Reinaldo Polito, Gestos e Postura para FalarMelhor

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    Gestos e Postura Para Falar MelhorReinaldo Polito

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    SUMARIO

    Prefcio 6Pouco mais de duas palavras 7CAPITULO I - ELEMENTOS INTRODUTIVOS DA POSTURA E DAGESTICULAO 9

    A NATURALIDADE 9NERVOSISMO: CAUSA OU CONSEQUENCIA? 12A INTERDEPENDENCIA 13O TAMANHO E A INTENSIDADE DO GESTO 13A POSTURA ANTES DE FALAR 15

    CAPITULO II - AS PERNAS 16OS ERROS MAIS COMUNS 16

    1. Movimentao desordenada 172. Apoio incorreto 173. Cruzamento dos ps em forma de "X" 184. Animal enjaulado 195. A gangorra 196. O pndulo 207. A rigidez 208. Canguru saltitante 209. Cruzar e descruzar 2110. Espreguiadeira 2111. O vaivm 21

    A POSIO CORRETA EM P 22A POSIO CORRETA SENTADO 23OS SAPATOS 24AS CALAS 24FALAR EM P OU SENTADO? 25CADA CASO UM CASO 26

    CAPITULO III - OS BRAOS E AS MOS 26OS ERROS MAIS COMUNS 27

    1. Mos atrs das costas 272. Mos nos bolsos 293. Braos cruzados 304. Gestos abaixo da linha da cintura 305. Gestos acima da linha da cabea 316. Apoiar-se sobre a mesa, a cadeira, a tribuna etc 327. Partindo do cotovelo 32

    8. Postura do Z Carioca 339. Movimentos alheios 3310. Construtor do universo 34

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    11.Detalhes que sobressaem 35

    A POSTURA CORRETA PARA INICIAR 361. Braos ao longo do corpo 37

    2. Postura inicial com posicionamento aparentemente incorreto 383. O truque da ficha de anotaes 404. Mos fechadas em forma de concha 415. Apoio na tribuna 416. Inicio sem apoio 41

    GESTOS CORRETOS E SUAS FUNES 42

    1. Interpretar corretamente o sentimento, complementar a mensagemtransmitida pelas palavras e auxiliar no seu transporte 42

    2. Determinar dentro da frase uma informao de maior importncia

    433. Corresponder ao tom da voz 444. Tomar o lugar de palavras no pronunciadas 44

    AS GRANDES "DICAS" PARA A BOA GESTICULAO 44ORIENTAO PRATICA DA GESTICULAO CORRETA 46

    1. Enumerao das partes 482. Idia de separao 513. Idia de unio 524. Idia de fora 545. Idias de negao e afirmao 556. Idia de dimenso 5 77. Idia de distncia 578. Idia de tempo 589. Idia de movimento 59

    a. Mudana 59b. Surgir 60c. Girar 61d. Aumentar 61e. Diminuir 62

    f. Outras idias de movimento 6210. Idia de acalmar 6 311. Idia de controlar 6312. Idia de sentido de direo 6 4

    a. Linha reta 64b. Linha tortuosa 64c. Linha lateral 6 4

    13. Idia de prprio 6414. Idia de pensar 6 515. Idia de desconhecer 6 516. Idia de ateno 6 6

    17. Idia de pedir 6 618. Idia de relacionar 6 619. Idia de abstrato 6 6

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    CAPITULO Vll - QUESTES PRATICAS 88

    1. Como comportar-se diante das cmeras? 88

    2. O orador deve beber antes de falar? 913. O orador deve comer antes de falar? 914. Como saber, pela postura do auditrio, se ele est receptivo? 925. Que roupa usar numa apresentao? 926. Qual deve ser a postura de quem participa de uma reunio da

    empresa? 937. Como usar com eficincia o retroprojetor? 94

    EXERCICIOS 96

    BIBLIOGRAFIA DIDATICA 104

    PREFACIO

    Reinaldo Polito trilha, com muita competncia, o rduo caminho do pioneirismo apartir da iniciativa de criar um curso de expresso verbal h 13 anos, o que tevemuito da ousadia dos empreendedores. E deu certo, graas ao conhecimento damatria e ao domnio das tcnicas de oratria que ele possui. Prova disso so osresultados alcanados pelos primeiros alunos, que foram avalistas para os demais.Agora, Polito nos presenteia com este Gestos e postura para falar melhor, obraunica no gnero e de indispensvel utilizao para todos aqueles que precisam oudesejam comunicar-se mais corretamente e ser mais facilmente ouvidos eentendidos.

    Gestos e postura para falar melhor abre um mundo novo no assunto porque diz emostra o que e como fazer atravs de uma linguagem simples e de um amplo painelfotogrfico que ilustra os vrios captulos do livro.

    "Lembre-se de que a sua postura e as suas atitudes antes de falar poderopredispor o nimo dos ouvintes de forma favorvel ou contrria a sua apresentao."Este alerta de Polito, logo nas primeiras pginas, nos leva a entender a importnciados gestos na comunicao, o que ele confirma com exemplos de famosas figurasdo passado e da atualidade do mundo poltico, artstico e empresarial, como PauloAutran, Juscelino, Tancredo Neves e Ulysses Guimares, entre outros. Com menorou maior nfase, o significado de cada gesto - com a intenso do orador e o que sentido pelos ouvintes - est explicado com uma clareza que demonstra no apenaso conhecimento do autor, mas, tambm, a sua preocupao em pesquisar einterpretar visualmente o falado e o mostrado.

    O que mais apreciamos no livro foi a forma simples e direta como cada detalhe explicado e como cada gesto traduzido. Gestos e postura para falar melhor umcurso completo sobre o assunto, permitindo que cada leitor possa aprender,

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    bastando o livro e um espelho. Ele util at para os mais experientes oradores, queraqueles de aptides naturais, os oradores autodidatas, quer aqueles que buscam oaprimoramento na arte de falar mesmo que j tenham lido o livro Como falarcorretamente e sem inibies ou concludo o curso completo de expresso verbal,

    do prprio Reinaldo Polito.

    E, para aqueles que pensam que, por ser assunto importante, a sua leitura serdificil, devemos ressaltar uma qualidade ainda pouco conhecida do autor: ele bem-humorado. O assunto srio, mas o leitor ter sempre um sorriso nos lbios, umasvezes por se identificar com as situaes ou personagens descritas, outras pelaleveza do texto, que se alternam com exemplos mais srios:

    "Conta Josu Montello no seu admirvel Anedotario geral da Academia Brasileiraque Jos Maria Paranhos, futuro Visconde de Rio Branco, possua na tribuna umcacoete: erguia o brao, dedo indicador em riste, nos momentos em que parecia

    mais arrebatado. E diz que, o prprio orador deu esta explicao ao seu gesto:'Quando a idia no vale por si para ir bastante alto, trato de suspend-la na pontado dedo' ".

    A arte de falar bem, corretamente e sem inibies, dominando gestos e posturapara falar melhor, tema da intimidade e competncia de Reinaldo Polito. Disso sotestemunhas os milhares de alunos que j passaram por seus cursos em dezenasde turmas, uma das quais tivemos a satisfao de paraninfar. Conhecemos de pertoo complexo mundo da comunicao verbal, que tem sido considerada matria-primadas atividades empresariais e polticas, principal-mente destas, onde a identificaode parlamento uma correta traduo da necessidade de se conversar, buscandoentendimento.

    O falar instrumento importante para ofertas e propostas comerciais, parapropostas de projetos polticos, assim como o , tambm, para a compreenso eharmonia das pessoas nas relaes humanas em todos os ambientes, em todos osmomentos. Com este Gestos e postura para falar melhor voc ter condies de seapresentar em publico, falando para poucos ou muitos ouvintes, sem correr o riscode trocar os ps pelas mos, evitando que seus gestos interpretem de formadiferente aquilo que voc est falando ou que voc se sinta como tendo mais mosdo que gostaria na hora em que estiver discursando.

    Agora, faa o seu primeiro gesto correto: vire a pgina e comece a leitura domelhor!

    Guilherme Afif Domingos

    POUCO MAIS DE DUAS PALAVRAS

    Estou muito feliz com a realizao deste trabalho. Quando comecei a escrevereste livro, prometi a mim mesmo que iniciaria assim esta apresentao, mas s o

    faria se, depois de analis-lo rigorosamente (no com os olhos de uma coruja que vos seus filhos), conclusse que honestamente estava convencido de que os leitoresconseguiriam aprender a posicionar-se e a gesticular, estudando atentamente cada

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    um dos captulos. Concluda a obra, revi cada item detidamente e senti que seriapossvel a qualquer pessoa de boa vontade, depois da sua leitura, penetrar ossegredos da arte da postura e da gesticulao.

    Esse parecer foi ratificado quando Roslys Kairalla Eid, a quem aproveito paraagradecer, ao fazer a preparao dos originais nas incansveis noites indormidas,interpretando meus "hierglifos" em frente das teclas do computador, executou cadagesto recomendado, isolando sua experincia e agindo como se fosse leiga noassunto, e constatou que era possvel execut-los.

    Em muitos momentos precisei resistir h tentao de discorrer maisprofundamente sobre determinados temas, para no avanar em outros tpicos daarte de falar e permanecer nos limites da gesticulao e da postura. Aqueles quedesejarem estudar a Expresso Verbal de forma mais abrangente podero recorrerh leitura da minha obra Como falar corretamente e sem inibies Editora Saraiva.

    Quando me lancei na aventura de escrev-lo, no imaginava, nem de longe, osobstculos que teria de enfrentar. Sabia apenas que era uma tarefa necessria, queprecisaria ser realizada.

    Objetivando mostrar como as tcnicas recomendadas possuem aplicao prtica,decidi colocar ilustraes com fotografias das mais diversas personalidades quefizeram e fazem a histria do nosso pas, tiradas no momento em que executavam ogesto indicado. Para isso fui obrigado a pesquisar mais de 200000 fotografias nosarquivos disponveis nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S.Paulo. Alm dasfotografias dessas personalidades, inclu outras pormim mesmo interpretadas, mostrando, no detalhe, as posturas, os gestos e osmovimentos importantes, num paciente trabalho do fotgrafo Toao Sato (Jorge), quenos tem acompanhado, fotografando os gestos dos nossos alunos, ao longo detodos esses anos.

    Para certificar-me de que no estava esquecendo alguma informaosignificativa, assisti a mais de 60 horas de gravaes em fitas de videoteipe queguardam apresentaes dos maiores oradores do nosso tempo e de alunos quepassaram pelo nosso Curso de Expresso Verbal, nos ltimos anos.

    Consultei em vo praticamente todas as bibliotecas, tentando encontrar algummaterial que servisse de subsdio ao desenvolvimento do trabalho. Nada encontrei edescobri assim que era o primeiro no Brasil a escrever um livro no gnero, isto ,especifico para orientar a postura e a gesticulao para falar.

    Um recurso que me auxiliou muito na elaborao de cada captulo foram asanotaes que sempre fiz em sala de aula. Tenho o hbito de escrever em papisautocolantes, que grudo na carteira, as idias interpretadas pelos mais diferentestipos de gestos. Na poca em que foram realizadas, no tinham outro objetivo almde servir na preparao das aulas, mas por sorte foram cuidadosamenteconservadas. Essas anotaes possibilitaram a montagem da "orien-

    tao prtica da gesticulao correta", uma espcie de dicionrio de idias paracada gesto.

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    Contei ainda com a ajuda dos meus quatro filhos, Roberta, Rachel, Rebeca eReinaldo, que, com sua espontaneidade de crianas, constituram sempre excelentecampo de estudo, onde pude identificar a naturalidade do comportamento.

    Agradeo a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuiram naelaborao deste trabalho, e a todos os alunos do nosso Curso de ExpressoVerbal, que, ao longo de todos esses anos, errando, experimentando e acertando,construiram, com a prpria experincia, o conteudo deste livro.

    Finalmente agradeo ao meu assistente e amigo leal, Professor Jairo Del SantoJorge, que sempre me ouviu pacientemente, e com sua competncia colaborou comsugestes apropriadas.

    CAPITULO I

    ELEMENTOSINTRODUTIVOSDA POSTURA E DA GESTICULAO

    A NATURALIDADE

    Recordo-me nitidamente da poca em que morava em Araraquara, no interior deSo Paulo, e gostava muito de assistir aos comicios polticos que se faziam empraas publicas, com a presena de inumeros oradores. Muito jovem ainda, no mepreocupava com o conteudo dos discursos, at nem os entendia muito bem, o quetambm no importava. Valia mesmo era o episdio em si. A televiso ainda notinha chegado por aqueles lados e os divertimentos eram escassos; quase nadahavia, alm dos procurados filmes de Mazzaropi*, que provocavam filas queabraavam o quarteiro, e uma ou outra quermesse abrilhantada pelosinesquecveis servios de alto-falante.

    Ora, um comcio era, naquelas circunstncias, um grande acontecimento. A

    musica da bandinha, as faixas, o povo reunido, a correria das crianas, osxingamentos recprocos dos candidatos, no tenho certeza, mas parece que atentre os do mesmo partido (alguns fatos so perenes ao longo do tempo), osaplausos, as vaias, os gritos de "apoiado" e "j ganhou", a distribuio de santinhos(propaganda com as fotos dos candidatos), tudo era festa e divertimento.

    Eu era sempre, dos primeiros a chegar e s no dos ultimos a sair porque meuspais me levavam mais cedo para dormir. Entre uma brincadeira e outra com osamiguinhos, parava para observar os discursos, e um fato sempre me chamava aateno - os gestos dos oradores. Alguns pareciam querer voar, tal a velocidadecom que movimentavam os braos e as mos; um deles, um japonesinho de pouco

    mais de um metro e meio de altura, de voz muito aguda, girava tanto os braos,principalmente o direito, que parecia uma hlice de avio. Diziam que lhe davamcorda antes do discurso e s quando ela acabava que ele encerrava a sua

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    apresentao e parava de se movimentar. Outros, ao contrrio, seguravam comtanta fora na guarda de proteo da carroeria do caminho que servia depalanque, que eu nunca sabia se estavam com problemas de saude (clicas, dor deestmago, desarranjo intestinal), ou com raiva e querendo arrancar aquela proteo.

    Sem entender o que ocorria, acabava concluindo ser "defeito" de criana, quandocrescesse encontraria a explicao. Ficava ainda mais difcil a compreenso quandosurgia um outro orador com gestos que agradavam; eram to seguros e estticosque dava gosto v-los, esquecia-me at de brincar. Por que gostava destes e nodaqueles?

    Hoje vem a elucidao: a diferena entre gestos errados ou artificiais e gestoscorretos e naturais pode ser percebida at por uma criana. D para imaginar, apartir desta afirmao, o que poder ocorrer com a mensagem do orador quandoseus gestos forem observados por um publico mais bem preparado.

    A soluo estudar e treinar a gesticulao e a postura para no nosapresentarmos de maneira errada. Mas devemos dedicar-nos ao estudo e exercitarcom tal empenho que a tcnica passe a pertencer naturalmente ao nossocomportamento.

    Tenho dito reiteradamente e repetirei sempre que puder: no existe tcnica quepossa ser mais importante que a naturalidade - acima de tudo, a naturalidade.

    *Comediante do cinema brasileiro.

    Agora, ser natural no significa permanecer no erro. Assim, talvez pudessecomplementar dizendo que o errado natural prefervel ao errado artificial e aocorreto artificial, mas o correto natural sempre prefervel a qualquercomportamento.

    Este livro pretende mostrar a boa tcnica da postura e da gesticulao, mas querprincipalmente que esta tcnica seja utilizada com naturalidade, visando sempre aatender s caractersticas do orador e a preservar sua espontaneidade.

    preciso buscar o autoconhecimento, aprender a sentir o prprio corpo, saber do

    que ele capaz, observar suas dimenses e seus limites, ter conscincia da suafora para identificar o pensamento e o sentimento e descobrir suas possibilidadesde expresso; verificar como ocorre o movimento dos braos, das mos, das pernas,da cabea; enfim, sentir como age e reage o prprio corpo e, a sim, gesticular bem.

    A gesticulao nunca poder parecer ter sido treinada e programada para a falado orador. Isso evidenciaria artificialismo e provocaria resistncia na receptividadedo ouvinte. O publico no deseja ver uma mquina de falar, deseja, sim, ver e ouvirum ser humano. O gesto dever surgir de tal forma natural e espontneo quetrabalhar para complementar e conduzir a mensagem sem que o au-ditrio operceba conscientemente.

    A gesticulao obedece mesmo a um processo natural. Pensamos namensagem, ao mesmo tempo que informamos ao corpo o movimento a ser

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    executado; o corpo reage e s depois pronunciamos as palavras. Por isso o gestovem antes da palavra ou junto com ela, e no depois*. Se queremos falar que fomosa algum lu-gar, pensamos na mensagem que ir, informamos ao corpo sobre qual o movimento

    a ser executado, o corpo cumpre naturalmente o seu papel, estendendo o braopara a frente, e depois pronunciamos a frase eu fui. Se ocorresse o contrrio, ouseja, o movimento do brao depois da pronuncia da frase, haveria umaanormalidade facilmente percebida pelo ouvinte.

    No se deve confundir o gesto complementar da mensagem ou indicador da idiacom a ao determinante do fato em si. Assim, por exemplo, se eu falo que voupegar no seu brao, o movimento de pegar deve sair depois das palavras. Damesma forma, a me que diz ao filho que o trenzinho vai entrar no tunel, paracolocar comida na sua boca, ir fazer o movimento depois de falar. Cada gestodever corresponder a uma idia ou informao predominante e no a cada palavra,

    a no ser que esta palavra encerre em si uma idia completa. Por exemplo, euposso representar a frase seguinte com um unico gesto: ns estamos aqui paraestudar. No devo, portanto, fazer um gesto para ns, outro para estamos, outropara aqui etc. Repito (repetir mania de professor): faa um gesto para cada idiaou informao predominante e no um gesto para cada palavra.

    O estudo da gesticulao no tarefa simples. Exigir aplicao constante,observao e muita fora de vontade. Por outro lado posso garantir, com aexperincia no treinamento de mais de 1000 alunos por ano, que uma qualidadeda comunicao que poder ser conquistada por todos aqueles que a pretenderem.

    No tenha pressa em aprender nem desanime diante das primeirasdificuldades. Saiba que elas existiro e que fazem parte do processo deaprendizagem. Se pensar em desistir, d mais uma chance a voc mesmo econtinue

    * Entretanto, se o gesto preceder a palavra com pausa demasiadamente longa,ocorrer demonstrao de falta de vocabulrio ou de fluncia verbal. Esse problemapoder ser atenuado e em alguns casos at contornado, pronunciando-se a primeirapalavra depois da pausa com maior nfase, dando idia de valorizao da

    mensagem e no de hesitao.mais um pouco. Afinal, talvez esteja modificando hbitos construidos lentamente aolongo de uma existncia. Mesmo depois de ter aprendido e estar de posse de toda atcnica da gesticulao, isto no significa que o estudo se tenha encerrado. Cadaexperincia fornecer elementos reveladores para o autoconhecimento do seucorpo, o que lhe proporcionar ao longo do tempo um domnio mais profundo da suamelhor expresso corporal.

    Tenha em mente tambm um conceito fundamental: o gesto importante nacomunicao, e isso ficar bem evidenciado ao longo das pginas deste livro, mas apenas uma das muitas partes da Expresso Verbal. No d ao gesto mais valor doque merece. frustrante para um professor de Expresso Verbal ouvir um aluno

    dizer ao final do curso, num solene depoimento, que est satisfeito com oaprendizado porque aprendeu a gesticular bem. Ser que nada mais importanteocorreu no aperfeioamento daquele ser humano do que a conquista da boa

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    gesticulao? Certamente que sim. S que o gesto mais evidente, e seu estudo,no raro, mais trabalhoso, o que provoca a supervalorizao desta parte doaprendizado da arte de falar. Reflita tambm neste fato: qual seria sua avaliaosobre a capacidade de um orador desconhecido, se algum comentasse que ele

    muito bom porque sabe gesticular bem, isto , sabe falar bem com as mos?Provavelmente o reprovaria.

    Apesar de todas essas consideraes, o gesto tem muita importncia, e a suafalta ou utilizao incorreta poder provocar um transporte deficiente da mensagemat os ouvintes, j que ele um veculo transportador do nosso pensamento.

    Quando se afirma, at em posio de desafio, que um orador falou sem osgestos e se saiu bem, eu retruco sempre sem hesitar, mesmo sem ter tido aoportunidade de v-lo: Ele se sairia muito melhor se gesticulasse bem.

    Portanto, vamos arregaar as mangas e mos obra.

    NERVOSISMO: CAUSA OU CONSEQUENCIA?

    Alguns autores, e no so poucos, criticam abertamente o aprendizado dagesticulao, afirmando que quando o orador encontra a tranquilidade, libertando-sedo nervosismo, os gestos comeam a aparecer espontaneamente.

    No h como discordar dessa afirmao. Afinal, a expresso corporal ademonstrao daquilo que pensamos e sentimos. Se numa roda de amigos notamosum entre eles pressionado contra a parede (no sentido literal), com as mos nosbolsos, nas costas ou com os braos cruzados, fcil concluir que ele no est vontade naquele ambiente, e o simples fato de pedirmos que mude a sua posturano o deixar mais tranquilo, ao contrrio, poder agravar ainda mais a situao.

    Ele no est retrado porque seus braos esto amarrados ou presos, os braos que esto amarrados ou presos porque ele est retraido.

    Entretanto, no podemos deixar de aprender e treinar a postura e os gestos

    corretos, esperando que estas qualidades surjam espontaneamente. No adiantanada analisar o corpo em todos os detalhes e concluir que o gesto e a posturaconstituem um problema e que a resposta a esse problema "a raiz quadrada doinfinito". Precisamos resolv-lo com mais praticidade. E contra o ceticismo aco-modado dos adversrios desse aprendizado lano pelo menos dois argumentos quejustificam a existncia desta obra:

    l. Alguns oradores se apresentam de maneira incorreta com os gestos,simplesmente porque no sabem que o que fazem errado. As vezes at sabem,mas no conhecem uma tcnica que os ajude. Exemplifico at com o depoimento deum ministro que paraninfou uma das nossas turmas do Curso de Expresso Verbal

    e, admirado com o bom desempenho dos formandos que se apresentavam diante dopublico ao receber o certificado, confessou que nunca tinha conseguido aprender oque fazer com as mos. Seria desnecessrio dizer que o problema era

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    rigorosamente tcnico, j que ele no possuia inibio para falar a ponto de impedirsua gesticulao.

    2. A experincia dos longos anos como professor de Expresso Verbal (desde

    1975, ai de mim!) permitiu descobrir que, pela conscientizao das qualidadesexistentes na prpria comunicao ou potencialmente prontas para seremaproveitadas, possivel combater a inibio e o nervosismo, e ter-se a certeza deque se possui a qualidade refora a confiana. Alis, esta sempre foi a maiorfilosofia de trabalho do nosso curso, com resultados reconhecidos no apenas pelosalunos de uma forma geral, mas principalmente pelos psiclogos e psiquiatras queem grande numero foram nossos alunos e so unnimes nesta mesma avaliao.Assim sendo, quando o orador aprende a gesticular, passa a ter mais um elementopositivo na sua comunicao e, consciente deste fato, passa a ter tambm, comoconsequncia, mais um elemento para ajudar no robustecimento da sua segurana.

    Alm desses dois argumentos, acrescento que vigiar o comportamento do corpo instrui-lo a no concordar com os nossos temores e uma boa forma de combat-los.

    O medo um hspede indesejvel na casa do nosso ser; ele escraviza osnossos sentidos e limita as nossas aes. Policiar o comportamento do prpriocorpo requerer o despejo do intruso por justa causa e preparar a morada para uminquilino querido, a confiana.

    No tenha iluses, o medo no arruma suas malas e se muda por livre eespontnea vontade, preciso agir, lutar e combat-lo.Ensinar ao corpo como se posicionar e se mover uma boa maneira de expulsar oinimigo.

    A INTERDEPENDENCIA

    O aprendizado da expresso corporal atentar para cada parte do corpoisoladamente apenas para atender a uma finalidade didtica. Na prtica todas aspartes e todos os movimentos devero atuar harmonicamente, de maneirasincronizada, obedecendo h interdependncia existente em todo o corpo. Ummovimento das pernas, por exemplo, dever ter um significado correspondente a um

    movimento do brao, da expresso das mos, da inclinao da cabea, da posturado trax etc., sempre complementando e transportando a mensagem, como se fosseum veculo nico e indivisvel.

    No incio ser difcil atentar para todos os pontos ao mesmo tempo. Existir atem alguns casos uma espcie de desatrelamento das partes do corpo, como secada uma pudesse identificar separadamente uma idia isolada, diferente daquelasidentificadas pelas outras partes. possvel que nesta fase a mo e o brao faamum movimento afirmativo, enquanto o tronco, a cabea ou as pernas transmitemuma idia negativa. o processo natural de aprendizagem, at que todas as partescomecem a identificar conjuntamente a mesma mensagem.

    Por isso ser dada uma orientao inicial de como no fazer, para depois seapresentarem as sugestes de como poderia ser feito. Assim, enquanto voc no

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    treinamento ensaia os movimentos de uma parte do corpo, mesmo no ocorrendo oacompanhamento das outras partes, pelo fato de saber como elas no deveriamcomportar-se, o movimento ou posicionamento incorreto passa a ser evitado, paramais tarde poder ser treinado com a boa tcnica e associado no atendimento da

    interdependncia.

    No estou querendo com isso dizer que o corpo todo dever estar sempre semovimentando, mas mesmo sem movimento precisar reagir e identificar em todasas suas partes a mesma idia e, quando se expressar, todas devero interpretar omesmo significado.

    O TAMANHO E A INTENSIDADE DO GESTO

    Quem manda no orador no o orador, mas sim os ouvintes, desde que no final

    ajam de acordo com a sua vontade; atenda expectativa do auditrio, fale alinguagem que ele entende, transmita a emoo que ele espera receber, conceda,recue, concorde, deixe-o satisfeito e, no final, vena-o. Essa a comunicao dainteligncia, da previso estudada, do orador vitorioso.

    Joachim Fest, na extraordinria obra Hitler*, descreve o cuidado do orador emcorresponder h expectativa dos ouvintes: "Hitler s dizia em cada comcio o que opublico queria ouvir. Certamente no era o falador oportunista dirigindo-se hmultido, mas deixava-se impregnar de todos os sentimentos supersticiosos, dedominao, de angustia, de dio, e integrava-os para transform-los imediatamenteem dinmica poltica".

    De acordo com essa afirmao, o tamanho e a intensidade do gesto devematender ao tipo de auditrio que voc enfrenta. Como sugesto de ordem geral, semque se constitua uma regra imutvel - quanto maior o auditrio ou mais inculto,maiores e mais largos devero ser os gestos; quanto menor o auditrio ou mais bempreparado, menores e mais moderados devero ser os gestos.

    Os gestos, normalmente, devem apenas ser indicados, representados em parte,quase nunca completados. Gestos inteiros, como apontar para o corao com a mono peito, ou pr a mo na cabea para falar do pensamento, frequentemente so

    desaconselhveis.Certa vez recebi a visita de um rapaz que dizia ter estudado oratria numa escola

    de So Paulo. Conversamos por quase meia hora no meu escritrio, onde nosencontrvamos a ss. Ele, possivelmente querendo demonstrar que aplicava o quetinha aprendido, gesticulava tanto, abrindo, fechando e levantando os braos acimada cabea, que a todo instante eu precisava pedir que me repetisse a informao,pois os gestos exagerados me tiravam completamente a concentrao das suaspalavras. Espero que ele tenha mudado sua atitude, para o seu prprio bem e para obem daqueles que convivem com ele.

    Numa conversa com uma ou duas pessoas, ou numa apresentao para umpequeno grupo de ouvintes, os gestos devero visar mais a razo que a emoo,portanto devero ser moderados. Se, entretanto, estiver fazendo um discurso para

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    uma multido, num comicio politico, por exemplo, os gestos devero visar mais aemoo do que a razo, portanto devero ser mais largos e abundantes (mas sem oexagero do candidato japonesinho de Araraquara, que citei no inicio).

    Essas informaes no se restringem apenas aos movimentos das mos e dosbraos, servem tambm para todo o corpo, desde a movimentao das pernas at osemblante. No nos vamos esquecer do que j vimos: todas as partes do corpoprecisam guardar a interdependncia no sentido da identificao e complementaoda mensagem.

    muito comum ouvir de alguns alunos, depois das primeiras aulas do Curso,a seguinte afirmao: "Polito, eu tenho dificuldade para gesticular porque na minhafamilia essa uma prtica censurada, meus pais me repreendiam muitas vezesporque eu falava com as mos".

    *Fest, Joachim. Hitler. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1976, 4' ed. p. 394.

    Em primeiro lugar, ningum est propondo que as pessoas devam falar com as

    mos, nosso curso tambm combate tal prtica.Depois, preciso verificar que tipo de origem possuiam aqueles pais. Os japonesese os ingleses esto acostumados com gesticulao bastante reduzida, quaseinexistente, enquanto os italianos e os espanhis, com gesticulao abundante.Quem manda no orador o ouvinte, lembra-se?

    A POSTURA ANTES DE FALAR

    O cuidado com a postura deve ocorrer antes mesmo de voc chegar h tribuna.Suas atitudes, a maneira de sentar-se, de olhar ou analisar o ambiente, de cruzar edescruzar as pernas, o tamborilar dos dedos, enfim, tudo o que fizer poder sernotado pela platia. Cabe a voc, portanto, que se ir apresentar, comportar-se demodo a passar uma imagem positiva aos ouvintes, antes mesmo de se dirigir hfrente do auditrio.

    A menos que seja convidado a sentar-se mesa ou nas primeiras fileiras, o que

    por sinal ocorre frequentemente, procure localizar-se em uma cadeira colocada dametade do auditrio para trs.So muitas as vantagens quando voc procura sentar-se atrs, na platia, antes domomento de se apresentar: inicialmente, com um campo de viso mais abrangente,poder observar melhor o auditrio, analisar suas reaes, captar certos fatos queat podero ajud-lo durante a exposio, e tudo isso praticamente sem ser notadopela maioria dos ouvintes. Outra vantagem a movimentao que ocorrer noorganismo at voc chegar tribuna.

    Quando sentimos medo, colocamos em funcionamento certos mecanismos queservem como uma espcie de fortificante aos musculos, para que possam

    movimentar-se mais rapidamente (fugir). A adrenalina, um hormnio produzido pelamedula das glndulas supra-renais, jogada na corrente sangunea, aumentandosua presso.

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    Esse um comportamento de defesa do organismo, independente da situao,basta que se sinta medo. Ora, para falar em publico sentimos medo, amovimentao dos musculos que deveria metabolizar a adrenalina no ocorre (noh como fugir), as atividades fisicas que no seriam utilizadas na fuga deixam de

    funcionar, o co-rao passa a bater descompassadamente, as pernas comeam a tremer, as mos,a suar, o sangue desaparece das faces, provocando acentuado empalidecimento,uma corrente fria desce pela espinha e, dizem alguns alunos, no inicio dos nossoscursos, que as borboletas voam no estmago. Como eu dizia, a movimentaoquando voc se senta atrs, at chegar tribuna, ajuda no metabolismo dohormnio, atenuando a instabilidade ocorrida no organismo.

    Ao caminhar para a tribuna no demonstre um comportamento semelhante ao dealgum que se dirige a um cadafalso. Dirija-se para a tribuna com determinao,demonstre segurana no andar e certeza na postura; o auditrio ficar mais

    receptivo na expectativa de receber uma boa mensagem.

    Lembre-se de que a sua postura e as suas atitudes antes de falar poderopredispor o nimo dos ouvintes de forma favorvel ou contrria sua apresentao.

    Certa vez, num almoo de um clube de rotarianos, um orador convidado a fazeruma palestra aguardava o momento de ser chamado. Enquanto isso, o secretrioinformava aos associados sobre as atividades da semana, as correspondnciasrecebidas e expedidas, o andamento da campanha de doao de olhos e outrosassuntos prprios daquele quadro associativo. O orador, completa-mente desinteressado de tudo o que ocorria, talvez at sem perceber, demonstravasua contrariedade pelo semblante pesado e pela forma insistente como olhava parao relgio. Os scios do clube, presentes ao almoo, perceberam claramente odescontentamento do convidado e, quando ele se apresentou, bem que algunstenta-ram prestar ateno e interessar-se pelo assunto, mas o nivel de hostilidade erevolta havia chegado a tal ponto que no final quase no conseguiram aplaudir. provvel at que o orador nunca tenha entendido o motivo daquele seu fracasso, damesma forma que nunca soube do timo exemplo que deixou de como no nosdeve-mos comportar antes de falar. Relatando esse fato agora, no consigo sequer me

    lembrar do tema da palestra; mas do orador carrancudo, ah! desse no me esqueomais.

    CAPITULO IIAS PERNAS

    As pernas do sustentao ao corpo e podem, dependendo do posicionamento,tornar a postura um elemento positivo na sua comunicao ou, ao contrrio, ser umfator to desfavorvel que poder mesmo destruir toda a sua apresentao. O quefazer e o que no fazer com as pernas quase todas as pessoas sabem, mas, por

    mais bvio e evidente que seja o conceito, impressionante como muitos s seconscientizam da sua existncia ou utilidade depois que so alertados. muito

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    comum ouvir a seguinte afirmao: "Tudo isso eu j sabia, mas foi preciso medizerem para que eu me conscientizasse da forma como deveria agir.

    Assim, tudo que for colocado quanto ao posicionamento e movimentao das

    pernas ser muito simples, porque sero conceitos extrados da prpria natureza, eo que natural sempre fcil de ser compreendido.

    OS ERROS MAIS COMUNS

    1. Movimentao desordenada2. Apoio incorreto3. Cruzamento dos ps em forma de "X"4. Animal enjaulado5. A gangorra6. O pndulo

    7. A rigidez8. Canguru saltitante9. Cruzar e descruzar10. Espreguiadeira11. O vaivm

    1. Movimentao desordenada

    Constitui, possivelmente, o erro mais grave da postura das pernas. Certosoradores, por nervosismo ou por falta de conscincia do que fazem, ficammovimentando as pernas para a frente, para trs e para os ladosdesordenadamente. Esta atitude impede o bom posicionamento, provocando at umafastamento ou retraimento da plateia. Em casos mais graves, alm de existir amovimentao desordenada, o orador tambm bate os ps no cho a cada novafrase, quase numa marcao ritmada.

    Presenciei um fato bastante cmico, em que um orador se comportava dessamaneira sobre um tablado de madeira que servia como tribuna. Depois de algunsinstantes de apresentao, poucos ainda prestavam ateno nas suas palavras, a

    maioria observava apenas os ps arrastando-se sobre a tribuna. Uma ouvinte queestava sentada em uma das primeiras cadeiras, bem prxima do orador,demonstrando visvel irritao, perguntou em voz alta para que todos pudessemouvir: "O que que voc tem? Parece um touro na arena, arrastando os ps sobre atribuna".

    No preciso dizer que o orador ficou totalmente desorientado e, sem condiesde continuar, encerrou sua apresentao, cabisbaixo, logo depois.

    Se falarmos assim, dificilmente encontraremos uma ouvinte com a mesmadisposio desta que mencionei (assim espero), mas, com certeza, a atitude no

    agradar plateia e no auxiliar a mensagem.

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    Nas nossas aulas do Curso de Expresso Verbal costumamos fazer com osalunos uma brincadeira que d bons resultados: avisamos que pregaremos os psdaqueles que apresentarem esse tipo de movimentao desordenada. Se algumaluno apresenta o defeito, sem que os seus companheiros de classe percebam, l

    do fundo da sala lhe mostramos um martelo. Isso o obriga a parar com os mo-vimentos das pernas instantaneamente. Com esse recurso bem-humorado possvel corrigir o erro sem magoar quem o cometeu e sem ridiculariz-lo diante doscolegas.

    Nossas pesquisas pessoais demonstraram que muitos dos oradores que agemdessa forma no tm a menor conscincia do que acontece. Ficam sabendo daocorrncia apenas quando so alertados por algum, ou quando observam a prpriaapresentao por um aparelho de videocassete.

    2. Apoio incorreto

    Apoiar-se jogando o peso do corpo totalmente sobre a perna esquerda ou sobrea perna direita caracteriza tambm uma atitude incorreta, que retira toda a elegnciado posicionamento (foto 1).Ocorre ainda que alguns oradores, no poucos, modificam a posio de descansoda perna esquerda para a perna direita e vice-versa, com rpida frequncia, dando aimpresso de que se trata mais de danarinos do que de oradores. A posturaquebrada, com o apoio sobre uma das pernas (afastada no sentido lateral, enquantoa outra permanece na posio vertical), no apenas deselegante como tambmpode prejudicar a boa respirao.

    Por falar em deselegncia, ainda sobre o apoio incorreto, abrir demasiadamenteas pernas, como se fossem um compasso, faz do orador uma figura grotesca (foto2).

    Tambm incorreto ficar por tempo prolongado com os ps juntos, numa posiocontrria que comentamos acima. Esse posicionamento retira o equilibrio e impedea mobilidade (foto 3).

    Esses defeitos de postura das pernas so mais difceis de corrigir do que amovimentao desordenada que estudamos no primeiro caso. Aqui o orador,

    mesmo consciente do que est fazendo, volta a cometer o erro depois deaparentemente t-lo superado. Dentro de uma mdia normal, nos treinamentosrealizados em nossa sala de aula, os oradores s conseguem eliminar a incorreo,definitivamente, depois de oito a dez sesses de prtica na tribuna. um periodolongo, se comparado com o tempo utilizado para corrigir os problemas damovimentao desordenada, o que no passa da quarta ou quinta sesso.

    3. Cruzamento dos ps em forma de "X"

    Muito pior e mais deselegante a postura do orador que cruza os ps em forma

    de "X", prejudicando o seu posicionamento e demonstrando plateia que no estnem um pouco vontade para transmitir a mensagem foto 4). Este fato se d maiscomumente quando o orador pode apoiar-se com as mos sobre uma mesa, cadei-

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    ra (foto 5), pedestal de microfone ou tribuna. Esta postura incorreta mais comumainda quando o orador est sentado. Nesta circunstncia, cruza os ps e s vezesos encolhe embaixo da cadeira (foto 6).

    Apenas como curiosidade, quando for a um restaurante sofisticado, observe, pelotipo das pessoas, as que aparentemente no tm o hbito de frequentar lugaresmais requintados e por isso mesmo ali no se sentem vontade. Verifique comodemonstram isso cruzando os ps em forma de "X" embaixo da cadeira e quasesempre se posicionando com apoio nas suas pontas, informando assim quegostariam de sair daquele local o mais rpido possvel, para outro onde sesentissem melhor.

    O publico, ao notar postura semelhante, desvaloriza at inconscientemente aapresentao.

    Quanto mulher, verifique mais frente, no item "A posio correta sentado",que h uma atitude, com os ps cruzados em forma de "X" que no constitui erro.

    4. Animal enjaulado

    Aquele que fala andando constantemente de um lado para o outro da tribuna ouespao disponivel para ocupao do orador parece um animal enjaulado andandode uma ponta a outra do seu cativeiro. uma falha mais frequente entre osprofessores que vivem a caminhar da porta da sala de aula at janela, s vezessem olhar para os alunos. Alguns desses alunos, desinteressados da aula pela faltade comunicao do mestre, passam a contar quantos passos ele dar, quantosquilmetros percorrer, ou quanto tempo gastar at cair do tablado, se este existir.Faro tudo, menos prestar ateno aula.

    J ouvimos a mesma histria de muitos estudantes - "O professor conhece bem amatria, mas no sabe ensinar". possvel que o defeito seja da comunicao comoum todo, mas se ele andasse menos, provavelmente ensinaria melhor.

    Conheci um professor no curso ginasial, ainda em Araraquara, que tinha ocostume de andar de um lado para o outro da sala e, quando chegava a uma dasextremidades, colocava dois dedos no queixo, o polegar e o indicador da mo

    direita; o brao esquerdo nas costas, levantava a cabea pensativamente e voltava acaminhar sem olhar para os alunos. At a nada de muito novo, s que no seu casoexistia um fato agravante, o sapato (agora j nem sei se o do p esquerdo ou o dodireito) fazia um barulhinho irritante a cada passo - llnheec". Um colega de classe,que se sentava minha direita, espirituoso e muito paciente, contou comquadradinhos que fazia no caderno, numa s aula de 40 minutos, mais de 500"nheecs". E o sapato usado foi sempre o mesmo, o ano inteiro. Quem que podeprestar ateno a uma aula dessas?

    Mestres que me acompanham nesta leitura, com ou sem nheec-nheec", reflitam,antes da prxima aula, se no possuem este defeito.

    5. A gangorra

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    Nesta movimentao das pernas o corpo do orador parece uma gangorra. Eleapoia todo o corpo nos calcanhares, levantando a ponta dos ps (foto 7), emseguida inclina-se lentamente para a frente erguendo os calcanhares e apoiando-setotalmente sobre a ponta dos ps (foto 8), e assim fica o tempo todo neste vaivm

    sem propsito. Determinados oradores chegam a aperfeioar o defeito quandoencontram uma proteo, que pode ser uma grade que limita o espao da tribuna ouuma pequena mesa. Apoiam-se com as mos, possibilitando assim inclinaes docorpo, tanto para a frente como para trs, muito mais acentuadas. Em outros casos,quando no existe esta proteo, colocam as duas mos nos bolsos e continuam ase balanar.

    H tambm aqueles que fazem o movimento no sentido lateral, levantando aspartes de dentro dos ps apoiados nas partes externas (foto 9).

    Eu no conheci nenhum orador em Araraquara que se comportasse dessa forma,

    mas tenho encontrado centenas de alunos que iniciam o treinamento dessa maneira,em nosso Curso de Expresso Verbal.

    6. O pndulo

    Nesta postura incorreta os movimentos so ritmados. Comeam lentos ecadenciados e vo aumentando a velocidade medida que o tempo passa.

    O corpo inclinado para a esquerda e para a direita, chamando a ateno e atprovocando risos na platia. Quando existe o microfone, esses oradores chegam asair do seu campo de ganho, tamanha a inclinao do corpo.

    Esta uma atitude muito comum, apresentada pela maioria dos iniciantes, mastambm muito fcil de ser corrigida, bastando alertar o orador duas a trs vezes paraque ele no cometa mais a falha.

    7. A rigidez

    A posio aparentemente correta, sem apresentar os defeitos j comentados,mas o orador est, na verdade, numa posio excessivamente rgida das pernas, oque impede sua livre movimentao, provoca cansao e at dores, depois de alguns

    minutos de apresentao. H tambm aqueles que se posicionam to rigidamenteque, quando precisam andar para apanhar uma folha de papel, uma transparnciapara ser projetada ou o giz para escrever, caminham com as pernas duras, como sefossem de pau.

    Conheci um orador que possuia esse defeito de maneira to marcante, que noapenas andava na frente da plateia com as pernas duras, quase arrastando os pspara se movimentar, como saa da tribuna, ao final da sua apresentao, tambmcom as pernas esticadas rigidamente, e s se dava conta de que estava assimquando se sentava e precisava dobr-las para entrar no seu lugar. Mesmo depois deter sanado o problema de posicionamento e movimentao das pernas, continuou a

    ser chamado por alguns companheiros mais intimos de Dr. Sat, uma personagemde um seriado de televiso que no dobrava as pernas para andar.

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    8. Canguru saltitante

    um tipo de movimentao das pernas que associa vrios dos defeitos janalisados. O orador, quando muda a comunicao visual, de um lado para o outro

    da plateia, modifica tambm a posio das pernas, para ficar de frente para aquelesegmento do auditrio, mas o faz to bruscamente e com tal frequncia, que maisparece um canguru saltitante.

    Quando no joga as duas pernas para o lado ao mesmo tempo, joga apenas umadelas, enquanto arrasta a outra para acompanh-la.

    Tive um aluno particular que procedia assim, e, como o seu treinamento eraindividual (preparava a apresentao da sua tese de mestrado) e portanto s tinha amim como ouvinte, mudava apenas a posio das pernas, sem desviar a posio dacabea e dos olhos.

    S no final do treinamento que conseguiu ficar bem posicionado. A ttulo decuriosidade, o resultado da defesa da tese foi uma nota mxima com louvor.

    9. Cruzar e descruzar

    um defeito apresentado por alguns oradores quando falam sentados. No ficamnunca satisfeitos com a posio das pernas e passam a cruz-las e descruz-lascom frequncia exagerada, notada facilmente pelo auditrio, quando visveis aopublico. At quando no so visveis, a plateia chega a perceber o que estacontecendo embaixo da mesa, pela movimentao do corpo.

    Ainda no caso do orador que fala sentado, existem alguns que vivem balanandoa perna com movimentos rpidos e desagradveis.

    10. Espreguiadeira

    Ainda na posio sentada, o orador muitas vezes estica o corpo todo para trs,as pernas para a frente, parecendo que se est espreguiando (foto 10). umaatitude displicente e muito inconveniente, que provoca antipatia da plateia logo noprimeiro contato.

    Tenho recomendado esta atitude queles que visitam uma pessoa que quer dardemonstraes de poder e se senta numa cadeira muito alta enquanto oferece umabaixinha para o visitante. A diferena de altura d vantagem psicolgica a quem seencontra no nvel fsico mais elevado. Se o fato de sentar-se na pontinha da cadeirano for suficiente para voc conquistar o equilibrio das posies, re-coste-se nacadeira com as pernas esticadas, demonstrando que no est nem um poucopreocupado com a situao. No posso garantir um resultado concreto para todosos casos, mas agindo assim, nestas circunstncias, o poderoso poder passar a servoc, transferindo a seu favor a vantagem psicolgica.

    Quem assistiu ao filme O Grande Ditador, com a genial interpretao deChaplin,lembra-se da cena em que Hitler, pretendendo obter vantagem psicolgica

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    ssobre Mussolini, prepara o ambiente com uma enorme cadeira para ele sentar-se euma outra pequena para o lder italiano.Surpreendentemente, entretanto, Mussolini, ao invs de entrar pela frente, entra portrs e senta-se na cadeira grande, deixando a pequena para o baixinho Hitler, que

    ficou numa situao bastante desconfortvel.

    11. O vaivm

    No deixa de ser tambm um tipo de movimentao desordenada, s que nestecaso o movimento ocorre apenas para a frente e para trs, num desconfortvel (parao orador e para o publico) vaivm das pernas. E uma atitude que demonstrahesitao do orador, dando a impresso de que ele deseja aproximar-se dosouvintes, mas recua com receio do que lhe poder acontecer. Toma coragemnovamente para se aproximar e torna a recuar, e assim permanece movimentando-se para a frente e para trs, a maior parte do tempo.

    Outros, entretanto, vo para a frente, penetram no territrio da plateia e, no sesentindo vontade, no conseguem parar prximos aos ouvintes e, tendopossibilidade, continuam a andar no corredor dentro do auditrio, aproximando-se daplateia, mas fugindo ao mesmo tempo, enquanto caminham numa movimentaodes-necessria e prejudicial.

    A POSIO CORRETA EM P

    Depois de verificar quais so os erros mais comuns apresentados peloposicionamento e movimentao das pernas, fcil deduzir qual dever ser aatitude correta.

    Inicialmente, como treinamento, a sugesto que se fique de frente para opublico, posicionado sobre as duas pernas, possibilitando bom equilibrio ao corpo.Para evitar o cansao provocado por esta postura num tempo prolongado, jogue opeso do corpo ora sobre uma perna, ora sobre a outra, sem que o auditorio perceba,bastando para isso flexionar levemente uma das pernas, sem quebrar a elegnciada postura. Dessa forma possvel falar-se bastante tempo evitando a mudana da

    postura e sem se cansar. uma posio indicada principalmente para os casos emque voc tiver de falar diante de um microfone de pedestal, que limita amovimentao.

    Com o tempo, depois que possuir maior experincia, poder realizar o movimentodas pernas, de forma consciente, sempre no sentido de complementar corretamentea mensagem, possibilitando o afastamento da plateia, de acordo com a sua re-aproximao ou receptividade ou resistncia.

    Se verificar que o movimento a ser realizado tem como causa a insegurana e onervosismo, o esforo tem de ser redobrado no sentido de manter a postura. Este

    pode ser um desafio muito grande, pois a movimentao quase instintiva, mas osresultados do treinamento compensaro o sacrifcio.

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    O deslocamento das pernas precisa seguir a inflexo da voz e o ritmo, a cadnciae a velocidade da fala. Se a frase for pronunciada com velocidade mais intensa, omovimento das pernas, para se aproximar ou recuar, tambm dever ser maisrpido; se, ao contrrio, a velocidade das palavras for mais lenta, o movimento das

    pernas tambm ter de ser mais vagaroso.

    Esta aproximao dever ser em direo a todos os sentidos da plateia, isto ,para o segmento frontal do publico e para os segmentos laterais, sem se confundir,evidentemente, com a movimentao desordenada. No estou querendo dizertambm que toda vez que as palavras forem rpidas ou lentas as pernas precisemmovimentar-se na verdade elas devero ficar paradas a maior parte do tempo, mas,quando se movimentarem, a sim, precisaro faz-lo de acordo com a mensagem, acadncia, o ritmo e a velocidade da fala, conforme vimos.

    Normalmente as pernas devero ficar afastadas a uma distncia de

    aproximadamente um palmo (cerca de 20 centmetros) o que dar bom equilbrioao corpo e promover uma postura elegante (foto 11). Se uma das pernas estiverum pouco mais frente, o equilbrio poder ser maior.

    Lembro-me de um aluno que, querendo posicionar-se bem na tribuna, antes decomear a falar, olhava para os ps e media o seu afastamento para ver seestavam mesmo a uns 20 centmetros um do outro. Foi difcil tirar esse seu hbito econscientiz-lo de que deveria agir de forma diferente, com mais naturalidade.

    As mulheres, principalmente quando estiverem usando saia ou vestido, poderocolocar uma das pernas um pouco frente da outra. uma postura elegante,embora deix-las levemente afastadas tambm no seja errado.

    Uma pergunta que tem surgido frequentemente se o orador pode movimentar-se no meio do publico. uma questo levantada mais por aqueles que ministramtreinamentos prolongados.

    No s pode mas deve existir essa movimentao. Ningum pretende um oradorque se assemelhe a uma esttua. O unico cuidado ter conscincia do objetivo damovimentao. Se for para melhorar a participao junto aos ouvintes, ou provocar aaproximao para facilitar o trabalho de convencimento, ou para chamar a ateno,

    ou despertar o interesse de um determinado segmento da plateia, estar correto.Agora, se a movimentao no tem nenhum objetivo e voc anda s por andar,provavelmente estar errada. claro que voc ir andar e aproximar-se do auditrioquantas vezes forem necessrias, mas repetir esta atitude mais de cinco ou seisvezes em uma hora de apresentao, s tendo um motivo muito forte.

    A POSIO CORRETA SENTADO

    Quando voc falar sentado, poder agir de duas maneiras distintas (como sesentir melhor).

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    O importante estar vestido de acordo com os padres da poca em que a pessoase apresenta. J percebeu como a plateia comea a desvalorizar o orador que falausando uma cala ultrapassada pela moda e, portanto, desatualizada? Percebeutambm como os ouvintes menosprezam ou ridicularizam o orador que se veste

    procurando lanar moda para as prximas geraes? No deixe que esse fatorinterfira na sua apresentao, seja discreto. Que aparea voc, no a roupa.

    O mesmo comentrio serve para as mulheres, embora o sexo feminino tenha umpouco mais de liberdade em relao moda do que os homens. Mesmo assim osexcessos prejudicam.

    preciso tambm ser coerente com a idade que se tem. No queira um jovemvestir-se como um velho, nem uma pessoa idosa parecer um garoto. No adiantadisfarar, o publico vai perceber.

    Quando iniciei minhas atividades como professor de Expresso Verbal, tinhaapenas 23 anos de idade. Embora me sentisse muito bem preparado para executaro trabalho (hoje vejo quanto teria ainda que aprender ... ) imaginava que os alunos,todos, sem exceo, mais velhos do que eu, colocariam resistncias a mim, pelofato de terem de aprender com algum to jovem. Usei todos os artifcios possveis,ternos escuros, bigode, sapatos de amarrar e tantos outros inuteis recursos paraparecer mais velho. Durou pouco a tentativa de envelhecimento; alguns mesesdepois assumi definitivamente (enquanto durou) a minha juventude e passei a usarroupas mais leves, prprias para aquela idade, e mais tarde tirei o bigode. No seise foi impresso, se foi apenas um sentimento provocado por mim mesmo, masfiquei muito mais vontade, e os alunos mantive-ram um comportamentointeressado e atencioso.

    FALAR EM PE OU SENTADO?

    H situaes em que voc no possui a possibilidade de escolha e deve falar damaneira como foi programada sua apresentao. Se lhe oferecem a tribuna para lque se dever dirigir e fazer a sua exposio. Se colocam o microfone sua frente,quando est sentado a uma mesa, ou quando participa de uma reunio onde todosfalam sentados, dessa maneira que se deve apresentar. Quando, porm, voc tem

    a oportunidade de optar pela forma de falar, dever faz-lo como achar maisconveniente e como sentir-se melhor. No existem regras que obriguem a umaatitude ou outra. Particularmente prefiro sempre falar em p, pois umposicionamento mais visvel e mais livre. Desde que possa ser visto por toda aplateia e possa ver a todos enquanto falar, poder apresentar-se, entretanto,sentado, tendo uma mesa sua frente. dificil imaginar um orador sentado, apenascom a plateia frente, a no ser que haja vrios oradores participando de umareunio, como num debate diante das cmeras de televiso, por exemplo. Lembro-me de um acontecimento no qual o orador falou sentado diretamente diante daplateia, com bastante naturalidade. Depois da apresentao de dipo Rei, o atorPaulo Autran ficou disposio do auditrio para responder s perguntas que os

    ouvintes qquisessem formular. Para isso, colocou uma cadeira no centro do palco ea, sentado, respondeu s questes e fez sua explanao, numa atitude correta ecomunicativa. esta uma situao excepcional e raramente ocorre.

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    Um outro fato bastante curioso aconteceu em uma das formaturas do Curso deExpresso Verbal. O paraninfo da turma era o jornalista Ferreira Neto, que, comotodos sabem, sempre faz suas apresentaes pela televiso sentado, com uma

    mesa sua frente.Quando chegou o momento de proferir seu discurso aos formandos, pediu para falarsentado, onde j estava. A plateia, mesmo sabendo que essa atitude era normal nassuas apresentaes, estranhou o fato porque todos se tinham apresentado em p.Percebendo a reao do auditrio, ele contou uma passagem que transformou suaatitude num fato bem-humorado foto 14). Relatou que certa vez, passando pelosaguo de um aeroporto, encontrou-se com uma senhora que sempre o vira falandosentado nos programas de televiso e espantada lhe perguntou: "Mas o senhoranda?"

    CADA CASO UM CASO

    Todo esse comportamento que acabei de sugerir dever sempre obedecer aoseu sentimento e circunstncia que voc enfrentar. No porque uma postura sejageralmente considerada incorreta que ela dever ser sempre encarada como errada.Da mesma maneira, o que foi sugerido como correto poder, eventualmente, seruma atitude desaconselhvel. Siga antes de tudo o bom senso e coloque em prticaa sua capacidade de observao. No hesite em tomar uma deciso que contrariequalquer recomendao, desde que esteja convencido de que naquele momento,em vista das circunstncias que enfrenta, o que foi recomendado no cabe.

    Se voc, com domnio do auditrio, convicto na sua exposio, naturalmente, porcurto perodo, cruzar os ps em "X", em p ou sentado, apoiar-se nos calcanhares edepois nas pontas dos ps (a gangorra), movimentar-se de um lado para o outro datribuna (animal enjaulado), ou tiver qualquer outra atitude considerada incorreta, nosignifica que esteja cometendo uma falha. provvel at, dependendo dascondies, que o procedimento seja certo.

    CAPITULO III

    OS BRAOS E AS MOS

    Talvez no exista em todo o estudo da Expresso Verbal uma atividade quesupere ou mesmo se compare em dificuldade ao aprendizado dos movimentos egestos dos braos e das mos. De cada cem alunos que recebemos no nosso Cursode Expresso Verbal, apenas trs ou quatro, no mximo cinco, sabem utilizarcorretamente os braos e as mos para falar. To difcil o aprendizado dos gestosdessa parte do corpo que alguns, no inicio, imaginam que nunca conseguirodominar a tcnica. Estou fazendo esse comentrio no para desanim-lo, mas, sim,para alertar que certamente encontrar nessa altura do treinamento a tarefa maisrdua na conquista do seu aprimoramento.

    Determinados oradores, quando experimentam as primeiras apresentaes natribuna, exclamam que nunca tiveram to nitidamente a conscincia da existnciados braos e das mos. Eles tm a impresso de que principalmente as mos

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    aparecem, quando esto diante do publico, e vo tomando corpo e aumentando devolume at o instante em que comeam a prejudicar a apresentao, e essesprincipiantes, perturbados, ficam sem saber o que fazer. Alguns, desanimados,param no meio da exposio e perguntam em tom de suplica: "Professor, o que fao

    com as mos?"

    Por isso que eu comentei no incio que passa a existir uma supervalorizaodesse aprendizado, chegando ao extremo de alguns acharem que aprenderam afalar bem porque esto dominando bem a gesticulao.

    Principalmente quanto s mos e aos braos, vou insistir bastante napreocupao que se deve ter com a naturalidade do gesto. A diferena entre o certoe o errado, o natural e o artificial quase sempre to pequena que o orador svezes nem percebe que est incorrendo em falha - diferena pequena para o orador,mas suficientemente grande para ser rapidamente percebida por qualquer tipo de

    plateia. Como sabemos, o ouvinte no tem uma ideia clara do que est errado, masse algo numa apresentaoo o desagrada poder rejeitar a mensagem ou aceit-lacom reservas.

    OS ERROS MAIS COMUNS

    1. Mos atrs das costas

    2. Mos nos bolsos

    3. Braos cruzados

    4. Gestos abaixo da linha da cintura

    5. Gestos acima da linha da cabea

    6. Apoiar-se sobre a mesa, a cadeira, a tribuna etc.

    7. Partindo do cotovelo

    S. Postura do Z Carioca

    9. Movimentos alheios

    10. Construtor do universo

    11. Detalhes que sobressaem

    Logo de incio, antes mesmo de entrar nas consideraes particulares dos errosmais comuns, quero frisar com todas as letras os defeitos mais graves na utilizao

    dos gestos: primeiro, o excesso de gesticulao; segundo, a sua falta, embora afalta dos gestos, ainda que grave e prejudicial comunicao do orador, sejaprefervel ao excesso. O orador que permanece imvel enquanto fala diante da

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    plateia no conduz as informaes aos ouvintes, como deveria, mas poder tersucesso se o conteudo for de boa qualidade. J o orador que se apresenta comexcesso de gesticulao, mesmo com bom conteudo, dificilmente conquistar opublico.

    O socilogo italiano Enrico Finzi, depois de estudar os diversos itens que levam oprofissional a obter sucesso na sua carreira, coloca os gestos como elemento defundamental importncia e conclui que nesse aspecto "leva nota mxima quemmisturar sobriedade com intensidade"

    1. Mos atrs das costas

    Falar constantemente com as mos colocadas atrs das costas um erro comume presente at entre oradores experimentados. Pior do que as deixar o tempo todoatrs das costas esboar alguma movimentao e voltar posio inicial, como se

    estivesse arrependido do gesto que ia fazer. Certos oradores prendem as mosatrs das costas com tanta rigidez que do a impresso de no ter braos.

    Colocar as mos atrs das costas por rpido perodo, com naturalidade, j no erro e pode mesmo servir de descanso para o orador.

    Mais comum ainda e mais acertado utilizar a posio de descanso para apenasuma das mos, deixando a outra livre para se movimentar. Ainda neste caso,sempre com as precaues que j comentei, que seja por rpido perodo e comnaturalidade.

    H oradores que fazem dessas posies de descanso uma caracteristica do seucomportamento. Um deles, Gomes de Castro, destacado por Afonso Celso no seulivro Oito anos de Parlamento * como um dos bons oradores da poca em que atuoucomo deputado, tinha o hbito de falar gesticulando com a mo direita, enquantocolocava a esquerda nas costas. Vejamos como o descreveu o prprio autor:

    "Baixo, recatado, um dos olhos defeituoso, como Gambetta, direito, a cabeafirme, Gomes de Castro no hesitava um segundo. Borbulhavam-lhe as frases

    * Estudo publicado na matria Segredos do sucesso pela revista Exame Vip 24,

    de 22/07/87, p. S.* Obra editada pela Editora Universidade de Brasilia.

    dos lbios, como de inesgotvel manancial, sempre num jorro espesso. Tersa,impecvel, a linguagem. Quase no fazia pausas, no lia, no compulsavaapontamentos, no bebia gua.

    Prolongava-se difuso o discurso, ora fervilhando, ora redemoinhando, ora seaquietando em remansos lricos, porm constantemente copioso, vertiginosomesmo.

    Consistia a postura predileta do orador em colocar a mo esquerda nas costas,gesticulando acentuadamente com a destra" (grifo meu).

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    Fico imaginando aqui, to distante no tempo, baseando-me apenas nestamaravilhosa descrio feita por Afonso Celso, se Gomes de Castro no teria sidomelhor orador se tivesse os dois braos e as duas mos livres para gesticular e

    auxiliar no transporte da sua mensagem ...

    Aqueles que se esto iniciando no aprendizado das tcnicas da ExpressoVerbal, sugiro que, no princpio, evitem essa posio de descanso; deixem para agirassim quando j tiverem praticado bastante e forem bem experimentados.

    Falar constantemente com as mos atrs das costas quase sempre um erro depostura, mas existem atitudes piores ainda, como a daqueles que, alm de secomportarem dessa forma, ainda se coam. J vi um numero suficiente deles parame motivar a fazer esta observao.

    2. Mos nos bolsos

    Falar constantemente com as mos nos bolsos uma falha frequente em boaparte dos oradores, iniciantes ou veteranos. Colocam as mos nos bolsos dascalas ou do palet, sendo esta ultima atitude, alm de prejudicial, extremamentedeselegante, e falam como se elas no existissem. O problema se agrava aindamais quando o orador que se posiciona assim envolve-se com a mensagem queexpe ao publico e comea a balanar as mos dentro dos bolsos.Chega a provocar risos na plateia. A primeira impresso que d aquele que fala comas mos nos bolsos que no est nem um pouco vontade. Demonstra quererfugir e esconder-se do auditrio. (A no ser que a sua segurana seja evidente e elese utilize desse expediente tambm como posio de descanso.) Um aluno donosso Curso de Expresso Verbal sentiu tanta dificuldade para eliminar o hbito decolocar as mos nos bolsos do palet quando falava que, como ultimo recurso,mandou fechar os bolsos de dois ou trs palets e passou a s treinar com eles atque o vicio desaparecesse. Assim como no caso anterior, mos colocadas atrs dascostas, o recurso ser positivo se as mos permanecerem nos bolsos por curtoperodo e sempre com naturalidade. Muito mais do que no outro caso, descansarcom apenas uma das mos no bolso, deixando a outra livre para gesticular, dcondies de atuao mais vantajosas ao orador.

    Mais uma vez vamos recorrer s informaes de Afonso Celso no seu livro Oitoanos de Parlamento. Nessa obra o autor traa um dos mais perfeitos perfis doorador Joaquim Nabuco (foi por esta descrio que o destaquei como um modelo deorador*), e num dos trechos deste quadro oratrio de Nabuco o autor comenta quehabitualmente o orador colocava as mos nos bolsos enquanto falava.

    Vejamos o trecho com as palavras de quem observou e escreveu:

    "A gesticulao garrida, as atitudes plsticas de Nabuco contribuam para agrande impresso produzida pelos seus discursos. Consistia um dos seusmovimentos habituais em meter as mos nos bolsos das calas (grifo meu) ou ento

    enfiar dois dedos da destra na algibeira do colete. Desses e de outros gestosprovinha-lhe vantajoso ar de desembarao e petulncia".

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    * Comentrio feito na minha obra Como falar corretamente e sem inibies, pu-blicada pela Editora Saraiva.

    Fiz questo de citar esse exemplo de Nabuco, porque sinto que alguns, ou

    porque no entenderam bem, ou porque a explicao devesse ser mais clara,passam a generalizar: colocou a mo no bolso, errou, est condenado. Antes decriticar a atitude, preciso analisar as circunstncias que cercam o acontecimento-nem sempre necessariamente um defeito de postura.

    Em nossa sala de aula costumamos deixar algumas fotos de personalidades queconheceram o resultado do trabalho que realizamos, a maioria falando numa tribuna.Em uma das fotos est este que um dos grandes comunicadores do Pais, oradialista e narrador esportivo Osmar Santos; nessa foto ele est falando com umadas mos no bolso (foto 15) - e eu me lembro bem da cena, at porque tenho aapresentao toda gravada em videocassete - e foi uma atitude correta, de perfeita

    demonstrao de um posicionamento de descanso por rpido instante e de formabem natural. Mas no passa um curso sequer em que mais de um aluno aponte paraa foto com o intuito de reprovar a postura. Quando isso ocorre, reuno todos osalunos e dou uma explicao completa sobre essa postura, esclarecendoprincipalmente que, embora constitua um grave erro, em circunstncias especiaispode ser at recomendvel.

    No ser necessrio dizer mais uma vez aos que se esto iniciando que evitemessa posio de descanso das mos, no princpio, reservando o recurso para depoisque a experincia chegar.

    3. Braos cruzados

    Os psiclogos que se tm manifestado sobre o comportamento do corpo afirmamcategoricamente que os braos cruzados indicam, via de regra, uma atitudedefensiva. Parece bvia essa afirmao, e at aqueles no preparados dentro dessecampo da psicologia tenderiam a chegar mesma concluso. Ora, o orador nopode demonstrar ao auditrio que este o intimida e o coloca numa posio dedefesa. Afinal, os ouvintes esperam uma apresentao franca e desimpedida deobstculos, e passam a ter a impresso de que o orador no est seguro e convicto

    da sua mensagem e por isso se esconde. um posicionamento quase sempreincorreto para falar. Por outro lado, uma postura que pode ser utilizada comodescanso ao longo da apresentao, desde que, volto a insistir na recomendao,no seja por tempo prolongado, e efetuada naturalmente. Alm de servireventualmente como posio de descanso existem momentos em que aconselhvel como postura produtiva e altamente significativa na comunicao.Quando voc deseja demonstrar a ideia de desafio ou de espera, cruzar os braosindica claramente esta inteno.

    H um caso interessante de um cronista social que fazia aparies peridicaspela televiso e sempre com os braos cruzados. Fez isso por tempo relativamente

    prolongado e com tanta frequncia, que a postura inicialmente incorreta acabou portransformar-se numa espcie de marca registrada da sua personalidade e, portanto,

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    positiva na sua comunicao. (Espero que nenhum leitor tenha a idia de criar estilofalando dessa maneira...

    4. Gestos abaixo da linha da cintura

    Experimente falar fazendo gestos abaixo da linha da cintura. Ficam estranhos,parecem sem vida. Gestos realizados abaixo da linha da cintura no possuemexpressividade e no complementam nem transportam convenientemente amensagem at os ouvintes.Os braos ficam balanando, as mos movimentam-se, mas no identificam opensamento do orador.

    Alguns lembram uma espcie de aprendiz de voador; erguem os braoslateralmente ao longo do corpo a um ou dois palmos afastados das pernas e voltam posio original como se fossem asas. Outros, ainda, lembram um bate-estaca,

    erguendo os braos acima da cintura e baixando-os rapidamente, e assim ficam atterminar a apresentao.

    Tambm neste ponto encontramos as excees: determinados gestosexecutados no espao inferior linha da cintura so comunicativos, expressivos e,portanto, recomendados para o falar.

    Se voc quiser demonstrar incerteza, duvida, impotncia diante de certa situao,poder estender os braos um pouco afastados do corpo, com as mos esticadas naposio vertical e com as palmas voltadas para a frente ou um pouco para o lado,com os dedos abertos e os ombros encolhidos foto 16). Est a uma movimentaodas mos abaixo da linha da cintura que correta para expressar o pensamento dequem fala. Outro gesto correto em circunstncia semelhante quando voc,querendo pedir calma ou pacincia, faz rpidos e curtos movimentos abaixo da linhada cintura, com as mos esticadas, os dedos abertos voltados para a frente, naposio horizontal.

    Gestos abaixo da linha da cintura no devem, entretanto, ser confundidos com aposio de repouso dos braos colocados ao longo do corpo, que analisaremosmais frente.

    5. Gestos acima da linha da cabeaH muito tempo j que se desaconselham os oradores sobre a realizao

    frequente de gestos acima da linha da cabea. Movimentos executados assim, namaioria das vezes, so exagerados e prejudicam a imagem e a comunicao doorador.

    Conheci um camel (alguns so timos comunicadores e servem como bonsexemplos; no era o caso deste) chamado Z Moinho. Vendia uns frascos comremdios "milagrosos", que curavam desde varizes at sinusite. Andava l pelascidadezinhas do interior, enganando os menos precavidos. Acho at que nem os

    enganava. Algumas pessoas, na falta do que fazer, ficavam a apreciar as contorsesde Catarina, uma enorme cobra que sempre o acompanhava. Falava rpido equando parava fazia longas pausas observando o povo que fechava roda em sua

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    volta, tomando a extenso da Praa da Matriz (toda cidade interiorana tem umapraa e uma igreja matriz). Certa vez, durante uma dessas pausas, ouvi um dosespectadores perguntando em voz sussurrante a um companheiro: "Por que serque ele tem esse nome de Z Moinho?" "Sei l", respondeu o outro, "mas imagino

    que seja por causa dos braos que se movimentam como um cata-vento". Pareciamesmo um moinho, um cata-vento, sempre com os braos movendo-se em gestoslargos acima da linha da cabea. Era uma comunicao espalhafatosa e grotesca,nada tinha a ver com as palavras que pronunciava. Nem o tamanho e o baixo nvelcultural da plateia justificavam aquele comportamento. Hoje, quando vejo algumfalando assim, vem logo minha lembrana a figura ridcula daquele camel.

    Sobre a exceo, j comentei no item "O tamanho e a intensidade do gesto", edisse naquela oportunidade que, ao falar-se para uma multido (citei o exemplo deum comcio poltico), os gestos devero visar mais emoo do que razo, econclu dizendo que deveriam, por isso, ser mais largos e abundantes, isto ,

    realizados acima da linha da cabea.

    Como a timidez normalmente limita at exageradamente a gesticulao, este um erro cometido pelos oradores mais experimentados e, portanto, mais desinibidos.Voc, que um orador desembaraado, ser que tem vocao para Z Moinho?

    Conta Josu Montello, no seu admirvel Anedotrio geral da Academia Brasileira*,que Jos Maria Paranhos, futuro Visconde de Rio Branco, possua na tribuna umcacoete: erguia o brao, dedo indicador em riste, nos momentos em que pareciamais arrebatado. E diz que o prprio orador deu esta explicao ao seu gesto:"Quando a ideia no vale por si para ir bastante alto, trato de suspend-la na pontado dedo".

    6. Apoiar-se sobre a mesa, a cadeira, a tribuna etc.

    At voc encontrar razovel tranquilidade para falar, principalmente diante degrandes plateias, poder apoiar-se sobre a mesa, a

    cadeira, a tribuna (menos com os cotovelos, por favor), ou qualquer objeto queestiver mo. No uma atitude recomendvel, porque prende e limita os

    movimentos e quase sempre determina um comportamento tmido e inseguro. Faoa sugesto de que se apoie no inicio, porque prefervel este "porto seguro" a ficarcom as mos trmulas e gestos descontrolados na frente do auditrio. Tenhoencontrado oradores traquejados que poderiam perfeitamente evitar tais incorreesde posicionamento dos braos, falando o tempo todo apoiados. Pode ser umaposio expressiva tambm para indicar desafio, ponto de vista firmado, expectativaetc.

    Assim como nos casos j comentados, nada o impede de usar um desses apoioscomo posio de repouso momentneo, naturalmente aproveitada.

    7. Partindo do cotovelo

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    Quando o movimento apenas do antebrao, partindo do cotovelo, com o braogrudado no corpo, demonstrao evidente de que o orador est reprimido, semdesenvoltura para a conduo natural da mensagem.

    Com este posicionamento existe uma tendncia generalizada de realizar osmovimentos de abrir e fechar os braos, tocando as palmas das mos ou as pontasdos dedos ao fech-los. So gestos sem significado, que, se substitudos pelaimobilidade total, esta ganharia em expressividade, por incrvel que possa parecer.

    uma atitude mais frequente nas mulheres e, neste caso, embora se considereum erro, no se pode encarar sempre como um grave erro, j que s vezes osmovimentos so realizados com delicadeza e em certas oradoras at com elegncia.

    Nas formaturas do nosso Curso de Expresso Verbal sempre acontece um fatocurioso. So essas solenidades repletas de exemplos que ilustram bem as teorias.

    Numa delas convidamos uma destacada autoridade poltica para compor a mesa dehonra, e, ao final da entrega dos certificados de concluso, pedimos que desse oseu depoimento de homem publico experimentado sobre o que tinha achado dasapresentaes dos formandos. Foi o ultimo a falar. Depois serviu-se um jantar atodos os alunos e convidados. O pai de um dos formandos-tipo papel de bala,aquele que gruda no p e no sai mais-entre uma garfada e outra, com olhar deentendido, dirigiu-se a essa autoridade poltica e perguntou em tom de critica: "Porque o senhor ficou o tempo todo com os cotovelos grudados no Corpo e batendo asmos enquanto falava?" O nosso convidado, sorrindo, bebeu calmamente mais umgole de refrigerante e respondeu com muita presena de espirito: "Com receio deno ser aplaudido. Como gosto muito de mim, eu mesmo cuidei de bater palmas, jenquanto falava." Riso geral e vaias para o chato.

    * So Paulo, Martins, 1974. 2 ed., p. 449.

    8. Postura do Z Carioca

    Nesta postura o orador coloca os cotovelos grudados no corpo, ou mesmo um

    pouco afastados e com o antebrao inclinado para cima num posicionamentoesttico (foto 17). um erro comum nos oradores principiantes, que, pretendendo colocar os

    braos em movimento acima da linha da cintura, comeam a falar com esseposicionamento e continuam assim at pronunciarem as ultimas palavras, isto , otempo todo sem movimentar os braos.

    Se voc j teve oportunidade de ler uma das histrias do Z Carioca,personagem de Walt Disney, deve ter percebido que quase sempre ele carrega umguarda-chuva pendurado no brao. Quando o orador fala com os braos naquelapostura, d a impresso ou de estar segurando um guarda-chuva com o brao ou de

    ter-se esquecido que j o deixou em algum lugar.

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    Tive um aluno que ouvira algum dizer que os braos do orador deveriam estarsempre acima da linha da cintura e, querendo seguir a tcnica risca, quando erachamado para comparecer tribuna, j se levantava da cadeira com os cotovelosjunto ao corpo e o antebrao inclinado. Caminhava dessa forma, falava, e s baixava

    os braos ao voltar para o seu lugar. No foi preciso mais do que trs aulas para queele, por si s, notasse a postura defeituosa.

    9. Movimentos alheios

    H oradores que produzem movimentos alheios mensagem que colocam parao publico. A impresso que temos de que executam atividades distintas, uma comas mos, outra com as palavras. Fecham as mos em concha, entrelaam os dedos,prendem uma das mos com a outra ou seguram a gola do palet com tal frequnciaque chegam a irritar o auditrio. Alguns, sem saber o que fazer com as mos, atinconscientemente, ficam mexendo na pulseira do relgio, tirando e pondo a aliana,

    segurando caneta, lpis, giz etc., estalando os dedos, limpando as unhas, puxandoas mangas ou rodando os botes da blusa ou do palet, alisando os cabelos,coando o queixo e, em alguns casos extremos, mas no to incomuns, enfiando odedo nos ouvidos e at no nariz.

    Se estiver falando com ajuda de microfones, no mexa no fio. comumobservar-se oradores segurando, enrolando, ou torcendo o fio do microfone. Jpresenciei casos que se mostraram cmicos; em um deles, sem perceber, o oradorcomeou a enrolar o fio do microfone e, quando chegou ao final da apresentao,assustou-se ao verificar que estava com mais de dois metros de fio nas mos.

    Roslys, que me acompanhou at o princpio de 1990 no Curso de ExpressoVerbal, tornou-se uma experiente observadora do comportamento dos oradores.Certa vez ela foi assistir a uma palestra na Associao dos Cirurgies-Dentistas,sobre um assunto relacionado sua atividade profissional e me contou que opalestrante antes de comear a falar j estava mexendo no boto do palet, e assimse comportou at o momento em que o boto saiu na sua mo. Espirituoso (osdentistas so espirituosos; j viu a expresso deles quando ligam o motorzinho egarantem "no vai doer"?), ele parou de falar, levantou o boto com ar desolado econfessou que seu filho j o avisara de que um dia isso iria acontecer e sugerira queele preparasse uma boa frase para contornar a tragdia; e ele preparou esta: "Meu

    filho um dia disse que isso iria acontecer".Tive um aluno - e como esse nunca vi - que comeou o curso com um vcio de

    movimento incomum e aparentemente at dificil de ser executado. Ele usava umrelgio com pulseira de metal e um fecho que funcionava sob presso do dedo. Logoque chegava tribuna e cumprimentava o auditrio, dava incio estranhasequncia de movimentos: tirava o relgio do brao esquerdo, passava para odireito, do direito para o esquerdo e assim ficava at o final da apresentao, numritmado tique-tique de abrir e fechar da pulseira.

    No dia da formatura, depois de receber o certificado, dirigiu-se para a tribuna e

    disse em tom vitorioso para os companheiros da turma: "J eliminei o desagradveltique-tique da pulseira do relgio " e com ar zombeteiro levantou o relgio para quetodos o pudessem ver, ia agora com uma pulseira de couro.

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    10. Construtor do universo

    Eu poderia ter includo esse tipo de movimentao dos braos e das mos em

    um dos itens j abordados, principalmente nesse ultimo - "movimentos alheios"-,pois trata-se mesmo de um movimento alheio mensagem. Ocorre que esse gesto to comum e utilizado por tantos oradores que resolvi dar a ele um destaqueespecial.

    O orador comea a falar e imediatamente passa a movimentar as mos, como seestivesse desenhando uma esfera no ar. Qualquer que seja a mensagem, alegre outriste, rpida ou lenta, agressiva ou calma, l est ele realizando o mesmo tipo degesto, construindo o universo com os movimentos das mos. um gesto queidentifica um bom numero de idias e pode ser realizado vrias vezes durante umaapresentao, mas us-lo desde o princpio at o final, sem mud-lo, uma das

    incorrees que se devem evitar.

    11. Detalhes que sobressaem

    Pulseiras reluzentes, grandes anis e outros objetos que sobressaiam muitoaos olhos da plateia costumam desviar a ateno, tirando a concentrao dosouvintes. Se um desses detalhes estiver atrapalhando a sua exposio, no tenteescond-lo durante a apresentao, retire-o antes de falar.

    H oradores que gostam de falar usando uma ponteira (tipo antena de rdio) paraapontar detalhes do que esto expondo num quadro flip chart ou tela de projeo. um procedimento recomendvel, pois d mais viso plateia, que no tem assim ocorpo do orador na sua frente. Ocorre que alguns, depois de apontarem o quedesejam, continuam a falar com a ponteira, como se fosse uma batuta de maestro,riscando "brilhantemente" o ar, ou, o que pior, fazendo movimentos de abrir efechar o tempo todo, distraindo a ateno da plateia.

    Um dia, iniciei uma aula sobre gesticulao colocando as informaes com muitotato para no contrariar os alunos, que formavam um grupo de primeira qualidade,todos empresrios e executivos. Foi mais ou menos assim:

    "Estou consciente de que no preciso passar certas informaes a um grupo bempreparado como este, mas, como faz parte do programa didtico e talvez vocsnecessitem transmitir os conceitos a seus subordinados, vou abord-los. Na estticada gesticulao o orador no deve descuidar dos menores detalhes, pois pode estara um ponto negativo na imagem de quem se apresenta em publico. As unhas, porexemplo, precisam estar sempre bem cuidadas, cortadas e limpas. No precisamexagerar passando esmaltes incolores etc. Alguns ouvintes nem gostam dessescuidados excessivos".

    Antes que eu pudesse continuar, um aluno, que estava sentado bem minhafrente, levantou o brao pedindo a palavra e retrucou:

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    "- Professor, no gostaria de parecer grosseiro, mas com todo o jeito acaboupassando-nos uma informao desnecessria. Todos ns sabemos que um oradorprecisa apresentar-se com as unhas cortadas e limpas".

    Eu fui at o fundo da sala e, sem que ningum percebesse, escrevi um bilhete eo passei discretamente ao aluno com os seguintes dizeres: "D uma olhada nassuas unhas". Ele no ficou vermelho, na verdade suas faces ficaram roxas devergonha. isso mesmo, suas unhas estavam compridas, s no deu para ver setambm estavam sujas.

    Fiz de conta que nada tinha acontecido e repeti a explicao dizendo que estavaconvencido desse fato, mas era apenas um mtodo didtico para que pudessemlembrar-se, na hiptese de necessitarem orientar outras pessoas.

    Eu sei que voc, meu companheiro de leitura, no precisa desse tipo de

    informao, mas, ao orientar algum, pea que d uma olhadinha nas unhas. Nocusta nada.

    A POSTURA CORRETA PARA INICIAR

    Tem sido muito frequente este tipo de duvida por parte dos oradores: afinal, como que dever posicionar-se com os braos e as mos, para iniciar a apresentao?Ficaro os braos ao longo do corpo, com as mos semi-abertas ao lado daspernas, ou sero colocados frente do corpo, acima da linha da cintura, com asmos separadas ou mesmo juntas uma sobre a outra?

    Alguns chegam a dizer que essa a maior dificuldade que sentem ao falar diantede uma plateia. No sabem o que fazer com as mos e, quando encontram umaposio correta, s conseguem modific-la custa de muito esforo.

    No se deve instituir uma regra fixa e rgida para a posio inicial dos braos edas mos. Cada um dever comportar-se da forma que julgar mais conveniente,como sentir-se melhor e mais natural.

    sem sentido a divergncia de opinio de certos estudiosos do assunto sobreesta questo. Enquanto alguns julgam que os braos colocados ao longo do corpo

    so mais naturais, outros interpretam que os braos colocados frente, acima dalinha da cintura, esto mais prximos do gesto a ser executado e, portanto, numaposio mais correta.

    Ora, se at ficar com as mos atrs das costas, nos bolsos, apoiadas sobre amesa, a cadeira ou outro objeto poder caracterizar-se como postura recomendvel,dependendo da naturalidade, bem-estar e disposio do orador, como que algumpode pretender padronizar esse comportamento?!

    A voc diz assim: "Est certo, Polito, j entendi que a postura poder serqualquer uma, mas isso ainda no resolve o meu problema, continuo sem saber o

    que fazer com as mos no inicio da apresentao".

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    Eu vou fazer algumas sugestes, mas antes quero contar uma histria que,quando ocorreu, foi engraada. Foi numa formatura de um curso de oratriaexistente em So Paulo. O formando recebia o certificado e se dirigia tribuna paradizer algumas palavras diante do publico (o mesmo procedimento adotado pelo

    nosso Curso de Expresso Verbal), embora uns mais empolgados acabassemfalando muito. Pareciam bonequinhas programados para falar; chegavam diante domicrofone e imediatamente colocavam os dois braos frente do corpo, acima dalinha da cintura. A impresso que se tinha era de que existia um cordel invisvel,como esses utilizados para controlar marionetes, e assim que se posicionavamalgum puxava o cordel para levantar os seus braos. No meio da solenidade,debaixo do silncio da plateia, enquanto mais um orador se preparava para subir tribuna, ouviu-se uma voz perdida no auditrio:"Oradooor, seeentido!" Pobre do orador! ainda meio atordoado, sem saber bem oque estava acontecendo, precisou aguardar algum tempo at que as gargalhadascessassem.

    Alguns autores recomendam que, ao iniciar a exposio, o orador poderia colocaruma das mos sobre a outra, frente do corpo e acima da linha da cintura, assimcomo fazem as crianas para proteger um pequeno bichinho de estimao, umfilhote de passarinho, por exemplo.

    Levei um tremendo susto numa aula quando os alunos comearam a fazer seusexerccios prticos e quase todos iniciaram falando com esse posicionamento,cpias de papel carbono um do outro, completamente despersonalizados. Bastouprojetar a gravao que sempre fazemos em videocassete para que notassem oposicionamento ridiculo. Soube, depois, que todos tinham lido o mesmo livro e,ainda sem a nossa orientao, imaginaram que era assim que deveriam comportar-se sempre.

    Vejamos algumas posturas recomendadas para iniciar a fala:1.Braos ao longo do corpo2.Postura inicial com posicionamento aparentemente incorreto3.O truque da ficha de anotaes4.Mos fechadas em forma de concha5.Apoio na tribuna6.Incio sem apoio

    1. Braos ao longo do corpo

    Esta uma posio inicial que d bons resultados. Os braos ficam naturalmenteao longo do corpo (foto 18), sem se movimentar, enquanto voc inicia suaapresentao. Depois de pronunciar as primeiras palavras, mais tranquilo, com aadrenalina assentada, durante uma pausa poder soltar os gestos. Eu sugeri soltar osgestos durante uma pausa porque, se o movimento ocorrer enquanto voc fala, elepoder ser executado aps a palavra, e, como j foi mencionado, o gesto deve ser

    realizado antes da palavra ou simultaneamente, no depois.

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  • 8/6/2019 Reinaldo Polito, Gestos e Postura para FalarMelhor

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    O movimento deve ser firme, indicando certeza e convico. Por isso vocdever escolher um bom momento para ele, preferencialmente fazer o movimentoque indique ou complemente uma ideia importante dentro da mensagem.

    Quando o orador est inseguro, os braos ao longo do corpo ficam pesados,parecem de chumbo. Se no procurar combater essa insegurana, forando umpouco a movimentao do brao, correr o risco de permanecer o tempo todo namesma postura.

    O primeiro movimento poder ser realizado apenas com um dos braos, parasimplificar a gesticulao, e depois, j mais vontade, com os dois. evidente que,se voc estiver confiante, poder iniciar log