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Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

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Contém resumos das apresentações realizadas durante workshop realizado pela Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária em outubro de 2013, em Campinas, SP, com o apoio do MAPA, Embrapa Soja, SINDIVEG e ANDEF.

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Page 1: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

1

Page 2: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

2

Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura/ editora: Regina

Lúcia Sugayama. Salvador, SBDA - Sociedade Brasileira de Defe-

sa Agropecuária, 2014.

1. Agricultura. 2. Apicultura. 3. Polinizadores, 4. Polinização. 5.

Sustentabilidade.

Prefixo Editorial: 68630

Número ISBN: 978-85-68630-03-7

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Page 3: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

3

RELAÇÃO PRODUTIVA ENTRE

AGRICULTURA E APICULTURA

2014

Page 4: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

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Page 5: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

5

RELAÇÃO PRODUTIVA ENTRE

AGRICULTURA E APICULTURA

2014

Page 6: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

6

Realização: SBDA - Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária

Diretoria 2013-2015:

Presidente: Paulo Emílio Torres (ADAB)

Vice-presidente (licenciado): Luís Eduardo Pacifici Rangel (MAPA)

Secretário-Geral: Nataniel Diniz Nogueira (IMA)

Tesoureira: Suely Xavier de Brito Silva (ADAB)

Coordenadores do workshop:

Décio Gazzoni (Embrapa)

Luís Eduardo Pacifici Rangel (MAPA)

WORKSHOP RELAÇÃO PRODUTIVA ENTRE AGRICULTURA E APICULTURA

Campinas, SP, 30/10 a 1/11/2013

Equipe de Produção dos Anais

Coordenação: Regina Sugayama

Compilação de conteúdo: Luíza Baggio, Giliardi Anício Alves, Andrea Ramos Stancioli, Sabrina Rita Resende e Sofia Kiyomi Iba da Gama

Capa: Karyne Akemy Sugayama

Fotos: Regina Sugayama e imagens de arquivo dos autores

Assessoria geral: Joenilma Nogueira Leite

Gráfica: Scalla Gráfica

Tiragem: 500 exemplares

Belo Horizonte, Agosto de 2014

Page 7: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

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APRESENTAÇÃO

Luís Eduardo Pacifici Rangel &

Décio Gazzoni

Esta publicação é resultado de um workshop

realizado em Campinas, de 30 de outubro a 1 de

novembro de 2013, que tinha três objetivos pré-

definidos: estabelecer uma agenda de pesquisa,

estruturar uma rede de pesquisadores e definir

estratégias para captar os recursos necessários

para executar as ações propostas. O evento

consistiu de nove sessões, entre palestras, mesas-

redondas e painéis abordando a relação entre

apicultura e agricultura.

O evento foi motivado pela reavaliação proposta

pelo IBAMA de se reavaliar quatro produtos

fitossanitários. Portanto, é natural que o

direcionamento do evento tenha sido dado pelo

IBAMA, que explanará sobre a fundamentação

para a proposta de reavaliação, as medidas

tomadas, os estudos que embasaram a tomada de

decisão, os riscos identificados e, principalmente,

as soluções possíveis para todas essas questões.

Durante o workshop, os participantes foram

instigados a construir uma visão de futuro sobre

como conciliar as tecnologias correntemente

usadas em programas de manejo integrado de

pragas e a proteção a agentes polinizadores.

Realizam o evento a Coordenação Geral de

Agrotóxicos e Afins do MAPA e a Sociedade

Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA). A SBDA

tem a importante missão institucional de

coordenar ações da academia, setor privado e

governo em prol da melhoria do sistema brasileiro

de Defesa Agropecuária como um todo.

É importante deixar claro que, dentro do governo

federal, existe toda uma regulamentação que rege

o registro de novas tecnologias para controle de

pragas, sempre buscando alternativas que

estejam dentro do nível aceitável de risco

ambiental, incluindo o risco para organismos

polinizadores.

Não há, preconceitos de nenhuma espécie quanto

ao tema em tela, devendo ser desenvolvido um

projeto de gestão do risco que envolva aspectos

agronômicos e ambientais, integrados e

inspirados na realidade nacional e nas

experiências internacionais.

No entanto, o que se percebe é que há uma

polarização na pesquisa, com especialistas

voltados para a questão de fitossanidade e outros

para o meio-ambiente. A relevância deste

workshop se dá pela integração de opiniões e na

busca um projeto de consenso.

Page 8: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

8

O Brasil entende que importar decisões

regulatórias é um assunto complexo pois há

diferenças marcantes tanto do ponto de vista

biótico quanto abiótico mas, para que possamos

tomar nossas decisões com base em ciência, é

necessário levantar o que já foi feito na pesquisa

no Brasil, identificar lacunas e saná-las de maneira

sistematizada.

Felizmente, tanto o governo quanto o setor

privado têm uma ampla revisão bibliográfica

sobre o tema mas há, ainda, muito a ser feito,

conforme poderá ser depreendido ao longo da

leitura dos artigos que compõem esta publicação.

Ao longo de nove sessões técnicas, entre

palestras e mesas-redondas, foi discutida a

relação entre a agricultura e polinizadores,

buscando criar uma agenda de pesquisa e

uma rede de pesquisadores.

Page 9: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

9

SUMÁRIO

L ISTA DE AUTORES , 11

DEFESA AGROPECUÁRIA : UMA RESPONSABIL IDADE

COMPARTILHADA , 13

REAVALIAÇÃO AMBIENTAL DE T IAMETOXAM , IMIDACLOPRIDO ,

CLOTIANIDINA E F IPRONIL , 15

ESTADO DA ARTE DA PESQUISA COM ABELHAS NO BRASIL , 21

AVALIAÇÃO DE R ISCO , 23

A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL , 26

CRIAÇÃO MASSAL DE POLINIZADORES , 36

A VISÃO DO SETOR PRODUTIVO, 40

USO DE NEONICOTINOIDES E P IRAZOL NO BRASIL - S I TUAÇÃO

ATUAL DOS PRODUTOS REGISTRADOS , 47

CONVI IVÊNCIA ENTRE AGRICULTURA E APICULTURA , 54

CONVIVÊNCIA ENTRE FRUTICULTURA E APICULTURA , 64

INICIAT IVAS DO SETOR DE INSUMOS AGRÍCOLAS , 69

PROGRAMAS DE MANEJO DA RESISTÊNCIA DE PRAGAS A

AGROTÓXICOS , 71

APLICAÇÃO AÉREA DE AGROTÓXICOS :

S I TUAÇÃO ATUAL E DEMANDAS , 74

S IGLAS E ABREVIATURAS , 81

Page 10: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

10

Page 11: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

11

L ISTA DE AUTORES

ALCINDO ALVES. Federação das Associação de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo

([email protected])

CHRISTOPH SCHNEIDER. BASF SE, Crop Protection Global Ecotoxicoloty ([email protected])

CRISTIANO MENEZES. Embrapa Amazônia Oriental ([email protected])

DÉCIO GAZZONI. Embrapa Soja ([email protected])

EDIVANDRO SERON. Associação Brasileira dos Produtores de Algodão ([email protected])

EDMUNDO MARCHETTI. Associação de Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz e Região

([email protected])

EDUARDO DAHER. Associação Nacional de Defesa Vegetal ([email protected])

FÁBIO YOSHIO KAGI. Associação Nacional de Defesa Vegetal ([email protected])

FABRÍCIO ROSA. Associação dos Produtores de Soja. ([email protected])

FERNANDO HENRIQUE MARINI. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal

([email protected])

GERALDO PAPA. Universidade Estadual Paulista ([email protected])

JOÃO PAULO RODRIGUES DA CUNHA. Universidade Federal de Uberlândia ([email protected])

JOSÉ ANNES. Associação Nacional de Defesa Vegetal ([email protected])

JOSÉ FRANCISCO GARCIA. Global Cana ([email protected])

LEANDRO BORTOLUZ. Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã ([email protected])

LEONARDO MACHADO. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil ([email protected])

LOTHAR LANGER. Syngenta ([email protected] )

LUÍS EDUARDO PACIFICI RANGEL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

([email protected])

Page 12: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

12

LUIZ GUSTAVO ASP PACHECO. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

([email protected])

MARCELO PEDREIRA DE MIRANDA. Fundo de Defesa da Citricultura ([email protected] )

MARCELO POLETTI. Promip ([email protected])

MÁRCIO ROSA RODRIGUES DE FREITAS. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis ([email protected])

MARCOS BOTTON. Embrapa Uva e Vinho ([email protected])

NELSON PAIM. Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola ([email protected])

OSMAR MALASPINA. Universidade Estadual Paulista ([email protected])

PAULO EMÍLIO TORRES. Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária ([email protected])

PEDRO TAKAO YAMAMOTO. Universidade de São Paulo ([email protected])

RICARDO COSTA RODRIGUES DE CAMARGO. Embrapa Meio Ambiente ([email protected])

ROBERTO RAMIREZ. Bayer Crop Science ([email protected])

SAMUEL ROGGIA. Embrapa Soja ([email protected])

SÍLVIA FAGNANI. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal ([email protected])

STEPHAN CARVALHO. Universidade Federal de Uberlândia ([email protected](

TOM PRADO. Itaueira ([email protected])

ULISSES ANTUNIASSI. Universidade Estadual Paulista ([email protected])

VERA LÚCIA IMPERATRIZ FONSECA. Universidade de São Paulo ([email protected])

Page 13: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

13

DEFESA AGROPECUÁRIA : UMA RESPONSABIL IDADE

COMPARTILHADA

Paulo Emílio Torres

A Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária

(SBDA) é uma associação civil, sem fins lucrativos,

fundada em agosto de 2010. A entidade prima

pelo incentivo e divulgação do desenvolvimento

técnico-científico na área de Defesa Agropecuária.

Tem como objetivo facilitar a interação de órgãos

regulatórios, setor privado e academia, através da

promoção de eventos, capacitação e discussão

técnica. Acredita que a interação entre esses

agentes permitirá um círculo virtuoso de pesquisa

e desenvolvimento capaz de manter o Brasil

dentro dos mais altos patamares produtivos da

agropecuária mundial.

A SBDA compreende a multidisciplinaridade como

fator primordial para o desenvolvimento e a

disseminação do conhecimento em Defesa

Agropecuária. Também compreende que o

compartilhamento de responsabilidades é a chave

para o avanço da Defesa Agropecuária brasileira.

Seu primeiro presidente foi o professor da

Universidade Federal de Viçosa, Evaldo Ferreira

Vilela, que percebeu a necessidade de uma maior

organização da sociedade civil em torno do

assunto. Enquanto presidente da SBDA trabalhou

para articular universidades, empresas,

instituições de pesquisa e governo e criou a

Conferência Nacional sobre Defesa Agropecuária,

que é o maior evento da área no Brasil.

As duas primeiras edições foram realizadas em

Belo Horizonte (MG), nos anos de 2006 e 2010, a

terceira em Salvador (BA) em 2012 e a quarta em

Belém (PA) em 2013, quando - durante a

Assembleia Geral - tive a satisfação de ser eleito

para a diretoria da entidade, com a grata missão

de suceder o professor Evaldo Vilela.

Para a SBDA é motivo de orgulho lançar esta

publicação, que resume as palestras e discussões

realizadas durante o workshop “Relação produtiva

entre Agricultura e Apicultura”. Trata-se de um

tema extremamente atual e sensível,

considerando que ele engloba dois grandes

patrimônios do nosso país: sua megadiversidade

biológica e a inegável importância que o

agronegócio tem para o crescimento econômico

Page 14: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

14

do Brasil. O desafio de conciliar exploração

agrícola e proteção de polinizadores é imenso,

mas, conforme se depreende a partir das páginas

desta revista, importantes avanços foram obtidos

durante o workshop.

Expressamos nosso agradecimento a todos os

profissionais que participaram do evento,

especialmente aos palestrantes por haverem

compartilhado sua experiência e suas expectativas

quanto ao tema. Agradecemos, também, às

entidades que viabilizaram sua realização:

Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, Embrapa Soja, Associação dos

Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz do

Rio Pardo e Região, Sindicato Nacional da

Indústria de Produtos para Defesa Vegetal e

Associação Nacional de Defesa Vegetal.

Desde já, o convidamos para a V Conferência

Nacional sobre Defesa Agropecuária que

acontecerá em Florianópolis (SC), entre os dias 25

e 28/11/2014, bem como, a associar-se à SBDA.

Para mais informações, acesse:

www.defesaagropecuaria.net ou

www.facebook.com/defesaagropecuaria

Page 15: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

15

REAVALIAÇÃO AMBIENTAL DE T IAMETOXAM , IMIDACLOPRIDO ,

CLOTIANIDINA E F IPRONIL

Márcio Rosa Rodrigues de Freitas

O processo de reavaliação de três neonicotinoides

(tiametoxam, imidacloprido e clotianidina) e um

pirazol (fipronil) dentro do IBAMA está avançando

dentro do que entendemos como nossa obrigação

e as indústrias têm atendido às nossas demandas,

entregando os estudos solicitados. O

trabalho vem sendo desenvolvido dentro do

cronograma previsto e estima-se que serão ainda

três anos discutindo o assunto.

Não há, por parte do IBAMA nenhuma ansiedade

sobre como proceder o trabalho de reavaliação

mas o que se percebe é uma apreensão por parte

do setor privado, que precisa de soluções para os

problemas que nossa agricultura enfrenta.

Assim como o registro, a reavaliação de

agrotóxicos é feita conjuntamente pelo MAPA,

IBAMA e ANVISA. Como o registro de agrotóxicos

é feito sem prazo de validade, os três órgãos têm

autonomia para iniciar uma reavaliação sempre

que se detectar um problema de natureza

agronômica, ambiental ou ligado à saúde humana

associado a um determinado produto ou grupo de

produtos.

Os motivos que levaram o IBAMA a abrir um

processo de reavaliação de neonicotinoides

foram:

Sua natureza sistêmica e tendência a se

translocarem na planta;

Alta persistência em campo;

Meia-vida de degradação longa observada em

solos brasileiros;

Relatos de efeitos subletais, que podem afetar

o comportamento, o desenvolvimento e a

reprodução.

Essas características distinguem esse grupo de

inseticidas de outros registrados no Brasil. Se, por

um lado, conferem maior eficácia e efeito

residual, por outro podem estar afetando

polinizadores que visitam as culturas. Como esses

efeitos crônicos e subletais não são considerados

na avaliação ambiental realizada no momento do

registro do produto, o IBAMA julgou que seria

importante iniciar uma reavaliação.

O pirazol pertence a outro grupo químico, mas é

Page 16: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

16

altamente tóxico mesmo em doses subletais. Há

dados da Europa que subsidiaram a decisão de

restringir seu uso. Em abril de 2013,

neonicotinoides e pirazol tiveram seu uso

suspenso na Europa por dois anos e, no mês

seguinte, houve um incidente em Lucas do Rio

Verde, que foi a aplicação aérea de um dos

produtos em reavaliação sobre uma escola

durante o horário de aulas. Também em maio de

2013, foi publicado um estudo nos EUA

relacionando a questão de mortalidade de

abelhas aos neonicotinoides.

O IBAMA tem sido pressionado no sentido de

manter esses produtos pela sua grande

importância para as cadeias de produção de

algodão, soja, cana e citros, resultando em

medidas que flexibilizam a proibição de aplicação

aérea.

Atualmente, estamos discutindo com o MAPA a

elaboração de um termo de referência de curto

prazo para tratar da questão do uso de

neonicotinoides em algodão e um termo de

referência de longo prazo que trata da indução de

linhas de pesquisa que permitam levantar os

subsídios necessários para uma tomada de

decisão.

O PROCESSO DE

REAVALIAÇÃO NO BRASIL

A minuta da proposta de abertura de reavaliação

foi realizada em fevereiro de 2011. O MAPA e o

SINDIVEG foram contatados em abril de 2011,

para dar início à reavaliação de fato em julho de

2012 pois estávamos aguardando a publicação de

algumas metodologias europeias para avaliação

de toxicidade sobre larvas de abelhas e

monitoramento de resíduos em pólen, por

exemplo.

No dia 12 de julho de 2012, foi publicado o

comunicado com prazo de 30 dias para que as

empresas apresentassem novos estudos

relacionados à questão de toxicidade às abelhas, o

que foi prontamente atendido. Foi solicitado

também ao MAPA e às indústrias que

apresentassem a listagem de produtos que

poderiam ser usados em substituição aos

neonicotinoides.

MÁRCIO FREITAS: Não há, por

parte do IBAMA nenhuma

ansiedade sobre como proceder

o trabalho de reavaliação mas o

que se percebe é uma apreensão

por parte do setor privado, que

precisa de soluções para os

problemas que nossa agricultura

enfrenta.

Page 17: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

17

Mês/Ano Acontecimento

5 a 10/2009 Normativa de reavaliação e criação a equipe no IBAMA

2 a 3/2010 Levantamento de ocorrências de mortandade de abelhas no Brasil

7/2010 IBAMA contrata consultoria sobre efeitos de agrotóxicos sobre abelhas

10/2010 IBAMA contrata pesquisadores sobre mortandades de abelhas em SP

11/2010 IBAMA capacita seis analistas ambientais em avaliação de risco na EPA

1/2011 Brasil participa do SETAC, nos EUA

2/2011 Primeira versão do Comunicado de Reavaliação

4/2011 IBAMA contata MAPA e SINDAG sobre a reavaliação - proibição da aplicação érea

5/2011 Conclusão do trabalho sobre monitoramento de abelhas

6 a 11/2011 IBAMA participa de eventos no México e Holanda

1/2012 Primeiras avaliações de risco usando metodologia europeia

3/2012 Resultados do GEF valoração econômica do serviço de polinização

6/2012 Participação de pesquisadores brasileiros na OECD (Metodologia de testes em larvas)

7/2012 Início formal da reavaliação - Publicação do comunicado

7/2012 IBAMA solicita formalmente ao MAPA estudo de produtos substitutos

7/2012 Assessoria jurídica do SINDAG solicita bases da reavaliação

9/2012 IBAMA altera comunicado por solicitação das empresas

10/2012 Ato 1 IBAMA e MAPA flexibiliza proibição da aplicação aérea

11/2012 Reunião com especialistas internacionais a pedido da Bayer e Sindag

12/2012 Publicação da INC 01, com flexibilização e formulação dos estudos necessários à conclu-

4/2013 EUROPA suspende neonicotinoides por dois anos

5/2013 Acidente em Rio Verde (GO) com tiametoxam

5/2013 Estudo do USDA publica resultados da queda de população de abelhas e EPA associa que-

7 a 11/2013 Discussão dos TR para contratação de estudos sobre algodão e pesquisa da Embrapa

L INHA DO TEMPO

Page 18: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

18

Recebidos esses estudos, compete ao IBAMA

analisar e emitir um parecer técnico que justifique

ou não a necessidade de se realizarem estudos

adicionais. O que se constatou é a necessidade de

estudos em condições naturais e semi-naturais, os

quais estão sendo desenvolvidos pelas empresas

com prazo para concluir no final de 2014.

Concluídos esses estudos, as empresas

apresentarão um parecer técnico, que é

submetido a consulta pública por 30 dias para,

então, o IBAMA emitir seu parecer técnico final.

Esse parecer técnico é analisado conjuntamente

pelos três órgãos envolvidos no registro e a

decisão é tomada de forma conjunta e quais serão

os procedimentos a serem seguidos para, se for o

caso, iniciar a mitigação de risco.

Entre as possibilidades estão a alteração de doses,

alternância de produtos, modificando o sistema

de manejo ou, numa situação mais drástica,

retirada do produto do mercado.

O IBAMA tem consciência de que, além de

produtos usados em agroecossistemas, um fator

que pesa muito sobre a população de abelhas é a

perda de habitats naturais, o que se agrava ainda

mais com a expansão da fronteira agrícola.

Todas as medidas adotadas pelo IBAMA são

O Brasil é um dos países de

maior biodiversidade do mundo e este é um

patrimônio a ser preservado. Da mesma

forma, temos uma das agriculturas mais

pujantes do planeta e muito tem sido

investido em pesquisa, tecnologia e inovação.

(Foto: Agropec)

Page 19: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

19

pautadas em conhecimento científico. Em

dezembro de 2012, publicamos a INC 01, que

trata de medidas de flexibilização vigentes até

hoje e que garantiram uma medida de segurança.

Ou seja, a aplicação desses produtos somente fora

do período de floração em todas as culturas para

quais eles são registrados, com exceção do

algodão pois o período de maior ocorrência de

pragas coincide com o período de floração. Para o

algodão, foi adotada a janela de um ano para que

sejam gerados dados científicos para fundamentar

a tomada de decisão. Esta expansão afeta não só

as abelhas mas a biodiversidade como um todo.

A modificação de habitat causada pela

implantação de novas áreas agrícolas exerce uma

pressão de seleção para todo tipo de organismo

nativo, ou seja, ou as populações sucumbem ou se

adaptam. As práticas de manipulação de habitat,

tais como o uso de plantas atrativas nas

bordaduras das áreas agrícolas, podem ajudar a

manutenção da população de polinizadores.

Portanto, é fundamental que tenhamos

resultados de pesquisa sobre o comportamento

de forrageamento dos polinizadores e sobre a

maneira como eles se relacionam com o ambiente

para que seja possível conciliar desenvolvimento

agrícola com preservação da biodiversidade.

O Brasil é um dos países de

maior biodiversidade do mundo e este é um

patrimônio a ser preservado. Da mesma forma,

temos uma das agriculturas mais pujantes do

planeta e muito tem sido investido em pesquisa,

tecnologia e inovação.

Por esse motivo, o IBAMA se propôs a conduzir o

processo de reavaliação de forma a conciliar

gestão ambiental e manejo agrícola, de maneira a

evitar que uma medida de proteção à

biodiversidade tenha um impacto deletério sobre

a agricultura. A reavaliação está sendo feita de

maneira criteriosa e ouvindo todas as partes

envolvidas.

O IBAMA capacitou seis técnicos para conduzirem

o processo de reavaliação de neonicotinoides

e pirazol . Esse grupo foi responsável por

identificar as rotas de exposição e os pontos de

maior risco em relação à questão das abelhas

forrageiras, que podem estar levando os resíduos

para a colmeia.

A primeira avaliação de risco foi a do

imidacloprido, envolvendo 21 produtos

comerciais e 220 indicações de uso. As avaliações

foram feitas considerando três cenários e, a partir

dessa avaliação de rico para pulverização aérea e

considerando a deriva técnica de 8m que se

proibiu o uso em aplicação aérea. Essa

fundamentação técnica é o que deixa o IBAMA

muito confortável para lidar com as cobranças

que vêm de todas as camadas da sociedade.

NEONICOTINOIDES E CCD

O fenômeno de desaparecimento de colmeias foi

constatado inicialmente na Europa em 1998 e, nos

EUA, em 2006 e relacionado a um fenômeno que

é o CCD. A mortandade de abelhas e a relação

com o uso de agrotóxicos e perda de habitat são

conhecidas há muito tempo.

Nos EUA, até 1947, a taxa de declínio da

população de abelhas era de 1% ao ano. Nos

últimos quatro anos, subiu para 29-36%. Esses

números são baseados em monitoramentos

periódicos da população de abelhas, que é um

procedimento que o Brasil não realiza.

O Brasil não tem nenhum levantamento

sistemático e de longo prazo para a produção de

mel e tampouco sobre a criação de

abelhas. Portanto, urge que o Brasil passe a

documentar e monitorar suas colmeias para que

Page 20: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

20

possamos ter números em cima dos quais

trabalhar.

Normalmente, a redução na população de abelhas

é considerada CCD, o que não é verdade. Não há

qualquer comprovação científica de que a CCD

seja resultado do uso de neonicotinoides. No

Brasil, há apenas dois casos suspeitos de CCD,

sendo um em São Paulo e um em Minas Gerais,

mas esse não é o foco do IBAMA no momento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de reavaliação de neonicotinoides

e pirazol alerta o IBAMA para a importância de se

rever o processo de avaliação para registro pois os

estudos agudos não são suficientes frente à

natureza de novos produtos que surgiram na

última década. Efeitos crônicos e subletais podem

e devem ser considerados.

É necessário, também, definir que organismos

serão considerados no futuro no processo de

avaliação de agrotóxicos. Atualmente,

trabalhamos apenas com Apis mellifera

africanizada, mas esta problemática pela qual

estamos passando alerta para a premência de

incluir organismos nativos da fauna brasileira e

que podem desempenhar um papel mais

importante na polinização do que A. mellifera.

A realização deste workshop é louvável pois

temos que estar preparados para reagir de

maneira adequada quando o relatório técnico

final da reavaliação de neonicotinoides e pirazol

for publicado e os três órgãos registrantes

tomarem as medidas cabíveis para mitigação de

risco.

Page 21: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

21

O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA COM ABELHAS NO

BRASIL

Osmar Malaspina, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca & Stephan Carvalho

O Grupo de Pesquisa Ecotoxicologia de Abelhas da

Unesp é formado por pelo menos 20/25

estudantes de graduação e pós-graduação. A

abertura de processo de reavaliação pelo IBAMA

em 2012 desencadeou uma série de ações e

avanços para o setor, entre eles, o aumento do

nível de informação da população sobre a

importância dos polinizadores.

O serviço de polinização é fundamental tanto para

a proteção dos ecossistemas silvestres quanto

para a produtividade agrícola. Estudos realizados

na Inglaterra mostraram o valor econômico do

serviço prestado pelas abelhas na polinização, que

é muito maior do que o valor de mel e outros

produtos apícolas. A polinização aumenta a

produtividade de sementes, a qualidade de frutos

e a produtividade. Pode, portanto, ser

considerada um serviço básico.

As linhas prioritárias de pesquisa são:

· Efeito de mudanças climáticas e o impacto

que elas terão sobre a agricultura e também sobre

os polinizadores. Esta é uma grande ameaça, ois

alterações climáticas interferem na distribuição

das espécies, nos ciclos dos parasitas, das

abelhas, na fenologia das plantas, na

disponibilidade de néctar/ pólen e no regime de

chuvas;

· Modelagem ecológica, para analisar o efeito

de fragmentação de paisagem e urbanização

sobre rendimento agrícola e manejo de

populações, como ferramentas para avaliar se a

população é sustentável em função dos recursos

disponíveis. Através destas técnicas, é possível

gerar cenários mais otimistas ou mais pessimistas

para fazer inferências sobre o futuro da produção

agrícola;

· Genética de populações e conservação,

lembrando que é necessário entender o sistema

como um conjunto de metapopulações pois, na

eventualidade de uma doença, as mudanças vão

ocorrer em nível de comunidade e espécies;

· Implementação de coleções biológicas que

possam ser usadas como padrões de comparação

e também para obtenção de dados moleculares;

Page 22: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

22

· Produção em massa de polinizadores;

· Ecologia de interações, para definir os locais

onde devem ser realizadas ações de conservação,

combinando dados de distribuição geográfica de

polinizadores e os recursos florais por eles

explorados, já que a qualidade do alimento

disponível vai influenciar as colônias, a população,

os indivíduos . Os patógenos e agrotóxicos têm

seus efeitos manifestados desde o nível de DNA

até colônia.

É fundamental que sejam tomadas ações no

sentido de implementar políticas públicas de

proteção aos polinizadores, partindo de uma

análise já existente e conjugando-a a uma política

para o setor de produção.

Os dois temas precisam evoluir paralelamente

pois há uma interface forte entre eles. O grande

desafio é a agricultura utilizar a biodiversidade de

polinizadores para aumento de produção e

implementar boas práticas de manejoambiental

amigáveis aos polinizadores.

VERA FONSECA: É fundamental que

sejam tomadas ações no sentido

de implementar políticas

públicas de proteção aos

polinizadores, partindo de uma

análise já existente e

conjugando-a a uma política

para o setor de produção. A

compatibilização de

necessidades será o grande

desafio.

Page 23: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

23

AVALIAÇÃO DE R ISCO

Christof Schneider

Os produtos utilizados para controle de pragas são

substâncias químicas introduzidas

intencionalmente no ambiente, com o propósito

de proteger as plantas cultivadas contra pragas.

Portanto, eles têm atividade biológica contra uma

certa praga e os estudos de Ecotoxicologia têm a

função de avaliar os possíveis efeitos colaterais

que eles podem ter no ambiente, bem como

propor medidas para mantê-los em níveis

aceitáveis.

Uma das ferramentas mais importantes para esse

trabalho é a avaliação de risco, que pressupõe a

existência de informações sobre o perigo

representado pela substância (ex.: toxicidade) e o

grau de exposição.

A toxicidade é uma característica intrínseca da

substância, ou seja, não variável, enquanto a

exposição pode variar em função das condições

locais, formas de administração, entre outros.

Resumidamente, a avaliação de risco consiste na

comparação entre perigo e exposição, ou seja, se

o perigo é mais alto do que a exposição, então

não há risco significativo.

Se você dividir a exposição pelo perigo e o valor

for menor do que 1, então não há risco. Por outro

lado, se você tem um perigo alto mas uma

exposição baixa, então também não há risco

significativo. Há diferentes delineamentos na

Europa e EUA para integrar essas informações e

que dependem do conhecimento sobre toxicidade

e exposição, de forma que é possível avaliar o

risco.

No que se refere a ensaios com abelhas, é

utilizado o conceito de HQ (Hazard Quotient) e é

calculado como taxa de aplicação dividido pela

DL50. Tudo o que tiver HQ acima de 50 é

considerado um risco para abelhas e tudo o que

estiver abaixo de 50 é considerado de baixo risco

para abelhas. Esse limiar não é arbitrário, foi

validado usando dados de campo e é considerado

bastante adequado.

Considerando dois cenários com os conceitos de

perigo e exposição:

Se você tem uma substância com DL50 para

abelhas definida em laboratório como 1 ug de

ingrediente ativo e tem uma taxa de aplicação

em campo de 100 g/há. O valor de HQ será de

100, significando que o risco não pode ser

desconsiderado e que os estudos são

necessários para avaliar perigo que a

substância representa.

No segundo cenário, a toxicidade permanece

Page 24: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

24

constante mas a taxa de aplicação muda para

40 g/ha, o HQ será de 40 o que dispensaria

estudos adicionais.

A ideia é começar com um estudo simples de

laboratório para eliminar as substâncias com

baixo potencial de perigo e focar nas substâncias

que podem vir a representar risco significativo

para os polinizadores e realizar estudos mais

realistas, já que os estudos de laboratório são

muito artificiais.

Em geral, inicialmente, são realizados ensaios

simples, com 10 abelhas por repetição contendo

água, açúcar e a substância testada. Então, é

possível determinar a DL50.

Se o valor de HQ fica acima de 50, podem ser

tomadas ações de mitigação, como reduzir a taxa

de aplicação se não comprometer a eficácia,

aplicar em diferentes horas do dia, em

determinadas épocas do ano ou fazer ensaios

mais realistas, para verificar se há um potencial de

risco para as abelhas, colocando-as em situações

mais realistas.

Há várias diretrizes internacionais para este tipo

de análise. Além da mortalidade, podem ser feitas

observações sobre comportamento,

comportamento de forrageamento,

desenvolvimento da colônia de forma que não

serão testadas abelhas individuais e sim colônias

como um todo pois algumas substâncias podem

afetar a colônia e não o indivíduo. Pode-se

também avaliar o efeito sobre as larvas.

Ensaios em túneis de vento e in vitro podem ser

realizados. Para realizar ensaios em túneis de

vento, com protocolos da EPPO e OECD, são

instalados os túneis sobre a cultura atrativa para

as abelhas, com três tratamentos para

comparação:

Não tratada (só água);

Substância teste;

Page 25: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

25

Ensaios em condições seminaturais são mais

realistas e permitem avaliar alterações no

comportamento de forrageamento e a

mortalidade. (Foto: Basf)

Substância de referência, com efeito

conhecido.

São usadas colônias pequenas e sadias, com cerca

de 6.000 abelhas com cerca de 3.000 células com

larvas, a substância é pulverizada sobre a planta

atrativa para as abelhas durante a florada ou

quando as abelhas estão com atividade de

forrageamento, o que representa a pior condição

possível. A área é de 8 metros quadrados por

túnel de vento e, por este motivo, devem ser

usadas colônias pequenas.

O ensaio dura cerca de 20 dias, com 2-3 dias de

adaptação prévia das colônias. É realizada uma

avaliação prévia da colônia para avaliar seu estado

geral e, depois de aplicação, são feitas avaliações

de mortalidade, comportamento, produção de

larvas (dependendo do objetivo do ensaio).

Diariamente, é checada a atividade de

forrageamento, antes e depois de aplicar o

produto, para identificar se há algum efeito sobre

o comportamento ou ação repente. Depois, são

realizadas seis avaliações para analisar a colônia

como um todo, levantando número de células

com larvas, pupas, pólen e néctar.

A condução destes ensaios é complexa e requer

expertise sobre abelhas para poder interpretar os

resultados pois as colônias estão sujeitas a

variabilidade natural.

Um novo ensaio será requerido pela Europa e EUA

para testar o desenvolvimento larval no

laboratório. Uma diretriz nova da OECD descreve

a metodologia, que é bastante mais complexa,

pois as larvas precisam ser colocadas sobre meio

de cultura artificial contendo geleia real, açúcares,

leveduras, etc. A confiabilidade desse método

ainda é questionável, mas este método passará a

ser exigido em breve.

Page 26: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

26

Page 27: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

27

A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Lothar Langer, Roberto Ramirez, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca & Eduardo Daher

Conheça algumas iniciativas desenvolvidas em

outros países relacionadas à preservação de

polinizadores em consonância com o

desenvolvimento da agricultura.

OPERAÇÃO POLLINATOR

Em 2013, os apicultores europeus foram

entrevistados sobre os motivos que levam a

mortalidade de colônias de abelhas. Os

principais agentes de mortalidade são,

segundo os entrevistados, a Varroa, o

loque e outras doenças. Em segundo lugar,

as perdas de colmeias são atribuídas a

características intrínsecas, como a

constituição genética e, em seguida, aspectos

ambientais como a baixa disponibilidade de

alimento e as práticas de manejo. O motivo

menos importante, segundo os entrevistados,

é o envenenamento por substâncias

químicas, o contato com pesticidas ou outros

agentes.

É interessante notar que eles não atribuíram

a mortalidade de colmeias a perda habitats

naturais. Em uma meta-análise, foi observada

uma correlação entre perda de habitat e

resposta das abelhas. Os resultados indicam

que, quando há uma perda moderada

de habitat, pode haver uma compensação

tanto do ambiente quanto da população e,

portanto, não há um impacto significativo.

Por outro lado, quando a perda de habitat é

grande, tanto abundância quanto riqueza

são impactadas. A partir desses dados, pode-

se concluir que as abelhas são negativamente

afetadas pela atividade humana, então uma

solução possível seria banir os

seres humanos.

A Operação Pollinator é um programa

relacionado à biodiversidade e busca

impulsionar populações de polinizadores em

agroecossistemas. Conceitualmente, ele

iniciou como um serviço de suporte para uma

agricultura tensionada por pressões como a

demanda aumentada por alimentos, as

Page 28: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

28

exigências quanto à segurança do produto

agrícola, a redução de áreas disponíveis para

agricultura, a degradação dos ecossistemas e

a perda de biodiversidade.

Estes são desafios globais e o programa

Operação Pollinator busca promover

melhorias através do aumento da

produtividade e do aumento de

biodiversidade em ecossistemas. Esses dois

Em 2013, os apicultores europeus foram

entrevistados sobre os motivos que levam a

mortalidade de colônias de abelhas. Os

principais agentes de mortalidade são,

segundo os entrevistados, a infestação pelo

ácaro Varroa, o loque e outras doenças. Em

segundo lugar, as perdas de colmeias são

atribuídas a características intrínsecas, como

o estado das colônias, em seguida, aspectos

ambientais como a baixa disponibilidade de

alimento e as práticas de manejo. O motivo

menos importante, segundo os entrevistados,

A Operação Pollinator promoveu o aumento

na população de abelhas, borboletas e outros

polinizadores, protegendo a biodiversidade e

aumentando o rendimento das cultivos.

(Foto: Agropec)

Page 29: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

29

é o envenenamento por substâncias

químicas, o contato com pesticidas ou outros

agentes. É interessante notar que eles não

atribuíram a mortalidade de colmeias a perda

habitats naturais. Em uma meta-análise, foi

observada uma correlação entre perda de

habitat e resposta das abelhas. Os resultados

indicam que, quando há uma perda

moderada de habitat, não há um impacto

significativo. Por outro lado, quando a perda

de habitat é grande, tanto abundância

quanto riqueza são impactadas. A partir

desses dados, pode-se concluir que as

abelhas são negativamente afetadas pela

atividade humana, portanto uma solução é

cuidar do ambiente e mitigar os impactos.

A Operação Pollinator é um programa

relacionado à biodiversidade do

agroecossistema e busca impulsionar

populações de polinizadores nestes

ambientes. Conceitualmente, ela iniciou –se

como um serviço de suporte para uma

agricultura tensionada por pressões como a

demanda aumentada por alimentos, as

exigências quanto à segurança do produto

agrícola, a redução de áreas disponíveis para

agricultura, a degradação dos ecossistemas e

a perda de habitats. Estes são desafios

globais e o programa Operação Pollinator

busca promover melhorias através do

aumento da biodiversidade em

ecossistemas, que tem como consequência

maior produtividade. Esses dois aspectos

devem caminhar de maneira combinada,

para que se obtenha o melhor resultado.

Quando se fala em ecossistemas agrícolas,

associa-se imediatamente a ideia de perda de

habitats, ou seja, redução de disponibilidade

de áreas adequadas para nidificação das

abelhas ou redução da oferta de alimento,

que podem ser considerados fatores

decisivos para o declínio da população de

polinizadores. Portanto, a premissa seria

aumentar a abundância e a diversidade da

flora melífera nos campos, para suportar

comunidades mais diversificadas e maiores de

polinizadores o que, em última instância,

promoverá o aumento da atividade de polinização

nos agroecossistemas.

Portanto, os benefícios do Operação Pollinator

são a proteção e aumento da biodiversidade, o

aumento de rendimento das culturas e a

sustentabilidade da produção agrícola. Ele foi

iniciado no Reino Unido entre 2001 e 2004,

visando ampliar as fontes de alimento para um

polinizador nativo importante (Bombus) e o

resultado foi:

• Aumento de 600% na população da espécie

que vinha declinando (no caso Bombus ruderatus)

• Aumento de 12% na população de

borboletas;

• Aumento de 10 vezes na população de

outros polinizadores.

Os resultados foram tão promissores que o

projeto se tornou um programa, denominado

Operation Bumblebee, com adesão imediata de

um grande número de produtores rurais que

implantaram o programa em uma área de 1.000

ha. Foram iniciadas parcerias com cadeias de

produção de alimentos e apoio do governo

através de um mecanismo compensatório, ou

seja, o governo passou a compensar

financeiramente os produtores que deixassem de

plantar uma área para manter a vegetação nativa.

Rapidamente, o programa foi estendido para toda

Page 30: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

30

a Europa. De 2009 a 2014, 14 países aderiram ao

projeto, resultando em 10 mil hectares. As

parcerias com governos, produtores de alimentos,

grandes redes de produção de alimentos, centros

de pesquisas, ONGs foram fundamentais.

Mais recentemente, os EUA aderiram ao

programa , que está sendo implantado em

áreas críticas para a polinização e que têm

alta demanda pelos serviços de polinização.

Foi criado um modelo matemático para

avaliar a recolonização de uma área após a

aplicação de glifosato e considerando a

utilização de sementes de apenas uma

espécie anual, uma mistura de espécies de

plantas anuais, uma mistura envolvendo

espécies anuais, perenes e em diferentes

combinações. Os EUA conseguiram modelar o

custo para implementação do programa e

também otimizar o processo conforme a época, a

região e a espécie cultivada, de forma a suprir ou

complementar as fontes de alimentos para os

polinizadores existentes na região. O que se

observa é que a vegetação morre após um

período e, portanto, torna-se necessário obter

uma área de alta biodiversidade coexistindo com a

área plantada, onde cada tipo de polinizador

responde à oferta de alimentos.

Deve-se tomar as precauções necessárias nas

situações em que um novo organismo é

transportado de uma região para outra, como é o

caso do transporte de colmeias de Apis. É preciso

planejar a operação de acordo com a demanda

observada, ou seja, não há uma receita pronta,

todo o programa é customizado por país e cultura.

O programa já conta com 15 misturas de

sementes adequadas para uso em

agroecossistemas da Europa e EUA e que já foram

Média annual de perdas de abelhas em

colônias domesticadas devido ao ácaro

Varroa. Fonte: Neumann et al. (2010)

Page 31: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

31

implantadas em mais de 50 campos de

demonstração, somando 2.500 ha plantados.

Temos acumulado dados em função de clima, tipo

de solo, cultura e benefícios multifuncionais, tais

como os benefícios que as espécies plantadas têm

ao servirem de alimento para pássaros, refúgio

para pequenos mamíferos e corredores para

fauna.

Esse aspecto está representando no logotipo do

Operation Pollinator, que passou a se chamar

Multifunctional Landscapes ou seja, o

desenvolvimento de habitats ou ambientes

multifuncionais. Apesar do foco inicial ter sido a

agricultura através do aumento da produção,

depreende-se, hoje, uma entrega muito maior,

calcada em ciência.

É importante determinar, entre outros

aspectos, qual o mix de sementes vai prover o

pasto apícola durante toda a safra. Afinal, não

seria efetivo ter uma única espécie com

florada numa determinada época do ano pois,

uma vez encerrada a florada, os polinizadores têm

que se deslocar para outros habitats para

encontrar alimento. A faixa de Operation

Pollinator deve ser determinada em função da

extensão da área cultivada e também da

dominância das espécies que ocorrem na região. É

necessário definir as misturas de flores mais úteis

em termos de resistência, pressão por ervas

daninhas e custo. Então, a implementação tem

um custo e, em função disso, pode ser

interessante incluir espécies perenes, pois o custo

se dilui ao longo do tempo. O ideal é que seja

estabelecido um habitat que promova a

manutenção de espécies nativas de polinizadores,

de forma a dispensar o deslocamento de abelhas

africanizadas ou manejadas para fazer o serviço

de polinização.

O Operation Pollinator valida o conceito de que

as práticas de conservação não impactam a

produtividade e a rentabilidade da fazenda. Para

ser convencido, o produtor precisa compreender

como o sistema funciona e demonstrar os

resultados posteriormente.

BAYER BEE CARE CENTER

O Conceito de Bee Care da Bayer diz respeito à

adoção de práticas para melhorar a saúde das

abelhas, através de uma visão multidimensional.

Ele engloba algumas áreas de importância para a

empresa, como a Bayer Health Care Animal

Health, que procura melhorar o estado de saúde

para as abelhas e o Bayer Crop, que reconhece a

importância das abelhas para a sustentabilidade

do negócio, juntamente com a proteção dos

cultivos. O trabalho é realizado buscando

promover o diálogo entre agricultor e apicultor,

pois ambos precisam trabalhar de maneira

coordenada para prevenir os perigos e otimizar

resultados. O conceito tenta, também, envolver

áreas como jurídica, regulatória, relações públicas,

comunicação e saúde animal em torno da

discussão da saúde das abelhas, com vistas a

propor medidas de prevenção e mitigação de

risco. Assume-se que a saúde das abelhas é o

ponto chave no processo, por esse motivo, são

feitos investimentos em segurança ambiental e

pesquisa sobre efeitos crônicos e subletais de

defensivos, com vistas a obter produtos

inovadores, mais seguros para as abelhas.

O conceito de BeeCare Center surgiu em

Monheim, na Alemanha, foi expandido para a

América do Norte e poderá vir a ser aplicado

também no Brasil. Para sua efetiva aplicação em

campo, é necessário adotar um sistema de gestão

ambiental e práticas agrícolas sustentáveis, como

o trabalho de stewardship de custódia.

Page 32: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

32

Diversos agentes que possam afetar a saúde das

colmeias são discutidos no conceito de BeeCare

Center, como o ácaro Varroa, que é um problema

sério na Europa. A discussão envolve parceiros

como apicultores, agricultores e universidades. A

pesquisa sobre outros fatores potenciais de

mortalidade também é estimulada, juntamente

com o desenvolvimento de produtos inovadores e

soluções para controle do ácaro Varroa e

avaliação de medidas de promoção de aumento

de biodiversidade na paisagem agrícola. Neste

ponto, o Brasil tem uma vantagem sobre outros

países, pela sua elevada biodiversidade.

São realizados também:

• Levantamentos globais para avaliar a

atratividade e relevância de culturas agrícolas

para as abelhas, pois nem todas se comportam da

mesma maneira;

• Estudos em campo de longo prazo sobre

efeitos subletais de pesticidas;

O Brasil precisa de uma estimativa mais

precisa do número de colmeias existentes no

país pois, na ausência desta informação, é

impossível propor políticas eficazes para o

setor. (Foto: DeviantArt)

Page 33: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

33

• Atividades para apoio à criação de hábitats

para forrageamento por abelhas em áreas

urbanas;

• Publicações;

• Campanhas de comunicação.

As medidas de stewardship devem ser

promovidas, para garantir que os nossos produtos

estejam sendo usados de maneira correta e para

minimizar o impacto sobre o meio-ambiente e as

abelhas. Isto é uma prioridade para a empresa.

Em 1998, foi realizado um workshop internacional

na USP, em São Paulo, sobre polinizadores e seu

uso sustentado e conservação, no qual foi

proposto um programa internacional sobre o

assunto. Dele resultou a Declaração São Paulo

sobre os Polinizadores que viria, após aprovação

na Convenção da Diversidade Biológica, área de

diversidade agrícola, se tornar a Iniciativa

Internacional dos Polinizadores. A IPI é ,

coordenada pela FAO (Food and Agricultural

Organization) e um plano de atividades foi

desenhado para esta atuação. Algumas questões

deveriam ser respondidas:

a) As populações de polinizadores estavam de

fato diminuindo?

b) Em caso afirmativo, o que estava

contribuindo para essa diminuição?

c) Como manter as populações dos

polinizadores?

d) Qual a importância econômica dos

polinizadores?

A partir da IPI outras iniciativas regionais de

polinizadores foram criadas. Os EUA, por

exemplo, estabeleceram uma parceria público-

privada, com o objetivo de aumentar as bases de

dados, envolvendo a população e conscientizando

-a sobre a importância dos polinizadores. O site do

North American Protection Pollinator Campaign é

referência no assunto e disponibiliza listas de

plantas regionais que suportam a comunidade de

abelhas ao longo do ano. Anualmente, eles

promovem a Semana do Polinizador.

Na Europa, um programa bem sucedido foi o

Iniciativa Europeia de Polinizadores, o ALARM. Ele

propos um programa de cinco anos em que se

buscou estudar a população de abelhas e verificar

quais os pontos que estariam atuando no

desaparecimento das abelhas. A seguir iniciou-se

o segundo ciclo de 5 anos, o STEP, com o objetivo

de tratar da recuperação de polinizadores. O

ROBERTO RAMIREZ: O conceito de

Bee Care Center assume que a

saúde das abelhas é o ponto

chave do processo e, por esse

motivo, são feitos investimentos

em segurança ambiental e

pesquisa sobre efeitos crônicos e

subletais.

Page 34: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

34

estudo começou com 35 instituições de pesquisa

e ensino de toda a Europa e envolveu, no final, 85

instituições.

No Brasil, A Iniciativa Brasileira de Polinizadores

promoveu a integração da comunidade científica

em torno do tema . As reuniões bianuais dos

Encontros de Abelhas de Ribeirão Preto sempre

trouxeram a integração de pesquisa dores do

Brasil e do exterior neste tema, mas não houve

um programa nacional para implementacão dos

polinizadores ate a criação da rede de polinização

pelo CNPq em 2009. Um programa GEF/FAO/

MMA foi também implementado nesta ocasião. O

livro Polinizadores no Brasil resume o estado da

arte da pesquisa sobre o assunto e é o único

documento em Português disponível para uma

avaliação geral sobre o que temos em relação a

Polinizadores no Brasil.

A Iniciativa de Polinizadores da África foi

estabelecida desde o inicio da IPI e tem atuado

em alguns países africanos, com destaque ao

Quênia, África do Sul e Gana.

A Iniciativa de Polinizadores da Oceania envolveu

Austrália e ilhas oceânicas. É a mais recente.

Outros países latino-americanos , como a

Colômbia, iniciaram seus programas de proteção

de polinizadores.

Cada país tem suas particularidades e é razoável

supor cada um encontre soluções diferentes em

função de suas características ambientais e

realidade agrícola. Obviamente, a experiência

global é fundamental para oferecer um ponto de

partida para resolução de problemas semelhantes

e background técnico-científico, além de troca de

Num cenário de escassez de áreas disponíveis

para agricultura, as ações paliativas não são

mais admissíveis.

Page 35: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

35

experiências. A importância dos serviços dos

ecossistemas (entre eles a polinização ) para o

bem estar humano foi o tema da Avaliação

Ecossistêmica do Milênio, uma encomenda do

Secretario Gera da ONU para cientistas e

tomadores de decisão que deveriam responder à

questão sobre a importância do meio ambiente

para o bem estar humano. O relatório,

apresentado me 2005, foi todo baseado nos

serviços de ecossistemas . O serviço de

ecossistema de polinização é básico para a

manutenção dos outros serviços de ecossistemas,

pois através dele serão formados melhores frutos

e sementes. O programa de Avaliação do Milênio

foi muito importante, e precisava ser validado

pelos governos . Finalmente, na mesma linha

desta avaliação, foi criado em 2012 Painel

Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços

de Ecossistemas, que entrou em funcionamento

em 2013. Uma das primeiras atividades desse

painel será uma avaliação sobre os polinizadores e

a produção de alimentos.

Três aspectos devem ser destacados:

O conceito de que os polinizadores são

importantes para a produção agrícola - Diversas

análises já mostraram que a atividade de

polinização aumentam significativamente a

produção em algumas culturas. Por exemplo: a

canola é polinizada pelo vento mas a presença de

Apis em áreas de produção de canola aumenta em

20% a produção.

b) A mudança da paisagem agrícola – a

importância de se restaurar os ambientes foi

demonstrada e é imprescindível que estas

atividades sejam iniciadas, baseadas em pesquisas

de flora (por exemplo, veja o herbário virtual)

c) A importância de outros polinizadores –

estudos demonstraram que as abelhas do gênero

Apis e de outros gêneros se evitam nas flores e,

portanto, o rendimento da cultura aumenta

quando várias espécies de abelhas estão

presentes.

As parcerias público-privadas devem ser

estimuladas, observando-se sempre os escopos de

atuação de cada partícipe. O Brasil precisa que

haja um diálogo aberto entre o setor de

agronegócios e o setor ambiental, com benefícios

para toda a sociedade. As prioridades precisam

ser identificadas para, então, criar um plano

estratégico para o futuro, pois as ações paliativas

não são mais admissíveis num cenário em que as

áreas disponíveis para agricultura estão cada vez

mais escassas.

VERA FONSECA: Cada país tem

suas particularidades e é

razoável supor que cada país

encontre soluções diferentes em

função de suas características

ambientais e realidade agrícola.

Page 36: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

36

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Page 37: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

37

CRIAÇÃO MASSAL DE POLINIZADORES

Cristiano Menezes & Marcelo Poletti

O projeto de criação de polinizadores em escala

industrial surgiu num cenário bastante favorável

de disponibilidade do conhecimento científico

necessário para entregar ao produtor rural uma

tecnologia que promova aumento de

produtividade e de maneira consonante com a

tendência de adoção de práticas de manejo

integrado.

A Europa foi pioneira neste tipo de iniciativa, com

abelhas do gênero Bombus. São abelhas grandes,

com ferrão e que ocorrem tanto nas regiões

temperadas quanto tropicais do mundo, inclusive

no Brasil. Elas foram domesticadas e, hoje, há um

conjunto de tecnologias para produção em

condições controladas em biofábricas, cujo

produto final são colônias em caixas adequadas

para o transporte.

As colônias são distribuídas a campo pelo próprio

agricultor. Em 1998, a Holanda teve as primeiras

experiências e 5% dos produtores de tomate

aderiram à nova tecnologia. Em quatro anos,

praticamente todos os produtores já estavam

adquirindo colônias de abelhas para polinização

de tomate, relatando aumento de produtividade,

melhores características morfológicas e também

sensoriais da fruta.

Indiretamente, a liberação de abelhas criadas em

laboratório levou à adoção de práticas de manejo

integrado e de controle biológico, pois o produtor

passou a fazer intervenções de maneira mais

criteriosa para proteger os organismos que havia

liberado.

De 1988 a 2004, a produtividade dessas

biofábricas aumentou de menos de 100.000

colônias para mais de um milhão de colônias, as

quais são comercializadas para produtores de

tomate e de uma ampla gama de cultivos.

Ao adquirir uma colônia, os produtores recebem

uma listagem de produtos fitossanitários com

dados sobre sua compatibilidade com os

polinizadores e sobre o intervalo durante o qual

os produtos permanecem perigosos às abelhas.

Nos EUA, a experiência é com Apis mellifera e o

mais comum é o aluguel de colônias, que são

transportadas de cultura em cultura ao longo do

ano. Em 2007, uma pesquisa estimou que o

aluguel de colônias de abelhas nos EUA

movimentava cerca de 150 milhões de dólares,

Page 38: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

38

que é o valor investido pelos produtores na

contratação das colônias. Esse valor é ínfimo

quando comparado com os 19 bilhões de dólares

de prejuízo que o país teria caso as abelhas

desaparecessem.

No Brasil, a expectativa é produzir massalmente

as abelhas sem ferrão. São cerca de 200 espécies

no Brasil, todas sociais, que formam colônias

perenes e que podem ser manejadas para uso em

polinização agrícola.

Um exemplo de cultivo que pode se beneficiar é o

morango, pois a falta de polinização leva a frutos

malformados e à redução de produtividade da

ordem de 40%. Outros exemplos são o tomate,

pimentão, café e açaí. No caso de berinjela, a Apis

mellifera não realiza a polinização de forma

adequada pois é necessário que ocorra uma

vibração da flor (buzz pollination), que é realizada

pelas abelhas sem ferrão e também pelas abelhas

do gênero Bombus.

Um primeiro desafio enfrentado no Brasil foi a

modernização da meliponicultura, para maior

eficiência do sistema de produção,

aprimoramento das tecnologias de criação e

aumento da capacidade de produção.

Hoje, o sistema é mais sofisticado e há um

número expressivo de criadores com mais

colônias, o que já viabilizar pensar em um sistema

de produção em larga escala. Se no passado, as

colônias eram divididas no meio, hoje é possível

Após a copula, as rainhas fisiogástricas são

utilizadas para iniciar mini-colônias, cujo

crescimento é acelerado com almentação

controlada. (Foto: Cristiano Menezes)

Page 39: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

39

obter até 10 colônias filhas por ano a partir de

cada colônia.

Foi necessário também definir metodologias para

produção de rainhas in vitro que, hoje, está

disponível e com taxa de sobrevivência de até

98%.

Um gargalo que ainda precisa ser equacionado é o

sistema de reprodução que, hoje, ainda é feito ao

ar livre. À medida que o conhecimento sobre a

biologia reprodutiva avançar, será possível

realizar toda a reprodução também em

laboratório, possibilitando o melhoramento

genético e a seleção de materiais com as

características desejadas.

Após a cópula, as rainhas fisiogástricas são

utilizadas para iniciar mini-colônias, cujo

crescimento é acelerado utilizando alimentação

controlada durante alguns meses. Depois que as

colônias estão bem formadas, podem ser

liberadas em campo. O confinamento só se

tornou possível à medida que as dietas artificiais

foram aprimoradas para suprir as necessidades

das abelhas quanto a pólen.

O projeto de criação massal será desenvolvido em

Engenheiro Coelho, na sede da Promip, buscando

integrar a criação e liberação de polinizadores às

práticas de manejo de pragas. Serão realizados

também ensaios para avaliar o impacto de

agrotóxicos sobre estas espécies de abelhas

nativas, tais como Scaptotrigona depilis, que é

uma das espécies de maior potencial para criação

massal.

Finalmente, o projeto prevê a avaliação em

campo. No caso, foi decidido realizar os ensaios

em morango, pelo grande volume de informação

já disponível sobre a polinização e pela

disponibilidade de agentes de controle biológico

já registrados para a cultura.

Para tomate, a Scaptotrigona depilis não é muito

eficaz na polinização e a proposta é trabalhar com

abelhas do gênero Melipona. Para a região Norte,

estão sendo pesquisadas alternativas para a

polinização do açaí e cupuaçu. No longo prazo, o

que se espera é oferecer alternativas ao produtor,

para maior produtividade, sustentabilidade e

competitividade.

Page 40: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

40

Page 41: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

41

A V ISÃO DO SETOR PRODUTIVO

Fabrício Rosa, Edivandro Seron, Marcelo Pedreira de Miranda, Leonardo Machado & Fernando Henrique Marini

O agronegócio é responsável por 30% da balança

comercial brasileira e, sem ele, o Brasil sofreria

um déficit de 60 bilhões de dólares anualmente. O

PIB do agronegócio representa 22% do total e o

setor é responsável por 37% dos empregos no

país. Neste artigo, são apresentados os pontos de

vista de três setores importantes do agronegócio

brasileiro: citicultura, soja e algodão.

A decisão do IBAMA de desautorizar uso de

neonicotinoides em aplicação aérea de

tiametoxam, imidacloprido, clotianidina e fipronil

foi pautada no princípio de precaução e sem

resultados conclusivos de pesquisa. A

necessidade dessa medida é questionável e a base

científica adotada pelo IBAMA foi composta por

artigos de pesquisa realizada nos EUA e na

Europa, em ambos os casos inconclusivos.

Tanto são inconclusivos que o governo norte-

americano não tomou nenhuma medida de

restrição de uso de neonicotinoides e , na Europa,

não há consenso sobre a questão e a autoridade

do Reino Unido considera que os resultados não

são suficientes para justificar uma restrição de

uso. Os EUA, inclusive, concederam recentemente

registro para neonicotinoides de quarta geração

para uso agrícola.

Ao restringir o uso desses produtos em aplicação

aérea alegando efeitos adversos sobre as abelhas,

o IBAMA desconsiderou aspectos agronômicos e

econômicos. Desconsiderou, também, uma série

de peculiaridades dessa classe de produtos, como

seu modo de ação extremamente diferenciado e

segurança para vertebrados.

Segundo dados da Embrapa Soja, se os

neonicotinoides fossem retirados da lista de

produtos autorizados para controle de percevejos

em soja, o único ingrediente ativo restante seria o

acefato.

Em áreas de produção integrada de citros, está

proibida a aplicação de neonicotinoides durante a

floração e também a aplicação terrestre tem

algumas restrições.

A situação é mais crítica no algodão, pois as

principais pragas da cultura ocorrem justamente

no período da florada. Um detalhamento sobre o

impacto que uma possível retirada de

neonicotinoides e fipronil teria sobre sistemas de

manejo integrado de pragas é apresentado em

outro artigo desta publicação.

Page 42: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

42

C I TR ICULTURA

O Brasil é, hoje, o maior exportador de suco de

laranja do mundo, o que representa geração de

renda e empregos para o país.

O principal problema fitossanitário enfrentado

pelo setor hoje é o HLB ou greening. Trata-se de

uma doença causada por uma bactéria detectada

no Brasil em 2004 e transmitida por um inseto

vetor que é o psilídeo Diaphorina citri. Esta é a

principal doença dos citros no mundo e a forma

mais eficaz de controle é o combate ao vetor.

O estado de São Paulo concentra 80% da

produção de citros no Brasil e, devido à presença

da doença, 40 milhões de plantas tiveram que ser

erradicadas até 2013. O custo dessa medida é

elevado por se tratar de cultivo perene e também

pelo fato da doença poder permanecer latente

por um longo período.

O grupo dos neonicotinoides é o mais eficaz no

controle de D. citri. Uma retirada desses produtos

da grade de agrotóxicos autorizados para a

cultura inviabilizaria a atividade no Brasil. Outros

grupos químicos, como diamidas têm sido

estudados como alternativas mas demonstraram

eficácia menor do que os neonicotinoides.

Na eventualidade de retirada dos neonicotinoides,

os produtores teriam que recorrer também a

O HLB é a principal doença dos citros no

mundo e os neonicotinoides são os produtos

para o controle de seu vetor, o psilídeo

Diaphorina citri. (Foto: Henrique Santos,

Fundecitrus)

Page 43: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

43

outros grupos químicos, como organofosforados e

piretroides. O resultado disto seria um aumento

na população de outras pragas como ácaros e

cochonilhas.

Nos últimos anos, houve avanços importantes no

MIP em citros, tais como a redução de até 70% do

volume de calda em aplicação terrestre. Um

grande investimento tem sido feito também no

sentido de isolar e sintetizar o feromônio de D.

citri, para que o monitoramento do vetor possa

ser feito de maneira mais confiável, aumentando

a eficácia e reduzindo o número de aplicações.

O setor investe também em projetos de controle

biológico, com liberação de parasitoies e fungos

entomopatogênicos. Entre os parceiros da

Fundecitrus, destaca-se a Esalq/USP, cujos

projetos de pesquisa buscam sempre promover

maior sustentabilidade da atividade agrícola.

O setor busca conciliar o desenvolvimento

econômico e a preservação das comunidades de

abelhas.

SOJA

Ao tomar conhecimento sobre a medida cautelar,

o setor da soja, representado pela APROSOJA,

passou a buscar argumentos para contrapor o que

foi apresentado pelo Governo Federal. O setor

não viu motivos concretos para a medida.

Inicialmente, é importante destacar que o setor

não tem nenhuma posição contrária aos

apicultores, até porque muitos associados da

APROSOJA são, também, apicultores.

Foram iniciados estudos sobre o impacto da

medida, focados na questão de aplicação aérea.

Através de um estudo com a Embrapa, chegou-se

à conclusão de que cerca de 27% da área de soja

no Brasil é pulverizada via aérea, por uma série de

motivos, como a extensão da área, as condições

climáticas adversas à aplicação terrestre, etc. Para

estas áreas, foram buscadas alternativas tais

como a substituição de aplicação aérea por

aplicação terrestre e a conclusão a que se chegou

é de que seriam necessários cerca de sete anos

para o setor absorver a medida.

Posteriormente, foi esclarecido que a restrição

não seria apenas para o uso em aplicação aérea,

mas também a restrição de uso durante o período

de floração, independente da tecnologia de

aplicação utilizada.

A APROSOJA encomendou à Embrapa um estudo

que resultou em uma nota técnica para a Câmara

Setorial da Soja no MAPA, cuja conclusão foi de

que havia duas alternativas para o manejo dos

percevejos em soja: uma mistura de piretroide

com neonicotinoide ou o acefato.

Na impossibilidade de uso de neonicotinoides, o

piretroide é pouco eficaz. Por outro lado, o

acefato, embora eficaz, possui alta toxicidade. Ou

seja, num cenário em que neonicotinoides

tivessem seu uso proibido em aplicação aérea e

durante a floração (independente da tecnologia

usada de aplicação), o produtor de soja

encontraria sérias dificuldades para controlar os

percevejos.

Estima-se que, na ausência de medidas de

controle adequadas, os percevejos possam ter

impacto de até 20% na cultura, o que representa

um valor aproximado de 7 bilhões de dólares por

ano, ou seja, um terço das exportações de soja do

Brasil. Se forem incluídos os impactos durante a

armazenagem, a perda seria da ordem de 30%.

O estudo da Embrapa apontou também outros

impactos, como a queda de arrecadação de

impostos (que seria da ordem de 1 bilhão de reais

por ano) e a redução de mais de 200 mil postos de

trabalho. Setores estratégicos para o Brasil como

Page 44: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

44

o de biocombustíveis e carnes seriam afetados,

pela redução de disponibilidade de matéria-prima.

O produtor de soja conta, hoje, com um leque de

alternativas reduzido para manejo de pragas e só

concordaria com a retirada dos neonicotinoides

mediante o registro de tecnologias são eficazes

quanto esses produtos.

O setor considera necessário uma articulação

maior, do ponto de vista de política agrícola.

Considera, também, necessário avaliar os

impactos para o setor e buscar alternativas

embasadas em ciência.

ALGODÃO

A ABRAPA foi fundada em 1999, com o propósito

de incrementar a rentabilidade do setor de

algodão por meio da união e organização de

agentes, primando sempre pela sustentabilidade

da cadeia de forma a torna-la cada vez mais

competitiva, tanto no cenário nacional quanto

internacional. A entidade representa 99% da

produção de algodão do Brasil e 100% das

exportações.

O algodão é produzido por mais de 60 países nos

cinco continentes. O Brasil é o quinto produtor

mundial e terceiro exportador, ficando atrás

apenas dos EUA e Índia. O Brasil é, também, o

Num cenário de proibição de uso de

neonicotinoides, o produtor encontraria

imensa dificuldade para realizer o controle de

percevejos em soja. (Foto: Agropec)

Page 45: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

45

quinto maior consumidor mundial. O setor

contribui com mais de 19 bilhões de dólares para

o PIB e arrecada quase oito bilhões de impostos

por ano.

Nas décadas de 1980-1990, o algodão era

produzido em regime familiar ou em propriedades

de médio porte. Com a introdução do bicudo no

Brasil, no início da década de 1980, muitas áras

foram dizimadas, obrigando os produtores a

buscarem outras alternativas e a investir em

pesquisa e desenvolvimento de tecnologias.

O algodão migrou para as regiões de cerrado do

Brasil e MT passou a ser o maior produtor no país,

com mais de 50% da produção nacional, seguido

de BA e GO.

Quem conhece a realidade agrícola do MT sabe

que é inviável fazer o controle de pragas

utilizando aplicações terrestres e o número de

pragas que atacam o algodão é elevado, por

exemplo: bicudo, ácaros, tripes, lagarta-da-maçã,

Spodoptera, percevejos, lagartas, mosca-branca,

pulgões, colchonilhas, além das lagartas de solo

como elasmo, broca-da-rais e mais recentemente

a Helicoverpa. Somem-se a estas as doenças que

podem afetar a qualidade da fibra.

O algodão foi uma das primeiras culturas a

implantar o MIP e os produtores evitam o uso de

piretroides antes dos 80 dias do ciclo da cultura

justamente para evitar o desequilíbrio na

população de ácaros predadores e outros inimigos

naturais. O conceito de nível de dano econômico é

seguido à risca e as intervenções com agrotóxicos

são feitas somente quando o monitoramento

indica a necessidade de aplicar.

A cultura tem algumas particularidades, como o

ciclo que varia de 130 a 200 dias e o ataque por

pragas durante o período de floração. Algumas

pragas chave atacam os botões florais, o que pode

comprometer a produtividade. Portanto, o desafio

de conciliar o manejo de pragas com a proteção

de polinizadores é maior.

As proibições de uso de produtos e reavaliação

preocupam os produtores, pois o governo

comunica as reavaliações, o banimento de

produtos ou restrições de uso sem dar ao

produtor uma alternativa.

É sabido que o registro de uma nova tecnologia

pode demorar 5 ou 6 anos e o produtor não pode

esperar tanto tempo. Cabe mencionar que alguns

EDIVANDRO SERON: É contraditório

que o mesmo governo que

incentiva os investimentos

através da concessão de crédito

para aquisição de máquinas e

equipamentos inviabiliza o uso

de tecnologias imprescindíveis

para o controle de pragas.

Page 46: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

46

produtos considerados antigos são importantes

dentro do contexto do MIP de algodão, tais como

endossulfan, metamidofós (que teve seu uso

proibido) e acefato (que passou por reavaliações).

Encarando a situação sob o prisma do produtor, é

contraditório que o mesmo governo que incentiva

os investimentos através da concessão de crédito

para financiamento de máquinas e equipamentos

inviabiliza o uso de tecnologias imprescindíveis

para controle de pragas, algumas das quais fazem

parte do atendimento a requisitos fitossanitários

negociados com parceiros internacionais. A falta

de consistência na política agrícola brasileira,

causada pela falta de uma visão sistêmica, é um

fator que preocupa o produtor.

A substituição de tecnologias deve considerar

também aspectos como a necessidade de ampliar

o número de aplicações e de alterar as tecnologias

de aplicação pois tudo isso incorre em custos.

Deve, também, considerar se haverá aumento da

exposição do aplicador e de polinizadores.

Faz-se necessário também compreender um

pouco melhor os impactos dos polinizadores para

a cultura do algodão. O algodão não é plantado

em terras de primeiro ano, ou seja, ele sucede

plantios de culturas como soja, milho, etc.

Portanto, não se pode atribuir o efeito sobre

polinizadores como causados exclusivamente pela

cultura do algodão, pois a exposição já vinha

acontecendo em cultivos anteriores.

É improvável que um produtor de mel busque

parcerias com produtores de algodão para

movimentar suas colmeias. Além disso,

observadas as leis ambientais do Brasil e mantidas

as áreas de reserva previstas, pressupõe-se que os

polinizadores encontrem habitats adequados e

não forrageiem nas áreas de algodão.

A ABRAPA propôs ao MAPA e ao IBAMA um termo

de referência para pesquisa sobre o impacto de

neonicotinoides sobre polinizadores, os potenciais

produtos substitutos e a adaptação do produtor

às novas alternativas. A cultura do algodão exige

que haja um leque de opções tecnológicas para

controle de pragas, com custo compatível com os

produtos atualmente utilizados.

Page 47: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

47

USO DE NEONICOTINOIDES NO BRASIL - S I TUAÇÃO ATUAL DOS

PRODUTOS REGISTRADOS

Luís Eduardo Pacifici Rangel, Marcos Botton, Geraldo Papa, Pedro Takao Yamamoto & Samuel Roggia

O impacto de neonicotinoides sobre polinizadores

não é um assunto novo no Brasil, tanto a indústria

quanto os agentes reguladores têm consciência

desse impacto há um certo tempo mas, hoje, a

sociedade tem colocado um peso muito grande

sobre o impacto negativo, o que levou à abertura

do processo de reavaliação, conforme descrito no

primeiro artigo desta publicação. A reavaliação é

absolutamente legítima, inclusive ao tratar a

problemática das tecnologias de aplicação.

O IBAMA considerou necessário restringir o uso

de neonicotinoides de maneira cautelar e com

base em avaliações iniciadas em 2009. Embora

algumas pessoas questionem sobre a legitimidade

de adoção de medidas de mitigação de risco sem a

devida avaliação de risco que, via de regra,

precede a decisão de gerenciamento. De fato, os

riscos já eram bem conhecidos através de

documentos da FAO e outros órgãos

internacionais.

Obviamente, o governo brasileiro está

identificando lacunas na pesquisa realizada sob as

condições locais para nortear a tomada de

decisão, mas este é um desafio a ser enfrentado

de maneira coordenada.

As restrições quanto ao uso de

neonicotinoides suscitaram discussões entre os

profissionais da Agronomia, principalmente

aqueles com atuação em grandes culturas como

cana-de-açúcar, soja, algodão, etc, que tiveram

que buscar alternativas para manejo de pragas em

regiões de cerrado.

Neste artigo, será discutido o impacto que uma

possível retirada dos neonicotinoides teria sobre a

agricultura brasileira, considerando-se efeitos de

longo prazo sobre os sistemas de manejo

integrado de pragas e os programas e

monitoramento e manejo de resistência de pragas

a inseticidas e isso também tem a ver com a

sustentabilidade de atividade agrícola.

Há uma pressão muito grande por parte da

bancada ruralista do Congresso Nacional para

que se flexibilizassem os contratos de forma a

viabilizar que os insumos adquiridos com até

oito meses de antecedência pudessem ser

Page 48: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

48

usados. Além disso, em estados em que a

aplicação aérea de defensivos é rotina, como

o Mato Grosso, é normal que os produtores

rurais efetuem a contratação de horas de

avião no início da safra. Portanto, o MAPA

considerou que o sistema de produção não

poderia ser drasticamente modificado e,

através de negociação com o IBAMA, buscou

gerenciar a medida cautelar do IBAMA para a

safra 2013.

Quando se fala em buscar alternativas aos

neonicotinoides, além da questão agronômica,

deve-se considerar também o aspecto econômico.

Um produto não perde sua eficácia de maneira

rápida, mas pode ter seu custo de oportunidade

reduzido devido a um menor efeito residual

quando comparado com outras alternativas

disponíveis o mercado, resultando na necessidade

de maior número de aplicações e maior custo de

operação.

Por outro lado, um produto pode ser mais caro

mas ser mais interessante por ser mais moderno,

mais seletivo e mais tecnológico, características

que o tornam interessantes em sistemas de

produção altamente tecnificados com a soja e

algodão no cerrado brasileiro. Além disso, é

imprescindível que o agricultor possa contar com

uma boa gama de ferramentas para manejar

pragas.

É consenso entre pesquisadores da área de MIP

que a questão não é provar que os agrotóxicos

não matam as abelhas e sim, dentro da

perspectiva de proteção a polinizadores, gerenciar

o risco ambiental representado por essas

tecnologias.

Integrar o conhecimento agronômico com a

questão dos polinizadores é um desafio

extremamente complexo e que depende,

inicialmente, de um diagnóstico dos problemas

reais, de uma mensuração de impactos, passando

pela percepção de risco e envolvendo a Embrapa

e outros órgãos de pesquisa em todas as etapas

do processo, para que a ciência seja usada tanto

para desenvolver metodologias que permitam

conciliar o desenvolvimento agrícola e a proteção

aos polinizadores quanto para pautar as decisões

regulatórias.

No que tange às alternativas de controle, é

importante lembrar que o registro de agrotóxicos

no Brasil está fundamentado em três aspectos: a

avaliação toxicológica, a avaliação ecotoxicológica

e a avaliação de eficácia agronômica. Todos os

produtos registrados passaram, sem exceção, por

LUÍS RANGEL: A questão é, dentro

da perspectiva de proteção a

polinizadores, gerenciar o risco

ambiental representado pelos

agrotóxicos, integrando o

conhecimento agronômico.

Page 49: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

49

essas três avaliações. Portanto, se ele está sendo

comercializado no Brasil, é porque, em primeiro

lugar, um engenheiro agrônomo estudou o

produto em campo e verificou sua eficácia para

controlar a praga para o qual o produto está

registrado.

A eficácia desse produto não tende a mudar, a

não ser diante de algum fenômeno populacional

como a seleção de populações resistentes devido

ao manejo inadequado. A resistência a defensivos

foi um dos fatores que provocaram discussões

com o setor para se estimular uma possível

reavaliação agronômica de algumas classes de

produtos, algo inédito no Brasil e extremamente

desafiador por ser totalmente diferente de uma

reavaliação toxicológica ou ambiental.

Os quatro produtos em reavaliação pelo IBAMA

são moléculas de alta tecnologia, com efeito

residual específico e que dão ao produtor uma

margem de oportunidade diferenciada. Em

sistemas que utilizam um grande número de

aplicações, como o algodão, essas características

são altamente desejáveis. Por isso, quando o

MAPA recebe laudos demonstrando a ineficiência

de um agrotóxico, pode iniciar uma reavaliação

agronômica e isso é complexo pelo fato dos

laudos serem feitos por ingrediente ativo e não

por alvo biológico. Numa reavaliação, o foco vai

ser nos alvos biológicos e resgatando os cinco

pilares do MIP.

As recomendações do MAPA para esta questão

são:

Desenvolver alternativas de manejo e práticas

agrícolas para mitigar o risco de exposição de

polinizadores a neonicotinoides, tais como

áreas de escape e bordaduras;

Numa reavalização, o foco será colocado nos

alvos biológicos e serão resgatados os pilares

do Manejo Integrado de Pragas, como o

monitoramento. (Foto: Agropec)

Page 50: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

50

Posicionamento adequado dos produtos em

função da fenologia da cultura;

Maior interação com apicultores e

meliponicultores, no sentido de orientá-los

quanto ao manejo de suas colmeias em áreas

próximas a agroecossistemas;

Orientação a profissionais responsáveis pela

recomendação de produtos e práticas

agronômicas.

O MAPA reconhece, também, que o Brasil precisa

avançar muito em termos de comunicação de

risco de agrotóxicos, pois as bulas não cumprem

esta função de maneira adequada e tanto o

profissional que prescreve quanto o usuário final

do produto não têm onde buscar informações. A

interação com as entidades de representação de

indústrias de agrotóxicos e de empresas de

aplicação aérea de agrotóxicos é fundamental.

Com relação ao fomento de pesquisa, os recursos

financeiros necessários não estão disponíveis no

MAPA de maneira previsível e continuada e,

portanto, o setor privado poderia se

comprometer como forma de garantir que as

pesquisas necessárias para tomada de decisão por

parte dos órgãos reguladores sejam executadas

dentro de um cronograma previsto. Nós

precisamos de trabalhos científicos isentos e sem

viés ideológico ou preconceituoso.

V IDEIRA, MACIEIRA ,

MORANGUEIRO E FRUTAS DE

CAROÇO

Os produtores de frutas subtropicais e

temperadas no Brasil estão plenamente

conscientes sobre a importância das abelhas pois

são culturas que dependem amplamente da

melitofilia para boa produtividade e qualidade. É

normal, inclusive, que os produtores mantenham

colmeias nas suas propriedades.

Os dados sobre mortalidade de abelhas são

circunstanciais e não há uma coleta sistemática de

informações que permitam afirmar que as

populações de abelhas estão sendo afetadas pelas

práticas agrícolas adotadas. Faltam, também,

informações científicas sobre o papel que as

abelhas nativas desempenham nos nossos

agroecossistemas.

O setor de frutas subtropicais e temperadas no

Brasil tem sofrido pelo reduzida disponibilidade

deagrotóxicos autorizados para o manejo de

MARCOS BOTTON: O setor de frutas

subtropicais e temperadas no

Brasil perdeu, nos últimos seis

anos, pelo menos sete inseticidas

que eram autorizados para

controlar pragas- chave como a

mosca-das-frutas.

Page 51: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

51

pragas. Nos últimos seis anos, os produtores

perderam pelo menos seis inseticidas que eram

autorizados para controlar pragas chave como a

mosca-das-frutas e cochonilhas. Os fosforados

foram retirados da grade de produtos autorizados

e substituídos por piretroides e neonicotinoides,

sendo que estes últimos são importantes o setor.

No caso da cultura da videira, os neonicotinoides

são fundamentais para o manejo principalmente

de insetos sugadores sendo que as aplicações são

realizadas principalmente via solo. Os

neonicotinóides também são empregados para o

manejo de tripes, porém, neste caso existem

alternativas autorizadas para o controle

Uma particularidade do sistema de produção de

frutas subtropicais e temperadas no Brasil é que a

cobertura do solo é mantida, como uma

estratégia para manter a biodiversidade e as

populações de inimigos naturais, principalmente

de ácaros fitófagos. Alguns pesquisadores

questionam que os neonicotinoides aplicados via

aérea podem cair nas plantas em floração

presentes na vegetação presente no interior do

pomar e impactar as abelhas que venham a entrar

em contato com estasflores porém, não há

estudos conclusivos.

Em 2010, entraram no mercado os produtos

genéricos do imidacloprido, o que resultou na

redução de preço do produto para cerca de 33%

do valor e os neonicotinoides passaram a ser

alternativas interessantes aos organofosforados.

Hoje, o setor de frutas subtropicais e temperadas

não tem mais produtos com ação de choque para

insetos sugadores e mastigadores e a única opção

disponível no momento é o imidacloprido e o

thiametoam. Portanto, numa eventual suspensão

de uso desses produtos, os setores da videira,

macieira, frutas de caroço ficarão sem

alternativas para controle de pragas chave. O uso

de piretroides vem aumentando na fruticultura, o

que pode ser considerado um retrocesso. Trata-se

de um grupo de produtos não seletivos e com

forte impacto sobre populações de inimigos

naturais e que, portanto, acarretam o aumento de

importância de pragas secundárias como ácaros e

cochonilhas.

A liberação de polinizadores criados em

laboratório nos agroecossistemas desponta como

uma realidade possível e interessante e alinha-se

ao objetivo dos setores mencionados, que é

produzir frutas com respeito ao meio ambiente.

C I TR ICULTURA

Para a citricultura, o MIP é a solução para conciliar

a proteção dos polinizadores à atividade agrícola.

Diferentemente das fruteiras de clima subtropical

e temperado mencionadas anteriormente, a

citricultura não depende da polinização por

abelhas, mas a citricultura é importante para a

atividade apícola, pois o mel da florada de

laranjeira é um dos mais apreciados no Brasil. Um

outro aspecto é que observações em pomares

cítricos demonstraram é que a aplicação de

neonicotinoides não causou a redução de visitas

de abelhas às flores de citros.

É importante mencionar que um sistema de

produção que dependa de 28-30 aplicações de

agrotóxicos por safra como a citricultura não pode

ser considerado sustentável. Os neonicotinoides

não são os únicos produtos utilizados, mas o que

preocupa em relação a eles são os efeitos

subletais que podem ter sobre as populações de

polinizadores. Os estudos têm sido realizados na

Europa, mas no Brasil há pouco investimento em

pesquisa sobre efeitos subletais para, então,

propor as estratégias de mitigação de risco

adequadas.

Page 52: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

52

O setor de citricultura relatou problemas de

exposição de abelhas a inseticidas, mas muitas

observações são circunstanciais e não

comprovadas cientificamente. Por outro lado, há

experiências bem sucedidas de convivência entre

citricultores e apicultores, nas quais os primeiros

comunicam com antecedência sobre as datas em

que serão realizadas aplicações de agrotóxicos.

Os neonicotinoides fazem parte de uma lista de

produtos autorizados para uso na citricultura

validada por um comitê que se baseia em

legislações internacionais, como da União

Europeia e EUA. Isso se faz necessário em função

do Brasil ser o principal exportador de suco de

laranja. Essa lista é muito mais restritiva do que a

lista de produtos registrados pelo MAPA, ou seja,

o leque de opções para rotação de ativos é

restrito. Caso os neonicotinoides sejam retirados

dessa lista, o produtor de citros precisará de um

tempo para redefinir suas estratégias de manejo

de pragas e isso não acontece em uma ou duas

safras.

ALGODÃO

Quando comparados aos inseticidas

convencionais, ou seja, organoclorados,

organofosforados, carbamatos e piretroides, os

neonicotinoides apresentam a vantagem de ter

uma DL50 mais alta, classificação toxicológica IV e

maior segurança para mamíferos.

Associe-se a isso a excelente ação sistêmica e

maior efeito residual e o resultado foi um

aumento no uso de neonicotinoides em diversas

culturas no Brasil. Por esse motivo, quando se

instaurou o processo de reavaliação desses

produtos, o setor privado se viu sem opções de

manejo.

O fenômeno de colapso de colônias vem sendo

verificado na Europa desde o início da década de

1950 e, provavelmente, como reflexo do aumento

de urbanização e redução de hábitats nativos, mas

não há dados conclusivos sobre o papel que os

neonicotinoides podem ter nesse processo. No

Brasil, não há serviços que monitorem as

populações de abelhas e que permitam inferir que

o mesmo fenômeno de colônias esteja

acontecendo.

O que realmente preocupa são as práticas

agrícolas adotadas no Brasil que, ao permitirem o

PEDRO YAMAMOTO: O que

preocupa em relação aos

neonicotinoides são os seus

efeitos subletais sobre

polinizadores e é necessário

investir em pesquisa nesta área

para propor estratégias de

mitigação de risco adequadas.

Page 53: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

53

uso do solo durante praticamente todo o ano,

favorecem a proliferação de pragas como, por

exemplo, a Helicoverpa armigera e o resultado é a

necessidade de um número maior de intervenções

com inseticidas. O ponto é que, devido ao número

reduzido de ingredientes ativos disponíveis para

manejo, o processo de seleção de linhagens

resistentes é acelerado, fazendo com que

produtos anteriormente eficazes venham

perdendo eficácia.

Como estratégias para mitigação de risco de

resistência, apregoa-se o manejo e a redução de

uso, além de métodos culturais e manipulação de

hábitat. Na Austrália, a Helicoverpa foi manejada

com medidas básicas como o vazio sanitário, a

destruição de soqueira no momento adequado e a

retirada de plantas voluntárias. Essas práticas

reduzem os níveis populacionais e,

consequentemente, a necessidade de aplicação de

inseticidas. Este exemplo ilustra que o manejo

adequado e a conjugação de métodos de controle

químicos e culturais pode ser usada em favor da

preservação das populações de polinizadores,

sendo necessário conduzir estudos no Brasil para

subsidiar o processo de reavaliação.

Caso tiametoxam e imidacloprido sejam banidos

da cultura do algodão, o primeiro impacto seria,

provavelmente, um aumento populacional

expressivo da população de mosca-branca

(Bemisia tabaci). Trata-se de um organismo com

alta plasticidade genética, ou seja, com alto

potencial de desenvolver populações resistentes a

métodos de controle. Além disso, são pragas

polífagas. Um possível substituto poderia ser o

dinotefuran, que também é um neonicotinoide.

Organofosforados e piretroides não têm eficácia

para o controle de insetos sugadores e,

consequentemente, seria necessário realizar de 30

a 40% mais aplicações de inseticidas.

GERALDO PAPA: A adoção de

práticas de Manejo Integrado de

Pragas será fundamental para

alcançar a preservação das

populações de polinizadores.

Page 54: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

54

Page 55: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

55

CONVIVÊNCIA ENTRE AGRICULTURA E APICULTURA

Alcindo Alves, Edmundo Marchetti & Ricardo Costa Rodrigues de Camargo

Neste artigo, serão apresentadas experiências,

que demonstram como a relação apicultura e

agricultura no Brasil ainda é incipiente e pouco

integrada e desenvolvida, como ocorre em outras

potencias agrícolas no mundo, como os Estados

Unidos da América e alguns países da Europa.

No contexto mundial atual da busca da

sustentabilidade na produção de alimentos, o

serviço de polinização por abelhas promove um

ganho de 112 bilhões de dólares anualmente,

onde as abelhas são responsáveis pela polinização

de 70% das culturas agrícolas e por 85% de toda a

flora existente na natureza.

Em contraponto a esse benefício direto a partir do

uso integrado de abelhas na agricultura, nos

últimos 40 anos, houve um aumento de 700% no

uso de agrotóxicos no mundo, o que tem gerado

impactos extremamente severos para a

manutenção dos polinizadores, fato já

comprovado por inúmeras pesquisas e que

levaram recentemente a proibição temporária

(dois anos) de alguns desses produtos

(neonicotinoides) na Europa.

O declínio de polinizadores no mundo tem gerado

grande preocupação da classe científica e do setor

produtivo internacional, sendo que os estudos

internacionais relacionados com o “Colapso de

Desordem das Colmeias” (em inglês CCD) ou

simplesmente com o “desaparecimento das

abelhas” indicam que não existe um único fator

causando essa situação e que existe uma

interação e sinergia entre os inúmeros fatores,

mas que a contaminação pelos agrotóxicos e suas

implicações, sem sombra de dúvida, é um desses

fatores.

Dessa forma, é importante que indústria de

agrotóxicos e aplicadores estejam cientes de que

é fundamental que sejam desenvolvidos sistemas

de manejo de pragas, que preservem as abelhas e

os polinizadores de maneira geral. Também se

torna importante numa estratégia integrada de

que os agricultores sejam mais bem orientados,

quanto aos produtos usados para controle de

pragas e perigos a eles associados, tanto para o

ser humano quanto para as abelhas e ao meio

ambiente em geral.

Nesse cenário preocupante, é de fundamental

importância para a sustentabilidade da agricultura

brasileira, que os apicultores (criadores de abelhas

Page 56: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

56

com ferrão, africanizadas) e meliponicultores

(criadores de abelhas sem ferrão) sejam

valorizados, que suas demandas sejam

consideradas e que essas cadeias produtivas

sejam reconhecidas e apoiadas como estratégicas

para o desenvolvimento sustentável de nosso

país, pois são escassos nos modelos agrícolas de

produção atuais, aqueles sistemas, que podem ser

desenvolvidos de forma integrada a outros

sistemas de produção vegetal, propiciando ganhos

econômicos diretos às culturas agrícolas

associadas, gerando empregos e renda para os

pequenos e médios produtores e ainda serem

benéficos e fundamentais para a conservação de

nossos ecossistemas e de nossa rica

biodiversidade.

Mesmo com toda a importância que vem sendo

dada no mundo em relação ao papel dos

polinizadores e a preocupação com seu declínio,

O apicultor e o meliponicultor precisam

ser entendidos como elos fundamentais

em sistemas de produção vegetal e não

como coadjuvantes do processo. (Foto:

Edmundo Marchetti)

Page 57: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

57

no Brasil as relações entre apicultores e outros

produtores rurais ainda é pouco desenvolvida e

muito distorcida e desequilibrada na relação de

forças entre os apicultores e os atores do

agronegócio. Enquanto em país com os EUA, a

atividade historicamente é reconhecida e

valorizada e os apicultores têm no aluguel de suas

colmeias para polinização de inúmeras culturas

(amêndoas, alfafa, frutas, etc.) sua principal fonte

de renda, chegando ao ponto de que o mel se

transforma em um subproduto da atividade, em

nosso país essa relação é completamente inversa.

No Brasil o apicultor na tentativa de encontrar um

“pasto apícola” para suas colmeias e para a

produção principalmente de mel, vislumbra a

possibilidade de explorar áreas ocupadas com

culturas agrícolas atrativas para as abelhas, como

a laranja, café, etc. e em culturas florestais, como

o eucalipto.

Nessa necessidade de se obter novas áreas de

produção para a atividade apícola, a partir da

diminuição crescente das áreas florestais nativas,

principalmente em estados com São Paulo, com

grande ocupação de suas áreas agriculturáveis

ocupadas com a cultura da cana de açúcar, os

apicultores ainda enfrentam uma situação de

desconhecimento generalizado por parte dos

produtores rurais, a respeito dos benefícios que as

abelhas podem gerar em determinadas culturas.

Tal desinformação leva a uma situação

completamente distorcida, onde o apicultor ainda

tem que pagar um percentual de sua produção,

pela liberação de áreas para o desenvolvimento

de sua atividade ou até mesmo uma taxa por

colmeias instaladas em sua propriedade.

Nos EUA, os produtores de frutas (laranja, mirtilo,

etc.) e outras culturas (amêndoas, alfafa, etc.) que

dependem exclusivamente ou não das abelhas

para polinização entendem que o ganho que se

pode obter em produtividade e qualidade do

produto final é altamente compensatório e

consideram esses custos adicionais, do aluguel de

colmeias em seus sistemas de produção, como

investimentos e não como gastos.

Aliado a esse verdadeiro despautério que ocorre

em nosso país, do não reconhecimento

econômico e ambiental promovido por sua

atividade, os apicultores e meliponicultores ainda

sofrem um risco enorme da perda de suas

colmeias e contaminação de seus produtos pelo

uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos.

Esses riscos tem se mostrado cada vez mais reais,

na medida em que nos últimos anos inúmeros

apicultores vêm perdendo suas colmeias, em

várias regiões do país, como no Estado de São

Paulo.

Essa situação é agravada pela falta de uma política

pública que investigue essas perdas e do apoio do

poder público ou privado na recomposição desse

plantel e na mitigação dos prejuízos causados por

essas perdas, que tem sido exclusivos dos

apicultores.

Quem conhece a atividade apícola, sabe que um

plantel formado e em plena produção não se

recompõe da “noite para o dia” e serão

necessários novos investimentos e alguns anos

para se chegar ao patamar de produção original.

Nesse sentido, é fundamental que esses fatores

sejam identificados e considerados pelo poder

público, pelas empresas de agrotóxicos e pelo

agronegócio em geral, no sentido de que a partir

de uma ação articulada entre todos os atores

envolvidos, seja fomentado um programa

estratégico de desenvolvimento integrado dessas

cadeias produtivas e de um mecanismo de

mitigação e ressarcimento das perdas e prejuízos

ao meio ambiente e aos produtores, onde os

apicultores e meliponicultores passem a ser

valorizados e considerados como elos

Page 58: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

58

fundamentais para a sustentabilidade de sistemas

de produção vegetal e na conservação de nossos

recursos naturais e não como coadjuvantes do

processo, ficando a margem do desenvolvimento

no meio rural, ou sendo considerados verdadeiros

“empecilhos” para o desenvolvimento do

agronegócio.

A EXPERIÊNCIA DA FAAMESP -

FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES

DOS APICULTORES E

MELIPONICULTORES DO ESTADO

DE SÃO PAULO .

A Associação foi fundada em 1984 por um grupo

de cerca de 20 produtores com o objetivo

principal de promover a apicultura. Entre as

prioridades, estava à implantação de um sistema

para certificação do mel e, então, foi criado o SISP

em 2003. Em seguida, houve avanços quanto à

rotulagem do mel produzido pelos associados, ou

seja, o produtor entrega, beneficia e envasa o mel

na entidade e pode optar entre comercializar com

o rótulo da Cooperativa ou com rótulo próprio.

Em 1997, foi firmada uma parceria com a CONAB,

que foi decisiva: no primeiro projeto, foram

envolvidos 40 produtores, com entrega de 23

toneladas de mel para entidades de assistência,

beneficiando 10.554 pessoas.

Isso desencadeou a fundação da COAPIS, uma

A apicultura não é uma atividade viável se

não houver união e cooperativismo. (Foto:

Edmundo Marchetti)

Page 59: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

59

cooperativa com o objetivo de viabilizar a

comercialização do mel para a CONAB, visto que a

Associação é uma entidade sem fins lucrativos. A

missão da COAPIS é “Ser uma cooperativa

reconhecida nacionalmente pela comercialização

e a qualidade dos seus produtos e serviços,

através da satisfação de seus cooperados e

clientes”, pautando suas atividades em

transparência, ética e integridade. A experiência

foi exitosa, levando ao crescimento do

associativismo. Hoje, cerca de 300 produtores

estão associados em 2010.

Atualmente, a Cooperativa recebe o mel do

produtor, realiza as análises e, uma vez aprovado

o lote, realiza o envasamento de maneira manual.

Recentemente, foram aprovados projetos junto à

Fundação Banco do Brasil e ao Instituto

Votorantim, da ordem de R$ 500.000,00, que

viabilizarão a aquisição de equipamentos para

envase e a ampliação do entreposto. A

capacidade de produção que, hoje, é de 350 kg de

mel por dia poderá chegar a 750 kg de mel por

dia, para atender a CONAB e outros clientes.

Para facilitar a distribuição do produto para

cidades mais distantes, foi fundada uma central

de cooperativas. A Central faz projetos para venda

de mel para merenda escolar, recebe o produto e

distribui para os municípios. Isto facilita o

trabalho, pois, ao invés de uma prefeitura fazer

contratos com várias outras prefeituras para

fornecimento de mel, é feito um contrato único

com a Central.

Essa organização levou ao aumento dos volumes

comercializados: somente para o município de

São Bernardo do Campo, são entregues duas

toneladas por mês de mel, por exemplo.

Em 2011, foi fundada a Federação de Apicultores

do Estado de São Paulo, um reflexo do aumento

da demanda por produtos apícolas e da

necessidade de se conhecer melhor o setor e

defender os interesses dos apicultores e

meliponicultores do Estado.

Hoje, a Federação conta com 23 afiliados em

várias regiões do Estado, totalizando 13.500

apicultores e meliponicultores, com um plantel de

540 mil colmeias. Em média, cada produtor tem

40 colmeias e entrega uma tonelada de mel por

ano. Apesar de haver poucos dados estatísticos, o

estado de São Paulo desponta como o principal

exportador brasileiro de mel e, portanto, requer

que a atividade seja fomentada e apoiada de

forma sistêmica e não pontualmente.

ALCINDO ALVES: É fundamental

que os agricultores estejam

melhor orientados quanto aos

produtos usados para controle

de pragas e quanto aos perigos a

eles associados, tanto para o ser

humano quanto para as abelhas.

Page 60: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

60

Desde sua criação, a Federação tem se feito

presente nos principais fóruns de discussão e

representação da apicultura nacional, se

articulando politicamente com outras Federações

e a Confederação Brasileira de Apicultura – CBA e

os órgãos públicos, como a Secretaria de

Agricultura e Abastecimento do Estado de São

Paulo e na esfera federal com ministérios, como o

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA e

tendo participação efetiva na criação da “Bancada

do Mel” na Câmara dos Deputados em Brasília,

que tem o Deputado Federal Assis de Carvalho do

Piauí como presidente.

Todo esse trabalho vem sendo reconhecido e

surtido efeito e recentemente a FAAMESP passou

a integrar a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva

do Mel e dos Produtos das Abelhas ligada ao

MAPA, como membro efetivo, passou a compor a

Diretoria atual da CBA e a partir de seu esforço e

empenho de articulação local foi decisiva para a

recomposição da Câmara Setorial dos Produtos

Apícolas do Estado de São Paulo, ação estratégia

que será fundamental para um trabalho articulado

com os órgãos públicos e todos os atores

envolvidos na busca do desenvolvimento da

apicultura e meliponicultura paulista.

Com essa visão, comprometimento e trabalhando

de forma organizada, foi possível aumentar a

remuneração do produtor através da agregação

de valor: o mel entregue em balde para o PAA é

vendido a R$ 6,00/ kg mas, no sachê, é vendido a

R$ 15,00 o kg. A entidade vem trabalhando

também junto à Associação Brasileira de Normas

Técnicas – ABNT, especificamente na Comissão de

Estudos Especiais - CEE-87 criada para apoiar a

melhoria de qualidade de insumos, utensílios e

equipamentos e dos sistemas de produção

voltados à cadeia produtiva da apicultura.

SOBRE A AAPISC

A Mel Ouro Doce é um entreposto de mel sediado

em Santa Cruz do Rio Pardo, SP, com a missão de

“produzir mel com excelência, objetivando a

satisfação plena dos consumidores e

principalmente interagindo com o meio ambiente

de forma sustentável e transparente, embasado

em um processo evolutivo constante, objetivando

a qualidade de vida do ser humano”.

A empresa conta, hoje, com cerca de 1.500

colmeias em produção e uma unidade de

beneficiamento de mel e toda a infraestrutura

necessária para o desenvolvimento da atividade.

O entreposto atende também os apicultores

associados e tem 350 m² de área construída de

acordo com as normas do SIF. A produção anual

chega a 40 mil toneladas de mel, comercializadas

em potes de 500g, bisnagas de 270g, sachês para

merenda escolar e tambores de 285 Kg, que são

vendidos para outros entrepostos que exportam

para Alemanha, Itália e EUA.

A Mel Ouro Doce atua através de contratos de

arrendamento com fazendas de citricultura,

silvicultura e mandioca, bem como com fazendas

que tenham fragmentos de matas nativas.

O principal produto é o mel de laranjeira, obtido

através de uma parceria que iniciou em 2005 com

a Agroterenas com 30 colmeias e que, hoje, utiliza

1.500 colmeias, as quais são instaladas a pelo

menos 50 m para dentro das áreas de reserva de

mata. Essas reservas de mata são importantes do

ponto de vista do apicultor, pois garantem a

oferta de recursos para as colmeias fora do

período de florada da cultura. Na ausência dessas

reservas de mata, o apicultor precisaria

movimentar suas colmeias na busca de pasto

apícola para a sua manutenção.

No estado de São Paulo, os contratos de parceria

Page 61: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

61

preveem o pagamento de 10% da produção anual

de mel ao custo de R$ 5,00 por colmeia instalada

na área comercial por ano e, caso haja perda de

alguma colmeia, o prejuízo é arcado

integralmente pelo apicultor. Em Santa Catarina,

há situações em que os produtores de maçã

pagam pela instalação de colmeias nos pomares,

mas isso porque a cultura depende da polinização

por abelhas para produzir frutos de boa

qualidade, o que não é o caso dos citros e nem do

eucalipto. Independente do tipo de contrato, as

colmeias são instaladas fora do período de

colheita ou outras atividades que dependam da

presença de trabalhadores rurais.

A parceria com a Agroterenas tem sido positiva

graças ao diálogo e respeito mútuo e, mesmo com

algumas situações ainda não favoráveis ao

apicultor como o ônus exclusivo para o produtor

no caso de perda de colmeias, vem sendo

apontada como um caso de sucesso de

convivência harmoniosa entre agricultura e

apicultura. A fazenda comunica as datas em que

serão feitas as aplicações de agrotóxicos, tanto

por via terrestre quanto por aplicação aérea. Dado

o grande número de colmeias, se torna

completamente inviável retirá-las a tempo, fato

que pode levar a mortalidade e a perda de

colmeias.

Através de parcerias com SEBRAE, Banco do Brasil,

Sindicato Patronal dos Trabalhadores Rurais, CATI,

Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo,

Fibria e Associação Comercial de Santa Cruz do Rio

As parcerias com o Sebrae, Banco do Brasil,

sindicatos e outras organizações foram

fundamentais para estruturar a Associação

dos Apicultores e Agroprodutores de Santa

Cruz do Rio Pardo e Região. (Foto: Alcindo

Alves)

Page 62: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

62

Pardo, foi estruturada a Associação dos

Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz do

Rio Pardo e região (AAPISC). A AAPISC conta com

30 associados trabalhando em conjunto para

fortalecer a atividade na região e organizar a

cadeia produtiva.

Apesar de existirem algumas outras iniciativas

promissoras em relação à integração agricultura e

apicultura, como é o caso da produção de melão

no Nordeste, abacate no interior de São Paulo e

maça em Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ver

próximo artigo), tais situações são pontuais e não

refletem o potencial de exploração que temos em

nosso país e de forma alguma, indica a valoração

dos serviços prestados pelas abelhas e pelos

apicultores, pois mesmo nos casos onde existe

pagamento pelo uso das colmeias por parte dos

agricultores, os valores praticados estão muito

aquém do que é praticado no mundo. Por

exemplo, nos EUA nos tempos pré-

“desaparecimento das abelhas” os valores de

aluguel por colmeias giravam em torno de 50 a 70

doláres, sendo que hoje pela falta de oferta e

Como assinalou Albert Einstein: "Se as

abelhas desaparecerem da face da terra, a

humanidade terá apenas mais quatro

anos de existência. Sem abelhas não há

polinização, não há reprodução da flora,

sem flora não há animais, sem animais

não haverá raça humana"

Page 63: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

63

crescente demanda esses valores estão na faixa

de 150 a 200 dólares por colmeia.

É claro que devemos sempre considerar as

características e realidades de cada setor e o

cenário onde está inserido, mas não se pode

aceitar que os valores praticados nesses poucos

exemplos de integração em nosso país, se

prestem na maioria dos casos, apenas para cobrir

os custos envolvidos no transporte e instalação

das colmeias no campo, o que é ainda pior nos

casos extremos onde o apicultor tem que “pagar”

para prestar um valioso serviço à cultura

associada e que ainda assuma todo o ônus e risco

da eventual perda de seu plantel duramente

obtido com trabalho árduo e penoso.

Dessa forma, a mensagem que o setor de

apicultura gostaria de deixar é que a apicultura

não é uma atividade viável se não houver união e

cooperativismo não só entre os produtores, mas

como todos os atores envolvidos na cadeia.

Juntos, temos muito mais condição de superamos

os diversos desafios necessários para estruturar o

setor e, colocar definitivamente a apicultura e a

meliponicultura no lugar que merecem no cenário

do desenvolvimento rural de nosso país.

Só de forma integrada e onde todos os atores

assumam seus respectivos papeis e suas

responsabilidades, poderemos promover o

desenvolvimento sustentável de nosso meio rural,

integrando o crescimento da agricultura brasileira

com a preservação de nossas abelhas e a

conservação de nossos recursos naturais e da vida

em nosso planeta.

Nesse sentido, gostaríamos de deixar alguns

pensamentos que podem trazer uma melhor

reflexão sobre a preservação da vida em nosso

planeta:

Como assinalou Albert Einstein: "Se as abelhas

desaparecerem da face da terra, a humanidade

terá apenas mais quatro anos de existência. Sem

abelhas não há polinização, não há reprodução da

flora, sem flora não há animais, sem animais não

haverá raça humana"

Trechos da carta escrita em 1850 por um Chefe

Indígena de Seattle ao Presidente dos EUA,

quando ele lhes propôs comprar sua terra:

“A Terra não pertence ao homem; o homem

pertence à Terra. Isto sabemos: todas as coisas

estão ligadas como o sangue que une uma família.

Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a

Terra recairá sobre os filhos da Terra. O homem

não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente

um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a

si mesmo.”

“O que é o homem sem os animais? Se todos os

animais se fossem, o homem morreria de uma

grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com

os animais, breve acontecerá com o homem. Há

uma ligação em tudo.”

"Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos

filhos da Terra"

Para maiores informações sobre a relação abelhas

e produção de alimento acesse:

www.semabelhasemalimento.com.br. Campanha

“Sem abelha, sem alimento”, que tenta trazer

mais informações ao público em geral, sobre o

importante papel que as abelhas desempenham e

instiga os órgãos públicos e privados a fazerem

investimentos mais consistentes na pesquisa e em

ações de preservação das abelhas.

Page 64: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

64

Page 65: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

65

CONVIVÊNCIA ENTRE FRUTICULTURA E APICULTURA

Tom Prado & Leandro Bortoluz

FRUTICULTURA TROPICAL

O meloeiro, assim como muitas fruteiras de clima

tropical, é uma cultura de suporte fitossanitário

insuficiente e o setor está muito engajado com a

questão de rastreabilidade, tanto para garantir

que os frutos cheguem ao consumidor com os

níveis aceitáveis de agrotóxicos quanto para

assegurar que bactérias como Salmonella spp. e

Escherichia coli estejam contaminando o produto.

É um setor que busca a qualidade em todas as

etapas de produção e, como depende da

polinização cruzada para produzir frutos, a

questão de proteção de polinizadores é de alta

relevância. A obtenção de frutos com boas

características depende da ocorrência de 10 a 15

visitas por abelhas à flor. Cada planta tem, em

média, 80 flores na proporção de uma flor

masculina para cada 18 flores hermafroditas. As

flores hermafroditas são produzidas durante um

período de 16-20 dias, que é uma janela curta

para que ocorra polinização. Elas recebem mais

visitas por abelhas do que as flores masculinas,

possivelmente em função da maior oferta de

néctar. As flores são viáveis durante apenas um

dia, das 5h da manhã até o início da noite.

A presença de um maior número de colmeias no

plantio de melão levou a um aumento na

produtividade.

No entanto, um dos gargalos para o uso de

abelhas em áreas de produção de frutas no

Nordeste é a fuga dos enxames em função da

baixa disponibilidade de água. Nos últimos dois

anos, houve uma redução drástica no número de

enxames e, consequentemente, na

disponibilidade de colmeias para arrendar. É

prática corrente remunerar o apicultor pelo

arrendamento das colmeias e o mel fica para o

apicultor.

Durante o período seco, os enxames migram

anualmente em busca de locais com maior oferta

de água e de recursos florais. No ano seguinte,

com o início da estação de chuvas (que coincide

com o final da colheita), os exames chegam de

outra região e formam-se novas colmeias. Como o

plantio do melão ocorre no período seco, ocorre

uma alteração na disponibilidade de pólen, o que

acaba colaborando com a sobrevivência das

colmeias na estação seca.

Os neonicotinoides são usados na cultura para

controlar a mosca-branca e não foram observados

Page 66: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

66

casos de mortalidade de abelhas associados ao

uso desses produtos. As práticas de gestão apícola

têm se mostrado adequadas tanto para enfrentar

um gargalo natural que é o período de seco

quanto para garantir a sanidade vegetal e a

sanidade apícola ao longo de todo o ano.

Para evitar o uso de defensivos no início do ciclo,

as plantas são cobertas com TNT (tecido-não-

tecido) durante 21 dias, o que provê uma barreira

física ao ataque por pragas. Passado esse período,

são efetuadas até quatro aplicações de

neonicotinoides por safra, sem repetir o

ingrediente ativo. Todas as pulverizações são

feitas com tratores com pulverizadores com

sistema vórtex, com jato dirigido para o solo para

atingir as flores e folhas.

Muitas aplicações são feitas durante a noite, até

as 4h da manhã pois as flores se abrem às 5h e,

assim, evita-se o contato dos órgãos reprodutivos

da flor com os produtos agrotóxicos.

Alguns produtores têm estruturas próprias para a

produção de rainhas para reposição em casos de

colmeias sem rainha. Podem também, produzir

alimentos com xarope nos apiários para oferecer

às colmeias em épocas de baixa oferta de flores.

As colmeias são instaladas nos quebra-ventos e é

feito um monitoramento constante dos enxames

e também a verificação de ocorrência de Varroa.

São tomadas medidas de prevenção da saraça,

uma formiga que ataca as colmeias. O

sombreamento das colmeias é feito evitar o

aumento da temperatura no interior das mesmas,

quando necessário.

A gestão de uso das colmeias é feita de maneira a

respeitar um intervalo de 21 dias de descanso,

para que elas possam recuperar seu vigor.

Os apiários móveis colaboram também para

reduzir o impacto sobre as colmeias. Toda a

movimentação é feita durante a noite e em baixa

velocidade, para evitar danos mecânicos. Caso as

colmeias sofram algum dano, há infraestrutura

para recuperação.

Anteriormente, eram usadas 1 ou 2 colmeias por

hectare de meloeiro e, atualmente, são usadas

quatro.

O setor espera é maior agilidade no registro de

defensivos para a cultura, tanto químicos quanto

biológicos, como ferramentas indispensáveis para

realizar a rotação de ingredientes ativos

preconizada pelos programas de MIP.

Ferramentas para controle da mosca-minadora

TOM PRADO: O setor de frutas

tropicais espera maior agilidade

no registro de defensivos

químicos e biológicos,

ferramentas indispensáveis para

realizar a rotação de

ingredientes ativos preconizada

pelo MIP.

Page 67: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

67

são amplamente desejáveis pois a praga tem

aumentado em importância devido às condições

ecas nas últimas três safras.

O desenvolvimento de cultivares resistentes a

pragas e doenças e de alta aceitabilidade pelo

mercado também seria uma estratégia.

Finalmente, o incentivo a projetos como o Robot

Bees e Micro Air Vehicle Projects. Todas essas

ações contribuirão para o melhor manejo apícola

e, portanto, promoverão a melhor convivência

entre agricultura e apicultura.

FRUTICULTURA TEMPERADA

O mundo produz, anualmente, 75 milhões de

toneladas de maçã e o Brasil é responsável por 1,2

-1,4 milhões de toneladas, produzidas em 40 mil

hectares plantados. Cerca de 3.300 produtores,

principalmente nos estados de Rio Grande do Sul,

Santa Catarina e Paraná, são os responsáveis pela

obtenção de frutos de alta qualidade que já

conquistaram diversos mercados internacionais.

Com o desenvolvimento de variedades com

No sul do Brasil, é comum que os produtores

de maçã e pera paguem pela locação de

colmeias durante a florada, pois são culturas

que dependem da polinização por abelhas

para produzir frutos de boa qualidade. (Foto:

Leandro Bortoluz)

Page 68: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

68

menor exigência em frio, a cultura tem se

expandido também para São Paulo, Minas Gerais,

Bahia e Pernambuco. Trata-se de uma importante

atividade para os estados do sul do Brasil, com

geração de 1,5 empregos diretos por hectare.

A pomicultura, ou seja, a produção de maçã e

pera, é um setor que depende totalmente das

abelhas. Portanto, pode-se dizer que as abelhas

são responsáveis pela manutenção de pelo menos

174 mil empregos diretos somente no setor da

maçã.

O uso de colmeias em pomares aumenta em 90-

99% a produção em maçã, sendo que Apis

mellifera é, de longe, a principal espécie

polinizadora. A recomendação técnica é de usar

de 3 a 5 colmeias por hectare, buscando usar

sempre enxames fortes (35-50 mil abelhas e em

torno de 100 abelhas saindo do alvéolo por

minuto).

O setor é pioneiro na adoção da Produção

Integrada. Os primeiros estudos foram realizados

em 1996 e, em 1998, a norma técnica foi

publicada e os primeiros pomares foram

certificados em 2001. Isto foi muito importante

para promover as boas práticas agrícolas, como a

calibração e certificação de pulverizadores, o

armazenamento correto de defensivos e outras

técnicas que reduzem o impacto ambiental da

atividade agrícola. A vazão dos pulverizadores foi

ajustada para reduzir a deriva e economizar em

até 30% o uso de combustíveis nos tratores.

Seria importante conduzir estudos que

evidenciem o efeito de cada produto agrotóxico

sobre polinizadores, considerando efeitos de

repelência, mortalidade de adultos e efeitos sobre

estágios imaturos e reprodução da rainha. Essas

informações seriam cruciais para um melhor

posicionamento das aplicações e proteção dos

polinizadores.

Os produtores de maçã estão muito conscientes

da importância de preservar as abelhas e usam

somente produtos registrados para a cultura. Os

apiários estão, muitas vezes, instalados ao lado do

pomar ou até mesmo dentro deles.

Finalmente, a exemplo do que é feito nos EUA,

seria interessante para o setor que houvesse a

possibilidade de comprar insetos polinizadores,

tais como as mamangavas usadas em cereja.

LEANDRO BORTOLUZ: É

importante conduzir

estudos que evidenciem o

efeito de cada produto

agrotóxico sobre

polinizadores, considerando

efeitos de repelência,

mortalidade de adultos e

estágios imaturos e

reprodução da rainha.

Page 69: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

69

INICIAT IVAS DO SETOR DE INSUMOS AGRÍCOLAS

Sílvia Fagnani

O SINDIVEG constituiu um Grupo de Trabalho para

estudar a questão de polinizadores, que reúne

todos os atores da indústria de insumos agrícolas.

Esse grupo está dividido em dois subgrupos.

O Grupo de Trabalho Geral faz o

acompanhamento da legislação nacional e

internacional, levanta que produtos estão sendo

banidos a nível internacional e acompanha os

grupos de trabalho de reavaliação ambiental. Esse

grupo tem ações coordenadas entre o setor

produtivo e a indústria, com entidades de

representação e apicultores participando da

elaboração de notas técnicas juntamente com o

MAPA e órgãos de pesquisa. O grupo também

está envolvido na preparação de treinamentos

que serão ministrados pelas indústrias e pela

ANDEF, com edição de material educativo. Além

disso, o GT está realizando uma pesquisa de

percepção de risco sobre o uso de defensivos

agrícolas e a redução de colmeias. O que se

pretende é levantar o grau de informação e

também a percepção de risco por parte dos

apicultores brasileiros.

O Subgrupo de Contingências é formado por

profissionais preparados para se reunirem diante

de qualquer comunicação de incidentes

Page 70: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

70

envolvendo morte de abelhas. Esse grupo foi

constituído após o incidente ocorrido em Bauru,

SP, e tem acompanhado as matérias publicadas e

realizado ações junto aos apicultores. Tem,

também, coletado amostras para análise

laboratorial para verificar se realmente houve

envolvimento de defensivos agrícolas no

incidente. Estão sendo acompanhados também os

inquéritos policiais.

Ao Subgrupo de Relações Governamentais

compete alinhar ações com os três órgãos

registrantes, o MP e parlamentares.

O Subgrupo de Contingência está preparado para

dar resposta em até 24 horas após o recebimento

de uma notificação de alta mortandade de

abelhas. Se houver anuência do apicultor, a

equipe se desloca até a propriedade para coleta

de amostras, as quais são enviadas para análise

em laboratórios acreditados.

Através destas iniciativas, o setor de insumos

agrícolas demonstra seu comprometimento com a

proteção de polinizadores, tanto no Brasil quanto

em outros países. Os resultados das coletas

realizadas em situações de mortandade

permitirão um retrato mais preciso sobre a

influência do uso de defensivos e comparar o

quanto eles são deletérios quando comparados

com outros agentes naturais de mortalidade, tais

como a Varroa e Nosema. E, muito importante, os

dados serão obtidos com base em casos do Brasil.

O setor está trabalhando também em uma

pesquisa sobre percepção de risco pelos

apicultores. Houve um atraso na implementação

da pesquisa pela falta de cadastros atualizados de

apicultores no Brasil e sobre o perfil desses

apicultores, até porque as diferentes associações

fazem a estratificação de produtores de maneira

não harmonizada.

Os grupos e subgrupos trabalham de maneira

coordenada, com reuniões periódicas e foco na

sustentabilidade da atividade agropecuária

brasileira.

O SINDIVEG promove a capacitação de

pilotos agrícolas e agricultores sobre boas

práticas de aplicação. (Fotos: SINDIVEG)

Page 71: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

71

MANEJO DE RESISTÊNCIA DE PRAGAS A AGROTÓXICOS

Geraldo Papa, Pedro Takao Yamamoto, José Francisco Garcia, Marcos Botton & Fábio Yoshio Kagi

A prevenção de resistência de pragas a métodos

de controle (químicos, biológicos, plantas

geneticamente modificados, etc) é considerada

uma questão crucial, tanto por produtores quanto

por indústrias. Aos produtores, a resistência é

impactante pois leva a falhas no controle e à

indústria, ela representa a perda precoce de uma

tecnologia que custou milhões para ser

desenvolvida. Além disso, a redução do leque de

tecnologias disponíveis para controle de uma

praga pode levar ao aumento do custo das poucas

opções disponíveis, com consequências diretas

para o consumidor.

Apesar disso, o manejo da resistência não tem

sido tratado de maneira adequada, o que se

reflete em relatos repetidos de perda de eficácia e

falha de controle. A falta de percepção pelo

produtor sobre a criticidade deste assunto é um

problema a ser atacado, ainda mais em função da

mudança observada nos inseticidas nas últimas

décadas.

Na década de 1960, os produtos eram de espectro

mais amplo, tais como fosforados, carbamatos e

piretroides e levava de 7 a 12 anos para que

fossem documentados os primeiros casos de

resistência. Atualmente, os inseticidas são muito

mais seletivos e têm toxicidade muito menor ao

ser humano e organismos não alvo, mas a

resistência tem aparecido em menos de quatro

anos após a introdução.

A recente detecção da Helicoverpa armigera no

Brasil e a dificuldade encontrada para seu efetivo

controle alertam para a possibilidade de ter

ocorrido a introdução de linhagens já resistentes a

inseticidas. Em algumas regiões, foi observado

que os produtores estão fazendo de 3-4

aplicações em soja com menos de 25 cm de altura.

A situação é semelhante ao que ocorreu na

Austrália na década de 1980. Na ocasião, foi

realizado um programa de rotação de produtos

mas, ao invés de realizar a rotação por

propriedade, foi estabelecida a rotação por

regiões. O Brasil precisa estabelecer programas

que sejam efetivos para evitar que tecnologias

inovadoras sejam perdidas devido a problemas de

resistência de pragas. Em alguns casos, as próprias

indústrias retiram os registros de produtos em

situações de risco de resistência, com o objetivo

de preservar a molécula.

Um segundo ponto de melhoria é a questão da

Page 72: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

72

mistura de produtos, que se tornou prática

corrente entre os agricultores. Afora os aspectos

regulatórios, as questões técnicas envolvendo as

misturas em tanque precisam ser abordadas de

maneira a prover ao produtor a orientação

necessária para evitar o surgimento da resistência.

Quando comparada à rotação, a mistura é menos

efetiva para prevenir a resistência pois depende

da recessividade do gene para resistência a ambos

os componentes da mistura. A aplicação de

defensivos sem critérios, sem base em

monitoramento e diagnóstico adequados,

contribui para a seleção de linhagens resistentes

não só dos organismos alvo mas também de

outros que, no futuro, podem vir a atingir status

de praga.

Com relação ao uso de neonicotinoides em cana-

de-açúcar, estima-se que eles promovam um

incremento na produtividade, da ordem de 7 ton/

ha o que, em uma área de 2,5 milhões de hectares

quer dizer um ganho de 17,5 milhões de toneladas

por ano no Brasil.

A retirada dos neonicotinoides, portanto, teria um

impacto da ordem de 1 bilhão de reais, o que

corresponde ao que é produzido em 270 mil

hectares de cana-de-açúcar, suficiente para

manter nove usinas funcionando. Os ingredientes

GERALDO PAPA: A recente detecção da

Helicoverpa armigera no Brasil e a

dificuldade encontrada para seu efetivo

controle alertam para a possibilidade de

ter ocorrido a introdução de linhagens já

resistentes a inseticidas. (Foto: Agropec)

Page 73: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

73

ativos disponíveis para controle de pragas como a

cigarrinha Mahanarva fimbriolata são poucos e,

na ausência de neonicotinoides, torna-se inviável

realizar um programa de rotação de produtos e

manejo da resistência.

É necessário realizar investimento em P&D para

desenvolver produtos para controle biológico,

como a Cotesia flavipes, que tem boa eficácia em

combinação com neonicotinoides, e o

Metarhizium para controle da cigarrinha, que tem

sido menos estudado. Embora a cana-de-açúcar

não dependa da polinização por abelhas, o setor

sucro-energético está consciente de que a deriva

nas aplicações pode ter impacto sobre esses

organismos e está trabalhando para desenvolver

soluções para minorar estes impactos. Mas o

setor não concorda que apicultores coloquem

suas colmeias em áreas plantadas com cana-de-

açúcar.

A perda de moléculas e de tecnologias em função

de resistência pode vir a tornar a produção

agrícola insustentável. Esta é uma lição que já

deveria ter sido aprendida pelo Brasil nas décadas

de 1940 a 1960, quando o uso intensivo levou a

problemas de resistência de pragas.

Hoje, apesar de haver muito mais tecnologia, os

erros são os mesmos. Toda essa discussão tem

como pano de fundo o manejo. Não precisaríamos

nos preocupar com problemas causados aos

polinizadores nem com a resistência de pragas se

o manejo estivesse sendo bem realizado.

Urge compreender os agroecossistemas como

partes de um sistema maior, pois estamos diante

de pragas polífagas e que, em função das práticas

agronômicas, têm encontrado condições para

manter a população ao longo de todo o ano. O

produtor deve se preocupar, hoje, com o histórico

de uso da terra, numa visão de áreas amplas.

GERALDO PAPA: O

desenvolvimento da resistência

não interessa a ninguém.

Problemas técnicos são passíveis

de resolução, mas a resistência

genética a métodos de controle

é difícil de resolver.

Page 74: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

74

Page 75: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

75

APLICAÇÃO AÉREA DE AGROTÓXICOS : S I TUAÇÃO

ATUAL E DEMANDAS

Ulisses Antuniassi, João Paulo Rodrigues da Cunha, Luiz Gustavo Asp Pacheco, Nelson Paim & José Annes

A tecnologia de aplicação consiste no emprego de

conhecimentos científicos que permitam a correta

colocação do produto biologicamente ativo sobre

o alvo, no momento correto, na quantidade

adequada, de forma econômica e com a menor

contaminação ambiental. Portanto, a tecnologia

de aplicação compreende o equipamento usado

na aplicação em si e os adjuvantes para redução

de deriva, têm grande impacto na eficácia de

agrotóxicos. Este é um debate atual, num

contexto de restrições ou proibições de uso

dessas tecnologias aliado à falta de informação e à

mídia sensacionalista. São temas técnicos e que

devem ser abordados tecnicamente, à luz do

conhecimento de análise de risco s, para que a

comunicação à sociedade seja feita de maneira

adequada.

S I TUAÇÃO ATUAL

O MAPA acompanha as atividades da aviação

agrícola desde a primeira aplicação aérea de

agrotóxicos registrada no Brasil, que ocorreu em

1947, em um programa do MAPA para controle de

gafanhotos em Pelotas, RS. Em 1969, foi

promulgado o Decreto-Lei 917/69, que atribui ao

MAPA as responsabilidades de coordenar e

fiscalizar a aviação agrícola, além de capacitar

todos os entes envolvidos na atividade. Em 1992,

essa atividade foi repassada para o setor privado

pelo presidente Fernando Collor de Mello.

Além de ser um instrumento antigo, outro

complicador no arcabouço legal de aplicação

aérea é o fato de que o MAPA entende que, de

acordo com a Lei Federal de Agrotóxicos publicada

em 1989, foi repassada à esfera estadual a

competência de fiscalizar a aplicação, mas com

intercâmbio de informações entre as SFAs e

OEDSVs, para evitar duplicidade de fiscalização.

É inegável o preconceito que ronda o tema

“aviação agrícola” no Brasil. A Coordenação de

Mecanização e Aviação Agrícola do MAPA vem

Page 76: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

76

empreendendo esforços no sentido de revisar a

legislação, que é antiga, e de publicar um manual

de fiscalização das atividades aeroagrícolas, que

trará diretrizes como distâncias mínimas e outras

orientações relevantes.

O MAPA retomou também as fiscalizações,

buscando coordenar esforços com os órgãos

estaduais de fiscalização de uso de agrotóxicos

nos estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e

Mato Grosso para o correto atendimento da

Instrução nº 01 MAPA/IBAMA. Entre as

dificuldades encontradas estão a falta de

capacitação e a indisponibilidade de um banco de

dados de apicultores. Para exemplificar, a

legislação exige que o piloto agrícola passe por um

curso específico e que o técnico agrícola

acompanhe todas as atividades, além de ser

capacitado como executor em aviação agrícola

(também um curso específico). É necessário

revisar o conteúdo exigido e uma melhor

interlocução com a ANAC, bem como lançar o

SIPEAGRO, que será um sistema para registro de

estabelecimentos de aviação agrícola alimentado

pelos próprios usuários.

A criação da ANATER, com gestão compartilhada

pelo MDA e MAPA, é bastante oportuna pois

espera-se que ela colabore para difundir as

informações com vistas a proteger polinizadores.

A tecnologia de aplicação evoluiu muito

nas últimas décadas, tanto nos

equipamentos quanto nos adjuvantes,

resultando em aumento na qualidade da

aplicação.

Page 77: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

77

Outras ações são o incentivo à agricultura de

precisão, cursos à distância e presenciais,

parcerias institucionais e convênios com o poder

público municipal. A certificação aeroagrícola é

um programa interessante, que será

acompanhado pelo MAPA. A revisão do marco

regulatório é premente e certamente contribuirá,

também, para desmistificar a aplicação aérea de

agrotóxicos.

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO

É importante iniciar a discussão reconhecendo

que a tecnologia de aplicação de produtos

agrícolas evoluiu nas últimas décadas, tanto no

que diz respeito aos adjuvantes e as formulações

dos produtos, que são tecnologias usadas dentro

do tanque do pulverizador, quanto nos

dispositivos de aplicação (as pontas de

pulverização e atomizadores, por exemplo). O

resultado é a melhor qualidade de aplicação, com

tamanho de gotas adequado para se obter a

cobertura desejada, garantindo o controle

adequado de pragas, doenças e plantas daninhas.

Além disso, é possível reduzir hoje o impacto das

aplicações através do ajuste do tamanho de gotas

para reduzir a deriva. Orientar o produtor e o

aplicador sobre a tecnologia de aplicação é

fundamental para que se obtenham os melhores

resultados, e isso só poderá ser atingido através

de um processo contínuo de educação.

O tamanho das gotas numa pulverização afeta a

forma como elas serão depositadas dentro do

agroecossistema. Por isso é necessário conhecer o

comportamento das pragas, doenças e plantas

daninhas a serem controladas para se chegar a

uma decisão sobre o tamanho mais adequado de

gotas visando o desempenho adequado e a

segurança da aplicação. Ainda, é preciso

dimensionar corretamente os pulverizadores e

ajustá-los de maneira a otimizar o desempenho

operacional da aplicação.

Embora a redução de volume de calda seja

considerada como desejável em muitos casos, é

necessário avaliar a questão com critério técnico

pois esta opção poderá acarretar maior risco de

deriva, pois em geral a aplicação de volumes

reduzidos se faz com o uso de gotas mais finas.

Neste caso, a tecnologia de aplicação deve ser

cuidadosamente planejada com base nas

condições climáticas, com extremo cuidado

quanto aos limites de temperatura, umidade

relativa e velocidade de vento. É imprescindível

que o profissional responsável pela

ULISSES ANTUNIASSI: Conhecer os

fatores que levam à deriva pode

ajudar a mitigar os riscos

através, por exemplo, do uso de

adjuvantes e aplicadores

adequados.

Page 78: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

78

recomendação de produtos trabalhe de maneira

técnica e consciente, tanto em situação de

aplicação aérea quanto terrestre.

A deriva pode se dar para dentro ou para fora da

área e existem diversos fatores climáticos que

podem levar a essa perda. Conhecer esses fatores

pode ajudar a mitigar os riscos através, por

exemplo, do uso de adjuvantes e o espectro de

gotas adequado. A simples substituição de um

atomizador convencional por um de baixa deriva

pode reduzir em até 40% o risco de deriva. Ainda,

a combinação de uma ponta de pulverização de

baixa deriva com o adjuvante correto pode reduzir

em até 80% os riscos de deriva. Portanto, é

importante pensar na técnica como um todo,

reunindo no pulverizador (terrestre ou aéreo)

todas as tecnologias que possam levar à redução

de riscos e tornar a aplicação mais sustentável e

com menor impacto. Além das técnicas

mencionadas anteriormente, vale relembrar a

existência dos sistemas de navegação com

controle automático da pulverização, que

reduzem o risco de erro do operador, e os

sistemas de controle da altura da pulverização,

que colaboram para a redução do risco de deriva.

Por fim, o correto gerenciamento operacional,

através de ferramentas que geram mapas para

mostrar onde já foi feita aplicação também é

possível.

Em resumo, o sucesso da aplicação vai depender

de:

Condições climáticas favoráveis;

Técnicas compatíveis com o nível de risco

admissível;

Conhecimento das características do espectro

de gotas em função das condições climáticas e

operacionais;

Uso de tecnologias também dentro do tanque,

como adjuvantes e formulações seguras;

Conhecimento do agroecossistema,

respeitando as particularidades das áreas em

que deve haver a restrição das aplicações.

Através de uma parceria público-privada

envolvendo a ANDEF e o SINDAG, foi criado o

programa CAS- Certificação Aeroagrícola

Sustentável, com o objetivo de capacitar os

operadores agrícolas, qualificar as empresas de

aplicação aérea de forma que a atuação delas se

paute em princípios técnicos, com maior

sustentabilidade e qualidade. A meta é atingir

pelo menos 75% dos operadores de aviação

agrícola no Brasil, o que corresponde a cerca de

200 empresas. Trata-se de um programa de

adesão voluntária e que se pautará no incentivo à

NELSON PAIM: Através de uma

parceria entre ANDEF e SINDAG, foi

criado o Programa CAS -

Certificação Aeroagrícola

Sustentável, para capacitar os

operadores agrícolas e qualificar

empresas de aplicação aérea.

Page 79: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

79

responsabilidade, à legalidade e à

sustentabilidade das atividades aeroagrícolas.

TÉCNICAS PARA REDUÇÃO DE

DERIVA

Em tese, o ideal é que a deriva fosse nula, mas o

cotidiano das aplicações mostra que a é

extremamente frequente que numa situação

normal de campo algum nível de deriva sempre

ocorra. Por isso é fundamental respeitar as faixas

de segurança, que representam a distância

mínima entre o local da aplicação e as áreas que

precisam ser protegidas do risco de deriva, de

acordo com a legislação vigente

A modelagem da deriva de aplicações envolve

diversas variáveis: espectro de gotas, condições

climáticas, altura de lançamento e propriedades

físico-químicas da calda, entre outros fatores.

Independente do método de aplicação (aéreo ou

terrestre), esses aspectos devem ser considerados

de maneira conjunta. Portanto, seria inapropriado

dizer, de maneira simplista, que um método ou

outro cause maior contaminação pois esta é o

resultado da combinação das variáveis citadas.

Existe uma norma ISO para avaliar a deriva,

adotada mundialmente. São procedimentos

complexos e não há na prática resultados de

robustos sobre os índices de deriva obtidos em

condições brasileiras. Utilizar simplesmente os

modelos europeus ou norte-americanos, como

feito pelo IBAMA, pode ser uma solução

inadequada pois dados recentes de pesquisa

mostraram que alguns dados obtidos no Brasil são

significativamente diferentes daqueles descritos

para a Europa. Portanto, é premente que sejam

gerados dados de pesquisa sobre deriva para

condições da agricultura brasileiras.

Embora haja metodologias para redução de

deriva, é importante frisar que essa redução pode

levar também à redução de eficácia de controle

dos alvos biológicos. Uma ponta que gere gotas

grossas é mais segura do ponto de vista

ambiental, mas pode ter uma deposição

inadequada na planta, dependendo do alvo da

aplicação do produto aplicado. Como exemplo,

gotas maiores apresentam dificuldades de

penetração no baixeiro das plantas, por exemplo.

Um outro exemplo é o mercado de adjuvantes,

que vem crescendo mais depressa do que a

capacidade da pesquisa em gerar resultados

confiáveis para orientar a aplicação de maneira

eficiente e segura. Por esta razão, é necessário

que se estabeleça uma rede de pesquisa sobre

tecnologia de aplicação, para atender às diversas

realidades agrícolas de um país de dimensões

continentais como o Brasil.

A V ISÃO DO SETOR DE AVIAÇÃO

AGRÍCOLA

O Brasil tem a segunda maior frota de aviões

agrícolas do mundo, ficando atrás apenas dos EUA

e seria inviável manter a competitividade do

agronegócio brasileiro num cenário de proibição

de aplicação aérea. São 231 empresas prestadoras

de serviço, com uma frota de 1.850 aeronaves

(dados de 2012) e o Brasil é o único país do

mundo que permite que os agricultores tenham

seus próprios aviões.

O maior número de empresas está no Rio Grande

do Sul, São Paulo e Mato Grosso, em função das

grandes áreas plantadas com arroz, cana-de-

açúcar, soja/algodão, respectivamente. Hoje, a

pulverização aérea representa 24% do total de

pulverizações de defensivos em grandes culturas e

Page 80: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

80

isso é extremamente importante pois, em

algumas situações, não há outra opção seja pela

rapidez com que se deve efetuar a aplicação ou

pelas características da própria cultura. Como

exemplos, em arroz irrigado toda a aplicação tem

que ser feita via aérea devido às condições do

terreno, assim como na cana-de-açúcar a

aplicação aérea é indispensável devido ao porte

da cultura.

Estudos realizados no Brasil mostram que os

maiores índices de risco de deriva estão na faixa

de 70 a 100 m de distância. Com a tecnologia

atualmente disponível é possível efetuar o

monitoramento das aplicações desde o momento

da decolagem até a conclusão da pulverização. A

aplicação aérea tem a vantagem de empregar

menores volumes de calda (de 20 a 30 litros/

hectare), quando comparada com a aplicação

terrestre (60 a 600 litros de calda/ hectare). No

entanto, o setor de aviação agrícola tem

encontrado resistência na sociedade por falta de

informação e, por esse motivo, vem realizando

ações em parceria com o setor privado e com

órgãos de fiscalização. Essas ações incluem a

capacitação, a publicação de manuais e o fomento

a pesquisa sobre deriva em diferentes regiões e

culturas.

Afora as questões de rotina quanto à deriva, a

discussão acerca do impacto de agrotóxicos sobre

polinizadores vem a alertar para a importância de

maior integração e comunicação entre

aplicadores, agricultores e apicultores, com

benefício para a agricultura brasileira e a

comunidade em geral.

CONCLUSÕES

A SDC/MAPA tem por objetivo fomentar o

desenvolvimento sustentável do agronegócio

através de projetos próprios ou por meio de

emendas parlamentares ou convênios. Seria

desejável que se estruturasse um projeto para

pesquisa visando gerar resultados locais sobre

deriva e outros aspectos relacionados ao aumento

de segurança de aplicação de agrotóxicos do

ponto de vista ambiental.

A regularização da atividade apícola e a

formalização de contratos de parceria entre

apicultores e agricultores para instalação de

colmeias se fazem necessárias. Desta maneira os

apicultores podem ser avisados com a

antecedência necessária para retirarem as

colmeias instaladas nas áreas de produção

agrícola naqueles momentos em que as aplicações

se façam necessárias.

Page 81: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

81

S IGLAS E ABREVIATURAS

AAPISC - Associação dos Apicultores e Agroprodutores de Santa Cruz e Região

ABC Bio - Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico

ABIFINA - Associação Brasileira das Industrias de Química Fina

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRAPA - Associação Brasileira dos Produtores de Algodão

AENDA - Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos

AGROFIT - Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários

ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil

ANATER - Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APACAME - Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas Melíficas Européias

APP - Área de Preservação Permanente

APROSOJA - Associação Brasileira dos Produtores de Soja

APTA - Agência Paulista de Técnicos Apícolas

Bt - Bacillus thuringiensis

Page 82: Relação Produtiva entre Agricultura e Apicultura

82

CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

CGA - Confederação Brasileira de Apicultura

CCD - Colony Collapse Disorder

CGAA - Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins

CIDASC - Companhia Integrada Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina

CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

COAPIS - Cooperativa dos Apicultores de Sorocaba e Região

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

CSFI - Culturas de Suporte Fitossanitário Insuficiente

CTA - Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos

DCC - Distúrbio do Colapso das Colônias

DSA - Departamento de Saúde Animal

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPA - Environmental Protection Agency

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

EPI - Equipamento de Proteção Individual

EPPO - European Plant Protection Organization

ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

EUA - Estados Unidos da América

FAAMESP - Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo

FAO - Food and Agriculture Organization

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

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83

FUNDECITRUS - Fundo de Defesa da Citricultura

GBIF - Global Biodiversity Information Facility

GPS - Geographic Positioning System

HQ - Hazard Quotient

HLB - Huanglongbing

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IN - Instrução Normativa

INC - Instrução Normativa Conjunta

IPBS - Intergovernmental Platform on Biodiversity & Ecosystem Service

ISO - International Organization for Standardization

LMR - Limites Máximos de Resíduos

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG - Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto

PIC - Produção Integrada de Citrus

PIN - Produção Integrada

PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas

PROMIP - Programa de Manejo Integrado de Pragas.

RIISPOA - Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal

SBDA - Sociedade Brasileira de defesa Agropecuária

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SDC - Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry

SFA - Superintendência Federal de Agricultura

SIF - Serviço de Inspeção Federal

SINDAG - Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola

SINDIVEG - Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal

SISP - Serviço de Inspeção de Produto

UE - União Europeia

UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná

UFU - Universidade Federal de Uberlândia

UNESP - Universidade Estadual Paulista

USP - Universidade de São Paulo

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