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Regras da escrita jornalística O jornalista deve escrever curto, de forma clara, rigorosa e criativa. 1. Curto Curto porque quanto mais pequenas forem as frases, mais fácil é a sua compreensão. Uma frase = uma ideia. Quantas mais frases intercalares tiver um parágrafo mais difícil é a sua leitura. Curto porque o espaço no ecrã é bastante limitado. O acto de fazer scroll é como mudar de página, obriga a uma acção, a um esforço. Ao mesmo tempo, a sociedade evoluiu de forma a que haja cada vez menos tempo para a leitura. Deve por isso evitar-se as redundâncias, as repetições, as bengalas. 2. Clareza Quando escreve, o jornalista deve pensar que pode estar a ser lido por uma pessoa acabada de passar seis meses em Marte, sem acesso à Internet nem ao telejornal. A escrita deve ser clara porque os textos jornalísticos devem poder ser lidos por um leque o mais vasto possível de pessoas. Deve ser clara porque se um leitor não perceber alguma frase não continuará a ler o texto, ainda que possa voltar atrás para tirar dúvidas, e ficará com a sensação de que aquele jornal é elitista. O jornalista deve, por isso, evitar palavras difíceis, só entendidas por grupos especializados; palavras em língua estrangeira (se o fizer deve fornecer a tradução para português); deve explicar bem onde fica uma determinada aldeia de um país distante; deve contextualizar todas as informações.

Regras da escrita jornalística online

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Regras da escrita jornalística

O jornalista deve escrever curto, de forma clara, rigorosa e

criativa.

1. Curto

Curto porque quanto mais pequenas forem as frases, mais fácil é a

sua compreensão. Uma frase = uma ideia. Quantas mais frases

intercalares tiver um parágrafo mais difícil é a sua leitura.

Curto porque o espaço no ecrã é bastante limitado. O acto de fazer

scroll é como mudar de página, obriga a uma acção, a um esforço. Ao

mesmo tempo, a sociedade evoluiu de forma a que haja cada vez menos

tempo para a leitura.

Deve por isso evitar-se as redundâncias, as repetições, as bengalas.

2. Clareza

Quando escreve, o jornalista deve pensar que pode estar a ser lido

por uma pessoa acabada de passar seis meses em Marte, sem acesso à

Internet nem ao telejornal.

A escrita deve ser clara porque os textos jornalísticos devem poder

ser lidos por um leque o mais vasto possível de pessoas. Deve ser clara

porque se um leitor não perceber alguma frase não continuará a ler o

texto, ainda que possa voltar atrás para tirar dúvidas, e ficará com a

sensação de que aquele jornal é elitista.

O jornalista deve, por isso, evitar palavras difíceis, só entendidas

por grupos especializados; palavras em língua estrangeira (se o fizer deve

fornecer a tradução para português); deve explicar bem onde fica uma

determinada aldeia de um país distante; deve contextualizar todas as

informações.

Page 2: Regras da escrita jornalística online

3. Rigor

A par da clareza encontra-se o rigor. O jornalista deve confirmar

sempre as informações dos seus textos. E deve divulgá-las com rigor. Foi

naquele dia que aconteceu; morreram 62 pessoas e não cerca de 60. O

objectivo de ser rigoroso não deve ser apenas uma qualidade evidenciada

nos textos que escreve. Ser rigoroso é uma atitude que – ao lado da

curiosidade e do espírito crítico – deve ser característica de todos os

jornalistas. Sem elas não existem jornalistas nem trabalho jornalístico.

Os textos jornalísticos são sempre escritos na terceira pessoa. A

primeira pessoa do singular ou do plural deverá ser empregue apenas em

textos de opinião, como editoriais, em que a direcção entende tomar

posição sobre determinado assunto da actualidade, ou em reportagens em

que o jornalista expressa as suas impressões de um modo franco e onde o

valor das sensações pessoais do jornalista é importante: se o jornalista for

a primeira pessoa a viajar até Plutão ou em casos em que o repórter se

encontra “camuflado” (“undercover”). Mas só nestes. Em todos os outros

não se aceita outra voz que não a da terceira pessoa.

Factos e opinião não se devem confundir. O jornalista relata factos,

devendo cingir-se a eles. Todas as opiniões presentes nos seus textos

devem estar atribuídas a fontes claramente identificadas. O jornalista não

é porta-voz de ninguém, deve, pois, limitar-se a reconstruir os

acontecimentos que são notícia.

4. Criatividade

Através de uma escrita criativa, que evite o jargão jornalístico, o

leitor sentirá que vale a pena ler os textos daquele jornalista. Por vezes, os

textos são demasiado formais, ditos “chapa cinco”, sem rasgos de

originalidade. O jornalista não pode ser preguiçoso e cair na rotina. Deve

esforçar-se por escrever textos que denotem criatividade, tendo a clareza

e o rigor como limites.

As agendas dos jornais, em qualquer meio, são cada vez mais

parecidas. Basta olhar para dois para nos apercebermos das similitudes.

Os jornais dão todos as mesmas notícias. As diferenças entre os diferentes

jornais encontram-se cada vez mais no estilo e no modo de serem

apresentadas as notícias do que nas histórias próprias que mais ninguém

tem. É por isso que a criatividade é tão importante. É ela que pode fazer a

diferença entre a escolha por um ou por outro jornal.

Page 3: Regras da escrita jornalística online

A estrutura

O jornalista deve respeitar as regras do “lead” e da pirâmide

invertida.

O “lead” é o primeiro parágrafo dos textos jornalísticos e deve

responder às seguintes perguntas-base de construção das notícias:

Quem?/O quê?, Quando?, Onde?, Como? e Porquê?

Devido à complexidade frequente das respostas ao Como? e ao

Porquê?, muitas vezes é impossível fazer-se o seu desenvolvimento no

primeiro parágrafo.

A pirâmide invertida significa que os textos jornalísticos partem

das informações mais importantes e mais actuais para as menos

importantes e menos actuais (“background”).

Antes de escrever a notícia, o jornalista deve pensar: “O que é mais

importante? A informação A é mais importante do que a informação B?

Ou será que a informação C é a mais importante? Por onde é que devo

começar?” Só depois de encontrar respostas para estas questões é que se

deve escrever a notícia. Antes de a escrever, se o jornalista apontar numa

folha de papel os tópicos principais da notícia conseguirá com maior

facilidade identificar o que é mais importante e o que é menos

importante, e distinguir o que é mais actual do que é menos actual.

Os textos jornalísticos devem ter um bom arranque e um bom

remate.

Com um bom arranque o jornalista consegue agarrar o leitor,

levando-o a ler o texto até ao fim. Com um bom remate, o texto termina a

subir, o que funcionará como uma espécie de guloseima (um piscar de

olho) que se dá ao leitor por ter “aguentado” a leitura até ao fim.

Page 4: Regras da escrita jornalística online

Depois de escrever, ler

Tão importante como ter uma escrita cuidada, a leitura atenta do

que se escreveu é essencial para o produto jornalístico ter qualidade. No

final, o jornalista deve ir à procura das pequenas imperfeições que podem

estar no seu texto. Uma leitura atenta é essencial para eliminar as

redundâncias, os erros de concordância, as frases longas, as vírgulas fora

do sítio. A gralha é inimiga do bom jornalista. Embora um jornal sem

gralhas seja um ideal difícil de atingir, se o autor do texto deixar passar

uma gralha ou uma incorrecção e o editor não a detectar, a possibilidade

desse erro aparecer no jornal é maior. Um jornalista não pode considerar

que o seu texto está terminado antes de proceder a uma leitura cuidada.

MC/2008