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REGISTROS DE UMA TRAGETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL: cartas de quem ensina Profª Tania Maria Esperon Porto FaE/UFPel coordenadora GT 16 - ANPEd

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REGISTROS DE UMA TRAGETÓRIA

PESSOAL E PROFISSIONAL:

cartas de quem ensina

Profª Tania Maria Esperon Porto

FaE/UFPel

coordenadora GT 16 - ANPEd

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Objetivos do painel

Levantar/partilhar questões referentes ao ensino formativo de professores e de alunos

Explicitar recursos e/ou linguagens educacionais/comunicacionais utilizados para formaçãodocente

Refletir sobre processos de formação docente, para além dos dispositivos da cognição.

CARTAS, POESIAS E TELEPSICODRAMA: CONSTRUINDO NOVAS

FERRAMENTAS PARA FORMAÇÃO DOCENTE

REGISTROS DE UMA TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL:

CARTAS DE QUEM ENSINA

Tania Maria Esperon Porto – FaE/UFPel

AS INTIMAÇÕES PRIMEIRAS FOMENTANDO A NARRATIVA POÉTICA DE

APRENDIZES DE PROFESSORAS

Profª Drª Lucia Maria Vaz Peres-UFPEL

APRESENTANDO O TELEPSICODRAMA EM CONSTRUÇÃO:

linguagem/recurso de ensino

Heloísa Dupas Penteado (Coord. de Pesquisa)- FE/USP

Ronaldo Pamplona Teixeira da Costa (Coord. de Psicodrama

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• Que experiências no caminho escolar são significativas para que o estudante se torne professor?

•Como uma secreta mirada no trajeto escolar contribui para formação docente?

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• Gênese: uma pesquisa-ação com professores Escola básica (CNPq e FAPERGS)

• Coleta de dados: entrevistas, questionários,

mídias imagéticas (filmes gravuras, fotos)

mídias de interação (psicodrama e escrita de cartas)

para professores, crianças e adolescentes

Propiciar relações de aprendizagem e um mergulho nas sensações despertadas pelas mídias

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METODOLOGIA DE AÇÃO

PSICODRAMA

• Aquecimento/sensibilização: poesias,

crônicas, música

• Estado de espontaneidade: escritura de

cartas para os professores que os marcaram

• Reflexão: sobre narrativas que representam

o professor que trouxeram

ou o de seus desejos

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CORPOS inquietos...

• Olhares, suspiros, risos, movimentos de pernas, braços, cabelos...

• corpos que mostram sensibilidades, inquietudes, racionalidades

SECRETA MIRADA NO PASSADO

afrouxa defesas sociais

deixa vir a tona processos históricos, profissionais e existenciais de um tempo

propicia saber renovado sobre a constituição do indivíduo

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Registros e imagens

• Expressão de pensamentos, sentimentos e vivências

• Pensamentos recheados de emoções, marcas, valores e saberes

Processo prazeroso ... processo dolorido

ponte entre passado e presente percepçãosobre o processo vivido na construção de si

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MEMÓRIAS E IMAGENS

• Via de acesso

às representações,

às lembranças.

• Percepção de sua trajetória pessoal e

profissional

MEMÓRIAS: que permitem reflexão sobre a

concretude da vida dos alunos/professores

sem anular dinâmica dos desejos de vida

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O que significam essas memórias?

Memórias recentes?

Memórias longínquas?

• Memórias que fazem brotar emoções, prazeres,dores, lágrimas, risos, desejos e ilusões escondidas(ou não) no seu ser.

• Memórias como as do aluno do curso de Artes:

• "Grande amigo e professor. Hoje eu tive umaexperiência maravilhosa na sala de aula durante umprocesso de volta ao passado – uma regressãotemporal que me levou ao antigo colégio onde tive asprimeiras aulas... lembrei de ti e tive saudades dosnossos encontros musicais."

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O cérebro necessita do abraço para

seu desenvolvimento

"Hoje tão perto e tão distante pareço sentir as mesmas emoções. Certezas e dúvidas caminhando de mãos dadas... às vezes choro, outras dou risadas; quando bate a saudade ocupo o espaço com lembranças, boas ou ruins, não sei... só sei sentir, sentir, sentir...Acho que isso é vida!!!" – CL (Mestrado em Educação)

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O cérebro necessita do abraço para

seu desenvolvimento

Lógica racionalista não deixa espaço para ternura, alegrias, desejos, aproximações, emoções, sonhos

Sensibilidade cria espaço para relações mais autênticas... onde carícia, tato, ternura expandem a intimidade, propiciando convivências e interações.

Auxilia na interação com os outros e com os entornos.

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AÇÃO DOCENTE e

EDUCAÇÃO ESCOLAR :

• NÃO pressupõe atuação severa, fria e distante.

• NÃO pressupõe separar seriedade de afetividade docente.

• NÃO anula dinâmica dos desejos da vida.

• Quando experiência do prazer está ausente, a aprendizagem é MERAMENTE INSTRUCIONAL

"...lembrei-me da senhora de quem eu tanto gostava, pois era muito carinhosa comigo, vivia me elogiando, dizendo que eu era

boa aluna, engraçado que das outras professoras eu não lembro" – CR (Mestrado em Educação)

• ... sentia que eu (nós) era (éramos) realmente importantes para ti e que a nossa aprendizagem para ti era o único objetivo de

estares ali." – CA (Pedagogia)

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A ternura está presente quando:Carlos Restrepo

Abandonamos a arrogância lógica universal

Abrimos para linguagem da sensibilidade

Captamos o prazer e a dor do outro

Reconhecemos nossos limites

Entendemos a força do compartilhamento e do alimento afetivo

Fomentamos o crescimento do diferente sem tentar nivelar

Desburocratizamos o conhecimento–prática da auto-gestão

Redefinição ecológica da ternura: recuperação da sensibilidade – ECOTERNURA

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Sorte nossa que alguns

Mestres deixam flores em

nosso caminho...

• "Obrigada por ter estado alguns momentos comigo, pois a partir deles construí e

continuo construindo o que sou hoje "– FS

(Mestrado em Educação)

• "Posso lhe dizer que escolhi ser sua colega de profissão...certamente escolhi pensando

em ser uma professora diferente como você." – FC (Pedagogia)

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Aprendizagem por identificação com o

mestre que tiveram...

• modelo relacional que resgata relações de amorosidade vividas

• aprendizagem da docência com a prática do

cotidiano, com a vivência com os antigos professores

• atitudes docentes são tomadas como modelo de profissionalismo, de vida, de ação,

• uma palavra, um gesto ou uma ação "deixam marcas profundas" nos alunos

O que pode levar a reprodução de comportamentos dos mestres, com ou sem reflexão

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Vida é aprendizado: aprendizado do

inusitado e das relações com os

outros

"Nunca, mesmo que a expressão seja forte, havia

parado para escrever a vocês. Agora, tenho o

objetivo de lembrar... dos encontros e

desencontros... Sabe meu maior conflito? Aquilo

que vocês me ensinaram... noto que estes mesmos

conhecimentos/conteúdos nunca foram conversados

comigo. Talvez um simples diálogo tivesse evitado

uma aluna cheia de medalhas, mas tão travessa.

Talvez eu não ficasse conversando com os colegas

em momentos inadequados – FA (Mestrado em

Educação, grifos nossos)

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Processo de partilha permeado pela

comunicação exige...

• diálogo

• consideração ao que o outro pensa

• colaboração e solidariedade

Admite a recusa, o ponto de vista diferente. É

receptivo ao enfado e ao entusiasmo. Exige

problematização. Orienta-se pelo princípio da

alteridade que considera a presença do outro em

cada atitude profissional (...) trata-se de considerar o

outro aluno, como alguém portador de

posicionamentos... capaz de se comprometer...

(Penteado, 2002)

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Desejamos compartilhar com os

outros: desejos, descobertas, afetos,

temores, necessidades...

• Reflexão, interação, movimentos e dialogicidade

conduzem professores e alunos a um processo de

convivência.

Assim, o crescimento acontece impulsionado pela

busca de espaços de liberdade, autonomia e ação,

que permitem ao indivíduo relações e vínculos com

os outros.

"Foste tão importante para mim e prá tantas outras crianças. E o

pior é que não me lembro de algum dia ter te dito isso. De

qualquer forma, digo agora... Tia querida, com certeza eu não

seria a mesma sem passar por ti. Eras viva, alegre, radiante e

conseguias contagiar a todos com o teu jeito. Sinto muito a tua

falta!" –RI (Mestrado em Educação)

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A verdade e a sabedoria estão em si

mesmas envoltas por brumas e

mistérios... Peres

Na universidade, há poucos espaços, para aluno em

formação falar de si e de como ele chegou nessa

trajetória, nesta constituição.

Atividades são organizadas de forma que os

"conteúdos sejam ensinados" e não são abertos

espaços para diálogo e reflexão...

De onde vim? Quem eu sou? O que gosto? O que

quero? Para onde vou?

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Ao falar de si para o outro,

o sujeito ...

• Resgata o adormecido, anseios, desejos, expectativas,

demonstrando coragem para exposição de si (sic) e uma certa

cumplicidade com quem lê.

• Contribui para que o coletivo se instaure

"Eu não estou conseguindo lhe falar, professor; me sinto

angustiada, não sei..., me faltam palavras,sempre fui aquela

aluna quieta, que sentava na frente, que fazia as tarefas

pedidas e rezava para não ser chamada para responder em

aula... acho até que muitas vezes passei despercebida... não

sei direito o momento da minha mudança... escrevi mais de

mim do que para você professor. Talvez porque necessitasse

lhe contar um pouco de mim, já que me escondi de você –

RA (Mestrado em Educação, grifos nossos)

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A aprendizagem no coletivo pressupõe• movimento e provisoriedade. Sempre há algo para aprender. E

se há algo para aprender, é porque os indivíduos não sabem

tudo e, estando abertos para ouvir e conversar com os colegas,

seus conhecimentos estão em construção.

• desocultamento de vozes, experiências e histórias, refletindo

sobre aspectos pessoais e profissionais

• um tempo especial para atender os diferentes tempos dos

indivíduos que se constróem e constróem o coletivo.

Construção da identidade docente (processos distintos e únicos),

considerando saberes e vivências do indivíduo que lhes

permitem apropriar-se de seus processos de formação, dando-

lhes um sentido no quadro de suas histórias de vida.

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Algumas (in)conclusões...

Agradecimentos...recordações...emoções...lágrimas“como a senhora é má, professora...fez fugir do esperado, nos levando a

experiências novas, desconhecidas, nos colocau frente a um mundo novo,

que nada mais é do que desviar o olhar do aparente e focá-lo em outros

fragmentos, do que foram a nossa realidade e marcaram o nosso

subconsciente e nos ajudam a ser como somos. Não estamos preparados

para subverter a ordem, o esperado, o normal. Quem rompe com essa

barreira provoca o choque. O choque desestrutura, tira as coisas dos seus

devidos lugares, arrumadinhos, isto é aqui, aquilo é ali. Seqüências e

conseqüências de coisas, de conhecimentos, isto é, padronização...

O fato de nos conectar a outros elementos, provoca o choque, mexe nas

estruturas, subverte a ordem esperada das coisas. A experiência de

regressão à escola nos proporcionou esta conexão, o ponto de contato, a

tomada que nos ligou a um mundo diferente ou ao mesmo mundo, sob um

outro prisma, que nos remete a outros elementos que sempre estiveram ali.

Valeu a descoberta, a retirada do que cobria uma realidade ..." RL,

(Mestrado, grifos nossos)

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Sem aceitação e respeito por si mesmo não se pode

aceitar e respeitar o outro, e sem aceitar o outro como

legítimo outro na convivência, não há fenômeno social.

Maturana, 1998

Das coisas boas e belas que acabaram nos vem

sempre uma luz e uma capacidade de ver o mais

banal com algum encantamento. Essa secreta mirada

que todo mundo pode ter, mas que o acúmulo de

compromissos, o excesso de deveres, a exigência de

sermos cada vez mais competentes e eficazes, talvez

nos roube um pouco.

Esse secreto olhar cada um pode deixar vir à tona.

E a vida voltará a ser possível.

LIA LUFT, 1998

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Profª Tania Maria Esperon Porto

P.P.G. em Educação – FaE/UFPel

Coordenadora GT 16 – ANPEd

www.taniaporto.com.br

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