, em médiaR$104,00, que
corresponde aos produtos que são produzidos no lote e consumidos pela família,
incluído frutas, verduras, lavoura branca, café etc.
81
Evidenciando a fragilidade dessas pessoas com relacionamento rural, uma vez
que a dependência do mercado chega a R$959,43comprovandoa imaturidade da gestão
coletiva e ineficiência da produção. Vale ressaltar a existência de transferência de renda
das políticas públicas, o bolsa família, aposentadoria e ainda trabalho assalariado.
Os indicadores econômicos exercem um papel fundamental nesse contexto, é
relação direta entre os assentados e o assentamento. A vida econômica pode garantir a
permanência no local, ou simplesmente afora o desejo de mudança para outra
localidade, retrato bem comum nos assentamentos brasileiros, onde os produtores não
fixam no local assentado por inúmeros motivos, que podem ser explicados em linhas
gerais pela renda familiar ou pela falta de habilidade com a terra.
A pesquisa, por sua vez, permitiu a identificação das influências do capital social
na execução de ações e políticas voltadas para a promoção do desenvolvimento local
sustentável. A experiência bem sucedida na implantação de projetos e ações do
desenvolvimento local se configura na existência de agrupamentos humanos que o
capital social é capaz de promover com o dinamismo econômico e a melhoria da
qualidade de vida para a população.
No caso do PDS Bonal, percebe-se que a comunidade necessita de uma
reestruturação das bases econômicas, assim como na organização social. Isto só é
alcançado por meio de mobilização das energias da comunidade, explorando suas
potencialidades e capacidades, além da sua interação e articulação com o setor público,
que como expressão da vontade dos atores sociais pode aumentar sua importância no
desenvolvimento.
Logo, pode-se dizer que quanto menor o capital social e a cultura da
comunidade, menor será o desenvolvimento da região: A recíproca é igualmente
verdadeira: quando ocorre o inverso maior de capital social, maior é o desenvolvimento
local.
Fica comprovado o explicitado no referencial teórico do trabalhado, no qual os
autores referenciados apontam que a superação da pobreza e as desigualdades, só serão
alcançadas mediante a maior consolidação da democracia mais efetiva e articulada entre
Estado, mercado e sociedade. Os autores sociais são responsáveis pela construção
conjunta da participação individual.
Vale ressaltar que os resultados alcançados com a pesquisa representam uma
visão na qual continua em processo de discussão dos procedimentos metodológicos
82
utilizados para avaliar o capital social, assim como a fidedignidade dos resultados
obtidos.
Considerando-se que a questão capital social redunda em um amplo campo de
pesquisa, o qual envolve múltiplos tipos de conceitos, variáveis, modelos e abordagens,
em que se avaliam infinitas possibilidades de interações e relações sociais, responsáveis
pela criação e consolidação do capital social.
83
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90
ANEXOS
Questionário de pesquisa
1. Levando em consideração o ano passado os membros do seu domicilio
participam mais ou menos dos grupos ou organização comparando com esse
ano.
2. De todos os grupos que os membros do seu domicilio fazem partem quais são os
dois mais importantes para vocês?
3. Quantas vezes nos últimos 12 meses alguém de sua família participou de uma
reunião ou tarefa em grupo dessa organização.
4. Qual a importância de fazer parte desse grupo?
5. Nos últimos 12 meses, você trabalhou com os outros membros para fazer algum
serviço para beneficiar a comunidade?
6. Falando em modo geral, você diria que pode confiar na maioria das pessoas, ou
que nunca é demais ter cuidado ao lidar com pessoas?
7. Em modo geral você acha que as pessoas de sua comunidade ajudam as outras
em momento de necessidade?
8. Como você analisa a comunicação entre os membros da comunidade, é feita
com facilidade entre todos os membros? Ou existe dificuldade com alguns?
9. Em nível geral existem conflitos ou violência na comunidade?
10. Como você considera o acesso aos serviços, tais como: educação, saúde e
justiça.
11. Você ao desenvolver sua atividade (trabalho) existe uma preocupação ambiental
ou você prioriza apenas desenvolver sua atividade?
12. Quanto você confia:
A) Na comunidade_____________
B) No governo estadual_________________
C) No governo Federal_______________
91
A pesquisa utilizou ainda o questionário socioeconômico do Programa ASPF
(Análise Socioeconômica de produção Familiar Rural do Estado do Acre) para a
obtenção dos resultados do estágio de capital social, no entanto por sua extensão,
não foi possível inserir nos anexos, mas o mesmo pode ser encontrado no seguinte
endereço eletrônico:
http://aspf.files.wordpress.com/2011/04/questionario_aspf.pdf
O projeto ao longo dos anos construiu vários indicadores para a avaliação
econômica da produção familiar rural no Estado do Acre, que vão desde os tradicionais
até os que somente se aplicam à produção familiar rural. Nesse sentido, a análise
econômica e a comparação do desempenho econômico de sistemas de produção
agrícola, extrativista e agroflorestais diferenciados exigem o emprego das categorias
sistema, ecossistema, sistema de produção, processo técnico-material de produção,
unidade de produção, patrimônio bruto e patrimônio líquido, custos de produção,
medidas de resultado econômico (resultado bruto, resultados líquidos e índices de
eficiência).