5
INSTITUTO AVISA LÁ 3 ANOS Proposta As experiências sensoriais têm um papel importante nos percursos de criação em artes com crianças de 0 a 3 anos. Um possível caminho para conectar a sensibilidade das crianças à esfera artística é a Arte Contemporânea, que tem como característica impor- tante a pluralidade de experimentações nos modos de fazer. As apropriações das crianças se aproximam dos caminhos de produções da Arte Contemporâ- nea, sobretudo de artistas que convidam o público a interagir com determinados objetos e, com isso, a “ativar” a obra de arte. Essa ideia também pode ser relacionada à maneira como as crianças pequenas descobrem o mundo, sempre curiosas e abertas às experiências por meio de todos os sentidos. Hélio Oiticica, grande expoente do movimento Neo- concretista no Brasil, produziu uma obra paradigmá- tica nomeada Parangolés: dispõem-se pedaços de tecidos a serem explorados pelo público que pode vesti-los em brincadeiras com o corpo. Desse modo, os tecidos se movimentam no espaço e conferem Reinvenções de objetos do cotidiano Autor Idade 1 novos sentidos à experiência visual com a cor. Com os sentidos ativados, o público experimenta a cor no próprio corpo, e não somente por meio da visão, como até então as artes visuais propunham. Reinventar os objetos do cotidiano integra a brinca- deira da criança ao interesse por explorar materiais do cotidiano que, a princípio, não são reconhecidos como brinquedos. Nesta proposta, mobilizada pela obra de artistas que convidam à interação, como Hélio Oiticica, a brincadeira, como forma de a criança conhecer o mundo, se vincula à experiência sen- sorial pela exploração de objetos do cotidiano, no mergulho de corpo inteiro em vivências com a cor. A proposta contribui para ampliar as aprendizagens das crianças, pois favorece e cultiva a expressão infantil, inicialmente de forma exploratória e, aos poucos, de maneira organizada. Mas isso depende, em grande medida, do modo como os ambientes são organizados para oferecer desafios progressivos às crianças.

Reinvenções de objetos do cotidiano - Arte na Creche · As experiências sensoriais têm um papel importante nos percursos de criação em artes com crianças de 0 a 3 anos. Um

Embed Size (px)

Citation preview

INSTITUTO AVISA LÁ 3 ANOS

Proposta

As experiências sensoriais têm um papel importante

nos percursos de criação em artes com crianças de

0 a 3 anos. Um possível caminho para conectar a

sensibilidade das crianças à esfera artística é a Arte

Contemporânea, que tem como característica impor-

tante a pluralidade de experimentações nos modos

de fazer. As apropriações das crianças se aproximam

dos caminhos de produções da Arte Contemporâ-

nea, sobretudo de artistas que convidam o público

a interagir com determinados objetos e, com isso, a

“ativar” a obra de arte. Essa ideia também pode ser

relacionada à maneira como as crianças pequenas

descobrem o mundo, sempre curiosas e abertas às

experiências por meio de todos os sentidos.

Hélio Oiticica, grande expoente do movimento Neo-

concretista no Brasil, produziu uma obra paradigmá-

tica nomeada Parangolés: dispõem-se pedaços de

tecidos a serem explorados pelo público que pode

vesti-los em brincadeiras com o corpo. Desse modo,

os tecidos se movimentam no espaço e conferem

Reinvenções de objetos do cotidiano

Autor Idade

1

novos sentidos à experiência visual com a cor. Com

os sentidos ativados, o público experimenta a cor

no próprio corpo, e não somente por meio da visão,

como até então as artes visuais propunham.

Reinventar os objetos do cotidiano integra a brinca-

deira da criança ao interesse por explorar materiais

do cotidiano que, a princípio, não são reconhecidos

como brinquedos. Nesta proposta, mobilizada pela

obra de artistas que convidam à interação, como

Hélio Oiticica, a brincadeira, como forma de a criança

conhecer o mundo, se vincula à experiência sen-

sorial pela exploração de objetos do cotidiano, no

mergulho de corpo inteiro em vivências com a cor.

A proposta contribui para ampliar as aprendizagens

das crianças, pois favorece e cultiva a expressão

infantil, inicialmente de forma exploratória e, aos

poucos, de maneira organizada. Mas isso depende,

em grande medida, do modo como os ambientes

são organizados para oferecer desafios progressivos

às crianças.

Materiais

Em uma proposta com foco nas experiências sen-

soriais ligadas a materiais do cotidiano, a profes-

sora optou por selecionar materiais que tradi-

cionalmente não seriam utilizados em propostas

ligadas ao campo de experiências das Artes Vi-

suais. Considerando que na Arte Contemporânea

qualquer material pode servir ao processo de ex-

perimentação estética, fios de elásticos, tecidos,

pneus e caixas de papelão se mostraram ótimos

recursos para as brincadeiras infantis. Os materiais

foram dispostos de forma a incentivar as crianças

à sua exploração.

Ao serem oferecidos em arranjos espaciais cuida-

dosamente preparados do ponto de vista estético,

os objetos puderam ser apropriados pelas crian-

ças, tornando-se instrumentos para descobrir o

mundo pela brincadeira sensorial. Nas mãos das

crianças, os objetos se transformaram e ganharam

outras significações. Foram utilizados:

- Fios de elásticos

- Tecidos

- Pneus

- Caixas de papelão

Espaço

A organização dos espaços considerou a movi-

mentação e a exploração do corpo das crianças em

diferentes contextos, possibilitando a brincadeira e

as descobertas sensoriais. Os espaços físicos foram

além da sala e se tornaram espaços conceituais, nos

quais cada elemento teve uma intencionalidade.

Cada escolha se tornou uma potente intervenção

da professora com relação a suas propostas peda-

gógicas. Nesse caso, o pátio externo foi utilizado

para brincar com redes e tramas. O corredor foi

escolhido como o mais adequado para a experi-

ência de escorregar em caixas de papelão. Foram

utilizados nessa proposta:

- corredores;

- salas;

- jardins;

- pátios externos.

2

Atividades

As proposições da professora puderam desenca-

dear as seguintes atividades das crianças:

1.Brincadeiras com redes, com tecidos semelhan-

tes à malha elástica.

2.Brincadeiras com caixas de papelão.

Tempo

Uma experiência de reinvenção de objetos do co-

tidiano aconteceu durante dois meses, duas vezes

por semana, durante cerca de 30 minutos.

Interações

As crianças puderam fazer suas escolhas nos mo-

mentos de brincadeiras a partir da organização

dos espaços e da oferta de materiais. De forma

simultânea, elas brincaram junto com seus pares

e com a professora. Isto é, não foi definida uma

ordem prévia com relação à “vez” de cada um

brincar. Como também não foram definidos os

grupos, os pequenos puderam interagir a partir

de suas próprias escolhas, o que certamente con-

tribui para a progressiva conquista da autonomia

infantil. Nesse contexto, foram importantes as

interações entre as crianças ao inventarem brin-

cadeiras de maneira coletiva, ou seguirem alguma

sugestão inicial de um parceiro mais experiente,

como a professora. Decidiram sobre como pode-

riam usar cada material com relação ao espaço

em que foram dispostos, ou seja, experimentaram

limites e dimensões espaciais nas brincadeiras

corporais com os objetos. Também descobriram

usos inusitados para objetos do cotidiano, que se

tornaram recursos para experiências de caráter

expressivo.

3

3. Brincadeiras com pneus.

4. Brincadeiras com “Parangolés” em diferentes

texturas e cores.

Observe

A observação é um importante instrumento para subsidiar o planejamento das propostas do professor

e também para enriquecer as experiências das crianças.

No desenvolvimento dessa proposta é interessante observar:

1. A exploração do movimento e postura corporal da criança e o conhecimento do próprio corpo:• a proposta contribui para o fortalecimento de uma “cultura corporal” nas crianças?

• elas puderam se comunicar através de posturas corporais?

• tiveram a oportunidade de ampliar suas possibilidades de movimento e desenvolver competências

corporais ao mobilizarem o corpo na exploração do espaço e dos materiais?

2. O desenvolvimento do convívio social e a descoberta de novos usos para materiais do dia a dia:• as crianças brincaram e exploraram o espaço em pequenos grupos?

• puderam explorar os materiais nas brincadeiras?

• objetos do cotidiano serviram de suporte para brincadeiras sensoriais e foram manuseados de ma-

neiras inusitadas?

• as crianças exploraram e conheceram diversas propriedades dos objetos?

• alimentaram o interesse em conhecer materiais diversos, cultivando sua sensibilidade?

Esse trabalho com as crianças nos permitiu viven-

ciar momentos de descobertas, desafios e muita

aprendizagem, nos fez ver que quando permitimos

e damos a oportunidade, as crianças nos apontam

caminhos. A partir das experiências com a arte,

as crianças transformaram seu brincar, criaram

relações com o outro e com o mundo”

Elizabeth Rodrigues, Jaqueline Andrade,

Letícia Pereira, Tatiane Silva – CEI Sagrada Família

A voz de quem participou

Para garantir o protagonismo das crianças, foi pre-

ciso compreender que a brincadeira é o proces-

so fundamental nessa fase do desenvolvimento,

por este motivo as propostas permitiram que as

crianças tivessem liberdade de escolha, desafios,

descobertas e fossem autoras do seu fazer”

Professora Camila de Jesus Gomes,

CEI Sagrada Família – Centro Social de Parelheiros

4

• BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.

• BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacio-nal para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

• DEWEY, John. A arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

• HOLM, Anna Marie. Baby-Art: os primeiros passos com a arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2007.

• OITICICA FILHO, Cesar. O museu é o mundo. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2011.

• PREFEITURA DA CIDADE DE SÂO Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para a Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT, 2007. Disponível em: <http://www.culturatura.com.br/docsed/12%20OrientCurr%20PSP-EI.pdf>.

• SALOMÃO, Waly. Hélio Oiticica. Qual é o Parangolé? E outros escritos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.PEREIRA, Ma-ria Amélia P. Casa Redonda: uma experiência em educação. São Paulo: Livre, 2012.

OUTRAS FONTES DE REFERÊNCIA:• Site: <http://www.heliooiticica.org.br/home/home.php>.

• Links:<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16122015-092949/pt-br.php>.

• <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000300003>.

• <www.itaucultural.org.br>.

Equipe do Projeto Conexões – Instituto Avisa Lá: Cisele Ortiz, Denise Nalini, Mariana Americano,

Cinthia Manzano, Beatriz Bianco, Inaia Barros

CEI Sagrada Família – Centro Social de Parelheiros/ Atual Creche Cora Coralina – Associação Comunitária Maria de Nazaré

Diretora: Janaína Ilda Sousa Borges

Coordenadora: Lilia Grazielly Vieira de Sousa

Professoras: Camila de Jesus Gomes, Elizabeth Rodrigues, Jaqueline Andrade, Letícia Pereira, Tatiane Silva

Referências

Créditos

5

Iniciativa Coordenação Técnica

Parceiros