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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 REGIÃO DA MADEIRA EM RORAIMA NO CONTEXTO DA REGIÃO AMAZÔNICA: ASPECTOS E CRITÉRIOS DE REGIONALIZAÇÃO Michelle de Oliveira Barbosa 1 Resumo: Durante muito tempo o conceito de região natural foi utilizado para caracterizar e delimitar regiões de acordo com as características físicas. Com o tempo, o conceito passou a associar-se a outros critérios como o econômico, o social e o político. Em sua concepção ampla, uma região pode ser delimitada de acordo com o interesse de análise ou estudo, com base em conceitos e critérios definidos. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é delimitar a região da madeira em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, tendo por base a produção média de madeira em Roraima de 2008 a 2010. Para alcançar essa meta, utilizou-se a pesquisa descritiva e a pesquisa bibliográfica. A análise das informações coletadas permitiu caracterizar os municípios de Alto Alegre, Mucajaí, Cantá, Bonfim e Rorainópolis como região da madeira, de forma que possa contribuir com o planejamento da região através de melhorias no setor madeireiro bem como políticas públicas mais efetivas de controle do desmatamento. Palavras-chaves: região; madeira; regionalização. 1 Introdução Primeiramente associada à noção de espaço, a noção de região foi desenvolvida tendo como primeira formulação teórica o conceito de região natural, delimitada através das características físicas do local. Posteriormente essa noção associou-se a sociedade, ao espaço cultural, de modo que as regiões passaram a se caracterizar com base em critérios econômicos, sociais e políticos para subsidiar o planejamento. Dessa forma, foram criados conceitos para identificar determinada região, tais como região homogênea, região polarizada e região plano. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo delimitar a região da madeira em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, utilizando dados da produção de madeira em Roraima de 2008 a 2010, que serão subsidiados com os dados da cobertura vegetal do estado e do desmatamento. A pesquisa será principalmente descritiva, por descrever as características do objeto de estudo e 1 Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior pela Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER) e Mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia pelo Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe da UFRR.

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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional

Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013

REGIÃO DA MADEIRA EM RORAIMA NO CONTEXTO DA REGIÃO AMAZÔNICA: ASPECTOS E CRITÉRIOS DE REGIONALIZAÇÃO

Michelle de Oliveira Barbosa1

Resumo: Durante muito tempo o conceito de região natural foi utilizado para caracterizar e delimitar regiões de acordo com as características físicas. Com o tempo, o conceito passou a associar-se a outros critérios como o econômico, o social e o político. Em sua concepção ampla, uma região pode ser delimitada de acordo com o interesse de análise ou estudo, com base em conceitos e critérios definidos. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é delimitar a região da madeira em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, tendo por base a produção média de madeira em Roraima de 2008 a 2010. Para alcançar essa meta, utilizou-se a pesquisa descritiva e a pesquisa bibliográfica. A análise das informações coletadas permitiu caracterizar os municípios de Alto Alegre, Mucajaí, Cantá, Bonfim e Rorainópolis como região da madeira, de forma que possa contribuir com o planejamento da região através de melhorias no setor madeireiro bem como políticas públicas mais efetivas de controle do desmatamento. Palavras-chaves: região; madeira; regionalização.

1 Introdução

Primeiramente associada à noção de espaço, a noção de região foi

desenvolvida tendo como primeira formulação teórica o conceito de região natural,

delimitada através das características físicas do local. Posteriormente essa noção

associou-se a sociedade, ao espaço cultural, de modo que as regiões passaram a se

caracterizar com base em critérios econômicos, sociais e políticos para subsidiar o

planejamento. Dessa forma, foram criados conceitos para identificar determinada

região, tais como região homogênea, região polarizada e região plano.

Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo delimitar a região da madeira

em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, utilizando dados da

produção de madeira em Roraima de 2008 a 2010, que serão subsidiados com os

dados da cobertura vegetal do estado e do desmatamento. A pesquisa será

principalmente descritiva, por descrever as características do objeto de estudo e

1Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR),

Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior pela Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER) e Mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia pelo Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe da UFRR.

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constatar uma situação já existente, qual seja, a produção madeireira. Juntamente

com a pesquisa descritiva, utilizar-se-á a pesquisa bibliográfica, visando buscar as

categorias conceituais para subsidiar o estudo.

O trabalho será dividido em três tópicos, o primeiro define o conceito de região

e regionalismo no Brasil; o segundo trata do regionalismo na Amazônia e o terceiro

expõe sobre Roraima no contexto amazônico e delimita a região da madeira.

2 Conceito de região e regionalismo no Brasil

Apesar de o conceito de região ter nascido associada à concepção de espaço,

o ponto de partida para a caracterização de diferentes regiões foi o conceito de região

natural, através da Geografia. Era considerada região natural a que reunia

“características de relevo, clima, hidrografia e vegetação que eram diferentes das

outras regiões em torno”. Esse conceito era muito utilizado durante a expansão

imperialista, pois o espaço era comumente associado a essas características e às

atividades econômicas. Posteriormente, adotou-se o conceito de região geográfica

para designar uma região “delimitada pelas relações entre o espaço natural e a

sociedade”, de acordo com determinada cultura, envolvendo questões sociais e

políticas. (TAMDJIAN E MENDES, 2005, p. 112; SOUZA E GROSSI, 2010).

Após a Segunda Guerra Mundial o conceito de região passou a associar-se a

critérios econômicos e parâmetros para subsidiar o planejamento, período em que o

regionalismo passou a ter grande atenção. Observa-se um movimento de redução das

esferas de poder dos Estados através de suas transferências às instâncias regionais,

mas marcado pela integração, cooperação e coesão nacional. O fenômeno da

globalização é um dos elementos fomentadores do regionalismo, na medida em que

facilitou o intercâmbio econômico e diminuiu as fronteiras entre os estados, permitindo

a formação de regiões econômicas, políticas e sociais (BARACHO E SOUZA, 2010).

Seguindo o critério geoeconômico, o Brasil foi dividido em três macrorregiões:

Amazônia, Região Nordeste e Centro-Sul. A região Amazônica caracterizava-se pela

dimensão florestal; a Região Nordeste era marcada pela pobreza da maioria da

população e pelos longos períodos de estiagem; e a Região Centro-Sul polarizava as

principais atividades econômicas, a industrialização e urbanização do país. Visando

diminuir as distorções encontradas, em 1967, o Instituto Brasileiro de Geografia e

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Estatística (IBGE) estabeleceu cinco macrorregiões, que passou a designar a região

Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul (TAMDJIAN E MENDES, 2005).

Em sentido mais amplo, Souza (1999, p. 5), considera que região é “um

subespaço de um mesmo país, que pode ser decomposto em várias partes, conforme

o interesse da análise”. Deriva dessa concepção o conceito de Walter Isard, para o

qual o a região representa o “sistema de regiões de um mesmo país pode variar

segundo a natureza do problema abordado”. A noção de região diferencia-se da noção

de espaço por este ultrapassar fronteiras político-administrativas, pois a região

“apresenta-se constituída por um espaço contínuo, delimitado por uma fronteira”

(SOUZA, 1999, p. 15).

De acordo com Souza (1999, p.16), Boudeville estabeleceu três noções de

região: homogênea, polarizada e região plano. A região homogênea “caracteriza-se

pela semelhança de suas unidades componentes” tais como “topografia, relevo, tipo

de solo, clima ou características econômicas, como uniformidade de renda per capita

ou tipo de atividade econômica predominante”. A região polarizada é determinada por

“um pólo urbano-industrial que organiza sua área de influência”. E por fim, região

plano é aquela que “diz respeito aos objetivos de política e está afeta a um problema

específico”.

Diferente de região, a regionalização é considerada um procedimento que visa

identificar e delimitar regiões. Também pode ser entendida como um processo

histórico, social, econômico e geográfico e ainda como uma estratégia de

planejamento econômico e social, a partir de critérios definidos (LINS, 1993).

3 Regionalismos na Amazônia

Um exemplo de região homogênea é a região amazônica, caracterizada pelo

conceito de bioma amazônico, que é “constituído de uma enorme diversidade biológica

de plantas, animais e microrganismos, possuindo um terço das reservas florestais

tropicais” (VALOIS, 2003, p.13). Nesse conceito, a Amazônia sul-americana

“corresponde a 1/20 da superfície terrestre e a dois quintos da América do Sul; contém

um quinto da disponibilidade mundial de água doce (17%) e um terço das florestas

mundiais latifoliadas, mas somente com 3,5 milésimos da população planetária”,

motivo pelo qual também pode ser caracterizada como uma região-plano, por estar

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afeta aos programas específicos e políticas de preservação. Além de compreender

esses conceitos, nela está inserida uma sub-região polarizada, caracterizada pela

Zona Franca de Manaus, que representa um polo urbano-industrial que possui ampla

área de influência que ultrapassa os limites da fronteira nacional (BECKER, 2009, p.

35).

De acordo com Souza e Grossi (2010, p. 128) a “Amazônia (...) é vista como

uma grande área homogênea, tanto em sua dimensão natural quanto na humana”.

Outra dimensão que pode caracterizar a Amazônia como região homogênea diz

respeito a atividade econômica predominante, que desde o período colonial foram os

produtos extraídos da floresta. As drogas do sertão fizeram parte do estímulo

econômico durante os séculos XVII e XVIII, principalmente na exportação. A região

provém da província do Grão-Pará e Maranhão, criada pela colonização portuguesa

com a expansão para além da linha de Tordesilhas, passando a conter fortes e bases

militares para firmar o controle da região (TAMDJIAN E MENDES, 2005).

Becker (2009) destaca três elementos que marcaram o período de formação da

Amazônia: a ocupação tardia dependente do mercado externo, com base na

exploração de recursos naturais; o controle do território por meio da intervenção em

locais estratégicos; e a dualidade de modelos de ocupação do território com uma visão

interna da colônia e outra externa voltada para as relações com a metrópole. A

implantação de grandes projetos de ocupação caracterizou a fase de planejamento da

região (1930-1985), que após 1985 demonstrou esgotamento do nacional

desenvolvimentismo e a configuração da Amazônia em uma fronteira socioambiental,

configurando-se como a Incógnita de Heartland.

A partir de 1980, a região amazônica se encontra inserida em um novo

contexto global, que não visa mais o controle sobre o território e a apropriação direta

deste, porém encontra-se inserida no contexto da influência de diversos atores sobre o

uso do seu território. Tornou-se relevante a “natureza como fonte de informação para a

biotecnologia”, onde é valorizada como “capital de realização atual ou futura e como

fonte de poder para a ciência contemporânea”. Possui um duplo grau de valorização, a

extensão de terras em sentido estrito e o imenso capital natural existente em todo o

seu bioma (BECKER, 2009, p. 34-35).

De acordo com Becker (2009), é a partir da década de 80 que a questão

ambiental torna-se politizada com o interesse de diversos atores na preservação da

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natureza, momento em que a política regional volta-se para o novo padrão de

desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável. De acordo com Sacks (2008, p.54)

este está fundamentado na “harmonia de objetivos sociais, ambientais e econômicos”,

de modo que as necessidades estejam em harmonia com a conservação da

biodiversidade.

Nesse sentido, a região possui grande relevância na dimensão natural, social,

econômica e política, coexistindo vários conceitos associados a cada uma dessas

dimensões. Pelo critério político-administrativo refere-se à região norte; pelo conceito

econômico tem-se a Amazônia legal, que é um conceito político criado para planejar e

promover o desenvolvimento da região; já o conceito de Pan Amazônia refere-se à

Amazônia Sul Americana com grande potencial geopolítico e econômico abrangendo

nove estados brasileiros e oito países da América do Sul, 5 milhões de km2 de

extensão, 22% do potencial florestal existente no planeta, aproximadamente 20% da

disponibilidade mundial de água doce e 45% do potencial hidroelétrico brasileiro

(TAVARES, 2011).

Outros conceitos também podem ser encontrados tais como Amazônia

continental (ou Amazônia Sul Americana): Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,

Venezuela, República da Guiana, Suriname e Guiana Francesa; Amazônia Brasileira

(ou Amazônia legal): Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins,

Mato Grosso e maior parte do Estado do Maranhão (Lei nº1.806/06.01.1953);

Amazônia Ocidental: Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia (§ 4º do artigo 1º do

Decreto-lei nº 291 de 28.02.1967), e Amazônia Oriental: Pará, Maranhão, Amapá,

Tocantins e Mato Grosso, dentre outros conceitos2 (CÁUPER, 2006; JÚNIOR ET AL,

2011).

4 Roraima no contexto amazônico e região da madeira

Nesse contexto, o estado de Roraima está inserido na Amazônia legal

juntamente com estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Amapá,

Tocantins e parte do Maranhão. Possui uma área de 224.301,04 km2 distribuída em 15

2 Disponível em:

<http://www.amazonialegal.com.br/textos/amazonia_legal/Amazonia_Legal.htm>. Acesso em: 15 de setembro de 2012.

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municípios, dentre eles a capital Boa Vista com uma população de 450.479 habitantes

e uma densidade demográfica de 2,01 hab/km2, de acordo com o IBGE (2010). Em

relação à cobertura vegetal, 61,7% são florestas, 34,7% vegetação nativa não florestal

e 3,6% área desmatada até 2009 (PEREIRA, ET AL, 2010).

Assim como em vários municípios da Amazônia legal, a atividade madeireira

tem grande importância para a economia do estado de Roraima. De acordo com o

IBGE (2010), o estado produziu 103.410 m3 de madeira em tora, 103.930 m3 de

madeira em lenha e 504 toneladas de carvão vegetal. Os dados da extração vegetal e

silvicultura podem ser visualizados na tabela 1, de acordo com o IBGE (2010):

Tabela 1 - Extração vegetal e silvicultura de Roraima de 2008 a 2010

Município

Madeira em tora (m3) Lenha (m3) Carvão Vegetal

(tonelada)

2008 2009 2010 2008 2009 2010 2008

2009 2010

Amajari 1.650 1.580 1.600 1.890 1.900 2.000 1 1 1

Alto Alegre

4.600 4.300 4.500 11.600 12.000 12.500 81 82 85

Boa Vista - - - 5.950 5.900 6.000 1 1 1

Bonfim 5.000 4.600 4.650 10.100 9.000 9.000 9 9 9

Cantá 33.300 31.000 31.500 30.000 31.000 32.000 299 305 306

Caracaraí 3.450 3.400 3.500 1.800 1.800 1.900 3 3 3

Caroebe 4.090 4.000 4.500 3.250 3.270 3.300 3 3 3

Iracema 5.000 4.800 4.900 750 750 800 2 2 2

Mucajaí 11.000 11.000 11.500 9.200 9.000 9.300 81 83 83

Normandia

- - - 5.600 5.700 5.600 - - -

Pacaraima

- - - 7.800 7.500 7.600 1 1 1

Rorainópolis

32.700 32.500 33.000 11.500 11.500 12.000 4 4 4

São João da Baliza

3.170 3.000 3.000 270 270 280 4 5 5

São Luiz 800 750 760 650 650 700 2 2 2

Uiramutã - - - 980 1.000 950 - - -

Total 104.76

0 100.93

0 103.41

0 101.34

0 101.24

0 103.93

0 491 501 505

Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria.

De acordo com Hummel et al (2010) uma localidade é considerada um polo

madeireiro quando o “volume de sua extração e consumo anual de madeira em tora é

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igual ou superior a 100 mil metros cúbicos”. Nesse sentido, é possível observar 1 polo

madeireiro em Roraima dos 71 existentes na Amazônia legal, conforme Pereira et al

(2010). A caracterização do polo madeireiro leva em consideração o conceito de

região homogênea dado que delimita regiões que possuem atividade econômica

predominante, nesse caso a produção de madeira. Apesar de ser uma atividade

encontrada em todos os municípios, ela predomina nos municípios do Alto alegre,

Bonfim, Cantá, Mucajaí, Rorainópolis, que respondem por mais de 70% da produção

de madeira nos três períodos, podendo ser identificada a região da madeira no gráfico

1:

Gráfico 1 – Região da madeira em Roraima

Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria.

Considerando os dados da produção de madeira no estado é possível

identificar sub-regiões da madeira, qualificando a região produtora de madeira em tora,

em lenha e do carvão vegetal. Desse modo, será qualificado como região da madeira

em tora e em lenha aquele município que possuir uma produção média anual superior

a 10.000 m3 e 9.000 m3 respectivamente, e a região produtora de carvão vegetal a que

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possuir uma média anual de produção superior a 80 toneladas. A produção média

pode ser observada na tabela 2:

Tabela 2 – Produção média - Extração vegetal e silvicultura de Roraima

Município

Madeira em tora (m3)

Lenha (m3) Carvão Vegetal

(tonelada)

Produção média 2008, 2009 e

1010

Produção média 2008, 2009 e

1010

Produção média 2008, 2009 e

1010

Amajari 1.610 1.930 1

Alto Alegre 4.467 12.033 83

Boa Vista - 5.950 1

Bonfim 4.750 9.367 9

Cantá 31.933 31.000 303

Caracaraí 3.450 1.833 3

Caroebe 4.197 3.273 3

Iracema 4.900 767 2

Mucajaí 11.167 9.167 82

Normandia - 5.633 -

Pacaraima - 7.633 1

Rorainópolis 32.733 11.667 4

São João da Baliza

3.057 273 5

São Luiz 770 667 2

Uiramutã - 977 -

Total 103.033 102.170 499

Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria.

Considerando o parâmetro adotado de 10.000 m3 para madeira em tora, 9.000 m3

de madeira em lenha e 80 toneladas para carvão vegetal é possível notar que a

produção de madeira em tora predomina nos municípios do Cantá (31%), Mucajaí

(10,8%) e Rorainópolis (31,8%) respondendo por 73,6% do total produzido. Em

relação à madeira em lenha se destacam os municípios de Alto Alegre (16,43%),

Bonfim (12,80%), Cantá (42,33%), Mucajaí (12,51%) e Rorainópolis (15,93%), com

71,7% do total produzido. Quanto à produção de carvão vegetal, Alto Alegre (17,73%),

Cantá (64,74%) e Mucajaí (17,52%) respondem por 93,78% da produção total. Há

municípios que se destacam nas três formas de extração vegetal, conforme gráfico 2:

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Gráfico 2 – Regiões produtoras de madeira em tora, em lenha e carvão vegetal por produção média 2008-2010

Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria.

Considerando o critério adotado é possível identificar a região da madeira em

Roraima, em especial delimitar as regiões que se destacam na produção de madeira

em tora, em lenha e carvão vegetal. É possível visualizar também que esses

municípios se localizam nas áreas de maior potencial florestal e onde se encontra

maior volume de desmatamento, conforme gráfico 3:

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Gráfico 3- Cobertura vegetal da Amazônia em 2009

Fonte: Fatos florestais da Amazônia (PEREIRA et al, 2010, p. 23).

A comparação do gráfico 2 com o gráfico 3 permite melhor compreensão desse

fato, que pode ser vista no gráfico abaixo. O contraste fica mais evidente quando se

compara as regiões produtoras de madeira e os dados da área florestal (em verde) e

área desmatada até 2009 (em preto). Como pode ser visto, a região delimitada no

gráfico a esquerda refere-se a cobertura vegetal do estado de Roraima, destacada do

gráfico 3, e o gráfico a direita representa a região da madeira delimitada com base nos

dados da produção média de madeira em tora, em lenha e carvão vegetal nos anos de

2008, 2009 e 2010.

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Gráfico 4- Comparação da Cobertura vegetal de Roraima com a Região produtora de madeira

Fonte: Cobertura florestal da Amazônia e IBGE. Elaboração

própria.

De acordo com os dados do INPE (2011) o desmatamento em Roraima até

2011 é 9.656,4 km2, correspondendo a 4,3% de sua área total. Os três municípios que

mais desmataram foi o de Mucajaí (1.713,1 km2), Cantá (1.482,4 km2), Rorainópolis

(1.093,7 km2), todos incluídos na região da madeira conforme visto no gráfico 1 e 2,

bem como na comparação do gráfico 4. Os dados do desmatamento nos demais

municípios podem ser visualizados no gráfico abaixo:

Gráfico 5 - Distribuição dos 9656.3 km2 de desmatamento em Roraima até 2011

Fonte: INPE (2011)

Localidade Desmatamento por km2

Mucajaí/RR (1713.1)

Cantá/RR (1482.4)

Rorainópolis/RR (1093.7)

Caracaraí/RR (1004.6)

Caroebe/RR (938.4)

Alto Alegre/RR (755.9)

Iracema/RR (733.1)

São Luiz/RR (555.4)

São João da Baliza/RR

(517.1)

Bonfim/RR (380.5)

Amajari/RR (318.8)

Pacaraima/RR (76.2)

Uiramutã/RR (46.3)

Boa Vista/RR (21.2)

Normandia/RR (19.6)

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Nesse sentido, observa-se que os dados da produção de madeira demonstram

de forma clara que os municípios que mais produzem madeira se encontram nas

localidades de maior potencial florestal do estado, em especial no Alto Alegre e parte

sudoeste de Rorainópolis. De acordo com os dados do INPE (2011) os municípios de

Mucajaí e Cantá concentram os maiores índices de desmatamento por km2 e se

destacam nas três formas de extração vegetal, madeira em tora, em lenha e carvão

vegetal. Isso leva a constatar a viabilidade da forma de regionalização adotada para

delimitar a região da madeira em Roraima.

4 Conclusão Apesar de o conceito de região não ser único, é possível compreender o

conceito esteve primeiramente associado à noção de espaço, tornando-se cada vez

mais complexo com a evolução da sociedade. A noção de região natural durante muito

tempo foi suficiente, porém passou a associar-se a outros critérios como o econômico,

o social e o político. A região amazônica, por exemplo, pode ser caracterizada por

diversos aspectos considerando o conceito de região homogênea, região polarizada e

ainda região plano, conforme o critério utilizado.

Pelo conceito de região homogênea, caracterizada pela semelhança de suas

unidades componentes, nesse caso, atividade econômica, foi possível delimitar a

região da madeira em Roraima com os dados da produção média de madeira de 2008

a 2010 do estado. Os municípios que se descaram na produção madeireira foram: Alto

Alegre, Mucajaí, Cantá, Bonfim e Rorainópolis. Cantá e Mucajaí se destacaram na

produção de madeira em tora, de madeira em lenha e de carvão vegetal.

Visando caracterizar melhor a região, foram analisados os dados da cobertura

vegetal do estado e os dados referentes ao desmatamento. Observando a cobertura

vegetal do estado, é possível notar que maior parte é floresta, e a comparação com a

região da madeira demonstrou que a produção média de madeira se concentra nessa

cobertura, com maior potencial madeireiro do que em outras regiões. Outra

constatação refere-se ao desmatamento em Roraima, pois os municípios que mais

desmataram até 2011 foram os municípios de Mucajaí e Cantá, justamente os que

concentram três formas de produção madeireira estudadas.

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Nesse sentido, o conceito amplo de região e especialmente o conceito de

região homogênea permitiu a caracterização e delimitação da atividade madeireira no

Estado de Roraima, uma atividade que possui destaque tanto em Roraima como em

vários municípios da Amazônia legal. A delimitação da região da madeira pode

subsidiar políticas públicas para a região, de forma a trazer melhorias para essa

atividade econômica bem como promover políticas mais efetivas de controle do

desmatamento em Roraima.

REFERÊNCIAS

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