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"Reforço da Gestão das Pescarias nos Países da ACP" Projecto Financiado pela União Europeia. “Esta publicação foi produzida com a assistência da União Europeia. Os conteúdos da presente publicação são da responsabilidade exclusiva de ”nome do autor” e não poderão de forma alguma serem considerados para refletir as visões da União Europeia.” “O conteúdo deste documento não reflecte necessariamente as visões dos relativos governos” ESTUDO SOBRE A CADEIA DE ABASTECIMENTO E MERCADOS DA PESCA ARTESANAL NA REGIÃO DE LUANDA ANGOLA Projeto ref. N° SA-4.3-B23 Angola 25 de Setembro, 2013 Um projeto implementado por:

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"Reforço da Gestão das Pescarias nos Países

da ACP"

Projecto Financiado pela União Europeia.

“Esta publicação foi produzida com a assistência da União Europeia. Os conteúdos da presente publicação são da responsabilidade exclusiva de ”nome do autor” e não poderão de forma alguma serem considerados para refletir as visões da União Europeia.”

“O conteúdo deste documento não reflecte necessariamente as visões dos relativos governos”

ESTUDO SOBRE A CADEIA DE ABASTECIMENTO E

MERCADOS DA PESCA ARTESANAL NA REGIÃO DE

LUANDA – ANGOLA

Projeto ref. N° SA-4.3-B23

Angola

25 de Setembro, 2013

Um projeto implementado por:

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da ACP"

Projecto Financiado pela União Europeia.

“Esta publicação foi produzida com a assistência da União Europeia. Os conteúdos da presente publicação são da responsabilidade exclusiva de ”nome do autor” e não poderão de forma alguma serem considerados para refletir as visões da União Europeia.”

“O conteúdo deste documento não reflecte necessariamente as visões dos relativos governos”

ESTUDO SOBRE A CADEIA DE ABASTECIMENTO E MERCADOS DA PESCA

ARTESANAL NA REGIÃO DE LUANDA – ANGOLA

Projeto ref. N° SA-4.3-B23

Angola

25 de Setembro, 2013

Um projeto implementado por:

Hélder Silva (Perito Principal)

Osvaldo Costa (Consultor Nacional)

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Projecto Financiado pela União Europeia.

“Esta publicação foi produzida com a assistência da União Europeia. Os conteúdos da presente publicação são da responsabilidade exclusiva de ”nome do autor” e não poderão de forma alguma serem considerados para refletir as visões da União Europeia.”

“O conteúdo deste documento não reflecte necessariamente as visões dos relativos governos”

Índice 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 5 2. OBJECTIVOS .............................................................................................................................. 5 3. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 5 3.1 ÁREA GEOGRÁFICA .................................................................................................................. 5 3.2 ALVO DO ESTUDO ..................................................................................................................... 5 3.3 REVISÃO DOCUMENTAL ............................................................................................................ 6 3.4 RECOLHA DE INFORMAÇÃO ...................................................................................................... 6 3.5 PESQUISA DE MERCADOS .......................................................................................................... 7 3.6 ANÁLISE DA INFORMAÇÃO ....................................................................................................... 7 3.7 ANÁLISE INTEGRADA DO POTENCIAL PAPEL DAS INSTITUIÇÕES ................................................ 8 4. RESULTADOS E ANÁLISE ........................................................................................................... 9 4.1 REVISÃO DOCUMENTAL ............................................................................................................ 9 4.2 FUNÇÕES E RESPONSABILIDADES DOS DIFERENTES INTERVENIENTES NA CADEIA DE

ABASTECIMENTO E DE MERCADO E SUA ARTICULAÇÃO .......................................................... 11 4.3 REVISÃO DE PROJECTOS E INTERVENÇÕES NO SUBSECTOR DA PESCA ARTESANAL E

MERCADOS.............................................................................................................................. 13 4.3.1 Identificação e resumo dos projectos ........................................................................ 13 4.3.2 Projectos complementares de mercados ................................................................... 14 4.3.3 Análise dos projectos implementados e em construção ............................................ 15 4.3.4 Análise das intervenções projectadas para Luanda .................................................. 18

4.4 CARACTERIZAÇÃO DA PESCA ARTESANAL AO NÍVEL NACIONAL E PROVÍNCIA DE LUANDA .... 19 4.4.1 Caracterização social da pesca artesanal na província de Luanda ......................... 24

4.5 ANÁLISE E RESULTADOS DAS SAÍDAS DE CAMPO ................................................................... 24 4.5.1 Cooperativas e organização ..................................................................................... 25 4.5.2 Comerciantes de pescado e mercados de primeira / segunda vendam ..................... 26 4.5.3 Locais de desembarque principais, embarcações, pescadores e mulheres

processadoras .......................................................................................................... 29 4.6 ANÁLISE E RESULTADOS DA PESQUISA DE MERCADOS .......................................................... 36 5. ANÁLISE DE PONTOS FORTES, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E RISCOS/AMEAÇAS ................ 37 6. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ...................................................................................................... 39 6.1 ACTUAL CADEIA DE ABASTECIMENTO E SITUAÇÃO DO MERCADO ........................................... 39 6.2 PROBLEMAS QUE AFECTAM O PROCESSAMENTO E SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO................ 42 7. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................... 43 ANEXO 1 – QUESTIONÁRIO - CHECKLIST .............................................................................. 49 ANEXO 2 – INQUÉRITO – ENTREVISTA PESQUISA DE MERCADOS ............................... 51

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"Reforço da Gestão das Pescarias nos Países

da ACP"

Projecto Financiado pela União Europeia.

“Esta publicação foi produzida com a assistência da União Europeia. Os conteúdos da presente publicação são da responsabilidade exclusiva de ”nome do autor” e não poderão de forma alguma serem considerados para refletir as visões da União Europeia.”

“O conteúdo deste documento não reflecte necessariamente as visões dos relativos governos”

Lista de Tabelas Tabela 1. Lei dos Recursos Aquáticos Biológicos Tabela 2. Regulamento Geral das Pescas Tabela 3. Regulamento dos Requisitos Higio-Sanitários dos Produtos de Pesca e Aquacultura Tabela 4. Projectos desenvolvidos relativos aos abastecimentos e mercados da PA Tabela 5. Projectos planeados referentes aos abastecimentos e mercados da PA Tabela 6. Proporção provincial (%) da frota nacional por tipo de embarcação e pescadores Tabela 7. Proporção provincial (%) da frota nacional por tipo de embarcação e pescadores Tabela 8. Distribuição da Captura Total (t) por tipo de embarcação por província Tabela 9. Captura total (t) por Artes de pesca em 2012. Tabela 10. Captura total média por embarcação por segmento por província Tabela 11. Preços médios registados na primeira e segunda venda de pescado Tabela 12. Análise Resumida de Pontos fortes, Fraquezas, Oportunidades e Riscos/Ameaças

Lista de Figuras Figura 1: Projectos complementares de mercados Figura 2: Projecto Piloto de processamento da PA – Buraco Figura 3: Peixeiras de Samba e Ingombota Figura 4: Área envolvente e local de descarga da PA na Ilha de Luanda Figura 5: Produção e fornecimento de gelo em escama Figura 6: Embarcações de PA e respectivas arcas de conservação do pescado Figura 7: Actividades de descarga, venda, processamento da PA no Cacuaco Figura 8: Actividades de descarga, venda, processamento da PA na Mabunda

Lista de Abreviaturas

ACP Países da África, Caraíbas e Pacífico

AECID Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo

BAD Banco Africano de Desenvolvimento

DNIIP Direcção Nacional de Infra-estrutura e Indústria da Pesca

DNPPRP Direcção Nacional das Pescas e Protecção dos Recursos Pesqueiros

ET Equipa Técnica

EUA Estados Unidos da América

FAO Food and Agricultura Organization

IFAD International Fund for Agriculture Development

INIP Instituto Nacional de Investigação Pesqueira

INAIPIT Instituto Nacional de Apoio à Industria Pesqueira e Investigação Tecnológica

IPA Instituto Nacional de Desenvolvimento da Pesca Artesanal e da Aquicultura

OGE Orçamento Geral do Estado

PA Pesca Artesanal

PMU Project Management Unit

PNUD United Nations Development Program

SNFPA Serviço Nacional de Fiscalização Pesqueria e da Aquicultura

UE União Europeia

URF

VMS

Unidade Regional de Facilitação ACP Fish II

Vessel Monitoring System

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 5

1. Introdução

O presente Estudo da cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda (doravante designado por Estudo) foi implementado pela empresa Ecosphere Lda., no

âmbito do contrato de prestação de serviços N.º SA-4.3-B23 celebrado com o Programa ACP

Fish II e financiado pela União Europeia através do 9º Fundo Europeu de Desenvolvimento.

O estudo foi solicitado e identificado junto do Programa ACP Fish II a pedido do Instituto de

Desenvolvimento da Pesca Artesanal e Aquicultura (IPA) em 2011. A missão de

implementação do mesmo decorreu no período de 5 a 29 de Agosto de 2013.

2. Objectivos

Os objectivos gerais deste estudo são:

Contribuir para o desenvolvimento da capacidade dos produtores de pequena escala

(pescadores, produtores e comerciantes) nas práticas relacionadas com as suas

actividades;

Fortalecer a capacidade do IPA para estudar e planejar o desenvolvimento da pesca

artesanal e da cadeia de mercados de abastecimento;

Os objectivos específicos constituem:

Analisar a actual cadeia de abastecimento e situação do mercado nas áreas

selecionadas, incluindo as técnicas de conservação, manuseio e processamento de

pescado;

Identificar os problemas que afectam o processamento e sistema de comercialização;

Identificar as possíveis técnicas e medidas para melhorar o tratamento do pescado a

bordo e nos locais de desembarque e de processamento;

Facultar recomendações para a melhoria da cadeia de abastecimento e para a criação

de infra-estruturas adequadas para a comercialização dos produtos da pesca;

Facultar recomendações para as possibilidades de ligar fontes de pesca artesanal (PA)

na cadeia de valor da transformação e da indústria exportadora.

3. Metodologia

3.1 Área Geográfica

A área geográfica coberta foi a província de Luanda, em particular os municípios designados

em 2011 por Cacuaco, Ingombota e Samba.

3.2 Alvo do estudo

O estudo focaliza-se no sector da pesca artesanal e mercados designadamente na respectiva

cadeia de abastecimento e comercialização com incidência sobre as técnicas usadas de

conservação, manuseio, comercialização e processamento de pescado. Desta forma, o alvo do

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 6

estudo consiste no grupo dos agentes da pesca artesanal, nomeadamente os pescadores,

comerciantes e processadores artesanais, para além do IPA em termos do seu reforço técnico

no âmbito do planeamento e capacidade de gestão da pesca artesanal e mercados em Luanda.

3.3 Revisão documental

Realizou-se uma revisão da Legislação, Planos Ministeriais, e Projectos realizados com

financiamento internacional relevantes para o âmbito do Estudo.

3.4 Recolha de informação

Foi recolhida informação qualitativa institucional do funcionamento das diversas autoridades,

dados secundários provenientes de estatísticas, e dados primários qualitativos e quantitativos

obtidos junto de informadores seleccionados privilegiados em termos de envolvimento na

actividade. A recolha de informação decorreu nas seguintes fases sequenciais:

a) Primeira fase: recolha de informação e dados relevantes junto de fontes institucionais

relevantes, isto é, as Autoridades Competentes no Ministério das Pescas: Direcção

Nacional das Pescas e Protecção dos Recursos Pesqueiros (DNPPRP); (Direcção

Nacional de Infra-estrutura e Indústria de Pesca (DNIIP); IPA; INAIPIT (Instituto

Nacional de Apoio à Industria Pesqueira e Investigação Tecnológica); Instituto

Nacional de Investigação Pesqueira (INIP), bem como clarificação e actualização do

conhecimento do trabalho realizado por estes;

b) Segunda fase: utilizou-se e analisou-se a informação estatística da produção da PA,

organizada e tratada pelo IPA;

c) Terceira fase: saídas de campo para recolha de informação relevante junto de

pescadores, produtores e comerciantes, através de questionário pré-definido (Cfr.

Anexo 1) para recolha de informação qualitativa e quantitativa relevante. O método de

obtenção de informações de alta qualidade foi realizado a partir de informadores-

chave e/ou de agentes de sucesso no negócio do sector, tendo sido essencial o

conhecimento do IPA dos vários operadores no sector. Incluem-se nestes agentes os

responsáveis de Cooperativas, Associações e/ou Organizações de Produtores.

Em cada um dos locais alvo do estudo foram selecionados os locais de desembarques e

mercados principais: Cacuaco (praia e mercado do Mundial e Barra do Bengo), Samba

(praia e mercado da Mabunda e Centro de Apoio à PA do Buraco) e Ingombota (Casa

Lisboa e mercados dos Trapalhões e Chicala). Foram respectivamente contactados: as

Cooperativas relevantes, 2 ou 3 armadores e peixeiras por local, bem como 10 contactos

informais realizados nas praias a pescadores e peixeiras e fábricas de gelo.

Estas visitas visaram:

Identificar os principais constrangimentos, principalmente no que diz respeito às

técnicas de conservação, manipulação e venda, bem como às infra-estruturas de

apoio à PA e processamento.

Obter uma compreensão abrangente dos constrangimentos e restrições da

distribuição e abastecimento do pescado e sua comercialização.

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 7

d) Quarta fase: Não existindo qualquer informação de mercado para a pesca artesanal

dado o seu carácter absolutamente informal e não coberto pelo programa de

amostragem do IPA, delineou-se uma estratégia de obtenção de informação qualitativa

a partir da implementação de uma entrevista seguindo um inquérito modelo elaborado

para o estudo (Cfr. Anexo 2) para perceber a dimensão e distribuição dos produtos da

PA e a sua penetração no mercado formal. Para tal procurou-se obter uma cobertura

significativa das operações do mercado formal e tentou-se inclusivamente quantificar

as proporções de distribuição a partir dos dados obtidos, bem como das tendências que

possam ser entendidas a partir destes.

3.5 Pesquisa de mercados

Para efectuar a pesquisa de mercados e respectiva planificação das entrevistas considerou-se a

existência de um total de 157 Restaurantes, 78 Hotéis e 6 Cadeias de Supermercados /

Hipermercados (Ministério da Hotelaria e Turismo, Outubro, 2012). Sendo que estes últimos

possuem mais de 70 casas comerciais, entre Hipermercados, Supermercados e Minimercados,

com importância ao nível nacional com representação nas várias províncias.

A cidade de Luanda possui uma rede comercial com mais de 70 Supermercados -

Hipermercados dos quais 60 pertencem a 6 cadeias de supermercados que encontram-se

espalhados pelo país, alguns com representação em todas as províncias e outros apenas em

algumas, nomeadamente:

“O Nosso Super”, com 21 Super/Hipermercados na cidade de Luanda (com presença em

todas as províncias do país);

“Kero”, com 7 hipermercados em Luanda (com presença em 9 províncias do país);

“Maxi”, com 9 Hipermercados em Luanda (com presença em 5 províncias do país);

“Shoprite”, com 12 Hipermercados em Luanda (com presença em 5 províncias do país);

“Intermarketing”, com 5 Hipermercados em Luanda;

“Casa dos frescos”, com 6 Hipermercados em Luanda (com presença em 3 províncias do

país).

Para realização deste trabalho foram visitados e realizados inquéritos a 70 unidades

comerciais das quais 25 restaurantes, 28 hotéis, 5 cadeias de hipermercados e 12

supermercados. A representação da amostra foi a seguinte:

Restaurantes: 16%;

Hotéis: 36%;

Cadeias de Supermercados / Hipermercados: 83%;

Supermercados: inferior a 24%, já que foram 17 de mais de 70 estabelecimentos.

3.6 Análise da informação

A análise da informação contemplou o seguinte processo:

a) Análise dos dados secundários de produção; Esta análise consistiu no tratamento e

utilização dos quadros estatísticos da produção da pesca artesanal com cruzamentos

analíticos dos diferentes dados. Esta informação foi utilizada para caracterização da

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 8

PA na Província de Luanda e ao nível municipal, analisando-se os respectivos perfis

de composição da frota, e da produção por segmento de frota e por arte de pesca

comparando-se com os perfis das outras províncias e ao nível nacional.

b) Análise da informação qualitativa; Esta análise centrou-se na informação obtida junto

dos informadores chave, inquéritos realizados e cruzamento das observações

realizadas in-loco. A análise efectuada tratou de caracterizar e identificar os pontos

fracos e problemas da cadeia de valor e abastecimento dos produtos de pesca

artesanal.

c) Desenvolvimento do método de análise de Pontos fortes, Fraquezas, Oportunidades e

Riscos/Ameaças para o objecto do estudo;

A análise foi efectuada com base nos seguintes pressupostos:

A valorização e dinamização da cadeia de valor inicia-se na garantia da qualidade e da

segurança alimentar (entenda-se requisitos hígio-sanitários) do pescado abastecido

pela PA, exactamente na primeira etapa da cadeia de produção - onde tudo começa de

facto.

As empresas em Angola operam com abastecimentos de pescado sobretudo da pesca

semi-industrial e industrial. O sector artesanal embora represente uma elevada

percentagem das capturas nacionais é sujeito a uma distribuição muito limitada,

todavia com potencial para aumentar a sua utilização.

Ao dotar-se os locais de descarga e primeira venda da PA dos necessários requisitos

hígio-sanitários e de preservação do pescado potencia-se o abastecimento, não só para

o mercado local como também para uma eventual indústria de exportação, com

potencial reflexo nos rendimentos de aproveitamento das capturas e do seu valor. De

igual maneira, estar-se-á a contribuir para a melhoria dos meios de vida das famílias

dependentes da actividade da pesca, bem como para a garantia alimentar da

população.

Nesta linha de raciocínio, é importante perceber a integração dos vários aspectos:

Desenvolvimento de infra-estruturas de apoio à PA e comercialização de

acordo com os requisitos sanitários;

Aplicação correcta dos requisitos de manuseamento e conservação do pescado

por parte, sobretudo, dos pescadores;

Licenciamento, controlo e monitorização dos agentes envolvidos em relação

aos requisitos sanitários;

Garantia da cadeia de rastreabilidade entre produtores, distribuidores e

processadores, retalhistas / exportadores.

3.7 Análise integrada do potencial papel das instituições

Desenvolveu-se uma análise integrada do potencial papel directo e indirecto que pode ser

feito, no futuro, para apoiar a dinâmica e modernização da cadeia de abastecimento de

produtos da pesca e cadeia de valor pelas diferentes instituições nacionais envolvidas, IPA,

INIP, DNIIP e INAIPIT. Esta análise integrou as competências e responsabilidades existentes,

bem como as que potencialmente foram sugeridas pelo estudo. Consequentemente atendeu-se

ao seguinte:

Funções e responsabilidades dos diferentes intervenientes na cadeia de abastecimento

e de mercado e sua articulação;

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 9

Funções e potencial de interação das diversas instituições na melhoria, apoio e

controlo da cadeia de valor da pesca;

Fontes directas e indirectas de informação, uso potencial e tratamento analítico para

apoio futuro do IPA.

4. Resultados e Análise

4.1 Revisão documental

Do levantamento de documentação realizado e sua análise constata-se o seguinte:

a) Plano Director das Pescas: está desatualizado. O Ministério tem constituída uma

equipa responsável pela elaboração de novo Plano Director;

b) Plano de Ordenamento de Pescas e Aquicultura 2006/2010: está em fase de revisão;

c) Projectos BAD, AECID, IFAD e PNUD: não foram disponibilizados relatórios com

informação de pesquisa de campo, apenas relatórios de actividades e de avaliação de

projectos. Salienta-se que a informação proveniente das fases de pesquisa de campo

destes projectos poderia eventualmente beneficiar o presente estudo.

Em relação ao projecto do IFAD convém contudo referir que este é relativo à pesca

em águas interiores e aquicultura, afastando-se assim do campo de intervenção do

presente estudo;

d) Informação de pesquisa de mercados de produtos da pesca provenientes do sub-sector

da pesca artesanal é inexistente. De facto, não existe qualquer informação de mercado

ou dados de preços. A DNIIP com um Departamento de Pesquisa de Mercados ainda

não iniciou verdadeiramente a sua actividade devido a limitações várias de

operacionalidade. Ao nível do IPA esta informação não é recolhida. Ao nível do

funcionamento do mercado este é sobretudo informal, senão totalmente informal;

e) Estatísticas de produção e actividade da pesca artesanal;

As estatísticas de pesca artesanal são recolhidas e tratadas pelo IPA através da

implementação de um programa de amostragem nas comunidades piscatórias. O

tratamento estatístico realizado, efectua-se através do programa ARTEFISH. Este

programa todavia, não inclui dados de valor comercial da produção registada nem de

distribuição do pescado. No ponto 5.4 apresenta-se uma caracterização descritiva do

perfil da pesca artesanal na província de Luanda com base nas estatísticas do IPA.

Os dados estatísticos da pesca artesanal devem ser analisados com alguma reservas já

que existem alguns problemas e limitações várias, principalmente ao nível da recolha

dos dados brutos da amostragem, identificados pelo próprio Instituto (IPA)

responsável por estas estatísticas. Alguns dos problemas afectando directamente a

recolha dos dados são a diminuição da intervenção dos amostradores devido ao não

pagamento de seus subsídios por parte do IPA, a falta de apoio aos amostradores nos

locais de desembarque por parte dos responsáveis das cooperativas, e noutros casos, os

problemas de cobertura do território, e/ou o nível de desempenho dos serviços

provinciais e do pessoal dos Centros de Apoio Integrados da Pesca Artesanal. Estes

problemas acabam também por identificar certas fragilidades associadas ao sector,

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 10

sendo assim já por si revelador de algumas características e problemas do próprio

sector.

f) Legislação relevante e respectivos requisitos;

A legislação relevante, que compreende os abastecimentos da PA e cadeia de

distribuição e mercados, relacionada com as condições (práticas e higiene) de

manuseamento, conservação, descarga e venda do pescado por parte dos pescadores

artesanais e subsequentes práticas no âmbito da distribuição e mercados é a seguinte:

Lei 6-A/04 de 8 de Outubro “Lei dos Recursos Aquáticos Biológicos”

Decreto 41/05 de 13 de Junho “Regulamento Geral das Pescas”

Decreto 40/06 de 30 de Junho “Regulamento dos Requisitos Higio-Sanitários dos

Produtos de Pesca e Aquacultura.

Neste âmbito, destacam-se nas tabelas seguintes as disposições relevantes no que

concerne especificamente às práticas de manuseamento, conservação, descarga e

venda do pescado. Tabela 1. Lei dos Recursos Aquáticos Biológicos

Lei 6-A/04 de 8 de Outubro - Lei dos Recursos Aquáticos Biológicos

Título III - Das Embarcações, dos Estabelecimentos de Processamento, Transformação, Distribuição e

da Aquicultura

Artigo

155

Obrigações do Estado

No que se inclui: “…assegurar o cumprimento das normas sobre condições higieno-sanitárias de

processamento, transformação e distribuição de produtos da pesca.”

Artigo

163

Vistoria

No que se inclui: “…a atribuição do certificado de pesca é precedida de vistoria de embarcação

pelo Ministério competente a fim de avaliar da conformidade dos requisitos …” nos quais se

conta os requisitos “…higieno-sanitários do tratamento do pescado…”

Artigo

174

Objectivos

“…

a) contribuir para a satisfação das necessidades alimentares dos consumidores.

b) salvaguardar os direitos dos consumidores de pescado e produtos da pesca, em especial no

que respeita as suas condições higieno-sanitárias.

…”

Artigo

175

Obrigações do Estado

“…

2.

a) estabelecer, em colaboração com o Ministério da Indústria, as especificações técnicas a que

devem obedecer os estabelecimentos de processamento, transformação e venda do pescado.

b) estabelecer com os Ministérios que superintendem a saúde e o comércio as condições

higieno-sanitárias que devem ser observadas no processamento, transformação, armazenamento,

distribuição e venda de produtos da pesca.

c) estabelecer com os Ministérios que superintendem a saúde e indústria as normas de sanidade

e qualidade a que devem obedecer o pescado e produtos da pesca.

i) implementar o sistema de análise de riscos do pescado e produtos da pesca, bem como

normas sobre normalização e qualidade de produtos da pesca.

…”

Secção III - Da comercialização do pescado e produtos da pesca

Artigo

192

Comercialização

“A comercialização do pescado e produtos da pesca desde a primeira venda até ao consumidor

obedece ao disposto na presente lei e seus regulamentos….”

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Estudo sobre a cadeia de abastecimento e mercados da pesca artesanal na região de

Luanda – ANGOLA

Projeto Financiado pela União Europeia Um projeto implementado por: pg. 11

Tabela 2. Regulamento Geral das Pescas

Decreto 41/05 de 13 de Junho - Regulamento Geral das Pescas

Sub-secção II - Embarcações de Pesca Artesanal

Artigo

52

Higiene e Conservação.

Para além de especificar alguns requisitos em concreto é evocado um regulamento específico

para o efeito:

(…) “As embarcações …. devem satisfazer os requisitos higieno-sanitários de conservação do

pescado a bordo nos termos definidos em regulamento específico.”

Tabela 3. Regulamento dos Requisitos Higio-Sanitários dos Produtos de Pesca e Aquacultura

Decreto 40/06 de 30 de Junho - Regulamento dos Requisitos Higio-Sanitários dos Produtos de Pesca e

Aquacultura

Capítulo II - Autoridade Competente

Artigo

4

Organização da autoridade competente.

É especificado para o desempenho das funções do Ministério das Pescas que este Ministério

deve compreender na sua estrutura os serviços de certificação higieno-sanitária, controlo de

qualidade e fiscalização dos produtos da pesca para estabelecimentos e barcos. Para tal é

definido a nível central, a direcção que supervisiona as infra-estruturas e estudos de mercados e

direcção e administração do sistema de vistorias; a nível do Serviço Nacional de Fiscalização

Pesqueira e Aquícola a função de realização da fiscalização de cumprimento da legislação

aplicável no domínio higieno-sanitário de barcos, estabelecimentos de processamento, incluindo

congelação, transformação e distribuição de produtos da pesca; a nível provincial, as funções

referidas acima exercidas por unidades do Ministério das Pescas implantadas localmente ou

delegadas ao Governo Provincial.

Artigo

5

Funções da Autoridade Competente

Especificam-se as seguintes:

a) Inspecionar e certificar a qualidade higio-sanitária dos produtos da pesca destinados ao

consumo interno e à exportação, bem como aos produtos importados;

b) Inspecionar os barcos e os estabelecimentos da industria pesqueira e da aquicultura;

c) Aprovação das condições higio-sanitárias dos barcos e dos estabelecimentos e emitir as

respectivas autorizações;

d) Elaborar e divulgar, de acordo com as condições higio-sanitárias, as listas de

estabelecimentos e barcos da indústria pesqueira autorizados a pescar para o consumo;

e) Emitir certificados sanitários para consumo interno e exportação;

Entre outros, não relevantes para o tópico de atenção do assunto.

4.2 Funções e responsabilidades dos diferentes intervenientes na cadeia de

abastecimento e de mercado e sua articulação

O resumo do enquadramento institucional tem por base o Decreto Presidencial 226/12 de 3 de

Dezembro – que aprova o Estatuto Orgânico do Ministério das Pescas. A instituição central,

definida como autoridade competente1 com responsabilidades directas e específicas no âmbito

das condições e práticas hígio-sanitárias de abastecimento, manuseamento, conservação,

distribuição e venda de produtos da pesca é a DNIIP.

1 Decreto 40/06 de 30 de Junho - Regulamento dos Requisitos Higio-Sanitários dos Produtos de Pesca e Aquacultura

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O Serviço Nacional de Fiscalização Pesqueira e da Aquicultura (SNFPA) possui também a

função de realização da fiscalização de cumprimento da legislação aplicável no domínio

higieno-sanitário de embarcações, estabelecimentos de processamento, incluindo congelação,

transformação e distribuição de produtos da pesca. Ao nível provincial, as mesma funções são

exercidas por unidades do Ministério das Pescas implantadas localmente ou delegadas ao

Governo Provincial.

A articulação, dos serviços de Fiscalização, bem como das unidades do Ministério das Pescas

nos Governos provinciais, com a autoridade central (DNIIP) no domínio referenciado parece

não existir ou funcionar.

A DNIIP tem definido especificamente as seguintes atribuições, responsabilidades e funções:

concepção, direcção, controlo e execução da política de infra-estruturas especializadas de

apoio às pescas, nos domínios portuário, industrial, reparação naval, conservação,

transformação, distribuição e apoio à organização e funcionamento das redes de

comercialização e pesquisa de mercados internos e externos dos produtos da pesca e da

aquicultura.

Entre as várias atribuições da DNIIP, sublinham-se as seguintes:

Emissão dos padrões de qualidade dos produtos da pesca;

Certificação hígio-sanitária;

Desenvolvimento dos sistemas de portos pesqueiros e locais de desembarque;

Acompanhamento da distribuição dos produtos da pesca.

Por outro lado, a DNPPRP centraliza as suas atribuições, responsabilidades e funções na

concepção, direcção, controlo e execução da política pesqueira e de protecção e

desenvolvimento dos recursos pesqueiros2, apesar de ter uma participação no:

Estabelecimento de políticas de comercialização;

Parecer sobre licenciamento de estabelecimentos de processamento e transformação de

pescado;

Planeamento sobre indústria de processamento e transformação de pescado.

O IPA é responsável pela realização das acções de promoção e apoio ao desenvolvimento da

pesca artesanal e da aquicultura.

A investigação técnico-científica e tecnológica para apoio e desenvolvimento da pesca,

integrando o laboratório para o controlo da qualidade dos produtos da pesca é realizado pelo

INIP.

O apoio ao desenvolvimento, ao nível meramente da actividade industrial ou centrado no

processamento e transformação de produtos da pesca e da aquicultura é efectuado pelo

INAIPIT.

2 Em particular: Gestão, conservação e protecção dos recursos biológicos aquáticos; Monitorização e controlo das actividades de pesca;

Análise técnica de artes de pesca e embarcações; Licenciamento das pescas; Listagem de espécies autorizadas para exportação e importação; Regulamentação das pescas e épocas de pesca; Propor cruzeiros de investigação dos recursos pesqueiros; Gestão de áreas aquáticas

protegidas; Programas sectoriais de desenvolvimento; Direitos de pesca; Padrões de tripulação; E, controlo do ordenamento das pescas.

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O INIP aparentemente desenvolveu no passado alguns projetos relacionados com a melhoria

do processamento do pescado artesanal, o INAIPIT tem apoiado o desenvolvimento

industrial, a Inspecção do Pescado (agora no DNIIP) responsável pela inspecção,

licenciamento sanitário e controlo de todas as empresas da cadeia de valor da pesca tem

cingido a sua actividade principalmente para a exportação. O SNFPA apesar das suas

competências de fiscalização não evidencia acções ao nível hígio-sanitário. Desta forma,

nenhuma das entidades tem dado assim, um foco adequado sobre a qualidade e segurança

alimentar do pescado na primeira etapa da cadeia de produção, registando-se assim uma

lacuna crucial para desenvolvimento dos mercados de pescado.

4.3 Revisão de projectos e intervenções no subsector da pesca artesanal e

mercados

4.3.1 Identificação e resumo dos projectos

Da pesquisa efectuada registam-se nas tabelas 4 e 5 as intervenções realizadas e projectadas

para desenvolvimento dos abastecimentos e mercados da pesca artesanal.

Tabela 4. Projectos desenvolvidos relativos aos abastecimentos e mercados da PA

Tipo de Intervenção Quantidade Local Província Projecto Financiamento

Centros de apoio à PA 2 Buraco

Cabo

Ledo

Luanda IPA BAD e PNUD

Centros de salga e seca 2 Namibe

Tombo

Namibe DNIIP OGE

Centro de apoio à PA e

transformação;

Desenvolvimento de

Cooperativa;

Apoio à frota de PA;

Formação;

1

(não

operacional)

Damba

Maria

Lobito Fundação

HABITAFRICA-

AECID

/ IPA

AECID

Assistência e formação

de mulheres

processadoras

2 Buraco

Cabo

Ledo

Luanda IPA / INAIPIT PNUD

2 Namibe

Tombo

Namibe DNIIP / INAIPIT OGE

Tabela 5. Projectos planeados referentes aos abastecimentos e mercados da PA

Intervenção

Projectada

Quantidade Local Província Projecto Financiamento

Centro de

Descargas

Centralizado e

Lota

1 Luanda – Porto

Pesqueiro da

Boavista

Luanda DNIIP OGE

Centros de Salga

e Seca

8

(pela costa)

DNIIP OGE

Assistência e

formação de

mulheres

8 DNIIP /

INAIPIT

OGE

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processadoras

Centros de

Apoio à PA*

4+2+10 Egipto Praia,

Yembe,

Dambe Maria

Ambriz

Porto Aboim

(Gilco),

Salinas,

Sumbe,

Lobito,

Benguela,

Bengo

Kwanza Sul

Projecto de

Apoio ao

Sector das

Pescas

25 milhões USD –

BAD

5 milhões USD -

OGE

*Inclui:

Construção de 4 locais de desembarques de pescado (recaindo sobre grandes centros de desembarques),

contempla infra-estruturas de apoio à conservação e manuseamento do pescado (ex. máquinas de gelo e

câmaras de frio) e acessos; Reabilitação de 2 locais de desembarques;

Trabalhos complementares em 10 locais de desembarques;

Formação de Pescadores e Mulheres Processadoras em boas práticas de higiene, manuseamento e

conservação do pescado, e salga e seca.

Formação em gestão de infra-estruturas e gestão de recursos.

Instalação de Sistema de Monitorização de Embarcações (VMS) em 2 dos centros.

4.3.2 Projectos complementares de mercados

Em complemento dos projectos e intervenções acima identificados, verificam-se no terreno

algumas intervenções dos Governos Provinciais – Serviços Provinciais de Pesca e

Municípios. Não foi possível contactar nenhum representante destes serviços que não se

encontravam presentes aquando da visita aos locais de modo a poder fornecer o necessário

esclarecimento, excepto na intervenção relativa a Casa Lisboa.

Estas iniciativas em construção parecem consistir apenas de eventuais mercados do peixe e

produtos agrícolas, junto a alguns locais de desembarque. Nalguns locais parece também

existir estruturas para a secagem de pescado.

Nalgumas destas situações, segundo informação dos pescadores pensa-se que sejam mesmo

apontadas possíveis áreas para a 1ª venda do pescado. Os casos registados ainda em

construção encontram-se nos seguintes locais:

Buraco;

Casa Lisboa;

Cacuaco.

Para além destas iniciativas do Serviço Provincial, constatou-se também a existência de

promessas, negociações ou indicação de locais apontados para futuro desenvolvimento de

mercados, é o exemplo mais concreto o da deslocalização do chamado mercado dos

trapalhões para outra zona da Ilha de Luanda.

Sublinha-se que em qualquer uma das situações focadas não existiu consulta,

acompanhamento ou mesmo informação das obras em desenvolvimento com a autoridade

Central, DNIIP, ou mesmo com a instituição responsável para a promoção e apoio ao

desenvolvimento da PA, IPA, segundo informação de ambas as instituições, o que não se

compreende.

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Mercado Caccuaco

Mercados Ingombota e Buraco

Figura 1: Projectos complementares de mercados

Este facto demonstra que não existiu e não existe, aconselhamento, consulta, ou cruzamento

com as especificações e requisitos hígio-sanitários para o desenvolvimento destas infra-

estruturas, já que quem deveria ser contactado para o efeito não o foi, para além de não existir

uma interacção planeada para o desenvolvimento destas como seria suposto3. Acresce que a

auditoria a estas estruturas, em conformidade com os requisitos, também não se realiza, o que

seria suposto acontecer por parte do Departamento de Indústria Pesqueira, mesmo durante a

fase de construção como seria expectável, em particular com uma obra do Estado. Sobressaem

assim as deficiências de comunicação e articulação entre os serviços provinciais com as

estruturas centrais, bem como uma incorrecta aplicação da legislação.

4.3.3 Análise dos projectos implementados e em construção

Vários projectos têm sido implementados, por exemplo pelo BAD e AECID, e em vários

casos os Centros de Apoio às Pescas não estão operacionais ou estão pouco utilizados. As

principais razões identificadas para tal são:

Falta de interacção com as comunidades no momento de identificação e

planeamento do projecto, não parecendo estes responder às necessidades ou

3 Lembra-se que a DNIIP tem a atribuição e função de concepção, direcção, controlo e execução da política de infra-estruturas especializadas

de apoio às pescas, nos domínios portuário, industrial, reparação naval, conservação, transformação, distribuição e apoio à organização e

funcionamento das redes de comercialização e pesquisa de mercados internos e externos dos produtos da pesca e da aquicultura.

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entendimento da população local. Desta forma, considera-se que parte dos

problemas existentes deveriam ter sido previstos nas fases de identificação e

formulação das intervenções. Todavia, nos documentos de avaliação de alguns

destes projectos é afirmado, que apesar do reconhecimento de alguns dos

problemas identificados pelas comunidades gerado pela causa anterior, não se

compreende que a natureza destes problemas seja suficiente para justificar uma

inoperacionalidade dos projectos. Desta forma, não é entendida a não utilização

das novas infra-estruturas devido a causas que aparentemente poderiam ser

ultrapassáveis;

Problemas de manutenção dos equipamentos e infra-estruturas;

Gestão inapropriada ou inexistente;

Falta de preparação, capacitação e assistência dos beneficiários na gestão dos

centros, manutenção e funcionamento das infra-estruturas, administração, etc.

Falta de entendimento cooperativo ou capacitação para tal.

Insuficiente implementação das políticas existentes de ordenamento e controlo da

pesca.

O projecto, com financiamento do BAD, de construção de um Centro de Apoio à Pesca no

Buraco (ex-Samba), cuja actividade se iniciou no princípio do presente ano, constitui um bom

exemplo de projecto piloto em termos de infra-estruturas, cumprimento dos requisitos hígio-

sanitários e procedimentos adequados de processamento (de evisceração, salga, secagem e

armazenamento do pescado), todavia no que toca a funcionamento ainda está muito sub-

aproveitado atendendo aos seguintes aspectos:

O número de mulheres processadoras usando as instalações é diminuto dado o

total de mulheres que desenvolvem esta actividade na comunidade;

A actividade de processamento continua a realizar-se predominantemente fora do

centro construído, onde as condições hígio-sanitárias não são adequadas (onde

existe elevada frequência de animais – porcos, galinhas, cães) e muito inferiores às

condições criadas pelo centro;

O número de tarimbas para a secagem é verdadeiramente um número piloto. Será

necessário a construção de muitas mais, de modo a albergar as restantes mulheres

processadoras da comunidade;

Apenas um número diminuto de pescadores efectua as descargas e vendas nas

instalações desenvolvidas para este efeito, acontecendo apenas quando o pescado é

destinado para as mulheres que operam presentemente no centro;

A maquinaria de gelo e frio ainda não está a ser utilizada;

A gestão do centro, embora já decidida através de concurso público, ainda não se

iniciou, o que associado a uma falta de entendimento ou esclarecimento dos locais

parece confundir as pessoas e contribuir para não se realizar a total

operacionalidade do centro;

Os problemas gerais anteriormente identificados no funcionamento das

cooperativas verificam-se igualmente neste projecto.

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Centro de Apoio à PA do Buraco (Samba)

Figura 2: Projecto Piloto de processamento da PA – Buraco

No que respeita em particular a este projecto verificou-se durante a visita a este centro, que o

equipamento de aço inoxidável das mesas de evisceração e escala do pescado já está a ganhar

ferrugem, após 6 meses de instalação, o que revela a fraca qualidade do material. Esta

situação é indicadora de uma das seguintes causas, aquando da aquisição não se definiu

correctamente as especificações do equipamento, não foi devidamente controlado em função

das características após a compra, houve engano ou houve fraude.

A situação anterior acaba também por ser reveladora do que acontece com os equipamentos

em muitos projectos, algo que merece a concordância dos técnicos contactados. A baixa

qualidade dos equipamentos adquiridos através de fornecedores sem conhecimentos

adequados das características e especificações técnicas ou por simples disposição para obter

lucro fácil e elevado faz com que os equipamentos deixem de funcionar após um período de

tempo curto. Esta situação conjugada com a falta de manutenção, conhecimento adequado do

funcionamento dos equipamentos, falta de peças sobressalentes faz com que muitos

equipamentos novos passem a inoperacionais ou obsoletos em pouco tempo.

Por outro lado, alguns armadores / associações expressaram que os projectos implementados

são desenvolvidos em locais e comunidades sem um fluxo de actividade verdadeiramente

relevante, comparativamente com os locais principais de descargas como a Samba, Ilha

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Cacuaco que continuam a carecer de uma efectiva atenção. Neste contexto é defendido, que

para além do Porto da Boavista e da Lota a serem construídos, que supostamente serviria

principalmente a frota semi-industrial e industrial, seria essencial a existência disseminada ao

longo da costa da província de pelo menos 3 ou 4 pontos de desembarque de apoio directo à

PA. Estes referem-se principalmente às comunidades mais próximas da cidade de Luanda,

nomeadamente Cacuaco, Samba e Ilha, já que Buraco e Cabo Ledo mais distantes e

representando uma realidade diferente, já receberam intervenções de apoio.

4.3.4 Análise das intervenções projectadas para Luanda

a) Porto Pesqueiro da Boavista e Lota;

O projecto de construção de um centro de desembarque com lota e demais

infraestruturas de frio e gelo no porto pesqueiro da Boavista em Luanda existe há

cerca de uma dezena de anos, contudo parece que agora irá avançar. Tal projecto

pressupõe a centralização dos desembarques de pescado, principalmente dos

subsectores da pesca semi-industrial e industrial.

Embora, de acordo com a DNIIP, esteja equacionado que centralize também a

actividade da PA, deslocalizando de outras áreas de desembarque em Luanda, como a

ilha e eventualmente Samba e Cacuaco, a dimensão e operacionalidade do centro de

desembarque poderá inviabilizar esta opção. Não é assim, ainda claro como serão

organizadas as actividades em torno desta infra-estrutura.

Os objectivos subjacentes a esta obra visam cobrir as fragilidades de abastecimento de

pescado do sector da PA, designadamente:

Garantir os requisitos hígio-sanitários para as descargas, manuseamento,

preservação e venda em conformidade com a legislação e mercados de

exportação;

Possibilitar um registo de capturas fiável para o fornecimento de dados

estatísticos que proporcionem uma avaliação de recursos mais efectiva;

Garantir a rastreabilidade dos produtos da pesca;

Possibilitar a inspecção, licenciamento das embarcações e certificação das

capturas no âmbito dos controlos sanitários exigidos, potenciando o

abastecimento de estabelecimentos exportadores com pescado proveniente das

pescas semi-industrial e artesanal.

Uma análise estrita aos objectivos diria que estaríamos perante o projecto

efectivamente necessário e desejado para a resolução dos problemas do sector da PA.

Dos diversos contactos realizados parece existir uma abertura e concordância dos

diversos grupos, pescadores e compradores de pescado, neste projecto. Esta abertura é

clara ao nível das comunidades da Ilha do Cabo (Ingombota), dado que seria regressar

a algo que já existiu no passado. Ao nível de Samba e Cacuaco, embora não

existissem opiniões totalmente contra o projecto, foi expressado que as distâncias

destas comunidades ao porto pesqueiro da Boavista poderiam de alguma forma

tornarem-se obstáculo a uma total aderência. Todavia, também evidenciado pelos

inquiridos, foi o facto de que finalmente ter um porto com os requisitos há tanto

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desejados poderia ser muito bem visto para além de poder dinamizar o mercado de

uma forma que compensaria as eventuais distâncias. Apesar de tudo, também não é

descartada o desenvolvimento de centros pesqueiros menores nas comunidades em

causa para serviço e apoio das frotas locais.

b) Centros Pesqueiros complementarem ao projecto da Boavista;

Em complemento ao projecto da Boavista e à anterior análise efectuada há que

considerar o plano em implementação de construção e extensão da estrada marginal ao

mar, que passará também na Samba, inviabilizando qualquer construção de centro

pesqueiro nesta área. O impacte desta obra no sector desta comunidade, fará com que

seja certa uma deslocalização da frota bem como do local de descarga e venda do

pescado para outra área, com consequências difíceis de perspetivar através deste

trabalho, mas que podem passar pelo fim de actividade de várias embarcações.

O IPA e Ministério das Pescas parecem ter também em carteira um projecto de um

novo Centro de Apoio à PA na Ilha (Ingombota) a localizar-se na Salga onde já existiu

um centro pesqueiro e onde agora apenas existem ruínas e equipamentos obsoletos

para além de famílias que habitam o local. Este novo centro pesqueiro iria servir as

descargas da PA da frota de Samba e Ilha actuando como um claro complemento ao

Projecto Porto Pesqueiro da Boavista. Não se sabe até que ponto o desenvolvimento

deste centro compensaria o fim das actividades de pesca e comercialização na Samba.

O IPA tem tido a preocupação, em conjunto com os pescadores do Cacuaco, em

encontrar um terreno para planear igualmente a construção de um Centro de

desembarques para esta importante Comunidade, todavia tal tem-se revelado

infrutífero dada a ocupação do espaço, uma vez que a Lei da Terra impede ou dificulta

a respectiva aquisição, e interesses vários de outros sectores da economia neste local.

Este facto parece ser mesmo um dos principais obstáculos à dinamização da criação

dos necessários Centros Pesqueiros.

4.4 Caracterização da pesca artesanal ao nível nacional e província de Luanda

A PA caracteriza-se essencialmente por ser fonte de abastecimento do pescado do mercado

interno, principalmente das grandes cidades e comunidades litorais. Existem fluxos de

abastecimento para o interior do país efectuados por distribuidores e peixeiros que se

abastecem nas embarcações de PA nas principais províncias pesqueiras. Todavia, não existe

qualquer empresa a realizar exportações para fora de África, em particular para o mercado de

exportação Europeu com pescado proveniente da PA. A única e última empresa a exportar

para a UE produtos de pescado (lagosta) provenientes da PA realizou esta operação em 2008.

Actualmente, esta empresa de Luanda já não se encontra licenciada para o efeito,

principalmente por falta de exportações realizadas durante anos consecutivos.

O pescado da PA capturado em Luanda, fresco, congelado e seco, apesar de ficar

principalmente na província, segundo apontam as tendências pelo contacto realizado com

pescadores e vendedores, é também distribuído para fora da província, todavia não existem

quaisquer dados para quantificar este fluxo.

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Na tabela 6, apresentam-se os Perfis Nacional e da Província de Luanda para o sub-sector da

PA. A produção estimada caracteriza-se por uma variação entre cerca de 60 a 100 mil

toneladas/ano no período de 2008 a 2012 ao nível nacional, representando a província de

Luanda um valor de cerca de 21-28% do total, próximo das 15-20 mil toneladas/ano. No

cômputo nacional 75% dos recursos capturados são de demersais e pelágicos, distinguindo-se

os demersais por constituírem apenas mais 5% que o total da captura de pelágicos. Os outros

recursos, incluem os crustáceos com estes a representarem 11% da captura total. No grupo

dos cefalópodes choco e lula são os mais comuns, sendo que não existe pesca dirigida ao

polvo por não ser apreciada pelo consumidor Angolano, embora já se registe uma evolução

para satisfazer a comunidade Chinesa imigrante.

Em 2012, a frota do sector era constituído por cerca de 1800 canoas (23% da frota), 3000

chatas sem motor e 2700 com motor (respectivamente 38 e 34% da frota) e apenas 376

catrongas - embarcações cabinadas (5%), de um total de cerca de 7800 embarcações.

O perfil apresentado pelo sector da PA na província de Luanda faz com este seja considerado

uma das zonas mais importantes do país com 24% das capturas em 2012 (14.678 t) e 28% dos

pescadores registados (7 mil). As Províncias de Luanda e Benguela representam metade da

frota artesanal (respectivamente 23 e 30%), enquanto que cada uma das restantes Províncias

litorais caracteriza-se por constituírem fatias de 6 a 12% da frota. É todavia, ao nível da frota

motorizada que estas 2 províncias se destacam ainda mais com proporções respectivamente de

58 e 47% (Tabela 7).

Luanda com 130 catrongas possui cerca de 1 terço da frota nacional cabinada e cerca de 1

quarto das chatas com motor, apesar de também possuir ainda 1 quarto das chatas sem motor

e 1 quinto das canoas. Todavia do total nacional, estas apresentam eficiências de captura

diferentes com as chatas com motor a mostrar um peso maior para o total nacional, quando

comparado com a proporção numérica de embarcações. Por outro lado, as embarcações sem

motor mostram eficiências relativas mais exíguas. As catrongas em Luanda representam cerca

de 1 quarto das capturas, enquanto que as chatas com motor representam valores próximos de

1 terço. As chatas sem motor e canoas representam respectivamente 1 quinto e 1 sétimo das

capturas nacionais.

Dentro da província de Luanda, regista-se uma frota de 1800 embarcações, composta de 42%

de embarcações motorizadas, sendo 7% cabinadas. As chatas sem motor representam 40% da

frota e as canoas 18%.

Tabela 6. Proporção provincial (%) da frota nacional por tipo de embarcação e pescadores

RESUMO CARACTERIZAÇÃO DA PESCA ARTESANAL NA PROVÍNCIA DE LUANDA

CAPTURA ESTIMADA (ton) 2008 2009 2010 2011 2012

TOTAL País 105.176 96.819 102.038 66.798 60.150

Província Luanda 22.691 12.036 21.779 18.773 14.678

% Prov. Luanda 22 12 21 28 24

Municípios Luanda 2010 % 2012 %

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Cacuaco 4.680 21 2.795 19

Luanda (Ingombota) 5.500 25 6.212 42

Belas (Samba) 11.599 53 5.672 39

EMBARCAÇÕES (Nº) – 2012 Canoa Chata s/m Chata c/m Catronga Total

TOTAL País 1792 2940 2684 376 7792

Província Luanda 320 728 622 130 1.800

% Prov. Luanda 18 25 23 35 23

Municípios Luanda % % % % %

Cacuaco 36 11 80 11 272 44 38 29 426 24

Luanda (Ingombota) 44 14 40 5 48 8 54 42 186 10

Belas (Samba) 240 75 608 84 302 49 38 29 1.188 66

Captura estimada por tipo de emb. (ton) Canoa Chata s/m Chata c/m Catronga Total 2012

% % % % Total País 5.693 10 11.507 19 25.294 42 17.656 29 60.150

Província Luanda 793 5 2.262 16 7.337 50 4.287 29 14.678

2010

Total País 9.390 9 17.939 18 46.474 46 28.236 27 102.038

Província Luanda 1.466 7 3.868 18 10.030 46 6.414 29 21.779

Captura anual média estimada por tipo de emb. (ton) - 2012

2,5 3,1 11,8 33,0

Captura estimada por tipo de arte de pesca (ton) - 2012 Linha % Emalhar % Cerco %

Total País 14.623 24 27.731 46 17.795 30

Província Luanda 3.144 21 7.180 49 4.356 30

PESCADORES / MULHERES Cacuaco Luanda

(Ingombota) Belas (Samba) Total Pescadores %

P M P M P M País 25.053

Província Luanda 1.983 121 1.122 ? 3.895 >85 Luanda 7.000 28

% Prov. Luanda 28 - 16 - 56 -

Relatório Técnicos do IPA, Controlo Estatístico das Capturas e do Esforço de Pesca do Subsector Artesanal, 2010 – 2012; Dados recolhidos por amostragem aleatória nos locais de desembarque das pescarias.

Tabela 7. Proporção provincial (%) da frota nacional por tipo de embarcação e pescadores

2012 Canoa Chata s/m Chata c/m Catronga Total Pescador

Total País 1792 2940 2684 376 7792 25053

Luanda (%) 18 25 23 35 23 28

Namibe (%) 22 14 5 9 12 12

Benguela (%) 18 39 29 18 30 20

Kwanza Sul (%) 1 12 21 5 12 21

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Bengo (%) 1 6 8 13 6 8

Zaire (%) 23 4 7 14 10 5

Cabinda (%) 16 1 6 6 6 6

A frota motorizada em Luanda representa cerca de 80% da produção provincial com cerca de

12,6 mil toneladas em 2012 (das quais cerca de um terço proveniente de catrongas) de um

total nacional de 43 mil toneladas (tabela 8). Apesar de em todas as províncias o segmento

motorizado representar valores de captura relativa na província acima dos 63%, é na província

de Luanda que esta proporção é maior.

Tabela 8. Distribuição da Captura Total (t) por tipo de embarcação por província

2012 Total Canoas % Chatas s/motor

% Chatas c/motor

% Catrongas %

Total País 60.150 5.693 10 11.507 19 25.294 42 17.656 29

Luanda 14.679 793 5 2.262 16 7.337 50 4.287 29

Zaire 7.132 836 12 1.471 21 2.862 40 1.964 27

Bengo 2.645 179 6 475 18 1.310 50 682 26

Kwanza S 10.258 1.236 12 2.710 26 4.177 41 2.135 21

Benguela 17.204 1.899 11 3.190 19 6.040 35 6.076 35

Namibe 5.474 511 10 970 18 2.315 42 1.678 30

Cabinda 2.757 239 9 430 16 1.253 45 834 30

2010

Total País 102.038 9.390 9 17.939 18 46.474 46 28.236 27

Luanda 21.779 1.466 7 3.868 18 10.030 46 6.414 29

Em 2010 na província de Luanda verifica-se que a proporção das capturas por segmento

apresenta um perfil bastante idêntico ao registo nacional, apenas variando em 2 pontos para

baixo no segmento das canoas e 2% para cima nas catrongas. Em 2012 a diferenciação é já

bastante maior com as chatas a motor a apresentarem mais 8% que a proporção nacional e

menos 5% nas canoas. Nas catrongas Benguela salienta-se com mais 6% que a proporção

nacional enquanto em Luanda o valor é igual (29%).

A caracterização dos pesos das capturas por arte de pesca evidência o mesmo perfil em todas

as províncias (Tabela 9). As capturas por linha de mão representam uma proporção ao nível

nacional de 24%, apresentando dentro da província de Luanda a proporção mais baixa (21%)

e no Zaire e Bengo a mais elevada (31%). A arte de emalhar apenas em Benguela se afasta

bastante da proporção nacional de 46%, com menos 12%. Nas outras províncias a captura por

arte de emalhar varia entre os 49% (Luanda) e os 54%. A proporção de captura com a arte de

cerco em Luanda é a mesma que ao nível nacional (30%), enquanto que nas outras províncias

varia entre os 18 (Bengo e Zaire) e os 44% (Benguela), não existindo dados disponíveis para

Cabinda.

Fazendo a comparação entre 2010 e 2012 regista-se que as capturas por arte de redes de

emalhar teve uma proporção superior de mais 5% (51%) embora em Luanda tivesse sido

inferior em 2 pontos (47%).

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Embora os dados de capturas amostrados sejam em função da arte utilizada no momento do

registo e portanto daí resultando uma estatística fidedigna das capturas por arte de pesca,

convém no entanto referir, que não existe referência à identificação à multi-utilização de artes

de pesca pela mesma embarcação, o que poderia potenciar a análise dos rendimentos dentro

de cada segmento face às artes de pesca.

Tabela 9. Captura total (t) por Artes de pesca em 2012.

Total Linha % Emalhar % Cerco %

Total 60.150 14.623 24 27.731 46 17.795 30

Luanda 14.679 3.144 21 7.180 49 4.356 30

Namibe 5.475 1.333 24 2.966 54 1.176 22

Benguela 17.204 3.793 22 5.859 34 7.553 44

Kwanza Sul

10.258 2.486 24 5.310 52 2.462 24

Bengo 2.645 812 31 1.342 51 492 18

Zaire 7.132 2.185 31 3.629 51 1.318 18

Cabinda - - - - - -

2010

País 102.038 23.083 23 52.320 51 26.635 26

Luanda 21.779 4.400 20 10.294 47 7.084 33

É na análise da Tabela 10, das capturas médias por embarcação que realmente se verifica uma

grande disparidade dos números, como por exemplo 53,7 t por canoa no Kwanza Sul

enquanto que nas outras províncias este valor ronda as 0,8 - 2,5 t (Cabinda, Luanda, Namibe e

Zaire), 9 t no Bengo e 6 em Benguela. No segmento das chatas sem motor as capturas ficam-

se por 2,4 a 3 t (Namibe, Bengo, Benguela e Luanda), disparando para 7,8 t no Kwanza sul,

11,8 t no Zaire, e 15,9 t em Cabinda. Nas Chatas com motor verifica-se uma média a rondar

as 6 a 8 t em Bengo, Benguela, Kwanza sul e Cabinda; com 11,8 t a 14,8 t em Luanda e Zaire,

destacando-se no Namibe a captura média de 17,8 t. No segmento das catrongas o Zaire

apresenta o valor médio mais baixo de 13,6 t, seguido de Luanda com 33 t, Zaira e Cabinda

com 38 t, Namibe 48 t, disparando Benguela e Kwanza sul para respetivamente 89 t e 112 t.

O cruzamento do valor apresentado para as chatas com motor em Luanda (cerca de 12/t/ano)

com a informação proveniente de armadores que fazem, segundo informação deles próprios

uma actividade a 100%, isto é durante todo o ano, apresenta também uma disparidade de

menos 5 t/ano. Estes factos revelam a necessidade de rever os números, bem como talvez o

próprio programa de amostragem e estimativas de captura.

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Tabela 10. Captura total média por embarcação por segmento por província

2012 - (t) Canoas Chatas s/motor

Chatas c/motor

Catrongas

Total 3,2 3,9 9,4 47,0

Luanda 2,5 3,1 11,8 33,0

Zaire 2,0 11,8 14,8 37,8

Bengo 9,0 2,7 5,9 13,6

Kwanza S 53,7 7,8 7,3 112,4

Benguela 5,9 2,8 7,7 89,4

Namibe 1,3 2,4 17,8 47,9

Cabinda 0,8 15,9 7,9 37,9

A disparidade de valores apresentada pode ser compreendida pelas limitações das estatísticas

e seu plano de amostragem e/ou por falta de entrada do factor nível de actividade de cada

embarcação, isto é, do esforço de pesca realizado em número de dias efectivos de pesca

realizado ao longo do ano, ou ainda por falta de diferenciação do poder de captura das

embarcações atendendo a outras características, como a potência de motorização, aparelhos

auxiliares, etc.

4.4.1 Caracterização social da pesca artesanal na província de Luanda

Na caracterização social efectuada, os pescadores da província de Luanda são cerca de 7.000,

representando 28% dum total de 25.000 pescadores registados ao nível nacional. Os números

de mulheres processadoras e peixeiras na actividade, 121 para Cacuaco e superior a 85 para

Samba, enquanto para Ingombota não há dados, não são ainda fidedignos já que se observa

em cada um dos locais uma movimentação de pessoas aparentemente muito superior.

Samba integra quase 3.900 pescadores, enquanto Cacuaco, cerca de metade deste número e

Ingombota 1.100, ou seja respectivamente 56, 28 e 16% da Província. Desta distribuição

poder-se-á entender a forma como a frota na Província indicia uma especialização e

concentração de frota motorizada em Cacuaco e Samba, 73 e 78%, com uma partilha idêntica

de 29% no segmento das catrongas, todavia em complemento Samba possui ainda 75% de

canoas e 84% das chatas sem motor.

4.5 Análise e Resultados das Saídas de Campo

A apresentação de resultados e respectiva análise que se faz seguidamente consistem

principalmente na:

Análise da actual cadeia de abastecimento e situação do mercado nas áreas

selecionadas, incluindo a identificação das técnicas adoptadas de conservação,

manuseio e processamento de pescado;

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Identificação dos problemas que afectam o processamento e sistema de

comercialização.

4.5.1 Cooperativas e organização

Todas as Cooperativas contactadas apresentam uma representatividade e dimensão diminuta,

sendo em geral compostas por 12 a 28 indivíduos, nalguns casos simplesmente um grupo de

familiares. A voz reivindicativa destas cooperativas pode considerar-se bastante limitada.

Este exemplo pode observar-se numa das áreas principais de pesca – Cacuaco, incluindo

Barra do Bengo (caracterizada por 20% das capturas, 24% da frota total com 42% das chatas

com motor e 30% das catrongas, e 28% dos pescadores) que é representada por 3

cooperativas, totalizando 56 membros de um Universo de 210 armadores (pressupondo que

em média cada armador tenha 2 embarcações).

Entende-se, que esta situação deriva de uma política Governamental de constituição de

pequenos grupos (Cooperativas) para atribuição e operação de uma embarcação de PA. Em

complemento constituíram-se associações (grupos de Cooperativas), todavia parecem

irrelevantes. Por outro lado, a constituição de Organizações de Produtores é inexistente.

A organização e funcionamento das cooperativas caracteriza-se na realidade como uma

empresa de sociedade anónima, onde apenas se verifica partilha dos recursos do património

estrito da cooperativa (empresa), isto é, comum um sócios. Esta organização compreende

assim, que os membros da Cooperativa possuem individualmente o seu negócio e actividade

pessoal, e em complemento partilham um negócio comum enquadrado pelo regime da

cooperativa. As actividades individuais dos seus membros são da estrita responsabilidade e

gestão de cada um. As capturas individuais realizadas por cada membro, usando as

respectivas embarcações pessoais são comercializadas por cada individuo individualmente,

sem qualquer interacção pelo grupo ou benefício, para a ou da cooperativa. No caso em que a

cooperativa tem algum património ou embarcação esta á gerida de modo a que no final do

ano, caso existam lucros, estes são reinvestidos no património comum da cooperativa ou

simplesmente distribuídos entre os seus membros.

O espírito cooperativista inerente ao funcionamento das cooperativas não existe de todo, não é

entendido como tal ou é ainda considerado com desconfiança pelos membros que compõe a

cooperativa ou indivíduos fora da cooperativa. Alguns armadores não pertencentes às

cooperativas entendem mesmo que estas servem apenas os interesses de um grupo restrito,

onde não se revêm por amizades ou negócios. Por outro lado, é também dito que estas são

fechadas não interessadas em incorporar outros membros.

Apesar de tudo, constata-se que as cooperativas existentes fazem de elo de ligação entre o

IPA e as comunidades, servindo de veículo de transmissão de informação e de contactos e por

vezes até, de promotor de algumas acções abertas à comunidade piscatória, por exemplo,

acções de formação e reuniões.

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Associado a estes aspectos, identificou-se que não existe em Angola uma regulamentação

para o funcionamento e desenvolvimento de cooperativas, incluindo desenvolvimento de

estatutos, que são mesmo inexistentes nas cooperativas contactadas. Isto representa uma

lacuna organizacional importante, já que uma das limitações para o desenvolvimento das

cooperativas reside na falta de orientação e acompanhamento de que as pessoas sentem falta.

Uma das causas para tal relaciona-se com um baixo nível de educação dos indivíduos, a falta

de habilitações e de capacitação específica, designadamente em:

Cooperativismo e associativismo;

Gestão;

Administração, informática e contabilidade, cujas áreas podem contudo, ser

colmatados pela contratação de técnicos.

4.5.2 Comerciantes de pescado e mercados de primeira / segunda vendam

Esta actividade é substancialmente dominada por mulheres peixeiras, ambulantes e de

bancada nas praias de descarga principais ou em zonas denominadas como mercados sem

quaisquer condições de apoio.

A organização dos comerciantes, peixeiras ambulantes e de banca, não compreende qualquer

tipo de organização e de representação formal. Todavia, existe incorporação de

compradores/vendedores de pescado nas pequenas cooperativas de armadores de pesca.

Ao nível dos grupos de peixeiras existem as líderes de grupo que são apenas uma voz de

comando organizativa do grupo ou de alguma representatividade do grupo perante pessoas de

fora, todavia sem qualquer relação com os aspectos individuais do negócio sobre os quais

cada um trata do seu assumindo os custos e rendimentos individualmente. Não existe qualquer

tipo de cooperativa ou espírito de cooperador no âmbito das actividades ou organização. A

organização informal de grupo serve para defender o seu espaço relativo, a aquisição de gelo

o aluguer de transporte quando necessário, mas sempre de uma forma em que cada indivíduo

assume os seus custos relativos.

A actividade dos comerciantes de pescado, bem como da PA caracteriza-se por um perfil

totalmente informal. Aparentemente, existe ou existiu em tempos uma identificação, tipo

cadastro profissional para a actividade, todavia não se conseguiu perceber a obrigatoriedade e

implementação e controlo desta. De qualquer forma, esta parece não influenciar o caracter de

informalidade do mercado. No que toca às peixeiras ambulantes a maioria realiza uma

actividade diária, quase que de sobrevivência, onde transacionam um alguidar de peixe por

dia que representa aproximadamente: 25/30 sardinhas (cerca de 6 kg) - 200 kz na compra no

barco e 500-600 kz na venda ao consumidor.

Ao nível de infra-estruturas de apoio estas são basicamente inexistentes. Em geral, não

possuem câmaras de frio, transporte próprio ou bancadas de material apropriado, embora

tentem minimizar estas lacunas com arcas frigoríficas velhas a servir de caixa isotérmica,

utilizem tampos de mesas em pvc para as bancadas e usem alguidares e caixas de plástico em

geral em bom estado de conservação e sem sujidade evidente. O acesso a água potável ou a

água limpa na maior parte das vezes é limitado ou mesmo inexistente.

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A qualidade microbiológica dos produtos vendidos é bastante pobre pela contaminação do

produto principalmente por água contaminada aquando da descarga do peixe e primeira venda

(para mais detalhes ver ponto 5.5.3.e), o que configura problemas de segurança alimentar

evidentes. Para além destes, existem outros potenciais problemas de segurança alimentar

associado aos produtos vendidos pelas peixeiras, como seja o desenvolvimento de histamina,

que é impossível de eliminar após processamento ou o peixe ser cozinhado. A histamina

encontra-se em particular associada a peixes como a sardinha, cavala, e família dos tunídeos

que são ricos no amino-ácido histidina, resultando a histamina numa degradação enzimática

por acção bacteriana da histidina. A falta de frescura do peixe é indicativo do potencial

desenvolvimento da histamina, sendo assim resultante de uma má conservação, exposição a

altas temperaturas ambientais, exposição directa ao sol, ou seja, falta de refrigeração desde o

momento de captura até chegar ao consumidor. Por outras palavras, quebra da cadeia de frio

em qualquer etapa desde o momento de captura4 até ao consumidor.

A actividade particular das peixeiras caracteriza-se da seguinte forma:

a) Peixeiras ambulantes;

Quando compram o pescado aos pescadores depositam-no na praia sobre um plástico

ou lona para prepararem o acondicionamento para transporte. Todavia, este plástico é

habitualmente pisado por elas e usam água contaminada dos locais de desembarque.

Em geral não usam gelo. Transportam o peixe num alguidar à cabeça, colocando o

pescado envolto num pano, aparentemente limpo. Transportam-se a si e ao peixe em

táxis informais (automóveis ligeiros ou carrinhas de caixa aberta) que utilizam uma

lona na área de bagageira. Em geral, vendem o pescado no próprio dia, no máximo até

4 horas após a sua compra. Vendem pelas ruas em áreas específicas da cidade. Podem

no entanto existir peixeiras que vendem em maior quantidade para encomendas ou

clientes específicos para o que alugam carrinha (isotérmica ou de caixa aberta,

dependendo da exigência dos clientes – restaurantes e hotéis);

Peixeiras

4 Considera-se desde o momento de captura pois o desenvolvimento da histamina pode iniciar-se com a arte de pesca ainda dentro de água,

caso o tempo de permanência submergida seja demasiado. Pode ser o caso para a pesca com rede de emalhar e em especial em zonas

tropicais onde a temperatura da água do mar e temperatura ambiente são relativamente elevadas.

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P. Ambulantes

P. de Bancada na

praia de descarga –

Mabunda (Samba)

P. num mercado

informal por elas

organizado na

Chicala cujo espaço

foi cedido pelo

Município para o

efeito (Ingombota)

Figura 3: Peixeiras de Samba e Ingombota

b) Peixeiras de bancada;

Podem estar imediatamente localizadas no local de desembarque ou noutra área da

cidade. No último caso procedem ao transporte da mesma forma que fazem as

peixeiras ambulantes.

Pagam uma “taxa” diária de 200 a 500 kwanzas pelo espaço de praia usado (Samba),

cobrado por alguém que se intitula dono ou tem a seu cargo aquele espaço pertença do

Governo. Outros serviços, como transporte de pescado com carrinho de mão, escamar

pescado, colocação de lona sobre a areia, também são cobrados.

Na actividade diária das peixeiras, verifica-se que usam água contaminada, o gelo para

conservação enquanto pescado não é vendido é de relativa boa proveniência mas a

forma de transporte e armazenamento vem a contamina-lo. A exposição ao sol é

absoluta, sem qualquer tipo de protecção. O pescado exposto para venda nunca se

encontra em gelo. O desenvolvimento potencial de histamina em sardinhas, cavala,

tunídeos e mesmo no carapau é elevado.

Pescado não vendido no dia é colocado em arcas frigoríficas velhas com gelo, por

vezes com excesso de capacidade o que pode apertar demasiado o peixe ou efectuar

demasiado peso sobre as camadas inferiores. Existem também casos de recorrerem a

estabelecimentos com arcas frigoríficas funcionais mas que conservam o pescado em

temperaturas negativas de conservação não inferiores a -10ºC, o que significa que o

pescado sairá congelado mas nunca da forma correcta e de acordo com os requisitos.

Pescado congelado desta forma nunca conseguirá atingir a meta de -18ºC no centro

térmico do produto, para além de que uma congelação no intervalo dos -0ºC a -5ºC a -

10ºC resulta numa congelação lenta do produto afectando negativamente a sua

qualidade. Após este tipo de conservação, o pescado volta ao mercado no dia(s)

seguinte(s) sofrendo uma descongelação durante o processo de venda, e/ou uma série

sucessiva de congelações e descongelações caso continue a não ser vendido. Os

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materiais de contacto do pescado nem sempre são aceitáveis, existindo por vezes

bancadas de madeira exposta e em más condições.

c) Distribuidores / comerciantes registados;

A distribuição de pescado proveniente da PA por comerciantes fornecedores de

pescado a supermercados, algumas peixarias, hotéis e restaurantes já se realiza com

veículos isotérmicos com ou sem refrigeração, apresentando condições e práticas em

conformidade com os requisitos. Esta situação deve-se em particular às exigências do

mercado, isto é dos clientes.

4.5.3 Locais de desembarque principais, embarcações, pescadores e mulheres

processadoras

Os locais de desembarque principais, nomeadamente Mundial (Cacuaco), Casa Lisboa

(Ingombota), Mabunda (Samba) são caracterizados por:

a) Ambiente geral e zona envolvente:

Os locais de desembarque foco do estudo, em particular Mundial e Mabunda

encontram-se simplesmente numa praia, sem qualquer limitação ou restrição de

acesso. Estas praias, aglomeram ajuntamentos maciços de gente e animais nos locais

específicos da descarga e venda, bem como em volta destes. Para além do fluxo e

número elevado de peixeiras ambulantes e de banca, pescadores, embarcações e até

veículos, processamento de peixe com evisceração, salga e seca, encontra-se ainda

nesta confusão todos os tipos de actividades genéricas características de feiras e

mercados generalistas, seus compradores e todo o tipo de produtos a serem vendidos

(carne, vegetais, animais), tendas de comes e bebes, barbearias, cabeleireiros, entre

outros. Os resíduos líquidos e sólidos resultantes destas actividades são evidentes, há

acumulações de lixo, venda de animais, para além de cães, gatos, galinhas, e cabras, e

dejectos diversos. A água na linha de costa encontra-se nitidamente contaminada.

Apesar da presença permanente do SNFPA não se detecta qualquer resultado evidente

para contrariar os problemas descritos.

Ingombota – Casa Lisboa

Local de descarga e Mercado em construção

Figura 4: Área envolvente e local de descarga da PA na Ilha de Luanda

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b) Infra-estruturas:

Estes locais de desembarque são completamente desprovidos de qualquer infra-

estrutura de apoio. A única excepção poderá considerar-se a existência de

produtores/fornecedores de gelo nas proximidades destas áreas.

Em Casa Lisboa, está a ser construída uma infra-estrutura coberta com bancadas de

cimento, mas parece que será para ser um mercado retalhista de pescado e produtos

agrícolas, embora esteja localizado praticamente em cima da área onde se realizam os

desembarques e 1ª venda do pescado. O IPA não está enquadrado na sua construção,

pertencendo esta intervenção à Direcção provincial.

c) Gelo:

Gelo em escama – (Ingombota e Barra do Bengo)

Figura 5: Produção e fornecimento de gelo em escama

O gelo em escama é utilizado de forma generalizada pelos pescadores. A sua

utilização é globalmente pretendida pelos vários agentes e correctamente entendida

como sendo uma das formas mais eficazes e eficientes de refrigerar o pescado. Em

contraposição o gelo em bloco parece estar praticamente fora de uso na província de

Luanda, sendo-lhe reconhecida a dificuldade de o partir para uma dimensão

apropriada para obter uma boa refrigeração.

Existem infra-estruturas de gelo, privadas de uma forma generalizada e com diferentes

produtores e fornecedores nas várias comunidades.

A água utilizada parece sempre ser água canalizada da rede de abastecimento pública,

todavia sem qualquer tipo de controlos ou registo de análises microbiológicas e

químicas por parte do produtor de gelo. Também não existe na entrada de água no

estabelecimento, monitorização do cloro residual reactivo resultante dos tratamentos

de cloro que a água recebeu.

Num dos estabelecimentos visitados, o gelo apresentava bom aspecto, os utensílios

são apropriados e o gelo é produzido e acondicionado em câmara adequada, embora

tenha painéis de contraplacado tipo nórdico já com algumas falhas de revestimento em

contacto com o gelo.

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Habitualmente, vê-se no fornecimento de gelo às embarcações e peixeiras, sacos de

gelo adequados e visivelmente limpos, apesar do gelo poder ser transferido quando

chega às peixeiras, para outros contentores e sacos não limpos ficando sujo e

contaminado. Em muitos destes estabelecimentos os trabalhadores que fornecem o

gelo, pisam o gelo e usam as mesmas botas com que caminham no piso exterior (que

normalmente tem terra e poeira) na zona de armazenamento do gelo.

d) Embarcações:

As embarcações são na sua grande maioria de madeira. No caso das chatas com motor

possuem o comprimento mais comum de 8m. Uma boa parte destas apresenta-se em

boas condições com madeira tratada, evidenciando alguma higiene, e com zonas de

separação para a preservação do pescado. Os utensílios como caixas de pvc em geral

estão em boas condições, apesar de alguns usarem caixas de plástico de superfícies

recortadas e estriadas vulgarmente usadas para agricultura que podem danificar e ferir

o pescado. O transporte de gelo para a embarcação pode constituir forma de

contaminação pelo contacto nos veículos e receptáculos de transporte. Utilizam

exclusivamente gelo em escama.

A composição das tripulações varia consideravelmente de dia para dia, mantendo-se

normalmente apenas o mestre, o que gera problemas de definição e cumprimento de

regras e rotinas.

e) Condições de manuseamento e conservação na pesca e na descarga:

Na pesca de 1 dia no mar (isto é cerca de 12h), não há uso de gelo ou este é utilizado

aparentemente em quantidades insuficientes já que à chegada das embarcações não se

viu gelo. O peixe é colocado no fundo da embarcação e coberto ou não por lona.

Algumas embarcações, utilizam arca isotérmica para o seu acondicionamento- a velha

arca frigorífica (do tipo doméstica ou de estabelecimentos de peixaria).

Chata a motor

Figura 6: Embarcações de PA e respectivas arcas de conservação do pescado

Na pesca de vários dias de mar (em média 8), são usadas por embarcação 3 a 5 arcas

dependendo do comprimento da embarcação e o peixe é acondicionado em gelo. O

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pescado não é eviscerado. Em geral as arcas não apresentam sinais de ferrugem no

interior e nota-se a existência de cuidados de bom acondicionamento e conservação do

pescado. Apesar de se registarem diferenças de qualidade significativas entre o

pescado capturado nos primeiros dias e o dos últimos dias da pescaria, algo que é

efectivamente reconhecido pelos pescadores, não existe variação de preço entre as

diferentes qualidades do pescado. Também, é assumido pelos pescadores que estes

misturam a pesca de modo a não ser tão notória as diferenças de qualidade do pescado.

Na pesca, usando a arte de rede de emalhar, verifica-se que a rede fica montada cerca

de 8 horas em média. Existe uma clara diferença de qualidade do pescado entre aquele

que foi capturado no início da pesca e aquele que foi capturado próximo da alagem da

rede, que é reconhecida pelos próprios pescadores. A este facto acresce o problema

potencial de desenvolvimento da histamina com o peixe ainda dentro de água, visto

que a sua temperatura pode ser suficientemente alta para despoletar a sua formação5.

Na descarga são usados cestos, caixas de plástico, ou é realizada à mão. Podem

utilizar-se também carrinhos de mão metálicos, todavia habitualmente com ferrugem e

em más condições de higiene. É habitual existir lavagem do pescado e das

embarcações e caixas usando as águas da baía ou da praia, onde há claramente água

contaminada, esgotos próximos e acumulações consideráveis de lixo. Em Casa Lisboa

dá-se até o exemplo inexorável de se ter uma boca de esgoto a desaguar a céu aberto a

cerca de 7 m da linha de água e a cerca de 30 m do mercado em construção.

Cacuaco - Mundial

5 Lembra-se que a histamina encontra-se em particular associada a peixes como a sardinha, cavala, e família dos tunídeos que são ricos no

amino-ácido histidina, resultando a histamina numa degradação enzimática por acção bacteriana da histidina. A falta de frescura do peixe é indicativo do potencial desenvolvimento da histamina, sendo assim resultante de uma má conservação, exposição a altas temperaturas

ambientais, exposição directa ao sol, ou seja, falta de refrigeração desde o momento de captura até chegar ao consumidor.

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Barra do Bengo Peixeiras Mundial Saída de peixeiras de Cacuaco

Figura 7: Actividades de descarga, venda, processamento da PA no Cacuaco

Na Casa Lisboa dá-se até o exemplo inexorável de se ter uma boca de esgoto a

desaguar a céu aberto a cerca de 7 m da linha de água e a cerca de 30 m do mercado

em construção. Segundo os locais este esgoto foi criado à cerca de 4 anos com a

construção de um novo empreendimento e marina para os quais não foi acautelado o

impacte ambiental que o esgoto teria para o local onde se faz primeira e segunda

venda da pesca. Todavia não é certo se este esgoto não desaparecerá após retirado o

estaleiro das obras.

O INIP realizou, na área de desembarques de pescado de Samba, um estudo da

qualidade microbiológica do pescado e indirectamente da água do mar nas zonas de

descarga. A amostragem realizou-se em diversos pontos durante a descarga e após,

incluindo as actividades de venda. De um modo geral todas as amostras revelaram

contaminação dos microrganismos patogénicos pesquisados (Salmonella, E. coli,

Estreptococcus fecais, clostridios sulfito-redutores) reveladores e indicadores de

falta de higiene e contaminação fecal. Os valores de contaminação acima dos

limites regulamentares, foram sempre superiores nas actividades realizadas após

a manipulação em que houve uso da água do mar e contacto nas estruturas

usadas pelas peixeiras.

f) Processamento artesanal, salga e seca de pescado:

O processamento artesanal realizado por mulheres processadoras junto aos locais de

desembarque de Samba, Cacuaco e comunidade de Buraco (fora do novo centro de

apoio à pesca) caracteriza-se por condições hígio-sanitárias paupérrimas. A salga

realiza-se em condições imundas, em tanques de cimento degradados e muito sujos,

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evidenciando que não são limpos e lavados após as operações de salmoura. As

salmouras provavelmente sucedem-se umas às outras com acrescento de sal. Não foi

visto onde as vísceras são depositadas.

Na secagem, o pescado é colocado sobre mantas, tapetes ou redes sobre a terra ou

areia. Também é colocado em tarimbas feitas de paus. Na proximidade e sobre este

pescado existem cães, gatos, galinhas e porcos, bem como lixo.

Acresce, que existem evidentes problemas de qualidade do produto associados a

fungos / bolores por causa da demora de distribuição do produto ou por deficiente

secagem por falta de arejamento integral do produto enquanto exposto ao sol, em

particular quando este é colocado no chão. Para além do mais existem potenciais

problemas de segurança alimentar dos produtos sardinha e tunídeos, como seja o

desenvolvimento de histamina6, que não é eliminada durante a secagem ou após o

peixe seco ser cozinhado. As más práticas de evisceração, de salmoura com exposição

longa ao sol antes do processo de secagem propriamente dito podem levar ao

desenvolvimento acelerado da histamina. Este problema pode também afectar

nalguma extensão outras espécies como o carapau, entre outros.

Outro local de desembarque principal encontra-se no Buraco (ex-Samba). Neste local assiste-

se a uma actividade dirigida ao processamento artesanal de salga e secagem do pescado,

embora também exista desembarques de pescado fresco.

Na Comunidade do Buraco verificaram-se também as condições de manuseamento e

conservação efectuadas pelos pescadores. A pesca faz-se como pesca diária ou principalmente

como pesca de campanhas compridas de 14 a 22 dias (em chatas) onde o pescado é escalado,

salgado e acondicionado envolto por baixo e por cima por lona de plástico preto, protegendo o

pescado do contacto directo da madeira da embarcação e das actividades diárias na

embarcação. Na actividade de processamento no interior do Centro de Apoio às PA verificou-

se que o produto processado evidenciava ter sido usada matéria-prima bastante fresca e bem

manipulada, minimizando bastante o eventual desenvolvimento de histamina.

Samba - Mabunda

6 Lembra-se que a histamina encontra-se em particular associada a peixes como a sardinha, cavala, e família dos tunídeos que são ricos no

amino-ácido histidina, resultando a histamina numa degradação enzimática por acção bacteriana da histidina. A falta de frescura do peixe é indicativo do potencial desenvolvimento da histamina resultante de uma má conservação, exposição a altas temperaturas ambientais,

exposição directa ao sol, ou seja, falta de refrigeração desde o momento de captura até chegar ao consumidor.

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Figura 8: Actividades de descarga, venda, processamento da PA na Mabunda

Os preços registados aquando das visitas revelaram os valores médios apresentados na Tabela

11:

Tabela 11. Preços médios registados na primeira e segunda venda de pescado

Espécie Nº de

peixes

Preço Kw

no barco

Preço (Kw) para

consumidor na praia

Peso estimado

(kg)

Local

Sardinha

7-8 50 1,5 Mabunda

5-6 100

7 20 1,5 Mundial

4 100

7 20 1,5 Mundial

viatura 2,7t 5 100

Carapau 7 500 1000 Mundial,

Chicala

Cavala

5 1000 2 Mundial

4 1000 1,5

Atum 1 3000 3500 7 Trapalhões

Cachucho 6 1500 2000 1,5-2

Cachucho 5 4000 2,5 Mundial

Demersais 1 3500 - 4000 2,5-3

Cachucho salgado -

fresco

1 Kg 200 Buraco

Cachucho fresco para

processamento

1 Kg 300

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Cachucho seco médio 7 500*

Bacalhau brota 3 1000* 1

Bacalhau brota 4 2000* 3

* para as peixeiras, após processamento em terra

Peixe congelado - caixa 20 kg Preço / kg peixeiras Preço / kg consumidor

Sardinha 68 / Kg 68 - …./ Kg

Carapau 175 / Kg 250 – 350 / Kg

4.6 Análise e Resultados da Pesquisa de Mercados

A rede de restaurantes e hotéis da cidade de Luanda no geral e a zona baixa da cidade em

particular são os principais clientes da zona de descarga de peixe fresco da PA da Samba

(Mabunda) e Ilha de Luanda. O volume estimado de consumo semanal é igual ou superior a

50 kg/Semana, sendo proveniente de fornecedores seleccionados que na sua maioria são

intermediários. As principais espécies de pescado adquirido por estas casas de

comercialização são: Garoupa, Pungo, Piazete, Corvina, Lagosta, Choco, Polvo, Cachucho e

Lírio com preços/kg na aquisição dos 1000 Kz aos 2500 Kz. O preço de venda dos mesmos

pode chegar até aos 7500 Kz no caso de se destinarem a fazer parte de um Buffet, o que

implica exigências de qualidade superiores.

O produto adquirido na ilha de Luanda é mais comercializado na baixa da cidade, sendo os

intermediários os principais distribuidores tendo como alvo os hotéis e restaurantes. O preço

do produto desde a sua adquisição até ao consumidor final vai de 700 Kz/kg a quase 3500

Kz/kg.

Existe uma ausência marcante do produto da PA na rede de Hipermercados, Supermercados e

Minimercados da capital do país. Para além de apenas receberem produtos via fornecedores, a

razão principal para tal, refere-se às exigências feitas por estas redes comerciais sobre estes,

designadamente:

Fazer a entrega do peixe na sua sede de distribuição de produtos;

O produto a entregar deve ser transportado em condições de higiene e conservação

superiores às normalmente registadas;

Preferência por produtos congelados (devidamente congelados, isto é com temperatura

a -18 ºC ou inferior; convém recordar que não existe qualquer tipo de infra-estrutura

de congelação (túnel de congelação) nas zonas de descargas de PA em Luanda;

Os produtos devem ser transportados em camião frigorífico;

Só fazem contrato com uma única pessoa (ao não estarem devidamente associados e

organizados os pescadores artesanais não conseguem cumprir com este requisito).

Em contrapartida, é enviado através de intermediários a partir da província do Namibe, onde

existem infra-estruturas de congelação, peixe congelado, principalmente da frota semi-

industrial para ser comercializado em Luanda na rede de Hipermercados (ex. do Nosso Súper

e Kero). Todavia a origem identificada é apenas de que provém de uma província de Angola.

Quanto ao abastecimento para processamento de peixe seco, principalmente da zona de

Samba e Ingombota faz-se a partir das mesmas zonas de descarga, sendo que as exigências de

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qualidade e higiene são mínimas. Estima-se que mais de três quartos deste produto é

comercializado fora da província de Luanda, sendo os principais destinos as províncias de

Malanje, Kwanza – Norte, Lundas Norte e Sul, Uíge e Moxico. Mas é de salientar que os

Hipermercados Jumbo e Alimenta Angola, comercializam também pescado seco nas suas

instalações provenientes da zona da Samba e da Ilha de Luanda.

Apesar de tudo partindo-se da amostra realizada estima-se que na cidade de Luanda

comercializa-se grosso modo todos os meses pescado da PA nas redes Hoteleiras, Mercados

formais (Hiper, Super e Mini) e restaurantes numa quantidade mediana de 34 t/mês de

pescado, consequentemente 410 t/ano, representando cerca de 2,8% da captura da PA na

província.

Este cálculo é realizado tomando como verdadeiras as tendências observadas da amostra,

extrapolando-se para o universo da cidade de Luanda, isto é:

Tamanho da amostra n=69

Universo dos estabelecimentos na cidade N=305

20 % dos estabelecimentos não usam produtos da PA

Média mensal = 158,4 t

Desvio Padrão = 123 t

Mediana = 140 t

Moda = 180 t

A suposição do cálculo realizado é de que os estabelecimentos do universo tomado

adoptam um comportamento de comercialização idêntico ao da amostra. Devido ao

elevado valor de desvio padrão utilizou-se o valor de mediana – o valor central da

amostra. O elevado valor de desvio padrão é entendido, não como um problema da

amostragem mas pelo facto de ser natural que diferentes estabelecimentos do mesmo

ramo adoptem estratégias diferentes no uso e obtenção do pescado. Todavia, no futuro

poder-se-á tentar efectuar uma estratificação da amostra de acordo com a diferente

propensão dos estabelecimentos nas formas de utilização e aquisição do pescado.

As espécies mais comercializadas são as de alto valor comercial, como o Lírio, Cachucho,

Garoupa, Corvina, Cherne, Caranguejo, Choco e Polvo, enquanto que no mercado informal as

espécies mais vendidas são a Sardinha, o Carapau, Espada e Malundo.

5. Análise de Pontos Fortes, Fraquezas, Oportunidades e

Riscos/Ameaças

Seguidamente na tabela 12, efectua-se uma análise resumo dos pontos fortes, fraquezas,

oportunidades e ameaças referente aos abastecimentos da PA e respectivos mercados.

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Tabela 12. Análise Resumida de Pontos fortes, Fraquezas, Oportunidades e Riscos/Ameaças

Pontos Fortes Fragilidades Oportunidades Riscos / Ameaças

O enquadramento legal já existe

e é equivalente às disposições

hígio-sanitárias internacionais,

nomeadamente do mercado

Europeu.

Os técnicos do DNIIP,

responsáveis pela inspecção

conhecem muito bem os

requisitos e o que deve ser feito

em termos dos controlos,

certificação, fiscalização a

realizar na cadeia de produção.

Os agentes associados em

Cooperativas, embora estas

sejam muito pequenas,

demonstram disponibilidade em

modificar as condições

presentes do abastecimento de

pescado da PA.

A existência de um consumidor

exigente e com poder de compra

já é um facto. A hotelaria já

exigiu mudanças claras aos seus

fornecedores.

Os preços do pescado no

mercado interno são

relativamente elevados, em

particular quando se compara o

mercado regional e o mercado

de exportação Europeu. Desta

forma não será absolutamente

necessário a procura de

melhores mercados.

Não aplicação do quadro legal e falta de articulação

das instituições.

Inexistência de infra-estruturas de apoio às descargas.

Cooperativas / Associações fracas sem

representatividade e sem verdadeiro funcionamento

Cooperativo ou Associativo.

Ao anterior acresce a inexistência de quadro legal das

Cooperativas.

Inexistência de um entendimento e conhecimento

generalizado dos requisitos de higiene por parte dos

pescadores e peixeiras (sobretudo destas) na

protecção dos produtos de contaminação e problemas

de segurança alimentar principalmente provenientes

de água não limpa.

Peixeiras não conhecem / compreendem problemas

associados à falta de preservação o que afecta

gravemente a qualidade do pescado e a sua segurança

alimentar.

Os constrangimentos identificados em diferentes

projectos financiados por entidades internacionais no

que se refere à operacionalidade de novos centros de

apoio às pescas:

- Falta de interacção com as comunidades no

momento de identificação e planeamento do projecto;

- Intransigência das comunidades e falta de vontade

em mudar;

- Problemas de manutenção e gestão. Falta de

preparação, capacitação e assistência aos

beneficiários;

- Falta de entendimento cooperativo ou capacitação

para tal;

- Insuficiente implementação das políticas existentes

de ordenamento e controlo da pesca.

Existe aparente vontade em

modificar a situação por parte

dos indivíduos na produção e

por algumas instituições

nomeadamente IPA.

Existe um Serviço de

Fiscalização do Ministério

das Pescas presente nas

principais praias de descarga

(apenas necessita de

funcionar de acordo com as

suas competências e receber

orientação para tal).

Os indivíduos que

frequentam os locais de

descarga (peixeiras, etc) já

pagam um valor diário para

uso do espaço, o que

configura uma situação de

normalidade para estender a

futuros Centros Pesqueiros

quer do Estado quer de

Cooperativas para cobrir

custos de higiene,

manutenção e operação.

Já foram identificadas as

causas que levaram ao

insucesso e

inoperacionalidade de novos

centros de apoio às pescas

financiados por entidades

internacionais.

Falta de espaços disponíveis para

facilitar as intervenções

necessárias. Acresce o problema

da Lei da terra que parece não

facilitar a aquisição de espaços.

Projectos imobiliários e de

turismo podem entrar em

conflito com os centros de apoio

às pescas, sendo-lhes dado

prioridade.

Outros projectos de construção,

como estradas, podem entrar na

zona de conflito das áreas

existentes, sendo este o

provavelmente o caso da área da

Mabunda (Samba).

Política e prioridades

governamentais podem ser

diferentes aos interesses

pesqueiros designadamente no

que se refere às áreas de

descargas.

Os constrangimentos

identificados em diferentes

projectos financiados por

entidades internacionais no que

se refere à operacionalidade de

novos centros de apoio às pescas.

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6. Discussão e Conclusão

Na discussão que seguidamente se realiza integra-se a identificação de funções e potencial de

interação das diversas instituições na melhoria, apoio e controlo da cadeia de valor da

pesca, bem como as fontes directas e indirectas de informação, uso potencial e tratamento

analítico para apoio futuro do IPA.

No Anexo 3, apresenta-se uma brochura contendo os principais resultados, conclusões e

recomendações do estudo para divulgação do IPA.

6.1 Actual cadeia de abastecimento e situação do mercado

Da análise da actual cadeia de abastecimento e situação do mercado nas áreas selecionadas,

incluindo as técnicas de conservação, manuseio e processamento de pescado, verifica-se que

existe uma grande falta de cumprimento dos requisitos hígio-sanitários definidos por lei.

Analisando um a um os diferentes pontos da cadeia de valor e produção do sub-sector da PA

chega-se ao seguinte enquadramento onde se tenta classificar o grau de sensibilidade e

possível resolução dos principais problemas identificados:

Embarcações Manuseamento, Conservação e Higiene:

a) Estruturas básicas das embarcações servem o propósito de forma

satisfatória, apesar de nalgumas situações a higiene e condição

necessitarem de melhoria.

b) Embarcações cumprem razoavelmente as condições básicas de

manuseamento e preservação do pescado, nomeadamente no uso de

gelo ou sal.

c) O conhecimento e cumprimento das regras básicas de higiene e de

contaminação do pescado é ainda pobre. Acresce que as tripulações

sem vínculo laboral às embarcações conferem um reduzido grau de

cumprimento das regras em particular das rotinas hígio-sanitárias

devidas. Factor Crítico. Para a sua resolução bastaria o

cumprimento da Lei Geral do Trabalho e legislação complementar.

d) Procedimentos de descarga e lavagem das embarcações aquando da

descarga podem colocar gravemente em causa a contaminação do

pescado e da embarcação; este factor, conjugado com a falta de

infraestruturas que o possam minimizar é o Factor mais Crítico

deste elemento da cadeia de produção e talvez de mais difícil

resolução.

e) Inexistência da requerida inspecção, certificação, controlos e

fiscalização pelas autoridades comptentes. Factor Crítico

f) Apesar de tudo, considera-se que resolvendo-se a não conformidade

identificada como factor mais crítico (d), seria com relativamente

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fácil obter um razoável conjunto de embarcações passíveis de serem

licenciadas em respeito aos requisitos hígio-sanitários exigidos.

Descarga

(práticas e

locais)

Consiste no ponto mais problemático da cadeia de abastecimento, onde

a falta ou inexistência de infraestruturas e as más práticas de

manuseamento e venda do pescado contribuem declaradamente para a

contaminação do pescado e para o desenvolvimento de histamina em

pequenos e grandes pelágicos.

Em complemento, a proximidade do processamento de pescado com

esgotos, animais, acumulações de lixo e variadas actividades não

reguladas e não directamente relacionadas com a pesca com grande

poder de contaminação inviabilizam a possibilidade de considerar este

elemento da cadeia de produção aceitável no âmbito dos requisitos

regulamentares.

Acresce a inexistência de um controlo, licenciamento e fiscalização

eficazes.

A rastreabilidade da matéria-prima não existe e também de nada valeria

nestas condições.

Verdadeiramente Crítico.

Venda -

Mercados

Apenas nalguns sítios são parcialmente respeitadas as práticas de

conservação do pescado enquanto este não é exposto para venda. As

práticas de venda apresentam deficiências clamorosas com total

incumprimento dos requisitos com grandes problemas de segurança

alimentar associados dos quais se destacam os perigos microbiológicos

e o desenvolvimento de histamina em pequenos e grandes pelágicos.

Muito tem de ser feito para a resolução das não conformidades. A

conjugação deste factor com a falta de infraestruturas tornam-no

realmente de difícil resolução. Muito Crítico

A inexistência de um adequado controlo, inspecção e fiscalização leva

também a que esta situação não se altere.

Três instalações em avançada construção para mercados, tudo indica de

segunda venda, não receberam qualquer análise, vistoria ou consulta

quanto aos requisitos a observar e quanto à salubridade envolvente do

espaço. Encoraja-se obviamente as obras mas é essencial uma interação

entre as autoridades para a obtenção de estruturas condizentes com o

pretendido.

Gelo As deficiências registadas parecem ser de fácil resolução, havendo o

envolvimento devido dos produtores respectivos, e desde que

acompanhado com o exigido licenciamento, controlo e fiscalização.

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Distribuição Em geral realiza-se em veículos inapropriados, embora já existam

fornecedores a cumprirem os requisitos por imposição dos seus

clientes. Este facto significa que o mercado começa a alavancar a

mudança através do ditar e da imposição de regras, que a legislação e

as autoridades não conseguiram até agora impor.

A distribuição mais comum de pescado pela cidade faz-se contudo

num mercado totalmente informal, através de peixeiras ambulantes

que vendem peixe proveniente da PA, adquirido por estas nas praias

de descargas principais e transportadas por táxis e automóveis de

aluguer informal. O pescado sofre uma considerável exposição ao

calor e ao sol sem qualquer refrigeração, para além de ser usualmente

lavado com água contaminada. Este pescado caracteriza-se por ser de

qualidade reduzida. Muito crítico

Controlo,

Inspecção e

Fiscalização

dos requisitos

hígio-

sanitários e de

conservação

do pescado

Conforme acima enunciado nas várias secções o controlo, inspecção e

fiscalização em particular dos procedimentos e higiene no

manuseamento, conservação, descarga, acondicionamento na

embarcação e comercialização do pescado é basicamente inexistente.

Para que a aplicação da legislação existente seja uma realidade é crucial

o envolvimento das autoridades, cujo papel já se encontra

adequadamente definido faltando uma implementação e articulação

eficaz dos serviços.

No contexto destes requisitos é assim fundamental o licenciamento e

aprovação dos vários agentes e actividades – embarcações,

produtores/fornecedores de gelo, locais de desembarque (quando

construídos), mercados (quando existentes e construídos), vendedores

de pescado, e transportadores. O licenciamento (DNIIP) contemplando a

aprovação do agente deve ser subsequentemente acompanhado de

actividades de controlo – inspecção (DNIIP) e fiscalização (SNF) – e de

monitorização (DNIIP). O Governo Provincial tem o potencial de

colaborar directamente com os anteriores, por introdução de unidades

específicas ou por delegação de funções que deverão ser devidamente

acompanhadas e controladas por quem delega.

A articulação e comunicação entre as várias autoridades centrais e

provinciais (DNIIP, SNF, Governo Provincial) é essencial para o

sucesso do sistema de controlo, inspecção e fiscalização a desenvolver.

Por outro lado, não deve ser esquecido o papel indirecto das outras

autoridades como o INIP no suporte às instituições anteriores, o IPA e o

INAIPIT no apoio e assistência ao sector conforme aplicável.

Crítico.

Abastecimentos

da PA para

Mercados de

Exportação e

Mercado de exportação Europeu interdito à PA da província de

Luanda principalmente por não cumprir os requisitos hígio-

sanitários e respectivos controlos, inspecção, certificação e

fiscalização ao longo da cadeia de produção. O sector da

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Consumo local restauração, hotelaria e cadeias de hipermercados também não

recorre aos abastecimentos da PA por causa dos requisitos hígio-

sanitários e de qualidade, bem como do tipo de conservação

pretendida (os hipermercados têm preferência por matéria-prima

congelada). Conclui-se assim que a absorção da produção da PA é

primordialmente feita pela população de Luanda via o mercado

informal na praia, nas ruas ou nos espaços designados como

mercados.

Desta forma, a descarga é o elo mais fraco da cadeia de produção

que impede a abertura a mercados que poderiam trazer outros

rendimentos para o pescador artesanal e respectivas famílias.

Neste ponto da cadeia de produção poder-se-ia facilmente ter um

estabelecimento a cumprir os requisitos sanitários mas não seria

possível ultrapassar o problema associado ao abastecimento da

matéria-prima em conformidade com o exigido. Apenas com uma

operação muito limitada e controlada pela empresa com garantias ao

nível do fornecimento de gelo, da pesca e das descargas, ou seja com

pleno cumprimento ao longo da cadeia de produção e respectiva

rastreabilidade, poderia ser aceitável. Mesmo que tal acontecesse,

não teria impacte no seio do sector da PA mas seria um princípio.

Valor de Mercado:

Ao contrário do que habitualmente é considerado quanto ao

potencial dos mercados regionais absorverem a produção nacional

de pescado fresco e seco, chega-se realmente à conclusão que essa

não é a opção. Os preços praticados para as espécies demersais nos

mercados de Luanda, a começar pelos preços de primeira venda e

incluindo os do pescado salgado seco (pelágicos e demersais) parece

inviabilizar ou não ser de todo atractivos para a exportação regional

e para fora de África, visto serem superiores ou muito idênticos aos

desses mercados inviabilizando os custos de transporte e obtenção

de uma margem de lucro.

Por outro lado, entende-se que o mercado de exportação tem a

potencialidade de melhor valorizar espécies como os tunídeos que

têm um valor nitidamente inferior no mercado interno. Existem

também outros recursos que nem explorados são (caso do polvo) que

poderiam assim ser canalizados para a exportação. Desta forma, o

pescador artesanal poderia almejar uma mais-valia adicional para a

sua actividade caso existisse porta aberta para o mercado de

exportação fora de África.

6.2 Problemas que afectam o processamento e sistema de comercialização

Os problemas relativos ao processamento passam logo à partida pela dependência para com as

práticas e problemas acima registados no ponto 6.1 referente à etapa de descarga da cadeia de

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produção. Para além destes, há que salientar as condições de higiene muito deficientes

identificadas no processamento artesanal de pescado (salga e seca) verificáveis nas Praias de

Samba, Cacuaco e comunidade do Buraco. Salienta-se contudo, o positivo projecto piloto do

Centro de Apoio Pesqueiro do Buraco que poderá ser um exemplo a replicar noutros locais

mas primeiro terá que ultrapassar o desafio de incorporar muitas mais mulheres processadores

da própria comunidade do Buraco.

Para além dos problemas evocados relativos à higiene, do ponto de vista directamente

relacionado com a comercialização salientam-se os seguintes aspectos que afectam o

processamento e sistema de comercialização:

Incapacidade, preparação, inexistência de meios e de financiamento para as mulheres

processadoras organizarem por elas próprias a distribuição final e comercialização da

produção numa face avançada da venda, dependendo das peixeiras que se deslocam

para a compra de produto por atacado mas nunca em grandes quantidades. Não existe

qualquer capacidade de marketing do produto e os conceitos de gestão são bastante

básicos.

Inexistência, pelo menos a partir do Buraco, de fluxos de produto para o interior do

país, o que se deve ao anterior.

Frágil e insípida organização Cooperativa ou Associativa impede que se ultrapassem

os constrangimentos de distribuição e comercialização dos produtos, o que poderia em

parte ajudar os aspectos anteriormente registados.

O aspecto relativo à qualidade do produto pode ainda não ser visivelmente relevante ou

devidamente valorizado mas tal deve-se uma vez mais aos aspectos atrás focados,

principalmente o do marketing, já que no projecto piloto do Buraco atingiu-se a meta

de obtenção de um produto de visível qualidade, sem os potenciais problemas de

segurança alimentar registados como a histamina.

A existência de um consumidor exigente e pagante já é um facto o que poderá ajudar à

resolução de alguns destes problemas.

7. Recomendações

As recomendações seguidamente apresentadas são estabelecidas num contexto de:

Melhoria da cadeia de abastecimento e criação de infra-estruturas adequadas para a

comercialização dos produtos da pesca;

Identificação de medidas e técnicas para a melhoria do tratamento que é dado ao

pescado a bordo e nos locais de desembarque e de processamento;

Identificação do potencial de ligar fontes de PA na cadeia de valor da transformação

e da indústria exportadora.

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A) Regulamentação hígio-sanitária:

Em primeiro lugar, considera-se ser premente a efectiva implementação da lei através das

componentes de inspecção, certificação, controlos e fiscalização pelas autoridades

competentes. Neste contexto são claras as funções e responsabilidades dos diferentes

intervenientes institucionais – DNIIP/Departamento de Indústria Pesqueira e SNFPA. As

actividades de ambos devem ser concertadas e articuladas para potenciar um controlo e

fiscalização efectivos na cadeia de abastecimento e de mercado da PA e até da pesca semi-

industrial.

B) Locais de Desembarque e Postos Avançados de Desembarque:

Em segundo, a medida mais em evidência que basicamente nem tem discussão ou seja, é

unanimemente aceite por todos os directa e indirectamente envolvidos no abastecimento

de pescado e mercados provenientes da PA (pescadores, peixeiros, produtores de gelo,

autoridades, inclusivamente consultores) e acrescente-se também aplicável à pesca semi-

industrial, é a necessidade de construção de locais de desembarque com ou sem estrutura

portuária associada para apoio das áreas principais designadas (Cacuaco, Samba e Ilha).

Estes locais de desembarque podem passar por infraestruturas relativamente simples

contendo, por exemplo, simplesmente:

Área coberta para a primeira venda:

com piso ligeiramente sobre-elevado, com protecções laterias e canais de

escoamento da água.

estruturas fixas ou amovíveis para a colocação do pescado, de modo a que não

seja pisada pelos intervenientes.

Disponibilidade de água limpa (pode ser do mar);

Equipamento mínimo: tinas com tampa de material pvc ou inox, bancadas inox,

balança.

De preferência seria recomendável que estas estruturas contivessem para além do anterior:

Câmaras de conservação, máquina de gelo se não houver disponível próximo, WC

e chuveiros, contentor fechado para lixo, câmara de frio para rejeições e um layout

para fluxos de lota minimamente organizados para impedir o caos e consequente

contaminação do produto; e, escritório informatizado.

Numa abordagem ideal, a infraestruturaa conteria também doca ou cais de acostagem com

ligação à zona de vendagem.

Os locais de desembarque podem também consistir em postos avançados, com

infraestruturas simples para apoio directo da chamada pesca de 8 dias, junto aos

pesqueiros longínquos. Desta forma, reduzir-se-ia o tempo de conservação do pescado

colocando-o no mercado mais cedo, contribuindo ainda para a rentabilização dos custos de

operação das embarcações. Estes postos avançados teriam que ser complementados com

transporte viário isotérmico e refrigerado do pescado para os centros e lotas de

desembarque principais (no Cacuaco, Luanda, Ilha ou Samba). Estes centros podiam e

recomenda-se que fossem operacionalizados pelas Cooperativas ou Organizações de

Produtores da PA.

Os centros de desembarque com infraestruturas, mesmo que simples e básicas, contribuem

facilmente para integrar os abastecimentos da PA numa eventual cadeia de fornecimentos

de matéria-prima controlados e aprovados para eventual aproveitamento de uma indústria

de exportação de pescado fresco ou transformado.

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Os centros de desembarque têm ainda o potencial de vir a consistir com relativa facilidade

e organização, fontes directas e indirectas de informação, para uso potencial e tratamento

analítico nas actividades realizadas pelo IPA.

C) Lotas:

Recomenda-se vivamente que as infra-estruturas de desembarque dos produtos da pesca

sejam implementadas e organizadas com sistemas de lota, que podem variar na sua

complexidade consoante o grau de sofisticação das infraestruturas desenvolvidas. As lotas

trazem vantagens a vários níveis:

Garantir a higiene e correcto manuseamento no desembarque e conservação

subsequente;

Garantir um sistema de rastreabilidade;

Facilmente contribuir para integrar os abastecimentos da PA numa eventual cadeia

de fornecimentos de matéria-prima para indústria de exportação de pescado fresco

ou transformado;

Controlo das vendas e preços para melhor servir os pescadores;

Registo de capturas para fins biológicos e de avaliação dos recursos (estatísticas e

investigação);

Controlo das embarcações;

Protecção salarial de pescadores.

D) Requisitos para Mercados e outras infraestruturas:

No planeamento e em particular, antes e durante a construção de infra-estruturas

(mercados, locais de desembarque, lotas, etc) estas devem contemplar uma intervenção e

consulta directa das instituições directa e indirectamente relacionadas em particular pelo

DNIIP - Departamento de Indústria Pesqueira, responsável pela inspecção, controlo e

certificação de produtos da pesca, de modo a garantir que os requisitos são devidamente

contemplados e cumpridos. O IPA também deve ser ouvido já que lida com as

comunidades podendo facultar informações operacionais da actividade, para além das

próprias comunidades e eventuais Cooperativas e Associações (principalmente quando

sejam representativas).

E) Medidas do foro hígio-sanitário:

Medidas possíveis que visariam minimizar as causas presentes, associadas à contaminação

dos locais de descarga, enquanto não se planeiam e desenvolvem as infraestruturas de

apoio necessárias:

Delimitação dos espaços de descargas, para animais e pessoas;

Limitação à entrada de indivíduos exclusivamente ligados às actividades (pesca e

compra de peixe - peixeiros). Em complemento, criar uma segunda área para

segunda venda de peixe;

Delimitação protegida para actividades de processamento;

Controlos de entrada e saídas pelas autoridades e/ou com envolvimento das

Cooperativas;

Disponibilização de água limpa (pode ser água do mar) para as actividades de

descarga – peixeiras e embarcações;

Implementação efectiva de controlo e fiscalização pelas autoridades;

Inspecção e registo de embarcações de acordo com os parâmetros de higiene e

prácticas;

Inspecção e registo dos produtores e fornecedores de gelo de acordo com os

parâmetros de higiene e práticas;

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Inspecção e registo de peixeiras e distribuidores de pescado de acordo com os

parâmetros de higiene e práticas;

Inspecção e registo de mulheres processadoras de pescado de acordo com os

parâmetros de higiene e práticas.

F) Cooperativas – Organizações de Produtores:

Recomenda-se vivamente o incentivo ao desenvolvimento de Cooperativas, Associações

e/ou Organizações de Produtores, quer de pescadores quer de peixeiras, que sejam

representativas e possuindo genuíno espírito associativo e Cooperativo. Para tal será

fundamental a a criação de um quadro legal e estatutário e a disseminação de informação e

formação sobre estas organizações e seu modus operandi.

G) Centros de Desembarque privados:

Recomenda-se a necessária abertura política para a criação de centros de desembarques

das Cooperativas / Organizações ou controlados por estas. No caso de construção directa

por estes agentes será importante uma revisão ou adopção de um regime de

excepcionalidade quanto à aquisição do espaço / terreno necessário para o projecto.

Neste âmbito, considera-se a importância dos designados postos avançados de

desembarque para apoio das pescas conforme referido em B.

H) Higiene e manutenção dos centros:

Qualquer que seja o cenário a adoptar para desenvolvimento dos centros de desembarque

dever-se-á ter presente que os indivíduos que os frequentem (peixeiras, pescadores etc)

devem habituar-se ao pagamento de uma taxa para serviços de higiene, operação e

manutenção do mesmo, o que afinal já não é novo pois já o fazem (excepto os pescadores)

para situações que pouco ou nada recebem em troca, como é o exemplo da praia de

descarga e mercado da Mabunda. É para os pescadores que esta situação seria nova mas

deverá ser justificada com os serviços oferecidos.

I) Capacitação de Cooperativas e Organizações de Produtores:

Considerando-se o papel das Cooperativas essencial na modificação geral das técnicas e

práticas de manuseamento e conservação do pescado e gelo é importante a capacitação

dos seus agentes, designadamente em: Gestão, administração, manutenção de

equipamentos, entendimento e funcionamento Cooperativo.

J) Técnicas a considerar para pescadores:

Ao nível específico das embarcações e descargas, as técnicas a serem alvo de particular

atenção dos pescadores e autoridades são:

Não utilização de água contaminada dos locais de desembarque;

Cuidados de transporte e acondicionamento do gelo de forma a não contamina-lo;

Formação periódica em tratamento do pescado e higiene.

K) Técnicas a considerar para peixeiras ambulantes:

Ao nível específico das peixeiras ambulantes as técnicas a serem alvo de particular

atenção destas e das autoridades são:

Não utilização de água contaminada nos locais de desembarque;

Melhoria do transporte do pescado; uma alternativa a considerara seria a

introdução de sacos térmicos e cargas geladas que poderiam continuar a ser

transportados tendo os alguidares como suporte; e/ou mudar por completo o

paradigma de transporte destas mulheres que carregam à cabeça estas cargas com a

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introdução de trolley (carrinhos) de rolamentos para o transporte de uma caixa

térmica com assim poderia levar gelo;

Participação obrigatória em formação sobre tratamento do pescado e higiene.

L) Técnicas a considerar para peixeiras de bancada:

Ao nível específico das peixeiras de bancada, as técnicas a serem alvo de particular

atenção destas e das autoridades são:

Não utilização de água contaminada;

Cuidados de transporte e acondicionamento do gelo de forma a não contamina-lo;

Utilização de bancas de estrutura, superfície e condição higienicamente adequadas

(pvc pode ser aceitável);

Não exposição do pescado ao sol;

Exposição do pescado com gelo;

Conservação de pescado fresco em arca em gelo ou a temperaturas que não

promovam uma congelação lenta do pescado (isto é usando temperaturas

negativas);

Participação obrigatória em formação sobre tratamento do pescado e higiene.

M) Técnicas a considerar para o transporte de pescado:

Ao nível específico do transporte de pescado, as técnicas a serem alvo de particular

atenção dos transportadores, fornecedores, e autoridades são:

Proibição de utilização de automóveis ligeiros;

Permissão de uso de carrinhas de caixa aberta desde que garanta ou minimize

eventual contaminação (com superfícies limpas e sem transportar outros produtos

no momento do transporte de pescado) usando contentores fechados adequados

com o uso de gelo, sem exposição directa do pescado ao sol;

Não utilização de água contaminada;

Cuidados de transporte e acondicionamento do gelo de forma a não contamina-lo;

Participação obrigatória em formação sobre tratamento do pescado e higiene.

N) Técnicas a considerar para produtores de gelo:

Ao nível específico dos produtores de gelo, as técnicas a serem alvo de particular atenção

destes e autoridades são:

Não utilização de água contaminada;

Controlo microbiológico periódico da água;

Monitorização de cloro residual na água, com aplicação de tratamento se

necessário;

Garantir uma boa manipulação do gelo sem contaminação deste pelos

trabalhadores (não o pisam, são usados contentores e utensílios adequados);

Cuidados de transporte e acondicionamento do gelo de forma a não contamina-lo;

Participação obrigatória em formação sobre tratamento do pescado e higiene.

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O) Técnicas a considerar para o processamento:

Ao nível específico do processamento, as técnicas a serem alvo de particular atenção pelas

mulheres processadoras e autoridades são:

Não utilização de água e sal contaminados;

Utilização de tanque ou tina de salmoura de material adequado (pvc é aceitável e

aconselhável) e esteja em boas condições de higiene;

A salmoura deve ser mudada integralmente sempre que se faz uma moura e o

tanque lavado;

Levantamento de estruturas do chão para que a secagem do pescado seja elevada

acima de 1,5m e seja feita sobre rede para permitir circulação de ar - no caso de

uso de madeira esta deve estar tratada e pintada;

Delimitar a área para impedir animais na proximidade do processamento;

Eviscerar e escalar o pescado sobre superfície adequada (pvc pode ser aceitável);

Formação periódica em tratamento do pescado e higiene.

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Anexo 1 – QUESTIONÁRIO - CHECKLIST

QUESTIONÁRIO - CHECKLIST DATA:

LOCAL: ____________________PESCADOR / VENDEDOR

NOME:_________________________ 1. ÁREA (Identificação / descrição) Observações

a) - Local? praia, porto, edifício,

b) - Acessos? tem, não tem, maus, bons

- infra-estruturas: Área de venda (com cobertura, piso, bancadas apropriadas, água corrente), Água, M.Gelo, Câmaras de Frio, Contentor Lixo, Armazém caixas, equipamento limpeza, combustível, outros __________________________________________

c) - Focos de contaminação? Esgotos, outros:

d) - Edifícios na proximidade:

e) - Grau hígio-sanitário: Mau, Satisfaz, Bom

f) - pertença da área Privada, pública, outra

2. PROCESSOS

a) - Acondicionamento, Preservação no barco? contacto directo com barco; cx pvc; arca; cestos, saco, outro gelo com / sem cobertura: do sol / isotérmica protegido de contaminação (combustível, madeira, comida, lixo, cão, etc)

b) - Descarga / Manuseamento / Venda?: à mão, caixa, cesto, carrinho, outro directo para o chão, lona no chão, caixa, veículo, etc adequado, contamina, fere produto, rápido, lento (expõe a temperatura ambiente, sol, vento, poeira)

c) - Saída para distribuição pelo vendedor? em veículo motor (cx aberta c / s protecção do ambiente , caixa isotérmica, com refrigeração) manual (c / s protecção do ambiente)

d) - Acondicionamento vendedor caixas pvc, arca, cesto, saco (apropriado / não) em gelo, sem gelo acondicionamento (mau, satisfaz, bom)

e) - Gelo (pescador) (vendedor) bloco triturado bloco partido manualmente / ferramenta escama contaminado (sujo, ferrugem, etc) transporte / acondicionamento? (mau, satisfaz, bom)

3. Pescadores/embarcação

a) Dono barco? S/N ; Grupo / Ass. / coop

b) - proveniência: local, afastado (km___)

c) - canoa, chata, c/m, catronga (__m); porão s / n

d) - arte (LM/RE/C/G)

e) - tempos: total no mar___ ; casa – pesqueiro ___/ na pesca ___/ para descarga ___/ regresso casa ___/

f) - abastecimento local / outro (km__) / na venda peixe combustível gelo através do comprador de peixe? S / N

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4. Rotina Pesca Diária? ___ dias/semana

a) - Local onde vive:

b) - Local de desembarque / abastecimento:

c) - Comprador? Fixo / leilão / família /

5. Venda

a) Como?: contracto / leilão / contacto directo

b) Preço?: vendedor / leilão / outro

c) Quantas vezes ficam sem vender?

d) O que fazem quando não vendem?

6. Comprador/Vendedor Características

Grossista / Intermediário / retalhista / Conta própria / Por conta d`outrem / Grupo / Ass. / Coop. / Família Pesc.

a) Veículo próprio / alugado / sem veículo Condições em 2. c) / d) / e)

b) Contracto com pescadores? S / N Que condições? $$ /G+C+Arte/ Emb.

Quantos?

c) Noções higiene? S/N Formação? S/N

7. Preços / espécie

na embarcação

na peixeira

8. OPINIÃO

a) Principais problemas?

b) A favor ou não de Centralização? Lota?

c) Indique 1 intervenção que considere realmente importante para melhoria do abastecimento e mercado?

d) Mudaria o seu comportamento se houvesse apoio directo com infra-estruturas? Utilizaria estas?

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Anexo 2 – INQUÉRITO – ENTREVISTA PESQUISA DE MERCADOS

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE MERCADO SOBRE O FLUXO COMERCIAL DO

PRODUTO DA PESCA ARTESANAL EM LUANDA

NOME DO ESTABELECIMENTO____________________

TIPO (Hiper/ Super/ Mini/ peixaria/ Hotel / Restaurante)

PESSOA CONTACTADA____________________TELEFONE:__________________

PARTE I

1. O estabelecimento Adquire produtos da pesca artesanal (PPA)? SIM_____

NÃO_______

a. Quantidades vendidas? Média por dia ___/ Semana ____ / Mês ______ Ano

_______ (responde conforme mais fácil para a empresa)

b. PPA representam que % ___ do seu negócio

c. Espécies principais e % do total PPA: ___________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

d. Que tipo de Produto e em que %:

Peixe inteiro / eviscerado / filete (quem processa o filete____________)

e. De que área e em que %?

(Cacuaco / Ilha / Samba / Buraco ) / fora da provincia de Luanda

2. Tem um fornecedor único? SIM_____ NÃO_____ Se não quantos _________

a. Que tipo de fornecedor (peixeira/ vendedor distribuidor de peixe/ peixaria /

directamente do pescador; (Se vários indicar %)

b. Vão buscar o peixe? Ou é o fornecedor que faz entrega?

c. Os fornecedores trabalham na província de Luanda? SIM_____ NÃO_____

3. Quém transporta o produto até ao supermercado? NÓS_______ ELES_______

4. Como é feito o transporte do produto? CAIXAS____ SACOS_____ OUTROS_____

Vem em Gelo?__________

a) CAMIÃO FRIGORÍFICO____ Caixa Isotérmica____ Caixa aberta ______

b) Têm Controlo da Qualidade? SIM_____ NÃO_____

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a. Têm processamento? SIM_____ NÃO_____ Congelação? SIM_____

NÃO_____ (se sim), têm túnel? SIM_____ NÃO_____ A que

TºC?_________

5. Condições de armazenamento do produto no estabelecimento.

a) SISTEMA DE CONSERVAÇÃO COM TºC INFERIOR À -18ºC

b) SISTEMA DE CONSERVAÇÃO COM TºC DE -10ºC ATÉ -18ºC

c) SISTEMA DE CONSERVAÇÃO COM TºC DE 0ºC ATÉ -10ºC

d) SISTEMA DE CONSERVAÇÃO COM TºC SUPERIOR À 0ºC

6. Quais são as condições de higiene de venda e armazenamento? Conformidade com

requisitos? Indique NC principais observadas:________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

PARTE II

7. Preços médios praticados:

Espécies principais Na compra Na venda

PARTE III

8. O estabelecimento tem filiais em outras províncias? SIM________ NÃO_________

a) SE SIM recebem PPA? SIM________________ NÃO__________________

b) Quém abastece as filiais nas províncias? NÓS_________ ELES__________

c) Quém realiza a transportação do PPA? NÓS________ ELES____________

9. Quantidades da PA ___________

a. PPA representam que % ___

b. Espécies principais e %: ______________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

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c. De que área e % (Cacuaco / Ilha / Samba / Buraco ) / fora de Luanda.