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Nota Técnica – 25/09/2009 1 Regionalização do Gasto Público com Pessoal ( Por que comemorar o aumento da folha salarial federal? ) José Roberto Afonso Kleber Castro Tem sido dito que expandir o gasto público com pessoal é uma forma eficiente de combater a crise financeira global e justa por gerar renda e emprego, além de atender a necessidade da população. É uma tese de fácil compreensão pelo leigo, porém, omite que o Brasil é uma Federação, que o gasto não é distribuído linearmente por esfera e unidade de governo, muito menos que beneficia igualmente todas as regiões e localidades do país. O objetivo desta nota é examinar as características básicas da composição recente do gasto público com pessoal no país. Não será analisada a evolução, mas sim feito um retrato atual. * * O último ano com estatísticas nacionais para todos os governos é 2008. A fonte básica é o Tesouro Nacional, que recentemente publicou uma consolidação dos balanços do exercício na internet – isto compreende o da União 1 , dos 27 Estados 2 e boa parte dos Municípios 3 (os cálculos aqui expostos subestimaram o gasto municipal, mas não afetam significativamente os resultados agregados, pois são pequenas cidades). Se os balanços do Tesouro já oferecem a decomposição dos valores gastos nos Estados e Municípios por UF, a dificuldade é regionalizar o gasto federal. O mesmo Balanço e o SIAFI não servem porque, inadequadamente, a maior parte da folha salarial é 1 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/execucao_orcamentaria_do_GF/Consolid acao_Contas_Publicas.xls . 2 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/estados_municipios/download/exec_orc_estados.xls . 3 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/estados_municipios/financas/Finbra2008v1.exe .

Regionalização do Gasto Público com Pessoal José Roberto ... · Tem sido dito que expandir o gasto público com pessoal é uma forma eficiente de ... já oferecem a decomposição

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Nota Técnica – 25/09/2009 1

Regionalização do Gasto Público com Pessoal

( Por que comemorar o aumento da folha salarial federal? )

José Roberto Afonso

Kleber Castro Tem sido dito que expandir o gasto público com pessoal é uma forma eficiente de combater a crise financeira global e justa por gerar renda e emprego, além de atender a necessidade da população. É uma tese de fácil compreensão pelo leigo, porém, omite que o Brasil é uma Federação, que o gasto não é distribuído linearmente por esfera e unidade de governo, muito menos que beneficia igualmente todas as regiões e localidades do país. O objetivo desta nota é examinar as características básicas da composição recente do gasto público com pessoal no país. Não será analisada a evolução, mas sim feito um retrato atual.

* *

O último ano com estatísticas nacionais para todos os governos é 2008. A fonte básica é o Tesouro Nacional, que recentemente publicou uma consolidação dos balanços do exercício na internet – isto compreende o da União1, dos 27 Estados2 e boa parte dos Municípios3 (os cálculos aqui expostos subestimaram o gasto municipal, mas não afetam significativamente os resultados agregados, pois são pequenas cidades). Se os balanços do Tesouro já oferecem a decomposição dos valores gastos nos Estados e Municípios por UF, a dificuldade é regionalizar o gasto federal. O mesmo Balanço e o SIAFI não servem porque, inadequadamente, a maior parte da folha salarial é 1 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/execucao_orcamentaria_do_GF/Consolidacao_Contas_Publicas.xls. 2 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/estados_municipios/download/exec_orc_estados.xls. 3 Disponível em: http://www.stn.fazenda.gov.br/estados_municipios/financas/Finbra2008v1.exe.

Nota Técnica – 25/09/2009 2

contabilizada como “nacional” e assim não é discriminada a unidade da federação em que foi efetivamente destinado o gasto. A alternativa foi recorrer a uma estatística gerencial: o Boletim Estatístico de Pessoal, editado pelo Ministério do Planejamento4, informa o valor da despesa anual por UF, mas apenas para o pessoal civil do Poder Executivo5. Para se estimar o gasto federal, o ponto de partida foi tomar a distribuição percentual por UF do total dessa parcela da folha, segundo o citado boletim, e aplicar ao total reportado no Balanço da União relativo ao elemento Aplicações Diretas – Vencimentos e Vantagens do Pessoal Civil, do grupo Pessoal e Encargos Sociais. Antes foi imputada em Brasília a folha de todo o Poder Legislativo e dos órgãos do Judiciário sediados na capital (como no caso do STF e do STJ). Os gastos com a folha da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal, de longe, os maiores realizados por este Poder, foram rateados entre os Estados segundo dados divulgados em boletim do Conselho Nacional de Justiça – CNJ;6 e para a parcela residual, foi feita estimativa semelhante a do Executivo.7 O mesmo elemento de despesa, relativo ao pessoal civil em atividade, foi identificado no balanço dos Estados e dos Municípios de 2008, informados ao Tesouro Nacional e publicados em seu portal (conhecido como FINBRA – Finanças do Brasil). O objeto desta análise, portanto, é focado em apenas uma parcela da despesa com pessoal dos governos do País, ainda que seja a mais representativa em quantitativo de pessoal e prestação de serviços públicos: os servidores civis em atividade. Portanto, não são computados os gastos com servidores militares, inativos e pensionistas, bem assim encargos patronais e assemelhados. 4 Disponível em: http://www.servidor.gov.br/publicacao/boletim_estatistico/bol_estatistico_09/Bol159-Jul2009.pdf. 5 O valor total do gasto federal com pessoal civil executivo em 2008 pelo Boletim Estatístico de Pessoal (Ministério do Planejamento) difere muito do mesmo indicador pela Consolidação das Contas Públicas (Secretaria do Tesouro Nacional): enquanto o primeiro expõe a rubrica de R$ 62,6 bilhões, o segundo é de R$ 53,5 bilhões. Optou-se por utilizar a segunda informação para manter a mesma fonte dos dados estaduais e municipais – no caso a STN. 6 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/justica_em_numeros_2008.pdf. No caso específico da justiça federal, primeiro foi feito um rateio do gasto nacional entre as 5 regiões seguindo as mesmas proporções da despesa com pessoal informadas pelo CNJ. Dentro de cada região, a distribuição entre cada UF foi feita com base na proporcionalidade deles na despesa com a justiça do trabalho. 7 Este foi o caso da Justiça Eleitoral, não abordada nas estatísticas do CNJ, que teve sua folha salarial distribuída entre as UFs supondo o mesmo rateio proporcional do Poder Executivo.

Nota Técnica – 25/09/2009 3

* *

Em 2008, o montante gasto pelas três esferas de governo com a remuneração dos servidores civis ativos foi de R$ 211,3 bilhões, conforme a tabela a seguir, que discrimina este valor por esfera de governo e por unidade da federação.

* *

Despesa Pública com Pessoal Civil em 2008 por UF e governo R$ Correntes UF União Estados Municípios TotalAC 379.110.838 806.136.861 226.397.747 1.411.645.445 AL 653.311.840 1.148.107.093 1.153.698.362 2.955.117.295 AM 677.810.003 1.557.619.013 1.059.406.469 3.294.835.484 AP 637.824.591 714.337.078 200.765.595 1.552.927.264 BA 2.056.233.775 4.152.622.174 3.527.864.933 9.736.720.882 CE 1.645.530.160 2.579.569.356 2.739.525.821 6.964.625.337 DF 9.948.924.304 3.850.818.386 13.799.742.690 ES 829.634.087 1.329.952.253 1.621.030.092 3.780.616.433 GO 970.680.404 2.535.737.320 2.285.182.783 5.791.600.507 MA 748.759.326 1.602.487.866 1.638.905.164 3.990.152.356 MG 4.209.296.713 7.127.156.776 7.278.251.076 18.614.704.566 MS 587.376.804 1.395.121.743 1.237.993.078 3.220.491.625 MT 565.968.059 1.666.289.395 1.265.734.531 3.497.991.984 PA 1.217.134.940 1.863.921.739 1.523.310.016 4.604.366.694 PB 1.164.916.085 1.604.226.749 1.255.865.599 4.025.008.433 PE 2.278.793.479 2.751.310.269 2.506.843.922 7.536.947.670 PI 553.494.161 1.155.842.498 901.246.923 2.610.583.582 PR 1.806.981.045 4.442.385.071 4.266.453.685 10.515.819.801 RJ 10.654.591.236 6.278.118.873 7.336.623.416 24.269.333.525 RN 948.959.215 1.519.041.384 1.133.942.225 3.601.942.823 RO 680.099.082 1.070.980.432 672.200.301 2.423.279.814 RR 531.610.177 522.621.543 154.308.946 1.208.540.666 RS 3.082.960.567 4.118.496.074 4.981.341.803 12.182.798.444 SC 1.478.270.532 2.471.067.113 2.746.519.711 6.695.857.357 SE 486.546.162 1.101.287.384 846.162.673 2.433.996.219 SP 5.661.977.000 22.549.105.081 20.419.476.362 48.630.558.442 TO 274.837.545 1.139.237.579 516.563.942 1.930.639.066

BRASIL 54.731.632.129 83.053.597.102 73.495.615.175 211.280.844.406 El a bora çã o Própria .Fontes Primá ria : Uniã o - Bol etim Es ta tís ti co Pes s oa l /MP e SIAFI; Es ta dos e Muni cípios - STN/FINBRACompreende des pesa s de pes s oa l com apl ica ções di retas em pes soa l civil . Exclui mi li ta res , ina tivos e enca rgos . Ga stos federai s por UF do Executi vo/Judi ci á ri o na ci ona l ra tea do conf.Bol etim.

Nota Técnica – 25/09/2009 4

A divisão federativa do gasto com o pessoal civil em atividade é compatível com a expressiva descentralização tributária e fiscal reinante no País: apenas um quarto é aplicado pela União, enquanto Estados geram cerca de 40% e os Municípios 35% do total. Mas, essa composição não é linear. As discrepâncias mais flagrantes são explicadas pela folha federal, ainda que ela seja a menor das três esferas de governo: a União responde por 72% da folha no DF, 44% no RJ e em RR, 41% em AP; no outro extremo, chega a gerar pouco mais de 10% da remuneração paga a servidores em SP e TO. É uma primeira evidência da concentração do gasto federal em poucas unidades federadas. O gráfico a seguir mostra as UF’s em que a União tem maior participação (DF e RJ) e as UF’s em que a União tem menor participação (TO e SP):

A tabela a seguir detalha a mesma informação do gráfico para todas as UF’s.

72,1%

43,9%

11,6%

14,2%

27,9%

25,9%

46,4%

59,0%

0,0%

30,2%

42,0%

26,8%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

DF

RJ

SP

TO

% do Total

Participação das Esferas de Governo na Despesa Pública com Pessoal Civil Ativo - 2008

MunicípiosEstadosUnião

Nota Técnica – 25/09/2009 5

A contrapartida da concentração regional da folha federal, é a importância capital dos governos estaduais e municipais no total pago a servidores em ativos na maioria das unidades federadas. Não há um padrão claramente definidos. Os governos locais pesam mais em regiões mais ricas - geram 80% ou mais da folha em SP e nos Estados do Sul. Porém, o mesmo vale também em estados muito pobres: também geram 80% da folha no AM, BA, MA, GO, MS, MT. A exceção da capital (DF), dos antigos territórios federais (RO, RR, AP) e outros três casos (PA, PB e PE), nos demais estados das três regiões menos desenvolvidas do País, os governos estaduais e municipais pesam proporcionalmente mais na folha salarial dos servidores do que na média nacional.

Despesa Pública com Pessoal Civil em 2008: divisão federativa % do TotalUF União Estados Municípios TotalAC 26,9% 57,1% 16,0% 100,0%AL 22,1% 38,9% 39,0% 100,0%AM 20,6% 47,3% 32,2% 100,0%AP 41,1% 46,0% 12,9% 100,0%BA 21,1% 42,6% 36,2% 100,0%CE 23,6% 37,0% 39,3% 100,0%DF 72,1% 27,9% 0,0% 100,0%ES 21,9% 35,2% 42,9% 100,0%GO 16,8% 43,8% 39,5% 100,0%MA 18,8% 40,2% 41,1% 100,0%MG 22,6% 38,3% 39,1% 100,0%MS 18,2% 43,3% 38,4% 100,0%MT 16,2% 47,6% 36,2% 100,0%PA 26,4% 40,5% 33,1% 100,0%PB 28,9% 39,9% 31,2% 100,0%PE 30,2% 36,5% 33,3% 100,0%PI 21,2% 44,3% 34,5% 100,0%PR 17,2% 42,2% 40,6% 100,0%RJ 43,9% 25,9% 30,2% 100,0%RN 26,3% 42,2% 31,5% 100,0%RO 28,1% 44,2% 27,7% 100,0%RR 44,0% 43,2% 12,8% 100,0%RS 25,3% 33,8% 40,9% 100,0%SC 22,1% 36,9% 41,0% 100,0%SE 20,0% 45,2% 34,8% 100,0%SP 11,6% 46,4% 42,0% 100,0%TO 14,2% 59,0% 26,8% 100,0%

BRASIL 25,9% 39,3% 34,8% 100,0%El a bora çã o Própria .Fontes Primá ria : Uniã o - Boletim Esta tístico Pes soa l/MP e SI AFI; Esta dos e Municípi os - STN/FI NBRA

Nota Técnica – 25/09/2009 6

* *

A concentração do gasto com pessoal da União em poucas unidades fica ainda mais clara quando cotejada a sua distribuição por UF em relação à mesma divisão da folha estadual e municipal e, sobretudo, da população brasileira, como na tabela abaixo.

A folha federal é concentrada em apenas duas unidades federadas: a União gasta cerca de 20% da folha de servidores no RJ, superando em mais de 2 vezes o seu peso proporcional na população brasileira (8,4%); e outros 18% são gastos em DF, 14 vezes mais do que sua fatia na população (1,3%).

Despesa Pública com Pessoal Civil em 2008: distribuição regional % do BrasilUF União Estados Municípios Total PopulaçãoAC 0,7% 1,0% 0,3% 0,7% 0,4%AL 1,2% 1,4% 1,6% 1,4% 1,6%AM 1,2% 1,9% 1,4% 1,6% 1,8%AP 1,2% 0,9% 0,3% 0,7% 0,3%BA 3,8% 5,0% 4,8% 4,6% 7,6%CE 3,0% 3,1% 3,7% 3,3% 4,5%DF 18,2% 4,6% 0,0% 6,5% 1,3%ES 1,5% 1,6% 2,2% 1,8% 1,8%GO 1,8% 3,1% 3,1% 2,7% 3,1%MA 1,4% 1,9% 2,2% 1,9% 3,3%MG 7,7% 8,6% 9,9% 8,8% 10,5%MS 1,1% 1,7% 1,7% 1,5% 1,2%MT 1,0% 2,0% 1,7% 1,7% 1,6%PA 2,2% 2,2% 2,1% 2,2% 3,9%PB 2,1% 1,9% 1,7% 1,9% 2,0%PE 4,2% 3,3% 3,4% 3,6% 4,6%PI 1,0% 1,4% 1,2% 1,2% 1,6%PR 3,3% 5,3% 5,8% 5,0% 5,6%RJ 19,5% 7,6% 10,0% 11,5% 8,4%RN 1,7% 1,8% 1,5% 1,7% 1,6%RO 1,2% 1,3% 0,9% 1,1% 0,8%RR 1,0% 0,6% 0,2% 0,6% 0,2%RS 5,6% 5,0% 6,8% 5,8% 5,7%SC 2,7% 3,0% 3,7% 3,2% 3,2%SE 0,9% 1,3% 1,2% 1,2% 1,1%SP 10,3% 27,2% 27,8% 23,0% 21,6%TO 0,5% 1,4% 0,7% 0,9% 0,7%

BRASIL 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%El a bora çã o Própria .Fontes Primá ria : Uniã o - Bol etim Es ta tís ti co Pes s oa l /MP e SIAFI; Es ta dos e Muni cípios - STN/FINBRA

Nota Técnica – 25/09/2009 7

A antiga e a nova capital recebem cerca de 40% do gasto federal. Na verdade, se fosse levado em conta quem paga a folha salarial, a participação do DF seria ainda maior porque boa parte da folha salarial do governo distrital com educação, saúde e segurança pública é custeada diretamente pela União e, neste caso, tal conta não entra na coluna federal mas sim na dos governos estaduais. Isso ajuda a explicar também porque, na distribuição da folha estadual, DF responde por 4,6% do gasto nacional, bem acima de seu peso na população nacional (1,3%) e superando tudo que é gasto por governos estaduais de unidades muito mais populosas, como CE e PE. Na tabela anterior, se pode ver que a distribuição regional do gasto com servidores estaduais e municipais é muito mais próxima da proporção na população brasileira, especialmente no caso das prefeituras. Por exemplo, o peso de SP na população é de 21,6% e na divisão da folha municipal é de 27,8%, enquanto no caso da folha estadual cai para 27,2%. Ou seja, quanto mais se expande a folha municipal, mais renda e efeitos que multiplicam na economia são distribuídos de forma mais equânime pelo território nacional. Porém, no outro extremo, quanto mais cresce a folha federal, mais concentrados são os efeitos em pról de poucas UF’s. É natural que capitais de Estados recebam uma fatia relativamente maior do gasto público do governo central. Porém, é preciso se questionar qual seria a fatia ideal considerando que este é um país de dimensões continentais, com um regime federativo, de direito, e que optou na última reforma constitucional por uma descentralização, de fato. Isto também significa dizer que, quando se expande o gasto com pessoal da União, ele tem um efeito profundamente concentrador em termos regionais – isto para não dizer que também provoca uma importante concentração da renda familiar uma vez que os servidores ativos, ainda mais os federais, são melhores remunerados que os servidores dos demais governos e, especialmetne, que os trabalhadores da iniciativa privada.

* * Outra forma de ver essa dupla face da regionalização do gasto público com pessoal no País, concentrador no âmbito federal, e descentralizador no âmbito estadual, e, sobretudo, municipal, é expressar os mesmos gastos em valores per capita, conforme tabela a seguir. O que mais chama a atenção na tabela é o gasto do governo federal em DF: R$ 3,9 mil por habitante, quando no território nacional o mesmo indicador é de apenas R$ 289. Este fato é decisivo para que DF seja das 27 UF’s do País aquela na qual a administração pública apresente a maior folha salarial em relação ao número de habitantes (R$ 5,4 mil). É marcante o contraste para o MA: emborfa seja o estado mais pobre do País, o gasto público com pessoal por habitante em seu terriório (apenas R$ 633), equivale a 12% do que se realiza no DF. O gráfico abaixo faz o rankeamento desta despesa per capita da União:

Nota Técnica – 25/09/2009 8

A observação dos valores per capita já mostra uma diluição do RJ no caso do gasto federal (R$ 671 por habitante). Fica claro, porém, que os habitantes de UFs menos desenvolvidas do País dependentem fundamentalmente do que lá é gasto pelos governos estaduais e municipais. Para o resultado já citado do MA, o gasto per capita das prefeituras é o dobro do federal. Outro caso é o de SP, uma dos estados em que a União menos gasta per capita (apenas R$ 138 por habitante), enquanto o governo paulista aplica quase 5 vezes mais esse valor. A tabela adiante detalha as informações dos gastos per capita com pessoal civil ativo em 2008.

119138142166166171177191195203209212215240243244251261284305311

455557

6711.040

1.2883.891

0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500MA

SP BA GO PA PR PI

MT CE

AM AL

MG TO ES SE SC

MS PE RS RN PB RO AC RJ

AP RR DF

R$ Correntes

Despesa per capita da União com Pessoal Civil Ativo - 2008

Nota Técnica – 25/09/2009 9

* *

Para se dimensionar o peso do gasto público com pessoal na economia é interessante comparar com o PIB de cada Estado8, como demonstrado na tabela a seguir . A despesa com pessoal civil de todos os governos representa 7,3% do PIB do Brasil em 2008, uma porcentagem por si só bastante expressiva. Porém, a sua distribuição por UF é profundamente desigual: no menor peso, em SP, equivale a apenas 5,0% do PIB estadual; no maior peso, em RR e AP, salta para 27% e 24% do produto local. Evidencia-se o caso extremo 8 O último dado do IBGE para as Contas Regionais é de 2006, mas se fez uma suposição simplista de que a variação nacional seria a mesma em cada UF até 2008, mantendo-se assim neste último ano a mesma participação dos Estados no PIB nacional de 2006.

Despesa Pública com Pessoal Civil em 2008: per capita R$/habitanteUF União Estados Municípios Total PIB per capitaAC 557 1.185 333 2.076 8.669 AL 209 367 369 945 6.142 AM 203 466 317 986 14.294 AP 1.040 1.165 327 2.533 10.461 BA 142 286 243 671 8.119 CE 195 305 324 824 6.682 DF 3.891 1.506 - 5.397 42.741 ES 240 385 469 1.095 18.636 GO 166 434 391 991 11.910 MA 119 254 260 633 5.535 MG 212 359 367 938 13.196 MS 251 597 530 1.379 12.713 MT 191 563 428 1.183 14.547 PA 166 255 208 629 7.391 PB 311 429 336 1.075 6.501 PE 261 315 287 863 7.749 PI 177 370 289 837 4.999 PR 171 419 403 993 15.738 RJ 671 396 462 1.529 21.155 RN 305 489 365 1.160 8.069 RO 455 717 450 1.622 10.703 RR 1.288 1.266 374 2.928 10.812 RS 284 379 459 1.122 17.623 SC 244 408 454 1.106 18.771 SE 243 551 423 1.217 9.225 SP 138 550 498 1.186 23.862 TO 215 890 403 1.508 9.148

BRASIL 289 438 388 1.114 15.240 El a boraçã o Própri a .Fonte s Pri mári a : Uni ã o - Bole ti m Estatís ti co Pessoa l/MP e SIAFI; Es ta dos e Muni cípi os - STN/FINBRAPopul a çã o: IBGE. PIB pe r ca pi ta: projeçã o própri a do PIB.

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destes estados, que antes eram territórios federais, nos quais podem ser somados dois efeitos: um contingente ainda importante de servidores é pago diretamene pela União; e, na parcela do gasto estadual, estes são muito beneficiados pelos critérios de rateio do FPE (que tem um piso para baixa população). Mas deixando de lado esses casos singulares, merece destaque o diferencial que faz o gasto da União em DF: só ao remunarar os servidores ativos, gera 9,1% do PIB local -proporção que tende a subir muito mais se contados também os militares e os inativos. Ainda que pague salários no RJ em volume superior ao DF, o peso na economia fluminense é bem menor: a União gera apenas 3,2% do PIB do estado. O caso mais extremo é o de SP: a folha equivale a 0,6% do PIB em SP, ou seja, o gasto do governo federal com pessoal civil ativo é insignificante para mover a maior economia do País. A razão entre a folha salarial estadual ou municipal e o respectivo PIB da UF é muito mais importante nas regiões mais pobres do País que nas ricas. Isto significa dizer que, mesmo que o volume de gasto seja menor, ele tem um efeito mais importante para mover a economia dessas localidades menos desenvolvidas. Assim, enquanto a folha estadual equivale a apenas 2.3% do PIB de SP, o mesmo indicador salta para 9.7% em TO, 6.6% na PB e 4.6% no MA. No caso das prefeituras, essa diferença é ainda mais marcante: sua folha representa 2.1% do PIB de SP, mas pulam para 4,4% no TO, 5,2% na PB e 4,7% no MA, mantendo a comparação entre as mesmas UF’s.

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* * Em suma, a folha salarial dos servidores públicos em atividade no País tem peculiaridades que exigem muito cuidado ao se defender a idéia simplista de que sua mera expansão gera benefícios para todos os brasileiros. Este gasto, quando realizado pelo governo federal, é extremamente concentrado e beneficia um número muito pequeno de estados no País, sendo

Despesa Pública com Pessoal Civil em 2008: em % do PIB % do PIBUF União Estados Municípios Total %PIB BrasilAC 6,4 13,7 3,8 23,9 0,2%AL 3,4 6,0 6,0 15,4 0,7%AM 1,4 3,3 2,2 6,9 1,7%AP 9,9 11,1 3,1 24,2 0,2%BA 1,7 3,5 3,0 8,3 4,1%CE 2,9 4,6 4,9 12,3 2,0%DF 9,1 3,5 0,0 12,6 3,8%ES 1,3 2,1 2,5 5,9 2,2%GO 1,4 3,6 3,3 8,3 2,4%MA 2,1 4,6 4,7 11,4 1,2%MG 1,6 2,7 2,8 7,1 9,1%MS 2,0 4,7 4,2 10,8 1,0%MT 1,3 3,9 2,9 8,1 1,5%PA 2,2 3,4 2,8 8,5 1,9%PB 4,8 6,6 5,2 16,5 0,8%PE 3,4 4,1 3,7 11,1 2,3%PI 3,5 7,4 5,8 16,7 0,5%PR 1,1 2,7 2,6 6,3 5,8%RJ 3,2 1,9 2,2 7,2 11,6%RN 3,8 6,1 4,5 14,4 0,9%RO 4,3 6,7 4,2 15,2 0,6%RR 11,9 11,7 3,5 27,1 0,2%RS 1,6 2,2 2,6 6,4 6,6%SC 1,3 2,2 2,4 5,9 3,9%SE 2,6 6,0 4,6 13,2 0,6%SP 0,6 2,3 2,1 5,0 33,9%TO 2,3 9,7 4,4 16,5 0,4%

BRASIL 1,9 2,9 2,5 7,3 100,0%Elaboração Própria .Fontes Primária : União - Boletim Estatís tico Pessoal/MP e SIAFI; Estados e Municípios - STN/FINBRAPIB projetado: a parti r do informado pelo IBGE por UF em 2006, suposta variação igual ao nacional.

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que os maiores aquinhoados estão longe de serem os mais pobres (aliás, até porque o governo muito pesa em sua economia). A descentralização federativa e a desconcentração regional são decisivos para regiões e localidades menos desenvolvidas, nas quais os salários pagos pelos governos estaduais e, sobretudo, pelas prefeituras, tem um peso direto proporcionalmente muito mais importante na renda local. Em outras palavras, expandir apenas o gasto com pessoal da União produz um efeito concentrador de renda entre regiões do País. Pior ainda é se, ao mesmo tempo, estiverem caindo as transferências dos fundos de participação (FPE e FPM), cujas receitas são decisivas para estados e principalmente prefeituras dessas regiões menos desenvolvidas, porque aí não conseguem impulsionar as economias locais, ainda mais em tempos de crise. É exatamente isso que vem ocorrendo, como mostra a tabela a seguir (com valores de 2008 corrigidos pelo IPCA):

Quando se compara a despesa da União com pessoal ativo dos sete primeiros meses deste ano com o mesmo período do ano passado nota-se um crescimento real de pouco mais de 17%. Por outro lado a evolução do FPE e do FPM, na mesma base de comparação, mostra uma queda real das transferências da ordem de 10%. Enfim, quem defende de fato a Federação Brasileira, se preocupa com justiça social e pretende desenvolver as regiões mais pobres do País não pode comemorar quando, ao mesmo tempo, aumenta a despesa pública federal com pessoal e deprime a receita estadual e municipal dependente de fundos de participação. Isso é promover a concentração de renda, regional e, provavelmente, também familiar.

Despesas da União: Gasto com Pessoal x Transferências R$ de 2009 (IPCA)Item jan-jul/09 jan-jul/08 Variação %Pessoal Civil Ativo 34.297.821.000,00 29.266.631.783,61 17,19%FPE 20.999.312.455,79 23.351.318.322,22 -10,07%FPM 21.986.582.478,81 24.437.427.523,78 -10,03%Fonte: STN e IBGE.