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Nesta edição: DESTAQUE Pouca gente no pla- neta observa a geo- política mundial com a lucidez de Boaven- tura de Sousa Santos. Profundo conhecedor da realidade do Brasil, ao analisar o complexo cenário político e econô- mico global, o professor considera incompatível a coexistência entre a de- mocracia e as modernas sociedades capitalistas. Agora, a simples compo- sição do governo mos- tra como a democracia está mais capitalista, colonialista e patriarcal. E o que tem o fascismo social a ver com isso? Leia a matéria completa nas páginas 8 e 9. REFORMAS,DEMOCRACIA E OS TRABALHADORES ENTREVISTA Gaudêncio Frigotto e a luta em defesa da Educação Pública ANO 1 I Nº 1 I FEVEREIRO DE 2017 PERFIL Dom José Gomes: uma família que transpassa os muros da escola Bianca Damacena Paulo C. Carbonari OPINIÃO Tiago Machado

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Nesta edição:

DESTAQUEPouca gente no pla-neta observa a geo-política mundial com a lucidez de Boaven-tura de Sousa Santos. Profundo conhecedor da realidade do Brasil, ao analisar o complexo cenário político e econô-mico global, o professor considera incompatível a coexistência entre a de-mocracia e as modernas sociedades capitalistas. Agora, a simples compo-sição do governo mos-tra como a democracia está mais capitalista, colonialista e patriarcal. E o que tem o fascismo social a ver com isso?Leia a matéria completa nas páginas 8 e 9.

REFORMAS,DEMOCRACIA E OS TRABALHADORES

ENTREVISTA Gaudêncio Frigotto e a luta em defesa da Educação Pública

ANO 1 I Nº 1 I FEVEREIRO DE 2017

PERFIL Dom José Gomes: uma família que transpassa os muros da escola

Bianca Damacena

Paulo C. Carbonari

OPINIÃO

Tiago Machado

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EDITORIAL

[email protected] Responsável: Ingra Costa e Silva

MTB/RS 17087Editores Executivos: Eduardo Albuquerque e

Tiago MachadoRedação: Ingra Costa e Silva, Eduardo Albuquerque e

Tiago MachadoColunistas: Bianca Damacena, Paulo C. Carbonari

Diagramação: Ingra Costa e SilvaRevisão: Débora Facin

Charges: Leandro Malósi DóroImpressão: Gráfica Danielli

Tiragem desta edição: 2 mil exemplares Periodicidade: semestral

A primeira edição do Jornal Educação & Debate se dá em um momento social e político conturbado do nosso país. Mudanças na disputa pelo poder poder, acompanhadas de medidas provisórias, projetos de lei e propostas de emen-das constitucionais, têm afetado significativamente a vida do cidadão Brasileiro, desta e das gerações seguintes. Na educação não tem sido diferente, já que muitas dessas re-formas afetam diretamente esse setor, bem como todos aqueles que, de alguma forma, estão envolvidos com o dia a dia de uma escola e suas políticas públicas para essa área. As questões que envolvem a educação, como o projeto de lei escola sem partido e a reforma do ensino médio, são propos-tas que ultrapassam as fronteiras meramente pedagógicas e escodem na verdade intenções econômicas tácitas, patroci-nadas pelos grandes capitais nacionais e internacionais, que visam a nova proposta para o papel do Brasil no intrincado jogo geopolítico internacional. Tentar entender essas refor-mas tão somente pela ótica restrita ao campo educacional é perceber a questão em apenas uma dimensão, deixando de lado toda uma complexa disputa econômica e de poder que se desenrola não só no Brasil, mas em todo o continente. Educação & Debate tratará das questões do magistério e de tudo aquilo que envolve a educação, desde as questões diárias das escolas até as políticas nacionais que refletem no dia a dia dos educadores. Nosso jornal desvencilha-se da ideia de um informativo de consumo interno para abordar questões mais amplas e de real importância para aquele professor que refle-te sobre seu contexto e assim expande sua área de compreen-são em relação aos desafios propostos no seu fazer pedagógi-co. Nesta edição histórica, traremos a opinião de pensadores de renome internacional, como Boaventura de Souza Santos, além de textos de figuras, como Gaudêncio Frigotto, Maria do Rosário, Paulo Carbonari, além de professores que estão na linha de frente das lutas nas redes estaduais e municipais. Educação & Debate nasce com o objetivo de levar ao seu leitor a informação qualificada, além de fomentar o deba-te sobre todas as questões que circundam o cenário políti-co, social e educacional do nosso pais. Desejamos a todos uma ótima leitura e que continuemos no debate perma-nente sobre as questões que nos dizem respeito, sem-pre com clareza, discernimento e respeito à democracia.

Boa Leitura!

PERFILEMEF Dom José Gomes

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SAÚDEEsgotamento profissional pode ser sinal de alertaESPECIALA democracia que temos não tem futuro -Entrevista com Boaventura de S. SantosENTREVISTAGaudêncio Frigotto e a luta pela Educação Pública

OPINIÃO EM DEBATEMaria do Rosário: mãe, professora e defensora dos direitos humanos

FALA PROFESSOR!Bianca Damacena e Paulo C. Carbonari

ESPAÇO JURÍDICOHora-Atividade: um direito que a legislação garante aos professores

VANTAGEM DO ASSOCIADOConfira os estabelecimentos convenia-dos ao CMP Sindicato

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ÍNDICE

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(54) 3315-6149

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02 JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017

Enquanto isso na vida das professoras...

PRODUÇÃO:

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JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017 03

EDUCAÇÃO EM DEBATE

Piso Nacional dos professores tem reajuste de 7,64%O piso salarial dos professo-res em 2017 terá um reajuste de 7,64%. Com isso, o menor salário a ser pago a profes-sores da educação básica da rede pública deve passar dos atuais R$ 2.135,64 para R$ 2.298,80. O anúncio foi feito no dia 12 de janeiro de 2017 pelo Ministério da Educação (MEC).O piso salarial dos docen-tes é reajustado anualmen-te, seguindo as regras da Lei 11.738/2008, a chamada Lei

Fórum Municipal de Educação já está formado Com todos os nomes indi-cados ou eleitos para compor o Fórum Municipal de Educa-ção já definidos, os dirigen-tes do CMP Sindicato, que representam o magistério municipal, reuniram-se para definir os próximos encami-nhamentos do grupo que vai fiscalizar a instalação do Pla-no Municipal de Educação. Foi tirado como indicativo o mês de março para a re-alização da 1ª Assembleia

Geral do Fórum e determi-nado que, em fevereiro, será formado um grupo de traba-lho para elaborar uma pro-posta de regimento do FME. Até o próximo encontro, o grupo terá a tarefa de estudar e analisar o Regimento Interno do Fórum Nacional de Educa-ção-FNE. O grupo aguarda o pronunciamento por parte do Executivo, que ainda não ofi-cializou a composição do Fó-rum Municipal de Educação.

Desde que o atual governo assumiu, uma das principais discussões que causaram te-mor ao magistério municipal passo-fundense são as alte-rações no vale-alimentação. Tal angústia provocou amplo debate e mobilização por par-te da categoria, desencade-ando, inclusive, uma greve. Essa preocupação se con-firmou. Na metade de 2016, os Professores inativos foram surpreendidos com o corte de seus benefícios, em uma atitude unilateral da admi-nistração. Aqui cabe lembrar que, como Professores esta-tutários, possuímos algumas prerrogativas, tais como: ter nossas vidas profissionais re-gidas única e exclusivamen-te por força de lei. Era o que ocorria de fato, uma vez que

tal direito fora assegurado por Lei Municipal (2.864/93). Ao tomar essa atitude, nos-sos governantes se basearam em dois argumentos princi-pais: Apontamento do Tribunal de Contas do Estado e de que o próprio STF havia emitido uma súmula vinculante (55) vedando o pagamento de tal benefício aos inativos. Pois bem, o TCE apenas aponta: não possui o poder de anular lei municipal efetiva. Caberia aqui, ao Executivo, negociar com a categoria a melhor saí-da para tal situação. Podemos ir além inclusive. O entendi-mento é de que vale-alimen-tação de caráter indenizatório não pode ser estendido aos inativos (por indenizatório, en-tende-se aquele em que o tra-balhador tem um desconto na

folha de pagamento). Ocorre que aos Professores munici-pais nada é descontado sobre esse benefício, caracterizan-do-o em um caráter remune-ratório. Esse sim, passível de incorporação na aposentado-ria, pois faz parte da remune-ração do trabalhador, uma vez que compõe o salário. Com relação ao argumento sobre a decisão do Supremo, cabe lembrar que súmula vinculan-te não tem força de lei (e como vimos, servidores estatutários possuem situação jurídica delimitada e regida apenas por lei). Ela serve como dire-triz aos tribunais inferiores. Por fim, o vale-alimentação é direito do trabalhador bra-sileiro que remonta aos idos de 1970 (assegurado aos pro-fessores municipais na déca-

da de 1990), que, segundo o Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT – Lei 6.321): “possui a finalidade de assis-tir os trabalhadores de bai-xa renda”, ou seja, aqueles com vencimentos inferiores a cinco salários-mínimos. Rea-lidade essa da imensa maio-ria dos Professores inativos. O CMP Sindicato sempre se manteve atento a essa si-tuação, bem como disposto a negociar com o prefeito, buscando encontrar a saída mais justa possível para esse impasse. Mas infelizmente, até este momento, não conta-mos com a sua boa vontade. Continuaremos atentos.

Tiago MachadoInativos e o vale-alimentação

Graduado em História pela Universidade de Passo Fundo. Professor da rede municipal de ensino de Passo Fundo. Diretor de Comunicação do CMP Sindicato.

Contato: [email protected]

MUNICÍPIO EM DEBATE

do Piso, que define o mínimo a ser pago a profissionais em início de carreira, com forma-ção de nível médio e carga ho-rária de 40 horas semanais.O ajuste deste ano é menor que o do ano passado, que foi de 11,36%. O valor represen-ta um aumento real, acima da inflação de 2016, que fechou em 6,29%. O novo valor come-ça a valer a partir deste mês. Em Passo Fundo, o valor deve-rá ser de R$ 2.360,22 para 40

horas semanais, se aplicado o índice proposto pelo MEC. O índice tem como objetivo criar um piso salarial para a catego-ria, fazendo com que nenhum professor possa receber me-nos que esse valor. Entretan-to, isso não significa que esse seja o valor ideal a ser pago ao magistério, principalmente se comparado a outras catego-rias de graduados e a outras atividades do serviço público municipal, estadual e federal.

O PISO NACIONAL DOS PROFESSORES

É LEI!

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04 JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017

PERFIL

EMEF Dom José Gomes

Sempre de portas abertas, o “Dom” abriga uma família que transpassa os muros da escola e abraça toda a comunidade do bairro Santa Rita

As portas abertas na escola localizada há mais de dez anos na Rua Daniel Arenzi, no Bair-ro Santa Rita, são um convite para a comunidade ocupar o espaço. Fundada em 1º de março de 2004, a Escola Mu-nicipal de Ensino Fundamental Dom José Gomes é uma das mais disputadas pelos alunos da rede e atualmente abri-ga cerca de 200 alunos nos turnos da manhã e da tarde. A equipe de trabalho do Dom pode ser descrita como uma família de vinte e pou-cas pessoas. Composta por 19 professores (sendo 16 em sala de aula), 1 funcionária, 2 serventes e 2 merendeiras os colegas desempenham um trabalho exemplar, reconhe-cido pelos próprios integran-

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Foto: Acervo Pessoal

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JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017 05

tes da equipe, pela comuni-dade e por todo o município. Para a coordenadora da esco-la, Rosane de Fátima, o diferen-cial está no comprometimento dos colegas e na valorização por parte da direção e coor-denação “Nós buscamos va-lorizar muito o professor, pois o dia a dia da sala de aula é desgastante e, além do traba-lho, ele ainda tem de enfrentar situações como alunos indisci-plinados ou falta de estrutura, então é fundamental que eles saibam o quanto são valiosos para o bom andamento do trabalho e que saibam que a sua opinião, suas ideias, im-portam para a escola”, disse. Nas reuniões pedagógicas, a escola, além da coordenado-ra propor ações, está sempre aberta às opiniões do quadro funcional. A coordenadora, desde que chegou no ano de 2014, trabalha com projetos geradores temáticos que en-volvem toda a escola. Com esse assunto determinado pela equipe, todas as discipli-nas desenvolvem atividades com os alunos de forma que o trabalho final seja dividido com toda a escola. O forma-to de trabalho foi bem aco-lhido e tem trazido ótimos resultados, segundo os pró-prios professores da escola.

AMBIENTE FELIZ “Aqui no Dom a gente se sen-te bem, tanto o grupo como as crianças, os pais, o bairro. So-mos um grupo comprometido, que trabalha projetos diferen-tes, como o Sarau feito com as turmas, que foi lindo e fazia parte do projeto Leituras de mundo. Enquanto em algumas escolas a gente fica no canti-nho, sem poder opinar muito, aqui no Dom a gente pega jun-to, se ajuda, pensa em ideias conjuntas e o resultado é um trabalho sério e prazeroso”, conta a professora do 2º ano, Josiane Lima da Costa Fávero. Ela ainda afirma que trabalhar em um ambiente como esse interfere positivamente na vida pessoal dos profissionais, já que não existem “proble-mas de trabalho que vão para casa”. Para a professora de língua inglesa, Elenice Andreolli, a Dom José é uma escola mo-delo porque a equipe diretiva

é extremamente ativa e demo-crática. “Surgiu um problema, seja qual for, você encaminha para eles e eles fazem o possí-vel para resolvê-lo de maneira que se mantenha o bem-estar de todos. Eles se preocupam muito que todos os funcioná-rios, alunos, colegas estejam se sentindo bem no espaço da escola”, conta. Já a secretária da escola, Ra-quel Aparecida Diogo Rassoni, afirma que o Dom nem parece ter cara de escola, já que todo mundo se sente em casa. “Es-tou aqui desde 2011 e se for e voltar de manhã e à tarde, faço mais de 40km por dia e não tenho vontade de trocar de escola. Aqui somos amigos! Uma família! Até viagem nas férias a gente faz”, conta. Para Jonas Antônio Cantu, que atua há quase dez anos no Dom José Gomes entre sala de aula e direção, o grande di-ferencial da escola é a autono-mia que os profissionais têm para atuar na escola. “Aqui a gente organiza tudo em con-junto. Além disso, é necessá-rio ter humildade de reconhe-cer avanços e retrocessos da equipe. O trabalho coletivo e democrático é prioridade.

ESCOLA PREMIADA1º Lugar IDEB 2016

1º Lugar JCI de Oratória -20163º Lugar na Escola de

Hackers -2015

À ESPERA DA PREFEITURA O problema da biblioteca já poderia ter sido resolvido há tempos. Isso porque o Execu-tivo já possui um projeto de reforma na escola, que prevê um espaço reservado para a biblioteca. No papel, as fotos de um projeto moderno que contemplaria a comunidade. Na vida real, à espera de que nos próximos quatro anos o espaço colorido projetado pelo arquiteto Cristiano Triches a pedido prefeitura saia dos pla-nos e passe a fazer parte da estrutura do Dom.

FALTA DE INCENTIVO Mas nem tudo são flores na EMEF Dom José Gomes. As aulas de educação física, por exemplo, só podem acontecer em dias sem chuva. Quando o sol está muito quente, os alunos tentam se refugiar em-baixo das raras sombras pelo pátio. A falta de uma área co-berta é um dos maiores pro-blemas que o educandário enfrenta, já que a estrutura supriria também a falta de es-paço para apresentações e so-lenidades dos alunos. Já na hora da leitura a con-fusão é quase certa. Sem lo-cal adequado para abrigar a biblioteca, os livros da escola são dispostos em um corre-

dor, sem espaço adequado para estudo ou leitura. A bi-bliotecária da escola, Danieli Kochinski Kerber, lamenta, já que os alunos são amantes fervorosos da literatura. “O espaço não permite que acon-teça uma contação. A coorde-nação e a direção da escola garantem que o acervo conte com os livros que estão em alta e eles adoram! Eles vêm de dupla, para trocar o livro, de tão grande que é a procura, ” conta. Os educadores lamentam a falta de apoio da Prefeitura em projetos externos de que os alunos participam, como o projeto da Brigada Militar Pa-trulha Ambiental, que os alu-nos da escola participaram no último ano e tiveram dificul-dade para se locomover, para confeccionar os uniformes e outras questões necessárias. A escola, que conta com cerca de 20 alunos incluídos, uma das maiores porcenta-gens da rede, comenta ainda a necessidade de mais profissio-nais para atender essas crian-ças. A falta de uma Classe de Apoio para os alunos que pre-cisam de reforço de conteúdo também foi pontuada pelos professores, assim como a au-sência de um profissional de informática para auxiliar os es-tudantes. A secretária da esco-la lembra que a escola possui grande acervo tecnológico e que é necessário ter uma es-pecialização para saber mani-pular os equipamentos. “São programas específicos que os professores que fize-ram o curso sabem manusear e se der algum problema, ou os alunos precisarem de ajuda, é preciso ter esse conhecimen-to. Ano passado nós tivemos uma professora maravilhosa, que prestava um excelente tra-balho aos alunos, agora a gen-te não sabe”, explana Raquel, que mantém os notebooks e tablets sempre carregados para o uso dos alunos. Foto: Acervo Pessoal

Foto: Acervo Pessoal

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06 JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017

SAÚDE

Esgotamento profissional pode ser sinal de alerta

Conheça a Síndrome de Burnout: uma doença si-lenciosa que acompanha

diversos professores

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Quem nunca chegou ao tér-mino do dia do trabalho e percebeu que o esgotamento tomava conta do seu corpo? Atuar em profissões como a de professor, em que há im-pacto direto na vida de outras pessoas, aumenta as chan-ces de desenvolver patologias causadas pelo ponto máxi-mo do estresse profissional. O estresse acomete o indiví-duo de forma gradual. Median-te o cansaço físico e psíquico o corpo vai manifestando si-nais de alerta, como dores de barriga, enxaqueca, insônia, dores musculares, e nessa si-tuação, se não houver um cui-dado e uma mudança de há-bitos, o quadro vai evoluindo até chegar a sua fase crônica. A síndrome de Burnout, tam-bém conhecida como Síndro-me do esgotamento Profis-sional, foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorqui-no Freudenberger no início dos anos 70, após constatá-la em si mesmo. De acordo, com a psicóloga Clarice Santos, a Síndrome de Burnout se refe-re ao estresse laboral crônico. “Como o termo expõe, “ Bur-nout” significa: “perder o fogo”,

“perder a energia”, “queimar (para fora) completamente” e assim o trabalhador chega ao seu limite de exaustão, tenta criar mecanismos de defesa armando inconscientemen-te uma retirada psicológica. Abandona o trabalho, mas permanece no posto; muitas vezes não se percebe enquan-to “doente”, continuando a realizar suas atividades de forma automática e desmoti-vada, passando a realizar seu trabalho sem envolvimento pessoal para com ele”, expli-ca. A maioria dos trabalhado-res afetados pela doença é en-carregada de cuidar, portanto os professores estão entre as categorias de trabalho mais afetadas por essa condição.

CausaDe acordo com Clarice, as cau-sas podem ser inúmeras, den-tre elas é necessário destacar o cenário educacional atual, que faz com que os professo-res sofram enorme pressão por terem de vivenciar cotidia-namente um contexto permea-do por adversidades, tanto de infraestrutura, recursos quan-to desvalorização da catego-ria profissional. Problemas de relacionamento com colegas, alunos ou pais, a falta de co-operação entre os colegas de trabalho, o desequilíbrio entre a vida profissional e a pessoal também são grandes causa-dores do nível máximo de es-tresse. Pessoas que se identi-ficam e se doam em demasia ao trabalho, os workholics, são fortes candidatos a desenvol-ver a síndrome.

SintomasPessoas com a síndrome de Burnout apresentam sintomas como perda de iniciativa, de-pressão, cansaço constante, dores de cabeça e muscula-res, distúrbios do sono, irrita-bilidade, alterações de humor e de memória, dificuldade de concentração e falta de ape-tite. A soma desses sintomas e dos mal-estares causados pela doença pode levar ao alcoolismo, uso de drogas e em quadros mais agressi-vos até mesmo ao suicídio. A pessoa com Síndrome de Burnout não desempenha suas atividades como era de costume, fica isolada, arre-dia e sua produtividade cai, muitas vezes passando a agir de maneira irônica e cínica. Em muitos casos, o profissio-nal crê que sua melhor op-ção seja tirar férias, por sua vez, ao retornar ao trabalho, retoma a postura de desâni-mo. Em algumas situações, registra-se uma melhora con-siderável com o afastamento do trabalho e a piora quase que imediata com o retorno.

DiagnósticoO diagnóstico leva em conta o histórico do paciente e seu envolvimento e realização pes-soal no trabalho. Respostas psicométricas a questionário baseado na Escala Likert tam-bém ajudam no processo para estabelecer o diagnóstico.

TratamentoO tratamento inclui o uso de antidepressivos e psicotera-pia. Para controlar os sinto-mas, ainda se sugere a práti-ca de atividade física regular e exercícios de relaxamento.

PrevençãoPara a psicóloga Clarice San-tos, as formas de prevenir partem de uma mudança de hábitos. É necessário “desa-celerar”, buscando atividades de lazer, boa alimentação e exercício físico, junto da in-dispensável ajuda profissio-nal. Pontua ainda que, no caso da patologia diagnos-ticada em profissionais da educação, ainda é necessário que se repense a estrutura educacional como um todo. “As formas de prevenção não podem ser focadas somente em mudanças do indivíduo, mas há de se pensar na ur-gência de uma gestão pública que priorize a educação, afi-nal, educação é saúde. Que se possa ter condições ma-teriais, ambientais e emocio-nais de realizar seu trabalho, com o mínimo de desgaste, possibilitando exercer sua função de professor-transfor-mador social com saúde e qualidade de vida”, encerrou.

Foto: Divulgação

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JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017 07

DICA LITERÁRIA

Lançado pelo IFIBE, o livro é uma coletânea de artigos de um educador que faz da prá-tica educativa compromisso social, ético e político, sem receio de dizer o que pensa. O professor Nei Alberto Pies se mostra uma exemplarida-de que diz: é possível ser um educador criativo, um educa-dor-educando que se põe no mundo e põe o mundo como mediação para abrir diálogos com os/as diversos/as sujei-tos que também se querem au-

tores/as solidários/as na feitura de processos transformadores capazes de efetivar realidades mais humanizadas, nas quais a vida esteja acima de tudo e a dignidade nunca disponível.

Grande parte das narrativas brasileiras sobre a grande guerra do Prata perfilhou a tese da total inocência do Estado imperial brasileiro naqueles sucessos. Em A Primeira Guerra do Para-guai: a expedição naval do Império do Brasil a Assunção (1854-

Conviver, educar e participar-Nos palcos da vida A Primeira Guerra do Paraguai: a expedição na-val do Império do Brasil a Assunção (1854-5)

5), lançado pela Méritos Edi-tora, foi possível, através da investigação do autor e pro-fessor Fabiano Barcellos Tei-xeira, iluminar aspectos fun-damentais dos antecedentes, dos sucessos, da recepção historiográfica daqueles de-terminantes fatos. Sem qual-quer apoio financeiro, o autor deslocou-se até o Paraguai, identificando valiosa e des-conhecida documentação no Arquivo Nacional de Asunción.

Lançado pela Editora Saluz, o livro de autoria do professor Eduardo Albuquerque traz à tona várias questões que com-põem o dia a dia do professor no passado e no presente. São contos que buscam refletir um pouco mais sobre o cotidiano da escola, sempre com uma pitada de um possível bom hu-mor. Provavelmente, qualquer um que tenha passado por uma escola possa se ver em uma das histórias e quem sabe possa refletir um pouco sobre tudo o que acontece com a educação, em que pese o fato de que o objetivo principal do livro é de uma leitura leve e divertida.

É Pra Copiar: tragicomédia da vida escolarLançado pela editora Aldeia Sul, o livro do professor An-dré Rossi Canals traz histó-rias baseadas em memórias de estudos e trabalhos na escola. Impressões da tris-te realidade em que vivem a juventude e o professor. (...) Uma coisa é certa: não tive a pretensão de que estes contos breves chegassem próximos ao nível dos Contos Plausí-veis, de Carlos Drummond. Ainda assim, liberto estes escritos aos leitores, principalmente àqueles que defendem a escola e, sobretudo, a alma de ser estudante e aprendente.

Escolas Esparsas

Confira dicas de livros desenvolvidos pelos professores da rede municipal ou que atuam no ensino estadual ou privado de Passo Fundo:

O projeto Contos de verdade, organizado pelo professor An-dré Martinelli, é um conjunto de histórias criadas por estu-dantes de Ensino Médio que foram motivados a escrever sobre sua própria realidade e sobre a realidade do mundo que os cercava. Foi enfatizada a necessidade de os estudan-tes escreverem sobre assun-tos pouco tratados pelo cine-ma e pela teledramaturgia ou mesmo pelos telejornais. Com esses contos, é possível entender um pouco melhor

como pensam os adolescentes, os problemas que os preocu-pam, que sonhos os motivam e sob quais influências seus auto-res se encontram ou permitem que façam parte de suas vidas.

Contos de verdade: histórias de jovens estudantes Educação em Direitos HumanosA obra, “construída coletiva-mente por ltomar Siviero, El-don Mühl, Elisa Mainardi, Pau-lo C. Carbonari, Nilva Rosin e Márcia Carbonari e publicada pela editora IFIBE, marca os dez anos do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação em Direitos Humanos e apre-senta subsídios para debater e refletir sobre educação e direitos humanos. A principal pretensão do livro é colabo-rar com as práticas de edu-cação em direitos humanos nos vários ambientes educa-cionais. Cientes de que a conjuntura geral e de direitos huma-nos é de retrocesso, põe-se numa posição que afirma a impor-tância e a necessidade de acreditar em novas possibilidades.

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08 JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017

ESPECIAL

‘A democracia que temos não tem futuro’Entrevista com Boaventura de Sousa Santos

O que seria a democracia do futuro? Em que ela precisa rom-per com a democracia que temos hoje?

Por que o senhor afirma em seu livro A Difícil Democracia que Cuba se transformou em um problema para a esquerda?Boaventura- Quando, na primeira década do novo milênio, se começou a discutir no continente o socialismo do século 21, algo inédito em nível mundial, muitas vozes (a minha incluí-da) advertiram que tal discussão só faria sentido se primeiro discutíssemos os erros do socialismo do século 20. Acontece que Cuba era um dos socialismos do século 20 e haveria de incluí-lo na crítica. Muitos companheiros acharam que tal crítica acabaria por vulnerabilizar ainda mais a corajosa luta do povo cubano ante a agressão do imperialismo norte-americano e o infame embargo. O capítulo do livro a que se refere foi escrito a partir de uma perspectiva socialista e solidária para com a luta do povo cubano. O texto foi muito bem recebido em Cuba por intelectuais que muito respeitamos, mas a publicação foi embargada por ordens superiores. Como vai a esquerda reagir se Cuba caminhar para uma solução de capitalismo de Estado à la chinesa ou à la vietnamita? Mas mais problemático ainda é como a esquerda reagirá a algo que tem vindo a querer des-conhecer: como reagir ao fato de em vários países da Europa Oriental as sondagens de opinião revelarem repetidamente que a maioria da população destes países considera que vivia me-lhor no tempo do socialismo de Estado?

O Brasil da era Lula é citado como nova potência “benévola e inclusiva”. Quais foram os limites desse modelo? Como o Brasil pode ser classificado agora?

Boaventura- O Brasil de Lula foi o produto de uma conjuntura que dificilmente se repetirá nos próximos tempos. Tratou-se da alta dos preços dos recursos naturais e agrícolas impulsionada

pelo desenvolvimento da China (e também por especulação). Permitiu que se realizasse uma notável diminuição da pobreza sem que os ricos deixassem de enriquecer, sem que o sistema político e a prática política fossem democratizados, sem que se fizesse reforma tributária, do sistema financeiro e dos meios de comunicação. E sem que se pusesse em causa, e antes se aprofundasse, um modelo de crescimento assentado na desin-dustrialização, na destruição do equilíbrio ecológico do país e na imposição de sofrimento injusto e ilegal (à luz do direito inter-no e internacional) aos povos indígenas, aos camponeses e às populações ribeirinhas. Todas estas omissões foram os limites do modelo do período Lula, um modelo tão brilhante nos êxitos do curto prazo, como leviano no descuidar das suas condições de sustentabilidade. O Brasil de agora é politicamente uma so-ciedade mais capitalista, mais colonialista e mais patriarcal do que era antes do golpe, e por isso menos democrática e com mais fascismo social.

Boaventura- A democracia que temos não tem futuro, porque as forças sociais e econômicas que atualmente a dominam e a ma-nipulam estão possuídas de uma tal voracidade de poder que as impede de aceitar os resultados incertos do jogo democráti-co sempre que estes não lhes convêm. A manipulação midiática e a fraude eleitoral (constitutiva no caso dos Estados Unidos) vão acabar por retirar qualquer vestígio de credibilidade à de-mocracia. Nessas condições, a luta pelo ideal democrático vai implicar no futuro próximo uma ruptura do mesmo calibre das revoluções da primeira metade do século 20. Esperemos que menos violenta. Será uma democracia de tipo novo que pro-

A entrevista é de Sarah Fernandesoriginalmente publicada pelaRede Brasil Atual em 08-01-2017

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JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017 09

É possível funcionar uma democracia plena em um sistema capitalista globalizado, neoliberal e com mídia oligopolizada?Boaventura- Nas sociedades capitalistas em que vivemos e que, aliás, além de serem capitalistas, são colonialistas e pa-triarcais, não é possível democracia plena porque ela só ope-ra (e mesmo assim com muitos limites) ao nível do sistema político, enquanto as relações sociais diretamente decorren-tes dos três modos de dominação (capitalismo, colonialismo e patriarcado. Ou seja, as relações patrão/trabalhador, bran-co/negro ou indígena, homem/mulher) só muito marginal-mente podem ser democratizadas a partir do atual sistema político. Aliás, torna-se virtualmente impossível quando o sis-tema político é, ele próprio, dominado por patrões, por ho-mens e por brancos. Ao deixar um vasto campo de relações sociais por democratizar, a democracia é sempre de baixa intensidade. Mas obviamente há graus de intensidade e os graus contam muito na vida das pessoas. A democracia bra-sileira tinha mais intensidade antes do golpe parlamentar-midiático-judicial do que tem agora. A simples composição do governo mostra como a democracia é agora mais capita-lista, colonialista e patriarcal.

Os erros da esquerda explicam a reto-mada neoliberal na América Latina?

Boaventura- Hoje, o neoliberalismo na América Latina tem dois nomes: o imperialismo norte-americano e o imperialismo da União Europeia. A es-querda latino-americana está despre-parada para combater eficazmente

Quais podem ser os impactos de uma medida que limita gastos públicos por 20 anos para a democracia brasileira e para a sociedade?Boaventura- Devastador. Anuncia um brutal aumento do fas-cismo social e o consequente definhamento da democracia. Trata-se de uma medida provocatória destinada a mostrar às classes populares que não poderão mais acreditar nas promessas da esquerda e que o pouco que poderão esperar do Estado é o que lhes for dado pela direita. Espero que os brasileiros e as brasileiras tornem o país ingovernável aos poderes que os querem governar com tais medidas.

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Encontro CMP Sindicato com Boaventura de Souza Santos no Fórum Social Mundial de 2016

curará garantir o máximo de autonomia do sistema político em relação aos três modos de dominação acima referidos – para o que será necessária uma Assembleia Constituinte originária – para a partir desse sistema político: a) pressionar até o limite a dominação capitalista em nome da igualdade socioeconômica por via da redistribuição da riqueza, dos direitos laborais, do acesso à terra, da tributação progressiva, do reconhecimento de outras formas de propriedade para além da privada; e b) pressionar até ao limite a dominação colonialista e patriarcal em nome do reconhecimento da igual dignidade das diferenças raciais, etnoculturais e de gênero. Ao contrário do que aconte-ceu até agora, as duas pressões são igualmente importantes e têm de ser simultâneas. Na medida em que tive-rem êxito, as duas pressões irão dei-xando emergir uma outra matriz social e política que muitos chamarão socia-lismo, se por socialismo entendermos democracia sem fim.

esse perigo para as forças progressistas. Desde que a Teolo-gia da Libertação foi praticamente banida por papas reacio-nários, a esquerda deixou de saber onde moram os desgra-çados, condenados, excluídos, silenciados, ressentidos do continente. E se soubesse onde moram, não saberia como falar com eles. Parafraseando um grande marxista deste continente, José Carlos Mariátegui (pensador peruano), o pecado capital da esquerda latino-americana é ter-se esque-cido dos desgraçados e desgraçadas do continente, levada pela miragem da conquista de supostas classes médias que no continente sempre estiveram ao lado das oligarquias.

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ENTREVISTA

Gaudêncio Frigotto e a luta em defesa da Educação Pública

Em conversa com o CMP Sindicato, Frigotto explicou que assim surge a padronização da educação e, consequentemente, os pro-fessores perdem sua verdadeira função ao terem seu papel defi-nido pelas grandes empresas que se inserem dentro das escolas. O resultado disso, segundo afirma, seriam professores sem opini-ões, que seguem cartilhas prontas e sem condições de fomentar o debate e a discussão que formam a personalidade dos alunos. Confira entrevista completa:

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Compondo a mesa de debate “As políticas neoliberais e a privatização da Educação: as lutas em defesa da Educação Pú-blica”, realizado no Fórum Mundial de Educação que aconteceu simultaneamente ao Fórum Social Mundial na cidade de Porto Alegre no ano de 2016, o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Gaudêncio Frigotto destacou que a classe domi-nante se associou ao grande capital e isso refletiu na educação, tornando-a elitizada.

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Gaudêncio- Essa é uma questão complexa, mas fundamental. Eu sempre cito nos meus textos um pequeno comentário de Francisco de Oliveira, que diz ‘a assunção do governo Lula à presidência da República com a base social que ele tem naque-le momento pode buscar a tentativa de refundar o Brasil pela quarta vez, agora sem retorno, mas para isso não é suficiente fazer um governo desenvolvimentista, é preciso dominar os do-minadores’. Essa citação é de que, na verdade, no campo de es-querda, esquerda mais radical, nós nunca entendemos que Lula não foi socialista, ele foi um líder sindical e esse é um mérito. En-

Muito se fala sobre o atual momento político e os golpes sofridos pelos movimentos sociais, principalmente por parte de forças políticas retrógradas. Sua primeira vez no Fórum Social Mundial, em 2001, coincidiu com o primeiro governo do presidente Lula, que chegava ao poder coligado com essas forças políticas regressistas. O que houve com os movimentos sociais naquela época que não se deram conta ou somente se calaram?

Gaudêncio- Eu acredito que o Plano teve avanços, mas o finan-ciamento pelas verbas do Pré-Sal, por exemplo, foi zerado. O produto está desvalorizado atualmente. Hoje o nosso foco não é o Pré-Sal. Ele deve continuar como luta política, que a Petro-brás tem que sobreviver, etc. Mas hoje a nossa luta é a dívida interna. Se a gente conseguir 5% da dívida interna, resolve o problema da educação e da saúde. Ainda existem trilhões de sonegadores já julgados que têm que começar a pagar, isso resolveria o problema de caixa do governo e não precisava fa-zer corte na educação, na saúde, etc. Nós temos que lutar de dentro da escola, para educar bem os alunos, mas nós temos que fazer a grande política que trata de questões econômicas, jurídicas, sociais do nosso país.

Nos últimos anos, muito se discutiu sobre os planos de edu-cação nacional, estaduais e municipais. Para executar esses planos, sabemos que é necessário um investimento financei-ro. Ainda sabemos que na questão do investimento o próprio governo aponta para as verbas do Pré-Sal. Sendo assim se está contando com algo que ainda vai acontecer e sem qual-quer certeza. Como você avalia o documento do Plano Nacio-nal: esse é o documento definitivo para as reformas na edu-cação ou essas reformas devem passar por outras questões?

O seu discurso no Fórum Social Mundial e também em outros espaços reforça a necessidade da unidade para construir uma sociedade cada vez mais justa. Essa unidade se estenderia a quais setores? Que lutas seriam pautadas?Gaudêncio- No nosso debate, ficou muito clara essa opinião. Todo mundo mostrou que é necessário existir vínculo com os metalúrgicos, com os bancários, municipários, além da socie-dade num geral, como a família e os movimentos sociais para que se unam forças em prol desses objetivos em comum. E uma dessas lutas é pelo controle social da mídia, não é censura. Nós queremos ter o direito de resposta, por exemplo, pois eles dizem o que querem e depois você pode até desmentir, mas a força não será a mesma. São lutas que temos que ir travando e o FSM e outros espaços de discussão são um ótimo laboratório para isso. Nós podemos ser gremistas, colorados, do PT ou do PSOL, mas temos que ter um foco, o que é substancial, profun-do e inabalável na luta por uma sociedade melhor.

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Dirigentes do CMP Sindicato com Gaudêncio Frigoto no Fórum Social Mundial de 2016

tão nós cobramos do Lula algo que ele não é. A história dele diz isso. Ao assumir o governo, ele fez o que sempre fez: nego-ciar. E na negociação capital/trabalho nós sabemos quem sempre ganha um pouco mais. Mas ele ganhou do lado do tra-balhador também, pois se ree-legeu e avançou conservando a ordem do capital. Não é ruim existir correntes, partidos, mas devemos buscar uma unidade básica mirando a sociedade. Houve uma despolitização da política e, para se manter, pre-cisa fazer alianças com nomes exploradores.

Gostaríamos de saber um pouco mais sobre as diferenças da elite constituída na América Latina, em especial no Brasil, e a elite que se constitui hoje na Europa em países como Alema-nha, apontadas pelo senhor em sua fala no FSM.Gaudêncio- Uma das questões mais difíceis para os educadores lutarem pela escola pública está na natureza da nossa classe burguesa latino-americana e brasileira. Diferente das burgue-sias que fundaram o capitalismo com a revolução burguesa, eram burguesias que lutaram para constituir uma nação e, por-tanto, eram nacionalistas e para isso investiram em reformas básicas, entre elas a reforma agrária e a educação básica uni-versal como um direito inalienável. Na América Latina, quem estudou muito isso foi Florestan Fernandes e Ruy Mauro Marini. Aqui se constitui uma sociedade em que a classe dominante se associou ao grande capital e vende o nosso país. Não são nacio-nalistas: são entreguistas. Então nós temos uma riqueza muito concentrada com esses que vêm de um sangue da maioria e por isso para eles não interessa e nunca vão querer a univer-salização da educação básica e nenhum tipo de reforma e por isso essa resistência. Aqui o neoliberalismo penetra mais fundo porque interessa à classe dominante dizimar a escola pública, então há uma diferença substantiva. Ainda que hoje na Europa também “o bicho está pegando”.

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OPINIÃO EM DEBATE

Mulher, professora e defensora dos direitos humanos

Com mais de duas décadas de vida po-lítica, Maria do Rosário conta ao Jornal Educação e Debate o que pensa sobre democracia, retrocesso e a exclusão das discussões de gênero dos Planos de Educação em todo o país

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Nascida em Veranópolis no ano de 1966, Maria do Ro-sário Nunes é professora, defensora dos direitos huma-nos e atualmente está como deputada federal pelo Rio Grande do Sul. Ex-Ministra da Secretaria de Direitos Hu-manos da Presidência da Re-pública, Maria do Rosário faz parte da bancada que soma menos de 10% no Congres-so Nacional: a das mulheres.No ano de 2002, Maria do Rosário elegeu-se deputada federal com o maior número de votos entre os gaúchos. Em pouco tempo se transformou no nome mais visível da mili-tância pelos direitos humanos no país. Em 2011, seu nome se consolidou quando se tor-nou ministra responsável pela área no governo Dilma. Entre as pautas que defende estão causas como a conces-são de direitos a homossexu-ais, a reserva de cotas para negros, o combate à violên-cia praticada por policiais e a punição de crimes cometidos durante a ditadura militar. Sua linha de ação trouxe po-pularidade em alguns setores, mas por motivos ideológicos ou religiosos levou alguns seg-mentos a vê-la como inimigo. Com mais de 550 Projetos

de Lei e Outras Proposições de sua autoria registrados no site da Câmara, em conversa com o CMP Sindicato durante o Fórum Social Mundial Te-mático, a deputada relatou como é atuar em um dos con-gressos mais retrógrados em termos de direitos humanos.

Retrocesso A professora pontuou que a composição do Congresso é preocupante para a democra-cia, uma vez que no momento ela não representa uma ideia progressista da sociedade, de liberdade de direitos. Lem-bra que na medida em que uma grande parte se envolve até mesmo em casos de cor-rupção, há um esvaziamento do Congresso quanto a sua representatividade, ou seja, as pessoas confiam cada vez menos nos parlamenta-res e no Congresso Nacional.“O Congresso é instituição fun-damental para a manutenção da democracia e quando per-de a confiança da sociedade há um comprometimento da democracia. Prova disso foi a enorme dificuldade em fazer uma reforma política verda-deira, quando era a real ne-cessidade da sociedade bra-sileira”, disse. Comenta que

a população ansiava por uma reforma verdadeira, que não foi feita, assim como várias outras bandeiras que foram esquecidas, enquanto há pro-jetos de leis sendo coloca-dos em votação que podem ser extremamente danosos aos interesses dos trabalha-dores, como a terceirização.

Gênero e educação O Plano Nacional de Educa-ção, documento que dita as diretrizes da educação pelos próximos anos, excluiu a dis-cussão de questões de gênero e sexualidade, como apontava a versão inicial sancionada pela presidenta em 2014. Em seguida, foi possível constatar a reprodução do conservado-rismo que fez com que, em âm-bitos estaduais e municipais, os dois temas vetados no PNE também fossem excluídos. A retirada desses assuntos e não da escola. Para Maria do

Rosário, esse é o exemplo de como a laicidade do estado está sendo atacada cotidiana-mente no Brasil, um país com uma ampla diversidade religio-sa e também com uma gama significativa de pessoas que professam e até participam de mais de uma religião ou ainda que não praticam nenhum tipo de religiosidade. “Esse é um dos pilares da Constituição de 88 e lamenta-velmente, cada vez mais, opi-niões religiosas estão forman-do as leis no Brasil. A retirada dos temas de diversidade, so-bretudo a questão de gêne-ro dos planos de educação, é um dos elementos que nos demonstram a grande dificul-dade que temos de superar a violência contra as mulheres e contra todos que vivenciam os crimes de ódio e de intolerân-cia. Se a escola não fizer a sua parte, também na formação para a democracia e a diver-sidade, nós teremos grande dificuldade de superar a mar-ca de violência que temos no país”, complementa. Para a professora, é neces-sário que diante deste cenário se invista na autonomia peda-gógica dos professores, já que os assuntos não foram proi-bidos de ser levantados em sala de aula e se o professor seguir as diretrizes do Con-selho Nacional de Educação, ele vai trabalhar os temas da diversidade, com um currículo transversal e com uma série de mecanismos didáticos pe-dagógicos. Isso não significa formar para uma orientação sexual, para uma identidade de gênero, isso significa for-mar para o crescimento e para a dignidade humana.

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bancadas religiosas, que argumentaram que tratar tais temas detur-paria os conceitos de homem e mulher, des-truindo o modelo tradi-cional de família. Ainda argumentaram que a discussão do assunto seria dever dos país,

Dirigentes do CMP Sindicato com Maria do Rosário no Fórum Social Mundial de 2016

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FALA PROFESSOR!

Ser professora da Rede Estadual no Rio Grande do Sul tem se provado cada vez mais uma tarefa muito ár-dua. Recentemente, temos vivido um verdadeiro dra-ma do magistério estadual. Como se já não bastasse nossos vencimentos serem quase 70% do valor estipula-do pela Lei do Piso Nacional, ainda tivemos nosso salário congelado, sem conseguir acompanhar minimamente a inflação. Além disso, recebe-mos em suaves prestações ao longo do mês, que vão se diluindo em contas, juros do cheque especial e desalento. Depois ainda veio o “terrorismo” do 13° par-celado em 12 meses.

O resultado de toda essa angústia, sem saber ao cer-to quanto e quando vamos receber, tem levado nossos colegas ao desespero. O governador José Ivo Sarto-ri (PMDB) não trata com se-riedade a categoria, parcela salário, quer fechar turnos e escolas e segue a todo va-por aplicando o ajuste fiscal para pagarmos a conta de uma crise que não é nossa. Ele alega que o RS não tem dinheiro, mas dá incentivo fiscal para empresas, não co-bra os grandes sonegadores de impostos e continua pa-gando a dívida com a União. O governo federal, por sua vez, tem de ser responsabili-zado pela crise do Rio Grande

do Sul (e de mais onze outros estados), pois também desti-na grande parte do dinheiro arrecadado para pagar a dí-vida externa. Sem falar nos grandes escândalos de cor-rupção envolvendo o governo e base aliada anterior, de Dil-ma (PT), e o atual, com Temer (PMDB), e seus respectivos financiadores de campanha. Todo esse relato trata de um grande desrespeito com o magistério e com o funcio-nalismo público em geral. A má notícia é que, com o agravamento da crise que os governos criaram, o ajuste vai continuar sendo aplicado: o ilegítimo presidente Temer vetou o socorro aos Estados que estão em crise; tem a re-

forma da previdência que vai nos obrigar a trabalhar até morrer e também a PEC 55, que limita os investimentos nas áreas sociais e conge-lará salários por vinte anos. Diante de todo esse qua-dro, não nos resta alterna-tiva senão resistir e lutar incessantemente para que nossos direitos não sejam retirados. É preciso que a categoria de educadores e educadoras se unifique com outras e, juntas, construam uma forte greve geral para barrar os ataques que es-tão por vir em 2017, orques-trados por Temer e Sartori.

Bianca DamacenaEm defesa do magistério estadual: qual a missão para 2017?

Paulo C. CarbonariEducação para a vida

em abundância A educação tem referências antropológicas que lhe ser-vem de ancoragem, ou seja, tem bases nas quais se articu-la a paragem de sujeitos itine-rantes, que fazem caminhos. Elas oferecem condições para que a humanização se reali-ze nos processos que visam formar sujeitos. Entre outras possíveis, seguem algumas. A itinerância: seres humanos estão em caminhos de busca. Múltiplas são as buscas hu-manas: há as cognitivas, que pretendem a verdade; há as éticas, que pretendem o bem-viver; há as políticas, que pretendem o com-viver; há as estéticas, que pretendem a beleza; há as espirituais, que pretendem o religioso. Buscas... buscas... Humanos são seres nômades, peregri-nos, migrantes, que buscam a si mesmos e aos outros, por

isso abertos e em diálogo! A inconclusão: seres huma-nos são conscientes de seu inacabamento. Sabem que seu ser é um fazer-se na re-lação com os outros em con-textos histórico-culturais. Sua humanização não é um está-gio a ser atingido, e sim uma condição a ser cada vez, de novo, retomada. É um proje-to: humanos estão em huma-nização! Daí a historicidade, não como mera contingência, mas como possibilidade de ultrapassar heranças rece-bidas, sem desprezá-las, em vista de aproximar-se dos ho-rizontes que vêm do esperan-çar que vocaciona o humano a experimentar-se Ser Mais. A liberdade: seres humanos desejam ser livres, ser por si mesmos, responder pelo que fazem de si mesmos, do que fazem com o que os ou-

tros fazem deles, do que fa-zem com os outros. A eman-cipação e a autonomia são construções que se fazem na interação e, portanto, são conquistas, afastando-se de paternalismos e de falsas tu-telas. Fazer-se livres é saber-se sujeito pluridimensional (em termos cognitivos, inte-lectuais, espirituais, afetivos, emocionais, morais, sexuais ...), sempre em construção, inserido na realidade, aberto ao chamado para ser mais humano com os outros huma-nos, sendo agente da realiza-ção de mais humanização. Atenção, seres humanos não vivem de modo idêntico e homogêneo sua humani-dade. Há humanos que são desumanizados e despo-tenciados por processos de opressão e de vitimização de sua condição humana,

de sua dignidade. Mas, isso não os faz perder sua hu-manidade. Pelo contrário, enseja o grito para empre-ender processos de trans-formação. A educação é um dos bons caminhos para tal, mesmo que não seja o único. A ancoragem antropológi-ca da educação exige que sejam denunciadas todas as práticas de desumanização e que sejam anunciadas as possibilidades e aberturas. A morte, presente na pobreza, no sofrimento, na ex-clusão, no abandono, não é a última palavra. A palavra final é vida – não vida apenas, vida nua, simples vida, zoé – e vida em abundância! A boa educação, aquela que vale a pena é a que promove vida em abun-dância para todas e todos.

Doutor em filosofia (Unisinos), professor de filosofia e diretor pedagógico no Instituto Berthier (IFIBE), militante de direitos humanos (CDHPF/MNDH).

Contato: [email protected].

Professora de Português, Literatura e Inglês da Rede Estadual do RS, Doutoranda em Análise do Discurso (UFRGS),Mestra em Letras (UPF),Especialista em Metodologias do Ensino de Línguas Portuguesa e Estrangeira (UNINTER).

Contato: [email protected]

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ESPAÇO JURÍDICO

Hora-Atividade: um direito que a legislação garante

aos professoresLei 11.738/2008 estabelece que a composição da jornada de trabalho deve reservar 1/3 das horas para

atividades extraclasses

Não há como pensar em qualidade para educação sem garantir ao educador momentos e espaços neces-sários à construção do conhe-cimento, avaliação e reflexão sobre a prática pedagógica, planejamento e construção do conhecimento, avaliação e reflexão sobre a prática pe-dagógica, planejamento e construção dos mecanismos de intervenção pedagógica. A desvalorização social e os baixos salários da profis-são docente impõem uma jor-nada de trabalho exaustiva. Conforme a Organização In-ternacional do Trabalho (OIT), a profissão docente é consi-derada uma profissão de ris-co na qual a garantia do 1/3 para hora-atividade se torna fundamental. A lei do piso salarial nacional dos profes-sores, sancionada em 2008, determina que a hora-ativida-de deve corresponder a 33% da carga horária do professor. Não é de agora que o CMP Sindicato pauta a neces-sidade de avanços na imple-mentação da legislação que garante o 1/3 de hora-ativi-dade para o professor, inclu-sive com ação judicial com ganho de causa. Por sua vez, conforme a dirigente do CMP Sindicato Regina Costa dos Santos, não se teve avanços na implementação da lei. “Foram registrados alguns avanços no sentido de garantir a hora-atividade nas escolas de educação infantil e em al-gumas escolas de Ensino Fun-

damental, porém a garantia sem riscos à hora-atividade é algo que necessita avançar. O CMP Sindicato vem negocian-do com o Executivo para regu-lamentar o 1/3 da hora-ativi-dade, direito garantido por lei e a entidade está na expecta-tiva que haja progressos fren-te o assunto em 2017”, disse. Na Educação Infantil o 1/3 de hora-atividade vem sendo implementado, apesar de ter limite, pois boa parte do tem-po destinado à hora-atividade é feita na escola, em espa-ços deficitários, sem internet, em salas pouco ventiladas, com intervenção de terceiros e principalmente tendo ris-cos diários de não acontecer pela falta de profissionais. No Ensino Fundamental, a hora-atividade é praticamente uma novela. Cada escola faz do jeito que acha que é certo e com as condições que tem. Do outro lado, a administra-ção municipal vem demons-trando pouca agilidade na im-plementação da lei. Nos anos iniciais, a dificuldade é ainda maior, pois há somente um professor em sala de aula e as escolas não contam com professores para substituição.

Duração total da jornada

Interação com estudantes

Atividades extraclasses

40 h30 h20 h

26,66 h20 h

13,33 h

13,33 h10 h

6,66 h

TABELA HORA-ATIVIDADE DO PROFESSOR

A Lei 11.738/2008 estabelece que a composição da jornada de trabalho deve limitar-se a 2/3 da carga horária para ativida-des de interação com os educandos, ou seja, atividade didática realizada diretamente em sala de aula, reservando-se 1/3 para atividades extraclasses, destinadas para estudos, planejamen-to e avaliação. Dessa forma, deverá ser observado e reservado o período de 1/3 do regime de trabalho profissional do magis-tério para atividade extraclasse. Assim, para a jornada de 20 horas semanais, o período de 2/3 corresponderá a 13,33 uni-dades (períodos), independentemente do tempo que compõe cada período, que poderá variar de 60, 50 ou 45 minutos. De acordo com a legislação, a jornada de trabalho de 40 horas semanais deve ser composta da seguinte forma, independente-mente do tempo de duração de cada aula, definido pelas redes de ensino.

LEGISLAÇÃO

ENTENDA A HORA-ATIVIDADE

O que é? Um direito do professor de ter reservado um período de 1/3 de sua carga horária para as atividades pedagógicas, como preparação das aulas e correção de provas, a fim de que não utilize seu tempo de descanso para essas atividades.

Onde pode ser cumprida? A Hora-Atividade deverá ser cumprida na escola desde que haja o espaço e os meios adequados ou ainda a distân-cia. É necessário que o profissional tenha acesso dentro da escola a um espaço adequado para o cumprimento da ho-ra-atividade (biblioteca, sala de professores, internet...). Caso essa não seja a realidade da escola, o pro-fessor pode cumpri-la em outro local que seja ade-quado para a realização das suas atividades.

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VANTAGEM DO ASSOCIADO Depois de mais de 30 anos atuando como associação, o CMP se tornou sindica-to. Com essa transformação, a entidade passou a prestar um atendimento ainda mais qualificado aos seus associados. Além das demandas funcionais da categoria, já reivindicadas pela entidade, no novo formato os associados, que passam de mil entre professores ativos e apo-sentados, passam a contar com descontos em estabelecimentos conveniados.

Confira a lista dos parceiros do CMP Sindicato e as vantagens a que os associados do CMP Sindicato têm direito:

CULLMANN ADVOGADOSAv. General Netto,340, Centro. Telefone: (54) 3046-0286

Atendimento jurídico em questões ligadas ao funcionalismo municipal.

SUPERA -Ginástica para o CérebroR. Paissandú, 1066, Centro. Telefone: (54) 3632-8300

Desconto de 10% sobre o valor da matrícula, 10% na mensa-lidade, estendido aos dependentes e 5% para alunos e seus responsáveis.

CIA DO SONO R. Uruguai, 1205 – Centro. Telefone: (54) 3632-9332

Desconto de 5% em compras parceladas até 12x e desconto de 20% para pagamento à vista. Será disponibilizada a avaliação ortopédica gratuita tanto na loja quanto em residência para os interessados.

DENTISTA NICOLE FLORESRua Fagundes dos Reis, nº428, s 304. Telefone: (54) 3313-6310

Desconto de 30% em todos os serviços oferecidos.

MAGRASSR. Silva Jardim, 354 – Centro. Telefone: (54) 3632-6888

Desconto ESPECIAL de 10%, para grupos de 5 pessoas que fe-charem tratamento. Parcelamento em 10x (1 + 9x) para todos os prazos de tratamentos; (normal é até 6x).

MAIS BELLARua Cap. Araújo, 706 – Centro. Telefone:(54) 3312-9174

Valor diferenciado na disponibilização de serviços de Desing de Sobrancelha, Maquiagem, Micropigmentação, Permanente de Cílios, Alongamento de Cílios, Limpeza De Pele, Henna, Massa-gem Estética, Peling de Diamante.

CENTRO DE PILATESRua Independência, 386. Telefone: (54) 3601-5557

Desconto de 20% sobre o valor da hora normal de R$ 45,00. As-sociados que utilizarem o serviço pagarão o valor de R$ 35,00 (trinta e cinco reais) pelos serviços

CONSULTÓRIO DE FISIOTERAPIA SARA ANTONIUK PRESTA

Avenida Brasil Leste 168, sala 03. Telefone (54) 99909-9721 ou 98120-6187

Com o desconto, os valores passam a ser: Pilates-valor mensal de R$ 100, para uma vez por semana, com duração aproximada de uma hora a sessão; Fisioterapia: Valor de R$ 40 a sessão.

SIMBIOSERua Cel. Chicuta, 192 – Centro. Telefone: (54) 3313-4811

Disponibilização com valores diferenciados os serviços de mus-culação, zumba, funcional, jump, step, local, pump, TRS, stilet-to, GAP, power mix, circuito, balance, cross hiit e abdômen total.

Todos os planos dão acesso para treinar todos os dias. Os valo-res, já com desconto, são: mensal livre: R$ 145, semestral livre: 6 x de R$ 120, Anual livre: 12 x R$ 100, Anual acesso limitado: 12x R$ 80.

SUNFLOWERAv. Gen. Neto, 857 – Centro.Telefone: (54) 3311-4463

Desconto de 15% em aulas em grupo (três (3) ou mais alunos matriculados). Para quem optar por aulas individualizadas ou em duplas, o percentual de desconto será de 5%.

ARGOSR. Paissandú, 2330 – Centro. Telefone: (54) 3601-0007

Desconto em plano de emergência com atendimento 24h, para até quatro pessoas da mesma residência. Mensalidade por R$59,90 plano familiar; Valor por chamado de R$55.

SBTURAv. Brasil Leste – Centro. Telefone: (54) 3632-4852

Descontos de 33% no pagamento mensal de pacotes de via-gem. (De R$299 por R$ 199)

ESPAÇO DE PILATES DANIELE CHARNAUD Rua Capitão Eleutério, 337, sala térrea. Telefone: (54) 99225-8356

Valor diferenciado nos atendimentos de qualquer modalidade de aulas de pilates.

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16 JORNAL EDUCAÇÃO E DEBATE Fevereiro de 2017

CMP SINDICATO

Professores municipais já contam com sindicato

exclusivo da categoriaEntidade conta com 28

representantes de escolas municipais diversas

O dia 05 de novembro de 2015 entrou para a história da rede municipal de ensino de Passo Fundo. Em assem-bleia da categoria, os profes-sores votaram pela criação de um sindicato que passará a representar os professo-res municipais, celetistas e estatutários, ativos e inati-vos na luta por seus direitos. A fundação do CMP Sindica-to deu legitimidade à atuação Centro Municipal de Profes-sores, que já prestava uma política sindical antes mesmo de ser sindicato. Contando com o CMP como associa-ção há mais de 30 anos, a categoria deu um importante passo ao legitimar a entida-de como representativa dos educadores do município. Desde a fundação do sindica-to, já é possível constatar a au-tonomia da categoria para tra-tar demandas específicas do magistério municipal. Nas pró-ximas tratativas do índice de reajuste anual, por exemplo, já deve ser pautado com o prefei-to a questão da Data Base do magistério que é diferenciada do restante do funcionalismo e todos os anos causa perdas no reajuste dos educadores. A luta para transformar a associação CMP em sindicato dura mais de 20 anos e, de acordo com o dirigente do CMP Sindicato, Eduardo Albuquer-que, encerrar esse processo é uma vitória do magistério mu-nicipal, que agora conta com

um sindicato que representa unicamente a sua categoria se-guindo o exemplo de cidades que já seguem esse modelo. “Somos uma entidade au-tônoma que representa os pro-fessores municipais de Passo Fundo. Foi uma luta de 20 anos que se concretiza nesta gestão. Eu parabenizo a todos os professores que confiaram em nosso trabalho. Fiquem certos de que não vamos de-sapontar ninguém e o CMP será cada vez mais uma enti-dade forte que estará sempre ao lado do professor e de to-dos os trabalhadores na edu-cação. Temos muito trabalho

pela frente já nos próximos dias, quando o prefeito iniciará o processo de negociação com o CMP e por isso podemos co-memorar, mas não descan-sar, pois os desafios estão aí para serem vencidos”, disse. O sindicato possui o forma-to de direção colegiada, mo-delo seguido pela associação de professores até então e que busca a diversidade de pensamentos, além de per-mitir que as decisões sejam sempre todas em grupo. A chapa que dirige a entidade até o ano de 2018 reúne 28 educadores da rede munici-pal, na seguinte formação:

Primeira diretoria do CMP Sindicato empossada em assembleia da categora

Secretaria de OrganizaçãoTitular: Nei Alberto Pies e Adriana Salete Nadal. Suplente: Rúbia RactzSecretaria de Formação Titular: Geniane Dutra e Vera Lucia Dalbosco. Suplente: Rudimar GomesSecretaria de Comunicação Titular: Tiago Machado e José Eduardo Brum de Albuquerque. Suplente: Antônio Carlos LuziaSecretaria de Assuntos Jurídicos Titular: Regina Costa dosSantos e Sírio Chies.Suplente: Susana Alves da SilvaSecretaria de Esporte, Cultura e Lazer Titular: Sinara Aparecida Ca-nabarro Terres e Eleine Teresi-nha Rosa de Souza. Suplente: Liane KirinusSecretaria de Finanças Titular: Nara Isar Vidal Mene-gatti e Altair Jose Follador. Suplente: Dagmar ZanattaSecretaria de Administração Titular: Rosane de Fátima Nery da Silva e Rangel de Camargo Rodrigues.Suplente: Janaina VeberConselho FiscalTitular: Márcia Helena da Sil-va, Alice dos Santos e Thais Amelia NuncioSuplente: Edemar da Silva, Giovana Petri e Vera Mondin.